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Dimensionamento de um Permutador de Calor
Terra-Ar e Avaliao de Impacte na
Climatizao de um Edifcio
Frederico Srgio Marques Espinha Lopes
Dissertao para obteno do Grau de Mestre em
Engenharia Mecnica
Jri
Presidente: Professor Doutor Mrio Manuel Gonalves da Costa
Orientador: Professor Doutor Joo Lus Toste de Azevedo
Vogal: Professora Doutora Marta Joo Nunes Oliveira Pano
Novembro 2012
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Agradecimentos
No obstante o trabalho individual que logicamente esta dissertao encerrou, no poderia
deixar de expressar o meu agradecimento a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contriburam
para todo o percurso que culminou neste documento:
Ao Professor Toste de Azevedo, no s pela orientao, ajuda e disponibilidade no decorrer
deste trabalho, mas por tambm pelo trabalho nas disciplinas que me lecionou e me fizeram
enveredar por este tema.
Ao Corinthia Hotel Lisbon, na incansvel pessoa do Eng. Pedro Ferreira, por me ter
fornecido o caso de estudo prtico para a aplicao da tecnologia aprofundada.
Aos vrios bons amigos que o IST me permitiu conhecer e que, pelo bom ambiente no dia-a-
dia, tornaram estes cinco anos numa jornada efmera repleta de bons momentos para relembrar,
deixando um agradecimento especial ao Alexandre Alcntara e ao Caio Pereira que os ltimos seis
meses de luta conjunta justificam.
A todos os meus amigos sem exceo que, injustamente, no particularizo, mas sem os quais
teria sido muito mais complicado um percurso acadmico bem-sucedido.
E finalmente, minha famlia, provavelmente a nica contribuio sem a qual no me seria
possvel ser a pessoa que sou hoje, pelo inquestionvel apoio, pela devida exigncia e por todas as
oportunidades proporcionadas.
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Resumo
Neste trabalho props-se estudar a viabilidade tcnica da tecnologia de climatizao passiva,
permutador de calor Terra-Ar, desde a fase de dimensionamento at fase de avaliao do seu
impacte em termos da reduo das necessidades de climatizao ativa num edifcio novo, resultante
da ampliao de um restaurante do Corinthia Hotel Lisbon.
Este estudo englobou uma fase preliminar de anlise paramtrica influncia da velocidade
mdia de escoamento do ar, do dimetro e do comprimento no desempenho do sistema, para a qual
se desenvolveu um Pr-Processador de clculo e que permitiu colmatar algumas limitaes do
modelo Earthtube do EnergyPlus. Esta fase culminou no dimensionamento do sistema considerado
ideal dentro das limitaes espaciais de instalao do mesmo no caso do edifcio em estudo.
Seguidamente utilizou-se o modelo Earthtube do EnergyPlus para construir um tubo
enterrado com desempenho equivalente ao sistema dimensionado por forma a avaliar o impacte que
este teria na dinmica global trmica do edifcio. Para esta avaliao tirou-se partido das capacidades
do EnergyPlus para simulao trmica anual e em condies de projeto, com o intuito de investigar
no s as poupanas de energia alcanadas com esta tecnologia, mas tambm a reduo de
potncia instalada para climatizao.
O estudo termina com um balano trmico ao edifcio para concluir qual o impacte global
desta tecnologia no mesmo, e aborda estratgias de controlo para otimizar o desempenho do
sistema.
Palavras-chave: Permutador de Calor Terra-Ar, Tubos enterrados, Climatizao Passiva, Modelo
Earthtube do EnergyPlus, Ganho trmico de ventilao.
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Abstract
This work aimed to assess the technical feasibility of the passive air-conditioning technology
Earth-to-Air-Heat-Exchanger (EAHE), from the very early stage of the design through the evaluation of
its impact on the reduction of the active air-conditioning needs in a new building. This new building is
the extension of an existent restaurant, which is property of Corinthia Hotel Lisbon.
This study comprised a preliminary phase of parametric analysis to the influence of mean air
flow speed through the tubes, diameter and length in the system performance. This entailed the
development of a Pre-Processor calculation program in order to overcome some limitations that
Earthtube model of EnergyPlus holds. This phase ended up with the system optimal characteristics
design within the space constraints that the case study implied.
Afterwards, EnergyPlus Earthtube model was used to build a buried pipe with such
dimensions that its performance lead to results equivalent to those of the optimum projected system.
That equivalent earth tube was used to evaluate the impact of the projected system in the global
building thermal performance. This evaluation was conducted by taking advantage of the all-year-
round and design days simulation available in EnergyPlus, aiming not only to investigate the energy
savings brought by this technology but also the reduction on the rated power for air-conditioning.
This study finishes with an energy balance to the building in order to conclude about the global
impact of this technology, and report on control strategies for optimizing the EAHE performance.
Keywords: Earth-to-Air-Heat-Exchanger, Buried Pipes, Passive Air-conditioning, EnergyPlus
Earthtube model, Ventilation Heat Gain.
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ndice
Agradecimentos ..................................................................................................................................... i
Resumo.................................................................................................................................................. iii
Abstract .................................................................................................................................................. v
ndice .................................................................................................................................................... vii
Lista de Ilustraes .............................................................................................................................. ix
Lista de Tabelas ................................................................................................................................... xii
Lista de Smbolos ............................................................................................................................... xiv
Lista de Acrnimos ............................................................................................................................ xvi
1 Introduo ......................................................................................................................................... 1
1.1 Enquadramento .......................................................................................................................... 1
1.2 Objetivo e metodologia ............................................................................................................... 3
1.3 Reviso Bibliogrfica .................................................................................................................. 4
1.3.1 Modelao ........................................................................................................................ 5
1.3.2 Casos de Estudo e dados experimentais: ........................................................................ 7
1.3.3 Consideraes gerais sobre a tecnologia: ....................................................................... 9
1.4 Contribuio .............................................................................................................................. 11
1.5 Organizao ............................................................................................................................. 12
2 Modelao ....................................................................................................................................... 13
2.1 Introduo ao EnergyPlus e DesignBuilder: ............................................................................. 13
2.1.1 Mtodos de Clculos de Energia: .................................................................................. 14
2.2 Modelo do Edifcio .................................................................................................................... 18
2.2.1 Localizao geogrfica e condies climatricas .......................................................... 18
2.2.2 Modelo da Envolvente .................................................................................................... 19
2.2.3 Simulao ....................................................................................................................... 24
2.2.4 Condies de Operao do edifcio ............................................................................... 26
2.3 Modelo Earthtube do EnergyPlus ............................................................................................. 30
2.4 Modelo do Pr-Processador ..................................................................................................... 35
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3 Discusso de Resultados .............................................................................................................. 45
3.1 Estudo paramtrico ao sistema de tubos enterrados ............................................................... 47
3.1.1 Velocidade mdia de escoamento do ar ........................................................................ 49
3.1.2 Dimetro ......................................................................................................................... 51
3.1.3 Comprimento .................................................................................................................. 53
3.2 Dimensionamento do sistema .................................................................................................. 55
3.3 Modelo equivalente no EnergyPlus .......................................................................................... 59
3.4 Desempenho do sistema em condies de projeto ................................................................. 61
3.4.1 Dia de arrefecimento de projeto ..................................................................................... 62
3.4.2 Dia de aquecimento de projeto ...................................................................................... 66
3.5 Desempenho do sistema ao longo do ano ............................................................................... 70
3.6 Estratgias de controlo: ............................................................................................................ 75
3.7 Balano de Energia ao espao: ................................................................................................ 80
4 Concluses ..................................................................................................................................... 85
5 Referncias Bibliogrficas ............................................................................................................ 89
6 Anexos ............................................................................................................................................A-1
A. Dados de apoio modelao .................................................................................................. A-1
B. Dados climticos ...................................................................................................................... B-1
C. Outras Simulaes ..................................................................................................................C-1
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Lista de Ilustraes
Ilustrao 1.1 - Desagregao dos Consumos de Energia Primria nos EUA [1] ................................................... 1
Ilustrao 2.1 - Volume de controlo na face exterior da envolvente ...................................................................... 16
Ilustrao 2.2 - Volume de controlo na face interior da envolvente ....................................................................... 16
