direito internacional publico

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Índice INTRODUÇÃO............................................... 3 1. SOLUÇÃO DE CONFLITOS INTERNACIONAIS...................4 1. Breve Histórico.......................................4 2. Os vários métodos de resolução pacífica dos conflitos internacionais...........................................5 2.1. O Corte Internacional de Justiça....................7 3. (Métodos Políticos- Diplomáticos) Sem intervenção de terceiros............................................... 10 3.1. Negociação diplomática.............................10 3.2. Com intervenção de terceiros.......................10 3.3. Bons ofícios e mediação............................10 3.4. Inquérito internacional............................11 3.5. Conciliação........................................11 3.6. A solução arbitral.................................12 4. Características gerais dos tribunais arbitrais.......13 4.1. O Tribunal Permanente de Arbitragem................13 5. O PAPEL DA RESOLUÇÃO PACIFICA DE DISPUTAS INTERNACIONAIS (O CASO DE MOÇAMBIQUE)..................................15 3.1. O Processo de Paz..................................16 3.2. O acordo geral de Paz foi um bom acordo?...........21 CONCLUSÃO............................................... 23

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Tem a ver com a cadeira de DIP, onde meramente procura-se ressaltar a questao referente ao pacifismo em Mocambique, procura-se tambem olhar para a questao referente a eliminacao das guerras

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INTRODUO31. SOLUO DE CONFLITOS INTERNACIONAIS41. Breve Histrico42. Os vrios mtodos de resoluo pacfica dos conflitos internacionais52.1. O Corte Internacional de Justia73. (Mtodos Polticos- Diplomticos) Sem interveno de terceiros103.1. Negociao diplomtica103.2. Com interveno de terceiros103.3. Bons ofcios e mediao103.4. Inqurito internacional113.5. Conciliao113.6. A soluo arbitral124. Caractersticas gerais dos tribunais arbitrais134.1. O Tribunal Permanente de Arbitragem135. O PAPEL DA RESOLUO PACIFICA DE DISPUTAS INTERNACIONAIS (O CASO DE MOAMBIQUE)153.1. O Processo de Paz163.2. O acordo geral de Paz foi um bom acordo?21CONCLUSO23BIBLIOGRAFIA26

INTRODUOA proibio do recurso fora nas relaes internacionais, guindada a princpio imperativo do Direito das Gentes contemporneo, implica, como sua lgica decorrncia, a consagrao de um dever (tambm imperativo) de composio pacfica dos conflitos advindos do relacionamento entre os sujeitos daquele ordenamento jurdico.Descontada a sempre desejvel negociao direta entre os protagonistas de um litgio h dois caminhos possveis para a soluo pacfica de controvrsias internacionais: ou bem as partes desavindas so levadas a aceitar a soluo que lhes ditada por um terceiro (heterosoluo); ou bem so persuadidas a aproximar-se, buscando por si prprias uma compsio amigvel para o conflito (autosoluo). No primeiro caso, estamos perante os mtodos jurisdicionais, que podem assumir a forma de arbitragem ou da soluo judicial; no segundo, diversamente, entramos no terreno dos mtodos poltico-diplomticos, os quais, por seu turno, so suscetveis de encontrar concretizao prtica nos procedimentos dos bons ofcios, da mediao, do inqurito e da conciliao.A obrigao de solucionar os conflitos internacionais por meios pacficos , advirta-se, uma obrigao de comportamento, no uma obrigao de resultado.

1. SOLUO DE CONFLITOS INTERNACIONAIS1. Breve HistricoA busca pela resoluo pacfica dos conflitos entre Estados j aparecia como uma recomendao aos signatrios da Conveno para a Resoluo dos Conflitos Internacionais, assinada em Haia, em 18 de outubro de 1907, conforme dispunha otextode seu art. 1.:"Tendo em vista prevenir, tanto quanto possvel, o recurso fora nas relaes entre os Estados, as potncias contratantes concordam em envidar todos os seus esforos para assegurar a resoluo pacfica dos conflitos internacionais."Na atualidade, elevou-se tal busca a verdadeira interdio do emprego da fora nas relaes internacionais e, consequentemente, a obrigao da resoluo de conflitos por meios pacficos, adquirindo taisnormascarter imperativo devalorabsoluto, segundo dispe o texto da Declarao relativa aos princpios de direito internacional no que respeita s relaes amigveis e cooperao entre Estados, votada pela Assemblia das Naes Unidas a 24 de Outubro de 1970: Todos os Estados devem solucionar os seus conflitos internacionais com os outros Estados por meios pacficos de tal modoque a paz e a segurana internacionais assim como a justia no sejam postas em perigo. H diversas formas de soluo pacfica de conflitos, as quais sero circunstanciadamente abordadas mais adiante.No processo levado perante a CIJ das Actividades militares e paramilitares na Nicargua, em 1984, osEstados Unidossustentaram que o recurso fora no decurso de um conflito armado apresentavacaractersticas que no se prestavam aplicao do processo judicirio, mas recusando a distino entre questopoltica e questo jurdica. A CIJ rejeitou o argumento, deixando claro que a Corte no se eximiu jamais ao exame de um processo pela simples razo de que este tinha implicaespolticasou comportava srios elementos de emprego da fora (tambm no caso do Estreito de Corfu, em 1949). Da mesma forma, em matria de manuteno de paz, "O Conselho (de segurana) tem atribuies polticas; a Corte exerce funes puramente judicirias. Os dois rgos podem, pois, desempenhar as suas funes distintas mas complementares a propsito dos mesmos acontecimentos.Face a este impasse, tentou-se colocar em oposio os processos jurdicos os que esto destinados a resolver o conflito sobre a base do direito e os processos polticos que autorizam a tomada em considerao de argumentos de oportunidade e convenincia, e no em bases jurdicas . De um ponto de vista jurdico, existe uma distino que apresenta uma relativa clareza e cujo alcance menos contestvel que as precedentes. Ela consiste em opor as formas de resoluo que