dissertação.pdf

115
Dimensionamento de um Permutador de Calor Terra-Ar e Avaliação de Impacte na Climatização de um Edifício Frederico Sérgio Marques Espinha Lopes Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Mecânica Júri Presidente: Professor Doutor Mário Manuel Gonçalves da Costa Orientador: Professor Doutor João Luís Toste de Azevedo Vogal: Professora Doutora Marta João Nunes Oliveira Panão Novembro 2012

Upload: viano-morais

Post on 02-Sep-2015

220 views

Category:

Documents


6 download

TRANSCRIPT

  • Dimensionamento de um Permutador de Calor

    Terra-Ar e Avaliao de Impacte na

    Climatizao de um Edifcio

    Frederico Srgio Marques Espinha Lopes

    Dissertao para obteno do Grau de Mestre em

    Engenharia Mecnica

    Jri

    Presidente: Professor Doutor Mrio Manuel Gonalves da Costa

    Orientador: Professor Doutor Joo Lus Toste de Azevedo

    Vogal: Professora Doutora Marta Joo Nunes Oliveira Pano

    Novembro 2012

  • i

    Agradecimentos

    No obstante o trabalho individual que logicamente esta dissertao encerrou, no poderia

    deixar de expressar o meu agradecimento a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contriburam

    para todo o percurso que culminou neste documento:

    Ao Professor Toste de Azevedo, no s pela orientao, ajuda e disponibilidade no decorrer

    deste trabalho, mas por tambm pelo trabalho nas disciplinas que me lecionou e me fizeram

    enveredar por este tema.

    Ao Corinthia Hotel Lisbon, na incansvel pessoa do Eng. Pedro Ferreira, por me ter

    fornecido o caso de estudo prtico para a aplicao da tecnologia aprofundada.

    Aos vrios bons amigos que o IST me permitiu conhecer e que, pelo bom ambiente no dia-a-

    dia, tornaram estes cinco anos numa jornada efmera repleta de bons momentos para relembrar,

    deixando um agradecimento especial ao Alexandre Alcntara e ao Caio Pereira que os ltimos seis

    meses de luta conjunta justificam.

    A todos os meus amigos sem exceo que, injustamente, no particularizo, mas sem os quais

    teria sido muito mais complicado um percurso acadmico bem-sucedido.

    E finalmente, minha famlia, provavelmente a nica contribuio sem a qual no me seria

    possvel ser a pessoa que sou hoje, pelo inquestionvel apoio, pela devida exigncia e por todas as

    oportunidades proporcionadas.

  • ii

  • iii

    Resumo

    Neste trabalho props-se estudar a viabilidade tcnica da tecnologia de climatizao passiva,

    permutador de calor Terra-Ar, desde a fase de dimensionamento at fase de avaliao do seu

    impacte em termos da reduo das necessidades de climatizao ativa num edifcio novo, resultante

    da ampliao de um restaurante do Corinthia Hotel Lisbon.

    Este estudo englobou uma fase preliminar de anlise paramtrica influncia da velocidade

    mdia de escoamento do ar, do dimetro e do comprimento no desempenho do sistema, para a qual

    se desenvolveu um Pr-Processador de clculo e que permitiu colmatar algumas limitaes do

    modelo Earthtube do EnergyPlus. Esta fase culminou no dimensionamento do sistema considerado

    ideal dentro das limitaes espaciais de instalao do mesmo no caso do edifcio em estudo.

    Seguidamente utilizou-se o modelo Earthtube do EnergyPlus para construir um tubo

    enterrado com desempenho equivalente ao sistema dimensionado por forma a avaliar o impacte que

    este teria na dinmica global trmica do edifcio. Para esta avaliao tirou-se partido das capacidades

    do EnergyPlus para simulao trmica anual e em condies de projeto, com o intuito de investigar

    no s as poupanas de energia alcanadas com esta tecnologia, mas tambm a reduo de

    potncia instalada para climatizao.

    O estudo termina com um balano trmico ao edifcio para concluir qual o impacte global

    desta tecnologia no mesmo, e aborda estratgias de controlo para otimizar o desempenho do

    sistema.

    Palavras-chave: Permutador de Calor Terra-Ar, Tubos enterrados, Climatizao Passiva, Modelo

    Earthtube do EnergyPlus, Ganho trmico de ventilao.

  • iv

  • v

    Abstract

    This work aimed to assess the technical feasibility of the passive air-conditioning technology

    Earth-to-Air-Heat-Exchanger (EAHE), from the very early stage of the design through the evaluation of

    its impact on the reduction of the active air-conditioning needs in a new building. This new building is

    the extension of an existent restaurant, which is property of Corinthia Hotel Lisbon.

    This study comprised a preliminary phase of parametric analysis to the influence of mean air

    flow speed through the tubes, diameter and length in the system performance. This entailed the

    development of a Pre-Processor calculation program in order to overcome some limitations that

    Earthtube model of EnergyPlus holds. This phase ended up with the system optimal characteristics

    design within the space constraints that the case study implied.

    Afterwards, EnergyPlus Earthtube model was used to build a buried pipe with such

    dimensions that its performance lead to results equivalent to those of the optimum projected system.

    That equivalent earth tube was used to evaluate the impact of the projected system in the global

    building thermal performance. This evaluation was conducted by taking advantage of the all-year-

    round and design days simulation available in EnergyPlus, aiming not only to investigate the energy

    savings brought by this technology but also the reduction on the rated power for air-conditioning.

    This study finishes with an energy balance to the building in order to conclude about the global

    impact of this technology, and report on control strategies for optimizing the EAHE performance.

    Keywords: Earth-to-Air-Heat-Exchanger, Buried Pipes, Passive Air-conditioning, EnergyPlus

    Earthtube model, Ventilation Heat Gain.

  • vi

  • vii

    ndice

    Agradecimentos ..................................................................................................................................... i

    Resumo.................................................................................................................................................. iii

    Abstract .................................................................................................................................................. v

    ndice .................................................................................................................................................... vii

    Lista de Ilustraes .............................................................................................................................. ix

    Lista de Tabelas ................................................................................................................................... xii

    Lista de Smbolos ............................................................................................................................... xiv

    Lista de Acrnimos ............................................................................................................................ xvi

    1 Introduo ......................................................................................................................................... 1

    1.1 Enquadramento .......................................................................................................................... 1

    1.2 Objetivo e metodologia ............................................................................................................... 3

    1.3 Reviso Bibliogrfica .................................................................................................................. 4

    1.3.1 Modelao ........................................................................................................................ 5

    1.3.2 Casos de Estudo e dados experimentais: ........................................................................ 7

    1.3.3 Consideraes gerais sobre a tecnologia: ....................................................................... 9

    1.4 Contribuio .............................................................................................................................. 11

    1.5 Organizao ............................................................................................................................. 12

    2 Modelao ....................................................................................................................................... 13

    2.1 Introduo ao EnergyPlus e DesignBuilder: ............................................................................. 13

    2.1.1 Mtodos de Clculos de Energia: .................................................................................. 14

    2.2 Modelo do Edifcio .................................................................................................................... 18

    2.2.1 Localizao geogrfica e condies climatricas .......................................................... 18

    2.2.2 Modelo da Envolvente .................................................................................................... 19

    2.2.3 Simulao ....................................................................................................................... 24

    2.2.4 Condies de Operao do edifcio ............................................................................... 26

    2.3 Modelo Earthtube do EnergyPlus ............................................................................................. 30

    2.4 Modelo do Pr-Processador ..................................................................................................... 35

  • viii

    3 Discusso de Resultados .............................................................................................................. 45

    3.1 Estudo paramtrico ao sistema de tubos enterrados ............................................................... 47

    3.1.1 Velocidade mdia de escoamento do ar ........................................................................ 49

    3.1.2 Dimetro ......................................................................................................................... 51

    3.1.3 Comprimento .................................................................................................................. 53

    3.2 Dimensionamento do sistema .................................................................................................. 55

    3.3 Modelo equivalente no EnergyPlus .......................................................................................... 59

    3.4 Desempenho do sistema em condies de projeto ................................................................. 61

    3.4.1 Dia de arrefecimento de projeto ..................................................................................... 62

    3.4.2 Dia de aquecimento de projeto ...................................................................................... 66

    3.5 Desempenho do sistema ao longo do ano ............................................................................... 70

    3.6 Estratgias de controlo: ............................................................................................................ 75

    3.7 Balano de Energia ao espao: ................................................................................................ 80

    4 Concluses ..................................................................................................................................... 85

    5 Referncias Bibliogrficas ............................................................................................................ 89

    6 Anexos ............................................................................................................................................A-1

    A. Dados de apoio modelao .................................................................................................. A-1

    B. Dados climticos ...................................................................................................................... B-1

    C. Outras Simulaes ..................................................................................................................C-1

  • ix

    Lista de Ilustraes

    Ilustrao 1.1 - Desagregao dos Consumos de Energia Primria nos EUA [1] ................................................... 1

    Ilustrao 2.1 - Volume de controlo na face exterior da envolvente ...................................................................... 16

    Ilustrao 2.2 - Volume de controlo na face interior da envolvente ....................................................................... 16

    Ilustrao 2.3 - Volume de controlo ao ar no interior da zona trmica ................................................................... 17

    Ilustrao 2.4 - Localizao geogrfica do edifcio em estudo .............................................................................. 19

    Ilustrao 2.5 - Desenhos 3D do projeto de ampliao do restaurante ................................................................. 19

    Ilustrao 2.6 - Representao grfica do modelo construdo no DesignBuilder .................................................. 20

    Ilustrao 2.7 - Esquema genrico do permutador de calor Terra-Ar .................................................................... 35

    Ilustrao 3.1 - Representao esquemtica do permutador de calor Terra-Ar projetado .................................... 46

    Ilustrao 3.2 - Influncia do passo-de-comprimento da simulao na temperatura de insuflao do ar e Potncia

    trmica trocada .............................................................................................................................. 48

    Ilustrao 3.3 - Influncia da condutibilidade do tubo na temperatura de insuflao do ar e Potncia trmica

    trocada ........................................................................................................................................... 48

