dissertação beatriz ilibio moro
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PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE LETRAS
BEATRIZ ILIBIO MORO
ADVRBIOS DE POSICIONAMENTO EM TEXTOS ESCRITOS DE PORTUGUS
ACADMICO
PORTO ALEGRE
2014
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BEATRIZ ILIBIO MORO
ADVRBIOS DE POSICIONAMENTO EM TEXTOS ESCRITOS DE PORTUGUS
ACADMICO
Orientadora: Dra. Cristina Becker Lopes Perna
PORTO ALEGRE
2014
Dissertao apresentada como requisito parcial para obteno do grau de Mestre pelo Programa de Ps-Graduao em Letras da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul.
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BEATRIZ ILIBIO MORO
ADVRBIOS DE POSICIONAMENTO EM TEXTOS ESCRITOS DE PORTUGUS
ACADMICO
Aprovada em: ____ de _____________________ de ________.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Profa. Dr. Cristina Becker Lopes Perna - PUCRS
________________________________________
Profa. Dr. Karina Molsing - PUCRS
________________________________________
Profa. Dr. Simone Sarmento - UFRGS
PORTO ALEGRE
2014
Dissertao apresentada para como requisito parcial para obteno do grau de Mestre pelo Programa de Ps-Graduao em Letras da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul.
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AGRADECIMENTOS
Ao meu Pai, por tudo.
minha famlia, em especial aos meus pais, pelo incentivo, sacrifcio e amor.
minha orientadora Cristina, pelo seu tempo, pacincia, entusiasmo, compreenso,
bom-humor, apoio e companheirismo.
Aos demais professores desta faculdade, que muito contriburam para o meu
conhecimento - em especial, professora Leci Barbisan e professora Ana Ibaos.
professora Lilian Scherer, pelo apoio e carinho, especialmente durante meu
estgio de docncia.
Aos colegas do grupo UPLA, em especial Karina Molsing, Sun Yuqi e ao Lucas
Rollsing, pelas sugestes e fora que deram a este trabalho.
querida colega de mestrado e amiga Lusa Mocelin, pela parceria em todas as
horas e pela torcida incansvel.
Aos amigos, por compreenderem meus sumios acadmicos e por torcerem por
mim.
PUCRS, pela oportunidade de continuar meus estudos.
s secretrias do PPG da Faculdade de Letras.
CAPES, pela bolsa de estudo.
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RESUMO
O presente estudo tem como objetivo analisar, em uma abordagem interdisciplinar,
advrbios de posicionamento em Portugus Brasileiro Acadmico (PBA). Este
estudo parte de um projeto maior do Grupo de Pesquisa Uso e Processamento da
Linguagem Adicional (UPLA), do PPGL da PUCRS, que investiga os padres gerais
de uso deste tipo especfico de linguagem, com o intuito de criar um teste de
proficincia de PBA, tendo em vista que o nmero de estudantes universitrios
advindos de outros pases tem aumentado no Brasil; alm disso, visa estimular mais
pesquisas na rea de portugus acadmico e posicionamento, contribuir para o
desenvolvimento de avaliaes do portugus acadmico para o aluno estrangeiro e
capacitar estes estudantes a redigir textos acadmicos em PBA. Para tal, com o uso
das ferramentas da Lingustica de Corpus (LdC), e ancorados nos estudos feitos
com advrbios de lngua inglesa por Biber, na classificao de Searle dos atos de
fala ilocucionrios e nos estudos do portugus culto brasileiro feito por Neves, esta
pesquisa enfoca os advrbios de posicionamento atravs da anlise de um
subcorpus de estudo, formado por textos escritos por estudantes de graduao, de
aproximadamente 2 milhes de palavras, compilado pelo grupo de pesquisa.
Buscamos descobrir se estes recursos lingusticos so utilizados e, em caso
afirmativo, mostrar os mais frequentes. Os resultados mostram que os autores
utilizam advrbios de posicionamento, interferindo no valor dos enunciados
produzidos. Os advrbios de posicionamento mais comuns so os epistmicos,
confirmando nossa hiptese baseada nos estudos de Biber, que afirma que os
advrbios de posicionamento mais comuns no ingls so os epistmicos.
Palavras-chave: Posicionamento. Portugus Brasileiro Acadmico. Advrbios.
Lingustica de Corpus. Interface Semntico-Pragmtica.
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ABSTRACT
The present study has as its aim to analyze, in an interdisciplinary approach, stance
adverbs in Academic Brazilian Portuguese (PBA in Portuguese). This study is part of
a bigger project from the Research Group Additional Language Use and Processing
at the Pontifical Catholic University of Rio Grande do Sul (PUCRS), which
investigates the general patterns of uses of this specific type of language in order to
create a proficiency test of PBA, since the number of international students has been
increasing in Brazil. In addition, it seeks to stimulate more research in academic
Portuguese and stance, to contribute to the development of academic Portuguese
assessments for foreign students and to empower these students to write academic
texts in PBA. To do so, with Corpus Linguistics tools and anchored in the studies of
English adverbs by Biber, this research focuses on stance adverbs through the
analyses of a subcorpus formed by specialized texts written by undergraduate
students of approximately 2 million words compiled by the research group. This
research aims to investigate whether these linguistic resources are used and, if so, to
discuss the most frequent ones. The results suggest that the authors use stance
adverbs, influencing the meaning of the utterances produced. The most common
stance adverbs found are epistemic, confirming our hypothesis based on Bibers
studies, which state that the most common stance adverbs in English are the
epistemic ones.
Keywords: Stance. Academic Brazilian Portuguese. Adverbs. Corpus Linguistics.
Semantic-Pragmatic Interface.
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Corpus do Portugus - quantidade de textos por sculo.........................73
Tabela 2 Corpus do Portugus - diviso dos textos do sculo XX por tipo............74
Tabela 3 - Dados gerais do corpus de estudo e do subcorpus de estudo.................79
Tabela 4 - Caractersticas gerais do corpus de estudo..............................................94
Tabela 5 - Dados gerais do corpus de estudo e do subcorpus de estudo.................95
Tabela 6 - Subcorpus de estudo dados sobre os advrbios...................................96
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Posio do portugus acadmico no panorama lingstico.......................40
Figura 2 - Locais de ensino de portugus e portugus crioulo nOs Estados
Unidos........................................................................................................................45
Figura 3 - Expresses de posicionamento de acordo com Biber (2006)...................47
Figura 4 Classes semnticas dos advrbios de posicionamento em diferentes
registros......................................................................................................................49
Figura 5 - Tipos de advrbios de acordo com o aspecto semntico destaque para
os advrbios predicativos...........................................................................................59
Figura 6 Classificao das palavras modalizadoras...............................................60
Figura 7 - Classificao dos advrbios modalizadores............................................. 62
Figura 8 - Corpus do Portugus - busca por advrbios no corpus.............................75
Figura 9 - Corpus do Portugus - resultado da busca por advrbios.........................76
Figura 10 - Texto no formato original.........................................................................82
Figura 11 - O mesmo texto da figura, aps a limpeza, em formato .txt..................... 82
Figura 12 - Arquivo em formato .xml etiquetado pelo programa PALAVRAS............83
Figura 13 - Destaque para as ocorrncias 26 e 30 da palavra segundo nos
resultados da pesquisa no corpus de estudo.............................................................85
Figura 14 - Destaque para o cabealho de um dos textos.........................................86
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Figura 15 - O programa AntConc e seus recursos.....................................................87
Figura 16 - AntConc e a ferramenta File View...........................................................88
Figura 17 - Tela inicial do teste Log-Likelihood..........................................................89
Figura 18 - Detalhe do site do programa Log-Likelihood...........................................90
Figura 19 - Resultado do teste com o programa Log-Likelihood...............................90
Figura 20 Limpeza da lista de frequncia do corpus...............................................91
Figura 21 Duplicao da palavra conforme......................................................... 92
Figura 22 - As duas primeiras ocorrncias da palavra segundo no subcorpus de
estudo.........................................................................................................................99
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Tipos de atos ilocucionrios.....................................................................36
Quadro 2 Classificao de Searle dos atos de fala..37
Quadro 3 - Classificao dos advrbios (nica palavra) do ingls acadmico..........50
Quadro 4 - Corpus especializado diferentes reas.................................................76
Quadro 5 - Organizao do corpus especializado.....................................................77
Quadro 6 Nmero de palavras e textos nas quatro diferentes reas......................78
Quadro 7 - Cdigo de identificao dos textos...........................................................85
Quadro 8- Advrbios mais frequentes no corpus especializado................................96
Quadro 9- Classificao dos advrbios modalizadores segundo Neves (2011)........98
Quadro 10 Anlise dos advrbios presentes no subcorpus 1 a 10 posio....100
Quadro 11 Anlise dos advrbios presentes no subcorpus 11 a 20 posio..103
Quadro 12 Anlise dos advrbios presentes no subcorpus 21 a 30 posio..106
Quadro 13 Anlise dos advrbios presentes no subcorpus 31 a 40 posio..109
Quadro 14 Anlise dos advrbios presentes no subcorpus 41 a 50 posio..110
Quadro 15 Anlise dos advrbios presentes no subcorpus 51 a 60
posio.....................................................................................................................112
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Quadro 16 Anlise dos advrbios presentes no subcorpus 61 a 70 posio..114
Quadro 17 Anlise dos advrbios presentes no subcorpus 71 a 80 posio..116
Quadro 18 Anlise dos advrbios presentes no subcorpus 81 a 90 posio..118
Quadro 19 Advrbios de posicionamento encontrados no subcorpus..................119
Quadro 20 Advrbios de posicionamento e respectivos nmeros de
ocorrncias...............................................................................................................120
Quadro 21 Advrbios de posicionamento, nmero de ocorrncias e
classificao.............................................................................................................120
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LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 Subcorpus de estudo quantidade de word tokens dos advrbios e