permitem impor uma soluo s partes num conflito e aquelas pelas quais uma soluo s proposta, a qual eles no so obrigados a respeitar.Sob este prisma, pode-se distinguir duas grandes categorias de formas de resoluo de conflitos, combinando o critrio do alcance jurdico da soluo e o seu fundamento, em direito ou em oportunidade:a) A resoluo no-jurisdicional;b) A resoluo jurisdicional.Os processos jurisdicionais internacionais levam a uma soluo imposta aos Estados litigantes, os quais previamente, no exerccio pleno de sua soberania, concordaram com a soluo jurisdicional, sendo elementos fundamentais neste tipo de resoluo (caractersticos da funo jurisdicional) uma "deciso fundada sobre consideraes jurdicas, obrigatria para as partes, pronunciada por um rgo independente das partes no litgio, na seqncia de um processo contraditrio e garantindo os direitos de defesa e igualdade das partes.2. Os vrios mtodos de resoluo pacfica dos conflitos internacionaisA criao da Corte Internacional de Justia representou o auge de um longo desenvolvimento dos mtodos para a resoluo pacfica dos conflitos internacionais, as origens dos quais, pode-se dizer, remontam pocas clssicas. O artigo 33 da Carta das Naes Unidas lista, de forma no restritiva, os seguintes mtodos para a resoluo pacfica dos conflitos entre Estados: negociao, inqurito internacional, mediao, conciliao, arbitragem, soluo judicial, recurso s organizaes ou acordos regionais, a que os "bons ofcios" tambm devem ser adicionados. Entre estes mtodos, alguns deles envolvem apelao a outros Estados. Por exemplo, a mediao coloca as partes em litgio numa posio em que cada uma resolve a disputa por si, sem imposio de uma soluo, graas a influncia de um terceiro Estado.A arbitragem vai mais alm, tendo em razo que a disputa de fato submetida a deciso ou "sentena" de uma terceira parte imparcial, de modo que uma soluo, obrigatria, possa ser conseguida. O mesmo acontece na resoluo judicial, exceto pelo fato de tratar-se de uma Corte sujeita a regras mais estritas, em matrias processuais, do que um tribunal arbitral, por exemplo. Historicamente falando, a mediao e a arbitragem precederam a resoluo judicial. A primeira era conhecida na ndia antiga e no mundo Islmico, enquanto numerosos exemplos da segunda eram encontrados na Grcia antiga, na China, entre as tribos rabes, no nascente mundo islmico, no direito martimo costumeiro da Europa medieval e na prtica Papal.A histria moderna da arbitragem internacional, entretanto, reconhecida geralmente como datando do assim chamado "Tratado de Jay" de 1794, entre os Estados Unidos da Amrica e a Gr Bretanha. Este tratado de Amizade, de Comrcio e de Navegao estabeleceu a criao de trs comisses mistas, compostas de um nmero igual de americanos e britnicos, cuja tarefa era decidir sobre questes relevantes entre os dois pases que no se conseguiram resolver pela negociao. Porquanto seja verdade que nestas comisses mistas no se falava estritamente em rgos de julgamento por terceiros, havia a pretenso para que funcionassem, at certo ponto, como tribunais. Durante todo o sculo XIX, restabeleceu-se o interesse no processo de arbitragem, tendo os Estados Unidos e o Reino Unido usado desse recurso, bem como outros Estados na Europa e nas Amricas.A arbitragem das Reivindicaes do Alabama, em 1872, entre o Reino Unido e os Estados Unidos marcou o comeo da segunda, e ainda mais decisiva, fase. Sob o tratado de Washington, de 1871, os Estados Unidos e o Reino Unido, em razo das alegaes de quebra de neutralidade deste ltimo durante a Guerra Civil Americana, concordaram em se submeter s exigncias da arbitragem. Os dois pases indicaram certas regras que regeriam os deveres dos governos neutros, as quais deveriam ser aplicadas pelo tribunal arbitral, concordando-se que o mesmo seria composto de cinco membros, a serem apontados, respectivamente, pelos Lderes de Estado dos Estados Unidos, do Reino Unido, do Brasil, da Itlia e da Sua, em que os ltimos trs Estados no foram partes no caso. A deciso do tribunal arbitral ordenou ao Reino Unido o pagamento de indenizao, tendo sido devidamente cumprida. O prosseguimento no uso de tal mtodo serviu como demonstrao da eficcia da arbitragem na resoluo das principais disputas e levou, durante os ltimos anos do sculo XIX, ao desenvolvimento desse recurso em vrios sentidos, a saber: um crescimento ntido na prtica da introduo de clusulas nos tratados que estabelecessem o recurso arbitragem no caso de disputa entre as partes; a concluso de tratados gerais de arbitragem para a resoluo de classes especficas de disputas entre Estados; esforos para se construir leis gerais de arbitragem, de modo que os pases que desejassem ter este recurso como meio de resoluo de disputas no fossem obrigados a concordar, toda vez, com o procedimento a ser adotado, a composio do tribunal, as regras a serem seguidas e os fatores a serem considerados na tomada da deciso; propostas para a criao de um tribunal internacional permanente de arbitragem a fim de evidenciar a necessidade de se estabelecer um tribunal ad hoc para decidir quais disputas so passveis de jurisdio arbitral.2.1. O Corte Internacional de Justia A deflagrao da Primeira Guerra Mundial, em setembro de 1939, ocasionou, inevitavelmente, conseqncias srias para o CPIJ, que j conhecia, durante alguns anos, um perodo de declnio de suas atividades, em razo da enorme tenso do perodo entre guerras e a o recrudescimento das hostilidades entre as naes participantes da corrida armamentista. Depois de sua ltima sesso pblica em, 4 de dezembro de 1939, a Corte Permanente de Justia Internacional no tratou, de fato, de qualquer questo judicial e nenhuma eleio adicional de juizes foi realizada. Em 1940 a Corte removeu, para Genebra, o nico juiz que permanecia em Haia, junto com alguns funcionrios do Cartrio de nacionalidade holandesa. Era inevitvel que at mesmo sobre a tenso da guerra alguma ateno deveria ser dada ao futuro da Corte, como tambm criao de uma nova ordem poltica internacional.

