direito natural e justiça - oficina municipal · 2020. 10. 5. · era o de toda criatura, também...
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Direito Natural e Justiça
São Paulo, 05 de outubro de 2020
Profa. Thais Novaes CavalcantiDoutora e Mestre em Direito Constitucional pela PUC/SP
Master em Teologia pela PUL/Roma
Coordenadora da Pós graduação da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo
Professora do Programa de Mestrado em Alteridade e Direitos Fundamentais da
Universidade Católica de Salvador
Roteiro da aula
Aula 1
1. Direitos Humanos e Direitos - Problema terminológico
2. Evolução histórica do reconhecimento dos Direitos – Estado de Direito
3. Dimensões de Direitos e seu enfraquecimento – problemática
4. Direito Natural e o fundamento do Direito
5. Jusnaturalismos e positivismos
Aula 2
1. Pessoa e Dignidade humana
2. Pós modernidade e neoconstitucionalismo
3. Direito Natural em John Finnis – bens humanos básicos
4. Confronto entre autonomia do direito e ativismo judicial (STF)
Aula 3
1. Diálogo de tradições nas teorias de Justiça
2. Debate sobre casos concretos de aplicação das diferentes tradições
Referências bibliográficas
ANDRADE NERY, Rosa M. Apontamentos sobre direito natural. Revista de
Dirieto Privado. Vol. 49, p. 13-32, 2012.
ANJOS filho. Robério N. STF e Direitos Fundamentais. Salvador: Juspodium,
2010.
BARZOTTO, Luis F. Filosofia do Direito. Os conceitos fundamentais e a
tradição jusnaturalista. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010.
CAVALCANTI, Thais. N. A abordagem das capacidades na teoria de Amartya
Sen sobre o desenvolvimento humano. Revista Jurídica Unicuritiba.
http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RevJur/article/view/3305
CORREAS, Carlos I. M. A teoria do direito natural no tempo pós moderno.
Revista da Faculdade de Direito da UFRS, Porto Alegre, n. 39, vol. Esp. P. 25-39,
dez, 2018.
D’ANGELO, Rafael S. Dignidad humana y ”nuevos derechos”. Lima: palestra
editores, 2012.
FERREIRA NETO, ARTUR M. Justiça como realização de capacidades
humanas básicas. Porto Alegre: ediPUCRS, 2009.
Referências bibliográficas
FINNIS, John. Lei Natural e direitos naturais. São Leopoldo: editora Unisinos,
2007.
IZQUIERDO, Miguel S.; HERVADA, Javier. Compendio de Derecho Natural.
Pamplona: ediciones Universidad Navarra, 1980.
MAINO, Carlos A. G. Concepto y fundamento de los derechos humanos.
Madrid: Tecnos, 2013.
PEREZ, Jesus Gonzales. La dignidad de la persona. Madrid: Civitas, 1986, cap.
1.
POSTIGO, José Chavez-Fernandez (coord.) Derecho natural y
jusnaturalismos. Lima: palestra editores, 2014.
PORTELA Jr., Jorge G. La Justicia y derecho natural. Arequipa: universidad
san pablo, 2006.
RAMOS, Dalton L. Bioética, Pessoa e Vida. SP: Difusão editora, 2009.
SILVA, Frederico A. B. Correspondências entre o jusnaturalismo clásscio e a
decisão monocrática na ação cautelar 4070 confirmada pelo pleno do STF.
um indício da vigência do direito natural. Cadernos do Programa de Pós
Graduação – Direito UFRGS.
Direitos Humanos e Direitos
Direitos humanos
Direitos naturais
Direitos do homem
Direitos individuais
Direitos públicos
Direitos fundamentais
Direitos subjetivos
Liberdades públicas
Direitos públicos subjetivos
Direitos civis e políticos
Direitos da pessoa
Direitos cívicos
Direitos dos cidadãos
Direitos políticos
Direitos constitucionais
Direitos históricos
Liberdades fundamentais
Direitos fundamentais doHomem
DIVERSIDADE TERMINOLÓGICA DOUTRINÁRIA
Direitos Humanos e Direitos
Direitos individuais
são os direitos do indivíduo isolado e faz
referência ao individualismo das declarações
do séc. XVIII.
