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Direitos Humanos:Evoluo HistricaJos L. M. de Magalhes

1 - A Antigidade.

Vrios so os pensadores ocidentais contemporneos, que buscaram no pensamento grego da antigidade, recursos para o desenvolvimento de suas teses. Na verdade, encontraremos entre os gregos, precursores dos pensadores, ao longo do tempo, com as mais variadas idias que vieram a ser desenvolvidas durante toda a histria do pensamento filosfico e jus-filosfico.

Desta forma, entende BODENHEIMER, encontrar no sofista TRASIMACO, o precursor da interpretao marxista do Direito, ensinando que "as leis eram criadas pelos homens ou grupos que estavam no poder, com o objetivo de fomentar seus prprios interesses". Para TRASiMACO a justia no seno o que convm ao mais forte (01).

PROTAGORAS (481 (?) - 411 a.C.) pode ser considerado o pensador que antecipou as opinies dos positivistas modernos. Sustentava que as leis feitas pelos homens eram obrigatrias e vlidas, sem considerar o seu contedo moral (02).

Ser, portanto, tambm no pensamento grego, que encontraremos a idia da existncia de um Direito, baseado no mais ntimo da natureza humana, como ser individual ou coletivo. Acreditavam alguns pensadores, que existe um "direito natural permanente e eternamente vlido, independente de legislao, de conveno ou qualquer outro expediente imaginado pelo homem" (03). Este pensamento j nasce numa perspectiva universal, pois a idia de Direito Natural surge da procura de determinados princpios gerais que sejam vlidos para os povos em todos os tempos.

Ser a partir do momento em que os pensadores gregos percebem a existncia de uma grande diversidade de leis e costumes nas vrias naes e povos, que eles colocam a seguinte questo:

"existem princpios superiores a estas normas especficas que sejam vlidas para todos os povos, em todos os tempos, ou a Justia e o Direito so uma mera questo de convenincia?"

Este o ponto de partida para o pensamento do Direito Natural que se desenvolver atravs dos tempos, e a resposta a esta questo se transformou na conquista gradual, permanente e ainda distante para ns, do que hoje conhecemos por Direitos Humanos.

Diversas e interessantes idias comeam a ser desenvolvidas a partir deste momento, e como so as idias, que direcionam as mudanas, produto do conflito de interesses opostos, vamos aqui demonstrar algumas.

Sem a pretenso de esgotar o tema, e nos permitindo a no citao de determinados pensadores, comecemos por HESODO (poeta do perodo herico grego - sc. VIII e sculo VII a.C.). Segundo OLIVEIROS LITRENTO, HESODO dar melhor caracterizao jurdica idealizao do HOMERO em sua A Ilada, simbolizando Dike, deusa da Justia com vistas a "facultas agendi"). No poema "A Teogonia, Dike com suas duas irms: a Eumonia (boa ordem) e Eirene (a paz), todas filhas de Themis e Zeus. Dike, que tem a misso de realizar a concretizao do intrinsicamente justo atravs dos juizes, combate trs opositores: Eris (como a pendncia, que subverte a ordem), Bia (como a fora que desafia o Direito) e Hybris (como a incontinncia, que transforma o justo em injusto, uma vez ultrapassados os limites do Direito). "Portanto, no apenas os homens cometem delitos. Os juizes tambm erram quando suas sentenas no refletem o pensamento de Dike. Logo, a ordem jurdica pode ser afetada por ethos, ou seja, pelo carter de uma pessoa, que pode ser o juiz. Quando Dike desprezada, a subverso pela injustia destri o Estado" (04).

HERCLITO ser o melhor expositor da doutrina pantesta da razo universal, considerando todas as leis humanas subordinadas lei divina do Cosmos. HERCLITO assinala que ike (a Justia) assumia tambm a face de Eris (a discordia ou litgio), (da se compreendendo que Dike - Eris no apenas governam os homens, mas o mundo), a verdade que o grande filsofo traduz a Justia como resultado de permanente tenso social, resultado jamais definitivo porque sempre renovado. HERCLITO transmitiu para Aristteles as primeiras especulaes em torno de uma justia-tenso, revolucionria porque sempre renovada, mas sem opor, antes submetendo e integrando a lei positiva ao Direito Natural. Outro no o motivo por que lei de um Logos natural e divino (Physis) (05).

Esta idia dinmica de mudana constante da realidade e do surgimento de novas tenses, novos direitos desenvolvida por ARISTOTELES. Afirma ARISTOTELES que o justo por natureza mutvel na medida que mudam as realidades a que se refere este critrio de justia. Desta forma, pode-se concluir do pensamento de ARISTOTELES segundo RECASNS SICHES, que, enquanto o justo vai se realizando progressivamente, brotam novas e diversas exigncias da justia natural (06).

Na opinio de RECASNS SICHES, esta interpretao pode ser correta se se levar em conta que Aristteles afirmou a mudana no somente do justo por lei ou por Conveno, mas tambm o justo por natureza (07).

Assim, como Aristteles, Plato est convencido de que o Direito e as leis (nomos e nomoi) so essenciais para a estruturao da Polis. Alis, com relao expresso Polis, CARL J. FRIEDRIH ressalta que muitas vezes ela traduzida como Estado, o que uma "expresso moderna que bastante enganadora quando aplicada ordem poltica grega" (08). De acordo com a convico dos dois grandes filsofos da antigidade, "qualquer espcie de Positivismo legal segundo o qual a ordem arbitrria de um tirano pudesse ser considerada lei" - uma opinio que tem sido freqentemente sustentada sob modernas ditaduras - " por eles complemente excluda". (09) Com esta afirmao surge uma questo fundamental: qual a origem, a fonte da lei, se esta no est na vontade daquele que possui o poder efetivo no Estado? A difcil resposta pode ser encontrada na doutrina platnica de idias. A prpria palavra "idia" tem sido, muitas vezes, considerada imprpria para representar o que constitui a essncia da doutrina socrtico-platnica de idia ou eidos. Palavras como "forma" tm sido sugeridas para satisfazer ao fato de que essas idias no so, para Scrates e Plato, algo criado pelo esprito subjetivo do homem, mas uma realidade objetiva e transcendente, estranha ao homem. Plato pensava que a tarefa do reformador de tentar criar um Estado que participe, tanto quanto possvel, da idia, pois esta eterna e imutvel. "Quando Plato escreveu seu famoso dilogo intitulado Politeia ou Constituio (no Repblica!), pensou estar a braos com um problema muito difcil, mas no insolvel. Plato acreditava que a soluo seria ou os filsofos se tornarem governantes ou os governantes se tornarem filsofo, isto , homens buscando a sabedoria atravs de um entendimento real das idias".

