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DIREITO SOCIETÁRIO BRASILEIRO COMENTADO
Apostila – Volume I
Manoel Vargas
Professor de Direito Societário do Departamento de Direito da Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro.
Mestre em Direito Comparado (M.C.L.) pela University of Illinois at Urbana-Champaign.
Advogado no Rio de Janeiro e São Paulo. Sócio de Lobo & Ibeas Advogados.
Introdução: Este é um trabalho em construção e que estará em permanente evolução,
inspirado nas minhas aulas de Direito Comercial II e Direito Societário I na PUC-Rio, nos
últimos quinze anos. A minha ideia é refletir uma análise sucinta e objetiva sobre o Direito
Societário, desde a Parte Geral do Código Civil (“CC”) até a Parte Especial no tópico sobre
o Direito da Empresa, passando à Lei nº 6.404/76, conhecida como Lei das Sociedades
Anônimas (LSA), à Lei nº 6.385/76, sobre o Mercado de Capitais e a Comissão de Valores
Mobiliários (“CVM”), bem como à legislação e regulamentação complementar. Quando
oportuno, também serão abordados temas de Direito Constitucional (“CF”). Por estar em
fase de elaboração, apresento o trabalho sob a forma inicial de apostila, ou seja, notas de
aula. Se não fizesse assim, o esforço ficaria inédito até que pudesse ser completado com
escopo tão ambicioso. Na iminência de um novo Código Comercial, em gestação no
Congresso Nacional, correria até mesmo o risco de ser parcialmente perdido. Assim, soltei
as amarras e liberei a parte já escrita sob a forma de apostila – volume I (as Partes Geral e
Especial do CC e boa parte do capítulo I da LSA). O trabalho será completado e
aperfeiçoado ao longo do tempo. Por ora são notas singelas que exteriorizam minha visão
objetiva sobre o tema. Há ainda no texto referências a enunciados do CEJ, Centro de
Estudos do Conselho da Justiça Federal, que têm relevância para a interpretação do CC.
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Plano do trabalho:
Código Civil de 2002:
Teoria da Empresa
Contrato de Sociedade
Sociedades Personificadas e Não Personificadas
Tipos Societários
Regime das Sociedades Limitadas
Regime dos outros Tipos Societários
Sociedade Brasileira e Estrangeira
Estabelecimento
Institutos Complementares
Lei das Sociedades Anônimas
Lei do Mercado de Valores Mobiliários e da CVM
Legislação e Regulamentação Complementar
“The pursuit of wisdom in a life of contemplation” – Espinoza
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Título I – Regime das Sociedades no Código Civil
Subtítulo I – Parte Geral
Capítulo I – Pessoas Jurídicas
Seção I – Disposições Gerais
1. Pessoa Jurídica – Conceito – artigo 40 do CC
A pessoa jurídica é o ente de direito público, interno ou externo, ou de direito
privado, dotado de personalidade jurídica e de patrimônio próprio, sujeito de direitos e
obrigações no mundo jurídico.
2. Pessoas Jurídicas de Direito Público Interno – artigo 41do CC
2.1. Definição
As pessoas jurídicas de direito público interno são a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Territórios; os Municípios; as autarquias, inclusive as associações públicas; e
as demais entidades de caráter público criadas por lei.
Embora os antigos Territórios tenham sido transformados em Estados da federação
(Rondônia, Roraima, Amapá e Acre), a CF contém previsão da criação de novos
Territórios por lei. Logo, o ente Território continua a existir.
A regra supletiva é de que as pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha
dado estrutura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento,
pelas normas do CC. A CF já estabelece que as empresas públicas, as sociedades de
economia mista e suas subsidiárias, que explorem atividade econômica de produção ou
comercialização de bens ou de prestação de serviços, sujeitam-se ao regime jurídico
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próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais,
trabalhistas e tributários (CF, art. 173, §1º, II).
Segundo o Enunciado nº 141 do CEJ, o § único do art. 41 do CC, que contém a
regra da equiparação ao direito privado, aplicar-se-ia às fundações públicas e aos entes de
fiscalização do exercício profissional. Não parece ao autor que os mesmos tenham
estrutura de direito privado.
2.2. Responsabilidade Objetiva do Estado – artigo 43 do CC
As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos
de seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo
contra os causadores do dano, se houver, por parte deles, culpa ou dolo. Essa regra decorre
do art. 37, §6º da CF, que contém idêntica disposição quanto a pessoas jurídicas de direito
público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos.
Trata-se da responsabilidade objetiva do Estado, que responde pelos danos
causados a terceiros independentemente de culpa, se houver o nexo de causalidade entre o
ato do agente do Estado e o dano experimentado pelo terceiro. Os agentes, porém, só
respondem regressivamente perante o Estado se houver dolo ou culpa de sua parte,
exigindo-se, assim, a sua responsabilidade subjetiva.
Vide Súmula Vinculante nº 11 do STF sobre o uso de algemas e a responsabilidade
civil do Estado.
3. Pessoas Jurídicas de Direito Público Externo – artigo 42 do CC
São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as
pessoas que forem regidas pelo direito internacional público, como os organismos
internacionais (Organização das Nações Unidas (ONU), Organização dos Estados
Americanos (OEA), etc.).
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4. Pessoas Jurídicas de Direito Privado – artigos 44 a 49 do CC
4.1. Definição
São pessoas jurídicas de direito privado as associações, as sociedades – que
constituem o objeto principal de análise desta obra –, as fundações, as organizações
religiosas e partidos políticos, bem como as empresas individuais de responsabilidade
limitada.
Vide Enunciados nºs 142 e 144 do CEJ.
4.2. Existência Legal e Registro
Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição
do ato constitutivo no respectivo registro, acompanhada, quando necessário, de autorização
ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que
passar o ato constitutivo. Logo, o registro é o marco inicial a partir da criação das pessoas
jurídicas de direito privado. Sem registro, não há personalidade jurídica (CC, art.45,
caput).
O prazo de decadência do direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de
direito privado, por defeito do ato respectivo, é de três anos a contar do registro (CC, §
único do art. 45). O prazo decadencial breve segue a tradição do direito comercial de
conferir estabilidade e segurança jurídica aos atos praticados.
O registro deve declarar a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o
fundo social, se houver; o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores, e dos
diretores; o modo por que se administra e representa, ativa e passivamente, judicial e
extrajudicialmente; se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de que
modo; se os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais; as
condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio, nesse caso (CC,
art. 46).
Note-se que essas disposições gerais sobre o registro aplicam-se às pessoas
jurídicas de direito privado sem distinção, observadas ainda as especificidades relativas à
sua natureza ou ao tipo societário.
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O registro, como regra, se das sociedades empresárias e das empresas individuais,
será feito na Junta Comercial, se das sociedades simples ou não empresárias, será feito no
Registro Civil de Pessoas Jurídicas (CC, art. 1.150) – exceto o das sociedades
cooperativas, que força da legislação especial (L. 5.764/71, art. 8º, §6º) está sujeito à Junta
Comercial. As sociedades de advogados estão sujeitas à legislação especial (L. 8.906/94,
art. 5º, §1º) e o respectivo registro é feito na OAB.
Vide Enunciado nº 143 do CEJ.
4.3. Atos Vinculantes dos Administradores
Obrigam a pessoa jurídica os atos dos administradores, exercidos nos limites de
seus poderes definidos no ato constitutivo (CC, art. 47).
Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva, as decisões se tomarão pela
maioria de votos dos presentes, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso (CC,
art. 48, caput).
O prazo de decadência do direito de anular as decisões dos administradores, quando
violarem a lei, o estatuto ou contrato social, ou forem eivadas de erro, dolo, simulação ou
fraude, é de 3 (três) anos, em homenagem ao princípio da segurança jurídica. Não há atos
imprescritíveis em direito societário.
Na falta de administrador da pessoa jurídica, o juiz, a requerimento de interessado,
poderá nomear administrador provisório (CC, art. 49).
4.4. Atos Ultra Vires
A regra geral do CC (art. 1015) é de que o excesso por parte dos administradores
somente pode ser oposto a terceiros se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses:
– a limitação de poderes deve constar do registro da pessoa jurídica;
– provando-se que tal limitação era conhecida do terceiro;
– tratando-se de operação evidentemente estranha às atividades regulares da pessoa
jurídica.
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4.5. Teoria da Aparência
É amplamente reconhecida em nosso direito a teoria da aparência, que visa a
proteger terceiros de boa-fé e preservar e conservar os atos das pessoas jurídicas de direito
privado, mesmo que haja excesso por parte dos administradores. A teoria da aparência
deve ser ponderada com a dos atos ultra vires.
Vide Enunciado nº 145 do CEJ reafirmando a aplicação da teoria da aparência.
4.6. Desconsideração da Personalidade Jurídica – artigo 50 do CC
Refere-se a situações sempre excepcionais onde pode haver abuso da personalidade
jurídica, pelos sócios ou administradores, caracterizadas pelo desvio de finalidade –
aspecto subjetivo – quando há fraude ou excesso no uso da personalidade jurídica, ou pela
confusão patrimonial – aspecto objetivo – quando o patrimônio dos sócios confunde-se
com o patrimônio da sociedade, seja por ato ilícito (v.g. o emprego de caixa dois) ou não.
Em tais casos, a desconsideração ocorre sempre em concreto, sendo determinada
pelo juiz em face de circunstâncias específicas, e não afasta a personificação para outros
efeitos que não o ato em si da desconsideração. Quando há necessidade ao acesso ao
patrimônio dos sócios ou administradores, ou ao patrimônio da sociedade – chamada de
desconsideração inversa ou reversa --, geralmente a responsabilização será subsidiária, na
medida necessária a completar a insuficiência patrimonial buscada pelo ato da
desconsideração.
Prevalece na jurisprudência do STJ a “teoria maior” da desconsideração, devendo
ser comprovado o abuso da personalidade jurídica ou a confusão de patrimônios para a
caracterização da desconsideração. Em contraposição à “teoria menor” que admite a
desconsideração em situação de hipossuficiência, como nas relações de consumo, se
verificada a incapacidade de pagamento do devedor original.
Como já tem decidido o Superior Tribunal de Justiça, em casos de grupos
econômicos, como no REsp nº 132620/RJ, julgamento de 7 de maio de 2013, relatora
Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma (idem REsp nº 1071643/DF e RMS nº
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12872/SP, dentre outros, relatores Ministros Luis Felipe Salomão (Quarta Turma) e Nancy
Andrighi (Terceira Turma), julgados em 2 de abril de 2009 e 24 de junho de 2002,
respectivamente), pode ser declarada a desconsideração objetiva da personalidade jurídica,
em virtude da confusão de patrimônios entre as sociedades integrantes dos grupos, dada a
coordenação de atividades que as envolve, seja no tocante à comunhão de dirigentes e
colaboradores principais, seja pelas relações financeiras e contratos empresariais mantidos
por elas, mesmo na inexistência de ato ilícito.
A nossa jurisprudência adotou majoritariamente o caminho do direito alemão, de
presunção juris tantum de confusão de patrimônios nos grupos econômicos, onde há
sociedade de comando e fortes elementos entre as sociedades do grupo, como gestão
conjunta, identidade de administradores e empregados relevantes, financiamentos entre as
sociedades do grupo, utilização de ativos de umas por outras (ainda que de forma
remunerada) e transações entre as empresas do grupo, elementos esses em geral comuns a
grupos econômicos, com mais ou menos intensidade, tendo em vista a natural coordenação
das atividades do grupo, que é formado justamente para potencializar ou maximizar as
atividades das sociedades que dele fazem parte.
Muito embora, no direito brasileiro, a lei não excepcione o regime liberal de
responsabilidade individual e isolada de cada sociedade, mesmo em situações de exceção,
como nos grupos de direito (onde é admitida a subordinação de interesses, nos limites da
convenção do grupo) ou nas subsidiárias integrais (onde a participação da controladora
corresponde à totalidade do capital da controlada).
No direito alemão, a lei admite a responsabilidade subsidiária nos grupos de direito
e a solidária nas subsidiárias integrais. A jurisprudência alemã estende a possibilidade de
responsabilidade subsidiária externa corporis aos grupos de fato, com base na presunção
de confusão patrimonial, conforme lição de COMPARATO.
Vide ainda Enunciados nºs 7, 51, 146, 281, 282, 283, 284 e 285 do CEJ sobre
desconsideração.
4.7. Dissolução e Liquidação – artigo 51 do CC
A dissolução pode decorrer de ato voluntário dos sócios ou associados, ou de
medida administrativa ou judicial que ponha fim à atividade da pessoa jurídica. Mas não
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importa em extinção imediata. A pessoa jurídica preserva sua personalidade até que
encerrada a fase de liquidação do patrimônio, com pagamento das dívidas e apuração dos
ativos.
Em caso de patrimônio superavitário, o saldo será distribuído entre sócios e
associados, a menos que o contrato ou estatuto social determine de modo diverso.
