direito e justiça - edição 22265 - 29 de maio de 2014

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& Direito Justiça FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL. Quinta-feira, 29 de maio de 2014 n [email protected] Como é possível viver uma realidade com Segurança Pública e Direitos Humanos? Atualmente, um dos principais desafios é desmistificar que direitos humanos são somente para quem comete crimes. Pág. 7

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Jornal O Estado (Ceará)

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Page 1: Direito e Justiça - Edição 22265 - 29 de maio de 2014

&Direito JustiçaFORTALEZA - CEARÁ - BRASIL. Quinta-feira, 29 de maio de 2014 n [email protected]

Como é possível

viver uma realidade

com Segurança Pública e Direitos

Humanos?

Atualmente, um dos principais desafios é desmistificar que direitos humanos são somente para quem comete crimes.

Pág. 7

Page 2: Direito e Justiça - Edição 22265 - 29 de maio de 2014

[expediente]

Hoje, o caderno Direito & Justiça discute, sob o viés jurídico, um tema que tem incomodado bastante a vida de brasileiros: o direito à segurança pública que, logo, está atrelado aos direitos humanos.

A sensação de impunidade e a insegurança tem acompanhado a realidade de milhares de cidadãos brasileiros que convivem diaria-mente com o aumento da criminalidade nas ruas. A desacreditação na efetividade da polícia e a intolerância pela falta de resposta aos anseios por segurança pública tem feito crescer os casos de “fazer justiça com as próprias mãos”, que vêm sendo denominado como a “onda dos justiceiros”.

Os recentes fatos – como o da dona de casa, em Guarujá (SP), que foi espancada pela população sob a acusação de ter sequestrado crianças para rituais de magia negra, entre outras ocorrências de criminosos sendo linchados pelos cidadãos, têm travado um ques-

tionamento: Como é possível viver uma realidade com segurança pública e com direitos humanos?

Para a defensora pública, Amélia Soares, viver essa realidade é uma necessidade urgente. Segundo afirma, primeiro deve-se saber que os direitos humanos não são contra a segurança pública, “pelo contrário, a efetiva segurança pública exige que os direitos humanos sejam res-peitados”. Pela Constituição Federal de 1988, a segurança pública é, inclusive, citada como um direito fundamental, o qual é de dever do Estado provê-la. Você pode conferir a matéria completa na página 7.

Também trazemos, este mês, uma entrevista exclusiva com o mi-nistro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes (página 3) e a enquete sobre a aprovação do projeto de lei que destina aos negros, 20% das vagas em concursos públicos federais. O Direito & Justiça foi às ruas saber se a população é a favor ou não (página 8).

DIREITOS PARA QUEM? OS DIREITOS HUMANOS E A SEGURANÇA PÚBLICA

EDITORIAL BOM LADRÃO E MORALIDADE PÚBLICA

A providência de prestar con-tas, tanto em decorrência de cam-panha eleitoral quanto em função

de atividade p a r t i d á r i a , encontra-se devidamente regulamenta-da, sendo da competência d a J u s t i ç a E l e i t o r a l o poder de fis-calização da escrituração contábil (art. 34 da Lei no 9.096/95 – LOPP c/c art. 28 da Lei no

9.504/97 – LE). Para os parti-dos políticos, a legislação prevê a obrigação legal de “enviar, anualmente, à Justiça Eleitoral, o balanço contábil do exercício findo, até o dia 30 de abril do ano seguinte.” (art. 32 da LOPP). E, ainda, no “ano em que ocorrem eleições, o partido deve enviar ba-lancetes mensais à Justiça Eleito-ral, durante os quatro meses ante-riores e os dois meses posteriores ao pleito.” (§ 3o do art. 32). Assim, partidos políticos e candidatos

(art. 29 da LE) possuem a obri-gação de prestar contas à Justiça Eleitoral, destacando-se o fato de que para os candidatos há apenas um momento para a apresentação dos documentos contábeis – após as eleições – ao passo que as agremiações precisam prestar contas ordinariamente, em ano de não eleição (relativamente ao exercício anterior) e duas vezes em ano eleitoral. Para as Eleições de 2014, o TSE editou a Resolução no 23.406/2014, tratante da arre-cadação e os gastos de recursos.

Destaque importante, sobre o tema, para o fato de ter sido o processo de prestação de contas eleitorais judicializado (§ 6º do art. 37 da LE) com a edição da Lei no 12.034, de 29-9-2009, alteradora da lei das eleições (LE). Em decorrência de não mais terem as contas o caráter apenas administrativo, a partir da decisão “que desaprovar total ou parcialmente a prestação de contas dos órgãos partidários caberá recurso para os Tribunais Regionais Eleitorais ou para o Tribunal Superior Eleitoral, con-forme o caso, o qual deverá ser recebido com efeito suspensivo” (§ 4o do art. 37), possibilitando-

-se seja a matéria reavaliada pelo TSE, relativamente às decisões proferidas pelos regionais elei-torais, antes não admitido. Ao recurso atribui-se o efeito sus-pensivo, medida não prevista na sistemática recursal anterior em prestação de contas, lembrando que em regra o apelo eleitoral possui efeito apenas devolutivo (art. 257 do Código Eleitoral).

Necessário registrar, ainda, o fato de que as contas eleitorais precisam ser apresentadas nos prazos legais (30 dias após o dia da urna), sendo certo que ha-vendo dois turnos de votação, os candidatos elegíveis no segundo momento deverão apresentá-las “de uma só vez, no mesmo prazo aludido, computado, porém, da realização do segundo turno (LE, art. 29, § 2o)”[Direito Eleitoral. José Jairo Gomes. Atlas. 9o. São Paulo, p. 337). A inobservância do tempo legal, enquanto perdurar a inércia, impede a diplomação dos eleitos (art. 29, § 2º da LE), “eis que ninguém poderá ser diplomado sem que suas contas de companha estejam julgadas” [Obra citada, p. 337).

Apresentadas as contas e depois das análises técnicas a cargo da

Justiça Eleitoral, seja na primeira (Juiz Eleitoral), segunda (TRE) ou instância especial (TSE), de-verão os documentos ser decla-rados em consonância com a lei (aprovadas), em sintonia parcial (aprovadas com ressalva), em desacordo (desaprovadas) ou não prestadas – art. 3o da LE.

A apresentação regular das con-tas, sem mácula, denota tanto a correção na arrecadação e gastos de recursos, quanto a transparên-cia no procedimento, demons-trando, em tese, estar o candidato apto a assumir o cargo público. O registro de ressalva, embora na prática não traga nenhuma consequência sancionatória ao postulante ou agremiação, indi-ca algum erro formal ou mesmo material a ser corrigido, vigo-rando, nos julgados, o chamado princípio da proporcionalidade ou razoabilidade, buscando-se, para tanto, a análise da relevância das irregularidades. A conclusão no sentido da aprovação com ressalva não se mostra de fácil verificação, ao passo que a desa-provação traz algumas consequ-ências drásticas aos candidatos e partidos, temas para exploração nas próximas oportunidades.

A dilapidação criminosa do patrimônio público tem sido prática comum na história política da humanidade.

Pregado na Igreja da Misericórdia de Lisboa, no ano de 1655, o “Sermão do bom la-drão” de Padre Vieira encontra-se, plenamen-te, aplicável ao mundo contemporâneo. É que sua homilia de visionário mostra as entranhas dos problemas do Brasil - já àquela época - envol-vido com improbidade administrativa e o enri-quecimento ilícito dos gestores públicos.

Assim começa seu dis-curso o padre eloquente; conta-se que dois ladrões foram condenados em Jerusalém, ambos execu-tados e mortos, sem direito a qualquer defesa e apelação. Eis que, porém, um dos ladrões implora a Cristo que se lembrasse dele em seu reino, tendo como resposta que juntos se encontrariam no paraíso. Assim falou o Mestre, certamente, porque se tratava de um mísero larápio, desprovido das mínimas con-dições para restituir a coisa furtada, vítima da pobreza absoluta, da degradante injustiça social arrastado à criminalidade por forças estranhas à sua própria vontade.

Mas, em relação aos ladrões ricos e pode-rosos, diz Vieira que essa regra não se aplica: “pois nem os reis podem ir ao paraíso sem levar consigo os ladrões, nem os ladrões podem ir ao inferno sem os levar consigo os reis”, tendo em vista o que praticam esses últimos, em todos os reinos da terra, que “em vez de reis levarem consigo os ladrões ao paraíso, os ladrões são os que levam consigo os reis ao inferno”.

O rapto ou sequestro de coisa alheia, ou roubo, consiste em usar da violência para subtrair o que não pertence ao agressor. Ora, a prédica de Vieira em relação a isso é retórica de fogo, dizendo: “os príncipes tomam muitas coisas a seus vassalos violentamente, e contra a sua vontade; logo parece que o roubo é lícito em alguns casos, porque, se dissermos que os príncipes pecam nisto (sic), todos eles, ou quase todos se condenariam.”

