direito humano À alimentaÇÃo adequada e seguranÇa alimentar e nutricional em pauta
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Com o título “O Direito Humano à Alimentação Adequada e Segurança Alimentar e Nutricional em Pauta”, o compêndio ora apresentado é constituído pelos primeiros textos, contabilizando-se, além dos tradicionais artigos científicos, resumos expandidos e projeto de iniciação científica, produzidos pelos discentes pesquisadores integrantes da Sublinha de Pesquisa “Direito Humano à Alimentação Adequada”, sob a coordenação e orientação do Prof. Me. Tauã Lima Verdan Rangel. É imperioso consignar que os textos, de maneira geral, valorizam uma visão interdisciplinar do Direito, dialogando com temáticas peculiares da promoção do direito humano à alimentação adequada (DHAA), sobretudo no que se refere à temática da Segurança Alimentar e Nutricional. Denota-se, portanto, que o compromisso dos discentes, neste compêndio, é apresentar as primeiras reflexões da sublinha de pesquisa sobre o direito em comento, tal como as concepções conceituais sobre elementos inerentes à política pública de segurança alimentar e nutricional (SAN).Em último patamar, o compêndio apresentado visa materializar o diferencial do Curso de Direito do Centro Universitário São Camilo-ES, ao formar Bacharéis em Direito capazes de atuar com o plural e diversificado conhecimento inerente ao Direito, sem olvidar da realidade regional, dotadas de peculiaridades e aspectos diferenciadores que vindicam uma ótica específica.TRANSCRIPT
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DIREITO HUMANO ALIMENTAO
ADEQUADA E SEGURANA ALIMENTAR E
NUTRICIONAL EM PAUTA
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TAU LIMA VERDAN RANGEL
(Organizador)
Compndio de Produo Cientfica da Sublinha de Pesquisa em Direito
Humano Alimentao Adequada, vinculada Linha de Pesquisa Novos
Horizontes do Direito do Grupo de Pesquisa Constitucionalizao de Direitos do
Curso de Direito do Centro Universitrio So Camilo-ES.
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DIREITO HUMANO ALIMENTAO
ADEQUADA E SEGURANA ALIMENTAR E
NUTRICIONAL EM PAUTA
Comisso Cientfica
Tau Lima Verdan Rangel
Editorao, padronizao e formatao de texto
Tau Lima Verdan Rangel
Contedo, citaes e referncias bibliogrficas
Os autores
de inteira responsabilidade dos autores os conceitos aqui
apresentados. Reproduo dos textos autorizada mediante
citao da fonte.
-
APRESENTAO
Com o ttulo O Direito Humano
Alimentao Adequada e Segurana Alimentar e
Nutricional em Pauta, o compndio ora apresentado
constitudo pelos primeiros textos, contabilizando-se,
alm dos tradicionais artigos cientficos, resumos
expandidos e projeto de iniciao cientfica, produzidos
pelos discentes pesquisadores integrantes da Sublinha
de Pesquisa Direito Humano Alimentao
Adequada, sob a coordenao e orientao do Prof.
Me. Tau Lima Verdan Rangel.
imperioso consignar que os textos, de
maneira geral, valorizam uma viso interdisciplinar
do Direito, dialogando com temticas peculiares da
promoo do direito humano alimentao adequada
(DHAA), sobretudo no que se refere temtica da
Segurana Alimentar e Nutricional. Denota-se,
portanto, que o compromisso dos discentes, neste
compndio, apresentar as primeiras reflexes da
sublinha de pesquisa sobre o direito em comento, tal
como as concepes conceituais sobre elementos
-
inerentes poltica pblica de segurana alimentar e
nutricional (SAN).
Em ltimo patamar, o compndio
apresentado visa materializar o diferencial do Curso
de Direito do Centro Universitrio So Camilo-ES, ao
formar Bacharis em Direito capazes de atuar com o
plural e diversificado conhecimento inerente ao
Direito, sem olvidar da realidade regional, dotadas de
peculiaridades e aspectos diferenciadores que
vindicam uma tica especfica.
Boa leitura!
Tau Lima Verdan Rangel
Coordenador da Sublinha de Pesquisa
Direito Humano Alimentao Adequada
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N D I C E
Resumos Expandidos ............................................ 09
Equipamentos pblicos de alimentao em anlise:
Uma anlise regional da promoo do direito
alimentao no Municpio de Cachoeiro de
Itapemirim ................................................................. 10
Segurana Alimentar e Nutricional em pauta: Uma
anlise do Banco de Alimentos Ceclio Corra
Cardoso no Municpio de Cachoeiro de
Itapemirim ................................................................. 22
Direito Humano Segurana Alimentar: LOSAN e o
marco regulatrio do direito alimentao ............. 34
Artigos Completos ................................................. 43
O Direito Humano Alimentao Adequada em uma
tica regionalizada: uma reflexo sobre a
universalizao da alimentao a partir de uma
perspectiva da biotica .............................................. 44
Alimentos transgnicos em uma perspectiva biotica:
contornos do princpio da precauo em sede de
segurana alimentar ................................................. 95
-
O Direito Alimentao e a prestao jurisdicional: da
fluidez do conceito de dignidade da pessoa humana na
consecuo dos direitos fundamentais ..................... 132
O acesso alimentao chega aos Tribunais:
Uma anlise do RESP 900.487/RS e o direito
alimentao ............................................................... 158
Projeto de Iniciao Cientfica ........................... 184
O Direito Humano Alimentao Adequada em
perspectiva regional: um exame sobre os impactos do
Banco de Alimentos Ceclio Correa Cardoso no
Municpio de Cachoeiro de Itapemirim-ES .............. 185
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A alimentao adequada direito fundamental do ser humano,
inerente dignidade da pessoa humana e indispensvel
realizao dos direitos consagrados na Constituio Federal,
devendo o poder pblico adotar as polticas e aes que se faam
necessrias para promover e garantir a segurana alimentar e
nutricional da populao. (Art. 2 da Lei Orgnica de Segurana
Alimentar e Nutricional [Lei n. 11.346/2006]).
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RESUMOS EXPANDIDOS
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EQUIPAMENTOS PBLICOS DE
ALIMENTAO EM ANLISE: UMA ANLISE
REGIONAL DA PROMOO DO DIREITO
ALIMENTAO NO MUNICPIO DE
CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM
PEREIRA, Carlos Tadeu Decot 1
ZAPOLLA NETTO, Jos Carlos 2
RANGEL, Tau Lima Verdan 3
INTRODUO
Este presente trabalho trata da anlise dos
equipamentos pblicos de alimentao, como forma
de promover o direito alimentao segura e
saudvel de baixo custo aos mais necessitados no
1Graduando do Curso de Direito do Centro Universitrio So
Camilo-ES, [email protected]; 2Graduando do Curso de Direito do Centro Universitrio So
Camilo-ES, [email protected]; 3 Professor Orientador. Doutorando vinculado ao Programa de
Ps-Graduao em Sociologia e Direito da Universidade
Federal Fluminense. Mestre em Cincias Jurdicas e Sociais
pela Universidade Federal Fluminense. Coordenador da
Sublinha de Pesquisa em Direito Humano Alimentao Adequada da Linha de Pesquisa em Novos Horizontes do Direito. E-mail: [email protected]
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municpio de Cachoeiro de Itapemirim, Esprito
Santo, e ainda averiguar a eficcia e viabilidade
destes mesmos. Pretende-se abordar pontos sobre a
mobilizao social pela Segurana Alimentar
Nutricional (SAN), o que envolve diversas formas de
projetos, programas do governo, e at mesmo a
participao civil na formulao e no
acompanhamento das polticas pblicas que est
subordinada ao princpio do direito humano
alimentao adequada e da soberania alimentar,
tambm se alia a agricultura familiar (que
formada por famlias que geralmente moram no
campo e vivem do que produzem) como forma
garantidora de alimentos de boa qualidade e
acessibilidade, promovendo assim certo tipo de
incentivo aos pequenos produtores rurais incluindo-
os no mercado.
MATERIAL E MTODOS
Trata-se de uma pesquisa de cunho de reviso
bibliogrfica e qualitativa, a qual parte sob a tica
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da promoo do direito alimentao em conjunto
com os equipamentos pblicos de alimentao no
municpio de Cachoeiro de Itapemirim-ES.
DESENVOLVIMENTO
possvel perceber que com a urbanizao
acelerada dos centros urbanos brasileiros a
disposio de alimentos industrializados e tambm
de redes de fast foods foi aumentada, e muitas
pessoas devido ao excesso de trabalho gerado pela
alta competitividade no possuem tempo suficiente
para se alimentarem de forma adequada,
recorrendo, desta feita, as redes instantneas de
alimentos. Tais alimentos ricos em carboidratos e
aucares o que algo preocupante e representa um
grande risco a sade dos cidados, uma vez que com
a grande ingesto desses alimentos aumentam os
ndices de obesidade e doenas relacionadas a m
alimentao.
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Os fast-foods, os snakes, as
guloseimas, os refrigerantes, as
pitadas de sal e de acar modificando
as propriedades organolpticas dos
substratos alimentares, os modismos
criados pela indstria e pelo comrcio
com o suporte da mdia, criaram
novos perfis de consumo, em sua
maior parte em desacordo com os
hbitos de uma alimentao saudvel.
(BATISTA FILHO, 2007, p. 1)
.
notrio visualizar que na cidade de
Cachoeiro de Itapemirim essa urbanizao
acelerada tem gerado uma enorme desigualdade
social entre seus cidados, resultando na excluso
social de uma parcela da sociedade, cabendo ao
Estado Brasileiro encontrar formas de promover a
integrao desta parcela impulsionando o bem estar
social e gerando uma sociedade onde todos possam
ter acesso ao mnimo bsico a uma vida saudvel.
Na luta contra a fome e a desigualdade social os
equipamentos pblicos de alimentao, em especial
neste momento o banco de alimentos, vm
propiciando uma alimentao balanceada de
qualidade e segura s pessoas vtimas desta
excluso gerada pelo rpido desenvolvimento, sendo
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assim tais indivduos acabam por ficar a merc de
suas garantias fundamentais como cidados
Brasileiros que o governo, segundo a Constituio
Federal e os Direitos Humanos deve lhes oferecer, e
vale mencionar sucintamente o artigo sexto da
Constituio que traz em sntese os direitos sociais e
dentre estes temos: o trabalho, sade, alimentao,
etc., desta feita o Estado brasileiro vem buscando
vias eficazes para que sejam atendidas tais
necessidades. (BRASIL, 1988, s.p).
