direito e religião na antiguidade

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CODIGO DE HAMURABI Durante o período de hegemonia do império babilônico sobre a Mesopotâmia (1800-1500 a.C.) o rei Hammurabi foi responsável por uma das mais importantes contribuições culturais daquele povo: a compilação de um código de leis escrito quando ainda prevalecia a tradição oral, ou seja, em época em que as leis eram transmitidas oralmente de geração em geração ou de forma consuetudinária. Do código de Hammurabi foram traduzidos 281 artigos a respeito de relações de trabalho, família, propriedade e escravidão. Embora repouse sobre a tradição anterior do direito sumério, o código é conhecido por ser o primeiro corpo de leis de que se tem notícia, que foi fundamentado no princípio da lei de talião, que estabelece a equivalência da punição em relação ao crime. O termo talião é originado do latim e significa tal ou igual, daí a expressão "olho por olho, dente por dente". A abordagem sobre o talião é o que mais comum pode ser feito com essa legislação que tão estigmatizada está porque nela encontra-se o talião, já que este é o assunto mais conhecido sobre essa legislação. O talião está presente na maior parte dos duzentos e oitenta e dois artigos. É interessante mostrar através de alguns artigos a maneira como funcionava o talião, pois pode parecer chocante a condenação à pena de morte, mas era uma condenação bastante usual pelo menos na legislação, já que muitos delitos