Com efeito, citando S. Tomás de Aquino, sentencia: “que, se os príncipes tiram dos súditos o que segundo a justiça lhes é devido para conservação do bem comum, ainda que o executem com violência, não é rapina, ou roubo. Porém, se os príncipes tomarem por violência o que se lhes não deve, é rapina e la-trocínio. Donde se segue que estão obrigados à restituição como os ladrões; e que pecam mais gravemente que os mesmos ladrões, quanto é mais perigoso e mais comum o dano com que ofendem a justiça pública, de que eles estão postos por defensores.”

No mesmo diapasão é o discurso de São Basílio de Magno, citado por Vieira, aqui literalmente transcrito: “Não são os ladrões, os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem esse título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os ou-tros ladrões roubam um homem, estes (sic) roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo: os outros, se furtam, são enforcados, estes (sic) furtam e enforcam.”

Passados tantos séculos de corrupção e desmando, o Constituinte Brasileiro de 1988 cometeu ao Ministério Público, dentre outras funções, as de promover a ação penal públi-ca e zelar pelo efetivo respeito dos poderes públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados na Constituição, promovendo as medidas necessárias à sua garantia, responsabilizando os culpados, pelo que a Instituição vem sofrendo ameaças vela-das de perda de suas garantias e atribuições.

Nesse campo de atuação jurídica, o que se constata hoje - deploravelmente – é a mesma realidade delatada pelo insigne Sacerdote e Estadista Português em 1655. Ainda se vê hoje, tal com se via em Roma, levar à forca o pequeno ladrão, por ter furtado algo insignificante de um supermercado, sendo que, no mesmo dia e hora, são exaltados, em triunfo, “não mais os reis, mas também os governantes” por terem roubado o patrimônio público. E quantos ladrões triunfantes não são absolvidos de seus graves crimes, pelos seus próprios pares, aviltando a nação!?

Desses governantes, se pode dizer que estão sempre ocupados com a fama e a manutenção no poder a qualquer preço. Tal como recitava o poeta latino Sidônio Apolinário: “Soronato está sempre ocupado em duas coisas: em castigar furto e em os fazer. Isto (sic) não era zelo de justiça, senão inveja. Queria tirar os ladrões do mundo, para roubar ele só.”

EDITORA: Solange Palhano - REPÓRTER: Anatália Batista - EXECUTIVA DE NEGÓCIOS: Marta Barbosa - DIRETOR DE ARTE: Wevertghom B. Bastos - FOTOS: Tiago Stille - Anderson Santiago - Iratuã Freitas

2 FORTALEZA - CEARÁ - BRASILQuinta-feira, 29 de maio de 2014

DIREITO & JUSTIÇA

PRESTAÇÃO DE CONTAS ELEITORAIS

REVISTA ÍNTIMAA revista íntima é prevista no

artigo 373-A da Consolidação das Leis Trabalhistas, e, como o pró-

prio nome diz, é algo vincula-do ao corpo do trabalhador, à nudez. É o ato de coagir o trabalhador a despir-se na frente do empregador ou de algum preposto seu, no intuito de verif icar se aquele empre-gado está se apropriando de algum bem material da

empresa evitando, com isso, uma dilapidação do seu patrimônio.

Há uma grande luta na Justiça do Trabalho em pacificar o enten-dimento no que diz respeito a pos-sibilidade ou não de o empregador utilizar-se da revista íntima e da revista pessoal. Esta encontra uma maior convergência nas decisões, em virtude da maior facilidade em perceber quando o empregador está ultrapassando seus limites na vistoria, além de ser mais fácil adotar um procedimento que não venha tornar aquela vistoria vexa-tória para o trabalhador.

Porém, a revista íntima é mais difícil de ser ponderada. Em entrevista concedida no dia 03 de dezembro de 2012, o atu-al presidente do TST, ministro Barros Levenhagen, informou o posicionamento do Tribunal no tocante ao assunto ora estudado: “O TST não é contrário ao poder de o empregador procedê-la, mas

se preocupa em que ela ocorra de forma moderada e observando os princípios constitucionais de inviolabilidade da privacidade da pessoa humana consagrados na Constituição. O empregador no uso do poder diretivo que lhe confere o artigo 2o da CLT não pode se exceder nesses atos de coordenação e fiscalização do tra-balho. Daí porque quando atinge o valor imaterial da privacidade, submetendo o empregado a uma revista vexatória, incorre em dano moral e até imaterial.”

Acredita-se que, da mesma for-ma que o empregado possui di-reitos individuais, direitos esses tidos como invioláveis, presentes na Constituição Federal, em seu artigo 5o, inciso X, o empregador também detém poderes que não podem ser violados.

Ao empregado, é garantido o

direito à liberdade, à intimidade, à dignidade; já ao empregador, é garantido o poder de direção, fiscalização e disciplina. Porém, para tudo há um limite.

Um empregador não pode, indiscriminadamente, deixar o empregado em situação vexatória, humilhante. Da mesma forma, não podemos tirar do empregador o direito de proteger seu patrimô-nio. A palavra-chave é a ponde-ração no procedimento adotado.

Portanto, se uma empresa pre-tende revistar seus empregados deve possuir alguns cuidados, tais como: não revistar a bolsa do em-pregado na frente dos outros traba-lhadores, ou na presença de clien-tes, além de não ser irônico com o empregado. Um procedimento utilizado atualmente por algumas empresas é o uso de câmeras, mas também requer diversos cuidados.

Rodrigo Cavalcante

SERVIDOR DO TRE/CE

EdilsonSantana

PROMOTOR DE JUSTIÇA

Carolina Silveira

ADVOGADA

Ana Carolina dos AnjosADVOGADA

AS REGRAS SOBRE O REGISTRO DE MARCASA marca é a identidade dos

produtos e serviços. De acordo com o disposto no art. 122 da Lei de Propriedade Industrial (Lei no 9.279, de 14 de maio de 1996), marca é o sinal distintivo visualmente perceptível que identifica, direta ou indireta-mente, produtos e serviços.

Para fazer o registro dessa marca no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), órgão responsável, tem-se a necessidade da presença de três requisitos: Novidade relativa; não colidência com marca notó-ria; não impedimento.

Do requisito da novidade relati-va, não se exige que a marca seja novidade absoluta, a relatividade está em não ser o produto necessa-riamente criado pelo empresário, mas que seja nova a utilização do signo de identificação do produto industrializado, comercializado,

ou de serviço prestado. Em rela-ção à não colidência com marcas notórias, refere-se às marcas no-toriamente conhecidas, as quais, mesmo sem o registro no INPI, merecem a tutela do direito em-presarial, portanto não poderá, no ato do registro, haver colidências com essas marcas. E, quanto ao não impedimento, trata-se de proibição ao registro de marcas nas hipóteses estampadas no art. 124 da LCP.

Para o registro de marca, pri-meiramente, busca-se a anterio-ridade, com o fim de saber se já existe marca registrada que pos-sa constituir impedimento legal para o pedido. Após o pedido de registro da marca, é requerido através de formulário próprio, onde são prestadas informações e fornecidos dados sobre a marca e o interessado no registro.

O INPI recebe o pedido que

será protocolado, e, no prazo de 60 dias, será publicado na Revista de Propriedade In-dustrial, que concede mais 60 dias para que terceiros possam apresentar oposição ao registro. Se houver oposição ao pedido, haverá análise dos argumentos opostos e concedido direito de o requerente apresentar defesa. Se o registro da marca for defe-rido sem oposição, o requerente deverá efetuar pagamento das retribuições relativas à expedi-ção do certificado e ao primeiro decênio de vigência do registro.

O registro da marca tem du-ração de 10 anos, a partir de sua concessão (LPI, art. 133), sendo prorrogável por períodos iguais e sucessivos, devendo o interessa-do pleitear a prorrogação sempre no último ano de vigência do re-gistro. Sempre que prorrogado, haverá cobrança da retribuição.

Não há obrigatoriedade em registrar a marca, no entanto, o registro ga-rante direitos específicos e que são fun-d a m e n t a i s para a defesa do negócio empresarial. Uma empre-sa que faz uso de determi-nada marca sem o devido registro não tem a prote-ção absoluta e exclusiva, sendo exigido o registro para resguardar os direitos relativos à proprieda-de, identificação da indústria, seu objetivo social, bem como serviços prestados à sociedade.

Page 3: Direito e Justiça - Edição 22265 - 29 de maio de 2014

Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e membro efetivo do Tribunal Superior Eleitoral

(TSE), Gilmar Mendes foi o entrevistado deste mês para o caderno Direito & Justi-ça, do jornal O Estado. Ele participou de um dos principais julgamentos na Histó-ria do Brasil, o escândalo de corrupção denominado Mensalão.