    Ilustrao 3.4 Variao do COP e Potncias Trmica e de Ventilao com a Velocidade mdia do escoamento

    ....................................................................................................................................................... 49

    Ilustrao 3.5 - Variao da Temperatura e caudal de insuflao com a Velocidade mdia do escoamento ....... 50

    Ilustrao 3.6 - Variao do COP e das Potncias Trmica de Ventilao com o dimetro ................................. 52

    Ilustrao 3.7 - Variao da Temperatura e Caudal de insuflao com o dimetro .............................................. 53

    Ilustrao 3.8 - Variao do COP e das Potncias Trmica de Ventilao com o comprimento. .......................... 54

    Ilustrao 3.9 - Variao da Temperatura e Caudal de insuflao com o comprimento ........................................ 54

    Ilustrao 3.10 - Variao do Caudal insuflado com a Velocidade mdia do escoamento, para vrios dimetros

    dos tubos ....................................................................................................................................... 56

    Ilustrao 3.11 - Variao da Temperatura de Insuflao com a Velocidade mdia do escoamento, para vrios

    dimetros dos tubos ....................................................................................................................... 56

    Ilustrao 3.12 - Configurao do permutador de calor com arranjos de tubos em srie ...................................... 58

    Ilustrao 3.13 - Evoluo da temperatura no interior do espao, no dia de arrefecimento de projeto num cenrio

    de insuflao direta do ar exterior, sem climatizao .................................................................... 62

    Ilustrao 3.14 - Evoluo da temperatura no interior do espao no dia de arrefecimento de projeto num cenrio

    de insuflao pelo permutador de calor Terra-Ar, sem climatizao ............................................. 63

    Ilustrao 3.15 - Evoluo da temperatura no interior do espao no dia de arrefecimento de projeto num cenrio

    de insuflao direta do ar exterior, com climatizao .................................................................... 64

    Ilustrao 3.16 - Evoluo da temperatura no interior do espao, no dia de arrefecimento de projeto num cenrio

    de insuflao pelo permutador de calor Terra-Ar, com climatizao ............................................. 64

    Ilustrao 3.17 - Perfil das necessidades de arrefecimento ativo no cenrio de insuflao do ar diretamente do

    exterior ........................................................................................................................................... 65

    Ilustrao 3.18 - Perfil das necessidades de arrefecimento ativo no cenrio de insuflao do ar pelo permutador

    de calor Terra-Ar ............................................................................................................................ 65

    Ilustrao 3.19 - Evoluo da temperatura no interior do espao, no dia de aquecimento de projeto num cenrio

    de insuflao direta do ar exterior, sem climatizao .................................................................... 66

  • x

    Ilustrao 3.20 - Evoluo da temperatura no interior do espao no dia de aquecimento de projeto num cenrio

    de insuflao pelo permutador de calor Terra-Ar, sem climatizao ............................................. 67

    Ilustrao 3.21 - Evoluo da temperatura no interior do espao, no dia de aquecimento de projeto num cenrio

    de insuflao direta do ar exterior, com climatizao .................................................................... 68

    Ilustrao 3.22 - Evoluo da temperatura no interior do espao no dia de aquecimento de projeto num cenrio

    de insuflao pelo permutador de calor Terra-Ar, com climatizao ............................................. 68

    Ilustrao 3.23 - Perfil das necessidades de aquecimento ativo no cenrio de insuflao do ar diretamente do

    exterior ........................................................................................................................................... 69

    Ilustrao 3.24 - Perfil das necessidades de aquecimento ativo no cenrio de insuflao do ar pelo permutador

    de calor Terra-Ar ............................................................................................................................ 69

    Ilustrao 3.25 - Evoluo da temperatura mdia diria no interior do espao, com insuflao pelo permutador de

    calor Terra-Ar e com climatizao ................................................................................................. 70

    Ilustrao 3.26 - Perda trmica introduzida no espao pelo sistema de ventilao............................................... 71

    Ilustrao 3.27 - Ganho trmico introduzido no espao pelo sistema de ventilao ............................................. 72

    Ilustrao 3.28 - Necessidades de aquecimento que o sistema de climatizao tem de satisfazer ...................... 73

    Ilustrao 3.29 - Necessidades de arrefecimento que o sistema de climatizao tem de satisfazer..................... 73

    Ilustrao 3.30 - Balano anual aos consumos de climatizao ativa ................................................................... 74

    Ilustrao 3.31 - Balano anual aos consumos de climatizao ativa, em funo da estratgia de controlo ........ 76

    Ilustrao 3.32 - Reduo efetiva do pico de potncia de aquecimento por alterao de horrio de funcionamento

    ....................................................................................................................................................... 78

    Ilustrao 3.33 - Evoluo da temperatura do ar exterior numa semana quente de Vero ................................... 78

    Ilustrao 3.34 - Temperatura do interior na sala numa semana quente de Vero Sem Free Cooling ................. 79

    Ilustrao 3.35 - Temperatura do interior na sala numa semana quente de Vero Com Free Cooling ................. 79

    Ilustrao 3.36 - Desagregao dos ganhos trmicos do espao no caso de insuflao direta do ar exterior ...... 80

    Ilustrao 3.37 - Desagregao das perdas trmicas do espao no caso de insuflao direta do ar exterior ...... 80

    Ilustrao 3.38 Desagregao dos ganhos trmicos do espao no caso de insuflao do ar pelo permutador

    Terra-Ar ......................................................................................................................................... 81

    Ilustrao 3.39 - Desagregao das perdas trmicas do espao no caso de insuflao do ar pelo permutador

    Terra-Ar ......................................................................................................................................... 81

    Ilustrao 3.40 - Ganhos trmicos pelos vos envidraados ................................................................................ 82

    Ilustrao 3.41 - Perdas trmicas pelas superfcies opacas da envolvente .......................................................... 83

    Ilustrao 6.1 - reas de implantao do novo espao e disponveis para o permutador .................................... A-1

    Ilustrao 6.2 - Representaes grficas das solues construtivas para fachada, pavimento e cobertura,

    respetivamente ............................................................................................................................. A-1

    Ilustrao 6.3 - Planta do novo restaurante .......................................................................................................... A-2

    Ilustrao 6.4 - Caractersticas dos vos envidraados da fachada Sul do Hotel ................................................ A-2

    Ilustrao 6.5 - Evoluo da temperatura mdia diria do ar exterior ao longo do ano ........................................ B-1

    Ilustrao 6.6 - Evoluo da temperatura exterior no dia de projeto de arrefecimento ......................................... B-1

    Ilustrao 6.7 - Perfil constante da temperatura exterior no dia de projeto de aquecimento ................................ B-1

    Ilustrao 6.8 - Variao do COP e das Potncias Trmica de Ventilao com o dimetro ................................ C-1

  • xi

    Ilustrao 6.9 - Variao da Potncia Nominal de Arrefecimento com a Velocidade mdia do escoamento, para

    vrios dimetros dos tubos ........................................................................................................... C-1

    Ilustrao 6.10 - Variao da Potncia de Ventilao com a Velocidade mdia do escoamento, para vrios

    dimetros dos tubos ...................................................................................................................... C-2

    Ilustrao 6.11 - Variao do COP com a Velocidade mdia do escoamento, para vrios dimetros dos tubos . C-2

    Ilustrao 6.12 - Consumos de Energia na semana quente de Agosto Sem Free Cooling .................................. C-3

    Ilustrao 6.13 - Consumos de Energia na semana quente de Agosto Com Free Cooling .................................. C-3

  • xii

    Lista de Tabelas

    Tabela 2.1 - Descrio das superfcies opacas da envolvente .............................................................................. 21

    Tabela 2.2 - Descrio dos vidros da envolvente .................................................................................................. 21

    Tabela 2.3 - Caracterizao das superfcies da envolvente .................................................................................. 22

    Tabela 2.4 - Caracterizao da zona trmica ........................................................................................................ 24

    Tabela 2.5 - Parmetros da simulao computacional .......................................................................................... 24

    Tabela 2.6 - Perfil de ocupao do edifcio ........................................................................................................... 26

    Tabela 2.7 - Caudais de Ventilao ....................................................................................................................... 27

    Tabela 2.8 - Caracterizao do sistema de climatizao ...................................................................................... 28

    Tabela 2.9 - Perfil de funcionamento do restaurante e sistemas de climatizao e ventilao ............................. 29

    Tabela 2.10 - Dados de entrada requeridos pelo Earthtube .................................................................................. 31

    Tabela 2.11 - Caractersticas trmicas dos tipos de solo disponveis no EnergyPlus ........................................... 31

    Tabela 2.12 - Dados para clculo do perfil de temperaturas do solo em profundidade ......................................... 32

    Tabela 2.13 - Descrio das variveis utilizadas para calcular a temperatura do solo em profundidade .............. 33

    Tabela 2.14 - Descrio das variveis utilizadas para o clculo das resistncias trmicas do modelo ................. 34

    Tabela 2.15 - Equaes para o clculo da temperatura de sada do ar dos tubos consoante o cenrio ............... 34

    Tabela 2.16 - Listagem das variveis utilizadas pelo programa Pr-Processador ................................................ 37

    Tabela 2.17 - Lista de variveis e mtodos de clculo das propriedades termofsicas do ar ................................ 39

    Tabela 2.18 Coeficientes de perda de carga concentrada para troo vertical descendente .............................. 41

    Tabela 2.19 - Coeficientes de perda de carga concentrada para troo vertical ascendente ................................. 43

    Tabela 3.1 - Caractersticas do sistema ensaiado para avaliao da evoluo presso no sistema .................... 45

    Tabela 3.2 - Resultados dos efeitos de aquecimento do ar pelo ventilador e da impulso trmica ...................... 47

    Tabela 3.3 - Descrio dos parmetros mantidos constantes nos estudos paramtricos ..................................... 47

    Tabela 3.4 - Descrio dos parmetros mantidos constantes no estudo paramtrico da velocidade do

    escoamento de ar .......................................................................................................................... 49