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DISCUSSÃO SOBRE O DIREITO E RELIGIÃO NA ANTIGUIDADE

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CODIGO DE HAMURABIDurante o perodo de hegemonia do imprio babilnico sobre a Mesopotmia (1800-1500 a.C.) o rei Hammurabi foi responsvel por uma das mais importantes contribuies culturais daquele povo: a compilao de um cdigo de leis escrito quando ainda prevalecia a tradio oral, ou seja, em poca em que as leis eram transmitidas oralmente de gerao em gerao ou de forma consuetudinria.Do cdigo de Hammurabi foram traduzidos 281 artigos a respeito de relaes de trabalho, famlia, propriedade e escravido. Embora repouse sobre a tradio anterior dodireito sumrio, o cdigo conhecido por ser o primeiro corpo de leis de que se tem notcia, que foi fundamentado no princpio dalei de talio, que estabelece a equivalncia da punio em relao ao crime. O termo talio originado do latim e significa tal ou igual, da a expresso "olho por olho, dente por dente". A abordagem sobre o talio o que mais comum pode ser feito com essa legislao que to estigmatizada est porque nela encontra-se o talio, j que este o assunto mais conhecido sobre essa legislao. O talio est presente na maior parte dos duzentos e oitenta e dois artigos. interessante mostrar atravs de alguns artigos a maneira como funcionava o talio, pois pode parecer chocante a condenao pena de morte, mas era uma condenao bastante usual pelo menos na legislao, j que muitos delitos acabam tendo com sano punitiva o talio, ou s vezes a pena de morte. Antes mesmo de comentar alguma coisa a respeito do que enunciavam os artigos, vale lembrar o misticismo dessa civilizao, pois tambm inspira o cdigo o princpio jurdico judicium dei, ou oordlio, que indica a possibilidade de um julgamento divino. Para provar a inocncia, s vezes o indivduo tinha que passar por provas msticas mesmo que no houvesse nenhum indcio que levasse a acreditar que ele era culpado. Exemplo bem claro desse misticismo e do aspecto sobre a pena de morte esto presentes no artigo 2 do Cdigo de Hamurabi, estando escrito o seguinte:"Se algum acusar um homem e o acusado mergulhar em um rio e afundar, quem o acusa pode tomar posse de sua casa. Mas se o rio provar que o acusado inocente e ele escapar ileso, ento quem o acusa ser executado, e o acusado tomar sua casa". Essa passagem j mostra que existe religiosidade no Cdigo de Hammurabi, ao atribuir a um ser divino o julgamento das partes envolvidas na lide.J no segundo artigo do Cdigo est presente a lei do talio e o aspecto mstico somente vm a confirmar o espelho da sociedade que o Cdigo, pois embora no esteja escrito em lugar algum do Cdigo, infere-se que a populao politesta. Com relao aos sistemas msticos de provas, tambm h de se lembrar dos ordlios que eram formas de provas utilizadas durante a Idade Mdia. Sendo assim o sistema mstico tambm no pode ser considerado um completo absurdo para a poca, pois foi usado durante toda a Idade Mdia, somente entrando em desuso com a introduo de provas racionais, as quais foram introduzidas pela Igreja Catlica Apostlica Romana. bastante interessante o fato de o Cdigo de Hammurabi receber a nomenclatura de cdigo, mas na realidade como a nica legislao daquele povo, ele no deveria receber a nomenclatura cdigo, tendo em vista que no se apresenta da maneira de um cdigo, noo esta de cdigo que foi concebida aps o Cdigo Civil Napolenico. Vale lembrar que o Cdigo de Hammurabi uma legislao que est composta por vrios fragmentos, sendo alguns civis, outro penais, alguns referentes ao direito do trabalho. Surpreende no Cdigo de Hamurabi a previso de que poderiam ser elaborados contratos, prtica essa que parece ser de origem burguesa, para que os empregadores possam escolher quem e como querem contratar e os empregados possam negociar diretamente com o empregador as condies. A previso e a liberdade que dada para redigirem contratos mais um ponto que vm colaborar com o pensamento de esta no ser uma legislao marginal. Voltando ao assunto sobre os contratos, eles eram gravados em tbuas de argila. Outro ponto de grande evoluo que os contratos poderiam ser rescindidos, por motivos diversos. A resciso contratual era realizada da seguinte maneira, caso ela ocorresse, a tbua de argila em que o contrato estava gravado era umedecida, ficando ento ilegvel o que nele estava escrito, ocorrendo ento a resciso.O cdigo muitas vezes indicado como o primeiro exemplo do conceito legal de que algumasleisso to bsicas que mesmo um rei no pode modific-las. Ao escrever as leis na pedra, elas se tornaram imutveis. Este conceito existe em vrios sistemas jurdicos modernos e deu origem expresso em lngua inglesawritten in stone(escrito na pedra). No entanto, para alguns investigadores da histria, o fato de gravar escritos em pedras no implica propriamente a perpetuao da mensagem e sim na facilidade oferecida pelo autor aos menos letrados de reproduzirem esses textos fiel e rapidamente. No caso da estela de Hamurabi em questo, viajantes de outras regies, quando em passagem porSusa, tinham a oportunidade de obter cpias para serem lidas por escribas em suas aldeias e para isso normalmente utilizavam o processo similar ao de xilogravura, transcrevendo diretamente daestelapara o papel ou papiro, que com o passar do tempo e o uso, por se tratar de material perecvel, se perderam, permanecendo apenas essas matrizes de pedra para contar a origem das leis.O Cdigo de Hammurabi, como bem sabemos, no apresenta a configurao de um codificao como conhecemos, pois a conformao como existe nos dias atuais somente surgiu com o Cdigo Civil Napolenico. Ento a legislao de Hamurabi no deveria receber essa denominao, mas no essa a questo que se pretende abordar. Sendo uma legislao que no apresenta a diviso como um cdigo interessantssimo o trabalho de E. Bergmann o qual faz a diviso dos artigos da seguinte maneira:I Leis para punir possveis delitos praticados durante um processo judicial ( 1 5)II Leis que regulam o direito patrimonial ( 6 - 126)III Leis que regulam o direito de famlia e as heranas ( 127 195)IV Leis para punir leses corporais ( 196 214)V Leis que regulam os direitos e obrigaes de classes especiais ( 215 240) a) Mdicos (215 223) b) Veterinrios ( 224 225) c) Barbeiros ( 226 227) d) Pedreiros ( 228 - 233) e) Barqueiros ( 234 240)VI Leis que regulam preos e salrios ( 241 277)VII Leis adicionais que regulam a posse de escravos ( 278 282)[6]Com esta diviso, mesmo sem ler o Cdigo de Hammurabi, j nota-se que uma legislao cheia de imperfeies (lacunas), isso no quer dizer que as legislaes de hoje sejam completas, pois se fossem no ocorreria a necessidade de um juiz ter que julgar algo que no est escrito na lei. No h legislao completa e perfeita, o mximo que se pode tentar dizer que hoje possumos um ordenamento jurdico que a est para que no ocorram casos que no estejam nele contidos. Embora o Cdigo de Hammurabi possua vrias lacunas e por esse e outros motivos como o aspecto talinico que essa legislao no consegue uma boa projeo, pelo menos no lado do direito, pois no h como negar que muito bem lembrado quanto ao aspecto histrico, tendo em vista o fato de ter sido o primeiro. As lacunas existentes no Cdigo no so difceis de serem encontradas, exemplo disso o fato de somente as classes profissionais especiais que tinham as suas atuaes regulamentadas. As outras profisses em qual dispositivo legal deveriam amparar-se. Porque somente algumas classes eram previstas? Eis uma questo que fica no ar e sobre a qual podem ser feitas suposies tentando encontrar o real motivo, mas a verdade que mesmo na Antiguidade j existiam outras profisses, se no podemos chamar de profisses, com certeza encaixam-se como ocupaes e a notamos a omisso dessa Legislao.O Cdigo de Hammurabi no somente morte e disposies penais como divulgado por muitos. Tambm no chega a ser uma legislao completa e perfeita, at porque isso no existe, mas sem a menor dvida uma legislao de grande valor e que traz alguns princpios que, com certeza, foram adotados por legislaes posteriores e que entraram no mundo do direito, no da maneira como no Cdigo est exposto, mas de uma forma como a dos assuntos versados pelo Cdigo que at hoje existem legislaes a respeito.Algo muito interessante no Cdigo de Hammurabi so as leis que regulam os salrios e os preos das mercadorias. A princpio isso pode parecer simploriedade, mas nisso que entra algo que foge, em muito, das disposies penais e abrangem um aspecto social, um aspecto econmico, e a podemos inferir a existncia de direitos humanos de segunda gerao, algo que somente surgiu no sculo XX e que de uma maneira bem escondida, bem rudimentar j estava presente na primeira legislao que se tem conhecimento, a j possvel enxergar que essa legislao no merece ser marginalizada e apenas ser dado um valor histrico e no axiolgico. Pela legislao de Hammurabi as pessoas que detinham uma menor condio financeira pagavam menos por determinados produtos e servios, ao passo que aqueles detentores de condies financeiras boas pagavam mais. Vejamos o que diz o Cdigo nos artigos 215, 216, 217 respectivamente:- Se um mdico fez em um awilum uma inciso difcil com uma placa de bronze e curou o awilum ou (se) abriu a nakkaptum de um awilum com uma fac de bronze e curou o olho do awilum: ele tomar 10 siclos de prata.