diversidade genética e dinâmica populacional de quatis (nasua
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da
Vida Silvestre
DDiivveerrssiiddaaddee ggeennééttiiccaa ee ddiinnââmmiiccaa ppooppuullaacciioonnaall ddee qquuaattiiss
((NNaassuuaa nnaassuuaa)) eemm MMiinnaass GGeerraaiiss
BÁRBARA REGINA NEVES CHAVES
Belo Horizonte
2011
BÁRBARA REGINA NEVES CHAVES
Diversidade genética e dinâmica populacional de quatis (Nasua
nasua) em Minas Gerais
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Ecologia, Conservação
e Manejo da Vida Silvestre do Instituto de
Ciências Biológicas da Universidade
Federal de Minas Gerais, como requisito
parcial para a obtenção do titulo de mestre
em Ecologia.
Orientador: Fabrício Rodrigues dos Santos, PhD.
Belo Horizonte
2011
1
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que, de alguma forma, contribuíram para a realização deste trabalho. Em especial, ao meu orientador Fabrício, que me recebeu (pela segunda vez) no LBEM há quatro anos, permitiu e ajudou no desenvolvimento deste trabalho, e à Nadja, que me convidou a entrar no Projeto Quatis, teve a idéia inicial e contribuiu muito. Agradeço a toda a equipe do Projeto Quatis e aos funcionários do Parque das Mangabeiras, que trabalharam duro no campo e me forneceram a maior parte das amostras analisadas aqui; à Paula Senra, veterinária que me acompanhou no Parque do Caparaó, Serra da Piedade, Caraça e Peti, e me ajudou a correr atrás dos quatis em momentos super agradáveis; aos funcionários e outras pessoas que tornaram as coletas no Parque do Caparaó, Serra da Piedade, Caraça e Peti (CEMIG) possíveis, em especial ao Waldomiro, Joel, Pe. Nédio, Prof. Renato Las Casas, Aline, Leotacílio, Pará e Raul; ao pessoal do CETAS do IBAMA de Belo Horizonte, em especial ao Rodrigo, que fez de tudo para ajudar; ao Zé por me trazer uma amostra lá de Goiás. Agradeço a todos os colegas e amigos do LBEM, em especial a Lílian, que nos últimos meses ralou muito comigo na bancada; Cacá e Sibelle, que mesmo de longe continuaram aturando minhas inúmeras perguntas; Lets, Érica, Claudiomar, Marilza, Lúcia e de novo a Cacá, que foram mães (ou pai) do MEGA; Raul, Augusto, Zé, Bruno, Lúcia, Gisele, Cacai, Ângela, José, Dani, Lorena, Claudia, Sarah, Rodrigo, pela disponibilidade, troca de experiências, dicas, ajudas infinitas nas extrações, PCRs, géis, seqüenciamentos, análises..., e por tornarem meu dia-a-dia durante o mestrado super divertido! Agradeço também aos professores e colegas de outros laboratórios, em especial GENEPOP, LGMM e LDGH, pelo socorro em momentos de problemas técnicos. Agradeço à minha família, aos amigos da Bio e de fora dela e a quem eu porventura deixei de mencionar, por me ajudarem, me apoiarem ou simplesmente por me distraírem de vez em quando. E, finalmente, agradeço ao Programa de Pós-Graduação em ECMVS, à CAPES pela bolsa, à FAPEMIG, à USFish and Wildlife Service, à Fundação O Boticário e ao CNPq, pelo financiamento deste trabalho.
2
RESUMO
Este trabalho apresenta informações genéticas, demográficas e comportamentais obtidas a
partir da região controle do mtDNA e de locos microssatélites de algumas populações de quati
(Nasua nasua) amostradas no estado de Minas Gerais. Essa espécie de procionídeo, de ampla
ocorrência na América do Sul, não se encontra em listas de espécies ameaçadas de extinção, sendo,
em muitos locais, a espécie de carnívoro mais conspícua e abundante.
Apesar da grande amostragem, a população do Parque das Mangabeiras apresentou baixa
diversidade genética intrapopulacional, alto coeficiente de parentesco entre indivíduos, reduzido
tamanho populacional efetivo, desvio do equilíbrio de Hardy-Weinberg, evidência de gargalo-de-
garrafa recente e razoável isolamento em relação às demais populações amostradas. Esses
resultados sugerem que essa população pode ter se originado de uma reintrodução recente, seguida
de rápido aumento populacional. Mesmo com menor número de indivíduos amostrados, as
populações da R.P.P.N. Serra da Piedade, E.E. Rêgo dos Carrapatos e PARNA Caparaó
apresentaram alta diversidade genética intrapopulacional, tamanhos populacionais efetivos
relativamente grandes e freqüências alélicas em equilíbrio de Hardy Weinberg. O padrão de fluxo
gênico encontrado sugere filopatria de fêmeas e dispersão de machos, em geral com extensivo fluxo
gênico entre populações.
Os resultados das análises sugerem que bandos de quatis são formados por indivíduos
aparentados e provenientes da mesma linhagem materna, porém podem conter alguns indivíduos
não aparentados. Além disso, os resultados sugerem também que machos adultos podem se associar
a bandos diferentes de seu bando natal, formando estruturas sociais semelhantes a haréns, o que não
garante a paternidade de todos os filhotes, uma vez que os testes de paternidade revelaram que
vários machos diferentes podem se acasalar com as fêmeas de um bando. O comportamento de
filopatria das fêmeas parece não aumentar o coeficiente de endogamia das populações amostradas.
A análise de maior número de locos microssatélites e uma maior amostragem das
populações da E.A. Peti, E.E. Rêgo dos Carrapatos, P.E. da Baleia, Davinópolis/GO, outras
populações de Minas Gerais e de mais estados brasileiros são necessárias para resultados mais
acurados, para verificar a hipótese de reintrodução da espécie Nasua nasua no Parque das
Mangabeiras e descobrir a origem dos indivíduos fundadores dessa população.
3
ABSTRACT
This work presents the genetic, demographic and behavioral characteristics derived from
the control region of mtDNA and microsatellite loci in some populations of coatis (Nasua nasua)
sampled in Minas Gerais state. That procionid, widely spread in South America, is not in
endangered species lists, but can be the most conspicuous and abundant carnivore in many places.
Despite the large sample, the population of the Mangabeiras Park had low intrapopulation
genetic diversity, high coefficient of relatedness between individuals, reduced effective population
size, Hardy-Weinberg departure, evidence of recent bottleneck and moderate isolation from other
sampled populations. These results suggest this population may have originated from a recent
reintroduction, followed by rapid population growth. Even with a smaller number of individuals
sampled, populations of R.P.P.N. Serra da Piedade, E.E. Rêgo dos Carrapatos e PARNA Caparaó
showed high intrapopulation genetic diversity, apparently large effective population sizes and allele
frequencies in Hardy Weinberg equilibrium. The gene flow pattern among populations suggests
female philopatry and male dispersal, with general extensive gene flow between populations.
The results suggest that coati’s bands consist by related individuals from the same maternal
lineage, but may contain some unrelated individuals. Furthermore, the results also suggest that adult
males may associate with bands that not your natal band, forming social structures similar to
harems. However, it does not guarantee the paternity of all offspring, since paternity tests revealed
that several males may mate females of a same band. The philopatry of females seems do not
reduce the inbreeding coefficient of sampled populations.
The analysis of a greater number of microsatellite loci and larger samples of E.A. Peti, E.E.
Rêgo dos Carrapatos, P.E. da Baleia, Davinópolis/GO populations, other populations from Minas
Gerais and other Brazilian states, are needed to get more accurated results, to investigate the
possibility of reintroduction of Nasua nasua in Mangabeiras Park and to discover the source of
founder individuals of this population.
4
LISTA DE ABREVIAÇÕES
AMOVA – Análise de Variância Molecular (Analysis of Molecular Variance)
BAL – Parque Estadual da Baleia
CAP – Parque Nacional do Caparaó
CETAS – Centro de Triagem de Animais Selvagens
CSB – Seqüência curta conservada
CytB – Citocromo b
DAV – Davinópolis/GO
DNA – Ácido Desoxirribonucleico
ddNTP – Didesoxinucleotídeo
dNTP - Desoxinucleotídeo
IAM – Modelo de mutação de alelos infinitos
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
LBEM – Laboratório de Biodiversidade e Evolução Molecular
MAN – Parque das Mangabeiras
MJ – Median Joining
mtDNA – DNA mitocondrial
NLI – Estação Ecológica Rêgo dos Carrapatos
PARNA – Parque Nacional
pb – Pares de bases
PCR – Polymerase Chain Reaction
PET – Estação Ambiental de Peti
RNA – Ácido ribonucléico
RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural
rRNA – RNA ribossômico
SEP – Reserva Particular do Patrimônio Natural da Serra da Piedade
SNP – Single Nucleotide Polymorphism
SSM – Modelo de mutação de passo
SSR – Repetições de seqüências simples
STR – Repetições curtas em tandem
TAS – Seqüências associadas à terminação
TPM – Modelo de mutação de duas fases
tRNA – RNA transportador
VNTR – Número variável de repetições em tandem
5
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1. Diagrama esquemático da região controle do mtDNA, mostrando a região D-
loop, os domínios da direita, central e da esquerda e blocos de seqüências conservadas relacionadas
à replicação do DNA (Taberlet 1996). ..................................................................................... 17
Figura 2. Procedimento de coleta de material genético de Nasua nasua: captura em
armadilha tipo gaiola com isca, imobilização por meio de anestésico químico e coleta de amostra de
sangue....................................................................................................................................... 25
Figura 3. Mapas da localização das populações de quatis amostradas no presente estudo.
BAL: P.E. Baleia, DAV: Davinópolis/GO, CAP: PARNA Caparaó, MAN: Parque das Mangabeiras,
NLI: E.E. Rêgo dos Carrapatos, PET: E.A. Peti, SEP: R.P.P.N. Serra da Piedade. ................ 25
Figura 4. Representação da região do mtDNA amplificada e seqüenciada e dos iniciadores
utilizados no presente estudo. .................................................................................................. 28
Figura 5. Redes de haplótipos MJ geradas pelo programa Network. A: haplótipos da
região controle do mtDNA sem os sítios de inserção/deleção; B: haplótipos com os sítios de
inserção/deleção. ...................................................................................................................... 34
Figura 6. Gráfico obtido pelo programa Distruct para K=2, a partir dos coeficientes de
associação de cada indivíduo em relação a cada cluster calculados pelo programa Structure 38
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1. Período de amostragem e número de indivíduos amostrados, de acordo com a
localidade, sexo e classe etária ................................................................................................. 26
Tabela 2. Lista de iniciadores utilizados no presente estudo para amplificação e
seqüenciamento de parte da região controle e parte do gene cyt-B. ........................................ 27
Tabela 3. Lista de locos microssatélites e seus respectivos iniciadores utilizados no
presente estudo ......................................................................................................................... 29
Tabela 4. Número de indivíduos genotipados (N), número de alelos encontrados (n),
heterozigosidade observada (Ho) e heterozigosidade esperada (He) para cada um dos sete locos
microssatélites utilizados no presente estudo. .......................................................................... 34
Tabela 5. Índices de diversidade genética intrapopulacional e testes de neutralidade
calculados para a região controle do mtDNA: tamanho da amostra (N), número de haplótipos (h),
diversidade haplotípica (Hd) (Nei 1987), diversidade nucleotídica (π) (Tajima 1983; Nei 1987),
6
número médio de diferenças nucleotídicas (k) (Tajima 1983, 1993), heterozigosidade média
esperada (He) (Nei 1987), D de Tajima (Tajima 1989) e Fs de Fu (Fu 1997) ......................... 35
Tabela 6. Índices de diversidade genética intrapopulacional para cinco locos
microssatélites (média entre locos) e testes de neutralidade: tamanho da amostra (N), número de
alelos (n), número esperado de alelos (ne) calculado pelos modelos de mutação simples de passo
(SSM) e de alelos infinitos (IAM), riqueza alélica (R) para tamanhos amostrais padronizados em 2,
5 e 7 indivíduos, heterozigosidade média observada (Ho) e heterozigosidade média esperada (He),
testes de equilíbrio de Hardy-Weinberg para déficit de heterozigotos (HWD) e excesso de
heterozigotos (HWE) ............................................................................................................... 36
Tabela 7. Valores P dos testes de diferenciação genética gerais e entre pares de
populações, baseados na distribuição de haplótipos da região controle do mtDNA (considerando e
não considerando sítios de inserção/deleção) e de alelos e genótipos dos locos microssatélites37
Tabela 8. Estimativas da estruturação populacional inferidas por análise de variância
molecular (AMOVA), baseadas em freqüências alélicas (FST) e baseadas tanto em freqüências
quanto em diferenças entre haplótipos (φST). Os haplótipos da região controle do mtDNA
considerando e não considerando sítios de inserção/deleção foram utilizados separadamente nos
cálculos. Va: componente interpopulacional da diversidade genética, Vb: componente
intrapopulacional da diversidade genética e Vtotal: diversidade genética total ...................... 38
Tabela 9. Distâncias genéticas entre pares de populações: φST (mtDNA) e FST
(microssatélites) ....................................................................................................................... 39
Tabela 10. Fluxo gênico (Nm) entre pares de populações: inferido a partir das freqüências
gênicas e a partir da freqüência de alelos exclusivos de cada população. 1: cálculos a partir das
seqüências de mtDNA não considerando os sítios de inserção/deleção, 2: cálculos a partir do
mtDNA com os sítios de inserção/deleção, 3: cálculos a partir de 5 locos microssatélites 40
Tabela 11. Fluxo gênico entre populações, inferido a partir das freqüências alélicas e dos
alelos exclusivos, pelo método de máxima verossimilhança, a partir da região controle do mtDNA
sem (A) e com (B) sítios de inserção/deleção e a partir de 5 locos microssatélites (C) .......... 41
Tabela 12. Probabilidades médias de atribuição dos indivíduos às populações, calculadas
pela técnica de máxima verossimilhança a partir de cinco locos microssatélites. ................... 41
Tabela 13. Imigrantes de primeira geração identificados pela técnica de máxima
verossimilhança a partir de cinco locos microssatélites: sexo, respectivas populações de origem e de
destino e valor P ....................................................................................................................... 42
7
Tabela 14. Tamanhos amostrais (N), tamanhos populacionais efetivos (Ne) e respectivos
intervalos de confiança (95%), calculados a partir do método de desequilíbrio de ligação (1) e do
método Bayesiano (2) .............................................................................................................. 42
Tabela 15. Valores p dos testes de Wilcoxon e indicador “mode-shift” para detecção de
gargalos-de-garrafa populacionais, realizados com base em 5 locos microssatélites .............. 43
Tabela 16. Coeficientes de endogamia calculados para cada população e respectivos
valores p ................................................................................................................................... 43
Tabela 17. Coeficientes médios de parentesco (r) de grupos de indivíduos, calculados por
máxima verossimilhança a partir de cinco locos microssatélites ............................................. 44
Tabela 18. Parentesco entre indivíduos do mesmo bando: proporção de pares de
indivíduos classificados como não relacionados (r=0), levemente relacionados (0<r<0.25) ou
altamente relacionados (r>0.25) ............................................................................................... 44
Tabela 19. Parentesco entre machos e bandos: coeficiente de parentesco (r),
compartilhamento de haplótipo (HC) e ocorrência de atribuição de paternidade (Pai?) de machos
solitários (1) ou associados (2)................................................................................................. 45
Tabela 20. Número de filhotes e candidatos a mãe e a pai com no mínimo cinco locos
microssatélites genotipados e número de atribuições mãe-filhote e pai-filhote encontradas através de
testes de maternidade e paternidade realizados através do programa Cervus. Os dados estão
divididos por população e por ano de amostragem .................................................................. 46
Tabela 21. Identificação dos indivíduos com respectiva classe etária no momento de
captura e valores de parentesco (r) e classes de parentesco (R) mais prováveis entre indivíduos da
população MAN capturados na armadilha ao mesmo tempo. U: não relacionados, PO: mãe-filhote,
S: irmãos, C: primos................................................................................................................. 46
8
SUMÁRIO
1. Introdução ................................................................................................................................... 9
1.1. Sobre os quatis .................................................................................................................. 9
1.2. Tamanho populacional .................................................................................................... 11
1.3. Dispersão/migração, filopatria, grupos sociais e sistemas de acasalamento ................... 14
1.4. Ferramentas genéticas em estudos demográficos ........................................................... 16
1.4.1. Marcadores moleculares ........................................................................................... 16
Região controle do mtDNA ................................................................................................. 16
Microssatélites ..................................................................................................................... 18
1.4.2. Descrição e quantificação da diversidade genética .................................................. 19
1.4.3. Estimativa de endogamia e migração atual e histórica............................................. 20
1.4.4. Estimativa de Tamanho Populacional Efetivo ......................................................... 22
1.4.5. Detecção de eventos passados de translocação e avaliação do efeito fundador ....... 23
1.4.6. Avaliação de sistemas sociais e de acasalamento .................................................... 24
2. Objetivos ................................................................................................................................... 24
3. Métodos .................................................................................................................................... 25
3.1. Amostragem .................................................................................................................... 25
3.2. Técnicas de laboratório ................................................................................................... 26
3.2.1. Extração de DNA ..................................................................................................... 26
3.2.2. Seqüenciamento da região controle do mtDNA ....................................................... 26
3.2.3. Genotipagem de microssatélites ............................................................................... 28
3.3. Análises dos dados .......................................................................................................... 29
4. Resultados ................................................................................................................................. 33
5. Discussão .................................................................................................................................. 46
6. Conclusão ................................................................................................................................. 52
Referências Bibliográficas ................................................................................................................. 54
Anexo I ............................................................................................................................................... 60
Indivíduos utilizados nas análises do presente estudo, com respectivos sexos, classes etárias, ano de captura e bandos, divididos por população e identificados pelo número do banco de DNA do ICB/UFMG
Anexo II ............................................................................................................................................. 65
Resultados dos testes de maternidade e paternidade realizados através do programa Cervus, por população
9
1. INTRODUÇÃO
1.1. SOBRE OS QUATIS
Procyonidae é uma das 11 famílias de mamíferos da ordem Carnivora. Consiste de 14
espécies e seis gêneros (Wozencraft 2005), geograficamente distribuídos nas Américas. Inclui
frugívoros tropicais altamente arbóreos (Bassaricyon e Potos) e onívoros, de terrestres a arbóreos,
encontrados em uma grande diversidade de habitats (Bassariscus, Nasua, Nasuela e Procyon)
(Zeveloff 2002). Como resultado de suas dietas e em contraste com a maior parte das espécies de
Carnivora, a maioria dos procionídeos é caracterizada pela dentição hipocarnívora (Koepfli et al.
2007).
O quati é um procionídeo de pequeno a médio porte, de 3 a 7 kg e comprimento total de
aproximadamente 1 metro, sendo que os machos são maiores que as fêmeas. A pelagem apresenta
grande variação de coloração, do alaranjado e avermelhado ao marrom escuro e cinza, sobrepostos
com amarelo. A cauda é longa e delgada, de comprimento igual ao restante do corpo e cabeça, e é
mantida ereta durante o forrageamento. A cabeça é alargada e termina em estreito e prolongado
focinho, muito saliente, pontiagudo e de grande mobilidade (Gompper & Decker 1998).
Existem três espécies de quati, todas restritas às Américas: Nasua narica (Linnaeus, 1766),
encontrada do norte da Colômbia ao sul do Arizona, Novo México e Texas; Nasua (ou Nasuella)
olivacea (Gray, 1865), que ocorre na Cordilheira dos Andes da Venezuela, Colômbia e Equador; e
Nasua nasua (Linnaeus, 1766), de ampla distribuição na América do Sul, ocorrendo na Colômbia,
Venezuela, Guianas, Suriname, Peru, Bolívia, Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil (Decker &
Wozencraft 1991; Beisiegel 2001). As informações sobre os quatis foram obtidas a partir de estudos
realizados com as espécies N. nasua e, principalmente, N. narica.
Os quatis são diurnos, escansoriais e onívoros, e podem ser considerados dispersores de
sementes. Sua dieta inclui principalmente artrópodes, grande variedade de frutos, bromélias e
eventualmente pequenos vertebrados. Já foi constatado também o consumo de outros mamíferos,
necrofagia e, em áreas de utilização antrópica, lixo (Emmons 1990; Redford & Stearman 1993;
Gompper 1995; Gompper & Decker 1998; Beisiegel 2001; Alves-Costa et al. 2004).
Os quatis são os únicos procionídeos sociais verdadeiros, apresentando uma variedade de
comportamentos cooperativos não encontrados nas demais espécies da família. A estrutura social
consiste de fêmeas e filhotes formando grupos, cada grupo com mais de 30 indivíduos, e machos
adultos solitários. Os machos acima de dois anos geralmente só se associam a bandos durante a
estação reprodutiva, embora já tenham sido encontrados associados a bandos fora deste período
(Kaufman 1962; Russell 1981; Gompper & Krinsley 1992; Gompper 1995, 1997). Essa estrutura
10
social dicotômica (fêmeas em grupo e machos solitários) tem sido explicada como uma forma de
evitar competição intra-específica por recursos alimentares (Russel 1982, 1983; Gompper 1996;
Gompper et al. 1997). Já a associação de machos aos bandos pode ser explicada como
monopolização do acesso a fêmeas para acasalamento, porém benefícios como redução da carga de
ectoparasitas, proteção contra predadores e contra outros machos adultos também são plausíveis
(Gompper & Krinsley 1992; Gompper 1995; Costa et al. 2009).