Uma dessas garantias fundamentais a pessoa
humana o direito a alimentao saudvel, segura
e de fcil acesso por tempo indeterminado a todos os
cidados. Este direito entendido como um direito
humano bsico, ou seja, o mnimo que o Estado deve
garantir a seus integrantes, sendo assim, o Estado
Brasileiro deve assegurar a seus cidados o acesso a
uma alimentao saudvel e segura de acordo com
as necessidades de seus indivduos, sem deixar de
lado as necessidades de cada cultura e regio.
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15
[...] a garantia, a todos, de condies de acesso a alimentos bsicos de
qualidade, em quantidade suficiente,
de modo permanente e sem
comprometer o acesso a outras
necessidades bsicas, com base em
prticas alimentares que possibilitem
a saudvel reproduo do organismo
humano, contribuindo, assim, para
uma existncia digna [...] (BRASIL,
1995, s.p).
No municpio de Cachoeiro de Itapemirim
possvel observar o incrvel trabalho que os bancos
de alimentaes vm promovendo, pois como foi
relatado pelo site da prefeitura que o banco vai
ajudar a distribuir cerca de 329 toneladas de
produtos do campo, e ao se partir de uma anlise
feita com o uso da biotica, possvel constatar que
promover o bem-estar das pessoas, como tambm
ir ajudar a prpria economia rural do municpio. A
integrao das pessoas a um programa de
alimentao saudvel acaba refletindo tambm na
sade publica, que outro direito fundamental a
pessoa humana, como foi exposto no artigo 6 da
Constituio Federal Brasileira de 1988, uma vez
que um ser humano que se alimenta de forma
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adequada com alimentos seguros menos propenso
a se contagiar com doenas "simples". O que
consequentemente acaba reduzindo o numero de
pessoas que ocupam leitos de hospitais com doenas
que poderiam ser evitadas com uma simples
alimentao balanceada e segura, reduzindo a
sobrecarga do sistema de sade publica Brasileiro.
Partindo do momento em que o Estado
promove o direito alimentao saudvel e segura,
ele por consequncia gera um forte envolvimento de
diversas reas da sociedade, como a prpria
sociedade em si, na busca da reintegrao social
desses cidados vitimados, a sade pblica, a
indstria, os grandes produtores rurais e tambm a
associao aos pequenos proprietrios rurais, que
sobrevivem da agricultura familiar, j que pode ter
estes como uma fonte segura para a obteno de tais
alimentos.
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RESULTADOS E DISCUSSES
A implementao dos Equipamentos Pblicos
de Alimentao uma forma de amenizar a situao
dos cidados vitimas dessa excluso social gerado
pelo desenvolvimento exacerbado dos grandes
centros Brasileiros, desta forma os Estados vem
instalando estes equipamentos em localidades onde
se concentram maiores nmeros de pessoas
necessitadas, com a finalidade de reduzir ou ate
mesmo extinguir tal problemtica. Sobretudo a
integrao dessas diversidades culturais a um
programa de alimentao algo muito complexo,
que deve ser estudado se separando cada regio,
para assim criar um sistema de alimentao
adequado, que atenda todas as suas necessidades,
uma vez que cada regio e cultura so dotadas de
distintas peculiaridades.
Esta integrao das diversas culturas, por
consequente, acaba refletindo positivamente na
sade publica, que outro direito fundamental a
pessoa humana, como foi exposto no artigo 6 da
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Constituio Federal Brasileira de 1988, uma vez
que um ser humano que se alimenta de forma
adequada, com alimentos seguros, menos propenso
a se contagiar com doenas "simples". O que
consequentemente acaba reduzindo o nmero de
pessoas que ocupam leitos de hospitais com doenas
que poderiam ser evitadas com uma simples
alimentao balanceada, reduzindo a sobrecarga do
sistema de sade pblica Brasileira.
O municpio de Cachoeiro de Itapemirim j
vem promovendo tal "benefcio" aos integrantes de
sua sociedade atravs do seu equipamento pblico
de alimentao, integrando desta forma aqueles
menos favorecidos socialmente a um programa de
alimentao segura e balanceada, assegurando-lhes
assim o direito fundamental a alimentao. O
municpio tambm promove a possibilidade dos
integrantes de sua sociedade realizarem doaes,
desta forma trazendo uma forte participao da
sociedade com as causas municipais, tambm
gerando um forte envolvimento da biotica, j que
est esta visa o bem estar de todos, e que ambos
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devem contribuir para sua sociedade naquilo que
puder.
CONSIDERAES FINAIS
A alimentao saudvel um direito
fundamental a todo cidado brasileiro, sendo
obrigao do governo proporcionar a seus habitantes
alimentos saudveis, seguros, de fcil acesso e ainda
por um perodo indeterminado. Desta forma vem
surgindo os equipamentos de alimentao pblicos,
como forma de proporcionar uma "integrao" e
garantia de uma alimentao saudvel e balanceada
a todos aqueles integrantes de sua sociedade.
Assegurando, desta feita o direito fundamental a
alimentao adequada, alm de proporcionar uma
integrao de grandes e pequenos produtores rurais,
indstria alimentcia, e ainda trazendo uma
significativa melhora na sade pblica, j que com
uma alimentao saudvel o ser humano fica menos
propenso a se contagiar com determinadas
enfermidades.
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REFERNCIAS
BATISTA FILHO, Malaquias. O Brasil e a
segurana alimentar. Rev. Bras. Sade Mater.
Infant., v. 7, n. 2, abr.-jun. 2007. Disponvel em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1519-
38292007000200001&script=sci_arttext>. Acesso
em 18 mar. 2015.
BRASIL. I Conferncia nacional de segurana
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http://www4.planalto.gov.br/consea/eventos/confere
ncias/1a-conferencia-nacional-de-seguranca-
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_____________. Constituio (1988). Constituio
da Repblica Federativa do Brasil. Braslia,
DF: Senado Federal: Centro Grfico, 1988.
CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM (MUNICPIO).
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. Acesso em 01
jun. 2015
MAFIOLETTI, Caroline et all. Direito humano
Alimentao Adequada no cenrio brasileiro:
Uma questo Biotica. Disponvel em:
-
21
. Acesso
em 20 mar. 2015.
RAMOS, Camila Irigonh; CUERVO, Maria Rita
Macedo. Programa Bolsa Famlia: a interface entre
a atuao profissional e o direito humano a
alimentao adequada. Cincia Sade Coletiva,
v. 17, n. 8. Ago. 2012. Disponvel em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&p
id=S1413-81232012000800026>. Acesso em 05 abr.
2015.
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22
SEGURANA ALIMENTAR E NUTRICIONAL
EM PAUTA: UMA ANLISE DO BANCO DE
ALIMENTOS CECLIO CORRA CARDOSO
NO MUNICPIO DE CACHOEIRO DE
ITAPEMIRIM
CEZAR, Augusto4
MARIN, Lorena Cypriano5
ALPOIM, Luiza Miranda6 RANGEL, Tau Lima Verdan 7
INTRODUO
Esta anlise pretende ressaltar a aplicao do
estudo da segurana alimentar e nutricional do banco
de alimentos Ceclio Corra Cardoso no mbito
4Graduando do Curso de Direito do Centro Universitrio So
Camilo-ES, [email protected]; 5Graduanda do Curso de Direito do Centro Universitrio So
Camilo-ES, lorenacyprianomarin2@gmail; 6Graduanda do Curso de Direito do Centro Universitrio So
Camilo-ES, [email protected]; 7 Professor Orientador. Doutorando vinculado ao Programa de
Ps-Graduao em Sociologia e Direito da Universidade Federal
Fluminense. Mestre em Cincias Jurdicas e Sociais pela
Universidade Federal Fluminense. Coordenador da Sublinha de
Pesquisa em Direito Humano Alimentao Adequada da Linha de Pesquisa em Novos Horizontes do Direito. E-mail:
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municipal de Cachoeiro de Itapemirim/ES. Com o
intuito de identificar a importncia das polticas
pblicas na defesa do direito humano alimentao
adequada.
O art. 2 da Lei n 11.346/06 dispe que,
dever do governo adotar as polticas e aes que se
mostrarem necessrias a fim de promover e garantir a
segurana alimentar e nutricional da populao, como
um direito fundamental que . Os Bancos de
Alimentos fazem parte do rol das iniciativas do poder
pblico que se destinam ao propsito em questo, de
sanar situaes de insegurana alimentar.
MATERIAL E MTODOS
Este estudo constitui-se de uma reviso
bibliogrfica, na qual se realizou uma consulta a livros
e artigos cientficos, bem como reviso na legislao
brasileira e portais de organizaes pblicas,
procedente no perodo de maio e junho de 2015. Alm
de breve entrevista com a coordenadora do banco em
tese.
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24
DESENVOLVIMENTO
A Emenda Constitucional n 64, de 04 de
fevereiro de 2010, alterou a redao do art. 6 da
Constituio Federal, de modo que incorporou a
alimentao na descrio dos direitos sociais, incluso
no Ttulo II, Dos Direitos e Garantias Fundamentais
da Constituio. A questo alimentar adquire,
portanto, maior ateno do Estado brasileiro, que
passa a ter maior incumbncia no compromisso de
garantir o direito alimentao, agora constitucional.
Anos antes, o Sistema Nacional de Segurana
Alimentar e Nutricional - SISAN foi institudo pela lei
n 11.346, de 15 de setembro de 2006, que nos diz
expressamente o conceito de segurana alimentar e
nutricional em seu art. 3:
A segurana alimentar e nutricional
consiste na realizao do direito de todos
ao acesso regular e permanente a
alimentos de qualidade, em quantidade
suficiente, sem comprometer o acesso a
outras necessidades essenciais, tendo
como base prticas alimentares
promotoras de sade que respeitem a
diversidade cultural e que sejam:
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25
ambiental, cultural, econmica e
socialmente sustentveis. (BRASIL,
2006)
O Governo Federal tem como compromisso o
combate fome e misria no pas e, por isso, o
SISAN foi institudo com o objetivo de assegurar o
direito humano alimentao adequada. O xito vem
da cooperao das instncias, que interagem e
funcionam de modo pleno no mbito federal, estadual e
municipal. So elas: a Cmara Interministerial de
Segurana Alimentar e Nutricional - CAISAN; o
Conselho Nacional de Segurana Alimentar e
Nutricional - CONSEA; e demais Conferncias de
Segurana Alimentar e Nutricional.