- Se foi o filho de um musknum: tomar 5 siclos de prata.- Se foi um escravo de um awilum, o dono do escravo dar ao mdico 2 siclos de prata.Esses trs artigos podem ter inmeras interpretaes, a mais comum com certeza seria a de mostrar claramente a existncia de uma discriminao. Entretanto o lado escuro, ou seja, aquele no visto pelos olhos das pessoas mais apressadas, as quais no enxergam o grande lado social presente nesses artigos. O social pelo fato de que aqueles possuidores de riqueza pagavam mais pelo mesmo servio do que aqueles com menos posses. A fim de esclarecer, awilum era a classe superior, musknum era uma intermediria e escravo era escravo.Como negligenciar esse aspecto que se no pode ser considerado um direito humano, com certeza uma humanizao da legislao, pois se essa legislao fosse como divulgada, uma legislao que somente trata sobre assuntos penais e que no uma evoluo, tanto que dado muito mais importncia ao Direito de outros povos e o babilnico fica com aquele estigma de ser um povo com uma legislao de relevncia somente histrica. Por isso necessrio analisar o Cdigo e nele tentar encontrar artigos com fundamentao e que l esto presentes e que ficam escondidos, pois somente so mostrados aqueles que tratam sobre o talio, j que aquilo que mais se mostra quando sobre o Cdigo de Hamurabi se fala. Apesar de apresentar direitos que somente foram existir formalmente como direitos humanos, poderia chamar-se uma viso humanitria presente no Cdigo. Uma questo bastante pertinente e que por si s faz com que necessite ser abordada a respeito do Estado, se assim podemos dizer, pois no prprio Cdigo, a nomenclatura utilizada para designar aquela fonte emanadora de poder era o Palcio. Entretanto, para uma melhor compreenso da palavra, Estado como o lugar de onde vem o poder do que a denominao Palcio. Mesmo sabendo que para muitos, o Estado somente fica devidamente constitudo quando esto presentes os trs elementos essenciais, que so: povo, territrio e governo soberano. Como o assunto que est sendo debatido no diz respeito formao, mas vrias correntes que do significados diferentes para esta palavra, pode parecer que este breve esclarecimento seja intil, mas no , j que bom ficar esclarecido que no est sendo cometido um erro de nomenclatura pelo desconhecimento. O que ocorre a dificuldade de encontrar uma palavra que defina com perfeio a situao encontrada naquele lugar.Sendo assim, o que interessante o fato de o Estado assumir a responsabilidade de indenizar a pessoa que havia obtido ganho de causa e quem devia indenizar a pessoa era o Estado. Em alguns casos o Estado mesmo sem ser o responsvel em ressarcir determinada pessoa, ele assumia o nus. O comportamento que o Palcio tinha de um enorme humanitarismo, pois caso a sociedade fosse uma sociedade sem direito e que as pessoas no tinham direitos a nada, somente obrigaes, com certeza essa legislao que previa isso com certeza deveria ser reconhecido o mero papel histrico, todavia no isso que acontece com o Cdigo de Hamurabi. O objetivo no considerar que o Cdigo de Hamurabi uma legislao com inmeras virtudes e nenhum defeito, no isso, o que se quer e est tentando ser feito demonstrar atravs de artigos presentes no Cdigo que ele transcende o aspecto histrico e que realmente um incio para o futuro das legislaes que vieram aps ele.Os artigos 23 e 24 do Cdigo de Hamurabi vm a comprovar que o Estado se responsabilizava por atos que no haviam sido cometidos por ele, estando assim disposto:- Se o assaltante no foi preso, o awilum assaltado declarar diante de todos os seus objetos perdidos; a cidade e o governador, em cuja terra e distrito foi cometido o assalto, o compensaro por todos os objetos perdidos.- Se uma vida (o que se perdeu), a cidade e o governador pesaro uma mina de prata para a sua famlia.[10]Depois de haver lido esses dois artigos impossvel querer rotular o Cdigo de Hamurabi como uma legislao que somente preconizava a pena da compensao fosse no aspecto que fosse, no era somente talio. Foi uma legislao de grande importncia para a poca, seja em razo desses artigos igualitrios, ou pelo fato do talio, pois estava a abrir portas para um futuro to rico que estava e ainda est por vir, visto o desenvolvimento humano no ter limites.Pensando bem, que maravilha o governo assumir a responsabilidade por um delito que no foi ele quem cometeu, somente para deixar bem assistidos aqueles a que aconteceu alguma coisa. O artigo vinte e quatro trazendo para a realidade atual, um tipo de previdncia social, porque fornece a famlia do falecido um suporte financeiro. Isso realmente fantstico, tendo em vista que o Estado est a preocupar-se com os membros da sociedade. Esse zelo para com as pessoas no acontece nem hoje em dia, isso que estamos em uma sociedade com um alto grau de desenvolvimento, existindo inmeras declaraes de Direitos Humanos, que so ratificados paulatinamente tanto nacionalmente como internacionalmente.Um fato que faz com que o Cdigo de Hamurabi merea uma avaliao, um exame mais aprofundado o fato de nem todas as pessoas serem consideradas iguais, ou seja, a sociedade era estratificada. As disposies contidas nele determinam qual comportamento pertinente para cada classe e qual cabe a outra, tambm ocorre de a classe social mais elevada, os awilum terem boas regalias, no sofrendo sanes to severas quanto as outras, essa classe estava no topo da pirmide social.Embora seja uma legislao que no apresente nenhum ponto democrtico, desde sua promulgao, ou melhor, desde quando entrou em vigor. bastante interessante, mesmo assim tentar fazer uma anlise social partindo dos seus artigos, porque ainda que no seja legtima devido ao fato de nem todos terem participado de sua elaborao, no era fruto da vontade geral, ela apresenta aqueles que faziam parte da sociedade. Torna-se ento interessante tentar compreender a organizao a partir dos artigos, que eram os que regiam os comportamentos, a sociedade deveria comportar-se respeitando o Cdigo de Hamurabi.Com relao s disposies presentes no Cdigo elas contemplam todas as classes, mas podemos observar claramente que a legislao feita com total parcialidade em favor da classe superior, ou seja, da classe awilum, pois a maior parte dos artigos do a entender que somente os awilum tm direitos, pois em sua maioria aparecem a palavra awilum e no qualquer expresso mais genrica que poderia demonstrar imparcialidade. A interpretao mais fcil de ser alcanada que a classe awilum era a superior, podendo at inferir que no existiam outras classes, somente no ocorre isso, pois em alguns artigos aparece o nome das outras classes. Pode ocorrer at que quem l alguns artigos possa pensar que a palavra awilum um sinnimo para cidado, pessoa. Fica claro que o Cdigo no se importa com a populao em geral, mas sim com a classe awilum. Como bastante bvio a classe superior era a que detinha as melhores condies.No artigo 271 est escrito o seguinte: Se um awilum alugou animais, um carro e seu condutor, dar trs parsiktum de gro por dia.[11]No 272 est escrito o seguinte: Se um awilum alugou s o carro dar 4 uitum de gro por dia.Esses dois artigos demonstram claramente que o Cdigo no considera a todos como iguais, pois se assim fosse qual a necessidade de se especificar qual a classe, simplesmente seriam enunciado os artigos com as seguintes redaes: Se um cidado do reino alugou animais, um carro e seu condutor, dar trs parsiktum de gro por dia (artigo 271). Se um cidado do reino alugou s o carro dar 4 uitum de gro por dia. A palavra cidado teria um sentido mais igualitrio, caso cidados fossem considerados todas as pessoas que pertencessem ao reino, sem fazer distino a respeito de classe social. Entretanto, assim no e por isso que cada classe tem o seu nome especificado, pois as leis so especficas para cada classe social. Os artigos so dirigidos basicamente a trs classes sociais.Justamente nesse ponto dito que a classe awilum era a mais nobre, todavia tinha ela que arcar com maiores custos, muitas vezes tendo que pagar mais por determinados servios e nisso que se infere um suposto humanitarismo, no direitos humanos porque isso posterior e so de uma enorme complexidade, mas esse humanitarismo, ou qual o nome que pode ser dado para isso, com certeza est presente e no pode ser desconsiderado, visto a alta importncia de uma viso assim em uma poca to remota.