Em caso de patrimônio negativo, a solução será a falência ou a insolvência civil.
Finda a liquidação, promover-se-á o encerramento de todas as inscrições societárias e
fiscais da pessoa jurídica.
Quanto à exclusão de sócio por justa causa, vide Enunciado nº 280 do CEJ.
4.8. Direitos da Personalidade – artigo 52 do CC
O art. 52 do CC estende à pessoa jurídica, no que couber, a proteção dos direitos da
personalidade, inclusive e principalmente no tocante a seu nome.
Vide Súmula nº 227 do STJ e Enunciado nº 286 do CEJ.
Seção II – Associações – artigos 53 a 61 do CC
1. Conceito – Formam-se as associações pela união de pessoas que se
organizam para fins não econômicos, ou seja , não possuem finalidade lucrativa. Toda
atividade sem fim lucrativo é regida pelos citados arts. 53 a 61 do CC, excetuados partidos
políticos e associações religiosas, que possuem regulação própria.
Seção III – Sociedades – artigos 981 e ss do CC
1. Conceito – Formam-se as sociedades pela união de pessoas que se
organizam para fins econômicos, ou seja, possuem finalidade lucrativa. Estão regidas pela
parte especial do CC, cuja regulação específica se inicia no art. 981 do CC.
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Seção IV – Fundações – artigos 62 a 69 do CC
1. Conceito – Não têm caráter associativo, formando-se, cada uma delas, pela
vontade de seu instituidor, que por escritura pública ou testamento faz dotação especial de
bens livres, especificando o fim a que se destina e declarando, se quiser, a maneira de
administrá-la. Estão regidas pelos citados arts. 62 a 69 do CC.
Vide Enunciados nºs 8 , 9 e 147 do CEJ.
Seção V – Organizações Religiosas e Partidos Políticos – artigo 44 do CC
1. Conceito – Têm fins religiosos ou políticos e regem-se pelo art. 44, §§1º e 3º do
CC, pelos seus atos constitutivos e pela legislação especial de regência, no caso dos
partidos políticos. Essencialmente, são associações voltadas para atividades de tal gênero.
Seção VI – Empresas Individuais de Responsabilidade Limitada – artigo 44 do CC
1. Conceito – Criadas pela Lei 12.441, de 11.07.2011, constituem a mais nova
modalidade de pessoa jurídica, que deve ser detida por um único sócio pessoa natural,
dedicado à atividade empresarial. Regem-se pelos arts. 44, VI, 980-A e § único do art.
1.033 do CC.
Capítulo II – Domicílio
Seção I – Pessoa Natural – artigos 70 a 74 e 76 e 77 do CC
1. Conceito – O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua
residência com ânimo definitivo (CC, art. 70).
2. Mais de uma residência e inexistência de residência habitual – Se tiver
diversas residências, considerar-se-á domicílio da pessoa natural qualquer uma dessas
residências ; se não possuir residência habitual, o lugar onde for encontrada (CC, arts. 71 e
73).
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3. Profissão – É também domicílio da pessoa natural o lugar onde exerce sua
profissão, quanto às relações daí decorrentes. Se a profissão for exercida em diversos
lugares, cada um deles constituirá domicílio para as relações correspondentes (CC, art. 74).
Portanto, o domicílio profissional pode ser utilizado na identificação das pessoas naturais,
tal como o domicílio civil. Cada vez mais, por razões de segurança pessoal, utiliza-se o
domicílio profissional, em especial em situações onde a pessoa natural possa estar
exposta, pela revelação de seu domicílio particular.
4. Alteração do domicílio – A mudança de residência com ânimo definitivo resulta
na transferência de domicílio (CC, art. 74).
5. Casos especiais – As situações especiais do incapaz, do servidor público, do
militar, do marítimo, do preso e do agente diplomático estão reguladas nos arts. 76 e 77 do
CC.
Seção II – Pessoa Jurídica – artigo 75 do CC
1. Definição – O domicílio da União é o Distrito Federal; dos Estados e Territórios,
as respectivas capitais; do Município, onde funcione a administração municipal; das
demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionar sua administração, ou domicílio especial
se eleito por seu estatuto ou atos constitutivos (CC, art. 75).
2. Mais de um estabelecimento -- Se a pessoa jurídica tiver mais de um
estabelecimento, cada um será considerado domicílio para os atos nele praticados (CC, art.
75, § 1º). Vide Súmula nº 363 do STF.
3. Sede no estrangeiro – Se a pessoa jurídica tiver sede no estrangeiro, será local
de seu domicílio no País o estabelecimento que contrair as respectivas obrigações (CC, art.
75, § 2º).
Seção III – Eleição de foro – artigo 78 do CC
1. Contratos escritos – É válida a eleição de foro nos contratos escritos, onde se
cumpram os direitos e obrigações deles resultantes (CC, art. 78), mas há situações de
ordem pública que afastam a eleição, como as decorrentes da proteção à parte
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hipossuficiente, como nas relações de consumo ou de representação comercial. Vide
Súmula nº 335 do STF.
Subtítulo II – Parte Especial – Direito de Empresa
Capítulo I – Empresário – artigos 966 a 980-A do CC
Seção I – Caracterização e Inscrição
1. Conceito – Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, ressalvadas
as profissões intelectuais, de natureza científica, literária ou artística (ainda com o concurso
de auxiliares ou colaboradores), salvo se o exercício da profissão constituir elemento de
empresa. Isso significa que toda atividade econômica privada é a princípio empresarial,
exceto a atividade fim de índole intelectual (CC, art. 966).
2. Teoria da empresa – O CC, inspirado no direito italiano, unificou o direito das
obrigações e adotou a teoria da empresa, segundo a qual toda atividade econômica
organizada, ressalvadas atividades intelectuais, é empresária.
Porém, não há definição quanto à intensidade da organização para a caracterização
da empresa. Hoje, em pleno século XXI, não há atividade econômica que deixe de possuir
grau mínimo que seja de organização. Logo a atividade econômica privada será
empresarial, desde que o empresário promova o seu registro como tal e não exerça como
atividade fim profissão intelectual, como a exercida pelas profissões liberais – médicos,
advogados, arquitetos, dentistas, engenheiros, escritores, artistas plásticos, e outros.
3. Elemento de empresa – Quando o CC ressalva a possibilidade de a profissão
intelectual constituir elemento de empresa, isto se refere à atividade fim, que poderá ser
empresarial e não intelectual. O exemplo clássico dado por ASCARELLI são os hospitais
ou casas de saúde, onde o atendimento médico é elemento de uma organização empresarial.
O mesmo pode se dizer das atividades dos engenheiros no tocante às empreiteiras e
construtoras, responsáveis por obras grandes ou pequenas, mas cujo resultado final não é a
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prestação do serviço de engenharia, mas a entrega da obra como contratada, típico contrato
de empreitada.
4. Registro – Seguindo a antiga tradição do comerciante, a inscrição do empresário
na junta comercial constitui requisito para a prática da atividade empresarial (CC, arts. 967
e 968). O empresário individual deve indicar no registro seu nome, qualificação (inclusive
o regime de bens do casamento, se couber), a firma com a respectiva assinatura, o capital
destacado para a empresa, o objeto e a sede. Se quiser, pode tanto transformar-se em
empresa individual de responsabilidade limitada, se atender ao requisito de capital mínimo,
como pode transformar-se em sociedade empresária, caso venha a admitir sócios.
5. Empresário Rural – O empresário rural tem a opção de registrar-se na junta
comercial e será equiparado a empresário (CC, art. 971).
6. Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – Pode ser criada por uma
única pessoa natural, que só poderá ser titular de uma empresa dessa modalidade,
constituída com capital mínimo integralizado não inferior a cem salários mínimos (CC, art.
980-A).
7. Pequeno Empresário e Microempresário -- É possível ainda ao pequeno ou
microempresário beneficiar-se dos benefícios fiscais atribuídos a atividades de pequeno
porte em legislação especial.
Seção II – Capacidade
1. Regra geral – A regra geral é que pode exercer atividade de empresário os que
estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos. A
capacidade acha-se regulada nos arts. 972 a 980 do CC.
Capítulo II – Sociedade
1. Disposições Gerais – Celebram contrato de sociedade as pessoas que
reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens e serviços, para o exercício de atividade
econômica e a partilha, entre si , dos resultados.
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Tal atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados
(CC, art. 981). Como se vê, o contrato de sociedade abrange as atividades associativas com
fins econômicos e não requer necessariamente a personificação.
2. Dos tipos societários -- As atividades da sociedade podem ser empresariais ou
simples (significado de não empresariais). As sociedades por ações são sempre
empresárias, e as sociedades do tipo simples e cooperativas são sempre simples.
Os demais tipos societários comportam tanto atividades empresárias como simples,
sendo o mais utilizado a sociedade limitada.
Há tipos especiais, como a sociedade de advogados, regida pelo Estatuto dos
Advogados e pela regulamentação da Ordem dos Advogados do Brasil (CC, arts. 982 a
984).
3. Da Personalidade Jurídica – Esta só se adquire com a adoção de tipo societário
compatível com a personalização e a inscrição no registro próprio. Ou seja, a personalidade
depende sempre do registro e do tipo societário viável (CC, arts. 45, 985 e 1.150). Do
contrário, a sociedade será não personificada.
Capítulo III – Sociedade Não Personificada
1. Conceito – A sociedade não personificada é aquela que não adquire a
personalidade por ausência do registro necessário (caso da sociedade em comum) ou por
adotar tipo societário incompatível com a personificação (caso da sociedade em conta de
participação e do consórcio, este regido pela LSA, quando tem por objetivo atividade
econômica).
2. Sociedade em Comum – Regem-se as sociedades não registradas pelos arts. 986
a 990 do CC (exceto as sociedades por ações, que não admitem forma não personificada),
constituindo os bens e dívidas sociais patrimônio especial e respondendo todos os sócios
solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais.
Como a sociedade em comum não possui personalidade jurídica, a responsabilidade
dos sócios que contratarem em nome ou em representação da sociedade é principal e
direta, e não em caráter subsidiário.
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3. Sociedade em Conta de Participação – Este tipo societário resulta de atividade
exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua exclusiva
responsabilidade, participando os demais – chamados de sócios ocultos ou participantes –
dos resultados correspondentes, nos termos do contrato social e dos arts. 991 a 996 do CC.
As relações entre o sócio ostensivo e os sócios participantes ou ocultos é de
natureza contratual, de índole interna da sociedade, não produzindo efeitos em relação aos
terceiros que se relacionam com a sociedade em conta de participação exclusivamente
através do sócio ostensivo, que contrata em nome próprio, assumindo integral
responsabilidade pelos negócios da sociedade, geralmente em caráter ilimitado, a menos
que tenha sido contratada alguma limitação de responsabilidade nas relações com terceiros.
Capítulo IV – Sociedade Personificada
Seção I – Sociedade Simples
1. Contrato Social – a sociedade simples constitui-se mediante contrato escrito,
que pode ser particular ou público – geralmente será particular, contendo o seguinte
conteúdo mínimo, sem prejuízo de outras cláusulas estipuladas pelos sócios (art. 997, CC):
nome e qualificação dos sócios (são admitidos tanto sócios pessoas naturais como
pessoas jurídicas);
denominação, objeto, sede e prazo (pode ser determinado ou indeterminado) da
sociedade;
capital da sociedade, em moeda corrente nacional, podendo compreender qualquer
espécie de bens com valor econômico, suscetíveis de avaliação pecuniária;
a quota da cada sócio no capital social e o modo de realizá-la (pagá-la), ficando
certo que as quotas podem ter valor nominal igual ou desigual, podendo a
participação dos sócios diferenciar-se tanto pelo valor desigual das quotas, como
pela quantidade de quotas do mesmo valor nominal detidas pelos sócios;
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no caso do sócio de serviços, cuja contribuição consista em serviços, as prestações
a que se obriga o sócio;
as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, seus poderes e
atribuições (pode ser um ou mais administradores);
a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas (geralmente a participação é
proporcional ao valor das quotas dos sócios; no caso de sócio de serviços é
recomendável estabelecer com clareza a forma de sua participação nos lucros);
se os sócios respondem subsidiariamente ou não pelas obrigações sociais (se a
responsabilidade dos sócios for limitada ao capital social, é recomendável adotar o
tipo societário de sociedade limitada, para fins de segurança jurídica). Só haverá
solidariedade entre sócios, na responsabilidade subsidiária, se o contrato social
assim dispuser (art. 1.023, CC).
2. Prazo para registro – o contrato social deve ser registrado no Registro Civil de
Pessoas Jurídicas da sede no prazo de até trinta dias – que é o prazo geral para que os
efeitos do registro societário retroajam até a data do ato, conforme art. 998 e §2º do art.
1.151 do CC (as sociedades simples são registradas no Registro Civil das Pessoas
Jurídicas, as sociedades empresárias na Junta Comercial, conforme art. 1.150 do CC).