De acordo com o portal online do Ministrio
do Desenvolvimento Social e Combate Fome - MDS,
os Bancos de Alimentos so uma iniciativa de
abastecimento e segurana alimentar que integra a
Rede Operacional do SISAN. A iniciativa tem como
propsito a reduo do desperdcio de alimentos,
colaborando diretamente com a erradicao da fome e
da insegurana alimentar de populaes vulnerveis.
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26
Trata-se de um espao fsico pblico, onde so
recebidas doaes de alimentos fora dos padres de
comercializao, mas sem qualquer restrio sanitria
e prprios para consumo humano que seriam
desperdiados em feiras, hortas, supermercados,
empresas alimentcias, entre outros.
Vale ressaltar que o MDS no apia
financeiramente a gesto e a manuteno dos bancos
de alimentos, ele apoia somente a implantao ou a
modernizao dos mesmos. As questes de gesto e
administrao financeira esto dispostas no
institucional da rede de equipamentos de segurana
alimentar e nutricional do portal do MDS, que dispe
que: A manuteno e a gesto (tanto financeira quanto
operacional) so de responsabilidade do poder pblico
local (estado ou municpio). (BRASIL, 2015).
O Ministrio ainda informa que, no banco de
alimentos, os gneros alimentcios doados so
selecionados, processados (ou no), embalados e
distribudos gratuitamente a entidades da assistncia
social, restaurantes populares e cozinhas
comunitrias. Estas se encarregam de distribuir os
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27
alimentos arrecadados populao, seja atravs do
fornecimento de refeies prontas ou o repasse direto
s famlias vulnerveis. Os bancos devem ainda,
promover atividades de reeducao alimentar por meio
de cursos de qualificao profissional e capacitao das
comunidades, de acordo com sua atividade produtiva.
DISCUSSO
Inaugurado dia 25 de outubro de 2013, o
Banco de Alimentos Ceclio Corra Cardoso
localizado no bairro Aeroporto do municpio de
Cachoeiro de Itapemirim e, contribui de forma
considervel nas aes de segurana alimentar e
nutricional do municpio. A Prefeitura Municipal de
Cachoeiro firmou convnio com o Ministrio do
Desenvolvimento Social e Combate Fome para a sua
construo.
A fim de maiores informaes e
esclarecimentos a respeito do Banco de Alimentos de
Cachoeiro, nos foi concedida breve entrevista
coordenadora do banco, Sr Tatiana de Oliveira
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28
SantAna, 32 anos. Segundo ela, os alimentos que
chegam at o banco so provenientes de doaes de 19
produtores, dos municpios e distritos de Vargem Alta,
Castelinho, Pedra Azul, Venda Nova, Caxixe Frio e
Castelo. E no incio do ms de maio de 2015, a unidade
passou a receber os alimentos do Programa de
Aquisio de Alimentos PAA (compra com doao
simultnea), no qual esto inscritos 176 agricultores.
Antes da distribuio, os alimentos so
devidamente selecionados, processados e armazenados
adequadamente por uma equipe preparada e orientada
por nutricionistas. Na distribuio e confeco das
cestas, os alimentos passam por uma triagem e a
diviso feita pela nutricionista. Para as famlias, a
distribuio das cestas realizada com intervalo de 15
dias em cada bairro. O banco ainda oferece, s pessoas
assistidas, a oportunidade de participar de oficinas de
reeducao alimentar, onde essas aprendem a
aproveitar melhor os alimentos e a produzir pes e
diversas massas caseiras, como nova fonte de renda.
A coordenao afirma que organizaes que
realizam trabalho de promoo humana de forma
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29
sria, sistemtica e gratuita, podem se submeter ao
processo de seleo e cadastro para serem atendidas
pelo banco. Atendidos os requisitos necessrios as
entidades cadastradas so submetidas a visitas
tcnicas peridicas de monitoramento, realizadas por
uma equipe tcnica e pelos membros do Conselho
Municipal de Segurana Alimentar e Nutricional.
(SANTANA, 2015)
Os lares de idosos: Adelson Rabello; Joo
XXIII e Nina Arueira, a APAE, os abrigos de crianas
e adolescentes: Aprisco Rei David e Recanto da
Criana e o Grupo de Apoio aos Doentes de AIDS, so
algumas das instituies beneficiadas atualmente pelo
banco.
J as famlias que necessitam do benefcio,
precisam fazer inscrio com a assistente social do
Banco de Alimentos por meio da apresentao dos
documentos prescritos. Alm disso, para serem
selecionadas devem possuir renda per capita de at
140 reais e participarem de pelo menos uma atividade
no CRAS de seu bairro. A coordenadora ainda informa
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que aps a seleo a assistente social faz visitas
peridicas nas residncias dos beneficirios.
Aps as questes tcnicas a respeito do
funcionamento do Banco na entrevista, foi proposto
um questionamento de carter pessoal coordenadora:
Em sua opinio, o banco de alimentos influencia de
que maneira na segurana alimentar e nutricional do
municpio de Cachoeiro de Itapemirim? Que em
resposta, proferiu:
O municpio de Cachoeiro de Itapemirim
referncia no estado no mbito de
Segurana Alimentar e Nutricional -
SAN. O Banco de Alimentos influencia
na SAN, levando alimentos de qualidade
para entidades e famlias carentes.
Captando doaes de alimentos e
ajudando evitar desperdcios e com os
programas do governo para compra de
alimentos de pequenos agricultores,
podendo ajudar de forma econmica a
agricultura familiar e evitar o xodo
rural. Alm disso, ajuda as entidades,
uma vez que o dinheiro que seria usado
na aquisio de alimentos pode ser
utilizado para outros fins. Influencia
tambm na ampliao do nmero de
assistidos com alimentao. O Banco
influencia ainda na orientao de como
utilizar os alimentos de maneira
saudvel, fornecendo oficinas para
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31
aprender a aproveitar os alimentos de
forma integral e podendo gerar renda
para famlias carente, para que essas
possam sair da margem de
vulnerabilidade social. (SANTANA, 2015)
No senso de 2014, conforme o portal online da
Prefeitura Municipal de Cachoeiro de Itapemirim, o
Banco de Alimentos Ceclio Corra Cardoso
distribuiu 103,5 toneladas de alimentos para 560
famlias atendidas pelo projeto Cesta Verde e para 13
entidades de carter assistencial do municpio. Os
beneficiados receberam 11.200 cestas de hortifrutis,
doadas por 14 produtores rurais da regio sul do
estado do Esprito Santo.
CONSIDERAES FINAIS
Como resultado desse estudo, v-se que as
iniciativas governamentais so imprescindveis na
luta contra a insegurana alimentar. A alimentao
adequada direito de todos e, portanto, dever do
estado empenhar-se para garanti-lo. Nesse sentido, o
Banco de Alimentos Ceclio Corra Cardoso vem
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32
obtendo um impacto positivo nas famlias e
instituies que ampara. Influenciando de maneira
eficaz na qualidade de vida e nos hbitos alimentares
da populao vulnervel de Cachoeiro de Itapemirim.
REFERNCIAS
BRASIL. Constituio da Repblica Federativa
do Brasil. Braslia, DF, Dirio Oficial da Unio, 1988.
__________. Lei n 11.346, de 15 de setembro de
2006. Cria o Sistema Nacional de Segurana
Alimentar e Nutricional SISAN com vistas em assegurar o direito humano alimentao adequada e
d outras providncias. Dirio Oficial da Unio.
Braslia, DF, 2006. Disponvel em:
. Acesso em: 24 mai.
2015.
__________. Ministrio de Desenvolvimento Social
e Combate Fome. Segurana Alimentar e
Nutricional. Disponvel em:
Acesso em: 23 mai. 2015.
CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM (MUNICPIO).
Banco de Alimentos Ceclio Corra Cardoso.
Notcias. Portal online. Disponvel em:
. Acesso em: 29 mai. 2015.
-
33
MEDEIROS, Robson A. de; SILVA, Eduardo P.;
ARAJO, Jailton M. de.
A (in)segurana alimentar e nutricional no Brasil e o
desenvolvimento humano. Prima Facie Direito, Histria e Poltica, Joo Pessoa, v. 6, n. 11, p.26-39,
2007. Disponvel em:
Acesso em: 31 mai. 2015.
-
34
DIREITO HUMANO SEGURANA
ALIMENTAR: LOSAN E O MARCO
REGULATRIO DO DIREITO ALIMENTAO
ALMEIDA, Maria Flr de Carvalho8
DEBONA, Glauber Lunz9
MELO, Thais Vantil10
RANGEL, Tau Lima Verdan 11
INTRODUO
O conceito est fortemente ligado a Segurana
Alimentar e Nutricional (SAN). O Direito
alimentao parte dos direitos fundamentais dos
cidados. Esses direitos fazem parte de um conjunto
8 Graduanda do Curso de Direito do Centro Universitrio so
Camilo-ES, ;[email protected]; 9 Graduando do Curso de Direito do Centro Universitrio so
Camilo-ES, ;[email protected] 10 Graduanda do Curso de Direito do Centro Universitrio so
Camilo-ES, ;[email protected] 11 Professor Orientador. Doutorando vinculado ao Programa de
Ps-Graduao em Sociologia e Direito da Universidade Federal
Fluminense. Mestre em Cincias Jurdicas e Sociais pela
Universidade Federal Fluminense. Coordenador da Sublinha de
Pesquisa em Direito Humano Alimentao Adequada da Linha de Pesquisa em Novos Horizontes do Direito. E-mail:
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35
que envolve condies necessrias e essncias para
todos os seres humanos.
"A alimentao adequada direito fundamental
do ser humano, inerente dignidade da pessoa
humana e indispensvel realizao dos direitos
consagrados na Constituio Federal, devendo o poder
pblico adotar as polticas e aes que se faam
necessrias para promover e garantir a segurana
alimentar e nutricional da populao." (Art. 2 da Lei
n. 11.346/2006)
MATERIAL E MTODOS
O presente estudo foi estruturado a partir de
uma pesquisa qualitativa, vinculadas por sites
eletrnicos e referncias bibliogrficas lanadas.
DESENVOLVIMENTO
Em 1994 ocorreu a I Conferencia Nacional de
Alimentao e Nutrio, onde o Poder Pblico e a
sociedade civil juntaram ideias em prol da alimentao
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36
adequada. Em 1993 foi criado o Conselho Nacional de
Segurana Alimentar e Nutricional. Foi o primeiro
grupo formado por governadores que se props a
cuidar da alimentao.