LEGILAO MOSAICA

A legislao Mosaica, tambm chamada de Direito dos Hebreus (Antiga Palestina, hoje Israel) refere-se aos dez mandamentos (declogo) que Jeov ditou a Moises no Monte Sinai, que continha regras de carter moral, religioso e jurdico. Era uma legislao baseada no antigo testamento bblico, mas que tambm recebeu influncia do Cdigo de Hammurabi. A diferena marcante entre o Cdigo de Hammurabi e a Legislao Mosaica era que, enquanto o primeiro era mais jurdico, o Hebreu era mais religioso.

Primeiramente deve-se entender a histria do Povo Hebreu. Pressionados por tribos mais poderosas, os Hebreus, acabam se deslocando e fixando-se na Palestina. Nesse perodo eles estavam organizados em comunidades tribais e eram comandados por patriarcas importantes da histria hebraica: Abrao, Isaac, Jac e especialmente Moiss. A instabilidade poltica decorrente das guerras de retomada a Palestina estimulou-os a adotarem um regime de poder centralizado, como instrumento para garantir a vitria sobre seus principais rivais na regio do rio Jordo.

Por seguinte, deve ser analisando o seu enredo bem como suas caractersticas. A legislao mosaica diz que todo crime um pecado, pelo qual o homem responsvel perante Deus, e no perante o Estado. Ela diz que o cidado uma criatura que quer o mal, que veio para destruir as coisas em pr da sociedade. Ela possua caractersticas de um direito religioso (religio monotesta), era um cdigo jurdico e religioso, em que as normas morais, religiosas e jurdicas se confundiam.

O Cdigo trata da parte principal do velho testamento, divididos em cinco livros: Gnesis livro das origens; xodo que foi a sada do Egito; Levtico que possui as regras religiosas sobre cultos e rituais; Nmeros que fala da permanncia dos hebreus no deserto e Deuteronmio que um livro religioso e jurdico.

O Deuteronmio era um livro da lei que estabelece normas de direito pblico, privado, de famlia, do trabalho, penal e processual. Ele tinha como ideia central dar conselhos de obedincia e relembrar o declogo onde Moises utilizou meios de persuaso semelhante ao Rei Hammurabi, como lder religioso e poltico, dizendo que se no estivessem com ele, estariam contra Deus.

interessante fazer um paralelo entre alguns institutos jurdicos do Deuteronmio, presentes na Legislao Mosaica, e o Cdigo Atual. Sobre o casamento, se um homem tomar uma mulher por esposa, tendo vivido intimamente com ela, vier a desprez-la, e contra ela divulgar m fama, e se esta acusao for confirmada, no se achando na moa os sinais de virgindade, levaro a moa porta da casa de seu pai, e os homens da sua cidade a apedrejaro at que morra. J no cdigo atual, o casamento civil pode ser dissolvido pelo divrcio, aps prvia separao judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separao de fato por mais de dois anos. E em relao ao adultrio, odeuteronmio diz que se um homem for encontrado deitado com uma mulher que tenha marido, morrero ambos. Antes, no cdigo, era causa de ao de separao judicial litigiosa e constitua impedimento matrimonial dirimente absoluto, pois no poderia casar, se conseguisse divrcio, o conjugue adltero com o seu co-ru por tal condenado. Mas no novo cdigo apenas considerada uma sano civil, no mais crime.J sobre as crenas e cultos religiosos, o livro falava que se for encontrado algum homem ou mulher que tenha ido e servido a outros deuses, a mo das testemunhas ser a primeira contra ele, para mat-lo, e depois a mo de todo o povo. No cdigo atual uma garantia constitucionalmente, ou seja, de livre escolha.A administrao da justia, tratada na Legislao Mosaica, dizia que juzes e oficiais iram julgar o povo com justia em todas as cidades dadas pelo Senhor, de acordo com suas tribos. No cdigo atual no h tanta diferena j que o advogado indispensvel administrao da justia, sendo inviolvel por seus atos exercidos no decorrer da profisso.Em relao a testemunha,o deuteronmio dizia que uma s testemunha no se levantar contra algum por qualquer perversidade, ou por qualquer pecado, seja qual for o pecado cometido; pela boca de duas ou de trs testemunhas que se estabelecer o fato. No cdigo atual est escrito que testemunha a pessoa distinta dos sujeitos processuais que, convocada na forma da lei, por ter conhecimento do fato pe sobre este em juzo, para atestar sua existncia. No caso de falso testemunho, dizia que se uma testemunha injusta se levantar contra algum, para acus-lo de transgresso, e sendo falso o testemunho que deu contra seu irmo, os juzes investigaro cuidadosamente, e o teu olho no ter pena dele. Para o cdigo atual, falso testemunho tambm considerado um crime contra a administrao da justia e a pena cominada para essa ao criminosa de recluso. Tratando-se do descanso do trabalho, est escrito para guardar o dia de sbado, para o santificar, como ordenou o Senhor. So seis dias de trabalho mas o stimo dia o sbado do Senhor. O cdigo atual diz praticamente a mesma coisa, j que o trabalhador tem uma jornada de trabalho no superior a 8 horas dirias e 44 horas semanais, e uma folga semanal que deve ser de, no mnimo, 24 consecutivas e que deve coincidir, preferencialmente, no topo ou em parte, com o domingo.Sobre a escravido por dvida, est escrito que se for vendido um irmo hebreu ou uma irm hebria, servir por 6 anos e no 7 ano ser libertado. E quando libertado no poder ir de mos vazias. Para o cdigo atual, escravido por dvida considerada crime e a pena culminada para essa ao criminosa de 2 a 8 anos de recluso. A pena ser aumentada pela metade quando o delito em tela for cometido contra criana ou por motivo de preconceito.Por fim, sero expostas algumas influencias desta legislao no direito atual. Segundo a Lei Mosaica, alguns princpios do Direito Penal so enunciados, identificadas no texto comoregras gerais do Direito Penal, como "no matars", "no adulterars, "no furtars e "no dirs falso testemunho contra o teu prximo. Estabeleceu como crime o charlatanismo, caracterizados sob a forma de adivinhadores, prognosticadores, agoureiros, feiticeiros ou encantadores de encantamentos ou espritos adivinhadores ou mgicos, ou aqueles que perguntavam aos mortos. Alm de Identificar o falsotestemunho e prescrever penas severas ao mentiroso e ao falsrio.O mosaismo reconhecia os casos de morte involuntria, estabelecendo as cidades asilo para os criminosos de tal natureza. Portanto, fazia-se distino entre o crime culposo e o crime doloso. Ele estabeleceu os princpios da prova testemunhal, afirmando que os depoimentos de duas ou de trs testemunhas fazem prova perfeita.Fez da casa um asilo inviolvel ao dizer que a casa e a propriedade eram sagradas e inviolveis e ningum poderia nelas penetrar sem a autorizao do seu proprietrio.Lei Mosaica trouxe ainda dispositivos do Direito Internacional. Dizendo que havia necessidade de se adotar algumas normas de bom convvio internacional, baseados no respeito aos estrangeiros, evitando a discriminao, o respeito aos seus bens e ao meio ambiente, at dos lugares invadidos e ocupados, em caso de guerra externa.