Entrevista, Gilmar Mendes comenta sobre o andamento contra a corrupção no País, as expectativas para as eleições em outubro deste ano, bem como o momento de desacreditação no cenário político. Para o ministro, esse sentimento depressi-vo atrapalha no avanço do Brasil. Segundo afirma, “isso é ruim para a democracia e pode estimular condutas aventureiras, surgir salvadores da pátria, o que sabemos que não resulta em nada positivo”.

Gilmar Mendes integra o STF desde ju-nho de 2002. Na mais alta Corte, também exerceu a presidência no biênio 2008/2010 e ainda presidiu o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Em sua carreira, já assumiu a presidência do Tribunal Superior Eleito-ral (TSE), foi nomeado advogado-geral da União; Procurador da República; assessor técnico no Ministério da Justiça e subchefe para assuntos jurídicos da Casa Civil.

[Direito & Justiça]: Quais as expectati-vas para as eleições 2014?

[Gilmar Mendes]: Tenho a impressão de que vamos ter eleições bastante disputadas e a Justiça Eleitoral está devidamente aparelhada para dar respostas no que diz respeito às elei-ções federais – presidencial e deputados da Câmara Federal, e aos pleitos estaduais – de governo e as Assembleias Legislativas.

[D&J]: E quanto à questão da fiscali-zação, os brasileiros podem esperar por mais rigor esse ano?

[GM]: Acho que a Justiça Eleitoral está aprimorando o controle e evitando que se cometam abusos de variada ordem – abuso de poder econômi-co, do poder político, da mídia, de modo a desequiparar as rela-ções entre os concor-rentes, mas sempre é necessário que os próprios interessados ou afetados tragam também a denúncia à Justiça Eleitoral, e que serão certamente investigados.

[D&J]: No Brasil, temos um ponto di-fícil de combater que é a questão da compra de votos. O senhor acha isso uma questão cultu-ral do brasileiro?

[GM]: Certamente, e tem o aspecto cultural e tem o aspecto relacionado com o estado de pobreza em determinadas regiões do País. Isso

ocorre de maneira bem mais evidente do que em outros e hoje há mecanismos específicos que

permitem a cassação do registro, do pró-prio diploma e do mandato em razão da compra de votos.

[D&J]: No com-bate à corrupção, o Brasil está an-dando?

[GM]: É notório que a gente avan-çou, hoje temos pes-soas presas por cor-rupção, mas é uma questão muito séria relacionada a práti-cas que se tornaram aparentemente co-muns, ligadas, às vezes, ao fenômeno de financiamento de

campanha, corrupção política e precisamos realmente nos aparelhar nesse sentido. No âmbito do Judiciário, o próprio Conselho Na-

cional de Justiça (CNJ) tem atuado no sentido de combate à corrupção, punindo magistrados, servidores e temos tido, como disse, casos relevantes na área da Justiça cri-minal, como recen-temente o mensalão, é talvez um exemplo. Mas temos muitos exemplos também na Justiça estadual.

[D&J]: Como o senhor acha que refletiu esse resul-tado do mensalão para a sociedade?

[GM]: Tenho a impressão de que o resultado é po-sitivo, a sociedade percebe que um círculo de impunidade está se encerrando.

[D&J]: Sobre a política brasileira, o senhor acha que passa por um momento delicado e de desacreditação por parte da população?

[GM]: Acho que existe esse tipo de sentimen-to, mas certamente há a necessidade de que nós participe-mos do processo e tentemos reformar por dentro, fazendo eleição de pessoas que vão realizar as reformas, almejá--las. Acho extrema-mente importante que nós percebamos isso, que nós temos forças para partir do nosso próprio voto, da nossa manifesta-ção. Não é possível cair nessa posição ilícita e depressiva como muitos indi-cam, e nós precisa-mos investir, talvez, nas eleições de políticos que vão apostar na reforma política, nessa maior aproximação os cidadãos e os representantes.

[D&J]: E essa desacreditação acaba que atrapalhando o avanço do Brasil.

[GM]: Com certeza, isso é ruim para a demo-

cracia e pode estimular condutas aventureiras, surgir salvadores da pátria, o que nós sabemos que não resulta em nada positivo.

[D&J]: Ministro, como o senhor vê essa questão dos linchamentos e tantas outras barbaridades que estão acontecendo pelo Brasil através de pessoas cansadas da falta de resposta da Polícia e que optaram em fazer a justiça pelas próprias mãos?

[GM]: Essa questão de linchamento é lamen-tável. Esse é um quadro da insegurança pública que gera esse tipo de situação. Às vezes, a con-fiança na impunidade; às vezes, a sensação de que se tem que fazer justiça com as próprias mãos. Isso é um perigo para a comunidade e a gente sabe que isso vai só ampliar a taxa de criminalidade.

[D&J]: Tem também a questão do aban-dono do Estado, o sentimento de carência, de investimentos. Concorda com isso?

[GM]: Com certeza, embora tenhamos tido melhorias. Veja, por exemplo, a questão das UPP’s (Unidades de Polícia Pacificadora) no Rio de Janeiro – a retomada daqueles terri-tórios que estavam nas mãos do tráfico e do crime organizado. Acho que isso é um sinal positivo e mostra que a gente precisa dar con-tinuidade, ainda, a esse processo. É importante que melhoremos a Justiça Criminal como um todo, em seu funcionamento para que ela possa dar uma resposta nesse quadro de se-gurança pública. Mantendo preso quem deve ficar preso, soltando quem deve ser liberado e acho que isso é um processo que nós temos dar uma oportunidade e é uma contribuição que o Judiciário pode dar à sociedade nessa matéria de segurança pública.

[D&J]: Um melhoramento também no Sistema Carcerário.

[GM]: Com certeza, nós estamos muitos defi-citados nessa área, é um quadro vergonhoso. Nós temos mais de 500 mil presos e temos 350 mil vagas, portanto, temos uma superlotação já por definição. Não temos vagas para o regime semia-berto nem aberto. Não construímos esse modelo, então precisamos, de fato, dar atenção a isso.

[D&J]: Fora tam-bém os mandatos de prisão, que, se forem cumprir to-dos, não tem es-paço?

[GM]: Não, não tem. Já não tem hoje para os que estão pre-sos, por conta dos excessos.

[D&J]: Ministro, a realização da Copa do Mundo já está aí bem próxima, e não deixa de haver as especulações a respeito de mani-festações. O senhor acha que as dimen-

sões devem ser maiores em relação as que aconteceram no ano passado, durante a Copa das Confederações?

[GM]: Não tenho essas expectativas, acho que as autoridades têm que exercer a autoridade. As manifestações podem-se fazer e devem-se fazer, não há nenhum problema. Agora, acho

que tem que respeitar os padrões do estado de direito – não ao vandalismo, não à agressão de pessoas, isso precisa realmen-te ser respeitado.

[D&J]: Acha que durante o Mundial e, se houver es-sas manifestações, pode ser uma bre-cha para partidos políticos utiliza-rem-se disso du-rante as campa-nhas?

[GM]: Não, eu não acredito. Não vejo ne-nhuma força política

colocando-se contra a Copa. As pessoas ques-tionam os gastos, eventualmente os abusos, mas não vejo nenhuma força política expres-siva contra o evento, a gente vê isso nos mo-vimentos de rede sociais, mas nenhuma força política formalizada assumiu esse papel e não vejo que tentem exercer pressão por essa via.

ENTREVISTA GILMAR MENDES

[ ] [ ][ ]

“Precisamos investir nas

eleições de po-líticos que vão apostar na re-forma política”

“A sociedade percebe que

um círculo de impunidade

está se encerrando”

“O déficit do sistema carcerário, no Brasil,

é um quadro vergonhoso”

DIREITO & JUSTIÇA

3FORTALEZA - CEARÁ - BRASILQuinta-feira, 29 de maio de 2014

“O CNJ tem atuado no combate à corrupção e punindo os magistrados”

TIAGO STILLE

TIAGO STILLE

Page 4: Direito e Justiça - Edição 22265 - 29 de maio de 2014

Filho do poeta e advogado Goffredo da Silva Telles, Goffredo Telles Junior seguiu os mesmos caminhos do pai na advocacia. Nascido na cidade de São Paulo, em 16 de maio de 1915, foi um advogado militante durante toda a vida e professor de Direito por quase 45 anos.

Formou-se em Direito na Universidade de São Paulo em 1937, onde desde então exerceu a advocacia. Como professor, iniciou as atividades no ano de 1940 na USP lecionando Direito, aposentou--se em 1985 ao atingir 70 anos de idade. Porém, antes disso, ganhou a honraria de professor emérito da USP.