Ilustrao 2.3 - Volume de controlo ao ar no interior da zona trmica ................................................................... 17
Ilustrao 2.4 - Localizao geogrfica do edifcio em estudo .............................................................................. 19
Ilustrao 2.5 - Desenhos 3D do projeto de ampliao do restaurante ................................................................. 19
Ilustrao 2.6 - Representao grfica do modelo construdo no DesignBuilder .................................................. 20
Ilustrao 2.7 - Esquema genrico do permutador de calor Terra-Ar .................................................................... 35
Ilustrao 3.1 - Representao esquemtica do permutador de calor Terra-Ar projetado .................................... 46
Ilustrao 3.2 - Influncia do passo-de-comprimento da simulao na temperatura de insuflao do ar e Potncia
trmica trocada .............................................................................................................................. 48
Ilustrao 3.3 - Influncia da condutibilidade do tubo na temperatura de insuflao do ar e Potncia trmica
trocada ........................................................................................................................................... 48
Ilustrao 3.4 Variao do COP e Potncias Trmica e de Ventilao com a Velocidade mdia do escoamento
....................................................................................................................................................... 49
Ilustrao 3.5 - Variao da Temperatura e caudal de insuflao com a Velocidade mdia do escoamento ....... 50
Ilustrao 3.6 - Variao do COP e das Potncias Trmica de Ventilao com o dimetro ................................. 52
Ilustrao 3.7 - Variao da Temperatura e Caudal de insuflao com o dimetro .............................................. 53
Ilustrao 3.8 - Variao do COP e das Potncias Trmica de Ventilao com o comprimento. .......................... 54
Ilustrao 3.9 - Variao da Temperatura e Caudal de insuflao com o comprimento ........................................ 54
Ilustrao 3.10 - Variao do Caudal insuflado com a Velocidade mdia do escoamento, para vrios dimetros
dos tubos ....................................................................................................................................... 56
Ilustrao 3.11 - Variao da Temperatura de Insuflao com a Velocidade mdia do escoamento, para vrios
dimetros dos tubos ....................................................................................................................... 56
Ilustrao 3.12 - Configurao do permutador de calor com arranjos de tubos em srie ...................................... 58
Ilustrao 3.13 - Evoluo da temperatura no interior do espao, no dia de arrefecimento de projeto num cenrio
de insuflao direta do ar exterior, sem climatizao .................................................................... 62
Ilustrao 3.14 - Evoluo da temperatura no interior do espao no dia de arrefecimento de projeto num cenrio
de insuflao pelo permutador de calor Terra-Ar, sem climatizao ............................................. 63
Ilustrao 3.15 - Evoluo da temperatura no interior do espao no dia de arrefecimento de projeto num cenrio
de insuflao direta do ar exterior, com climatizao .................................................................... 64
Ilustrao 3.16 - Evoluo da temperatura no interior do espao, no dia de arrefecimento de projeto num cenrio
de insuflao pelo permutador de calor Terra-Ar, com climatizao ............................................. 64
Ilustrao 3.17 - Perfil das necessidades de arrefecimento ativo no cenrio de insuflao do ar diretamente do
exterior ........................................................................................................................................... 65
Ilustrao 3.18 - Perfil das necessidades de arrefecimento ativo no cenrio de insuflao do ar pelo permutador
de calor Terra-Ar ............................................................................................................................ 65
Ilustrao 3.19 - Evoluo da temperatura no interior do espao, no dia de aquecimento de projeto num cenrio
de insuflao direta do ar exterior, sem climatizao .................................................................... 66
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x
Ilustrao 3.20 - Evoluo da temperatura no interior do espao no dia de aquecimento de projeto num cenrio
de insuflao pelo permutador de calor Terra-Ar, sem climatizao ............................................. 67
Ilustrao 3.21 - Evoluo da temperatura no interior do espao, no dia de aquecimento de projeto num cenrio
de insuflao direta do ar exterior, com climatizao .................................................................... 68
Ilustrao 3.22 - Evoluo da temperatura no interior do espao no dia de aquecimento de projeto num cenrio
de insuflao pelo permutador de calor Terra-Ar, com climatizao ............................................. 68
Ilustrao 3.23 - Perfil das necessidades de aquecimento ativo no cenrio de insuflao do ar diretamente do
exterior ........................................................................................................................................... 69
Ilustrao 3.24 - Perfil das necessidades de aquecimento ativo no cenrio de insuflao do ar pelo permutador
de calor Terra-Ar ............................................................................................................................ 69
Ilustrao 3.25 - Evoluo da temperatura mdia diria no interior do espao, com insuflao pelo permutador de
calor Terra-Ar e com climatizao ................................................................................................. 70
Ilustrao 3.26 - Perda trmica introduzida no espao pelo sistema de ventilao............................................... 71
Ilustrao 3.27 - Ganho trmico introduzido no espao pelo sistema de ventilao ............................................. 72
Ilustrao 3.28 - Necessidades de aquecimento que o sistema de climatizao tem de satisfazer ...................... 73
Ilustrao 3.29 - Necessidades de arrefecimento que o sistema de climatizao tem de satisfazer..................... 73
Ilustrao 3.30 - Balano anual aos consumos de climatizao ativa ................................................................... 74
Ilustrao 3.31 - Balano anual aos consumos de climatizao ativa, em funo da estratgia de controlo ........ 76
Ilustrao 3.32 - Reduo efetiva do pico de potncia de aquecimento por alterao de horrio de funcionamento
....................................................................................................................................................... 78
Ilustrao 3.33 - Evoluo da temperatura do ar exterior numa semana quente de Vero ................................... 78
Ilustrao 3.34 - Temperatura do interior na sala numa semana quente de Vero Sem Free Cooling ................. 79
Ilustrao 3.35 - Temperatura do interior na sala numa semana quente de Vero Com Free Cooling ................. 79
Ilustrao 3.36 - Desagregao dos ganhos trmicos do espao no caso de insuflao direta do ar exterior ...... 80
Ilustrao 3.37 - Desagregao das perdas trmicas do espao no caso de insuflao direta do ar exterior ...... 80
Ilustrao 3.38 Desagregao dos ganhos trmicos do espao no caso de insuflao do ar pelo permutador
Terra-Ar ......................................................................................................................................... 81
Ilustrao 3.39 - Desagregao das perdas trmicas do espao no caso de insuflao do ar pelo permutador
Terra-Ar ......................................................................................................................................... 81
Ilustrao 3.40 - Ganhos trmicos pelos vos envidraados ................................................................................ 82
Ilustrao 3.41 - Perdas trmicas pelas superfcies opacas da envolvente .......................................................... 83
Ilustrao 6.1 - reas de implantao do novo espao e disponveis para o permutador .................................... A-1
Ilustrao 6.2 - Representaes grficas das solues construtivas para fachada, pavimento e cobertura,
respetivamente ............................................................................................................................. A-1
Ilustrao 6.3 - Planta do novo restaurante .......................................................................................................... A-2
Ilustrao 6.4 - Caractersticas dos vos envidraados da fachada Sul do Hotel ................................................ A-2
Ilustrao 6.5 - Evoluo da temperatura mdia diria do ar exterior ao longo do ano ........................................ B-1
Ilustrao 6.6 - Evoluo da temperatura exterior no dia de projeto de arrefecimento ......................................... B-1
Ilustrao 6.7 - Perfil constante da temperatura exterior no dia de projeto de aquecimento ................................ B-1
Ilustrao 6.8 - Variao do COP e das Potncias Trmica de Ventilao com o dimetro ................................ C-1
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xi
Ilustrao 6.9 - Variao da Potncia Nominal de Arrefecimento com a Velocidade mdia do escoamento, para
vrios dimetros dos tubos ........................................................................................................... C-1
Ilustrao 6.10 - Variao da Potncia de Ventilao com a Velocidade mdia do escoamento, para vrios
dimetros dos tubos ...................................................................................................................... C-2
Ilustrao 6.11 - Variao do COP com a Velocidade mdia do escoamento, para vrios dimetros dos tubos . C-2
Ilustrao 6.12 - Consumos de Energia na semana quente de Agosto Sem Free Cooling .................................. C-3
Ilustrao 6.13 - Consumos de Energia na semana quente de Agosto Com Free Cooling .................................. C-3
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Lista de Tabelas
Tabela 2.1 - Descrio das superfcies opacas da envolvente .............................................................................. 21
Tabela 2.2 - Descrio dos vidros da envolvente .................................................................................................. 21
Tabela 2.3 - Caracterizao das superfcies da envolvente .................................................................................. 22
Tabela 2.4 - Caracterizao da zona trmica ........................................................................................................ 24
Tabela 2.5 - Parmetros da simulao computacional .......................................................................................... 24
Tabela 2.6 - Perfil de ocupao do edifcio ........................................................................................................... 26
Tabela 2.7 - Caudais de Ventilao ....................................................................................................................... 27
Tabela 2.8 - Caracterizao do sistema de climatizao ...................................................................................... 28
Tabela 2.9 - Perfil de funcionamento do restaurante e sistemas de climatizao e ventilao ............................. 29
Tabela 2.10 - Dados de entrada requeridos pelo Earthtube .................................................................................. 31
Tabela 2.11 - Caractersticas trmicas dos tipos de solo disponveis no EnergyPlus ........................................... 31
Tabela 2.12 - Dados para clculo do perfil de temperaturas do solo em profundidade ......................................... 32
Tabela 2.13 - Descrio das variveis utilizadas para calcular a temperatura do solo em profundidade .............. 33
Tabela 2.14 - Descrio das variveis utilizadas para o clculo das resistncias trmicas do modelo ................. 34
Tabela 2.15 - Equaes para o clculo da temperatura de sada do ar dos tubos consoante o cenrio ............... 34
