direitos humanos introdução, histórico e nomeclaturas
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DIREITOS HUMANOSProfessor Dr.
Urbano Félix Pugliese
Introdução, nomenclaturas e histórico dos Direitos
Humanos
Pergunta (1) para a próxima aula:
Qual direito é imprescindível para o viver dos seres humanos?
Relação dos Direitos Humanos (DH) com outros componentes curriculares: O componente se relaciona com diversos outras
temáticas, especialmente:
Direito Intl/
Humanitário
Direito Penal/
Processual Penal
Direito Constitucional
Terminologia/nomenclatura básica: Conceito basilar: Cj de direitos mínimos
considerados como indispensáveis para a vida/viver dos seres humanos (civilidade);
Mínimo existencial (direitos mínimos possíveis para o bem viver dos seres humanos; saúde, educação, habitação) vs reserva do possível (o Estado não pode gastar um dinheiro que não tem; dinheiro não cresce em árvores; ex. remédios para todos); e
Vulnerável vs vulnerados.
Terminologia/nomenclatura básica: DH: Âmbito intl (Docs. Intl’s; regime
externo); Direitos fundamentais: Âmbito interno
constitucional (regime interno); Direitos humanos fundamentais:
Abrangente dos doc. Intl e nacionais (Peter Häberle: Sociedade aberta de intérpretes; ex. amicus curiae, audiências públicas);
Direitos naturais, liberdades públicas, direitos individuais, direitos públicos subjetivos e liberdades fundamentais.
Outras terminologias/nomenclaturas: Direitos do Homem: Visão jusnaturalista
(Natureza/transcendental/contratual/racional; sexista; desrespeitosa com as conquista de gênero);
Gramática dos DH: Diversas linguagens produzidas ao longo da História ou pelos diferentes povos acerca da concepção dos DH/tratamento dos DH no mundo; e
Universalismo vs relativismo cultural: Os DH são universais ou cada povo tem um próprio rol de DH?
Universalismo vs relativismo cultural: Mulheres girafa, pés das chinesas, mutilação
genital feminina; e Somos todos diferentes. 130 milhões de
mulheres mutiladas/ 29
países
Universalismo vs relativismo cultural: Há equivalentes homeomórficos (Raimon
Panikkar) no “ocidente avançado”?
Será que somos livres para sentir, pensar e agir:Habitus: Uma estrutura social é
imposta/assimilada pelas pessoas por meio de disposições para sentir, pensar e agir naturalizadas/incorporadas ao inconsciente;
Acredita-se na naturalidade das imposições estruturais;
O belo, o bom, o útil, a cultura, o nativo de determinada cultura; e
Podemos ter habitus vulnerabilizadores?
Pierre Bourdieu: O coletivo influencia a vida/viver individual;
Os indivíduos podem romper com o quanto determinado pelo habitus; e
Currículo oculto; normas invisíveis; silêncios eloquentes; tradições inventadas (Eric Hobsbawn).
Fundamentos: Dignidade da pessoa humana: Os seres
humanos devem ser respeitados por serem humanos (não importa o corpo/mente/moral);
Autonomia da pessoa humana: Cada ser humano deve ser capaz de decidir a respeito da própria vida (não deve haver manipulação da vida/viver dos seres humanos); e
Inviolabilidade dos seres humanos: Outras pessoas não devem se beneficiar em demais (fora do comum) das vidas humanas.
Dignidade da pessoa humana: Dignidade vem do latim dignus/dignitate: Mérito,
que possui honra, importância; Qualidade intrínseca e distintiva de cada ser
humano; Conceito polissêmico e aberto (proibição de
tratamento ofensivo ou degradante [negativo] e defesa de condições materiais mínimas de existência [positivo]);
Para São Tomás de Aquino: O intelecto e a semelhança com Deus geram a dignidade; e
Para Kant: Coisas têm preço e pessoas têm dignidade.
Dignidade da pessoa humana:
Dignidade da pessoa humana:
Características dos DH: Indivisibilidade: Não podem ser divididos
ou mitigados (por serem o mínimo minimorum);
Historicidade: Os DH são calcados ao longo da História (só se fala após 1945);
Universalidade: Todos os seres humanos são abrangidos (não há primitivos); e
Essencialidade: Os valores defendidos pelos DH são supremos, indispensáveis, necessários.
Características dos DH: Irrenunciabilidade: Não pode haver
renúncia aos DH (ex. escolha de ser escravo); Inalienabilidade: Não podem ser vendidos,
trocados (são indisponíveis e inegociáveis); Inexauribilidade: Não podem “sumir”;
estão sempre sendo somados com outros direitos (eterno crescimento; ex. direitos de sexualidade); e
Imprescritibilidade: Não terminam por não seres utilizados ao longo do tempo.
Características dos DH: Superioridade normativa: Não pode haver
normas mais importantes em uma sociedade do que as protetivas dos seres humanos (ex. preferir fazer uma ponte a salvar vidas humanas);
Reciprocidade: Todos ser humano deve respeitar os direitos dos demais (todos temos deveres de respeito); e
Têm limites, prevalências e preferências históricas e calcadas em escolhas.
Características dos DH: Não podem retroagir/Effet cliquet/effet de
cliquet/efeito catraca/efeito presilha: Conquistas não podem ser mitigadas ou exterminadas (há uma proibição do regresso ao status quo ante); e
Efeito de memória usado metaforicamente em DH.