    Tabela 3.5 - Descrio dos parmetros mantidos constantes no estudo paramtrico do dimetro ...................... 51

    Tabela 3.6 - Descrio dos parmetros mantidos constantes no estudo paramtrico do comprimento ................ 53

    Tabela 3.7 - Desempenho dos tubos em arrefecimento para a temperatura extrema do ar entrada de 34C.... 57

    Tabela 3.8 - Desempenho dos tubos em arrefecimento para uma temperatura mais comum do ar entrada de

    26C ............................................................................................................................................... 57

    Tabela 3.9 - Desempenho dos tubos em aquecimento para uma temperatura extrema do ar entrada de 4C .. 57

    Tabela 3.10 - Desempenho dos tubos em aquecimento para uma temperatura mais comum do ar entrada de

    11C ............................................................................................................................................... 57

    Tabela 3.11 - Caractersticas geomtricas do sistema de tubos dimensionado .................................................... 58

    Tabela 3.12 - Desempenho do permutador com configurao dos tubos alternativa, para uma temperatura do ar

    entrada de 34C .......................................................................................................................... 59

    Tabela 3.13 - Desempenho do permutador com configurao dos tubos alternativa, para uma temperatura do ar

    entrada de 26C .......................................................................................................................... 59

    Tabela 3.14 - Caractersticas geomtricas do tubo equivalente ............................................................................ 60

  • xiii

    Tabela 3.15 - Comparao de resultados entre o modelo do Pr-Processador e o EarthTube do EnergyPlus .... 61

    Tabela 3.16 - Condies do dia de arrefecimento de projeto ................................................................................ 62

    Tabela 3.17 - Condies do dia de aquecimento de projeto ................................................................................. 66

    Tabela 3.18 - Desempenho global do sistema de permutador de calor Terra-Ar .................................................. 74

    Tabela 3.19 - Novo horrio de funcionamento do sistema de ventilao e aquecimento para evitar pico de

    potncia ......................................................................................................................................... 77

  • xiv

    Lista de Smbolos

    Amplitude da temperatura superfcie do solo

    Calor especfico do ar seco a presso constante

    Dimetro dos tubos do permutador de calor

    Taxa de transferncia de calor no tubo

    Espessura da parede dos tubos enterrados

    Fator de atrito

    Constante de acelerao gravtica

    Profundidade de instalao dos tubos enterrados

    Condutibilidade trmica

    Comprimento do tubo

    Caudal mssico do escoamento

    Massa molar

    Nmero de tubos do permutador

    Nmero de Nusselt

    Presso parcial

    Presso total do ar

    Presso atmosfrica

    Nmero de Prandtl

    Constante universal dos gases perfeitos

    Raio interior do tubo

    Espessura da parede do tubo

    Distncia a partir da parede exterior do tubo alm da qual se assume o solo como no-perturbado

    Resistncia de conveco

    Resistncia de conduo na parede do tubo

  • xv

    Resistncia de conduo no solo

    Resistncia total

    Rcio de recuperao de potncia do ventilador

    Nmero de Reynolds

    Temperatura ambiente exterior

    Temperatura de entrada do fluido nos tubos

    Temperatura de sada do fluido dos tubos

    Constante de desfasamento da temperatura superfcie do solo

    Temperatura do solo profundidade de instalao dos tubos

    Temperatura do solo distncia z de profundidade

    Coeficiente global de transferncia de calor linear

    Caudal volumtrico do escoamento

    Velocidade do ar nos tubos

    Frao mssica

    Potncia eltrica do ventilador

    Largura da rea disponvel para implantao do sistema

    Frao volumtrica

    Profundidade de instalao dos tubos

    Difusividade trmica do solo

    Viscosidade dinmica

    Humidade absoluta exterior

    Perda de carga concentrada

    Perda de carga em linha

    Comprimento de subdiviso do troo horizontal para clculo de transferncia de calor

    Rugosidade do material constituinte da parede do tubo

  • xvi

    Lista de Acrnimos

    AVAC Aquecimento Ventilao e Ar Condicionado

    CHL Corinthia Hotel Lisbon

    COP Coeficiente de Performance

    EAHE Earth-to-Air-Heat-Exchanger

    HRV Heat Recovery Ventilation

    LED Light-Emitting Diode

    RSECE Regulamento dos Sistemas Energticos e Climatizao de Edifcios

    UTA Unidade de Tratamento de Ar

    VC Ventilo-convetor

  • 1

    1 Introduo

    1.1 Enquadramento

    O paradigma energtico atual, caracterizado pela instabilidade no abastecimento energtico e

    volatilidade dos preos deste mercado, obriga a que as naes industrializadas, que se pretendam

    qualificar como energeticamente sustentveis, comecem a reduzir os consumos energticos tanto

    pela promoo de programas de racionalizao energtica como pela legislao de normas, a

    cumprir pelos variados sectores econmicos.

    Ilustrao 1.1 - Desagregao dos Consumos de Energia Primria nos EUA [1]

    De acordo com Lawrence Berkeley National Laboratory [1] o sector dos edifcios

    responsvel por 39% dos consumos de energia primria nos Estados Unidos da Amrica. Na Europa,

    so fortes as presses para que o sector dos edifcios caminhe rapidamente para os edifcios com

    necessidades quase nulas de energia (Nearly Zero-Energy Buildings). A atual Estratgia Europeia

    para a Energia e o Clima, desenhada para responder aos desafios da segurana energtica, do

    crescimento econmico e da luta contra as alteraes climticas, pretende reduzir em 20% as

    emisses de gases com efeito estufa mediante a utilizao de 20% de energias renovveis e de um

    aumento de 20% da eficincia energtica. Este objetivo transversal ao sector dos edifcios, e de

    acordo com a Directiva 2010/31/EU [2] todos os estados-membros asseguram que at 31 de

    Dezembro de 2020, todos os edifcios novos sero edifcios com necessidades quase nulas de

    energia.

    Estimativas recentes indicam que, luz do valor dos investimentos iniciais, bastante mais

    rentvel investir em medidas de eficincia energtica do que em tecnologias de gerao de energia

    atravs de recursos renovveis. Por exemplo, a substituio de uma instalao antiga de ar

  • 2

    condicionado (AVAC) num edifcio comercial existente por uma soluo mais eficiente, poupa ao

    proprietrio cerca de 100 por tonelada de CO2 abatido, enquanto a integrao de um sistema

    centralizado de painis fotovoltaicos impe um custo suplementar de 70 por cada tonelada de CO2

    evitada [3]. Portanto, qualquer projeto rentvel de um edifcio com necessidades quase nulas de

    energia dever passar por um maximizao das solues de eficincia energtica que se verifiquem

    viveis e s depois avanar-se para medidas de gerao de energia com fontes renovveis.

    Entre as medidas de eficincia energtica, o facto de os consumos devidos climatizao

    dos edifcios representarem, em mdia (nos EUA), cerca de 42% dos consumos totais dos mesmos,

    podendo ascender a valores superiores em regies com climas mais rigorosos e/ou edifcios com alta

    exposio solar, confere s medidas de climatizao passiva um elevado potencial por explorar.

    No presente trabalho estudou-se o potencial da implementao da medida passiva de

    permutador de calor Terra-Ar para climatizao de um espao novo resultante da ampliao de um

    edifcio existente. O edifcio em questo foi a propriedade do Corinthia Hotel Lisbon, um hotel de

    grande dimenso localizado no centro de Lisboa, e no qual se implementou nos ltimos meses um

    projeto inovador de eficincia energtica atravs de um contrato de desempenho financiado em

    grande parte pela GALP Energia e com o acompanhamento do projeto feito pelo ISQ-Energia. Com

    518 quartos e uma vasta oferta de salas tanto para reunies como para conferncias, o CHL o

    maior hotel 5 estrelas de Portugal e est entre os 10 maiores da Europa.

    Um hotel com estas dimenses trava-se, logicamente, com desafios energticos de grande

    escala que se traduzem nas seguintes necessidades: aumento da autonomia energtica, reduo da

    fatura energtica, reduo da exposio flutuabilidade das tarifas do mercado energtico e, de

    acordo com a poltica defendida pelo grupo, reforo do posicionamento do hotel no mbito da sua

    responsabilidade social e ambiental. Foram estes motivos que o levaram a abraar o projeto de

    eficincia energtica anteriormente citado e a incorporar uma poltica de sustentabilidade transversal

    a todo o hotel. Atualmente, o hotel tem assistido a uma crescente procura do seu restaurante para

    organizao de eventos, a qual no satisfazvel com a capacidade atual do mesmo. Nesta

    perspetiva, o hotel estudou a possibilidade de ampliar esse restaurante, tendo j o Pedido de

    Implementao Prvia aceite pela Cmara Municipal de Lisboa. No seguimento do projeto de

    eficincia energtica e seguindo a poltica de sustentabilidade defendida pelo hotel, procurou-se, no

    estudo descrito neste documento, avaliar a viabilidade dos tubos enterrados para climatizao.

  • 3

    1.2 Objetivo e metodologia

    O objetivo deste trabalho foi dimensionar um permutador de calor Terra-Ar para pr-

    condicionamento do ar e avaliar o seu impacte sobre as necessidades de condicionamento trmico

    do novo espao, quer fosse pela capacidade de satisfazer totalmente as necessidades de frio e calor

    ou por permitir reduzir a potncia instalada de um eventual sistema ativo de climatizao.

    Para avaliar as necessidades do novo espao, recorreu-se ao programa de simulao

    energtica para edifcios EnergyPlus, o qual permite projetar sistemas de climatizao tanto ativos

    como passivos e estudar os seus efeitos nos edifcios modelados. A limitao deste programa a nvel

    da modelao de sistemas de permuta de calor do tipo Terra-Ar, conduziu a que se desenvolvesse

    uma rotina de clculo para dimensionamento destes sistemas com a finalidade de se analisar a

    influncia dos diferentes parmetros.