Entre os esticos, uma escola de filosofia fundada pelo pensador de origem semita Zenon (350-250 a.C) colocava o conceito de natureza no centro do sistema filosfico. Para eles o Direito Natural era idntico lei da razo, e os homens, enquanto parte da natureza csmica, eram uma criao essencialmente racional. Portanto, enquanto este homem seguisse sua razo, libertando-se das emoes e das paixes, conduziria sua vida de acordo com as leis de sua prpria natureza". "A razo como fora universal que penetra todo o "Cosmos" era considerada pelos esticos como a base do Direito e da Justia. A razo divina - diziam - mora em todos os homens, de qualquer parte do mundo, sem distino de raa e nacionalidade. Existe um Direito Natural comum, baseado na razo, que universalmente vlido em todo o Cosmos. Seus postulados so obrigatrios para todos os homens em todas as partes do mundo" (10). Esta doutrina foi confirmada por Pancio (cerca de 140 a.C), sendo a seguir levada para Roma, para ser finalmente reestruturada por Ccero, "de um modo que tornou o direito estico utilizvel, dentro do contexto do Direito Romano, e propcio sua evoluo" (11).

Para EDGAR DE GODOI DA MATA-MACHADO, h uma certa indiscriminao exagerada entre os esticos, que confundem "lei geral do universo" com o direito natural que se aplicar a todas as criaturas: plantas, animais e homens. Entretanto, salienta o professor, que j entre eles e mais tarde entre os romanos, mas sobretudo entre os filsofos cristos, se realar o aspecto humano do Direito Natural (12).

Muitas das formulaes encontradas entre os esticos so semelhantes s estabelecidas por Plato e ARISTOTELES. Entretanto, a obscura doutrina dos esticos fez explodir a estrutura da polis, o que para os dois filsofos gregos era algo indiscutvel. Os esticos proclamaram a humanidade como uma comunidade universal (13).

Como j afirmamos, o estoicismo influiu sobre a jurstica romana, e Ccero ser o maior representante na antigidade clssica da noo de Direito Natural, real, objetiva. Esta concepo pode ser encontrada no plano do dilogo De Legibus (I, 17-19): "O que nos interessa, neste discurso, no o modo de prevenir cautelas processuais ou a maneira de despachar uma consulta qualquer..., devemos abraar, nesta dissertao, o fundamento universal do direito e das leis, de modo que o chamado direito civil fique reduzido, diramos, a uma parte de propores bem pequenas. Assim haveremos de explicar a natureza do direito, deduzindo-a do pensamento do homem..." (14).

O que interessa a CCERO o direito e no a Lei. Para ele os homens nasceram para a Justia e ser na prpria natureza, no no arbtrio, que se funda o Direito. (15)

Apesar da riqueza do pensamento encontrada na antigidade, sobre o direito natural e o conceito de justia, a realidade social no correspondia, preocupao demonstrada pelos pensadores.

As civilizaes ocidentais antigas baseavam-se, muitas delas, em conceitos primitivos de Justia, sendo que o trabalho escravo se colocava na base da sociedade, como sustentculo da vida na polis grega ou nas cidades do Imprio Romano.

A dinamicidade demonstrada no pensamento de Herclito e Aristteles fica bem clara quando confrontamos certos aspectos da vida na antigidade, com as mais recentes conquistas no campo dos direitos da pessoa humana.

Ao estudarmos a vida privada na antigidade podemos por vezes pensar que muito j se caminhou na conquista dos Direitos Fundamentais, mas ao nos depararmos com a nossa realidade de pas do terceiro mundo, notamos que o leque de direitos muito aumentou, pelas mudanas da sociedade moderna, entretanto, mais direitos ainda tm que ser conquistados, sendo que muito do que se percebe na antigidade, ainda no foi resolvido.

Apenas para exemplificar o que viemos de afirmar, citaremos trecho de trabalho coletivo intitulado Histria da vida privada, onde percebemos nos costumes gregos e romanos da antigidade o desapreo a determinados direitos individuais bsicos. Entretanto, percebemos que alguma coisa no nos estranha na realidade atual:

"O nascimento de um romano no apenas um fato biolgico. Os rcem-nascidos s vm ao mundo, ou melhor, s so recebidos na sociedade em virtude de uma deciso do chefe de famlia; a contracepo, o aborto, o enjeitamento das crianas de nascimento livre e o infanticdio do filho de uma escrava so, portanto, prticas usuais e perfeitamente legais (...). Em Roma um cidado no "tm" um filho: ele o "toma", "levanta" (tollere); (...). A criana que o pai no levantar ser exposta diante da casa ou num monturo pblico; quem quiser que a recolha. (...) Na Grcia era mais freqente enjeitar meninas que meninos; no ano 1 a.C. um heleno escreveu esposa: "Se (bate na madeira!) tiveres um filho, deixa-o viver; se tiveres uma filha, enjeita-a. Mas no certo que os romanos tivessem a mesma parcialidade. Enjeitavam ou afogavam as crianas malformadas (nisso no havia raiva, e sim razo), diz Sneca:

" preciso separar o que bom do que no pode servir para nada", ou ainda os filhos de sua filha que "cometeu uma falta". Entretanto, o abandono de filhos legtimos tinha como causa principal a misria de uns e a poltica patrimonial de outros. Os pobres abandonavam as crianas que no podiam alimentar; (...) a classe mdia, os simples notveis, preferia, por ambio familiar, concentrar esforos e recursos num pequeno nmero de rebentos". (16)

Como se pode notar, muitas caractersticas da sociedade romana esto ainda presentes entre ns, mais notadamente a existncia de valores que colocam o patrimnio privado em escala valorativa maior do que a prpria vida humana. Isto se manifesta ainda na atualidade em algumas normas jurdicas esparsas, civis e penais.

Em anlise da origem e desenvolvimento das diferenas sociais causadas pela transformao de Roma em grande potncia, Lon Bloch escreve:

"Na antigidade a poltica imperialista era um fenmeno necessrio que coexistia com a democracia; ensinamento que tambm a histria de Atenas, nica potncia grega nos proporciona (...). A poltica imperialista das democracias no foi outra coisa seno uma poltica de explorao. O trabalho corporal, pessoal, no goza de considerao nenhuma onde impera a escravido. Na antigidade o cidado no sentia alegria com os trabalhos no campo ou na obscura oficina; ao contrrio: aspirava a que outros trabalhassem por ela da mesma maneira que as famlias nobres do pas, em geraes passadas, mantiveram em sujeio econmica as demais classes sociais - e tudo isto em plena conscincia da dignidade que confere a soberania popular" (17).

2 - Do pensamento cristo medieval Revoluo Francesa.

O pensamento cristo primitivo, no tocante ao Direito Natural, herdeiro imediato do Estoicismo e da Jurdica Romana. A noo objetiva do Direito Natural pode ser encontrada muito bem figurada no famoso texto de So Paulo:

"... quando os gentios, que no tm lei, cumprem naturalmente o que a lei manda, embora no tenham lei, servem de lei a si mesmos; mostram que a lei est escrita em seus coraes" - Rom. 2, 14-15 (18).

Os Padres da Igreja vo pegar dos esticos a distino entre Direito Natural absoluto e relativo. Para eles o Direito Natural absoluto era o direito ideal que imperava antes que a natureza humana tivesse se viciado com o pecado original. Com este Direito Natural absoluto todos os homens eram iguais e possuam todas as coisas em comum, no havia governo dos homens sobre homens nem domnio de amos sobre escravos. Todos os homens viviam em comunidades livres sobre o imprio do amor cristo.

