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UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO ANNA LUISA DE CASTRO TECNOLOGIAS DIGITAIS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO ENSINO DE FUNÇÕES QUADRÁTICAS: Contribuições para compreensão das diferentes representações. SÃO PAULO 2011

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UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO

ANNA LUISA DE CASTRO

TECNOLOGIAS DIGITAIS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO ENSINO DE

FUNÇÕES QUADRÁTICAS:

Contribuições para compreensão das diferentes representações.

SÃO PAULO 2011

ANNA LUISA DE CASTRO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

TECNOLOGIAS DIGITAIS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO ENSINO DE

FUNÇÕES QUADRÁTICAS:

Contribuições para compreensão das diferentes representações.

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da

Universidade Bandeirante de São Paulo como

exigência parcial para obtenção de título de

MESTRE EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, sob a

Orientação da Prof.ª Dra. Maria Elisabette Brisola

Brito Prado.

SÃO PAULO 2011

Autora: Anna Luisa de Castro

Título: Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação no ensino de Funções Quadráticas: Contribuições para compreensão das diferentes representações.

Este Trabalho foi julgado e aprovado para obtenção do título de Mestre em Educação Matemática – UNIBAN

São Paulo, 23 / 03 /_2011.

Dedico aos meus amigos e familiares que me

apoiaram, acreditando no meu trabalho e

compreendendo os momentos difíceis e de

ausências.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus pelo motivo maior da minha existência e por ser de fato meu “Porto Seguro”.

À Prof.ª Dra. Maria Elisabette B. B. Prado, minha orientadora, professorinha e

amiga, por sua orientação, paciência, compreensão e carinho nos momentos mais

sombrios.

À Prof.ª Dra. Angélica Fontoura G. Silva, minha querida professora (Gê), pelo

carinho, pela atenção e, principalmente, por ter sido a primeira pessoa a ter lido

meus escritos com carinho e competência.

Ao Prof. Dr. José Armando Valente, pelas sugestões dadas na qualificação.

À Prof.ª Dra. Nielce M. Lobo da Costa, pelo empenho e presteza nas correções e

grandes contribuições na qualificação.

Ao Prof. Dr. Ubiratan D’Ambrósio pelas palavras carinhosas e do estímulo no momento que mais precisei.

A todos os funcionários da pós-graduação da UNIBAN, pelo carinho, respeito e

presteza.

Às Professoras Dra. Marlene Dias e Dra. Verônica Kataoka, pelo carinho e,

principalmente, por me emprestarem com competência e muita humildade: A

Sabedoria.

À Prof.ª Dra. Tânia Maria M. Campos, pelo carinho, pelo respeito e pela condescendência rara de se ver nos dias atuais.

Aos colegas do Mestrado/Doutorado, pelo respeito em todos os momentos do curso.

Aos amigos de luta (Sirlene, Fábio, Paulo Jorge, Márcio, Paulinho, Fátima Sardeiro, Cátia, Ilydio, Rosineide, Fátima Dias, Laíde, Marinês, Elen, Rosana) pelo

companheirismo e pelos bons e verdadeiros momentos.

Aos meus familiares pelo apoio em todas as horas e pela compreensão nos

momentos difíceis.

Aos professores que participaram das oficinas, pela colaboração incansável.

A todos os meus alunos e ex-alunos, por me fazerem acreditar que através da

educação tudo é possível.

A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho!

Por fim, agradecimentos especiais...

À doutoranda Rosimeire Borges, pelo carinho de mãe, pelas risadas de

amigas/irmãs, pela dedicação incansável e pelos conselhos de orientadora.

Às minhas mãezinhas paulistanas e amigas, Claudinha, Cassiana e Ratier.

“Uma grande descoberta resolve um grande

problema, mas há sempre uma pitada de

descoberta na resolução de qualquer

problema. O problema pode ser modesto,

mas se ele desafiar a curiosidade e puser em

jogo as faculdades inventivas, quem resolver

por seus próprios meios, experimentará a

tensão gozará o triunfo da descoberta.

Experiências tais, numa idade suscetível,

poderão gerar o gosto pelo trabalho mental e

deixar, por toda a vida, a sua marca na mente

e no caráter”.

George Polya

(Conferência, Universidade Stanford, 1o de agosto de 1944).

RESUMO

Esta dissertação é resultado de uma pesquisa qualitativa que investigou durante o desenvolvimento de oficinas sobre o tema “Funções Polinomiais do Segundo Grau com o uso integrado das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação – TDIC” a atuação de um grupo de professores de Matemática da Educação Básica que participam do Observatório da Educação da UNIBAN, um projeto financiado pela CAPES. A pesquisa buscou delinear estratégias, recursos e metodologias a serem utilizadas nos cursos de formação continuada, visando favorecer a inserção das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação – TDIC no ensino da Matemática. Para tanto, foram elaboradas atividades pautadas na Teoria dos Registros de Representação Semiótica de Raymond Duval, além das recomendações de pesquisadores das TDIC. Para o levantamento de dados, além de observações acerca das atividades, foram utilizados questionários, registros espontâneos feitos pelos professores e vídeos gravados no desenvolvimento das sessões, bem como entrevistas semiestruturadas a fim de compreender a visão dos professores participantes deste estudo. O tratamento dos dados levou em consideração os pressupostos teóricos acerca das TDIC e o ensino de Funções Quadráticas, bem como a teoria de Lee Shulman, que considera fundamental o estudo do conhecimento do professor sob três perspectivas: o conhecimento do conteúdo especifico, o conhecimento pedagógico do conteúdo e o conhecimento curricular. Esta pesquisa mostrou que a inserção das TDIC foi bastante significativa, uma vez que possibilitou a superação da principal dificuldade apresentada pelos professores participantes: fragilidade do conhecimento pedagógico do conteúdo matemático estudado. Assim, a metodologia das oficinas e as situações didáticas utilizadas revelaram ser um caminho favorável para a formação de professores em contextos semelhantes, pelo fato de potencializar a reconstrução dos conhecimentos sobre o ensinar e aprender Matemática. Palavras-chave: Educação Matemática. Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação. Formação de Professores. Knowledge Base. Registros de Representação Semiótica. Funções Quadráticas.

ABSTRACT

This dissertation is result of qualitative research that investigated the real difficulties of the Mathematic teacher’s group during carried through workshops in the Education’s observatory (UNIBAN) which proposal was development of the concept of Second Degree´s Polynomial Functions with the integrated use of the Digital Technologies of Information and Communication - DTIC. The research searched to delineate strategies, resources and methodologies to be used in the courses of continued formation aiming at to favor the insertion of the DTIC in the education of Mathematics. In intention to reach this objective, activities had been elaborated according the Theory: “Registers of Semiotic Representation”, Raymond Duval, beyond the recommendations of researchers of the DTIC. According to the theory of semiotic representation’s Registers, the Mathematics characterizes itself by the diversity of representations for the same object; in way that the simultaneous mobilization of the least two registers of representation is an essential condition for the learning in Mathematics. For the data-collecting, beyond focal comments concerning the activities, daily pay-elaborated questionnaires, spontaneous registers were made by the professors during the workshops had been used, recorded videos in the development of the workshops, as well as semi structuralized interviews in order to fill the gaps left for the too much instruments of collection. Already the treatment of the data took in consideration the estimated theoreticians concerning the DTIC and the education of Quadratic Functions, as well as the Lee Shulman’s Knowledge Base Theory, who considers essential three teaching knowledge: the knowledge of the specific content, the general pedagogical knowledge and the pedagogical knowledge of the content. It was perceived, in this work, a possible methodology of didactic situations to be used with teacher education in similar contexts. However, the repertoire of knowledge for teaching, having as it reference the teachers’ professional knowledge as mobilized and employed by them in various contexts of the daily work. Also it was verified that the insertion of the DTIC was more revealing than a barrier, whereas the main difficulty presented for the teacher education still inside to the deficiency of knowledge base argued for Shulman (1986), in special the pedagogical knowledge of the mathematical content. Keywords: Mathematics Education. Digital Technologies of Information and Communication. Teacher Education. Knowledge Base. Register and semiotic representation. Quadratic Functions.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 3. 1 - Registro de Representação Semiótica Gráfica para a função

quadrática, f(x), x2-3x+4. ........................................................................................... 53

Figura 3. 2 - Conversão para Registro Gráfico e Tratamento Interno desse Registro.

................................................................................................................................. 54

Figura 3. 3 - Conversão de Registro e o reconhecimento que um Signo complemente

o outro. ..................................................................................................................... 55

Figura 3. 4 - Representação Cartesiana para o mesmo objeto, mas em Registros

Internamente diferentes. ........................................................................................... 56

Figura 4. 1 - Inicializando o Winplot. ......................................................................... 76

Figura 4. 2 - Winplot> 2dim> Aba “Equação” ............................................................ 77

Figura 4. 3 - Usando o menu "Ajuda" ....................................................................... 77

Figura 4. 4 - Usando o comando "Biblioteca" ........................................................... 78

Figura 4. 5 - Menu "ver" e algumas configurações ................................................... 78

Figura 4. 6 - Inserindo uma função a partir da aba "explicita". ................................. 79

Figura 4. 7 - Utilizando o inventário para facilitar edições. ....................................... 79

Figura 4. 8 - Usando o recurso de animação. ........................................................... 80

Figura 4. 9 - Visualização inicial do applet. ............................................................... 81

Figura 4. 10 - Aba de alteração nas formas de representações algébricas. ............. 82

Figura 4. 11 - Abas do menu "Transform Function". ................................................. 82

Figura 4. 12. Abas de transformações e suas respectivas funções. ......................... 83

Figura 4.13 - Abas de edições que permitem duplicar (“Duplicate”) ou criar uma nova

(“New”) função quadrática. Além dos botões "Delete" e "Delete All" que permitem

deletar, a função selecionada e todas, respectivamente. ......................................... 83

Figura 4. 14 - Botão “Step” que possibilita alterar o incremento de variação. .......... 84

Figura 4. 15 - Botão "Round" e incrementos de arredondamento. ........................... 84

Figura 4. 16 - Outras opções do comando "Trasformer Function". ........................... 85

Figura 4. 17 - comando "Trace Vertex". .................................................................... 86

Figura 4. 18 - Fotocópia da panorâmica da atividade 1. .......................................... 88

Figura 4. 19 - Fotocópia panorâmica e reduzida da atividade 2, .............................. 90

Figura 4.20 - Fotocópia panorâmica e reduzida das atividades 3 e 4, as quais

encontram-se anexas no apêndice B. ...................................................................... 92

Figura 4. 21 - Representação dos gráficos da Atividade 4. ...................................... 93

Figura 4. 22 - Representação dos gráficos da Atividade 3. ...................................... 93

Figura 4.23 - Fotocópia panorâmica e reduzida da atividade 5, para uma melhor

visualização consulte o apêndice B. ......................................................................... 96

Figura 4. 24 - esboço dos gráficos da atividade 6. ................................................... 97

Figura 4. 25 - Usando uma régua e o principio da semelhança para verificar se os

gráficos possuem mesma dilatação e concavidade.................................................. 98

Figura 4. 26 - Gráficos esperados com resposta da questão (f) da atividade 6, em (I)

construção no Winplot e em (II) construção no quadratic grapher. ........................ 100

Figura 4.27 - Fotocópia da atividade 6, para melhor visualização consulte o apêndice

B. ............................................................................................................................ 101

Figura 4. 28 - Esboço de uma função quadrática a partir de sua representação. .. 103

Figura 4. 29 - Família obtida por meio da variação do coeficiente (m) da .............. 104

Figura 4. 30 - Família obtida por meio da variação do coeficiente (n) da ............... 105

Figura 4. 31 - Fotocópia da atividade 8, para uma melhor visualização. ................ 107

Figura 4.32 - Representação Gráfica das funções quadráticas solicitadas na questão

(a) dessa oitava atividade. ...................................................................................... 107

Figura 4. 33 - Determinando as raízes graficamente. ............................................. 109

Figura 4.34 - Resolvendo inequações quadrática por Conversão de Registro,

seguido de Tratamento. .......................................................................................... 110

Figura 4. 35 - Fotocopia da oitava atividade, para uma melhor visualização consulte

o apêndice B. .......................................................................................................... 112

Figura 4. 36 - Registro gráfico, no Winplot, para a função y =(200+2x)(50-0,4x) ... 114

Figura 4. 37 - Gráfico da função depois de devidos tratamentos. .......................... 115

Figura 4. 38 - “Carinha” e “Camiseta” a serem construídas no Winplot, para ver essa

atividade na integra consulte o apêndice B. Faz-se necessário observar que esta

atividade é uma adaptação ao trabalho desenvolvido por Maia (2007). ................. 117

Figura 4. 39 - Esboço da "carinha" solicitada nesta atividade. ............................... 118

Figura 4. 40 - Esboço da "camiseta" solicitada nesta atividade. ............................. 119

Figura 4. 41 - Fotocópia da décima atividade trabalhada nas oficinas, para uma

melhor visualização consulte o apêndice B. ........................................................... 120

LISTA DE QUADROS

Quadro 3. 1 - Resolução de uma equação quadrática, ............................................ 53

Quadro 3. 2 - Conversão da Linguagem Natural para outros Registros de

Representação Semiótica. ........................................................................................ 54

Quadro 3. 3 -Mapa conceitual “Knowledge Base” de Shulman ( ALMEIDA;BIAJONE,

2005, p. 12). ............................................................................................................. 71

Quadro 4. 1 - Dedução da função dos vértices obtidos ao variar o coeficiente (b) de

uma função quadrática. .......................................................................................... 100

Quadro 4. 2 - Dedução da forma do vértice para a função quadrática genérica .... 102

Quadro 4. 3 - Duas resoluções distintas, em (I) tratamento algébrico interno e em (II)

conversão de registro de representação. ............................................................... 104

Quadro 4. 4 - Conversão entre os Registros de uma Função Quadrática, em sua

forma canônica, com a diferente de zero. ............................................................... 106

Quadro 4. 5 - Resolução via tratamento algébrico. ................................................ 108

Quadro 4. 6 - Conversão da Língua Materna para a Linguagem Matemática. ....... 113

Quadro 4. 7 - Calculando (x) dia, a partir do tratamento do registro algébrico. ...... 116

Quadro 4. 8 - Uma resolução proposta para a questão (a). ................................... 121

Sumário

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 14

CAPÍTULO I ................................................................................................................................................. 25

1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .............................................................................................. 25

1.1. PROJETO PILOTO EXPLORATÓRIO ............................................................................................................ 25

1.2. DEFININDO O TIPO DE ESTUDO ................................................................................................................. 26

1.3. SUJEITOS .................................................................................................................................................. 28

1.5. A NECESSIDADE DE UM CENÁRIO: EXPERIMENTOS DE ENSINO ................................................................ 29

1.6. AS ETAPAS DO ESTUDO ............................................................................................................................. 29

1.7. OS INSTRUMENTOS DE COLETA ................................................................................................................ 31

CAPÍTULO II ................................................................................................................................................ 34

2. O ENSINO DE FUNÇÕES ...................................................................................................................... 34

2.1. DIRETRIZES NACIONAIS PARA O ENSINO DE FUNÇÕES, EM PARTICULAR DAS QUADRÁTICAS ................. 34

2.2. A PROPOSTA CURRICULAR DO ESTADO DE SÃO PAULO ........................................................................... 39

2.4. FUNÇÕES QUADRÁTICAS: ABORDAGEM DADA PELOS LIVROS DIDÁTICOS ................................................ 41

2.5. FUNÇÕES QUADRÁTICAS: DIFICULDADES NO ENSINO E NA APRENDIZAGEM ............................................ 45

CAPÍTULO III ............................................................................................................................................... 48

3. IDEIAS E SUPORTES DESSA INVESTIGAÇÃO ................................................................................ 48

3.1. OS REGISTROS DE REPRESENTAÇÕES SEMIÓTICAS E A APRENDIZAGEM .............................................. 48

3.1.1.Tratamentos e Conversões ............................................................................................................ 50

3.1.2. Exemplos de Tratamentos e Conversões ................................................................................... 52

3.1.3. Implicações dessa teoria na presente pesquisa ........................................................................ 57

3.2. AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TDIC) ................................................. 57

3.3. FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA ......................................................................................... 65

3.3.1. O “Knowledge Base” e Shulman .................................................................................................. 67

3.3.2. A formação continuada do Professor de Matemática ............................................................... 71

3.3.3. A formação de Professores para o uso das Tecnologias Digitais da Informação e

Comunicação ............................................................................................................................................. 72

CAPITULO IV ............................................................................................................................................... 75

4. O CENÁRIO DE INVESTIGAÇÃO ......................................................................................................... 75

4.1. OS SOFTWARES GRÁFICOS E APPLETS. .................................................................................................. 75

4.1.1. O software Winplot ......................................................................................................................... 75

4.1.2. O applet Quadratic Transformer ................................................................................................... 81

4.2. AS ATIVIDADES ..................................................................................................................................... 86

4.2.1. Primeira Atividade - Proposta de Ponto de Partida .................................................................. 87

4.2.2. Segunda Atividade- Conjecturas Iniciais e Formalização ........................................................ 89

4.2.3. Terceira e Quarta Atividades: Transformações geométricas aplicadas às Parábolas ........ 91

4.2.4. Quinta Atividade- A mudança de Registro de Representação e a experimentação. ........... 95

4.2.5. Sexta Atividade – Introduzindo o estudo da forma canônica ................................................. 101

4.2.6. Oitava Atividade – Reforçando importância da forma canônica da Função Quadrática ... 105

4.2.7. Oitava Atividade – Trabalhando com Registro de Representação Semiótica Natural ..... 110

4.2.8. Nona Atividade – Mobilizando as Mudanças de Registros de Representação .................. 117

4.2.9. Décima Atividade: Transformando Registro de Representação Gráfica ............................. 119

CAPÍTULO V .............................................................................................................................................. 123

5. ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS ......................................................................................... 123

5.1. PERFIL DOS PROFESSORES .................................................................................................................... 123

5.2. ANÁLISE DOS DADOS GERAIS .................................................................................................................. 125

5.3. ANÁLISE DAS ATIVIDADES REALIZADAS PELOS PROFESSORES ............................................................... 127

5.3.1. Análise das mobilizações ponderadas acerca da Primeira Atividade ............................................... 128

5.3.2. Análise das mobilizações ponderadas acerca da Segunda Atividade .............................................. 129

5.3.3. Análise das mobilizações ponderadas acerca das Terceiras e Quarta Atividades ......................... 130

5.3.4. Análise das mobilizações ponderadas acerca da Quinta Atividade .................................................. 132

5.3.5. Análise das mobilizações ponderadas acerca da Sexta Atividade .................................................... 133

5.3.6. Análise das mobilizações ponderadas acerca da Sétima Atividade ................................................. 135

5.3.7. Análise das mobilizações ponderadas acerca da Oitava Atividade .................................................. 135

5.3.8. Análise das mobilizações ponderadas acerca da Nona Atividade .................................................... 136

5.3.9. Análise das mobilizações ponderadas acerca da Décima Atividade ................................................ 137

5.4. Análise das conjecturas levantadas sobre as atividades aplicadas......................................... 140

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................................... 143

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................... 148

APÊNDICE A ............................................................................................................................................. 156

QUESTIONÁRIO- PERFIL ........................................................................................................................ 156

APÊNDICE B ............................................................................................................................................. 159

ATIVIDADES UTILIZADAS NAS OFICINAS NO PROJETO OBSERVATÓRIO DA EDUCAÇÃO ... 159

APÊNDICE C ............................................................................................................................................. 171

FICHA - LEVANTANDO CONJECTURAS ACERCA DAS ATIVIDADES ........................................... 171

APÊNDICE D ............................................................................................................................................. 172

FICHA - ROTEIRO DE ENTREVISTA ..................................................................................................... 172

14

INTRODUÇÃO “A informação é horizontal, o conhecimento é estruturado e hierarquizado, a sabedoria é organísmica e flexível.”

Yi-Fu Tuan (1980)

Para que se tenha uma noção completa das razões que me levaram a este

estudo e das opções tomadas no curso de sua realização considero necessário

fazer, nesta introdução, uma síntese, escrita em primeira pessoa, de minha trajetória

pessoal e profissional, bem como, tecer algumas considerações iniciais que

expressam minha percepção de alguns dos caminhos percorridos pela Educação,

atentando, em particular, para aqueles aspectos que envolvem o uso de tecnologias

nos processos de ensino e aprendizagem. Na sequência é feita uma apresentação

da estrutura dessa dissertação com breves indicações do conteúdo de cada

capítulo.

Ao sintetizar minha trajetória enquanto educadora e pesquisadora, bem como

as primeiras inquietações que motivaram essa dissertação, é imprescindível

considerar minha vivência na Educação Básica, a qual ocorreu principalmente na a

cidade de Capitólio - MG, local onde conclui o Ensino Médio Regular, em 1997.

Aliás, é importante ressaltar que o ano de 1997 fora um ano muitíssimo

movimentado na minha vida, primeiro pelas próprias decisões que tinham que ser

tomadas, por cada um de nós estudantes concluintes que desejasse prosseguir os

estudos e, depois, pelas inúmeras mudanças do próprio Sistema de Ensino. Na

época não sabia formalizar as “esquisitas” mudanças, que hoje eu entendo como a

introdução da Lei 9394/96 – a famosa Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDBEN).

Creio que toda a minha Educação Escolar influenciou diretamente no meu

presente “ser ou estar professora” e “ser ou estar pesquisadora”, mas a passagem

pelo Ensino Médio foi particularmente especial. Já na primeira série fui obrigada a

mudar de escola, uma vez que arrumei um emprego na cidade vizinha e lá deveria

estudar. Embora a necessidade financeira fosse complicada para mim e toda minha

família, em menos de dois meses decidi deixar o trabalho e voltar para minha cidade

de origem, por entender que a nova escola não me motivava a estudar como a

15

anterior. Talvez, a priori, possa parecer uma decisão de pouco embasamento, mas é

justamente esse ponto que quero ressaltar.

Naquela época, momento que me faltava maturidade, julgava que minha

escola, à qual desejava retornar, era mais robusta, usava melhor os recursos

tecnológicos em prol da educação (TV e vídeo, retroprojetor, projetor de slide, livros

didáticos etc.) e os professores eram mais dedicados. Já na nova escola que

experimentara, as aulas eram truncadas, os recursos tecnológicos não eram

utilizados em sua totalidade (apenas lousa e giz) e os professores pareciam não

esperar nada da turma, além de “copiar, responder e corrigir”.

No quesito financeiro, eu era uma aluna carente e não tinha dinheiro para

livros e outros recursos didáticos e acreditava que só uma aula de qualidade poderia

me levar à Universidade, meu sonho. Era justamente isso que eu sentia na escola

da cidade de Capitólio, os professores abordavam uma aula diferenciada em que os

alunos eram protagonistas de seu próprio conhecimento, além disso, se valiam de

recursos tecnológicos da época (vídeos, slides, montagens, materiais manipuláveis

e ilustrativos etc.) para potencializar a nossa aprendizagem. O computador ainda era

algo novo naquela região e não tinha adentrado os muros da minha escola, mas

suas potencialidades já eram usadas pelos professores que contavam com um

computador em casa. Percebia-se, por exemplo, quando as fontes empregadas num

texto ou numa folha de avaliação eram perfeitas, ótimas para serem lidas e

entendidas. Também podia ser notado quando os professores traziam informações

advindas daquelas “telas fascinantes”, seja por meio de exposição oral ou

simplesmente como consequência indireta e inovadora no teor das aulas

ministradas.

Nesse nível de ensino, experimentei vários projetos em que as fitas cassetes

eram os recursos midiáticos, aulas em que os desenhos incompressíveis da lousa

eram melhores ilustrados pelo retroprojetor e até mesmo pelo projetor de slide de

tubo. É importante ressaltar que, nessas aulas, os recursos tecnológicos não eram

apenas substitutos mais práticos e modernos para a lousa, conforme critica Valente

(2007), haja vista que todos esses recursos tecnológicos, independente da

temporalidade, eram selecionados e usados de modo a favorecer a aprendizagem.

Durante a segunda série do Ensino Médio fui selecionada na escola para

realizar, então, o primeiro curso de informática. Lembro-me que as aulas eram

16

realizadas num computador Pentium I, com sistema operacional MS-DOS e com

interface para o Windows 95. A escola de informática ficava em outra cidade e eu

gastava em torno de três horas para ir e três horas para voltar, mesmo a prefeitura

tendo oferecido transporte gratuito à disposição de todos os alunos, o que com

certeza valeu muito em minha vida. Foi também nessa série, em 1996, que iniciei

como “professora”1, já que nesta época comecei a dar aulas de reforço para alunos

com dificuldades de aprendizagem na famosa área das “Ciências Exatas”.

Essa experiência como “professora” ocorreu em 1997, quando a LDBEN

exigia que todos os professores do nível primário de ensino tivessem concluído o

curso de magistério para ministrar aula. Desse modo, uma professora do Ensino

Primário, que precisou concluir o curso de magistério aos sábados e tinha

dificuldades com a Matemática, me procurou para auxiliá-la nos estudos dessa

disciplina. Assim, com minha ajuda, seis meses depois ela concluía o curso de

Magistério.

Também foi nesse ano que, aconselhada por uma professora, abandonei a

carreira de gastronomia, na qual atuava, para me dedicar exclusivamente aos

estudos, quando prestei vestibular Fuvest, da Universidade de São Paulo (USP),

campus São Carlos-SP.

Em 1998, na frente da tela do computador, dessa professora, percebi que eu

havia sido aprovada no referido vestibular para o curso Licenciatura em Ciências

Exatas. Desse modo, começou de fato a minha formação acadêmica para

professora de Matemática, já que havia atuado desde muito nova como “docente”

dessa disciplina por diversas vezes.

Nesse curso de graduação, a prática pedagógica e didática era centrada na

utilização de recursos tecnológicos. Durante as aulas de formação pedagógica

preparávamos seminários e apresentações que exploravam os mais diversos tipos

de tecnologias (vídeo, DVD, computador e Datashow, calculadoras, experimentos,

softwares etc.). Assim, meu fascínio pelo computador e suas potencialidades tornou-

se ainda mais acentuado. Foi então que decidi cursar, em regime de

complementação de estudos, as disciplinas específicas do curso de Bacharelado em

1 Embora não fosse academicamente habilitada como professora, me sentia uma iniciante.

17

Matemática Aplicada e Computação Científica, no Instituto de Ciências Matemáticas

e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP).

Diante do exposto, não foi difícil iludir-me que a escola brasileira estivesse

realmente preparada para uma educação que utilizasse as tecnologias digitais da

informação e comunicação integradas ao desenvolvimento dos conceitos

matemáticos. Porém, tive oportunidade de, após prestar provas em concurso para o

magistério na escola pública de São Paulo, e tendo sido aprovada, ingressar como

professora, dos Ensinos, Fundamental e Médio. Entretanto, enquanto professora,

percebi que ainda triunfam em sala de aula, as velhas práticas de ensino e

aprendizagem de Matemática.

Buscando na Literatura pertinente a esse tema, conhecer resultados de

investigações já realizadas, percebi que muitos estudos sobre o uso de Tecnologias

Digitais da Comunicação e Informação (TDIC), não tem chegado de forma clara às

escolas e que muitos educadores não conhecem suas potencialidades e, quando

conhecem, não se sentem seguros para utilizá-las de modo integrado nos processos

de ensino e aprendizagem. Nessa direção, Bittar (2006) afirma que são realizadas

capacitações sobre diversos assuntos, dentre os quais figuram as tecnologias e

possíveis utilizações na prática pedagógica. No entanto, o elo entre os núcleos de

capacitação e a comunidade escolar não se estreitam, dificultando e ou tornando

inexistente um trabalho mais efetivo e consistente nas unidades escolares.

Por outro lado, a sociedade atual passa por um momento de grandes

transformações em todos os campos do saber, provocado pelo rápido avanço da

ciência e da tecnologia. Tal avanço não foi, entretanto, acompanhado por alterações

consideráveis no âmbito educacional que, agora, parece exigir profunda

reformulação. Nesse sentido, o mundo passa por um momento de crise cujo cerne

explicita fases turbulentas protagonizadas pela convivência de ameaças e

possibilidades, podendo ser entendidas como uma oportunidade de evolução na

história da humanidade.

Essa evolução poderá ser positiva para a sociedade, desde que a educação

passe a ser o provimento da interação do ser humano com a tecnologia.

Já nos processos de ensino e aprendizagem da Matemática, há uma notável

bipolarização das ideias acerca das práticas pedagógicas. De um lado, a concepção

mais tradicionalista – com certa rigidez, pouca funcionalidade e muitas amarras –

18

ainda domina, em grande parte, livros ou apostilas, programas e ações em sala de

aula, constituindo a concepção adotada por boa parte de professores, pais e mesmo

autores de livros e outros materiais didáticos. Por outro lado, observa-se uma

inquietação, um inconformismo, uma insatisfação crescente frente a esse ensino,

que se traduzem em busca continuada e experimentação tímida de novas

alternativas (BERTONI, 1996b).

Segundo Bertoni (1996a), os argumentos a favor dessa mudança têm sido

mais consistentes e embasados e os que nela creem a difundem proficuamente.

Tais argumentos explicitam o fracasso do ensino e da aprendizagem da matemática

quando se pauta numa pratica pedagógica tradicional, principalmente sua ênfase

numa Matemática enfadonha, excessivamente formal, mecanizada, expositiva e

distante da matemática do cotidiano. Nessa perspectiva, D'Ambrósio (2002), afirma

que essa abordagem tradicional do ensino da matemática “é desinteressante,

obsoleta e inútil aos olhos dos alunos” (p.29). Inútil não só por acharem não servir

para coisa alguma, mas principalmente por não darem aos professores qualquer

apoio ao desenvolvimento da criatividade e das capacidades cognitivas. Donde

surge o desafio aos educadores matemáticos para justificarem a presença da

grande maioria dos conteúdos dos programas quanto à sua aplicabilidade.

Acredita-se também que as virtudes do pretendido “novo” ensino, que seria

mais dinâmico, investigativo, concretizável, participativo e socialmente significativo,

são “molas” propulsoras à mudança. Por outro lado, os argumentos contrários à

mudança representam um “movimento” estranho, desorganizando que expressa um

comodismo desolador que sustenta crenças e hábitos que perduram há décadas e

são evidenciados por falas do tipo: “Matemática é difícil mesmo, o programa é

extenso, não dá tempo de ficar inventando coisas para fazer, foi sempre assim”

(BERTONI,1996b, p.3).

É importante observar que as mudanças educacionais, embora lentas, estão

chegando, seja nos Parâmetros Curriculares Nacionais, nas propostas pedagógicas,

nos livros didáticos e paradidáticos, nos planejamentos e discussões entre

professores. Assim, torna-se necessário uma formação do professor preparando-o

para que não venha se sentir lacônico e inseguro para atuar quando tais

modificações estiverem instaladas.

19

Dentro desse prospecto de mudança, diversos pesquisadores delineiam

propostas de trabalho, em aulas de Matemática, que privilegiam tanto o diálogo

como a participação ativa, possibilitando aos alunos serem sujeitos na apropriação e

produção de conhecimentos matemáticos. A abordagem investigativa, por exemplo,

é uma alternativa de ensino pautada no aluno enquanto sujeito ativo de sua própria

aprendizagem. Segundo Lerman (1996), o processo cognitivo matemático não pode

ser desprestigiado com uma valorização excessiva dos conteúdos, pois aulas

centradas em conteúdos promovem muitas desenvolturas e técnicas, porém não

valorizam o ato de pensar e fazer matemática. Assim, a abordagem investigativa no

processo de ensino e aprendizagem de Matemática poderá propiciar o envolvimento

dos alunos, pois “coloca uma ferramenta poderosa nas mãos dos indivíduos para

analisarem o que se passa nas suas vidas, oferecendo-lhes a oportunidade de o

alterarem” (p.113).

Nessa mesma linha, Alro e Skovsmose (2006), entendem que as abordagens

investigativas congregam um conjunto de propostas pedagógicas e didáticas nas

quais o aluno trabalha como um pesquisador, tentando compreender e encontrar

soluções para os problemas sem obrigatoriedade de seguir algoritmos e regras pré-

estabelecidos. Para estes pesquisadores a abordagem investigativa desafia as aulas

tradicionais de Matemática calcadas no paradigma do exercício2.

Nessa mesma perspectiva, Borba (2010) diz que:

Uma abordagem que privilegia uma postura investigativa pode possibilitar um envolvimento maior dos estudantes com o conteúdo e os levar a uma investigação de conceitos, que podem vir a obter um novo sentido quando estudados de modo a enfatizar questões qualitativas de exploração (p.4).

Diante do exposto, fica nítido que atividades preparadas e aplicadas à luz da

abordagem investigativa podem contribuir mais com a aprendizagem dos alunos que

a resolução de inúmeros exercícios que abordam uma mesma estratégia de solução.

Porém, para que isso se concretize é necessário que o educador consiga se

apropriar criticamente dessa abordagem, o que requer que a formação continuada

do professor privilegie a discussão acerca da abordagem investigativa e seus

benefícios para a aprendizagem efetiva de conhecimentos matemáticos.

2 Segundo esses autores, o Paradigma do Exercício é uma situação em que o professor transmite informações através de modelos e exemplos e, em seguida, os alunos executam exercícios de fixação semelhantes aos modelos e exemplos.

20

Em se tratando de propostas de mudanças, cabe salientar ainda, que vivendo

na era das tecnologias informáticas e digitais, existem variadas alternativas que

permitem às pessoas interagir, intercambiar opiniões, problemas ou propostas com

outros usuários, fazer consultas com especialistas e acessar informações

constantemente atualizadas, representando o conhecimento de diferentes formas.

Desse modo, a educação também deve ser afetada por essas profundas

transformações. A inserção das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação

(TDIC) no nosso dia a dia constitui em uma das alternativas que devem passar a

integrar o processo de ensino e aprendizagem.