Os bandos de quatis são considerados altamente filopátricos e geneticamente próximos,
embora indivíduos não aparentados possam ocasionalmente se juntar ao grupo (Gompper 1997;
Gompper & Decker 1998). Já os machos adultos apresentam comportamento de dispersão, mas a
distância percorrida por eles da área de nascimento até o local onde estabelecem seu território é
geralmente pequena (Gompper 1997; Alves-Costa et al. 2004).
A espécie alvo deste estudo, N. nasua, se diferencia morfologicamente das demais espécies
de quati basicamente por apresentar focinho de coloração marrom ou cinza e cauda de cor
semelhante ao dorso com anéis amarelos ou marrom claro (Gompper & Decker 1998), sendo por
isso também chamada quati-de-focinho-marrom (brown-nosed-coati) ou quati-de-cauda-em-anéis
(ring-tailed-coati). No Brasil, a espécie pode ocorrer nos biomas da Amazônia, Caatinga, Cerrado,
Pantanal, Mata Atlântica e Campos Sulinos (Silva et al. ; Emmons & Feer 1997; Câmara & Murta
2003).
N. nasua não consta na lista brasileira de espécies ameaçadas de extinção, sendo
classificada como vulnerável apenas no estado do Rio Grande do Sul (Beisiegel 2001; Indruziak &
Eizirik 2003). Em muitos locais, é a espécie de carnívoro mais abundante, em vários casos
correspondendo ao mamífero mais observado em levantamentos diurnos (Schaller 1983; Gompper
& Decker 1998). Em locais como Parque das Mangabeiras (Belo Horizonte, MG), PARNA Caparaó
(Alto Caparaó, MG), PARNA do Iguaçu (Foz do Iguaçu, PR) e RPPN Santuário da Serra da
Piedade (Caeté, MG), é possível verificar grande número de quatis em bandos conspícuos
(obs.pess.). Essas observações podem refletir aumento populacional da espécie nestes locais ou
simplesmente facilidade de visualização, devido à tolerância do quati à presença do homem em
áreas preservadas com histórico de visitação.
A densidade de quatis no Parque das Mangabeiras (Belo Horizonte, Minas Gerais), foi
recentemente estimada em 52,81 indivíduos/km2, valor bastante elevado se comparado a outras
áreas (Schaller 1983; Bovendorp & Galetti 2007; Hemetrio 2007). Estudos mostram que a
densidade de quatis está relacionada à disponibilidade de recursos, sendo que grandes populações
ocorrem em locais com maior disponibilidade de alimentos ou água (Russel 1982, 1983; Gompper
1997; Valenzuela & Macdonald 2002). No Parque das Mangabeiras, vários fatores podem estar
11
contribuindo para a alta densidade de quatis: grande oferta de alimento (lixeiras, visitantes e casas
no entorno do parque), ausência de predadores naturais (grandes felinos) e ausência de
conectividade com outros fragmentos de floresta, o que pode impedir a dispersão dos quatis para
outros locais.
Sabe-se que o aumento da densidade de espécies de médio porte com hábitos generalistas,
como os quatis, pode causar alterações drásticas nas comunidades de pequenos vertebrados e ainda
reduzir o sucesso reprodutivo de espécies vegetais cujas sementes são predadas por eles (Desteven
& Putz 1984; Fonseca & Robinson 1990; Wilson 1992; Palomares et al. 1995; Rogers & Caro
1998; Crooks & Soule 1999). Por outro lado, já foi comprovada a importância dos quatis no
processo de dispersão de sementes, uma vez que são capazes de se mover diariamente por grandes
distâncias e ingerir e dispersar sementes intactas, de grande variedade de plantas, de todos os
estratos da vegetação (Alves-Costa et al. 2004).
1.2. TAMANHO POPULACIONAL
O conhecimento do tamanho, densidade e taxa de crescimento de uma população é um pré-
requisito para manejá-la de forma efetiva. A taxa de crescimento populacional em vertebrados
λ = ����N�
geralmente flutua por volta de uma média de um e é determinada por dois fatores: quantidade de
alimento disponível e habilidade intrínseca da espécie de converter a energia extra em aumento de
fecundidade e redução da mortalidade (Sinclair et al. 2006). Na condição de disponibilidade
ilimitada de recursos as populações possuem tendência ao crescimento geométrico ou exponencial.
Já o declínio populacional pode vir de uma variedade de causas, incluindo esgotamento de recursos,
interferência direta entre indivíduos, transmissão de doenças ou aumento do risco de predação
(Sinclair et al. 2006).
Problemas genéticos geralmente surgem como conseqüência do pequeno tamanho
populacional (Sinclair et al. 2006). A endogamia, que ocorre quando indivíduos que compartilham
um ou mais ancestrais comuns (ou seja, são aparentados) se acasalam, pode ocorrer tanto em
populações grandes quanto pequenas, mas em populações pequenas ela é inevitável mesmo sob
acasalamentos aleatórios, uma vez que com o tempo todos os indivíduos eventualmente se tornam
parentes (Frankham et al. 2005; Allendorf 2007).
A maioria das populações possui, em seu pool gênico, muitos alelos recessivos subletais,
ou seja, que quando expressos, trazem efeitos prejudiciais na fecundidade ou na sobrevivência dos
indivíduos (Sinclair et al. 2006). Em populações grandes, esses alelos permanecem em baixa
12
freqüência, mascarados sob os alelos dominantes. Com o aumento da endogamia, entretanto, a
freqüência de homozigotos na população sobe e, conseqüentemente, aumenta a chance de exposição
dos alelos recessivos subletais. A esta conseqüência deletéria da endogamia dá-se o nome de
depressão endogâmica, que é a redução do valor adaptativo médio de populações pequenas devido
ao aumento da taxa de endogamia (Frankham et al. 2005; Allendorf 2007).
A depressão endogâmica afeta negativamente todos os aspectos do valor adaptativo, como
número de filhotes, sobrevivência de jovens, longevidade, habilidade de acasalar, quantidade e
qualidade dos espermatozóides, habilidade competitiva etc. (Frankham et al. 2005; Allendorf 2007).
Em mamíferos, por exemplo, a mortalidade é 33% maior para a prole do acasalamento entre pais e
filhotes ou entre irmãos completos do que para a prole de pais não aparentados (Ralls et al. 1988).
A depressão endogâmica pode contribuir para a extinção de populações naturais (Keller & Waller
2002), porém, elas podem se adaptar se os alelos recessivos deletérios forem removidos por
expurgo, pela seleção natural (Allendorf 2007). Assim, muitas espécies são naturalmente
endogâmicas e não sofrem os efeitos da depressão endogâmica, por exemplo, várias espécies de
plantas e moluscos que possuem um sistema reprodutivo envolvendo autofecundação (Frankham et
al. 2005).
Espécies de tamanho populacional pequeno possivelmente passaram por evento recente de
gargalo-de-garrafa, que é a redução repentina do tamanho populacional levando ao aumento da
deriva genética e da freqüência de acasalamentos endogâmicos, redução da freqüência de
heterozigotos e aumento de homozigotos, exposição de alelos recessivos subletais, redução da
fecundidade e aumento da mortalidade. A conseqüência final desta série de eventos pode ser a
extinção local da população, mas esses efeitos serão intensos apenas se o tamanho populacional
permanecer pequeno por várias gerações. Um gargalo-de-garrafa de curta duração tem
relativamente pouco efeito sobre a perda de diversidade genética (Sinclair et al. 2006).
O repovoamento, ou a reintrodução de indivíduos, procedimentos comuns para aumentar
ou restabelecer artificialmente uma população em determinada área, geralmente são utilizados como
ferramenta para restauração do ecossistema e recuperação de espécies ou populações ameaçadas
(Griffith et al. 1989; Frankham et al. 2005). Em ambos os casos, é recomendado o cuidado de
preservar a estrutura populacional original e evitar interferências nos processos evolutivos naturais,
escolhendo com cuidado a população fonte dos indivíduos a serem translocados. Entretanto, há
muitos casos de translocação que não levam em conta as potenciais conseqüências genéticas
deletérias ou mesmo não são documentadas (Bertorelle et al. 2009).
A fundação de uma nova população por indivíduos reintroduzidos causa abruptas
mudanças nas freqüências alélicas e perdas de diversidade genética, como um severo gargalo-de-
13
garrafa populacional, uma vez que o número inicial de indivíduos fundadores é pequeno. Assim,
uma população recentemente estabelecida será geneticamente bem menos diversa do que a
população da qual ela derivou (Barrett & Kohn 1991). A essa situação dá-se o nome de efeito do
fundador (Allendorf 2007; Hedrick 2009). Além da deriva genética e da depressão endogâmica, a
baixa diversidade genética decorrente do efeito do fundador pode limitar a habilidade das
populações introduzidas de adaptar-se ao novo ambiente (Allendorf 2007).
Apesar dos problemas genéticos potenciais, uma população recentemente reintroduzida
pode encontrar situações favoráveis, como abundância de recursos e ausência de predadores
naturais, que a permitem crescer de forma geométrica ou exponencial (Sinclair et al. 2006). Por
exemplo, a ausência de grandes predadores como onças, pumas e jaguatiricas está correlacionada à
redução da mortalidade de filhotes e, conseqüentemente, ao aumento das populações de algumas
espécies de mamíferos de médio porte (Glanz 1990; Janson & Emmons 1990; Redford 1992;
Sinclair et al. 2006). Em algumas situações, o crescimento populacional pode fugir ao controle a
ponto de se constatar superabundância de indivíduos (ou superpopulação) (Cote et al. 2004).
A população é muito pequena? Muito grande? O tamanho tem mudado e em qual direção?
Para responder a essas questões, é necessário contar os animais ou obter indicações indiretas de
abundância. O censo ou a estimativa do tamanho (ou densidade) populacional podem ser obtidos a
partir da contagem total de indivíduos da população, da contagem de uma amostra, da formulação
de um índice proporcional ao tamanho da população ou da utilização de um método indireto, tal
como o de marcação-e-recaptura (Sinclair et al. 2006), no qual os indivíduos são marcados e
monitorados.
O tamanho populacional relevante para questões ecológicas e evolutivas, entretanto,
corresponde ao número de indivíduos reprodutores, pois são eles que contribuem para a próxima
geração. Seguindo essa linha, a variação da razão sexual da população, o sistema de acasalamento, a
variação no tamanho populacional com o tempo e o número de filhotes por indivíduo também
devem ser levados em conta (Caballero 1994; Frankham et al. 2005; Hedrick 2009). Para incorporar
esses fatores foi criado o conceito teórico de tamanho populacional efetivo (Ne), definido como o
tamanho da população ideal que perde variação genética à mesma taxa que a população real. A
população ideal, definida por Sewall Wright e Ronald Fisher, pressupõe que todos os indivíduos são
hermafroditas e possuem igual probabilidade de contribuir para a próxima geração, o tamanho
populacional é constante e as gerações são discretas (Frankham et al. 2005; Sinclair et al. 2006;
Allendorf 2007; Hedrick 2009). O tamanho populacional efetivo (Ne) geralmente é menor do que o
tamanho de censo (N) (Caballero 1994; Sinclair et al. 2006) e a razão entre eles (Ne/N) indica o
14
impacto de vários fatores (deriva genética, seleção natural, estratégias de acasalamento,
estocasticidades etc.) sobre o tamanho populacional efetivo (Hedrick 2009).
A despeito das inúmeras técnicas de campo utilizadas para acessar informações
demográficas, vários aspectos são difíceis de acessar diretamente (Frankham et al. 2005),
principalmente em populações grandes, pequeno número de migrantes ou espécies difíceis de
visualizar. Nos últimos anos, a biologia molecular tem revolucionado a pesquisa em Ecologia. A
cada ano tem se tornado mais fácil e barato obter dados de genética molecular e, como resultado,
métodos para caracterizar geneticamente indivíduos, populações e espécies têm se tornado rotina,
fornecendo uma riqueza de dados e conhecimento em ecologia e evolução (Freeland 2005). As
técnicas moleculares utilizadas para acessar informações demográficas se baseiam nos modelos
simples de população de Wright e Fisher. Apesar de parecer irreal, esse modelo é bastante estável e
já forneceu conhecimentos consideráveis sobre várias espécies no mundo todo (Frankham et al.
2005).
1.3. DISPERSÃO/MIGRAÇÃO , FILOPATRIA , GRUPOS SOCIAIS E SISTEMAS DE
ACASALAMENTO
O uso dos termos migração e dispersão é um pouco confuso. A definição pode variar
conforme a literatura utilizada – ecológica ou genética. Para efeitos práticos, aqui será empregado o
sentido genético de migração, que se refere ao movimento de indivíduos de uma população para
outra, pressupondo trocas genéticas (fluxo gênico) entre grupos reprodutivos. A principal
característica que identifica indivíduos migrantes é que eles não se reproduzem no mesmo local em
que nasceram, o que coloca a migração (ou dispersão) como oposto de filopatria. Assim, a migração
é considerada “efetiva” quando os imigrantes em uma população contribuem para a reprodução
local e a taxa de migração é traduzida como fluxo gênico entre populações (Perrin 2009).
Existem vários custos advindos da migração, como gasto de energia, risco de mortalidade
durante a travessia por habitats inóspitos e desvantagem competitiva dos imigrantes em relação aos
residentes. Entretanto, há fatores que contrabalanceiam os custos e tornam a migração benéfica para
as populações e a espécie como um todo, dentre eles a capacidade de usufruir de recursos espacial e
temporalmente variáveis, a sobrevivência a longo-prazo de uma linhagem diante de estocasticidades
ambientais e a prevenção de problemas decorrentes de acasalamento e competição entre parentes
(Perrin 2009).
Modelos teóricos mostram que a migração de apenas um sexo, seja o macho ou a fêmea, é
capaz de evitar a endogamia, além de poupar o outro sexo dos custos da migração. Em quase todos
os vertebrados, um sexo tem maior tendência à migração do que o outro e geralmente os migrantes
15
entre mamíferos são os machos (Sinclair et al. 2006; Perrin 2009). Ao deixarem a população natal,
os indivíduos migrantes também evitam a competição com parentes por fatores limitantes, o que
pode ser uma forma de aumentar o valor adaptativo de todo o grupo. Entretanto, interações com
parentes, que podem gerar estruturas sociais, também trazem benefícios (Perrin 2009). Animais que
vivem em grupo possuem maior sucesso para buscar alimentos, superar as defesas da presa ou
escapar do predador, reduzir o parasitismo, competir com outros grupos de indivíduos, alem de
construir ninhos e dividir o cuidado parental (Adams 2009). Em muitos mamíferos sociais,
cooperação entre fêmeas da mesma família aumenta o sucesso reprodutivo geral, o que promove
uma forte filopatria entre elas (Perrin 2009).
Padrões de migração geralmente estão relacionados ao tipo de sistema de acasalamento da
espécie (Greenwood 1980; Dobson 1982; Greenwood & Harvey 1982; Greenwood 1983). Em
espécies poligínicas (sistema de acasalamento no qual um ou poucos machos monopolizam várias
fêmeas) (Perrin 2009), fêmeas investem mais nos filhotes do que machos, e por isso seu sucesso
reprodutivo é determinado pela competição por recursos. Já o sucesso reprodutivo dos machos é
limitado pelo número de acasalamentos, o que torna a competição por acasalamentos mais
importante para eles (Sinclair et al. 2006). A combinação entre poliginia (um macho para várias
fêmeas) e filopatria (fêmeas mais aparentadas na mesma localidade) eleva o nível geral de
parentesco e, conseqüentemente, aumenta o risco de depressão endogâmica e competição local por
acasalamentos, problemas parcialmente solucionados pela tendência dos machos à dispersão. Isso
permite o surgimento de estruturas familiares e sistemas sociais sem incorrer em custos elevados de
endogamia (Perrin 2009).
Como conseqüência genética, o principal efeito direto da migração é a homogeneização de
pools gênicos entre populações. Essa conseqüência pode ser positiva, na medida em que resgata a
diversidade de populações isoladas que poderiam estar sofrendo depressão endogâmica. Por outro
lado, a homogeneização de pools gênicos pode também ser negativa, quando o acasalamento entre
imigrantes e residentes resultam na ruptura das adaptações locais ou de complexos gênicos co-
adaptados na prole (depressão exogâmica), devido a uma grande divergência genética entre
populações anteriormente isoladas (Perrin 2009).
A capacidade de medir a migração depende da escolha dos métodos adequados.
Idealmente, a combinação de observações de campo e métodos genéticos é necessária para obter
uma visão abrangente dos padrões de migração. Os dados de campo fornecem informações valiosas
sobre o comportamento social e reprodutivo da espécie, mas geralmente não permitem quantificar
quanto da migração é traduzida em fluxo gênico. Métodos de genética podem ser utilizados para
complementar estudos de marcação-e-recaptura, por exemplo (Perrin 2009).
16
1.4. FERRAMENTAS GENÉTICAS EM ESTUDOS DEMOGRÁFICOS
1.4.1. MARCADORES MOLECULARES
Marcadores moleculares permitem, entre outras coisas (Freeland 2005):
• Quantificar a diversidade genética,
• Rastrear o movimento de indivíduos,
• Rever padrões históricos de dispersão,
• Estimar a endogamia.
Região controle do mtDNA
Mitocôndrias são organelas de células eucarióticas que possuem o próprio DNA e cuja
função é converter energia. Cada uma tem entre duas e dez cópias de uma molécula de DNA dupla-
fita circular, muito menor que o genoma nuclear da célula (Van Dyke 2008). O genoma
mitocondrial de vertebrados consiste de 15 a 20 mil pares de bases (pb) de comprimento, contendo
13 genes codificadores de proteínas, 22 genes de tRNA, 2 genes de rRNA e um segmento não
codificante de 1000 pb de comprimento chamado região controle, que inicia a replicação e a
transcrição. A região controle é também chamada D-loop ou HVS (I, II e III) nos vertebrados
(Taberlet 1996).
A região controle do DNA mitocondrial (mtDNA) de vertebrados pode ser dividida em três
domínios (figura 1) (Taberlet 1996):
• Domínio da esquerda (ou extremidade 5’): contém uma ou mais seqüências
associadas à terminação (TAS), onde a síntese da cadeia pesada é pausada;
• Região central: conservada, rica em C-G, tem sido associada à regulação da
replicação da cadeia pesada;
• Domínio da direita (ou extremidade 3’): consiste no sítio de iniciação da replicação
da cadeia pesada (OH), com dois ou três blocos de sequências curtas conservadas (CSBs)
(Walberg & Clayton, 1981; Brown et al., 1986; Southern et al., 1988; Saccone et al.,
1991).
17
Figura 1. Diagrama esquemático da região controle do mtDNA, mostrando a região D-loop, os domínios da
direita, central e da esquerda e blocos de seqüências conservadas relacionadas à replicação do DNA
(Taberlet 1996).
A despeito de sua importância funcional, os domínios da direita e da esquerda acumulam
variação rapidamente, tanto por mutações de comprimento quanto por substituições de bases
(Saccone et al. 1991; Taberlet 1996).
O mtDNA é maternalmente passado à progênie através do citoplasma da célula-ovo
(Cronin et al. 1993; Sudbery 1998), sem recombinação entre genomas maternos e paternos. Este
modo de herança permite a construção de árvores filogenéticas simples, uma vez que o registro
histórico genealógico não é “embaralhado” pela recombinação entre diferentes linhagens de
mtDNA (Sudbery 1998). Assim, uma molécula de mtDNA pode ser considerada uma única unidade
genealógica não-recombinante com múltiplos alelos ou haplótipos (Avise 2004). Filogenias
derivadas do mtDNA não são afetadas por mudanças históricas no tamanho populacional efetivo,
razões sexuais desiguais ou tamanhos de família desiguais (Allendorf 2007; Van Dyke 2008).
A alta taxa de evolução do mtDNA (de 5 a 10 vezes maior que genes nucleares) e, mais
especificamente, da região controle (de 4 a 5 vezes maior que o restante da molécula de mtDNA)
justifica o seu uso em estudos populacionais ou de espécies próximas (Brown et al. 1979;
Greenberg et al. 1983; Horai & Hayasaka 1990; Brown et al. 1993; Taberlet 1996).
Como o mtDNA representa apenas a linhagem materna, estudos sobre migração podem
apresentar informações distorcidas. Se, por exemplo, os machos dispersam mais do que as fêmeas, a
estrutura genética inferida a partir do mtDNA será mais correlacionada com a distribuição
geográfica do que a inferida a partir de locos nucleares transmitidos por ambos os sexos. Além
disso, podem ocorrer introgressões de mtDNA entre populações coespecíficas ou entre espécies
próximas (Ferris et al. 1983; Carr et al. 1986; Tegelstrom 1987; Lehman et al. 1991), escondendo
18
reais relações filogenéticas. Por essas duas razões, é desejável o estudo em paralelo do mtDNA e de
locos nucleares (Taberlet 1996).