demais palavras ........................................................................................................95
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LISTA DE SIGLAS
BYU Brigham Young University
Celpe-Bras - Certificado de Proficincia em Lngua Portuguesa para Estrangeiros
EAP English for Academic Purposes
FACE/FACI Faculdade de Administrao, Contabilidade e Economia
FACIN Faculdade de Informtica
FAENFI - Faculdade de Enfermagem, Nutrio e Fisioterapia
FALE Faculdade de Letras
FAMECOS Faculdade de Comunicao Social
FAPSI Faculdade de Psicologia
FFARM Faculdade de Farmcia
FEFID - Faculdade de Educao Fsica e Cincias do Desporto
FENG faculdade de Engenharia
FMI Fundo Monetrio Internacional
GT - Gramtica Tradicional
IBEC Instituto Brasileiro-Equatoriano de Cultura
LA Lngua Adicional
LdC Lingustica de Corpus
LC Log-Likelihood Calculator
L2 Segunda Lngua
MLA - Modern Language Association of America
ODONTO Faculdade de Odontologia
PA Portugus Acadmico
PBA Portugus Brasileiro Acadmico
PIB - Produto Interno Bruto
PLA Portugus como Lngua Adicional
PUCRS - Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul
TOEFL - Test of English as a Foreign Language
TTR Type/Token Ratio
UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais
UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Unifieo Centro Universitrio Fieo
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Unileste - Centro Universitrio do Leste de Minas Gerais
USP - Universidade de So Paulo
WWW World Wide Web
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LISTA DE ABREVIATURAS
Farm. Farmcia
FarmCie Farmcia & Cincia
Adm. Administrao
PSICO Faculdade de Psicologia
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SUMRIO
INTRODUO ........................................................................................................ 18
i. Um panorama da pesquisa ................................................................................... 18
ii. Constituio da dissertao ................................................................................. 20
1 A PRAGMTICA E OS ATOS DE FALA ............................................................ 22
1.1 A PRAGMTICA .......................................................................................... 23
1.2 ATOS DE FALA ............................................................................................ 29
2 LINGUAGEM ACADMICA, POSICIONAMENTO E ADVRBIOS ................... 40
2.1 LINGUAGEM ACADMICA ........................................................................... 40
2.2 PORTUGUS COMO LNGUA ADICIONAL ................................................. 43
2.3 POSICIONAMENTO EM LINGUAGEM ACADMICA................................... 46
2.4 ADVRBIOS E POSICIONAMENTO ............................................................ 53
2.4.1 Advrbios nas gramticas de lngua portuguesa ............................ 53
2.4.2 Alguns estudos lingusticos acerca dos advrbios na lngua
portuguesa ............................................................................................................. 56
3 LINGUSTICA DE CORPUS ................................................................................ 64
3.1 VISO GERAL .............................................................................................. 64
3.2 CARACTERSTICAS PRINCIPAIS................................................................ 68
3.3 TIPO DE PESQUISA ..................................................................................... 71
4 METODOLOGIA DA PESQUISA ......................................................................... 73
4.1 CORPORA DA PESQUISA ............................................................................ 73
4.2 PASSOS DA PESQUISA ............................................................................... 80
5 ANLISE E DISCUSSO DOS DADOS ............................................................. 93
5.1 ANLISE QUANTITATIVA DOS DADOS ....................................................... 93
5.2 ANLISE QUALITATIVA DOS DADOS.......................................................... 98
5.3 DISCUSSO DOS RESULTADOS ............................................................... 122
CONSIDERAES FINAIS ................................................................................... 124
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REFERNCIAS ...................................................................................................... 125
ANEXO A - Advrbios presentes no subcorpus ..................................................... 130
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18
INTRODUO
Esta dissertao inicia-se apresentando o trabalho em questo: a primeira
parte desta introduo visa apresentao do tema, da relevncia e do contexto da
pesquisa. Na segunda parte, apresentaremos a constituio e organizao desta
dissertao.
i. Um panorama da pesquisa
A presente pesquisa visa observar e descrever os usos dos advrbios de
posicionamento (do ingls, stance adverbs) em textos escritos de portugus
brasileiro acadmico (doravante, PBA). Esta faz parte de um projeto maior, sob a
coordenao da prof. Dra. Cristina Becker Lopes Perna, cujo objetivo analisar os
padres de PBA com o intuito de criar um teste brasileiro de proficincia deste tipo
de linguagem.
Compreendemos que dominar uma lngua envolve a produo e a
interpretao de textos. No ensino de lnguas adicionais, muitas vezes os alunos se
confrontam com manuais contendo regras normativas que no levam em conta o
aspecto pragmtico. Sob este ponto de vista, a lngua um fenmeno social, um
jogo, um instrumento de atuao do falante.
A utilizao de advrbios na lngua escrita um destes instrumentos,
representando um dos fatores de complexidade e servindo como chave para o
homem avaliar, julgar, opinar, criticar, refletir sobre o mundo e agir sobre o outro.
Segundo um estudo feito com estudantes estrangeiros da Aston University,
estes avaliam menos e so menos crticos avaliando. (Richards; Skelton, 1991,
APUD Jordan, 1997), ou seja, em termos de posicionamento, alunos que estudam
em universidades fora de seus pases acabam utilizando menos esses recursos
lingusticos em suas vidas acadmicas. Se os resultados obtidos atravs desta
pesquisa tambm, sob um olhar geral, representarem os estudantes que utilizam o
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portugus em contexto acadmico como lngua adicional, fica mais evidente o
quanto este aspecto lingustico deve ser explorado, tendo em vista o contexto no
qual nosso pas se encontra, com um grande nmero de estrangeiros interessados
na aprendizagem de nossa lngua.
O projeto no qual esta dissertao se insere nasceu na interface da
Faculdade de Letras e Faculdade de Informtica e intitula-se O portugus como
lngua adicional na internacionalizao: processamento e anlise de linguagem
tcnica e acadmica atravs de recursos lingustico-computacionais.
Tendo como base os estudos sobre posicionamento na lngua inglesa feitos
por Biber, buscaremos, nesta dissertao, analisar como o falante/escritor se
posiciona no texto atravs do uso de advrbios de posicionamento de maneira
qualitativa e quantitativa, numa anlise que utilizar de recursos tecnolgicos para
obteno de resultados sem, entretanto, dispensar o papel do linguista como
analisador, como profissional capaz de observar alm do que o corpus em sua
superfcie revela. Com isto em mente, descreveremos e analisaremos
qualitativamente os advrbios em seu contexto utilizando o corpus da pesquisa,
servindo-nos da Lingustica de Corpus como metodologia de estudo.
interessante ressaltar que ainda h na literatura uma carncia de estudos
na rea de Portugus como Lngua Adicional (doravante, PLA) devido ao seu
recente crescimento, fazendo com que este trabalho torne-se tambm um incentivo
para a disseminao de outros estudos na rea, ampliando os objetivos desta
pesquisa.
Acreditamos que o nmero de advrbios no nosso corpus seja expressivo,
tendo em vista que estes, como j colocado, funcionam como uma das maneiras de,
explicitamente, o autor se colocar e demonstrar seus julgamentos e opinies. Resta-
nos saber de que maneira so utilizados estes recursos lingusticos.
As perguntas que direcionam este trabalho so:
1) Com base no corpus coletado, os autores colocam-se nos textos atravs
do uso de advrbios de posicionamento?
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2) Constatada a presena de advrbios de posicionamento no corpus, quais
so eles? Quais so os mais frequentes?
Nossas hipteses para as perguntas acima so:
1) Sim, os autores utilizam-se de advrbios como uma das possibilidades de
colocao do eu no texto.
2) Estes advrbios, em sua maioria, so advrbios modalizadores (advrbios
de posicionamento), que indicam uma avaliao do falante frente a um contedo
proposicional (modus X dictum), podendo ser do tipo epistmico, dentico ou afetivo.
Os advrbios mais frequentes so os do tipo epistmico, baseadas nos resultados
obtidos para o ingls acadmico de Biber (2006) que, segundo Neves (2011),
tratam da possibilidade de algo ser ou tornar-se verdadeiro. O falante manifesta
certeza ou impreciso a respeito de determinada proposio (p) para maior
detalhamento, ver seo 2.4.2.
As perguntas e as hipteses que norteiam este estudo sero retomadas no
captulo 5, no qual apresentamos os dados e debatemos os resultados.
ii. Constituio da dissertao
A presente dissertao composta por 5 captulos. No primeiro,
apresentaremos uma viso geral da Pragmtica, subteoria da Lingustica que a
pedra de esquina deste trabalho, assim como a teoria dos Atos de Fala, de Austin
a Searle.
No segundo captulo, falaremos de maneira geral sobre a linguagem
acadmica, sobre o posicionamento em linguagem acadmica e abordaremos, neste
contexto, os advrbios num olhar contrastivo entre a viso das gramticas
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normativas e das pesquisas lingusticas em especial aquelas com um vis
semntico-pragmtico.
O terceiro captulo apresentar a metodologia utilizada, sob a perspectiva da
Lingustica de Corpus viso geral da mesma, caractersticas e tipo de pesquisa.
A metodologia de pesquisa, evidenciando as etapas da mesma, e os dados
sobre o corpus so o tema do quarto captulo.
No quinto captulo, procederemos com a anlise e discusso dos dados,
retomando nossas perguntas norteadoras e hiptese iniciais.
Finalizaremos a dissertao com nossas consideraes finais, as referncias
utilizadas e o anexo.
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1 A PRAGMTICA E OS ATOS DE FALA
Na compreenso dos eventos lingusticos, existem dois paradigmas
diferentes, sob os quais podemos analisar a linguagem: o formalismo e o
funcionalismo. Segundo Neves (1997, p. 39),
Na verdade, pode-se distinguir dois polos de ateno opostos no pensamento lingustico, o funcionalismo, no qual a funo das formas lingusticas parece desempenhar um papel predominante, e o formalismo, no qual a anlise da forma lingustica parece ser primria, enquanto os interesses funcionais so apenas secundrios.
Leech (1985) nos diz que a viso formalista tende a considerar a linguagem
como principalmente um fenmeno mental (p. 46), cujos universais lingusticos
advm de uma herana gentica, diferentemente dos funcionalistas, que veem a
linguagem como um fenmeno social, relacionando a aquisio da linguagem com a
necessidade do ser humano de viver em sociedade.