Na mesma universidade, Goffredo da Silva foi organizador e primeiro chefe do departamento de filosofia e teoria geral do direi-to, além de coordenador dos cursos de pós-graduação. Também exerceu a função de conselheiro do Conselho Penitenciário de São Paulo e deputado federal. Na Câmara dos Deputados, participou da instalação do crucifixo de Jesus Cristo no Plenário; lutou por um sistema realista de discriminação constitucional das fontes de receita tributária e pela defesa dos minérios e da Amazônia.

Ele foi, também, secretário da educação e cultura da prefeitura de São Paulo e sócio fundador do Instituto Brasileiro de Filosofia. Na luta pelos direitos humanos e de liberdade democrática, pu-blicou os livros Lineamentos de uma Constituição e Lineamentos de uma Democracia Autêntica. Durante regime militar, leu a seus alunos da Faculdade de Direito da USP, a Carta aos Brasileiros, de sua autoria.

Junto ao Instituto dos Advogados de São Paulo, em 1966, ofe-receu um anteprojeto de Constituição ao Governo, o qual ganhou publicação nos Anais da Assembleia Legislativa do Estado. Parti-cipou do Congresso Nacional dos Advogados Pró-Constituinte, da Conferência Internacional sobre a dívida externa dos países em desenvolvimento. Em 1993, leu a Segunda Carta aos Brasileiros, por defesa à Constituição.

Presidiu a Associação Paulista dos Professores do Ensino Supe-rior, a Associação Brasileira de Juristas Democratas e participou da fundação da Academia Paulista de Direito. Além disso, foi sócio fundador do Museu Lasar Segall e, em 2002, membro honorário da Academia Brasileira de Letras Jurídicas.

Uma sugestão legislativa de iniciativa popular foi apresen-tada aos internautas, no portal e-Cidadania do Senado Fede-ral, e já obteve mais de 20 mil adesões. O objetivo é permitir ao cidadão comum, porém devidamente qualificado, o direito de portar arma. No Facebook, a proposta (SUG 12/2014) ob-teve mais de 400 compartilhamentos e será analisada pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH). Hoje, em vigor o Estatuto do Desarmamento, somente quem comprove depender do uso da arma para subsistên-cia pode portar o objeto. Enquanto isso, outro projeto de lei tramita no Congresso para modificar o Estatuto e estender a posse para agentes e guardas penitenciários e portuários fora de serviço. De acordo com a lei em vigor, é permitido o uso da arma, em dias de folga, aos agentes das policiais, Forças Armadas, agentes da inteligência, polícias da Câmara e do Senado e guardas municipais de capitais e cidades com mais de 500 mil habitantes.

Fonte: Agência Senado

População de baixa renda poderá ter ingressos para shows gratuitos

Em oito anos, todas as comarcas devem possuir defensores públicos

Um fato inusitado chamou atenção na OAB-CE este mês. A instituição recebeu, de um preso, um habeas corpus es-crito em um lençol. O documento foi apresentado pela ou-vidora Wanha Rocha, no Encontro Nacional de Ouvidorias, e logo encaminhado ao ouvidor do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Martins. O presidiário, Hamurabi Contri da Silva, cumpre pena no IPPOO 2, na Região Metropolitana, em Itaitinga. Na peça, ele pediu para que seu benefício fosse cumprido, pois já teria direito ao sistema de regime semia-berto. Para a ouvidora da OAB-CE, o preso utilizou uma ferra-menta arcaica de comunicação para se valer de “um direito que ultrapassa os limites da prisão”. Já para o presidente da entidade, Valdetário Monteiro, este é mais um dos casos em que o carcerário perde o benefício assegurado por lei devido à falta de defensor público para apresentar o documento de forma adequada. O presidente ressaltou ainda: “Ele procu-rou a OAB, porque ela está presente, tem credibilidade e, em certos casos, até substitui o Ministério Público”.

Fonte: OAB-CE

O Ministério Público de Pernambuco encaminhou inquérito para a 2a vara do Tribunal do Júri do Recife contra os três acu-sados pela morte do torcedor Paulo Gomes da Silva, dentro do Estádio do Arruda, no último 2 de maio, ao ser atingido por um vaso sanitário arremessado em sua direção. Waldir Pessoa Fir-mino, Luiz Cabral e Everton Felipe estão em prisão preventiva, em Recife, acusados pelo homicídio e mais três tentativas de homicídio, em razão de o objeto ter atingido outras três pessoas também. Os envolvidos poderão ser condenados por 30 anos. O clube Santa Cruz, mandante da partida contra o Paraná, foi multado pela (Confederação Brasileira de Futebol) em R$ 60 mil, além de perder cinco mandos de campo.

Fonte: Agência Brasil

De autoria do senador Humberto Costa (PT-PE), um projeto de lei prevê uma reserva de 10% dos ingressos de eventos (esportivos, culturais, religiosos ou educacionais) realizados em área da União para as pessoas de baixa renda. O projeto já passou pela Comissão de Educação, onde foi aprovado, caso seja analisado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) poderá seguir para apreciação na Câmara dos Deputados. No entanto, a proposta tem gerado divergências: alguns parla-mentares defendem um menor percentual ou que o governo seja o patrocinador dos ingressos.

Fonte: Agência Senado

O Senado Federal aprovou a PEC das Defensorias. Além de ampliar a definição de Defensoria Pública na Constituição Fede-ral, a aprovação fixou que, dentro do prazo de oito anos, a União, os estados e Distrito Federal devem lotar todas as comarcas com defensores públicos. Pela nova definição, a Defensoria Pública é classificada como instituição e instrumento demo-crático. As duas votações da PEC (04/2014) foram unânimes, com 61 votos favoráveis em primeiro turno e 59 no segundo. A proposta é de autoria dos deputados Mauro Benevides (PMDB--CE), Alessandro Moura (PSC-RJ) e André Moura (PSC-SE), que determina, ainda, que o número de defensores seja proporcio-nal à demanda de serviços. Para o presidente do Senado, Re-nan Calheiros, a aprovação mostra que o Senado está dando mais um passo para o reconhecimento da Defensoria Pública e valorizando sua missão primordial que é a de dar assistência gratuita para as pessoas que não podem pagar. Renan disse, ainda, que “o compromisso do Senado é com o fortalecimento das instituições públicas e com a justiça social”.

Fonte: Agência Senado

Habeas corpus feito em um lençol é encaminhado ao STJ

Acusados da morte de torcedor atingido com vaso sanitáriopodem pegar 30 anos de prisão

Sugestão propõe porte de arma para cidadão comum

Goffredo Telles Junior (1915 – 2009)GRANDES NOMES DO DIREITO

ADVOGADO E PROFESSOR

4 FORTALEZA - CEARÁ - BRASILQuinta-feira, 29 de maio de 2014

DIREITO & JUSTIÇA

Cerca de 490 mil brasi-leiros são portadores do vírus da imunodeficiên-

cia humana (HIV), de acordo com informações do órgão especial para a Aids, Unaids, da Organização das Nações Unidas. Apesar do esforço do governo federal pela preserva-ção do direito dessas pessoas e investimentos em políticas de prevenção e tratamento da do-ença, outras medidas surgem com o objetivo de combater a discriminação aos doentes de Aids. Uma das propostas para legalizar essa luta contra o preconceito tramita no Senado Federal desde 2003.

O projeto de lei original é da ex-senadora Serys Slhes-sarenko e após ser aprovado em 2011, voltou ao Senado no início deste mês. Aprovado pela Comissão de Consti-tuição, Justiça e Cidadania (CCJ) depois de algumas alterações, prevê tornar cri-me, com reclusão de um a quatro anos e multa, para quem praticar tais condutas discriminatórias: “Recusar, procrastinar, cancelar ou se-gregar a inscrição ou impedir que permaneça como aluno em creche ou estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado”.

Além disso, também será considerado crime quem negar emprego ou trabalho; demitir ou exonerar o aidéti-co de seu cargo ou emprego; segregar no ambiente escolar ou de emprego e divulgar a condição de doente da Aids ou portador do HIV com a intenção de provocar ofensa. Segundo justificativa da ex--senadora, “o projeto visa proporcionar os meios legais para eficazmente os referidos preconceitos, discriminações ou segregações sociais ao portador do HIV”.

Ainda conforme Slhessa-renko, os portadores do vírus e os doentes são vítimas da ignorância e da falta de conhe-cimento de que a doença seria transmitida através de algum gesto de afeto. Ela defende que

a pessoa com Aids não é impe-dida de exercer qualquer tipo de atividade, seja profissional ou social e física. E ressalta que trata-se de um projeto de cará-ter social que privilegia a dig-nidade do ser humano, sobre-tudo, daquele que necessita de solidariedade e compreensão.