O estudo do mtDNA é feito a partir do seqüenciamento e análise de polimorfismos de base
simples (SNPs), que são substituições de bases de dois tipos (Allendorf 2007):
• Transição: substituições de purina por outra purina (G ↔ A) ou de pirimidina por
outra pirimidina (C ↔ T);
• Transversões: substituições de purina por pirimidina ou vice versa (A ou G ↔ C ou
T).
As transições são mais comuns, provavelmente porque as transversões tendem a causar
mais substituições de aminoácido e conseqüentemente mudanças na estrutura de proteínas
(Allendorf 2007).
Microssatélites
Microssatélites têm se tornado os marcadores de DNA mais amplamente utilizados em
genética de populações para mapeamento genômico, ecologia molecular e estudos de conservação.
Também chamados de VNTRs (número variável de repetições em tandem), STRs (repetições curtas
em tandem) ou SSRs (repetições de seqüências simples), consistem de repetições em tandem de
uma seqüência motivo curta de um a seis nucleotídeos (p.ex., cgtcgtcgtcgtcgt, que pode ser
representado por (cgt)n, na qual n=5) e já foram encontrados em todos os genomas procarióticos e
eucarióticos examinados até hoje (Queller et al. 1993; Zane et al. 2002; Allendorf 2007).
Microssatélites encontram-se amplamente dispersos por todo o genoma nuclear, tanto em
regiões codificadoras quanto não codificadoras, e possuem alto grau de polimorfismo de
comprimento devido a variações no número de repetições, que vão de cinco a 100 (BRUFORD et
al. 1996; Zane et al. 2002; Allendorf 2007). O alto polimorfismo resulta de alta taxa de mutação,
que varia de uma a cada 1000 ou 10000 meioses (10-3 ou 10-4 por geração) (Allendorf 2007). A
origem de tais polimorfismos ainda é motivo de debate, embora pareça ser devido a eventos de
deslizamento da DNA polimerase durante a replicação do DNA, aumentando ou diminuindo uma
ou mais unidades de repetição (Schlotterer & Tautz 1992).
O grande número de locos microssatélites e sua alta variabilidade os fazem ferramentas
potencialmente importantes para qualquer questão que necessite marcadores genéticos, como
estimativa de tamanho populacional efetivo, endogamia, fluxo gênico e testes de paternidade,
maternidade e parentesco (Queller et al. 1993). Iniciadores de PCR são desenhados para
hibridizarem nas seqüências de DNA conservadas que flanqueiam as unidades de repetição e os
produtos de PCR de microssatélites são analisados por diferenças de comprimento (Allendorf
19
2007). A alta taxa de mutação, no entanto, leva ao aparecimento recorrente de variantes alélicas de
mesmo tamanho que levam à homoplasia, o que requer cuidado nas análises, principalmente quando
existe a possibilidade de saturação dos dados. Por isso, microssatélites são geralmente utilizados em
estudos sobre relações próximas de parentesco e quase nunca para comparações entre espécies.
1.4.2. DESCRIÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DA DIVERSIDADE GENÉTICA
Diversidade genética é a diferença entre indivíduos, populações e espécies, representada
por diferenças em seqüências de DNA e pode ser descrita através de número de polimorfismos
(existência de mais de um alelo em um loco), heterozigosidade (proporção de heterozigotos) e
diversidade alélica ou haplotípica (número de alelos ou haplótipos por locos) (Frankham et al.
2005). Pode-se comparar a quantidade de variação genética em diferentes populações ou em uma
única população amostrada em diferentes momentos, para verificar, por exemplo, a perda de
variação genética devido ao isolamento populacional e à fragmentação, ou ganho de variação pela
entrada de genes através de indivíduos vindos de outras populações (Allendorf 2007).
A informação genética coletada a partir de marcadores moleculares fornece o genótipo de
cada indivíduo em cada loco e, para uso comparativo e preditivo, pode ser exposta na forma de
freqüências genotípicas e principalmente freqüências alélicas (p.ex. p e q, para locos com dois
alelos) (Frankham et al. 2005). Para compreender os fatores que influenciam as freqüências alélicas
e genotípicas de marcadores autossômicos nas populações, utiliza-se o modelo de população em
equilíbrio criado por G. H. Hardy e Wilhelm Weinberg, que possui os seguintes pressupostos
(Frankham et al. 2005; Allendorf 2007):
• Acasalamentos ao acaso: ausência de seleção de parceiros, cada indivíduo da
população pode acasalar com qualquer outro indivíduo;
• Ausência de mutação: toda informação genética presente em uma geração foi obtida
através de herança da geração anterior;
• Tamanho populacional infinito;
• Ausência de seleção natural: ou seja, todos os indivíduos têm a mesma chance de
sobrevivência e reprodução;
• Ausência de migração: a população está completamente isolada.
Utilizando esse princípio, tem-se que as freqüências genotípicas são uma função binomial
das freqüências alélicas e podem ser preditas pela função binomial ( + �)� = � + 2� + �� = 1,
para dois alelos de freqüência p e q. Para mais de dois alelos, a essa função deve ser expandida.
Populações em equilíbrio de Hardy-Weinberg são situações ideais e não evoluem, uma vez que
freqüências alélicas e genotípicas permanecem constantes de geração para geração (Allendorf
20
2007). Freqüências genotípicas obtidas de amostras de populações naturais podem ser testadas para
saber se estão em conformidade com as expectativas de Hardy-Weinberg. Desvios do esperado
podem fornecer importantes informações sobre sistema de acasalamento, comportamento social e
estrutura genética de populações (Allendorf 2007).
A melhor medida geral de diversidade genética é a heterozigosidade média esperada entre
n locos em uma população (Nei 1987; Allendorf 2007):
�� = 1 −����
���
Estimativas de He permitem comparações entre diferentes espécies e populações, uma vez
que são insensíveis ao tamanho amostral, sendo que apenas alguns indivíduos são suficientes para
estimá-la, se um grande número de locos for examinado (Gorman & Renzi 1979; Allendorf 2007).
O número total de alelos em um loco (A) também pode ser utilizado como medida de
diversidade genética, sendo mais sensível que a heterozigosidade à perda de variação genética
devido à redução de tamanho populacional (Allendorf 1986). Seu principal inconveniente é a
dependência do tamanho amostral. Para contornar isso, pode-se utilizar a medida de riqueza alélica,
estimada a partir de métodos de rarefação que utiliza um tamanho amostral fixo (ElMousadik &
Petit 1996; Allendorf 2007).
1.4.3. ESTIMATIVA DE ENDOGAMIA E MIGRAÇÃO ATUAL E HISTÓRICA
A divisão de uma espécie em populações significa que a variação genética da espécie
existe em dois níveis primários (Allendorf 2007):
• Diversidade genética dentro das populações;
• Diversidade genética entre populações.
Com alto fluxo gênico, a tendência é a homogeneização da diversidade genética entre
populações e o aumento da diversidade genética dentro das populações. Já sob fluxo gênico baixo,
deriva genética, seleção natural e eventuais mutações podem levar ao aumento na diferenciação
genética entre as populações. Assim, a diversidade genética entre populações é resultado
basicamente do balanço entre fluxo gênico e deriva (Allendorf 2007; Hedrick 2009).
A métrica mais antiga e amplamente utilizada de diversidade genética entre populações é a
estatística do F, desenvolvida por Sewall Wright (Wright 1951, 1990), que mede o déficit de
heterozigotos da população real em relação às proporções esperadas sob equilíbrio de Hardy-
Weinberg: � = 1 − (�� ��⁄ ) , na qual Ho é a proporção observada de heterozigotos e He é a
proporção esperada de heterozigotos (Allendorf 2007). O valor F também pode ser chamado de
coeficiente de endogamia e utilizado para medir a endogamia dos indivíduos de uma população,
21
pois corresponde à probabilidade de dois alelos em um loco serem idênticos por descendência
(autozigotos), ou seja, idênticos porque são derivados de uma mesma seqüência de DNA de um
ancestral comum (Frankham et al. 2005).
Dentro da estatística do F, uma série de coeficientes de endogamia é utilizada para
descrever a distribuição da variação genética de um conjunto de populações: FIS, FST e FIT. FIS é a
medida do desvio das proporções de Hardy-Weinberg dentro das populações: ��� = 1 − (�� ��⁄ ), na qual Hs é a heterozigosidade média esperada entre todas as populações. FST é a medida da
divergência na freqüência alélica entre populações: ��� = 1 − (�� ��⁄ ), na qual Ht é a proporção de
heterozigotos utilizando as freqüências alélicas médias entre todas as populações. O FST aumenta a
cada geração que duas populações permanecem isoladas. FIT é a medida do desvio geral das
proporções de Hardy-Weinberg na população inteira: ��� = 1 − (�� ��⁄ ) ou ��� = ��� + ��� −(���)(���) (Allendorf 2007).
Duas medidas relacionadas ao FST, mas que levam em conta a genealogia dos alelos, são o
RST, que usa informações sobre o número de repetições de locos microssatélites e o φST, que usa
informações de diferenças nucleotídicas entre seqüências de DNA (teste de AMOVA; Excoffier et
al. 1992). Medidas que consideram as informações genealógicas dos alelos usam o grau de
diferenciação entre alelos, ou seja, o número de passos de mutação que os diferem. A conseqüência
disso é que populações com alelos diferentes em poucos passos passaram por fluxo gênico recente,
enquanto populações com muitos passos de diferença terão pouco ou nenhum fluxo gênico
(Allendorf 2007).
Informações obtidas a partir de marcadores moleculares permitem calcular a incorporação
dos indivíduos migrantes à população residente (Hedrick 2009). Métodos genéticos para medir a
migração podem ser classificados entre aqueles que medem fluxo gênico passado e os que medem a
migração atual (Allendorf 2007; Perrin 2009):
a. Fluxo gênico passado ou histórico: estimativas indiretas de taxa de migração, informada como
migração média das últimas dezenas ou centenas de gerações. Podem ser obtidas de três formas:
• Diferenças entre as freqüências alélicas das populações (FST, RST e φST);
• Proporção de alelos exclusivos de cada população;
• Técnica baseada em verossimilhança, utilizando informações tanto de freqüências alélicas
quanto de alelos exclusivos.
b. Migração atual: estimativas diretas de taxas de migração, obtidas utilizando técnicas de
atribuição genética.
22
O método mais simples de calcular o fluxo gênico passado é baseado na fórmula de Wright
para diferenciação genética entre populações,
��� =1
4��!+ 1
que fornece uma medida indireta da taxa de migração efetiva (Nem), um produto do tamanho
efetivo populacional (Ne) com a taxa de dispersão (m) (Perrin 2009).
A maior limitação do cálculo de Nm através do FST é que o FST deve ter valores entre
moderados e grandes (FST>0.05 – 0.10) para que tenha pequenos intervalos de confiança. Por isso,
não se deve interpretar a estimativa de Nm literalmente, mas apenas para acessar a magnitude
aproximada da taxa de migração (alta ou baixa) (Allendorf 2007).
Já o método de cálculo de taxa de migração através de alelos exclusivos (alelos
encontrados em apenas uma população), desenvolvido por Slatkin (Slatkin 1985), leva em
consideração a relação linear entre Nm e o número de alelos exclusivos: se o fluxo gênico é baixo,
as populações terão vários alelos exclusivos que surgem através de mutação. O tempo no qual um
alelo novo permanece exclusivo depende unicamente da taxa de migração, assim a proporção de
alelos exclusivos diminui com o aumento da migração. Se o fluxo gênico é alto, alelos exclusivos
serão incomuns (Allendorf 2007).
A estimativa de taxa de migração a partir do método de máxima verossimilhança que
envolve modelagem de coalescência foi desenvolvida por Beerli e Felsenstein (2001). Estudos
sugerem que métodos baseados em coalescência fornecem estimativas mais seguras de Nm do que
métodos baseados em FST. A técnica de modelagem de coalescência é útil porque fornece uma
forma computacionalmente eficiente de gerar genealogias aleatórias para diferentes padrões e taxas
de fluxo gênico, para que seja encontrada a genealogia que maximize a verossimilhança dos dados
(Allendorf 2007).
Estimativas diretas de Nm utilizando marcadores genéticos se assemelham a técnicas de
marcação-e-recaptura e detectam padrões de migração da geração atual. Nos testes de atribuição
genética, os indivíduos são genotipados e calcula-se a probabilidade de origem de cada um, de
acordo com as freqüências gênicas das populações que são fontes em potencial. Sob altas taxas de
migração, entretanto, as populações consistirão de grande proporção de imigrantes, o que dificulta a
sua discriminação. Já sob baixa migração, imigrantes constituem apenas uma pequena proporção
dos indivíduos amostrados e podem não ser detectados da mesma forma. O poder máximo de
atribuição é alcançado quando a taxa de migração é intermediária (aproximadamente 10%)
(Allendorf 2007; Perrin 2009).
1.4.4. ESTIMATIVA DE TAMANHO POPULACIONAL EFETIVO
23
A despeito de sua importância em predizer a “saúde” da população ou inferir a demografia
passada, a estimativa do tamanho populacional efetivo em populações naturais é uma tarefa difícil.
Uma vez que a discrepância entre o tamanho de censo e o tamanho efetivo depende principalmente
do sistema de acasalamento e do sucesso reprodutivo dos indivíduos, o tamanho populacional pode
ser calculado a partir da avaliação desses parâmetros. Entretanto, esses dados demográficos são
difíceis de obter em populações naturais. Como alternativa, estimativas indiretas podem ser feitas a
partir de dados genéticos (Vitalis & Couvet 2001).
O tamanho populacional efetivo (Ne), considerado como o tamanho de uma população
ideal no qual um certo parâmetro genético (p.ex. taxa de endogamia) tem o mesmo valor que o da
população analisada, pode ser calculado de diferentes formas, dependendo do parâmetro escolhido
(Vitalis & Couvet 2001). Assim, cálculos foram desenvolvidos com base nas mudanças temporais
das freqüências alélicas (Nei & Tajima 1981; Pollak 1983; Waples 1989; Williamson & Slatkin
1999), na heterozigosidade (Pudovkin et al. 1996; Luikart & Cornuet 1999), no desequilíbrio de
ligação (Hill 1981; Waples 2006), no coeficiente de endogamia e na diversidade alélica (Saccheri et
al. 1999; Frankham et al. 2005).
1.4.5. DETECÇÃO DE EVENTOS PASSADOS: FLUTU AÇÕES DEMOGRÁFICAS , EFEITO DO
FUNDADOR E TRANSLOCAÇÃO
Marcadores genéticos podem ser utilizados para inferir eventos de gargalos-de-garrafa,
expansões populacionais e translocações de indivíduos utilizados em reintroduções quando, como
freqüentemente ocorre, dados históricos são fragmentados, imprecisos ou indisponíveis. Quanto
mais geneticamente inadequada foi feita uma reintrodução (por exemplo, utilizando indivíduos
aparentados ou muito diferentes das populações locais ou vizinhas) mais fácil é sua detecção
utilizando dados genéticos. Do contrário, essas investigações são difíceis, mas provavelmente
menos urgentes, se a translocação produziu poucos efeitos genéticos (Bertorelle et al. 2009).
Vários métodos podem ser utilizados para detectar assinaturas típicas de gargalos-de-
garrafa e/ou reintroduções: desvios do equilíbrio de Hardy-Weinberg; haplótipos ou genótipos
altamente divergentes; variação genética muito reduzida ou muito aumentada; padrões de
estruturação genética incongruentes entre grupos vizinhos (Bertorelle et al. 2009).
A heterozigosidade é relativamente insensível aos efeitos de gargalo-de-garrafa (Allendorf
1986). A quantidade total de heterozigosidade perdida depende de quanto tempo a população
demorará a retornar a um tamanho grande (Nei et al. 1975), ou seja, populações de crescimento
rápido perdem pouca variação e populações de crescimento lento persistem com tamanhos
populacionais pequenos por mais tempo, quando a heterozigosidade vai sendo perdida. A riqueza de
24
alelos é muito mais sensível a gargalos-de-garrafa populacionais, que reduzem severamente o
número de alelos em alguns locos (Allendorf 2007).
1.4.6. AVALIAÇÃO DE SISTEMAS SOCIAIS E DE ACASALAMENTO
Testes de maternidade (determinação da mãe), paternidade (determinação do pai) e
parentesco (grau de relação genética) podem contribuir para a compreensão do sistema social e de
acasalamento de uma espécie, estimar a variância no sucesso reprodutivo e detectar múltiplas
paternidades (Allendorf 2007). Os marcadores moleculares ideais para análise de maternidade,
paternidade, parentesco e consangüinidade (endogamia) são os do tipo codominante, como
microssatélites, e sua aplicabilidade confiável depende do uso de muitos locos variáveis (Queller et
al. 1993).
2. OBJETIVOS
O objetivo geral do presente estudo foi acessar, utilizando marcadores moleculares,
informações genéticas, demográficas e comportamentais de algumas populações de N. nasua
amostradas no estado de Minas Gerais.
Como objetivos específicos, procurou-se:
• Estimar e comparar as diversidades genéticas intrapopulacionais entre as localidades
amostradas;
• Verificar se existe diferenciação genética entre as populações;
• Inferir a estruturação genética populacional;
• Medir a distância genética e estimar o fluxo gênico entre populações;
• Estimar os tamanhos populacionais efetivos;
• Realizar testes de gargalo-de-garrafa populacionais;
• Calcular os coeficientes de endogamia das populações;
• Analisar o parentesco entre indivíduos e inferir sobre a estrutura social dos quatis.
3. MÉTODOS
3.1. AMOSTRAGEM
A maioria dos indivíduos amostrados foi capturada em armadilhas do tipo gaiola contendo
iscas e imobilizada por meio de anes
Algumas amostras foram obtidas através de sangue de indivíduos enviados ao IBAMA de Belo
Horizonte e mantidos em cativeiro. Apenas
outro da R.P.P.N. Serra da Piedade
atropelados. As armadilhas foram espalhadas estrategicamente em locais onde havia informações
sobre o costume de passagem dos quatis. Informações sobre classe etária, morfologi
foram anotadas para cada indivíduo, para utilização no presente estudo e em trabalhos futuros. As
amostras de sangue coletadas foram preservadas
etanol na concentração mínima de 50%.
Figura 2. Procedimento de coleta de material genético de
com isca, imobilização por meio de anestésico químico e coleta de amostra de sangue.
Figura 3. Mapas da localização das populações de quatis amostradas no presente estudo. BAL: P.E. Baleia,
DAV: Davinópolis/GO, CAP: PARNA Caparaó, MAN: Parque das Mangabeiras, NLI: E.E. Rêgo dos
Carrapatos, PET: E.A. Peti, SEP: R.P.P.N. Serra da Piedade.
Foram amostradas popula
(Belo Horizonte, MG), Parque Nacional do
A maioria dos indivíduos amostrados foi capturada em armadilhas do tipo gaiola contendo
iscas e imobilizada por meio de anestésicos químicos, para coleta de amostras de sangue (
Algumas amostras foram obtidas através de sangue de indivíduos enviados ao IBAMA de Belo
Horizonte e mantidos em cativeiro. Apenas duas amostras (um indivíduo de
P.N. Serra da Piedade) foram obtidas a partir de pedaço de tecido de indivíduo
. As armadilhas foram espalhadas estrategicamente em locais onde havia informações
sobre o costume de passagem dos quatis. Informações sobre classe etária, morfologi
foram anotadas para cada indivíduo, para utilização no presente estudo e em trabalhos futuros. As
amostras de sangue coletadas foram preservadas a -20°C ou à temperatura ambiente,
etanol na concentração mínima de 50%.
. Procedimento de coleta de material genético de Nasua nasua: captura em armadilha tipo gaiola
com isca, imobilização por meio de anestésico químico e coleta de amostra de sangue.
calização das populações de quatis amostradas no presente estudo. BAL: P.E. Baleia,
DAV: Davinópolis/GO, CAP: PARNA Caparaó, MAN: Parque das Mangabeiras, NLI: E.E. Rêgo dos
Carrapatos, PET: E.A. Peti, SEP: R.P.P.N. Serra da Piedade.
Foram amostradas populações de quatis nas seguintes localidades: Parque das Mangabeiras
arque Nacional do Caparaó (Alto Caparaó, MG), R
25
A maioria dos indivíduos amostrados foi capturada em armadilhas do tipo gaiola contendo
tésicos químicos, para coleta de amostras de sangue (figura 2).