Nessa perspectiva, o uso do computador na Educação Matemática “deve ser

a essência do conhecimento efetivo numa sociedade baseada na informação”

(CLÁUDIO; CUNHA, 2001, p.68), o que assegura que o processo de ensino-

aprendizagem da Matemática não se restrinja a um grupo de problemas ideais, mas

também às situações reais. Acredita-se que essas situações despertem o interesse

dos alunos para que tentem entender o que estão fazendo e que pesquisem com

curiosidade sobre o assunto, de modo a desenvolver o raciocínio bem como ampliar

e aprofundar seus conhecimentos, o que pode propiciar obter resultados

satisfatórios no processo de ensino e aprendizagem.

Entretanto, não basta que o aluno seja alfabetizado apenas para o uso do

computador. É preciso que seja instigado a desenvolver raciocínios e posturas

independentes, o que o auxiliará na sua formação critica e criativa, sendo capaz de

comandar a ciência e tecnologia existente no momento e de dominar o manejo do

que ainda está por ser inventado. Nesse processo, o papel do professor é essencial.

É necessário que o educador consiga se apropriar criticamente da realidade e que

detenha informações que lhe permitam transformá-la em conhecimento. Em

consequência os cursos de formação de professores devem ser nutridos com uma

abordagem que conceba o uso das tecnologias de forma integrada ao

desenvolvimento dos conceitos de matemática.

A concepção de nova tecnologia é temporal, implica que o novo de hoje torna-

se “obsoleto” amanhã, mas não menos importante. Assim, essas tecnologias devem

ser apropriadas e devidamente inseridas nas práticas docentes no Ensino, em

particular na Educação Matemática, visto que investigar, compreender, assimilar e

apropriar da tecnologia de hoje é condição essencial para compreender e utilizar a

21

nova tecnologia de amanhã. Neste sentido, ganha força a necessidade de haver

processos de formação continuada que possam colocar os professores a par dessas

modificações e subsidiar suas práticas docentes.

Cabe trazer aqui algumas observações de minha prática docente. Em várias

escolas, que já atuei como professora, percebi que, embora os professores

convivam diariamente com o uso de tecnologias, seja para enviar ou receber e ler e-

mails, usar o caixa eletrônico, as urnas de votação, o cartão de crédito etc., existe

certa insegurança, medo e despreparo, por parte desses docentes, quanto ao uso

efetivo e integrado das tecnologias e mídias digitais nas atividades pedagógicas.

Segundo Bittar (2006), percebe-se que triunfam ainda velhas práticas de ensino e

aprendizagem, havendo um desequilíbrio entre os avanços tecnológicos e os

processos de formação para o uso de tecnologias no ensino brasileiro de forma

reflexiva.

Outro ponto a ser tocado, é sobre os programas governamentais que têm

facilitado a aquisição de computadores por escolas e educadores. As diretorias de

ensino do estado de São Paulo, por exemplo, estão conectas através do programa

Rede do Saber3. Ainda nessa perspectiva, o governo de São Paulo lançou três

novos programas com ênfase na tecnologia informática: - a Rede Aprende com a

Rede (RAR)4, que é uma extensão do programa Rede do Saber, cuja metodologia

também é baseada em Videoconferências, abordando assuntos específicos e

pedagógicos, distribuído por disciplina e, o professor, por sua vez, assiste tais

videoconferências e responde a um questionário pela internet, na plataforma do

programa; - acessa São Paulo, programa destinado à inclusão digital dos alunos e

se constitui em laboratórios de informática implantados na escola ; - Professor em

Rede5, que é a oferta de contas de e-mail institucional para os professores, bem

como a facilitação de financiamento para que estes professores possam comprar

uma Notebook. Estudos mostram que, nem sempre os cursos de formação

continuada têm surtido efeito no que tange ao uso de recursos informáticos em suas

3 Rede do Saber é um programa de formação continuada para os profissionais da educação pública de São Paulo administrado pela Secretaria de Estado da Educação (SEE-SP). Tal programa se apóia em recursos de teleconferência, videoconferência, ambientes de colaboração virtual pela internet, ferramentas administrativas integradas e expertise de gestão e educação com suporte de tecnologias de informação e comunicação. Maiores informações em: http://www.rededosaber.sp.gov.br. Acesso em 15/07/09 4 Informações adicionais em: http://www.acessasaopaulo.sp.gov.br. Acesso em 20/10/09 5 Acesse http://www.professor.sp.gov.br/ para maiores informações. Acesso em 20/01/10

22

aulas. Segundo Richit (2005), a modalidade de formação continuada, muito comum

nos anos 90, consistia em cursos de capacitação tecnológica de curta duração, que

visavam transmitir aos professores as instruções necessárias para que estes

pudessem operar alguns recursos informáticos e utilizá-los nas suas atividades.

Entretanto, a maioria dos professores, após o encerramento dos cursos e passada a

euforia do efeito novidade, retoma as suas atividades sem grandes mudanças

metodológicas e, muitas vezes, sem ao menos tentar utilizar parte do aprendizado

na sua prática. Além disso, o aprendizado adquirido durante o curso de capacitação

logo é ultrapassado por novas tecnologias.

Para Bittar (2006), é indiscutível a importância de cursos, oficinas técnicas,

como oportunidades que proporcionem ao professor uma reflexão acerca da sua

pratica diária. No entanto, várias pesquisas revelam que as práticas pedagógicas,

quando fazem o uso adequado dessas novas tecnologias, esse uso ainda não é

adequado, ou seja, o elo entre os núcleos de capacitação e a comunidade escolar

ainda é um desafio.

Considerando os pressupostos apresentados até este momento, apesar da

falta de precisão ou clareza, ainda que pareça cheia de enganos, a pergunta da

pesquisa precisa ser declarada, pois “a pergunta é a síntese desse caminho” e todo

o processo de construção da pergunta faz parte dela própria (ARAÚJO; BORBA,

2004. p. 27). Assim, eis a questão norteadora da presente investigação: durante o

desenvolvimento de uma oficina ou qualquer outra intervenção formativa do

professor, em especial aquelas com cerne no uso das Tecnologias Digitais da

Informação e Comunicação, quais são os procedimentos organizacionais e ou

metodológicos que devem e/ou podem ser alçados no intuito de preparar o

professor para utilizar os saberes mobilizados durante a formação como

fundamentos constantes de sua prática em sala de aula?

Buscando responder a supracitada questão, essa investigação foi

desenvolvida no âmbito da formação de professores de matemática e teve como

objetivo levantar e delinear aspectos, metodologias, recursos e abordagens que

venham contribuir para o gerenciamento de curso futuros de formação de

professores de matemática, em especial aqueles que buscam integrar a utilização

das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação – TDIC nos processos de

ensino e aprendizagem.

23

Indiretamente, essa pesquisa também teve como objetivo transformar o

momento de formação e discussão e uma reflexão profícua que permita estabelecer

um elo entre o núcleo de formação e a comunidade escolar, subsidiando, de alguma

forma, o uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) de

forma integrada e indissociável na prática pedagógica e didática do professor de

matemática.

Para o levantamento dos dados objetos desse estudo de pesquisa, as

atividades utilizadas nas oficinas de formação integraram o uso das TDIC ao

desenvolvimento do conceito de funções polinomiais do segundo grau, bem como a

Teoria dos Registros de Representação Semiótica, formulada por Raymond Duval.

Quanto ao desenvolvimento das oficinas e à analise dos dados, essa

investigação serviu-se do paradigma de pesquisa qualitativa cujo foco de

observação foram os professores da rede pública de São Paulo envolvidos, as

Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação – TDIC, os Registros de

Representação Semióticas e suas interações.

Assim, além do aporte teórico resultante do estudo bibliográfico acerca das

TDIC, foram realizados encontros de discussão e de reflexão com alguns

professores de Matemática da rede pública de ensino do Estado de São Paulo.

Conforme será descrito com mais detalhes no próximo capítulo, durante esses

encontros os professores produziram diversos dados escritos, bem como foram

gravados todos os momentos de interação. Então como desejado, esses dados

obtidos foram analisados em consonância com aporte teórico descrito nesse, bem

como à luz da Teoria Knowledge Base de Lee Shulman.

Essa dissertação foi estruturada em cinco capítulos, dos quais eu faço uma

breve descrição introdutória.

O Capítulo I retrata os procedimentos metodológicos e encontra-se dividido

em três partes: - descrição da metodologia utilizada na pesquisa central e na coleta

dos dados, bem como os princípios que a fundamenta - metodologia e análise do

estudo piloto e, - apresentação e análise do cenário de pesquisa. Desse modo,

nesse capitulo, a metodologia utilizada será justificada, ressaltando alguns aspectos

sobre os envolvidos na mesma: professores e observadores.

Já no Capítulo II é apresentado um breve panorama acerca do estudo do

conceito de funções, bem como destacados alguns problemas sobre os processos

24

de ensino e aprendizagem desse conceito. Embora não seja objetivo desse trabalho

fazer um estudo epistemológico sobre o conceito de função, alguns pressupostos

históricos e epistemológicos foram organizados e apresentados. A relevância das

funções polinomiais do segundo grau no currículo de matemática também será

destacada. Procura-se também, analisar os Parâmetros Curriculares Nacionais com

o intuito de verificar como este documento sugere que o ensino de funções seja

abordado nos ensinos Fundamental e Médio. Esse Capítulo II também apresenta

como alguns livros didáticos abordam sobre a função quadrática, delineando sobre

os processos de construção gráfica, que são mais utilizados e, se os autores desses

manuais apresentam mudanças da representação gráfica para algébrica e vice-

versa.

A justificativa do tema e a fundamentação teórica foram apresentadas no

capítulo III. O qual inicia com uma revisão teórica acerca dos Registros de

Representação Semiótica de Raymond Duval, seguindo, então, para pressuposto

que as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação podem e devem ser

utilizadas de modo integrado no desenvolvimento dos conceitos matemáticos.

Também se firma na possibilidade do professor cercar-se de subsídios para fazer

um uso eficaz dessas novas ferramentas. Desse modo, essa revisão da literatura

pertinente ao tema norteia a elaboração das atividades a serem utilizadas nas

oficinas desenvolvidas com os professores, bem permitirá.

O Capítulo IV compreende a apresentação dos softwares e applets utilizado,

partindo, então para as análises prévias das atividades a serem utilizadas nas

oficinas referidas anteriormente. Tais análises pautam no ensino e na aprendizagem

de função polinomial do 2º grau pelo aluno, utilizando as TDIC. Para tanto, as

atividades serão fundamentadas nos trabalhos de Raymond Duval.

No quinto e ultimo capítulo, consta a análise de dados coletados à luz do

referencial teórico apresentado nos capítulos anteriores, tendo como premissas a

teoria Knowledge Base de Lee Shulman.

Por fim estão apresentadas as considerações finais sobre os resultados da

presente investigação e implicações para futuras pesquisas.

25

CAPÍTULO I 1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Conforme já foi dito anteriormente, esse trabalho de pesquisa deseja delinear

aspectos, metodologias, recursos, abordagens que sirvam de indicadores para o

aprimoramento das formações continuadas ou cursos de pequena duração como as

oficinas.

Ao planejar uma investigação, os objetivos colocados exigem que sejam

eleitas metodologias a serem utilizadas na sua execução de modo a alcançá-los.

Dessa forma, este capítulo tem por objetivo destacar a metodologia de pesquisa

utilizada no tecer desse trabalho, explicitando o cenário da pesquisa: professor-

aluno, observadores, recursos de coleta, bem como justificar a escolha de cada fator

que compõe o cenário de pesquisa.

1.1. Projeto Piloto Exploratório

Segundo Gil (1999), um trabalho é de natureza exploratória quando envolver

levantamento bibliográfico ou entrevistas com pessoas que tiveram (ou tem)

experiências práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos que

estimulem a compreensão, ou seja, as pesquisas exploratórias tendem a

proporcionar uma visão geral de um determinado fato, do tipo aproximativo.

O estudo exploratório tem ainda a finalidade básica de desenvolver,

esclarecer e modificar conceitos e ideias para a formulação de abordagens

posteriores (GIL, 1999). Dessa forma, este tipo de estudo a priori visa proporcionar

ao pesquisador um maior conhecimento acerca do assunto abordado, a fim de que

esse possa formular problemas mais precisos ou criar hipóteses que possam ser

pesquisadas por estudos posteriores.

Seguindo esses preceitos, foi desenvolvido um estudo piloto, objetivando

coletar dados fundamentais acerca da propedêutica dos envolvidos, delineando

abordagens e meios de operacionalização do paradigma de pesquisa que se

pretendia realizar. Posteriormente foram desenvolvidos minicursos com atividades, a

priori elaboradas. Nesses minicursos foi utilizada uma abordagem didática acerca do

ensino e da aprendizagem de funções quadráticas, na qual os softwares gráficos

são usados de forma integrada em todo o processo de desenvolvimento do conceito.

Essas atividades, além de contemplar o uso integrado do computador e outras

26

tecnologias, também supunham o uso da abordagem investigativa em seu

desenvolvimento com os alunos.

Os objetivos específicos de orientação para a análise do estudo-piloto foram:

� simular o tempo necessário para o desenvolvimento do minicurso,

maximizando assim, a qualidade e quantidade de dados que deveriam ser

coletados;

� observar e analisar a interação, para o ensino de funções polinomiais do

segundo grau, utilizando os softwares gráficos (Winplot, Graphmatica e Cabri

Géomètre) e Applets;

� analisar características do curso em seus aspectos didáticos (materiais,

dinâmica, sequências, tempo, apresentação, avaliação, problemas);

� analisar desenvolvimentos conceituais e instrumentais consecutivos à

formação;

� descrever ações cooperativas instrumentais.

A ênfase dada a essa fase decorre da necessidade de controle sobre o

cenário de pesquisa, bem como sobre o uso de abordagens que pudessem

favorecer a coleta de dados.

1.2. Definindo o Tipo de Estudo

Partindo da premissa que o objetivo desta investigação é analisar e descrever

procedimentos, abordagens ou mecanismos que favoreçam, ao professor em

formação, transformar seus conhecimentos construídos numa prática que contemple

os aspectos abordados durante um minicurso ou oficina, adotou-se neste estudo a

abordagem qualitativa de pesquisa, que favorece a interpretação detalhada e uma

melhor compreensão da intervenção que está sendo analisada.

Segundo Bogdan e Biklen (1994), numa pesquisa qualitativa predominam as

seguintes características:

a) fonte direta dos dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal; b) os dados recolhidos são na sua essência descritivos; c) os processos merecem um interesse maior do que os resultados ou produtos; d) os dados são, sobretudo, analisados de forma indutiva; e) o ponto de vista dos participantes assume especial importância (p. 61).

27

É importante notar que a pesquisa qualitativa possibilita um conhecimento

substancial e holístico do contexto estudado, de modo que pesquisador se apropria

de compreensões acerca das atitudes e reações dos sujeitos no contexto em

questão.

Nas palavras de Ludke e André, tem-se que “a investigação qualitativa é rica

em dados descritivos, é aberta e flexível e foca a realidade de forma complexa e

contextualizada” (1986, p. 18).

Referindo a pesquisa qualitativa, Goldenberg (1999) declara não existir

algoritmos para a realização de uma pesquisa dessa natureza e o bom resultado do

paradigma em questão também depende da sensibilidade e intuição do pesquisador.

Por outro lado, Ponte (2002) afirma que

...a investigação sobre a prática visa resolver problemas profissionais e aumentar o conhecimento relativo a estes problemas, tendo por referência principal, não a comunidade acadêmica, mas a comunidade profissional (2002, p. 12).

Araújo e Borba (2004) acreditam que pesquisa qualitativa deve priorizar

procedimentos descritivos à medida que sua visão de conhecimento, explicitamente

admite a interferência subjetiva, o conhecimento como compreensão que é sempre

contingente, negociada e não é verdade rígida. Desse modo, a pesquisa qualitativa,

deve estar sintonizada com procedimentos, como entrevistas, análises de vídeos e

interpretações. Entretanto, isso não quer dizer que se deva refutar dados do tipo

quantitativo ou mesmo outros advindos de pesquisas feitas sob outra noção de

conhecimento (BORBA, 2004). Nessa perspectiva, Bogdan e Biklen (1994)

explicitam com clareza esta questão:

...embora os dados quantitativos recolhidos por outras pessoas (avaliadores, administradores e outros investigadores) possam ser convencionalmente úteis tal como foram descritos, os investigadores qualitativos dispõem-se à recolha de dados quantitativos de forma crítica. Não é que os números por si não tenham valor. Em vez disso, o investigador qualitativo tende a virar o processo de compilação na sua cabeça perguntando-se o que os números dizem acerca das suposições das pessoas que os usam e os compilam. [...] Os investigadores qualitativos são inflexíveis em não tomar os dados quantitativos por seu valor facial (p. 195).

Todas essas características se mostram adequadas ao presente trabalho,

uma vez que a fonte direta dos dados serão os professores, que buscam cursos de

formação continuada, e suas considerações relativas do uso integrado das novas

tecnologias ao ensino da Matemática.

28

1.3. Sujeitos

Nas últimas décadas, as pesquisas na área de formação de professores

ganharam força. A título de exemplo, os principais encontros da área da Educação,

cujas seções coordenadas ou plenárias, de uma forma ou de outra, abordaram o

tema Formação de Professores. Diversos pesquisadores têm desenvolvido

pesquisas calcadas principalmente nos relatos de professores, o que se

convencionou chamar de história de vida dos professores ou estudo de campo

(BORBA, 2004).

Nessa perspectiva, a presente investigação também se valerá das

concepções dos professores acerca dos processos de ensino e aprendizagem,

levantando e ponderando estratégias que realmente favoreçam ao professor de

matemática a transformar conhecimentos construídos durante uma formação numa

prática pedagógica que use as Tecnologias Digitais da Informação e da

Comunicação integradas ao desenvolvimento do conceito de funções polinomiais do

segundo grau.

Os sujeitos da presente investigação são professores da rede Pública

Estadual de São Paulo, mais especificamente, professores da Diretoria Norte 2 da

Coordenadoria de Ensino da Capital. Esses professores se inscreveram

voluntariamente para participarem do Observatório da Educação na Universidade

Bandeirante de São Paulo - UNIBAN, projeto financiado pela CAPES/SECAD/INEP

e iniciado em novembro de 2008, sob a coordenação do Prof. Dr. Ruy César

Pietropaolo.

A proposta do Projeto Observatório é a constituição de um grupo

colaborativo de formação e pesquisas, cuja finalidade é promover e analisar o

desenvolvimento profissional docente de professores de Matemática. Além disso,

esse grupo busca contribuir com propostas de apoio efetivo ao trabalho do professor

nas aulas de Matemática da Educação Básica. Os processos de formação

acontecem em momentos alternados de ações presenciais e à distância por meio da

plataforma Tidia-Ae6. Os encontros presenciais ocorrem quinzenalmente na UNIBAN,

campus Marte.

6 O projeto aprendizado eletrônico (Ae) é uma iniciativa induzida de pesquisa financiada pela FAPESP dentro do programa Tecnologia da Informação para o Desenvolvimento da Internet Avançada – TIDIA.

29

1.5. A necessidade de um cenário: experimentos de Ensino

Os estudos desenvolvidos numa sala de aula regular são complicados, uma

vez que envolvem também outras barreiras, dentre elas a dimensão ética. Segundo

Borba (2004), os estudos realizados dentro dos muros escolares:

... dificilmente permitem que se tenham modelos mais detalhados de como determinado estudante, ou dupla deles, pensam sobre um determinado assunto. Uma alternativa para superar obstáculos como esses tem sido o que se convencionou chamar experimentos de ensino. (pág.7).

Nessa perspectiva, na presente pesquisa os experimentos de ensino foram

aplicados para um grupo de professores, que de forma espontânea se inscreveram

no projeto Observatório da Educação7 da UNIBAN/SP. Nesse estudo, como sugere

Borba (2004), as atividades pedagógicas foram propostas a professores-estudantes

de forma que o pesquisador-professor pudesse "ouvir" de forma detalhada a

Matemática desenvolvida pelos professores, quando foi sugerido o uso da tecnologia

informática de modo integrado ao desenvolvimento dessas atividades. Assim, esses

experimentos de ensino aplicados, e detalhados no próximo capítulo, visam o “ouvir”

a forma como professor-aluno, ou pares de professores-aluno, lidam com as

Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação (TDIC).

É importante observar que esse “ouvir” transcende o escutar, já que qualquer

gesto ou expressão facial desses professores-aluno podem ser muito mais

reveladores que um texto bem escrito e articulado. Entretanto, isso não quer dizer

que o presente estudo abandonará esses relatos escritos, ou qualquer outra fonte.

Na verdade, o que ser quer é deixar claro que a coleta de dados será feita por

diversos instrumentos, inclusive os registros em vídeo.

1.6. As etapas do estudo

A pesquisa foi dividida, em algumas etapas de desenvolvimento:

1ª Etapa – estudo exploratório – projeto piloto

Este estudo se iniciou com a realização de pesquisas no intuito de encontrar e

selecionar os softwares8 gráficos que poderiam ser utilizados, bem como atividades

7 Projeto desenvolvido na Universidade Bandeirante de São Paulo e financiado pela CAPES. 8 Tais softwares foram selecionados e a descrição e discussão de suas potencialidades encontram-se no capítulo IV.

30

que visassem à integração da tecnologia informática no desenvolvimento de

conceitos matemáticos.

Nessa etapa também foram realizados minicursos em alguns congressos

nacionais9 que tiveram por objetivo testar o tempo necessário às oficinas de coleta

de dados, bem como delinear melhor as atividades a serem utilizadas. Além disso, o

estudo piloto permitiu a reorganização dos questionários, bem como uma melhor

estruturação das entrevistas, maximizando qualitativamente a Coleta de dados.

Nesses minicursos solicitou-se aos participantes que respondessem algumas

perguntas previamente elaboradas na forma de questionário objetivo e discursivo.

Em seguida foram propostas atividades de matemática para reflexão, as quais

consideram o uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC)

como recurso didático e de modo integrado ao desenvolvimento do conceito de

Funções quadráticas. Assim, as expectativas e dificuldades encontradas pelos

professores participantes foram levantadas, também foram descritas as conjecturas

que emergiram sobre as atividades e abordagens propostas durante a formação, o

que contribuiu para a realização da presente investigação.

2ª Etapa – Elaboração dos questionários que visam levantamento acerca do perfil do

professor participante e do roteiro básico para a entrevista semiestruturada. Nessa

fase, foi feita também a verificação na literatura disponível, de modo a estruturar as

abordagens e coletas de dados, bem como a organização da documentação

(autorização do professor, por meio de termos de consentimento; documentação

comitê de ética etc.).

3ª Etapa – Desenvolvimento do minicurso no projeto Observatório da Educação

Esta fase, destinada à implementação das oficinas e da avaliação das

dificuldades e conjecturas colocadas pelos professores da rede pública de ensino,

foi de suma importância para esta investigação, já que para trabalhar de modo

reflexivo na formação do professor, faz-se necessário dar voz ao professor

envolvido, reconhecendo suas expectativas, experiências profissionais e seus

anseios, como ensina Zeichner (2003).

9 VII Encontro Sul Fluminense de Educação Matemática (Vassouras-RJ, 2009) e V Encontro Mineiro de Educação Matemática (Lavras - MG, 2009).

31

Para o presente trabalho de investigação foi proposto aos professores

partícipes das oficinas que, em grupo, elaborassem e /ou adaptassem e, em

seguida, simulassem uma sequência didática e apresentasse em uma sessão

própria do minicurso em questão. Desse modo, essa exposição feita por esses

professores se constituiu em um material essencial a ser analisado pela presente

investigação. Além desse retorno em forma de exposição foi solicitado aos

professores que fizessem um esboço, em forma de plano de aula, da simulação

apresentada.

Ainda nessa etapa foi solicitado aos professores participantes que

elaborassem um relatório espontâneo, no qual poderiam descrever sem artificialismo

suas primeiras impressões a respeito da oficina e da abordagem utilizada, material

este que também se integrou aos instrumentos dessa pesquisa.

4ª Etapa – Análise dos dados

Nessa última etapa foi feita a análise dos dados e dos materiais coletados e/

ou produzidos tais como desenhos, rascunhos, textos, depoimentos e respostas dos

questionários.

A análise foi feita de modo que os dados coletados foram confrontados com a

literatura disponível no intuito de contribuir de fato com o que foi proposto na

presente pesquisa. Segue então, o detalhamento dos instrumentos de coleta de

dados utilizados na presente pesquisa.

1.7. Os Instrumentos de Coleta

Neste estudo, foram selecionados seis instrumentos para a coleta de dados,

quais sejam:

• Questionário - Ficha Perfil; • Questionário - Roteiro das Atividades; • Questionário - Ficha Levantamento de Conjecturas; • Relatório Espontâneo; • Roteiro de Entrevista semiestruturada; • Gravação audiovisual.

Indica-se a seguir a natureza destes instrumentos, a finalidade com que foram

utilizados e a descrição dos procedimentos de coleta, de registro e de análise dos

dados, relativos aos mesmos.

32

O primeiro instrumento utilizado, o Questionário – Ficha Perfil (Apêndice A),

teve por objetivo caracterizar os sujeitos participantes, por meio de informações

sobre dados pessoais e profissionais, tais como sua formação, suas experiências na

Educação Básica, identificação do tipo e frequência de uso do computador. O

questionário, em questão, apresenta questões objetivas, tanto de múltipla escolha

quanto em forma de perguntas abertas.

O Segundo Questionário – Roteiro das Atividades (Apêndice B) teve por

objetivo identificar as dificuldades encontradas pelos professores-alunos no decorrer

das oficinas. As atividades abordadas nas oficinas serão discutidas detalhadamente

no próximo capítulo, porém considera-se necessário esclarecer que se trata de

atividades já testadas por outros pesquisadores, algumas delas abordadas em

várias dissertações e teses, outras abordadas em vestibulares e livros didáticos.

Assim, é possível observar que tais atividades, que supõem o uso integrado das

TDIC, foram preparadas para ser trabalhadas com alunos. Assim sendo, ao abordá-

las com os professores-alunos se pretende investigar as conjecturas desses

professores sob duas óticas: a formação do próprio professor de matemática e a

visão didática do professor, bem como suas limitações pedagógicas.

Já o terceiro instrumento, o questionário – Levantando Conjecturas (Apêndice

C), teve por objetivo complementar a coleta anterior, no que tange ao levantamento

das conjecturas dos professores envolvidos nas oficinas. Nesse questionário as

perguntas são da forma abertas, mas direcionadas, permitem identificar as

concepções mais específicas do professor.

O relatório espontâneo, que se constituiu no quarto instrumento, foi uma

maneira encontrada para coletar as concepções mais “puras” do professor-aluno

sujeito da presente investigação. Esse relatório foi solicitado no último momento da

oficina e o professor-aluno pôde, sem qualquer intervenção do pesquisador-

professor, escrever suas primeiras impressões acerca da abordagem, tecnologia

informática integrada no desenvolvimento dos conceitos de funções quadráticas,

proposta durante a oficina. Embora tal relatório pareça ingênuo, as poucas linhas

escritas podem ser verdadeiras e reveladoras.

Os vídeos, quinto instrumento, coletados durante, todas as seções das

oficinas, além de se constituir num material preciso e livre de qualquer equívoco,

33

mostram detalhes tais como gestos, posturas, reações, sensações entre outros, que

foram reveladores para a presente investigação.

O sexto e ultimo instrumento utilizado, não menos importante, a entrevista

semiestruturada (Apêndice D), teve por objetivo preencher as lacunas deixadas

pelos demais instrumentos. A potencialidade das entrevistas semiestruturadas se

deve, principalmente, ao fato de poderem ser adaptadas e readaptadas ao logo do

desenvolvimento de toda a investigação.

Tendo estabelecido os procedimentos metodológicos, segue então os aportes

teóricos fundamentais para a presente pesquisa. O próximo capítulo traz alguns

aspectos importantes acerca das funções, dentre elas, as quadráticas que é o objeto

matemático abordado nesse estudo.

34

CAPÍTULO II 2. O ENSINO DE FUNÇÕES

Neste capítulo, encontra-se a análise acerca da inserção do conhecimento de

funções no currículo da educação básica brasileira, apresentando de forma sucinta,

considerações sobre algumas pesquisas desenvolvidas na Educação Matemática,

relacionadas aos processos de ensino e aprendizagem das funções e mais

especificamente das funções quadráticas. Desse modo, faz-se necessário explanar

como o conceito de função se apresenta na literatura, tais como o seu

desenvolvimento histórico; a sua relevância no contexto das pesquisas; o ensino de

funções nos documentos educacionais oficiais; algumas ideias matemáticas

fundamentais envolvendo o conceito de função.

É importante salientar que o conceito de Função, bem como os seus

processos de ensino e aprendizagem possuem grande relevância e têm sido motivo

de muitas investigações no âmbito da Educação Matemática, as quais são

sucintamente discutidas aqui, uma vez que serviram de subsídio para o presente

trabalho, propiciando uma visão mais ampliada sobre esse tema.

2.1. Diretrizes Nacionais para o Ensino de Funções, em particular das quadráticas

O ensino do conceito de Função, até meados do século passado, ocorria

somente no Ensino Superior. Aos poucos, principalmente com intervenções do

movimento da Matemática Moderna, passou-se a ensinar Funções na Educação

Básica (TINOCO et al, 1996).

No Brasil, durante o Movimento da Matemática Moderna, o ensino das

“Funções” passou a ser realizado a partir do oitavo ano de escolaridade, já que

nessa série os alunos, com aproximadamente quatorze anos de idade, teriam a

maturidade matemática requisitada para o aprendizado deste conteúdo matemático

(TINOCO et al, 1996). Entretanto, é importante reconhecer que os alunos já

vivenciam desde muito cedo, mesmo que intuitivamente, as ideias e o conceito de

Função, inclusive no cotidiano.

35

Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (Brasil, 1998) criticam a

abordagem desse conceito de forma mecanizada já que essa maneira de conceber

o ensino de Matemática leva os alunos a se distanciarem de suas situações

cotidianas, bem como de suas vivências matemáticas do dia-a-dia, dificultando a

cognição destes. Diante disso, esse documento sugere que os processos de ensino

e aprendizagem no quarto ciclo deem ênfase ao estudo dos conteúdos algébricos os

quais devem ser abordados de forma mais intuitiva.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio - PCNEM (BRASIL,

1999) apontam que o aluno deve ser levado a ler, interpretar e utilizar diferentes

formas de representação (tabelas, gráficos, expressões etc.); identificar, analisar e

aplicar conhecimentos sobre valores de variáveis representados em gráficos,

diagramas ou expressões algébricas; transcrever mensagens matemáticas da

linguagem corrente para linguagem simbólica (equações, gráficos, diagramas,

fórmulas, tabelas etc.) e vice-versa. Em relação às aplicações dentro e fora da

Matemática, os Parâmetros tratam do tema função destacando que:

...o conceito de função desempenha também papel importante para escrever e estudar através da leitura, interpretação e construção de gráficos, o comportamento de certos fenômenos tanto do cotidiano, como de outras áreas do conhecimento, como a Física, Geografia ou Economia (BRASIL, 1999, p. 42).

O conceito de Função está presente em diversas situações cotidianas, as quais

exigem que os alunos estejam preparados para analisar e entender o mundo em sua

volta. Sendo assim, é preciso estimular a criatividade, iniciativa, investigação, análise e

argumentação dos alunos para que estes sejam capazes de resolver problemas, de

interpretar informações e de utilizar diferentes formas de representação.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais - Brasil (2002) também sugerem que

os alunos do Ensino Fundamental desenvolvam experiências de aprendizagem em

Funções e a representação gráfica também como ilustração de situações reais

diversas. Desta maneira, é muito importante apresentar aos alunos situações,

problemas, tarefas intuitivas de aplicações contextualizadas, considerando a relação

com outras áreas e também os conhecimentos prévios dos alunos. Esse documento

justifica que ao lidar com o conceito de função em situações diversas e em outras

áreas, através de uma variedade de situações-problema, o aluno é incentivado a buscar

uma solução, adaptando seus conhecimentos sobre funções a fim de construir um

modelo para interpretação e investigação em Matemática.

36

Além disso, os PCN afirmam que o estudo do conceito de Função é apresentado

como importante por permitir que os alunos se apropriem da linguagem algébrica como

a linguagem das ciências, necessária para expressar a relação entre grandezas e

modelar situações-problema, construindo modelos descritivos de fenômenos e

permitindo várias conexões dentro e fora da própria Matemática. Segundo esse

documento, “a ênfase do estudo das diferentes Funções deve estar no conceito de

Função e em suas propriedades em relação às operações, na interpretação de seus

gráficos e nas aplicações dessas Funções.” (BRASIL, 2002, p. 121).

Em relação ao papel desempenhado pelo conceito de função como facilitador

na integração das disciplinas, os PCN salientam que:

...além das conexões internas à própria Matemática, o conceito de função desempenha também papel importante para descrever e estudar através da leitura, interpretação e construção de gráficos, o comportamento de certos fenômenos tanto do cotidiano, como de outras áreas do conhecimento, como a Física, Geografia ou Economia. Cabe, portanto, ao ensino de Matemática garantir que o aluno adquira certa flexibilidade para lidar com o conceito de função em situações diversas e, nesse sentido, através de uma variedade de situações problema de Matemática e de outras áreas, o aluno pode ser incentivado a buscar a solução, ajustando seus conhecimentos sobre funções para construir um modelo para interpretação e investigação em Matemática (BRASIL, 1999; p.44).

É nessa direção que D’Ambrósio (1997) enfatiza ser preciso abordar o ensino da

Matemática de modo contextualizado com outras áreas do conhecimento. Assim, as

Funções e suas formas de representações são essenciais para o estudo de problemas

de diversas áreas científicas como Física, Química, Biologia, Economia, Engenharia etc.

Ainda nessa perspectiva, é importante frisar que competências e

conhecimentos são desenvolvidos em conjunto e se reforçam reciprocamente.