Quase 20 anos depois da I Conferencia, o poder
publico resolveu fazer a segunda Conferencia
Nacional. Realizada em 2004, foi discutida a
segurana alimentar, onde seria disciplinada por lei.
Com base nas discusses, foi elaborada o Direito
Humano Alimentao Adequada (DHAA). Dois anos
aps, foi promulgada a Lei Orgnica de Segurana
Alimentar Nutricional (LOSAN), aprovada em 2006,
o principal instrumento que legisla sobre o tema no
pais e define a criao do SISAN com vistas a
assegurar o direito humano a alimentao adequada.
Ela a carta que mostra os caminhos que a nao deve
seguir no campo de segurana alimentar e nutricional.
A LOSAN possui cerca de 13 artigos, em prol da
alimentao adequada. "A alimentao adequada
direito fundamental do ser humano, inerente
dignidade da pessoa humana e indispensvel
realizao dos direitos consagrados na Constituio
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37
Federal, devendo o poder pblico adotar as polticas e
aes que se faam necessrias para promover e
garantir a segurana alimentar e nutricional da
populao." (Art. 2 da Lei n. 11.346/2006).
O Sistema Nacional de Segurana Alimentar e
Nutricional - SISAN um sistema de polticas
pblicas novo, ainda em fase de regulamentao.
Neste processo cabe aos estados, Distrito Federal e
municpios, para integrarem o SISAN a reproduo
dos componentes e atribuies do sistema referido.
Desta forma, pretende-se assegurar futuramente
condies para a construo dos pactos necessrios
para a devida estruturao do Sistema. Segurana
Alimentar e Nutricional, que nada mais uma
alimentao saudvel, acessvel, de qualidade e
quantidades suficientes. Assim como o direito vida,
sade, educao, o direito a alimentao faz parte
dos Direitos Fundamentais da humanidade.
Uma caracterstica importante do processo de
construo das polticas pblicas de segurana
alimentar e nutricional no Brasil a participao
social, tanto na formulao quanto no controle social
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das diversas iniciativas, o que tem se dado por meio
das Conferncias Nacionais de Segurana Alimentar e
Nutricional, pelo Conselho Nacional de Segurana
Alimentar e Nutricional CONSEA e conselhos
estaduais e municipais. As diretrizes e principais
estratgias que orientam as polticas de SAN vem
sendo amplamente debatidas com a sociedade civil por
meio destes espaos de participao. O Consea e os
conselhos estaduais e municipais de SAN tambm
esto buscando estratgias para o fortalecimento dos
mecanismos para a populao exigir a realizao do
seu direito alimentao adequada e saudvel.
Em 2010 houve uma aprovao da Emenda
Constitucional n 64 que tornou o Direito Humano a
Alimentao Adequada um direito fundamental de
todo cidado brasileiro. A Art 6 da Constituio
Federal passou a vigorar: "So direitos sociais a
educao, a sade, a alimentao, o trabalho, a
moradia, o lazer, a segurana, entre outros."
Mesmo com todo auxlio jurdico, a efetivao do
DHAA encontra-se distante da realidade de muitas
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39
pessoas, e o Estado tem a obrigao de respeitar,
proteger e realizar este direito sociedade.
A Declarao dos Direitos Humanos trazia com
ela uma referncia do direito de estar livre da fome,
contida no seu Art 11 do Pacto Internacional dos
Direitos. 925 milhes de cidados encontravam-se na
condio de subnutrio. Ainda progressivo o nmero
de doenas crnicas no transmissvel por conta da m
alimentao.
Figura 1: Campanha do Conselho Federal de
Nutricionostas para o direito alimentao
(Fonte:http://blogs.ne10.uol.com.br>)
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40
RESULTADOS E DISCUSSO
Identificar o direito de todos os seres humanos e
tambm a obrigao do Estado, tanto do mbito
federal quanto estadual e municipal. Onde o Estado
tem o direito de respeitar, proteger e realizar este
direito.
CONSIDERAES FINAIS
O direito alimentao adequada e saudvel vem
do prprio direito vida, sendo um direito humano e
fundamental.
A segurana alimentar e nutricional define que
todos devem ter aceso alimentos de qualidade e
quantidades suficientes.
A LOSAN define que o Sistema Nacional de
Segurana Alimentar e Nutricional (SISAN), por meio
do poder pblico, formular planos e aes com meios
de assegurar o direito alimentao adequada.
-
41
REFERNCIAS
BRASIL. Emenda Constitucional n 64, de 04 de
fevereiro de 2010. Altera o art 6 da Constituio
Federal, para introduzir a alimentao como direito
social. Disponvel em: . Acesso
25 mai. 2015.
________. Lei Orgnica de Segurana Alimentar e
Nutricional Lei 11.346 de 15 de setembro de 2006. Criar o Sistema Nacional de Segurana
Alimentar e Nutricional - SISAN com vistas a
assegurar o direito humano alimentao adequada.
Disponvel em: . Acesso em 25
mai. 2015.
________. Ministrio do Desenvolvimento Social.
O Direito Humano Alimentao Adequada e o
Sistema Nacional de Segurana Alimentar e
Nutricional. Disponvel em: .
Acesso em 25 mai. 2015.
SIQUEIRA, Renata Lopes et all . Anlise da
incorporao da perpesctiva do direito humano
alimentao adequada no desenho institucional do
programa nacional de alimentao escolar. Revista
Cincia e Sade Coletiva, v.19, n 1, 2004. Disponvel
em: . Acesso em: 22 mai. 2015.
UNIO SOCIAL CAMILIANA. Manual de
orientaes para trabalhos acadmicos. 3. ed. rev.
-
42
amp. So Paulo: Centro Universitrio So Camilo,
2012.
-
ARTIGOS COMPLETOS
-
44
O DIREITO HUMANO ALIMENTAO
ADEQUADA EM UMA TICA REGIONALIZADA:
UMA REFLEXO SOBRE A UNIVERSALIZAO
DA ALIMENTAO A PARTIR DE UMA
PERSPECTIVA DA BIOTICA12
RANGEL, Tau Lima Verdan 13
Resumo: O objeto do presente estudo reside na anlise da
juridificao do Direito Humano Alimentao Adequada
(DHAA) no ordenamento jurdico nacional, em especial
devido ao fortalecimento da temtica, alada condio de
poltica pblica, a partir do ano de 2003, com a reconstruo
do conceito de Segurana Alimentar e Nutricional (SAN),
reclamando maior ateno promoo de tal direito, em
especial no contingente populacional em situao de
vulnerabilidade social (insegurana alimentar e
nutricional), com vistas a reduzir os alarmantes ndices at
ento existentes. . A discusso existente em torno da
alimentao, na condio de direito fundamental, atingiu
12 Artigo submetido ao GT III Biotica, Direitos Humanos,
Democracia, Pluralidade e Sociedade do I CONIBDH (Congresso
Internacional de Biotica e Direitos Humanos). 13 Doutorando vinculado ao Programa de Ps-Graduao em
Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense. Mestre
em Cincias Jurdicas e Sociais pela Universidade Federal
Fluminense. Coordenador da Sublinha de Pesquisa em Direito Humano Alimentao Adequada da Linha de Pesquisa em Novos Horizontes do Direito. E-mail: [email protected]
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45
seu pice com a Emenda Constitucional n 64/2010,
alterando a redao do artigo 6 da Constituio Federal de
1988, incluindo-a como direito. Inicialmente, a
universalizao do DHAA traduz-se em assegurar o
respeito, a proteo, a promoo e o provimento, desse
direito a todos os seres humanos, independente de sexo e
orientao sexual, idade, origem tnica, cor da pele,
religio, opo poltica, ideologia ou qualquer outra
caracterstica pessoal ou social. Acresa-se que fartas so as
evidncias de que tal universalizao uma rdua tarefa
que incumbe aos Estados e governos de alguns pases.
Ainda que existam ganhos importantes na rbita
internacional, quanto incluso do tema na agenda social e
poltica, e conquistas normativas e judiciais, subsiste um
caminho longo a ser trilhado Em uma perspectiva mais
restrita, o estado do Esprito Santo apresenta ndices
expressivos de segurana alimentar e nutricional. Porm,
ao examinar a temtica em uma perspectiva regionalizada,
percebe-se que a promoo da SAN e do DHAA um
desafio, em especial devido ao nmero elevado de
indivduos em vulnerabilidade social (insegurana
alimentar). Nesta esteira, ao se valer dos fundamentos
alicerantes da Biotica, o presente visa promover um
exame dos esforos envidados na regio sul capixaba no que
se refere ao DHAA.
Palavras-chaves: Segurana Alimentar e Nutricional.
Direito Humano Alimentao Adequada. Dignidade da
Pessoa Humana.
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1 INTRODUO
Com o findar da Segunda Grande Guerra
Mundial, especialmente com a queda do regime
nazista, verificou-se um alinhamento dos discursos
internacionais voltados para a promoo dos direitos
humanos, impulsionado, sobremaneira, pelos eventos
nefastos produzidos durante o perodo blico. Assim,
plenamente possvel assinalar que o direito estende,
maciamente, a sua incidncia sobre novos assuntos
sociais que eram tratados, principalmente, de maneira
informal no mundo da vida tradicional. Cuida
destacar que a regulao jurdica, no que se refere a
novos mbitos da sociedade, densamente
caracterizada pela extenso do direito em consonncia
com o desmembramento da matria jurdica global em
mltiplas searas peculiares que reclamam
especificidades prprias, a exemplo do que se observa
com a busca pela erradicao de pobreza e
desigualdade social e a expanso continua dos direitos
humanos. Vivencia-se, assim, uma constante
juridificao de temticas sociais, buscando,
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continuamente, a promoo dos indivduos e de seus
respectivos direitos fundamentais. Segundo Andrews
(2010, p. 09), o termo juridificao tem um sentido
prximo ao termo judicializao, que corresponde
substituio do debate poltico pela regulao legal;
ainda assim, ele tem um sentido mais abrangente,
porquanto faz referncia formalizao de todas as
relaes sociais e no somente substituio do debate
por normas e leis. Nessa perspectiva, a juridificao
descrita como um processo pelo qual os conflitos
humanos so inteiramente despidos de sua dimenso
existencial prpria por meio do formalismo jurdico,
sofrendo, via de consequncia, desnaturao em razo
da respectiva submisso a processos de resoluo de
natureza jurdica.