Algumas amostras foram obtidas através de sangue de indivíduos enviados ao IBAMA de Belo
um indivíduo de Davinópolis/GO e
a partir de pedaço de tecido de indivíduos
. As armadilhas foram espalhadas estrategicamente em locais onde havia informações
sobre o costume de passagem dos quatis. Informações sobre classe etária, morfologia, sexo e bando
foram anotadas para cada indivíduo, para utilização no presente estudo e em trabalhos futuros. As
à temperatura ambiente, em solução de
: captura em armadilha tipo gaiola
com isca, imobilização por meio de anestésico químico e coleta de amostra de sangue.
calização das populações de quatis amostradas no presente estudo. BAL: P.E. Baleia,
DAV: Davinópolis/GO, CAP: PARNA Caparaó, MAN: Parque das Mangabeiras, NLI: E.E. Rêgo dos
ções de quatis nas seguintes localidades: Parque das Mangabeiras
Caparaó (Alto Caparaó, MG), R.P.P.N. Santuário da
26
Serra da Piedade (Caeté, MG), Estação Ambiental de Peti (Santa Bárbara, MG), Estação Ecológica
Rêgo dos Carrapatos (Nova Lima, MG), Parque Estadual da Baleia (Belo Horizonte, MG) e
município de Davinópolis (Goiás) (figura 3). A amostragem no Parque das Mangabeiras, na Estação
Ecológica Rêgo dos Carrapatos e no Parque Estadual da Baleia foram feitas concomitantemente a
um trabalho de levantamento populacional de quatis através do método de marcação-e-recaptura. O
período de amostragem e o número de indivíduos amostrados em cada localidade estão organizados
na tabela 1.
Tabela 1. Período de amostragem e número de indivíduos amostrados, de acordo com a localidade, sexo e
classe etária. A soma dos indivíduos das classes etárias podem não corresponder ao total porque os
indivíduos podem ter sido amostrados mais de uma vez ao longo da vida. BAL: Parque Estadual da Baleia;
CAP: PARNA Caparaó; DAV: Davinópolis/GO; MAN: Parque das Mangabeiras; NLI: E.E. Rêgo dos
Carrapatos; PET: E.A. Peti; SEP: R.P.P.N. Serra da Piedade; Desc.: localidade desconhecida (animal
mantido em cativeiro).
Localidade Período de amostragem Sexo Classe etária
total Fêmeas Machos Filhotes Jovens Adultos
BAL Ago/10 a Nov/10 0 1 0 1 0 1 CAP Mai/10 10 10 6 7 7 20 DAV Ago/10 - - - - - 1 MAN Fev/07 a Nov/10 96 74 65 61 64 170 NLI Abr/10 a Nov/10 3 4 6 0 3 7 PET Set/10 1 1 0 0 2 2 SEP Abr/03 e Jul/10 8 6 0 5 8 14 Desc. Ago/10 0 1 0 0 1 1 total 118 96 77 74 84 215
3.2. TÉCNICAS DE LABORATÓRIO
3.2.1. EXTRAÇÃO DE DNA
O DNA total das amostras foi obtido a partir de extração utilizando protocolo padrão para
tecido e sangue por digestão com Proteinase K (20mg/ml), seguida de purificação com
fenol:clorofórmio e precipitação com álcool isoamílico (Sambrook & Russell 2001). O DNA obtido
foi quantificado por visualização em gel de agarose 0,8% corado com brometo de etídio (1 µl/100
ml) ou GelRedTM (Biotium) e através do espectrofotômetro NanodropTM 2000. Parte do DNA foi
separada como amostra de trabalho, diluída e estocada a 4°C e o restante foi estocado a -80°C no
banco de DNA do Laboratório de Biodiversidade e Evolução Molecular (LBEM).
3.2.2. SEQÜENCIAMENTO DA REGIÃO CONTROLE DO MTDNA
Iniciadores cujas seqüências foram obtidas da literatura ou desenhados em laboratório
foram utilizados para amplificação por PCR de parte da região controle e do gene do citocromo
oxidase B (cyt-B) do mtDNA (tabela 2 e figura 4). As reações de PCR foram realizadas com
27
volumes finais de 10 µl, sendo 1 µl de DNA genômico a uma concentração aproximada de 10 µM e
9 µl de solução composta por TrisKCl-MgCl2 1x, 200 µM de dNTPs, 0,4 µM de cada iniciador e
0,2 unidade por tubo de Taq DNA polimerase. Foi realizado um passo inicial de desnaturação a
94°C por 2min, seguido de 30 ciclos de desnaturação a 94°C por 30s, hibridização dos iniciadores a
50°C por 30s e extensão da cadeia a 72°C por 2min, e mais um passo final de extensão a 72°C por 5
min.
Foram feitas visualizações dos produtos amplificados em gel de agarose 0,8% corado com
brometo de etídio (1 µl/100 ml) ou GelRedTM (Biotium), acompanhados de controle negativo
(branco) e do padrão molecular Ladder 1 Kb plus®, para verificar a eficiência da reação.
Posteriormente, os produtos amplificados foram purificados através do protocolo de limpeza com
Polietilenoglicol (solução de PEG 20% e NaCl 2,5 M).
Os produtos purificados foram submetidos a reações de seqüenciamento pelo método de
incorporação de didesoxinucleotídeos (ddNTPs) marcados com fluorescência (Sanger et al., 1977),
utilizando os mesmos iniciadores da reação de PCR, além de iniciadores que se hibridizam na
região interna do fragmento amplificado, desenhados em laboratório (tabela 2 e figura 4). As
reações foram realizadas com volume final de 10 µl, sendo 2 µl do DNA amplificado, 4 µl de um
dos iniciadores a 0,125 µM e 4 µl de DYEnamic ET KitTM (Amersham Biosciences). Foram
realizados 25 ciclos de desnaturação a 95°C por 20s, hibridização do iniciador a 50°C por 15s e
extensão da cadeia a 60°C por 1min.
Os produtos das reações de seqüenciamento foram purificados e precipitados com Acetato
de Amônio 7,5 M e Etanol 70% e ressuspendidos em solução tampão fornecida pelo fabricante do
seqüenciador automático. A leitura das seqüências foi feita pelo seqüenciador automático
MegaBACETM 1000 (Amersham).
Tabela 2. Lista de iniciadores utilizados no presente estudo para amplificação e seqüenciamento de parte
da região controle e parte do gene cyt-B.
Iniciador Direção Seqüência Referência XL14733 Forward 5’ CACCTACTATTCCTCCACGAAACAGGA 3’ (Kocher et al. 1989) XLNN Forward 5’ CCTTCATGAAACAGGATCAAAC 3’ Presente estudo H16498 Reverse 5’ CCTGAAGTAGGAACCAGATG 3’ (Kocher et al. 1989) CR5 Forward interno 5’ TCACCATCAACACCCAAAGC 3’ LBEM CR5NN Forward interno 5’ GCAATAGCCCCGCCATCAGC 3’ Presente estudo CR4NN Reverse interno 5’ TTGGGTGCTGATGGCGGGGCTATT 3’ Presente estudo
28
Figura 4. Representação da região do mtDNA amplificada e seqüenciada e dos iniciadores utilizados no
presente estudo.
3.2.3. GENOTIPAGEM DE MICROSSATÉLITES
Foram utilizados sete locos microssatélites cujos iniciadores foram anteriormente
desenhados especificamente para Nasua nasua (tabela 3). Para cada loco, um dos iniciadores
(forward) recebeu em sua extremidade 5’uma cauda da seqüência universal M13 (5’
TTTTCCCAGTCACGAC 3’). As reações de PCR foram realizadas com volumes finais de 10 µl,
sendo 1 µl de DNA genômico a aproximadamente 10 µM e 9 µl de solução composta por TrisKCl-
MgCl2 1x, 200 µM de dNTPs, 0,1 µM do iniciador forward, 0,01 µM do iniciador reverse, 0,1 µM
do iniciador M13 marcado com fluorescência HEX ou FAM e 0,4 unidade por tubo de Taq DNA
polimerase. Foi realizado um passo inicial de desnaturação a 94°C por 2min, seguido de 10 ciclos
de desnaturação a 94°C por 30s, hibridização dos iniciadores a 55-65°C por 30s e extensão da
cadeia a 72°C por 2min, 25 ciclos de desnaturação a 94°C por 30s, hibridização dos iniciadores a
50°C por 30s e extensão da cadeia a 72°C por 2min, e mais um passo final de extensão a 72°C por
30 min.
Foram feitas visualizações dos produtos amplificados em gel de acrilamida 10% corado
com nitrato de prata 0,2%, acompanhados de controle negativo (branco) e do padrão molecular 1
Kb plus Ladder, para verificar a eficiência da reação e para pré-tipificação dos indivíduos. Os
produtos amplificados foram diluídos em Tween 20 0,1% e submetidos à genotipagem no
seqüenciador automático MegaBACETM 1000 (Amersham), juntamente com o padrão molecular
MegaBACETM ET550-R Size Standards (Amersham), que possui fragmentos marcados com a
fluorescência ROX. Para checagem dupla e controle positivo, 10% das amostras foram corridas
mais de uma vez.
29
Tabela 3. Lista de locos microssatélites e seus respectivos iniciadores utilizados no presente estudo. F:
iniciador forward; R: iniciador reverse; Di: microssatélite dinucleotídeo; Tetra: microssatélite
tetranucleotídeo.
Loco/iniciador Seqüência Tipo Referência
NnSTR-A02
F 5’ TTTTCCCAGTCACGACAGGAACGCTCAAACCAAAGA 3’ Di Tsuchiya, não publ. R 5’ TGTGATGCAGCAGCCTAATC 3’
NnSTR-B05
F 5’ TTTTCCCAGTCACGACGATCAAGAACCATGGGCACT 3’ Di Tsuchiya, não publ. R 5’ GGCTTTGGTAAACAAGCTCAA 3’
NnSTR-C09
F 5’ TTTTCCCAGTCACGACGCTGCGTCCTCTGCTTAGAA 3’ Di Tsuchiya, não publ. R 5’ TGATCCATGTACTGGTGGAGAA 3’
NnSTR-D07
F 5’ TTTTCCCAGTCACGACTGTTATCTCTGCTTCTTCGGTCT 3’ Di Tsuchiya, não publ. R 5’ TGGTCACAAGTTTCTCAAATGC 3’
NnSTR-H07
F 5’ TTTTCCCAGTCACGACGAAGTCAATAAGGCAGCCAAA 3’ Di Tsuchiya, não publ. R 5’ TGCCTGACTGATCCTTGTCA 3’
Nn25B01 F 5’ TTTTCCCAGTCACGACCAGACACAGCTAATTGTCAGAGTC 3’ Tetra Chaves, não publ. R 5’ ACCATATGTTGGGTAATTGAAC 3’
Nn25C05 F 5’ TTTTCCCAGTCACGACGAGTAGCTGTGCTCCCCTTGC 3’ Di Chaves, não publ. R 5’ GCACATCTGGAGTTGGTCCT 3’
3.3. ANÁLISES DOS DADOS
Foram obtidas seqüências-consenso apenas dos indivíduos com três ou mais
cromatogramas gerados pelo seqüenciador automático (seqüências forward, reverse e interna)
através dos programas Phred v. 0.20425, Phrap v.0.990319 e Consed 16.0. Os alinhamentos foram
gerados com os parâmetros básicos do software Clustal W, implementado no programa MEGA 4.0,
que também foi utilizado para a edição manual dos alinhamentos e para definir sítios polimórficos e
haplótipos. Sempre que necessário, o programa Consed foi utilizado na visualização dos
cromatogramas e para conferir a qualidade das seqüências consenso obtidas. Para analisar e gerar
dados de genotipagem dos microssatélites, foi utilizado o programa Fragment Profiler (GE
Healthcare).
Os sítios polimórficos presentes nas seqüências de mtDNA obtidas foram identificados e
caracterizados através dos programas DNAsp (Librado & Rozas 2009) e Arlequin (Excoffier et al.
2005), este último também utilizado na contagem de haplótipos e estimativa das freqüências
haplotípicas. O número de alelos de cada loco microssatélite e as freqüências alélicas foram
calculados através dos programas Arlequin, Fstat (Goudet 1995) e MSA (Dieringer & Schlotterer
2003). A partir do programa Network (Bandelt et al. 1999), foram geradas redes de haplótipos pelo
método de median-joining (MJ), para visualização da distância e a relação entre haplótipos.
Os dados obtidos a partir do seqüenciamento do mtDNA e da genotipagem de
microssatélites foram utilizados nas análises populacionais de diversidade genética intra-
populacional, tamanhos populacionais efetivos, divergência inter-populacional, estruturação
30
genética, fluxo gênico, endogamia, análises de parentesco, testes estatísticos de equilíbrio de Hardy-
Weinberg e de gargalo-de-garrafa populacional.
Diversidades genéticas intrapopulacionais
Para estimar as diversidades genéticas intrapopulacionais com relação à região controle do
mtDNA, o programa DNAsp foi utilizado no cálculo do número de haplótipos (h), diversidades
haplotípica (Hd) e nucleotídica (π) e número médio de diferenças nucleotídicas (k) de cada
população amostrada. Com o programa Arlequin foram calculados a heterozigosidade média
observada (He) e realizados testes de neutralidade de Tajima (D) (Tajima 1989) e de Fu (Fs) (Fu
1997).
Com relação aos locos microssatélites, foram calculados o número médio de alelos (n) e a
heterozigosidade observada média (He) (Nei 1987) com o programa Arlequin. O número esperado
de alelos (ne), calculado pelos modelos de mutação de passo simples (SMM) (Kimura & Ohta
1975) e de alelos infinitos (IAM) (Ewens 1972), e a riqueza alélica (R) (Hurlbert 1971; ElMousadik
& Petit 1996), calculada para tamanho amostral padronizado em 2, 5 e 7 indivíduos, foram
estimados através do programa MSA (Dieringer & Schlotterer 2003). Testes de equilíbrio de Hardy-
Weinberg pelo método de cadeia de Markov foram executados no programa Genepop (Raymond &
Rousset 1995b), para déficit de heterozigotos (HWD) e excesso de heterozigotos (HWE) (Rousset
& Raymond 1995).
Diferenciação genética entre populações
Através do programa Arlequin foi realizado um teste exato de diferenciação populacional
que utiliza algoritmos de cadeia de Markov para identificar se existe diferenciação genética entre
todas as populações e entre pares de populações, baseado na distribuição dos haplótipos da região
controle do mtDNA ou de alelos e genótipos dos locos microssatélites (Raymond & Rousset 1995a;
Goudet et al. 1996).
Estruturação genética populacional
A estruturação genética populacional foi inferida no programa Arlequin pelo método de
análise de variância molecular (AMOVA) (Slatkin & Hudson 1991; Excoffier et al. 1992; Slatkin
1995), que é baseado na variância das freqüências gênicas e leva em conta também o número de
mutações entre os haplótipos/alelos. Essa técnica apresenta a diversidade genética em termos de
componentes da variância entre populações e dentro de populações. A significância dos índices de
31
fixação obtidos a partir dessa análise (FST e φST) foi testada através de uma técnica de permutação
não-paramétrica (Excoffier et al. 1992).
Através do programa Structure (Pritchard et al. 2000; Falush et al. 2003; Evanno et al.
2005), que se baseia no método Bayesiano e utiliza dados de microssatélites, foi estimado o número
de populações geneticamente distintas (clusters) às quais os indivíduos amostrados foram
atribuídos. Os “coeficientes de associação” obtidos no programa Structure para cada indivíduo em
relação aos clusters foram utilizados para gerar um gráfico no programa Distruct (Rosenberg 2004),
que permitiu a visualização da estruturação genética populacional e de possíveis imigrantes.
Distância genética e fluxo gênico entre populações
Para calcular as distâncias genéticas entre as populações, foi utilizada a técnica de FST (ou
φ ST) pareado, ou seja, entre pares de populações, implementada no programa Arlequin. A
significância dos valores encontrados foi testada através de uma técnica de permutações. Para
avaliar a migração entre as populações amostradas, foram feitas estimativas de fluxo gênico passado
e estimativas de migração atual. As estimativas de fluxo gênico passado foram obtidas a partir de
três técnicas:
1. Diferenças nas freqüências alélicas entre populações (FST e φST pareados), no programa
Arlequin;
2. Proporção de alelos exclusivos em cada população, no programa Genepop (Raymond &
Rousset 1995b);
3. Pelo método de máxima verossimilhança, que leva em conta tanto as freqüências alélicas
quanto as proporção de alelos exclusivos, no programa Migrate (Beerli & Felsenstein
2001).
Já as estimativas de migração atual foram feitas por atribuição genética de indivíduos às
populações e detecção de migrantes de primeira geração por máxima verossimilhança, no programa
Geneclass (Cornuet et al. 1999; Piry et al. 2004).
Tamanhos populacionais efetivos
As estimativas de tamanhos populacionais efetivos (Ne), foram feitas através dos
programas LDNe (Waples & Do 2008), que utiliza um método baseado no desequilíbrio de ligação,
calculado a partir das freqüências genotípicas e da medida de ∆ de Burrow (Hill 1974, 1981;
Waples 2006), e ONeSAMP (Tallmon et al. 2008), que se baseia em estatísticas sumárias e no
método Bayesiano. Essas técnicas se mostraram vantajosas por requererem apenas uma amostra de
32
cada população, ao contrário do método temporal, que necessita de pelo menos duas amostras
separadas no tempo (Nei & Tajima 1981; Waples 1989).
Testes de gargalo-de-garrafa populacionais
O teste de Wilcoxon, realizado através do programa Bottleneck (Piry et al. 1999), foi
utilizado para avaliar se as populações sofreram gargalos-de-garrafa populacionais. Esse teste pode
ser utilizado com poucos locos e indivíduos e se baseia na comparação entre a diversidade genética
observada e a esperada para verificar se as populações passaram por recente redução em seu
tamanho populacional efetivo. Além do teste de Wilcoxon, o programa Bottleneck também oferece
um indicador (“mode-shift”) que, a partir da distribuição das freqüências alélicas, discrimina as
populações que sofreram gargalo-de-garrafa das populações estáveis (Cornuet & Luikart 1996;
Luikart & Cornuet 1998).
Coeficientes de endogamia
Os coeficientes de endogamia (FIS) foram calculados pela técnica de análise de variância
molecular (AMOVA) no programa Arlequin, para cada população separadamente, a partir de cinco
locos microssatélites. Para testar a significância estatística dos valores encontrados, foi utilizada
uma técnica de permutação.
Parentesco
Através da técnica de máxima verossimilhança, foi calculado o coeficiente de parentesco
(r) entre pares de indivíduos através do programa MLRelate (Kalinowski et al. 2006), utilizando
informações de cinco locos microssatélites. Para comparação do nível de parentesco, os indivíduos
foram agrupados em populações de origem e em bandos. Não foi possível fazer análises de grupos
entre os indivíduos da população MAN. Também foram agrupados os indivíduos da população NLI
da mesma família (irmãos, mãe e tio). Para verificar a hipótese de bandos consistirem de fêmeas
adultas aparentadas e seus filhotes, os pares de indivíduos foram classificados como não
relacionados (com r=0), levemente relacionados (com r entre 0 e 0,25, ou seja, primos) e altamente
relacionados (com r maior que 0,25, ou seja, mãe-filhote, irmãos, tia-sobrinho e avó-neto).
O programa Cervus (Marshall et al. 1998; Kalinowski et al. 2007) foi utilizado para testes
de maternidade e de paternidade, baseando-se na comparação de genótipos de no mínimo cinco
locos microssatélites dos infantes, jovens e subadultos com os genótipos dos candidatos a pai e mãe
(apenas adultos). A técnica utilizada pelo programa Cervus é a de exclusão de candidatos a pai e
mãe por incompatibilidade de genótipos, aliada à técnica de máxima verossimilhança. Os testes
foram feitos separadamente para cada população (exceto BAL, DAV e PET). Para a população
33
MAN, os testes foram realizados separadamente para indivíduos capturados e/ou observados em
anos diferentes (não foram feitos testes para o ano de 2008, devido à baixa amostragem). Para a
população NLI, foi feito apenas o teste de paternidade de filhotes cuja mãe é conhecida com os
machos adultos do mesmo local de cativeiro. Para cada atribuição mãe-filhote obtida no programa
Cervus, os haplótipos mitocondriais foram comparados, para verificar compatibilide.
Através do programa MLRelate, foram feitos cálculos do coeficiente de parentesco entre
indivíduos da população MAN capturados na armadilha ao mesmo tempo e, a partir desses valores,
os pares de indivíduos foram atribuídos a classes de parentesco (não aparentados, primos, irmãos ou
mãe-filhote). Dentre os indivíduos capturados ao mesmo tempo, aqueles que consistiam em fêmeas
adultas e infantes foram utilizados também em testes de maternidade no programa Cervus.
4. RESULTADOS
Foram obtidas seqüências de 782pb da região controle do mtDNA (e parte do gene cyt-
b) para 207 indivíduos, divididos entre as sete populações amostradas (e um indivíduo cuja
localidade de origem não é conhecida). Do total de sítios analisados, 763 foram monomórficos e
19 apresentaram algum tipo de variabilidade: 8 inserções/deleções e 11 substituições. O número
de haplótipos obtidos foi maior quando os sítios de inserção/deleção foram considerados (8
haplótipos) do que sem considerar esses sítios (5 haplótipos). As análises realizadas no presente
estudo foram feitas separadamente para haplótipos com sítios de inserção/deleção e sem esses
sítios.