3. Modificações do Contrato Social – as alterações do contrato social, que tenham
por objeto as matérias elencadas no art. 997 do CC, dependem do consentimento de todos
os sócios, ou seja o quorum é de cem por cento dos sócios, inclusive sócios de serviço, se
houver.
As demais matérias do contrato social podem ser decididas por maioria absoluta de
votos (metade mais um do capital votante), se o contrato não determinar a deliberação
unânime (art. 999 do CC).
A sociedade simples segue a regência da teoria geral dos contratos, no sentido de
que o conteúdo do contrato só pode ser alterado com a concordância das partes
contratantes. Porém, essa disciplina extremamente conservadora – no plano do direito
societário – acaba tornando as sociedades simples de difícil manejo, pois ao menos as
matérias mais relevantes do contrato (como admissão de sócios, alteração de quotas,
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aumento do capital, alteração do objeto e dos administradores) dependerão do
consentimento de todos os sócios.
É possível até que este tipo societário não evolua e não seja utilizado em larga
escala, em função do caráter restritivo da deliberação unânime, a par da questão da
limitação da responsabilidade dos sócios ao capital social, que recomenda o uso do tipo
sociedade limitada, cuja utilização no nosso direito já é centenária e bem testada (sempre é
claro que for possível adotar a limitação de responsabilidade, como geralmente acontece).
4. Filiais – a abertura de filiais, sucursais ou agências, na jurisdição de outro
Registro Civil de Pessoas Jurídicos, requer a inscrição em tal Registro Civil, bem como a
averbação no cartório da sede (CC, art. 1.000).
5. Direitos e obrigações dos sócios – Os arts. 1.001 a 1.009 do CC regulam uma
série de obrigações dos sócios.
Em termos de direitos, tais dispositivos essencialmente asseguram ao sócio o direito
de participar dos lucros sociais, que será proporcional à respectiva quota, salvo estipulação
em contrário do contrato.
No tocante ao sócio de serviços, recomenda-se que o contrato seja explícito, pois o
art. 1.007 prescreve que este participa “dos lucros na proporção da média do valor das
quotas”, o que pode resultar em valores surpreendentes: se a sociedade tiver dois sócios de
capital, com oitenta e vinte por cento do capital, e um sócio de serviços, a média seria
cinquenta, o que faria com que o sócio de serviços recebesse mais do dobro do que o
menor sócio de capital, o que pode ser um absurdo. Para evitar tal resultado, cumpre fixar
no contrato a participação do sócio de serviços.
As obrigações podem ser resumidas como segue:
se iniciam com o contrato – se este não fixar outra data – e findam com a regular
extinção da sociedade;
o sócio só pode ser substituído com consentimento dos demais; a cessão sem
consentimento e sem alteração do contrato social é ineficaz perante os demais
sócios e a sociedade; na cessão regular, o cedente, até dois anos após averbada a
modificação do contrato, responde solidariamente com o cessionário perante a
sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio;
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os sócios são obrigados a contribuir para o capital social, nos termos e condições
previstos no contrato social e, após notificação prévia de trinta dias pela sociedade,
ficam constituídos em mora e sujeitos, conforme deliberação da maioria dos demais
sócios, à indenização, à exclusão ou à redução da respectiva quota aos valores
integralizados;
o sócio que transferir quota responde pela evicção, e pela solvência do devedor o
sócio que transferir crédito;
o sócio cuja prestação consista em serviços não pode, salvo convenção em
contrário, empregar-se em atividade estranha à sociedade, sob pena de ser privado
de seus lucros e dela excluído;
o sócio de capital participa das perdas em proporção à sua quota, salvo estipulação
em contrário do contrato, que não pode porém excluí-lo das perdas, sob pena de
nulidade;
a distribuição de lucros ilícitos ou fictícios – portanto em prejuízo do capital social
– acarreta responsabilidade solidária dos administradores que a realizaram e dos
sócios que os receberam, sabendo ou devendo saber da ilegitimidade.
6. Administração – Os arts. 1.010 a 1.021 do CC estabelecem as regras sobre
administração da sociedade simples.
No âmbito da administração, as decisões dos sócios são tomadas por maioria
absoluta de votos, segundo o valor das quotas de cada um; em caso de empate prevalece o
maior número de sócios; se permanecer o empate, decidirá o juiz.
O administrador deve ter, no exercício de suas funções, o cuidado e a diligência que
todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios.
Esse é o padrão clássico de diligência estabelecido pela legislação societária.
Não podem ser administradores pessoas impedidas por lei especial ou condenados a
pena que vede acesso a cargos públicos, ou por crime falimentar, de prevaricação,
corrupção ativa e passiva, concussão, peculato, , ou contra a economia popular, contra o
sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações
de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação.
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Aplicam-se, no que couber, aos administradores as disposições concernentes ao
mandato.
A nomeação do administrador feita em ato separado deve ser averbada à margem
da inscrição da sociedade no Registro Civil de Pessoas Jurídicas.
No silêncio do contrato, se a administração couber aos sócios, competirá
separadamente a cada um deles, podendo ainda os administradores isoladamente praticar
todos os atos pertinentes à gestão da sociedade, a menos que o contrato estabeleça
competência conjunta de dois ou mais administradores.
Se não constituir objeto da sociedade, a oneração ou venda de bens imóveis
depende do que a maioria dos sócios decidir.
As seguintes hipóteses podem ser invocadas para opor ao terceiro o excesso dos
administradores: se a limitação de poderes constar do registro da sociedade; provando-se
que era conhecida do terceiro; ou tratando-se de operação evidentemente estranha aos
negócios da sociedade.
Sobre os atos ultra vires e a teoria da aparência, vide Título I, Subtítulo I, Cap. I,
Sec. I, §§ 4.4 e 4.5.
O regime de responsabilidade dos administradores da sociedade simples é
subjetivo, respondendo por culpa no desempenho de suas funções, em caráter solidário,
perante a sociedade e terceiros prejudicados.
O administrador não deve praticar atos em situações de conflito de interesses com a
sociedade e não deve utilizar quaisquer bens da sociedade em proveito próprio ou de
terceiros – no último caso, salvo com o consentimento por escrito dos sócios.
É expressamente vedada a delegação de poderes pelo administrador; mandatários
podem ser nomeados para a prática de atos específicos.
Sócio investido na administração pelo contrato social não pode ser afastado sem o
consentimento de todos os sócios – inclusive o seu -- , salvo justa causa, reconhecida
judicialmente, a pedido de qualquer dos sócios.
No silêncio do contrato social, sócios ou terceiros nomeados por ato separado do
contrato podem ser afastados por maioria absoluta dos votos.
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Os administradores devem prestar contas aos sócios e levantar balanço patrimonial
e demonstração do resultado anualmente, ao fim do exercício, sem prejuízo do direito dos
sócios de a qualquer tempo examinar livros, documentos e a situação do caixa e da carteira
de clientes ou pedidos da sociedade, observado o disposto no contrato social.
7. Relações com Terceiros – Os arts. 1.022 a 1.027 do CC estabelecem normas
sobre as relações da sociedade com terceiros.
A representação ativa e passiva da sociedade perante terceiros, inclusive na
aquisição de direitos, assunção de obrigações e representação judicial, se dá através de seus
administradores. A administração da sociedade, assim, é o órgão social que detém tais
poderes de representação. Os sócios somente representarão a sociedade perante o mundo
exterior se também forem administradores.
O contrato social deve determinar se a responsabilidade dos sócios será subsidiária
ou não, isto é , se será ilimitada ou limitada ao capital social. No último caso, recomenda-
se adotar o tipo societário de sociedade limitada, face à segurança jurídica. No primeiro
caso, havendo responsabilidade subsidiária, e se os bens da sociedade não lhe cobrirem as
dívidas, respondem os sócios pelo saldo, na proporção em que participem das perdas
sociais – salvo disposição do contrato em sentido contrário, conforme percentual de
participação no capital social --, salvo cláusula de responsabilidade solidária (na sociedade
simples, só haverá solidariedade entre os sócios, pelas dívidas sociais remanescentes, se os
sócios tiverem contratado nesse sentido, inocorrendo presunção de solidariedade).
Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade,
senão depois de executados os bens sociais. É o chamado benefício de ordem ou de
excussão. Na medida em que a sociedade tem personalidade distinta dos sócios, a
responsabilidade destes, se houver, será sempre subsidiária, e não principal. As dívidas de
um não se confundem com as dívidas do outro. Este princípio pode sofrer exceção, em
concreto, pela aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica (vide
Título I, Subtítulo I, Cap. I, Sec. I, § 4.6), mas geralmente, mesmo na desconsideração,
observar-se-á a subsidiariedade, isto é, os bens dos sócios só serão atingidos se o
patrimônio da sociedade for insuficiente.
O sócio admitido em sociedade já constituída não se exime das dívidas sociais
anteriores à admissão, ficando certo que o cedente responde solidariamente pelo prazo de
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dois anos (art. 1003, CC). Convém na contratação ficar estabelecida a divisão de
responsabilidade entre cedente e cessionário e o eventual direito de regresso deste contra
aquele.
O credor particular de sócio pode, na insuficiência de outros bens do devedor, fazer
recair a execução sobre o que a este couber nos lucros da sociedade, ou na parte que lhe
tocar em liquidação. Se a sociedade não estiver dissolvida, pode o credor requerer a
liquidação da quota do devedor, cujo valor (apurado com base no art. 1.031 do CC) será
depositado em dinheiro no juízo da execução.
Pode o credor, portanto, na inexistência de outros bens do devedor, forçar a
resolução da sociedade em relação ao devedor, se a simples distribuição de lucros não for
suficiente ao pagamento da dívida.
A separação judicial ou divórcio de sócio, ou o falecimento de cônjuge de sócio, se
implicar em direito de partilha dos bens do sócio, não resultará na resolução forçada da
sociedade, que continuará operando enquanto estiver próspera. O cônjuge ou herdeiros
farão jus à parte que lhes couber nos lucros da sociedade, até que o sócio decida-se pela
liquidação de sua quota na sociedade, ou se mostrar inviável a continuação da mesma.
8. Resolução da Sociedade em relação a um Sócio – A resolução da sociedade em
relação a um sócio está regulada nos arts. 1.028 a 1.032 do CC.
No caso de morte, a resolução operará de pleno direito, salvo se : o contrato
dispuser de forma diversa; os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade;
ou se por acordo com os herdeiros regular-se a substituição do sócio falecido.
Também será de pleno direito a exclusão do sócio declarado falido e do sócio cuja
quota foi liquidada por seus credores. O sócio remisso pode ser excluído pela maioria dos
demais sócios, mediante simples deliberação destes (art. 1.004 e § único, CC).
Na sociedade a prazo indeterminado – em homenagem ao princípio contratual de
que as relações não são eternas ou perpétuas – o sócio pode retirar-se mediante notificação
aos demais sócios com antecedência mínima de sessenta dias. Nas sociedades a prazo
determinado – bem mais raras – a retirada depende de comprovação judicial de justa causa.
Num caso ou noutro, os demais sócios podem optar pela dissolução da sociedade.
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Pode ainda o sócio ser excluído judicialmente, mediante iniciativa da maioria dos
demais sócios, por falta grave no cumprimento de suas obrigações, ou por incapacidade
superveniente.
Salvo disposição do contrato social em contrário, na resolução da sociedade em
relação a um sócio deverá ser liquidada a sua quota, considerada pelo montante realizado
(integralizado), com base na situação patrimonial da sociedade, à data da resolução,
verificada em balanço especialmente levantado.
O balanço contábil geralmente não reflete o justo valor da quota. Por isso, a
jurisprudência geralmente acrescenta, em face do caso concreto, importâncias a título de
fundo de comércio ou do valor de mercado de bens, geralmente calculados segundo prova
pericial. Uma opção é o contrato social estabelecer avaliação econômica da sociedade para
fins de determinação do justo valor da quota liquidada, segundo critérios previamente
definidos.
A quota liquidada deverá ser paga em dinheiro, no prazo de noventa dias da
liquidação, a menos que o contrato disponha em sentido contrário.
Na liquidação da quota, o capital social sofrerá a correspondente redução, salvo se
os demais sócios suprirem o valor da quota.
A retirada, exclusão ou morte de sócio não o exime, ou a seus herdeiros, da
responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores, até dois anos após averbada a
resolução da sociedade no registro próprio. Na retirada ou exclusão, as obrigações
persistirão até a averbação.
9. Dissolução – A dissolução da sociedade simples está regulada nos arts. 1.033 a
1.038 do CC. A liquidação e extinção está tratada mais adiante, nos arts. 1.102 a 1.112, e
será objeto da Seção IX a seguir. À dissolução segue-se a liquidação e extinção. O
processo de encerramento de atividades de uma pessoa jurídica é complexo, requer o ato
de dissolução, a fase de liquidação para apuração de ativos e pagamento de passivos, e a
extinção, com o fim da liquidação. Tratamos a seguir da etapa da dissolução.