CDIO DE MANU

O Cdigo de Manu parte de uma coleo delivros bramnicos. o direito da ndia, na antiguidade. Jayme de Altavila diz que Manu era um pseudnimo da classe sacerdotal, parecendo ter sido a autora da obra jurdica, que atribuam a autoria ao prprio deus Manu. Esse Cdigo se situa aproximadamente no ano 1000 a. C. e foi escrito em snscrito. Os hindus possuam quatro livros sagrados, os chamados Livros Sagrados dos Vedas. Um desses, o mais antigo, era o Cdigo de Manu, com 746 artigos. Esse Cdigo se dividia em Religio, Moral e Leis Civis. As leis civis apresentam importncia jurdica. Vrihaspati, legislador hindu, disse:"Manu tem o primeiro lugar entre os legisladores, porque exprimiu no seu cdigo todo o sentido do Veda". Esse cdigo constitui-se na legislao do mundo indiano e estabelece o sistema de castas na sociedade Hindu. Redigido de forma potica e imaginosa, as regras no Cdigo de Manu so expostas em versos. Cada regra consta de dois versos.

Historicamente, as leis deManuso tidas como a primeira organizao geral da sociedade sob a forte motivao religiosa e poltica. O Cdigo visto como uma compilao das civilizaes mais antigas.Na verdade, os idealizadores doCdigo de Manujulgavam que a coao e o castigo eram essenciais para se evitar o caos produzido na sociedade, advindo da decadncia moral humana. Havia nele uma estreita correlao entre o direito e os dispositivos sacerdotais, os problemas de culto e as convenincias de castas. Ou seja, a aplicao do direito dizia respeito casta do sujeito e sua condio social. E, como no poderia deixar de ser, a mulher encontrava-se em extrema desvantagem, numa condio de completa passividade e submisso dentro de tal Cdigo, sendo tratada como objeto a ser manobrado e julgado pelo homem.Segundo o cdigo os sacerdotes oubrmanesocupavam umacastasuperior na hierarquia social. O Cdigo de Manu indica que, ao longo de sua vida, eles poderiam passar por quatro fases diferentes, chamadasashramas, comeando na infncia, quando se tornavam estudantes religiosos, passando pela vida de chefe de famlia, depois pela de eremita na floresta e, por fim, de renunciante, quando a pessoa vaguearia sempre, sem ter residncia ou bens, esforando-se continuamente para vivenciar a realidade absoluta ouBrahmane atingir a libertao espiritual. Neste cdigo h uma srie de idias sobre valores, tais como: Verdade, Justia e Respeito. Vale salientar ainda que a administrao da justia era feita pelo prprio rei, acompanhado pelos brmanes e de conselheiros experimentados.As leis de Manu so tidas por muitos legisladores como a primeira organizao geral da sociedade, debaixo do manto religioso e poltico, embora privilegiassem as castas superiores, sobretudo a dos brmanes. Aquele, que pertencesse classe mdia ou inferior, era nele duramente penalizado. casta dos brmanes, que era formada pelos sacerdotes, foi dado o comando social. Quanto maior fosse a condio social da pessoa, maior seria o seu quinho e vice-versa.Como vemos, a religio (brmanes) ficava acima da lei (o rei). Atravs da anlise do texto desse cdigo pode-se perceber a grande disparidade entre as castas. Os dados processuais que versam sobre a credibilidade dos testemunhos, por exemplo, atribuem validades diferentes palavra dos homens, conforme as castas que pertencem. Analisando as seguintes passagens pode ser percebida essa disparidade. Sobre o achado de tesouro, dispe o Cdigo de Manu que,"se um homem achasse um tesouro, deveria ter dele apenas 6 ou 10%, conforme a classe a que pertencesse. Se fosse um brmane, teria todo o tesouro e, se fosse o rei, apenas 50%".V-se por a que a proporo era maior ou menor, segundo a condio social da pessoa, a classe a que a mesma pertencia, sendo importante observar que o rei era colocado abaixo dos brmanes, recebendo apenas 50% do tesouro, enquanto aqueles recebiam 100%.Especificamente s mulheres, o artigo 50 da lei brmica, quanto testemunha feminina, estabelecia: "mulheres devem prestar testemunho para as mulheres": Dos deveres da mulher e do marido artigo 45: "uma mulher est sob a guarda de seu pai durante a infncia, sob a guarda do deu marido durante a juventude, sob a guarda de seus filhos em sua velhice; ela no deve jamais conduzir-se sua vontade". Mostrando a inferioridade dada figura feminina nessa sociedade. Portanto, esse Cdigo o mais rigoroso, em todos os tempos, com a mulher. interessante completar que apesar do rigor moral h no cdigo disposies 'inusitadas' para os padres ocidentais, que versam sobre a falta de descendentes. Os artigos 471 e 472 autorizavam a ligao da esposa com um cunhado ou com outro parente, desde que o reprodutor a procurasse, discretamente, noite.