Ainda é empregada para denotar um grupo
de direitos fundamentais, correspondente aos
direitos civis e liberdade civis.
A CF/88 utiliza em referência aos conjunto
de direitos fundamentais concernentes à vida,
à igualdade, à segurança, à propriedade ( art.
5°)
Liberdades públicas
utilizado pela doutrina francesa, onde se busca dar um significado bem amplo para o termo, trabalhando com os conceitos de liberdade-autonomia (igual aos direitos individuais clássicos) e liberdade-participação (Tb chamada de liberdades políticas, que corresponde ao gozo dos direitos políticos).
Na verdade é uma forma de utilizar a expressão desvinculada da concepção jusnaturalista, vinculando-a ao Estado que cria o direito
Direitos subjetivos são prerrogativas estabelecidas de
conformidade com regras de direito objetivo,
dependendo o seu exercício da vontade do titular.
conceito técnico-jurídico do Estado liberal. Ligado à
concepção individualista do homem, como os direitos
individuais.
Esta expressão foi criada para imprimir a situação
jurídica subjetiva do indivíduo em relação ao Estado.
Direitos Públicos Subjetivos
Direitos Humanos e Direitos Fundamentais
Direitos humanos
reconhecidos no plano internacional, em declarações, tratados e convênios, dentre outros documentos.
Contra ela, assim como a expressão direitos do homem, objeta-se que não há direitos que não sejam do homem ou humano, afirmando que somente o ser humano pode ser titular de direitos.
princípio nas relações internacionais brasileiras é a prevalência dos direitos humanos (art. 4°, II, CF/88).
Direitos fundamentaispositivados no plano interno de cada Estado, especialmente no texto constitucional.
No Brasil estão positivados na CF/88.
“as prerrogativas e instituições que o direito positivo concretiza em garantias de uma convivência digna, livre e igual de todas as pessoas”
O reconhecimento é fruto de um processo evolutivo lento, gradual e constante da humanidade.
Inglaterra
Magna Carta Libertatum (1215)
Petition of Rights (1628)
Habeas Corpus Amendment Act (1679)
Bill of Rights (1689)
Estados Unidos da América
Declaração de direitos do bom povo da Virgínia (16-06-1776)
Declaração de Independência dos Estados Unidos (04-07-1776)
Evolução do RECONHECIMENTO dos Direitos
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França
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (Assembleia Constituinte Francesa, 27
de agosto de 1789)
Sistema Internacional de Proteção de Direitos Humanos (ONU)
Declaração Universal dos Direitos Humanos (10.12.48)
Evolução do RECONHECIMENTO dos Direitos
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A adoção dos direitos fundamentais pela Constituição é uma das
características do Estado Democrático de Direito.
Princípio básico do Estado de Direito é o da eliminação do arbítrio no
exercício dos poderes políticos com a consequente garantia de direitos
dos indivíduos perante os poderes (Canotilho)
Não basta o império da lei (Direito) se estiver desvinculado dos princípios
de Justiça (igualdade, liberdade, dignidade da pessoa humana)
• Princípio da Juridicidade e Império do Direito
• Divisão de poderes (autônomos e independentes)
• Garantidor de Direito fundamentais e justiça social
• Democracia (participação e representatividade)
• Socialidade (convivência pacífica, segurança jurídica)
• Sustentabilidade ambiental
Evolução do ESTADO DE DIRETO
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Dimensões de Direitos Fundamentais – evolução
PRIMEIRA DIMENSÃO DEDIREITOS
•Direitos da liberdade, representadospelos direitos civis e políticos.
•Estado Liberal (Estado mínimo).