A respeito da segunda abordagem, Cunha (2011) refora as ideias de Leech
e nos diz que a linguagem concebida como um instrumento de interao social
(p. 157), na qual os fatores envolvidos na situao comunicativa, como o contexto, a
motivao e os usurios tambm podem ser abordados, e os textos so
relacionados s funes que desempenham na comunicao interpessoal (p. 158),
trabalhando com dados reais, olhando para o uso. Essa concepo de gramtica,
diferentemente do pensamento chomskyano, analisa a competncia vinculada ao
desempenho, que ir moldar os processos, os padres gramaticais.
Apesar de divergentes, ao considerar aspectos diferentes da linguagem,
Leech (1985) coloca que ambas possuem o seu valor de verdade e que seria
insensato negar tanto o fenmeno psicolgico quanto o fenmeno social.
Neste trabalho, devido ao nosso recorte de pesquisa, daremos nfase
abordagem funcionalista, utilizando a Lingustica de Corpus (ver captulo 3) como
metodologia e a pragmtica como base terica. Sobre esta ltima, falaremos com
mais detalhe a seguir.
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1.1. A PRAGMTICA
Campos (2008), ao iniciar seus escritos sobre questes metatericas
relacionadas pragmtica, define dois grandes momentos desta subteoria da
lingustica: o perodo clssico, no qual temos algumas obras que apontam para a
existncia da disciplina sem, no entanto, irem alm disso; e o moderno, no qual
vemos o florescer dos estudos pragmticos, com a busca de uma definio e de um
objeto de estudo para a mesma.
O novo olhar sobre a linguagem, ou a chamada reviravolta pragmtica,
inicia-se, segundo Oliveira (2001), com Wittgenstein II, cujo pensamento anti-
sistemtico, em oposio ao Wittgenstein de Tractatus Lgico-Philosophicus (2001)
a linguagem, para o primeiro Wittgenstein, era, de acordo com Spica (2009), a
totalidade das proposies, definidas como articuladas, portadora do sentido,
atravs da qual os pensamentos so expressos (percebe-se aqui um autor alinhado
com a lgica proposicional).
Opondo-se tradio de que h uma isomorfia entre realidade e linguagem:
porque h uma essncia comum a um determinado tipo de objetos que a palavra
pode design-los e assim aplicar-se a diferentes objetos que possuem essa
essncia (Oliveira, 2001, p. 120), Wittgenstein II contra uma teoria objetivista da
linguagem. A sua concepo de linguagem difere-se da concepo de Santo
Agostinho, que apresentada logo no incio de seu livro Investigaes Filosficas:
Se os adultos nomeassem algum objeto e, ao faz-lo, se voltassem para ele, eu percebia isto e compreendia que o objeto fora designado pelos sons que eles pronunciavam, pois eles queriam indic-lo. Mas deduzi isto dos seus gestos, a linguagem natural de todos os povos, e da linguagem que, por meio da mmica e dos jogos com os olhos, por meio dos movimentos dos membros e do som da voz, indica as sensaes da alma, quando esta deseja algo, ou se detm, ou se recusa ou foge. Assim, aprendi pouco a pouco a compreender quais coisas eram designadas pelas palavras que eu ouvia pronunciar repetidamente nos seus lugares determinados em frases diferentes. E quando habituara minha boca a esses signos, dava expresso aos meus desejos. (1)
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Para Wittgenstein II, nesta imagem da linguagem a palavra substitui o objeto,
sendo este conceito de significao a representao primitiva de maneira pela qual
a linguagem funciona (2)1, um sistema nominativo que no tudo aquilo que
chamamos de linguagem (3). Segundo o filsofo, pode-se chamar isso de
preparao para o uso de uma palavra (26) uma espcie de treinamento, que
caracteriza a fala de adultos com crianas, preparando para o uso de uma
linguagem que mais complexa. A linguagem , ento, parte de uma atividade ou
de uma forma de vida (23), de modo que no se pode separar pura e
simplesmente a considerao da linguagem da considerao do agir humano ou a
considerao do agir no pode mais ignorar a linguagem. (Oliveira, 2001, p.138)
Ainda sobre Wittgenstein, Armengaud (2006) destaca dois pontos centrais em
Investigaes Filosficas:
1) o pensamento e a linguagem vistos como indissociveis, que geram um ao
outro de maneira simultnea;
2) a linguagem no sendo mais algo privado, mas pblico, uma atividade
comunicativa controlada por regras de maneira pblica.
Utilizando a expresso metafrica jogos de linguagem, o filsofo descreve
este ambiente citando alguns exemplos: poder-se-ia dizer, ento, que um professor,
ao dar um comando para os alunos ou ir at o quadro negro para expor uma teoria,
realiza um jogo da linguagem, uma atividade, e faz com que as palavras adquiram
significado em seu uso. Uma vtima de assalto, ao descrever o carro dos bandidos e
os acontecimentos traumticos para a polcia, tambm realiza esta atividade, que
se realiza sempre em contextos de ao bem diversos e s pode ser compreendida
justamente a partir do horizonte contextual em que est inserida. (Oliveira, p. 138)
Assim, enfatizando a ao e o contexto, este modelo quebra o paradigma de
linguagem estabelecido pela semntica tradicional.
1 Os nmeros entre parnteses utilizados correspondem numerao utilizada no texto pelo autor ao explanar suas idias.
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Arajo (2004) coloca que o filsofo prope, no lugar de regras lgicas e
semnticas para construir proposies, simplesmente o uso da linguagem ordinria,
que tal como est, est em ordem. (Arajo, p. 100) Desta forma, satisfaz s
finalidades da compreenso lingustica praticada por nossas formas de vida.
(Arajo, p. 101)
Sai de cena, neste momento, a linguagem exata da lgica, das condies de
verdade proposta pela semntica formal e entra a anlise da linguagem em uso,
trazendo um novo olhar sobre a significao: A significao de uma palavra seu
uso na linguagem (43), diz Wittgenstein, que afirma que, ao usar determinadas
palavras, os filsofos devem se perguntar: essa palavra usada de fato desse
modo na lngua em que ela existe? (116)
Nesta nova era, cujo pontap inicial se deu com as novas observaes
wittgensteinianas, surgem tentativas de elaborao de um conceito para a
pragmtica, muitas com base no pensamento do filsofo e algumas inserindo novos
olhares ou dando maior nfase ao que j havia sido exposto.
A definio de pragmtica feita por Morris (1938), considerada a mais antiga,
diz que: a pragmtica a parte da semitica que trata da relao dos signos e dos
usurios dos signos. J conseguimos perceber, por esta conceituao de Morris,
uma tentativa de colocar o papel do usurio, to presente nas definies mais
atuais, como central.
Para Armengaud (2006), a pragmtica se apresenta na tentativa de responder
a certas perguntas, como por exemplo: Que dizemos exatamente quando falamos?
Como algum pode dizer uma coisa completamente diferente daquilo que queria
dizer? Quais so os usos da linguagem?. Percebemos aqui o papel da pragmtica
de ir alm do texto, embarcando, como veremos mais adiante, conceitos
extralingusticos. A autora tambm traz alguns pontos-chave com os quais a
pragmtica lida:
1) Conceito de ato: linguagem como ao. Falar agir;
2) Conceito de contexto: tudo o que preciso saber para entender e avaliar o
que dito;
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3) Conceito de desempenho: realizao do ato em contexto. Est
relacionado ao saber do falante (lingustico e comunicativo).
No conceito de ato e de contexto, percebemos a influncia do pensamento
wittgensteiniano. Armengaud inova com seu terceiro item, o desempenho, que de
outra forma ser abordado pela Teoria do Contexto de Van Dijk, sobre a qual
falaremos mais adiante.
Na viso de Huang (2007), a resposta para a pergunta o que pragmtica?
difcil de ser dada. Ainda assim, ele define pragmtica como estudo sistemtico
de significado em virtude de, ou dependente do uso da linguagem. O tpico central
do inqurito da pragmtica inclui implicatura, pressuposio, atos de fala e dixis.
(p.2 traduo nossa)
Se, de acordo com a perspectiva de Huang, a pragmtica, assim como a
semntica, tambm trata do significado, seriam estas subteorias autnomas ou se
sobreporiam? Huang chega concluso de que elas so inextricavelmente
entrelaadas de tal maneira que a fronteira entre elas no fcil de desenhar de
maneira clara e sistemtica. (p. 242 traduo nossa)
No nos deteremos na discusso de questes obscuras em relao aos
limites entre a pragmtica e a semntica, mas interessante perceber o quanto as
duas subteorias dialogam e, sob algumas perspectivas tericas, se complementam.
Retomando a questo do significado, Yule (1996), ao elaborar sua definio
de pragmtica, tambm coloca que a pragmtica ocupa-se do seu estudo.
Entretanto, ele acrescenta: significado como comunicado pelo falante (escritor) e
interpretado por um ouvinte (ou leitor). Segundo esta viso, que se difere dos
estudos mais tradicionais, a poro humana envolvida na linguagem tambm
considerada fundamental, assim como na definio de Morris.2
Alm do significado do falante, Yule (1996) apresenta outras trs reas com
as quais a pragmtica lida: i) o significado contextual, j que a interpretao daquilo
que as pessoas querem dizer acontece num determinado contexto que ir
2Lembramos que, no incio dos estudos lingusticos com Ferdinand de Saussure, o estudo da lngua, objeto de estudo da cincia que acabara de emergir, a Lingustica, era feito dentro da lngua, sem referncia ao contexto ou ao falante.
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influenciar o que dito; ii) o que determina a escolha do que ser dito/no-dito e iii) a
expresso de distncia pois, segundo ele, no pressuposto de quo perto ou distante
o ouvinte est, os falantes determinam o quanto precisa ser dito noo esta de
proximidade que pode ser tanto fsica e social quanto conceitual.
Das trs reas acima destacadas por Yule, o contexto de extrema
relevncia para a anlise que propomos fazer. Armengaud (2006) chega a coloc-lo
como um fator central que caracteriza a pragmtica e Moura (2000), em sua
abordagem do contexto e da relao com o significado e o sentido, coloca que o
esforo para a incorporao de elementos contextuais na significao reabre o
debate sobre os limites da semntica e da pragmtica, trazendo a oposio que
surge entre sentido e significado, na qual a situao (ou contexto) tem papel
relevante.