As redes de haplótipos da região controle do mtDNA geradas pelo método median-joining
(MJ) estão apresentadas na figura 5. Considerando sítios de inserção/deleção, os haplótipos foram
menos compartilhados entre populações (figura 5-A) do que não considerando esses sítios (figura 5-
B). Apesar do grande número de indivíduos, a população MAN apresentou apenas um (sem sítios
de inserção/deleção) ou dois (com sítios de inserção/deleção) haplótipos. Ambas as redes
mostraram dois grupos de haplótipos separados por um número significativo de passos de mutação:
um grupo incluindo os haplótipos das populações CAP, NLI e PET e outro grupo com os haplótipos
das populações BAL, DAV e MAN. Apenas a população SEP apresentou haplótipos em ambos os
grupos, sendo que o haplótipo mais comum está presente nos dois bandos amostrados, enquanto os
outros dois haplótipos correspondem a indivíduos adultos de um mesmo bando, um macho e uma
fêmea. Os dois haplótipos encontrados na população CAP correspondem aos dois bandos
amostrados nessa localidade.
34
Figura 5. Redes de haplótipos MJ geradas pelo programa Network. A: haplótipos da região controle do
mtDNA sem os sítios de inserção/deleção; B: haplótipos com os sítios de inserção/deleção. Os círculos
indicam os haplótipos, com o diâmetro proporcional ao número de indivíduos, e as cores indicam a
população de origem dos indivíduos. Preto: Baleia; Azul claro: Caparaó; Cinza: Davinópolis; Vermelho:
Mangabeiras; Azul escuro: Nova Lima; Amarelo: Peti; Verde: Serra da Piedade.
O número de indivíduos genotipados para cada um dos sete locos microssatélites e os
respectivos números de alelos e heterozigosidades observada e esperada estão na tabela 4. O loco
C09 foi o mais polimórfico, apresentando 11 alelos, porém sua heterozigosidade observada só não
foi mais baixa que a do loco C05, que foi o que teve menores números de indivíduos genotipados e
de alelos encontrados. Os locos com maior heterozigosidade observada foram o A02 (0,72), o D07
(0,70) e o B05 (0,68). Para a maior parte das análises realizadas no presente estudo, foram
considerados apenas os locos A02, B05, C09, D07 e H07 e os indivíduos amostrados para pelo
menos três desses locos. O número médio de alelos para esses cinco locos foi de nove alelos e a
heterozigosidade média observada, de 0,64.
Tabela 4. Número de indivíduos genotipados (N), número de alelos encontrados (n), heterozigosidade
observada (Ho) e heterozigosidade esperada (He) para cada um dos sete locos microssatélites utilizados no
presente estudo.
Loco N n Ho He
A02 186 7 0.72 0.74 B05 169 8 0.68 0.68 C09 181 11 0.44 0.51 D07 167 10 0.70 0.83 H07 181 9 0.66 0.67 B01 32 8 0.66 0.81 C05 28 4 0.29 0.41 Média 134.86 8.14 0.59 0.66
35
Diversidades genéticas intrapopulacionais
A tabela 5 mostra os índices de diversidades genéticas intrapopulacionais e testes de
neutralidade calculados com base nas seqüências da região controle, separados para haplótipos sem
sítios de inserção/deleção e com esses sítios. Não foi possível calcular a diversidade nucleotídica (π)
dos haplótipos com inserção/deleção. Para ambos os tipos de haplótipos, a população SEP
apresentou maior número de haplótipos (h=3) e maior número médio de diferenças nucleotídicas
entre haplótipos (k=2,95 e 5,14), enquanto a população CAP apresentou maior diversidade
haplotípica (Hd=0,44). As populações NLI e PET apresentaram apenas um haplótipo (não
considerando e considerando sítios de inserção/deleção), o que se justifica pelo baixo tamanho
amostral (5 e 2, respectivamente). Já a população MAN, apesar do grande tamanho amostral,
apresentou apenas um (sem sítios de inserção/deleção) e dois (com esses sítios) haplótipos, esses
últimos com diversidade haplotípica e média de diferenças nucleotídicas muito baixas (Hd=0,04 e
k=0,04). Os testes de neutralidade de Tajima (D) e de Fu (Fs) não foram significativos para
nenhuma das populações, sugerindo que todas se encontraram em equilíbrio.
Tabela 5. Índices de diversidade genética intrapopulacional e testes de neutralidade calculados para a
região controle do mtDNA: tamanho da amostra (N), número de haplótipos (h), diversidade haplotípica
(Hd) (Nei 1987), diversidade nucleotídica (π) (Tajima 1983; Nei 1987), número médio de diferenças
nucleotídicas (k) (Tajima 1983, 1993), heterozigosidade média esperada (He) (Nei 1987), D de Tajima
(Tajima 1989) e Fs de Fu (Fu 1997). Cálculos obtidos a partir dos programas DNAsp (Librado & Rozas
2009) e Arlequin (Excoffier et al. 2005). BAL: Baleia, CAP: Caparaó, DAV: Davinópolis, MAN:
Mangabeiras, NLI: Nova Lima, PET: Peti, SEP: Serra da Piedade. ns: valor P não significativo para nível
de significância de 5%.
mtDNA sem InDel Pop. N h Hd π k He D Fs
BAL 1 1 0 0 0 0 0 (ns) - CAP 20 2 0.442 0.0006 0.442 0.442 1.026 (ns) 1.169 (ns) DAV 1 1 0 0 0 0 0 (ns) - MAN 163 1 0 0 0 0 0 (ns) - NLI 5 1 0 0 0 0 0 (ns) - PET 2 1 0 0 0 0 0 (ns) - SEP 14 3 0.385 0.0038 2.945 0.268 0.156 (ns) 3.884 (ns) Total 207 5 0.332 0.0032 2.492 0.226
mtDNA com InDel
Pop. N h Hd π k He D Fs
BAL 1 1 0 - 0 0 0 (ns) - CAP 20 2 0.442 - 0.884 0.046 1.026 (ns) 2.621 (ns) DAV 1 1 0 - 0 0 0 (ns) - MAN 163 2 0.036 - 0.036 0.036 0 (ns) -1.480 (ns) NLI 5 1 0 - 0 0 0 (ns) - PET 2 1 0 - 0 0 0 (ns) - SEP 14 3 0.385 - 5.143 0.271 0.184 (ns) 6.372 (ns)
36
A tabela 6 apresenta os índices de diversidade populacional calculados para as populações
com mais de um indivíduo (CAP, MAN, NLI, PET, SEP), com base em cinco locos microssatélites.
A média do número real de alelos (n) variou de 2,6 (PET) a 6,6 (CAP) alelos, enquanto a média do
número esperado de alelos (ne), seguindo o modelo SMM, variou de 2,64 (PET) a 6,35 (CAP)
alelos e, seguindo o modelo IAM, variou de 2,68 (PET) a 10,14 (MAN) alelos. Os pequenos
números de alelos reais e esperados da população PET podem ser explicados pelo pequeno tamanho
amostral (N=2). As riquezas alélicas para tamanhos amostrais padronizados de 2, 5 e 7 indivíduos
foram maiores para as populações CAP (2,80, 4,56 e 5,19, respectivamente) e SEP (2,82, 4,43 e
4,95) e menores para a população MAN (2,37, 3,39 e 3,74).
As heterozigosidades médias observadas (Ho) e esperadas (He) foram relativamente altas
em todas as populações, atingindo os maiores valores também para as populações CAP (0,744 e
0,735, respectivamente) e SEP (0,736 e 0,756) e os menores valores para a população MAN (0,611
e 0,615), apesar do grande tamanho amostral. Os testes de equilíbrio de Hardy-Weinberg não foram
significativos para maioria das populações, exceto MAN, que apresentou alta probabilidade de
desequilíbrio para déficit de heterozigotos (valor P=0,001).
Tabela 6. Índices de diversidade genética intrapopulacional para cinco locos microssatélites (média entre
locos) e testes de neutralidade: tamanho da amostra (N), número de alelos (n), número esperado de alelos
(ne) calculado pelos modelos de mutação simples de passo (SSM) e de alelos infinitos (IAM), riqueza
alélica (R) para tamanhos amostrais padronizados em 2, 5 e 7 indivíduos, heterozigosidade média
observada (Ho) e heterozigosidade média esperada (He), testes de equilíbrio de Hardy-Weinberg para
déficit de heterozigotos (HWD) e excesso de heterozigotos (HWE). CAP: Caparaó, MAN: Mangabeiras,
NLI: Nova Lima, PET: Peti, SEP: Serra da Piedade. * indica significância estatística de 5%.
Pop. N n ne
(SMM) ne
(IAM) R
(N=2) R
(N=5) R
(N=7) Ho He HWD HWE
CAP 19.8 6.6 6.35 9.34 2.80 4.56 5.20 0.744 0.735 0.5866 0.4265 MAN 144.2 5.4 4.80 10.14 2.37 3.39 3.74 0.611 0.615 0.0012* 0.9995 NLI 6.6 4.6 4.42 5.24 2.63 4.01 4.60 0.743 0.701 0.743 0.2609 PET 2 2.6 2.64 2.68 2.60 - - 0.700 0.667 1 0.6683 SEP 13.8 5.6 5.75 7.80 2.82 4.43 4.95 0.736 0.756 0.1364 0.8837
Diferenciação genética entre populações
O teste exato de diferenciação genética, realizado com base na distribuição dos haplótipos
da região controle do mtDNA, apontam para a existência de divergência significativa entre as
populações amostradas. Para os pares de populações, os resultados foram diferentes para seqüências
sem os sítios de inserção/deleção em relação às seqüências com esses sítios. Sem os sítios de
inserção/deleção, os pares de populações CAP e MAN, CAP e SEP, MAN e NLI, MAN e PET,
MAN e SEP foram significativamente divergentes. Já com os sítios de inserção/deleção, os pares
37
CAP e NLI, CAP e PET, NLI e PET, NLI e SEP também foram divergentes. O mesmo teste exato
de diferenciação realizado com base em cinco locos microssatélites indica ausência de diferenciação
significativa tanto para todas as populações quanto para cada um dos pares de populações (tabela 7).
Tabela 7. Valores P dos testes de diferenciação genética gerais e entre pares de populações, baseados na
distribuição de haplótipos da região controle do mtDNA (considerando e não considerando sítios de
inserção/deleção) e de alelos e genótipos dos locos microssatélites. CAP: Caparaó, MAN: Mangabeiras,
NLI: Nova Lima, PET: Peti, SEP: Serra da Piedade. * indica significância estatística de 5%.
Pop1 Pop2 mtDNA sem InDel mtDNA com InDel 5 locos micros. CAP MAN 0* 0* 0.40698±0.0282 CAP NLI 0.29101±0.0014 0* 1.0±0.0 CAP PET 1.0±0.0 0.00411±0.0005* 1.0±0.0 CAP SEP 0.01196±0.0015* 0* 1.0±0.0 MAN NLI 0* 0* 0.59624±0.0251 MAN PET 0* 0* 0.87475±0.0204 MAN SEP 0* 0* 0.47596±0.0238 NLI PET -1.0±1.0 0.04865±0.0015* 1.0±0.0 NLI SEP 1.0±0.0 0 * 1.0±0.0 PET SEP 1.0±0.0 1.0±0.0 1.0±0.0 Todas 0* 0* 0.05810 ± 0.02887
Estruturação genética populacional
Os valores de φST e de FST, obtidos a partir da análise de variância molecular (AMOVA),
realizada com base nos haplótipos da região controle do mtDNA e nos genótipos de cinco locos
microssatélites, foram significativos (tabela 8), indicando existência de estruturação genética entre
as populações amostradas. Os valores de φST obtidos a partir dos haplótipos da região controle do
mtDNA foram bem semelhantes para seqüências sem e com sítios de inserção/deleção e indicaram
alta divergência entre populações (96%) e baixa diversidade intrapopulacional (4%). O valor de FST
calculado para os locos microssatélites, entretanto, foi quase sete vezes menor que o da região
controle do mtDNA, indicando padrão de estruturação inverso: menor divergência entre populações
(14%) do que dentro das populações (86%) (tabela 8).
Tabela 8. Estimativas da estruturação populacional inferidas por análise de variância molecular
(AMOVA), baseadas em freqüências alélicas (
entre haplótipos (φST). Os haplótipos da região cont
sítios de inserção/deleção foram utilizados separadamente nos cálculos.
da diversidade genética, Vb: componente intrapopulacional da diversidade genética e Vtotal: diversidade
genética total. * indica significância de 5%.
mtDNA sem InDelFST -
φST 0.96307*
Va 3.02837Vb 0.11613Vtotal 3.14451
De acordo com os cálculos de probabilidade logarítmica e variância, feitos no programa
Structure com base nos genótipos de locos microssatélites, o número mais provável de
populações genéticas) foi K=2 (L (K)=
foi atribuído um “coeficiente de associação” em relação a cada um
coeficientes de associação de todos os indivíduos, foi gerado, pelo programa Distruct, o gráfico de
barras da figura 6, onde cada barra representa um indivíduo e cada cor representa um
gráfico indica estruturação moderada, uma vez que os indivíduos das populações CAP e PET se
enquadraram bem no primeiro cluster
parecem ser uma mistura entre os dois
Figura 6. Gráfico obtido pelo programa Distruct para K=2, a partir dos coeficientes de associação de cada
indivíduo em relação a cada cluster
indivíduo e cada cor representa um dos
Distância genética e fluxo gêni
A tabela 9 apresenta os resultados obtidos dos cálculos de
para medir a distância genética entre as populações amostradas.
. Estimativas da estruturação populacional inferidas por análise de variância molecular
(AMOVA), baseadas em freqüências alélicas (FST) e baseadas tanto em freqüências quanto em diferenças
). Os haplótipos da região controle do mtDNA considerando e não considerando
sítios de inserção/deleção foram utilizados separadamente nos cálculos. Va: componente interpopulacional
da diversidade genética, Vb: componente intrapopulacional da diversidade genética e Vtotal: diversidade
* indica significância de 5%.
mtDNA sem InDel mtDNA com InDel 5 locos microssatélites- 0.13868*
307* 0.96287* -
3.02837 (96.31%) 5.77681 (96.29%) 0.21867 (13.87%) 0.11613 (3.69%) 0.22275 (3.71%) 1.35819 (86.13%)
14451 5.99956 1.57686
De acordo com os cálculos de probabilidade logarítmica e variância, feitos no programa
ructure com base nos genótipos de locos microssatélites, o número mais provável de
populações genéticas) foi K=2 (L (K)= -2016,5; Var [L(K)]=94,1). Para cada indivíduo amostrado
foi atribuído um “coeficiente de associação” em relação a cada um dos dois
coeficientes de associação de todos os indivíduos, foi gerado, pelo programa Distruct, o gráfico de
, onde cada barra representa um indivíduo e cada cor representa um
moderada, uma vez que os indivíduos das populações CAP e PET se
cluster e os de MAN no segundo, mas as populações NLI e SEP
uma mistura entre os dois clusters.
lo programa Distruct para K=2, a partir dos coeficientes de associação de cada
cluster calculados pelo programa Structure. Cada barra representa um
indivíduo e cada cor representa um dos clusters.
luxo gênico entre populações
apresenta os resultados obtidos dos cálculos de FST e φST
para medir a distância genética entre as populações amostradas. Os valores obtidos a partir das38
. Estimativas da estruturação populacional inferidas por análise de variância molecular
) e baseadas tanto em freqüências quanto em diferenças
role do mtDNA considerando e não considerando
Va: componente interpopulacional
da diversidade genética, Vb: componente intrapopulacional da diversidade genética e Vtotal: diversidade
5 locos microssatélites
De acordo com os cálculos de probabilidade logarítmica e variância, feitos no programa
ructure com base nos genótipos de locos microssatélites, o número mais provável de clusters (ou
2016,5; Var [L(K)]=94,1). Para cada indivíduo amostrado
dos dois clusters. A partir dos
coeficientes de associação de todos os indivíduos, foi gerado, pelo programa Distruct, o gráfico de
, onde cada barra representa um indivíduo e cada cor representa um cluster. O
moderada, uma vez que os indivíduos das populações CAP e PET se
e os de MAN no segundo, mas as populações NLI e SEP
lo programa Distruct para K=2, a partir dos coeficientes de associação de cada
calculados pelo programa Structure. Cada barra representa um
ST pareados, utilizados
Os valores obtidos a partir das
39
seqüências da região controle do mtDNA sem os sítios de inserção/deleção foram significativos
para os pares de populações CAP e MAN, MAN e NLI, MAN e SEP, CAP e SEP. Os valores
obtidos das seqüências com sítios de inserção/deleção foram significativos para quase todos os
pares de populações, exceto PET e SEP. A partir de cinco locos microssatélites, os cálculos de
distância genética entre pares de populações foram significativos para quase todos, exceto CAP e
PET, NLI e PET, PET e SEP. Assim como os índices obtidos por AMOVA para todas as
populações, os índices pareados foram em geral menores para os locos microssatélites do que para a
região controle do mtDNA.
Tabela 9. Distâncias genéticas entre pares de populações: φST (mtDNA) e FST (microssatélites). 1:
cálculos a partir das seqüências de mtDNA não considerando os sítios de inserção/deleção, 2: cálculos a
partir do mtDNA com os sítios de inserção/deleção, 3: cálculos a partir de 5 locos microssatélites. CAP:
Caparaó, MAN: Mangabeiras, NLI: Nova Lima, PET: Peti, SEP: Serra da Piedade. * indica significância
estatística de 5%.
Pop1 Pop2 φST1 φST
2 FST3
CAP MAN 0.99489* 0.99196* 0.17791* CAP NLI 0.10828 0.59847* 0.10625* CAP PET -0.06464 0.73659* 0.00776 CAP SEP 0.19348* 0.51886* 0.08930* MAN NLI 1* 0.99777* 0.14506* MAN PET 1* 0.99741* 0.14823* MAN SEP 0.95823* 0.95461* 0.10016* NLI PET 0 1* 0.01816 NLI SEP 0.01922 0.48135* 0.08873* PET SEP -0.18738 -0.18696 0.02276
A tabela 10 apresenta as estimativas de fluxo gênico histórico entre pares de populações,
expressas como número absoluto de migrantes (Nm) e obtidas a partir das diferenças entre as
freqüências gênicas (FST e φST) e a partir da freqüência de alelos exclusivos. Em relação às
estimativas feitas a partir do φST da região controle do mtDNA, os pares de populações NLI e SEP,
CAP e NLI, CAP e SEP apresentaram alto fluxo gênico entre si, enquanto os pares MAN e NLI,
MAN e PET, NLI e PET, CAP e MAN apresentaram baixíssimo fluxo gênico. Já os cálculos feitos
a partir do FST de cinco locos microssatélites apresentaram nível de fluxo gênico mais alto entre
todos os pares de populações, sendo mais alto entre CAP e PET, NLI e PET, PET e SEP, NLI e
SEP, CAP e SEP, e mais baixo entre CAP e MAN, MAN e NLI, MAN e PET. Já as estimativas de
fluxo gênico feitas a partir dos alelos exclusivos (considerando apenas os locos microssatélites)
apresentaram padrão pouco diferente: os pares de populações com maior fluxo gênico foram CAP e
PET, CAP e SEP, PET e SEP, NLI e PET, CAP e NLI, e os pares com menor fluxo gênico foram
40
MAN e PET, CAP e MAN, MAN e NLI. Os valores obtidos para a população PET devem ser
interpretados com cautela, devido ao pequeno tamanho amostral.
Tabela 10. Fluxo gênico (Nm) entre pares de populações: inferido a partir das freqüências gênicas (φST e
FST) e a partir da freqüência de alelos exclusivos de cada população (p(1)). 1: cálculos a partir das
seqüências de mtDNA não considerando os sítios de inserção/deleção, 2: cálculos a partir do mtDNA com
os sítios de inserção/deleção, 3: cálculos a partir de 5 locos microssatélites. CAP: Caparaó, MAN:
Mangabeiras, NLI: Nova Lima, PET: Peti, SEP: Serra da Piedade.
Pop1 Pop2 Freqüências gênicas (Nm) Alelos exclusivos
φST1 φST
2 FST3 p(1)
3 Nm
3
CAP MAN 0.00287 0.00403 2.31037 0.0774062 0.420492 CAP NLI 4.11765 0.33546 4.20591 0.104682 0.855973 CAP PET - 0.17880 63.91144 0.0994617 1.16835 CAP SEP 2.09399 0.46365 5.09933 0.0849886 1.05183 MAN NLI 0 0.00111 2.94688 0.0794433 0.437135 MAN PET 0 0.00129 2.87313 0.107572 0.275499 MAN SEP 0.02165 0.02364 4.49216 0.0720907 0.490884 NLI PET - 0 27.02730 0.176339 0.877426 NLI SEP 27.26744 0.53874 5.13480 0.153361 0.510012 PET SEP - - 21.47150 0.124273 1.03541
As estimativas de fluxo gênico histórico obtidas por máxima verossimilhança, levando em
consideração ao mesmo tempo as freqüências gênicas e os alelos exclusivos (tabelas 11), foram
feitas entre pares de populações, para os dois sentidos separadamente. As estimativas feitas a partir
da região controle do mtDNA foram um pouco diferentes ao utilizar seqüências sem os sítios de
inserção/deleção (tabela 11-A) e com esses sítios (tabela 11-B), mas podem ser sumarizadas da
seguinte forma: a população CAP recebeu migrantes apenas da população SEP; MAN não recebeu
migrantes de nenhuma das outras populações; NLI recebeu apenas de PET ou CAP; PET recebeu de
CAP ou NLI; SEP recebeu de MAN e de PET, ou de MAN e de NLI.