Trata-se, dessa maneira, de conferir aspecto
jurdico a temas que florescem na dinamicidade da
sociedade, a fim de dispensar tutela e salvaguarda
jurdica. Assim, possvel frisar que, ao se emprestar
a Teoria da Ao Comunicativa de Habermas como
ponto de anlise ao tema em destaque, os direitos
humanos sofreram alargamento concomitantemente
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com as ondas de juridificao. Dessa maneira, no
causa perplexidade entre os estudiosos do assunto a
construo de vasta literatura debruada sobre os
direitos humanos, permeando uma pluralidade de
reas do conhecimento. Alm disso, os assuntos
relacionados aos direitos humanos tendem a pautar os
debates acadmicos, sobretudo, por seu aspecto de
transversalidade, tendo em vista tratar-se de um tem
que interessa s mais distintas reas do saber
(BORGES, 2008, p. 73). Trata-se de temtica que
ultrapassa os meandros do direito, comportando uma
discusso polissmica e diversificada, refletindo a
complexidade do assunto, notadamente em decorrncia
de sua influncia fluda e pluralizada. O aspecto
positivista do direito e o papel desempenhado pelos
direitos humanos no podem ser minorados e,
certamente, repousa sobre tal aspecto a funo da
cincia jurdica em busca da construo de tal
concepo, objetivando, assim, a continua construo e
ampliao de tais temas, permitindo que sejam
compreendidos temas contemporneos, dotados de
significao nova e refletindo os anseios da
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49
coletividade. As estruturas normativas e os efeitos
advindos das normas jurdicas so instrumentos
dotados de racionalidade, os quais contribuem para os
modos de ao e de compreenso do controle social por
meio do direito.
As diversificadas situaes produzidas na
contemporaneidade reclamam um alargamento da
estrutura jurdica. Em funo dessa leitura
sinalizada que a interferncia sistmica no mundo da
vida traz consigo, inevitavelmente, processos de
juridificao constitudos pela tendncia de as
sociedades modernas ampliarem significativamente a
extenso do direito escrito (BANNWART JNIOR;
OLIVEIRA, 2009, p. 2.217). Ora, observa-se um
cenrio dotado de densa mutabilidade e diversificao
de estruturas, impulsionado, sobremaneira, pela
dinamicidade contempornea, logo, imprescindvel a
edificao de uma tica jurdica concatenada com tal
moldura. Assim, com o objetivo de compreender a
juridificao dos direitos, necessrio compreender a
paulatina construo dos direitos humanos, os quais
deram azo ao manancial de direitos e garantias
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50
fundamentais, consistindo em uma afirmao e
consolidao em determinado perodo histrico da
humanidade. A evoluo histrica dos direitos
inerentes pessoa humana tambm lenta e gradual.
No so reconhecidos ou construdos todos de uma vez,
mas sim conforme a prpria experincia da vida
humana em sociedade (SILVEIRA; PICCIRILLO,
2009, s.p.).
Observa-se, sobretudo nas ltimas dcadas do
sculo XX e no incio do sculo XXI, uma busca
desenfreada pelo alargamento de direitos humanos
fundamentais, a fim de corresponder s inerentes
necessidades apresentadas pelo indivduo, no que toca
ao seu desenvolvimento, com o escopo primordial da
promoo do ser humano, o que retratado em um
sucedneo de compromissos internacionais entre as
naes voltados pela erradicao da pobreza e da
desigualdade. No cenrio interno, tal busca representa
a perseguio dos objetivos fundamentais da
Repblica, expressamente disposto no artigo 3, inciso
III. Quadra evidenciar que sobredita construo no se
encontra finalizada, ao avesso, a marcha evolutiva
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rumo conquista de direitos est em pleno
desenvolvimento, fomentado, de maneira substancial,
pela difuso das informaes propiciada pelos atuais
meios de tecnologia, os quais permitem o florescimento
de novos direitos, alargando, com bastante substncia
a rubrica dos temas associados aos direitos humanos.
2 A CONSTRUO FILOSFICA DA LOCUO
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA: A
POSSIBILIDADE DE ALARGAMENTO DOS
DIREITOS FUNDAMENTAIS PROPICIADO
PELOS CENRIOS CONTEMPORNEOS
perceptvel que a edificao de um Estado
Democrtico de Direito, na contemporaneidade,
guarda umbilical relao, no cenrio nacional, com o
iderio da dignidade da pessoa humana, sobremaneira
devido proeminncia concedida ao tema na
Constituio da Repblica Federativa do Brasil de
1988. Ao lado disso, no se pode perder de vista que,
em decorrncia da sorte de horrores perpetrados
durante a Segunda Grande Guerra Mundial, os
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52
iderios kantianos foram rotundamente rememorados,
passando a serem detentores de vultosos contornos,
vez que, de maneira realista, foi possvel observar as
consequncias abjetas provenientes da utilizao do
ser humano como instrumento de realizao de
interesses. A fim de repelir as aes externadas
durante o desenrolar do conflito supramencionado, o
baldrame da dignidade da pessoa humana foi
maciamente hasteado, passando a tremular como
flmula orientadora da atuao humana, restando
positivado em volumosa parcela das Constituies
promulgadas no ps-guerra, mormente as do Ocidente.
O respeito dignidade humana de cada pessoa probe
o Estado e dispor de qualquer indivduo apenas como
meio para outro fim, mesmo se for para salvar a vida
de muitas outras pessoas (HABERMAS, 2012, p. 09).
perceptvel que a moldura que enquadra a
construo da dignidade da pessoa humana, na
condio de produto da indignao dos humilhados e
violados por perodos de intensos conflitos blicos,
expressa um conceito fundamental responsvel por
fortalecer a construo dos direitos humanos, tal como
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53
de instrumentos que ambicionem evitar que se
repitam atos atentatrios contra a dignidade de outros
indivduos.
Por bvio, a Repblica Federativa do Brasil, ao
estruturar a Constituio Cidad de 1988 concedeu,
expressamente, relevo ao princpio da dignidade da
pessoa humana, sendo colocada sob a epgrafe dos
princpios fundamentais, positivado no inciso III do
artigo 1. H que se destacar, ainda, que o aludido
preceito passou a gozar de status de pilar estruturante
do Estado Democrtico de Direito, toando como
fundamento para todos os demais direitos. Nesta
trilha, tambm, h que se enfatizar que o Estado
responsvel pelo desenvolvimento da convivncia
humana em uma sociedade norteada por caracteres
pautados na liberdade e solidariedade, cuja
regulamentao fica a encargo de diplomas legais
justos, no qual a populao reste devidamente
representada, de maneira adequada, participando e
influenciando de modo ativo na estruturao social e
poltica. Ademais, permitida, inda, a convivncia de
pensamentos opostos e conflitantes, sendo possvel sua
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54
expresso de modo pblico, sem que subsista qualquer
censura ou mesmo resistncia por parte do Ente
Estatal.
Nesse ponto, verifica-se que a principal
incumbncia do Estado Democrtico de Direito, em
harmonia com o ventilado pelo dogma da dignidade da
pessoa humana, est jungido na promoo de polticas
que visem a eliminao das disparidades sociais e os
desequilbrios econmicos regionais, o que clama a
perseguio de um iderio de justia social, nsito em
um sistema pautado na democratizao daqueles que
detm o poder. Ademais, no se pode olvidar que no
permitido admitir, em nenhuma situao, que
qualquer direito viole ou restrinja a dignidade da
pessoa humana (RENON, 2009, p. 19), tal iderio
decorre da proeminncia que torna o preceito em
comento em patamar intocvel e, se porventura houver
conflito com outro valor constitucional, aquele h
sempre que prevalecer. Frise-se que a dignidade da
pessoa humana, em razo da promulgao da Carta de
1988, passou a se apresentar como fundamento da
Repblica, sendo que todos os sustentculos
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55
descansam sobre o compromisso de potencializar a
dignidade da pessoa humana, fortalecido, de maneira
determinante, como ponto de confluncia do ser
humano. Com o intuito de garantir a existncia do
indivduo, insta realar que a inviolabilidade de sua
vida, tal como de sua dignidade, faz-se proeminente,
sob pena de no haver razo para a existncia dos
demais direitos. Neste diapaso, cuida colocar em
salincia que a Constituio de 1988 consagrou a vida
humana como valor supremo, dispensando-lhe aspecto
de inviolabilidade.
evidencivel que princpio da dignidade da
pessoa humana no visto como um direito, j que
antecede o prprio Ordenamento Jurdico, mas sim um
atributo inerente a todo ser humano, destacado de
qualquer requisito ou condio, no encontrando
qualquer obstculo ou ponto limtrofe em razo da
nacionalidade, gnero, etnia, credo ou posio social.
Nesse vis, o aludido bastio se apresenta como o
macio ncleo em torno do gravitam todos os direitos
alocados sob a epgrafe fundamentais, que se
encontram agasalhados no artigo 5 da CF/88. Ao
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56
perfilhar-se umbilical relao nutrida entre a
dignidade da pessoa humana e os direitos
fundamentais, podem-se tanger dois aspectos
primordiais. O primeiro se apresenta como uma ao
negativa, ou passiva, por parte do Ente Estatal, a fim
de evitar agresses ou leses; j a positiva, ou ativa,
est atrelada ao sentido de promover aes concretas
que, alm de evitar agresses, criem condies efetivas
de vida digna a todos (BERNARDO, 2006, p. 236).
Comparato ala a dignidade da pessoa humana
a um valor supremo, eis que se o direito uma criao
humana, o seu valor deriva, justamente, daquele que o
criou. O que significa que esse fundamento no
outro, seno o prprio homem, considerando em sua
dignidade substncia da pessoa (1998, p. 76), sendo
que as especificaes individuais e grupais so sempre
secundrias. A prpria estruturao do Ordenamento
Jurdico e a existncia do Estado, conforme as
ponderaes aventadas, s se justificam se erguerem
como axioma macio a dignidade da pessoa humana,
dispensando esforos para concretizarem tal dogma.
Mister faz-se pontuar que o ser humano sempre foi
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57
dotado de dignidade, todavia, nem sempre foi
(re)conhecida por ele. O mesmo ocorre com o
sucedneo dos direitos fundamentais do homem que,
preexistem sua valorao, os descobre e passa a
dispensar proteo, variando em decorrncia do
contexto e da evoluo histrico-social e moral que
condiciona o gnero humano. No se pode perder de
vista o corolrio em comento a sntese substantiva
que oferta sentido axiolgico Constituio da
Repblica Federativa do Brasil de 1988,
determinando, conseguintemente, os parmetros
hermenuticos de compreenso. A densidade jurdica
do princpio da dignidade da pessoa humana, no
sistema constitucional adotado, h de ser, deste modo,
mxima, afigurando-se, inclusive, como um corolrio
supremo no trono da hierarquia das normas.