Teorias dos estados de Georg Jellinek (Sistemas de direitos públicos subjetivos/1.892):
Voltava-se contra o jusnaturalismo;
O Indivíduo tem direitos garantidos contra o Estado; e
Não vê a relação de DH entre particulares (horizontal) e difusos.
Teorias dos estados de Georg Jellinek: Primeiro estado (status subjectionis ou passivo):
Há o estado de sujeição do indivíduo para com o Estado;
Segundo estado (status negativo ou libertatis): O Estado se abstém de condutas perante o indivíduo;
Terceiro estado (status positivo ou civitatis): Há pretensões do indivíduo perante o Estado; e
Quarto estado (status ativo ou activus): O indivíduo participa da formação da vontade do Estado.
Categorias/Dimensões/Gerações dos DH: Proposta de gerações realizada por Karel
Vasak (1979); Inspiração no lema da Revolução Francesa
(1789): Liberdade, igualdade e fraternidade; 1ª: Civis e políticos
(individuais); 2ª: Econômicos, sociais e
culturais (coletivos); e 3ª: Desenvolvimento, paz,
meio ambiente, comunicação e patrimônio comum da humanidade.
Outras dimensões dos DH: Paulo Bonavides fala em quarta dimensão
(Direitos de solidariedade): Democracia, informação, pluralismo;
Quinta dimensão: Cibernética, informática, paz;
Sexta dimensão: Informação, democracia, pluralismo político; e
Falhas na classificação/imprecisão conceitual.
Críticas: O sentido político-histórico se perde quando se
fala em categorias ou gerações; Não há término de uma geração para a chegada
de outra (não há substituição de uma geração por outra);
As dimensões se interpenetram (a primeira não veio antes da segunda, p. ex.);
Visão fragmentária e hierarquizada geracional; Há confusões conceituais na contemporaneidade;
e Quando se versa de dimensões se verifica a
indivisibilidade e interpenetração.
Classificação pelas funções: 1) Direito de defesa: Defende o indivíduo do
Estado (relação vertical) ou de outro indivíduo (relação horizonta); respeito à privacidade, intimidade e segredo ;
2) Direitos à prestações: O indivíduo tem direito a que o Estado se movimente na realização dos valores sociais (obrigação estatal pela Educação universal); e
3) Direitos a procedimentos e instituições: O indivíduo tem direito a estruturação estatal para defender os DH.
Histórico: Muitos tentam marcar na antiguidade a
“origem” dos DH; Zaratustra (Pérsia), Buda (Índia), Confúcio
(China), Dêutero-Isaías (Israel); Codificação de Menés (3.100-2.850 A.C;
Antigo Egito); Código de Hammurabi (1.792-1.750 A.C;
Suméria Antiga); Suméria e Pérsia (Cilindro de Ciro); e Códigos de comportamento pautados no amor e
respeito ao próximo.
Histórico: Grécia: Século de Péricles (Século V A.C.); Roma: Lei das XII Tábuas; Hebreus: Torah (livros de Moisés; 1.800-1.500
A.C); e Cristianismo: Novo Testamento (3 A.C-30
D.C).
Histórico: Declaração das Cortes de Leão da Península
Ibérica (1.188; Luta dos senhores feudais contra o Estado Nacional nascente);
Magna Carta Inglesa de 1.215 (busca dos direitos individuais contra o Estado/João sem Terra);
Petition of right da Inglaterra de 1628 (O rei não pode cobrar impostos sem a autorização do parlamento); e
Habeas Corpus act de 1679 da Inglaterra.
Histórico: Declaração Inglesa de Direitos de 1689 (Bill os
Rights) para redução do poder dos soberanos; Act of Settlement de 1701 (fixava a linha
sucessória do trono e reafirmava o poder do Parlamento); e
Vários pensadores fundamentaram uma filosofia dos DH: Hobbes (Leviatã/1.651), Grócio (O direito da guerra e da paz/1.625), Locke (Segundo tratado sobre o governo civil/1.689), Rousseau (Do contrato social/1.762), iluministas (Voltaire, Diderot, D’Alembert).
Histórico: Césare Beccaria (Dos delitos e das penas/1.766); Immanuel Kant (Metafísica dos
costumes/1.785); Revoluções como marcos históricos dos DH:A)Revolução Inglesa (Século XVII);B)Revolução Americana (1.776); eC)Revolução Francesa (1.789): Declaração
Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão e Declaração Francesa dos Homens e dos Povos (liberdade e igualdade para todos os seres humanos; vocação universal).
Importante notar: Olympe de Gouges (1.791) faz a Declaração
dos Direitos da Mulher e da Cidadã;
Marie Gouze (nome verdadeiro);
Não entendia os direitos como iguais entre os gêneros; e
Foi executava pelas ideias revolucionárias.
Século XVIII: Jacobinos franceses defendem os direitos sociais
redigindo uma nova Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão (1.793);
Proudhon publica O que é a propriedade (1.840) defendendo uma sociedade socialista contra o capitalismo individualista;
Karl Marx publica A questão judaica (1.843) e com Engels publicam o Manifesto do Partido Comunista (1.848) defendendo novas formas de compor a sociedade; e
Reflexos nas Constituições: México (1.971), Alemã/Weimar (1.919) e Brasileira (1.934).
Guerras mundiais: Primeira guerra: 1.914-1.918; Segunda guerra: 1.939-1.945; Atrocidades geram inúmeros reflexos
mundiais; 1.919: Tratado de Versailles criou a
Organização Internacional do Trabalho; Carta de São Francisco (1.945) cria a
Organizações das Nações Unidas (ONU); e 1.948, em Paris, Resolução da Assembléia
Geral da ONU.