Aprender Matemática de uma forma contextualizada, integrada e relacionada a

outros conhecimentos traz em si o desenvolvimento de competências e habilidades

que são essencialmente formadoras, à medida que instrumentalizam e estruturam o

pensamento do aluno, capacitando-o para compreender e interpretar situações, para

se apropriar de linguagens específicas, argumentar, analisar e avaliar, tirar

conclusões próprias, tomar decisões, generalizar e para muitas outras ações

necessárias à sua formação (BRASIL, 2002). Entretanto, fazer essa

contextualização, bem como provocar o aluno a se tornar um articulador de seu

próprio desenvolvimento, não são tarefas simples e busca no professor de

matemática uma nova desenvoltura.

37

Reconhecendo a importância da abordagem apresentada pelo professor, o

Ministério da Educação (MEC) elaborou outro documento com o objetivo de

contribuir para o diálogo entre professor e escola sobre a prática docente, as

denominadas “Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM)” que vem

apresentar um conjunto de reflexões que possam alimentar a prática docente e que

levem em consideração os diferentes propósitos da formação matemática na

educação básica. Segundo esse documento, espera-se que os alunos, ao final do

Ensino Médio, saibam usar a Matemática para resolver problemas práticos do

cotidiano; para modelar fenômenos em outras áreas do conhecimento;

compreendam que a Matemática é uma ciência com características próprias, que se

organiza via teoremas e demonstrações; percebam a Matemática como um

conhecimento social e historicamente construído; saibam apreciar a importância da

Matemática no desenvolvimento científico e tecnológico (BRASIL, 2006; p. 69).

Diferente dos Parâmetros Curriculares Nacionais, as Orientações Curriculares

do Ensino Médio apresentam uma nova divisão dos temas a serem desenvolvidas

no Ensino Médio. O Estudo de Funções ganha um bloco exclusivo para suas

análises. Nesse documento, os conteúdos básicos estão organizados em quatro

blocos: Números e operações; Funções; Geometria; Análise Combinatória e

Probabilidade. Isso não significa que os conteúdos desses blocos devam ser

trabalhados de forma isolada, mas, ao contrário, deve-se buscar constantemente a

articulação entre eles.

As Orientações Curriculares do Ensino Médio também sugerem que o estudo

de funções seja iniciado “com uma exploração qualitativa das relações entre duas

grandezas em diferentes situações: idade e altura; área do círculo e raio; tempo e

distância percorrida; tempo e crescimento populacional; tempo e amplitude de

movimento de um pêndulo, entre outras” (Brasil, 2006; p. 72).

Outros aspectos também são abordados nessas Orientações, como a

importância de provocar os alunos para que apresentem outras tantas relações

funcionais e que, de início, esbocem qualitativamente os gráficos que representam

essas relações, registrando os tipos de crescimento e decrescimento (mais ou

menos rápido). E ainda a conveniência solicitar aos alunos que expressem em

palavras uma função dada de forma algébrica, por exemplo, f(x) = 2 x + 3, como a

função que associa a um dado valor real o seu dobro, acrescido de três unidades;

38

isso pode facilitar a identificação, por parte do aluno, da ideia de função em outras

situações, como, por exemplo, no estudo da cinemática, em Física. Além disso, a

importância de se destacar o significado da representação gráfica das funções,

quando alteramos seus parâmetros, ou seja, identificar os movimentos realizados

pelo gráfico de uma função quando alteramos seus coeficientes (BRASIL, 2006).

Ainda sobre o ensino de funções, as Orientações Curriculares do Ensino

Médio recomendam que seja apresentado ao aluno os diferentes modelos, tomados,

inclusive em outras áreas do conhecimento como, por exemplo, os modelos linear,

quadrático e exponencial que podem ser relacionados os movimentos estudados na

Física. Esse documento também chama atenção para a importância de convidar o

aluno a construir gráficos das funções a partir de um entendimento global da relação

de crescimento/decrescimento entre as variáveis, uma vez que a elaboração de um

gráfico por meio da simples transcrição de dados tomados em uma tabela numérica,

além de omitir informações importantes acerca do objeto matemático em estudo,

não permite avançar na compreensão do comportamento das funções.

Neste momento é interessante citarmos o que do documento apresenta sobre

algumas considerações importantes acerca do estudo de funções:

...as ideias de crescimento, modelo linear (f(x) = a.x) e proporcionalidade direta devem ser colocadas em estreita relação, evidenciando-se que a proporcionalidade direta é um particular e importante modelo de crescimento. Nesse momento, também é interessante discutir o modelo de decrescimento com proporcionalidade inversa (f(x) = a/x). O professor deve estar atento ao fato de que os alunos identificam sistematicamente, de forma equivocada, crescimento com proporcionalidade direta e decrescimento com proporcionalidade inversa, e aqui é interessante trazer situações do quotidiano para ilustrar diferentes tipos de crescimento/decrescimento de grandezas em relação. Situações em que se faz necessária a função a. m (f(x) = a.x + b) também devem ser trabalhadas. (BRASIL, 2006; p. 72-73)

Dos documentos oficiais analisados, somente as Orientações Curriculares

apresentam uma abordagem mais direta da função quadrática e seu estudo que,

segundo as OCEM, deve:

...ser motivado via problemas de aplicação, em que é preciso encontrar um certo ponto de máximo (clássicos problemas de determinação de área máxima). O estudo dessa função – posição do gráfico, coordenadas do ponto de máximo/mínimo, zeros da função – deve ser realizado de forma que o aluno consiga estabelecer as relações entre o ”aspecto” do gráfico e os coeficientes de sua expressão algébrica, evitando-se a memorização de regras. O trabalho com a forma fatorada (f(x) = a. (x - m)2 + n) pode ser um auxiliar importante nessa compreensão. Nesse estudo, também é pertinente deduzir a fórmula que calcula os zeros da função quadrática (a fórmula de Báskara) e a identificação do gráfico da função quadrática com a curva parábola, entendida esta como o lugar geométrico dos pontos do plano que

39

são equidistantes de um ponto fixo (o foco) e de uma reta (a diretriz). (Brasil, 2006, p.73)

As funções polinomiais também são tratadas nessas Orientações Curriculares

para o Ensino Médio:

... as funções polinomiais (para além das funções afim e quadrática), ainda que de forma bastante sucinta, podem estar presentes no estudo de funções. Funções do tipo f (x) = xn podem ter gráficos esboçados por meio de uma análise qualitativa da posição do ponto (x, xn) em relação à reta y = x, para isso comparando-se x e xn nos casos 0 < x < 1 ou x > 1 e usando-se simetria em relação ao eixo x ou em relação à origem para completar o gráfico. Funções polinomiais mais gerais de grau superior a 2 podem ilustrar as dificuldades que se apresentam nos traçados de gráficos, quando não se conhecem os “zeros” da função. Casos em que a função polinomial se decompõe em um produto de funções polinomiais de grau 1 merecem ser trabalhados. Esses casos evidenciam a propriedade notável de que, uma vez se tendo identificado que o número c é um dos zeros da função polinomial y = P(x), esta pode ser expressa como o produto do fator (x - c) por outro polinômio de grau menor, por meio da divisão de P por (x - c). (BRASIL, 2006; p.74)

As Orientações Curriculares ainda apontam alguns aspectos importantes a

serem trabalhados, entre os quais se destacam:

•Estudo da posição do gráfico, das coordenadas dos pontos de máximo e mínimo e dos zeros da função quadrática, que devem ser realizados de forma que o aluno consiga estabelecer as relações entre o “aspecto” do gráfico e os coeficientes de sua expressão algébrica. •A identificação do gráfico da função quadrática com a curva parábola (BRASIL, 2006, p. 73).

2.2. A proposta curricular do estado de São Paulo

Num âmbito mais específico, ou seja, fornecendo orientações para o ensino no

Estado de São Paulo, a Proposta Curricular (SÃO PAULO, 2008a), no Caderno do

Professor, propõe que o tema função quadrática seja abordado na 1ª série do Ensino

Médio. O Caderno expõe que:

... no trabalho com funções quadráticas, buscou-se favorecer a compreensão da representação gráfica e suas propriedades e o estudo de máximos e mínimos. Ao procurar contextualizar os conteúdos aqui propostos, o professor deverá utilizar situações do cotidiano, jogos, situações-problema ou mesmo situações intrínsecas à Matemática e a outras situações de aprendizagem que favoreçam o processo de ensino e aprendizagem das funções, inclusive problemas e exercícios para síntese dos conteúdos (SÃO PAULO, 2008b, p. 9).

A Proposta Curricular (SÃO PAULO, 2008a) apresenta conteúdos (temas)

como meios para o desenvolvimento das competências pessoais e para a

construção dos significados dos conteúdos estudados sugerindo, inclusive,

estratégias de ensino e recursos para ampliar a perspectiva do professor e do aluno

para a compreensão do tema.

40

Em análise aos documentos oficiais, observa-se que os PCNEM (BRASIL,

1999) e as Orientações Curriculares (BRASIL, 2006) têm um caráter mais ideológico

e fornecem orientações gerais. Enquanto a Proposta Curricular (SÃO PAULO,

2008a) fornece orientações que abordam aspectos mais práticos, distribui conteúdos

por série e fornece orientações que estão mais próximas dos trabalhos em sala de

aula, inclusive tem o material destinado aos alunos. Essas diferentes abordagens

percebidas nos documentos oficiais não os tornam, de modo algum, contraditórios,

mas sim complementares.

Há, na realidade, consenso entre as orientações oficiais sobre a valorização

dos diversos aspectos que compõem o estudo de funções e a importância de um

trabalho cuidadoso a ser realizado em sala de aula. Entende-se que isso inclui

recorrer a metodologias e recursos variados de ensino, inclusive, as

videoconferências realizadas pela Secretaria da Educação dos estados de São

Paulo tem frisado algumas abordagens usando as TDIC, dentre elas, o software

Winplot.

No Caderno do Aluno, o da primeira série do Ensino Médio (volume 2), por

exemplo, tem vários exercícios acerca das funções quadráticas que sugerem

indiretamente o uso de softwares dinâmicos. Além disso, o material já parece

conceber teorias importantes para os processos de ensino e aprendizagem como,

por exemplo, a Teoria dos Registros de Representação Semiótica de Raymond

Duval.

No presente trabalho, o destaque é dado ao uso das Tecnologias Digitais da

Informação e Comunicação nos processos de ensino e aprendizagem do conceito

de Função quadrática. Assim sendo, evidencia a necessidade de explorar a

abordagem investigativa. Um dos aspectos essenciais para o processo de ensino e

aprendizagem do conceito de Função é a variação das situações de aprendizagem,

tanto do ponto de vista dos contextos, como dos significados que as expressões

matemáticas assumem. Desta maneira, a abordagem investigativa por meio da

informática busca nos alunos um papel fundamental para a aprendizagem de um

conceito em Matemática, pois, ao serem concebidos como investigadores

explicitarão suas ideias, pensamentos e raciocínios, estarão refletindo sobre as

mesmas e argumentando-as para justificar sua tomada de decisão (SKOVSMOSE,

2000).

41

2.4. Funções Quadráticas: abordagem dada pelos livros didáticos Como esse paradigma de pesquisa está interessado em investigar aspectos

que favoreçam a formação do professor que busca minicursos e oficinas em geral e,

quando se fala de livro didático, não se pode esquecer que estes ainda influenciam

bastante o processo de formação do professor, bem como sua tomada de decisão

didática (MAIA, 2007). Desse modo, para entender melhor o professor e suas

concepções sobre o ensino de Matemática, especificamente sobre o conceito de

funções quadráticas, tema central do presente estudo, se faz necessário uma

análise de como os livros didáticos abordam esse conceito.

Embora seja reconhecida a importância de se introduzir o estudo exploratório

de funções quadráticas no ensino fundamental, esse trabalho limitará sua análise

aos livros do Ensino Médio, em particular os do 1º ano. Visando verificar a proposta

explicitada por livros utilizados atualmente sobre o estudo da função polinomial do

segundo grau e analisar os tipos de exercícios, foram selecionados três livros do 1º

ano do Ensino Médio, os quais foram indicados pelo PNLEM-2010 e enviados para

as escolas objetivando uma análise por parte dos professores para que fossem

escolhidas as coleções que seriam utilizadas com seus alunos.

Como essa análise busca-se destacar os tipos de procedimentos e

abordagens que são considerados para um eventual estudo das funções

quadráticas, como a construção de gráficos da função polinomial do segundo grau,

as representações das funções quadráticas mais abordadas, bem como, quais são

as mudanças de Registros de Representação Semiótica abordada pelos autores.

Para enriquecer as discussões acerca das Funções polinomiais do segundo

grau, tema que o presente estudo aborda, é feita, a seguir, uma sucinta análise

sobre o desenvolvimento do tema nos livros: Dante (2009), Rubió e Freitas (2009) e

Giovanni e Bonjorno (2009) que serão chamados de X, Y e Z, respectivamente. A

escolha desses livros partiu da premissa que estes são livros clássicos, uma vez já

foram aprovados nos três últimos Programas Nacionais do Livro Didático (PNLD)

das escolas públicas, bem como vem sendo amplamente utilizado. Além disso,

esses livros foram os três escolhidos e indicados no PNLD 2009 na escola

acessada.

10 Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio.

42

� Abordagem Inicial

Os livros, X e Y, partem de problemas clássicos que envolvem área e

perímetro, coincidentemente ambos retratam área e perímetro de uma quadra de

futsal, conceituando função polinomial do segundo grau sem excesso de rigor e

formalidade. Após discussão desses problemas iniciais, os autores formalizam o

conceito de função quadrática. Já o livro Z, partiu direto para a formalização desse

conceito, apresentando e trabalhando resoluções de exercícios clássicos tais como:

“se x então f(x) e vice-versa”.

� Pontos Notáveis da Parábola

Quanto aos pontos notáveis da parábola, ou seja, intersecção com os eixos e

vértice, os livros X e Y fazem essa abordagem partindo de um estudo gráfico,

relacionando esses pontos notáveis da parábola à variação dos coeficientes a, b e c

da função quadrática, f(x) = x2 + bx +c. O Livro X vai além ao relacionar os pontos

notáveis em questão com os coeficientes, m e n, da forma canônica da função

polinomial do segundo grau. Assim, os livros, X e Y, propõem um estudo gráfico

para formalizar as propriedades desses pontos notáveis.

O livro Z define o zero da função e por meio de exercícios resolvidos ensina

determiná-lo, propondo em seguida exercícios semelhantes, demonstrando as

fórmulas do vértice, que serão usadas para resolvê-los. Desse modo, o livro z

apresenta a importância de determinar algebricamente os pontos notáveis da

parábola, ilustrando posteriormente, mas em nenhum momento, um tratamento

gráfico desses pontos.

� Máximos e Mínimos

Quanto às noções de ponto de máximo e de mínimo os três livros usaram

abordagens semelhantes. Na formalização do conceito foi utilizada a representação

algébrica associada à representação gráfica e, em seguida, foram dados alguns

exemplos de aplicações, como: custo mínimo de produção, balística, entre outros. O

livro Y buscou relacionar a variação do vértice em função dos coeficientes a, b e c

da função quadrática, f(x) = x2 + bx +c. Já o livro X, foi além, ressaltando a

interpretação gráfica aos estudos dos valores máximos e mínimos de uma função

polinomial do segundo grau.

43

Reflexões sobre a abordagem desses três livros

Dentre as três obras analisadas, nenhuma delas contém exercícios que

sugiram ao aluno a construção de vários gráficos num mesmo plano cartesiano,

diferentemente da Proposta Curricular (SÃO PAULO, 2008a) e dos aportes teóricos

escolhidos pela presente investigação e que nos próximos capítulos serão

amplamente discutidos. Nos livros X, Y e Z, nem mesmo nas orientações especificas

para os professores foi encontrada tal orientação. Essa abordagem seria essencial

para que os alunos conjecturassem padrões de variação geométrica da parábola em

virtude da variação dos coeficientes da sua representação algébrica.

A seguir, a tabela 2.1 destaca os tipos de tarefas apresentadas nos três livros

do Ensino Médio, bem como a quantidade de cada uma delas.

Tabela 2. 1 - Tipografia das atividades apresentadas nos livros analisados.

Perfil da Atividade Livro X (quant.

)

Livro Y (quant.

)

Livro Z (quant.)

Total

Identificação e introdução da função quadrática, análise de coeficientes e lei de formação

21 6 7 34

Construção de gráficos em geral 17 7 16 40 Localização e/ou determinação de pontos notáveis algebricamente 19 7 18 44 Localização e/ou determinação de pontos notáveis a partir do gráfico

1 4 2 7

Localização e/ou determinação de pontos notáveis a partir de problemas

18 5 6 29

Encontrar o domínio e/ou a imagem a partir de Interpretação algébrica

0 1 14 15

Encontrar o domínio e/ou a imagem a partir de Interpretação Gráfica

0 1 0 1

Encontrar o domínio e/ou a imagem a partir de problemas 0 1 0 1 Dedução da expressão algébrica da função quadrática partir do gráfico

0 2 1 3

Dedução da expressão algébrica da função quadrática partir de problemas

15 5 8 28

Resolução de problemas de física, química ou outra disciplina 10 3 6 19 Resolução de problemas por meio de esboço gráficos (explicitamente)

0 0 0 0

Estudo do crescimento e decrescimento a partir da representação algébrica

6 3 12 21

Estudo do crescimento e decrescimento a partir da representação gráfica.

0 2 1 3

Manipulação estritamente algébrica 30 0 19 49 Transformações geométricas das parábolas de uma função quadrática em virtude da variação de seus coeficientes

4

4

0

8

Total 141 51 110 302

Observando a tabela anterior e as atividades apresentadas pelos três livros

analisados, pode-se notar que a representação algébrica é ainda prioritária.

44

Raramente se realiza a passagem da representação gráfica da função quadrática

para sua representação algébrica. Segundo Duval (2003) a compreensão em

matemática implica na capacidade de mudar de registro, e também em saber

explicar as propriedades ou aspectos diferentes de um mesmo objeto matemático

em suas diferentes representações.

Ainda a respeito das técnicas apresentadas fica evidente que a construção do

gráfico por pontos é o procedimento predominante. Do ponto de vista cognitivo,

construir gráficos desta maneira pode tornar o aprendizado lacônico ou equivocado,

no sentido de que este procedimento implica numa visão pontual do gráfico, na qual

o aluno preocupa em encontrar pares ordenados e localizá-los no plano cartesiano,

não fazendo muitas vezes a volta, ou seja, a partir do gráfico obter a expressão

algébrica. Tratamentos como este, segundo Duval (2003), não leva o aluno a

compreender adequadamente o conceito matemático.

Percebe-se também que há uma supervalorização da manipulação algébrica,

em detrimento do tratamento gráfico. Os gráficos são sempre esboçados, ou seja,

são construídos sem qualquer tipo de precisão. Além disso, a análise desses

gráficos construídos não é sugerida pelos autores em nenhum exercício.

Quanto ao tratamento ou mesmo o esboço gráfico, em nenhum momento foi

sugerido como ferramenta para solução dos problemas. Daí, cria-se uma crença

equivocada de que a construção de gráficos não serve muito para a resolução de

problemas.

Quanto ao material de apoio, o livro (X) não o continha, o livro (Y), continha o

planejamento do curso, bastante instrucional, sem sugestões de atividades que

convidasse o professor a integrar as TDIC nos processos de ensino e

aprendizagem. Já no livro (Z), o material de apoio ao professor demonstra que o

autor reconhece a importância de se iniciar a abordagem de um conceito com um

problema do cotidiano que facilite a discussão, o levantamento de conjecturas e,

principalmente, a inserção do paradigma investigativo. Entretanto, na prática o autor

já iniciou a abordagem com a formalização do conceito de função quadrática.

Ainda nesse tópico de apoio ao professor, no livro (Z) encontra-se uma

sugestão de atividade para o estudo dos vértices das famílias das parábolas.

Segundo Giovanni e Bonjorno (2009), esse estudo será potencializado com o uso de

uma ferramenta informática, o software Winplot que permite observar as

45

representações gráficas para as funções quadráticas, bem como levantar

conjecturas e hipóteses, testá-las, validá-las e, por fim, partir para uma

demonstração.

É justamente nesse prospecto que se insere a presente investigação, uma

vez que ela parte de premissas que o ensino e a aprendizagem do conceito de

função quadrática ocorrem de modo global quando o aluno percebe o gráfico como

uma fonte de variáveis visuais que estão relacionadas com os coeficientes da

expressão algébrica, seja ela geral, canônica ou polinomial na forma fatorada.

Diante do exposto nessa análise e tendo como premissa o objetivo dessa

investigação que é delinear mecanismo que favoreçam, mesmo que indiretamente, a

superação das dificuldades enfrentadas pelos professores de matemática para

integrar o uso das TDIC no ensino de conceitos matemáticos, surgiu a necessidade

de elaborar e ou organizar uma sequência didática para permear as oficinas a serem

desenvolvidas com os professores de matemática envolvidos. Porém, para a

complementação do cenário desta pesquisa se faz necessário ainda, a partir de

investigações já realizadas, um estudo de quais são as dificuldades apontadas nos

processos de ensino e aprendizagem das funções polinomiais do segundo grau.

2.5. Funções Quadráticas: dificuldades no ensino e na aprendizagem

Várias pesquisas, relacionadas ao ensino e a aprendizagem de funções

quadráticas, tais como as de Duval (1993,1995,1996), Kieran (1992), Schwarz

(1995), Maia (2007), apontam que os alunos encontram dificuldades no que diz

respeito à construção de gráficos dessas funções.

Schwarz (1995), por exemplo, fez um estudo com alunos do último ano do

Ensino Médio acerca desse assunto e concluiu que:

...os alunos não se habituaram a ver e relacionar as diferentes representações de uma função, adquirindo habilidade de passar da representação gráfica para a representação algébrica e vice-versa,[...] eles estariam destinados a permanecer com a concepção operacional11 , ou ainda, com uma concepção elementar de função (p. 128).

Esse pesquisador, durante sua investigação, percebeu ainda que uma

quantidade ínfima, destes mesmos alunos, tentou obter a representação algébrica

das funções quadráticas ao se depararem com as representações gráficas dessas 11 Segundo Sfard (apud SCHWARZ, 1995, p.22), concepção operacional é aquela cuja noção se pauta no processo calculatório.

46

funções. Desse modo, o autor concluiu que para uma quantidade relevante desses

alunos o gráfico já se basta, ou seja, acreditam que a representação gráfica de uma

função já possui todas as informações necessárias para que se decida se é função

ou não, bem como para resolver outros problemas desejados.

Nesse contexto, Maia (2007) elaborou uma sequência didática embasada na

teoria dos Registros de Representação Semiótica e na Teoria das Situações

Didáticas, utilizando a tecnologia informática, mais especificamente o software

Winplot, integrada nos processos de ensino e da aprendizagem do conceito de

funções quadráticas. Essa sequência foi aplicada a alunos da oitava série (nono

ano) do Ensino Fundamental, que já conheciam o software.

Essa pesquisadora concluiu que a utilização dessa ferramenta computacional

potencializou a representação gráfica. A utilização do software permitiu animações,

simulações e tentativas, favorecendo a ação crítica e a capacidade de prever o

comportamento das funções, o que não é possível com uso apenas de papel e lápis.

Por fim, a autora considerou que o resultado positivo de sua pesquisa, deveu-se à

escolha do referencial teórico e reconheceu que seria impossível a construção da

sequência sem a Teoria dos Registros de Representação Semiótica, uma vez que

este referencial lhe permitiu observar que as modificações na representação

algébrica acarretam mudanças na representação gráfica.

Trabalhos realizados, como este de Maia (2007), sugerem a importância do

emprego de recursos tecnológicos para o ensino e aprendizagem da função

polinomial do segundo grau. Além disso, são sugeridos estudos complementares,

bem como o uso do software em grupos maiores e, em regiões diferenciadas. É

inegável que a legitimação do uso dessas tecnologias informáticas na sala de aula

depende diretamente da formação do professor para compreendê-las e incorporá-las

em sua prática docente.

É justamente nessa perspectiva que emerge esse trabalho de pesquisa.

Semelhantemente à sequência didática proposta por Maia (2007), mas tendo como

sujeitos professores-alunos a presente investigação organiza uma sequência

envolvendo a tríade professores – pesquisadora – tecnologias, cujo objetivo maior é

favorecer a integração das mídias nas práticas docentes.

Essas atividades foram organizadas e desenvolvidas de acordo com alguns

pressupostos teóricos tais como: - a Teoria de Mudança de Registro de

47

Representação Semiótica de Raymond Duval que considera que a aprendizagem de

um conceito matemático está intrinsecamente relacionada com a capacidade que o

estudante tem de distinguir um objeto de suas representações, bem como mobilizar-

se entre essas diversas representações através de transformações denominadas

Tratamento e Conversão; - as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação

(TDIC) e suas potencialidades diante dos processos de Ensino e Aprendizagem; o

Knowledge Base ou “base de conhecimentos docentes” de Lee Shulman que é um

repertório profissional que contém categorias de conhecimento que subjazem à

compreensão que o professor necessita para promover a aprendizagem do aluno.

No próximo capítulo segue então uma discussão mais detalhada desses aportes

teóricos servidos no tecer dessa dissertação.

48

Capítulo III

3. IDEIAS E SUPORTES DESSA INVESTIGAÇÃO

Nos capítulos anteriores foram apresentadas as justificativas e a questão de

pesquisa. Desse modo, nesse terceiro capitulo será discutida a Teoria dos registros

de representação semiótica de Raymond Duval, a importâncias das TDIC, bem

como as tendências dos cursos de formação continuada do professor de

matemática, os quais foram primordiais para o desenvolvimento do presente

trabalho de pesquisa.

3.1. Os Registros de Representações Semióticas e a Aprendizagem

O atual paradigma de ensino da matemática tem provocado nos estudantes

certa consternação, no que se refere aos saberes inerentes da Matemática. Sabe-se

que esse desânimo manifestado pelos alunos está intrinsecamente relacionado ao

fato destes não conseguirem atribuir significados para o estudo dos conceitos

matemáticos, uma vez que estes sequer conseguem relacionar os conceitos

matemáticos aos seus conhecimentos matemáticos próprios da vivência cotidiana.

Nessa perspectiva, Duval (2003) afirma que para se compreender um

conceito matemático, bem como atribuir significado a ele, é indispensável

representá-lo através de vários registros de representação semiótica, tais como:

linguagem natural, figuras geométricas, escritas algébricas formais e as

representações gráficas. A articulação entre esses diferentes registros de

representação semiótica, de acordo com este pesquisador, exerce uma função

importante na construção do conhecimento acerca do objeto em estudo, bem como

a organização do pensamento matemático. Desta forma, percebe-se a importância

de se priorizar, em sala de aula, atividades que permitam ao aluno confrontar com

diversos registros de representação semiótica para um mesmo objeto matemático,

bem como apropriar-se das possíveis articulações entre esses registros.

Entretanto, segundo Duval (2003), ao estudar um conceito matemático

fazendo tais articulações acerca do objeto em estudo é peremptoriamente

necessário que o aluno reconheça as diferenças existentes entre um objeto

matemático e suas diversas representações. Por outro lado, Duval (2003) também

afirma que não existe noésis sem semióse, ou seja, a apreensão e/ou a produção de

49

uma representação semiótica acerca de um objeto está intrinsecamente relacionada

aos atos cognitivos responsáveis pela apreensão conceitual desse objeto.

Diante disso, Duval (2003) reconhece que essa distinção entre objeto e sua

respectiva representação pode parecer um paradoxo, uma vez que o objeto e sua

representação estão intrinsecamente relacionados. Exemplificando o paradoxo

levantado por esse pesquisador, faz-se necessário reconhecer a distinção entre a

intersecção da parábola com eixo das abscissas (representação do objeto) e o

conceito de zero de uma função quadrática (objeto matemático), uma vez que o zero

de uma função pode apresentar diversas representações, mas seria impossível

qualquer representação para o objeto (zero da função quadrática) sem um domínio

conceitual desse objeto, o que sugere não existir noésis sem semióse.

Desse modo, para que o aluno ou o cognoscente represente adequadamente

um objeto matemático, articulando entre seus diversos Registros de Representação

Semiótica acredita-se veemente que, em um primeiro momento, este indivíduo

reconheça a natureza deste objeto matemático em estudo, bem como suas

propriedades e relações com outros objetos, matemáticos ou não. Em Duval (2003),

fica explícito que essa questão vai exigir um planejamento de estudo que favoreça a

abordagem simultânea de duas intervenções cognitivas as quais estão vinculadas,

por um lado, às diversas representações semiótica para um objeto matemático e,

por outro lado, ao próprio objeto em estudo e suas propriedades e características

inerentes.

Segundo Duval (2009), a mudança de um Registro de Representação

Semiótica vai depender de um desenvolvimento que permita o cumprimento de três

atividades cognitivas:

� a formação de uma representação identificável (recurso da língua

materna ou natural, desenhos, figuras, tabelas, diagramas, esboços,

esquemas ou fórmulas com símbolos próprios da ciência abordada) que parte

da constituição de um aspecto uniforme ou agrupamento de traços

perceptíveis no intuito da representação de algo em um sistema

padronizado;

� o tratamento que é uma transformação da representação interna do

registro, ou seja, são mudanças a partir de regras inerentes ao sistema

semiótico e mobilizando apenas um registro de representação, obtendo,

50

assim, outras representações que ao serem confrontadas com as

representações iniciais promovam a construção de algum conhecimento;

� a conversão é a transformação de uma dada representação de um

objeto em outra representação de um sistema semiótico distinto, mas

mantendo a referência que se tem do objeto abordado. pode-se dizer que a

conversão consiste em mudar a forma pela qual um objeto é representado, de

modo que a última representação obtida permita conjecturar e formalizar

novas significações acerca do objeto representado em outro sistema

semiótico.

Aprofundando a análise do uso das representações, a Teoria dos Registros

de Representação Semiótica de Raymond Duval (2003) diz que durante o processo

de estudo dos objetos ou conceitos matemáticos devem ser essencialmente

enfatizadas duas transformações dos Registros de Representação Semiótica: os

tratamentos e as conversões. É importante salientar que embora essas

transformações possuam pontos comuns, como o próprio objeto matemático, elas

possuem um desenvolvimento bastante antagônico. Desse modo, no próximo tópico

tem-se uma discussão mais preconizada desses dois tipos de transformações.

3.1.1.Tratamentos e Conversões

Segundo Duval (2003), reconhecer a diferença entre esses dois tipos de

transformação de representação é peremptório para a compreensão dos processos

de ensino e aprendizagem que permeia a cognição. Esse pesquisador descreve do

seguinte modo esses dois tipos de operação possíveis entre os registros:

Os tratamentos são transformações de representações dentro de um mesmo registro: por exemplo, efetuar um cálculo ficando estritamente no mesmo sistema de escrita ou de representação dos números; resolver uma equação ou um sistema de equações; completar uma figura segundo critérios de conexidade e de simetria. As conversões são transformações de representações que consistem em mudar de registro conservando os mesmos objetos denotados: por exemplo, passar da escrita algébrica de uma equação a sua representação gráfica (DUVAL, 2008, p. 16).

Desse modo, tem-se que o tratamento e a conversão são de naturezas

diferentes. O tratamento é uma transformação de uma representação em outra

representação de mesma natureza. É uma transformação interna, no próprio

registro. Por exemplo: a resolução de uma equação, a determinação do zero de uma

51

função, finalizar uma figura que exija uma transformação geométrica etc.

Já a conversão é uma transformação externa ao registro de um registro de

representação em outra representação de outra natureza, conservando a totalidade

ou parte da representação inicial, mas fazendo menção sempre ao mesmo objeto.

Por exemplo: a representação de uma função (objeto) que está em seu registro

algébrico (uma representação) em um registro gráfico no eixo cartesiano (outra

representação). Esse tipo de mudança de registro se mostra mais eficaz, em relação

à transformação por simples tratamento, favorecendo diversas situações de

aprendizagem, bem como a construção do pensamento matemático.

Segundo Duval (1995), não se deve privilegiar apenas o tratamento,

reforçando a importância da uniformidade, como se uma metodologia uniforme fosse

responsável pela descrição de uma informação precisa e coesa. Então, é importante

reconhecer que ao abordar a conversão das representações de um sistema

semiótico a outro, o confronto entre as representações, inicial e final, que se

apresentam em formas distintas, bem como as possíveis conjecturas e

formalizações levantadas acerca dessas representações propiciarão uma real

intervenção cognitiva.

Por outro lado, faz-se necessário reconhecer que a transformação de

representações a partir da conversão não é notória, tampouco cognitivamente

imparcial, seja pela necessidade de se reconhecer a semiósis como essencial para a

construção do pensamento matemático ou pelas as condições de uma distinção

entre o objeto matemático e suas representações (BRANDT, 2007).

Outra dificuldade a ser relatada centra-se no fato de que as diversas

possibilidades de registros de representação para um mesmo objeto matemático não

fazem parte de um mesmo sistema semiótico (BRANDT, 2007). No caso das

funções quadráticas (objeto matemático), ao pensar na conversão já se sabe da

importância de se representar esse objeto (a função quadrática) por meio de

registros de representação distintos, de natureza diferente e com semânticas

próprias, por exemplo, no registro algébrico e gráfico.

Desse modo, é notório que o tratamento e a conversão, transformações feitas

num registro de representação, não podem e nem devem ser confundidos, haja vista

que não são operações semelhantes, advindo de natureza e sistema semiótico

distintos, ainda que elas sejam duas formas possíveis de transformações das

52

representações semióticas para certo objeto (BRANDT, 2007).

Também é importante reconhecer que cada registro favorece um tipo de

tratamento, uma vez que cada registro de representação possui um sistema

semiótico inerente de modo que determinada transformação pode ser feita eficaz e

parcimoniosamente em um tipo específico de registro. Analogamente, registros que

comungam de um mesmo sistema semiótico apresentam representação e

tratamento equivalentemente indissociáveis (BRANDT, 2007).