Tabela 2.16 - Listagem das variveis utilizadas pelo programa Pr-Processador ................................................ 37
Tabela 2.17 - Lista de variveis e mtodos de clculo das propriedades termofsicas do ar ................................ 39
Tabela 2.18 Coeficientes de perda de carga concentrada para troo vertical descendente .............................. 41
Tabela 2.19 - Coeficientes de perda de carga concentrada para troo vertical ascendente ................................. 43
Tabela 3.1 - Caractersticas do sistema ensaiado para avaliao da evoluo presso no sistema .................... 45
Tabela 3.2 - Resultados dos efeitos de aquecimento do ar pelo ventilador e da impulso trmica ...................... 47
Tabela 3.3 - Descrio dos parmetros mantidos constantes nos estudos paramtricos ..................................... 47
Tabela 3.4 - Descrio dos parmetros mantidos constantes no estudo paramtrico da velocidade do
escoamento de ar .......................................................................................................................... 49
Tabela 3.5 - Descrio dos parmetros mantidos constantes no estudo paramtrico do dimetro ...................... 51
Tabela 3.6 - Descrio dos parmetros mantidos constantes no estudo paramtrico do comprimento ................ 53
Tabela 3.7 - Desempenho dos tubos em arrefecimento para a temperatura extrema do ar entrada de 34C.... 57
Tabela 3.8 - Desempenho dos tubos em arrefecimento para uma temperatura mais comum do ar entrada de
26C ............................................................................................................................................... 57
Tabela 3.9 - Desempenho dos tubos em aquecimento para uma temperatura extrema do ar entrada de 4C .. 57
Tabela 3.10 - Desempenho dos tubos em aquecimento para uma temperatura mais comum do ar entrada de
11C ............................................................................................................................................... 57
Tabela 3.11 - Caractersticas geomtricas do sistema de tubos dimensionado .................................................... 58
Tabela 3.12 - Desempenho do permutador com configurao dos tubos alternativa, para uma temperatura do ar
entrada de 34C .......................................................................................................................... 59
Tabela 3.13 - Desempenho do permutador com configurao dos tubos alternativa, para uma temperatura do ar
entrada de 26C .......................................................................................................................... 59
Tabela 3.14 - Caractersticas geomtricas do tubo equivalente ............................................................................ 60
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xiii
Tabela 3.15 - Comparao de resultados entre o modelo do Pr-Processador e o EarthTube do EnergyPlus .... 61
Tabela 3.16 - Condies do dia de arrefecimento de projeto ................................................................................ 62
Tabela 3.17 - Condies do dia de aquecimento de projeto ................................................................................. 66
Tabela 3.18 - Desempenho global do sistema de permutador de calor Terra-Ar .................................................. 74
Tabela 3.19 - Novo horrio de funcionamento do sistema de ventilao e aquecimento para evitar pico de
potncia ......................................................................................................................................... 77
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xiv
Lista de Smbolos
Amplitude da temperatura superfcie do solo
Calor especfico do ar seco a presso constante
Dimetro dos tubos do permutador de calor
Taxa de transferncia de calor no tubo
Espessura da parede dos tubos enterrados
Fator de atrito
Constante de acelerao gravtica
Profundidade de instalao dos tubos enterrados
Condutibilidade trmica
Comprimento do tubo
Caudal mssico do escoamento
Massa molar
Nmero de tubos do permutador
Nmero de Nusselt
Presso parcial
Presso total do ar
Presso atmosfrica
Nmero de Prandtl
Constante universal dos gases perfeitos
Raio interior do tubo
Espessura da parede do tubo
Distncia a partir da parede exterior do tubo alm da qual se assume o solo como no-perturbado
Resistncia de conveco
Resistncia de conduo na parede do tubo
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xv
Resistncia de conduo no solo
Resistncia total
Rcio de recuperao de potncia do ventilador
Nmero de Reynolds
Temperatura ambiente exterior
Temperatura de entrada do fluido nos tubos
Temperatura de sada do fluido dos tubos
Constante de desfasamento da temperatura superfcie do solo
Temperatura do solo profundidade de instalao dos tubos
Temperatura do solo distncia z de profundidade
Coeficiente global de transferncia de calor linear
Caudal volumtrico do escoamento
Velocidade do ar nos tubos
Frao mssica
Potncia eltrica do ventilador
Largura da rea disponvel para implantao do sistema
Frao volumtrica
Profundidade de instalao dos tubos
Difusividade trmica do solo
Viscosidade dinmica
Humidade absoluta exterior
Perda de carga concentrada
Perda de carga em linha
Comprimento de subdiviso do troo horizontal para clculo de transferncia de calor
Rugosidade do material constituinte da parede do tubo
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Lista de Acrnimos
AVAC Aquecimento Ventilao e Ar Condicionado
CHL Corinthia Hotel Lisbon
COP Coeficiente de Performance
EAHE Earth-to-Air-Heat-Exchanger
HRV Heat Recovery Ventilation
LED Light-Emitting Diode
RSECE Regulamento dos Sistemas Energticos e Climatizao de Edifcios
UTA Unidade de Tratamento de Ar
VC Ventilo-convetor
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1
1 Introduo
1.1 Enquadramento
O paradigma energtico atual, caracterizado pela instabilidade no abastecimento energtico e
volatilidade dos preos deste mercado, obriga a que as naes industrializadas, que se pretendam
qualificar como energeticamente sustentveis, comecem a reduzir os consumos energticos tanto
pela promoo de programas de racionalizao energtica como pela legislao de normas, a
cumprir pelos variados sectores econmicos.
Ilustrao 1.1 - Desagregao dos Consumos de Energia Primria nos EUA [1]
De acordo com Lawrence Berkeley National Laboratory [1] o sector dos edifcios
responsvel por 39% dos consumos de energia primria nos Estados Unidos da Amrica. Na Europa,
so fortes as presses para que o sector dos edifcios caminhe rapidamente para os edifcios com
necessidades quase nulas de energia (Nearly Zero-Energy Buildings). A atual Estratgia Europeia
para a Energia e o Clima, desenhada para responder aos desafios da segurana energtica, do
crescimento econmico e da luta contra as alteraes climticas, pretende reduzir em 20% as
emisses de gases com efeito estufa mediante a utilizao de 20% de energias renovveis e de um
aumento de 20% da eficincia energtica. Este objetivo transversal ao sector dos edifcios, e de
acordo com a Directiva 2010/31/EU [2] todos os estados-membros asseguram que at 31 de
Dezembro de 2020, todos os edifcios novos sero edifcios com necessidades quase nulas de
energia.
Estimativas recentes indicam que, luz do valor dos investimentos iniciais, bastante mais
rentvel investir em medidas de eficincia energtica do que em tecnologias de gerao de energia
atravs de recursos renovveis. Por exemplo, a substituio de uma instalao antiga de ar
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2
condicionado (AVAC) num edifcio comercial existente por uma soluo mais eficiente, poupa ao
proprietrio cerca de 100 por tonelada de CO2 abatido, enquanto a integrao de um sistema
centralizado de painis fotovoltaicos impe um custo suplementar de 70 por cada tonelada de CO2
evitada [3]. Portanto, qualquer projeto rentvel de um edifcio com necessidades quase nulas de
energia dever passar por um maximizao das solues de eficincia energtica que se verifiquem
viveis e s depois avanar-se para medidas de gerao de energia com fontes renovveis.
Entre as medidas de eficincia energtica, o facto de os consumos devidos climatizao
dos edifcios representarem, em mdia (nos EUA), cerca de 42% dos consumos totais dos mesmos,
podendo ascender a valores superiores em regies com climas mais rigorosos e/ou edifcios com alta
exposio solar, confere s medidas de climatizao passiva um elevado potencial por explorar.
No presente trabalho estudou-se o potencial da implementao da medida passiva de
permutador de calor Terra-Ar para climatizao de um espao novo resultante da ampliao de um
edifcio existente. O edifcio em questo foi a propriedade do Corinthia Hotel Lisbon, um hotel de
grande dimenso localizado no centro de Lisboa, e no qual se implementou nos ltimos meses um
projeto inovador de eficincia energtica atravs de um contrato de desempenho financiado em
grande parte pela GALP Energia e com o acompanhamento do projeto feito pelo ISQ-Energia. Com
518 quartos e uma vasta oferta de salas tanto para reunies como para conferncias, o CHL o
maior hotel 5 estrelas de Portugal e est entre os 10 maiores da Europa.
Um hotel com estas dimenses trava-se, logicamente, com desafios energticos de grande
escala que se traduzem nas seguintes necessidades: aumento da autonomia energtica, reduo da
fatura energtica, reduo da exposio flutuabilidade das tarifas do mercado energtico e, de
acordo com a poltica defendida pelo grupo, reforo do posicionamento do hotel no mbito da sua
responsabilidade social e ambiental. Foram estes motivos que o levaram a abraar o projeto de
eficincia energtica anteriormente citado e a incorporar uma poltica de sustentabilidade transversal
a todo o hotel. Atualmente, o hotel tem assistido a uma crescente procura do seu restaurante para
organizao de eventos, a qual no satisfazvel com a capacidade atual do mesmo. Nesta
perspetiva, o hotel estudou a possibilidade de ampliar esse restaurante, tendo j o Pedido de
Implementao Prvia aceite pela Cmara Municipal de Lisboa. No seguimento do projeto de
eficincia energtica e seguindo a poltica de sustentabilidade defendida pelo hotel, procurou-se, no
estudo descrito neste documento, avaliar a viabilidade dos tubos enterrados para climatizao.
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1.2 Objetivo e metodologia
O objetivo deste trabalho foi dimensionar um permutador de calor Terra-Ar para pr-
condicionamento do ar e avaliar o seu impacte sobre as necessidades de condicionamento trmico
do novo espao, quer fosse pela capacidade de satisfazer totalmente as necessidades de frio e calor
ou por permitir reduzir a potncia instalada de um eventual sistema ativo de climatizao.
Para avaliar as necessidades do novo espao, recorreu-se ao programa de simulao
energtica para edifcios EnergyPlus, o qual permite projetar sistemas de climatizao tanto ativos
como passivos e estudar os seus efeitos nos edifcios modelados. A limitao deste programa a nvel
da modelao de sistemas de permuta de calor do tipo Terra-Ar, conduziu a que se desenvolvesse
uma rotina de clculo para dimensionamento destes sistemas com a finalidade de se analisar a
influncia dos diferentes parmetros.
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4
1.3 Reviso Bibliogrfica
Uma tcnica de climatizao passiva que tem sido utilizada recentemente com razovel
sucesso conhecida por Permutadores de calor Terra-Ar ou, na literatura inglesa, Earth to Air Heat
Exchanger (EAHE). tambm denominada Tubos Enterrados ou Subterrneos para Climatizao,
sendo as trs terminologias utilizadas no decorrer deste trabalho. Esta soluo consiste em fazer o ar
exterior passar por tubos instalados no subsolo, de forma a tirar partido das temperaturas que a se
verificam, por serem mais constantes (menos oscilantes) do que as do ar exterior. Devido elevada
inrcia trmica do solo, as flutuaes de temperatura na sua superfcie, exposta ao clima exterior, so
tanto mais amortecidas quanto maior a profundidade no solo. Alm disso, existe tambm um atraso
temporal entre as flutuaes superfcie e as que se verificam em camadas mais profundas.