  • 4

    1.3 Reviso Bibliogrfica

    Uma tcnica de climatizao passiva que tem sido utilizada recentemente com razovel

    sucesso conhecida por Permutadores de calor Terra-Ar ou, na literatura inglesa, Earth to Air Heat

    Exchanger (EAHE). tambm denominada Tubos Enterrados ou Subterrneos para Climatizao,

    sendo as trs terminologias utilizadas no decorrer deste trabalho. Esta soluo consiste em fazer o ar

    exterior passar por tubos instalados no subsolo, de forma a tirar partido das temperaturas que a se

    verificam, por serem mais constantes (menos oscilantes) do que as do ar exterior. Devido elevada

    inrcia trmica do solo, as flutuaes de temperatura na sua superfcie, exposta ao clima exterior, so

    tanto mais amortecidas quanto maior a profundidade no solo. Alm disso, existe tambm um atraso

    temporal entre as flutuaes superfcie e as que se verificam em camadas mais profundas.

    Portanto, a uma profundidade suficiente a temperatura do solo consideravelmente mais baixa que a

    do ar exterior no Vero e superior no Inverno. Quando o ar novo insuflado atravs dos tubos

    enterrados, este arrefecido no Vero e aquecido no Inverno. Este princpio de funcionamento,

    combinado ou no com outras solues passivas, pode substituir ou reduzir significativamente as

    necessidades de condicionamento de ar ativo.

    Embora no seja uma medida universalmente aceite, nem considerada vivel

    independentemente das situaes (em todas situaes), esta tcnica, que remonta aos anos 70,

    voltou a merecer interesse nos ltimos 10 anos devido ao efeito conjunto dos seguintes motivos:

    necessidade de responder aos elevados custos decorrentes da climatizao dos edifcios, imposies

    de caudais mnimos de ar novo (exterior) mais exigentes para garantia da qualidade do ar interior e

    das presses para que se caminhe para edifcios com consumos quase nulos de energia. Este

    recente interesse na soluo dos tubos enterrados tem resultado em trabalhos de investigao tanto

    na rea experimental como de modelao cientfica e computacional. A evoluo dos programas

    computacionais de simulao energtica dos edifcios faz emergir a necessidade de se construir

    modelos de clculo para estimar o desempenho trmico dos tubos enterrados bem como o seu

    impacte no edifcio. Neste captulo, faz-se uma reviso a alguns modelos desenvolvidos e existentes

    na literatura que diferem em complexidade, hipteses consideradas e naturalmente nos resultados

    alcanados.

    No entanto, faz-se tambm uma reviso a casos de estudo implementados pois permitem

    recolher informaes teis acerca do real potencial desta soluo, consideraes de montagem,

    funcionamento e formas de controlo e experincias sobre a qualidade do ar insuflado.

    Em termos de modelao, os principais aspetos a considerar consistem na estimativa da

    temperatura do solo profundidade de instalao dos tubos e na sua utilizao como condio

    fronteira no balano energtico ao tubo para calcular a transferncia de calor no tubo.

    Genericamente, a temperatura do solo calculada em funo da temperatura exterior introduzindo-se

    um fator de amortecimento da sua amplitude trmica que resulta em valores quase constantes a partir

  • 5

    de uma certa profundidade. O modelo para clculo da temperatura no perturbada do solo

    apresentado por Kusuda et al [4], o modelo clssico, transversal maioria dos trabalhos

    desenvolvidos nesta rea, e consiste numa funo que depende da temperatura mdia anual da

    superfcie do solo, tempo em horas aps incio do ano, amplitude anual mdia da temperatura da

    superfcie do solo, dia a que se verifica o valor mnimo anual da temperatura mdia diria e da

    difusividade trmica do solo. O documento da norma europeia EN15241 [5] contm em anexo um

    modelo simplificado de tubos enterrados, no qual a distribuio da temperatura do solo ao longo do

    ano modelada por uma curva sinusoidal baseada na temperatura mdia anual do ar exterior.

    Contudo, em relao temperatura do ar, a temperatura do solo corrigida em amplitude e

    deslocada (devido inrcia trmica do solo que retarda o reflexo das condies exteriores no solo)

    em funo da profundidade. As correes fazem-se pelo clculo de termos para amplitude e atraso

    cujas funes so polinmios de 3 grau com a profundidade como varivel. Independentemente do

    grau de simplificao ou complexidade dos modelos, o grau de humidade do solo sempre

    considerado por afetar significativamente as caractersticas trmicas do mesmo.

    1.3.1 Modelao

    Quanto modelao das trocas de calor do solo para o ar no tubo podem-se utilizar desde

    modelos de maior complexidade, transientes que contabilizam o sobreaquecimento do solo e a

    possibilidade de calor latente associado condensao e evaporao no tubo, a modelos menos

    avanados, estacionrios e que assumem que a temperatura da parede do tubo constante. Tzaferis

    et al. [6] apresentam uma reviso de oito modelos de tubos enterrados classificando os algoritmos em

    dois grupos:

    1. Os algoritmos que consideram a conveco do ar no interior do tubo e a conduo no solo

    envolvente. Os dados de entrada necessrios so os seguintes:

    - Caractersticas geomtricas do sistema;

    - Caractersticas trmicas do solo;

    - Caractersticas trmicas do tubo;

    - Temperatura no perturbada do solo durante a operao do sistema.

    2. Os algoritmos que apenas calculam o fluxo de calor convectivo entre o ar circulante e o tubo. Neste

    caso, os dados de entrada so:

    - Caractersticas geomtricas do sistema;

    - Caractersticas trmicas do solo;

    - Temperatura da superfcie do tubo.

    Seis desses modelos utilizam uma descrio unidimensional estacionria do tubo, permitindo

    calcular a temperatura de sada a partir da de entrada no tubo. Em nenhum desses modelos

    possvel contabilizar quer a influncia da capacidade trmica da Terra, quer a interao entre os

    vrios tubos num arranjo. Um desses algoritmos divide o terreno envolvente dos tubos em elementos

  • 6

    cilndricos coaxiais, considera a resistncia trmica do mesmo temporalmente-dependente e divide o

    tubo em segmentos, calculando a temperatura do ar sada de cada segmento. Noutro algoritmo o

    balano de energia em condies estacionrias resolvido entre um ponto no perturbado no solo e

    o tubo. Os autores concluem que os diferentes modelos conduzem a resultados comparveis, apesar

    do facto de estes oferecerem mtodos de soluo e discretizao diferentes para as mesmas

    equaes.

    Os modelos unidimensionais revistos baseiam-se em hipteses bastante similares tais como:

    Solo homogneo e isotrpico, trocas de calor latente desprezadas, e conduo desprezvel na

    direo longitudinal (do escoamento) tanto no solo como na parede. As hipteses em que alguns

    divergem consistem em considerar, ou no, as resistncias trmicas de conduo do tubo (pouco

    influente pelo facto de ser bastante inferior resistncia trmica da conveco), e a conduo no

    terreno envolvente. A condutibilidade do solo confere segunda hiptese um caracter mais

    conceptual. Sendo esta baixa, a resistncia trmica que impe no deve ser desconsiderada, e o

    facto de o fazer representa que se assume que a temperatura do terreno em contacto com o tubo a

    temperatura no perturbada do solo quela profundidade. Logicamente esta hiptese pouco

    conservadora e sobrestima o desempenho do sistema de tubos enterrados. Contudo, ter em conta a

    condutibilidade do solo obriga a que se defina uma distncia no exterior dos tubos a partir da qual se

    considere que o solo no perturbado pelos tubos. O valor dessa distncia no consensual mas

    valores na ordem do raio do tubo so considerados razoveis [7]. Outros aspetos em que os modelos

    variam so as correlaes utilizadas para clculo do coeficiente de transferncia de calor por

    conveco e do fator de atrito (para o regime turbulento). Contudo, embora as correlaes sejam de

    diferentes autorias, os resultados so comparveis pelo facto de as condies de funcionamento

    (nmero de Reynolds) serem similares.

    Modelos mais complexos tm tambm sido desenvolvidos, estando vocacionados para avaliar

    o potencial real dos sistemas de tubos enterrados de uma perspetiva mais consistente em termos

    tericos e permitindo alcanar resultados mais fidedignos. Contudo, o cdigo destes modelos est

    reservado aos seus autores, e pela sua maior complexidade sobrecarregam em termos

    computacionais as simulaes. Assim sendo, os projetistas optam por modelos unidimensionais e,

    normalmente, estacionrios que no comprometem o dimensionamento dos sistemas. Os modelos

    ditos mais complexos distinguem-se dos abordados at agora, por serem transientes, pela forma

    como a geometria descrita (2D, 3D, coordenadas polares) e pela forma como incorporam as

    variaes de humidade e efeitos consequentes tanto no solo como no ar. Por exemplo, Deglin D. et al

    [8] desenvolveram um modelo no-estacionrio tridimensional de transferncias de calor para simular

    as trocas de calor num sistema de tubos enterrados e combinaram-no com estudos experimentais

    para analisar a influncia de vrios parmetros tais como: dimetro, comprimento, profundidade,

    espaamento, tipo de solo e velocidade de passagem do ar). Neste modelo o tubo e solo circundante

    so divididos em troos longitudinais, sendo cada troo dividido num nmero finito de cilindros

    concntricos. A transferncia de calor do ar para o solo governada pela diferena de temperaturas

  • 7

    entre ambos, sendo a temperatura de cada superfcie cilndrica de solo calculada em cada passo-de-

    tempo (anlise no-estacionria) a partir do balano de energia, aplicado s camadas em torno do

    tubo. A condutibilidade do solo definida em funo da densidade do solo seco e da percentagem de

    humidade do solo. Nos casos em que o solo atinja temperatura de congelao (0C), as variaes de

    humidade e a energia associada ao calor latente so contabilizadas e a variao de temperatura da

    camada calculada. A nica camada em que a transferncia de calor no calculada com a

    condutibilidade do solo, a primeira camada de solo, imediatamente exterior ao tubo, em que se

    considera a transferncia de calor por conveco, sob a hiptese de a espessura do tubo ser muito

    fina e portanto a resistncia trmica e a acumulao de energia serem desprezveis.