Já a conversão semiótica conserva a menção que se faz ao objeto, podendo

variar apenas a visualização que se faz deste objeto enquanto conteúdo. Esta

variação no conteúdo ou nos aspectos visuais do objeto vai depender da natureza

semiótica do registro. Desse modo, a conversão implica em mudança no

procedimento de interpretação, uma vez que o conteúdo da representação final

provoca uma interpretação distinta da representação inicial. A conversão requer

percepção quanto à diferença entre a forma e o conteúdo da representação. Sem

essa percepção, a atividade de conversão torna-se inviável (DUVAL, 2009).

3.1.2. Exemplos de Tratamentos e Conversões

Conforme exposto, os Tratamentos e as conversões são transformações no

registro de representação semiótica essenciais para atividade matemática. No que

tange os processos de ensino e aprendizagem, a compreensão desses dois tipos de

transformação, bem como a distinção entre permitem ao professor a partilha

ponderada e a inserção profícua destes no desenvolvimento dos conceitos

matemáticos curriculares, não supervalorizando um em detrimento do outro, uma

vez que ambos têm sua especificidade. Desse modo, faz-se necessária, uma

discussão mais palpável e exemplificada desses processos de transformação, os

tratamentos e as conversões.

Para iniciar tal discussão pode ser elucidado, por exemplo, a resolução da

equação )22)(84()1)(13(2 −−=−−⋅ xxxx a qual é implicitamente uma equação

quadrática e é apresentada na linguagem algébrica. Conforme o Quadro 3.1,

percebe-se que as equações obtidas em cada etapa são equivalentes entre si. O

registro algébrico é conservado, mas, no entanto, a representação inicial sofreu

transformações até chegar em x = 7 ou x=1.

53

1=ou x 7 =x

134

734

34

9)4(

)4(7)4(42

78

14162

16248286

)161688()133(2

)22)(84()1)(13(2

2

222

2

2

22

22

=⇒−=−

=⇒=−

±=−

=−

+−=+⋅⋅−

−=−

=+−

+−=+−

+−−=+−−⋅

−−=−−⋅

xx

xx

x

x

xx

xx

xx

xxxx

xxxxxx

xxxx

Quadro 3. 1 - Resolução de uma equação quadrática, sob o ponto de vista de Tratamento (DUVAL, 2003)

A partir do exemplo de resolução proposta no quadro 3.1 fica evidente que a

mudança de registro foi dada via tratamento, cujo processo de modificação do

registro prioriza a configuração, fazendo com que esse tipo de transformação seja a

mais utilizada pelos professores como mecanismo de justificativa. Entretanto, Duval

(2003) assinala que é importante reconhecer que o tratamento é uma operação

procedimental, o que exige certa ponderação em seu uso, uma vez que

supervalorizá-lo em relação às outras transformações pode ser o estampido inicial

para que o aluno conclua inadequadamente que determinado objeto possui uma

única representação, não distinguindo o objeto matemático de sua respectiva

representação.

Já a conversão trata de uma transformação de uma dada representação em

outra representação e em outro registro, mas conservando a referência ao mesmo

objeto. Por exemplo, a função quadrática do tipo y = x² - 3x + 4 está representada na

forma algébrica e pode ser representada num registro gráfico, conforme a Figura

3.1:

Figura 3. 1 - Registro de Representação Semiótica Gráfica para a função quadrática, f(x), x2-3x+4.

54

Outra exemplificação pode ser feita considerando a suposição que se tenha

solicitado a solução para o seguinte o problema: um retângulo, cuja área tem o

mesmo valor numérico que seu perímetro, tem a base duas vezes maior que a

altura. Quais são as dimensões desse retângulo?

Nota-se nesse problema uma equação a qual se encontra em linguagem

natural. Desse modo, é possível fazer conversões em busca de sua resposta.

Primeiramente pode-se fazer uma conversão da linguagem natural para o registro

figural e posteriormente para o registro de representação algébrica apresentados no

Quadro 3.1:

Quadro 3. 2 - Conversão da Linguagem Natural para outros Registros de Representação Semiótica.

Outra conversão possível, dentre tantas outras ainda, seria fazer a seguinte

representação algébrica: área do retângulo = f(x) = 2x²; e o perímetro do retângulo =

g(x) = 6x e, em seguida, fazer a conversão dessa representação algébrica para um

registro de representação gráfico e a partir da intersecção descobrir as dimensões

buscadas, conforme a Figura 3.2:

Figura 3. 2 - Conversão para Registro Gráfico e Tratamento Interno desse Registro.

55

O fato de existir uma diversidade de registros de representação semiótica, dá

à conversão a sua devida importância no processo de construção do conhecimento,

pois ajudará o aprendiz a reconhecer a existência de várias representações para um

mesmo objeto. Segundo Duval (2003), a operação de conversão favorece ao sujeito

“enxergar” a diferença entre objeto e suas respectivas representações.

Tão importante quanto à conversão está a mobilização entre os vários tipos

de registros de representação. Nessa perspectiva, Duval (2003) diz que:

... a originalidade da atividade matemática está na mobilização simultânea de ao menos dois registros de representação, ou na possibilidade de trocar, a todo momento, de registro de representação (DUVAL, 2003, apud MACHADO, 2003, p.13- 14).

O que Duval (2003) salienta é que não se pode garantir aprendizagem

focando o ensino apenas nos tratamentos. Estes são muito úteis para justificar

procedimentos, porém a atividade da conversão de registros de representação

permite ao sujeito ampliar a dimensão conceitual.

Considerando outro registro inicial da função quadrática, por exemplo, y = x2 -

5x + 6, que se encontra na representação semiótica gráfica, conforme a figura 3.3 :

Figura 3. 3 - Conversão de Registro e o reconhecimento que um Signo complemente o outro.

Nota-se com facilidade que nesse registro gráfico há elementos que no

registro de representação algébrica equivalente não se vê imediatamente. Na figura

3.3, os pontos vermelhos indicam os zeros da função quadrática, y = x2 - 5x + 6, o

que na representação algébrica não fica explícito. Acerca deste aspecto, Duval

(1993) frisa que ao considerar diversos Registros de Representação Semiótica para

um mesmo, é importante reconhecer que um registro complementa o outro e vice-

56

versa.

Segundo Duval (2003), a articulação entre registros garante a formalização do

conceito matemático pelo aluno, uma vez que ele percebe elementos particulares de

cada Registro de Representação Semiótica.

Suponha três funções quadráticas que gozam do registro de representação

semiótica algébrica: (I) y= x2 - 6x +5; (II) y + 4 = (x – 3)²; (III) y = (x – 5)(x –1).

Embora essas funções sejam equivalentes, elas são resultados do Tratamento

(Mudança de Registro de Representação Semiótica Interna) e trazem informações

diferentes sobre o mesmo objeto. Na primeira sobressaem os coeficientes, na

segunda o vértice da parábola fica explícito, enquanto na terceira forma enxergam-

se com facilidade as raízes.

A figura 3.4 traz as representações cartesianas das funções (I, II e III) e fica

visível que trazem informações diferentes sobre o mesmo objeto.

Figura 3. 4 - Representação Cartesiana para o mesmo objeto, mas em Registros Internamente

diferentes. Diante do exposto, fica clara a ideia defendida por Duval (2003) de que

nenhum registro por si só é completo no sentido de representar integralmente um

objeto. Desse modo, ainda que um registro de representação traduza certo objeto,

ele será parcial, uma vez que os conteúdos em questão são diferentes.

Assim, as transformações de tratamento e conversão são duas operações

cognitivas essenciais para a compreensão de objetos matemáticos e sua posterior

conceitualização.

57

3.1.3. Implicações dessa teoria na presente pesquisa

Diante do exposto, a Teoria dos Registros de Representação Semiótica

fornece suporte essencial para a elaboração e a análise das atividades propostas

nas oficinas, bem como para os procedimentos pedagógicos metodológicos durante

a realização das oficinas.

Além disso, ao analisar os dados dos professores partícipes será averiguada

também predisposição que estes têm para reconhecer e servir-se da mudança de

registros de representação semiótica nos processos de ensino e aprendizagem das

funções polinomiais do segundo grau.

3.2. As Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC)

A palavra tecnologia é empregada na área educacional com diversos

sentidos: artefato, cultura, atividade com determinado objetivo, processo de criação,

conhecimento sobre uma técnica e seus respectivos processos etc. (ALMEIDA;

MORAN, 2005). Para Kenski (2007) diferentes equipamentos, instrumentos,

recursos, produtos, processos, ferramentas são definidos como tecnologias. Nas

palavras de Moran (2003):

...quando falamos em tecnologias costumamos pensar imediatamente em computadores, vídeo, softwares e Internet. Sem dúvida são as mais visíveis e que influenciam profundamente os rumos da educação [...]Tecnologias são os meios, os apoios, as ferramentas que utilizamos para que os alunos aprendam. [...] O giz que escreve na lousa é tecnologia de comunicação e uma boa organização da escrita facilita e muito a aprendizagem. A forma de olhar, de gesticular, de falar com os outros, isso também é tecnologia. O livro, a revista e o jornal são tecnologias fundamentais para a gestão e para a aprendizagem e ainda não sabemos utilizá-las adequadamente. O gravador, o retroprojetor, a televisão, o vídeo também são tecnologias importantes e também muito mal utilizadas, em geral (p. 151).

Para Kenski (2007), as TDIC são suportes midiáticos populares com enorme

penetração social; baseados no uso da linguagem oral, escrita e da síntese entre

som, imagem e movimento. Com o avanço tecnológico das últimas décadas

garantiu-se novas formas de uso das TDIC para a produção e propagação de

informações, a interação e a comunicação em tempo real no momento em que o fato

acontece, criando e aprimorando formas de desenvolver o conhecimento.

Ao conceber as tecnologias digitais como ferramenta para a construção do

conhecimento, percebe-se que somos influenciados pela utilização das mesmas em

todo o processo de produção, e que essas tecnologias também sofrem uma

58

atualização constante, trazendo mecanismos cada vez mais eficientes nas questões

tempo e custo. Por exemplo, já se falou em NTIC (Novas Tecnologias de Informação

e Comunicação) as quais, em curto espaço de tempo, passaram a ser chamadas de

apenas tecnologias já que o adjetivo “Novo” de “Novas” será pertinente a outras

tecnologias que ainda estão por chegar.

Sobral (1999) já dizia que nos encontrávamos na famosa “Era da Informação”,

nada melhor do que saber como obtê-la e mesmo produzi-la com rapidez. Aprender

a trabalhar com tecnologias implica em aprender em um ambiente de mudanças

constantes, onde surgem diversas possibilidades. Nesse contexto, a tecnologia está

diminuindo a distância entre as pessoas, fato este que está levando as mesmas a

uma contextualização do futuro acontecendo hoje.

Cada vez mais é possível notar a presença das tecnologias da informática no

cotidiano. Para aqueles que têm acesso às TDIC, elas podem ser notadas de modo

direto, como no acesso a computadores com o uso da Internet (seja em casa, em

lan house e até mesmo em escolas). Com essas facilidades atuais, a Internet está

acessível para pessoas de todos os poderes aquisitivos. Além disso, diversas vezes,

as pessoas utilizam as TDIC sem notar que estão fazendo uso delas, como na

utilização de cartões de crédito, “Num processo de naturalização, incorporamos

formas de trabalho sem perceber a utilização das [TDIC] [...]” (CORRÊA, 2003, p.

46). Assim, a informática representa uma alavanca que cria condições para os

processos de mudanças que podem ocorrer na sociedade, o que conduz à noção

atual de estarmos vivendo na sociedade da informação (PONTE; OLIVEIRA;

VARANDAS, 2003).

Para Lyotard (1993, 1998), grande filósofo francês, o grande desafio da

espécie humana na atualidade seria a tecnologia. Segundo esse pesquisador, a

única chance que a população humana tem, para conseguir acompanhar o

movimento do mundo, é adaptar-se à complexidade que os avanços tecnológicos

impõem a todos, sem exceção. É também esse o desafio da educação: adaptar-se

aos avanços da tecnologia e orientar o caminho de todos para o domínio e a

apropriação crítica desses novos meios (KENSKI, 2007).

A familiarização e utilização do computador e Internet são habilidades

desejáveis em qualquer professor, podendo e devendo ser desenvolvidas

independentemente de sua área de atuação. Entretanto o uso de recursos

59

computacionais em sala de aula requer alguns cuidados especiais como:

conhecimento do software a ser trabalhado e planejamento da aula para a sua

correta utilização e contextualização.

Para Moraes (2002), o processo de formação para uso da informática no

ensino está defasado, não havendo um modelo adequado na formação do professor

para o uso competente dessas tecnologias informáticas dentro das escolas. Outro

aspecto nos cursos de atualização diz respeito ao fato de os professores refletirem

sobre suas práticas educativas em sala de aula, contribuindo, dessa maneira, para

seu desenvolvimento profissional e pessoal.

Ao longo dos anos, as propostas para o ensino de Matemática já passaram

por diversas reformas visando solucionar problemas nos processos de ensino e

aprendizagem dessa disciplina. As mudanças surgidas nas propostas de ensino,

baseadas nas teorias do construtivismo desenvolvidas por Jean Piaget, passaram a

ter papel central nos processos de ensino e aprendizagem (PRADO, 2003).

Devido à influência da pedagogia crítica na década de 90, foram estimuladas

reformas curriculares que propuseram desafiar o caráter centralizador das propostas

do Ministério da Educação. Foi neste período que o Governo Federal realizou

esforços para difundir os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). O estado de

São Paulo escolheu como princípio para ordenação ou integração dos currículos a

questão da interdisciplinaridade. Este princípio deveria ocorrer no âmbito do projeto

pedagógico de cada escola, cabendo aos órgãos centrais a determinação dos

objetivos dos projetos.

Já nos PCN, são propostos programas de ensino que envolvam a formação

ética, que promovam a autonomia intelectual e a compreensão dos fundamentos

científico-tecnológicos dos processos produtivos (BRASIL, 1998). Contudo em sua

grande maioria os PCN foram deixados de lado pelas escolas, visto que os

professores continuaram a se pautar em livros didáticos disponíveis para

desenvolver seus planejamentos (DOMINGUES; TOSCHI; OLIVEIRA, 2000). Pode-

se ainda dizer que outro insucesso dos PCN diz respeito à falta de programas de

formação para professores, ausência de trabalho participativo nas escolas e

diretorias e falta de divulgação e acesso dos documentos pelos professores.

Embora haja propostas de mudanças, observa-se que no Brasil, e em

sistemas educacionais de outros países em desenvolvimento, ainda prevalecem

60

tendências de currículos tradicionalistas (MOREIRA, 2000). Mesmo as poucas

iniciativas que tentam fugir do papel autoritário do professor e passam a se basear

no outro extremo que dita “a construção do conhecimento pelo próprio aluno”

esbarram em outro problema que leva à abdicação do professor do seu papel de

orientador do aprendizado (KRASILCHIK, 2000).

Dilemas equivalentes com a implantação do uso de recursos tecnológicos,

principalmente o computador são criados. O computador pode ser fonte eficiente de

fornecimento de informações, mas seu potencial como equilibrador da relação

professor-aluno ainda é subutilizado como instrumento que pode dar ao aluno

autonomia para buscar as informações que lhe interessam, possibilitando assim seu

aprendizado. Assim o professor auxilia o educando a procurar e coordenar o que

aprende. Qualquer reforma deveria suscitar essas questões que são básicas para

uma mudança real na qualidade de ensino (KRASILCHIK, 2000).

Nesse contexto o ensino de Matemática apresenta dificuldades próprias além

das que compartilha com disciplinas afins. Em Matemática, os alunos são expostos

a um grande número de situações problemas que geram dificuldades na formação

de uma visão geral e articulada. O problema pode ser, pelo menos, amenizado por

soluções metodológicas, incluindo aqui o uso das TDIC.

Para promover um aprendizado ativo, especialmente em Matemática, que

realmente ultrapasse a memorização de fórmulas e procedimentos é importante

propor que os conteúdos sejam apresentados com problemáticas a serem resolvidas

pelos alunos.

As utilizações de softwares que foram concebidos com diferentes propósitos

educacionais; onde se destacam os softwares livres e gratuitos, têm grande

relevância nos processos de ensino e aprendizagem de Matemática. Considerando

que esses softwares têm permitida sua livre execução, distribuição e manipulação

podem contribuir com a preservação das identidades culturais e de gênero do

ciberespaço; outorgar aos usuários a possibilidade de saírem da simples função de

usuários/consumidores de tecnologia para se tornarem participantes ativos na

sociedade conhecimento; diminuir a lacuna digital, favorecendo usuários de baixos

recursos econômicos que se valem da possibilidade de acesso a um banco de

imagens e animações para a descrição de processos e características de ambientes

(CONSILI, 2003).

61

Através da leitura, observação e animação, os alunos experimentam formas

diferenciadas de obter informações sobre os conteúdos. A utilização de animações

apresenta vantagem sobre figuras convencionais quando se trata de promover a

compreensão de fenômenos essencialmente dinâmicos. Nessa categoria, por

exemplo, as famílias das funções quadráticas que necessitam de um grande número

de gráficos que possibilite a análise pretendida, onde cada um desses gráficos

consiste em objetos distintos, mas, suas visualizações devem ser simultâneas.

Além disso, as animações e resoluções de problemas presentes nos

softwares permitem aos alunos relacionar fenômenos, fatos, processos e ideias com

a Matemática, podendo elaborar conceitos, identificar padrões e regularidades ou

diferenças pontuais, permitindo assim, as generalizações. Entre varias as

estratégias, segundo Hornink (2005), destacam-se:

• a apresentação e resolução de problemas necessários para as demais

fases do programa; possibilitando a reflexão e raciocínio deixando de

lado o “adivinhar”;

• as simulações e animações que podem ser, de acordo com as

necessidades, repetidas para melhor entendimento;

• a intercalação entre conceitos previamente apropriados e questões de

explanação, ampliando assim o conteúdo estudado anteriormente;

• os questionamentos que objetivam estimular a reflexão sobre o tema

que será apresentado sequencialmente;

• os problemas a serem solucionados com a exploração dos conteúdos

dos softwares.

No acelerado desenvolvimento em que a tecnologia está presente, direta ou

indiretamente em atividades bastante comuns, a escola faz parte do mundo com a

função de contribuir para a formação de indivíduos capazes de exercer a cidadania e

ainda de participar de processos de transformação e construção da realidade

incorporando novos hábitos, comportamentos, percepções e demandas.

Os estudos relacionados à formação de professores têm avançado muito e

também tem apontado várias soluções para os problemas relacionados à duração

dos mesmos, a estrutura dos currículos que norteiam tais programas de formação ou

ainda a combinação da formação inicial e continuada como forma de preparar

melhor o profissional docente, porém, muito ainda se tem a fazer.

62

Segundo Valente (2003), a formação de professores não deve estar restrita à

transmissão de conhecimento sobre a utilização da informática de um modo

pedagógico, mas deve oferecer condições para que o professor possa elaborar seu

conhecimento sobre técnicas computacionais e ter a capacidade de integrar o

computador em sua prática pedagógica. Segundo esse pesquisador, o processo de

formação dos professores para o uso da informática no ensino deve ter quatro

metas:

• dar condições para que o professor entenda o computador como uma

nova forma de representação do conhecimento e possa rever seu

papel de professor;

• possibilitar ao professor vivenciar a contextualização de seu

conhecimento (utilizar-se das práticas vivenciadas pelos professores);

• propiciar à construção do conhecimento das técnicas computacionais e

possibilitar o entendimento da forma de integração de sua prática com

o computador;

• viabilizar um processo de recontextualização, ou seja, tudo o que foi

aprendido durante o curso de formação deve ser compatível com as

necessidades dos alunos e posto em práticas numa situação real.

É importante ressaltar que se faz necessário que o professor possa socializar

os relatos e análises realizadas sobre sua prática docente com os demais do grupo.

Baseado nesta perspectiva da formação de professores, Almeida (2002) diz que o

objetivo prioritário de um programa de capacitação para o uso das TDIC deverá ser

a promoção da autonomia para:

• aprender a aprender para resolver problemas com que se deparam na

vida e na profissão;

• aprender a pensar e tomar decisões, utilizar as TIC para a interação,

busca, seleção, articulação e troca de informações e experiências,

assim como para a representação, a reconstrução contínua do

conhecimento, a reflexão, a interação e a cooperação;

• acompanhar a evolução dos recursos tecnológicos e identificar suas

principais potencialidades e limitações para o uso educacional;

63

• participar em parceria com seus pares, da proposição, execução e

reflexão constante de projetos inovadores da escola, incluindo os

programas de formação continuada.

Diante disso temos que o livro, a cartilha, o lápis, a borracha, a caneta, o giz,

a lousa, o ábaco, a televisão, rádio, áudios e vídeos, dentre outros, também são

tecnologias. Então se verifica que diferentes tecnologias foram incorporadas aos

processos de ensino e aprendizagem ao longo do tempo e neste momento tem

ocorrido a inserção do computador na prática docente para o ensino da Matemática.

Entretanto, o tempo de trabalho do professor não segue a mesma

temporalidade da tecnologia, ou seja, as inovações nas práticas docentes não

seguem o mesmo ritmo das inovações tecnológicas. Desse modo, o professor deve

estar em constante aperfeiçoamento, necessitando de contínuos estudos nessa

área.

Além disso, fica claro que as Tecnologias Digitais da Informação e

Comunicação podem permitir um novo encantamento na escola ao abrir espaços

que possibilitem aos alunos conversar, pesquisar, enfim interagir com alunos da

mesma ou de outras cidades e países no seu próprio ritmo. Mas não basta apenas

introduzir tecnologias de informação e comunicação nas escolas por modismos. É

importante que haja uma ampla discussão entre essas tecnologias e o processo de

ensino aprendizagem para que não haja também rejeição ou supervalorização da

tecnologia, já que essa é uma produção humana.

Então fica claro que as TDIC são verdadeiras potencialidades para os

processos de ensino e aprendizagem, mas o uso profícuo depende intrinsecamente

da metodologia usada. Dentro dessa perspectiva e como um questionamento natural

sobre o papel que a as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação exercem

nas salas de aula, Perrenoud (2000), levanta a seguinte questão:

... a verdadeira incógnita é saber se os professores irão apossar-se das tecnologias como auxílio ao ensino, para dar aulas cada vez mais bem ilustradas por apresentações multimídia, ou para mudar de paradigma e concentrar-se na criação, na gestão e na regulação de situações de aprendizagem. (p. 139)

Esse questionamento colocado pelo pesquisador Perrenoud, também foi

motivo de preocupação da presente pesquisa, principalmente naquilo que concerne

à escolha das abordagens das atividades utilizadas nas oficinas, bem como no

procedimento metodológico de desenvolvimento do curso. Nesse prospecto, é

64

importante frisar que esse trabalho adotou o uso das Tecnologias Digitais da

Informação e Comunicação para além de um recurso mediático prático e ilustrativo.

Partindo dessa reflexão, aos escolher o software e applets, foi verificada a

possibilidade desse suporte permear uma mudança de cenário cognitivo, dando

ênfase ao estudo investigativo, à atividade de prova, às possibilidades de perceber

regularidades e padrões, ao ato de conjecturar hipóteses e testá-las. Esse estudo

também se preocupou, desde suas ideias iniciais, em integrar as TDIC no processo

de ensino de um conteúdo matemático no intuito de discutir modos de ensino que

realmente propiciem a aprendizagem, uma vez que o objetivo desse trabalho é

contribuir para formação continuada do professor, em especial no que concerne o

uso das TDIC adequadamente.

Quanto ao uso de softwares educacionais, já faz algum tempo que vem se

estudando como estes interferem no processo de construção do conhecimento

matemático e ainda assim essa temática parece não se esgotar, haja vista que

muitas pesquisas continuam sendo desenvolvidas tratando de questões cada vez

mais específicas (JAVARONI, 2007; ARAÚJO, 2007; SOARES, 2009; BORBA,

2010).

Segundo Borba (2010), a principal pergunta que vem sendo feita dentro dessa

temática é: “como que um determinado software pode contribuir para que estudantes

tentem chegar a uma justificativa matemática e façam a ligação entre a exploração

indutiva e o desenvolvimento do raciocínio dedutivo?” (p. 2).

Nessa perspectiva, Santos (2008) diz acreditar que com estes softwares é

possível investigar diferentes variações de um objeto matemático, inferido padrões,

propriedades, regularidades e, consequentemente, fazer generalizações, deduzindo

fórmulas , verificando proposições e confirmando teoremas. A exemplo disso, está o

Winplot que permite verificar padrões numa família de funções quadrática, f(x) = ax2

+bx + c, a≠0, quando varia um de seus coeficientes (a, b ou c).

De acordo com Borba (2010), os softwares gráficos, como o Winplot, por

exemplo, são excelentes feedbacks no que tange, principalmente, a representação

gráfica, uma vez que o usuário pode inserir uma função, em sua representação

algébrica, e gerar um gráfico que representa o seu comportamento. Nessa mesma

perspectiva, Javaroni (2007) diz que:

A elaboração de gráficos no tratamento de dados torna-se interessante no sentido que ao analisá-los podemos observar características gerais e

65

particulares desses dados. Podemos afirmar, então, que a elaboração de gráficos, para investigar os dados, tem a finalidade de instigar a “revelação” de características importantes destes dados ( p. 154).

Essa “conversão” implicitamente anunciada por Borba (2010) converge para

as considerações discutidas anteriormente ao considerar a Teoria dos Registros de

Representação de Raymond Duval. Já o que se refere à valorização do tratamento

de dados gráficos, bem como uma inserção adequada das Tecnologias Digitais da

Informação e Comunicação, é importante reconhecer que essas possibilidades são

dependentes do poder de decisão do professor. Desse modo, tais possibilidades

estão intrinsecamente relacionadas com a Formação do Professor de Matemática.

3.3. Formação do professor de Matemática

Tendo em vista que o professor de Matemática foi o sujeito da presente

investigação, em especial no que tange a sua formação para o uso das Tecnologias

Digitais da Informação e Comunicação – TDIC. Desse modo, antes de prosseguir o

que propõe o presente trabalho de pesquisa, faz-se necessário ponderar alguns

aspectos sobre a Formação do Professor, em particular, o professor de Matemática.

Segundo Oliveira (2005), após participar no desenvolvimento de vários cursos

de formação continuada de professores de Matemática da rede pública do Estado de

São Paulo, seu grupo de pesquisa observou e ponderou alguns aspectos acerca

desses professores envolvidos da formação:

� apresentam dificuldades com o conteúdo matemático a ser

ensinado;

� boa parte dos conhecimentos da prática docente foi adquirida

quando já estavam a lecionar;

� têm dificuldade para colocar o saber adquirido na universidade em

ação do saber a ser ensinado ao seu aluno na escola;

� não se sentem preparados para entender, tampouco lidar com as

dificuldades cognitivas e disciplinares apresentadas pelos alunos;

� “foram formados sob paradigmas de Educação e de aprendizado

que não respondem às necessidades atuais” (IBID, p. 1).

Na mesma perceptiva, Fiorentini (2004) levanta problemas semelhantes em

relação à formação do professor de Matemática, dentre eles, critica o paradigma

predominante na formação de professores que é uma dicotomia, em que somente

dois saberes docentes são importantes: o conhecimento específico da disciplina e o

66

conhecimento pedagógico geral. Esse pesquisador revela que esse olhar dicotômico

acerca da formação do professor tem sido rotinas em concursos públicos para

professores, os quais dividem claramente as avaliações em dois grupos de saberes.

No cenário internacional também são apontados vários problemas na

formação inicial do professor de matemática. Ponte (2002), por exemplo, revela que

os problemas resultam dos paradigmas usados nos cursos de formação inicial do

professor. Segundo esse pesquisador, esse paradigma adotado:

� não atende às crenças, concepções e conhecimentos que os

professores trazem para esses cursos;

� não mostra o porquê na necessidade de um conhecimento

profissional;

� menospreza o conhecimento didático;

� tratam a teoria e a prática como dois “blocos” distintos, ou seja, são

conceitos diferentes e imiscíveis, devendo ficar apartados fisicamente

também;

� não ressalta devidamente a importância da prática profissional.

Quanto ao conceito de desenvolvimento profissional do professor de

Matemática, Zeichner (2003) fala do desenvolvimento genuíno do professor:

A formação reflexiva do professor que estimule o desenvolvimento genuíno do educador só deve ser apoiada se estiver vinculada à luta por mais justiça social e se contribuir de algum modo para estreitar a brecha na qualidade da Educação à disposição dos alunos de diferentes estratos. (p. 46)

De acordo com Ferreira (2003), alguns fatores são importantes para que

ocorra o desenvolvimento profissional de professores de Matemática:

Insatisfação com o modo presente de pensar e agir; Curiosidade sobre novas formas de ensinar e pensar; Contexto favorável, cenário com “espaço rico em oportunidades, aberto às demandas do professor, atento aos seus saberes e experiências e organizado de forma que possibilite o tempo e o espaço necessários para que a aprendizagem ocorra” (p. 43).

Diante disso, o processo de formação desses profissionais tem acendido

profundas reflexões e se tornou alvo de muitas pesquisas nos últimos 20 anos. Na

visão de Ferreira (2003), a formação de professores é o processo pelo qual o sujeito

aprende a ensinar, o qual é resultante da articulação entre teorias, modelos,

princípios extraídos de investigações experimentais e regras procedentes da prática

que possibilitam o desenvolvimento profissional do professor de Matemática. Assim,

67

a formação docente, inicial e contínua, engloba todos os aspectos do professor:

cognitivo, afetivo e relacional. As experiências do profissional enquanto aluno, e

depois, enquanto professor e até mesmo sua história pessoal estão intrínsecas

nessa formação.

É importante reconhecer que para ser professor, embora muito necessário,

não tem sido suficiente o domínio conceitual e procedimental da matemática

produzida historicamente. Desse modo, é desejável também que esse professor

conheça os fundamentos epistemológicos e históricos que envolvem a sua

profissão, bem como, a relação que existe entre a matemática e o cotidiano

(FIORENTINI, 2004).

Também é desejável que o professor veja a Matemática como um instrumento

de usos social e com diversas linguagens. Desse modo um mesmo conceito e/ou

objeto matemático possuem diversos modos de representação, assim como afirma a

Teoria dos Registros de Representação Semiótica de Raymond Duval.

Ao falar da formação do professor de matemática, está também falando da

formação do professor de um modo geral. Nessa perspectiva, Lee Shulman, em

1986, publicou o artigo “Those Who Understand: Knowledge Growth in Teaching”,

que critica o paradigma dicotômico (conhecimento específico da disciplina e

conhecimento pedagógico geral), presente na formação, e até mesmo na seleção de

professores, introduzindo um terceiro eixo (conhecimento pedagógico do conteúdo),

o qual compreende: conhecimento sobre a matéria a ser ensinada; conhecimento

didático da matéria; e conhecimento curricular da matéria. Esse artigo foi muito

importante para a formação de professores e ainda hoje é referência mundial sobre

os saberes docentes. Esse artigo também foi o inicio da Teoria, “Knowledge Base”,

formulada por Shulman, em 1987.

3.3.1. O “Knowledge Base” e Shulman

Quando um indivíduo depara-se com a condição de professor, naturalmente

diversas duvidas tais como: Como ensinar? Como esse ensino vai afetar os alunos

envolvidos? Como ensinar para que estes, de fato, consigam aprender? Fica nítido

que se, por um lado, um entendimento pessoal de um assunto é primordial para

ensinar, por outro lado, isso não é suficiente para estar apto a ensinar.

68

Desse modo, é importante reconhecer que existe um conjunto de saberes que

é fundamental para o exercício da profissão de professor e no processo de “ensino,

a base de conhecimento é o corpo de entendimentos, conhecimentos, habilidades e

disposições que um professor precisa para atuar efetivamente numa dada situação

de ensino.” (tradução livre) (Shulman,1987, p.3).

O Knowledge base (cadeia ou base de conhecimento) enquanto teoria

deflagrou-se internacionalmente na década de 80, mas ainda hoje consiste numa

grande referencial nos estudos na área. A difusão dessa teoria tem influenciado

profusamente a formação de professores, principalmente por ser um repertório de

ações formativas que vão além de uma abordagem formalmente acadêmica,

transcendendo para as dimensões interpessoal, profissional e organizacional dos

docentes envolvidos.

Tendo em vista que as pesquisas acerca do Knowledge base geralmente

visam identificar um repertório de conhecimentos do ensino que serviriam para a

elaboração de programas de formação de professores, bem como a pergunta de

pesquisa que desencadeou a presente comunicação, é peremptoriamente relevante

discutir as implicações e repercussões dessa teoria para a formação de professores

de matemática.

Shulman (1986), ao refletir acerca dos programas de formação de professores

e nas reformas educacionais constatou que estes tinham como premissas o

agrupamento de habilidades, conhecimentos disciplinares e pedagógicos

necessários à realização das atribuições docentes num determinado contexto de

ensino. Para este pesquisador, um novo paradigma para os programas de formação

e certificação docente deve levar em consideração como esses professores

conduzem suas classes, selecionam e gerenciam suas atividades, alocam tempos e

turnos, estruturam tarefas, fazem críticas e elogios, formulam os níveis de suas

questões, planejam lições e julgam o entendimento geral dos estudantes.

Shulman (1987) discute profundamente os aspectos dessa Knowledge base

que deve integrar os saberes docentes. De um modo simplificado, esse pesquisador

acredita que o professor deva ter:

� conhecimento do conteúdo específico a ser ensinado;

� conhecimento pedagógico geral;

� conhecimento do currículo a ser trabalhado;

69

� conhecimento pedagógico do conteúdo disciplinar;

� conhecimento dos alunos e de suas características cognitivas;

� conhecimentos dos contextos educacionais;

� conhecimento dos fins, propósitos e valores educacionais.

Esses saberes podem ser agrupados em: conhecimento do conteúdo

específico, conhecimento pedagógico geral; conhecimento pedagógico do conteúdo

e conhecimento curricular.