Em 1942 o Secretrio de Estado dos Estados Unidos e o Secretrio de Relaes Exteriores do Reino Unido se declararam a favor da implantao ou restabelecimento de uma corte internacional aps a guerra, e o Comit Jurdico Interamericano recomendou a ampliao da jurisdio da CPIJ. No comeo de 1943, o Governo do Reino Unido tomou a iniciativa de convidar vrios peritos para, em Londres, constituir um Comit informal interaliados para examinar o assunto. Este Comit, sobre a presidncia do "Sir" William Malkin (Reino Unido), realizou 19 reunies que foram assistidas por juristas de 11 pases. Em seu relatrio, publicado em 10 de fevereiro de 1944, recomendou: que o Estatuto de qualquer nova Corte internacional deveria estar baseado no da Corte Permanente de Justia Internacional; que a jurisdio sobre pareceres deveria ser mantida no caso da nova Corte; que a aceitao da jurisdio da nova Corte no deveria ser compulsria; que o Tribunal no deveria ter nenhuma jurisdio sobre assuntos essencialmente polticos.Nesse nterim, em 30 de outubro 1943, resultando de uma conferncia entre China, a extinta Unio das Repblicas Socialistas Soviticas (URSS), Reino Unido e os Estados Unidos, uma declarao em comum foi emitida reconhecendo a necessidade de se estabelecer o mais cedo possvel uma organizao internacional geral, baseada nos princpios da igualdade de soberania de todos os Estados pacficos, e acessvel aos membros desses Estados, grandes e pequenos, para a manuteno da paz e segurana internacionais.Em Dumbarton Oaks (Estados Unidos), esta declarao resultou na publicao (em 09 de outubro de 1944) de propostas para o estabelecimento de uma organizao internacional geral, a qual inclusse uma Corte Internacional de Justia. O prximo passo, em abril de 1945, foi a reunio, em Washington, de um comit de juristas representando 44 Estados. Este Comit, sobre a presidncia de G. H. Hackworth (Estados Unidos), tendo como relator Basdevant, foi incumbido da preparao de um projeto de Estatuto da futura Corte Internacional de Justia, para ser submetido Conferncia de So Francisco, a qual, durante os meses de abril e junho de 1945, elaborava o projeto da Carta das Naes Unidas. O projeto de Estatuto, preparado pelo Comit, tomou por base o Estatuto do CPIJ e no era, portanto, um texto completamente novo. O Comit, mesmo assim, sentiu-se constrangido por deixar vrias questes abertas que deveriam ser decididas pela Conferncia: um novo tribunal deveria ser criado? De que forma deveria a misso da corte, como principal rgo judicial das Naes Unidas, ser declarada? A jurisdio da corte deveria ser compulsria, e, nesse caso, at que ponto? Como os juizes deveriam ser eleitos?As decises concludentes desses pontos, e da forma definitiva do Estatuto, ocorreram na Conferncia de So Francisco, na qual participaram 50 Estados. A Conferncia decidiu contra a jurisdio compulsria e em favor da criao de um tribunal completamente novo, o qual seria o principal rgo judicirio das Naes Unidas (art. 92 da Carta), na mesma posio da Assemblia Geral, do Conselho de Segurana, do Conselho Econmico e Social, do Secretariado, entre outros rgos da ONU (art. 7 da Carta), e com o Estatuto anexado e formando parte integrante da Carta da ONU. As razes principais que levaram a Conferncia a decidir pela criao de uma nova Corte e no a manuteno da CPIJ foram as seguintes: Como o Tribunal seria o rgo judicirio principal das Naes Unidas, era inapropriado que este papel fosse preenchido pelo Tribunal Permanente de Internacional Justia, o qual, at ento, estava ligado Liga de Naes, j a caminho da dissoluo.A criao de uma nova Corte era mais adequada com o mandamento da Carta de que todos Estados Membros das Naes Unidas seriam, ipso facto, partes no Estatuto da Corte. Na Conferncia de So Francisco, dos 43 Estados que faziam parte do Estatuto da CPIJ, 17 no eram partes da ONU, muitos deles inimigos. Simultaneamente, 13 Estados que seriam membros da ONU no eram partes no Estatuto da CPIJ.Havia um sentimento por parte de alguns de que a CPIJ pertencia a uma velha ordem mundial, na qual os Estados europeus tinham dominado os negcios polticos e legais da comunidade internacional, e que a criao de uma nova Corte facilitaria uma maior representatividade e influncia dos Estados no-europeus. Isto de fato aconteceu, tendo em vista que o nmero de membros das Naes Unidas cresceu de 51, em 1945, para 185, em 1996.A Conferncia de So Francisco mostrou, entretanto, um pouco de preocupao no sentido de que todo o desenvolvimento conseguido at ento no deveria ser abandonado, particularmente no caso do Estatuto da CPIJ ter-se embasado em experincias passadas, e fazia sentido no mudar algo que tinha parecido funcionar bem. A Carta declarou, ento, expressamente que o Estatuto do CIJ baseou-se no da CPIJ. Ao mesmo tempo, foram tomadas, na medida mxima do possvel, as aes necessrias para a transferncia de jurisdio da CPIJ para a da CIJ. De qualquer maneira, a deciso para criar uma nova Corte necessariamente envolvia a dissoluo de sua predecessora. O CPIJ reuniu-se pela ltima vez em outubro 1945, quando decidiu-se tomar as medidas apropriadas para assegurar a transferncia de seus arquivos e bens a nova CIJ que, como sua predecessora, teria sua sede no Palcio da Paz. Todos os juizes da CPIJ renunciaram em 31 de janeiro 1946, e a eleio dos primeiros Membros da CIJ aconteceu em 5 de fevereiro 1946, na Primeira Sesso da Assemblia Geral das Naes Unidas. Em abril de 1946, foi dissolvida formalmente a CPIJ, e a CIJ se reuniu pela primeira vez e elegeu como seu Presidente o Meritssimo Juiz Guerrero, o ltimo Presidente da CPIJ, designou os membros de seu Cartrio (em grande parte dentre os funcionrios da agora extinta CPIJ) e realizou sua sesso pblica inaugural no 18 dia daquele ms.3. (Mtodos Polticos- Diplomticos) Sem interveno de terceiros3.1. Negociao diplomticaRegra geral, na negociao no intervm seno os Estados diretamente