Dissolve-se a sociedade de pleno direito quando ocorrer: (a) vencimento do prazo
de duração na sociedade a prazo determinado, salvo se, sem oposição de sócio, a sociedade
não entrar em liquidação, caso em que passa a vigorar a prazo indeterminado; (b) consenso
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unânime dos sócios, na sociedade a prazo determinado; (c) deliberação da maioria absoluta
dos sócios, na sociedade a prazo indeterminado; (d) falta de pluralidade de sócios, não
reconstituída no prazo de cento e oitenta dias, salvo em caso de transformação da
sociedade em empresário individual; (e) extinção de autorização para funcionar, se for
aplicável.
Pode ainda a sociedade ser dissolvida judicialmente, a pedido de qualquer dos
sócios, quando: (a) anulada sua constituição, em virtude de algum vício insanável do ato de
constituição; ou (b) exaurido o fim social, ou verificada sua inexequibilidade.
Por fim, o contrato social pode prever outras causas de dissolução, que serão
verificadas judicialmente, se houver contestação por parte de qualquer sócio.
Ocorrida a dissolução, os sócios deverão providenciar a liquidação da sociedade,
nomeando o liquidante, observado o disposto no contrato social.
Nas sociedades autorizadas a funcionar, o Ministério Público pode promover a
liquidação judicial, se os sócios não tiverem nomeado liquidante ou se os administradores
não tiverem investido o liquidante em suas funções, no prazo de trinta dias seguintes à
perda da autorização de funcionamento. Na inércia do Ministério Público, a autoridade
competente para a autorização pode nomear interventor, até que nomeado o liquidante.
Uma alternativa à dissolução e liquidação é a alteração do objeto social, se viável,
passando a sociedade a desempenhar atividades para as quais não dependa de autorização
de funcionamento.
Ocorrendo a dissolução, os administradores devem investir o liquidante e limitar a
gestão própria aos negócios inadiáveis e em curso, vedadas novas operações, pelas quais os
administradores ou liquidante, conforme o caso, responderão solidária e ilimitadamente
(CC, art. 1.036).
Seção II – Sociedade em Nome Coletivo
Está regulada singelamente nos arts. 1.039 a 1.044 do CC, e subsidiariamente pelas
regras aplicáveis à sociedade simples. Somente pessoas físicas podem ser sócios de
sociedade em nome coletivo, respondendo solidária e ilimitadamente pelas obrigações
sociais, porém em caráter subsidiário (art. 1.024, CC).
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Funciona sob firma social, que deve indicar o nome dos sócios ou do sócio
principal, podendo ser seguida pela expressão & companhia, ao final (não devendo ser
confundida com a expressão companhia no início do nome empresarial, que designa
sociedade anônima)
Os sócios podem limitar entre si a responsabilidade de cada um, mas sem efeito
perante terceiros. Nesse caso, haverá direito de regresso entre os sócios.
Este tipo societário tem origem nas antigas sociedades medievais e está em
completo desuso em nosso direito, pelo regime de responsabilidade ilimitada. Hoje, as
atividades empresariais podem ser conduzidas através de sociedades anônimas ou
limitadas, com maior proteção ao patrimônio dos sócios.
Seção III – Sociedade em Comandita Simples
Está regulada singelamente nos arts. 1.045 a 1.051 do CC, e subsidiariamente pelas
regras da sociedade em nome coletivo e da sociedade simples. Há duas categorias de
sócios: os comanditados, sempre pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente
pelas obrigações sociais; e os comanditários, que podem ser pessoas físicas ou jurídicas,
obrigados somente pelo valor de sua quota. As duas categorias devem ser identificadas no
contrato social.
Este tipo societário decorre de uma primeira evolução da sociedade em nome
coletivo, permitindo sócios investidores de responsabilidade limitada, chamados
comanditários, mas que não dão nome e não participam da administração da sociedade, sob
pena de serem equiparados aos sócios comanditados. Pelo regime de responsabilidade
ilimitada destes últimos, este tipo societário também está em completo desuso, suplantado
pelas sociedades anônimas e limitadas.
Seção IV – Sociedade Limitada
1. Disposições preliminares – Está regulada nos arts. 1.052 a 1.087 do CC,
subsidiariamente pelas regras da sociedade simples e, se houver eleição do contrato social,
supletivamente pelas normas da sociedade anônima. A responsabilidade de cada sócio é
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restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização
do capital social. É sucessora da antiga sociedade por quotas de responsabilidade limitada,
introduzida no direito brasileiro no início do século XX, pelo Decreto nº 3.708/1919, e que
vigorou com pleno êxito por quase cem anos. Este tipo societário suplantou os demais
tipos de sociedades de pessoas, sempre que admitida a limitação da responsabilidade dos
sócios, em virtude da proteção que enseja ao patrimônio dos mesmos, estimulando o risco
e as atividades de caráter empresarial. Juntamente com a sociedade anônima a limitada
constitui-se no principal tipo societário em uso no Brasil.
Pode funcionar sob firma ou denominação social, conforme antiga tradição desde o
citado Decreto nº 3.708/1919. Na prática, não se utiliza mais firma na limitada – ou seja, o
uso do nome dos sócios ou do principal sócio para designar a sociedade – mas a
denominação social, nome de fantasia que até pode incorporar o nome de um ou mais
sócios, contendo ainda referência ao objeto social e a expressão limitada por extenso ou
abreviadamente – ltda.
Como se observará mais adiante, a nova regulação pelo CC agregou dois problemas
fundamentais a afetar a simplicidade e praticidade da antiga limitada – que serviu por
quase cem anos aos pequenos e médios empresários brasileiros, com pleno êxito: o quorum
de deliberação dos sócios é quase sempre elevado (3/4 ou 2/3), afastando-se da tradição da
maioria simples geralmente adotada na prática brasileira; e a estrutura geral de
funcionamento passou a ser mais complexa, deixando de lado o perfil singelo da limitada.
2. Quotas – O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma
ou diversas a cada sócio. Na prática, o contrato social geralmente adota quotas do mesmo
valor nominal, atribuindo a cada sócio a quantidade de quotas correspondente à sua
participação. Mas como o valor das quotas depende da regulação pelo contrato social, o
valor nominal tem função imprescindível tanto na limitada como nas demais sociedades de
pessoas, pois a quota de cada sócio determina os direitos políticos e patrimoniais, na
medida em que no silêncio do contrato social os sócios participam dos lucros e votam
conforme o valor de suas quotas.
O capital social pode ser integralizado em dinheiro, bens ou direitos suscetíveis de
avaliação econômica. Pela exata estimação dos bens ou direitos conferidos ao capital
respondem solidariamente todos os sócios, pelo prazo de cinco anos a contar do registro da
constituição da sociedade ou do aumento do capital.
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É vedada contribuição ao capital que consista na prestação de serviços.
A quota é indivisa em relação à sociedade e, em caso de condomínio, os
condôminos respondem solidariamente pela integralização da mesma.
No silêncio do contrato social, os sócios podem ceder suas quotas entre si
livremente, mas a terceiros apenas com a concordância de sócios representando ¾ (75%)
do capital social.
A cessão de quota só é eficaz perante a sociedade e terceiros após a averbação do
respectivo instrumento na junta comercial, subscrito pelo cedente, pelo cessionário e pelos
sócios anuentes, se for necessário. Tanto pode ser instrumento de cessão de quotas como
alteração do contrato social. Pelo prazo de dois anos, a contar da averbação, responde o
cedente solidariamente com o cessionário, perante a sociedade e terceiros, pelas obrigações
que tinha como sócio, até a data da cessão (art. 1.003, CC).
Em caso de não integralização de sua quota, o sócio remisso fica sujeito à exclusão
e transferência das quotas aos demais sócios ou terceiros, com a devolução do que houver
pago, deduzidos os juros de mora, as prestações estabelecidas no contrato mais as
despesas, sem prejuízo da opção dos demais sócios de fazer a cobrança, respondendo o
sócio remisso pelo dano emergente da mora, ou de reduzir-lhe a quota ao montante já
realizado, com a correspondente redução do capital social ou assunção da parte não
realizada pelos demais sócios.
Tendo em vista o princípio da intangibilidade do capital social, os sócios são
obrigados à reposição das quantias retiradas a título de lucros ou dividendos, quando a
distribuição for feita em prejuízo do capital social. Em outras palavras, só pode haver
distribuição aos sócios se os lucros auferidos pela sociedade suportarem tal distribuição.
3. Administração – A sociedade é administrada por uma ou mais pessoas naturais
designadas no contrato social ou em ato separado. Como é vedada a delegação dos poderes
de administração (art. 1.018, CC), não é mais admitido administrador pessoa jurídica, que
necessariamente teria que delegar os respectivos poderes. O uso da firma ou denominação
é privativo dos administradores que tenham os necessários poderes.
Os sócios posteriormente admitidos só se tornarão administradores se houver
expressa disposição no contrato social em tal sentido, mesmo se antes de sua admissão o
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contrato social atribuir a administração a todos os sócios, pois a extensão da administração
aos novos sócios não se verifica de pleno direito.
A designação de administradores não sócios depende de quorum qualificado:
unanimidade dos sócios, se o capital não estiver ainda integralizado; e 2/3 no mínimo do
capital social, após a integralização. A designação de administradores sócios, por ato em
separado, está sujeita à aprovação de mais da metade do capital social. A designação no
contrato social dependerá dos termos deste.
O administrador nomeado em ato separado do contrato social deve investir-se no
cargo mediante termo de posse no livro de atas da administração, que deve ser firmado
dentro de trinta dias (sob pena da designação tornar-se sem efeito) e averbado no registro
competente da sociedade (junta comercial ou registro de pessoas jurídicas) nos dez dias
seguintes à investidura, acompanhado da qualificação completa do administrador e do ato
de nomeação, do qual deverá constar o prazo de gestão – a prazo certo ou a prazo
indeterminado.
A formalidade do termo de posse não é necessária quando o administrador for
nomeado no contrato social.
O exercício do cargo de administrador cessa pela destituição, a qualquer tempo, do
titular, ou pelo término do prazo se, fixado no contrato ou em ato separado, não houver
recondução, mas a cessação só produz efeitos se for feita a averbação no registro
competente dentro de dez dias da ocorrência, com nomeação do substituto, se for o caso,
pois a sociedade não pode ficar privada de administração.
A destituição de sócio nomeado administrador no contrato social submete-se ao
quorum de 2/3 do capital social, salvo disposição contratual diversa. Nas demais hipóteses
de destituição de administrador – sócio nomeado em ato separado ou não sócio nomeado
no contrato ou em ato separado, o quorum legal é de maioria absoluta, i.e. mais da metade
do capital social (art. 1.071, III c/c art. 1.076, II do CC).
A renúncia de administrador torna-se eficaz, em relação à sociedade, desde o
momento em que esta toma conhecimento da comunicação escrita do renunciante. Mas em
relação a terceiros, a renúncia só produz efeitos após averbada no registro competente e
publicada (arts. 1.063, § 3º c/c 1.152, §1º do CC). Essa exigência da publicação é um plus
e um erro, pois a limitada como regra só está sujeita à publicidade do registro, não se lhe
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aplicando como regra a exigência de publicação de seus atos. Mas enquanto não alterada a
lei, a publicação, por cautela, deve ser feita.
Os administradores devem prestar contas ao término de cada exercício social e
apresentar aos sócios, para aprovação, o balanço patrimonial, a demonstração do resultado
e demais demonstrações financeiras aplicáveis, como previsto no art. 1.078 do CC. Esse é
o método de aprovação de contas na limitada.
4. Conselho Fiscal – O CC (art. 1.066) trouxe a inovação, inspirada nas sociedades
anônimas, de permitir a instituição pelo contrato social de conselho fiscal, com a finalidade
de fiscalizar a administração da sociedade, composto por três ou mais membros e
respectivos suplentes, sócios ou não, eleitos na assembleia anual, com mandato até a
assembleia anual subsequente (ou seja, o mandato refere-se ao exercício social em relação
ao qual o conselho fiscal deve exercer seus poderes de fiscalização).
A inovação constitui mera faculdade dos sócios, a ser introduzida ou não no
contrato social, que podem optar ou não pela solução do conselho fiscal.
Sócios minoritários que representem, em conjunto, ao menos 20% (vinte por cento)
do capital social, terão o direito de eleger, em votação em separado, um dos membros do
conselho fiscal e respectivo suplente. Serão eleitos os que obtiverem o maior número de
votos dentre os minoritários.
Não podem fazer parte do conselho fiscal pessoas inaptas para exercício da
administração (CC, art. 1011, §1º), os membros de outros órgãos da sociedade ou de outra
sociedade por ela controlada, os empregados de qualquer delas ou dos respectivos
administradores, o cônjuge ou parente destes até o terceiro grau.