O conhecimento do conteúdo específico refere-se a conteúdos específicos da

matéria que o professor leciona que engloba a detenção dos fatos e conceitos do

conteúdo, a compreensão dos processos de sua produção, representação e

validação epistemológica, o que requer entender a estrutura da disciplina

compreendendo o domínio atitudinal, conceitual, procedimental, representacional e

validativo do conteúdo. Desse modo, é importante que o professor não só aprenda

os conceitos, mas que os compreenda à luz do método investigativo e dos cânones

de ciência assumidos pela área de conhecimento. Nas palavras do Shulman (1986),

o professor:

... não somente precisa entender que algo é assim, e também por que é assim, bem como em que pressupostos pode ele obter garantias e sob quais circunstâncias nossa crença na justificação (desses pressupostos) pode ser enfraquecida ou até mesmo negada ... (tradução livre). (p.9)

Conhecimento pedagógico geral inclui os conhecimentos de teorias e

princípios relacionados a processos de ensinar e aprender gerais e válidos para os

processos de ensino e aprendizagem de disciplinas diversas, transcendendo uma

área específica. Esse saber toma como premissas os processos de construção do

conhecimento dos alunos tais como as características dos alunos e os seus

processos cognitivos, bem como outros conhecimentos de contextos educacionais

holísticos e diversos tais como organização de grupos de trabalho ou sala de aula,

reconhecimento de comunidades e culturas, manejo de classe e de interação com

os alunos, domínio de outras disciplinas que podem colaborar com a compreensão

dos conceitos de sua área, do currículo em relação ao conhecimento oficial e como

programas e materiais destinados ao ensino de conteúdos específicos e da

disciplina em diferentes níveis e conhecimento tais como as finalidades, as metas,

os objetivos educacionais e seus fundamentos filosóficos e históricos.

70

Já o conhecimento pedagógico do conteúdo está intrinsecamente relacionado

com o processo de ensino, envolvendo fatores inerentes às ações educativas. Trata-

se do modelo do raciocínio pedagógico e retrata como os conhecimentos são

acessados, relacionados e construídos durante os processos de ensinar e aprender.

É concebido sob a perspectiva do professor e é constituído por seis processos

comuns ao ato de ensinar: compreensão, transformação, instrução, avaliação,

reflexão e nova compreensão.

Este saber é o conhecimento o qual se refere à compreensão docente do que

facilita ou dificulta a construção do conhecimento do aluno acerca de um conteúdo

em particular. Assim, o conhecimento do conteúdo pedagógico também inclui o

entendimento do que faz a aprendizagem de determinado tópico fácil ou difícil, bem

como o surgimento de paradigmas errôneos e suas implicações na aprendizagem do

aluno.

O conhecimento curricular, por sua vez, abarca o domínio dos programas

elaborados para o ensino de assuntos e tópicos específicos em um dado nível, bem

como a variedade de materiais instrucionais disponíveis relacionados para o

desenvolvimento destes programas. Shulman (1987) diz que os professores

precisam dominar o conhecimento curricular para poder ensinar aos seus alunos, da

mesma forma que um médico precisa conhecer os remédios disponíveis para poder

receitar.

Desse modo, verifica-se de modo coeso e claro que os trabalhos de Shulman

acerca dos saberes docente têm contribuído para a organização e redirecionamento

das questões tratadas no campo da pesquisa de formação dos professores e suas

implicações para os cursos de formação inicial e continuada de docente e no

contexto das reformas curriculares. Entretanto, é preciso reconhecer que a pesquisa

e a formação de professores são dois processos indissociáveis, ou seja, um implica

diretamente no aprimoramento do outro.

Segundo Almeida e Biajone (2007), essas concepções acerca dos “saberes

docente” permitem destacar alguns pressupostos de caráter teórico e metodológico

que têm influenciado o “pensar” e o “fazer” na formação de professores.

Pensando nisso e preocupados, esses pesquisadores articulam a teoria e a

prática para a formação de professores, elaborando um mapa conceitual, conforme

o Quadro 3.3.

71

Quadro 3. 3 -Mapa conceitual “Knowledge Base” de Shulman ( ALMEIDA;BIAJONE, 2007, p. 12).

KNOWLEDGE BASEPROPOSTAS DEFORMAÇÃO DE PROFESSORES

Profs. como sujeitos do conhec. e produtores de saberes

Subjetividade dos professores

Repertório de conhecimentosdo ensino

PESQUISAS

Os professores profissionais como colaboradores/ parceiros

Os conhecimentos dos práticos dentro

do currículo

Modelo aplicacionista do conhecimento

Para uma lógica de formação profissional

Nível de conhecimento dos professoresPara a reformulação dos cursos

de formação inicial

Que a formação cultural e científica estejam vinculadas à formação prática

PROPOSTAS

DE

FORMAÇÃO

do que os prof. são, fazem e sabem

Pesquisas

reconhecem

ênfase

legitimar

Art ifact of scholarship

(repertór io de exper iências)

As bases para a elaboração de programas de formação

constituir

Vivências, estudos de caso, erros,acertos e estratégias baseados na

prática dos professores profissionais

reconhecer

superarelevar

Possibilitando espaço

a partir

Promover subsídios

Que supõe Transformações nas práticasformativas

que insira

a partir

Learning from experience(aprendizado a partir da experiência)

Proporcionando

Portanto, é preciso garantir

consolidandoUma Teoria do Ensino

Um Ofício feito de saberes

ao estabelecer que redirecionará

Esse mapa conceitual revela que as pesquisas acerca dos saberes

mobilizados pelo professor em sala podem e devem modificar as concepções em

relação à formação do professor. Então, é importante reconhecer os professores

como portadores do conhecimento e produtores de saberes. Portanto, os programas

de formação de professores, precisa e devem valorizar os conhecimentos prévios do

professor em formação, bem como o que, enquanto pessoas, são, fazem e sabem

(ALMEIDA; BIAJONE, 2007).

3.3.2. A formação continuada do Professor de Matemática

Embora seja consenso entre pesquisadores que uma das soluções mais

plausíveis para uma melhor formação docente é privilegiar a formação inicial, sabe-

se também que não é possível ter uma formação inicial que dê conta de todos os

72

problemas que a prática escolar revelará. Além disso, é consenso entre educadores

e pesquisadores que a formação continuada não foi prevista para substituir a inicial,

mas sim para complementá-la. Desse modo, a formação continuada, que é o

conjunto de saberes docentes agregado ao fazer docente, desde seu inicio

profissional, ainda cumpre um papel importante na formação docente contínua

(RICHIT, 2005).

Além disso, tais encontros podem ser enriquecidos se estiverem sob

orientação de pesquisadores ou professores de instituições de ensino superior,

comprometidos com cursos de formação profissional docente e devem privilegiar

discussões sobre a necessidade de mudança nestes ambientes, partindo do

pressuposto que mudanças somente são possíveis se os docentes estiverem

realmente envolvidos com a mesma.

Sobre a atuação das instituições de formação de professores, Almeida (2006)

diz que estas pecam por não evidenciar as condições objetivas de exercício da

docência em suas propostas. Ainda assim, a constatação não diminui a importância

da formação continuada, quando estruturada em torno de outras finalidades. Nesse

sentido, a formação continuada deve romper com modelos padronizados e criar

sistemas diferenciados que permitam ao professor dar sentido aos seus processos

de formação no quadro de suas histórias de vida (NÓVOA, 1995).

Nas últimas décadas, iniciativas desenvolvidas pelos órgãos governamentais

buscam promover mudanças no cenário educacional, em virtude do fracasso escolar

verificado em diversos níveis de ensino e, principalmente, devido à presença das

tecnologias informáticas nos ambientes educacionais. Nesse cenário, a qualificação

docente em nível nacional tem sido um grande desafio para as políticas

educacionais (RICHIT, 2005).

3.3.3. A formação de Professores para o uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação

O autor Lévy (1993) diz que a “escrita, leitura, visão, audição, criação,

aprendizagem são capturados por uma informática cada vez mais avançada”, num

73

processo de expansão contínua, pois a todo o tempo surgem novas aprendizagens

que, consequentemente, reforça a necessidade formação contínua (p.7).

No que tange as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação, ainda

predomina um desequilíbrio entre os avanços tecnológicos e os processos de

formação para o uso de tecnologias no ensino brasileiro de forma reflexiva.

Entretanto, precisa-se reconhecer a importância das primeiras iniciativas de

formação do professor para atuar com a informática na educação, tais como o

projeto EDUCOM12. O desenvolvimento desse projeto, além de propiciar a

implantação das tecnologias informática nas escolas públicas, envolvia também o

preparo dos professores para utilizar essas tecnologias, já que não existiam

profissionais preparados para desenvolver atividades pedagógicas usando o

computador (PRADO, 2003).

Nesse sentido, Almeida (1997) argumenta que o currículo dos programas de

formação precisa incluir atividades que venham proporcionar momentos de reflexão

sobre sua prática, além de incluir experiências com os recursos da informática nas

situações de ensino e aprendizagem. Assim, a formação de professores de

Matemática que irão utilizar o computador em sua prática, deve ser repensada por

todos os envolvidos em educação e formação. Para Almeida (2002), a formação

desse professor em tecnologias informáticas deve ser um processo que o prepare

para incitar seus alunos a:

...aprender a aprender; ter autonomia para solucionar as informações pertinentes à sua ação; refletir sobre uma situação-problema e escolher a alternativa adequada de atuação para resolvê-la; refletir sobre os resultados obtidos e depurar seus procedimentos, reformulando suas ações; buscar compreender os conceitos envolvidos ou levantar hipóteses (p.110).

Se o professor de Matemática optar por utilizar a máquina como ferramenta

apenas para transmitir conhecimentos, o computador se torna simplesmente um

caderno mais prático ou um quadro de giz mais moderno. No entender de Valente

(1995), o aluno seria apenas “um virador de páginas eletrônicas”. A segunda opção

é o professor de Matemática tornar o computador um novo ambiente, facilitador da

12 O EDUCOM, implantado em 1984, foi projeto voltado para a criação de núcleos interdisciplinares de pesquisa e formação de recursos humanos e contou com cinco centros: Universidade Federal de Pernambuco, Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Universidade Estadual de Campinas.

74

aprendizagem, permitindo ao aluno compreender que, no contexto digital, mudam as

formas de pensar e aprender. Porém, para isso é preciso que haja escolha de

software adequado e que o professor tenha um profundo conhecimento do conteúdo

a ser trabalhado. Então, faz-se necessário que, na formação do professor, este seja

levado a refletir a respeito de diferentes concepções sobre o uso do computador nos

processos ensino e aprendizagem: como transmissor de conhecimento ou como

auxiliar do aluno na construção do seu próprio conhecimento.

Almeida (2002) propõe que com a utilização das tecnologias informáticas na

prática pedagógica, esperava-se uma transformação educacional, o que significa

uma mudança de paradigma, que favoreça a formação de cidadãos mais críticos,

com autonomia para construir o próprio conhecimento. E que, assim, possam

participar da construção de uma sociedade mais justa, com qualidade de vida mais

igualitária. O uso dos computadores em Educação pode potencializar tais

mudanças.

Esta visão é partilhada também por Skovsmose (2000) que enfatiza o papel

transformador das TDIC no cenário educacional, considerando que estas, além de

promoverem novas possibilidades de ensinar e aprender, podem também auxiliar o

professor na tarefa de formar cidadãos conscientes de seu papel social e político na

sociedade.

Tomando esses pressupostos como aportes primordiais, no próximo capítulo

segue a apresentação e discussão do cenário de pesquisa criado e desenvolvido

durante essa investigação.

75

CAPITULO IV

4. O CENÁRIO DE INVESTIGAÇÃO Este capítulo está dividido em dois momentos, o primeiro refere-se à

apresentação dos softwares utilizados nas oficinas e o segundo centra-se a discutir

as atividades desenvolvidas para e pelo presente trabalho de pesquisa.

4.1. Os Softwares Gráficos e Applets.

É importante salientar que as TDIC aplicadas à Educação, por si só, não

garantem um sucesso no aprendizado. O êxito na utilização do software Winplot e

dos applets gráficos depende das atividades que são propostas aos alunos pelo

professor.

Para melhor compreensão, a seguir serão descritas algumas funções desses

recursos, bem como as potencialidades de cada um desses Softwares/applets

utilizados na presente pesquisa.

4.1.1. O software Winplot

A palavra Winplot (win = Windows + plot = plotar em ambiente Windows)

indica que este programa é utilizado para construir gráficos de funções em

Matemática, dentro do sistema operacional Windows. Segundo Souza (2004), deve-

se utilizar o Winplot por ser detentor das seguintes características:

- É de simples utilização, seus menus são de fácil entendimento e apresenta

ajuda em todas as partes do programa;

- É muito pequeno, menos de 600 Kb, cabe em qualquer disquete ou pendrive

e roda em sistema Windows;

- É sempre atualizado;

- Possui versão em português.

A versão do Winplot em português foi um resultado da pesquisa do professor

Adelmo Ribeiro de Jesus. É um programa simples, mas ao ser explorado demonstra

grandes potencialidades. Uma de suas vantagens é ser gratuito e de fácil acesso.

Este software foi projetado para reconhecer a maioria das operações, constantes e

funções elementares. Trabalha com duas e três dimensões, com equações

explícitas, implícitas, paramétricas e polares. Cria pontos, segmento e reta, cria

76

equações recursivas, diferenciais e polinomiais, cilindros, esferas, entre outros.

Ainda permite trocar de cores e espessura, fazer aproximações e anotações, bem

como salvar as produções para possível consulta ou alteração. Destaca com

facilidade as raízes das funções, as intersecções das retas, calcula integrais e

apresenta as coordenadas de cada ponto que se procura. Pela praticidade e opções

que oferece, pode ser utilizado por professores do Ensino Fundamental, Médio e

Superior.

A seguir são apresentadas descritivamente algumas das funções do Winplot,

as quais vão desde interface inicial até algumas das funções que são usadas nesta

pesquisa.

Ao abrir o programa (Figura 4.1) o usuário encontrará as guias janela e ajuda.

No menu “ajuda” são apresentadas dicas de utilização e alguns lembretes básicos,

bem como uma breve descrição do software em questão. Já ao clicar na guia

“janela” tem como opções: “2-dim”, “3-dim”, “Adivinhar”, “Mapeador” etc. Os

comandos “2-dim” e “3-dim” permitem trabalhar com funções no plano e no espaço

respectivamente. Já o comando “Adivinhar” mostra gráficos de funções para que se

possa escrever sua representação algébrica, e a opção “Mapeador” permite

trabalhar com transformações no plano.

Figura 4. 1 - Inicializando o Winplot.

Neste momento, será enfatizada a opção “2-dim” e suas potencialidades, haja

vista que esta foi a usada para o desenvolvimento da presente pesquisa. Ao

selecionar a opção “2-dim”, será aberto o plano cartesiano, com as abas “Arquivo”,

“Equação”, “Ver”, “Mouse”, “Um”, “Dois”, “Anim” e “Outros”. Ao selecionar a aba

“Equação” (figura 4.2), é possível escolher o tipo de equação algébrica que deseja

utilizar na construção dos gráficos, ou seja, pode-se optar pela forma cartesiana

(y=f(x)), polar (r=f(t)), paramétrica (x=f(t), y=g(t)) ou implícita (0=f(x, y)). Aparece,

77

também, a possibilidade de se trabalhar com as coordenadas de pontos, os

segmentos de reta, a equação da reta, sequências no plano, equações diferenciais e

polinômio.

Figura 4. 2 - Winplot> 2dim> Aba “Equação”

No final de cada guia, assim como na guia “equação”, existe a opção “Ajuda”,

cujo acesso permite ao usuário esclarecer eventuais dúvidas acerca da utilização

dos comandos apresentados na guia “equação” deste software. Por exemplo, na

figura 4.3, através do menu “ajuda” é possível saber como utilizar os comandos na

opção “Explícita” ou “Paramétrica”.

Figura 4. 3 - Usando o menu "Ajuda"

78

Na opção “Biblioteca” (figura 4.4), o usuário encontra as funções que são

utilizadas pelo programa, bem como o modo de digitá-las.

Figura 4. 4 - Usando o comando "Biblioteca"

No menu “Ver” (Figura 4.5) encontra a opção “Grade” que permite configurar

detalhes relacionados ao sistema de coordenadas, ou seja, mostrar os eixos

cartesianos, modificar a escala, mostrar linhas de grade etc.

Figura 4. 5 - Menu "ver" e algumas configurações

Destes comandos, as atividades propostas por esse trabalho de pesquisa

serviram-se especialmente da forma cartesiana que é obtida ao acionar o comando

“Explícita”, na guia “equação”, sobre o qual procederá a um esclarecimento maior.

79

Quando se propõe inserir uma função no Winplot utiliza-se a opção “Explícita”

na guia “Equação” (figura 4.6). Ao acionar o comando “explicita” abrirá um quadro,

conforme mostrado na figura, no qual o usuário deve imputar a representação

algébrica da função a ser esboçada.

Figura 4. 6 - Inserindo uma função a partir da aba "explicita".

Para inserir outras funções no mesmo eixo cartesiano pode se utilizar da

opção “Inventário” (Figura 4.7).

Figura 4. 7 - Utilizando o inventário para facilitar edições.

80

Quando selecionada esta opção, é aberta uma caixa de diálogo, da qual podem

ser utilizados os seguintes botões:

� Editar: permite fazer alterações na equação digitada, como por exemplo, fixar um

intervalo para a função, alterar a cor ou espessura de exibição do gráfico.

� Apagar: apaga a expressão algébrica selecionada.

� Duplicar: permite duplicar a expressão anterior sem apagá-la, ou seja, permite

visualizar vários gráficos num mesmo plano cartesiano.

� Mostrar gráfico: esconde e mostra o gráfico sem apagar a equação do inventário.

� Mostrar equação: esconde e mostra a equação na área do gráfico e , quando

mostrada a equação, essa será explicitada da mesma cor da curva, facilitando a

associação de cada curva com sua respectiva representação algébrica.

Outro recurso utilizado nas atividades propostas na presente pesquisa é a

animação que pode ser acionado na guia “Anim”, conforme ilustrado na figura 4.8. Este

recurso permite animar os parâmetros da representação algébrica da função, por

exemplo, dada a função f(x) = ax2, pode-se atribuir aleatoriamente alguns valores para o

parâmetro a, mostrando o que acontece quando esses valores são positivos ou

negativos e aumentam ou diminuem.

Figura 4. 8 - Usando o recurso de animação.

Do menu “Arquivo” destacamos as opções: abrir arquivo, salvar, formatar

impressão, imprimir e copiar o gráfico para ser utilizado em outro programa do Windows.

Também é importante ressaltar que este software permite visualizar vários gráficos num

mesmo plano cartesiano, e ainda o recurso de animação possibilita a generalização das

famílias de curvas estudadas em nosso trabalho, o que é imprescindível para determinar

as propriedades envolvidas na proposta desta investigação. Entretanto, para usar o

81

recurso de animação espera-se do usuário um domínio robusto do conceito de função,

em especial no que tange o aspecto algébrico das funções abordadas.

4.1.2. O applet Quadratic Transformer

Esse applet foi desenvolvido pelo Concord Consortium13 e está disponível

num sítio da rede mundial de computadores denominado Seeing Math14. Na mesma

linha do Winplot, o Quadratic Transformer visa apoiar a aprendizagem de funções

quadráticas e, em particular, favorecer as conexões entre os Registros de

Representação Semiótica algébricos e os Registros Semióticos gráficos.

Quando o applet Quadratic Transformer se abre, surge uma janela com duas

representações para a função quadrática padrão que é algebricamente representada

por f(x) = x2 e graficamente por uma parábola, conforme a figura 4.9:

Figura 4. 9 - Visualização inicial do applet.

Na janela do gráfico, ou seja, no eixo cartesiano, é apresentada uma parábola

vermelha com o vértice no ponto (0,0). Daí é o momento de interação entre usuário

e applet.

13 O consórcio Concord é uma organização para o desenvolvimento educacional sem fins lucrativos que desde 1994 vem desenvolvendo tecnologias para aprimorar os processos de ensino e aprendizagem. 14 O Seeing Math pode ser visitado através do endereço < http://seeingmath.concord.org/resources.html>. Acesso em 23 de agosto de 2009.

82

Veja algumas funcionalidades gerais:

• À direita, na imagem do applet tem-se a lista de representação algébrica,

cujas cores das representações referem-se a uma mesma função nos seus

diversos registros de representação.

• Na parte inferior da janela é apresentada uma aba que permite alterar os

coeficientes de suas formas polinomiais explícitas ou canônicas das raízes

ou dos vértices (figura 4.10).

Figura 4. 10 - Aba de alteração nas formas de representações algébricas.

Esse applet, além de intuitivo, favorece a verificação acerca das relações

entre as formas gráficas e simbólicas da função quadrática. Essa capacidade de ver

como as mudanças de uma forma afetam a outra e, até mesmo, de conjecturar

padrões, leva o individuo participante a construção de seus conhecimentos. Já na

aba “transform Function” (figura 4.11) é possível fazer mudanças nos registros

gráficos de uma função, as quais manifestam automaticamente em alterações na

forma simbólica álgebra.

Figura 4. 11 - Abas do menu "Transform Function".

83

Ao clicar em uma das opções (figura 4.12) e arrastar a parábola é possível ver

alterações acerca da orientação concavidade, bem como refletir, dilatar e transladar

horizontal ou verticalmente.

Figura 4. 12. Abas de transformações e suas respectivas funções.

Outra praticidade desse applet refere-se às abas de edição “New, Duplicate”,

“Delete” e “Delete All’’ (figura 4.13) que permitem construir, duplicar funções e

apagá-las no mesmo eixo cartesiano. Ao abrir o applet Quadratic Transformer

apenas a função padrão f(x)= x2 exibida (parábola e expressão algébrica).

Entretanto, é possível adicionar e excluir outras funções quadráticas para comparar

suas diferentes formas gráficas e algébricas. Para adicionar ou excluir funções e

comparar diferentes formas e expressões parabólicas quadráticas, use os botões na

parte inferior do lado direito da interface como mostra a figura 4.13.

Figura 4. 13 - Abas de edições que permitem duplicar (“Duplicate”) ou

criar uma nova (“New”) função quadrática. Além dos botões "Delete" e "Delete All" que permitem deletar, a função selecionada e todas, respectivamente.

84

Uma das limitações desse applet refere-se à ausência de uma caixa de

entrada para a inserção dos coeficientes, ou seja, só é possível alterá-los através de

setas que os indexam crescente ou decrescentemente. Desse modo, para facilitar a

variação dos coeficientes é possível mudar os incrementos em centésimos, décimos,

ou unidade inteira. Basta, para isso, clicar no botão “Step’’ e selecionar o incremento

mais adequado (figura 4.14).

Figura 4. 14 - Botão “Step” que possibilita alterar o incremento de variação.

Já o botão “Round” permite arredondar os números até o décimo lugar ou até

mesmo para um número inteiro. Para isso, acione tal botão e, em seguida, selecione

o modo de arredondamento (figura 4.15).

Figura 4. 15 - Botão "Round" e incrementos de arredondamento.

O comando “Transformer function” permite comparar, mais detalhadamente,

uma parábola transformada com a sua original. Sua utilização consiste em acioná-lo

com dois cliques e será apresentada uma nova janela (figura 4.16).

85

Figura 4. 16 - Outras opções do comando "Trasformer Function".

Pode-se observar que na parte inferior da janela, na seção denominada

“original function”, são apresentadas guias para alterar a forma para polinomial,

canônica do vértice e da raiz. Mais abaixo, no quadro "Transformed function", estão

dispostas três expressões que representam aspectos da nova função criada.

No lado esquerdo e superior dessa mesma janela estão disponíveis três tipos

de transformações: Translações, dilatações das aberturas, ou reflexões, com duas

formas disponíveis para cada um.

As Translações permitem mover o vértice em torno do plano de coordenadas,

sem alterar a dilatação ou a direção da parábola. Ao selecionar a opção f (x +a) o

vértice da parábola moverá ao longo do eixo X, já a opção f(x) +a moverá o vértice

ao longo do eixo Y. As Dilatações permitem alterar a abertura das parábolas através

das abas f(a.x) e a.f(x). Já as reflexões permitem refletir a parábola sobre eixo x ou

y.

O botão “Start Over” é importante porque ao ser clicado, a interface é

reiniciada permitindo selecionar outras opções de transformações. Ao selecionar as

transformações translações e dilatações é possível manipular a nova parábola via

mouse e ver as respectivas transformações algébricas.

Outra potencialidade do applet centra-se na opção “trace vertex” (figura 4.17)

que funciona como um efeito Ghost, marcando a transformação geométrica do

86

vértice quando se varia um dos coeficientes da função quadrática. Também quando

a função é alterada com uma das ferramentas de transformação esta característica

mostra-lhe uma "trilha" ou um traço de posições de uma parábola de vértice no

gráfico. O traço aparece como uma série de pequenos pontos ou cruzes como

mostra a figura 4.17:

Figura 4. 17 - comando "Trace Vertex".

Tendo introduzido algumas das potencialidades dos softwares e applets, bem

como a justificativa por tê-los escolhidos, segue a análise das atividades adotadas

no presente trabalho de pesquisa.

4.2. AS ATIVIDADES

Embora o objetivo dessa pesquisa não seja validar uma sequência didática, é

importante apresentá-la e justificá-la, uma vez que ela se constituirá no cenário para

a presente investigação. Tais atividades foram organizadas pensando no

protagonista principal da Educação, o aluno. Entretanto, para que atividades como

87

essas sejam desenvolvidas com os alunos há um longo percurso, o qual depende da

apropriação e aceitação do professor e é justamente nesse contexto que tece o

presente paradigma de pesquisa.

Desse modo, nesse capítulo, cada atividade tal como foi apresentada aos

professores envolvidos nessa pesquisa e, em seguida, são analisadas as

expectativas prévias ao desenvolvê-las com seus alunos, bem como que espera

esse estudo, a priori, ao apresentá-las ao professores.

As atividades propostas visaram o estudo das características das funções

utilizando-se de applets e do software gráfico Winplot que trazem outras formas de

introduzir e desenvolver o conceito de função quadrática, favorecendo uma

abordagem investigativa acerca das transformações geométricas sofridas pelas

parábolas em virtude da variação dos coeficientes das suas respectivas funções

representadas de forma algébrica. Além disso, essas tecnologias informáticas

permitem que alguns conceitos, tais como as noções de intervalo, domínio e imagem

da função, sejam introduzidos sem exageros formais, utilizando para isso recursos

do Winplot que permitem uma abordagem lúdica. A utilização dessas ferramentas

digitais também favorece a manipulação da representação gráfica, de funções

quadráticas, de modo instantâneo e preciso o que não é viável com a utilização de

lápis e papel, permitindo que o aluno desloque seu papel para o de observador

crítico que faz simulações em busca de um resultado que satisfaça o objetivo

proposto, desenvolvendo a capacidade analítica de fazer previsões e questionar

resultados.

Segue então, a análise proposta descrita anteriormente, por este estudo.

4.2.1. Primeira Atividade - Proposta de Ponto de Partida

Essa primeira atividade (fig. 4.18), na íntegra no apêndice B, usa uma

animação que se constituiu no ponto de partida para nosso estudo. Nesse applet, a

partir de um exemplo lúdico do cotidiano é feita a introdução do conceito de função

quadrática, cujo gráfico no plano cartesiano é uma parábola e, em seguida, propõe-

se que sejam levantadas conjecturas de modo a auxiliar a construção desse

conceito.

88

Figura 4. 18 - Fotocópia da panorâmica da atividade 1.

Nessa perspectiva, D’Ambrósio (1986) propõe que a matemática,

informalmente construída, seja utilizada como ponto de partida para o ensino formal.

Segundo este pesquisador, tal abordagem rompe com o paradigma tradicional no

qual todo conhecimento matemático do indivíduo será adquirido na situação escolar

e, não obstante, de que o aluno chega à escola sem nenhuma pré-conceituação de

ideias matemáticas.

Atividades como essa, permitem ao aluno, mesmo antes de qualquer

formalização conceitual, ocupar o papel de investigador, visto que a partir de uma

simples observação é possível levantar conjecturas e compará-las com seus

respectivos pares e, até mesmo, coletivamente.

Ao propor essa atividade ao professor, desejava-se investigar como os

professores consideram os recursos da informática como ponto de partida para o

89

estudo do conceito da função polinomial do segundo grau. Outro fator a ser

investigado trata-se de verificar como o professor lida com a atividade exploratória

investigativa. Nessa atividade, o professor passa a ocupar o lugar do aluno e é dele

que se espera o levantamento de conjecturas e hipóteses as quais serão testadas e,

cabe ao professor refutá-las ou construir conceitos e/ou generalizações a partir das

mesmas. Desse modo, a própria conduta do professor ao pensar nessa atividade foi

reveladora. Faz-se necessário observar que para o professor propor um estudo

exploratório-investigativo ao aluno, antes de qualquer coisa, o professor precisa

enxergar tal possibilidade.

4.2.2. Segunda Atividade- Conjecturas Iniciais e Formalização

Tanto Skovsmose (2000) como Ponte, Brocardo e Oliveira (2003) acreditam

que os alunos constroem conhecimentos matemáticos através de atividades

pautadas numa abordagem investigativa. Assim, os papéis de professor e alunos

são bastante distintos daqueles presentes numa aula de abordagem tradicional. Na

abordagem investigativa, o professor propõe um cenário de investigação e os

alunos, ao aceitarem a proposta, assumem a responsabilidade em procurar

soluções, de forma mais autônoma, mas dispondo da orientação do professor para a

solução adequada dos problemas colocados.

Dentro dessa perspectiva, o uso do applet “Quadratic Transformer” é

estratégico, uma vez que o que se quer é, antes mesmo de qualquer formalização

acerca das funções quadráticas, observar de modo investigativo, intuitivo e

exploratório as relações e padrões existentes entre a formas de registros de

representação. Nessa atividade, conforme a figura 4.19, foi solicitado que o

professor manipulasse o applet sem um roteiro, ou seja, de maneira espontânea e,

a partir dessa manipulação, respondesse algumas questões de localização, bem

como propusesse padrões e, na medida do possível, os discutisses.

90

Figura 4. 19 - Fotocópia panorâmica e reduzida da atividade 2,

Ao propor atividades como essa aos alunos propicia-se a estes sujeitos a

oportunidade de ocupar outro papel no seu processo cognitivo, o papel de

investigador. De acordo com Skovsmose (2000), propor cenários para investigação,

em sala de aula, contribui para o envolvimento dos alunos, incentivando-os para se

sentirem motivados a compreender uma determinada situação. Por outro lado, a

preocupação do professor em desenvolver esta competência possibilita, no

ambiente de sala de aula, uma reflexão crítica sobre a utilização social da

Matemática.

Quando se propõe essa atividade ao professor, busca-se ampliar e

complementar a investigação iniciada com a questão anterior. Além disso, se quer

com essa atividade, investigar também o nível do conhecimento do professor acerca

91

do conteúdo a ser ensinado, bem como avaliar o nível do conhecimento pedagógico

do conteúdo agregado nas práticas docentes desses professores. A investigação

proposta com essa questão, apoia-se, principalmente, na base de conhecimento do

professor, estudo desenvolvido por Shulman(1987). Segundo este pesquisador, o

conhecimento pedagógico do conteúdo

...abarca os aspectos do assunto que são mais férteis para o ensino. Dentro da categoria de conhecimento pedagógico do conteúdo eu incluo, para os tópicos mais regularmente ensinados na área do conteúdo de cada um, as mais úteis formas de representação dessas ideias, as mais poderosas analogias, ilustrações, exemplos, explicações e demonstrações – em uma palavra a forma de representar e formular o assunto que o torna compreensível para outros [...] Isso também inclui um entendimento do que faz o ensino de tópicos específicos fáceis ou difíceis: as concepções e preconcepções que estudantes de diferentes idades e repertórios trazem com eles para o aprendizado (SHULMAN, 1987 apud OLIVEIRA, 2005, p. 5).

Ainda segundo Shulman (1987), é preciso que os professores articulem o

conteúdo curricular com aquele abarcado pelos alunos. Para realizar esta tarefa, é

necessário que o professor tenha uma compreensão profunda, flexível e aberta do

conteúdo, que esteja atento para as dificuldades mais prováveis dos alunos perante

os conteúdos; que compreendam as variações de métodos de ensino que podem

ajudar os alunos na construção do conhecimento e que estejam abertos para rever

seus objetivos, planejamento e procedimentos à medida que desenvolvem a

interação com os estudantes.

Desse modo, essa questão proposta embora pareça simples e sem grandes

pretensões pode ser reveladora, pois se esperava do professor participante da

oficina uma articulação entre os saberes como proposto por Shulman (1987). Além

disso, por se tratar de uma atividade que traz em seu âmago a integração das TDIC

com o conhecimento matemático, viabiliza a identificação das dificuldades

apresentadas pelos professores de matemática que participaram das oficinas.

4.2.3. Terceira e Quarta Atividades15: Transformações geométricas aplicadas às Parábolas

Segundo Maia (2007), essas duas atividades (figura 4.19) proporcionam ao aluno

condições de construir a forma canônica da função polinomial do 2º grau, bem como o

possibilita perceber que modificações na escrita algébrica da função acarretam

mudanças na representação gráfica e vice-versa.

15 Estas atividades são adaptações às originais contidas na Dissertação de mestrado de Maia (2007).

92

Figura 4. 20 - Fotocópia panorâmica e reduzida das atividades 3 e 4, as quais se encontram anexas

no apêndice B. Segundo Duval (2003), a proposta de formação matemática, durante a

Educação Básica, não é formar futuros matemáticos, tampouco consiste em

colecionar instrumentos que servirão eventualmente muito mais tarde, mas sim,

contribuir para o desenvolvimento geral das capacidades de raciocínio dos alunos,

acerca de suas análises e visualizações. Desse modo, faz necessária uma

abordagem para os professores que valoriza a capacidade cognitiva de formação do

aluno.