    1.3.2 Casos de Estudo e dados experimentais:

    Os casos de estudo realizados para avaliao do potencial dos tubos enterrados na

    climatizao de edifcios demonstram que, como qualquer outra medida passiva, a sua viabilidade

    tcnica est bastante condicionada pelas condies atmosfricas exteriores e pelo tipo de construo

    dos edifcios.

    Desde casos em que o desempenho dos tubos enterrados considerado duvidoso, a casos

    em que totalmente infrutfero, e a outros em que a experincia foi bem-sucedida, possvel

    encontrar bastantes condicionantes a sistema que conduziram a esses cenrios, como se ir

    apresentar de seguida. Um dos aspetos considerado de indispensvel ateno consiste nas

    estratgias de controlo a utilizar para evitar situaes indesejadas tais como: aquecimento no Vero

    ou arrefecimento no Inverno do ar insuflado, e sobreaquecimento do solo por falta de descanso

    trmico. Assim sendo, os casos prticos de implementao deste sistema aparecem normalmente

    acoplados a outras medidas passivas tais como o arrefecimento noturno (night cooling), a ventilao

    natural (by-pass com o sistema de tubos) e aproveitamento da energia trmica do ar extrado num

    recuperador de calor em aquecimento (HRV Heat Regenerative Ventilation). Mais, praticamente

    consensual que esta tcnica bastante interessante como forma de amortizar o impacte dos picos

    nas condies trmicas exteriores e dessa forma reduzir o sobredimensionamento dos equipamentos

    ativos de climatizao.

    na Europa Central que se concentra a maioria dos edifcios equipados com tubos

    enterrados para climatizao, pelo tipo de climas a verificados, embora em Portugal j se tenha

    tambm adoptado este sistema. Os edifcios nos quais se tem aplicado tubos enterrados variam

    desde edifcios comerciais, de escritrios a residenciais, com resultados tambm bastante variveis,

    como se passa a apresentar:

    1) Weilheim, Alemanha [9]

    Edifcio de escritrios de 1500 m2 com um sistema de 180 m de tubos enterrados sua volta

    a 2 m de profundidade que foi monitorizado durante 3 anos com COPs mdios de 50, 35 e 38 nesses

  • 8

    anos, cobrindo 20% das necessidades de arrefecimento devido aos elevados ganhos trmicos

    internos. A estratgia de controlo foi: em aquecimento, fazer by-pass dos tubos caso a temperatura

    do solo fosse inferior temperatura do ar exterior, e em arrefecimento, fazer by-pass se a

    temperatura da sala for inferior a 22C. Ainda assim, ganhos indesejados foram verificados quando as

    temperaturas exteriores eram inferiores do solo no Vero.

    2) Illinois, EUA [10]

    Edifcio residencial PassivHaus construdo pelo arquiteto Katrin Klingenberg com um sistema

    de tubos enterrados com 30 m de comprimento e 20 cm de dimetro. A casa inclui um HRV com

    registos de controlo que selecionam entre dois sistemas possveis de condutas de insuflao,

    dependendo da temperatura do ar exterior: se esta for baixa, o ar passa pelos tubos enterrados; se

    for amena insuflada diretamente do exterior; se alta, novamente insuflada pelos tubos. Esta

    estratgia de controlo no foi totalmente bem-sucedida, e, de acordo com [11], na segunda

    PassivHaus em Illinois, no se avanou para um sistema de tubos enterrados, o que demonstra um

    revs em termos de confiana nesta soluo.

    3) Vila do Bispo, Portugal [12] e [13]

    Caso de estudo de 3 casas do tipo vivenda, localizadas no sudoeste portugus, em que se

    incorporou tubos enterrados para funcionar parte do dia (meio da tarde at incio da manh),

    monitorizando o seu desempenho e impacte em termos de condies trmicas interiores. Os

    resultados foram considerados parcialmente inconclusivos por terem sido registados apenas durante

    6 meses (de meados de Julho a meados de Janeiro) e porque o terreno tinha sido perturbado

    recentemente, logo no tinha tido tempo para assentar. No obstante, o estudo mostrou que o

    sistema de tubos excelente a remover os mximos e mnimos da temperatura exterior diria,

    conseguindo fazer a temperatura do ar variar no mximo: -11C em arrefecimento e +8C em

    aquecimento. A potncia de arrefecimento mdia tinha sido estimada em 2.5 kW e a atingida foi

    avaliada em 4.8 kW. O relatrio revela que a razo de se ter optado por no funcionar com o sistema

    em contnuo foi para permitir a recuperao trmica do solo embora se diga que esta pode no ser

    necessria. No se apresentam dados que comprovem esta necessidade no entanto o relatrio [12] e

    [13] menciona um decrscimo do rendimento do sistema quando se usa o sistema vrios dias

    quentes seguidos, devido ao sobreaquecimento do solo.

    4) Lisboa, Portugal [14]

    O edifcio SolarXXI, construdo em Lisboa no ano de 2006, considerado um edifcio

    altamente eficiente luz da regulao portuguesa e combina vrias medidas passivas com

    tecnologias de energias renovveis. Uma das solues passivas implementadas consiste na

    insuflao de ar por tubos enterrados para pr-arrefecimento do ar, sendo este o nico mecanismo de

    arrefecimento do edifcio. O sistema de tubos enterrados constitudo por 32 tubos de 30 cm de

    dimetro e 15 m de comprimento, instalados a 4.5 m de profundidade onde a temperatura do solo

    varia entre 13 - 19C, conferindo um bom potencial de arrefecimento do ar exterior no Vero. O ar

    circula por conveco natural ou ventilao forada (cada tubo tem um ventilador de 30 W

  • 9

    associado). Nos dias de vero o ar insuflado nos gabinetes entre os 22 - 23 C, resultando num

    decrscimo da temperatura interior de cerca de 2 - 3 C. A ventilao natural por infiltrao pela

    fachada e cobertura desempenha um papel fundamental nas condies de conforto no interior,

    principalmente quando promovida durante a noite no Vero, para remoo da carga trmica

    acumulada durante o dia.

    1.3.3 Consideraes gerais sobre a tecnologia:

    A tecnologia de tubos enterrados pode ser utilizada tanto em aquecimento como em

    arrefecimento. Contudo, o funcionamento em arrefecimento considerado, na maioria das vezes,

    como mais interessante pelo facto de na situao de aquecimento, a recuperao de energia trmica

    do ar extrado para o ar insuflado (HRV) ser uma tcnica bastante mais matura e sem problemas de

    controlo. No obstante, mesmo em aquecimento, os tubos enterrados podem ser uma soluo

    bastante til para evitar congelao no HRV quando os edifcios se localizam em climas muito

    rigorosos. Em arrefecimento podem-se distinguir trs tipos de aplicaes dos tubos enterrados:

    Arrefecimento para conforto, Arrefecimento de espao e Arrefecimento auxiliar [15].

    No Arrefecimento para conforto, o sistema de tubos usado unicamente para aumentar o

    conforto no espao, sem uma capacidade de arrefecimento predefinida. As aplicaes tpicas so

    sistemas de ventilao de espaos com taxas de renovao do ar interior e ganhos trmicos internos

    baixos, nos quais no existem outros sistemas de climatizao. Sendo assim, a temperatura do ar

    insuflado pelos tubos normalmente inferior temperatura interior, pelo que a ventilao com os

    tubos vai arrefecendo o espao e cumprindo os caudais mnimos de ar novo. Este sistema

    particularmente eficiente para remover cargas trmicas exteriores.

    No Arrefecimento de espao, a funo do sistema de tubos remover cargas trmicas

    interiores atravs da ventilao, logo para elevadas valores destas cargas, um valor elevado de

    caudal de ventilao necessrio. A capacidade de arrefecimento depende sobretudo da

    temperatura exterior e das condies do solo. Sob cargas constantes, o desempenho do sistema

    deteriora-se pela impossibilidade do solo recuperar a capacidade de arrefecimento (devido ao

    sobreaquecimento). Sendo assim, como medida nica de arrefecimento, no geralmente suficiente

    para remover nveis constantes de cargas trmicas elevadas. Valores experimentais apontam para

    um mximo de 30-50 kWh/m2dia com uma taxa de 2 renovaes por hora. Assim que a temperatura

    exterior desce abaixo dos 19C (por exemplo noite) deve-se aproveitar para insuflar diretamente

    esse ar atravs de um by-pass aos tubos, com uma taxa superior a 4 renovaes por hora. Este

    procedimento permite regenerar o sistema de tubos enterrados.

    No Arrefecimento auxiliar, tal como o nome indica, o sistema de tubos assiste um sistema

    mecnico (ativo) de arrefecimento, ou vice-versa. Caso haja picos de ganhos trmicos interiores,

  • 10

    estes podem ser absorvidos pelo sistema mecnico e o restante arrefecimento ser feito por meio de

    ventilao com tubos enterrados. Caso as cargas trmicas sejam superiores, a ventilao e o

    arrefecimento devem ser separados. Sendo assim, o sistema de tubos enterrados usado para

    cumprir os caudais mnimos de renovao de ar, estabelecendo um pr-arrefecimento, enquanto as

    restantes cargas trmicas so removidas por outro sistema de refrigerao.

    Dois dos parmetros determinantes para o funcionamento satisfatrio do sistema de tubos

    enterrados so o seu posicionamento e a sua dimenso. No que diz respeito ao posicionamento,

    quanto mais profundo os tubos forem enterrados, maior o amortecimento da temperatura do solo em

    relao exterior. No entanto, os custos com as escavaes tambm crescem com a profundidade

    qual se instalam os tubos, portanto um compromisso entre estas duas variveis deve ser

    estabelecido. Outro fator importante em termos do posicionamento consiste na distncia entre tubos

    instalados. De acordo com o IEA Annex [15], estes devem estar afastados cerca de 1 metro sob pena

    de haver interferncia trmica considervel caso a distancia seja menor. Todavia, no apresenta a

    gama de valores de dimetros correspondente a este afastamento. necessrio ter tambm em

    ateno as transferncias de calor pelo cho do edifcio quando os tubos so implementados por

    baixo do edifcio.