Portanto, a uma profundidade suficiente a temperatura do solo consideravelmente mais baixa que a
do ar exterior no Vero e superior no Inverno. Quando o ar novo insuflado atravs dos tubos
enterrados, este arrefecido no Vero e aquecido no Inverno. Este princpio de funcionamento,
combinado ou no com outras solues passivas, pode substituir ou reduzir significativamente as
necessidades de condicionamento de ar ativo.
Embora no seja uma medida universalmente aceite, nem considerada vivel
independentemente das situaes (em todas situaes), esta tcnica, que remonta aos anos 70,
voltou a merecer interesse nos ltimos 10 anos devido ao efeito conjunto dos seguintes motivos:
necessidade de responder aos elevados custos decorrentes da climatizao dos edifcios, imposies
de caudais mnimos de ar novo (exterior) mais exigentes para garantia da qualidade do ar interior e
das presses para que se caminhe para edifcios com consumos quase nulos de energia. Este
recente interesse na soluo dos tubos enterrados tem resultado em trabalhos de investigao tanto
na rea experimental como de modelao cientfica e computacional. A evoluo dos programas
computacionais de simulao energtica dos edifcios faz emergir a necessidade de se construir
modelos de clculo para estimar o desempenho trmico dos tubos enterrados bem como o seu
impacte no edifcio. Neste captulo, faz-se uma reviso a alguns modelos desenvolvidos e existentes
na literatura que diferem em complexidade, hipteses consideradas e naturalmente nos resultados
alcanados.
No entanto, faz-se tambm uma reviso a casos de estudo implementados pois permitem
recolher informaes teis acerca do real potencial desta soluo, consideraes de montagem,
funcionamento e formas de controlo e experincias sobre a qualidade do ar insuflado.
Em termos de modelao, os principais aspetos a considerar consistem na estimativa da
temperatura do solo profundidade de instalao dos tubos e na sua utilizao como condio
fronteira no balano energtico ao tubo para calcular a transferncia de calor no tubo.
Genericamente, a temperatura do solo calculada em funo da temperatura exterior introduzindo-se
um fator de amortecimento da sua amplitude trmica que resulta em valores quase constantes a partir
-
5
de uma certa profundidade. O modelo para clculo da temperatura no perturbada do solo
apresentado por Kusuda et al [4], o modelo clssico, transversal maioria dos trabalhos
desenvolvidos nesta rea, e consiste numa funo que depende da temperatura mdia anual da
superfcie do solo, tempo em horas aps incio do ano, amplitude anual mdia da temperatura da
superfcie do solo, dia a que se verifica o valor mnimo anual da temperatura mdia diria e da
difusividade trmica do solo. O documento da norma europeia EN15241 [5] contm em anexo um
modelo simplificado de tubos enterrados, no qual a distribuio da temperatura do solo ao longo do
ano modelada por uma curva sinusoidal baseada na temperatura mdia anual do ar exterior.
Contudo, em relao temperatura do ar, a temperatura do solo corrigida em amplitude e
deslocada (devido inrcia trmica do solo que retarda o reflexo das condies exteriores no solo)
em funo da profundidade. As correes fazem-se pelo clculo de termos para amplitude e atraso
cujas funes so polinmios de 3 grau com a profundidade como varivel. Independentemente do
grau de simplificao ou complexidade dos modelos, o grau de humidade do solo sempre
considerado por afetar significativamente as caractersticas trmicas do mesmo.
1.3.1 Modelao
Quanto modelao das trocas de calor do solo para o ar no tubo podem-se utilizar desde
modelos de maior complexidade, transientes que contabilizam o sobreaquecimento do solo e a
possibilidade de calor latente associado condensao e evaporao no tubo, a modelos menos
avanados, estacionrios e que assumem que a temperatura da parede do tubo constante. Tzaferis
et al. [6] apresentam uma reviso de oito modelos de tubos enterrados classificando os algoritmos em
dois grupos:
1. Os algoritmos que consideram a conveco do ar no interior do tubo e a conduo no solo
envolvente. Os dados de entrada necessrios so os seguintes:
- Caractersticas geomtricas do sistema;
- Caractersticas trmicas do solo;
- Caractersticas trmicas do tubo;
- Temperatura no perturbada do solo durante a operao do sistema.
2. Os algoritmos que apenas calculam o fluxo de calor convectivo entre o ar circulante e o tubo. Neste
caso, os dados de entrada so:
- Caractersticas geomtricas do sistema;
- Caractersticas trmicas do solo;
- Temperatura da superfcie do tubo.
Seis desses modelos utilizam uma descrio unidimensional estacionria do tubo, permitindo
calcular a temperatura de sada a partir da de entrada no tubo. Em nenhum desses modelos
possvel contabilizar quer a influncia da capacidade trmica da Terra, quer a interao entre os
vrios tubos num arranjo. Um desses algoritmos divide o terreno envolvente dos tubos em elementos
-
6
cilndricos coaxiais, considera a resistncia trmica do mesmo temporalmente-dependente e divide o
tubo em segmentos, calculando a temperatura do ar sada de cada segmento. Noutro algoritmo o
balano de energia em condies estacionrias resolvido entre um ponto no perturbado no solo e
o tubo. Os autores concluem que os diferentes modelos conduzem a resultados comparveis, apesar
do facto de estes oferecerem mtodos de soluo e discretizao diferentes para as mesmas
equaes.
Os modelos unidimensionais revistos baseiam-se em hipteses bastante similares tais como:
Solo homogneo e isotrpico, trocas de calor latente desprezadas, e conduo desprezvel na
direo longitudinal (do escoamento) tanto no solo como na parede. As hipteses em que alguns
divergem consistem em considerar, ou no, as resistncias trmicas de conduo do tubo (pouco
influente pelo facto de ser bastante inferior resistncia trmica da conveco), e a conduo no
terreno envolvente. A condutibilidade do solo confere segunda hiptese um caracter mais
conceptual. Sendo esta baixa, a resistncia trmica que impe no deve ser desconsiderada, e o
facto de o fazer representa que se assume que a temperatura do terreno em contacto com o tubo a
temperatura no perturbada do solo quela profundidade. Logicamente esta hiptese pouco
conservadora e sobrestima o desempenho do sistema de tubos enterrados. Contudo, ter em conta a
condutibilidade do solo obriga a que se defina uma distncia no exterior dos tubos a partir da qual se
considere que o solo no perturbado pelos tubos. O valor dessa distncia no consensual mas
valores na ordem do raio do tubo so considerados razoveis [7]. Outros aspetos em que os modelos
variam so as correlaes utilizadas para clculo do coeficiente de transferncia de calor por
conveco e do fator de atrito (para o regime turbulento). Contudo, embora as correlaes sejam de
diferentes autorias, os resultados so comparveis pelo facto de as condies de funcionamento
(nmero de Reynolds) serem similares.
Modelos mais complexos tm tambm sido desenvolvidos, estando vocacionados para avaliar
o potencial real dos sistemas de tubos enterrados de uma perspetiva mais consistente em termos
tericos e permitindo alcanar resultados mais fidedignos. Contudo, o cdigo destes modelos est
reservado aos seus autores, e pela sua maior complexidade sobrecarregam em termos
computacionais as simulaes. Assim sendo, os projetistas optam por modelos unidimensionais e,
normalmente, estacionrios que no comprometem o dimensionamento dos sistemas. Os modelos
ditos mais complexos distinguem-se dos abordados at agora, por serem transientes, pela forma
como a geometria descrita (2D, 3D, coordenadas polares) e pela forma como incorporam as
variaes de humidade e efeitos consequentes tanto no solo como no ar. Por exemplo, Deglin D. et al
[8] desenvolveram um modelo no-estacionrio tridimensional de transferncias de calor para simular
as trocas de calor num sistema de tubos enterrados e combinaram-no com estudos experimentais
para analisar a influncia de vrios parmetros tais como: dimetro, comprimento, profundidade,
espaamento, tipo de solo e velocidade de passagem do ar). Neste modelo o tubo e solo circundante
so divididos em troos longitudinais, sendo cada troo dividido num nmero finito de cilindros
concntricos. A transferncia de calor do ar para o solo governada pela diferena de temperaturas
-
7
entre ambos, sendo a temperatura de cada superfcie cilndrica de solo calculada em cada passo-de-
tempo (anlise no-estacionria) a partir do balano de energia, aplicado s camadas em torno do
tubo. A condutibilidade do solo definida em funo da densidade do solo seco e da percentagem de
humidade do solo. Nos casos em que o solo atinja temperatura de congelao (0C), as variaes de
humidade e a energia associada ao calor latente so contabilizadas e a variao de temperatura da
camada calculada. A nica camada em que a transferncia de calor no calculada com a
condutibilidade do solo, a primeira camada de solo, imediatamente exterior ao tubo, em que se
considera a transferncia de calor por conveco, sob a hiptese de a espessura do tubo ser muito
fina e portanto a resistncia trmica e a acumulao de energia serem desprezveis.
1.3.2 Casos de Estudo e dados experimentais:
Os casos de estudo realizados para avaliao do potencial dos tubos enterrados na
climatizao de edifcios demonstram que, como qualquer outra medida passiva, a sua viabilidade
tcnica est bastante condicionada pelas condies atmosfricas exteriores e pelo tipo de construo
dos edifcios.