Já as estimativas feitas a partir de cinco locos microssatélites (tabela 11-C) mostraram
padrão de fluxo gênico bastante diferente: CAP recebeu maior número de migrantes de PET e NLI;
MAN recebeu principalmente de SEP; NLI recebeu de SEP e MAN; PET recebeu mais migrantes
de NLI; SEP recebeu de MAN e PET. Os maiores fluxos gênicos foram de SEP para MAN e para
NLI, e os menores fluxos foram de MAN para CAP e de NLI para SEP.
41
Tabela 11. Fluxo gênico entre populações, inferido a partir das freqüências alélicas e dos alelos
exclusivos, pelo método de máxima verossimilhança, a partir da região controle do mtDNA sem (A) e com
(B) sítios de inserção/deleção e a partir de 5 locos microssatélites (C). Θ: tamanho populacional inferido.
CAP: Caparaó, MAN: Mangabeiras, NLI: Nova Lima, PET: Peti, SEP: Serra da Piedade.
(A) População doadora (M [m/um]) Pop. receptora CAP MAN NLI PET SEP CAP - 0.00000 0.00000 0.00000 459.81600 MAN 0.00000 - 0.00000 0.00000 0.00000 NLI 0.00000 0.00000 - 156565.31140 0.00000 PET 2354.93260 0.00000 0.00000 - 0.00000 SEP 0.00000 3002.32230 0.00000 9791.22600 -
(B) População doadora (M [m/um]) Pop. receptora CAP MAN NLI PET SEP CAP - 0.00000 0.00000 0.00000 208.68260 MAN 0.00000 - 0.00000 0.00000 0.00000 NLI 14637.44480 0.00000 - 0.00000 0.00000 PET 0.00000 0.00000 176989.66430 - 0.00000 SEP 0.00000 2739.96410 8220.13290 0.00000 -
(C) Θ [4N um]
População doadora (M [m/um]) Pop. receptora CAP MAN NLI PET SEP CAP 2.17662 - 0.142 1.3992 2.9832 0.5679 MAN 0.72585 0.3426 - 0.7838 0.5028 4.2303 NLI 0.54744 0.8628 2.3812 - 1.7991 3.4619 PET 5.27833 0.7856 0.7659 1.6691 - 0.7764 SEP 3.19147 0.8654 1.0404 0.3346 1.1122 -
Os resultados de atribuição genética de indivíduos a populações, realizada para estimar a
migração atual a partir de cinco locos microssatélites, estão apresentados na tabela 12, em forma de
probabilidades de atribuição médias. Os cálculos foram feitos apenas para quatro populações (CAP,
MAN, NLI e SEP) devido à restrição do tamanho amostral. Em média, os indivíduos foram
atribuídos às respectivas populações geográficas com maior probabilidade do que às demais.
Tabela 12. Probabilidades médias de atribuição dos indivíduos às populações, calculadas pela técnica de
máxima verossimilhança a partir de cinco locos microssatélites.
Populações CAP MAN NLI SEP Indivíduos CAP 0.45885 0.003 0.05205 0.0787 MAN 0.139036 0.750698 0.194892 0.302036 NLI 0.134 0.086429 0.386857 0.050143 SEP 0.076714 0.077571 0.051857 0.481786
A tabela 13 apresenta os cinco indivíduos imigrantes de primeira geração identificados por
máxima verossimilhança, utilizando informações de cinco locos microssatélites. As análises
indicam um resultado curioso: um indivíduo da população CAP foi identificado como imigrante
42
vindo da população NLI, localizada a mais de 200 km de distância. Foram identificados imigrantes
de ambos os sexos e as maiores trocas de migrantes ocorreram entre as populações MAN e SEP.
Tabela 13. Imigrantes de primeira geração identificados pela técnica de máxima verossimilhança a partir
de cinco locos microssatélites: sexo, respectivas populações de origem e de destino e valor P. CAP:
Caparaó, MAN: Mangabeiras, NLI: Nova Lima, SEP: Serra da Piedade.
Imigrantes Sexo Pop de origem Pop de destino Valor P M1239 M NLI CAP 0.037 M1279 F SEP MAN 0.037 M1352 F SEP MAN 0.042 M1310 M SEP NLI 0.008 M1396 F MAN SEP 0.005
Tamanhos populacionais efetivos
Os tamanhos populacionais efetivos foram calculados apenas para as populações CAP,
MAN e SEP, devido ao tamanho amostral. A tabela 14 apresenta as estimativas de Ne para cada
população, obtidas a partir de dois métodos. Os valores obtidos tanto pelo método de desequilíbrio
de ligação quanto pelo método Bayesiano foram parecidos. Para as populações CAP e SEP, os
valores de Ne foram bem próximos ao tamanho amostral e os intervalos de confiança sugerem que o
aumento da amostragem poderia melhorar (e talvez aumentar) essas estimativas. Apesar dos valores
de Ne para a população MAN terem sido maiores que das outras populações, eles foram bem
menores do que o tamanho amostral, sugerindo que o tamanho populacional efetivo provavelmente
está próximo dos valores obtidos. A razão entre Ne e N, portanto, foi menor para a população MAN
(entre 0,22 e 0,33) do que para as outras duas populações (CAP: entre 1,28 e 1,30; SEP: entre 0,92 e
1,29).
Tabela 14. Tamanhos amostrais (N), tamanhos populacionais efetivos (Ne) e respectivos intervalos de
confiança (95%), calculados a partir do método de desequilíbrio de ligação (1) e do método Bayesiano (2).
CAP: Caparaó, MAN: Mangabeiras, SEP: Serra da Piedade.
Pop. N Ne1 Ne
2 CAP 20 25.6 (10.9-246.6) 26.0 (18.9-61.1) MAN 142 31.9 (21.4-48.5) 46.9 (28.4-125.6) SEP 14 12.9 (3.3-285.8) 18.0 (12.5-35.7)
Testes de gargalo-de-garrafa populacionais
As análises de gargalo-de-garrafa populacional foram feitas apenas para as populações
CAP, MAN, NLI e SEP, devido ao tamanho amostral. Os resultados do teste de Wilcoxon (tabela
15) indicaram possibilidade de redução populacional recente com moderada significância (valor
p=0,03) nas quatro populações analisadas, de acordo com os modelos de mutação de alelos infinitos
43
(IAM) e de duas fases (TPM). Já segundo o modelo de mutação de passo (SSM), a população CAP
foi a única que não apresentou redução populacional recente significativa (valor p=0,09). O “mode-
shift” indicou alteração da distribuição das freqüências alélicas nas populações MAN, NLI e SEP,
possivelmente devido a reduções populacionais recentes. As análises de gargalos-de-garrafa
populacionais devem ser avaliadas com cautela, porém, uma vez que o “mode-shift” é indicado para
amostras de no mínimo 30 indivíduos para resultados mais confiáveis e o teste de Wilcoxon
apresenta melhor poder estatístico para amostras acima de 15 indivíduos e/ou 10 a 15 locos
polimórficos (Piry et al. 1999).
Tabela 15. Valores p dos testes de Wilcoxon e indicador “mode-shift” para detecção de gargalos-de-garrafa
populacionais, realizados com base em 5 locos microssatélites. IAM: modelo de mutação de alelos
infinitos, TPM: modelo de mutação de duas fases, SSM: modelo de mutação de passo. CAP: Caparaó,
MAN: Mangabeiras, NLI: Nova Lima, SEP: Serra da Piedade. * indica significância estatística de 5%.
Pop N Teste de Wilcoxon
“mode-shift” IAM TPM SSM
CAP 20 0.03125* 0.03125* 0.09375 Normal MAN 163 0.03125* 0.03125* 0.03125* Alterada NLI 7 0.03125* 0.03125* 0.03125* Alterada SEP 14 0.03125* 0.03125* 0.03125* Alterada
Coeficientes de endogamia
Os valores de FIS encontrados para cada população estão apresentados na tabela 16. Os
resultados indicam valor mais baixo para a população MAN (-0,102) e valores mais altos para as
populações SEP (-0,008) e CAP (0,020). Entretanto, nenhum dos valores foi estatisticamente
significativo.
Tabela 16. Coeficientes de endogamia calculados para cada população e respectivos valores p. CAP:
Caparaó, MAN: Mangabeiras, NLI: Nova Lima, PET: Peti, SEP: Serra da Piedade.
Pop. FIS Valor p CAP -0.020 0.686 MAN -0.102 1.000 NLI -0.065 0.799 PET -0.077 1.000 SEP -0.008 0.569
Parentesco
Os valores de parentesco médio (r) entre grupos de indivíduos foram calculados por
máxima verossimilhança apenas para quatro populações (CAP, MAN, NLI e SEP), a partir de cinco
locos microssatélites, e estão apresentados na tabela 17. Dentre as populações analisadas, NLI foi a
que apresentou maior coeficiente de parentesco (r=0,297), o que pode ser explicado pela forma de
amostragem (cinco de sete indivíduos são parentes de primeiro grau: pais e filhos ou irmãos
44
completos). Já a população MAN, apesar da grande amostragem, apresentou coeficiente de
parentesco médio entre seus indivíduos maior (r=0,226) do que as outras duas populações, enquanto
a população SEP foi a de menor parentesco (r=0,171). Em geral, os bandos analisados apresentaram
coeficiente de parentesco mais alto do que o de suas respectivas populações, com exceção do bando
SEP-LAR (r=0,147). Além disso, a maioria dos bandos foi composta de indivíduos levemente ou
altamente relacionados (aproximadamente metade dos pares de indivíduos), com exceção também
do bando SEP-LAR (tabela 18). Essas informações sugerem que os bandos são grande parte
formados de indivíduos aparentados, como mãe-filhote, irmãos, tias-sobrinhos, avós-netos e primos.
Entretanto, todos os bandos apresentaram também indivíduos não aparentados e nenhum deles
apresentou coeficiente de parentesco tão alto quanto o da família de cativeiro (NLI-FAM, r=0,52).
Tabela 17. Coeficientes médios de parentesco (r) de grupos de indivíduos, calculados por máxima
verossimilhança a partir de cinco locos microssatélites. CAP: Caparaó, MAN: Mangabeiras, NLI: Nova
Lima, SEP: Serra da Piedade, CAM: bando Camping, POR: bando Portaria, LAR: bando Laranja, PED:
bando Pedras, FAM: família de cativeiro.
Nível Grupo de indivíduos r Todos 0.182 População CAP 0.200 MAN 0.226 NLI 0.297 SEP 0.171 Bando CAP-CAM 0.229 CAP-POR 0.256 SEP-LAR 0.147 SEP-PED 0.259 Família NLI-FAM 0.520
Tabela 18. Parentesco entre indivíduos do mesmo bando: proporção de pares de indivíduos classificados
como não relacionados (r=0), levemente relacionados (0<r<0.25) ou altamente relacionados (r>0.25).
CAP: Caparaó, CAM: bando Camping, POR: bando Portaria, SEP: Serra da Piedade, LAR: bando Laranja,
PED: bando Pedras, NLI-FAM: Nova Lima - família de cativeiro.
Bando Não relacionados
Levemente relacionados
Altamente relacionados
CAP-CAM 0.56 0.29 0.15 CAP-POR 0.3 0.7 0 SEP-LAR 0.67 0 0.33 SEP-PED 0.5 0.25 0.25 NLI-FAM 0 0 1
A tabela 19 apresenta os resultados do cálculo de parentesco médio entre os machos
adultos amostrados em cada população (solitários ou associados a um bando) e os membros dos
bandos da mesma população, além de informações sobre compartilhamento de haplótipos e sobre
ocorrência de atribuição de paternidade entre eles e os membros dos bandos. O único macho
associado a bando amostrado no presente estudo apresentou haplótipo não compartilhado com os
45
demais membros do bando correspondente, além de coeficiente de parentesco médio extremamente
baixo em relação aos indivíduos do bando, mas nenhuma paternidade atribuída a ele. Isso sugere
que a origem desse macho é externa ao bando. Já os machos solitários apresentaram variação em
relação ao coeficiente de parentesco, ao compartilhamento de haplótipo e às atribuições de
paternidade. Um dos machos solitários amostrados (M1341) apresentou, ao mesmo tempo,
haplótipo compartilhado e coeficiente de parentesco médio relativamente alto em relação a um dos
bandos da mesma área (SEP-PED). Isso sugere que esse pode ser o seu bando natal. Esse macho foi
atribuído a pai de filhotes de ambos os bandos da área. Já o outro macho solitário amostrado
(M1235) parece não ter se originado de nenhum dos dois bandos amostrados na mesma área (CAP-
CAM e CAP-POR) e foi atribuído a pai de filhotes de apenas um dos bandos da área.
Tabela 19. Parentesco entre machos e bandos: coeficiente de parentesco (r), compartilhamento de
haplótipo (HC) e ocorrência de atribuição de paternidade (Pai?) de machos solitários (1) ou associados (2).
CAP: Caparaó, CAM: bando Camping, POR: bando Portaria, SEP: Serra da Piedade, LAR: bando Laranja,
PED: bando Pedras.
Bando Macho r HC Pai? CAP-CAM M12351 0.18 Não Sim CAP-POR M12351 0.03 Sim Não SEP-LAR M13411 0.13 Sim Sim SEP-PED M13411 0.26 Sim Sim SEP-PED M13462 0.09 Não Não
O resumo dos resultados dos testes de maternidade e paternidade realizados através do
programa Cervus está apresentado na tabela 20. Na população CAP, quatro filhotes do mesmo
bando foram atribuídos a um macho adulto solitário e foi encontrada a mãe de apenas um dos
filhotes, ambos do mesmo bando. Na população MAN, vários filhotes foram atribuídos a mais de
uma mãe e/ou mais de um pai, talvez devido ao baixo número de locos microssatélites utilizados.
Informações sobre bandos não puderam ser utilizadas para a população MAN. Os testes de
paternidade realizados para os filhotes de cativeiro da população NLI indicaram que todos são
atribuídos a apenas um dos machos adultos presentes no recinto. Na população SEP, uma atribuição
mãe-filhote foi feita entre indivíduos do mesmo bando, enquanto a outra foi entre indivíduos de
bandos diferentes. Apesar de terem sido amostrados um macho adulto solitário e outro macho
adulto associado a um dos bandos, apenas o macho solitário foi atribuído a pai de três dos cinco
filhotes, enquanto o outro não foi atribuído a pai de nenhum dos filhotes. Esse macho solitário foi
atribuído a pai de filhotes de ambos os bandos amostrados na população SEP. Todas as atribuições
mãe-filhote foram compatíveis quanto ao haplótipo mitocondrial.
46
Tabela 20. Número de filhotes e candidatos a mãe e a pai com no mínimo cinco locos microssatélites
genotipados e número de atribuições mãe-filhote e pai-filhote encontradas através de testes de maternidade
e paternidade realizados através do programa Cervus. Os dados estão divididos por população e por ano de
amostragem. *atribuições mãe-filhote já conhecidas por informações de campo (indivíduos de cativeiro).
Pop Filhotes Fêmeas adultas
Atribuições mãe-filhote
Machos adultos
Atribuições pai-filhote
CAP 14 6 1 1 4 MAN 2007 29 26 22 4 21 MAN 2009 11 4 9 1 0 MAN 2010 18 3 17 1 4 NLI 3 1 3* 4 3 SEP 5 6 2 2 3
Os cálculos de coeficiente de parentesco realizados pelo programa MLRelate (tabela 21)
indicam que indivíduos capturados na armadilha ao mesmo tempo podem ser primos, irmãos, mãe e
filhote ou não relacionados. Apenas uma das fêmeas adultas capturadas junto com infantes foi
considerada mãe, resultado ratificado pelos testes de maternidade feitos no programa Cervus.
Tabela 21. Identificação dos indivíduos com respectiva classe etária no momento de captura e valores de
parentesco (r) e classes de parentesco (R) mais prováveis entre indivíduos da população MAN capturados
na armadilha ao mesmo tempo. U: não relacionados, PO: mãe-filhote, S: irmãos, C: primos.
Indivíduo 1 Indivíduo 2 r R M1069 Fêmea Adulta M1297 Infante 0 U M1283 Fêmea Adulta M1228 Infante 0 U M1283 Fêmea Adulta M1281 Infante 0.74 PO M1218 Infante M1219 Infante 0.68 S M1223 Jovem M1226 Infante 0 U M1223 Jovem M1281 Jovem 0.6 S M1228 Jovem M1281 Jovem 0.19 C M1313 Infante M1223 Jovem 0.5 S M1350 Jovem M1351 Jovem 0 U
5. DISCUSSÃO
A princípio, a estrutura social de quatis durante a época reprodutiva se assemelha a um
sistema de harém, com um macho monopolizando o acesso a cada bando de fêmeas (Kaufman
1962), enquanto outros machos permanecem solitários, porém próximos aos bandos. Entretanto, os
resultados dos testes de paternidade sugerem que a monopolização do bando por um macho não
garante a paternidade dos filhotes. Pelo contrário, o único macho adulto associado a um bando
(indivíduo M1346, bando das Pedras, população da R.P.P.N. Serra da Piedade) não foi atribuído
como pai de nenhum dos filhotes do respectivo bando, enquanto os dois machos solitários
(indivíduo M1341 da população da R.P.P.N. Serra da Piedade e indivíduo M1235 da população do
PARNA Caparaó) tiveram paternidade confirmada para vários dos filhotes amostrados (tabelas 19 e
47
20). Por outro lado, é necessário salientar que o sistema social de quatis é dinâmico (Gompper et al.
1997) e por isso um macho associado a um bando em uma estação reprodutiva pode ser diferente do
macho da estação anterior. Assim, o macho associado ao bando das Pedras na R.P.P.N. Serra da
Piedade na época reprodutiva analisada pode não ter se associado ao mesmo bando na época
anterior, o que explicaria a ausência de filhotes atribuídos a ele.
Ainda que tenham sido encontrados os pais de alguns filhotes, nenhum dos machos
amostrados foi responsável pela paternidade de todos os filhotes de um bando. Isso sugere que
vários machos podem acasalar com as fêmeas de um bando, o que pode contribuir tanto para a
redução do coeficiente de parentesco médio dos bandos quanto para a prevenção da endogamia nas
populações. Esse padrão é consistente com os resultados de estudos com outras espécies de
carnívoros (Gompper & Wayne 1996) e de um estudo com o quati-de-focinho-branco, Nasua narica
(Gompper et al. 1997).
Os resultados das análises de parentesco indicam que um dos machos solitários amostrados
(M1341) parece ter se originado de um dos bandos que compartilhavam a mesma área (SEP-PED,
tabela 19), o que vai de acordo com a literatura, segundo a qual os quatis machos abandonam o
bando natal após 24 meses de idade e passam a viver sozinhos, em um território que se sobrepõe ao
território do bando (Russel 1982; Gompper 1997; Gompper et al. 1998). A permanência dos
machos no território natal provavelmente se deve ao benefício de se manter em uma área familiar
e/ou ao custo de se dispersar para outras áreas (Gompper et al. 1998). Entretanto, parece incorrer
em custos de endogamia, uma vez que os resultados dos testes de paternidade indicam que esse
macho foi o responsável pela paternidade de parte dos filhotes do seu bando natal. Esse padrão
difere de outros mamíferos, que geralmente se dispersam para áreas onde existem fêmeas não
aparentadas (Gompper et al. 1998).
Já em relação ao macho associado a um bando (M1346), o baixo coeficiente de parentesco
entre ele e o respectivo bando, aliado ao não compartilhamento do haplótipo de mtDNA, indica que
sua origem é externa ao bando em questão (SEP-PED, tabela 19). Isso também é consistente com
um estudo comportamental de quatis (Gompper et al. 1997), que mostra que os machos deixam seu
território e o de seu bando natal para se reproduzirem com fêmeas de outros bandos. Esse
comportamento poderia levar à diminuição da endogamia, entretanto, esse macho não foi atribuído
como pai de nenhum dos filhotes do bando ao qual estava associado.
A existência de haplótipos de mtDNA únicos e exclusivos para cada bando amostrado na
população do PARNA Caparaó (figura 5) sugere que os bandos são compostos por indivíduos de
mesma linhagem materna e possuem origens diferentes, mesmo estando na mesma área. O resultado
do teste de maternidade realizado entre os indivíduos da população do PARNA Caparaó mostra
48
uma dupla mãe-filhote no mesmo bando (tabela 20), indicando que os filhotes permanecem no
bando de suas mães. Já a existência de haplótipos diferentes em um mesmo bando na população da
R.P.P.N. Serra da Piedade sugere a associação de indivíduos não aparentados ao grupo. Além disso,
os resultados do teste de maternidade realizado entre indivíduos da R.P.P.N. Serra da Piedade, os
quais mostram uma dupla mãe-filhote no mesmo bando e outra dupla em bandos diferentes,
sugerem a existência de certo intercâmbio de indivíduos entre bandos. Esses resultados são
consistentes com informações da literatura, que dizem que bandos de quatis são formados por
fêmeas adultas aparentadas e seus filhotes, mas podem conter alguns indivíduos não aparentados
(Gompper 1997; Gompper et al. 1997; Gompper & Decker 1998).