A interpretao conferida pelo corolrio em
comento no para ser procedida margem da
realidade. Ao reverso, alcanar a integralidade da
ambio contida no bojo da dignidade da pessoa
humana elemento da norma, de modo que
interpretaes corretas so incompatveis com
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58
teorizao alimentada em idealismo que no as
conforme como fundamento. Atentando-se para o
princpio supramencionado como estandarte, o
intrprete dever observar para o objeto de
compreenso como realidade em cujo contexto a
interpretao se encontra inserta. Ao lado disso,
nenhum outro dogma mais valioso para assegurar a
unidade material da Constituio seno o corolrio em
testilha. Assim, ao se considerar os valores e iderios
por ele abarcados, no possvel perder de vista que
as normas, na viso garantstica consagrada no
ordenamento jurdico nacional, reclamam uma
interpretao em conformidade com o preceito
analisado at o momento.
Diante de tal cenrio, os valores de igualdade,
fraternidade e solidariedade recebem especial
relevncia em tempos contemporneos e clamam,
assim, por posicionamentos que busquem promover a
incluso por parte dos poderes constitudos em prol da
busca do bem comum. Pozzoli (2003, p. 109) afirma
que uma nova sociedade, fundada em valores
fraternos, teria o amor como princpio dinmico social.
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59
Assim, a sociedade composta por pessoas humanas e
tem como fim precpuo o bem comum coletivo, no
significando apenas o bem individual, mas sim o
empenho de cada um na realizao da vida social dos
demais das outras pessoas. O bem comum de um ser
humano est calcado na realizao do bem comum do
outro ser humano. Repousa em tal iderio o verdadeiro
sentido do bem comum de uma humanidade.
Ainda em relao proeminncia da dignidade
da pessoa humana, inclusive no que tange ao
alargamento dos direitos fundamentais, consoante a
dico de Rocha, o perfil do Estado Social repousa no
fato de ser um Estado intervencionista em duplo
aspecto: por um lado, intervm na ordem econmica,
seja direcionando e planejando o desenvolvimento
econmico, seja promovendo inverses nos ramos da
economia considerados estratgicos; por outro turno,
intervm no mbito social, no qual dispensa prestaes
de bens e servios e realiza outras atividades visando
elevao do nvel de vidas das populaes consideradas
mais carentes. O desenvolvimento humano a ser
perseguido pelos Estados nacionais liga-se,
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60
intimamente, na qualidade de vida do seu povo e a
fome, de modo particular, mostra-se como uma forma
de afastar o indivduo da participao nos destinos da
democracia de um Estado (MEDEIROS; SILVA;
ARAJO, s.d., p. 32). Ocorre, porm, que os famintos
excludos so observados como impotentes para
reivindicar direitos, subordinando-se a edificar uma
cultura de ver a pobreza social como realidade
naturalmente construda.
Neste aspecto, Rocha (1995, p. 131), ao discorrer
acerca da proeminncia do Estado em assumir a
funo de agente de transformao social, assevera
que determinadas mudanas ocorridas em tal
ambiente repercuti significativamente. Ora, nas
funes do direito, que deixou de ser apenas uma
tcnica de mediao de comportamentos para
promover a transformao em tcnica de planificao e
planejamento, ou seja, as normas jurdicas passaram a
arvorar no apenas regras contendo hipteses de
incidncia e consequncias jurdicas, mas tambm
escopos a serem alcanados, no plano concreto. Com
destaque, o direito alimentao adequada, em
-
61
especial, passa a compor a rubrica dos direitos
fundamentais, definido expressamente no Pacto
Internacional dos Direitos Econmicos, Sociais e
Culturais (PIDESC), do qual o Brasil signatrio:
ARTIGO 11
1. Os Estados Partes do presente Pacto
reconhecem o direito de toda pessoa a um
nvel de vida adequando para si prprio e
sua famlia, inclusive alimentao,
vestimenta e moradia adequadas, assim
como a uma melhoria continua de suas
condies de vida. Os Estados Partes
tomaro medidas apropriadas para
assegurar a consecuo desse direito,
reconhecendo, nesse sentido, a
importncia essencial da cooperao
internacional fundada no livre
consentimento. 2. Os Estados Partes do presente Pacto,
reconhecendo o direito fundamental de
toda pessoa de estar protegida contra a
fome, adotaro, individualmente e
mediante cooperao internacional, as
medidas, inclusive programas concretos,
que se faam necessrias para: a) Melhorar os mtodos de produo,
conservao e distribuio de gneros
alimentcios pela plena utilizao dos
conhecimentos tcnicos e cientficos, pela
difuso de princpios de educao
nutricional e pelo aperfeioamento ou
reforma dos regimes agrrios, de
maneira que se assegurem a explorao e
a utilizao mais eficazes dos recursos
-
62
naturais; b) Assegurar uma repartio
equitativa dos recursos alimentcios
mundiais em relao s necessidades,
levando-se em conta os problemas tanto
dos pases importadores quanto dos
exportadores de gneros alimentcios
(BRASIL, 1992, s.p.).
Amartya Sen (2000, p. 189), ao abordar a
temtica em comento, explicita que uma pessoa pode
ser forada a passar fome, ainda que haja abundncia
de alimentos ao seu redor, em decorrncia de uma
minorao da renda, em razo, por exemplo, de
desemprego ou um colapso no mercado dos produtos
que essa pessoa produz e vende para se sustentar.
Doutro vis, mesmo quando um estoque de alimentos
passa a declinar acentuadamente um pas ou regio,
todos podem ser salvos da fome, desde que haja uma
diviso melhor dos alimentos disponveis, promovendo-
se, para tanto, a criao de emprego e renda adicionais
para as potenciais vtimas da fome.
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63
3 O DIREITO HUMANO ALIMENTAO
ADEQUADA (DHAA) ALADO AO STATUS DE
DIREITO FUNDAMENTAL
fato que alimentao e nutrio so requisitos
bsicos para a promoo e a proteo da sade,
viabilizando a afirmao plena do potencial de
crescimento e desenvolvimento humano, com
qualidade de vida e cidadania, tal como estruturao
de condies sociais mais prximas das ideais. Podest
(2011, p. 27-28) destaca que a locuo segurana
alimentar, durante o perodo da Primeira Guerra
Mundial (1914-1918), passou a ser empregado na
Europa, estando associado estritamente com o de
segurana nacional e a capacidade de cada pas de
produzir seu prprio alimento, de maneira a no ficar
vulnervel a possveis embargos, boicotes ou cercos,
em decorrncia de polticas ou atuaes militares.
Contudo, posteriormente Segunda Guerra Mundial
(1939-1945), sobretudo com a constituio da
Organizao das Naes Unidas (ONU), o conceito da
locuo supramencionada passa a se fortalecer,
-
64
porquanto compreendeu. Assim, nas recm-criadas
organizaes intergovernamentais, era possvel
observar as primeiras tenses polticas entre os
organismos que concebiam o acesso ao alimento de
qualidade como um direito humano, a exemplo da
Organizao das Naes Unidas para a Alimentao e
Agricultura (FAO), e alguns que compreendiam que a
segurana alimentar seria assegurada por mecanismos
de mercado, tal como se verificou no Fundo Monetrio
Internacional (FMI) e no Banco Mundial. Aps o
perodo supramencionado, a segurana alimentar foi
hegemonicamente tratada como uma questo de
insuficiente disponibilidade de alimentos (PODEST,
2011, p. 28). Passam, ento, a ser institudas
iniciativas de promoo de assistncia alimentar, que
foram estabelecidas em especial, com fundamento nos
excedentes de produo dos pases ricos.
Havia a viso de que a insegurana alimentar
decorria da produo insuficiente de alimentos nos
pases pobres. Todavia, nas ltimas dcadas, a
concepo conceitual de segurana alimentar que,
anteriormente, estava restrita ao abastecimento, na
-
65
quantidade apropriada, foi ampliada, passando a
incorporar, tambm, o acesso universal aos alimentos,
o aspecto nutricional e, por conseguinte, as questes
concernentes composio, qualidade e ao
aproveitamento biolgico. Em uma perspectiva
individual e na escala coletiva, sobreditos atributos
esto, de maneira expressa, consignados na
Declarao Universal dos Direitos Humanos de 1948,
os quais foram, posteriormente reafirmados no Pacto
Internacional sobre Direitos Econmicos e Sociais e
incorporados legislao nacional em 1992 (BRASIL,
1992, s.p.). Historicamente, a inter-relao entre a
segurana alimentar e nutricional e o direito humano
alimentao adequada (DHAA) comea a ser
delineada a partir do entendimento existente acerca
dos direitos humanos na Declarao Universal de
1948. Durante aludido perodo histrico, a principal
preocupao acerca do tema voltava-se para a nfase
acerca da acepo de que os seres humanos, na
condio de indivduos pertencentes a uma sociedade,
eram detentores de direitos que deveriam ser
reconhecidos e expressos nas dimenses das quais
-
66
faziam parte, como alude Albuquerque (2009, p. 896).
Para tanto, contribuiu para inserir a proposta de que,
a efetivao dos direitos, seria imprescindvel a
incluso das questes sociais, econmicas, civis e
polticas, as quais foram essenciais para identific-los
como direitos atrelados s liberdades fundamentais e
dignidade humana.
A partir de tais ponderaes, possvel frisar
que a concretizao dos direitos humanos, sobretudo o
direito humano alimentao adequada (DHAA),
abarca responsabilidade por parte tanto do Estado
quanto da sociedade e dos indivduos. Assim, nas trs
ltimas dcadas, denota-se que a segurana alimentar
e nutricional passou a ser considerada como requisito
fundamental para afirmao plena do potencial de
desenvolvimento fsico, mental e social de todo o ser
humano, superando a tradicional concepo que
alimentao o mero ato de ingerir alimentos. A
Cpula de Roma de 1996 estabeleceu, em rbita
internacional, que existe segurana alimentar quando
as pessoas tm, a todo o momento, acesso fsico e
econmico a alimentos seguros, nutritivos e suficientes
-
67
para satisfazer as suas necessidades dietticas e
preferncias alimentares, com o objetivo de levarem
uma vida ativa e s. Afirma Podest que ao Estado
cabe respeitar, proteger e facilitar a ao de indivduos
e comunidades em busca da capacidade de alimentar-
se de forma digna, colaborando para que todos possam
ter uma vida saudvel, ativa, participativa e de
qualidade (PODEST, 2011, p. 26).