Desde casos em que o desempenho dos tubos enterrados considerado duvidoso, a casos
em que totalmente infrutfero, e a outros em que a experincia foi bem-sucedida, possvel
encontrar bastantes condicionantes a sistema que conduziram a esses cenrios, como se ir
apresentar de seguida. Um dos aspetos considerado de indispensvel ateno consiste nas
estratgias de controlo a utilizar para evitar situaes indesejadas tais como: aquecimento no Vero
ou arrefecimento no Inverno do ar insuflado, e sobreaquecimento do solo por falta de descanso
trmico. Assim sendo, os casos prticos de implementao deste sistema aparecem normalmente
acoplados a outras medidas passivas tais como o arrefecimento noturno (night cooling), a ventilao
natural (by-pass com o sistema de tubos) e aproveitamento da energia trmica do ar extrado num
recuperador de calor em aquecimento (HRV Heat Regenerative Ventilation). Mais, praticamente
consensual que esta tcnica bastante interessante como forma de amortizar o impacte dos picos
nas condies trmicas exteriores e dessa forma reduzir o sobredimensionamento dos equipamentos
ativos de climatizao.
na Europa Central que se concentra a maioria dos edifcios equipados com tubos
enterrados para climatizao, pelo tipo de climas a verificados, embora em Portugal j se tenha
tambm adoptado este sistema. Os edifcios nos quais se tem aplicado tubos enterrados variam
desde edifcios comerciais, de escritrios a residenciais, com resultados tambm bastante variveis,
como se passa a apresentar:
1) Weilheim, Alemanha [9]
Edifcio de escritrios de 1500 m2 com um sistema de 180 m de tubos enterrados sua volta
a 2 m de profundidade que foi monitorizado durante 3 anos com COPs mdios de 50, 35 e 38 nesses
-
8
anos, cobrindo 20% das necessidades de arrefecimento devido aos elevados ganhos trmicos
internos. A estratgia de controlo foi: em aquecimento, fazer by-pass dos tubos caso a temperatura
do solo fosse inferior temperatura do ar exterior, e em arrefecimento, fazer by-pass se a
temperatura da sala for inferior a 22C. Ainda assim, ganhos indesejados foram verificados quando as
temperaturas exteriores eram inferiores do solo no Vero.
2) Illinois, EUA [10]
Edifcio residencial PassivHaus construdo pelo arquiteto Katrin Klingenberg com um sistema
de tubos enterrados com 30 m de comprimento e 20 cm de dimetro. A casa inclui um HRV com
registos de controlo que selecionam entre dois sistemas possveis de condutas de insuflao,
dependendo da temperatura do ar exterior: se esta for baixa, o ar passa pelos tubos enterrados; se
for amena insuflada diretamente do exterior; se alta, novamente insuflada pelos tubos. Esta
estratgia de controlo no foi totalmente bem-sucedida, e, de acordo com [11], na segunda
PassivHaus em Illinois, no se avanou para um sistema de tubos enterrados, o que demonstra um
revs em termos de confiana nesta soluo.
3) Vila do Bispo, Portugal [12] e [13]
Caso de estudo de 3 casas do tipo vivenda, localizadas no sudoeste portugus, em que se
incorporou tubos enterrados para funcionar parte do dia (meio da tarde at incio da manh),
monitorizando o seu desempenho e impacte em termos de condies trmicas interiores. Os
resultados foram considerados parcialmente inconclusivos por terem sido registados apenas durante
6 meses (de meados de Julho a meados de Janeiro) e porque o terreno tinha sido perturbado
recentemente, logo no tinha tido tempo para assentar. No obstante, o estudo mostrou que o
sistema de tubos excelente a remover os mximos e mnimos da temperatura exterior diria,
conseguindo fazer a temperatura do ar variar no mximo: -11C em arrefecimento e +8C em
aquecimento. A potncia de arrefecimento mdia tinha sido estimada em 2.5 kW e a atingida foi
avaliada em 4.8 kW. O relatrio revela que a razo de se ter optado por no funcionar com o sistema
em contnuo foi para permitir a recuperao trmica do solo embora se diga que esta pode no ser
necessria. No se apresentam dados que comprovem esta necessidade no entanto o relatrio [12] e
[13] menciona um decrscimo do rendimento do sistema quando se usa o sistema vrios dias
quentes seguidos, devido ao sobreaquecimento do solo.
4) Lisboa, Portugal [14]
O edifcio SolarXXI, construdo em Lisboa no ano de 2006, considerado um edifcio
altamente eficiente luz da regulao portuguesa e combina vrias medidas passivas com
tecnologias de energias renovveis. Uma das solues passivas implementadas consiste na
insuflao de ar por tubos enterrados para pr-arrefecimento do ar, sendo este o nico mecanismo de
arrefecimento do edifcio. O sistema de tubos enterrados constitudo por 32 tubos de 30 cm de
dimetro e 15 m de comprimento, instalados a 4.5 m de profundidade onde a temperatura do solo
varia entre 13 - 19C, conferindo um bom potencial de arrefecimento do ar exterior no Vero. O ar
circula por conveco natural ou ventilao forada (cada tubo tem um ventilador de 30 W
-
9
associado). Nos dias de vero o ar insuflado nos gabinetes entre os 22 - 23 C, resultando num
decrscimo da temperatura interior de cerca de 2 - 3 C. A ventilao natural por infiltrao pela
fachada e cobertura desempenha um papel fundamental nas condies de conforto no interior,
principalmente quando promovida durante a noite no Vero, para remoo da carga trmica
acumulada durante o dia.
1.3.3 Consideraes gerais sobre a tecnologia:
A tecnologia de tubos enterrados pode ser utilizada tanto em aquecimento como em
arrefecimento. Contudo, o funcionamento em arrefecimento considerado, na maioria das vezes,
como mais interessante pelo facto de na situao de aquecimento, a recuperao de energia trmica
do ar extrado para o ar insuflado (HRV) ser uma tcnica bastante mais matura e sem problemas de
controlo. No obstante, mesmo em aquecimento, os tubos enterrados podem ser uma soluo
bastante til para evitar congelao no HRV quando os edifcios se localizam em climas muito
rigorosos. Em arrefecimento podem-se distinguir trs tipos de aplicaes dos tubos enterrados:
Arrefecimento para conforto, Arrefecimento de espao e Arrefecimento auxiliar [15].
No Arrefecimento para conforto, o sistema de tubos usado unicamente para aumentar o
conforto no espao, sem uma capacidade de arrefecimento predefinida. As aplicaes tpicas so
sistemas de ventilao de espaos com taxas de renovao do ar interior e ganhos trmicos internos
baixos, nos quais no existem outros sistemas de climatizao. Sendo assim, a temperatura do ar
insuflado pelos tubos normalmente inferior temperatura interior, pelo que a ventilao com os
tubos vai arrefecendo o espao e cumprindo os caudais mnimos de ar novo. Este sistema
particularmente eficiente para remover cargas trmicas exteriores.
No Arrefecimento de espao, a funo do sistema de tubos remover cargas trmicas
interiores atravs da ventilao, logo para elevadas valores destas cargas, um valor elevado de
caudal de ventilao necessrio. A capacidade de arrefecimento depende sobretudo da
temperatura exterior e das condies do solo. Sob cargas constantes, o desempenho do sistema
deteriora-se pela impossibilidade do solo recuperar a capacidade de arrefecimento (devido ao
sobreaquecimento). Sendo assim, como medida nica de arrefecimento, no geralmente suficiente
para remover nveis constantes de cargas trmicas elevadas. Valores experimentais apontam para
um mximo de 30-50 kWh/m2dia com uma taxa de 2 renovaes por hora. Assim que a temperatura
exterior desce abaixo dos 19C (por exemplo noite) deve-se aproveitar para insuflar diretamente
esse ar atravs de um by-pass aos tubos, com uma taxa superior a 4 renovaes por hora. Este
procedimento permite regenerar o sistema de tubos enterrados.
No Arrefecimento auxiliar, tal como o nome indica, o sistema de tubos assiste um sistema
mecnico (ativo) de arrefecimento, ou vice-versa. Caso haja picos de ganhos trmicos interiores,
-
10
estes podem ser absorvidos pelo sistema mecnico e o restante arrefecimento ser feito por meio de
ventilao com tubos enterrados. Caso as cargas trmicas sejam superiores, a ventilao e o
arrefecimento devem ser separados. Sendo assim, o sistema de tubos enterrados usado para
cumprir os caudais mnimos de renovao de ar, estabelecendo um pr-arrefecimento, enquanto as
restantes cargas trmicas so removidas por outro sistema de refrigerao.
Dois dos parmetros determinantes para o funcionamento satisfatrio do sistema de tubos
enterrados so o seu posicionamento e a sua dimenso. No que diz respeito ao posicionamento,
quanto mais profundo os tubos forem enterrados, maior o amortecimento da temperatura do solo em
relao exterior. No entanto, os custos com as escavaes tambm crescem com a profundidade
qual se instalam os tubos, portanto um compromisso entre estas duas variveis deve ser
estabelecido. Outro fator importante em termos do posicionamento consiste na distncia entre tubos
instalados. De acordo com o IEA Annex [15], estes devem estar afastados cerca de 1 metro sob pena
de haver interferncia trmica considervel caso a distancia seja menor. Todavia, no apresenta a
gama de valores de dimetros correspondente a este afastamento. necessrio ter tambm em
ateno as transferncias de calor pelo cho do edifcio quando os tubos so implementados por
baixo do edifcio.