•Anti-estatais (“Estado Leviatã”).•Cunho negativo.
•Obrigações de não-fazer (abstenção)do Estado. Ex: direito à vida, àliberdade, à propriedade, àmanifestação, à expressão, àassociação, ao voto, ao devidoprocesso legal, à igualdade perante alei (igualdade formal).
•Cumprem basicamente as funções dedefesa ou de liberdade.
SEGUNDA DIMENSÃO DE
DIREITOS
• São os direitos sociais, econômicos eculturais.
• Estado de Bem Estar Social (welfarestate, ou Estado Providência).
• Cunho positivo.
• Obrigações de fazer. Ex: direito à saúde,ao trabalho, à assistência social, àeducação.
• Também direitos sem conteúdocontraprestacional (“liberdades sociais”),como liberdade de sindicalização, direitode greve, direito a férias e direito aorepouso semanal remunerado.
• Atendem às funções de prestação.
Dimensões de Direitos Fundamentais – evolução
TERCEIRA DIMENSÃO DEDIREITOS
•São também chamados de direitos dafraternidade ou de solidariedade.
•Titularidade coletiva ou difusa: família,grupo, povo, nação. Ex: o direito à paz,ao meio ambiente, à conservação dopatrimônio cultural e do patrimôniopúblico.
QUARTA DIMENSÃO DE
DIREITOS
• o direito à democracia, o direito àinformação e o direito ao pluralismo.
• Para alguns autores são: direitos das minorias; direitos vinculados à Biotecnologia; direitos intergeracionais.
QUINTA DIMENSÃO DE
DIREITOS
• direito à paz mundial
• Patrimônio da humanidade - UNESCO
• Direitos da natureza
• Direitos dos animais
Problemática
Em que medida essa evolução no reconhecimento dos Direitos é positiva?
Ela pode ser negativa em algum aspecto?
Os direitos humanos podem ser enquadrados em Declarações? Isso os
limita ou fortalece?
Michel Viley ”O direito e os direitos humanos” – “as sucessivas declarações
modernas de direitos, ao dissorciar liberdade e virtude, trazem formulações
indeterminadas, inconsistentes e contraditórias.”
”A proliferação dos direitos gerou uma trivialização de valores democráticos
essenciais” Mary Ann Glendon ”Rights talk - the impoverisment of political
discourse”
”O movimento rumo à identificação e àproclamação dos direitos do homem é um dosmais relevantes esforços para responder demodo eficaz às exigências imprescindíveis dadignidade humana” CDSI n. 152
”A raiz dos direitos do homem, com efeito, háde ser buscada na dignidade que pertence acada ser humano (...) A fonte última dosdireitos humanos não se situa na meravontade dos seres humanos e em Deus seuCriador. Tais direitos são universais,invioláveis e inalienáveis” CDSI n. 153
”os direitos do homem hão de ser tutelados,não só cada um singularmente, mas no seuconjunto: uma proteção parcial traduz-se-ia emuma espécie de não reconhecimento.” CDSI n.154
OBSERVAÇÕES DO CDSI
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Recuperar o fundamento dos Direitos Humanos
Primeiro erro: apontar suas causas históricas. Confunde-se a
categoria ”fundamento” com a categoria ”causa”. A história fornece
as condições (como?) mas não o fundamento. Fornece a eficácia,
mas não a validade.
Segundo erro: Afirmar que não há fundamento absoluto para os
direitos humanos. Se os direitos humanos são incondicionais, que
não dependa de ideologias ou poderosos, seu fundamento não
pode ser relativo, pois em uma raciocínio, a conclusão não ser
mais forte que as premissas.
Recuperar o fundamento dos Direitos Humanos
”os direitos humanos têm seu fundamento na lei natural, ou seja, derivam da
aplicação dos primeiros princípios da razão prática às circunstâncias históricas
mutáveis. Eles determinam o que é devido ao ser humano como tal, para que ele
alcance sua autorrealização nas condições concretas em que se encontra.