Alguns testes de maternidade e paternidade podem não ser precisos porque os filhotes
carregam conjuntos de alelos particularmente comuns na população amostrada. Isso é mais crítico
em análises com pequeno número de locos, porque há maior probabilidade de que um indivíduo
carregue mais alelos idênticos por descendência compatíveis com o do filhote em todos os locos,
mas que não seja seu pai ou mãe (Marshall et al. 1998; Slate et al. 2000; Kalinowski et al. 2007).
Os resultados dos testes de maternidade e paternidade na população do Parque das Mangabeiras
foram inconclusivos, talvez devido ao baixo número de locos microssatélites utilizados, aliado à
baixa diversidade genética intrapopulacional e ao alto coeficiente de parentesco entre os indivíduos.
O uso de número maior de locos poderia aumentar o poder dessas análises.
A maioria dos bandos apresentou coeficiente de parentesco acima de 0,25 entre
aproximadamente metade dos pares de indivíduos, ou seja, indivíduos levemente ou altamente
relacionados (tabela 18), resultados semelhantes aos encontrados em um estudo de parentesco de
quatis no Panamá (Gompper et al. 1997). Assim como naquele estudo, os bandos amostrados em
Minas Gerais não parecem ser famílias nucleares, mas famílias estendidas, contendo alguns
indivíduos não aparentados entre si, uma vez que os coeficientes de parentesco médio entre
indivíduos de um mesmo bando foram todos menores do que o coeficiente de parentesco médio
entre indivíduos de cativeiro reconhecidos como da mesma família. Os resultados de parentesco
entre indivíduos dos mesmos bandos (tabelas 17 e 18), aliados aos resultados de diferenciação
genética (tabela 7), estruturação genética populacional (tabela 8), distância genética (tabela 9) e
fluxo gênico histórico (tabelas 10 e 11) entre as populações amostradas no presente estudo, sugerem
forte filopatria das fêmeas de quati. Isso está de acordo com a literatura, segundo a qual as fêmeas
de quatis são altamente filopátricas, só se dispersando quando um bando se divide ou se desfaz e os
membros se juntam a bandos vizinhos (Gompper et al. 1997, 1998).
Entretanto, contrariando a expectativa de filopatria das fêmeas, a análise de migração atual
por atribuição genética identificou um imigrante do sexo feminino na R.P.P.N. Serra da Piedade
49
(M1396) e dois no Parque das Mangabeiras (M1279 e M1352, tabela 13). Porém, a identificação de
imigrantes de primeira geração pelo método de atribuição genética deve ser interpretada com
cautela, uma vez que o poder dessa análise depende da extensão da diferença entre as populações
comparadas, assim como do número de locos examinados e do tamanho das amostras (Rannala &
Mountain 1997). A análise de maior número de locos seria necessária para verificar esses
resultados.
A filopatria de fêmeas de mamíferos é bastante recorrente e é promovida por vantagens da
vida em grupo, como o maior sucesso na procura de alimentos, na fuga do predador, na redução do
parasitismo, na competição com outros grupos de indivíduos, na construção de ninhos e na divisão
do cuidado parental (Adams 2009; Perrin 2009). Os resultados do teste de maternidade entre
indivíduos capturados na mesma armadilha ao mesmo tempo no Parque das Mangabeiras mostram
que infantes junto com fêmeas adultas podem ser seus próprios filhotes ou não (tabela 21), o que é
um indício de divisão do cuidado parental entre fêmeas do mesmo bando.
Se por um lado, os resultados das análises de diferenciação, estruturação, distância
genética e fluxo gênico histórico entre populações baseadas no mtDNA apontam para filopatria de
fêmeas, por outro lado, essas mesmas análises baseadas nos locos microssatélites sugerem alto
fluxo gênico entre as populações (tabelas 7, 8, 9, 10 e 11), que pode se dar provavelmente devido
aos quatis machos. Esse padrão de comportamento, no qual as fêmeas são filopátricas e os machos
dispersam, é comum em mamíferos em geral (Sinclair et al. 2006; Perrin 2009) e também já foi
registrado em quatis (Gompper 1997; Alves-Costa et al. 2004). O fluxo gênico dirigido por machos
é interessante para a viabilidade das populações, uma vez que o sistema de acasalamento poligínico
e o comportamento de filopatria das fêmeas aumentam a endogamia e, conseqüentemente, o risco
de depressão endogâmica da população. A migração promovida por apenas um dos sexos é capaz de
evitar, ou pelo menos reduzir significativamente, a endogamia (Sinclair et al. 2006; Perrin 2009).
Os resultados obtidos para os fluxos gênicos históricos, baseados nas distâncias genéticas
entre as populações, foram bastante variáveis (tabela 10). O fluxo gênico extremamente baixo entre
o Parque das Mangabeiras e o PARNA Caparaó poderia ser explicado pela grande distância
geográfica (cerca de 220 km de distância), enquanto o fluxo gênico histórico mais alto entre a E.E.
Rêgo dos Carrapatos e a R.P.P.N. Serra da Piedade, bem como entre R.P.P.N. Serra da Piedade e
E.A. Peti, e entre E.E. Rêgo dos Carrapatos e E.A. Peti, poderia ser explicado pela proximidade
entre elas (por volta de 20 km, 30 km e 50 km, respectivamente). Entretanto, a distância geográfica
não é capaz de explicar porque as populações de quatis da E.E. Rêgo dos Carrapatos, da R.P.P.N.
Serra da Piedade e da E.A. Peti possuem um fluxo gênico histórico aparentemente mais alto com a
população do PARNA Caparaó (por volta de 210 km, 195 km e 170 km de distância,
50
respectivamente) do que com a população do Parque das Mangabeiras (por volta de 5 km, 25 km e
60 km de distância, respectivamente). Isso sugere que existe, ou existiu, algum tipo de barreira
responsável por esse isolamento. Mas a explicação pode estar numa possível translocação de
indivíduos de outras localidades para o Parque das Mangabeiras (ver abaixo).
A despeito de a população do Parque das Mangabeiras ter sido mais bem amostrada, as
populações da R.P.P.N. Serra da Piedade e do PARNA Caparaó apresentaram maiores diversidades
genéticas, tanto em relação ao mtDNA quanto em relação aos locos microssatélites (tabelas 5 e 6), e
menores coeficientes de parentesco entre seus indivíduos. Uma vez que o tamanho populacional
efetivo está diretamente relacionado à diversidade genética, não foi surpreendente encontrar menor
valor para a razão entre o tamanho populacional efetivo e o tamanho da amostra (Ne/N) para a
população do Parque das Mangabeiras do que para as outras duas populações (tabela 14). A
população do Parque das Mangabeiras também foi a única que apresentou alta probabilidade de
desvio do equilíbrio de Hardy-Weinberg devido a déficit de heterozigotos, testado para os locos
microssatélites (tabela 6). Déficit de heterozigotos em uma população pode ocorrer devido à
endogamia, à subdivisão da população em diferentes subpopulações, à mistura de residentes e
migrantes ou ainda à mistura de diferentes populações em uma mesma amostra. O último caso é
freqüentemente chamado efeito Wahlund (Frankham et al. 2005; Hedrick 2005b; Hammond et al.
2006; Allendorf 2007). A baixa diversidade genética e a baixa razão Ne/N da população do Parque
das Mangabeiras, assim como o déficit de heterozigotos e a inesperada distância genética
encontrada em relação às populações mais próximas, são assinaturas típicas de gargalos-de-garrafa
e/ou reintroduções (Bertorelle et al. 2009). Esses resultados sugerem que a população do Parque das
Mangabeiras pode ter se originado de uma recente reintrodução, associada a um efeito do fundador.
Essa provável reintrodução de quatis no Parque das Mangabeiras pode ter sido realizada com
indivíduos originados de mais de um local diferente e/ou a partir de uma mistura de indivíduos com
as populações próximas, o que explicaria o efeito Wahlund.
O teste de Wilcoxon e o indicador “mode-shift”, para detecção de populações que sofreram
gargalo-de-garrafa recente (tabela 15), ratificam a hipótese de ocorrência de efeito fundador na
população do Parque das Mangabeiras. Esses mesmos teste e indicador apontam para reduções
populacionais recentes também para o PARNA Caparaó, E.E. Rêgo dos Carrapatos e R.P.P.N. Serra
da Piedade, porém isso pode ser um artefato de amostragem, uma vez que são recomendados
tamanhos amostrais maiores e/ou maior número de locos para aumentar o poder da análise. Nesse
caso, a genotipagem de maior número de locos é recomendada para resultados mais precisos (Piry
et al. 1999).
51
Populações reintroduzidas se deparam com muitos desafios biológicos que podem reduzir
as taxas de sobrevivência e reprodução dos indivíduos, o que pode levar a um gargalo-de-garrafa
populacional e ao aumento do risco de extinção (Snyder et al. 1996; Sarrazin & Legendre 2000;
Bar-David et al. 2005). Entretanto, estudos mostram que, quando essas populações conseguem
aumentar de tamanho rapidamente, são menos susceptíveis à perda de diversidade genética e podem
evitar os efeitos da deriva genética e da endogamia (Gilpin & Soulé 1986; Wisely et al. 2008).
Além disso, a entrada e a reprodução de imigrantes podem auxiliar na recuperação de populações
reintroduzidas, mesmo sob baixas taxas de migração (Ingvarsson 2001; Tallmon et al. 2004;
Hedrick 2005a; Wisely et al. 2008).
Os resultados indicam a ocorrência, ainda que pequena, de fluxo gênico histórico entre o
Parque das Mangabeiras e as outras populações próximas (tabelas 10 e 11). Os resultados obtidos
pelo programa Migrate apontam para a entrada e saída de migrantes principalmente da R.P.P.N.
Serra da Piedade, enquanto a população da E.E. Rêgo dos Carrapatos recebe mais do que fornece
imigrantes à população do Parque das Mangabeiras. Além disso, a estimativa de migração atual,
feita através de atribuição genética, também sugere trocas de migrantes entre o Parque das
Mangabeiras e a R.P.P.N. Serra da Piedade (tabela 13). Esses resultados explicam a inesperada
distância genética encontrada entre a população do Parque das Mangabeiras e as outras populações
próximas. Esses resultados também explicam o obtido pelo programa Structure, ou seja, dois
clusters genéticos formados, de um lado pelas populações do PARNA Caparaó e da E.A. Peti, e do
outro pela população do Parque das Mangabeiras, enquanto as populações da E.E. Rêgo dos
Carrapatos e da R.P.P.N. Serra da Piedade são uma mistura de ambos (figura 6).
A superpopulação estimada de quatis no Parque das Mangabeiras (Hemetrio 2007),
portanto, pode ser decorrente de uma situação favorável encontrada pelos indivíduos reintroduzidos
no local, como alta disponibilidade de recursos e a ausência de predadores, mas não devido à
ausência de conectividade dessa população em relação a outras localidades. Apesar da baixa
diversidade genética e da detecção do evento de gargalo-de-garrafa pelo programa BOTTLENECK,
o coeficiente de endogamia obtido para a população do Parque das Mangabeiras não foi
estatisticamente significativo (tabela 16). Isso pode significar que, mesmo que essa população seja
resultante de uma reintrodução não documentada, o rápido crescimento populacional e o fluxo
gênico (ainda que baixo) mantido com as populações próximas podem ter impedido maiores efeitos
deletérios devido à deriva genética e à endogamia.
A ausência de diferenciação genética entre populações, baseada nos locos microssatélites,
assim como as pequenas distâncias genéticas entre populações tão distantes quanto a do PARNA
Caparaó e a E.E. Rêgo dos Carrapatos sugerem alta mobilidade de quatis e talvez uma capacidade
52
de dispersão individual a longas distâncias. Caso isso seja confirmado, em pouco tempo a
diferenciação genética entre a população do Parque das Mangabeiras e as outras populações
próximas será reduzida, acompanhada de um aumento da diversidade genética intrapopulacional,
como é esperado sob alto fluxo gênico (Allendorf 2007; Hedrick 2009). Entretanto, esse resultado
deve ser considerado com muita cautela, uma vez que o número de locos microssatélites analisados
foi pequeno e pode haver grande incidência de homoplasia.
6. CONCLUSÃO
Várias informações genéticas, demográficas e comportamentais das populações de Nasua
nasua amostradas no estado de Minas Gerais puderam ser extraídas a partir da região controle do
mtDNA e de locos microssatélites. O presente estudo mostrou como marcadores moleculares
podem ser bastante úteis em estudos ecológicos.
A população do Parque das Mangabeiras apresentou baixa diversidade genética
intrapopulacional, alto coeficiente de parentesco entre os indivíduos, reduzido tamanho
populacional efetivo, desvio do equilíbrio de Hardy-Weinberg, evidência de gargalo-de-garrafa
recente e razoável isolamento em relação às demais populações amostradas. Esses resultados
sugerem que a população do Parque das Mangabeiras pode ter se originado de uma reintrodução
recente, responsável por um efeito fundador, seguida de rápido aumento populacional.
As populações da R.P.P.N. Serra da Piedade, E.E. Rêgo dos Carrapatos e PARNA Caparaó
apresentaram alta diversidade genética intrapopulacional, tamanhos populacionais efetivos
relativamente grandes e equilíbrio de Hardy Weinberg, ainda que o número de indivíduos
amostrados tenha sido menor do que o do Parque das Mangabeiras.
Os resultados sugerem filopatria de fêmeas e dispersão de machos, com extensivo fluxo
gênico entre as populações da R.P.P.N. Serra da Piedade, E.A. Peti, E.E. Rêgo dos Carrapatos e
PARNA Caparaó, sugerindo que os quatis possuem alta mobilidade e capacidade de dispersão
individual a longas distâncias.
Os bandos de quatis da R.P.P.N. Serra da Piedade e PARNA Caparaó são formados por
indivíduos aparentados e provenientes da mesma linhagem materna, porém podem conter alguns
indivíduos não aparentados. Parece existir certo intercâmbio entre os bandos amostrados na
R.P.P.N. Serra da Piedade. Para conhecer o padrão comportamental dos bandos do Parque das
Mangabeiras e compará-lo com a R.P.P.N. Serra da Piedade e o PARNA Caparaó, é necessário
obter informações de campo a respeito de bandos e indivíduos solitários.
As análises de bandos e machos adultos da R.P.P.N. Serra da Piedade e PARNA Caparaó
sugerem que os machos adultos podem se associar a bandos diferentes do seu bando natal,
53
formando estruturas sociais semelhantes a haréns. Entretanto, esse comportamento não garante a
paternidade de todos os filhotes, uma vez que os resultados revelaram que vários machos diferentes
podem se acasalar com as fêmeas de um bando, inclusive seu bando natal.
Apesar do comportamento de filopatria das fêmeas e da baixa diversidade genética da
população do Parque das Mangabeiras, nenhuma das populações apresentou coeficiente de
endogamia significativo, provavelmente devido ao comportamento de dispersão dos machos e da
possibilidade de acasalamento dos bandos de fêmeas com vários machos diferentes.
O pequeno número de locos microssatélites utilizados nas análises do presente estudo
restringiu algumas interpretações dos resultados. Para resultados mais acurados, principalmente
para as análises de gargalo-de-garrafa, migração atual através de atribuição genética, parentesco,
paternidade e maternidade, é importante a genotipagem de maior número de locos, associada a
dados de campo detalhados dos indivíduos amostrados.
Por fim, é necessário maior número de indivíduos das populações da E.A. Peti, E.E. Rêgo
dos Carrapatos, P.E. da Baleia e Davinópolis/GO, além de maior amostragem de populações do
estado de Minas Gerais e/ou outros estados brasileiros para verificar a hipótese de reintrodução da
espécie Nasua nasua no Parque das Mangabeiras e descobrir a origem dos indivíduos fundadores
dessa população.
54
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Adams E.S. (2009) Social Behavior. In: The Princeton Guide to Ecology (ed. by Levin SA), pp. 60-6. Princeton
University Press, New Jersey.
Allendorf F.W. (1986) GENETIC DRIFT AND THE LOSS OF ALLELES VERSUS HETEROZYGOSITY. Zoo Biology 5,
181-90.
Allendorf F.W. (2007) Conservation and the genetics of populations. Blackwell Publishing, Malden, MA.
Alves-Costa C.P., Da Fonseca G.A.B. & Christofaro C. (2004) Variation in the diet of the brown-nosed coati
(Nasua nasua) in southeastern Brazil. Journal of Mammalogy 85, 478-82.
Avise J.C. (2004) Molecular markers, natural history and evolution. Chapman & Hall, New York.
Bandelt H.J., Forster P. & Rohl A. (1999) Median-joining networks for inferring intraspecific phylogenies.
Molecular Biology and Evolution 16, 37-48.
Bar-David S., Saltz D., Dayan T., Perelberg A. & Dolev A. (2005) Demographic models and reality in
reintroductions: Persian fallow deer in Israel. Conservation Biology 19, 131-8.
Barrett S.C.H. & Kohn J.R. (1991) Genetic and evolutionary consequences of small population size in plants
– implications for conservation. In: Genetics and Conservation of Rare Plants (eds. by Falk DA &
Holsinger KE), pp. 3-30. Oxford University Press, New York.
Beerli P. & Felsenstein J. (2001) Maximum likelihood estimation of a migration matrix and effective
population sizes in n subpopulations by using a coalescent approach. Proceedings of the National
Academy of Sciences of the United States of America 98, 4563-8.
Beisiegel B.M. (2001) Notes on the coati, Nasua nasua (Carnivora: Procyonidae) in an atlantic forest area.
In: Brazilian Journal of Biology, pp. 689-92.
Bertorelle G., Papetti C., Hauffe H.D. & Boitani L. (2009) Monitoring and detectiong translocations using
genetic data. In: Population Genetics for Animal Conservation (eds. by Bertorelle G, Bruford MW,
Hauffe HC, Rizzoli A & Vernesi C), pp. 148-66. Cambridge University Press, New York.
Bovendorp R.S. & Galetti M. (2007) Density and population size of mammals introduced on a land-bridge
island in southeastern Brazil. Biological Invasions 9, 353-7.
Brown J.R., Beckenbach A.T. & Smith M.J. (1993) INTRASPECIFIC DNA-SEQUENCE VARIATION OF THE
MITOCHONDRIAL CONTROL REGION OF WHITE STURGEON (ACIPENSER-TRANSMONTANUS).
Molecular Biology and Evolution 10, 326-41.
Brown W.M., George M. & Wilson A.C. (1979) RAPID EVOLUTION OF ANIMAL MITOCHONDRIAL-DNA.
Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America 76, 1967-71.
BRUFORD M.W., CHEESMAN, D. J., COOTE T., GREEN H.A.A., HAINES S.A., O'RYAN C. & R. W.T. (1996)
Microsatellites and Their Application to Conservation Genetics. In: Molecular Genetic Approaches in
Conservation (eds. by Smith TB & Wayne RK), pp. 278-97.
Caballero A. (1994) DEVELOPMENTS IN THE PREDICTION OF EFFECTIVE POPULATION-SIZE. Heredity 73, 657-
79.
Carr S.M., Ballinger S.W., Derr J.N., Blankenship L.H. & Bickham J.W. (1986) MITOCHONDRIAL-DNA
ANALYSIS OF HYBRIDIZATION BETWEEN SYMPATRIC WHITE-TAILED DEER AND MULE DEER IN WEST
TEXAS. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America 83, 9576-
80.
Cornuet J.M. & Luikart G. (1996) Description and power analysis of two tests for detecting recent
population bottlenecks from allele frequency data. Genetics 144, 2001-14.
Cornuet J.M., Piry S., Luikart G., Estoup A. & Solignac M. (1999) New methods employing multilocus
genotypes to select or exclude populations as origins of individuals. Genetics 153, 1989-2000.
Costa E.M.J., Mauro R.A. & Silva J.S.V. (2009) Group composition and activity patterns of brown-nosed
coatis in savanna fragments, Mato Grosso do Sul, Brazil. 69, 985-91.
Cote S.D., Rooney T.P., Tremblay J.P., Dussault C. & Waller D.M. (2004) Ecological impacts of deer
overabundance. Annual Review of Ecology Evolution and Systematics 35, 113-47.
Cronin M.A., Spearman W.J., Wilmot R.L., Patton J.C. & Bickham J.W. (1993) MITOCHONDRIAL-DNA
VARIATION IN CHINOOK (ONCORHYNCHUS-TSHAWYTSCHA) AND CHUM SALMON (O KETA)
55
DETECTED BY RESTRICTION ENZYME ANALYSIS OF POLYMERASE CHAIN-REACTION (PCR)
PRODUCTS. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Sciences 50, 708-15.
Crooks K.R. & Soule M.E. (1999) Mesopredator release and avifaunal extinctions in a fragmented system.
Nature 400, 563-6.