    Quanto dimenso do sistema, este dependente do caudal de ar de projeto e da rea de

    implantao disponvel. Alm destes, h que considerar tambm a potncia de ventilao necessria

    para se atingir o caudal de ar pretendido, visto que, medida que o comprimento dos tubos e

    velocidade de passagem do ar aumentam, esta tambm aumenta. A mesma referncia bibliogrfica

    [15] aponta para uma velocidade mxima de 2 m/s do escoamento para limitar as perdas de carga no

    sistema. Quanto ao comprimento, o aumento deste parmetro implica geralmente um aumento do

    dimetro para limitar as perdas em linha. Por outro lado, no projeto de tubos de grande comprimento

    deve ser considerada a expanso trmica do equipamento.

    Considerando os tubos enterrados uma medida de ventilao necessrio ter em ateno a

    qualidade do ar insuflado. O ar entrada do tubo pode desde logo estar contaminado por partculas

    suspensas, poluentes de ar no-volteis (plen, fungos e bactrias) e fumo de escape dos

    automveis. Para reduzir-se a sua concentrao, aconselha-se a elevar o ponto de insuflao e a

    colocar filtros de partculas, desde que a manuteno e limpeza que necessitam seja realizada. Outra

    vantagem de afastar a insuflao do solo reduzir a temperatura do ar de entrada, no caso em que

    se pretenda arrefecimento. Com este fim tambm comum colocar vegetao (inodora) nas

    redondezas da entrada dos tubos assim como afast-la de superfcies com alta exposio solar. O

    outro fator determinante para a qualidade do ar interior o crescimento de bactrias por acumulao

    de condensados ao longo do tubo, embora, segundo a literatura, seja fcil evitar este problema

    atravs do projeto, instalao, operao e manuteno apropriadas do sistema. O tubo deve

    apresentar baixa rugosidade, de preferncia com revestimento anti-micro-organismos, alguma

  • 11

    inclinao para escoamento e evacuao de condensados num ponto inferior e junes seladas para

    evitar que a humidade do terreno penetre, dentro do possvel, no sistema.

    Em termos de manuteno, a maior ateno deve ser prestada aos filtros para garantir a

    qualidade do ar interior atravs da sua limpeza ou substituio monitorizadas pela perda de carga ou

    colmatao. A impossibilidade, ou elevada dificuldade, em reparar este tipo de sistemas obriga a que

    no se avance para solues com maior probabilidade de falharem tais como espessura de tubos

    mais finas. Pelo contrrio, todo o dimensionamento do sistema deve ter como objetivo um ciclo de

    vida longo (>50 anos).

    Concluses sobre os principais parmetros de projeto [8]:

    Tipo de solo: A maior eficincia trmica alcanada por um solo saturado argiloso. Quanto

    maior for a humidade do solo, maior ser a condutibilidade trmica e a transferncia de calor

    latente no inverno.

    Profundidade abaixo do nvel do solo: Quanto maior a profundidade, menor ser o efeito da

    variao do ambiente exterior no solo, mas mais elevados sero os custos de instalao;

    Dimetro do tubo: tubos de menor dimetro so termicamente mais eficientes mas impem

    perdas de carga superiores e requerem instalaes maiores. Um compromisso deve ser

    encontrado entre o custo da instalao e a sua eficincia trmica.

    Velocidade de passagem do ar: a sua diminuio conduz a um aumento da eficincia trmica

    e a diminuio das perdas de carga. Dependendo do valor de caudal de ar novo pretendido, a

    diminuio da velocidade do ar tem de ser compensada por um maior nmero de tubos.

    Comprimento dos tubos: este parmetro determina a eficincia trmica da instalao mas o

    seu valor mximo encontra-se limitado pelo custo e perda de carga. Uma eficincia trmica

    de 100% requereria um tubo de comprimento infinito.

    1.4 Contribuio

    Em relao aos trabalhos efetuados na rea e descritos no Captulo 1.3, o presente trabalho

    apresenta as seguintes contribuies:

    Desenvolvimento de uma ferramenta de Pr-Processamento das variveis com influncia no

    desempenho do permutador de calor Terra-Ar para dimensionamento do arranjo ideal perante

    os constrangimentos rea de implantao.

  • 12

    Esta ferramenta pretendeu dar resposta a duas limitaes do modelo Earthtube do

    EnergyPlus: impossibilidade de modelar mais que um tubo de permuta, e analisar a potncia

    de ventilao necessria para funcionamento do sistema. Sendo este modelo bastante

    difundido, foram revistos vrios estudos paramtricos que careciam de versatilidade, ficando

    bastante limitados aos parmetros desse modelo.

    Finalmente, esta ferramenta permite analisar as trocas trmicas entre o ar e o solo pelos

    mesmos algoritmos que o mdulo Earthtube. Sendo assim, uma vez identificado o

    comprimento do tubo equivalente a um certo arranjo de tubos projetado no Pr-Processador,

    pode-se utilizar todas as capacidades do EnergyPlus para estudar o impacte do permutador

    dimensionado no funcionamento do edifcio, visto que esse tubo equivalente reproduz com

    preciso o desempenho do sistema projetado ao longo do ano.

    1.5 Organizao

    No Captulo 1 enquadra-se o estudo de uma soluo passiva de climatizao na conjuntura

    atual e na poltica de sustentabilidade defendida pelo proprietrio do edifcio que caso de estudo

    neste trabalho, Corinthia Hotel Lisbon. Seguidamente, apresenta-se uma reviso bibliogrfica

    tecnologia de tubos enterrados para climatizao, abrangendo a modelao, casos de estudo e

    consideraes gerais sobre a mesma.

    O Captulo 2 dedica-se apresentao dos modelos utilizados neste estudo, nomeadamente,

    o modelo do edifcio construdo em EnergyPlus, o modelo Earthtube usado para avaliar as vantagens

    deste tipo de ventilao, e por ltimo o modelo do Pr-Processador desenvolvido para o

    dimensionamento do permutador de calor Terra-Ar.

    No que diz respeito ao Captulo 3, nele que os resultados das anlises conduzidas so

    apresentados. Em primeiro lugar, apresenta-se uma anlise paramtrica a trs variveis de projeto,

    que culmina com o dimensionamento do sistema considerado ideal para o caso em estudo. De

    seguida, apresenta-se a identificao desse modelo com um tubo equivalente do modelo Earthtube

    que possibilitou as anlises subsequentes do desempenho do permutador no global do edifcio por

    simulaes anuais e em dias de projeto conduzidas no EnergyPlus. No final do captulo, discutem-se

    algumas estratgias de controlo que otimizariam o desempenho do sistema e desagrega-se as

    cargas trmicas do edifcio pelo balano energtico ao mesmo.

    No quarto captulo, so apresentadas as concluses acerca das vrias fases de estudo pelas

    quais passou este projeto.

  • 13

    2 Modelao

    Existem duas formas bsicas de se reduzir os gastos no consumo energtico dos edifcios:

    por um lado, utilizando recursos de energia renovveis e, por outro, aumentando a eficincia

    energtica do edifcio. Por forma a garantir um elevado nvel de eficincia energtica, o edifcio deve

    ser projetado para ser mais econmico na sua utilizao de energia, nomeadamente, para AVAC,

    iluminao e abastecimento de gua quente.

    Aspetos relacionados com transferncia de calor, tais como a conduo trmica, os fluxos

    convectivos, a radiao e os fluxos de massa pela envolvente, tm que ser contabilizados de forma

    apropriada para simular o desempenho trmico do edifcio. Atravs de mtodos de simulao

    computacional consegue-se melhorar a eficincia energtica de forma mais exata pelo facto de estes

    permitirem modelar, com preciso, a interligao de elevada complexidade inerente aos fenmenos

    mencionados. Para se conseguir perceber os princpios de conservao de energia e estratgias

    operacionais, existe a necessidade essencial de estudar os fatores que afetam o desempenho

    energtico e as caractersticas dos sistemas energticos do edifcio. Os programas atualmente

    existentes encerram capacidades de simulao energtica detalhada do edifcio bastante evoludas,

    oferecendo uma anlise extensiva e sistemtica desses fatores atravs de tcnicas de modelao

    computacionais.

    As simulaes computacionais so, genericamente, aceites pela maioria dos estudos para

    avaliar as necessidades energticas dos edifcios. O Departamento de Energia dos EUA listou 410

    ferramentas computacionais em todo o mundo com o intuito de simular, integralmente, os edifcios em

    termos energticos [16].

    Neste trabalho utilizaram-se duas dessas ferramentas computacionais, DesignBuilder e

    EnergyPlus, tanto para simular o comportamento energtico do edifcio com solues clssicas de

    climatizao como com solues passivas.

    2.1 Introduo ao EnergyPlus e DesignBuilder:

    O EnergyPlus um software de simulao energtica de edifcios para modelar o

    aquecimento, arrefecimento, iluminao, ventilao e outros fluxos de energia nos mesmos. Esta

    ferramenta nasceu da juno das capacidades e potencialidades dos dois programas de simulao

    mais utilizados nos EUA durante muitos anos: BLAST (patrocinado pelo Departamento da Defesa

    Americano) e DOE-2 (patrocinado pelo Departamento de Energia Americano), que divergem,

    essencialmente, no mtodo de clculo das cargas trmicas. O primeiro utiliza a abordagem dos

    fatores ponderados, enquanto o segundo utiliza a abordagem do balano energtico.

  • 14

    As capacidades de simulao do EnergyPlus abrangem desde timesteps menores que uma

    hora, mdulos de sistemas e equipamentos energticos com simulaes em cada zona baseadas no

    balano trmico, fluxos de ar multi-zona, conforto trmico, consumos de gua, ventilao natural at

    sistemas fotovoltaicos. Outra das caractersticas desta ferramenta ser um software em cdigo-

    aberto de estrutura modular que, deste modo, permite a adio de mdulos para modelar novas

    situaes. Uma das limitaes do EnergyPlus consiste em no fornecer um interface grfico ao

    utilizador. Para responder a esta limitao, foi mais tarde criado o programa DesignBuilder que

    permite o utilizador criar um modelo grfico 3D do edifcio num ambiente informtico atrativo e a

    utilizao de bases de dados meteorolgicas construdas para mais de 2000 localizaes mundiais. O

    DesignBuilder recorre, contudo, a todos os modelos e mtodos de clculo implementados no

    EnergyPlus, sendo portanto impossvel desassoci-lo do ltimo. Pelo contrrio, o EnergyPlus

    funciona por si prprio, e o modelo do edifcio que utiliza pode ser descrito diretamente em cdigo ou

    importado do DesignBuilder.