Dessa maneira, nas situaes em que seja
inviabilizado ao indivduo o acesso a condies
adequadas de alimentao e nutrio, tal como ocorre
em desastres naturais (enchentes, secas, etc.) ou em
circunstncias estruturais de penria, incumbe ao
Estado, sempre que possvel, em parceria com a
sociedade civil, assegurar ao indivduo a concretizao
desse direito, o qual considerado fundamental sua
sobrevivncia. A atuao do Estado, em tais situaes,
deve estar atrelada a medidas que objetivem prover as
condies para que indivduos, familiares e
comunidade logrem xito em se recuperar, dentro do
mais breve nterim, a capacidade de produzir e
adquirir sua prpria alimentao. Os riscos
-
68
nutricionais, de diferentes categorias e magnitudes,
permeiam todo o ciclo da vida humana, desde a
concepo at a senectude, assumindo diversas
configuraes epidemiolgicas em funo do processo
sade/doena de cada populao (BRASIL, 2008, p.
11). Hirai (2011, p. 74) aponta que os elementos
integrativos da concepo de segurana alimentar e
nutricional foram sofrendo um processo de ampliao,
passando, em razo da contempornea viso, a
extrapolar o entendimento ordinrio de alimentao
como simples forma de reposio energtica. Convm
destacar que, no territrio nacional, o novo conceito de
segurana alimentar foi consolidado na I Conferncia
Nacional de Segurana Alimentar, em 1994.
Assim, no conjunto dos componentes de
uma poltica nacional, voltada para a
segurana alimentar e nutricional, esto
o crdito agrcola, inclusive o incentivo
ao pequeno agricultor; a avaliao e a
adoo de tecnologias agrcolas e
industriais; os estoques estratgicos; o
cooperativismo; a importao, o acesso, a
distribuio, a conservao e o
armazenamento de alimentos, o manejo
sustentado dos recursos naturais, entre
outros (BRASIL, 2008, p.11).
-
69
No cenrio nacional, as aes voltadas a
garantir a segurana alimentar do em consequncia
ao direito alimentao e nutrio, ultrapassando,
portanto, o setor de Sade e recebe o contorno
intersetorial, sobretudo no que se refere produo e
ao consumo, o qual compreende, imprescindivelmente,
a capacidade aquisitiva da populao e a escolha dos
alimentos que devem ser consumidos, inclusive no que
tange aos fatores culturais que interferem em tal
seleo. Verifica-se que o aspecto conceitual de
Segurana Alimentar e Nutricional (SAN),
justamente, materializa e efetiva o direito de todos ao
acesso regular e permanente a alimentos de qualidade,
em quantidade satisfatria, de modo a no
comprometer o acesso a outras necessidades essenciais
da dignidade da pessoa humana. Nunca demais
lembrar que o direito humano alimentao adequada
tem por pano de fundo as prticas alimentares
promotoras de sade, atinentes diversidade cultural
e que sejam social, econmica e ambientalmente
-
70
sustentveis (MEDEIROS; SILVA; ARAJO, s.d., p.
34.).
Atualmente, consoante o esclio de Hirai (2011,
p. 24), as atenes se voltam para as dimenses
sociais, ambientais e culturais que esto atreladas na
origem dos alimentos. Ademais, a garantia
permanente de segurana alimentar e nutricional a
todos os cidados, em decorrncia da amplitude e
abrangncia das questes que compreende, passa a
reclamar diversos compromissos, tais como: polticos,
sociais e culturais, objetivando assegurar a oferta e o
acesso universal a alimentos de qualidade nutricional
e sanitria, atentando-se, igualmente, para o controle
da base gentica do sistema agroalimentar. De
maneira expressa, a Lei n 11.346, de 15 de setembro
de 2006 (Lei Orgnica da Segurana Alimentar),
estabeleceu, em seu artigo 2, que
[...] a alimentao adequada direito
fundamental do ser humano, inerente
dignidade da pessoa humana e
indispensvel realizao dos direitos
consagrados na Constituio Federal,
devendo o poder pblico adotar as
polticas e aes que se faam
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71
necessrias para promover e garantir a
segurana alimentar e nutricional da
populao (BRASIL, 2006, s.p.).
Igualmente, o diploma legal supramencionado
estabelece que a segurana alimentar e nutricional
consiste na realizao na realizao do direito de todos
ao acesso regular e permanente a alimentos de
qualidade, em quantidade suficiente, sem que haja
comprometimento do acesso a outras necessidades
essenciais, tendo como fundamento prticas
alimentares promotoras de sade que respeitem a
diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural,
econmica e socialmente sustentveis. Obtempera
Ribeiro (2013, p. 38) que o direito humano
alimentao adequada no consiste simplesmente em
um direito a uma rao mnima de calorias, protenas
e outros elementos nutritivos concretos, mas se trata
de um direito inclusivo, porquanto deve conter todos os
elementos nutritivos que uma pessoa reclama para
viver uma vida saudvel e ativa, tal como os meios
para ter acesso. A partir da Lei Orgnica da
Segurana Alimentar (LOSAN), a segurana
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72
alimentar e nutricional passou a abranger a ampliao
das condies de acesso aos alimentos por meio de
produo, em especial da agricultura tradicional e
familiar, do processamento, da industrializao, da
comercializao, incluindo-se os acordos
internacionais, do abastecimento e da distribuio dos
alimentos, compreendendo a gua, bem como a
gerao de emprego e da redistribuio de renda. De
igual forma, a locuo supramencionada compreende,
ainda, a conservao da biodiversidade e a utilizao
sustentvel dos recursos, bem como a promoo da
sade, da nutrio e da alimentao da populao,
incluindo-se os grupos populacionais especficos e
populaes em situao de vulnerabilidade sociais. A
LOSAN abrange, ainda, a garantia da qualidade
biolgica, sanitria, nutricional e tecnolgica dos
alimentos, bem como seu aproveitamento, estimulando
prticas alimentares e estilos de vida saudveis que
respeitem a diversidade tnica e racial e cultural da
populao.
Est inserido, igualmente, na rubrica em
anlise, a produo de conhecimento e o acesso
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73
informao, bem como a implementao de polticas
pblicas e estratgias sustentveis e participativas de
produo, comercializao e consumo de alimentos,
respeitando-se as mltiplas caractersticas culturais
do Pas. Por derradeiro, a viso existente em torno do
DHAA alcana como pice, em sede de ordenamento
jurdico interno, a Emenda Constitucional n 64, de 4
de Fevereiro de 2010, responsvel por introduzir na
redao do artigo 6, o direito fundamental em
comento, incluindo-o no rol de direitos fundamentais
sociais. Neste aspecto, para a consecuo do DHAA,
importante explicitar que o alimento deve reunir uma
trade de aspectos caractersticos, a saber:
disponibilidade, acessibilidade e adequao. No que
concerne disponibilidade do alimento, cuida destacar
que, quando requisitado por uma parte, a alimentao
deve ser obtida dos recursos naturais, ou seja,
mediante a produo de alimentos, o cultivo da terra e
pecuria, ou por outra forma de obter alimentos, a
exemplo da pesca, caa ou coleta. Alm disso, o
alimento deve estar disponvel para comercializao
em mercados e lojas.
-
74
A acessibilidade alimentar, por seu turno,
traduz-se na possibilidade de obteno por meio do
acesso econmico e fsico aos alimentos. La
accesibilidad econmica significa que los alimentos
deben estar al alcance de las personas desde el punto
de vista econmico (ONU, s.d., p. 03). Ainda no que
concerne acessibilidade, as pessoas devem ser
capazes de adquirir o alimento para estruturar uma
dieta adequada, sem que haja comprometimento das
demais necessidades bsicas. Neste aspecto, ainda, a
acessibilidade fsica materializa-se pela imperiosidade
dos alimentos serem acessveis a todos, incluindo
indivduos fisicamente vulnerveis, como crianas,
enfermos, deficientes e pessoas idosas. De igual modo,
a acessibilidade do alimento estabelece que deve ser
assegurado a pessoas que esto em ares remotas e
vtimas de conflitos armados ou desastres naturais, tal
como a populao encarcerada. Renato Srgio Maluf,
ao apresentar sua conceituao sobre segurana
alimentar (SA), faz meno ao fato de que se deve
considerar aquela como condies de acesso
suficiente, regular e a baixo custo a alimentos bsicos
-
75
de qualidade. Mais que um conjunto de polticas
compensatrias, trata-se de um objetivo estratgico
[...] voltado a reduzir o peso dos gastos com
alimentao (MALUF, 1999, p. 61), em sede de
despesas familiares. Por derradeiro, o alimento
adequado pressupe que a oferta de alimentos deve
atender s necessidades alimentares, considerando a
idade do indivduo, suas condies de vida, sade,
ocupao, gnero etc. Los alimentos deben ser seguros
para el consumo humano y estar libres de sustancias
nocivas, como los contaminantes de los procesos
industriales o agrcolas, incluidos los residuos de los
plaguicidas, las hormonas o las drogas veterinarias
(ONU, s.d., p. 04). Ao lado disso, um alimento
adequado, ainda, deve ser culturalmente aceitvel pela
populao que o consumir, estando inserido em um
contexto de formao do indivduo, no contrariando os
aspectos inerentes formao daquela.
-
76
4 O DIREITO HUMANO ALIMENTAO
ADEQUADA EM UMA TICA REGIONALIZADA:
UMA REFLEXO SOBRE A UNIVERSALIZAO
DA ALIMENTAO A PARTIR DE UMA
PERSPECTIVA DA BIOTICA
A universalizao do DHAA traduz-se em
assegurar o respeito, a proteo, a promoo e o
provimento desse direito a todos os seres humanos,
independente de sexo e orientao sexual, idade,
origem tnica, cor da pele, religio, opo poltica,
ideologia ou qualquer outra caracterstica pessoal ou
social. Acresa-se que fartas so as evidncias de que
tal universalizao uma rdua tarefa que incumbe
aos Estados e governos de alguns pases. Ainda que
existam ganhos importantes na rbita internacional,
quanto incluso do tema na agenda social e poltica,
e conquistas normativas e judiciais, subsiste um
caminho longo a ser trilhado. Com efeito, no mundo
todo, o problema da universalizao do DHAA no
apenas jurdico, mas, num sentido mais amplo,
tambm poltico, pois demanda mudanas estruturais,
-
77
negociao e adoo de medidas concretas capazes de
dar operacionalidade a esse direito social (BRASIL,
2011, p. 11) nos ordenamentos jurdicos internos, o que
se d atravs de polticas e programas pblicos
voltados para a promoo e garantia da SAN.