envolvidos no conflito. Constitui a tcnica mais antiga de entre os vrios procedimentos interestaduais de composio amigvel de controvrsias e, em simultneo, representa o "grau mnimo" do dever de solucionar por via pacfica os diferendos internacionais. A obrigao de negociar tem um fundamento costumeiro, servindo de necessrio ponto de partida para o recurso a outros mtodos, tecnicamente mais elaborados, de dirimir litgios atravs dos canais poltico-diplomtico.No essencial, a negociao diplomtica envolve o estabelecimento de conversaes entre os contendores, subordinadas ou no a condies prvias, que culminaro na chegada a uma soluo concertada ou na verificao do malogro do processo negocial. Refira-se que, nalguns casos, o objeto da negociao pode no ser um conflito j surgido, mas sim um conflito hipottico, suscetvel de eclodir no futuro, aparecendo ento aquela, se bem conduzida pelas partes interessadas, como um meio idneo a prevenir a ocorrncia desse litgio.3.2. Com interveno de terceiros Com o fito de mais facilmente ser alcanada uma soluo pacfica para o conflito, podero os seus protagonistas, na antecmara das negociaes, ou j no respetivo decurso, fazer apelo interveno de terceiros. Tal interveno pode tambm, em certos casos, verificar-se por iniciativa prpria destes.3.3. Bons ofcios e mediao semelhana da negociao, estes mtodos tm origem consuetudinria, havendo sido codificados pelas Convenes da Haia de 1899 e 1907. Entre ambos, no h quaisquer diferenas de vulto, residindo no grau da interveno do terceiro o nico fator de distino a assinalar.Nos bons ofcios, o terceiro imparcial, fazendo uso da sua autoridade moral e poltica, limita-se a procurar estabelecer (ou restabelecer) a comunicao entre as partes, induzindo-as a chegarem a acordo, mas sem intervir diretamente nas negociaes que, para esse fim, devam ter lugar.Na mediao, o papel do terceiro notoriamente mais ativo: para alm de tentar colocar face a face, mesa das negociaes, os protagonistas da controvrsia, o mediador empenha-se na busca de uma soluo concertada, fazendo propostas concretas de harmonizao das pretenses divergentes das partes.A aparente clareza terica da distino surge muitas vezes desmentida na prtica, dada a existncia de caractersticas comuns a ambos os mtodos descritos. Ter sido em virtude disso que, na Conveno da Haia, os bons ofcios e a mediao foram objeto de uma regulamentao unitria.3.4. Inqurito internacionalConsiste na averiguao dos factos que se julga estarem por detrs do aparecimento de um conflito, confiada normalmente a um rgo colegial, designado comisso de inqurito, que depois elabora um relatrio a fornecer s partes. Tratando-se de um procedimento facultativo no seu alcance, tal relatrio no tem, evidentemente, o valor de uma sentena arbitral, podendo, por conseguinte, os destinatrios dar-lhe o seguimento que entenderem.As comisses de inqurito so constitudas, caso a caso, com base num acordo especial, que lhes atribui os poderes necessrios realizao do seu mnus. A ideia que, desde sempre, presidiu sua instituio foi a de que, consentindo os Estados numa espcie de moratria, que permitisse, entrementes, esclarecer devidamente os factos que estavam na base dos litgios, seria possvel evitar o recurso fora armada.O mtodo do inqurito internacional foi uma criao da I Conferncia de Paz da Haia, de 1899, sendo que nas Convenes de 1899 e de 1907 ele aparece regulado de forma assaz genrica e pouco densificada. De estranhar no ser, pois, que, da por diante, alguns Estados tenham tentado concretizar a dita regulamentao atravs de tratados bilaterais, de que se destacam os "Tratados Bryan", concludos pelos EUA a partir de 1913.3.5. ConciliaoDerivado do inqurito, mas com um alcance mais vasto, a conciliao outro dos mtodos poltico-diplomticos de composio amigvel de controvrsias internacionais com interveno de terceiros. O seu desencadeamento pressupe sempre um prvio compromisso convencional, no lhe subjazendo, portanto, qualquer obrigao costumeira.Devido ao procedimento seguido pela comisso de conciliao, cindido em duas partes distintas e baseado no princpio do contraditrio, estamos em presena de um mtodo quase jurisdicional de soluo pacfica de conflitos. Com efeito, num primeiro momento, cabe quele rgo colegial recolher, por via de inqurito, todas as informaes necessrias ao estabelecimento da materialidade dos factos que rodearam o litgio. Seguidamente, com base nos resultados obtidos, far s partes envolvidas no diferendo uma proposta de soluo.Dir-se-, pois, que tal como se verifica num processo judicial, questo de facto se segue a questo de direito, isto , apurados os factos, passa-se aplicao do direito. Com uma diferena, porm: enquanto a atividade de um tribunal culmina com uma sentena obrigatria para as partes, a tarefa da comisso de conciliao desemboca, to-somente na elaborao da aludida proposta de soluo para o conflito, a qual, como a designao atesta, no se impe quelas. De sorte que ainda na conciliao, ser, em ltimo termo, uma Auto composio que lograr por fim ao litgio.As comisses de conciliao comearam a ser constitudas, com um carcter de quase permanncia, por intermdio de tratados celebrados de 1919 em diante, e em vista da resoluo de controvrsias mais polticas do que jurdicas. Na prtica internacional contempornea, a conciliao mantm a sua importncia, operando, sobremodo, no contexto da soluo pacfica de conflitos no mbito das organizaes internacionais universais e regionais.3.6. A soluo arbitralA soluo judicial e a arbitragem so problemas afins: os rbitros so tambm juzes, embora com a particularidade de serem escolhidos pelas partes, o que torna este mtodo mais "respeitador" da soberania estadual. Se durante a Idade Mdia, era muito frequente o recurso arbitragem, com o aparecimento dos Estados modernos este mtodo de soluo pacfica de conflitos internacionais caiu em franco declnio, para s no sculo XIX ganhar novo flego.