ALTERAÇÕESPelo projeto original, a de-

tenção seria de três a cinco anos. Ao ser aprovado em ou-tubro de 2011, na Câmara dos Deputados, ficou estabelecido que a pena seria de um a qua-tro anos e que seria extinto o ponto que classificaria como crime a demissão ou exone-ração do cargo ou emprego. No entanto, ao ser analisado novamente pelo Senado, no

início deste mês, ficou decidi-do manter esta questão como crime. O relator da proposta, senador Aloysio Nunes (PSDB--SP), considerou que acolher a emenda da Câmara seria um retrocesso na forma de como a sociedade tem encarado os portadores da HIV. Ainda de acordo com o senador, con-forme informações da Agência Senado, a Secretaria de Saúde de São Paulo havia o alertado de uma recomendação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), onde define que não deve existir discri-minação ou estigamatização de trabalhadores devido à doenças, e, portanto, os crité-rios utilizados para demissão deveria ser os mesmos de todos os trabalhadores.

TRABALHO AJUDA NO TRATAMENTO DO VÍRUS

Segundo uma pesquisa da OIT, publicada em novembro do ano passado, em Genebra, as pessoas portadoras do HIV têm mais probabilidade para cumprir o tratamento se inseri-das no mercado de trabalho, as desempregadas não alcançam o mesmo êxito. De acordo com o estudo, um dos fatores para dar continuidade ao tratamento deve-se ao fato de que, traba-lhando, dispõem de renda para arcar com os custos de serviços de saúde, bem como medica-mentos e alimentação adequada.

Aprovado pela CCJ, o projeto, aguarda, agora, a votação do Plenário do Senado. Se aceito, após sanção presidencial, co-meça a vigorar imediatamente.

Discriminar pessoa com HIV poderá ser crime

PENA DE UM A QUATRO ANOS

Serys Slhessarenko defende que seu projeto proporciona os meios legais para combater o preconceito e a segregação social dos portadores do vírus

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O professor casou-se com a advogada, Maria Eugênia Raposo da Silva Telles, com quem teve uma filha que também seguiu a carreira da advocacia. Em outro casamento teve o filho Go-ffredo Telles Neto. O professor e advogado veio a falecer em 27 de junho de 2009.

Fonte: Site Goffredo Telles Jr.

Page 5: Direito e Justiça - Edição 22265 - 29 de maio de 2014

Toda pessoa adulta com 60 anos ou mais é con-siderada um idoso. A

partir dessa idade, mais prote-ção e respeito devem ser asse-gurados. No Brasil, o Estatuto do Idoso é um dos mecanismos criados para garantir os direi-tos de quem chega à terceira idade, no entanto, muitos ain-da são os casos de impunidade e violações para estas pessoas mais fragilizadas.

Além do Estatuto, há tam-bém outras instituições de proteção aos idosos, que cui-dam mais de perto de seus direitos. Em Fortaleza, no Ministério Público, existe o Núcleo de Defesa do Idoso e da Pessoa com Deficiência. Lá, sete promotorias recebem cerca de 110 novos procedi-mentos ao mês, sendo nor-malmente 15 para cada uma. Dentre os casos mais decor-rentes que chegam aos pro-motores, segundo informou o promotor de Justiça Hugo Porto, estão: violação de di-reitos patrimoniais; um ente viciado em drogas; recursos coagidos; quebradeira dentro de casa; pressão psicológica; problemas relacionados à saúde e a autonegligência do idoso – considerada pelo promotor como um dos casos mais complexos para ser solu-cionado tendo em vista que se trata da negativa do idoso em aceitar ajuda.

Conforme Hugo Porto, a promotoria trata de todas as demandas em relação ao idoso e deficiente. Porém, o tipo de público para o qual o Ministério Público pode agir é o dos idosos em situação de risco e o do de-ficiente considerado hipervul-nerável. Em situação de risco é aquele que encontra um direito fundamental indisponível ou violado – na alimentação, na saúde, na segurança e na inte-gridade física. Sobre a questão patrimonial, está presente nas atribuições do Núcleo quando um ato ilícito é praticado para prejudicar o patrimônio e a

renda do idoso, por exemplo: obrigá-lo a realizar um emprés-timo consignado ou assinar um contrato de procuração.

“Não é porque a pessoa é idosa, não é porque é deficien-te que tem que ser discrimi-nado. Pelo contrário, tem que ser protegido e respeitado. O idoso que tem autoridade de autonomia, lucidez, deve ser tratado como um cidadão que tem as suas atividades e a sua vida civil independente. Se tiver uma fragilidade, cabe ao MP trazer uma igualdade nas relações. Se o idoso tiver um problema de saúde e houver omissão do Estado, cabe-nos agir. De igual modo, de um deficiente que precise ser incluído no mercado de tra-balho público, como as cotas que existem em concursos públicos para deficientes,

isso é uma atividade inclusive coletiva”, ressalta o promotor.

ATUAÇÃO EM DOIS SEGMENTOS

Segundo informou o promo-tor, no Núcleo existem dois segmentos definidos para a atuação: o de tutela individual, que é aquele idoso com uma situação específica violada, e o de tutela coletiva, que é um direito da categoria – como passe livre e reserva de vagas em estacionamentos.

Ainda de acordo com Hugo Porto, a urgência para resolver os problemas, tanto dos idosos como deficientes, que já são considerados casos frágeis e urgentes, dão-se pela própria narrativa da questão. “Se al-guém diz que existe uma pessoa dentro de casa que a trata com grosseria é totalmente distinto

daquele que está há tempos sem se alimentar ou sem ser medicado. A prioridade vai pelo grau e a qualidade do direito em que está sendo preservado”, explica. Também conforme ele, os procedimentos correm com uma boa velocidade, para que a resposta de direito à classe seja dada com celeridade.

“Trabalhamos no combate à violência psicológica; respon-sabilização no que diz respeito a encaminhar para os promo-tores cíveis, penais – entrar com as medidas protetivas, afastar alguém do lar, impedir contato, bloquear, suspender uma procuração. No primeiro momento, nós trazemos para cá, para verificar se aquele agressor sai pelo consenso encaminhando uma notifica-ção, por meio de audiência, explicando as consequências, utilizando as redes de proteção do Centro de Referência Espe-cializado de Assistência Social (Creas) e Centro de Referência de Assistência Social (Cras), e o Núcleo de Apoio Técnico para prestar um processo de sensibilização e orientação, não havendo resultado, a gente ingressa com a medida judicial protetiva – o MP não tem poder de determinar que uma pessoa saia de dentro de casa, pode recomendar ou orientar, sensibilizar e, se não, processar. É o juiz quem vai dizer se aquilo que o MP entende que seja uma medida mais preservativa, de resguar-do”, destaca Hugo.

DISQUE 100De acordo com o promo-

tor, além das denúncias que podem ser realizadas dire-tamente na sede do Núcleo pelo próprio idoso, deficiente, parentes ou responsáveis dos mesmos, podem ser feitas também através do Disque 100. Segundo ele, as violações podem ser narradas de forma anônima, identificando ape-nas o agressor e dados que permitam o acesso à vítima.

A partir da denúncia de uma cidadã que adquiriu seu primeiro imóvel residencial e não teve o desconto de 50% sobre os emolumentos cobra-dos em Cartório de Registro de Imóveis, o Ministério Público do Estado do Ceará constatou a prática dessa cobrança indevida. Agora, o Cartório que não seguir a regra poderá responder por crime de exação.

De acordo com o titular da 9a Promotoria de Justiça Cí-vel e de Defesa da Cidadania de Fortaleza, promotor de justiça Romério Landim, o conhecimento da prática inde-vida chegou até aos Juizados Especiais Cíveis e Criminais de Fortaleza, onde não houve êxi-to para evitar o pagamento. Desta forma, a promotora de justiça Ann Celly encaminhou para a 9a Promotoria Cível, a fim de uma resolução.

Ainda conforme Romério Landim, foram realizadas pesquisas com o objetivo de verificar como acontecia tal prática. Segundo ele, alguns cartórios do Estado do Ceará só concediam o desconto de 50% das taxas de serviços em cima da parte financiada. Em outros, o abatimento era con-

ferido independente da parce-la do valor total da aquisição.

“O correto, determinado pela Lei de Registros Públicos (6.015/73), no artigo 290, diz bem claro que ‘os emo-lumentos devidos pelo ato relacionado com a primeira aquisição imobiliária para fins residenciais, financiados pelo Sistema Financeiro de Habitação serão reduzidos

de 50%’. Porém, os cartórios estavam dando interpreta-ções diferentes do artigo”, disse o promotor.

Para que a regra fosse cumprida, como determina a Lei, o promotor instaurou um Procedimento de Con-trole Administrativo junto ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) requerendo que o Tribunal de Justiça do

Estado do Ceará, através da corregedoria, criasse uma resolução para abranger a determinação da Lei.

“Agora, após a resolução, ficou bem claro que a obriga-toriedade é total dos emolu-mentos, e não somente sobre a parte financiada. Sempre no primeiro financiamento do imóvel residencial, o consu-midor tem direito a 50% dos emolumentos”.