Exemplo: liberdade
Pela sua natureza racional, o ser humanos é livre, não determinado. Sua natureza
o inclina a ver na liberdade um bem. O primeiro princípio da razão prática ”o bem
é para ser procurado e realizado, o mal evitado”, faz com que a pessoa humana,
na vida comunitária, reivindique a liberdade como algo que lhe é devido, como
direito. A regra de ouro estabelece que ele reconheça a mesma liberdade para
todo aquele que partilha a mesma condição de pessoa humana.
Nesse contexto a liberdade será proclamada como um direito humano, um direito
de todos os seres humanos. O conteúdo concreto dessa liberdade, o que ela
implica circunstâncias específicas, só pode ser determinado em um debate no
qual sejam confrontados os argumentos e os pontos de vista de comunidades
particulares. ” BARZOTTO, Luis Fernando. Filosofia do Direito. Os conceitos fundamentais e a tradição jusnaturalista.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p. 77
A questão é....
qual o fundamento dos Direitos
humanos?
Direitos Naturais
direitos inerentes à natureza do homem, direitos inatos que
cabem ao homem só pelo fato de ser homem.
”São a lei natural abordada do ponto de vista de suas
implicações subjetivas” (Francisco Puy, Lecciones de Derecho Natural, p. 373)
Tese tomista (São Tomás de Aquino)
São Tomás de Aquino (1225-1274)
”Doutor Angélico” – Doutor da Igreja
Frade da Ordem dominicana (dos pregadores)
Base filosófica de Aristóteles, esclarecendo os pontos do cristianismo.
Teologia e filosofia
Escreveu a Suma Teológica (Summa Theologiae) (512 questões) 15 volumes
- Da natureza de Deus
- Das questões morais
- Da natureza do homem
Suma Contra os gentios e Comentários sobre as Escrituras
5 vias para provar a existência de Deus racionalmente
1) via do movimento/primeiro motor
2) via da causa eficiente
3) via do contingente e do necessário
4) via dos graus de perfeição
5) via do governo das coisas/da finalidade do ser
Direitos Naturais
direitos inerentes à natureza do homem, direitos inatos que
cabem ao homem só pelo fato de ser homem.
Tese tomista:
1) existem certos princípios da verdadeira moral ou justiça, que
podem ser descobertos pela razão humana sem auxílio da
revelação, ainda que sejam de origem divina;
2) as leis humanas que contrastam com esses princípios não
constituem Direito válido.
LEX INIUSTA NON EST LEX
Direitos Naturais
Tese tomista:
LEI DIVINA
LEI NATURAL
LEI POSITIVA
4 MOMENTOS DO DIREITO NATURAL
1) Fruto de uma racionalidade comum a todos, que influenciou o Estado romano. DN
era o de toda criatura, também dos animais, em oposição ao Direito das gentes.
Denominado de ius naturale, aquele que é boni et aequi
2) Cristianismo acrescenta uma conotação teológica: o mundo é governado por
uma razão, uma lei divina que ordena a lei natural, que ordena a lei positiva.
3) Direito Natural antropológico: ligado à natureza das coisas (Grotius e
Pufendorf) Iniciado com Aristóteles
4) A natureza das coisas fixa parâmetros normativos como medida do próprio
Direito. Jusnaturalismo racional (Kant)
Jusnaturalismo (s)
Giovanni Pico dela Mirandola
(1463-1494)
jusnaturalismo (s)
Direito Natural antropológico: (Jusnaturalismo clássico)
ligado à natureza das coisas (Grotius e Pufendorf)
Escola do direito da natureza e das gentes
(século XVI e XVIII) faz do direito natural um direito ideal.
A natureza das coisas fixa parâmetros normativos como
medida do próprio Direito.