A Lei das XII Tbuas

A Lei das Doze Tbuas foi um marco na histria do Direito Romano, um divisor de guas, pois pela primeira vez as leis passaram a ser escritas, e o mais importante, passaram a valer tambm para os plebeus, da mesma forma que para os patrcios (estes, os cidados romanos, a quem at ento o mundo do Direito era restrito).Essa Lei situa-se no cerne da chamada terceira revoluo romana, quando a plebe passou a participar da cidade, por assim dizer. A primeira revoluo deu-se ainda no perodo da monarquia ou realeza (753 a.C. a 510 a.C.), com a autoridade poltica sendo tirada dos reis, plantando a semente do perodo seguinte, a Repblica (510 a.C. a 27 a.C). A segunda revoluo foi marcada por conquistas importantes da plebe, que, liderada pela figura intocvel do Tribuno da Plebe, foi demolindo costumes e leis patrciasAs leis eram aplicadas na Repblica Romana pelos pontfices e representantes da classe dos patrcios que as guardavam em segredo. Em especial, eram majoritariamente aplicadas contra osplebeus. Por esse motivo, um plebeu de nomeTerentlio props no ano de 462 a.C. que houvesse uma compilao e publicao de um cdigo legaloficial. A iniciativa visava permitir que os plebeus tambm conhecessem as leis e impedir o abuso que era feito delas pelos pontfices epatrcios.

Por anos a fio, os patrcios opuseram-se a essa proposta, at que em 451 a.C. um decenvirato (grupo formado por dez homens, todos patrcios) foi designado para preparar o projeto do cdigo. Acredita-se que os romanos enviaram uma embaixada para estudar o sistema legal dos gregos, em especial as leis de Slon, possivelmente nas colnias gregas do sul da Pennsula Itlica, ento conhecida como Magna Grcia.

Os dez primeiros cdigos (Tbuas I a X) foram preparados em 451 a.C., e em 450 a.C. um segundo decenvirato (constitudo por sete patrcios e trs plebeus) concluiu os dois ltimos (Tbuas XI e XII).

As Doze Tbuas foram ento promulgadas, havendo sido literalmente inscritas em doze tabletes de madeira (carvalho) que foram afixados no Frum romano, de modo que todos pudessem l-las e conhec-las. Elas no so uma compilao abrangente e sistemtica de todo o direito da poca (portanto, no formam cdigos, na acepo moderna do termo). So, antes, uma srie de definies de diversos direitos privados e de procedimentos. Consideravam de conhecimento geral algumas instituies como a famlia e vrios rituais para negcios formais.

O texto original das Doze Tbuas perdeu-se quando os gauleses incendiaram Roma em 390 a.C. Nenhum outro texto oficial sobreviveu, mas apenas verses no-oficiais. O que existe hoje so fragmentos e citaes por outros autores, que demonstram terem sido as Doze Tbuas redigidas em latim considerado estranho, arcaico, lacnico e at mesmo infantil, e so indcios do que teria sido a gramtica do latim primitivo.

De modo semelhante a outras leis primitivas, as Doze Tbuas combinam penas rigorosas com procedimentos tambm severos. Os fragmentos que restaram no indicam a que tbua pertenciam, embora os estudiosos procurem agrup-los por meio da comparao com outros fragmentos que indicam sua respectiva tbua. Assim, no h como ter certeza de que as tbuas originais eram organizadas por assunto, mas os historiadores reconstituram parte do contedo nelas existente. Com base nesse trabalho, um esboo do contedo das tbuas pde ser feito.

A lei das XII Tbuas foi elaborada por uma comisso de trs magistrados, encarregados de pesquisar, na Magna Grcia, as leis de Slon, propiciando a criao de um cdigo escrito de leis romanas. As disposies normativas estavam distribudas nas seguintes tbuas:

Tbua I Referia-se ao chamamento a juzo; a ningum era lcito fugir do chamamento judicial. No havia oficial de justia para o desempenho de tais funes: o autor da demanda fazia a prpria citao.

Tbua II Suspenso da causa por motivo de molstia: estabelecia o prazo para comparecimento ajuzo.

Tbua IIIExecuo no caso de confisso por dvida: aps condenado, o devedor tinha 30 dias para pagar. Se no pagasse, era preso e levado presena do magistrado; se a dvida persistisse (o devedor) seria preso por correias ou com ferro de 15 libras aos ps; se continuasse no pagando, podia ser morto, esquartejado de acordo com o nmero de escravos ou alienado como escravo.Isto se explica porque nesse perodo a Realeza vivia situao precria, s depois o errio romano se enriqueceu com os saques (pilhagens de outros povos). Srvio Tlio, o sexto rei, institui a estatstica: tudo era cadastrado e os censores vasculhavam cada canto do reino procura de riqueza para pagar impostos e ampliar as receitas.

Tbua IV Tratava do poder paterno e de outras matrias de direito de famlia (in jure patrio): o filho monstruoso podia ser morto imediatamente; defendiam a eugenia; o pai tinha sobre o filho direito de vida e morte, ou seja, tinha direito de flagelar, aprisionar, obrigar a trabalhos rsticos, vender e matar; com o tempo isto se foi amenizando e mais tarde esses casos dariam margem a destituio do ptrio poder (neste aspecto, gregos e romanos diferiam de outros povos da Antigidade).