COBRANÇA INDEVIDA É CRIMERomério Landim ressalta

que se a ilegalidade prevale-cer e chegar alguma reclama-ção contra isso, a cobrança indevida constituirá crime de improbidade administrativa. “A pessoa pode, através de uma ação de improbidade ou de uma correção, perder até o cargo de oficial de regis-tro, e constitui crime porque os cartórios consideram os emolumentos como tributos, o que seria um excesso de exa-ção – um crime, por cobrança indevida”, afirma.

A resolução (no 3, de 09 de maio de 2014) foi divulgada no último dia 14, no Diário Oficial de Justiça. A fiscalização do cumprimento da regra fica a cargo da corregedoria do TJCE.

DIREITO & JUSTIÇA

5FORTALEZA - CEARÁ - BRASILQuinta-feira, 29 de maio de 2014

CAACE - Rua D. Sebastião Leme, 1033 - Bairro de Fátima- (85) 3272.3412 – www.caace.org.br. Notícias paracoluna - [email protected]

I Campeonato de Futebol das Caixas de Assistência do Nordeste

Foi realizado nos dias 1 a 3 de maio, em Tibau do Sul, no Estado do Rio Grande do Norte, a Primeira Copa IBBCA de Fut7 das Caixas de Assistência do Nordeste. O evento, orga-nizado pela coordenação regional das CAAs Nordeste, contou com a participação de seis, dos nove estados região: Alagoas, Ceará, Maranhão, Paraíba, Rio Grande do Norte e Sergipe.

A delegação cearense, apesar de ser considerada por todos como a melhor seleção, teve 3 de seus jogadores contundidos durante o jogo de semi-final contra o Rio Grande do Norte. Assim, durante a decisão pela 3a colo-cação contra Sergipe, o time cearense perdeu de 1 x 0, ficando assim, com o 4o lugar.

Para Júlio Ponte, presidente da CAACE, o evento foi bas-tante interessante. ” É sempre bom participar e conhecer o trabalho de todas as Caixas de Assistência”, ressaltou.

“O Campeonato foi muito bem organizado pela Caixa de Assistência do Rio Grande do Norte. Próximo ano estaremos mais preparados e esperamos disputar a final”, disse Fabio Coutinho, presidente da Comissão de Esporte e Lazer da OAB/CE e jogador do time da CAACE.

Maranhão foi a campeã da Copa das Caixas de Assistência do Nordeste. Em segundo lugar ficou com o Rio Grande do Norte e a terceira colocação com Sergipe.

A próxima Copa IBBCA de Fut7 das Caixas de Assistên-cia do Nordeste já está marcada para maio de 2015, na cidade de Maceió.

Uma prestação de contas que nos envaidece

A CAACE tem a satisfação de divulgar o balanço quantita-tivo de 2.256 atendimentos aos advogados (as) e depen-dentes associados que utilizaram os mais variados serviços oferecidos, nos meses de janeiro a abril de 2014.

Desse total, foram realizados 1498 atendimentos de odon-tologia; 402 atendimentos em fisioterapia convencional; 201 atendimentos em fonoaudiologia; 108 atendimentos de massoterapia; e 47 atendimentos para pilates.

Para Júlio Ponte, presidente da CAACE, esse acréscimo é bastante significativo e reforça a continuidade do trabalho pela melhoria e ampliação dos benefícios oferecidos à classe. “Nossos associados podem ter a certeza de sempre contar com o melhor para sua qualidade de vida”, ressaltou.

Esta conquista não é só nossa, é de todos os advogados e advogadas que apostam diariamente na qualidade dos serviços e convênios proporcionados com tanta satisfação. Agradecemos os votos de confiança e saibam que continu-aremos ampliando nossos serviços.

Núcleo de defesa recebe cerca de 110 procedimentos por mês

DIREITOS DOS IDOSOS

EMOLUMENTOSCartórios de imóveis são obrigados a conceder desconto de 50%

Hugo Porto - “A prioridade vai pelo grau e a qualidade do direito em que está sendo preservado”

O cartório que não seguir a regra poderá responder por crime de exação e perder o cargo de oficial de registro

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Page 6: Direito e Justiça - Edição 22265 - 29 de maio de 2014

DEFENSORIA PÚBLICA COMEMORA O DIA DO DEFENSOR COM EVENTO TEMÁTICO

Recuperação Judicial da necessidade à oportunidade

Para comemorar o Dia do Defensor Público, a Defensoria Pública do Estado do Ceará - DPGE promoveu, no último dia 22 de maio, o III Encontro Integração e Ação. O evento foi realizado no Hotel Luzeiros, em Fortaleza, e teve como objetivo acolher, integrar, sensibilizar e preparar os defensores públicos, para que eles possam lidar com

os constantes desafios diários da carreira defensorial. Durante o encontro foram realizados workshops e palestras sobre questões como: humanização dos relacionamentos profissionais, resolução dos conflitos pessoais, interação e relacionamento interpessoal, entre outros. Alguns cliques no III Encontro de Integração dos Defensores Públicos.

DEFENSORA PÚBLICA DO CEARÁ E PRESIDENTE DO CONDEGE, ANDRÉA COELHO, PARTICIPA DAS COMEMORAÇÕES DOS 60 ANOS DE DEFENSORIA DO RIO DE JANEIRO

A Defensora Pública Geral do Estado do Ceará e presidente do Colégio Nacional dos Defensores Gerais - CONGEDE, Andréa Maria Alves Coelho, participou das comemorações dos 60 anos da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, realizada no Theatro Municipal, na última segunda-feira (19), na capital fluminense. Considerada a defensoria mais antiga do Brasil, tem à frente o Defensor Público Geral, Nilson Bruno Filho, que recebeu personalidades dos cenários jurídico e político estadual e federal para debater a importância

da instituição pioneira na assistência jurídica aos necessitados que atua como modelo para todo país.

6 FORTALEZA - CEARÁ - BRASILQuinta-feira, 29 de maio de 2014

DIREITO & JUSTIÇA

Homenagem ao defensor público José Fontenelle Silva

Mesa de autoridadesAndréa Coelho na mesa de autoridades como presidente do Colégio Nacional dos Defensores Públicos

Geral do evento

Andréa Coelho com grupo de defensores públicos

Defensoras Karinne Matos e Yamara Lavor

Defensoras Liduina Freitas, corregedora da DPGE, Vanda Lúcia e Érica ALbuquerque

Defensora geral Andréa Coelho e defensora Paula Brasil

Defensores Karinne Matos, Rubens Lima Júnior e Adriana Benício com a defensora geral Andréa Coelho

Defensora geral Andréa Coelho com o coordena-dor das defensorias da capital Fernando Castro

Momento de integração geral

Andréa Coelho, defensora geral do Ceará e recém-eleita presidente do Colégio Nacional dos Defensores Gerais

60 anos da Defensoria do Rio de Janeiro

A obra aborda questões atuais relativas à Lei 11.101/2005, conhecida como Lei da Recupe-ração de Empresas e Falência, e suas implica-

ções para o empreendedorismo brasileiro. Escrito em colaboração por advogados de 14 escritórios partici-pantes, o livro reforça o papel da LEXNET como uma fonte de conhecimento jurídico acessível para seus clientes. O livro, coordenado pelos Drs. Fabio Forti e Victor Teixeira Nepomuceno, traz artigos de especia-listas brasileiros, argentinos, uruguaios e franceses, que comentam a legislação do ponto de vista nacional e global. A Lei da Recuperação de Empresas e Falên-cia ( Lei 11.101/2005) cuida dos vários aspectos que atingem a gestão de empresas em crise, sua recupera-ção judicial e a falência.

Autor: Fabio Forti e Victor Teixeira Nemopuceno (Coordenadores)Editora: LTrPáginas: 504Preço: de R$ 68,00 a R$ 100,00

Responsabilidade civil pelo inadimplemento da boa-fé

Este livro trata da responsabilidade civil a partir da nova teoria dos contratos, elegendo a cláusula geral da boa-

-fé como fundamento para análise de casos concretos nos quais se discute o papel do magistrado e os limites de sua atuação na fi-xação dos contornos da reparação devida pelo inadimplemento obrigacional nas relações privadas. Partindo da compreensão que os deveres gerais de conduta impõem-se tanto ao devedor quanto ao credor, busca-se uma rede-finição do modo de pensar a responsabilidade civil, mudando o foco da figura do ofensor e da análise de sua conduta para se preocupar com os danos infligidos à vítima e as alternativas disponíveis para garantir a sua reparação.

Autor: Marcos Ehrhardt Jr.Editora: FórumPáginas: 175Preço: R$ 89,00

Page 7: Direito e Justiça - Edição 22265 - 29 de maio de 2014

O medo, a insegurança e a sensação de impuni-dade. Essa é a realida-

de de milhares de brasileiros que convivem diariamente com o aumento da criminali-dade nas ruas. A desacredita-ção na efetividade da polícia e a intolerância pela falta de resposta aos anseios por segu-rança pública têm feito crescer os casos de “fazer justiça com as próprias mãos”.