Jusnaturalismo racional (Kant 1724-1804)
-Razão e moral separadas
-Humanismo transcendental
Positivismo
Doutrina jurídica que atribui validade absoluta e exclusiva ao direito positivo.
Precedentes:
•Guilherme de Occam (1295-1349) – preeminência da vontade na direção da vida humana
•Thomas Hobbes (1588-1679) – contrato como matriz única da existência da sociedade e do poder
•J. Rousseau (1712-1778) – vontade geral como origem do poder e da ordem jurídica
•I. Kant (1724-1804) – separação do direito da moral, sendo que a moralidade procede a vontade autônoma (imperativo categórico) de cada um e o direito consiste na simples conciliação dos arbítrios individuais para tornar possível a vida social.
positivismo
Rudolf Von Ihering (1818-1892) ”só merecem o nome de direito aquelas
normas estabelecidas pela sociedade que têm atrás de si a coação ou,
concretamente, a coaçao estatal, pois que o Estado tem o monopólio da
coação; só são normas jurídicas as normas às quais o Estado confere este
efeito, ou seja o Estado é a fonte única do direito”
Georg Jellinek (1851-1911) ”O Estado soberano é o único que pode, dentro
das limitações jurídicas que a si mesmo se tenha imposto, ordenar, de
maneira plenamente livre, o campo de sua atividade”
Escola da exegese na França
Hans Kelsen (1881-1973) – Teoria pura do Direito – o direito é a ciência das
normas
Alf Ross – Herbert Hart – Holmes
A questão do Direito Natural é
a pessoa como fundamento do
Direito
Homem homo humus (latim)
Anthropos / zôon animal (grego)
Aristóteles zôon politikón
“atingia sua plenitude com a vida da pólis e o uso da razão expressada pelo discurso”
HOMEM é formado por inteligência (razão), vontade (querer), corpo e anima (princípio vital)
Personalismo – o homem não é um gênero, mas um eu concreto, um sujeito que tem uma experiência em si mesmo.
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Pessoa como fundamento do Direito
PESSOA distinto de NATUREZA
NATUREZA indica a essência da espécie, mas não
sua identidade.
NATUREZA revela o que ele é, mas não quem ele
é.
Ex. O que é João? Um ser humano. Quem é João?
Esta PESSOA.
PESSOA distinto de HOMEM
Homem é o nome comum de todos os homens.
PESSOA é um homem concreto – João, Juliana...
“PESSOA
é aquilo que subsiste em uma natureza racional”
Pessoa humana não é natureza humana, mas o ato de existir de uma natureza
humana. Pessoa abrange determinações concretas, não apenas a essência
(racionalidade, sociabilidade)
A irredutibilidade da pessoa
A natureza da pessoa
• O corpo
• A alma (anima = princípio vital)
• A individualidade
• A racionalidade (inteligência)
• A liberdade (vontade/ querer)
Homo sacra res homini (Sêneca)
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Da Dignidade da Pessoa
Pessoa persona (latim)
prosopón (máscara)
Hipóstase (natureza)
Relação entre pessoas e coisas. Segundo Kant:
PESSOA:
• Fim em si mesmo
• Dignidade
• Autonomia
• Insubstituível
COISA
• Meio, instrumento para realizar a dignidade
• Preço:– Econômico
– Afetivo32
Dignidade da Pessoa
Antropologia cristã e princípio personalista
05/10/2020
- compreensão das várias dimensões da pessoa x múltiplasconcepções redutivas de caráter ideológico (CDSI n. 124)
Imago Dei – homo creator / imago creatoris (CDSI 108 e 109)
“Estruturas de pecado” SRS
O ser humano é uno
A natureza humana é una.
A essência humana é plenamente individual e
plenamente social
Eu pessoal com potencialidades de realização de diversos
fins.