Tbua V Da tutela hereditria: as mulheres no podiam gerir os negcios civis, permanecendo em tutela perptua. No se podia fazer Usucapio de coisas que estivessem sob a tutela da mulher (ela era absolutamente incapaz no incio do perodo republicano).Tbua VI Da propriedade e da posse (dominio et possessione): constituiu uma admirvel base do direito civil. Roma era agrria, no possua explorao de minrios; os romanos cultivavam oliveira, vinha e trigo; proibiam a compra de propriedades imveis por estrangeiros, para no prejudicar os nacionais (a propriedade fundiria desempenhava papel essencial para os romanos, tanto no plano econmico, como no plano da religio, pelo culto aos ancestrais ali enterrados).

permanecendo em tutela perptua. No se podia fazer Usucapio de coisas que estivessem sob a tutela da mulher (ela era absolutamente incapaz no incio do perodo republicano).

Tbua VI Da propriedade e da posse (dominio et possessione): constituiu uma admirvel base do direito civil. Roma era agrria, no possua explorao de minrios; os romanos cultivavam oliveira, vinha e trigo; proibiam a compra de propriedades imveis por estrangeiros, para no prejudicar os nacionais (a propriedade fundiria desempenhava papel essencial para os romanos, tanto no plano econmico, como no plano da religio, pelo culto aos ancestrais ali enterrados).

Tbua VII Do direito relativo aos edifcios e s terras: a cincia econmica dos romanos era a de um povo guerreiro e agrcola. O reino, e depois a Repblica, possuam terras pblicas, por isto traduziram o livro de agronomia do cartagins Magon; as estradas no podiam ser depredadas, pois eram o local de deslocamento das legies; aquele que defecasse nas estradas reais podia ser severamente punido. O inciso IX permitia cortar o galho das rvores, se a sombra invadisse o quintal da propriedade vizinha; pelo inciso X, o proprietrio tinha direito a colher os frutos das rvores vizinhasque chegassem ao seu quintal. Esse preceitos aparecem em nosso cdigo civil: uso nocivo das propriedades, das rvores limtrofes, da passagem forada.

O povo romano foi o primeiro a conceber a autonomia da cincia jurdica, tendo nisso 13 sculos de experincia que nos legou o que hoje se denomina Direito Romano. Portanto, no se pode desprezar tal fonte para estudo e crtica de qualquer instituto jurdico atual, por ele influenciado. Obviamente, os romanos no deixaram de conceber em termos jurdicos uma das instituies mais duradouras e controversas da civilizao humana, o direito de propriedade, que define em grande parte a diviso da sociedade em classes, determinando o poder econmico e poltico para quem detm o poder jurdico de dispor sobre a propriedade.A Lei das XII Tbuas j protegia a propriedade, punindo aqueles que contra ela atentassem, furtando-a, danificando-a, etc.No perodo clssico, o direito de propriedade se intensificou e as terras conquistadas foram reconhecidas como propriedade pretoriana, assim como j o era a quiritria (originria da prpria constituio da cidade pelas gens patrcias).Existia tambm a questo do conceito de pessoa jurdica (natural e jurdica), que mais tarde permitiu nova apropriao, permitindo a criao da fico jurdica do sujeito de direito, que permitiu a decodificao jurdica do esprito individualista europeu forjado a partir do sculo XVI.

Os romanos no possuam um termo preciso para exprimir a noo de personalidade jurdica. A palavra latina persona, que originariamente quer dizer mscara, utilizada nos textos com significao de homem em geral, tanto que se aplica aos escravos, que no eram sujeitos de direito. H duas categorias de pessoas: as fsicas, ou naturais, e as jurdicas, seres abstratos, que a ordem jurdica considera sujeitos de direito. Hoje basta o nascimento com vida. Na poca dos romanos exigiam-se trs requisitos: a) o nascimento; b) vida extra-uterina, c) forma humana.Para ter a capacidade jurdica plena, o sujeito devia ser cidado romano (status civitatis); em segundo lugar, devia ser livre (status libertatis) e gozar de situao independente no seio da famlia (sui iuris).No campo do direito das obrigaes, os romanos substituram as responsabilidades pessoal e corporal dos devedores pela responsabilidade patrimonial (indenizao pecuniria e no a constrio da vida ou do patrimnio).

Alm disso, algumas noes jurdicas modernas surgiram da reinterpretao das fontes histricas do direito romano: os conceitos jurdicos de direito objetivo (norma agendi) e subjetivo (ius est facultas agendi), conceitos extremamente importantes para o direito pblico; e tambm os conceitos de ato e fato jurdico e a questo da irretroatividade das leis civis foram pioneiramente concebidos pelos romanos.

ALCORO

O Alcoro ou Coro considerado pelos muulmanos a palavra literal de Al - Deus, em rabe -, revelada ao longo de 22 anos a Maom. Por isto, o centro da vida religiosa, sendo comparvel Tor dos judeus ou ao Novo Testamento cristo. A orao diria obrigatria inclui a recitao de versculos e captulos. A educao dos jovens muulmanos inclui sua aprendizagem de memria. Para os seguidores do Isl, o Alcoro a fonte principal do Direito do Isl, juntamente com a sunna (comportamento e prticas do Profeta). Para os islmicos, Maom o profeta final, enviado para pregar a mesma mensagem de Jesus e de Moiss, que teria sido corrompida ao longo dos anos.

O livro tem 114 captulos ou surahs (suratas) e 6236 ayats (versos) e foi escrito para ser recitado - coro significa "recitao" ou "leitura". No se trata de um relato religioso, mas de um cdigo de leis que deve reger a vida em todas as reas. Versa sobre os atributos de Deus, os crentes e suas virtudes e at temas de cincia. Alguns personagens da Bblia, entre eles Ado, Abrao, Moiss, Jesus e Maria, so mencionados no livro como profetas do Isl.

Assim, o Alcoro consiste num conjunto de preceitos e recomendaes ticas e morais, advertncias sobre a chegada do ltimo dia e Juzo Final, histrias sobre profetas anteriores a Maom e povos a quem foram enviados, preceitos sobre religio, vida social, matrimnio, divrcio ou herana. A mensagem, em essncia, que existe um s Deus, criador de todas as coisas, ao qual h que se servir, praticando o culto e observando conduta correta. Deus sempre misericordioso e tem se dirigido humanidade para que ela O venere nas pessoas dos diversos profetas enviados por Ele.