O Direito Natural relativo era, ao contrrio, um sistema de princpios jurdicos adaptados natureza humana aps o pecado original. Portanto, como nos explica BODENHEIMER: "Do pecado original derivou a obrigao do trabalho e com ele a instituio da propriedade. A apario da paixo sexual depois do pecado exigiu as instituies do matrimnio e da famlia. Do crime de Caim surgiu a necessidade do Direito e da Pena. A fundao do Estado por Nemod foi o comeo do governo.

A confuso de lnguas que se produziu quando os homens construram a torre de Babel motivou a diviso da humanidade em naes distintas. O ultraje de Caim serviu como justificao da escravido. Desta forma, a propriedade privada, o matrimnio, o Direito, o governo e a escravido se converteram em instituies legtimas de Direito Natural relativo. Mas os Padres da Igreja ensinavam que era preciso tentar sempre se aproximar o Direito Natural relativo ao ideal de Direito Natural absoluto" (19). Esperava-se que a hierarquia da Igreja vivesse daquela forma, entretanto os fiis poderiam se limitar a cumprir o Direito Natural relativo. Com esta soluo aristocrtica a Igreja conseguiu manter os ideais cristos longe da realidade (20).

A doutrina de SANTO AGOSTINHO (354-430 d.C.) tem um importante papel nos postulados do Direito Natural absoluto. Ele considerava o governo, o direito, a propriedade, a civilizao toda como produto do pecado, e a Igreja, como guardi_ da Lei Eterna de Deus, poderia intervir nestas instituies quando julgasse oportuno. Para SANTO AGOSTINHO, se as leis terrenas (lex temporalis) contm disposies claramente contrrias Lei de Deus, estas normas no tm vigncia e no devem ser obedecidas (21).

Novecentos anos mais tarde, a doutrina de So TOMS DE AQUINO (1226-1274) mostra em maior grau a necessidade da realidade mostrada atravs do conceito de Direito Natural relativo expressar os ideais cristos (22): "As opinies de So TOMAS DE AQUINO sobre questes jurdicas e polticas mostram especialmente a influncia do pensamento aristotlico adaptado s doutrinas do Evangelho e dos Padres da Igreja integrado em um importante sistema de pensamento" (23).

O papel da Igreja, em sua relao com o governo, levar So Toms de Aquino, assim como grande parte dos pensadores medievais, a colocar o Direito Natural como de importncia decisiva, pois s com uma norma de carter mais geral, colocada acima do Direito Positivo, poderia haver alguma esperana de realizao da Justia Crist (24).

A doutrina do representante mximo da filosofia crist_ um primeiro passo para a autonomizao do Direito Natural como Cincia, pois se a lei natural exprime o contedo de Direito Natural como algo devido ao homem e sociedade dos homens, esta adquire, no tocante criatura racional, caractersticas especficas (25).

So Toms distingue quatro classes de Lei:

a) a Lei Eterna, que a razo do governo universal existente no Governante Supremo. Esta Lei dirige todos os movimentos e aes do Universo;

b) a Lei Natural, que a participao da criatura humana na Lei Eterna, uma vez que nenhum ser humano pode conhecer a Lei Eterna em toda sua verdade. A Lei Natural a nica concepo que tem o homem dos interesses de Deus. Ela d ao homem a possibilidade de distinguir o bem e o mal, e por esta razo deve ser guia invarivel e imutvel da lei humana;

c) a Lei Divina: uma vez que a Lei Natural consiste em princpios gerais e abstratos, deve se completar com direes mais particulares dadas por Deus, acerca de como devem os homens se conduzir. Esta a funo da Lei Divina que revelada por Deus nas Sagradas Escrituras;

d) a Lei Humana - finalmente, a Lei Humana um ato de vontade do poder soberano do Estado, mas para ser lei deve estar de acordo com a razo. Se esta lei contradiz um princpio fundamental de Justia, no ser lei e sim uma perverso da Lei. O governante temporal deve observar os princpios da Lei Eterna refletidos na Lei Natural (26).

Podemos perceber neste perodo da Histria, que mais uma vez, todo o pensamento desenvolvido sobre os Direitos Naturais, e as aspiraes de Justia, permanecem distantes da realidade. Alis, como a prpria Igreja havia pregado, enquanto o Direito Natural absoluto era privilgio de seus Padres, para o imenso rebanho bastava o Direito Natural relativo ou, na realidade, algo muito pior, quando em "12 de maio de 1314 d-se o primeiro auto de f e seis indivduos, acusados de heresia, foram queimados vivos vinte e cinto indivduos que no quiseram arrepender-se, abjurar de suas crenas e confessar que a Igreja estava certa. _ medida que as heresias alastravam-se, o herege passou a ser visto como uma perigosa ameaa sociedade e como um traidor de Deus" (27).

Enquanto que no continente europeu permaneciam as violaes dos Direitos Fundamentais mais elementares, na Inglaterra comeava-se a transformao da realidade com o surgimento do esboo do que seria uma Constituio Moderna. Em 1215 na Inglaterra elaborada a Magna Carta, imposta pelos Bares ingleses ao Rei, marcando o incio da limitao do poder do Estado. Trata ainda esse texto, muito mais de uma garantia dos direitos dos Bares, proprietrios de terra, do que de uma ampla garantia dos direitos de todo o povo.

No restante da Europa um fato ao qual pode no ser dada tanta importncia, contribui de forma decisiva para que os direitos da pessoa deixem de ser meras construes filosficas, para comearem a se tornar realidade. Este fato foi o aperfeioamento da imprensa por Gutemberg, que em 1455 fez o primeiro livro com a nova tcnica por ele inventada: os tipos, ou seja, as letras, formadas por uma liga de antimnio e chumbo. Este primeiro livro ser a Bblia em dois volumes.

Com o aperfeioamento da imprensa, livros sero impressos e traduzidos e as idias circularo com maior rapidez e para um maior nmero de pessoas.

A primeira mudana sensvel que ocorrer ser na Religio, com o segundo grande Cisma da Igreja causado pela Reforma Protestante. Posteriormente toda a realidade social existente ser objeto de indagao, tendo como principal corrente de questionamento e de proposio de mudanas, o Iluminismo.

Descartes o ponto de partida para o Iluminismo, corrente filosfica e cultural que vai tomar conta da Europa Ocidental. O Iluminismo fundado no Racionalismo. Todas as coisas poderiam e deveriam ser explicadas atravs da razo. O poder estatal, exercido pelos reis e explicado pela vontade divina, passa a ser compreendido como fora de vontade popular. O Direito Natural complemente revisto. Na Idade Mdia este Direito Natural era visto como vinculado vontade de Deus. A partir da Escola de Direito Natural de Grotius (1625) no mais entendido desta forma. Os Direitos Naturais so produtos da razo (28).

BODENHEIMER chamar esta fase do Direito Natural como fase clssica, que para o Autor ser dividida em trs perodos:

O primeiro aps o Renascimento e a Reforma, que corresponde teoria de HUGO GROTIUS (que preparou o terreno para a doutrina clssica), HOBBES, SPINOZA, PUFENDORF e WOLFF, onde o Direito Natural residia meramente na prudncia e automoderao do governante; o segundo perodo comea com a Revoluo Puritana de 1.649, e caracterizado por uma tendncia para o capitalismo livre na economia e o liberalismo na poltica e na filosofia, onde encontraremos as idias de LOCKE e MONTESQUIEU (nesta poca a preocupao era garantir os indivduos contra as violaes por parte do Estado); e finalmente o terceiro perodo, que est marcado por uma forte crena na soberania popular, na Democracia. O Direito Natural estava confiado vontade geral do povo. O representante mais destacado desta poca foi ROUSSEAU, que exerceu influncia sobre KANT (29).