Quanto dimenso do sistema, este dependente do caudal de ar de projeto e da rea de
implantao disponvel. Alm destes, h que considerar tambm a potncia de ventilao necessria
para se atingir o caudal de ar pretendido, visto que, medida que o comprimento dos tubos e
velocidade de passagem do ar aumentam, esta tambm aumenta. A mesma referncia bibliogrfica
[15] aponta para uma velocidade mxima de 2 m/s do escoamento para limitar as perdas de carga no
sistema. Quanto ao comprimento, o aumento deste parmetro implica geralmente um aumento do
dimetro para limitar as perdas em linha. Por outro lado, no projeto de tubos de grande comprimento
deve ser considerada a expanso trmica do equipamento.
Considerando os tubos enterrados uma medida de ventilao necessrio ter em ateno a
qualidade do ar insuflado. O ar entrada do tubo pode desde logo estar contaminado por partculas
suspensas, poluentes de ar no-volteis (plen, fungos e bactrias) e fumo de escape dos
automveis. Para reduzir-se a sua concentrao, aconselha-se a elevar o ponto de insuflao e a
colocar filtros de partculas, desde que a manuteno e limpeza que necessitam seja realizada. Outra
vantagem de afastar a insuflao do solo reduzir a temperatura do ar de entrada, no caso em que
se pretenda arrefecimento. Com este fim tambm comum colocar vegetao (inodora) nas
redondezas da entrada dos tubos assim como afast-la de superfcies com alta exposio solar. O
outro fator determinante para a qualidade do ar interior o crescimento de bactrias por acumulao
de condensados ao longo do tubo, embora, segundo a literatura, seja fcil evitar este problema
atravs do projeto, instalao, operao e manuteno apropriadas do sistema. O tubo deve
apresentar baixa rugosidade, de preferncia com revestimento anti-micro-organismos, alguma
-
11
inclinao para escoamento e evacuao de condensados num ponto inferior e junes seladas para
evitar que a humidade do terreno penetre, dentro do possvel, no sistema.
Em termos de manuteno, a maior ateno deve ser prestada aos filtros para garantir a
qualidade do ar interior atravs da sua limpeza ou substituio monitorizadas pela perda de carga ou
colmatao. A impossibilidade, ou elevada dificuldade, em reparar este tipo de sistemas obriga a que
no se avance para solues com maior probabilidade de falharem tais como espessura de tubos
mais finas. Pelo contrrio, todo o dimensionamento do sistema deve ter como objetivo um ciclo de
vida longo (>50 anos).
Concluses sobre os principais parmetros de projeto [8]:
Tipo de solo: A maior eficincia trmica alcanada por um solo saturado argiloso. Quanto
maior for a humidade do solo, maior ser a condutibilidade trmica e a transferncia de calor
latente no inverno.
Profundidade abaixo do nvel do solo: Quanto maior a profundidade, menor ser o efeito da
variao do ambiente exterior no solo, mas mais elevados sero os custos de instalao;
Dimetro do tubo: tubos de menor dimetro so termicamente mais eficientes mas impem
perdas de carga superiores e requerem instalaes maiores. Um compromisso deve ser
encontrado entre o custo da instalao e a sua eficincia trmica.
Velocidade de passagem do ar: a sua diminuio conduz a um aumento da eficincia trmica
e a diminuio das perdas de carga. Dependendo do valor de caudal de ar novo pretendido, a
diminuio da velocidade do ar tem de ser compensada por um maior nmero de tubos.
Comprimento dos tubos: este parmetro determina a eficincia trmica da instalao mas o
seu valor mximo encontra-se limitado pelo custo e perda de carga. Uma eficincia trmica
de 100% requereria um tubo de comprimento infinito.
1.4 Contribuio
Em relao aos trabalhos efetuados na rea e descritos no Captulo 1.3, o presente trabalho
apresenta as seguintes contribuies:
Desenvolvimento de uma ferramenta de Pr-Processamento das variveis com influncia no
desempenho do permutador de calor Terra-Ar para dimensionamento do arranjo ideal perante
os constrangimentos rea de implantao.
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12
Esta ferramenta pretendeu dar resposta a duas limitaes do modelo Earthtube do
EnergyPlus: impossibilidade de modelar mais que um tubo de permuta, e analisar a potncia
de ventilao necessria para funcionamento do sistema. Sendo este modelo bastante
difundido, foram revistos vrios estudos paramtricos que careciam de versatilidade, ficando
bastante limitados aos parmetros desse modelo.
Finalmente, esta ferramenta permite analisar as trocas trmicas entre o ar e o solo pelos
mesmos algoritmos que o mdulo Earthtube. Sendo assim, uma vez identificado o
comprimento do tubo equivalente a um certo arranjo de tubos projetado no Pr-Processador,
pode-se utilizar todas as capacidades do EnergyPlus para estudar o impacte do permutador
dimensionado no funcionamento do edifcio, visto que esse tubo equivalente reproduz com
preciso o desempenho do sistema projetado ao longo do ano.
1.5 Organizao
No Captulo 1 enquadra-se o estudo de uma soluo passiva de climatizao na conjuntura
atual e na poltica de sustentabilidade defendida pelo proprietrio do edifcio que caso de estudo
neste trabalho, Corinthia Hotel Lisbon. Seguidamente, apresenta-se uma reviso bibliogrfica
tecnologia de tubos enterrados para climatizao, abrangendo a modelao, casos de estudo e
consideraes gerais sobre a mesma.
O Captulo 2 dedica-se apresentao dos modelos utilizados neste estudo, nomeadamente,
o modelo do edifcio construdo em EnergyPlus, o modelo Earthtube usado para avaliar as vantagens
deste tipo de ventilao, e por ltimo o modelo do Pr-Processador desenvolvido para o
dimensionamento do permutador de calor Terra-Ar.
No que diz respeito ao Captulo 3, nele que os resultados das anlises conduzidas so
apresentados. Em primeiro lugar, apresenta-se uma anlise paramtrica a trs variveis de projeto,
que culmina com o dimensionamento do sistema considerado ideal para o caso em estudo. De
seguida, apresenta-se a identificao desse modelo com um tubo equivalente do modelo Earthtube
que possibilitou as anlises subsequentes do desempenho do permutador no global do edifcio por
simulaes anuais e em dias de projeto conduzidas no EnergyPlus. No final do captulo, discutem-se
algumas estratgias de controlo que otimizariam o desempenho do sistema e desagrega-se as
cargas trmicas do edifcio pelo balano energtico ao mesmo.
No quarto captulo, so apresentadas as concluses acerca das vrias fases de estudo pelas
quais passou este projeto.
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13
2 Modelao
Existem duas formas bsicas de se reduzir os gastos no consumo energtico dos edifcios:
por um lado, utilizando recursos de energia renovveis e, por outro, aumentando a eficincia
energtica do edifcio. Por forma a garantir um elevado nvel de eficincia energtica, o edifcio deve
ser projetado para ser mais econmico na sua utilizao de energia, nomeadamente, para AVAC,
iluminao e abastecimento de gua quente.
Aspetos relacionados com transferncia de calor, tais como a conduo trmica, os fluxos
convectivos, a radiao e os fluxos de massa pela envolvente, tm que ser contabilizados de forma
apropriada para simular o desempenho trmico do edifcio. Atravs de mtodos de simulao
computacional consegue-se melhorar a eficincia energtica de forma mais exata pelo facto de estes
permitirem modelar, com preciso, a interligao de elevada complexidade inerente aos fenmenos
mencionados. Para se conseguir perceber os princpios de conservao de energia e estratgias
operacionais, existe a necessidade essencial de estudar os fatores que afetam o desempenho
energtico e as caractersticas dos sistemas energticos do edifcio. Os programas atualmente
existentes encerram capacidades de simulao energtica detalhada do edifcio bastante evoludas,
oferecendo uma anlise extensiva e sistemtica desses fatores atravs de tcnicas de modelao
computacionais.
As simulaes computacionais so, genericamente, aceites pela maioria dos estudos para
avaliar as necessidades energticas dos edifcios. O Departamento de Energia dos EUA listou 410
ferramentas computacionais em todo o mundo com o intuito de simular, integralmente, os edifcios em
termos energticos [16].
Neste trabalho utilizaram-se duas dessas ferramentas computacionais, DesignBuilder e
EnergyPlus, tanto para simular o comportamento energtico do edifcio com solues clssicas de
climatizao como com solues passivas.
2.1 Introduo ao EnergyPlus e DesignBuilder:
O EnergyPlus um software de simulao energtica de edifcios para modelar o
aquecimento, arrefecimento, iluminao, ventilao e outros fluxos de energia nos mesmos. Esta
ferramenta nasceu da juno das capacidades e potencialidades dos dois programas de simulao
mais utilizados nos EUA durante muitos anos: BLAST (patrocinado pelo Departamento da Defesa
Americano) e DOE-2 (patrocinado pelo Departamento de Energia Americano), que divergem,
essencialmente, no mtodo de clculo das cargas trmicas. O primeiro utiliza a abordagem dos
fatores ponderados, enquanto o segundo utiliza a abordagem do balano energtico.
-
14
As capacidades de simulao do EnergyPlus abrangem desde timesteps menores que uma
hora, mdulos de sistemas e equipamentos energticos com simulaes em cada zona baseadas no
balano trmico, fluxos de ar multi-zona, conforto trmico, consumos de gua, ventilao natural at
sistemas fotovoltaicos. Outra das caractersticas desta ferramenta ser um software em cdigo-
aberto de estrutura modular que, deste modo, permite a adio de mdulos para modelar novas
situaes. Uma das limitaes do EnergyPlus consiste em no fornecer um interface grfico ao
utilizador. Para responder a esta limitao, foi mais tarde criado o programa DesignBuilder que
permite o utilizador criar um modelo grfico 3D do edifcio num ambiente informtico atrativo e a
utilizao de bases de dados meteorolgicas construdas para mais de 2000 localizaes mundiais. O
DesignBuilder recorre, contudo, a todos os modelos e mtodos de clculo implementados no
EnergyPlus, sendo portanto impossvel desassoci-lo do ltimo. Pelo contrrio, o EnergyPlus
funciona por si prprio, e o modelo do edifcio que utiliza pode ser descrito diretamente em cdigo ou
importado do DesignBuilder.