Normas sobre a posse dos conselheiros fiscais, remuneração e poderes de
fiscalização estão previstas nos arts. 1.067 a 1.070 do CC.
5. Deliberações dos sócios – Uma das grandes inovações do CC é o
estabelecimento de quorum qualificado – e em geral elevado (2/3 ou 3/4 do capital social)
– para as deliberações mais relevantes da limitada. Rompe assim o CC com a tradição do
direito brasileiro de permitir a existência de limitadas regidas pelo sistema majoritário
simples ou de maioria absoluta, que predominaram até a vigência do CC.
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Uma primeira questão que se impõe é sobre a natureza meramente dispositiva ou
supletiva do quorum qualificado, que poderia ser afastado por disposição contrária do
contrato social, embora o CC não seja expresso no sentido de admitir que o contrato social
possa chegar a tanto. O fato é que o quorum de deliberação em sociedade de pessoas não
visa a princípio a proteger interesses públicos ou coletivos, mas é norma de disciplina
rigorosamente privada. Assim, a natureza da norma legal não seria cogente ou imperativa,
pois não há interesse de ordem pública a ser tutelado. Via de consequência, e apesar da má
técnica empregada pelo CC no particular, seria de rigor admitir-se disposição expressa do
contrato social a derrogar o quorum legal de natureza dispositiva ou supletiva, admitindo-
se inclusive a deliberação por maioria simples ou absoluta, como de tradição nas limitadas.
É recomendável que a matéria seja aperfeiçoada em oportuna atualização legislativa
do CC, inclusive para evitar insegurança jurídica. Até lá, a jurisprudência dirá se as regras
sobre quorum qualificado são meramente dispositivas ou supletivas – admitindo disposição
do contrato social em sentido contrário – ou se seriam cogentes e imperativas – não
admitindo o exercício da autonomia da vontade quanto ao tema. Aos que quiserem evitar a
polêmica até que a matéria seja pacificada, inclusive para adotar o princípio majoritário
simples ou absoluto, a solução será recorrer ao tipo societário das companhias ou
sociedades anônimas, como medida de segurança jurídica. E aí reside a minha maior crítica
ao sistema das limitadas no CC.
No sistema do CC deve observar-se o seguinte quanto ao quorum de deliberação
nas limitadas, tomando-se como referência a participação no capital social:
– unânime: transformação em outro tipo societário (a menos que haja autorização
do contrato social, hipótese em que a deliberação poderá ser majoritária),
conforme art. 1.114 do CC; mudança de nacionalidade de sociedade brasileira
(CC, art. 1.127); designação de administradores não sócios até a integralização
do capital social (CC, art. 1.061, primeira parte);
– três quartos (3/4): modificação do contrato social; incorporação, fusão, cisão e
dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de liquidação (pela natureza
envolvendo a reestruturação do patrimônio de sociedades, a cisão deve ser
considerada incluída no quorum, bem como a declaração de falência, pelo início
do processo de dissolução da sociedade);
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– dois terços (2/3): designação de administradores não sócios após integralizado o
capital social; destituição de sócio administrador nomeado no contrato social (a
menos que o contrato social contenha disposição diversa, CC, art. 1.063, § 1º);
– maioria absoluta (mais da metade do capital social): designação dos
administradores sócios, quando feita em ato separado; destituição de
administradores não sócios ou sócios designados em ato separado do contrato
social; remuneração dos administradores sócios ou não, quando não estabelecido
no contrato social; pedido de recuperação judicial ou extrajudicial, como
previsto em lei (a recuperação substitui a concordata, instituto referido no inciso
VIII do art. 1.071 do CC);
– maioria simples dos votos dos presentes nos demais casos previstos em lei ou no
contrato social, se este não dispuser sobre quorum qualificado, inclusive a
aprovação das contas da administração, que é a única matéria de competência
privativa da assembleia ou reunião dos sócios dentre as previstas no.rol do art.
1.071 do CC cujo quorum supletivo de deliberação é a maioria simples.
O rol de matérias que requerem deliberação formal dos sócios deve ser objeto de
deliberação em reunião ou assembleia de sócios, conforme art. 1.072 do CC.
Segundo o referido art. 1.072 do CC, a assembleia será obrigatória se o número de
sócios for superior a dez. Se o número de sócios for igual ou inferior a dez, o contrato
social deverá disciplinar se as deliberações dos sócios serão tomadas em assembleia formal
ou mera reunião.
Convém ao contrato social regular o modo de convocação da reunião de sócios se
estes forem iguais ou inferiores a dez, pois do contrário aplicar-se-á a regra do art.1.152,
§3º, no sentido de exigir-se convocação pública pela imprensa (aplicável à assembleia de
sócios).
De toda forma, as formalidades de convocação, tanto da reunião como da
assembleia, serão dispensadas quando todos os sócios comparecerem ou se declararem
cientes, ou quando todos decidirem por escrito sobre as matérias objeto da convocação,
como previsto nos §§ 2º e 3º do art. 1.072 do CC.
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No silêncio do contrato social, as regras legais sobre a assembleia de sócios serão
aplicáveis à reunião de sócios, conforme §6º do art. 1.072 do CC, bem como art. 1.079 do
CC.
É recomendável, por conseguinte, que o contrato social seja minucioso quanto à
regulação da reunião de sócios, se for objetivo destes afastar a disciplina supletiva da
assembleia de sócios.
A competência supletiva para convocação dos sócios para reunião ou assembleia
está regulada no art. 1.073 do CC. A instalação da assembleia, formação da mesa,
elaboração da ata e apresentação para arquivamento na junta comercial dentro de vinte dias
da deliberação estão previstos no art. 1.075 do CC. O prazo de vinte dias e a exigência de
arquivamento na junta comercial aplicam-se tanto à assembleia como à reunião de sócios,
pois não há sentido exigir-se o requisito de publicidade (i.e. arquivamento) num caso e não
no outro. Cumpre notar que tal dispositivo varia do prazo geral de apresentação para
arquivamento dentro de trinta dias (para fins de retroação dos efeitos do arquivamento à
data do ato), como consagrado no Direito Comercial brasileiro e previsto no art. 1.151, §1º
do CC, prescrevendo prazo especial de vinte dias para apresentação de atas de reuniões ou
assembleias de sócios à junta comercial, sob pena dos efeitos do ato só se produzirem a
contar da data do arquivamento (i.e. sem retroação à data do ato se houver excesso na
apresentação à junta comercial do prazo de vinte dias).
As deliberações tomadas em assembleia ou reunião de sócios, de conformidade
com a lei e o contrato social – e aí surge mais uma vez o caráter supletivo ou dispositivo,
de um lado, ou imperativo ou cogente, de outro, do quorum de deliberação quando taxativo
no CC --, vinculam todos os sócios, ainda que ausentes ou dissidentes (CC, art. 1.072, §5º),
ficando certo que eventuais deliberações infringentes do contrato ou da lei não vinculam
estes últimos e tornam ilimitada a responsabilidade dos que expressamente as aprovaram, a
teor do art. 1.080 do CC.
A assembleia ou reunião de sócios deverá realizar-se ao menos uma vez ao ano, nos
quatro meses seguintes ao término do exercício social, com o objetivo de tomar as contas
dos administradores e deliberar sobre as demonstrações financeiras do exercício (balanço
patrimonial e o de resultado econômico); designar administradores e fixar-lhes a
remuneração, quando for o caso; e tratar de qualquer outro assunto constante da ordem do
dia.
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Na limitada tal assembleia ou reunião anual pode assim tratar de qualquer matéria
de interesse dos sócios, desde que conste da ordem do dia, não ficando restrita ao rol de
matérias clássicas da assembleia geral ordinária das companhias.
A aprovação sem reserva das demonstrações financeiras, salvo erro, dolo ou
simulação, exonera de responsabilidade os membros da administração e do conselho fiscal
(se em funcionamento).
O prazo decadencial para anular a aprovação das demonstrações financeiras é de
dois anos, a contar da deliberação (CC, §4º do art. 1.078), ficando certo que a ata da
reunião ou assembleia deve ser apresentada a arquivamento na junta comercial dentro de
vinte dias a contar do evento (CC, §2º do art. 1.075), sob pena de o prazo só se contar da
data do arquivamento (CC, §2º do art. 1.151).
O mesmo pode ser dito do prazo decadencial de trinta dias para exercício do direito
de retirada de sócio que tenha dissentido de deliberação relativa à modificação do contrato
social, fusão, cisão ou incorporação da sociedade ou de outra sociedade por ela. Embora a
cisão tenha sido omitida pelo art. 1.077 do CC, a natureza de reestruturação do patrimônio
da sociedade é a mesma e, portanto, o direito de retirada deve incidir na espécie. Ao direito
de retirada e no silêncio do contrato aplica-se a regra supletiva de apuração de haveres pelo
valor de patrimônio líquido contábil, como prevista pelo art. 1.031 do CC.
É importante enfatizar que as deliberações infringentes do contrato social ou da lei
tornam ilimitada a responsabilidade dos que expressamente as aprovaram, conforme art.
1.080 do CC. Tal exceção pode aplicar-se à distribuição irregular de lucros que leve a
sociedade à insolvência, à dissolução irregular de sociedade, à prática de caixa dois, e
outros eventos irregulares. Em tal caso a responsabilidade dos sócios faltosos poderá ser
direta ou subsidiária, dependendo da natureza do evento.
6. Aumento e Redução do Capital – classicamente, o aumento é a regra, podendo
operar-se quando a sociedade necessite de novos recursos ou sócios para o prosseguimento
de suas atividades, e a redução é a exceção, só cabendo quando há excesso de capitalização
ou para absorção de prejuízos acumulados (arts. 1.081 a 1.084 do CC), sempre mediante
deliberação dos sócios e modificação do contrato social, com o devido registro na junta
comercial.
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O aumento pode ser realizado após a integralização do capital, através da
capitalização de reservas livres existentes na sociedade ou da subscrição de novas quotas,
com ingresso de novos recursos. No caso de subscrição de novas quotas, os sócios têm
preferência para participar do aumento, na proporção de suas quotas, pelo prazo de ao
menos trinta dias a contar da deliberação que aprovou o aumento (art. 1.081 e §§). Na
capitalização de reservas os sócios mantêm inalterada sua participação proporcional no
capital social. O mesmo dispositivo do CC prevê a possibilidade de cessão do direito de
preferência, observadas as mesmas regras sobre a cessão de quotas, conforme art. 1.057 do
CC. A cessão, se houver, pode ser onerosa ou gratuita.
A redução por excesso de capitalização implica em redução do capital, via
devolução dos recursos aos sócios ou dispensa das prestações ainda devidas, no todo ou em
parte, com diminuição proporcional do valor nominal das quotas ou cancelamento
proporcional das quotas sociais, se tiverem o mesmo valor nominal. A eficácia da
deliberação de redução, no caso, fica sujeita à não oposição de credores quirografários por
título líquido anterior à deliberação de redução, manifestada no prazo decadencial de
noventa dias da data de publicação da ata da assembleia ou reunião de sócios que deliberar
a redução- nesse caso a publicação da ata é essencial para a fluência do prazo- ou se
provado o pagamento ou o depósito judicial do respectivo valor.
7. Dissolução – a matéria sobre dissolução, liquidação e extinção da limitada, tenha
ou não regência supletiva pela legislação aplicável às sociedades anônimas (art. 1.053, §
único do CC), é tratada nas regras gerais do CC (art. 1.087 c/c arts. 1.102 a 1.112).
Seção V – Sociedade Anônima
O CC remete a regulação da sociedade anônima ou companhia à legislação
especial, aplicando-se as suas disposições apenas subsidiariamente (arts. 1.088 e 1.089).
Em linha com a LSA, limita-se a estabelecer que o capital da companhia dividi-se em
ações e a responsabilidade dos sócios é limitada ao preço de emissão das ações subscritas
ou adquiridas.
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Seção VI – Sociedade em Comandita por Ações
Com ligeiras variações sem significação de substância, os arts. 1.090 a 1.092 do
CC reproduzem os arts. 280 a 283 da LSA. A diferença mais marcante é que a sociedade
em comandita por ações, no regime do CC, tanto pode operar sob firma ou denominação
designativa de seu objeto social, aditada da expressão comandita por ações (art. 1.161 do
CC). Na LSA, só há previsão da sociedade em comandita por ações operar sob firma ou
razão social da qual só farão parte os nomes dos sócios diretores. Em qualquer caso, os
sócios diretores respondem subsidiária, solidária e ilimitadamente pelas obrigações
sociais. Na divergência, que é pequena, prevalece o CC, que é a lei mais recente. O CC
também estabelece prazo de dois anos de responsabilidade dos diretores destituídos ou
exonerados pelas obrigações sociais contraídas sob sua administração.
Os sócios diretores são necessariamente pessoas naturais, sendo sócios
comanditados (responsabilidade ilimitada), e os demais, pessoas físicas ou jurídicas, são
os sócios comanditários (responsabilidade limitada ao preço de emissão das ações
adquiridas ou subscritas).