    Para utilizaes correntes, o DesignBuilder suficiente para descrever todas as solues

    normalmente implementadas, e, por conseguinte, a simulao do edifcio pode ser conduzida

    unicamente neste ambiente. O tipo de informao resultante da anlise neste software resume-se ao

    tipo de variveis normalmente consideradas relevantes para o projeto preliminar de edifcios:

    consumos energticos associados ao aquecimento e arrefecimento em todas as estaes do ano,

    valores mdios das temperaturas interior e das superfcies dos espaos analisados ao longo do ano,

    entre outras. Outra das potencialidades deste programa a possibilidade de se utilizar bases de

    dados de materiais nele integradas para a descrio da envolvente.

    J o EnergyPlus permite o clculo das cargas nos balanos trmicos; clculos integrados de

    cargas, sistemas e equipamentos no mesmo passo-de-tempo; e configuraes personalizveis pelo

    utilizador para o sistema de AVAC. Alm de apresentar uma estrutura modular para tornar simples a

    integrao de novos mdulos de simulao por parte de investigadores, os formatos dos dados de

    entrada e sada do programa so elementares para facilitar o desenvolvimento de ferramentas

    grficas de ps-processamento.

    2.1.1 Mtodos de Clculos de Energia:

    Genericamente, existem duas diferentes abordagens de modelao de edifcios e dos seus

    sistemas de AVAC: a Clssica (forward) e a Inversa (Data-driven). Na primeira estratgia o objetivo

    prever-se as variveis de sada de um determinado modelo com estrutura e parmetros conhecidos.

    Pelo contrrio, na abordagem Inversa, as variveis de entrada e sada do modelo so conhecidas por

    medio, e o objetivo determinar a descrio matemtica do sistema e estimar os seus parmetros.

    Nesta estratgia, o sistema, ou edifcio, j se encontra fisicamente construdo e os dados do seu

    desempenho esto disponveis para desenvolver, identificar ou validar o modelo. Contudo, a

  • 15

    abordagem clssica bastante mais usual dado o interesse para o projeto preliminar de sistemas, e

    esta a estratgia implementada no EnergyPlus.

    O primeiro passo na modelao a descrio fsica do edifcio, sistema ou equipamento de

    interesse. Dessa descrio, para o caso dos edifcios, fazem parte a geometria, localizao

    geogrfica, caractersticas fsicas (como por exemplo a espessura e material das paredes), tipo de

    equipamentos e horrios de funcionamento, tipo de sistema AVAC, horrios de funcionamento do

    prprio edifcio, entre outras informaes que procuram descrever, to fidedignamente quanto

    possvel, o edifcio. Aliando as informaes anteriores s condies climatricas exteriores e

    condies de conforto pretendidas para o interior do edifcio, possvel, atravs da abordagem

    Clssica, estimar as necessidades de energia mdias e mximas do edifcio. A descrio do modelo

    do edifcio em estudo neste trabalho apresentada mais frente.

    Calcular as cargas trmicas sensveis instantneas de um espao trata-se de um passo

    chave em qualquer simulao energtica de um edifcio. Como mencionado anteriormente, dois

    mtodos para este clculo foram defendidos pelos departamentos de Defesa e de Energia dos EUA,

    o mtodo do balano trmico e o dos fatores ponderados, respetivamente. Existe ainda um terceiro

    mtodo, designado por rede-trmica (Thermal Network), embora este no se encontre

    universalmente difundido. A carga trmica sensvel instantnea de um espao o fluxo de calor para

    a massa de ar contida no mesmo. Esta grandeza, tambm conhecida como Cooling Load, difere dos

    ganhos trmicos (Heat Gain) pelo facto destes inclurem, normalmente, uma componente radiativa

    que atravessa o ar e absorvida pelas superfcies do espao. A carga trmica sensvel instantnea

    de um espao inteiramente convectiva: sendo transmitida por conveco tanto na superfcie de

    equipamentos, iluminao e ocupantes, como na superfcie das paredes do espao, as quais

    absorvem a parcela radiativa da energia das cargas anteriores.

    Ambos os mtodos, do balano trmico e dos fatores ponderados, quantificam a conduo

    atravs de funes de transferncia para descrever os ganhos ou perdas trmicas pela envolvente. A

    principal diferena entre os dois, o mtodo utilizado para o clculo da transferncia de calor para o

    espao subsequente. De acordo com a experincia, os resultados so bastante semelhantes nos dois

    mtodos, tendo os fatores ponderados no mtodo correspondente que ser, especificamente,

    determinados para cada edifcio em anlise. Contudo, o mtodo do balano trmico uma

    abordagem mais fundamental e portanto, este o mtodo utilizado no EnergyPlus. No obstante, a

    utilizao deste mtodo envolve considerar as seguintes hipteses simplificativas para todas as

    superfcies (paredes, janelas, teto e cho) do espao em estudo:

    Temperatura na superfcie uniforme;

    Radiao de altos e baixos comprimentos de onda uniforme;

    Superfcies radiantes difusas;

    Conduo de calor unidimensional.

  • 16

    Nos casos em que as hipteses simplificativas anteriores conduzam a um modelo com

    preciso inferior desejada, apenas modelos CFD se apresentam atualmente como soluo

    alternativa.

    A abordagem do balano trmico aplica um volume de controlo na face exterior de cada

    superfcie do edifcio, outro na face interior e um terceiro envolvendo o ar confinado em cada zona

    trmica. As representaes grficas dos volumes de controlo so representadas nas Ilustrao 2.1 e

    Ilustrao 2.2 [17].

    Ilustrao 2.1 - Volume de controlo na face exterior da envolvente

    Ilustrao 2.2 - Volume de controlo na face interior da envolvente

    Nos balanos trmicos das superfcies, exterior e interior, as quatro e seis contribuies,

    respetivamente, a atuar sobre os volumes de controlo tm de estar equilibradas para o princpio da

    conservao de energia se verificar. Matematicamente pode-se formular equaes 2.1 e 2.2 para os

    diagramas das Ilustrao 2.1 e Ilustrao 2.2, referentes s faces exterior e interior, respetivamente.

  • 17

    Em que:

    o calor absorvido pela superfcie devido radiao solar (curto comprimento de onda),

    o calor trocado pela superfcie com a vizinhana (incluindo o solo, o cu, o ar, outros

    edifcios, vegetao, etc.) por radiao trmica (longo comprimento de onda),

    o calor trocado entre o ar envolvente e a superfcie por conveco,

    o calor conduzido pelos materiais da parede.

    Em que:

    o calor absorvido na face interior da superfcie devido radiao solar,

    o calor absorvido pela superfcie devido radiao de curto comprimento de onda

    proveniente das iluminao interior

    o valor lquido de calor trocado entre a superfcie e as restantes superfcies da zona

    por radiao trmica (longo comprimento de onda)

    o calor absorvido pela superfcie devido radiao de longo comprimento de onda

    proveniente dos ganhos trmicos interiores tais como pessoas, iluminao e equipamentos.

    o calor trocado entre o ar da zona e a superfcie por conveco,

    o calor conduzido pelos materiais da parede.

    O balano trmico ao ar interior da zona sob estudo pode ser formulado de duas formas

    distintas caso se contabilize, ou no, a acumulao de energia no prprio ar, ou seja, a sua inrcia

    trmica. O diagrama com as contribuies trmicas para o ar apresentado na Ilustrao 2.3 [17].

    Ilustrao 2.3 - Volume de controlo ao ar no interior da zona trmica

  • 18

    A formulao que no toma em considerao a inrcia trmica do ar descrita

    matematicamente pela equao 2.3 de balano trmico:

    Em que:

    a transferncia de calor por conveco entre todas superfcies e o ar no volume de controlo,

    a contribuio convectiva de calor dos ganhos internos tais como pessoas, iluminao

    e equipamentos para o ar no volume de controlo,

    o calor ganho ou perdido pelo ar devido infiltrao de ar exterior,

    o calor fornecido ou retirado ao espao devido ao sistema de condicionamento de ar existente.

    Na maioria dos casos a equao qusi-estacionria apresentada anteriormente adequada

    para resolver o balano trmico ao volume de controlo. Contudo, caso se pretenda ter em conta a

    acumulao de energia no ar, o balano trmico descrito pela equao 2.4.

    Em que representa o produto entre a massa de ar no volume de controlo e o seu calor especfico a

    presso constante, e as restantes variveis mantm as definies anteriores.

    2.2 Modelo do Edifcio

    O edifcio em anlise caracteriza-se por ser uma extenso do atual restaurante do Corinthia

    Hotel Lisbon, atravs do qual se pretende aumentar a capacidade em 204 lugares sentados. Para a

    elaborao do modelo de simulao trmica do edifcio, recorreu-se aos desenhos facultados e que

    so apresentados no Anexo A, e a dados sobre as solues construtivas da fachada do hotel onde o

    novo espao figurar.

    2.2.1 Localizao geogrfica e condies climatricas

    O edifcio em estudo ser construdo no atual jardim do Corinthia Hotel Lisbon, um hotel

    localizado na cidade de Lisboa, na zona de Sete-Rios (38.75N, 9.15E, 57m) como se apresenta na

    Ilustrao 2.4.

  • 19

    Ilustrao 2.4 - Localizao geogrfica do edifcio em estudo

    Embora se tenha introduzido as coordenadas GPS atrs mencionadas na simulao, a

    localizao na realidade definida pelas coordenadas do local onde foram feitas as medies

    climatricas do ficheiro de dados climticos que se introduz para a simulao. No presente trabalho

    utilizou-se o ficheiro disponibilizado pelo LNEG (ex-INETI) para a regio de Lisboa no qual se

    estabelecem condies climatricas dirias para um ano tpico e condies extremas para projeto de

    solues de climatizao. No Anexo B apresenta-se a distribuio da temperatura do ar exterior ao

    longo do ano assim como em condies de projeto.