Os recentes fatos – como o da dona de casa, em Guarujá (SP), que foi espancada pela população sob a acusação de ter sequestrado crianças para rituais de magia negra, entre outras ocorrências de criminosos sendo linchados pelos cidadãos, têm travado um questionamento: Como é possível viver uma realidade com segurança pública e com direitos humanos?

Para a defensora pública Amélia Soares, viver essa realidade é uma necessidade urgente. Segundo afirma, primeiro deve-se saber que os direitos humanos não são con-tra a segurança pública, “pelo contrário, a efetiva segurança pública exige que os direitos humanos sejam respeitados”. Pela Constituição Federal de 1988, a segurança pública é, inclusive, citada como um direito fundamental, o qual é dever do Estado provê-la.

“Nós temos o direito à segu-rança pública, agora ela é tam-bém a vivência da segurança pública do estado democrático de direito, e talvez o grande papel seja esse resgate que precisa ser feito de várias pon-tes, de várias formas. O Estado

tem que estar presente nas comunidades, mas a comu-nidade precisa também fazer sua parte, pois o problema da segurança pública não pode ser trabalhado apenas sob o viés da repressão, precisa ser trabalhado sobre todas essas dinâmicas – geração de em-prego e renda, perspectivas de vida, direitos básicos de habitação, de saúde. O Estado presente não é uma perspecti-va simplesmente de aumentar

os indicadores sociais, porque isso não vai resolver”, analisa a defensora.

Sobre os direitos humanos, Amélia também defende que se trata de um direito de todos. Segundo ela, o mais básico é o da liberdade, que é o de ir e vir. Dentro dessa perspectiva, conforme afirma, as pessoas acabam confundindo e enten-dendo que os criminosos ou acusados são os mais protegi-dos, no entanto, referem-se a

uma demanda maior. O direito pela moradia, saúde, educa-ção, liberdade de expressão, de acordo com a defensora, são direitos humanos. “Um dos principais desafios de hoje é desmitificar que direitos hu-manos não são apenas direito de quem cometeu crimes, são também dos policiais e de todos os que têm direito a exercer sua própria felicida-de”, ressalta.

Ainda conforme Amélia, é

preciso lembrar que os direi-tos humanos não nasceram do amor/idealismo ou do senti-mento altruísta. Para serem conquistados, muitas pessoas morreram e sofreram para que, hoje, tenhamos, a exem-plo, a Declaração Universal de 1948 e a Constituição de 88. “Chegamos a um ponto em que os principais direitos estão positivados, o que a gen-te precisa é exercer direitos e deveres”, enfatizou.

FORTALECER AS INSTITUIÇÕES

Para a defensora, hoje a sociedade vive um momento de descrença na segurança pública; de que não vale a pena acreditar devido à realidade de insegurança. “Violência gera violência e, hoje, as pessoas olham com desconfiança para a pessoa do lado. Esse senti-mento gera uma sensação de abandono”. A saída, segundo Amélia Soares, é fortalecer as instituições: Defensoria Pú-blica, Ministério Público, ma-gistratura, polícias, escolas e postos de saúde, por exemplo. “Há o contraditório e a ampla defesa que são direitos funda-mentais, sem eles a barbárie existe e a barbárie prejudica todos nós, um dia é A, outro B, e a gente perde o parâmetro de civilidade. Não podemos abrir mão em nenhum momento nossos princípios constitucio-nais”, defende.

Ela lembra, ainda, que é necessário que o Estado esteja atuante em todas as esferas, pois considera que, onde não está, irá surgir outra forma de poder. Portanto, a população

deve, também, construir a noção de cidadania e solida-riedade. “Chegou um ponto em que ou a gente vive a solidarie-dade preocupando-se com a sociedade do outro ou a gente vai viver a barbárie, jamais se pode repetir cenas como lin-chamento, temos que repudiar a justiça com as próprias mãos e fortalecer as instituições”.

“Os justiceiros não são de agora, já são de outra época. Não podemos apoiar, nem compactuamos com isso. Nós compactuamos com a legalida-de, com a veracidade e com a lei. Existem os meios de segu-rança para fazer isso, agora o que falta hoje, na realidade, é o Estado intervir mais, ser mais presente, qualificar mais os profissionais de segurança pú-blica, dar condições de trabalho, valorizar esse homem para que ele possa devolver a sociedade o seu melhor que é a prestação de um serviço com qualidade, que hoje deixamos muito a desejar exatamente porque es-tão faltando meios e condições de trabalho, principalmente a autoestima do policial”, afirma o presidente da Associação dos Militares do Estado do Ceará, cabo Flávio Sabino.

Flávio Sabino esclarece que o programa Ronda do Quar-teirão precisaria passar por várias modificações, entre elas a implantação das bases comunitárias, que segundo ele, nunca foram instaladas. Conforme informações do cabo, essas bases seriam instaladas nas comunidades para funcionar não somente como polícias, mas que tives-sem um serviço social.

DIREITO & JUSTIÇA

7FORTALEZA - CEARÁ - BRASILQuinta-feira, 29 de maio de 2014

O crescimento do mercado imobiliário já é bastante no-tório em todo o Brasil. Cada vez mais surgem novas cons-truções. E, ao mesmo instante em que eventuais problemas chegam até o consumidor fi-nal, como o descumprimento do prazo de entrega, podem surgir para os profissionais da arquitetura em relação à pa-ternidade sobre os direitos de seus projetos arquitetônicos.

No entanto, uma resolução do Conselho de Arquitetu-ra e Urbanismo (CAU/BR), aprovada em dezembro do ano passado, regulamentou os direitos morais e patrimo-niais, aos profissionais, sobre as obras e projetos técnicos na área. Contudo, fica, agora, a importância em firmar con-tratos, por escrito, entre ar-quitetos e incorporadoras. A necessidade é uma precaução em caso de possíveis conflitos pelo uso do projeto.

Conforme afirma a espe-cialista em direitos autorais e propriedade intelectual, Tânia Aoki, muitos arquitetos ainda desconhecem de seus direitos. Por se tratarem de criações intelectuais, os projetos ar-quitetônicos já eram objetos protegidos pela Lei de Direitos Autorais (9610/98), e, após a regulamentação, os profissio-nais têm assegurados os di-reitos exclusivos de utilização, publicação ou reprodução.

“A parte dos direitos morais é ligada, principalmente, à questão da paternidade da obra, então é a autoria. Quan-do você é autor do projeto,

tem como prerrogativa exigir que seu nome seja veiculado àquele projeto. Qualquer di-vulgação ou mídia do empre-endimento para o consumidor final tem que constar o nome do arquiteto, a não ser que ele não queira, pois pode querer ou não que seja divulgado.

Outro direito envolvendo a área moral é a alteração do projeto, que não pode ser feita sem consentimento do seu criador. O arquiteto tem que ser consultado se, even-tualmente, alguém quiser fazer alguma alteração, deve consultá-lo, e se não estiver de acordo, a incorporadora pode alterar, mas o autor do projeto tem a alternativa de não vincular o nome dele ao trabalho a partir daquele momento. Ele repudia a au-toria, como costumam dizer”, explica a advogada.

Já os direitos patrimoniais referem-se ao aproveitamento econômico do projeto. Se-gundo Tânia Aoki, o arqui-teto pode ceder seus direitos autorais à incorporadora e estipular restrições ou não. Por exemplo, o autor pode de-limitar que o empreendimento seja construído no bairro “x”, da cidade “y”. “É uma questão negociável entre as partes, o arquiteto tem essa prerroga-tiva, de autorizar ou não, e ganhar por isso”, salienta.

PRECAUÇÕESConsiderando o avanço

nos empreendimentos imo-biliários e a nova regulamen-tação, segundo a advogada,

é recomendável ao autor da obra intelectual que registre seu projeto junto ao CAU/BR, além de firmar contratos por escrito com a incorpo-radora ao vender a obra. “A partir do momento em que se faz o registro no CAU, está demostrando que foi ele [arquiteto/engenheiro] quem criou aquele projeto. Se não registrar, não está protegido”, lembra.

Se, porventura, alguém pla-giar a obra ou usá-la indevida-mente, o autor tem direito a indenização por dano moral e patrimonial. “Na prática, você vê que existem muitos proble-mas, e muitos arquitetos não conhecem os seus direitos, nem sabem dos seus direitos autorais, e é um ponto supe-rimportante porque tem que ser valorizado. Por ser uma criação intelectual, tem que ser protegida; como a turma não tem conhecimento, acaba tendo abuso”, defende.