A assembleia geral não pode, sem o consentimento dos diretores, mudar o objeto
essencial da sociedade, prorrogar-lhe o prazo de duração, aumentar ou diminuir o capital
social, criar debêntures, ou partes beneficiárias.
Este tipo societário está em desuso há anos, tendo sido inteiramente suplantado
pelas sociedades anônimas e limitadas, tendo em vista a limitação da responsabilidade nas
últimas.
Cabe fazer a ressalva de que o projeto da LSA propunha a admissão de pessoas
jurídicas como sócios comanditados, como ocorre em geral na Europa (Alemanha e
Luxemburgo, dentre outros), o que permitiria a viabilização do tipo societário, pois a
limitação de responsabilidade poderia estar no nível acima dos sócios. Aí haveria a
utilidade do tipo societário, em situações em que é relevante chamar a garantia de crédito
dos sócios, que estão dispostos a assumir a responsabilidade ilimitada, pois a limitação
estará presente no segundo nível. Grupos europeus fazem gozo desta forma societária
para, por exemplo, trazer melhor classificação de risco a empresas de captação de recursos
do conglomerado, que se beneficiam do crédito de empresas operacionais do mesmo
grupo, via atuação como sócias comanditadas, para fazer a captação de recursos
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financeiros àquele grupo econômico, utilizando plenamente o potencial de crédito do
conjunto.
Seção VII – Sociedade Cooperativa
É tipo especial de sociedade, regida pelos arts. 1.093 a 1.096 do CC e por várias leis
especiais, como as Leis 5.764/71, 8.630/93, 9.867/99 e a LC 130/09, regulando atividades
produtivas rurais e urbanas dos cooperativados (produtores de café, açúcar, mel,
trabalhadores portuários avulsos, serviços de táxi e vans, serviços médicos, dentre muitos
outros), bem como atividades de cooperativas sociais e de crédito cooperativo.
Podem ou não ter capital social e a responsabilidade dos sócios pode ser limitada ou
ilimitada. No primeiro caso, o sócio responde somente pelo valor de suas quotas e pelo
prejuízo verificado nas operações sociais, guardada a proporção de sua participação. No
segundo caso, o sócio responde solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, mas
em caráter subsidiário, em vista da personificação da cooperativa.
A sociedade cooperativa é necessariamente simples, como gênero, mas seu registro
deve ser feito na junta comercial, por força da Lei nº 5.764 (cf. Enunciado nº 69 do CEJ). É
regida subsidiariamente pelas normas da sociedade simples (espécie).
Seção VIII – Sociedades Coligadas
Ao trazer as regras de coligação e controle para o seu texto (arts 1.097 a 1.101),
visando em certa medida qualificar o chamado grupo de fato, o CC causa uma certa
confusão conceitual com a LSA, que possui regulação mais atual sobre a matéria, inclusive
por força de alterações posteriores ao CC, e que prevalecem tanto pela norma especial
como pela mais nova, no que tange às sociedades por ações.
Primeiro, como gênero, o CC define coligadas como sendo controladas, filiadas
(que o CC usa no sentido de coligadas em espécie, enquanto a LSA trata filiadas como
sinônimo de controladas) ou de simples participação (categoria que não inclui a simples
participação em eventual grupo de fato e, a princípio, é irrelevante para o Direito, por isso
mesmo é ignorada na LSA).
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Trata em seguida o CC de controle direto e indireto de uma sociedade por outra,
segundo o conceito clássico de que controle significa possuir a maioria de votos nas
deliberações sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores - conceito esse que,
nas limitadas, ficou pouco nítido ou ao menos diluído pelo quorum muito elevado das
deliberações mais relevantes naquelas sociedades.
O conceito de coligação stricto sensu do CC, já ultrapassado pelas modificações na
LSA, que promoveram sua adaptação ao padrão internacional de normas contábeis (IFRS),
é de que há coligação quando uma sociedade participa do capital de outra com dez por
cento ou mais, sem controlá-la. Hoje basta que haja relevância do investimento para que
haja coligação. A presunção da LSA é de que há coligação quando uma sociedade possui
vinte por cento ou mais do capital de outra, sem controlá-la.
Por fim, o CC estabelece regras sobre participação recíproca de sociedades,
limitando-a às reservas livres, estabelecendo prazo máximo de cento e oitenta dias da
aprovação do balanço para eliminação de participação recíproca excessiva e suspendendo o
respectivo direito de voto no período em que verificado o excesso. Nas sociedades
anônimas, em qualquer caso, as ações da controladora de propriedade da controlada terão
suspenso o direito de voto (LSA, art. 244, §2º).
Seção IX – Liquidação da Sociedade
As normas sobre liquidação e extinção das sociedades de pessoas, uma vez ocorrida
sua dissolução, são essencialmente de procedimento e estão disciplinadas nos arts. 1.102 a
1.112 do CC, que são complementados pelas regras do contrato social e da deliberação dos
sócios, se houver. O fundamental é perceber que a extinção da pessoa jurídica percorre um
caminho complexo: regular dissolução, nos termos da lei, do contrato social e da
deliberação dos sócios, se houver; fase de liquidação para apuração dos ativos e pagamento
dos passivos, sendo o saldo distribuído entre os sócios; declaração de extinção com a
aprovação das contas do liquidante e o regular encerramento da fase de liquidação.
O liquidante deve limitar-se aos atos necessários à ultimação dos negócios da
sociedade, realização do ativo, pagamento do passivo e partilha do remanescente entre os
sócios, sendo-lhe vedado prosseguir na atividade social regular, embora a sociedade
preserve a personalidade jurídica até que finda a fase de liquidação. A firma ou
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denominação social deve passar a ser seguida pela expressão “em liquidação” (arts. 1.103,
(iv) e § único c/c 1.105, § único).
No caso de liquidação judicial, será observado o disposto na lei processual, e, em se
tratando de falência, na lei falimentar (CC, art. 1.111).
Os instrumentos de dissolução e de encerramento da liquidação e extinção da
sociedade devem ser registrados no registro próprio, dando-se baixa ainda em todas as
inscrições fiscais da sociedade e publicando-se a ata de reunião ou assembleia que
encerrou a fase de liquidação e aprovou a extinção da sociedade.
O sócio dissidente na aprovação das contas do liquidante tem até trinta dias, a
contar da publicação da ata de reunião ou assembleia que encerrou a fase de liquidação e
aprovou a extinção da sociedade, para promover a ação cabível.
O credor não satisfeito só terá direito de exigir dos sócios, individualmente, o
pagamento de seu crédito, até o limite da soma por eles recebida em partilha, e a propor
contra o liquidante ação de perdas e danos.
Seção X – Transformação, Incorporação, Fusão e Cisão de Sociedades
Os conceitos de transformação, incorporação, fusão e cisão não chegaram a ser
desenvolvidos de modo tão completo como na LSA, mas cabe fazer um resumo da matéria.
1. Transformação – regulada pelos arts. 1.113 a 1.115 do CC, consiste na
transformação de um tipo societário em outro, desde que haja compatibilidade, sem
implicar em solução de continuidade da sociedade (que assim não passa por dissolução e
liquidação), adaptando-se o contrato ou estatuto social segundo os preceitos reguladores da
constituição e inscrição próprios do tipo em que vai converter-se a sociedade e fazendo-se
o arquivamento dos atos de transformação nos registros próprios. Geralmente é feita
mediante a transformação de limitada em sociedade anônima e vice-versa, mas qualquer
tipo societário pode estar envolvido, se adequado à atividade e respectivo objeto social. Em
situações excepcionais, até mesmo uma associação sem fins lucrativos poderá ser
transformada em sociedade, como ocorreu no processo de desmutualização das bolsas de
valores (estas, antes sujeitas à regulamentação que as tratava como associações civis sem
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fins lucrativos, foram autorizadas pelo Conselho Monetário Nacional e pela CVM a se
converterem em sociedades anônimas).
A transformação depende do consentimento unânime dos sócios, salvo se
previamente autorizada pelo estatuto ou contrato social, caso em que o dissidente poderá
retirar-se pelos critérios de reembolso ou apuração de haveres aplicáveis (no silêncio do
estatuto ou contrato social, consistem no valor de patrimônio liquído das participações
objeto da retirada). A LSA, no art. 221, §único, admite a renúncia ao direito de retirada no
contrato social, em caso de transformação em companhia. Não faz o mesmo na situação
oposta, de transformação em outro tipo societário, até porque o direito de retirada é
considerado essencial (art. 109, V da LSA). No silêncio do CC quanto à renúncia, tratando-
se de norma posterior, poder-se-ia entender revogada a possibilidade de renúncia.
A transformação não modifica ou prejudica o direito dos credores, que em caso de
falência podem reivindicar que a regência dos créditos anteriores à transformação, no
tocante à responsabilidade dos sócios, obedeça ao tipo societário anterior, vigente quando
da constituição dos créditos.
2. Incorporação – regulada, junto com a fusão e a cisão – que serão vistas em
seguida – pelos arts. 1.116 a 1.122 do CC, consiste na incorporação de uma ou mais
sociedades por outra, que lhes sucede em caráter universal em todos os direitos e
obrigações, extinguindo-se as incorporadas e não havendo solução de continuidade da
incorporadora, que subsiste agregando a seu patrimônio o patrimônio das incorporadas. A
incorporação deve ser aprovada por todas as envolvidas, incorporadora e incorporadas,
observados os respectivos tipos societários.
Os atos societários de aprovação da incorporação devem deliberar sobre as bases da
operação, as relações de troca de ações ou quotas, a subscrição de capital, se for o caso, a
nomeação dos peritos que avaliarão os patrimônios e aprovação dos respectivos laudos, a
reforma do contrato ou estatuto e a autorização aos administradores para a prática dos atos
pertinentes, inclusive arquivamento dos atos da incorporação no registro próprio.
A incorporação é operação societária de reestruturação muito útil e de larga
utilização, visando a concentração de patrimônios distintos numa única sociedade, quando
não mais subsistem as razões da separação patrimonial. Como a sociedade incorporadora
remanesce, as respectivas licenças de operação e registros fiscais mantêm-se íntegros,
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possibilitando a continuidade operacional. A fusão, que tem natureza muito similar, de
reunião de patrimônios, não tem esta vantagem, pois as sociedades existentes são extintas,
criando-se nova sociedade que aglutina os patrimônios das fusionadas. Por essa precisa
razão, de preservação da incorporadora como going concern, a incorporação é mais útil e a
forma mais empregada para reunião de patrimônios de duas ou mais sociedades.
3. Fusão – consiste na fusão de duas ou mais sociedades, com a criação de
sociedade nova, que lhes sucede em caráter universal em todos os direitos e obrigações,
extinguindo-se as sociedades fusionadas. O patrimônio da sociedade nova é formado pelo
somatório do patrimônio das sociedades fusionadas, que devem aprovar a fusão,
observados os respectivos tipos societários.
Os atos societários de aprovação da fusão devem deliberar sobre a criação da nova
sociedade, aprovação do estatuto ou contrato social e nomeação dos novos
administradores, bem como sobre a distribuição do capital e a nomeação dos peritos e
aprovação dos laudos de avaliação dos respectivos patrimônios (devendo os sócios de cada
sociedade fusionada abster-se de deliberar sobre o laudo de avaliação de sua sociedade, a
não ser que todos os sócios das referidas sociedades sejam sócios de todas as sociedades
fusionadas, onde então a abstenção será impossível, como no aumento de capital com
integralização de bem de propriedade de todos os sócios), autorizando-se os
administradores da nova sociedade a praticarem os demais atos pertinentes, inclusive
arquivamento dos atos de fusão no registro próprio.
4. Cisão – embora se refira à cisão no título do cap. XX e no art. 1.122, o CC não
chega a defini-la ou regulá-la, embora o instituto esteja previsto na LSA. A cisão é
operação pela qual o patrimônio da sociedade, no todo ou em parte, é vertido para uma ou
mais sociedades, novas ou já existentes, extinguindo-se a sociedade cindida se houver
versão de todo seu patrimônio. A sucessão, na cisão, está regulada no art. 233 da LSA,
havendo sucessão universal na cisão total, respondendo solidariamente as sociedades
incorporadoras, e solidariedade na cisão parcial, entre cindida e incorporadoras, pelas
obrigações anteriores à cisão, a menos que o ato da cisão delimite a responsabilidade das
últimas ao patrimônio transferido e não haja oposição de credores, manifestada no prazo de
noventa dias da publicação dos atos da cisão.
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Seção XI – Sociedade Dependente de Autorização
Disposições gerais – os artigos 1.123 a 1.141 do CC traçam regras gerais aplicáveis
a sociedades que dependam de autorização do governo federal para funcionar, bem como
regulam a nacionalidade brasileira e o funcionamento no País de sociedades estrangeiras.