4. Caractersticas gerais dos tribunais arbitrais Tratando-se de uma justia no institucionalizada, vale aqui a regra da livre vontade dos Estados. De facto, com base num acordo entre as partes que se constitui, por um perodo de tempo determinado, o rgo arbitral encarregado de apreciar e julgar o litgio. Vale isto por dizer que os tribunais arbitrais, apesar de algumas tentativas de institucionalizao, so de constituioad hoc, extinguindo-se uma vez proferida a sentena.As competncias do rgo arbitral constam de um compromisso de arbitragem, que aquele poder sempre interpretar. Uma interpretao indevida do contedo do compromisso arbitral poder, contudo, ocasionar uma extenso abusiva dos poderes dos juzes-rbitros, constitutiva de excesso de poder.No que toca ao direito material aplicvel pelo tribunal arbitral, o compromisso remete, habitualmente, para as diversas fontes de Direito Internacional, sendo que, caso de silncio, os rbitros fazem uma aplicao automtica do Direito Internacional.A sentena arbitral tem carcter definitivo, a menos que as partes hajam convindo no contrrio. De admitir sero tambm os pedidos de aclarao da sentena arbitral, quando esta seja dbia no seu alcance, e de retificao de erros puramente materiais, bem como os recursos de reviso fundados na descoberta de factos novos, posteriormente prolao da sentena, suscetveis de influenciar o sentido da deciso.4.1. O Tribunal Permanente de ArbitragemEste tribunal foi criado pela Conveno da Haia para a soluo pacfica de conflitos internacionais, concluda em 1899 e revista em 1907.Em rigor, o TPA no um verdadeiro tribunal, dotado de um rgo de julgamento prprio. Consiste, antes, numa lista internacional de juzes-rbitros, esta sim permanente, constituda pelo somatrio das vrias listas nacionais de rbitros fornecidas pelos Estados partes nas Convenes da Haia de 1899 e 1907, e que, comodamente, se encontra ao dispor destes, com a garantia de a poderem recrutar pessoas altamente qualificadas para o julgamento de todo o tipo de litgios.Cada Estado signatrio da aludida Conveno da Haia de 1899 designa, de entre os seus nacionais, por um perodo de seis anos, quatro membros do Tribunal. Deste modo, quando dois Estados decidem submeter um qualquer conflito apreciao deste, cada um deles escolhe dois rbitros da lista geral, sendo que apenas um pode ser seu nacional. Os quatro rbitros assim designados nomeiam depois um rbitro de desempate.Como se v, semelhana de qualquer outro tribunal arbitral, o TPA no deixa de ser de constituioad hoc; simplesmente, ao contrrio dos demais, tem a particularidade de oferecer aos Estados que a ele recorram um suporte material cmodo, assente na referida lista permanente de rbitros, na existncia de um secretariado e, ainda, na previso de um modelo de regras acerca do procedimento arbitral a observar em caso de lacunas no compromisso de arbitragem.A entrada em funcionamento do TPA foi assaz auspiciosa, julgando um aprecivel nmero de casos logo nos primeiros anos, de que se destaca, em 1910, o caso das Pescarias do Atlntico Norte, que opes a Gr-Bretanha aos Estados Unidos; mas a partir de 1930 foi, progressivamente, perdendo importncia.

5. O PAPEL DA RESOLUO PACIFICA DE DISPUTAS INTERNACIONAIS (O CASO DE MOAMBIQUE)Desde meados de 2013, temos assistido a confrontaes militares que, de novo, opem os protagonistas da guerra civil terminada em 1992. At ao momento, esta guerra de baixa intensidade temse concentrado em algumas zonas da provncia de Sofala, ao longo da Estrada Nacional n. 1, tendo havido ainda registo de algumas aces espordicas nas provncias de Nampula e Inhambane. Desde o incio dos confrontos, a importncia das aces armadas tem sido mini mizada por altos dirigentes governamentais, que recusam contra as evidncias e a opinio pblica a existncia de uma situao de guerra no pas. Em para lelo, passados os primeiros momentos do conflito armado, em que se registou um razovel nvel de cobertura pelos media, o acesso informao sobre o conflito foise tornando cada vez mais difcil, havendo um esforo ntido de minimizao nos principais rgos de informao pblicos e em alguns dos principais media privados. No entanto, a gravidade da situao no deve ser ocultada, pois no s estamos perante uma real ameaa estabilidade social, poltica e econmica do pas, mas tambm face a um testemunho claro da falta de adequao das instituies polticas existentes para assegurarem uma gesto pacfica das diferenas e conflitos que inevi tavelmente dividem qualquer sociedade e os seus actores polticos. No , pois, o conflito que est errado, mas a forma como ele tratado, pela violncia.O recurso violncia traduz a incapacidade dos protagonistas construrem consensualmente as regras de base da convivncia democrtica nas condies espe cficas de Moambique. nessa linha que o argumento desenvolvido neste texto, apresentado em forma de breves anlises e comentrios, sustenta que o desafio da paz em Moambique , na realidade, o desafio da democracia e incluso. Assim, come amos por defender que o Acordo Geral de Paz assinado em Roma e o processo de transio poltica que se lhe seguiu, apesar de terem introduzido elementos de democratizao na sociedade moambicana, foram insuficientes para garantir um progresso significativo na construo democrtica do pas; num segundo momento, caracterizamos de forma sinttica o itinerrio histrico mais recente da Frelimo, da Renamo e do Movimento Democrtico de Moambique (MDM), os trs partidos com representao parlamentar que dominam a cena poltica, para ilustrar as difi culdades de convivncia pacfica entre eles; por fim, analisamos a emergncia da sociedade civil e a lgica da recomposio do campo poltico moambicano.3.1. O Processo de PazCom o fim da Guerra da Independncia augurava-se para Moambique um perodo de estabilidade. Esperava-se que a paz, to sofrida, pudesse instalar-se em todo o territrio moambicano permitindo a reconstruo de um pas que se encontrava devastado. Foram poucos os momentos de paz que o que a populao usufruiu desde a independncia de 1975; com o fervilhar de ideologias contrrias s praticadas pelo governo de Chissano tornou-se claro que a luta pelo poder se instalaria em territrio moambicano.Para William Zartman31, as causas que originaram a Guerra Civil encontram-se logo partida na guerra da Independncia. Com a descolonizao, a FRELIMO assume a liderana com o objectivo de consolidar o poder, anulando voluntariamente a hiptese de qualquer outro grupo ou partido intervir no processo. Se numa fase inicial o objectivo que unia as foras internas era o de destronar o poder colonizador, com a usurpao do poder por parte da FRELIMO o objectivo transforma-se. Importava garantir legitimao do poder, e esta era uma motivao no s interna como externa. Interna porque existiam foras que