De acordo com esse pesquisador, uma real abordagem cognitiva está sempre

a buscar um funcionamento cognitivo que possibilite ao aluno compreender, efetuar

e controlar, por si mesmo, a diversidade dos processos matemáticos que lhe são

propostos em situação de ensino. Ele vai além, explicando que a atividade cognitiva

matemática requer outros domínios do conhecimento, os quais devem ser

procurados em duas características: na importância das representações semióticas,

ou seja, a possibilidades de tratamento matemático depende do sistema de

representação utilizado, uma vez que os objetos matemáticos não são objetos

espontaneamente perceptíveis ou visualizáveis com a ajuda de equipamentos; e na

93

grande variedade de representações semióticas utilizadas na matemática, ou seja,

nos sistemas de numeração, figuras geométricas, escritas algébricas e analíticas,

representações gráficas e a linguagem natural.

Ainda segundo Duval (2003), a compreensão da matemática se deve à

coordenação e transformação de registros. Segundo esse pesquisador, existem dois

tipos diferentes de transformações de representações semióticas:

Os tratamentos são transformações de representações dentro de um mesmo registro: por exemplo, efetuar cálculos ficando estritamente no mesmo sistema de escrita ou de representação dos números; resolver uma equação ou sistema de equações; completar uma figura segundo critérios de conexidade e de simetria. As conversões são transformações de representações que consistem em mudar de registro conservando os mesmos objetos denotados: por exemplo, passar da escrita algébrica de uma equação à sua representação gráfica. (DUVAL, 2003, p.16).

Desse modo, nas atividades, três e quatro, propostas pela presente pesquisa,

o objeto de estudo continua a ser a função quadrática enquanto o que se esperava

do professor era a concepção da conversão da representação gráfica para a

representação algébrica e vice-versa.

A primeira conversão a ser compreendida, efetuada e controlada pelo aluno,

no caso desse estudo, pelo professor, está representada nas figuras 4.21 e 4.22,

que retratam a mudança do registro de representação algébrica de um grupo de

funções quadráticas, para seus respectivos registros de representações gráficas.

Figura 4. 21 - Representação dos gráficos da Atividade 4.

Figura 4. 22 - Representação dos gráficos da Atividade 3.

Ao propor essa atividade com professores, esperava-se que estes, após

construírem os gráficos, os observassem e verificassem, em primeiro lugar, que

todos eles são curvas denominadas parábolas. Esperava-se também que

94

verificassem que na função f(x) = ax2+ bx + c, a≠0, conforme o coeficiente (a) da

função quadrática aumenta o gráfico vai se “fechando” cada vez mais e quanto

menor o valor do coeficiente (a) da função quadrática mais “aberta” se torna a

parábola apresentada no gráfico, ou seja, a variação no coeficiente (a) promove uma

dilatação na parábola. Outro padrão a ser observado, em relação à variação do

coeficiente (a), conforme a figura 4.20, é que todos os gráficos têm um ponto

comum: a origem e, em se tratando de professores, esperava-se que estes

soubessem justificar algebricamente o porquê desse padrão.

Ainda a respeito da variação do coeficiente (a), seria necessário que o

professor entendesse que a dilatação das parábolas (figura 4.20) está

intrinsecamente relacionada com suas concavidades, uma vez que se o coeficiente

(a) tende a zero, temos um gráfico parabólico tendendo a uma reta coincidente com

o eixo (x) do plano cartesiano. Desse modo, o professor poderá ultrapassar a

barreira do tradicional onde se ensina e assimila que: - se a>0, tem-se uma parábola

com a concavidade “voltada para cima”; - se a<0, tem-se uma parábola concavidade

“voltada para baixo”, promovendo uma aprendizagem de fato já que o aluno é levado

a entender que a dilatação numa parábola, que depende do coeficiente (a), a leva a

mudar de posição em relação ao eixo (x). Por fim, em relação aos gráficos da figura

4.20, seria importante que o professor reconhecesse as reflexões e simetrias como

padrões de agrupamentos, uma vez que isso será observado por seu aluno mesmo

que este não reconheça os porquês algébricos.

Ao observar os gráficos obtidos na atividade 4, figura 4.21, nota-se que as

parábolas não sofrem quaisquer alterações acerca de suas concavidades e

aberturas. O que para o aluno, pode não parecer tão óbvio, uma vez que na parte

aparente de cada parábola poderá levar o aluno sofrer uma “ilusão ótica”, crendo,

então, numa variação. Diante disso, o professor precisa reconhecer que ao somar

uma constante (negativa ou positiva) à função quadrática f(x) = x2, a≠0, ocorre

apenas uma translação vertical, cujo vetor tem o mesmo módulo que a referida

constante. A animação no Winplot, sugerida nessa atividade, torna-se importante

para que o aluno visualize tal translação vertical, bem como a não dilatação das

parábolas ao variar o coeficiente (c).

Em ambas às atividades, esperava-se que o professor estivesse consciente

da importância de permitir ao aluno que transcendesse a compreensão geométrica,

95

articulando sua visualização com representações algébricas. Para isso, seria

importante que professor reconheça que em situações como essa, em que o aluno é

levado a analisar tais transformações e, por meio de levantamento de conjecturas e

validação ou não das mesmas, explicar as propriedades de desse mesmo objeto em

diferentes representações, este constrói de fato um conhecimento matemático

(DUVAL, 2003).

Segundo Brousseau (1986): ...uma concepção de ensino requer que o professor provoque uma adaptação em seus estudantes mediante uma escolha racional de problemas que são colocados diante deles. Estes problemas são escolhidos de tal maneira que permitam ao aluno: agir, falar, pensar e evoluir por seus próprios meios [...] (p.46).

Fica evidente que o professor precisa estar preparado para fazer uso de

atividades como essas, aproveitando ao máximo das Tecnologias Digitais da

Informação e da Comunicação e suas potencialidades, uma vez que cumpre ao

professor propor para aos alunos um ambiente (atividades, metodologias, recursos

didáticos, abordagens, agrupamento etc.) que favoreça a cada um destes o

desenvolvimento de sua aprendizagem.

4.2.4. Quinta Atividade- A mudança de Registro de Representação e a experimentação.

Segundo Borba e Penteado (2007), as TDIC, além de permitir que a

visualização potencialize a aprendizagem matemática, cumprem um papel essencial

na proposta pedagógica: a experimentação. Então, ao trabalhar com as funções

quadráticas é importante criar situações para que o aluno possa experimentar, assim

como ocorre nas aulas de Física e Biologia. Desse modo, a experimentação permite

que os alunos levantem várias conjecturas e esbocem argumentos, os quais devem

ser confrontados com os de colegas e professor. Nessa perspectiva, fica evidente a

importância do papel do professor, haja vista que cumpre a ele, juntos com os

alunos, validar, descartar e alterar as argumentações conjecturadas.

Dentro desse contexto, em especial, está a quinta atividade (figura 4.23), cujo

cerne está em estabelecer um padrão de variação para função quadrática f(x) = ax2

+bx, a≠0, quando se varia o valor do coeficiente (b), dentro do conjunto dos números

reais.

96

Figura 4. 23 - Fotocópia panorâmica e reduzida da atividade 5, para uma melhor visualização

consulte o apêndice B.

Embora atividade semelhante a essa não tenha sido desenvolvida em

pesquisa que abordam o tema, como a de Maia (2007), é importante reconhecer

que, além de convidar o aluno à experimentação, favorece o uso da mudança de

registros de representação semiótica, bem como a utilização das próprias

Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação como recurso investigativo de

demonstração e prova (LABORDE,1993).

Nessa perspectiva, Duval (2003) revela que a potencialidade de uma

abordagem cognitiva está, inicialmente, em procurar desenvolver o funcionamento

cognitivo que possibilite ao aluno compreender, efetuar e controlar, de forma

independente, a diversidade dos processos matemáticos que lhe são propostos na

situação de ensino.

De acordo com Franchi (1995):

... o processo de aquisição do conhecimento matemático (assim como o conhecimento humano de maneira geral) tem várias etapas. Somente percorrendo essas etapas o aluno conhece: iniciando pelo aspecto afetivo (onde ele deve sentir a matemática presente e ter dela uma compreensão prévia), passando pela interpretação e busca de significado, pela compreensão e chegando até a comunicação (que é a manifestação da compreensão) (p. 40).

Duval (1996) considera que os objetos matemáticos só são acessíveis por

meio de representações, e os tratamentos dependem das possibilidades dadas

97

pelas representações, elas não podem ser consideradas secundárias em relação

aos objetos matemáticos propriamente ditos. Desse modo, ao propor essa atividade

para ser desenvolvida nas oficinas, num primeiro momento, esperava-se do

professor partícipe uma construção, no Winplot, conforme os gráficos da figura 4.24:

Figura 4. 24 - esboço dos gráficos da atividade 6.

Entretanto, sabe-se que a construção pela construção usar-se-ia de modo

pouco potencializado a tecnologia disponível. Desse modo, o que se queria do

professor é que este ultrapassasse o mecanismo de construção, ou seja, a própria

formulação da questão convidava o professor a investigar padrões, levantar

conjecturas e testá-las, usando para isso as TDIC disponíveis, bem como seus

conhecimentos algébricos.

Segundo Duval (1996) considerando que os objetos matemáticos só são

acessíveis por meio de suas representações, e os tratamentos dependem das

possibilidades dadas pelas representações, elas não podem ser consideradas

secundárias em relação aos objetos matemáticos propriamente ditos.

98

Na questão (b) dessa atividade, por exemplo, o professor é indagado acerca

da “dilatação” e da “concavidade” das parábolas dos gráficos obtidos. Pergunta essa

que pode ser respondida a partir de diversos pontos de vistas, dentre eles:

(I) a análise do registro de representação semiótico gráfico (Tratamento);

(II) a mudança do registro de representação semiótico gráfico para outro

registro (conversão);

(III) a mudança para o registro de representação semiótico algébrico, ou

seja, conversão e tratamento.

Visivelmente, conjeturar acerca das concavidades seria desnecessário, haja

vista que todas as concavidades estão explícitas. Entretanto, a “dilatação” ou

“abertura” é questionável, sendo necessária uma articulação a partir do registro de

representação semiótico gráfico que é apresentado.

O professor que opta pelo primeiro ponto de vista, observa os gráficos obtidos

e pode iniciar uma estratégia de tratamento apenas. Uma estratégia de tratamento

seria padronizar segmentos na primeira parábola e verificar se a proporcionalidade

mantém nas demais quanto tomados segmentos semelhantes (mesma inclinação e

paralelos), conforme mostra a figura 4.25:

Figura 4. 25 - Usando uma régua e o principio da semelhança para verificar se os gráficos possuem

mesma dilatação e concavidade.

99

É possível ainda que a articulação utilizada na figura 4.24 não seja concreta o

suficiente para alguns alunos, talvez até mesmo para alguns professores. Desse

modo, uma solução concreta e fácil de fazer seria usar uma folha de papel

semitransparente e copiar um dos gráficos e, em seguida, partir para o método da

sobreposição que também levará a concluir que as aberturas denotadas nos gráficos

são idênticas. Concluindo, assim, que a variação do coeficiente (b), numa função

quadrática do tipo f(x) = ax2+bx+c, a≠0, não altera a “concavidade” e nem a abertura

dos gráficos transformados.

Por outro lado, mais uma vez, tem-se um ambiente propicio para usar das

TDIC de modo investigativo e exploratório, principalmente no momento em que os

registros de representação semiótica gráfica são tratados, sem conversão.

Do mesmo modo, quando se questiona acerca dos vértices na questão(c),

esperava-se do professor um tratamento no registro de representação semiótico

gráfico. Também seria possível acreditar que o professor respondesse tal questão

utilizando o tratamento no registro algébrico inicial, usando para isso as fórmulas do

vértice. Entretanto, a presente pesquisa tem o professor como sujeito, então,

esperava-se dele uma articulação entre ao menos dois registros de representação.

Já as questões (d) e (e), têm por objetivo verificar as conjecturas e

argumentações levantadas pelos professores, além de investigar o seu domínio

acerca dos conteúdos matemática, conforme levantado por Shulman (1986). Por

exemplo, na questão (e), pergunta se os vértices dos gráficos descrevem um

movimento linear, que é absurdo, uma vez que o próprio registro de representação

gráfica deixa explícito que seria impossível obter uma reta ao conectar tais vértices.

Quanto ao questionamento se é ou não uma função, espera-se que professor tente

enxergar padrões no gráfico, conjecture, faça teste e validações antes de responder.

Também na questão (e) é solicitada a representação algébrica da função que

contem todos os vértices dos gráficos da função quadrática f(x) = x2+bx+c, a≠0, com

b variando dentro dos números reais. Na verdade, o que se quer aqui do professor é

principalmente a sua mobilidade em articular os vários registros de representação

semiótica da função quadrática, indo além do tratamento, ou seja, espera-se a

conversão do Registro de Representação Semiótica Gráfica para o Registro de

Representação Semiótica Algébrico, seguido do devido Tratamento.

100

Desse modo, esperava-se uma resposta semelhante à apresentada no

quadro 4.1:

Quadro 4. 1 - Dedução da função dos vértices obtidos ao variar o coeficiente (b) de uma função quadrática.

Percebe-se, desse modo, que a função descrita pelo vértice também é uma

função quadrática e que independe do coeficiente (b). No caso particular dessa

atividade, a parábola que contem todos os vértices da família dada é representada

pela função quadrática: y = -x2.

A questão (f) volta a solicitar que se sirva das potencialidades dos softwares

envolvidos na presente investigação. Desse modo, esperava-se do professor a

construção de algum dos gráficos contidos na figura 4.26:

Figura 4. 26 - Gráficos esperados com resposta da questão (f) da atividade 6, em (I) construção no

Winplot e em (II) construção no quadratic grapher.

101

Por fim, na questão (g), o professor devia fazer uma institucionalização acerca

das mudanças de Registros de Representação Semiótica Gráfico, mais

especificamente, ao tratamento desses registros, conforme discutido por (DUVAL,

2003). Onde se esperava que o professor reconhecesse que o coeficiente (b), da

função quadrática, f(x)=x2+bx, a≠0, está intrinsecamente relacionado com o “zero” da

função, mas que não altera o comportamento gráfico acerca das “dilatações” e

“concavidade”.

4.2.5. Sexta Atividade – Introduzindo o estudo da forma canônica

Nessa atividade, ao contrário das anteriores, esperava-se que professor,

antes de utilizar o Winplot, desse um tratamento algébrico nas funções

apresentadas, ou seja, conforme discutido por Duval (2003) seria desejável que o

professor estivesse preparado para fazer uma transformação de registro

internamente.

Figura 4. 27 - Fotocópia da atividade 6, para melhor visualização consulte o apêndice B.

Na questão (a) dessa sexta atividade, conforme a figura 4.27, as funções,

cujo registro é algébrico, já se encontram explicitamente na forma do vértice, forma

102

essa pouco explorada em livros didáticos, conforme analisado no capitulo anterior.

Ainda assim, desejava-se que o professor utilizasse seus conhecimentos algébricos,

deduzindo a forma do vértice para a função genérica f(x)= x2 +bx+c, conforme o

quadro 4. 2:

Quadro 4. 2 - Dedução da forma do vértice para a função quadrática genérica

Já na questão(b), dessa atividade, solicita a construção, no software Winplot,

do gráfico de uma função quadrática a partir de sua representação algébrica na

“forma canônica do vértice”: y = (x+3)2- 5. Embora pareça uma atividade tradicional,

a construção solicitada permite que o observador levante conjecturas e utilize o

próprio software para investigar padrões e testar hipóteses, construindo, assim, seu

103

próprio conhecimento dentro de uma abordagem investigativa (SKOVSMOSE,

2000). Um padrão a ser observado nessa questão é que a forma canônica de uma

função quadrática é dada por f(x)= a(x – m)2 + n, com a ≠ 0, em que os coeficientes

(m) e (n) formam um ponto v( m, n) que também é o vértice da parábola. Desse

modo, para essa questão o ponto v(-3, -5) é o vértice da parábola descrita pela

função y = (x+3)2- 5, conforme a figura 4.28:

Figura 4. 28 - Esboço de uma função quadrática a partir de sua representação.

A proposta da questão (c) não deixa dúvidas que nenhum registro de

representação semiótica é completo, ideia defendida por Duval (2003). Ao deparar

com a função quadrática, f(x) = x2+6x+4, por exemplo, temos um registro o qual não

traz explicitamente informações acerca do vértice. Desse modo, requeria, mais uma

vez, que o professor usasse a mudança de registro de representação semiótica.

Assim, caberia ao professor optar pelo “tratamento”, que implicaria em alterar

internamente o registro, ou então, servir-se da “conversão” que mudaria o registro de

representação para outro signo. Entretanto, seria muito importante que o professor

soubesse mobilizar tais registros, conforme o quadro 4.3:

104

Quadro 4. 3 - Duas resoluções distintas, em (I) tratamento algébrico interno e em (II) conversão de registro de representação.

As demais questões dessa atividade funcionam como um roteiro para que o

professor institucionalize as mudanças de registro de representação semiótica

abordadas nessa atividade. Ou seja, esperava que o professor articulasse a

informações gráficas com as informações algébricas. Dentre as institucionalizações,

esperava-se que o professor verificasse que a forma canônica da função quadrática,

f(x) = a.(x – m)+ n, a≠0, ao variar (m) e (n) permitem, respectivamente, a translação

horizontal e vertical, conforme as figuras 4.29 e 4.30:

Figura 4. 29 - Família obtida por meio da variação do coeficiente (m) da

função quadrática, f(x) = (x - m)2+1.

105

Figura 4. 30 - Família obtida por meio da variação do coeficiente (n) da

função quadrática, f(x) = (x - 1)2+n.

Embora a observação a respeito das translações seja importante, também se

esperava que o professor articulasse mais profundamente o porquê as alterações

dos coeficientes (m) e (n) provocam tais translações nos gráficos. Em outras

palavras, o professor precisava entender o vértice como um ponto notável da

parábola e por isso a forma canônica de representação algébrica para a função

quadrática se faz tão importante.

4.2.6. Oitava Atividade – Reforçando importância da forma canônica da Função Quadrática

A atividade anterior tinha por objetivo introduzir a articulação entre os diversos

Registros de Representação Semiótica da função quadrática. Entretanto, seria

possível ainda, que o professor envolvido ainda não tenha conseguido “enxergar” as

conversões entre esses registros, bem como a importância dessa conversão.

Conforme discute Duval (2003), nenhum Registro de Representação Semiótica por

106

si só é completo no sentido de representar integralmente um objeto matemático. Isto

quer dizer que, ainda que um registro de representação transpareça um dado objeto

matemático, ele será parcial, pois os conteúdos em questão são diferentes,

comprometendo a análise que se quer fazer de tal objeto.

É imprescindível que o professor entenda que um Registro de Representação

Semiótica pode omitir informações importantes para a resolução de alguns

problemas que são propostos. No que tange a Função Quadrática, em sua forma

canônica, espera-se que o professor entenda que ela traz informações distintas da

sua forma entendida, f(x) = ax2 + bx + c, a≠0, em especial quando estas estão em

suas representações gráficas. Desse modo, espera-se que o professor saiba

mobilizar entre os Registros de Representação Semiótica da função quadrática, em

sua forma canônica, conforme o Quadro 4.4:

Quadro 4. 4 - Conversão entre os Registros de uma Função Quadrática, em sua forma canônica, com a diferente de zero.

107

Diante do exposto, a oitava atividade (Figura 4.31), teve por objetivo reforçar

a importância de trabalhar com a função quadrática, em sua forma canônica.

Figura 4. 31 - Fotocópia da atividade 8, para uma melhor visualização.

A questão (a) dessa atividade convida o professor a construir, num mesmo

eixo cartesiano do software Winplot, cinco funções quadráticas, em sua forma

canônica, f(x) = a.(x-m)2 +n, com a≠0 e, nesse caso particular, todas tem n = 0. Ao

seguir o solicitado, o professor obteria algo semelhante à figura 4.32:

Figura 4. 32 - Representação Gráfica das funções quadráticas solicitadas na questão (a) dessa

oitava atividade.

108

Percebe-se, de acordo com a representação gráfica, uma família de “família”

de parábolas em que uma é obtida como translação horizontal da outra, cujo módulo

é exatamente igual ao módulo da variação de seus coeficientes (m). Pode ser

verificando também que pelo fato do coeficiente (n) ser nulo, o vértice de y é sempre

zero.

Quando indagado acerca das raízes, na questão (b), era esperado que o

professor verificasse que o próprio coeficiente (m) é a raiz única de cada uma das

funções abordadas até aqui, nessa atividade. Ou seja, as raízes são 0, 1, 5, ½ e 2/

3, respectivamente.

Ao propor a questão (c), seria provável que uma quantidade razoável de

professores optasse por fazer apenas as Mudanças de Registro Internas, ou seja,

apenas tratamento dentro do registro algébrico. O Quadro 4.6 mostra esse

“procedimento” pelo o qual muitos tentam, alguns conseguem e, desses,

pouquíssimos entendem de fato o que significa tais respostas.

Quadro 4. 5 - Resolução via tratamento algébrico.

Ainda assim, esperava-se que o professor resolvessem as questões

propostas por meio do tratamento do registro gráfico, uma vez que a conversão do

Registro de Representação Semiótica Algébrico para o Registro Gráfico, discutido

por Duval (2003), favorece um maior domínio do objeto matemático, propiciando a

real construção do conhecimento. Além disso, o tratamento gráfico permite uma

visualização mais concreta quando proposto ao aluno. Desse modo, o professor

precisava perceber a vantagem em mobilizar essas Mudanças de Registro, uma vez

que estas mobilizações permitem que o aluno compreenda sua resposta que nem

109

sempre fica clara quando tratada internamente dentro do Registro Algébrico. A figura

4.33 mostra a conversão de Registro e tratamento esperado, por meio do software

Winplot, para a equação 2

2

2

1)2(

−=− xx

Figura 4. 33 - Determinando as raízes graficamente.

Essa conversão e tratamento não são explícitos e exige do professor um

domínio acerca do conteúdo matemático, conforme discutido por Shulman (1987).

Primeiramente, ao deparar com a equação (x – 2)2 = (x – ½)2, o professor precisaria

reconhecer cada membro dessa equação como uma função quadrática, de modo

que estas possam ser esboçadas. Além disso, esperava-se do professor domínio do

conceito acerca das condições de igualdade entre duas funções quaisquer, em que

as intersecções graficamente apresentadas são exatamente os pontos ou lócus que

as funções gozam de uma mesma correspondência, ou seja, nessa(s) intersecção

(ões) tem-se que uma mesma variável independente (x) apresenta um mesmo valor

para a variável dependente (y) em ambas as funções.

Nesse caso específico, de acordo com a figura 4.32, fica explicito que a

intersecção apresentada é dada apenas no ponto (x, y) = (1.25, 0.56). Fica evidente

a importância do software Winplot nessa articulação entre os Registros de

Representação Semiótica para equação proposta por esse estudo, haja vista que

apenas o esboço em papel comum, sem precisão, das referidas funções que

compõem a equação, embora permita uma visualização, compromete uma

resolução profícua a partir apenas da manipulação dos registros gráficos.

Nessa perspectiva, ao solicitar que o professor resolva graficamente a

inequação: (x-5)2 ≥(x-2/3)2, esperava-se também que este reconhecesse a

importância de incorporar as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação em

110

seu fazer didático, para além de uma esboço rápido e preciso apenas, propiciando

que o aluno construa seu próprio conhecimento a partir de uma situação mais

concreta de conceitos matemáticos mais abstratos, tais como as inequações. Desse

modo, fica nítido que o esboço feito no Winplot, por si só, não responde à questão

colocada, conforme a figura 4.34:

Figura 4. 34 - Resolvendo inequações quadrática por Conversão de Registro, seguido de

Tratamento.

Sendo yverde = (x-2/3)2 e yamarelo = (x-5)2, duas funções que representam a

inequação (x-2/3)2 ≥ (x-5)2, o que se quer é quando a função “verde” é maior que a

função “amarela”. Desse modo, como um bom ponto de partida tem-se a intersecção

dessas duas funções que se dá no ponto (2,83; 4,69), ponto que representa uma

equivalência entre elas de modo que nos demais lócus uma obrigatoriamente é

maior que a outra. A partir de uma observação detalhada, percebe que à direita de

x= 2.83 tem-se que a função “amarela” é sempre maior que a função “verde”. Desse

modo fica fácil de generalizar que (x-2/3)2 ≥ (x-5)2 sempre que o valor de (x) for

inferior ou igual a fração ideal duzentos e vinte e um de setenta e oito avos (221/78)

que é aproximadamente dois inteiros e oitenta e três centésimos (2,83).

4.2.7. Oitava Atividade – Trabalhando com Registro de Representação Semiótica Natural

Segundo os PCN (1999), nas aulas de Matemática deverão ser propostas

aos alunos atividades que propiciem o desenvolvimento de suas capacidades de

raciocínio relativas à resolução de problemas de diferentes tipos, de modo que

possam elaborar conjecturas e reconhecer regularidades, fundamentais no processo

111

de “formalização do conhecimento matemático”, como também no “desenvolvimento

de habilidades essenciais à leitura e interpretação da realidade e de outras áreas do

conhecimento” (p.84).

Nesse processo, se estabelecerão aproximações contínuas ao conceito

matemático para a solução, e assim, o aluno utilizar-se-á de conhecimentos

anteriores para resolvê-los, fazendo transferências, correções e rupturas, o que lhe

permitirá construir “um campo de conceitos que tomam sentido num campo de

problemas”, visto que “um conceito matemático se constrói articulado com outros

conceitos, por meio de uma série de retificações e generalizações” (PCN,1997,

p.44).

Ainda segundo os PCN (1997), no processo de resolução de um problema:

“aprender a dar uma resposta correta, que tenha sentido, pode ser suficiente para

que ela seja aceita a até seja convincente, mas não é garantia de apropriação do

conhecimento envolvido”. Vale salientar também que, nessa forma de trabalho, é de

relevante importância a apresentação do valor da resposta quando o aluno deve ser

incitado a “questionar sua própria resposta, a questionar o problema, a transformar

um dado problema numa fonte de novos problemas” tem a comprovação de “uma

compreensão de ensino e aprendizagem por meio da ação pensada que auxilia na

construção dos conhecimentos” (p.45).

No que tange a prática de resolução de problemas, é comum ouvir de

professores depoimentos do tipo: “os alunos não sabem interpretar o que o

problema pede”, ou então, “fulano mal leu a questão, apenas pegou todos os

números e fez uma continha de adição, colocando o resultado como resposta ao

problema”. Daí fica a questão: será que os alunos são estimulados a ler e interpretar

textos em linguagem matemática?

É importante reconhecer que na matemática também a leitura é fundamental

para estimular e aperfeiçoar tanto a escrita quanto a interpretação de textos.

Entretanto, a matemática tem suas particularidades o que exige do aluno uma

conversão entre a linguagem materna e a linguagem matemática. Porém essa

conversão não é singular para os alunos (DUVAL, 2003).

Ao desempenhar seu trabalho em sala de aula, o professor precisa ter

consciência que a língua natural e a linguagem matemática são indissociáveis,

conforme sintetiza Machado (2001):

112

Entre a Matemática e a Língua Materna existe uma relação de dependência mútua. Ao considerarem-se esses dois temas enquanto componentes curriculares, tal impregnação se revela através de um paralelismo nas funções que desempenham, uma complementaridade nas metas que perseguem, uma imbricação nas questões básicas relativas ao ensino de ambas. É necessário conhecer a essencialidade dessa impregnação e tê-la como fundamento para a proposição de ações que visem à superação das dificuldades com o ensino de Matemática. (p. 10)

Desse modo, o professor tem um papel dentro dessa teoria, uma vez que se

ele não a leva em consideração pode acabar fazendo uma avaliação indesejada do

conteúdo ministrado. Mais especificamente, o professor pode apenas priorizar o

tratamento que é utilizado para responder uma atividade proposta, induzindo os

alunos a memorizarem regras e algoritmos a serem utilizados, mas que não fazem

nenhum sentido para eles.

Nessa perspectiva, a atividade oito, conforme a figura 4.35, convoca o

professor a refletir sobre a Língua Materna e sua “simbiose” com a Linguagem

Matemática, bem como o incentiva a priorizar a conversão da linguagem natural

para um registro de representação semiótica matemático. A atividade também

explora a importância da validação de uma resposta, além de discutir várias

metodologias e linhas de raciocínios para a resolução de um mesmo problema.

Figura 4. 35 - Fotocopia da oitava atividade, para uma melhor visualização consulte o apêndice B.

113

A questão (a) dessa atividade solicita ao professor que determine a função

que relaciona o preço de venda com o tempo de engorda. Entretanto, não é caminho

simples a percorrer. Já que temos um problema que se encontra na linguagem

natural e para resolvê-lo é necessário reescrevê-lo na Linguagem Matemática, bem

como fazer as devidas transformações de registros de representação.

O ponto de partida inicial para a solução é entender há duas grandezas, o

preço por quilograma e a massa em quilograma, que variam e sentido oposto e,

além disso, ambas dependem do tempo. Em outras palavras, quanto mais tempo

passar mais “gordo estará o bezerro”, mas em contra partida, menos valerá o

bezerro.

Até aqui, a partir da leitura e interpretação, foi apresentado apenas um

tratamento em cima da informação que se encontra na Linguagem Materna.

Entretanto, antes de iniciar a conversão é preciso interpretar os conceitos

matemáticos que estão nas entrelinhas da língua natural. Percebe que há

grandezas dependentes e independentes, ou seja, trata-se de uma função

matemática. Desse modo, pode iniciar por escrever as funções utilizando signos

matemáticos, conforme o Quadro 4.6:

Quadro 4. 6 - Conversão da Língua Materna para a Linguagem Matemática.

Já a questão (b), dessa mesma atividade, solicita ao professor que construa

o gráfico para essa função. Ao construir, no Winplot, tal gráfico que representa essa

114

função, que por ora se encontra nos seu registro de representação semiótica

algébrico, obtém algo semelhante à figura 4.36:

Figura 4. 36 - Registro gráfico, no Winplot, para a função y =(200+2x)(50-0,4x)

Diante de um gráfico estranho é um bom momento para o professor

reconhecer que as TDIC são frutos humanos e também possuem limitações, como

explicita Hadas (2000), sendo assim, cumpre ao professor criar ferramentas,

mecanismos ou qualquer outro subterfúgio para superar tal limitação tecnológica.

Para superar esse ponto crítico, pode o professor voltar ao lápis e papel e fazer sua

construção, ou então, ver uma maneira de “manipular” o software em busca de uma

melhor visualização, mexendo nas escalas, por exemplo.

Entretanto, independente do caminho tomado pelo professor, é importante

reconhecer que tal superação ou não pode ser reveladora, uma vez que para

superar o desafio, o professor precisa antes de qualquer reconhecer que tal função é

uma função quadrática e, assim sendo, tem características próprias que são

primordiais para êxito na superação. Obviamente, a presente pesquisa não vai

recorrer à tecnologia do lápis e do papel, o que também se esperava do professor.

Desse modo, a figura 4.37, mostra o gráfico após algumas transformações no seu

registro (tratamento, segundo Duval (2003)).

115

Figura 4. 37 - Gráfico da função depois de devidos tratamentos.

Ao observar o gráfico várias informações podem ser lidas e ao serem

confrontadas com informações de outros Registros de Representação Semiótica

para o objeto matemático surgem algumas conjecturas, tais como:

• O objeto matemático em questão pode ser representado graficamente;

• A função quadrática, y =(200+2x)(50-0,4x), é representada

graficamente por uma parábola;

• É importante lembrar que o signo (x) representa uma dia a partir de

hoje, então, x≥0;

• A parte azul da parábola não faz sentido algum dentro da semântica do

problema, mas pode ser importante para identificar padrões;

116

• Percebe que o valor de venda aumenta um pouco, no decorrer do

tempo, mas depois de atingir seu máximo esse valor apenas

decresce;

• O vértice dessa parábola representa um extremo, ou seja, o valor

máximo;

• A partir da construção é possível visualizar o vértice v(12,5; 10).

Quanto à questão (c), espera-se que o professor mobilize pelo menos dois

tipos de registros de representação. O primeiro registro pode ser o gráfico solicitado

na questão anterior, de onde é possível verificar que entre o 12º e 13º dia está o

melhor momento para a venda do bezerro. Uma segunda opção de registro é

mostrada no quadro 4.7:

Quadro 4. 7 - Calculando (x) dia, a partir do tratamento do registro algébrico.

Ainda em relação à questão(c), fica claro que, através da mobilização de

diversos Registros de Representação Semiótica para um mesmo objeto matemático,

o melhor momento para a venda do bezerro, pensando no lucro, é entre o décimo

segundo e décimo terceiro dia.

Já em relação à questão(d) dessa atividade as articulações anteriores entre

os diversos registros de representação permitem afirmar que o melhor preço de

117

venda do bezerro corresponde a R$ 10125,00. Entretanto, o professor que optou

pelo tipo de tratamento dado no item (II) do quadro 4.6 ainda precisaria recorrer à

fórmula do vértice para calcular o preço máximo da venda do bezerro.

4.2.8. Nona Atividade – Mobilizando as Mudanças de Registros de Representação

Para a determinação dos objetos dessa atividade, conforme a figura 4.38, os

conhecimentos articulados nas atividades anteriores são essenciais. Além de exigir

uma compreensão das transformações sofridas nos gráficos de uma função

quadrática em virtude de se manter dois coeficientes constantes e variar o terceiro.

Também é exigida a interação com a forma canônica da função quadrática.

Figura 4. 38 - “Carinha” e “Camiseta” a serem construídas no Winplot, para ver essa atividade na

integra consulte o apêndice B. Faz-se necessário observar que esta atividade é uma adaptação ao trabalho desenvolvido por Maia (2007).

Os conhecimentos matemáticos acerca das funções que permitem a

construção dos objetos são: dilatações, translações verticais e/ou horizontais;

mudanças na concavidade da parábola; reflexão em relação ao eixo das abscissas,

bem como a noção de intervalos que serão ferramentas essenciais para as

construções. Para facilitar as construções também pode ser usado o recurso de

animação no Winplot.