LEO STRAUSS (30) vai referir-se a esta fase do Direito Natural como sendo a fase moderna e colocar JOHN LOCKE como o mais clebre. Com relao classificao, a de BODENHEIMER sem dvida nos d uma idia melhor da evoluo do Direito Natural; vamos recorrer aos ensinamentos de LEO STRAUSS, quando este analisa o pensamento de HOBBES, LOCKE e ROUSSEAU, aos quais faremos uma breve referncia antes de estudarmos o ressurgimento do Direito Natural na atualidade.

Assim como todos pensadores que citamos aqui aps os prprios gregos, tambm HOBBES aprendeu muito com os filsofos gregos. Plato ensinar a HOBBES que a matemtica ser a me de toda a cincia da natureza. Entretanto HOBBES considera a filosofia antiga mais um sonho que uma cincia, o conjunto do pensamento hobbesiano nos mostra uma combinao tipicamente moderna feita de idealismo poltico e de uma concepo materialista e atia do universo (31).

HOBBES ser o continuador do pensamento de HUGO GROTIUS (1583-1645), a quem se atribui a origem do Jusnaturalismo, que sustentava a imutabilidade do Direito Natural comparando-o s normas dos axiomas matemticos ("nem Deus poderia modificar as normas oriundas da conformidade ou no conformidade dos atos humanos com a natureza, tal como no poderia fazer com que dois e dois no fossem quatro") (32). Como bem observa o Professor EDGAR DE GODOI DA MATA-MACHADO: "Racionalizado, reduzido o conceito inventado pelo esprito, sem qualquer referncia s circunstncias e s situaes concretas, histricas e fticas, existenciais da condio humana, o Direito Natural dos jusnaturalistas estava fadado, em breve, apenas iniciado o sculo XIX, a ser complemente elidido pelos que no vem outro objeto para o Direito seno o estudo de normas originrias da vontade estatal expressa sob as mais diferentes formas" (33).

a poca do Jusnaturalismo abstrato, a explicao de tudo encontrada no prprio homem, na prpria razo humana, nada de objetivo levado em considerao, a realidade social, a Histria, a razo humana se tornam uma divindade absoluta.

Outro importante representante do racionalismo ou, como chamamos anteriormente, do Jusnaturalismo abstrato ser JOHN LOCKE. "Individualista como HOBBES, o filsofo ingls JOHN LOCKE (1632-1704) sustentou teoria jurdico-poltica sob muitos aspectos diferentes e oposta de seu compatrcio igualmente famoso" (34). Enquanto HOBBES era politicamente favorvel extenso do poder real e com isso contribuiu para reforar teoricamente o absolutismo do Estado, LOCKE era um partidrio da supremacia do Parlamento (35).

Para LOCKE a lei natural uma regra eterna para todos, sendo evidente e inteligvel para todas as criaturas racionais. A lei natural, portanto, igual lei da razo. Para ele o homem deveria ser capaz de elaborar "a partir dos princpios da razo um corpo de doutrina moral que seria seguramente a lei natural e ensinaria todos os deveres da vida, ou ainda formular o enunciado integral da lei da natureza, a moral completa, ou ainda um "cdigo" que nos d a lei da natureza "integral". Este cdigo compreenderia, entre outras coisas, a lei natural penal" (36). Podemos notar que com este pensamento est aberto o caminho para o positivismo.

Outro grande pensador a quem no podemos deixar de fazer referncia ROUSSEAU.

Para LEO STRAUSS, a primeira crise deste esprito moderno se manifesta com o pensamento de ROUSSEAU. ROUSSEAU pensa que a aventura moderna era um erro radical e procura um remdio para isso no retorno ao pensamento antigo. Ele atacava esta modernidade em nome de duas idias da antigidade: em nome da cidade e da virtude, de um lado, e em nome da natureza, de outro. "Os antigos polticos falavam sempre dos modos e da virtude; os nossos s falam do comrcio e do dinheiro" (37). "O comrcio, o dinheiro, as luzes, a emancipao do desejo de adquirir o luxo e a crena na onipotncia das leis, estas so as caractersticas do nosso Estado Moderno, quer se trate de uma monarquia absoluta, ou de uma Repblica Parlamentar" (38).

Existe um claro conflito no pensamento de ROUSSEAU, que defende duas posies diametralmente opostas: em um momento ele defende ardentemente os direitos do indivduo contra toda a opresso e autoridade; no momento seguinte, no menos ardentemente, ele defende a disciplina moral ou social, a mais rigorosa. Os estudiosos de ROUSSEAU dizem que no seu perodo de maior maturidade ele finalmente conseguiu superar esta hesitao temporria. ROUSSEAU acreditar at o fim que o bom tipo de Estado, ele mesmo uma forma de escravido. Logo ROUSSEAU no pde considerar sua soluo do problema do conflito entre indivduos e sociedade como alm de uma aproximao passvel que est exposta a dvidas legtimas. A libertao do homem, da autoridade, da opresso e da responsabilidade em uma palavra, retornar ao Estado da Natureza, para ROUSSEAU uma possibilidade legtima. Logo a questo que se coloca como ROUSSEAU compreendeu este insolvel conflito (39).

No "Discurso sobre a Cincia e as Artes", ROUSSEAU ataca as cincias e as artes que sustentam os poderosos, e por isso so incompatveis com a virtude. Para o filsofo a virtude a nica coisa que importa. "ROUSSEAU mostra a significao da virtude bem claramente ao se referir aos exemplos do cidado-filsofo Scrates, de Fabricius e sobretudo de Caton: Caton era o maior dos homens. A virtude principalmente a virtude poltica, a virtude do patriota ou a virtude do povo inteiro. Ela pressupe uma sociedade livre: a virtude e a sociedade livre so ligadas entre si (40).

Antes de seguirmos adiante, para estudarmos o ressurgimento do Direito Natural na poca atual, oportuno transcrever dois trechos do "Discurso sobre as Cincias e as Artes", de JEAN-JACQUES ROUSSEAU:

"Enquanto o governo e as leis provm a segurana e o bem-estar dos homens reunidos, as cincias, as letras e as artes, menos despticas e qui mais poderosas, estendem guirlandas de flores s cadeias de ferro a que os homens esto presos, neles sufocam o sentimento dessa liberdade original para a qual pareciam ter nascido, fazem-nos amar a prpria escravido, e criam o que se costuma chamar de povos policiados. A necessidade ergueu os tronos; as Cincias e as Artes os consolidaram. Poderosos da Terra, amai os talentos, e protegei os que os cultivam! Povos policiados, cultivai-nos! Venturosos escravos, deveis a eles esse gosto delicado e fino com o qual vos picais, essa doura de carter e essa urbanidade de costumes que correspondem entre vs ao comrcio to afvel e to fcil; numa palavra, as aparncias de todas as virtudes sem que haja alguma" (41).