RESOLUÇÃO DO CAUA Resolução, no 67, do Con-

selho de Arquitetura e Urba-nismo (CAU), entrou em vigor em 1o de março deste ano. De acordo com o regulamento, será considerado plágio a re-produção de pelo menos dois dos seguintes atributos: dis-tribuição funcional; forma vo-lumétrica ou espacial, interna ou externa e partido topológico e estrutural. Em violações de direitos autorais em obras inte-lectuais protegidas, o arquiteto pode processar a construtora e requerer a indenização.

Arquitetos devem registrar suas obras para protegerem-se da violação de direitos autorais

EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS

Tânia Aoki - “A partir do momento em que se faz o registro no CAU, está demostrando que foi ele [arquiteto/engenheiro] quem criou aquele projeto. Se não registrar, não está protegido”

DIVULGAÇÃO

Amélia Soares - explica que, hoje, um dos principais desafios é desmistificar que direitos humanos não são apenas direito de quem cometeu crimes, mas de todos

DIREITO DE QUEM?“A efetiva segurança pública exige que os direitos humanos sejam respeitados”

TIAGO STILLE

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ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL – SEÇÃO DO CEARÁ

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OAB-CE participará da Rede de Proteção de Direitos

Humanos na Copa

Cariri sedia primeiro encontro de Advogados do Sertão

OAB-CE lança Coalizão para Reforma Política

OAB-CE participará da Rede de Proteção de Direitos Huma-nos para Atuação na Copa do Mundo FIFA 2014. A sinalização foi dada pelo vice-presidente da OAB-CE, Ricardo Bacelar, em reunião realizada na última quarta feira (21), com o Ouvidor Nacional da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), Bruno Renato Teixeira. A Rede de Proteção está sendo instalada nas subsedes da Copa, envolvendo órgãos governamentais e entidades da sociedade civil, para prevenir atos de violência e o desrespeito aos Direitos Humanos, por parte das polícias ou dos cidadãos, durante a Copa. A OAB-CE ofereceu montar uma estrutura voltada a proteger o advogado, composta por representantes da Diretoria, das comissões de Defesa das Prerrogativas e dos Direitos Humanos, e do Centro de Apoio e Defesa do Advogado e da Advocacia.

Foi realizado, no último dia 15 de maio, o Primeiro Encontro dos Advogados do Sertão, no Centro de Convenções do Cariri, no Ceará, com uma solenidade que levou ao mesmo palco os mais importantes representantes da advocacia do Nordeste e os maiores talentos da poesia popular da região. O Encontro contou com 11 painéis sobre temas da atualidade e foi realiza-do pelo Conselho Federal da OAB em conjunto com as seccio-nais do Ceará e de Pernambuco, para discutir os problemas e apontar as soluções para problemas que são específicos dos advogados que atuam em comarcas do interior, como a falta de juízes, promotores, defensores públicos e serventuários na Justiça. Outro objetivo foi dar visibilidade à advocacia, à cultura do sertão e a relação entre elas ao logo da história.

A Coalização pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas foi lançada oficialmente no Ceará, em ato realizado na noite desta terça feira (20), pela OAB e representantes das entidades participantes. O movimento, que é suprapartidá-rio e de caráter nacional, reúne 95 entidades da sociedade civil com capilaridade em todo o país. Participaram do ato, o representante do Conselho Federal da OAB na Coalizão, o ex-deputado constituinte e advogado Aldo Arantes, e o presi-dente da OAB-CE, Valdetário Monteiro.

OAB-CE lança serviço 0800 para denúncias de violações

de Direitos HumanosA Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Ceará (OAB-CE), por

iniciativa da Comissão de Direitos Humanos da instituição, dispo-nibilizam um serviço 0800 para coletar todos os atos que ferem a garantia dos Diretos Humanos em Fortaleza. O atendimento é feito pelo telefone 0800.724.2116, de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h. De acordo com o presidente da OAB-CE, Valde-tário Andrade Monteiro, o serviço disponibilizado servirá para garantir os direitos constitucionais de todos os cidadãos, uma vez que haverá a possibilidade de analisar quais as violações mais cometidas e quais ações devem ser postas em prática.

8 FORTALEZA - CEARÁ - BRASILQuinta-feira, 29 de maio de 2014

DIREITO & JUSTIÇA

O Projeto de Lei da Câma-ra (PLC) 29/2014, que destina 20% das vagas

de concursos públicos federais para negros, foi aprovado no último dia 20 de maio, no Se-nado Federal. Agora, a medida segue para sanção da presidente da República, Dilma Rousseff.

De acordo com a proposta, os candidatos negros serão inseridos no sistema de cotas para vagas na administração pública federal, empresas pú-blicas, autarquias, fundações e sociedades de economia mista controladas pela União – por exemplo: Petrobras, Caixa Eco-nômica Federal, Correios, en-tre outros. O texto, de iniciativa do Poder Executivo, estabelece que os candidatos declarem-se negros ou pardos no ato da ins-

crição, eles deverão concorrer nas listas de ampla concorrên-cia e na reservada.

Ainda segundo o projeto, se classificado na lista ampla de concorrência, a vaga reserva-da será destinada à próxima pessoa negra nas classifica-ções. Para a senadora Ana Rita (PT-ES), relatora do projeto na Comissão de Direitos Hu-manos e Participativa (CDH) – conforme informações da Agência Senado, não há possi-bilidade de injustiça durante o processo seletivo, o sistema de cotas será utilizado somente para preenchimento das vagas.

“Temos de esclarecer que a cota é aplicada no processo de classificação. Todas as pessoas vão disputar as vagas no concurso público em pé de

igualdade. Não há nenhuma possibilidade de se fazer injus-tiça”, defendeu a parlamentar.

VIGÊNCIA E PUNIÇÕESO projeto traz consigo al-

gumas determinações: é pre-visto que a reserva de 20% de cotas seja aplicada em concursos cujo número de vagas corresponda a três ou superior a isso, no case de três vagas, uma será destinada ao candidato negro ou pardo; e a cota racial terá, ainda, um prazo de vigência de dez anos, não valendo para concursos com editais publicados antes de a lei começar a vigorar.

Também estão previstas punições para o candidato que fraudar os dados e men-tir na declaração, ele será

eliminado do concurso e do processo de admissão.

APROVAÇÃO HISTÓRICAO texto havia sido enviado à

Câmara em novembro do ano passado e aprovado em março. O relator, na Comissão de Consti-tuição, Justiça e Cidadania (CCJ) definiu a aprovação histórica do projeto. Segundo considerou, o problema do preconceito racial e da discriminação é secular no Brasil, contudo essa aprovação é algo para comemorar.

Ainda de acordo com o par-lamentar, dados do Censo 2010 apontam que pouco mais da metade dos brasilei-ros (50,7%) são de negros e mestiços. Desse número, em carreira pública federal, ape-nas, cerca de 30%.

VOCÊ CONCORDA?

Fernanda Pessoa Deputada estadual

Antônio Carlos Vendedor

Aline MunizAdvogada

Luiz Sabóia Funcionário Público

Muniz Costa Supervisor de Vendas

“Sou totalmente contra a questões de cotas. Acho que nós devemos fazer parte de um concurso pela nossa capacidade intelectual, penso que [reserva de cotas] não influencia em nada. Temos que ser capazes porque somos capazes e conseguimos vencer todas as barreiras, independente de cor, de classe social, sabemos que existem muitas pessoas capacitadas, mas às vezes tem medo de enfrentar a barreira de alguns preconceitos, e temos que dizer que somos competentes e capazes em todas as cir-cunstâncias de nossa vida”.

“Concordo, todo mundo precisa de emprego. A meu ver, não existe preconceito para ocupar cargos federais, acho que nem para branco nem para negro, e vejo como uma aprovação boa, pois há muitos ci-dadãos morenos tão bons quanto os brancos e pre-cisam de um cargo assim do mesmo jeito”.

“Entendo tratar-se de um importante mecanismo para nivelar os candidatos, uma vez que, em tempos pretéri-tos, essas pessoas foram bastante prejudicadas na base de sua educação. Esta previsão de cotas aliadas deverá ser associada a partir de agora a um sistema de ensino de base, pois caso contrário, tal previsão é apenas palia-tiva, não resolvendo o problema em longo prazo”.

“Concordo sim. Beneficiar o povo é importante, principalmente aqueles que ainda sofrem com certos tipos de preconceito, como é com os negros, o que não deveria acontecer.

“Sou a favor plenamente. O problema de discri-minação racial não pode existir não, todo mundo é igual e existe verba para isso, para ter esse controle. Infelizmente, ainda existe a questão do preconceito em certos cargos, o que é um problema para o País.

Negros terão reserva de 20% das vagas de concursos federais

ENQUETEPara saber a opinião da população a respeito do

projeto aprovado, o Direito & Justiça foi às ruas. Confira abaixo os comentários.

Você concorda com o sistema de cotas raciais para os negros em concurso público federal?

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