Sociedade nacional – com a revogação do art. 171 da CF pela EC 6/95, as regras
sobre nacionalidade das sociedades passaram à legislação infraconstitucional, como de
tradição no nosso direito. É nacional a sociedade organizada de conformidade com a lei
brasileira e que tenha no País a sede de sua administração. A mudança de nacionalidade de
sociedade brasileira requer o consentimento unânime dos sócios ou acionistas.
Em função do requisito da sede da administração no País, a lei exige residência
permanente no País dos administradores de sociedades brasileiras que exerçam funções
executivas de representação ativa e passiva da sociedade. Admite-se a residência de
conselheiros de administração no exterior, mas não de diretores e sócios administradores.
A sociedade deve organizar-se segundo a lei brasileira, ser aqui registrada e
estabelecer no País a sede de sua administração. Os sócios podem ou não ser residentes no
Brasil, mas a sociedade será brasileira se cumpridos os requisitos a tanto, admitindo-se
sócios não residentes tanto em sociedades anônimas como em limitadas.
Sociedade estrangeira – a sociedade estrangeira só pode funcionar no País
mediante autorização do governo federal. Isso se aplica ao funcionamento direto da
sociedade estrangeira, através de estabelecimento ou filial.
O art. 1.134 do CC, que reproduz norma antiga da LSA, autoriza expressamente a
sociedade estrangeira a ser acionista de sociedade anônima brasileira, independentemente
da autorização de funcionamento, que só se aplica ao funcionamento direto. Embora
omissa em relação às limitadas, é da tradição de nosso direito permitir que estrangeiros,
residentes ou não, participem do capital das sociedades brasileiras. Assim, não há
limitação. Por questão de segurança jurídica, o contrato social da limitada pode prever a
aplicação supletiva das normas atinentes às sociedades anônimas, que permitem, de forma
expressa, a participação no capital de sociedade estrangeira.
O art. 1.141 do CC faculta a nacionalização da sociedade estrangeira autorizada a
funcionar no País.
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Via de regra, sociedades estrangeiras que querem funcionar no País aqui formam
uma limitada ou sociedade anônima, regida pela lei brasileira, e que em geral não requer
autorização de funcionamento – salvo atividades dependentes de autorização do governo
federal.
Capítulo V – Estabelecimento
Disposições gerais – regulado pelos arts. 1.142 a 1.149 do CC, considera-se
estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por
empresário ou sociedade empresária. Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos
e negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com sua
natureza. Portanto, pode o estabelecimento ser tratado como universalidade de fato e de
direito. Pode compreender bens e direitos, tais como bens e direitos alocados ao
estabelecimento, contratos de serviços ou locação de bens e relações trabalhistas
vinculadas ao estabelecimento.
O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou o arrendamento de
estabelecimento só produz efeitos em relação a terceiros depois de averbado na junta
comercial, à margem do registro do respectivo empresário ou sociedade empresária, e
publicado na imprensa oficial. Quanto à publicação, deve ser observado o art. 1.152 do
CC, cujo §1º requer a publicação no diário oficial e em jornal de grande circulação.
A alienação de estabelecimento pressupõe a manutenção da solvência do alienante.
Se, ao revés, não lhe restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da
alienação do estabelecimento dependerá do pagamento de todos os credores ou do
consentimento destes, expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação.
O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à
transferência, continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um
ano, a contar da publicação, quanto aos vencidos, e da data do vencimento, quanto aos
outros. Prescreve o art. 1.146 do CC que tal obrigação aplica-se aos débitos regularmente
contabilizados, mas pode estender-se aos débitos ocultos ou contingenciais, que serão
suportados pelo adquirente ou pelo alienante, dependendo da avença feita entre ambos. No
silêncio, serão geralmente suportados pelo alienante.
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O alienante do estabelecimento não poderá fazer concorrência ao adquirente nos
cinco anos subsequentes à transferência, salvo autorização expressa. No arrendamento ou
usufruto, a proibição persistirá durante o prazo do contrato. É típica cláusula legal de não
concorrência, visando a proteger a viabilidade econômica do estabelecimento.
O art. 1.148 do CC encerra norma supletiva no sentido de que, salvo estipulação
diversa, a transferência importa a sub-rogação do adquirente nos contratos estipulados
para exploração do estabelecimento, se não tiverem caráter pessoal, podendo os terceiros
rescindir o contrato em noventa dias a contar da publicação da transferência, se houver
justa causa anterior ou durante tal período, ressalvada a eventual responsabilidade do
alienante. Se a justa causa for posterior, aplica-se o regime geral de possibilidade de
rescisão e de proteção à parte inocente.
A cessão dos créditos referentes ao estabelecimento transferido produzirá efeito em
relação aos respectivos devedores, desde a publicação da transferência, mas o devedor
ficará exonerado se de boa fé pagar ao cedente, cabendo nesse caso restituição pelo cedente
ao cessionário.
Vale conferir os Enunciados do CEJ nºs 233, 234 e 393, sobre a matéria.
Capítulo VI – Institutos Complementares
Seção I – Registro
O sistema de registro do CC, regulado em seus artigos 1.150 a 1.154, sem embargo
da unificação do direito das obrigações, não inova em relação ao antigo sistema, em que
havia dicotomia de registro em função da atividade ser civil ou comercial. Agora, é
mantida a mesma prática só que no tocante à atividade simples ou empresarial. Os
empresários e sociedades empresárias vinculam-se ao registro de empresas mercantis, a
cargo das juntas comerciais organizadas a nível estadual, e as sociedades simples ou não
empresárias vinculam-se ao registro civil das pessoas jurídicas, também organizado a nível
estadual, exceção feita a registros regulados por lei especial, como é o caso das sociedades
de advogados, sujeitas a registro nas OAB’s estaduais, conforme a jurisdição da sede e
respectivas filiais, nos termos do EA.
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É mantida também a regra geral e clássica do direito societário brasileiro de que o
registro deve ser requerido dentro de trinta dias da celebração ou lavratura do respectivo
ato societário, retroagindo os efeitos do registro à data do ato. Se requerido após trinta dias,
o registro só produzirá efeitos a partir da data de sua concessão. Cumpre referir o prazo
menor de vinte dias no capítulo dedicado às limitadas, que vale como regra especial e
exepcional.
É importante lembrar que as sociedades personificadas só adquirem personalidade
jurídica com o registro e que devem observar o regime de registro de seus atos societários,
sempre que aplicável. Mesmo no caso de sociedades não personificadas, como o consórcio,
que geralmente constitui sociedade em função da previsão da partilha de resultados, o
registro pode ser essencial para a caracterização do tipo societário. Pode ser também
recomendável, para fins de segurança jurídica, embora não essencial, como a sociedade em
conta de participação.
Seção II – Nome Empresarial
Está regulado pelos artigos 1.155 a 1.168 do CC, e segue a disciplina clássica de
poder representar-se por firma ou denominação, dependendo do tipo societário e do regime
próprio, aplicando-se tanto ao nome dos empresários e das sociedades empresárias como
das sociedades simples ou não empresárias e das associações e fundações (art. 1.155).
O empresário individual deve operar sob firma constituída por seu nome,
completo ou abreviado, que poderá ser aditado ou não, à sua escolha, de designação mais
precisa de sua pessoa ou do gênero de atividade.
A empresa individual de responsabilidade limitada tem o nome formado por firma
ou denominação, ou seja tem o nome de seu titular, completo ou abreviado, ou nome de
fantasia, seguido da expressão EIRELI.
As sociedades com sócios de responsabilidade ilimitada operam sob firma
composta pelo nome de ao menos um deles, completo ou abreviado, seguida pela
expressão e companhia ou sua abreviatura (Cia), salvo a sociedade em comandita por
ações, que pode adotar denominação designativa do objeto social, aditada de comandita
por ações (conforme art. 281, § único da LSA, a expressão comandita por ações, por
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extenso ou abreviada, deve aparecer ao final do nome, utilize-se firma ou denominação), e
a sociedade simples, que opera sob denominação, ainda que de responsabilidade ilimitada
(art. 997, II c/c VIII do CC)..
A sociedade limitada pode adotar firma ou denominação, integradas ao final por
limitada ou sua abreviação (Ltda), embora geralmente e quase sempre as limitadas adotem
a denominação, até pelo regime de responsabilidade. Nada impede que nome de sócio
componha a denominação, que deve ser designativa do objeto da sociedade. Essa exigência
de designação do objeto no nome constitui retrocesso do CC, pois a legislação anterior ao
CC já admitia denominação puramente de fantasia de limitada, sem tal requisito. Mas a
formalidade persistirá até que o dispositivo seja aperfeiçoado (art. 1.158 do CC). Por outro
lado, o uso de limitada ao final do nome, por extenso ou abreviada, é essencial à limitação
de responsabilidade dos sócios, a teor do §3º do art. 1.158, que prescreve a
responsabilidade solidária e ilimitada dos sócios se houver omissão da expressão limitada
ao final. O mesmo raciocínio é aplicável à sociedade simples de responsabilidade limitada,
tal qual facultado pelo art. 997, VIII do CC, que deverá adotar a expressão limitada ao final
do nome sob pena de transmudar a limitação .de responsabilidade dos sócios em ilimitação
de caráter solidário. Por questão de segurança jurídica, ressalte-se, a sociedade simples de
responsabilidade limitada deve adotar o tipo societário de limitada, sob pena de os sócios
terem a proteção ao seu patrimônio pessoal extremamente fragilizada, se contarem com
simples proteção de índole contratual.
A sociedade cooperativa funciona sob denominação integrada por cooperativa,
geralmente no início do nome.
A sociedade anônima ou companhia opera sob denominação designativa do objeto
social integrada pelas expressões companhia ou sociedade anônima, expressas por extenso
ou abreviadamente, mas vedada a utilização da primeira ao final do nome (art. 3º LSA, de
modo a não confundir com nome de sociedades de responsabilidade ilimitada). Deve ser
escolhida uma ou outra, companhia ou sociedade anônima, pois ambas designam o mesmo
tipo societário e a utilização simultânea importaria em bis in idem. Nome de sócio pode
integrar a denominação. Tal qual na limitada, a exigência da designação do objeto no nome
importa em retrocesso e retorno à legislação da década de 40 do séc. passado, pois desde a
LSA, de 1976, tal requisito não mais é exigido. Aqui também a formalidade persistirá até
que o dispositivo seja aperfeiçoado (art. 1.160 do CC). Nomes anteriores ao CC estão sob a
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proteção do direito adquirido, como têm reconhecido as juntas comerciais, nos processos
de arquivamento.
A sociedade em conta de participação não tem nome (CC, art. 1.1620). Já o
consórcio pode ter designação (art. 279, I, LSA).
O nome empresarial deve distinguir-se de qualquer outro já inscrito, constituindo
direito e garantia fundamental a proteção ao nome das empresas, conforme art. 5º, XXIX
da CF e art. 1.166 do CC. Em caso de confusão de nomes, seja pela atividade e/ou pela
atuação geográfica, cabe recurso administrativo ou judicial pelo prejudicado, mediante a
medida própria.
Seção III – Prepostos
Os artigos 1.169 a 1.178 do CC regulam as atividades dos prepostos das sociedades
e de sua vinculação às instruções recebidas. A expressão gerente não é usada no sentido de
administrador, mas de preposto permanente no exercício da empresa. Os lançamentos
feitos pelo contabilista nos livros e registros do preponente são considerados como feitos
por este, salvo má fé.
No exercício de suas funções, os prepostos são pessoalmente responsáveis perante
os preponentes pelos atos culposos; e perante terceiros, solidariamente com os
preponentes, pelos atos dolosos.
Os preponentes são responsáveis pelos atos dos prepostos, praticados nos seus
estabelecimentos e relativos à atividade da empresa, ainda que não autorizados por escrito.
Quando os atos forem praticados fora do estabelecimento, somente obrigarão o preponente
nos limites dos poderes conferidos por escrito.
Capítulo VII – Escrituração
Os artigos 1.179 a 1.195 tratam de normas gerais sobre a escrituração contábil do
empresário e da sociedade empresária. A escrituração contábil é obrigatória em tais casos.
Releva notar que é um tanto antiquada e não adaptada ao séc. XXI. Hoje, com toda
complexidade e sofisticação do sistema tributário e trabalhista não há empresário,
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sociedade, associação e fundação que possa sobreviver e cumprir obrigações legais sem
manter contabilidade perfeitamente organizada para registro de receitas, despesas, custos e
investimentos. As sociedades anônimas e limitadas de grande porte estão sujeitas à
legislação especial e ao sistema de contabilidade internacional (IFRS).
Título II – Regime das Sociedades Anônimas na Lei 6.404/76 (atualizada) –
LSA
Capítulo I – Características e Natureza da Companhia ou Sociedade Anônima
Características -- artigo 1º – As companhias ou sociedades anônimas, criadas no
início do século XVII, sendo a primeira delas identificada pela maioria pacífica da doutrina
como a Companhia Holandesa das Índias Orientais, revestem o tipo societário que segundo
RIPERT representa a grande invenção jurídica para o desenvolvimento da humanidade.