tinham sido banidas do processo poltico; externas porque existiam pases com interesses muito claros em abolir o marxismo instalado em territrio moambicano (Rodsia e frica do Sul).A Guerra Civil moambicana ficou caracterizada por conflitos de interesses internos e externos que inviabilizaram durante muito tempo o entendimento final. Tambm a fraqueza de ambas as partes em contenda, proporcionou um equilbrio militar e o consequente impasse da situao, prolongando o conflito. intensidade do conflito correspondeu uma aco quase permanente, por parte do Governo moambicano, para a resoluo do conflito. Estas aces passaram numa fase inicial por mtodos coercivos (atravs da luta armada) e aps 1984, atravs de uma combinao entre o uso da fora e da diplomacia. Ou seja, coabitavam com interveno militar, que resguardava o Governo, mtodos pacifistas que iam da mediao negociao.A catastrfica situao criada pela guerra civil foi ainda agravada pela seca (1983/4) e pelos sucessivos erros polticos e administrativos decorrentes da aplicao, num contexto africano, de um modelo de raiz marxista (modelo este que at no continente europeu j dava sinais de ruptura). A conscincia destes erros levaria mais tarde a FRELIMO a reconhecer a necessidade de inflectir o rumo da sua poltica.O fluxo de refugiados moambicanos para os pases limtrofes (frica do Sul, Zmbia, Malawi, Zimbabwe) constitua em si mesmo outro elemento de instabilidade, impelindo os Estados dadores, as organizaes internacionais e o sector privado, a pressionarem a FRELIMO no sentido de se encetarem reformas polticas e econmicas. Contudo, as reformas s poderiam aplicar-se adequadamente, se enquadradas num processo de paz que conduzisse reconciliao nacional e a eleies livres.Como consequncia do Acordo de Nkomati, realizou-se em Pretria, em 1984, a primeira ronda de negociaes entre a FRELIMO e a RENAMO. O principal objectivo destas negociaes relacionava-se, por um lado, com a legitimao do poder institudo e, por outro lado, com o reconhecimento da RENAMO como fora poltica. As negociaes ficariam inviabilizadas por diferentes motivos: a presena sul-africana, cujos interesses em relao ao territrio eram claros, transformou as negociaes que eram assumidamente bilaterais em trilaterais; o papel do governo de Pretria no era de todo claro, tendo-se revestido de alguma ambiguidade, no sentido em que tanto se apresentava como mediador, como defendia claramente os interesses da RENAMO; tambm os mediadores, entre os quais se destacava Portugal, acabaram por no favorecer as negociaes, uma vez que, ao invs de servirem de pacificadores, acabaram por tomar as posies das partes com as quais mais simpatizavam32.Em 1989, as partes voltam a encontrar-se, desta vez em Nairobi, no Qunia. Esta ronda de negociaes foi em grande parte proporcionada pelos esforos do episcopado moambicano que tentava por todos os meios persuadir Dhlakama, lder da RENAMO, sobre a necessidade de transferir o confronto armado para o campo da luta poltico-diplomtica. Em 1990, as partes renem-se em Blantyre (Malawi), mas tambm aqui as negociaes no so conclusivas, o que de resto inviabilizou o encontro.A instabilidade mantinha-se agravada pelo facto de no se encontrar um intermedirio que levasse a bom porto as vontades das partes. Os reflexos de atvico antinacionalismo portugus de alguns sectores da FRELIMO, entre outros factores, iriam inviabilizar que Portugal fosse escolhido para mediar as negociaes. Inviabilizados que estavam outros mediadores como o Kenya e o Zimbabwe por no satisfazerem de comum acordo as partes, optou-se ento pela Comunidade de Santo Egdio.A opo pela Comunidade de Santo Egdio resultou, por um lado, dos laos pessoais de D. Jaime Gonalves, Bispo da Beira, com Dhlakama, e, por outro lado, do generalizado reconhecimento das potencialidades da Santa S para o processo de pacificao de Moambique. Acresce que para a FRELIMO as conversaes de Santo Egdio ofereciam a vantagem adicional de terem um carcter suficientemente ambguo para permitir, por um lado, as conversaes, embora no lhes conferindo o carcter de negociao entre partes iguais.A primeira fase daquelas conversaes foi conduzida por uma complexa negociao tripartida, composta por dois representantes da Comunidade de Santo Egdio, por um representante oficioso do governo italiano (que mantinha com Moambique inmeros projectos de cooperao) e por um representante da Conferncia Episcopal Moambicana. O Governo moambicano encontrava-se representado pelo Ministro Armando Guebuza e a RENAMO fazia-se representar por Ral Domingos (Chefe do Departamento das Relaes Exteriores).As partes manifestariam num comunicado conjunto, datado de Julho de 1990, a sua satisfao e agrado pelo encontro directo, aberto e franco (...) manifestando interesse e vontade de tudo fazerem para levarem a cabo um processo construtivo de busca de uma paz duradoura para o seu pas e para o seu povo. As duas delegaes afirmaram ainda estar prontas a empenhar-se profundamente no esprito de respeito e compreenso mtuos, na busca de uma plataforma de trabalho para pr fim guerra, e criar condies polticas, econmicas e sociais que permitam trazer uma paz duradoura e normalizar a vida de todos os cidados.Em 1990 terminava aquela que foi a primeira fase das negociaes com a assinatura do denominado Acordo Parcial de Paz. Este acordo determinava, por um lado, o recuo das tropas expedicionrias do Zimbabwe em Moambique para os corredores de desenvolvimento da Beira e do Limpopo e, por outro lado, a renncia por parte da RENAMO a qualquer tipo de aco ofensiva ou de sabotagem naquelas duas vias de comunicao.Mal grado a morosidade na sua elaborao, o Acordo Parcial de Paz apresentava numerosas lacunas e deficincias tcnicas, tais como uma inadequada definio dos limites dos corredores e uma muito insuficiente estrutura de verificao do acordado. No , pois, de estranhar que ambos os lados se tivessem acusado mutuamente pela violao do acordado. A RENAMO invocava alegadas ofensivas das tropas do Zimbabwe, o Governo acusava a RENAMO de alegados ataques aos corredores de desenvolvimento da Beira e do Limpopo.A quase inexistncia de adequados mecanismos de verificao revelou-se desastrosa. Contudo, pior que as insuficincias de carcter tcnico foram os erros de substncia poltica que mais agravaram a situao. Ao conferir-se um estatuto de santuarizao (zonas onde no se verifica qualquer tipo de conflito, permitindo, por exemplo, o restabelecimento das tropas) aos corredores, permitia-se a singularizao de importantes parcelas do territrio de Moambique em benefcio dos pases do hinterland (pases situados numa zona interior a uma costa, neste caso especfico so o Zimbabwe, Malawi e a Zmbia) e de interesses especficos, potenciando problemas melindrosos para os