Adentrando um pouco mais na definio de contexto, Koch (2006) nos diz que
as concepes diferem consideravelmente de autor para autor e de acordo com a
poca. O contexto era visto, na primeira fase das pesquisas com o texto, como o
entorno verbal, ou seja, o co-texto. Esta concepo foi-se modificando com as
consideraes feitas pelos pragmticos, que colocavam tambm a necessidade de
anlise da situao de comunicao, dando a ela um papel importante (diramos
fundamental) na atribuio do sentido.
A noo de contexto, importante para a pragmtica, tambm basilar nos
trabalhos da Anlise Crtica do Discurso. De acordo com Van Dijk (2012), o discurso
no s o texto, mas o contexto. O falar composto no somente por
representaes lingusticas, mas tambm pela situao da comunicao. Sua Teoria
do Contexto baseia-se num modelo de contexto considerado um tipo de modelo
mental da situao (parte da memria episdica), na qual o falante seleciona aquilo
que mais relevante. Esses modelos mentais advm das experincias cotidianas e
precedem as aes dos indivduos (como falar, atuar etc.). O modelo do contexto
simples e tem por funo controlar o discurso que est sendo produzido, a fim de
que a comunicao seja feita de forma adequada.
Esta , segundo o autor, uma teoria egocntrica, baseada no eu, e
dinmica, pois considera as mudanas no tempo, no conhecimento e nas emoes.
Apesar de possuir uma parte cognitiva, Van Dijk considera este um modelo
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28
pragmtico, pois se trata da maneira como eu falo e considera que as diferenas
culturais criam diferentes modelos de contexto.
Para esta teoria, o falante lida com algumas categorias, cuja relevncia
depende de cada situao. Dentre essas categorias, podemos citar:
Noo de lugar local de onde os falantes se comunicam. necessria para
poder compreender diticos como aqui, l.
Noo de tempo falamos a expresso boa tarde normalmente em um
perodo do dia, por exemplo. Ou seja, para que a comunicao seja
adequada, o falante precisa ter essa noo de tempo, que servir para a
compreenso de palavras como agora, hoje, amanh e dos verbos da
lngua.
Representao dos participantes o participante central da teoria o eu,
aquele que fala, o self. o centro da interao do discurso.
Identidade a cada momento necessrio identificar as identidades
relevantes, o papel dos indivduos. Este definido na relao entre os
participantes, que possuem muitas identidades, mas que no representam
todas no mesmo momento. Ex: um indivduo pode ser pai, empregado, irmo
e filho e desempenhar um ou outro papel em diferentes momentos da vida e
do cotidiano.
Atos ou prticas sociais estes atos sociais relacionam-se com os Atos de
Fala. So tipos de atos sociais: dar uma palestra, discursar, ouvir.
Objetivo, inteno o qu se pretende com o ato social. Ao dar uma palestra,
por exemplo, meu objetivo pode ser o de educar.
Assim, ao adotarmos a perspectiva pragmtica e ao retomarmos alguns de
seus dos conceitos-chave, observamos que o nosso sujeito tem voz no discurso e
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29
se constitui na relao com o tu, com quem fala, o outro. Ele possui inteno ao
produzir um texto, ao se comunicar um papel, diramos, atuante. A compreenso,
ou seja, a produo do sentido, d-se atravs dos elementos lingusticos (sua
organizao e forma) e dos elementos envolvidos na situao de interlocuo,
constitutivos do contexto. A linguagem, por sua vez, vista de maneira concreta,
para fins de comunicao entre os usurios de dada lngua, comunicao esta que
se realiza atravs dos jogos de linguagem, como postulou o vanguardista
Wittgenstein II.
Essa nova viso da linguagem que surge com a virada pragmtica tornou-se
campo frtil para as ideias de Austin. A linguagem ativa um ato de fala. A
aproximao entre as ideias de Wittgenstein e Austin clara; distingue-se, segundo
Wetherell & Yates (2001), porque
Enquanto Wittgenstein fragmentou a linguagem em um grande nmero de jogos de linguagem que tendem a desafiar uma caracterizao geral precisa, o objetivo de Austin foi especificamente dar uma anlise geral, sistemtica desta linguagem ativa.
(Wetherell & Yates, 2001, p. 43 traduo nossa)
Falaremos mais a respeito da teoria dos Atos de Fala, da sistematizao da
linguagem em uso feita por Austin e, posteriormente, lapidada por Searle, no
subcaptulo seguinte.
1.2 ATOS DE FALA
A teoria dos Atos de Fala (do ingls, Speech Acts theory) de John Langshaw
Austin tem por base as conferncias proferidas por ele no ano de 1955, na
Universidade de Harvard (compiladas e publicadas em meados dos anos 60 no livro
How to do Things with Words). Ela foi posteriormente aprimorada por Searle, que
basicamente apresentou suas ideias no livro Speech Acts: an essay in the
philosophy of language e no artigo A Classification of Illocutionary Acts, publicado
no peridico Language in Society.
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Sobre a relao entre os filsofos, existem diferentes pontos de vistas dentro
da pragmtica: alguns estudiosos consideram que Searle no serviu apenas como
aprimorador das ideias inacabadas de Austin. Acreditam, inclusive, que se Austin
tivesse vivido mais, no teria chegado s mesmas concluses que Searle (ou sequer
teria modificado seu trabalho). J outros analisam sob o ponto de vista de um
discipulado, sendo Searle o representante oficial de seu mestre e, assim, obtendo
autoridade para aprimorar a teoria. Neste trabalho, apresentaremos a teoria como
apresentada por ambos, sem a tentativa de achar uma soluo para o quebra-
cabea criado por alguns estudiosos.
Voltando s ideias de Austin, considerando que o objeto de estudo no a
sentena, mas a produo de uma enunciao na situao de discurso (1975,
p.139), ele examina as enunciaes e constata que no possuem um carter
verdadeiro ou falso, no relatam ou constatam algo, mas executam uma ao.
Assim, a ideia central da sua teoria a de que ao falarmos, j realizamos uma ao
(sobre o mundo e sobre o outro).
Contrariando o pensamento de que a linguagem serve para referir, seu
trabalho traz linguagem um carter comunicativo. Austin comea, em suas
palestras, citando os casos em que ao se dizer algo, est se fazendo algo (os
chamados performativos). Para tal, ele utiliza alguns exemplos, como:
(a) Aceito (esta mulher como minha legtima esposa). do modo que
proferido no decurso de uma cerimnia de casamento.
(b) Batizo este navio com o nome de Rainha Elizabeth. quando proferido
ao quebrar-se a garrafa contra o casco do navio.
O autor coloca que estes exemplos deixam claro que as sentenas proferidas
no esto descrevendo a cerimnia de casamento nem mesmo a cerimnia de
batismo do navio. No so verdadeiras nem falsas; ao dizer estas palavras, estou
fazendo a ao: casando (mudando de estado civil) e nomeando um navio. A este
tipo de sentena chamamos sentena performativa, advinda do ingls to perform,
verbo que indica ao.
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31
Ao falarmos de sentenas performativas, devemos nos lembrar de que o
objeto de estudo em questo a produo de uma enunciao, como j
anteriormente colocado. Assim, sempre necessrio que as circunstncias nas
quais as palavras so proferidas deveriam ser de algum modo, ou modos,
apropriadas... (p. 8), ou seja, no caso de um casamento, necessrio que a pessoa
que est casando (no caso de um casamento cristo) no seja casada, por exemplo.
H casos em que um performativo sai errado, fracassa: neste caso, a
sentena, ao invs de ser falsa, chamada de infeliz. Austin coloca seis regras
que no podem ser transgredidas para o sucesso da ao. No nos deteremos na
explicao destas, j que visamos apresentar de maneira concisa sua teoria; basta-
nos saber que o ato no se realiza.
Retomando o exemplo anterior, a pessoa que conduz a cerimnia de
casamento deve ter autoridade para faz-la, assim como aquele que batiza o navio;
caso contrrio, a cerimnia no ter seu valor reconhecido; como coloca Austin na
segunda regra: As pessoas e circunstncias particulares em cada caso devem ser
adequadas ao procedimento especfico invocado. (A. 2) (p. 15 traduo nossa)
Vale esclarecer que, para Austin, os performativos no so apenas aqueles
verbos formados na primeira pessoa do singular no tempo presente do indicativo, na
forma afirmativa e na voz ativa. Ele acrescenta verbos na segunda e terceira
pessoas, na voz ativa e passiva. O filsofo mostra quais so os possveis
performativos e como alguns verbos (performativos explcitos), como aposto,
duvido, declaro, no necessitam de complemento para serem identificados como
tais.
Portanto, ele defender que no h um juzo crtico (critrio gramatical ou de
vocabulrio) que seja capaz de definir com exatido todos os possveis
performativos, no existe um critrio gramatical que consiga distingui-los de maneira
precisa. Desta forma, Austin procura mostrar como dizer algo equivale a fazer
algo. Ele expe que, quando cometo o ato de dizer algo, estou automaticamente
fazendo algo ou participando de algo. partindo dessa idia que ele apresenta os
atos locucionrios, ilocucionrios e perlocucionrios.
Quando profiro uma frase respeitando as regras gramaticais e que tenha um
sentido, estou realizando um ato locucionrio. Se, ao proferir uma frase, ela resultar
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no sentido de fazer aquilo que digo (quando prometo, estou afirmando que farei o
combinado, por exemplo), a frase tem uma fora que ela prpria significa a
realizao de um ato ou parte dele, ou seja, um ato ilocucionrio. Os atos
perlocucionrios so definidos como sendo o ato de, ao proferir determinada frase,
obter certos resultados (convencer, persuadir, impedir) que iro alm da linguagem e
se realizam apenas se certos resultados forem obtidos.
Retornando aos atos ilocucionrios, estes possuem uma fora, chamada de
fora ilocucionria, que os divide em cinco grupos:
Vereditivos: dar veredito.
Exercitivos: exerccio de poder, influncia.
Comissivos: prometer, ou assumir algo de maneira que se comprometa.
Comportamentais: relacionado a atitudes e comportamentos sociais.
Expositivos: Usado para ilustrar como o proferimento adqua a uma
argumentao (expe).
Searle, ao retomar as idias de Austin, percebeu que ainda existiam algumas
lacunas que Austin, em seu estudo, no fora capaz de preencher.