Naquela época, caracterizada pelas descobertas de novas fronteiras, pelas expedições
marítimas, colonizações e incremento comercial, as coroas precisaram se aliar aos capitais
acumulados disponíveis, dos senhores feudais, súditos e comerciantes, para financiar todo
o esforço da grande navegação, da conquista e manutenção de territórios e de incremento
comercial e das relações de trocas. Ao conceito da personificação jurídica e da criação de
um patrimônio apartado do patrimônio dos sócios – já consolidado desde a Idade Média
nas cidades italianas – agregou-se a extensão da limitação da responsabilidade a todos os
sócios e a introdução ou extensão do conceito de títulos de crédito – transmudados em
valores mobiliários --, através da incorporação ou coisificação de direitos de sócio em
títulos padronizados e a livre e autônoma circulação destes valores mobiliários
representativos do capital social, denominados ações.
Nasceram assim as companhias ou sociedades anônimas, com a designação
inspirada nas antigas organizações religiosas – repartição do pão -- e na ausência de sócio
que atribuísse nome à sociedade, pela limitação de responsabilidade de todos os sócios.
Essa a razão para sociedade anônima, e não a inexistência de dono ou o capital
representado por títulos ao portador, como já foi possível aqui e ainda é alhures.
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Após enorme impulso inicial na Europa continental e no Reino Unido, as
companhias entraram em crise em função dos primeiros escândalos envolvendo fraudes no
mercado de capitais, na França e Inglaterra, no século XVIII. Chegaram a ser proibidas e
proscritas por longo período em tais países. Voltaram com toda a força no século XIX,
como o motor jurídico da Revolução Industrial e nunca mais pararam, tendo papel
proeminente na transformação de insumos e produção de bens e serviços nas duas Grandes
Guerras até o salto tecnológico em pleno desenvolvimento nos dias de hoje. São
responsáveis pela produção de alimentos, pela produção de bens e serviços de toda
natureza e complexidade, tendo gigantesca responsabilidade em toda questão social e
ambiental e na concepção de um mundo sustentável.
As companhias aliam personificação, responsabilidade limitada de todos os sócios,
emissão de valores mobiliários padronizados e que podem circular na economia –
atribuindo circulação, liquidez e valor a esses títulos – e, face ao acesso às poupanças
disponíveis na economia, através das técnicas desenvolvidas pelo mercado de capitais, a
possibilidade de captação de recursos monetários em massa para financiamento de seus
projetos e empreendimentos.
O desenvolvimento das sociedades anônimas desde o séc. XVII até hoje permitiu
que um instrumento que teve origem no direito público – representando uma concessão ou
autorização do Estado para que os capitais privados a ele se aliassem – passasse
plenamente ao direito privado, a partir da liberdade na criação de sociedades anônimas
como hoje as conhecemos. Mas a dupla regulação de direito público e privado, nas
sociedades de economia mista – quando o Estado, como antes, alia-se aos capitais privados
para levar a efeito empreendimentos de interesse estratégico e coletivo – ou nas
companhias abertas, que mesmo sendo privadas captam recursos monetários junto à
poupança popular – via mercado de capitais – e devem se submeter à regulação pelo
Estado, em proteção à dita economia popular e como forma de evitar fraudes e excessos
que tão duramente têm castigado a credibilidade do mercado de capitais, desde os
escândalos franceses e ingleses ainda no século XVIII até os mais recentes excessos em
economias desenvolvidas como a dos EUA. Como resultado disso tudo, as companhias
possuem elevados padrões de conduta, estão sujeitas a sofisticada estrutura organizacional,
a demonstrações financeiras periódicas, a distribuição compulsória de resultados e à
regulação pelo poder público, ao captarem recursos junto à poupança popular.
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A regulação da LSA contempla desde a companhia aberta – que acessa o mercado
de capitais – até a companhia fechada, que não acessa a poupança popular e tem menos
regulação pelo Estado, mas que pode desenvolver-se e tornar-se aberta ou optar por ser
uma companhia de desfrute da segurança jurídica do tipo societário e dos elevados padrões
éticos, organizacionais e contábeis desenhados pela LSA, extremamente úteis em casos de
joint ventures e empreendimentos sofisticados de toda natureza. Pode também ser
sociedade de economia mista, criada por lei, controlada pelo poder público, mas que acessa
poupanças privadas.
Nas companhias a limitação de responsabilidade dos sócios – denominados
acionistas – incide sobre o preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas, criando a
LSA responsabilidade solidária do alienante com o adquirente até a integralização das
ações transferidas, pelo prazo de dois anos, a contar da data de transferência das ações (art.
108).
Objeto Social e Prazo de Duração – artigo 2º
O estatuto social deve definir o objeto de modo preciso e completo, embora possa
ser bastante amplo. Pode ser objeto da companhia qualquer atividade econômica – e,
portanto, de fim lucrativo – não contrário à lei, à ordem pública e aos bons costumes.
Geralmente esse objeto é exercido pelo prazo de duração da companhia, em geral
indeterminado, e pode ser ampliado, diversificado ou restringido ao longo da vida da
companhia..
A companhia será sempre empresária e se regerá pelas leis e usos do comércio.
Logo, a atividade social deve ser compatível com a empresarial, necessariamente.
Atividades intelectuais fim, como é o caso da advocacia, não são compatíveis com o tipo
societário, pois por definição exercem atividades não empresariais. Isso não se aplica a
empreendimentos em que a atividade intelectual seja elemento da empresa, mas não
exercida a título de atividade fim, como é o caso dos médicos em relação a hospitais e
casas de saúde e dos engenheiros em relação a empresas de construção ou incorporação
imobiliária, cuja atividade fim compreende uma gama de atividades para as quais o
elemento intelectual é essencial, mas não o fim em si mesmo ( os hospitais e casas de
saúde prestam serviços de hotelaria, enfermagem, exames laboratoriais, de imagem, e
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outros; as empresas de construção e incorporação imobiliária prestam serviços de
construção de prédios e equipamentos de grande porte, bem como a venda de unidades
imobiliárias, dentre outros).
A companhia pode ter por objeto participar de outras sociedades. Ainda que não
prevista no objeto, a participação é facultada como meio de realizar o objeto. Assim, a
companhia pode participar do capital de outras sociedades que se dediquem a objeto social
compatível com o seu, que se insira dentro do escopo do objeto da companhia.
Companhias que se dediquem exclusivamente a participar do capital de outras
sociedades são chamadas de holdings puras. Como é o caso da antiga Siderbras, que tinha
por objeto participar do capital de companhias operacionais siderúrgicas, como a
Companhia Siderúrgica Nacional, a Companhia Siderúrgica de Tubarão, a Usiminas, a
Cosipa e outras. Ela Siderbras não desempenhava atividades operacionais.
Companhias que participem do capital de outras, mas que também desempenhem
atividades operacionais, são chamadas de holdings mistas ou operacionais. Como é o caso
da Petrobras e da Vale S.A., que desempenham atividade própria, na exploração do
petróleo e do minério de ferro, respectivamente, mas que detêm o controle de uma série de
outras sociedades, especializadas em logística, transporte ferroviário e marítimo,
distribuição, etc., formando dois dos maiores grupos econômicos brasileiros.
Companhias que se dediquem exclusivamente a um projeto ou atividade bem
específica e definida são chamadas de sociedades de propósito especial – as SPE’s – com
inspiração no direito anglo-saxão, onde são chamadas de special purpose companies ou
vehicles – as SPC’s. Podem ter prazo de duração definido ou indeterminado, dependendo
da natureza do empreendimento para o qual foi criada. Em geral também vigoram a prazo
indeterminado, como as demais sociedades
O prazo de duração, sempre fixado no estatuto social – documento de regência
interna das companhias – pode ser indeterminado, como acontece em geral, ou a prazo
determinado, se a sociedade tiver sido criada para o exercício de atividade limitada no
tempo, o que raramente ocorre.
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Denominação – artigo 3º
O tipo societário é designado por denominação de fantasia, em oposição à razão
social que designava as antigas sociedades de pessoas de responsabilidade ilimitada, que
utilizavam o nome do sócio principal, como regra, e faziam menção aos demais sócios ao
final do nome com a expressão “e companhia”. Com o advento da responsabilidade
limitada dos sócios, praticamente deixaram de existir no Brasil as clássicas sociedades de
responsabilidade ilimitada, ressalvados casos em que a lei imponha tal obrigação, como
ocorre nas sociedades de advogados.
A denominação de fantasia deve conter as expressões “companhia” ou “sociedade
anônima”, por extenso ou abreviadamente (Cia ou S.A.), mas vedada a utilização de
“companhia” ao final do nome, para não causar confusão com as antigas sociedades de
responsabilidade ilimitada. As expressões devem ser usadas uma ou outra, sem
cumulatividade, pois designam o mesmo tipo societário, conquanto tenham raízes distintas.
A expressão “companhia”, utilizada desde a primeira sociedade anônima no século XVII –
Companhia Holandesa das Índias Orientais -, é associada às antigas ordens religiosas,
como a Companhia de Jesus, que eram formadas para serem titulares do patrimônio da
Igreja e tinham essa designação como referência ao compartilhamento do alimento ou
simplesmente do pão. As sociedades anônimas foram assim designadas em França não
porque não tinham sócios, mas porque os sócios não davam nome à sociedade, como nos
casos das sociedades de pessoas de responsabilidade ilimitada, em que isso ocorria. Logo a
sociedade é anônima porque a responsabilidade dos sócios é limitada às ações adquiridas e
a sociedade é designada por expressão de fantasia.
Não é vedado o uso na denominação do nome de fundador, acionista ou pessoa que
tenha relação com a sociedade, mas em tal caso o uso do nome integrará a designação de
fantasia e não será utilizado como razão social. Exemplo disso é Metalúrgica Gerdau S.A.
ou Dedini Participações S.A., que utilizam nomes de famílias para realçar a denominação
da sociedade.
Por força do artigo 1.160 do CC, cuja matriz é anterior ao projeto da LSA, houve
um retrocesso e voltou-se a exigir referência designativa do objeto social na denominação
da sociedade. Enquanto não modificado tal dispositivo, o conteúdo essencial do objeto
deve constar da denominação. Assim, hoje não seria possível Brasken S.A. ou Vale S.A.,
exigindo-se algo como Brasken Petroquímica S.A. ou Vale Minérios S.A., mas as
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situações anteriores ao CC estão preservadas pelo direito adquirido (artigo 5º, inciso
XXXVI da CF),
O § 2º do art. 3º da LSA, em linha com o art. 5º, inciso XXIX da CF, assegura a
exclusividade da denominação e o direito de requerer administrativa ou judicialmente a
modificação de denominação idêntica ou semelhante registrada posteriormente na junta
comercial. Como regra prevalece o registro mais antigo da companhia na junta comercial
(i.e. do ato societário que aprovou o estatuto social onde consta a denominação da
companhia). Tradicionalmente, o Judiciário interpreta como nome conflitante aquele que
possa causar confusão entre a identidade de uma companhia e outra. Para tanto, considera-
se o ramo de atividade e o espaço geográfico de atuação das companhias envolvidas.
Embora o registro na junta comercial seja estadual, o âmbito de proteção cobre todo o
território nacional, pois a proteção é prevista por lei federal e pela Constituição da
República.
Companhia Aberta e Fechada – artigos 4º e 4º-A
O tipo societário companhia pode tanto referir-se a sociedades que buscam
capitalização no mercado de capitais – chamadas de companhias abertas – ou a sociedades
que buscam outros meios de capitalização e que não acessam o mercado de capitais –
chamadas de companhias fechadas. Estas adotam o tipo companhia fundamentalmente em
razão da segurança jurídica que ele proporciona. Em primeiro lugar a sociedade anônima é
dotada de estrutura de organização e de elaboração de demonstrações financeiras mais
sofisticada e complexa do que as limitadas, além de não se sujeitar a direito imotivado de
retirada de sócios, como sucede nas limitadas a prazo indeterminado.
Por isso, a LSA diz de forma singela “que a companhia é aberta ou fechada
conforme os valores mobiliários de sua emissão estejam ou não admitidos à negociação no
mercado de valores mobiliários” (art. 4º).
A LSA aplica-se tanto a companhias abertas como a fechadas. Onde há, na lei,
dispositivos apenas aplicáveis a uma ou outra modalidade, aberta ou fechada, a LSA faz a
distinção expressa no texto.
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As companhias abertas, por acessarem o mercado de capitais e a poupança popular,
submetem-se a regulação pela Comissão de Valores Mobiliários - CVM, autarquia federal
e agência regulatória do mercado de capitais brasileiro. Tanto a companhia como cada
emissão pública que realizar submetem-se ao regime de registro prévio na CVM,
observadas as isenções previstas na regulamentação da CVM.
(fim do volume I. Apostila prosseguirá no volume II).
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