Cezar Saldanha Souza Junior, 2002, p. 25
Dimensões do humano
1. Econômica – depende da geração de riquezas para
sobreviver e atender suas necessidades
2. Intelectual (filosófica e científica) – depende do conhecimento
3. Artística – depende dos sentimentos e emoções (estético)
para equilíbrio da personalidade
4. Política – depende da ordem da convivência
5. Ética – relação constante com o bem, felicidade, decisões
para definir caminhos
6. Religiosa – sentido para existência (razão além do
pragmatismo)
6 grandes dimensões do humano
Dignidade da pessoa
A dignidade da pessoa não é definida apenas pelas características
de sua natureza, mas por ser pessoa em si, com uma identidade
singular, por sua personalidade.
Dignidade exige o reconhecimento do ser humano como pessoa
concreta. Dignidade é a própria pessoa.
A dignidade da pessoa é um valor basilar do Estado.
A dignidade é um valor objetivo de uma identidade que é regulativa e
que exige ser reconhecida como tal. (Luis Fernando Barzotto)
A dignidade é um dado prévio ao Direito e não existe a partir dele,
mas este exerce um papel crucial na sua promoção. (Ingo Sarlet)
Pós Modernidade e neoconstitucionalismo
Movimento de virada do séc XXI
Crítica da razão sistemática e da noção de sujeito
Crítica sobre a fundamentação moderna de direito
Neoconstitucionalismo
Reaproximação dos valores e compreensão dos princípios
como norma
Moral e filosofia no Direito
Nova hermenêutica constitucional – abertura e métodos
Fundamento do direito à vida:
• Natureza ou dignidade da pessoa, entendida como qualidade de ser superior ao resto dos seres vivos.
Direito pré positivos, nunca outorgados pela sociedade e nem submetidos ao arbítrio do poder estatal.
Se não, seria apenas ‘editos de tolerância revogáveis’ Robert Spaeman
Direito Humano à vida
Dignidade humana:
• Essência ou natureza do homem
• Fundamento transcendente do valor desta ideia
• Exigências jurídico-naturais desse mesmo valor
Natureza racional – capta que o agir humano é dirigido para a busca de certos fins naturais, que auxiliam na própria perfeição do homem.
Direito à vida
O bem é a primeira apreensão da razão prática.
1) agir e perseguir o bem e evitar o mal
3 níveis de tendências:
• Próprias do ser (orgânico-vegetativo)
• Compartilhadas com os outros animais (sensorial)
• Racional
O direito à vida refere-se ao primeiro. É bem para o homem conservar sua vida, não é bem para o homem atentar o que atentem contra sua vida.
Direito à vida
John Finnis – nova escola de Direito Natural
O direito das pessoas se fundamenta em ‘valores básicos’ basic values, aspectos fundamentais para o bem estar humano.
Valores básicos são “aquelas formas básicas de realização humana plena como bens que devem perseguir e realizar”
Bens apreendidos e orientados pela razão prática que florescem a natureza humana.
Direito à vida
John Finnis – nova escola de Direito Natural
Basic values:
Vida
Conhecimento
Jogo
Experiência estética
Sociabilidade (amizade)
Razão prática
Religião
Direito à vida
John Finnis – O bem humano básico da vida
“cada um dos aspectos da vitalidade”
“autodeterminação”
Saúde corporal, ausência de mal
Propósito moral: afirmar, respeitar e promover a ‘autêntica realização’ das pessoas humanas, cada uma delas, corpo e alma.
Direito à vida
Problemática
Qual o papel dos direitos humanos hoje?
Porque o Judiciário assumiu tanto poder?
Confronto entre autonomia do direito e ativismo judicial
Necessidade de expor teses sobre “inviolabilidade do direito
à vida”
Não basta apenas compreender a interpretação dos votos
dos ministros, mas a coerência principiológica da
Constituição para construir um precedente….