Assim, dando continuidade s ideias de Austin, em 1976, o filsofo americano
John R. Searle lana o livro Speech Acts: an essay in the philosophy of language
(1976). Logo no incio da obra, Searle lana a hiptese com a qual trabalhar
durante todo seu livro: falar uma lngua um tipo de comportamento intencional
governado por regras, regras estas de uso dos elementos lingusticos; falar uma
lngua performar atos de fala, que so considerados as unidades bsicas ou
mnimas da comunicao (1976, p. 16).
Ao tratar, ento, da comunicao, Searle coloca alguns conceitos utilizados
pela pragmtica, como o usurio/falante que produz a mensagem, o ato
comunicativo e a inteno deste falante ao produzir tal mensagem. Seguindo suas
explicaes, Searle fala de regras e encontra Wittgenstein, para quem a
linguagem, nas palavras de Lycan (2001)
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33
no uma questo de marcas no quadro-negro que levam a relao expressa a entidades abstratas chamadas de "proposies"; linguagem algo que as pessoas fazem, e fazer de uma forma altamente governada por regras de maneira convencional. A atividade lingustica regida por regras da mesma forma que jogar um jogo regido por regras. (Lycan, 2001, p. 91 traduo nossa)
O filsofo alemo nos mostra a sua viso de linguagem como ao - ideia
tambm defendida por Searle (e Austin) - ele coloca a linguagem, ou em suas
palavras, a teoria da linguagem, dentro da teoria da ao.
Searle prossegue trazendo de volta a dicotomia saussuriana de lngua X fala
para explicar que sua abordagem uma abordagem de fala, que, segundo o mestre
genebrino, um ato individual de vontade e inteligncia (Saussure, 2012, p. 45);
sua importncia nos estudos do mestre nos mostra que a fala constitui a lngua
o objeto da Lingustica (Silveira, p. 50).
Searle no v os trabalhos de Wittgenstein (Tractatus Logico-Philosophicus e
Investigaes Filosficas) como contrrios, j que, segundo ele, o estudo do
significado e dos atos de fala so complementares. Para ele, o estudo do
significado das sentenas no distinto do estudo dos atos de fala (1976, p. 18
traduo nossa). So somente diferentes vises, tendo em vista que cada ato de
fala pode ser, em princpio, formulado em uma sentena e cada sentena pode ser
usada para produzir um ato de fala.
Atravs desta relao sentena - atos de fala emerge o princpio da
expressibilidade, segundo o qual, em princpio, possvel ser capaz de dizer
exatamente aquilo que quero significar isto se difere ao efeito que o usurio
pretende obter em seu ouvinte ao dizer X coisa, ou seja, da inteno do falante,
como alertar, fazer um pedido, pedir desculpas etc.
Analisemos a seguinte sentena:
a) meio-dia.
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Esta sentena descreve um momento, uma situao. Poderia ser usada, por
exemplo, na descrio de algum quadro pintado por algum artista, no qual vemos
uma famlia sentada mesa e um relgio na parede que marca meio-dia.
b) A famlia est toda reunida, o almoo est servido, meio-dia.
Porm, este tipo de situao, na qual apenas descrevemos um momento,
bastante limitado. Como ato ilocucionrio, a sentena pode ser, dependendo do
contexto, um convite ( meio-dia, vamos almoar?), um pedido ( meio dia, hora
de silncio, poderias parar com o barulho?), pode ser uma justificativa ( meio-dia,
j trabalhei 4 horas, preciso de um descanso.) e inmeros outros exemplos de ao
atravs do uso da lngua.
Desta forma, compreendemos o que Searle quer nos dizer quando, segundo
ele, o estudo do significado no se limita somente ao estudo semntico. O
enunciado lingustico um ato de fala, ou seja, a realizao do enunciado em forma
de ordem, promessa, agradecimento etc., que pode ser linguisticamente de forma
explcita ou no. Vejamos os exemplos:
c) Prometo que irei estudar.
d) Lamento pela morte de seu irmo.
e) Juro que no quebrei o vaso, me.
(c1) Prometi no ano passado que iria estudar.
(d1) Pedro lamentou muito a sada de seu amigo da escola.
(e1) Minha filha jurou que no compraria mais roupas.
Nas sentenas (c), (d) e (e) ato de prometer, lamentar e jurar acontece na
enunciao da sentena. Elas se diferem de (c1), (d1) e (e1).
Searle retoma as ideias de Austin e apresenta os trs tipos de atos de fala:
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a) Ato locucionrio o dizer algo, ou seja, os enunciados.
b) Ato ilocucionrio enunciados que possuem valor convencional, ou seja,
por meio deles pergunta-se, agradece-se etc.
c) Ato perlocucionrio o efeito que o ato produz no ouvinte.
Para Searle, a unidade fundamental da comunicao humana (em termos
lingusticos) o ato de fala. Como exposto acima, j vimos, os atos de fala se
subdividem em 3 grandes categorias. Como base para a anlise dos advrbios,
focalizar-nos-emos na apresentao dos atos ilocucionrios.
Existem algumas dimenses que podem ser significativas para explicar a
variao entre os diferentes atos ilocucionrios. Deter-nos-emos na apresentao
das trs consideradas por Searle as mais importantes e essenciais na construo da
sua taxonomia. A primeira delas a diferena entre propsito e fora.
O propsito parte, no o mesmo que fora ilocucionria. Pedir e
mandar possuem o mesmo propsito: que o ouvinte faa determinada coisa.
Entretanto, as foras so distintas. A fora resulta do somatrio de diferentes
elementos, dos quais um deles o propsito.
Searle ainda coloca que algumas situaes tm como parte de seu propsito
o que ele chama de direo apropriada. Para explicar este termo, ele utiliza o
exemplo da lista de supermercado.
No exemplo trazido por Anscombe (1957) e utilizado por Searle, um homem
vai ao supermercado com uma lista de compras dada por sua esposa. Na lista,
esto escritas as palavras feijo, margarina, bacon e po. Suponhamos que ele
ande pelo estabelecimento selecionando os itens sendo seguido por um detetive,
que faz anotaes de tudo o que ele pega das prateleiras. Ao sarem do local,
ambos tero uma lista idntica; porm, com funes distintas. No caso da lista de
compras do homem, o propsito fazer com que o mundo se iguale s palavras.
J no caso do detetive, o propsito fazer com que as suas aes se encaixem na
lista, num sentido inverso. Se o detetive, por acaso, se enganar e escrever na lista
um item errado (costeletas de porco ao invs de bacon, por exemplo), poder
posteriormente apag-lo e escrever o item correto. J se o homem chegar a casa e
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sua mulher mostrar-lhe que ele trouxe costeletas de porco no lugar do bacon, ele
no poder simplesmente apagar a palavra para desfazer o erro.
Percebemos, ento, a relao entre o contedo proposicional (no caso, a lista
de compras) e a fora ilocucionria, ou seja, aquilo que determina como, de que
maneira, o contedo deve relacionar-se com o mundo. Esta relao contedo-
mundo chamada de direo apropriada e foi classificada de duas formas: palavras-
para-o-mundo (representada por ), mundo-para-as-palavras (cuja representao
). Em cada uma destas categorias, podemos enquadrar pedidos, promessas,
explicaes, descries etc.
Por ltimo, h o estado psicolgico, que advm da execuo de um ato
ilocucionrio: ao express-lo, o falante demonstra algum tipo de atitude ou estado
em relao ao contedo proposicional, como, por exemplo, prometer, acreditar, etc.
Searle chama a ateno para o fato de que, ao menos na primeira pessoa,
inaceitvel que algum diga Eu afirmo que p, mas no acredito em p. Este estado
psicolgico chamado de condio de sinceridade.
Para melhor compreendermos este conceito, na tabela abaixo, podemos
visualizar alguns tipos de atos ilocucionrios, os contedos proposicionais e as
condies de sinceridade de cada um.
Quadro 1 - Tipos de atos ilocucionrios
Atos ilocucionrios
Pedido Afirmao Agradecimento Aconselhamento
Contedo
Proposicional
Ao futura do
ouvinte.
Qualquer
proposio p.
Ao passada
feita pelo ouvinte.
Ao futura do
ouvinte.
Condio de
Sinceridade
O falante quer
que o ouvinte
faa a ao.
O falante
acredita em P.
O falante sente-se
grato pela ou
aprecia a ao.
O falante acredita
que a ao
beneficiar o
ouvinte.
Fonte: Adaptada de SEARLE (1976, p. 66-67)
Observamos que, dos quatro tipos de atos ilocucionrios, um bastante
utilizado no registro acadmico: a afirmao. Ao dissertar sobre determinado
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assunto, o autor frequentemente afirma algo, ainda que no mundo cientfico as
respostas para as hipteses levantadas no possam ser tomadas como verdades
absolutas. Em relao a qualquer proposio p, como visto na tabela, o falante
possui uma crena. Neves (2011), ao dissertar a respeito de modalizao, coloca os
advrbios de posicionamento dentro da categoria de palavras que modalizam a
proposio, ou seja, apresentando crena, levantando hipteses e pontos de vista a
respeito - estudo este que ser apresentado mais adiante (ver seo 2.4.2.); por
hora, interessante perceber que as ideias de Searle possuem pontos em comum
com as anlises lingusticas dos advrbios que sero apresentadas neste trabalho.
Retomando a classificao de Austin para lapid-la, Searle coloca, a
respeito dos verbos citados por Austin, que a primeira coisa a notar nestas listas
que elas no so classificaes de atos ilocucionrios, mas de verbos ilocucionrios
do ingls. (p. 8 traduo nossa) O filsofo acrescenta que nem todos os verbos
listados so verbos ilocucionrios e, em algumas categorias, os verbos so de tipos
diferentes. Tambm no h princpios consistentes sobre os quais a taxonomia est
ancorada o que gera uma mistura de categorias, criando certa heterogeneidade.
Para tentar esclarecer estes pontos, ele apresenta uma alternativa, utilizando como
base para a sustentao de sua classificao alguns pontos j apresentados nesta
dissertao: propsito ilocucionrio, direo apropriada e condio de sinceridade.
Vejamos a classificao searliana:
Quadro 2 Classificao de Searle dos atos de fala
Ato de Fala Propsito Direo
Apropriada
Condio
de
Sinceridade
Exemplos
Representativos Atos que comprometem
o falante com a verdade
da proposio expressa.