Neste trecho ROUSSEAU combate as artes que sustentam o Poder opressor do Estado. No trecho que se segue, ROUSSEAU coloca a virtude com a base de tudo: "Como seria agradvel viver entre ns, se a continncia exterior fosse sempre a imagem das disposies do corao, se a decncia constitusse a virtude, se nossas mximas nos servissem de regra, se a verdadeira filosofia estivesse separada do ttulo de filsofo! Mas tantas qualidades raramente caminham juntas, e a virtude nunca marcha em meio a prpria pompa. A riqueza do adorno pode anunciar um homem opulento, e sua elegncia um homem de gosto. O Homem so e robusto se reconhece por outras marcas; sob o hbito rstico de um trabalhador, e no sob os enfeites de um corteso que encontraremos a fora e o vigor do corpo. O adorno no menos estranho virtude, que a fora, o vigor da alma. O homem de bem um atleta que se compraz em combater nu; despreza todos esses vis ornamentos que prejudicariam o uso de suas foras, a maior parte dos quais foi inventada para ocultar alguma deformidade" (42).

Entretanto, apesar de todas as questes que possam ser levantadas respeito do Jusnaturalismo, ou Jusracionalismo o fato mais importante ser o incio das garantias formais dos Direitos Humanos, entendidos na poca como sinnimos de Direitos Individuais Fundamentais.

O Professor JOAQUIM CARLOS SALGADO sobre esta conquista escreve: "A idia de garantir os direitos fundamentais a cada indivduo uma conquista terica dos pensadores franceses" (43).

Estas mesmas idias serviram de fundamento para a Declarao de Independncia dos Estados Unidos da Amrica do Norte, e foram posteriormente materializadas na Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado (1.789, Frana).

No se pode deixar de citar de forma alguma todo o processo pioneiro de materializao destes direitos fundamentais ocorrida na Inglaterra. Aps a j citada Magna Carta de 1215, seguiram-se o "Ato de Habeas Corpus" de 1679 e o Bill of Rights de 1688, assim como o Instrumento de governo de Cromwell, para muitos autores a primeira Constituio no sentido moderno da palavra e que inspirou a Constituio Norte-Americana de 1787.

O professor RAUL MACHADO HORTA sintetiza muito bem este processo histrico at aqui estudado:

"A recepo dos direitos individuais no ordenamento jurdico pressupe o percurso de longa trajetria, que mergulha suas razes no pensamento e na arquitetura poltica do mundo helnico, trajetria que prosseguiu vacilante na Roma imperial e republicana, para retomar seu vigor nas idias que alimentaram o Cristianismo emergente, os telogos medievais, o Protestantismo, o Renascimento e, afinal, corporificar-se na brilhante florao das idias polticas e filosficas das correntes do pensamento dos sculos XVII e XVIII. Nesse conjunto temos fontes espirituais e ideolgicas da concepo, que afirma a precedncia dos direitos individuais inatos, naturais, imprescritveis e inalienveis do homem" (44).

3 - Do Estado Liberal ao Estado Social

O processo de materializao dos Direitos Fundamentais se inicia na Inglaterra e marca o incio da derrocada da monarquia absoluta que ir ceder lugar a um novo tipo de Estado: O Estado Liberal.

O Professor Pinto Ferreira ensina que a origem das Constituies na histria europia remonta s lutas travadas entre a monarquia absoluta e a nobreza latifundiria na Inglaterra. O primeiro dos atos legislativos que demarca a passagem da Monarquia Absoluta para a Monarquia Constitucional o que se concretizou no Assise de Clarendon em 1166. Entretanto, o grande marco desta transio ser a Magna Carta de 1215, derivada do conflito entre o Rei Joo e os bares. Aps este texto novas limitaes ao poder absoluto foram feitas, garantindo-se aos indivduos certos Direitos Fundamentais. Desta forma teremos em 1629 o Petition of Rights, o Habeas Corpus Act de 1679 e principalmente o Bill of Rights de 1.689 (45).

A primeira Constituio escrita, nacional e limitativa no mundo foi o Instrument of government promulgado por Cromwell em 1652, durante a curta experincia republicana inglesa e segundo A. ESMEIN, o prottipo da Constituio dos Estados Unidos (46).

O professor francs, destaca como momento marcante para o direito constitucional, a Revoluo Norte-Americana de 1776 e a Revoluo Francesa de 1789 (47). Os Direitos Fundamentais sero reafirmados pela declarao de independncia dos Estados Unidos e pela Declarao dos direitos do homem e do cidado de 1789, na Frana. Estes direitos consagrados pela declarao de 1789 vo constar dos textos constitucionais franceses de 1791, 1793, 1795, 1799, 1802, 1804, 1814 e 1830 (48).

A Constituio Norte-Americana de 1787, inicialmente no continha uma declarao de direitos.

Aps a exigncia dos Estados-Membros, foram votadas em 1789 dez emendas Lei Suprema que iro conter o chamado "Bill of Rights", posteriormente ratificados por 3/4 partes dos Estados-membros (49).

Ser a partir destas revolues, que vo se consagrar os princpios liberais poltico e econmico. Surge portanto o Estado Liberal que pouco a pouco ir tomar conta da Europa. Porm, como bem salienta Paulo Bonavides, triunfou apenas o Liberalismo e no a Democracia (50).

O Estado Liberal tpico, no vai fazer em suas Constituies nenhum dispositivo referente ordem econmica. As declaraes de Direito Fundamental no fazem meno ao aspecto econmico. Este tipo de Estado vai se caracterizar pela omisso como regra de conduta s se preocupando com a manuteno da ordem atravs do poder de polcia, e a manuteno da soberania atravs das foras armadas (51).

"O Liberalismo Clssico corresponde ao Estado Liberal que traduzia o pensamento econmico do laissez-faire, laissez-passer, deixava aos cidados a possibilidade do exerccio da livre concorrncia de modo que o egosmo de cada um ajudasse a melhoria do todo" (52).

Para Maurice Duverger, o Liberalismo Poltico est resumido no artigo 1 na declarao dos Direitos do Homem e do Cidado de 1789:

"Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos".

A ideologia liberal demonstra-se individualista, baseada na busca dos interesses individuais (53).

O contedo dos Direitos Fundamentais nesta poca seriam os Direitos Individuais relativos liberdade e igualdade.

Temos ento a liberdade de locomoo, a liberdade de empresa, ou seja, a liberdade de comrcio e de indstria, a liberdade de conscincia, a liberdade de expresso, de reunio, de associao, o direito propriedade privada (54), a inviolabilidade de domiclio, e entre outros direitos do indivduo isolado, a igualdade perante a lei.

Entretanto, convm ressaltar que a base fundamental deste Estado liberal, ser o direito de propriedade que absoluto e intocvel. Como j dissemos anteriormente, Liberalismo no sinnimo de Democracia, sendo que s posteriormente, haver uma fuso destes dois conceitos. Desta forma, o liberal Charles Tocqueville vai constatar a existncia de duas concepes diferentes de Estado: a concepo liberal, que defende a correlao entre propriedade e liberdade e a concepo democrtica que defende a correlao entre igualdade e liberdade (55).