Afirmar que o Coro foi escrito pelo profeta Maom (tambm chamado de Mohammed) uma meia-verdade. Segundo a tradio, ele era analfabeto - e considerava isso prova de que no tinha sido influenciado por outros textos sagrados. Mas ele o autor do livro porque teria recebido as revelaes do anjo Gabriel, enviado por Al, e posteriormente recitado aos seus companheiros, que escreveram e reuniram as revelaes em um s tomo.

Maom (570-632) nasceu em Meca, na Arbia Saudita. Aos 40 anos comeou sua pregao pblica, encontrando uma crescente posio. Perseguido em sua terra natal, foi obrigado a emigrar para Medina em 622, acontecimento que entrou para a histria como o marco inicial do calendrio muulmano.

O rabe em que est escrito o Alcoro distingue-se de qualquer variante idiomtica rabe. uma mescla de prosa e poesia sem mtrica, difundida, entre os bedunos, para veicular uma literatura essencialmente oral. Nesta lngua, o Alcoro foi recitado e sua reduo palavra escrita gerou o rabe literrio clssico que se tornou a lngua oficial, embora inmeros dialetos sejam falados no mundo islmico.

O livro deu origem ao islamismo, a religio mais praticada no mundo, com cerca de 1,3 bilho de adeptos. Serve como lei e cdigo moral em cerca de 40 pases e base do principal conflito de civilizaes da atualidade. O Coro tambm usado hoje para justificar os atos de terroristas, que o citam apenas nos trechos em que se convoca para a luta, deixando esquecidos os versos em que se prega a paz e o entendimento. importante salientar ento, que o texto do Alcoro incentiva os atos terrorista, o terrorismo fruto de interpretaes fundamentalistas do Coro. Quando o escreveu, Maom convivia com uma guerra em larga escala em sua terra, o que explica por que muitas passagens do livro sagrado dos muulmanos tratam de conflitos armados, execuo de inimigos e guerras em nome da f.

A interpretao do Alcoro (tafsir) um campo de investigao que vem da poca da codificao do texto at nossos dias. Foram escritos numerosos livros sobre o tema. A tradio do tafsir reflete, muitas vezes, as divergncias e tendncias do islamismo. A interpretao xiita de alguns versos difere, radicalmente, da interpretao sunita. Nos ltimos tempos, tanto os modernistas reformistas, como os fundamentalistas, tm interpretado o texto de maneira que este se adapte a seus respectivos pontos de vista. Alguns afirmam que o Alcoro, no s est de acordo com muitas ideias da cincia moderna, como, tambm, as predisse. , muitas vezes, a prpria natureza dbia do texto cornico que favorece interpretaes to divergentes.A partir do exposto acima, fica evidente que mais do que influncia religiosa, como acontece nos Cdigos de Manu ou na Legislao Escrita, o Alcoro claramente um cdigo religioso, que atravs da religio Islmica dita os padres sociais.

Pode-se concluir ento que a religiosidade e o Direito estiveram presentes nos Cdigos da Antiguidade, em maior ou em menor grau. A religiosidade foi usada na legitimao do poder dos governantes e das leis, j o Direito foi desenvolvido para a regulamentao do poder e da convivncia social, estabelecendo assim hierarquias sociais, direitos e deveres, em alguns casos. No Cdigo de Hammurabi possvel notar uma religio politesta bem como um misticismo ao atribuir a foras superiores o julgamento das partes de uma lide, assim para provar sua inocncia, s vezes o indivduo tinha que passar por provas msticas, ou seja, por um julgamento divino. Tm-se ainda leis que regulam o direito patrimonial, o direito de famlia e as heranas, os direitos e obrigaes de classes especiais, os preos e salrios, e a posse, por exemplo. Mostrando o direito como regulador da vida social.A Legislao Mosaica, apesar de ter recebido influncia do Cdigo de Hammurabi, se difere dele ao passo que o Cdigo de Hammurabi era mais jurdico e o Hebreu era mais religioso. O Direito dos Hebreus refere-se aos dez mandamentos que Jeov ditou a Moises no Monte Sinai, que continha regras de carter moral, religioso e jurdico. Ela influenciou o Direito atual em aspectos como a enunciao de alguns princpios do Direito Penal como "no matars", "no adulterars, "no furtars e "no dirs falso testemunho contra o teu prximo, alm de diferenciar o crime culposo e o crime doloso. Bem como Fez da casa um asilo inviolvel e trouxe ainda dispositivos do Direito Internacional.O Cdigo de Manu se dividia em Religio, Moral e Leis Civis. As leis civis apresentam importncia jurdica e a administrao da justia era feita pelo prprio rei, acompanhado pelos brmanes e de conselheiros experimentados. Ele constitui-se na legislao do mundo indiano e estabelece o sistema de castas na sociedade Hindu. Atravs da anlise do texto desse cdigo pode-se perceber a grande disparidade entre as castas. A aplicao do direito dizia respeito casta do sujeito e sua condio social e como no poderia deixar de ser, a mulher encontrava-se em extrema desvantagem. A Lei das Doze Tbuas no teve uma influencia religiosa significante, mas foi um marco na histria do Direito Romano, pois pela primeira vez as leis passaram a ser escritas, e a valer tambm para os plebeus, da mesma forma que valiam para os patrcios. So uma srie de definies de diversos direitos privados e de procedimentos. Consideravam de conhecimento geral algumas instituies como a famlia e vrios rituais para negcios formais. O povo romano foi o primeiro a conceber a autonomia da cincia jurdica, tendo nisso 13 sculos de experincia que nos legou o que hoje se denomina Direito Romano. Portanto, no se pode desprezar tal fonte para estudo e crtica de qualquer instituto jurdico atual, por ele influenciado. O Alcoro o texto sagrado do Isl. Este livro contm, para os muulmanos, uma srie de revelaes do Deus Al a Maom, atravs das revelaes do anjo Gabriel. Assim, esse cdigo no se trata apenas de um relato religioso, mas consiste num conjunto de preceitos e recomendaes ticas e morais, advertncias sobre a chegada do ltimo dia e Juzo Final, histrias sobre profetas anteriores a Maom e povos a quem foram enviados, preceitos sobre religio, vida social, matrimnio, divrcio ou herana.