118

Nessa atividade, se espera do professor que, ao levantar estratégias para a

construção, leve em consideração as relações existentes entre cada “parábola” que

representam uma função quadrática e compõem o desenho.

No caso da carinha, por exemplo, é importante reconhecer que o gráfico que

compõe o contorno “facial” e o gráfico que forma o contorno da “cabeça” se

relacionam por meio de uma translação e uma dilatação. Se o professor iniciou a

coeficiente (c) da função quadrática, f(x) = ax2 +c, bem como diminuir o valor do

coeficiente (a) dessa mesma função. Em relação aos “olhos”, o melhor caminho será

partir da forma canônica da função quadrática, f(x) = a (x – m) + n, uma vez que são

gráficos simétricos em que um é o resultado da translação vertical do outro. E

finalmente para a construção da boca, deve verificar a distância relativa ao “queixo”

para deixar a máscara com uma aparência triste, seria o resultado de uma

translação seguida de uma reflexão do gráfico de um dos olhos.

Essa atividade, entre outras possibilidades, “permite avaliar a utilização das

variáveis visuais relativas à função quadrática juntamente com sua unidade

simbólica correspondente, isto é, mostrar que o aluno está aplicando o procedimento

de interpretação global das propriedades figurais” (MAIA, 2007, p104).

O propósito aqui não é o desenho pelo desenho, mas sim, a possibilidade de

investigar as mobilizações entre os registros de representação semiótica articuladas

pelos professores para chegar a tal desenho, bem como verificar as reais

dificuldades ao usar as TDIC. Esboços semelhantes aos esperados estão

apresentados na figura 4.39 e 4.40:

Figura 4. 39 - Esboço da "carinha" solicitada nesta atividade.

119

Figura 4. 40 - Esboço da "camiseta" solicitada nesta atividade.

4.2.9. Décima Atividade: Transformando Registro de Representação Gráfica

A solução de um problema depende diretamente de análise e interpretação

dos dados, bem como do desenvolvimento cognitivo e das noções que o aluno

possui. Dessa forma “o que é um problema para um aluno pode não ser para outro”

(PCN,1997, p.44). Assim, torna-se necessário que o aluno elabore “um ou vários

procedimentos de resolução” e compare “seus resultados com os de outros alunos”

e valide “seus procedimentos” (PCN,1997, p.45).

O ensino de matemática deve ter por objetivo principal, levar o aluno a

reconhecer as representações análogas de um mesmo conceito, o que

proporcionará a promoção da realização pessoal, oferecendo segurança relativa à

sua capacidade matemática, desenvolvendo capacidades de cooperação, essencial

em sua formação. Assim sendo, torna-se necessário que os alunos concebam a

Matemática como sendo “um sistema de códigos e regras que a tornam uma

linguagem de comunicação de ideias e permita modelar a realidade e interpretá-la”

(PCN, 1999, p.82).

A situação-problema deve expressar aspectos chaves para o conceito que se

quer estudar, o aluno deve ser levado a interpretar o enunciado da questão,

estruturar a situação que lhe é apresentada, utilizar o que aprendeu para resolver

120

outros problemas, o que exige transferências, retificações e rupturas. Desse modo,

um conceito matemático se constrói articulado com outros conceitos mediante uma

série de generalizações (ONUCHIC, 1999, apud CASTRO; TEIXEIRA, 2010).

Dentro dessas perspectivas apresentadas, a décima atividade, conforme a

Figura 4.41, traz uma situação problema cujo objeto matemático está no Registro de

Representação Semiótica Gráfica. Nesse problema as informações principais são

gráficas, entretanto, não devem ser ignoradas as demais informações que podem

estar codificadas em outros Registros de Representação, bem como o cotidiano da

abordagem pode ser um diferencial facilitador nas estratégias de solução.

Figura 4. 41 - Fotocópia da décima atividade trabalhada nas oficinas, para uma melhor visualização

consulte o apêndice B.

121

Ao propor a questão (a), tem-se um convite implícito, para o professor

mobilizar os Registros de Representação Semiótica, ou seja, esperava-se que o

professor fizesse a conversão do registro gráfico para o registro algébrico.

Não se tratava de uma questão simples, haja vista que para determinar

algebricamente a função quadrática que, por ora, encontra-se no registro gráfico

seriam necessários três pontos bem definidos para escrevê-la através de um

sistema de equações, em seguida, chegar então à representação algébrica.

Por outro lado, mesmo que houvesse um terceiro ponto bem definido na

curva representada no gráfico dessa atividade, os sistemas ou as matrizes não seria

o melhor16 ponto de partida. Uma estratégia de solução, apresentada pela autora

desse estudo, no quadro 4.9, requer subsídios de outros conhecimentos conceituais

interdisciplinares e transdisciplinares, dentre eles a aceleração da gravidade.

Quadro 4. 8 - Uma resolução proposta para a questão (a).

A solução apresentada no quadro 4.8 não é trivial, mas é mais simples que

16 Quando se diz melhor, nenhum momento é intenção da autora dessa pesquisa desprestigiar qualquer outro tipo de solução, mesmo porque a presente pesquisa valoriza a diversidade de estratégia, desde que coerente.

122

uma solução analítica vetorial, uma vez que um tratamento excessivamente

algébrico e formal pode dificultar consideravelmente a compreensão do aluno,

consequentemente, comprometendo a aprendizagem.

De um modo geral, essas dez atividades trazem em seu cerne de resolução a

teoria das Mudanças de Registros de Representação Semiótica e propõem um

tratamento curricular especial em que os tratamentos normalmente feitos com lápis

e papel podem e devem ser feitos com os recursos das Tecnologias Digitais da

Informação e da Comunicação, potencializando os processos de ensino e

aprendizagem.

De acordo com a análise prévia que foi feita até o momento e tendo em vista

as possibilidades e expectativas esperadas em relação ao tratamento a ser feito

pelos professores sujeitos do estudo focal dessa dissertação, bem como à luz dos

aportes metodológicos servidos segue no próximo capítulo a análise feita acerca dos

dados coletados. Também serão apresentadas algumas considerações e

ponderações que podem ser úteis para estudos futuros, em especial aqueles que

buscam uma intervenção na formação de professores de matemática para uso das

Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação, bem como aqueles que buscam

favorecer a integração da Teoria das Mudanças de Registro de Representação

Semiótica nos processos de ensino e aprendizagem.

123

CAPÍTULO V

5. ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS

Este capítulo é dedicado à apresentação e análise dos dados obtidos no

decurso dessa investigação, os quais são contrastados com o referencial teórico

adotado, bem como são feitas considerações sobre o trabalho desenvolvido com os

professores de matemática, descritos no capítulo anterior, acerca das funções

quadráticas com o uso integrado das Tecnologias Digitais da Informação e

Comunicação – TDIC. Também estão destacados outros fatores que influenciaram

direta ou indiretamente nesta dissertação.

Ainda constam comentários pertinentes aos aspectos positivos e negativos

observados no decorrer da investigação, os quais poderão complementar o

processo de formação inicial e continuada do Professor de Matemática.

5.1. Perfil dos professores

Essa pesquisa contou com 29 professores de matemática, dos quais um era

aposentado, outro encontrava-se na função de Coordenador Pedagógico e os

demais estavam atuando em salas de aula da rede estadual de São Paulo.

Entre os professores envolvidos nesse estudo, todos são usuários de algum

tipo de TDIC no dia a dia. Entretanto, 5 entre os 29 afirmaram não utilizar nenhuma

das TDIC nas suas atividades docentes. Percebe-se ainda que dentro desse grupo o

uso das TDIC enquanto recurso pedagógico é mais comum que o uso enquanto

recursos didáticos, ou seja, esses professores usam as Tecnologias para preparar

uma lista de exercícios, preencher requerimentos, elaborar textos e avaliações, por

exemplo, mas incluir as TDIC de forma integrada com o desenvolvimento dos

conceitos matemáticos na sala de aula ainda é pouco concebível.

Alguns professores, quando questionados acerca da não utilização do

computador e outras mídias digitais em suas atividades pedagógicas e didáticas,

foram contundentes ao dizerem que não se sentem preparados para utilizar essas

mídias em suas aulas. Alguns até disseram não utilizar as mídias digitais, como o

computador, por não encontrá-las disponíveis ou acessíveis em suas unidades de

trabalho. Já respostas como a segunda foram mais evasivas, já que esses mesmos

professores reconhecem, mais adiante no questionário, que necessitam melhorar

124

sua competência em manipular tais mídias ou, então, sentem-se carentes de

situações didáticas práticas que favoreçam o uso de softwares matemáticos na aula

de matemática.

Um ponto positivo a ser observado é que esses professores de matemática

acreditam veemente que necessitam de uma formação que o favoreça a incluir, de

fato, tais mídias em suas atividades pedagógicas e didáticas. Muitos relataram que

se sentem inseguros em utilizar as TDIC, integradas ao desenvolvimento dos

conceitos matemáticos e, provavelmente não o faz, ou seja, se sentem melhor na

zona de conforto a batalhar numa zona de risco (BORBA; PENTEADO, 2007).

Os registros digitais também comprovaram que esses professores se

queixavam da falta dessas TDIC no cotidiano escolar. Foi possível captar algumas

falas, das quais, uma está transcrita no protocolo 1:

Protocolo 5. 1 – Transcrição da fala de um professor, durante a exposição da pesquisadora.

É plenamente acreditável que existam barreiras como essas expostas no

protocolo, o que não quer dizer que deva ser assim. Isso apenas revela que serão

necessários muitos estudos para convencer o professor que o ambiente escolar só

estará nutrido de computadores e outras mídias digitais quando realmente o

professor “gritar” por essas tecnologias. Entretanto, esse “gritar” significa também

que o professor reconheça as verdadeiras potencialidades das Tecnologias Digitais

da Informação e da Comunicação, bem como estar capacitados para usá-las

adequadamente.

Em relação ao favorecimento do uso das Tecnologias Digitais da Informação

e Comunicação integradas nos processos de ensino e aprendizagem, todos os

professores acreditam ser positiva tal integração. Dentre esses, a maioria deles

ressaltou ser importante, porque as TDIC permitem uma melhor visualização,

principalmente de desenhos e gráficos. Outros preferiram falar que a atenção e/ou o

interesse do aluno será maior como uso dessas TDIC. Outros até reconheceram que

as animações proporcionadas pelas TDIC favorecem a compreensão dos alunos.

Alguns professores observaram que as TDIC podem favorecer a comparação entre

125

diversos modos de resolver determinada situação problema. Apenas um desses

professores acredita que a tecnologia favorece a rapidez na informação. Outro

professor reconheceu que as TDIC permitem um ambiente de ensino mais prático,

como um laboratório faz como ensino de Física.

Diante disso, da mesma forma que foi discutido no capitulo III, as

potencialidades das TDIC são várias, depende apenas do professor decidir quando,

como e porque usá-las, mas tendo em mente que elas sozinhas não garantem o

aprendizado do aluno e nem facilita o trabalho docente, uma vez que a inserção

dessas no fazer pedagógico e didático também requer adequação metodológica e

preparo de aulas.

Quanto à participação em outros cursos que envolvem as Tecnologias Digitais

da Informação e Comunicação, apenas treze dos vinte e nove participantes

afirmaram não terem participado de nenhum curso nessa semântica. Mesmo assim,

todos os partícipes acreditam que as oficinas, minicursos ou outra modalidade de

formação continuada semelhante são importantes para conferir ao professor a

possibilidade de uso das mídias digitais integradas ao desenvolvimento dos

conceitos matemáticos.

5.2. Análise dos dados gerais

Durante a realização das atividades, foi possível observar que alguns

participantes se depararam com dificuldades de origens variadas. Algumas dúvidas

por eles manifestadas, por mais simples que fossem, chegavam a impedir a

continuidade das tarefas caso não fossem esclarecidas. Desse modo, as

dificuldades manifestadas pelo grupo de participantes dos minicursos foram

divididas em três tipos: - dificuldades no gerenciamento do computador; - não

domínio dos softwares e; - não compreensão de alguns conceitos matemáticos, em

particular das funções polinomiais do segundo grau. Segue, então a analise sobre

cada uma dessas dificuldades apresentadas.

� Dificuldades no gerenciamento do Computador

Apesar de o computador estar cada vez mais disseminado na vida humana,

apropriar-se da lógica inerente ao seu modelo e suas funções é algo que requer

126

exercício e alguns esclarecimentos básicos. Veja abaixo algumas dificuldades

identificadas no desenvolvimento das atividades desse estudo:

� utilizar o mouse de maneira adequada (direita e esquerda);

� interpretar a janela inicial do computador: funções dos ícones e das opções

dos menus;

� salvar, nomear e localizar arquivos, principalmente na pendrive;

� localizar e abrir programas;

� manipular arquivos e pastas no gerenciador de arquivos;

� interpretar as variações e funções das teclas etc.

� Dificuldades no domínio dos softwares gráficos

Os resultados dessas análises sugerem que a apropriação da manipulação

dos softwares Winplot e dos applets por parte dos professores participantes não foi

tão complicado como se esperava ser. Entretanto, verificou-se que algumas

dificuldades foram mais persistentes e comuns entre os partícipes

A seguir, está alguns exemplos dos casos mais recorrentes:

� colocar a grade no eixo cartesiano;

� duplicar plotagens via inventário;

� representar frações e raízes quadradas de modo legível ao

computador;

� localizar o gráfico quando a plotagem estava fora do campo de

visão, o que também revela não domínio de alguns conceitos acerca das

funções quadrática;

� mudar a escala de plotagem;

� construir funções de domínio limitado;

� construir uma animação para a função quadrática de acordo com

um parâmetro que também é um coeficientes (a, b ou c).

� Dificuldades com os conceitos de Funções quadráticas Embora mais camufladas, tais dificuldades também apareceram

constantemente. Em se tratando de professores tais dificuldades foram simples e

não prejudicaram o desenvolvimento das atividades. Entretanto, diversas vezes

essas mínimas dificuldades revelaram ser um obstáculo didático futuro ou até

127

mesmo na recusa de desenvolver tais atividades com seus alunos. Algumas

observações em relação aos comportamentos dos professores, sujeitos dessa

pesquisa, foram:

� incerteza e ausência de um mecanismo para a verificação da abertura das

parábolas e, consequentemente, surgimento de um obstáculo didático;

� crença de que para toda resolução de um problema existe uma fórmula

matemática, diante disso foi ouvido pessoalmente e/ou na gravação digital

que, frequentemente, um participante perguntava para o outro regras e

fórmulas ao invés de tentar compreende-las através da mobilização entre os

Registros de Representação que é totalmente favorecida pelas TDIC;

� crença de que o erro é algo ruim e imperdoável, umas vez que muitos

deixaram respostas em branco por que não tinham certeza da resposta,

prejudicando a discussão que é tão importante para o conhecimento;

� desconhecimento da importância dos diversos registros de representação

para uma mesma função quadrática;

� dificuldade em fazer tratamentos algébricos e demonstrações;

� análise muito superficial dos Registros Gráficos;

� dificuldade em fazer a conversão entre os diversos Registros de

Representação Semiótica das funções quadrática;

� crença que para o professor de matemática não precisa ter domínios de

outras áreas de conhecimento, como a Física e a Química.

Diante do exposto, nota-se que, durante as referidas oficinas, as dificuldades

em relação aos saberes docente do professor de matemática foram bem além do

esperado, comprometendo inclusive o uso adequado dos recursos oferecidos pelas

Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação. Conforme será melhor discutido

adiante, percebe-se que, como já apontado por alguns pesquisadores, o professor

ainda não está preparado para usar a tecnologia de modo a tirar o máximo proveito

de suas possibilidades ( HORNINK, 2005;BITTAR, 2006).

5.3. Análise das atividades realizadas pelos professores

Nas oficinas, cenário da presente investigação, foram realizadas dez

atividades que propunham o desenvolvimento do conceito das Funções Polinomiais

do Segundo Grau com uso integradas das Tecnologias Digitais da Informação e

128

Comunicação, mais especificamente, o Winplot e o Applet Quadratic Transformer.

Desse modo, como parte desse trabalho de pesquisa, as resoluções propostas pelos

professores estão analisadas à Luz das Teorias: “Knowledge Base” proposta por

Lee Shulman e Registros de Representação Semiótica desenvolvida por Raymond

Duval, conforme fora discutido no capitulo IV.

5.3.1. Análise das mobilizações ponderadas acerca da Primeira Atividade

Ao propor essa atividade, desejava investigar como os professores enxergam

os recursos da informática como ponto de partida, antes da formalização do conceito

a ser estudado, bem como, verificar como o professor concebe a possibilidade de se

usar uma abordagem investigativa. Dentro desse prospecto, esperava-se que o

professor valorizasse tais abordagens e, consequentemente, se manifestasse como

investigador, uma vez que este papel é importante para aprendizagem do individuo

em cognição.

Infelizmente, nesse aspecto, os resultados não foram favoráveis, haja vista

que nenhum dos 29 participantes foi além do responder o obvio. A parte que pedia

que esses fizessem comentários acerca das conjecturas e possibilidades, bem como

tentar explicar o fenômeno, foi deixada em branco, prejudicando inclusive a

possibilidade de uma analise mais contundente.

Quando questionados verbalmente, boa parte desses professores disse que a

atividade era interessante, já que permitia a visualização mais concreta de uma

parábola, alguns até chegaram a mencionar o conceito de referencial. Se por um

lado, todos os envolvidos reconheceram a existência da parábola nessa atividade,

por outro lado, nenhum professor reconheceu que tal parábola observada

representava a função descrita pela posição em virtude do tempo, para um corpo em

queda livre, ou seja, não houve nesse grupo o reconhecimento da importância de

diferenciar o objeto matemático (função quadrática, no caso, o deslocamento da bola

em função do tempo) de sua representação natural (uma trajetória vertical, que

dependendo do observador será vista em forma de parábola) e de sua

representação gráfica.

Desse modo, é importante observar que, pelo menos para o grupo de

professores, sujeitos dessa investigação, a abordagem investigativa ainda é pouco

129

valorizada em suas práticas docentes. E não será as Tecnologias Digitais da

Informação e Comunicação que vai transformar suas crenças e metodologias.

De acordo com a discussão de Shulman (1987), percebe-se que a formação

desses professores, até o momento, não os nutriu do conhecimento pedagógico do

conteúdo.

5.3.2. Análise das mobilizações ponderadas acerca da Segunda Atividade

Ao propor essa atividade, esperava que professor levantasse algumas

conjecturas acerca do comportamento do gráfico da função quadrática, f(x) = ax2 +

bx + c, a ≠0, quando se altera cada um de seus coeficientes (a, b ou c).

Quanto à variação do coeficiente (a), os comentários dos professores foram

peremptoriamente convergentes a um e somente um comentário semanticamente

falando, dos quais, um está transcrito abaixo no protocolo 5.2:

Protocolo 5. 2- Conjectura levantada acerca da variação do coeficiente (a) da função quadrática

A conjectura levantada está correta, mas como se trata de professores,

poderia ser mais amplamente discutida. Seria importante que o professor

observasse que o coeficiente (a) da função quadrática, f(x) = ax2+bx +c, a≠0, quando

alterado faz com que a parábola que a representa graficamente sofra alterações em

sua “dilatação”, ou seja, a abertura da parábola também altera com a variação do

coeficiente (a) e, mais ainda, quando o coeficiente ( a ) tende a zero a parábola

tende a uma reta. Enfim, com essa resposta evasiva a análise fica comprometida,

Entretanto, as três próximas atividades focaram melhor esses aspectos.

Já em relação à variação do coeficiente (b) apenas 2 dos 29 participantes

fizeram conjecturas, as quais são semelhantes e, uma delas está transcrita no

protocolo 5.3:

Protocolo 5. 3 - Conjectura apresentada pelos professores em relação à variação do coeficiente (b).

130

Percebe-se que as únicas respostas quanto à variação do coeficiente (b) são

imprecisas, uma vez que descrevem um movimento horizontal, como se fosse uma

translação, o que não é verdade, haja vista que o que ocorre na verdade é uma

composição de movimentos horizontais e verticais, simultaneamente.

Já em relação ao coeficiente (c), os professores, de modo geral foram mais

precisos ao afirmarem que a variação desse coeficiente faz com que a parábola

inicial sofra uma translação vertical, e que, ainda essa parábola cortará o eixo y num

ponto distinto do ponto observado na intersecção desse mesmo eixo com a parábola

inicial.

5.3.3. Análise das mobilizações ponderadas acerca das Terceiras e Quarta Atividades

Ao propor essas atividades aos professores, esperava-se que estes

construíssem os gráficos no mesmo plano cartesiano e os observem

minuciosamente. Em relação gráficos da atividade 3, esperava-se que o professor

verificasse que:

� todos eles são curvas denominadas parábolas, cuja variação dos

coeficientes (a, b ou c) da função quadrática, f(x) = ax2+ bx + c, a≠0, é

também acompanhada por uma variação gráfica ;

� conforme o coeficiente (a) da função quadrática aumenta o gráfico vai

se “fechando” cada vez mais e quanto menor o valor do coeficiente (a)

da função quadrática mais “aberta” se torna a parábola apresentada no

gráfico, ou seja, a variação no coeficiente (a) promove uma dilatação

na parábola;

� todos os gráficos têm um ponto comum: a origem e, em se tratando de

professores, espera-se que estes saibam justificar algebricamente o

porquê desse padrão;

� a dilatação das parábolas está intrinsecamente relacionada com suas

concavidades, uma vez que se o coeficiente (a) tende a zero, tem-se

um gráfico parabólico tendendo a uma reta coincidente com o eixo (x)

do plano cartesiano. a entender que a dilatação numa parábola, que

depende do coeficiente (a), a leva a mudar de posição em relação ao

eixo (x);

131

� as reflexões e simetrias são padrões de agrupamentos, uma vez que

isso será observado por seu aluno mesmo que este não reconheça os

porquês algébricos.

Ao confrontar as articulações esperadas dos professores com as

mobilizações de fato levantadas, pode-se considerar que de um modo geral houve

convergência. As respostas apresentadas pelos professores foram bastante

semelhantes, o que sugere que há uma crença predominante adquirida na formação

inicial e no fazer docente desses professores. Dentre os quesitos iniciais de

observação, para essa atividade só faltou por parte dos professores uma articulação

mais profunda entre a variação do coeficiente (a), da função f(x) = ax2, como por

exemplo, que esse coeficiente funciona como um indexador de crescimento da

função e quanto maior o valor de (a) mais ao infinito tenderá o gráfico da função,

conceito essencial para a compreensão dos conceitos de limites de funções.

Outra observação que era esperada dos professores refere-se a relação entre

as raízes de uma função quadrática e o valor do coeficiente (a), de onde se pode

concluir que várias funções quadráticas podem ter a mesma raiz e, desse modo, não

se pode, a partir das raízes apenas, se chegar a uma determinada função conforme

fora proposto na décima atividade.

Já em relação à observação dos gráficos obtidos na atividade 4, o professor

deveria notar que:

� as parábolas não sofrem quaisquer alterações acerca de suas

concavidades e aberturas;

� ao somar uma constante (negativa ou positiva) à função quadrática f(x)

= x2, a≠0, ocorre apenas uma translação vertical, cujo vetor tem o mesmo

módulo que a referida constante;

� a animação no Winplot, sugerida nessa atividade, é essencial para que

aluno visualize tal translação vertical, bem como a não dilatação das

parábolas ao variar o coeficiente (c).

De modo bastante uniforme os professores cumpriram integralmente as

observações sugeridas por essa quarta atividade. É provável que o resultado

apresentado esteja relacionado ao fato de o coeficiente (c) de uma função

quadrática ter sido mais explorado em livros didáticos, em especial o seu significado

graficamente.

132

Em ambas as atividades, esperava-se que o professor reconhecesse a

importância de permitir uma compreensão geométrica pelo aluno ao desenvolver o

conceito das funções quadráticas, bem como articulasse a visualização com

representações algébricas, construindo de fato um conhecimento matemático

(DUVAL, 2003). Entretanto, tal articulação se quer foi feita proficuamente pelo

professor, o que sugere um desafio a ser cumprido pela formação do professor de

matemática, seja ela inicial ou continuada.

5.3.4. Análise das mobilizações ponderadas acerca da Quinta Atividade

Ao propor essa atividade ao professor, esperava-se que este fizesse uma

institucionalização acerca das mudanças de Registros de Representação Semiótica

Gráfico, mais especificamente, ao tratamento desses registros, conforme discutido

por Duval (2003). Era importante que o professor reconhecesse que:

� o coeficiente (b), da função quadrática, f(x)=x2+bx, a≠0, está

intrinsecamente relacionado com o “zero” da função, mas que não

altera o comportamento gráfico acerca das “dilatações” e

“concavidade”.

� o tratamento no registro de representação semiótico gráfico é

importante para conjecturar, padronizar e fazer generalizações;

� a articulação entre os vários registros de representação semiótica da

função quadrática, indo além do tratamento, é fundamental para o

aprendizado de um conceito, uma vez que para escrever a função

descrita pelo vértice dos gráficos dessa atividade é necessário um

conhecimento profundo acerca das funções em geral;

� as potencialidades das Tecnologias Digitais da Informação e da

Comunicação envolvidas na presente investigação são importantes

para os processos de ensino e aprendizagem, uma vez que elas

favorecem o processo de conversão discutido por Duval (2003).

Diante das mobilizações esperadas pelos professores, pode-se considerar

que de um modo geral estas foram minimamente dentro do adequado. As respostas

apresentadas pelos professores foram bastante truncadas e semelhantes entre si, o

que já era esperado, uma vez que os livros didáticos não abordam a relação

existente entre o coeficiente (b) da função quadrática, f(x) = ax2+bx+c, a≠0, e o

133

comportamento gráfico dessa parábola. Conforme Penteado e Borba (2007), embora

os aspectos apresentados nessa atividade sejam importantes, poucos estudos os

têm discutido.

Dentre as dificuldades apresentadas nessa atividade está a dificuldade em

interpretar e tratar as funções quadráticas quando estas estão representadas por

seus Registros de Representação Semiótica Gráficos. Entretanto, a maior

dificuldade apresentada pelos professores defronte a essa atividade refere-se à

Conversão (DUVAL, 2003), uma vez que nenhum dos participantes conseguiu

escrever adequadamente, a partir do tratamento algébrico, a função descrita pelos

vértices da família das funções quadráticas, f(x) = x2+ bx, com (b) pertencente aos

números reais. Alguns até elucidaram a função quadrática em sua forma algébrica

explícita na folha de resposta, mas ficou nítido que não houve um tratamento, mas

sim uma generalização a partir das manifestações gráficas obtidas por meio das

TDIC.

Desse modo, fica evidente que o professor ainda não reconhece as reais

potencialidades das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação, uma vez

que nesse caso espera-se que o professor fosse além das respostas rápidas

fornecidas pelos softwares, confrontando-as com a conversão e o tratamento

algébrico (DUVAL, 2003).

5.3.5. Análise das mobilizações ponderadas acerca da Sexta Atividade

Nessa atividade esperava-se que professor, antes mesmo de utilizar o

Winplot, fizesse um tratamento algébrico nas funções apresentadas, fazendo uma

transformação de registro internamente conforme discutido em Duval (2003).

Entretanto, nenhum professor fez esse tratamento inicial conforme se esperava. Os

cinco professores que resolveram essa atividade optaram por fazer a “volta”, ou

seja, preferiram transformar a representação da função quadrática na forma

canônica, f(x) = a(x-m)2 +n, com a ≠0, para o registro de representação da função

quadrática na sua forma geral, f(x) = ax2 +bx +c, com a ≠0. Tal preferência sugere

que estes estejam mais habituados a manipular a forma geral da função quadrática

e não reconhecem a importância da forma canônica conforme fora discutido

previamente no capitulo IV.

134

Ciente das escassas discussões acerca da forma canônica de representação

algébrica para uma função quadrática, em especial nos livros didáticos que são

materiais mais acessíveis a esses professores, seria compreensível que estes

participantes encontrassem dificuldades para trabalhar com tal Registro de

Representação Semiótica. Diante disso, a sexta atividade ainda propiciou ao

professor participante uma oportunidade de investigar a forma canônica da função

quadrática, usando para isso o software Winplot.

Os registros, dados coletados durante este paradigma de pesquisa,

evidenciaram que esses professores até construirão os gráficos das funções

quadráticas a partir de sua forma canônica de representação algébrica, mas não se

interessaram em mobilizar-se entre os dois Registros de Representação Semiótica

para um mesmo objeto, conforme discutido por Duval (2003). Desse modo, fica

evidente que o professor não está preparado para propor ao aluno um cenário de

investigação, conforme discutido em Skovsmose (2000), haja vista que nem mesmo

o professor fora capaz de se colocar no papel de investigador.

Ainda acerca dessa sexta atividade, suas questões (c) e (d) convidaram o

professor a escrever a forma canônica de representação quadrática. Dos partícipes,

dez não responderam nada e dezenove responderam essas questões

inadequadamente e de modo homogêneo convergindo para uma única

representação, a qual está descrita no protocolo:

Protocolo 5. 4 - exemplo de conjectura apresentada por diversos professores.

Essa resposta obtida sugere certo desconhecimento do professor acerca da

forma canônica de representação da função quadrática e de suas potencialidades.

Diante do exposto, nas entrevistas alguns professores foram convidados a comentar

sobre essa forma de representação e como sugeriu a análise dos dados anteriores

houve uma confirmação que todos os participantes desconheciam a forma canônica

de representação algébrica para uma função quadrática.

135

5.3.6. Análise das mobilizações ponderadas acerca da Sétima Atividade

Ao propor essa atividade esperava-se que o professor se apropriasse das

conversões entre os Registros de Representação Semiótica, bem como a

importância das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação nessa

conversão.

No que tange a Função Quadrática, em sua forma canônica, se esperava que

o professor entendesse que ela traz informações distintas da sua forma entendida,

f(x) = ax2 + bx + c, a≠0, em especial quando estas estão em suas representações

gráficas. Desse modo, foi solicitado aos professores que resolvessem uma equação

“(x – 2)2 = (x – ½)” e uma inequação “(x-2/3)2 ≥ (x-5)2” a partir do tratamento gráfico,

usando assim o software Winplot. Entretanto, antes disso foi propiciado a esses

professores um repertorio de construções gráficas, a partir do mesmo software, de

algumas funções quadráticas em sua forma canônica, bem como foram colocadas

as questões (a) e (b)17no intuito de convidar o professor a fazer algumas

observações, conjecturá-las, estabelecendo padrões e validando-os de modo a

generalizar algum conhecimento.

Embora o desejado fosse a apresentação de uma solução gráfica por parte do

professor, infelizmente, isso não ocorreu. Muitos não resolveram a questão (c) e

alguns poucos que resolveram escolheram o método tradicional, ou seja, o

tratamento algébrico. De modo que, a conversão discutida por Duval (2003) ainda é

muito difícil de ser praticada, até mesmo pelos professores.

Na institucionalização, quando questionados acerca dessa questão, os

professores demonstraram dificuldades em interpretá-la graficamente conforme está

discutido no capítulo IV do presente trabalho. O que sugere um predomínio do

tratamento algébrico em detrimento do tratamento gráfico que, conforme discutido

em Duval (2003) e Maia (2007) é fundamental para a aprendizagem do aluno acerca

de um conceito matemático.

5.3.7. Análise das mobilizações ponderadas acerca da Oitava Atividade

Desse modo, o professor tem um papel dentro dessa teoria, uma vez que se

ele não a leva em consideração pode acabar fazendo uma avaliação indesejada do

17 Consultar a atividade 7, no apêndice B.

136

conteúdo ministrado. Mais especificamente, o professor pode apenas priorizar o

tratamento que é utilizado para responder uma atividade proposta, induzindo os

alunos a memorizarem regras e algoritmos a serem utilizados, mas que não fazem

nenhum sentido para eles.

A oitava atividade buscou convocar o professor para refletir sobre a Língua

Materna e sua “simbiose” com a Linguagem Matemática, bem como o incentiva a ver

como prioridade a conversão da linguagem natural para um registro de

representação semiótica matemático. A atividade também buscou explorar a

importância da validação de uma resposta, bem como convidou o professor a refletir

acerca das diversas metodologias e linhas de raciocínios para a resolução de um

mesmo problema.

Tal atividade, conforme já discutido anteriormente, foi uma adaptação feita a

partir da original retirada do livro do aluno, distribuído pela Secretaria da Educado do

Estado de São Paulo. Desse modo, esperava-se que a conversão dos Registros em

linguagem natural para a linguagem algébrica fosse uma tarefa simples para os

professores envolvidos, mas não foi o que aconteceu, uma vez que muitos deles

tiveram dificuldades em escrever a função algebricamente correta. Conforme

discutido em Shulman (1986), fica evidente que a formação desses professores

ainda apresentam fragilidades, nesse caso, o conhecimento do conteúdo a ser

ensinado.

Ainda nessa atividade, entre os poucos professores que conseguiram

escrever a função adequadamente, nenhum deles conseguiu fazer a conversão e o

tratamento gráfico adequado. Todas as respostas foram obtidas pela manipulação

algébrica, de modo que, a manipulação gráfica proposto não foi usada nem mesmo

para confrontar os resultados, fortalecendo assim a abordagem investigativa que

tem sido demonstrada como uma grande estimuladora da aprendizagem

(SKOVSMOSE, 2000). Assim, fica nítida a fragilidade desses professores acerca de

outro saber docente, o conhecimento pedagógico do conteúdo (SHULMAN, 1986).

5.3.8. Análise das mobilizações ponderadas acerca da Nona Atividade

Ao propor essa atividade aos professores, esperava que estes

reconhecessem os conhecimentos matemáticos essenciais na construção dos

desenhos solicitados, tais como: as dilatações, as translações verticais e/ou

137

horizontais; as mudanças na concavidade da parábola; a reflexão em relação ao

eixo das abscissas, bem como a noção de intervalos que serão ferramentas

essenciais para as construções.