Para utilizaes correntes, o DesignBuilder suficiente para descrever todas as solues
normalmente implementadas, e, por conseguinte, a simulao do edifcio pode ser conduzida
unicamente neste ambiente. O tipo de informao resultante da anlise neste software resume-se ao
tipo de variveis normalmente consideradas relevantes para o projeto preliminar de edifcios:
consumos energticos associados ao aquecimento e arrefecimento em todas as estaes do ano,
valores mdios das temperaturas interior e das superfcies dos espaos analisados ao longo do ano,
entre outras. Outra das potencialidades deste programa a possibilidade de se utilizar bases de
dados de materiais nele integradas para a descrio da envolvente.
J o EnergyPlus permite o clculo das cargas nos balanos trmicos; clculos integrados de
cargas, sistemas e equipamentos no mesmo passo-de-tempo; e configuraes personalizveis pelo
utilizador para o sistema de AVAC. Alm de apresentar uma estrutura modular para tornar simples a
integrao de novos mdulos de simulao por parte de investigadores, os formatos dos dados de
entrada e sada do programa so elementares para facilitar o desenvolvimento de ferramentas
grficas de ps-processamento.
2.1.1 Mtodos de Clculos de Energia:
Genericamente, existem duas diferentes abordagens de modelao de edifcios e dos seus
sistemas de AVAC: a Clssica (forward) e a Inversa (Data-driven). Na primeira estratgia o objetivo
prever-se as variveis de sada de um determinado modelo com estrutura e parmetros conhecidos.
Pelo contrrio, na abordagem Inversa, as variveis de entrada e sada do modelo so conhecidas por
medio, e o objetivo determinar a descrio matemtica do sistema e estimar os seus parmetros.
Nesta estratgia, o sistema, ou edifcio, j se encontra fisicamente construdo e os dados do seu
desempenho esto disponveis para desenvolver, identificar ou validar o modelo. Contudo, a
-
15
abordagem clssica bastante mais usual dado o interesse para o projeto preliminar de sistemas, e
esta a estratgia implementada no EnergyPlus.
O primeiro passo na modelao a descrio fsica do edifcio, sistema ou equipamento de
interesse. Dessa descrio, para o caso dos edifcios, fazem parte a geometria, localizao
geogrfica, caractersticas fsicas (como por exemplo a espessura e material das paredes), tipo de
equipamentos e horrios de funcionamento, tipo de sistema AVAC, horrios de funcionamento do
prprio edifcio, entre outras informaes que procuram descrever, to fidedignamente quanto
possvel, o edifcio. Aliando as informaes anteriores s condies climatricas exteriores e
condies de conforto pretendidas para o interior do edifcio, possvel, atravs da abordagem
Clssica, estimar as necessidades de energia mdias e mximas do edifcio. A descrio do modelo
do edifcio em estudo neste trabalho apresentada mais frente.
Calcular as cargas trmicas sensveis instantneas de um espao trata-se de um passo
chave em qualquer simulao energtica de um edifcio. Como mencionado anteriormente, dois
mtodos para este clculo foram defendidos pelos departamentos de Defesa e de Energia dos EUA,
o mtodo do balano trmico e o dos fatores ponderados, respetivamente. Existe ainda um terceiro
mtodo, designado por rede-trmica (Thermal Network), embora este no se encontre
universalmente difundido. A carga trmica sensvel instantnea de um espao o fluxo de calor para
a massa de ar contida no mesmo. Esta grandeza, tambm conhecida como Cooling Load, difere dos
ganhos trmicos (Heat Gain) pelo facto destes inclurem, normalmente, uma componente radiativa
que atravessa o ar e absorvida pelas superfcies do espao. A carga trmica sensvel instantnea
de um espao inteiramente convectiva: sendo transmitida por conveco tanto na superfcie de
equipamentos, iluminao e ocupantes, como na superfcie das paredes do espao, as quais
absorvem a parcela radiativa da energia das cargas anteriores.
Ambos os mtodos, do balano trmico e dos fatores ponderados, quantificam a conduo
atravs de funes de transferncia para descrever os ganhos ou perdas trmicas pela envolvente. A
principal diferena entre os dois, o mtodo utilizado para o clculo da transferncia de calor para o
espao subsequente. De acordo com a experincia, os resultados so bastante semelhantes nos dois
mtodos, tendo os fatores ponderados no mtodo correspondente que ser, especificamente,
determinados para cada edifcio em anlise. Contudo, o mtodo do balano trmico uma
abordagem mais fundamental e portanto, este o mtodo utilizado no EnergyPlus. No obstante, a
utilizao deste mtodo envolve considerar as seguintes hipteses simplificativas para todas as
superfcies (paredes, janelas, teto e cho) do espao em estudo:
Temperatura na superfcie uniforme;
Radiao de altos e baixos comprimentos de onda uniforme;
Superfcies radiantes difusas;
Conduo de calor unidimensional.
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16
Nos casos em que as hipteses simplificativas anteriores conduzam a um modelo com
preciso inferior desejada, apenas modelos CFD se apresentam atualmente como soluo
alternativa.
A abordagem do balano trmico aplica um volume de controlo na face exterior de cada
superfcie do edifcio, outro na face interior e um terceiro envolvendo o ar confinado em cada zona
trmica. As representaes grficas dos volumes de controlo so representadas nas Ilustrao 2.1 e
Ilustrao 2.2 [17].
Ilustrao 2.1 - Volume de controlo na face exterior da envolvente
Ilustrao 2.2 - Volume de controlo na face interior da envolvente
Nos balanos trmicos das superfcies, exterior e interior, as quatro e seis contribuies,
respetivamente, a atuar sobre os volumes de controlo tm de estar equilibradas para o princpio da
conservao de energia se verificar. Matematicamente pode-se formular equaes 2.1 e 2.2 para os
diagramas das Ilustrao 2.1 e Ilustrao 2.2, referentes s faces exterior e interior, respetivamente.
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17
Em que:
o calor absorvido pela superfcie devido radiao solar (curto comprimento de onda),
o calor trocado pela superfcie com a vizinhana (incluindo o solo, o cu, o ar, outros
edifcios, vegetao, etc.) por radiao trmica (longo comprimento de onda),
o calor trocado entre o ar envolvente e a superfcie por conveco,
o calor conduzido pelos materiais da parede.
Em que:
o calor absorvido na face interior da superfcie devido radiao solar,
o calor absorvido pela superfcie devido radiao de curto comprimento de onda
proveniente das iluminao interior
o valor lquido de calor trocado entre a superfcie e as restantes superfcies da zona
por radiao trmica (longo comprimento de onda)
o calor absorvido pela superfcie devido radiao de longo comprimento de onda
proveniente dos ganhos trmicos interiores tais como pessoas, iluminao e equipamentos.
o calor trocado entre o ar da zona e a superfcie por conveco,
o calor conduzido pelos materiais da parede.
O balano trmico ao ar interior da zona sob estudo pode ser formulado de duas formas
distintas caso se contabilize, ou no, a acumulao de energia no prprio ar, ou seja, a sua inrcia
trmica. O diagrama com as contribuies trmicas para o ar apresentado na Ilustrao 2.3 [17].
Ilustrao 2.3 - Volume de controlo ao ar no interior da zona trmica
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18
A formulao que no toma em considerao a inrcia trmica do ar descrita
matematicamente pela equao 2.3 de balano trmico:
Em que:
a transferncia de calor por conveco entre todas superfcies e o ar no volume de controlo,
a contribuio convectiva de calor dos ganhos internos tais como pessoas, iluminao
e equipamentos para o ar no volume de controlo,
o calor ganho ou perdido pelo ar devido infiltrao de ar exterior,
o calor fornecido ou retirado ao espao devido ao sistema de condicionamento de ar existente.
Na maioria dos casos a equao qusi-estacionria apresentada anteriormente adequada
para resolver o balano trmico ao volume de controlo. Contudo, caso se pretenda ter em conta a
acumulao de energia no ar, o balano trmico descrito pela equao 2.4.
Em que representa o produto entre a massa de ar no volume de controlo e o seu calor especfico a
presso constante, e as restantes variveis mantm as definies anteriores.
2.2 Modelo do Edifcio
O edifcio em anlise caracteriza-se por ser uma extenso do atual restaurante do Corinthia
Hotel Lisbon, atravs do qual se pretende aumentar a capacidade em 204 lugares sentados. Para a
elaborao do modelo de simulao trmica do edifcio, recorreu-se aos desenhos facultados e que
so apresentados no Anexo A, e a dados sobre as solues construtivas da fachada do hotel onde o
novo espao figurar.
2.2.1 Localizao geogrfica e condies climatricas
O edifcio em estudo ser construdo no atual jardim do Corinthia Hotel Lisbon, um hotel
localizado na cidade de Lisboa, na zona de Sete-Rios (38.75N, 9.15E, 57m) como se apresenta na
Ilustrao 2.4.