direitos de soberania do Estado de Moambique.A morosidade dos trabalhos, em ntido desajustamento com a crescente degradao da situao em Moambique, tornou evidente a necessidade de se alargar o nmero de participantes nas negociaes, por forma a imprimir uma maior celeridade e uma postura, assumidamente de Estado, na conduo do processo. Dhlakama, que em meados de 1991 se deslocara a Lisboa para contactos com as autoridades portuguesas, propem que Portugal e os EUA passassem a acompanhar as negociaes de Roma com o estatuto de observador. Chissano acede alargando o convite aos governos do Reino Unido e da Frana.Esta divergncia, ainda que parcial, sobre a escolha dos observadores viria a ser habilmente aproveitada por Itlia no sentido de procurar manter o seu exclusivo na conduo do processo. A tarefa tornava-se duplamente rdua, se, por um lado, importava no ferir as susceptibilidades italianas, por outro lado, importava persuadir os americanos da necessidade de se assegurar um equilibrado envolvimento das Naes Unidas no processo de paz. Desta forma garantir-se-ia no s uma adequada implementao do futuro acordo, como tambm a prpria segurana dos corredores da Beira e do Limpopo durante o perodo de transio. Quanto questo dos observadores ela s viria a ser definitivamente superada em meados de Junho de 1992, por ocasio da primeira reunio plenria da 10 e penltima ronda de negociaes, quando ambas as partes concordaram que Portugal, os EUA, o Reino Unido e a Frana, assim como a ONU, passassem a sentar-se mesa das negociaes como observadores.O Acordo Geral de Paz de Moambiqu constitudo fundamentalmente por sete Protocolos, sendo que a cada um deles corresponde uma rea mais ou menos definida. O primeiro Protocolo enumera alguns princpios de actuao, tendo ambas as partes assumido o compromisso de alcanar no mais curto espao de tempo o Acordo Geral de Paz, contendo os Protocolos sobre cada um dos pontos da agenda adoptada no dia 28 de Maio de 1991 e desenvolver as aces necessrias para esse efeito.O segundo Protocolo caracteriza os critrios e as modalidades para a formao e reconhecimento dos partidos polticos, especificando a natureza, os princpios, os direitos, os deveres, o registo e a implementao dos partidos. J o terceiro Protocolo aborda questes to vastas como a liberdade de imprensa e o acesso aos meios de comunicao; a liberdade de associao, expresso e propaganda poltica; a liberdade de circulao e de domiclio no Pas; o regresso de refugiados e deslocados moambicanos; a especificao dos procedimentos eleitorais acompanhados das respectivas garantias.O quarto protocolo, o mais extenso e o mais complexo, fica dividido em seis captulos determinando a formao das foras armadas unificadas (FADM); a retirada das tropas estrangeiras; a extino dos grupos armados privados e irregulares; o funcionamento dos Servios de Informao (SNASP); a despartidarizao e reestruturao da Polcia, e, por ltimo, a reintegrao social e econmica dos militares desmobilizados.O quinto protocolo, subdividido em trs captulos, estabelece o calendrio de implementao do processo eleitoral, determinando, para o efeito, a criao de uma Comisso de Superviso e Controlo (CSC). Dele constam igualmente garantias especficas que cobriam o perodo que compreendia o cessar-fogo e a realizao das eleies.O Protocolo n 6 no s especificava o termo do conflito armado como impunha um calendrio operacional do cessar-fogo, referindo-se ainda libertao de prisioneiros. O stimo e ltimo Protocolo anuncia a convocao de uma Conferncia de Doadores, realizada em Dezembro de 1991, para a angariao de fundos destinados ao financiamento do processo eleitoral e dos programas de reintegrao das populaes refugiadas e deslocadas assim como dos militares desmobilizados.O Acordo de Geral de Paz imps um imediato cessar-fogo; a desmilitarizao das zonas de combate; a libertao de prisioneiros; a formao de um novo exrcito composto por 15 000 mil homens provenientes, em partes iguais, de ambas faces e ainda a marcao de eleies livres.Em Julho de 1993 foi aprovada a Lei Eleitoral e criada a Comisso Nacional de Eleies; as eleies realizar-se-iam a 15 de Outubro 1994.3.2. O acordo geral de Paz foi um bom acordo? O Acordo Geral de Paz, UM BOM ACORDO? Durante muitos anos o Acordo Geral de Paz (AGP) foi considerado um bom acordo e Moambique um caso exemplar de pacificao. Porm, esta viso optimista foi construda ignorando uma srie de sinais e acontecimentos que ameaavam a esta bilidade precria vivida durante um pouco mais de vinte anos e, de alguma maneira, prenunciavam o retorno a uma situao de violncia. A primeira tentativa de resolver o conflito armado que opunha o governo da Frelimo Renamo no teve sucesso e aconteceu em 1984, quando foi negociado o Acordo de Nkomati com o governo sulafricano. Depois de vrias tentativas de aproximao e mediao, particularmente intensas durante o ano de 1989, foi s no ano seguinte que se iniciaram as conversaes directas que iriam culminar com a assinatura do Acordo Geral de Paz em Roma. A cronologia fundamental para se compreender que as conversaes e o acordo foram em grande medida determi nados pelo contexto internacional e regional e que o AGP foi mais o fruto do esgo tamento das duas foras e da sua incapacidade para continuar a guerra no contexto do fim da guerra fria, do que o resultado de uma vontade genuna de negociao e de criao dos mecanismos para a soluo das diferenas. Acrescentandose ao contexto internacional e regional, h ainda que considerar os factores internos: em primeiro lugar, o cansao da generalidade dos cidados em relao guerra e seus efeitos destruidores, particularmente expresso nos apelos para a paz feitos por organizaes religiosas; em segundo lugar, o facto de o pas se encontrar numa situao econmica e social extremamente crtica, com destaque para as regies rurais, principal teatro da guerra e de onde milhes de moambicanos fugiram para a periferia dos centros urbanos e para os pases vizinhos; final mente, o facto de o pas ter sido assolado por uma seca, particularmente grave em 1990, que atingia tanto a populao que se encontrava nas zonas sob controlo do governo, como aquela que se encontrava nas reas da Renamo. O efeito conjugado de todos estes factores, desde a presso internacional para a pacificao e democratizao que se manifestou imediatamente aps a queda do Bloco do leste, a transio sulafricana que iria pr termo ao sistema de apartheid e resultar num governo de maioria liderado pelo ANC, a impossibilidade de vitria militar para qualquer uma das duas foras em conflito, ao esgotamento da economia e enorme dvida externa que o governo se via obrigado a gerir, sem ignorar a fome que afectava as zonas rurais e as dificuldades crescentes da vida urbana em cidades sitiadas pelas foras