Este individualismo dos sculos XVII e XVIII corporificados no Estado Liberal, e a atitude de omisso do Estado frente aos problemas sociais e econmicos vai conduzir os homens a um capitalismo desumano e escravizador. O sculo XIX vai conhecer desajustamentos e misrias sociais que a revoluo industrial vai agravar e que o Liberalismo vai deixar alastrar em propores crescentes e fascista a liberal-democracia se viu encurralada (56). O Estado no mais podia continuar se omitindo perante os problemas sociais e econmicos.

Desta forma, aps a Primeira Guerra Mundial, as novas Constituies que iro surgir, "no ficam apenas preocupadas com a estrutura poltica do Estado, mas salientam o direito e o dever do Estado em reconhecer e garantir a nova estrutura exigida pela sociedade" (57).

A partir deste momento as superiores exigncias da coletividade vo se contrapor aos direitos absolutos da Declarao de 1789. "Aos princpios que consagram a atitude abstencionista do Estado impe-se o do artigo 151 da Constituio de Weimar: A vida econmica deve ser organizada conforme os princpios de Justia, objetivando garantir a todos uma existncia digna" (58).

O Estado agora, ir preocupar-se com o social. O contedo dos Direitos Fundamentais se ampliam ainda mais. Agoira, alm dos Direitos Individuais, dos Direitos Polticos, que foram se afirmando nas democracias - liberais, esto tambm consagrados os Direitos Sociais, nas Constituies Modernas.

Boris Mirkine-Guetzevitch confirma o que viemos de afirmar quando escreve: " em matria de Direitos do homem que essas Constituies de aps 1918 so particularmente inovadoras. Sua principal contribuio o alargamento do catlogo clssico: novos direitos sociais so reconhecidos, aparecem novas obrigaes positivas do Estado. (...) Os textos que da decorrem, comeam a ocupar-se menos do homem abstrato do que do cidado social" (59).

Mirkine-Guetzevitch, estudando a evoluo constitucional europia, escreve que a Constituio de Weimar (Alemanha) ser a primeira cronologicamente que reservar um grande lugar aos direitos sociais abrindo a srie das novas Declaraes dos Direitos (60).

A Constituio de Weimar ser a primeira constituio social europia, sendo considerada a matriz do novo constitucionalismo social. Entretanto esta no ser a primeira do mundo. A Constituio do Mxico de 1917, precede a de Weimar, marcando o incio do Estado Social, preocupado com os problemas sociais. Esta Constituio produto da Revoluo Mexicana iniciada em 1.910 (61).

4 - A crise do nascente Estado Social, os Estados totalitrios e a internacionalizao dos Direitos Humanos.

A Constituio de Weimer de 1.919 marca o incio do Estado Social Alemo, servindo de modelo para diversos outros Estados europeus. Ser a Primeira Guerra Mundial reflexo de todas as tenses sociais internas causadas pela incontrolvel misria em vrios pases europeus, sendo decisiva "para a Revoluo Russa em 1.917 e quase um ano depois, para o movimento popular de marinheiros, soldados e operrios que proclamou a repblica na Alemanha" (62).

Percebe-se neste momento que o Estado deveria deixar aquela sua conduta abstencionista e passar a garantir os Direitos Sociais mnimos da populao. Para que realmente os Direitos Individuais pudessem ser usufrudos por toda populao, deveriam ser garantidos os meios para que isto fosse possvel. Desta forma, se o Liberalismo fala em liberdade de expresso e conscincia, deve toda populao ter acesso ao direito social educao, para formar livremente sua conscincia poltica, filosfica e religiosa e ter meios, ou capacidade de expressar esta conscincia.

Portanto, os Direitos Sociais aparecem como mecanismo de realizao dos Direitos Individuais de toda populao. Percebe-se desde o incio que embora os Direitos Individuais e Sociais sejam grupos de direitos com caractersticas prprias, no so estanques. Quando no ps 1 Guerra se fala em Direitos Fundamentais dos seres humanos, agoira no se fala somente em Direitos Individuais, mas tambm em Direitos Sociais. Este novo componente dos Direitos Fundamentais dos seres humanos passa, a partir deste momento, a formar um novo todo indivisvel dos Direitos Humanos no incio do sculo. Note-se que a idia do Estado Social tambm contm outro Direito Fundamental que vem se afirmando lentamente no sculo XIX: os Direitos Polticos, entendidos principalmente como direito do povo de participar no Poder do Estado. a democracia social.

Estes Direitos Sociais, portanto, com a Constituio do Mxico de 1.917 e de Weimar (Alemanha) de 1919, passam a ser considerados Direitos Fundamentais dos seres humanos, passando a integrar os novos textos constitucionais.

Nesta mesma poca comea tambm a internacionalizao dos Direitos Humanos. criada a Sociedade das Naes e especificamente no campo dos Direitos Sociais, a O.I.T. (Organizao Internacional do Trabalho). O Direito do Trabalho o Direito Social por excelncia sendo que os precursores da idia de uma legislao internacional "so dois industriais, o ingls Robert Owen e o francs Daniel Le Grand, no comeo do sculo XIX" (63).

Explica Amauri Mascaro do Nascimento que "para o direito do trabalho, o tratado de Versalhes (1919) assumiu especial importncia, pois dele surgiu o projeto de organizao internacional do trabalho. A Parte XIII desse trabalho considerada a Constituio Jurdica da Organizao Internacional do Trabalho - O.I.T., e foi complementada pela Declarao de Filadlfia (1944) e pelas reformas da Reunio de Paris (1945) da O.I.T. (64). A atividade normativa da O.I.T. consta das Convenes, Recomendaes e Resolues que podem depender ou no de ratificao dos Estados Soberanos: As "Convenes Internacionais so normas jurdicas emanadas da Conferncia Internacional da OIT, destinadas a constituir regras gerais e obrigatrias para os Estados deliberantes que as incluem no seu ordenamento interno, observadas as respectivas prescries constitucionais" (65).

Durante a primeira guerra tambm, percebem os homens de Estado a necessidade de se criar um mecanismo encarregado de fazer valer um certo ideal de relaes internacionais que conforme Stanley Hoffmann pode-se chamar de um ideal de submisso dos Estados a grandes princpios jurdicos definidos na Carta da Sociedade das Naes (66).

A Sociedade das Naes criada em Versalhes sob a influncia do Presidente Norte-Americano Wilson trazendo uma esperana de paz universal. Logo aps, outros textos se sucedem: a conferncia de Washington sobre desarmamento em 1921 e o Pacto Briand - Kellog de 1928 condenando a guerra so exemplos destas etapas em direo paz que entretanto, muito brevemente se transformar em grande decepo. Embora haja uma certa unificao do progresso social graas criao do OIT, muitos governantes europeus hesitam entre uma poltica social e uma atitude conservadora que facilite os empreendimentos capitalistas (67).

A grande crise econmica de 1928-1929, especialmente brutal nos Estados Unidos, conseqncia direta da relao entre a produo e a repartio mostra a fragilidade do mundo liberal (68), introduzindo a questo do direito econmico como outro elemento essencial dos Direitos Humanos.

Essa crise faz aumentar a influncia da idia fascista do Estado Totalitrio j introduzido na Itlia da dcada de 20 e nascente na Alemanha e outros Estados na dcada de 30. O Estado Social mal nascera j cede lugar a um outro modelo de Estado: opressor e violento, onde os Direitos Individuais, Sociais e Polticos so ignorados.