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Ilustrao 2.4 - Localizao geogrfica do edifcio em estudo
Embora se tenha introduzido as coordenadas GPS atrs mencionadas na simulao, a
localizao na realidade definida pelas coordenadas do local onde foram feitas as medies
climatricas do ficheiro de dados climticos que se introduz para a simulao. No presente trabalho
utilizou-se o ficheiro disponibilizado pelo LNEG (ex-INETI) para a regio de Lisboa no qual se
estabelecem condies climatricas dirias para um ano tpico e condies extremas para projeto de
solues de climatizao. No Anexo B apresenta-se a distribuio da temperatura do ar exterior ao
longo do ano assim como em condies de projeto.
2.2.2 Modelo da Envolvente
O modelo da envolvente foi desenvolvido no programa DesignBuilder pela, j citada,
facilidade de modelao 3D em termos de interface grfica, tendo resultado no modelo se apresenta
na Ilustrao 2.6.
Ilustrao 2.5 - Desenhos 3D do projeto de ampliao do restaurante
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Ilustrao 2.6 - Representao grfica do modelo construdo no DesignBuilder
A utilizao de uma verso experimental do DesignBuilder (tal como est patente na marca
de gua da Ilustrao 2.6) impossibilitou uma representao fidedigna da aparncia do edifcio pelo
facto de os materiais do programa, utilizados na fachada e cobertura, no terem o aspeto visual das
solues construtivas do hotel. Faz-se a ressalva, contudo, de que esses materiais no programa
correspondem s solues construtivas reais em termos de propriedades fsicas e trmicas.
A estrutura do novo edifcio do tipo prtico com os espaos entre pilares acabados em vos
envidraados do tipo porta. O facto de o edifcio estar orientado a Sul, ou seja, tendo elevada
exposio solar, obrigou a que se colocasse uma soluo do tipo pala na fachada com esta
orientao por forma a minimizar os ganhos trmicos devido radiao solar. A razo de se
posicionar essa pala a um nvel inferior altura do vo envidraado, consiste em promover
iluminao natural na sala. Devido altitude solar ser mais elevada durante a estao de
arrefecimento, a maior parte dos efeitos de aquecimento pela radiao solar so absorvidos pela pala
nesta estao.
A simulao trmica do edifcio requere, necessariamente, uma descrio de toda a
envolvente, nomeadamente, dimenses, geometria e propriedades trmicas e ticas macroscpicas
dos materiais que a constituem. Em termos de dimenses e geometria o edifcio ter uma geometria
simples retangular com cerca de 187 m2 (21,60 x 8,65 m) de rea til (interior) e um p direito de,
aproximadamente, 4 m. A escolha dos materiais para modelar a envolvente foi baseada nas solues
construtivas utilizadas na atual fachada do hotel onde ser acoplado este novo espao. Em termos
das superfcies opacas, tanto a alvenaria das paredes (pilares da estrutura prtico) como a
cobertura e o piso, so construdos em beto, diferindo ento no isolamento e acabamento. A Tabela
2.1 resume a composio dos trs tipos de solues utilizadas nas superfcies opacas da envolvente.
Representaes grficas destas solues construtivas podem ser vistas na Ilustrao 6.2, do Anexo
A.
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Tabela 2.1 - Descrio das superfcies opacas da envolvente
Propriedade Pilares Cobertura Piso
2,339 0,620 1,162
Camada interior Material
Gesso
(Estuque)
Gesso
(Teto falso) Brita
Espessura 30 20 100
Camada 2 Material Beto Ar Beto
Espessura 300 200 150
Camada 3 Material - Beto Betonilha
Espessura - 200 40
Camada 4 Material - Betonilha -
Espessura - 40 -
Camada 5 Material -
Roofmate
XPS Poliestireno Extrudido -
Espessura - 30 -
Camada exterior Material Granito Vermelho
Leca
(agregado leve de argila)
Madeira
(pavimento)
Espessura 30 40 20
Por outro lado, os vos envidraados, que representam cerca de 65% na envolvente lateral
exterior do edifcio, foram modelados, com as limitaes inerentes ao programa, de acordo com as
especificaes dos atuais vidros utilizados na fachada Sul do hotel, cujas propriedades so
apresentadas na Ilustrao 6.4, do Anexo A. A Tabela 2.2 resume a constituio da soluo adotada
para as trs fachadas laterais exteriores do edifcio.
Tabela 2.2 - Descrio dos vidros da envolvente
Propriedade Vidros
1,563
Transmisso solar total 0,583
Transmisso solar direta 0,467
Transmisso de luz 0,666
Camada interior Material Clear glass
Espessura 6
Camada intermdia
Material Ar
Espessura 12
Camada exterior Material Clear glass
Espessura 6
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Alm da especificao de todos os materiais, o modelo exige que se defina algumas
propriedades das superfcies para avaliao trmica das mesmas. Na Tabela 2.3 apresentado um
resumo dessas propriedades, tanto para as superfcies opacas como para os vos envidraados do
edifcio em estudo.
Tabela 2.3 - Caracterizao das superfcies da envolvente
Superfcie/
Fachada
Soluo construtiva
rea (m2) Condio de
Fronteira Exterior
Exposio solar
Exposio ao Vento
Norte Envidraados 86.40 Adiabatic NoSun NoWind
Sul Pilares 27.44
Outdoors SunExposed WindExposed Envidraados 58.96
Este Pilares 13.54
Outdoors SunExposed WindExposed Envidraados 34.60
Oeste Pilares 13.54
Outdoors SunExposed WindExposed Envidraados 34.60
Cho Piso 186.84 Ground NoSun NoWind
Teto Cobertura 186.84 Outdoors SunExposed WindExposed
No que diz respeito modelao trmica da envolvente, os critrios de modelao anteriores
(condio de fronteira exterior, exposio solar e exposio ao vento) apresentam-se como os mais
relevantes. Juntamente com a soluo construtiva, que define o coeficiente de transmisso de calor U
(Tabela 2.1 e Tabela 2.2) e com a rea, as superfcies ficam termicamente identificadas, cumprindo
com os requisitos de utilizao dos algoritmos ASHRAE implementados no EnergyPlus.
Uma descrio exaustiva dos algoritmos pode ser consultada nas publicaes do software,
nomeadamente, EnergyPlus Input Output Reference Document [18] e EnergyPlus Engineering
Reference Document [19]. No obstante, dada a pertinncia para a explicao do modelo, apresenta-
se de seguida uma descrio superficial de cada uma das opes.
Condio de Fronteira Exterior:
Adiabatic - Para modelar superfcies internas na mesma zona trmica (mesmas condies de
conforto). Esta superfcie no transfere calor para fora da zona trmica, mas tem capacidade de
acumular calor por inrcia trmica da sua massa. Apenas a face interior da superfcie troca calor com
a zona (i.e. duas superfcies adiabticas seriam necessrias para modelar parties interiores onde
ambos os lados da superfcie esto a trocar calor com a zona). Uma vez que a superfcie Norte do
edifcio, na situao real, estar aberta para o restaurante existente, as condies de conforto sero,
partida, as mesmas e no haver trocas considerveis de calor. Como neste trabalho no se
modelou o espao existente do restaurante, mas apenas o novo espao, optou-se por modelar esta
superfcie Norte como adiabtica para no permitir trocas de calor com o exterior, j que, na
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simulao, o exterior desta superfcie seria o meio ambiente, conduzindo a um impacte irrealista
sobre a zona. Visto que o modelo Adiabatic considera a inrcia trmica da superfcie, e na realidade
esta superfcie no existir, optou-se por model-la com uma soluo construtiva de Envidraados
por ter menor capacidade de acumulao trmica que qualquer das solues opacas consideradas.
Outdoors Para modelar superfcies expostas a condies de temperatura do meio ambiente
exterior. Est diretamente ligada aos modelos de Exposio solar e ao vento que so explicados
adiante. Utilizou-se este tipo de condio de fronteira para todas as superfcies em contacto com o
meio ambiente, que no caso do edifcio modelado so as fachadas Este, Oeste e Sul, e ainda a
cobertura.
Ground Para modelar superfcies em contacto com o solo. As temperaturas que este
modelo utiliza para a superfcie do solo so valores mdios introduzidos para cada ms. Neste projeto
considerou-se o valor por defeito do programa EnergyPlus, 18C, constante em todo o ano, e aplicou-
se este modelo superfcie do piso o edifcio.
Exposio solar:
As superfcies com exposio solar, fachadas laterais Este, Sul e Oeste, so modeladas
como SunExposed. Pelo contrrio, o piso e a fachada Norte, por serem superfcies interiores, no
esto expostas radiao solar e, portanto, so modeladas com NoSun.
Exposio ao Vento:
Homologamente exposio solar, as superfcies interiores no se encontram expostas ao
vento e so modeladas como NoWind, enquanto as exteriores so modeladas como WindExposed.
Contudo, especificar uma superfcie como NoWind acarreta vrias implicaes em termos de balano
trmico que pertinente ressalvar. Por um lado, utilizada a correlao para o coeficiente de
conveco exterior mais simples do ASHRAE com velocidade do vento nula. Por outro lado, uma vez
que o mtodo simples do ASHRAE no separa os valores da radiao de comprimento de onda longo
equivalente para o cu e solo, ao utilizar-se NoWind tambm se elimina as trocas por radiao de
longo comprimento de onda do exterior da superfcie em causa para o cu e solo. Sendo assim, o
nico mecanismo de transferncia de calor nestas superfcies conveco simples. Tendo em conta
que ambas as superfcies assim modeladas no presente estudo so o piso e a fachada Norte (interior,
logo sem interao radiativa com o solo e cu), pode-se considerar que esta hiptese est bem
fundamentada.
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As superfcies anteriores delimitam uma, e s uma, zona trmica, que em termos de
modelao no EnergyPlus fica definida pelos parmetros da Tabela 2.4.
Tabela 2.4 - Caracterizao da zona trmica
rea til (m2) 186,84
Altura do teto (m