da Renamo, assim como os apelos das comunidades religiosas, criou as condies de base para a realizao de negociaes. A longa durao das conversaes (cerca de dois anos) e o adiamento ltima hora da data de assinatura do acordo testemunham da dificuldade de entendimento e da grande desconfiana entre as partes. Mas um entendimento, ainda que superfi cial, era obrigatrio luz da evoluo da situao internacional e regional, marcada, por um lado, pelo desmoronamento do bloco sovitico, que retirava um aliado fundamental para o esforo de guerra das autoridades moambicanas, e, por outro, pelo colapso do sistema de apartheid na frica do Sul, que comprometia a base estratgica da Renamo. O segundo aspecto a considerar no processo de negociao do AGP diz respeito natureza e disposies polticas dos dois protagonistas. Historicamente, a Frelimo tinhase concebido e estabelecido como partido nico e, apesar de ter promulgado uma nova Constituio em 1990 adoptando o multipartidarismo, apenas o fez por presso externa e no como resultado de uma verdadeira evoluo do seu pensa mento poltico. Alis, as suas primeiras iniciativas no sentido de pr termo guerra consistiram na proclamao de amnistias para os combatentes da Renamo e na tentativa de os convencer a reintegrarem a vida normal do pas e, eventualmente, o prprio partido Frelimo que, entretanto, tinha abandonado oficialmente a sua orientao marxistaleninista, para se tornar o partido de todo o Povo. Por seu lado, a Renamo, desenvolveu um discurso anticomunista, mas nunca foi muito clara sobre a questo do multipartidarismo. Com efeito, a Renamo assumiuse como nica inter locutora do governo da Frelimo, ignorando todos os outros partidos que tinham surgido na cena poltica nacional depois da aprovao da Constituio de 1990, que ficariam totalmente excludos do processo de negociao da nova ordem poltica. O AGP estabelecia que eles seriam consultados antes da aprovao da lei eleitoral que iria reger as primeiras eleies pluralistas, mas sobretudo estipulava que a lei eleitoral incluiria uma disposio no sentido de condicionar a representao parla mentar dos partidos obteno de uma percentagem a definir (entre o mnimo de 5% e o mximo de 20%) dos votos expressos a nvel nacional. Esta deciso mani festa uma vontade deliberada dos dois protagonistas do acordo de exclurem outras potenciais foras da cena poltica. O terceiro aspecto referese opo sobre a forma de transio poltica. A Renamo aceitou a continuidade das principais instituies polticas, nomeada mente a Constituio (apenas revista pontualmente, luz do acordado em Roma), o governo e o parlamento, tendo as vrias comisses estabelecidas com base no AGP um mandato limitado e que terminava com as eleies. Assim, a possibilidade de redefinir a engenharia poltica do poder e a organizao do Estado, que era uma exigncia para se avanar no processo de democratizao, ficou totalmente depen dente dos resultados das eleies. Ora, tendo a Frelimo ganho a eleio presiden cial e tambm uma maioria absoluta no parlamento, a estrutura do partidoEstado, criado desde a independncia, acabou por se manter no essencial, apesar da exis tncia formal de instituies democrticas.2 Em suma, embora o AGP tenha tido uma dimenso positiva essencial que foi a sua capacidade de garantir a cessao efectiva das hostilidades, a desmobilizao dos combatentes e a formao de um exrcito composto por elementos provenientes das duas foras, ele era insuficiente para assegurar, por si s, as condies de uma real transio democrtica.

CONCLUSOA trajectria dos dois principais partidos, a Frelimo e a Renamo, desde a celebrao do AGP e os desenvolvimentos recentes, que se traduziram na entrada na cena pol tica de um novo actor, o MDM, mostram que a consolidao da paz em Moam bique um verdadeiro desafio. Cada um dos actores tem, logicamente, interesses diferentes e no parece que qualquer um deles tenha a capacidade suficiente para se impor eliminando os restantes. Fica, pois, a alternativa da convivncia dentro de regras e prticas aceitveis por todos, o que significaria avanar no sentido da democratizao do sistema poltico, da formulao de mecanismos adequados de representao dos interesses dos cidados e do respeito pelas normas institudas, o que est em contradio total com a crise que o pas vive actualmente, centrada numa confrontao armada entre o governo da Frelimo e a Renamo. O crescimento do MDM pela expresso da vontade popular atravs do voto, mostra que tempo de os dois partidos histricos se civilizarem e de partilharem uma concepo de paz que s pode ser o fruto da democracia e no da imposio do poder pela fora. At agora no parece haver um consenso sobre o que possa ser o verdadeiro fundamento da paz. A Frelimo parece dar prioridade garantia da sua hegemonia pelo controlo do Estado e excluso dos demais; a Renamo parece usar a questo da paz para conseguir a sua incluso no sistema, de maneira a poder parti lhar oportunidades e recursos; e o MDM, dada a sua origem e a forma como tem conquistado a sua parcela do espao poltico, s pode conceber a paz em termos de pluralismo e convivncia. Ora, destas trs orientaes, apenas a que se cons tri na lgica do pluralismo e, portanto, da democracia, que pode realisticamente servir para todos. O caminho da reconciliao efectiva , pois, um engajamento comum na construo das instituies que podem fazer avanar a democracia no pas, da incluso poltica, social e econmica, assim como da promoo da igualdade de oportunidades para todos. Infelizmente, a via seguida at agora para resolver a situao de crise tem sido mais uma reedio empobrecida do processo de Roma, com os mesmos defeitos e fraquezas, nomeadamente a desconfiana, as intenes escondidas e o formalismo, em detrimento de uma abordagem mais aberta, partici pativa e criativa que seria hoje necessria.A partir do exposto, observa-se que por controvrsia incessante hoje dia deve-se entender qualquer oposio de interesses entre as partes envolvidas em qualquer rea das relaes internacionais, versando principalmente sobre religio, cultura como ocorre, sobretudo, no Oriente Mdio, poltica tribal adotada por alguns governantes polticos africanos internacionais e qualquer que seja a sua natureza, econmica, poltica etc.Qualquer que seja o campo da atividade humana, desde que envolva a possibilidade de vida em comum ordenamento jurdico, nacional ou internacionalmente, que deve regular o interesse do jogo.Temos vindo a constatar que os conflitos que proliferam regionalmente no mundo, apresentam uma nova dimenso, movendo por uma geopoltica e geoestratgia inovadora, que lhe conferem caractersticas prprias de intensidade e prevalncia nas sociedades, alterando conseqentemente a forma de encarar a sua preveno, gesto e resoluo.

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