Leandro Konder em estudo sobre o fascismo escreve: "O fascismo italiano de Mussolini extraiu de Sorel muitos aspectos de sua concepo de violncia, muito do seu entusiasmo pelos "remdios hericos", extraiu de Nietzche sua tica aristocrtica, seu culto do "super homem". O fascismo alemo de Hitler tambm aproveitou algo de Nietzche e se apoiou decisivamente nas idias racistas de Eugen Dhring (aquele professor cego de Berlim contra quem Friedrich Engels polemizou), de Paul Botiches e sobretudo de Houston Steuart Chamberlain. Na Frana, o fascismo de Charles Maurras e Leon Daudet foi precedido pelo racismo de Arthur de Lobineau (o amigo do imperador D. Pedro II) de Vacher de Lapouze e de Gustave Le Bon, alm de ter encontrado importantes pontos de apoio nos escritos de Joseph de Maistre, de Ren de La Tour du Pin e de Maurice Barrs. De maneira geral, todo pensamento de direita que, ao longo do sculo XIX, se empenhou na "demonizao" da esquerda, desempenhou um papel significativo na preparao das condies em que o fascismo pde, mais tarde, irromper" (69).

A falta de coordenao entre pases chaves da Sociedade das Naes pe em cheque aquela organizao. De outro lado, o desemprego generalizado na Alemanha (cerca de 5 milhes e meio de desempregados em 1933) explica o sucesso crescente do Partido Nacional Socialista de Hitler que se torna o nico representante do Poder Alemo em 1934 (70).

Pouco tempo depois o mundo se encontrava no mais violento conflito armado levando morte milhes de pessoas. Marca a segunda guerra mundial o sacrifcio da populao sovitica, pas chave na vitria aliada, a perseguio violenta e genocida dos judeus em toda a Europa, e o crime inesquecvel das bombas nucleares norte-americanas sobre Hiroshima e Nagasaki no Japo, cujos efeitos seguiram-se exploso, matando lentamente aqueles que foram expostos a radiao da bomba A.

Aps a 2 Guerra Mundial sente-se a necessidade de criar mecanismos eficazes que protejam os Direitos Fundamentais do homem nos diversos Estados. J no se podia mais admitir o Estado nos moldes liberais clssicos de no interveno. O Estado est definitivamente consagrado como administrador da sociedade e convm, ento, aproveitar naquele momento, os laos internacionais criados no ps-guerra para que se estabelea um ncleo fundamental de Direitos Internacionais do homem (71).

desta forma que se far a Declarao Universal de Direitos Humanos de 1948, a Declarao Americana dos Direitos e Deveres do Homem (Bogot, 1948), a Conveno Americana dos Direitos do Homem, assinada em 22 de novembro de 1.969, em So Jos da Costa Rica, entre outras declaraes, convenes e pactos, alm de organizaes no estatais, sendo que entre estas organizaes, atuam hoje com maior destaque, a Anistia Internacional, a Comisso Internacional dos Juristas, o Instituto Interamericano de Direitos Humanos, este ltimo, com sede na Costa Rica, tendo como finalidade a divulgao de idias e a educao em Direitos Humanos.

Entretanto, o mundo ps Segunda Guerra, aps um curto perodo de calma encontra a novidade da diviso do mundo em duas reas de influncia: uma norte americana e a outra sovitica. Assiste-se neste perodo violncia norte americana contra o Vietn, Cuba, Granada, Nicargua e quase todos os pases latino-americanos que receberam regimes autoritrios impostos e financiados pelos Estados Unidos. A tortura, as perseguies e assassinatos praticados pelo Estado e por grupos para-militares comum no Chile, na Argentina, Uruguai, Brasil, Honduras e El Salvador.

Do outro lado, o exrcito sovitico impe, fora, a poltica sovitica na Hungria, Tchecoslovquia, Afeganisto.

O processo de libertao das colnias africanas doloroso e cruel, sendo que aqueles mesmos pases que se comprometeram a respeitar os Direitos Humanos de 1948 violam de forma agressiva estes direitos. o caso da Frana na Arglia. As colnias portuguesas aps uma longa guerra de libertao, recebem seu pas arrasado, sendo que o difcil processo de reconstruo impedido por movimentos guerrilheiros em Moambique e Angola, financiados pelo Governo Sul-Africano e Norte-Americano.

A ordem econmica mundial que favorece os pases do norte responsvel pela morte de crianas diariamente em todo o chamado terceiro mundo, por fome e pela violncia gerada pela injustia social.

Esta realidade o desafio para os tericos dos Direitos Humanos, responsveis pela divulgao da idia, pela formao de conscincias, nico meio eficaz de se realizarem os Direitos Humanos.

(01) BODENHEIMER, Edgar. Teora del Derecho, Fondo de Cultura Econmica, Mxico, 1942, p. 128; Maillet. J. Institutions Politiques et Sociales de L'Antiquit. 2 ed., Dalloz, Paris, 1971, p. 53; Prlot, Marcel. Historie des Ides Politiques, Dalloz, Paris, p. 15.

(03) BODENHEIMER, Edgar. Teora del Derecho, ob. cit., p. 127; Friedrich, Carl Joachim. La Filosofa del Derecho. Fondo de Cultura Econmica, Mxico, 1969, pp. 27 e ss; Machado Neto. A. L. Para uma Sociologia do Direito Natural. Livraria Progresso, Salvador, 1.957.

(04) LITRENTO, Oliveiros Lessa. Curso de Filosofia de Direito, Rio de Janeiro, Ed. Rio, 1.980, p. 31.

(05) LITRENTO, Oliveiros Lessa. Curso de Filosofia do Direito, ob. cit., p. 41.

(06) SICHES, Recasns. Tratado General de Filosofia del Derecho, 6 edio, Editorial Porru, S.A., Mxico, 1978, p. 428.

(07) SICHES, Recasns. Tratado General de Filosofia des Derecho, ob. cit., p. 428.

(08) FRIEDRICH, Carl Joachim. Perspectiva Histrica de Filosofia do Direito, p. 31.

(09) FRIEDRICH, Carl Joachim. Perspectiva Histrica da Filosofia do Direito, p. 31.

(10) BODENHEIMER, Edgar. Teora del Derecho, ob. cit., pp. 131/132.

(11) FRIEDRICH, Carl J. Perspectiva Histrica da Filosofia do Direito, ob. cit., p. 44.

(12) MATA-MACHADO, Edgar de Godi da. Elementos de Teoria Geral do Direito, 3 edio, Editora UFMG/PROED, Belo Horizonte, 1.986, pp. 62 e 63.

(13) FRIEDRICH, Carl Joachim. Perspectiva Histrica da Filosofia do Direito, ob. cit., p. 44.

(14) MATA-MACHADO, Edgar de Godi da. Elementos de Teoria Geral do Direito, ob. cit., p. 63.

(15) MATA-MACHADO, Edgar de Godi da. Elementos de Teoria Geral do Direito, ob. cit., p. 64.

(16) Histria da Vida Privada. So Paulo, Companhia de Letras, 1.990, coleo dirigida por Philipe Aris e Geoges Duby, vol. I. pp. 23-24.