Acreditar
(que p).
Reclamar,
concluir,
deduzir.
Diretivos So tentativas (convites,
sugestes) do falante de
fazer com que o ouvinte
faa determinada coisa.
Quero
(ou desejo)
Pedir,
implorar,
convidar.
Comissivos Atos que comprometem Inteno Prometer,
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o falante com alguma
ao futura.
planejar,
apostar.
Expressivos Expressam o estado
psicolgico especificado
na condio de
sinceridade sobre um
estado de coisa
especificado no
contedo proposicional.
(P)
Varivel para
possveis
estados
psicolgicos.
Agradecer,
dar as boas-
vindas,
desculpar-
se.
Declarativos O sucesso na execuo
traz a correspondncia
entre o contedo
proposicional e a
realidade, garante que o
contedo proposicional
corresponda ao mundo.
__
Fonte: O autor (2014) (baseado em SEARLE, J. R. 1976)
Observando a tabela acima, com base nas idias apresentadas por Searle
(1976), podemos destacar alguns pontos interessantes. Primeiramente, ao debater
os exemplos dos atos representativos, Searle coloca que reclamar relaciona-se
com o interesse do falante, diferentemente de concluir, que est relacionado com o
resto/contexto do enunciado ou do discurso. So exemplos de atos ilocucionrios
que possuem o mesmo propsito (comprometer o falante com a verdade da
proposio), mas que possuem foras ilocucionrias diferentes.
Em segundo lugar, h a similaridade entre os atos diretivos e comissivos:
Searle optou por separ-los em dois grupos distintos, apesar das semelhanas
(mesma direo apropriada e propsitos similares fazer a ao X). Entretanto,
nos atos comissivos, o falante compromete-se com alguma ao futura (exemplo:
Prometo que no irei dormir durante a aula de amanh.), diferenciando-se dos atos
diretivos, nos quais o propsito fazer com que o ouvinte faa determinada coisa,
como por exemplo, um funcionrio pedir para seu chefe um aumento de salrio.
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Os dois ltimos atos ilocucionrios tambm possuem pontos interessantes a
serem apresentados. Nos atos expressivos, observamos que a direo apropriada
nula; isto porque a verdade da proposio pressuposta; para finalizar, relembrando
os atos performativos apresentados por Austin, temos os atos ilocucionrios
declarativos, como Voc est demitido, no qual o dizer com sucesso traz
realidade as palavras, faz a ao.
Dentre os cinco tipos de atos de fala apresentados, aquele que mais se
enquadra no perfil dos textos analisados o representativo. Retomando a idia j
exposta nesta seo, textos acadmicos como resenhas, artigos, monografias etc.
possuem como caracterstica em comum o comprometimento do falante com as
idias por ele expressas. Utilizando os exemplos dados por Searle, em uma resenha
crtica, por exemplo, o falante pode reclamar a respeito de um assunto de
determinado livro que no foi bem explorado, ou poder fazer dedues (deduzir),
em um artigo cientfico, a partir dos resultados obtidos em algum experimento
laboratorial, por exemplo.
Este aprofundamento da teoria dos Atos de Fala estimula o linguista a olhar
mais a fundo a linguagem produzida por certo falante num determinado contexto,
considerando variveis at ento impensadas. A relao que o falante estabelece
com a linguagem e a apropriao que ele faz desta traz tona a forte ligao entre
ao e linguagem, reascendendo discusses sobre a (im)possvel neutralidade no
enunciado, carregado de intenes.
Este um dos tpicos que veremos no captulo seguinte, que tambm
descrever a linguagem acadmica, apresentando suas peculiaridades, alm de
tratar da relao advrbios-posicionamento.
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2 LINGUAGEM ACADMICA, POSICIONAMENTO E ADVRBIOS
Este captulo est estruturado da seguinte forma: no primeiro subcaptulo,
falaremos a respeito da linguagem acadmica. Aps, trataremos do portugus como
lngua adicional em contexto nacional e mundial - e do posicionamento em
linguagem acadmica; por fim, dissertaremos acerca dos advrbios e da sua relao
com o posicionamento.
2.1 LINGUAGEM ACADMICA
A linguagem acadmica poderia ser definida, com base na definio
apresentada por Jordan (1997) de ingls para propsitos acadmicos (EAP, sigla
em ingls), como as habilidades de comunicao requeridas para o estudo em
sistemas formais de educao. Em outras palavras, o tipo de linguagem utilizada
no ambiente acadmico e para qual se espera que o aluno tenha competncia. Esta
pode ser tanto escrita (como, por exemplo, os textos utilizados em aula, provas,
trabalhos escritos produzidos por alunos tais como ensaios, teses e artigos) como
falada (o discurso do professor, trabalhos orais apresentados por alunos
comunicaes individuais, apresentao de psteres).
Figura 1 - Posio do portugus acadmico no panorama lingstico
Fonte: O autor (2014) (baseada em Jordan, 1997).
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41
A figura anterior nos mostra a posio que o portugus acadmico (PA)
ocupa dentro de um panorama lingustico. Temos a lngua portuguesa de maneira
geral, com seus propsitos gerais e sociais, e a diviso das habilidades lingusticas,
e o portugus acadmico dentro de propsitos especficos, cujos propsitos so
divididos em especficos (so citadas as diferentes reas acadmicas que o
utilizam) e os gerais, como seminrios, discusses etc.
Ao ingressar em um ambiente acadmico, os alunos precisam aprender o
cdigo acadmico (Jordan, 1997), o que envolve, segundo o autor,
um nmero de elementos, dependendo do nvel de educao, isto , graduao, ps-graduao, pesquisa, etc. Pode incluir adaptao a um novo sistema acadmico, dentro de ambiente cultural, que possui suas prprias convenes. Pode tambm envolver observar a natureza das relaes entre o pessoal acadmico e estudantes e entre os prprios estudantes. Essas relaes envolvem atitudes e expectativas, algumas das quais so expressas pela linguagem.
(p. 6 - traduo nossa)
Se compararmos, ento, a linguagem acadmica com a linguagem diria
utilizada pelos falantes de determinada lngua, veramos que a utilizao de grias e
expresses coloquiais, por exemplo, no so caractersticas usuais da linguagem
acadmica, que tende a possuir um nvel de vocabulrio e de estruturas gramaticais
mais formais.
Esta diferena entre as variantes de uma mesma lngua gera, muitas vezes,
problemas para alunos novatos, ainda no habituados com o novo mundo
acadmico, e para estudantes intercambistas especialmente aqueles que migram
para um pas no qual no lhes exigido uma proficincia em linguagem acadmica
a ttulo de exemplificao, a maioria das universidades americanas exigem que
alunos estrangeiros faam o exame de proficincia TOEFL (Test of English as a
Foreign Language), o que no ocorre no Brasil, que no possui um exame deste
tipo.
As variveis includas na aprendizagem de PLA so muitas, e estas nem
sempre esto relacionadas linguagem (Jordan, 1997). Os estudantes tm a
possibilidade tanto de comear seus estudos em pases que possuem a lngua
-
42
estudada como lngua oficial (como, por exemplo, aqueles intercambistas que
iniciam o estudo de portugus em universidades brasileiras), como em seus pases
de origem. As razes para o estudo variam, podendo a lngua em questo ser um
pr-requisito para o ingresso em programas de universidades. Os professores
podem ser falantes nativos ou no. A durao dos cursos bastante varivel:
durao de um semestre inteiro ou meio semestre, em perodo integral ou parcial
etc.
Em relao ao material didtico utilizado no PLA, considerando que o
aumento no interesse pelo estudo do mesmo recente (falaremos mais a respeito
no captulo seguinte), o material disponvel no apresenta grandes variaes,
voltando-se para o ensino do portugus cotidiano. Ao ensinar ao aluno as estruturas
gramaticais mais comuns do idioma em tpicos variados, como turismo e esportes,
utilizam para tal ferramentas como a leitura de charges, piadas e outros textos afins,
que se diferenciam da maioria dos recursos utilizados em uma sala de aula de uma
universidade.
A respeito da presena do autor em linguagem acadmica, Flttum, Gedde-
Dahl e Kinn (2006) colocam que gneros como o artigo cientfico, assim como outros
similares, "tm constantemente sido considerados como relativamente objetivos e
impessoais, exibindo poucos traos do pesquisador" (p. 67), e que nas ltimas
dcadas expresses que indicam a presena do autor foram o centro das atenes
de inmeras pesquisas em LA, especialmente os pronomes, foco da investigao
destes autores, cuja pergunta-chave da pesquisa era: como autores de artigos se
manifestam nos textos, mostrando-nos a pertinncia de mais estudos na rea tendo
o portugus como lngua de estudo.
Nesta seo, vimos algumas das caractersticas que caracterizam a
linguagem acadmica e o PLA, recente como foco de estudo. Os fatores que
atuaram na promoo da lngua portuguesa pelo mundo, bem como alguns dados
atuais sobre o ensino desta no Brasil e em outros pases sero vistos no prximo
subcaptulo.
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43
2.2 PORTUGUS COMO LNGUA ADICIONAL
O Brasil e consequentemente, o portugus - tem atrado os olhares do
mundo medida que o pas avana em termos polticos e socioeconmicos.
Atualmente, a lngua portuguesa possui cerca de 205 milhes de falantes
(ALBUQUERQUE E ESPERANA, 2010, p. 4) e a quarta lngua mais falada como
lngua adicional (LA)3. O ensino e a aprendizagem de portugus como LA ganhou
destaque nos ltimos anos e tem sido tema de diversas pesquisas lingusticas.
O visvel crescimento econmico do Brasil, com destaque para o maior
crescimento do pas dos ltimos 25 anos ocorrido em 2010 e o crescimento do PIB
(Produto Interno Bruto) em 2013 em 2,5%4, uma das causas da valorizao da
lngua portuguesa no cenrio mundial.
O exame Celpe - Brs, certificado de proficincia de lngua portuguesa para
estrangeiros, reconhecido oficialmente pelo governo brasileiro, teve o dobro do
nmero de inscritos nos ltimos 10 anos - no ano 2000, foram 1.155 candidatos
inscritos. J em 2010, este nmero passou para 6.139. (FOREQUE, 2011).