    2.2.2 Modelo da Envolvente

    O modelo da envolvente foi desenvolvido no programa DesignBuilder pela, j citada,

    facilidade de modelao 3D em termos de interface grfica, tendo resultado no modelo se apresenta

    na Ilustrao 2.6.

    Ilustrao 2.5 - Desenhos 3D do projeto de ampliao do restaurante

  • 20

    Ilustrao 2.6 - Representao grfica do modelo construdo no DesignBuilder

    A utilizao de uma verso experimental do DesignBuilder (tal como est patente na marca

    de gua da Ilustrao 2.6) impossibilitou uma representao fidedigna da aparncia do edifcio pelo

    facto de os materiais do programa, utilizados na fachada e cobertura, no terem o aspeto visual das

    solues construtivas do hotel. Faz-se a ressalva, contudo, de que esses materiais no programa

    correspondem s solues construtivas reais em termos de propriedades fsicas e trmicas.

    A estrutura do novo edifcio do tipo prtico com os espaos entre pilares acabados em vos

    envidraados do tipo porta. O facto de o edifcio estar orientado a Sul, ou seja, tendo elevada

    exposio solar, obrigou a que se colocasse uma soluo do tipo pala na fachada com esta

    orientao por forma a minimizar os ganhos trmicos devido radiao solar. A razo de se

    posicionar essa pala a um nvel inferior altura do vo envidraado, consiste em promover

    iluminao natural na sala. Devido altitude solar ser mais elevada durante a estao de

    arrefecimento, a maior parte dos efeitos de aquecimento pela radiao solar so absorvidos pela pala

    nesta estao.

    A simulao trmica do edifcio requere, necessariamente, uma descrio de toda a

    envolvente, nomeadamente, dimenses, geometria e propriedades trmicas e ticas macroscpicas

    dos materiais que a constituem. Em termos de dimenses e geometria o edifcio ter uma geometria

    simples retangular com cerca de 187 m2 (21,60 x 8,65 m) de rea til (interior) e um p direito de,

    aproximadamente, 4 m. A escolha dos materiais para modelar a envolvente foi baseada nas solues

    construtivas utilizadas na atual fachada do hotel onde ser acoplado este novo espao. Em termos

    das superfcies opacas, tanto a alvenaria das paredes (pilares da estrutura prtico) como a

    cobertura e o piso, so construdos em beto, diferindo ento no isolamento e acabamento. A Tabela

    2.1 resume a composio dos trs tipos de solues utilizadas nas superfcies opacas da envolvente.

    Representaes grficas destas solues construtivas podem ser vistas na Ilustrao 6.2, do Anexo

    A.

  • 21

    Tabela 2.1 - Descrio das superfcies opacas da envolvente

    Propriedade Pilares Cobertura Piso

    2,339 0,620 1,162

    Camada interior Material

    Gesso

    (Estuque)

    Gesso

    (Teto falso) Brita

    Espessura 30 20 100

    Camada 2 Material Beto Ar Beto

    Espessura 300 200 150

    Camada 3 Material - Beto Betonilha

    Espessura - 200 40

    Camada 4 Material - Betonilha -

    Espessura - 40 -

    Camada 5 Material -

    Roofmate

    XPS Poliestireno Extrudido -

    Espessura - 30 -

    Camada exterior Material Granito Vermelho

    Leca

    (agregado leve de argila)

    Madeira

    (pavimento)

    Espessura 30 40 20

    Por outro lado, os vos envidraados, que representam cerca de 65% na envolvente lateral

    exterior do edifcio, foram modelados, com as limitaes inerentes ao programa, de acordo com as

    especificaes dos atuais vidros utilizados na fachada Sul do hotel, cujas propriedades so

    apresentadas na Ilustrao 6.4, do Anexo A. A Tabela 2.2 resume a constituio da soluo adotada

    para as trs fachadas laterais exteriores do edifcio.

    Tabela 2.2 - Descrio dos vidros da envolvente

    Propriedade Vidros

    1,563

    Transmisso solar total 0,583

    Transmisso solar direta 0,467

    Transmisso de luz 0,666

    Camada interior Material Clear glass

    Espessura 6

    Camada intermdia

    Material Ar

    Espessura 12

    Camada exterior Material Clear glass

    Espessura 6

  • 22

    Alm da especificao de todos os materiais, o modelo exige que se defina algumas

    propriedades das superfcies para avaliao trmica das mesmas. Na Tabela 2.3 apresentado um

    resumo dessas propriedades, tanto para as superfcies opacas como para os vos envidraados do

    edifcio em estudo.

    Tabela 2.3 - Caracterizao das superfcies da envolvente

    Superfcie/

    Fachada

    Soluo construtiva

    rea (m2) Condio de

    Fronteira Exterior

    Exposio solar

    Exposio ao Vento

    Norte Envidraados 86.40 Adiabatic NoSun NoWind

    Sul Pilares 27.44

    Outdoors SunExposed WindExposed Envidraados 58.96

    Este Pilares 13.54

    Outdoors SunExposed WindExposed Envidraados 34.60

    Oeste Pilares 13.54

    Outdoors SunExposed WindExposed Envidraados 34.60

    Cho Piso 186.84 Ground NoSun NoWind

    Teto Cobertura 186.84 Outdoors SunExposed WindExposed

    No que diz respeito modelao trmica da envolvente, os critrios de modelao anteriores

    (condio de fronteira exterior, exposio solar e exposio ao vento) apresentam-se como os mais

    relevantes. Juntamente com a soluo construtiva, que define o coeficiente de transmisso de calor U

    (Tabela 2.1 e Tabela 2.2) e com a rea, as superfcies ficam termicamente identificadas, cumprindo

    com os requisitos de utilizao dos algoritmos ASHRAE implementados no EnergyPlus.

    Uma descrio exaustiva dos algoritmos pode ser consultada nas publicaes do software,

    nomeadamente, EnergyPlus Input Output Reference Document [18] e EnergyPlus Engineering

    Reference Document [19]. No obstante, dada a pertinncia para a explicao do modelo, apresenta-

    se de seguida uma descrio superficial de cada uma das opes.

    Condio de Fronteira Exterior:

    Adiabatic - Para modelar superfcies internas na mesma zona trmica (mesmas condies de

    conforto). Esta superfcie no transfere calor para fora da zona trmica, mas tem capacidade de

    acumular calor por inrcia trmica da sua massa. Apenas a face interior da superfcie troca calor com

    a zona (i.e. duas superfcies adiabticas seriam necessrias para modelar parties interiores onde

    ambos os lados da superfcie esto a trocar calor com a zona). Uma vez que a superfcie Norte do

    edifcio, na situao real, estar aberta para o restaurante existente, as condies de conforto sero,

    partida, as mesmas e no haver trocas considerveis de calor. Como neste trabalho no se

    modelou o espao existente do restaurante, mas apenas o novo espao, optou-se por modelar esta

    superfcie Norte como adiabtica para no permitir trocas de calor com o exterior, j que, na

  • 23

    simulao, o exterior desta superfcie seria o meio ambiente, conduzindo a um impacte irrealista

    sobre a zona. Visto que o modelo Adiabatic considera a inrcia trmica da superfcie, e na realidade

    esta superfcie no existir, optou-se por model-la com uma soluo construtiva de Envidraados

    por ter menor capacidade de acumulao trmica que qualquer das solues opacas consideradas.

    Outdoors Para modelar superfcies expostas a condies de temperatura do meio ambiente

    exterior. Est diretamente ligada aos modelos de Exposio solar e ao vento que so explicados

    adiante. Utilizou-se este tipo de condio de fronteira para todas as superfcies em contacto com o

    meio ambiente, que no caso do edifcio modelado so as fachadas Este, Oeste e Sul, e ainda a

    cobertura.

    Ground Para modelar superfcies em contacto com o solo. As temperaturas que este

    modelo utiliza para a superfcie do solo so valores mdios introduzidos para cada ms. Neste projeto

    considerou-se o valor por defeito do programa EnergyPlus, 18C, constante em todo o ano, e aplicou-

    se este modelo superfcie do piso o edifcio.

    Exposio solar:

    As superfcies com exposio solar, fachadas laterais Este, Sul e Oeste, so modeladas

    como SunExposed. Pelo contrrio, o piso e a fachada Norte, por serem superfcies interiores, no

    esto expostas radiao solar e, portanto, so modeladas com NoSun.

    Exposio ao Vento:

    Homologamente exposio solar, as superfcies interiores no se encontram expostas ao

    vento e so modeladas como NoWind, enquanto as exteriores so modeladas como WindExposed.

    Contudo, especificar uma superfcie como NoWind acarreta vrias implicaes em termos de balano

    trmico que pertinente ressalvar. Por um lado, utilizada a correlao para o coeficiente de

    conveco exterior mais simples do ASHRAE com velocidade do vento nula. Por outro lado, uma vez

    que o mtodo simples do ASHRAE no separa os valores da radiao de comprimento de onda longo

    equivalente para o cu e solo, ao utilizar-se NoWind tambm se elimina as trocas por radiao de

    longo comprimento de onda do exterior da superfcie em causa para o cu e solo. Sendo assim, o

    nico mecanismo de transferncia de calor nestas superfcies conveco simples. Tendo em conta

    que ambas as superfcies assim modeladas no presente estudo so o piso e a fachada Norte (interior,

    logo sem interao radiativa com o solo e cu), pode-se considerar que esta hiptese est bem

    fundamentada.

  • 24

    As superfcies anteriores delimitam uma, e s uma, zona trmica, que em termos de

    modelao no EnergyPlus fica definida pelos parmetros da Tabela 2.4.

    Tabela 2.4 - Caracterizao da zona trmica

    rea til (m2) 186,84

    Altura do teto (m