(17) BLOCH, Lon. Lutas Sociais na Roma Antiga, 2 edio, Publicaes Europa-Amrica, Portugual, 1.974, pp. 89 e 90.

(18) MATA-MACHADO, Edgar de Godi da. Elementos de Teoria Geral do Direito, ob. cit.

(19) BODENHEIMER, Edgar. Teora del Derecho, ob. cit., p. p. 143-144.

(20) BODENHEIMER, Edgar. Teora del Derecho, ob. cit., p. 144.

(21) BODENHEIMER, Edgar. Teora del Derecho, ob. cit., p. p. 144-145.

(22) BODENHEIMER, Edgar. Teora del Derecho, ob. cit., p. 145.

(23) DODENHEIMER, Edgar. Teora del Derecho, ob. cit., p. 145.

(24) FRIEDRICH, Carl Joachim. Perspectiva Histrica da Filosofia do Direito, ob. cit., p. 59.

(25) MATA-MACHADO, Edgar de Godi da. Elementos de Teoria Geral do Direito, ob. cit., p. 65.

(26) BODENHEIMER, Edgar. Teora del Derecho, ob. cit., p. p. 146-147.

(27) NOVINSKY, Anita. A Inquisio, 2 edio, Ed. Brasiliense, So Paulo, 1.983, p. 19.

(28) SALGADO, Joaquim Carlos. "Os Direitos Fundamentais e a Constituinte in "Constituinte e Constituio", Conselho de Extenso, UFMG, Belo Horizonte, 1.986.

(29) BODENHEIMER, Edgar. Teora del Derecho, ob. cit., p. p. 152-153.

(30) STRAUSS, Leo. Droit Naturel et Histoire. Librairie Plon, Paris, Traduit de l'anglais pour Monique Nathan et Eric Dampire, 1.954, p. 180.

(31) STRAUSS, Leo. Droit Naturel et Histoire, ob. cit., p. 185.

(32) MATA-MACHADO, Edgar de Godi da. Elementos de Teoria Geral do Direito, ob. cit., p. 77.

(33) BODENHEIMER, Edgar. Teora del Derecho, ob. cit., p. p. 146-147.

(34) BODENHEIMER, Edgar. Teora del Derecho, ob. cit., pp. 152-153.

(35) STRAUSS, Leo. Droit Naturel et Histoire, p. 180.

(36) STRAUSS, Leo. Droit Naturel et Histoire, ob. cit., p. 185.

(37) STRAUSS, Leo. Droit Naturel et Histoire, ob. cit., p. 263.

(38) STRAUSS, Leo. Droit Naturel et Histoire, ob. cit., p. 263.

(39) STRAUSS, Leo. Droit Naturel et Histoire, ob. cit., p. 264.

(40) STRAUSS, Leo. Droit Naturel et Histoire__, Ob. cit., p. 265.

(41) ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social e Outros Escritos. Editora cultrix, So Paulo, 1987, traduo do Rolando Roque da Silva, pp. 210-211.

(42) ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social e Outros Escritos, ob. cit., p. 211.

(43) SALGADO, Joaquim Carlos, "Os Direitos Fundamentais e a Constituinte", ob. cit., p. 13.

(44) MACHADO HORTA, Raul. "Constituio e Direitos Individuais", Separata da Revista de Informao Legislativa. a. 20 n.- 79, Julho/Set., 1.983, p. 147-148.

(45) FERREIRA, Luis Pinto. Princpios Gerais de Direito Constitucional Moderno, 6 edio ampl. e atualizada. So Paulo, Saraiva, 1983, p. 57.

(46) A. ESMEIN. Elements de Droit Constitutionnel Franais et Compar, 6 ed. Recueil Sirey, Paris, 1914, p. 577-578.

(47) A. ESMEIN. Elements de Droit Constitutionnel Franais et Compar, ob. cit., p. 565.

(48) A. ESMEIN. Elements de Droit Constitutionnel Franais et Compar, ob. cit., p. 559.

(49) RUSSOMANO, Rosah. Curso de Direito Constitucional. 3 ed. rev. ampl., Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1978, p. 214.

(50) BONAVIDES, Paulo. Do Estado Liberal ao Estado Social. 4 edio, Forense, Rio de Janeiro, 1980, p. 7.

(51) NICZ, Alvacir Alfredo. A Liberdade de Iniciativa na Constituio, Ed. Revista dos Tribunais, So Paulo, 1.981, p. 2.

(52) NICZ, Alvacir Alfredo. A Liberdade de Iniciativa na Constituio, ob. cit., p. 11.

(53) DUVERGER, Maurice. Instituciones Politicas y Derecho Constitucional, 5 edio espanhola, Ariel, Barcelona, 1.970, p. 90.

(54) HAURIOU, Andr. Droit Constitutionnel et Institutions Politiques, 4 edio, Editions Montchrestien, Paris, 1970, pp. 180, 181

(55) GRUPPI, Luciano. Tudo comeou com Maquiavel. 3 edio, LePM editores, Porto Alegre, 1980, pp. 22 e 23.

(56) MALUF, Sahid. Direito Constitucional, 15 edio rev. ampl., Sugestes Literrias, So Paulo, 1.983, p. 495.

(57) BARACHO, Jos Alfredo de Oliveira. "Teoria Geral do Constitucionalismo", Separata da revista de informao Legislativa (a. 23, n. 91 Jul/Set. 1986), p. 46.

(58) BARACHO, Jos Alfredo de Oliveira. "Teoria Geral do Constitucionalismo", ob. cit., p. 46.

(59) MIRKINE-GUETZEVITCH, Boris. Evoluo Constitucional Europia. Traduo de Marina Godoy Bezerra, Jos Konfine editor, Rio de Janeiro, 1957, p. 169.

(60) MIRKINE-GUETZEVITCH, Boris. Evoluo Constitucional Europia, ob. cit., p. 171.

(61) CORREA, Ana Maria Martinez. A Revoluo Mexicana (1910-1917) Editora Brasiliense, So Paulo, 1983, p. 104.

(62) REIS FILHO, Daniel Aaro. A Revoluo Alem - mitos e verses, Ed. Brasiliense, So Paulo, 1.984, p. 11.

(63) NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho, 7 edio, Editora Saraiva, So Paulo, 1989, p. 59.

(64) NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho, ob. cit., p. 60.

(65) NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho, ob. cit., p. 63.

(66) HOFFMANN, Stanley. Organisations Internationales et Pouvoirs Politiques des Etats. Librairie Armand Colin, Paris, 1954, p. 119.

(67) TRORAVAL, Jean. Les Grandes Etapes de la Civilization Franaise. Bordas, Paris, 1978, p. 404-405.

(68) TRORAVAL, Jean. Les Grandes Etapes de la Civilization Franaise, ob. cit., p. 405.

(69) KONDER, Leandro. Introduo ao Fascismo. 2 edio, Edies Graal Ltda., Rio de Janeiro, 1.979, p. 28.

(70) THORAVAL, Jean. Les Grandes Etapes de la Civilisation Franais, ob. cit., p. 405.

(71) ANDRADE, Jos Carlos Vieira de. Os Direitos Fundamentais na Constituio Portuguesa de 1976. Livraria Almedina, Coimbra, 1983, p. 14.