Alm disso, observa-se um aumento na procura por cursos de PLA fora e
dentro do pas. Na Universidade de Harvard, o nmero de alunos matriculados em
portugus subiu 150% nos ltimos 10 anos5 e no IBEC (Instituto Brasileiro-
3 Pesquisadores tm optado pela utilizao do termo lngua adicional (LA) em detrimento de lngua estrangeira (LE). A respeito da diferena entre eles, Stern (1983, apud Perna; Yuqi, 2012) coloca que falantes de uma lngua adicional (L2) so aqueles que so proficientes em uma lngua no nativa, em um territrio onde esta lngua falada como L1 e possui status sociopoltico. Podemos citar como exemplo estudantes universitrios brasileiros falantes nativos de portugus (L1), atualmente residentes em algum pas de lngua inglesa, cursando uma ps-graduao portanto, proficientes em lngua inglesa (L2). J o termo LE se refere a aprendizes de lngua dentro de uma comunidade na qual esta lngua no possui status sociopoltico. Como exemplo, estudantes brasileiros residentes no Brasil que estudam francs em algum curso livre. Assim, aprendizes de lngua portuguesa que vem para o Brasil estudar a lngua portuguesa so considerados estudantes de portugus como lngua adicional (LA), termo que ser amplamente utilizado nesta dissertao. 4 Dado apresentado pelo FMI (Fundo Monetrio Internacional) conforme matria vinculada no site BBC Brasil em 08 de outubro de 2013: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/10/131008_fmi_brasil_dg.shtml. 5 Notcia do Jornal da Globo de 23 de junho de 2011: http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2011/06/alunos-de-harvard-vem-ao-brasil-para-aprender-portugues.html
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Equatoriano de Cultura) o nmero de inscritos nos cursos PLA subiu de 533 no ano
de 2002 para 3.184 em 20126.
Segundo uma pesquisa da Modern Language Association (Furman, Goldberg,
& Lusin, 2010), realizada desde 1958 nOs Estados Unidos e atualizada em 2009,
com 99% dos cursos de graduao e ps-graduao americanos que oferecem
cursos de lnguas (2.514 instituies), o crescimento no nmero de matriculados em
cursos de portugus cresceu, de 2006 para 2009, mais de 10,8%, ganhando posio
de destaque.
O mapa a seguir nos mostra a distribuio dos locais de ensino de portugus
e portugus crioulo7 pelo pas, com maior concentrao nas regies Sudeste,
Nordeste e Sudoeste, como nos mostram as reas mais escuras.
6Apresentao intitulada A Lngua Portuguesa no IBEC: uma demanda crescente apresentada por Ktia Salvado na mesa-redonda I Prticas de ensino e de formao de professores nos Centros e Institutos Culturais Brasileiros no exterior no 1 SINEPLA, Porto Alegre, 2012. 7 A respeito do portugus crioulo, a pesquisa no oferece um conceito, limita-se a apresentar dados estatsticos.
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Figura 2 - Locais de ensino de portugus e portugus crioulo nOs Estados
Unidos
Fonte: MLA (Furman, Goldberg, & Lusin, 2010) (traduo nossa)
J no Brasil, no incio de 2013, a Pontifcia Universidade Catlica do Rio
Grande do Sul (PUCRS) ofereceu aos alunos de graduao e ps-graduao da
Universidade de Harvard um curso de duas semanas de PLA e servios sociais,
num total de 40 horas de estudos formais da lngua e 40 horas de servios
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voluntrios8 a PUCRS vivencia um crescimento exponencial no nmero de alunos
estrangeiros, que atualmente est em torno de 60 nos cursos de graduao e ps-
graduao. Alm disso, outras universidades, inclusive federais, como a
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), criaram cursos de extenso de PLA
a fim de suprir esta crescente demanda, que se fortaleceu com o aumento do
nmero de acordos governamentais entre o Brasil e demais blocos econmicos.
Tendo em vista essa valorizao, observamos a necessidade de criao de
um exame de proficincia especfico, a fim de avaliar a proficincia destes alunos
em nvel de registro acadmico9. Este, ao contrrio do exame Celpe-Bras10,
enfocaria somente a lngua acadmica, necessria para que estes alunos, a fim de
conseguir resultados satisfatrios em seus cursos, tenham boas habilidades
lingusticas, principalmente em termos de leitura e escrita. Assim, atravs da criao,
processamento e anlise de corpora, visamos obteno de padres que nos
possibilitem no futuro no somente a criao de um exame, mas a colaborao para
o crescimento do ensino de PLA, estimulando mais pesquisas na rea,
especialmente no que diz respeito ao posicionamento do falante, tpico que vem
ganhando espao na pesquisa acadmica e que ser discutido a seguir.
2.3 POSICIONAMENTO EM LINGUAGEM ACADMICA
O posicionamento do falante, segundo Biber (1999) e Barton (1993), feito
atravs de mecanismos lingusticos que expressam sentimentos e avaliaes do
autor/falante. Chamados tambm de avaliao (Huston, 1994) e intensidade
(Labov, 1984), entre outras denominaes, o posicionamento tem chamado a
8 Informaes extradas de; http://www3.pucrs.br/portal/page/portal/pucrs/Capa/AdministracaoSuperior/aaii/aaiiEnglishSite/aaiiPUCRSHarvard 9 Registro, segundo Biber (2006), refere-se a um tipo geral de linguagem associado com um domnio de uso, focado em caractersticas lexico-gramaticais, diferentemente de gnero, que tem sido usado para se referir a um tipo de mensagem reconhecido culturalmente com uma estrutural interna convencional, focado em aes socioculturais. Tendo em vista os objetivos deste trabalho, optamos por utilizar o termo registro. 10 O exame Celpe-Bras (BRASIL, 2006) descrito como um exame de natureza comunicativa. A proficincia do candidato medida atravs de tarefas que envolvem gneros em textos escritos e falados, tais como reportagem, quadrinhos, horscopo, entrevistas, noticirios, novelas etc., no tendo como enfoque a linguagem acadmica.
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ateno de linguistas, principalmente de estudiosos de registros acadmicos, tendo
em vista que a linguagem acadmica muitas vezes vista como factual e impessoal.
De acordo com Biber (2006, p. 88 traduo nossa), advrbios de
posicionamento expressam a atitude ou a avaliao do falante/escritor em respeito
proposio contida na orao principal.
Observemos o exemplo a seguir retirado de Biber:
a) Infelizmente [nossos planos no deram certo].
O advrbio infelizmente refere-se a nossos planos no deram certo, que
a orao principal, que contm a proposio. Este advrbio releva a atitude do
falante perante a proposio.
Dentre os tipos de posicionamento, o falante pode se expressar de diversas
formas, conforme vemos na figura abaixo:
Figura 3 - Expresses de posicionamento de acordo com Biber (2006) (traduo
nossa)
Fonte: O autor (2014)
Observamos, na figura, que h 3 tipos de posicionamento: o gramatical, o
lexical e a marcao paralingustica.
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O posicionamento gramatical diz respeito expresso de posicionamento em
relao a alguma proposio11. No exemplo abaixo, os advrbios mostram a atitude
do falante em relao ao contedo proposicional, sublinhado na frase:
b) Eu duvido que voc consiga realizar a prova em menos de 3h.
A orao "Eu duvido" refere-se a "voc consiga realizar a prova em menos de
3h" (orao principal), da mesma maneira que infelizmente, no exemplo anterior a
este, refere-se a nossos planos no deram certo.
Este tipo de posicionamento difere do realizado em uma frase como eu amo
bolo", na qual o falante est fazendo um julgamento em relao ao bolo, que advm
do uso de uma palavra, um item lexical (no caso, amo, do verbo amar conjugado
na primeira pessoa do singular do presente do indicativo). Adjetivos como bom e
pssimo, por exemplo, tambm so exemplos do posicionamento que chamamos
de lexical. Vejamos:
c) O enredo desta novela pssimo!
d) Este filme bom!
Nas palavras de Biber, no h nada na estrutura gramatical destas
expresses que mostrem que elas marcam posicionamento" (2006, p. 89), ou seja,
depender do contexto e do conhecimento compartilhado para o falante perceb-lo.
O terceiro tipo de posicionamento, chamado marcaes paralingusticas,
envolve tanto elementos lingusticos quanto elementos no-lingusticos. Na fala, por
exemplo, temos o tom, a intensidade e a durao; na escrita, recursos como itlico,
negrito, sublinhado servem como sinalizao para o leitor/ouvinte que o autor deixa
seu eu no texto, chamando a ateno para algum aspecto. Estas marcaes
podem ser acompanhadas por indicadores como posio do corpo, expresses
faciais e gestos, elementos no-lingusticos.
11 De acordo com Wittgenstein (2001), a proposio a expresso, exterior ou no, de um pensamento; e um pensamento sempre uma proposio com sentido. (p. 75)
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Em relao aos dois ltimos tipos apresentados, posicionamento lexical e
marcaes paralingusticas, para Biber estes so menos explcitos e no
expressam abertamente um quadro avaliativo para alguma outra proposio. (2006,
p. 90)
Adentrando no tipo gramatical, chegamos ao nosso objeto de estudo, os
advrbios. Como nos mostra a figura 3, eles so divididos em epistmicos,
atitudinais e de estilo/perspectiva.
Em seus estudos, ao contrastar a frequncia de advrbios de posicionamento
em textos orais e escritos, Biber (2006) escreve que h um nmero maior destes
advrbios em registros de fala. Dentre os tipos adverbiais, ganha destaque os
advrbios epistmicos, como aqueles que expressam certeza e possibilidade; j os
advrbios de estilo so considerados relativamente raros (assim como os de
atitude), sendo encontrados mais em registros escritos.
Na figura abaixo, podemos ver o contraste entre os registros e os diferentes
tipos de advrbios encontrados, de acordo com sua classe semntica.
Figura 4 Classes semnticas dos advrbios de posicionamento em diferentes
registros
Fonte: Biber (2006)
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Salientamos que Biber no nos apresenta os conceitos para os tipos de
advrbio de forma satisfatria e, tampouco, quais foram seus critrios de
classificao. O autor somente coloca uma lista de advrbios para cada categoria.