STF não expõe um entendimento da Corte mas dos ministros
isoladamente… que chegam a uma decisão não pelos
mesmos motivos
ADPF 54/ADI 3150
Corte deliberativa (Conrado Mendes)
ADPF 54/ADI 3150
Fases deliberativas Tarefas deliberativas
1) Pré-decisional Contestação pública
2) Decisional Integração colegiada
3) Pós-decisional Decisão escrita deliberativa
A Constituição (pode) determinar em que momento
começa a vida?
Min. Ayres Britto “apenas possuem vida em sentido constitucoinal
os indivíduos que sobrevivem ao parto, contemplados, portanto,
com personalidade jurídica disposta pelo CC art. 2.
A vida deve ser considerada em uma acepção biográfica e não
simplesmente biológica, ou seja, o indivíduo integrado no meio
social, de acordo com sua capacidade de interação moral e
espiritual.
A dignidade da pessoa refere-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes e não àqueles em tudo de ensaio.
ADI 3510– art. 5 da Lei 11.105/2005
A Constituição (pode) determinar me que momento
começa a vida?
Min. Ayres Britto – a questão não é onde começa a vida, mas
quais momentos ou aspectos estão validamente protegidos pelo
direito e em que medida.
“o embrião, o feto e a pessoa humana não se confundem, mas a
potencialidade já é fundamental para a defesa de alguns estágios
de desenvolvimento da vida biológica humana”
“o embrião fertilizado in vitro não pode ser vida, uma vez que não
pode formar cérebro.”
ADI 3510
A Constituição (pode) determinar me que momento
começa a vida?
Min. Carmen Lúcia “o princípio da dignidade da pessoa possibilita
que se estabeleçam proteções ao embrião, ainda que não detenha
personalidade, como, por ex., sua comercialização e manipulação
genética.
Min. Joaquim Barbosa – Não se trata de definir o início da vida,
mas decidir se a exeção de tutela do direito à vida ao embrião
seria constitucional. Ao ponderar entre os dois valores (vida do
embrião e saúde da coletividade) prevalece o segundo.
ADI 3510
A Constituição (pode) determinar me que momento
começa a vida?
Min. Celso de Mello estabeleceu um marco para o início da vida,
mesmo que não seja constitucionalmente. Como na morte, se as
pesquisas são realizadas antes da formação do cérebro, não
haveria problema sua utilização.
Min. Menezes Direito – o início da vida se dá na formação do
embrião, que tem a potência de tornar-se homem. A
potencialidade do embrião está em si mesmo e não no útero da
mãe. A manipulacão genética pode ensejar práticas eugênicas.
ADI 3510
Legitimado ativo: Confederação Nacional dos Trabalhadores
da Saúde
4 audiências públicas (art. 6 da Lei 9882/99)
Amicus curiae:
• Conectas
• Centro de Direitos Humanos (CDH)
• Movimento em prol da vida (MOVITAE)
• ANIS – Instituto de Bioética, DH e gênero
CNBB
ADPF 54
Possui direito à vida o embrião em desenvolvimento no útero
materno?
O problema da diversidade de entendimentos
Interpretação absoluta do direito à vida
Modelo da livre disposição
Modelo da liberdade limitada
Modelo da exeção permitida
ADPF 54
Democracia, pluralismo e DSI
05/10/2020
União de conceitos da CA e da VS
Uma autêntica democracia somente é possível em um Estado de Direito e sobre a base de uma reta concepção da pessoa humana. CA n. 46
“Não é somente um resultado de um respeito formal de regras, mas é o fruto da convicta aceitação dos valores que inspiram os procedimentos democráticos: a dignidade da pessoa, o respeito dos direitos do homem, do fato de assumir o bem comum como fim e critério regulador da vida política.” CDSI n. 407
A Oficina Municipal agradece sua participação.
Missão
Formar cidadãos para a política local e a gestão pública com base em princípios da
democracia e solidariedade.
Visão
Cidadãos engajados e gestores administram as políticas públicas fundamentais
para o bem comum de forma competente, e por decorrência os municípios gozam
de maior autonomia política, administrativa e financeira e cooperam ativamente na
federação.