Ao lado disso, universalizar o DHAA
compreende a concretizao dos princpios da
indivisibilidade, da interdependncia e inter-relao
dos direitos humanos, perseguindo a mxima
isonmica que todos so igualmente necessrios para
assegurar uma vida digna e encontram-se
organicamente vinculados. Dessa maneira, a
vinculao de um reclama a garantia do exerccio dos
demais, no sendo, portanto, possvel falar em
liberdade ou em sade sem uma alimentao
adequada, sem acesso gua e a terra. Nesse cenrio,
interessante que do Estado Social materializa,
segundo o entendimento de Doehring (2008, p. 361), a
ideia de uma justia especfica inserida dentro do
Texto Constitucional que, entretanto, deve encontrar o
seu limite, em que a previsibilidade e a segurana
jurdica, ou seja, a concepo do Estado de direito, no
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78
sentido formal, ser alcanado. Assim, partindo da
premissa que orbita em torno da conformao do
Estado Brasileiro, h que se reconhecer incumbe
deveres quanto efetividade dos direitos sociais, em
especial no que toca promoo e concretizao do
DHAA. Desse modo, ao Estado, cabe prioritariamente
a implementao de polticas pblicas de segurana
alimentar e nutricional, vez que a fome uma questo
que deve estar na agenda prioritria de atuao do
poder pblico (SEM, 2000, p. 08). At a introduo do
DHAA no Texto Constitucional, havia um debate
acerca da possibilidade de exigi-lo tanto na seara
administrativa quanto no judicirio. Entretanto, com a
introduo daquele na Constituio Cidad, tal debate
no mais subsiste, materializando, doutro ponto,
obrigaes do Estado e responsabilidades de diferentes
atores sociais em relao concreo e promoo
plena, assegurando a todo indivduo o acesso
universal.
Examinando a questo sob uma perspectiva da
SAN, necessrio resgatar alguns conceitos
discorridos no curso da pesquisa, em especial no que se
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79
refere ao fato da Lei Orgnica da Segurana Alimentar
e Nutricional (LOSAN) instituir um sistema nacional
pautado no direito humano alimentao adequada,
culminando, posteriormente, na positivao de tal
direito no artigo 6 da CF/88, e na soberania
alimentar. Calcado nos princpios da universalidade,
participao social, intersetorialidade e equidade, o
sistema deve assegurar formas de produzir, abastecer,
comercializar e consumir alimentos que sejam
suscetveis a partir de um vis socioeconmico e
ambiental, respeitando a diversidade cultural e que
sejam promotoras da sade. Assim, a SAN coloca-se
como um objetivo de polticas pblicas, na medida em
que ela estabelece as orientaes a serem seguidas em
vrios campos, bem como requer mecanismos e
instrumentos permanentes para permitir a
consecuo. Neste aspecto, a promoo da SAN possui
trs referncias: a) direito humano alimentao
adequada; b) soberania alimentar; c) relao com a
promoo do desenvolvimento.
Dessa maneira, a SAN alude ao direito de todo
cidado e cidad de estar seguro(a) em relao aos
-
80
alimentos e alimentao nos aspectos de suficincia
(proteo contra a fome e a desnutrio), qualidade
(preveno de doenas associadas alimentao) e
adequao (preservao da cultura familiar). Burlandy
et all explicitam que assegurar a alimentao
significa assegurar o direito elementar vida. Por essa
razo, o direito humano alimentao adequada um
dos princpios ao qual se subordina a SAN (2010, p.
38-39). No que toca ao iderio da soberania alimentar,
possvel afirmar que SAN sustenta o direito dos
povos definirem suas estratgias de produo e
consumo de alimentos que necessitam. A terceira
referncia relaciona o objetivo da SAN com a promoo
do desenvolvimento, permitindo afirmar que h uma
questo alimentar nos processos de desenvolvimento
nos pases e regies e a forma como eles a enfrentam,
podendo contribuir para que tais processos promovam
crescente equidade social e a melhoria sustentvel da
qualidade de vida de sua populao.
A observao comparativa entre os dados da
situao de SAN revela grandes semelhanas na
condio existente dos domiclios brasileiros e os
-
81
capixabas, sendo verificado, inclusive, no grfico 01,
ligeira melhora no quadro alimentar da populao do
Esprito Santo, tendo em vista que a maior parcela
desta se encontra em estado de bem-estar alimentar e
nutricional, ao se adotar como referncia a mdia
nacional. Contudo, convm frisar que, em ambos os
contextos de espao-tempo, a ocorrncia da IAN
fomentada e a fome absoluta ou a permanente
privao de bens vitais, torna-se situao
insustentvel (LUCCI, 2013, p. 217). A situao
envolvendo a questo de segurana alimentar e os
ndices de IA, no Esprito Santo, sofrem macia
melhoria, quando da realizao da PNAD 2009-2013
(BRASIL, 2014, p. 73), realizada pelo IBGE,
demonstrando que o estado passou a ter uma
porcentagem de 89,6% dos domiclios particulares
permanentes em SAN, ao passo que 10,4% da
populao se encontrava em alguma situao de IA, a
saber: 6,6% estava em IA leve; 1,8% em IA moderada;
e 2% em IA grave.
-
82
Grfico 01. Esprito Santo: Situao de SAN nos domiclios
particulares permanentes - 2009 (%)
Fonte: ESPRITO SANTO (ESTADO), 2012, p. 07.
O estado do Esprito Santo, a partir da pesquisa
apresentada pelo IBGE/PNAD, 2013, possui
crescimento mais elevado na taxa da SAN e
diminuio mais acentuada das taxas de IA em relao
ao Brasil, de maneira macro, conforme o grfico 02. A
PNAD 2013 explicita que 77,4% da populao
brasileira se encontram em situao de SAN, ao passo
22,8% pode ser agrupada em algum grau de IA,
dispostos da seguinte forma: 14,8% em IA leve; 4,6%
em IA leve; e 2% em IA grave. Igualmente, em
comparativo aos demais estados da regio sudeste,
69,8
18,7
6,5 5
72,2
18,9
5 3,8
SAN IA leve IA moderada IA grave
Brasil Esprito Santo
-
83
possvel constatar que o estado do Esprito Santo
lidera o crescimento das taxas de SAN, ao passo que os
demais estados apresentam as seguintes taxas: Minas
Gerais apresenta taxa de 81,6% da populao em SAN;
Rio de Janeiro 82,2%; So Paulo 88,4%.
Grfico 02. Comparativo em % entre o Brasil e o Esprito Santo
em SAN e IA 2013.
77,4
14,84,6 3,2
89,6
6,6 1,8 2
SAN IA leve IA moderada IA grave
Brasil Esprito Santo
Fonte: BRASIL, 2014, p. 73. Organizao dos Dados: RANGEL,
Tau Lima Verdan.
Sobre a temtica envolvendo SAN, a renda
materializa importante aspecto a ser considerado,
pois, quanto menor a classe de rendimento mensal
domiciliar per capita, maior a proporo de domiclios
em situao de IA moderada ou grave. Estima-se que,
em 2009, 58,3% dos domiclios nestas condies
estavam na classe de rendimento mensal domiciliar
-
84
per capita de at salrio mnimo, compreendidos
em tais estatsticas aqueles indivduos sem
rendimentos. Em contraponto, quanto maior o
rendimento, menor o nmero estimado de domiclios
em situao de IA. J na pesquisa PNAD 2013,
possvel observar que os ndices apresentados noticiam
diminuio da IA grave e/ou moderada em quatro das
seis faixas, de acordo com o grfico 14. Apresentaram,
porm, aumento elevado na IA grave e/ou moderada as
faixas que compreendem os sem rendimento e os que
recebem at do salrio mnimo. Na primeira faixa,
houve elevao 3,3%, no ano de 2009, para 19%, em
2013; j a segunda faixa, em 2009, apresentava
porcentagem de 26%, alcanando, em 2013, a
porcentagem de 30,5%.
Lucci afirma, ainda, que que ocorre uma
concentrao dos casos de Insegurana Alimentar
Moderada e Grave, isto , quando h uma reduo
quantitativa de alimentos (entre adultos e crianas) e
registros de ocorrncia de fome, sobretudo nas classes
de menor poder aquisitivo (2013, p. 220). No Esprito
Santo a renda tambm se materializa como uma
-
85
varivel relevante em consonncia com o cenrio
nacional observado. Neste aspecto, convm assinalar
que estimado que, no ano de 2009, 59,4% das pessoas
em situao de IA moderada e ou grave residiam em
domiclios com rendimento mensal de at salrio
mnimo. Nos domiclios com rendimento entre at 1
salrio mnimo moravam 30,0% das pessoas que
vivenciaram situao de fome ou reduo quantitativa
de alimentos ou, ainda, ruptura nos padres de
alimentao, resultante da falta de alimentos.
Seguindo uma tendncia nacional, o Esprito Santo, na
pesquisa de 2013, apresentou crescimento na faixa de
sem rendimento daqueles que se encontra em situao
de IA moderada e/ou grave.
5 COMENTRIOS FINAIS
Historicamente, a fome apresenta-se como um
evento constante nas sociedades, assumindo, por
vezes, ndices to complexos e alarmantes que so
capazes de colocar em risco a harmonia social. Trata-
se da carestia, ou seja, a fome como crise social
-
86
econmica acompanhada de m nutrio em massa e
epidemias. interessante, ainda, rememorar que essa
manifestao de fome crnica aquela permanente,
ocorrendo quando a alimentao diria no consegue
propiciar ao individuo energia suficiente para que seja
mantido o seu organismo e para o desempenho de suas
atividades cotidianas. Essa materializao da fome
traz consigo efeitos devastadores, causando sofrimento
agudo e lancinante sobre o corpo, produzindo letargia e
debilitando, de maneira gradual, as capacidades
mentais e motoras. H que se reconhecer que o
espectro da fome capaz de desencadear a
marginalizao social, perda da autonomia econmica
e desemprego crnico, em decorrncia da incapacidade
de executar um trabalho irregular.
O iderio de soberania alimentar est assentado
na autonomia alimentar do pas e a menor
dependncia das importaes e flutuaes de preos do