Observemos o quadro abaixo, extrado de Biber et al. (1999) com a classificao dos
advrbios e locues adverbiais do ingls acadmico:
Quadro 3 - Classificao dos advrbios (nica palavra) do ingls acadmico
Fonte: Biber et al. (1999) (traduo nossa)
Vale ressaltar que esta uma diviso feita por Biber, podendo outros autores
subdividir os advrbios de posicionamento em categorias diferentes. Decidimos, a
fim de aprimorar a classificao do autor, trazer estudos que conceituassem melhor
as diferentes categorias.
Abordaremos, no captulo seguinte, a classificao dos advrbios dada por
Ilari (2007), que alm de ter maior consistncia terica, trabalhou com um corpus da
lngua portuguesa - ainda que no especificamente com a linguagem acadmica - e
o conceito de modalizao advindo da Lingustica Textual.
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Alm de Biber, outros estudiosos perceberem a presena de elementos
avaliativos em textos acadmicos. No Brasil, Motta-Roth e Hendges (2010)
analisaram os gneros acadmicos produzidos na universidade e seus objetivos.
Ainda que sob uma perspectiva diferente, a avaliao feita pelos advrbios ganhou
destaque.
Ao analisar o artigo, um dos gneros textuais com o qual trabalhamos nesta
pesquisa, as autoras colocam que este um dos gneros mais utilizados para a
difuso do conhecimento, pela sua extenso (10 a 20 pginas, em geral), facilitando
a leitura, e relevncia, contendo referncias e dados atualizados. O autor de artigos
geralmente inclui, dentre os tpicos apresentados, uma discusso de trabalhos
anteriores e dos resultados obtidos com a sua pesquisa. neste olhar feito pelo
autor frente a resultados anteriores ou atuais, presente tambm em monografias e
dissertaes, que o aluno/professor tenderia a utilizar com mais frequncia o
posicionamento. Como colocado na seo "Caractersticas lingusticas da seo de
resultados e discusso" (p. 140),
interessante notar que na discusso dos dados usa-se frequentemente uma srie de marcadores metalingusticos que indicam um discurso mais modalizado para sinalizar incerteza, possibilidade ou probabilidade, do que para sinalizar certeza, justamente porque no nos encontramos na posio de oferecer a verdade. (p. 141, 2010)
Citando o texto analisado pelas autoras, percebemos a presena do
posicionamento gramatical, como vemos abaixo, nos exemplos com o advrbio
"provavelmente", destacado:
a) A espcie helifila T. stricta, que suporta alta incidncia de luz direta
(Leme, 1984), provavelmente ocorre no interior das moitas...
b) ... e esse fato provavelmente se deve presena das espcies de bromlia
amostradas.
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7) ... a densidade de bromlias so menores na MPI do que em AAC e AAE,
provavelmente devido maior discrepncia entre as abundncias...
Desta forma, o posicionamento adquire importncia no desenvolvimento das
competncias de leitura e da escrita dos alunos, ferramentas indispensveis na vida
acadmica.
Para Oliveira (2010), os professores de lngua portuguesa tm por tradio
abordar elementos de ordem lingustica e no do a devida importncia aos
elementos pragmticos. De fato, aspectos como ortografia, pontuao, vocabulrio,
tempos verbais, concordncia nominal, etc. e mais recentemente, diferenas entre
gneros textuais e entre lngua falada e escrita - so e devem ser trabalhados, pois
constituem alguns dos pilares centrais de um texto.
Todavia, o professor, ao estimular seu aluno a trabalhar outros aspectos, faz
com que este, ao fazer uma seleo lexical que lhe permite atuar, mostrar sua
parcialidade, apresente um maior domnio da situao comunicativa, tornando-se
verdadeiro autor de seu texto. Isto amplia a sua viso de linguagem, que passa a ser
vista como um possvel elemento transformador, como expresso de si mesmo,
como parte da identidade deste indivduo. Ao ampliar esta viso, at mesmo
elementos tradicionalmente vistos como problemticos pelos prprios estudiosos
da lngua tm seu papel revisto e ampliado, como o caso dos advrbios, que
veremos no captulo a seguir.
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2.4 ADVRBIOS E POSICIONAMENTO
Os advrbios so frequentemente vistos como uma classe problemtica da
gramtica. Como veremos, atravs de algumas anlises, difcil conseguir chegar a
uma classe homognea, na qual o comportamento dos membros dessa classe seja
semelhante. Por possurem este comportamento muito peculiar, a tarefa de
descrever (e classificar) os advrbios complexa, na medida em que o pesquisador
tem de lidar com uma gama de questes lingusticas, o que faz com que poucos
sejam os estudos na rea que se voltem para este tpico.
Neste captulo, retomaremos alguns estudos voltados aos advrbios em
diferentes perspectivas tericas, em especial as de nvel semntico - sinttico, por
sua grande maioria. Primeiramente, apresentaremos estes estudos, salientando a
falta de um detalhamento pragmtico em suas propostas. Buscaremos, na seo
seguinte, mostrar como as gramticas tradicionais (GTs) apresentam os advrbios,
salientando novamente a falta do componente pragmtico em suas classificaes.
Finalizaremos abordando os advrbios como ferramenta lingustica que o autor
utiliza como uma das maneiras de se colocar no texto.
Objetivamos, assim, mostrar a relevncia deste trabalho, que apresenta os
advrbios sob o ponto de vista pragmtico, focalizando o posicionamento, alm de
trabalhar com o PLA, que ainda carece de mais estudos lingusticos.
2. 4.1 Advrbios nas gramticas de lngua portuguesa
As classes gramaticais do portugus brasileiro foram e so estudadas sob as
mais diversas perspectivas. Na elaborao de conceitos, muitos estudiosos utilizam-
se de critrios no muito claros e misturam pontos de vista de anlise. Podemos ver,
ao estudar os conceitos dados classe de advrbios, a primazia do vis semntico
e sinttico. A categoria aspecto, por exemplo, nem sempre mencionada.
De acordo com Bechara (2004, p.287), um advrbio uma expresso
modificadora que por si s denota uma circunstncia (de lugar, de tempo, modo,
intensidade, condio, etc):
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a) Aqui tudo vai bem. (lugar e modo)
b) Hoje no irei l. (tempo, negao e lugar)
O advrbio desempenha, ainda segundo o autor, na orao, a funo de
adjunto adverbial, referindo-se geralmente ao verbo ou a um adjetivo e a um
advrbio (como intensificador), ou a uma declarao inteira (p. 287), como podemos
observar nos exemplos a seguir:
c) Jos escreve bem. (referncia ao verbo escrever)
d) Jos muito bom escritor. (referncia ao adjetivo bom)
e) Jos escreve muito bem. (referncia ao advrbio bem)
f) Felizmente Jos chegou. (referncia a toda declarao)
Qualificando-os como uma classe heterognea e de difcil classificao,
Bechara aborda a questo da liberdade de posio de alguns advrbios e mostra
que existem aqueles que so ligados internamente e externamente ao ncleo verbal.
Os advrbios do primeiro caso no possuem tanta flexibilidade quanto os do
segundo caso. A classificao adverbial se ancora ora em valores lxicos
(semnticos) das unidades que o constituem, ora por critrios funcionais. (p. 290)
Pasquale & Ulisses (1998) definem o advrbio como palavra capaz de
caracterizar o processo verbal, indicando circunstncias em que esse processo se
desenvolve (p. 269), mas incluem tambm o papel do usurio da lngua, pois
segundo eles a caracterizao adverbial pode, no entanto, indicar a subjetividade
de quem analisa um evento: o advrbio deixa de ter papel descritivo e passa a
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traduzir sentimentos e julgamentos de valor de quem escreve ou fala (p. 270).
Como exemplo, eles trazem o uso do advrbio obscenamente no poema de
Ferreira Gullar intitulado Madrugada, que expressa a avaliao do poeta (ou do eu
lrico) a respeito da noite ocidental:
Do fundo do meu quarto, do fundo de meu corpo clandestino ouo (no vejo) ouo crescer no osso e no msculo da noite a noite A noite ocidental obscenamente acesa Sobre o meu pas dividido em classes
O carter de opinio, subjetividade do advrbio, que central neste trabalho,
tambm destacado por Bonfim (1988). Ao examinar as definies dadas por
compndios gramaticais e o comportamento dos advrbios em contextos diferentes,
a autora coloca que alguns advrbios, como os de dvida (provavelmente,
possivelmente) e alguns de modo (realmente, terrivelmente) possuem aspecto
subjetivo, como podemos observar nos exemplos abaixo:
g) Provavelmente todos ns passaremos de ano.
h) Realmente o dia est lindo
i) Joo executou a ao terrivelmente mal.
Apesar de sua anlise no se deter nestes casos, a autora prope que se
faa um estudo desses aspectos a partir de sua estruturao no enunciado,
procurando estabelecer o seu relacionamento com os elementos que lhe so
externos, mas que esto presentes no ato de comunicao (p. 57), pois para ela
nenhuma outra classe tem situao igual do advrbio nesse particular (p. 67).
Desta forma, podemos perceber, atravs de questes pertinentes
apresentadas, a necessidade de irmos mais a fundo na anlise desta classe de
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palavras. Para tal, continuando este estudo, iremos, no subcaptulo seguinte,
apresentar alguns estudos lingusticos que abordam o advrbio.
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2.4.2 Alguns estudos lingusticos acerca dos advrbios na lngua portuguesa
Perini (2006) traz uma anlise lingustica sob os pontos de vista
morfossinttico e semntico (e as relaes entre esses) da classe dos advrbios
atravs de alguns exemplos, dizendo ser impossvel colocar todos os advrbios
tradicionais em uma nica classe. (p.161) Utilizando o critrio funcional, as palavras
sim, depressa e francamente, classificadas pelas gramticas tradicionais como
advrbios, no possuem um comportamento semelhante.
Os advrbios sim e no ocorrem em diferentes contextos:
a) Essa loja no existe. *Essa loja sim existe.
b) Os no iniciados eram excludos. * Os sim iniciados eram excludos.
c) No, eu no vou l. * Sim, eu sim vou l.
d) No, minha casa aqui. Sim, minha casa aqui.
Observando os exemplos acima, notamos que somente no exemplo d os
advrbios se parecem, sen