Essa atividade foi feita pelos participantes, no laboratório e com a presença

da pesquisadora responsável pelo presente estudo. Desse modo, todos executaram

essa atividade, mas com muita dificuldade. Foi observado que as principais

dificuldades foram advindas das dificuldades em mobilizar entre os diversos

Registros de Representação Semiótica para um mesmo objeto matemática, no caso,

uma função quadrática. Dentre esses registros, a forma canônica de representação

algébrica da função quadrática, a qual os professores menos dominam, seria a mais

eficiente para a construção desses desenhos, haja vista que permite uma conversão

quase automática entres os registros algébricos e gráficos, conforme discutido no

Capítulo IV.

5.3.9. Análise das mobilizações ponderadas acerca da Décima Atividade

Dentro dos mesmos objetivos discutidos anteriormente, a décima atividade,

serviu-se de uma situação problema cujo objeto matemático está no Registro de

Representação Semiótica Gráfica, convidando o professor a se mobilizar entre os

Registros de Representação Semiótica, donde se esperava que o professor fizesse

a conversão do registro gráfico para o registro algébrico.

Diferentemente do desejado poucos professores conseguiram resolver essa

atividade adequadamente, bem como usar das Tecnologias Digitais da Informação e

Comunicação para validar sua solução apresentada. Dos vinte e nove professores,

embora sejam reconhecidas as respostas aproximadas que muitos obtiveram pelo

método: tentativa e erro18, apenas três propuseram de fato uma solução algébrica

para essa atividade, dentre esses somente dois conseguiram apresentar uma

solução parcialmente adequada, o que é justificável, haja vista que conforme

analisado no capitulo II, esse tipo de conversão entre registros (gráfico para

18 Segundo Musser e Shaughnessy (1997), o método tentativa e erro, também conhecido como método de força-bruta, é uma das estratégias de Resolução de Problemas não qual testa-se todas as soluções possíveis para o problema. Resumidamente esse método tem três passos: 1º) Escolher uma operação plausível; 2º) Executar a operação com os dados; 3º) Verificar se a meta foi alcançada. Se a resposta ao terceiro item for negativa, deve-se repetir o processo até que se atinja a meta ou se evidencie a insolubilidade do problema.

138

algébrico) tem sido pouco privilegiado nos livros didáticos, que ainda é o principal

acervo para o professor de Matemática (MAIA, 2007).

Ambos os professores que resolveram essa décima atividade, partiram de

três pontos, dos quais dois são pontos bem definidos e o terceiro lido

aproximadamente no gráfico, dando em seguida o devido tratamento algébrico.

Segue então a apresentação e discussão das resoluções que foram apresentadas

pelos dois professores.

O professor A iniciou a solução dessa atividade a partir dos pontos: (0,0),

(0,3;1,2) e (0;1,1). A partir de três equações determinou os valores dos coeficientes

(a), (b) e (c) da função quadrática, cbxaxxf ++= 2)( . A solução apresentada por

esse professor encontra-se no protocolo 5.5:

Protocolo 5. 5 - Transcrição da resolução apresentada pelo professor A.

O outro professor, B, que respondeu parcialmente essa atividade, também

partiu de três pontos: (0,0), (0,8;1,2) e (1,1; 0), dos quais o último fora abandonado e

substituído pela equação que relaciona o valor do vértice em (x) com os coeficientes

139

incógnitos (a) e (b) da função procurada. Abaixo, no protocolo 5.6, está

apresentada a solução esboçada pelo professor B:

Protocolo 5. 6 - Transcrição da resolução apresentada pelo professor B.

Analisando esses protocolos verificam-se estratégias de solução muito

próxima às utilizados nos livros didáticos, em especial os que foram ressaltados no

capitulo II. Em relação às questões (d) e (e), esses professores não apresentaram

respostas. A ausência da resposta a questão (d) sugere que estes não tenham

reconhecido a função encontrada acima como a função horária, altura em função do

tempo, do movimento de Daiane dos Santos, donde o coeficiente (b) representa a

velocidade inicial e o coeficiente (a) representa a metade da aceleração da

gravidade.

Quanto à questão (e), surgem alguns questionamentos no que tange o

conceito da função quadrática e a parábola. Será que toda parábola representa de

fato uma função quadrática? Quando uma bola e lançada e descreve um movimento

oblíquo tem-se uma parábola, essa parábola se refere a qual função? Será que os

140

professores, A e B, não reconhecem isso? Ou apenas tiveram dificuldades em

descrever tais esboços?

Desse modo, a análise das resoluções apresentadas para essa décima

atividade sugere a necessidade de se promover discussões acerca da formação dos

professores de Matemática, desenvolvendo programas de capacitação e pesquisas

que permitam a construção de conhecimentos e de metodologia interdisciplinares,

bem como propiciar uma revisão curricular que promova a integração entre as

diversas áreas de conhecimento. Que as Diretrizes Curriculares contemplem a

proposta interdisciplinar e transdiciplinar como elementos importantes para a

formação dos profissionais que se almeja com uma visão global e sistêmica

(D’AMBRÓSIO, 1986; 1997; 1999).

Segundo D’Ambrosio et al. (1999), a transdisciplinaridade está conectada com

a responsabilidade pela criação de um contato com a realidade e da própria

realidade:

... a criatividade é um elemento-chave da transdisicplinaridade porque reconduz o ser humano à posição de cocriador da realidade. E, como a realidade se coloca em permanente transformação, esse movimento criativo também se sucede incessantemente. O conhecimento estático, fechado e acabado deixa de ter lugar, pois tudo está em permanente transformação, permeando todas as áreas do conhecimento (p. 46).

Após essa discussão acerca dos esboços feitos pelos professores acerca das

atividades propostas segue então a análise das conjecturas levantadas por esses

professores.

5.4. Análise das conjecturas levantadas sobre as atividades aplicadas

Questão 1. Para quais séries ou segmento de ensino estas atividades estariam apropriadas? Descreva todas as possibilidades. Todos os professores de matemática que participaram das oficinas

consideraram as atividades interessantes e/ou adequadas epistemologicamente

para serem desenvolvidas com alunos da primeira série do ensino médio. A maioria

declarou que também aplicaria as atividades propostas para alunos da nona série do

Ensino Fundamental. Isso revela que o estudo poderá não sofrer grandes

resistências por parte dos professores abordados, já que a tendência apresentada

pelos mesmos é que aplicariam tais atividades.

Questão 2.

141

Ao aplicarmos uma atividade aos nossos alunos, precisamos ter claro em que momento do processo cognitivo em que ela melhor se encaixa. Diante disso, tente localizar em qual momento do curso de funções quadráticas deve ser inserida essa atividade?

Diversos estudos apontam que, equivocadamente, as atividades que

contemplam o uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação,

geralmente, são deixadas para finalizar o desenvolvimento dos conceitos

matemáticos em questão, servindo apenas como um algo a mais ou mesmo uma

ilustração. O que pareceu nessas oficinas é que pode haver mudanças, pois os

professores consultados assumiram a importância de iniciar o desenvolvimento de

um conceito matemático com atividades com cerne nas tecnologias digitais. Boa

parte dos professores consultados também se manifestou ser a favor do uso das

tecnologias digitais de forma integrada ao desenvolvimento dos conceitos

matemáticos. Entretanto, alguns professores disseram que tais atividades seriam

melhores inseridas para alunos que já estudaram pares ordenados e já praticaram a

construir método pelo “método” dos pontos, reforçando a ideia da supervalorização

do esboço ponto a ponto, que muitas vezes é imprecisa e desfavorável, discutida por

Duval (1993).

Questão 3. Sugira aqui algumas adaptações dessa atividade para uma série específica:

Os professores tiveram dificuldades em responder a essa questão. Alguns

deles até fizeram sugestões, mas de modo bem vago, o que pode ter indicado

insegurança por parte desses professores de matemática. Alguns sugeriram abordar

mais o comportamento dos “zeros das funções” ao variar um dos coeficientes, cujas

atividades poderiam ser também indicadas aos alunos no nono ano do Ensino

Fundamental.

Desse modo, as lacunas deixadas pelos professores ao responder a essa

questão sugere a existência de uma grande dificuldade para elaborar ou adaptar

atividades para serem trabalhadas com seus alunos. Essa dificuldade ficou mais

nítida ainda quando foi sugerido a esses professores aplicassem atividades

semelhantes a essas com seus alunos e a recusa foi unânime, embora os motivos

para tal fossem diversos.

142

Nessa perspectiva ainda, foi solicitado aos que os professores se agrupassem

e elaborassem uma atividade ou pequena sequência didática que usasse as

Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação de modo integrado e

simulassem uma apresentação em um dos encontros no “Projeto Observatório”. Os

registros acerca dessas apresentações reforço ainda mais a hipótese de que esses

professores possuem uma profunda dificuldade em elaborar e adaptar atividades.

Alguns inseriram as TDIC para resolver problemas, mas de modo substitutivo aos

outros métodos de resolução. Em nenhuma das proposições foi possível visualizar o

desenvolvimento do conceito matemático com as TDIC de modo integrado. Também

foi possível constatar que houve equívocos ao abordar o lançamento oblíquo de uma

bola não explicitado de fato o objeto em questão, a função quadrática.

Por fim, esses professores não manifestaram em nenhum momento situações

de conversão entre os Registros de Representação Semiótica (DUVAL, 2003),

tampouco usaram de uma abordagem investigativa (SKOVSMOSE, 2000).

As questões quatro e cinco dessas conjecturas demonstraram ser muito

complexas o que poderia ir além do que se pretende com esse trabalho, de modo

que, foram desprezadas ao longo desse paradigma de pesquisa. Desse modo, este

trabalho encaminha-se para algumas considerações finais.

143

CONSIDERAÇÕES FINAIS “não há uma última resposta, uma solução definitiva, não há compreensão e interpretações plenamente desenvolvidas e que dão conta de todas as dimensões do fenômeno interrogado. Mas há sempre o “andar em torno... outra vez e outra ainda...” (BICUDO, 1993, p. 18).

Enfim, chega o momento de tecer as considerações finais, fruto desta

pesquisa. Por fim, destacar algumas perspectivas futuras com relação ao processo

de formação continuada do professor de Matemática a partir dos resultados

apontados neste estudo.

No intuito de melhor situar as considerações aqui explicitadas, primeiramente

é necessário retomar alguns direcionamentos que o estudo realizado tomou. Esta

pesquisa teve como objetivo delinear metodologias, aspectos, procedimentos que

pudessem ser aplicados em cursos de formação continuada, tais como minicurso e

oficinas que buscam preparar o professor para integrar as Tecnologias Digitais da

Informação e Comunicação (TDIC) no desenvolvimento de conceitos matemático em

suas aulas, de modo a estabelecer e aprimorar o elo entre os núcleos de formação e

as práticas promovidas no ambiente escolar. Em outras palavras, este estudo

buscou contribuir, mesmo que indiretamente, para que o currículo tradicionalmente

prescrito para ser desenvolvido com lápis e papel seja adaptado e desenvolvido na

semântica das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação.

Com esse propósito em mente, foi dado então o inicio aos estudos em busca

de teorias que subsidiasse as problemáticas levantadas por essa pesquisa. Em

seguida, foi organizada uma sequência de atividades sobre as funções quadráticas a

qual serviu-se das TDIC e da Teoria dos Registros Semióticos de Raymond Duval,

buscando enfatizar a complementaridade existente entre as dimensões do

conhecimento matemático, do conhecimento em pedagógica geral e do

conhecimento pedagógico do conteúdo que são essenciais para o processo de

formação de professores de matemática.

Com o propósito de promover a integração entre a formação específica e

tecnológica, foram selecionados o software Winplot e o applet Quadratic

Transformer como recurso mediador na abordagem das funções quadráticas. Essas

144

tecnologias escolhida, cujas potencialidades foram discutidas no capítulo IV,

favoreceram muito a visualização de conceitos e propriedades, levantamento de

padrão e regularidade, fomentando as conjecturas que foram essenciais para

responder a questão que essa pesquisa se propôs.

As oficinas realizadas no Observatório da Educação se constituíram em

momentos maravilhosos de discussão e autocrítica. Aliás, considera-se relevante

destacar a mudança de postura da professora pesquisadora ao longo do processo

de pesquisa, seja pelas leituras relativas ao assunto e/ou pelas virtudes das

reflexões acerca das distintas possibilidades de uso pedagógico das Tecnologias

Digitais da Informação e Comunicação, bem como pelo empenho em organizar a

sequencia de atividade. Mudança essa que acabou por desencadear alterações na

postura da pesquisadora em seus afazeres docentes.

Espera-se também que o momento de convivência nas oficinas tenha sido

importante para os professores também, bem como almeja-se que a abordagem

usada nas oficinas, bem como as atividades que foram organizadas com muito

carinho, permita a cada um desses professores que participaram a refletir sobre sua

própria pratica docente, conforme discutido por Zeichner (2003), bem como a forma

de abordar estes conteúdos na prática pedagógica escolar, em especial no que

tange à integração das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação.

Almeja-se ainda, com esse estudo, estar contribuindo para reforçar a

necessidade das tecnologias informáticas serem incorporadas à pratica docente na

área de Matemática, bem com instigar novas reflexões sobre os processos de

formação docente nas modalidades inicial e continuada, em função das novas

demandas da sociedade tecnológica.

Diante do exposto, faz-se necessário ponderar algumas das observações

essenciais a serem consideradas quando se prepara um curso de formação para o

professor de matemática. Primeiro ponto a ser considerado refere-se ao tempo, uma

vez que quando se preparar um curso de formação, não diferente do planejamento

de professor da Educação Básica, superestima-se a capacidade de indivíduo em

formação e isso pode comprometer o rendimento esperado.

O segundo ponto refere-se ao cenário de implantação do curso, em particular,

quando se pretende integrar as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação.

Isso porque, de um modo geral, nas Universidades acabam tendo um suporte maior

145

quanto as TDIC e, diante disso, o professor acaba considerando toda a formação

como uma utopia, impossível de ser aplicada com seus alunos. Desse modo, é

necessário que o professor faça as devidas adaptações nas atividades, bem como

quanto aos recursos didáticos e tecnológicos utilizados. Creio que a escola seja um

cenário mais adequado, haja vista que quando o professor enxerga essas

possibilidades de um modo mais concreto ele se encoraja mais a sair da zona de

conforto, conforme discutido em Borba e Penteado (2007).

Outro aspecto ao ser ressaltado e que ficou nítido no tecer dessa

investigação, gira em torno da falsa crença de que, ao focar a importância da

integração Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação na formação de

professores de Matemática, as principais barreiras estão em torno das tecnologias

usadas. Durante as oficinas, os maiores obstáculos deflagrados referem-se ao

conhecimento matemático e, principalmente, aos conhecimentos pedagógicos do

conteúdo matemático. Desse modo, sem generalizar, sugere-se que isso seja levado

em consideração e com certeza pesquisas futuras com certeza poderão aferir

melhor esse hipótese que a partir do presente paradigma de pesquisa foi colocada.

Também foi observado durante essa investigação que os professores tiveram

muita dificuldade em montar uma atividade que integrasse um conceito matemático

com o software Winplot. Entretanto, a dificuldade apresentada não foi na

operacionalização do software, mas sim, na ausência da apropriação da integração,

na dificuldade em adaptar atividade do currículo prescrito, bem como o

desconhecimento de alguns saberes pedagógicos próprios do conceito matemático

a ser ensinado. Diante disso, é fundamental que numa futura formação para o uso

das TDIC, as oficinas ou minicurso tenham espaço para discutir as teorias

essenciais como foi a Teoria da Mudança de Registros de Raymond Duval e a

Teoria da Transposição Didática. Além disso, é essencial que o formador deixe um

tempo disponível para auxiliar o professor na elaboração de atividades que usem as

TDIC integradas com o desenvolvimento do conceito matemático.

Demonstra ser importante e desejável que o formador/pesquisador antes de

iniciar um minicurso ou oficina, ouça os anseios desse professor, suas dúvidas e

expectativas, além de inserir uma avaliação diagnóstica, que não foi feita na

presente pesquisa e, com certeza, teria potencializando ainda mais a formação dos

professores envolvidos.

146

Com base nos resultados apontados neste estudo e apoiando na revisão da

literatura apresentada nos capítulos iniciais, recomenda-se uma reformulação nos

programas de formação continuada do professor que buscam a inserção das

Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação nas atividades docentes, de

modo que sejam promovidas novas maneiras de relacionar e formar esses

professores de Matemática, que os coloquem no comando de seu processo de

formação e, que seja promovida uma formação integral que contemple as

dimensões específica, pedagógica e tecnológica e, principalmente, a dimensão do

conhecimento pedagógico da matemática, conforme discutido por Shulman (1987).

Embora não tenha sido o foco do presente estudo, verificou-se que os

professores de matemática têm muita dificuldade em transformar seus saberes

docente adquiridos em formações iniciais e/ ou continuadas numa atividade

pedagógica prática que comtemple tais conhecimentos. Desse modo, teorias como a

“Transposição didática” precisam ser trazidas ao professor em formação de modo

acessível e que favoreça a esse professor a se protagonizar na “arte” de elaborar

atividades mais substanciais no que tange à promoção da aprendizagem, a partir de

currículos prescritos, como os livros didáticos e outros materiais de apoio fornecidos

por órgãos regionais de Educação.

Além de reforçar a necessidade de investigarmos distintas possibilidades de

uso das tecnologias informáticas no contexto das experiências educacionais dos

futuros professores de Matemática, consideramos iminente ampliar e modificar os

cursos de formação continuada, pois é a combinação destes dois processos de

formação que pode contribuir para a concretização de mudanças significativas nos

processos educacionais estabelecidos e para a formação de cidadãos conscientes e

ativos nas ações de transformação social.

Ao escrever esse resultado de pesquisa, almeja-se estar colaborando com as

discussões que permeiam o processo de formação continuada do professor de

Matemática. Porém, são necessários ainda outros estudos e reflexões sobre esta

questão, devido às constantes modificações que as Tecnologias Digitais da

Informação e Comunicação inserem no contexto social e no meio educacional, as

quais suscitam mudanças no papel e na prática docente.

Partindo das colocações anteriores, conclui-se importante também uma

reformulação nos currículos das licenciaturas no intuito de integrar as tecnologias

147

informáticas às atividades de sala de aula durante todo o período de formação e que

estas sejam baseadas na autonomia, criatividade e investigação, assim como é

importante que este uso seja contextualizado, de modo que os recursos tecnológicos

façam parte das práticas educativas de diversas disciplinas.

Quanto à mobilização entre os diversos Registros de Representação

Semiótica para um objeto matemática, foi possível notar um avanço nas concepções

dos professores envolvidos, uma vez que todos reconheceram a importância de usar

a teoria da mudança dos Registros de Representação, bem como, mesmo que ainda

timidamente, tentaram aplicá-la na sequência didática por eles elaborada.

Entretanto, ficou nítido que essa teoria precisava ser mais amplamente trabalhada

nas oficinas, haja vista que, no caso dos professores envolvidos, a discussão

transpareceu como uma novidade tanto do ponto de vista epistemológico e filosófico

quanto no desenvolvimento empírico. Desse modo, teria sido extremamente

importante, nessa oficina, um momento para a discussão dessa teoria, desde suas

concepções no campo de pesquisa até na sua aplicabilidade prática o que,

consequentemente, implicaria num tempo maior a ser dedicado para o desenvolvido

do curso.

Para finalizar, é sugerido que outros estudos sejam desenvolvidos no âmbito

da formação continuada de professores de Matemática, focando a implementação

do trabalho com projetos sob diferentes condições, como estratégia para introduzir

novos conceitos e que tragam as Tecnologias Digitais da Informação e

Comunicação em seu seio. Do mesmo modo, avalia-se também a necessidade

promover a formação dos próprios professores formadores, incluindo o uso prático

das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação numa sequência completa

de atividades de Matemática, pois só assim, vivenciando o outro lado é que se

poderá realmente aproximar do professor que há muito tempo vem clamando por

socorro.

Dessa forma, acredita-se ter contribuído para a construção de uma resposta

acerca da questão de pesquisa propulsora desse estudo. É reconhecido também

que as dúvidas não se esgotaram com o tecer dessas páginas, tampouco fora

colocado um ponto final nessa questão levantada, mas sim organizada mais uma

“pecinha” no gigante “quebra-cabeça” que é a formação do professor de Matemática,

requisito essencial para uma Educação Matemática de qualidade e para todos.

148

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SOARES, D. S. Modelagem Matemática e TIC: estudo de fenômenos modelados por EDO's em uma turma de Cálculo I. In: Anais do XIII Encontro Brasileiro de Estudantes de Pós- Graduação em Educação Matemática, Universidade Federal de Goiás, Goiânia. 2009.

SOBRAL, A. “A Internet Na Escola”. In: Internet na Escola. São Paulo: Edições Loyola, 1999. Disponível em <www.ricesu.com.br> último acesso em 14 de setembro de 2009.

SOUZA, S. A. Usando o Winplot. 2004. Disponível em <http://www.mat.ufpb.br/~sergio/winplot/winplot.html> acesso em 23 de janeiro 2010.

TINOCO, L. A. A (Org.). Construindo o Conceito de Função no 1º Grau. Equipe do Projeto Fundão Rio de Janeiro: Instituto de Matemática – UFRJ, 1996.

TUAN, Y. Topofilia: um estudo sobre percepção atitudes e valores do meio ambiente. (trad. Lívia de Oliveira) São Paulo: Difel, 1980.

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155

156

APÊNDICE A Questionário- Perfil

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APÊNDICE B

ATIVIDADES UTILIZADAS NAS OFICINAS NO PROJETO OBSERVATÓRIO DA EDUCAÇÃO

Participante:____________________________Data: ____/____/____ Atividade 1 - Introdução Clique na figura abaixo e abra o applet o qual o guiará.Ou acesse http://www.ideiasnacaixa.com/laboratoriovirtual/flash4_01_trenzinho.swf

� Para um observador sito num local externo ao trenzinho, como será a

trajetória da maça no ultimo quadro da animação?

� Levante hipóteses junto aos colegas, conjecture-as e procure justificar:

1. Por que um mesmo objeto parecer ser visto diferente por observadores diversos?

2. Por que um observador fora do trem visualiza uma curva tipo parábola?

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Atividade2- Conjecturas Iniciais e Formalização Utilizando o applet quadraticgrapher19 varie os coeficientes a, b e c e observe o que acontece com a Parábola, para facilitar sua visualização clique em “trace vertex”.

Algumas conjecturas iniciais:

• Quando a concavidade da parábola ficará voltada para cima ou para baixo? • Descreva algumas variações que fazem com o vértice da parábola se movimente no

cartesiano? • Quando a parábola cortará o eixo das ordenadas em dois pontos? • Se houver outras observações, descreva-as.

19 Applet desenvolvido pela Seeing Math, disponível em

http://seeingmath.concord.org/sms_interactives.html, para uso online e offline. Acesso em 10 de out. de 2010

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Atividade 3- Transformações geométricas aplicadas às Parábolas20 1. Utilizando o Winplot, construa abaixo o gráfico das funções, definidas no conjunto do Reais, num mesmo sistema de eixos cartesianos (x,y):

²)(1 xxf =

²)(6 xxf −=

²2

1)(2 xxf ⋅=

²

2

1)(7 xxf ⋅−=

²3)(3 xxf ⋅=

²3)(8 xxf ⋅−=

²10)(4 xxf ⋅=

²10)(9 xxf ⋅−=

²4

1)(5 xxf ⋅=

²

4

1)(10 xxf ⋅−=

a) Observando as curvas obtidas, crie um padrão de classificação, ou seja, distribua-as em grupos de acordo com características e semelhanças. b) O que é possível concluir sobre as curvas dos gráficos quando o coeficiente de x² for maior que zero? E quando for menor que zero? c) Os gráficos de cada uma das funções construídas nesta atividade possuem algum ponto de intersecção? Qual? Justifique.

d) Antes de construir no Winplot, imagine a construção da curva da função ²4)( xxf ⋅= . Onde ela se situaria em relação às curvas construídas anteriormente, nesta atividade? Verifique sua estimativa construindo no Winplot, ela estava correta? e) Dada uma função f: IR →IR tal que f(x) = a.x2 com ∈a R. Vamos construir no Winplot uma animação que represente todas as funções decorrentes dessa genérica. Observe o movimento da curva ao variar o valor do coeficiente a e generalize algumas conjecturas:

� A variação do coeficiente a e o zero da função: � A variação do coeficiente a e a concavidade da parábola: � A variação do coeficiente a e a curvatura da parábola:

20 Esta atividade é uma adaptação da atividade contida na Dissertação de mestrado de Maia (2007).

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Atividade 4- Transformações geométricas aplicadas às Parábolas21 1) Dada uma função f: IR →IR tal que f(x) = ax2+ bx+ c, com a=1, b=0 e c ∈ IR . Construir, utilizando o Winplot, no mesmo par de eixos cartesiano os gráficos das seguintes funções:

a) O que acontece com a curva do gráfico da função ²)(1 xxf = quando se soma ou subtrai uma constante? b) Quais são as coordenadas dos vértices das parábolas em cada um dos casos? c) Ao alterar o valor coeficiente c das funções quadráticas, o que ocorre com a curvatura e concavidade? d) Que tipo de deslocamento, no eixo cartesiano, sofre a parábola quando ocorre a variação do coeficiente c?

e) Dada uma função f: IR →IR tal que f(x) = x2 + c com ∈c IR. Vamos construir no Winplot uma animação que represente todas as funções decorrentes dessa genérica. Observe o movimento da curva ao variar o valor do coeficiente c e generalize algumas conjecturas:

� A variação do coeficiente c e o zero da função: � A variação do coeficiente c e a concavidade da parábola: � A variação do coeficiente c e a curvatura da parábola:

21 Esta atividade é uma adaptação da atividade contida na Dissertação de mestrado de Maia (2007).

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Atividade 5- Transformações geométricas aplicadas às Parábolas22 1) Dada uma função f: IR →IR tal que f(x) = ax2+ bx+ c, com a=1, c = 0 e b∈IR . Construir, utilizando o Winplot, no mesmo par de eixos cartesiano os gráficos das seguintes funções:

a) O que acontece com a curva do gráfico da função bxxxf += ²)( quando se altera o valor de b?

b) Ao alterar o coeficiente b da bxxxf += ²)( , o que ocorre com a concavidade e curvatura das parábolas? c) Quais são as coordenadas dos vértices das parábolas em cada um dos casos? d) Observando a construção feita para essa atividade, que tipo de deslocamento descreve o

vértice da parábola quando variamos o valor do coeficiente b, da bxxxf += ²)( ? Tal deslocamento pode ser generalizado para outro ponto da parábola? Justifique.

e) A variação do conjunto de coordenadas dos vértices das funções do tipo bxxxf += ²)( , com b ∈ IR, pode ser padronizada? É uma função? Essa variação é linear? Se for uma função, represente-a algebricamente. f) Utilizando o winplot ou outro software gráfico mostre (verifique) graficamente a sua representação algébrica obtida no item e. Você pode usar o applet quadraticgrapher e,

22 Atividade elaborada em consonância com a discussão promovida em Borba e Penteado (2007).

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antes de variar o valor de b, clique na caixa “ trace vertex” cujo mecanismo mostrará a transformação sofrida pelo vértice em virtude da variação de b g) Dada uma função f: IR →IR tal que f(x) = x2 + b com b∈ IR. Vamos construir no winplot uma animação que represente todas as funções decorrentes dessa genérica. Observe o movimento da curva ao variar o valor do coeficiente b e generalize algumas conjecturas:

� A variação do coeficiente b e o zero da função: � A variação do coeficiente b e a concavidade da parábola: � A variação do coeficiente b e a curvatura da parábola:

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Atividade 6- Transformações geométricas aplicadas às Parábolas23

a) Sem utilizar o Winplot descreva a partir da função ²)(1 xxf = , como ficará as curvas dos gráficos das funções abaixo? E responda quais são as coordenadas do vértice da parábola em cada caso?

4)²3(2)(2 −+= xxf 3

1)²

4

5(3)(3 −−−= xxf

b) Construa, no eixo cartesiano do winplot, o gráfico de 5)²3()(4 −+= xxf

c) Você consegue prever a disposição da curva no gráfico de 46)(5 2 ++= xxxf , em relação aos gráficos construídos anteriormente no cartesiano do winplot? d) Escreva uma função polinomial do segundo grau genérica em função dos parâmetros a, m e n, de modo que seja fácil a visualização de seu gráfico. e) O que cada um dos parâmetros (a, m e n) faz com o gráfico da função inicial f1? f) Relacione os parâmetros da função que vocês encontraram no item d com os coeficientes

da função .)( 2 cbxaxxg ++= Descrevas suas conclusões.

23 Esta atividade também é uma adaptação da atividade contida na Dissertação de mestrado de Maia (2007).

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Atividade 7- Transformações geométricas aplicadas às Parábolas24 Num mesmo par de eixos cartesianos e utilizando o Winplot, construa os gráficos das funções: y=x2, y = (x-1)2 , y =(x-5)2 , y =(x-1/2)2 e y = (x –2/3)2. a) Descreva o que acontece com o gráfico inicial y=x2, quando subtraímos uma constante

positiva da variável independente x.

b) Cada uma das funções possui raízes reais? Quantas e quais?

c) Resolva a equação (x-2)2 = (x-1/2)2 e a inequação (x-5)2 ≤ (x-2/3)2, utilizando-se dos

gráficos obtidos.

24 Essa atividade também foi elaborada em consonância com a discussão promovida em Borba e Penteado (2007).

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Atividade 8 – Resolução de Problemas integrando as TDIC e aprofundando as mudanças de Registro25 Um criador de gado tem um bezerro de uma determinada raça para vender. Esse bezerro “pesa” atualmente 200 kg e, engorda 2kg por dia. Inicialmente, o criador acha que, quanto mais tempo esperar para vender o bezerro, melhor será, pois o bezerro ganhará mais “peso”. Entretanto, um de seus funcionários lembra o criador de que o preço da venda, que hoje é de R$ 50,00 por kg, está caindo R$ 0,40 por dia, atualmente. A escolha da melhor data para vender o bezerro depende, então, de duas variáveis: a engorda diária e a queda nos preços pagos por kg. Com base nas informações fornecidas, mantida a situação atual, pede-se:

a) determine a função que representa o valor de venda em função do tempo de engorda, contado a partir de hoje que o bezerro atingir 200kg.

b) usando o Winplot, construa a curva dessa função e levante algumas conjecturas.

c) Determinar a melhor data para vender o bezerro, contado a partir de hoje.

d) Calcular o valor em R$ que será arrecadado em tal venda.

25 Esta atividade é uma adaptação da atividade contida no livro aluno, conforme a Proposta Curricular do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2009).

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Atividade 9- Institucionalizando alguns Conceitos acerca das Funções Quadráticas26 Usando os seus conhecimentos acerca de funções quadráticas, no Winplot, construa os objetos abaixo:

Figura 1 – Carinha Triste Figura 2 – Camiseta a) Descreva os conceitos matemáticos prévios necessários para o desenvolvimento dessa

atividade.

26 Esta atividade também é uma adaptação da atividade contida na Dissertação de mestrado de Maia (2007).

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b) Descreva, algebricamente, as funções e seus intervalos para a construção de casa

desenho:

Atividade 10

O famoso salto27 duplo twist carpado de Daiane dos Santos foi analisado durante um dia de

treinamento no Centro Olímpico em Curitiba, através de

sensores e filmagens que permitiram reproduzir a

trajetória do centro de gravidade de Daiane na direção

vertical (em metros), assim como o tempo de duração do

salto. De acordo com o gráfico ao lado, determine:

a) a função que representa o movimento de Daiane.

b) a altura máxima atingida pelo centro de gravidade de Daiane.

c) A velocidade média horizontal do salto, sabendo-se que a distância percorrida nessa

direção é de 1,3m.

27 Atividade adaptada da original retirada da prova de física do vestibular da Unicamp do ano de 2008.

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d) A velocidade vertical de saída do solo.

e) Um equívoco comum entre os estudantes é confundir a trajetória de um corpo sob efeitos

da gravidade com o gráfico que representa a variação posição vertical desse corpo em

função do tempo. Usando o winplot, construa cada uma dessa curvas.

Faça aqui comentários, ou esboce um gráfico semelhante ao encontrado no winplot

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Apêndice C Ficha - Levantando conjecturas acerca das atividades

1. Para quais séries ou segmento de ensino estas atividades estariam apropriadas? Descreva todas as possibilidades.

2. Ao aplicarmos uma atividade aos nossos alunos, precisamos ter claro em que momento do processo cognitivo em que ela melhor se encaixa. Diante disso, tente localizar em qual momento do curso de funções quadráticas deve ser inserida essa atividade?

3. Sugira aqui algumas adaptações dessa atividade para uma série específica:

4. Você incluiria ou já inclui integralmente abordagem como essa discutida em suas aulas?

Fale um pouco sobre a importância dessa inclusão.

5. Embora algumas atividades apresentadas em cursos de formação continuada e oficinas sejam deslumbradas por muitos, sabe-se que muitas vezes elas não chegam, de fato, na sala de aula. Evidenciam-se vários percalços encontrados entre as capacitações e a prática docente na sala de aula. Descreva, sob sua ótica, algumas dificuldades iniciais ao tentar aplicar atividades como essas aos seus alunos.

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APÊNDICE D

Ficha - Roteiro de Entrevista

� Fale sobre a utilização de novas tecnologias em aulas de Matemática.

� Delineie sobre cursos de formação continuada para o uso de novas tecnologias no

ensino de Matemática.

� Faça referência sobre a possível integração do uso das novas tecnologias e a prática

docente.

� Comente sobre a influência do uso da tecnologia no processo de aprendizagem de

Matemática.

� Relacione as novas tecnologias e avaliação.

� Saliente sobre possíveis benefícios do uso das novas tecnologias para a formação

dos alunos no que tange as competências e habilidades.