Câmara T. & Murta R. (2003) Mamíferos da Serra do Cipó. Editora PUC-Minas/Museu de Ciências Naturais,
Belo Horizonte.
Decker D.M. & Wozencraft W.C. (1991) PHYLOGENETIC ANALYSIS OF RECENT PROCYONID GENERA. Journal
of Mammalogy 72, 42-55.
Desteven D. & Putz F.E. (1984) IMPACT OF MAMMALS ON EARLY RECRUITMENT OF A TROPICAL CANOPY
TREE, DIPTERYX-PANAMENSIS, IN PANAMA. Oikos 43, 207-16.
Dieringer D. & Schlotterer C. (2003) MICROSATELLITE ANALYSER (MSA): a platform independent analysis
tool for large microsatellite data sets. Molecular Ecology Notes 3, 167-9.
Dobson F.S. (1982) COMPETITION FOR MATES AND PREDOMINANT JUVENILE MALE DISPERSAL IN
MAMMALS. Animal Behaviour 30, 1183-92.
ElMousadik A. & Petit R.J. (1996) High level of genetic differentiation for allelic richness among populations
of the argan tree Argania spinosa (L) Skeels endemic to Morocco. Theoretical and Applied Genetics
92, 832-9.
Emmons L.H. (1990) Carnivores (Procyonidae). In: Neotropical rainforest mammals (pp. 136-8. University of
Chicago Press, Chicago.
Emmons L.H. & Feer F. (1997) Neotropical Rainforest Mammals: a field guide. Chicago University Press,
Chicago.
Evanno G., Regnaut S. & Goudet J. (2005) Detecting the number of clusters of individuals using the software
STRUCTURE: a simulation study. Molecular Ecology 14, 2611-20.
Ewens W.J. (1972) SAMPLING THEORY OF SELECTIVELY NEUTRAL ALLELES. Theoretical Population Biology 3,
87-&.
Excoffier L., Laval G. & Schneider S. (2005) Arlequin (version 3.0): An integrated software package for
population genetics data analysis. Evolutionary Bioinformatics 1, 47-50.
Excoffier L., Smouse P.E. & Quattro J.M. (1992) ANALYSIS OF MOLECULAR VARIANCE INFERRED FROM
METRIC DISTANCES AMONG DNA HAPLOTYPES - APPLICATION TO HUMAN MITOCHONDRIAL-DNA
RESTRICTION DATA. Genetics 131, 479-91.
Falush D., Stephens M. & Pritchard J.K. (2003) Inference of population structure using multilocus genotype
data: Linked loci and correlated allele frequencies. Genetics 164, 1567-87.
Ferris S.D., Sage R.D., Huang C.M., Nielsen J.T., Ritte U. & Wilson A.C. (1983) FLOW OF MITOCHONDRIAL-
DNA ACROSS A SPECIES BOUNDARY. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United
States of America-Biological Sciences 80, 2290-4.
Fonseca G.A.B. & Robinson J.G. (1990) Forest size and structure: competitive and predatory effects on small
mammal communities. In: Biological Conservation, pp. 265-94.
Frankham R., Ballou J.D. & Briscoe D.A. (2005) Introduction to conservation genetics. Cambridge University
Press, New York.
Freeland J.R. (2005) Molecular Ecology. John Wiley & Sons Ltd., Chichester.
Fu Y.X. (1997) Statistical tests of neutrality of mutations against population growth, hitchhiking and
background selection. Genetics 147, 915-25.
Gilpin M.E. & Soulé M.E. (1986) Minimum viable populations: processes of species extinction. In:
Conservation biology: the science of scarcity and diversity (ed. by Soulé ME). Sinauer Associates,
Sunderland.
Glanz W.E. (1990) <span style="">Neotropical mammal densities: how unusual is the Barro Colorado Island,
Panama, community? In: Four Neotropical Rainforests (ed. by Gentry AH). Yale University Press,
New Haven.
Gompper M.E. (1995) Nasua narica. In: Mammalian Species, pp. 1-10.
Gompper M.E. (1996) Sociality and asociality in white-nosed coatis (Nasua narica): foraging cost and
benefits. In: Behavioral Ecology, pp. 254-63.
Gompper M.E. (1997) Population ecology of the white-nosed coati (Nasua narica) on Barro Colorado Island,
Panama. Journal of Zoology 241, 441-55.
56
Gompper M.E. & Decker D.M. (1998) Nasua nasua. In: Mammalian Species, pp. 1-9.
Gompper M.E., Gittleman J.L. & Wayne R.K. (1997) Genetic relatedness, coalitions and social behaviour of
white-nosed coatis, Nasua narica. Animal Behaviour 53, 781-97.
Gompper M.E., Gittleman J.L. & Wayne R.K. (1998) Dispersal, philopatry, and genetic relatedness in a social
carnivore: comparing males and females. Molecular Ecology 7, 157-63.
Gompper M.E. & Krinsley J.S. (1992) VARIATION IN SOCIAL-BEHAVIOR OF ADULT MALE COATIS (NASUA-
NARICA) IN PANAMA. Biotropica 24, 216-9.
Gorman G.C. & Renzi J. (1979) GENETIC-DISTANCE AND HETEROZYGOSITY ESTIMATES IN ELECTROPHORETIC
STUDIES - EFFECTS OF SAMPLE-SIZE. Copeia, 242-9.
Goudet J. (1995) FSTAT (Version 1.2): A computer program to calculate F-statistics. Journal of Heredity 86,
485-6.
Goudet J., Raymond M., deMeeus T. & Rousset F. (1996) Testing differentiation in diploid populations.
Genetics 144, 1933-40.
Greenberg B.D., Newbold J.E. & Sugino A. (1983) INTRASPECIFIC NUCLEOTIDE-SEQUENCE VARIABILITY
SURROUNDING THE ORIGIN OF REPLICATION IN HUMAN MITOCHONDRIAL-DNA. Gene 21, 33-49.
Greenwood P.J. (1980) MATING SYSTEMS, PHILOPATRY AND DISPERSAL IN BIRDS AND MAMMALS. Animal
Behaviour 28, 1140-62.
Greenwood P.J. (1983) Mating systems and the evolutionary consequences of dispersal. In: The Ecology of
Animal Movement (eds. by Swingland IR & Greenwood PJ), pp. 116-31. Clarendon Press, Oxford.
Greenwood P.J. & Harvey P.H. (1982) THE NATAL AND BREEDING DISPERSAL OF BIRDS. Annual Review of
Ecology and Systematics 13, 1-21.
Griffith B., Scott J.M., Carpenter J.W. & Reed C. (1989) TRANSLOCATION AS A SPECIES CONSERVATION
TOOL - STATUS AND STRATEGY. Science 245, 477-80.
Hammond R.L., Handley L.J.L., Winney B.J., Bruford M.W. & Perrin N. (2006) Genetic evidence for female-
biased dispersal and gene flow in a polygynous primate. Proceedings of the Royal Society B-
Biological Sciences 273, 479-84.
Hedrick P. (2005a) 'Genetic restoration': a more comprehensive perspective than 'genetic rescue'. Trends in
Ecology & Evolution 20, 109-.
Hedrick P. (2009) Population Genetics and Ecology. In: The Princeton Guide to Ecology (ed. by Levin SA), pp.
110-6. Princeton University Press, New Jersey.
Hedrick P.W. (2005b) Genetics of populations. Jones and Bartlett Publishers, Sudbury.
Hemetrio N.S. (2007) Levantamento populacional de quatis (Procyonidae: Nasua nasua) no Parque das
Mangabeiras, Belo Horizonte, MG. In: Monografia, p. 30. Instituto de Ciências Biológicas,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
Hill W.G. (1974) ESTIMATION OF LINKAGE DISEQUILIBRIUM IN RANDOMLY MATING POPULATIONS.
Heredity 33, 229-39.
Hill W.G. (1981) ESTIMATION OF EFFECTIVE POPULATION-SIZE FROM DATA ON LINKAGE DISEQUILIBRIUM.
Genetical Research 38, 209-16.
Horai S. & Hayasaka K. (1990) INTRASPECIFIC NUCLEOTIDE-SEQUENCE DIFFERENCES IN THE MAJOR
NONCODING REGION OF HUMAN MITOCHONDRIAL-DNA. American Journal of Human Genetics 46,
828-42.
Hurlbert S.H. (1971) NONCONCEPT OF SPECIES DIVERSITY - CRITIQUE AND ALTERNATIVE PARAMETERS.
Ecology 52, 577-&.
Indruziak C. & Eizirik E. (2003) Carnívoros. In: Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Rio
Grande do Sul (eds. by Fontana CS, Bencke GA & Reis RE), pp. 507-34. EDIPUCRS, Porto Alegre.
Ingvarsson P.K. (2001) Restoration of genetic variation lost - The genetic rescue hypothesis. Trends in
Ecology & Evolution 16, 62-3.
Janson C.H. & Emmons L.H. (1990) Ecological structure of the nonflying mammal community at Cocha
Cashu Biological Station, Manu National Park, Peru. In: Four Neotropical Forests (ed. by Gentry AH),
pp. 314-38. Yale University Press, New Haven.
Kalinowski S.T., Taper M.L. & Marshall T.C. (2007) Revising how the computer program CERVUS
accommodates genotyping error increases success in paternity assignment. Molecular Ecology 16,
1099-106.
57
Kalinowski S.T., Wagner A.P. & Taper M.L. (2006) ML-RELATE: a computer program for maximum likelihood
estimation of relatedness and relationship. Molecular Ecology Notes 6, 576-9.
Kaufman J.H. (1962) Ecology and the social behavior of the coati, Nasua narica, on Barro Colorado Island,
Panama. In: University of California Publlications in Zoology, pp. 95-222.
Keller L.F. & Waller D.M. (2002) Inbreeding effects in wild populations. Trends in Ecology & Evolution 17,
230-41.
Kimura M. & Ohta T. (1975) DISTRIBUTION OF ALLELIC FREQUENCIES IN A FINITE POPULATION UNDER
STEPWISE PRODUCTION OF NEUTRAL ALLELES. Proceedings of the National Academy of Sciences of
the United States of America 72, 2761-4.
Kocher T.D., Thomas W.K., Meyer A., Edwards S.V., Paabo S., Villablanca F.X. & Wilson A.C. (1989)
DYNAMICS OF MITOCHONDRIAL-DNA EVOLUTION IN ANIMALS - AMPLIFICATION AND SEQUENCING
WITH CONSERVED PRIMERS. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States
of America 86, 6196-200.
Koepfli K.P., Gompper M.E., Eizirik E., Ho C.C., Linden L., Maldonado J.E. & Wayne R.K. (2007) Phylogeny of
the Procyonidae (Mammalia : Carnivora): Molecules, morphology and the Great American
Interchange. Molecular Phylogenetics and Evolution 43, 1076-95.
Lehman N., Eisenhawer A., Hansen K., Mech L.D., Peterson R.O., Gogan P.J.P. & Wayne R.K. (1991)
INTROGRESSION OF COYOTE MITOCHONDRIAL-DNA INTO SYMPATRIC NORTH-AMERICAN GRAY
WOLF POPULATIONS. Evolution 45, 104-19.
Librado P. & Rozas J. (2009) DnaSP v5: a software for comprehensive analysis of DNA polymorphism data.
Bioinformatics 25, 1451-2.
Luikart G. & Cornuet J.M. (1998) Empirical evaluation of a test for identifying recently bottlenecked
populations from allele frequency data. Conservation Biology 12, 228-37.
Luikart G. & Cornuet J.M. (1999) Estimating the effective number of breeders from heterozygote excess in
progeny. Genetics 151, 1211-6.
Marshall T.C., Slate J., Kruuk L.E.B. & Pemberton J.M. (1998) Statistical confidence for likelihood-based
paternity inference in natural populations. Molecular Ecology 7, 639-55.
Nei M. (1987) Molecular Evolutionary Genetics. Columbia University Press, New York, NY.
Nei M., Maruyama T. & Chakraborty R. (1975) BOTTLENECK EFFECT AND GENETIC-VARIABILITY IN
POPULATIONS. Evolution 29, 1-10.
Nei M. & Tajima F. (1981) GENETIC DRIFT AND ESTIMATION OF EFFECTIVE POPULATION-SIZE. Genetics 98,
625-40.
Palomares F., Gaona P., Ferreras P. & Delibes M. (1995) POSITIVE EFFECTS ON GAME SPECIES OF TOP
PREDATORS BY CONTROLLING SMALLER PREDATOR POPULATIONS - AN EXAMPLE WITH LYNX,
MONGOOSES, AND RABBITS. Conservation Biology 9, 295-305.
Perrin N. (2009) Dispersal. In: The Princeton Guide to Ecology (ed. by Levin SA). Princeton University Press,
New Jersey.
Piry S., Alapetite A., Cornuet J.M., Paetkau D., Baudouin L. & Estoup A. (2004) GENECLASS2: A software for
genetic assignment and first-generation migrant detection. Journal of Heredity 95, 536-9.
Piry S., Luikart G. & Cornuet J.M. (1999) BOTTLENECK: A computer program for detecting recent reductions
in the effective population size using allele frequency data. Journal of Heredity 90, 502-3.
Pollak E. (1983) A NEW METHOD FOR ESTIMATING THE EFFECTIVE POPULATION-SIZE FROM ALLELE
FREQUENCY CHANGES. Genetics 104, 531-48.
Pritchard J.K., Stephens M. & Donnelly P. (2000) Inference of population structure using multilocus
genotype data. Genetics 155, 945-59.
Pudovkin A.I., Zaykin D.V. & Hedgecock D. (1996) On the potential for estimating the effective number of
breeders from heterozygote-excess in progeny. Genetics 144, 383-7.
Queller D.C., Strassmann J.E. & Hughes C.R. (1993) MICROSATELLITES AND KINSHIP. Trends in Ecology &
Evolution 8, 285-&.
Ralls K., Ballou J.D. & Templeton A. (1988) Estimates of Lethal Equivalents and the Cost of Inbreeding in
Mammals. In: Conservation Biology, pp. 185-93.
Rannala B. & Mountain J.L. (1997) Detecting immigration by using multilocus genotypes. Proceedings of the
National Academy of Sciences of the United States of America 94, 9197-201.
58
Raymond M. & Rousset F. (1995a) An exact test for population differentiation. Evolution 49, 1280-3.
Raymond M. & Rousset F. (1995b) GENEPOP (VERSION-1.2) - POPULATION-GENETICS SOFTWARE FOR
EXACT TESTS AND ECUMENICISM. Journal of Heredity 86, 248-9.
Redford K.H. (1992) THE EMPTY FOREST. Bioscience 42, 412-22.
Redford K.H. & Stearman A.M.L. (1993) Notas sobre la biologia de tres procionidos simpatricos bolivianos
(Mammalia, Procyonidae). In: Ecologia en Bolivia, pp. 35-44.
Rogers C.M. & Caro M.J. (1998) Song sparrows, top carnivores and nest predation: a test of the
mesopredator release hypothesis. Oecologia 116, 227-33.
Rosenberg N.A. (2004) DISTRUCT: a program for the graphical display of population structure. Molecular
Ecology Notes 4, 137-8.
Rousset F. & Raymond M. (1995) TESTING HETEROZYGOTE EXCESS AND DEFICIENCY. Genetics 140, 1413-9.
Russel J.K. (1982) Timing of reproduction by coatis (Nasua narica) in relation to fluctuations in food
resources. In: The Ecology of a Tropical Forest (eds. by Leigh Jr. EG, Rand AS & Windsor DM), pp.
413-31. Smithsonian Institution Press, Washington.
Russel J.K. (1983) Altruism in coatis bands: nepotism or reciprocity? In: Social behavior of female
vertebrates (ed. by Wasser SK), pp. 263-90. Academic Press.
Russell J.K. (1981) EXCLUSION OF ADULT MALE COATIS FROM SOCIAL-GROUPS - PROTECTION FROM
PREDATION. Journal of Mammalogy 62, 206-8.
Saccheri I.J., Wilson I.J., Nichols R.A., Bruford M.W. & Brakefield P.M. (1999) Inbreeding of bottlenecked
butterfly populations: Estimation using the likelihood of changes in marker allele frequencies.
Genetics 151, 1053-63.
Saccone C., Pesole G. & Sbisa E. (1991) THE MAIN REGULATORY REGION OF MAMMALIAN
MITOCHONDRIAL-DNA - STRUCTURE-FUNCTION MODEL AND EVOLUTIONARY PATTERN. Journal of
Molecular Evolution 33, 83-91.
Sambrook J. & Russell D.W. (2001) Molecular cloning: A Laboratory Manual. Cold Spring Harbor Laboratory
Press.
Sarrazin F. & Legendre S. (2000) Demographic approach to releasing adults versus young in reintroductions.
Conservation Biology 14, 488-500.
Schaller G.B. (1983) Mammals and their biomas on a Brazilian ranch. In: Arquivos em Zoologia, pp. 1-36, São
Paulo.
Schlotterer C. & Tautz D. (1992) SLIPPAGE SYNTHESIS OF SIMPLE SEQUENCE DNA. Nucleic Acids Research
20, 211-5.
Silva J.M.C., Tabarelli M., Fonseca M.T. & Lins L.V. Biodiversidade da Caatinga: áreas e ações primárias.
Ministério do Meio Ambiente, Brasília.
Sinclair A.R.E., Fryxell J.M. & Caughley G. (2006) Wildlife Ecology, Conservation and Management. Blackell
Science, Blackwell Publishing, Malden, MA.
Slate J., Marshall T. & Pemberton J. (2000) A retrospective assessment of the accuracy of the paternity
inference program CERVUS. Molecular Ecology 9, 801-8.
Slatkin M. (1985) GENE FLOW IN NATURAL-POPULATIONS. Annual Review of Ecology and Systematics 16,
393-430.
Slatkin M. (1995) A MEASURE OF POPULATION SUBDIVISION BASED ON MICROSATELLITE ALLELE
FREQUENCIES. Genetics 139, 457-62.
Slatkin M. & Hudson R.R. (1991) PAIRWISE COMPARISONS OF MITOCHONDRIAL-DNA SEQUENCES IN
STABLE AND EXPONENTIALLY GROWING POPULATIONS. Genetics 129, 555-62.
Snyder N.F.R., Derrickson S.R., Beissinger S.R., Wiley J.W., Smith T.B., Toone W.D. & Miller B. (1996)
Limitations of captive breeding in endangered species recovery. Conservation Biology 10, 338-48.
Sudbery P. (1998) Human molecular genetics. Addison Wesley, Essex.
Taberlet P. (1996) The Use of Mitochondria! DNA Control Region Sequencing in Conservation Genetics. In:
Molecular Genetic Approaches in Conservation (eds. by Smith TB & Waynr RK), pp. 125-42. Oxford
University Press, New York.
Tajima F. (1983) EVOLUTIONARY RELATIONSHIP OF DNA-SEQUENCES IN FINITE POPULATIONS. Genetics
105, 437-60.
59
Tajima F. (1989) STATISTICAL-METHOD FOR TESTING THE NEUTRAL MUTATION HYPOTHESIS BY DNA
POLYMORPHISM. Genetics 123, 585-95.
Tajima F. (1993) Measurement of DNA polymorphism. In: Mechanisms of Molecular Evolution. Introduction
to Molecular Paleopopulation Biology (eds. by Takahata N & Clark AG), pp. 37-59. Japan Scientific
Societies Press, Sinauer Associates, Tokyo.
Tallmon D.A., Koyuk A., Luikart G. & Beaumont M.A. (2008) ONeSAMP: a program to estimate effective
population size using approximate Bayesian computation. Molecular Ecology Resources 8, 299-301.
Tallmon D.A., Luikart G. & Waples R.S. (2004) The alluring simplicity and complex reality of genetic rescue.
Trends in Ecology & Evolution 19, 489-96.
Tegelstrom H. (1987) TRANSFER OF MITOCHONDRIAL-DNA FROM THE NORTHERN RED-BACKED VOLE
(CLETHRIONOMYS-RUTILUS) TO THE BANK VOLE (CLETHRIONOMYS-GLAREOLUS). Journal of
Molecular Evolution 24, 218-27.
Valenzuela D. & Macdonald D.W. (2002) Homerange use by white-nosed coatis (Nasua narica): limited
water and a test of the resource dispersion hypothesis. In: Journal of Zoology, pp. 247-56.
Van Dyke F. (2008) Conservation Biology: foundations, concepts, applications. Springer Science and Business
Media B.V., New York.
Vitalis R. & Couvet D. (2001) Estimation of effective population size and migration rate from one- and two-
locus identity measures. Genetics 157, 911-25.
Waples R.S. (1989) A GENERALIZED-APPROACH FOR ESTIMATING EFFECTIVE POPULATION-SIZE FROM
TEMPORAL CHANGES IN ALLELE FREQUENCY. Genetics 121, 379-91.
Waples R.S. (2006) A bias correction for estimates of effective population size based on linkage
disequilibrium at unlinked gene loci. Conservation Genetics 7, 167-84.
Waples R.S. & Do C. (2008) LDNE: a program for estimating effective population size from data on linkage
disequilibrium. Molecular Ecology Resources 8, 753-6.
Williamson E.G. & Slatkin M. (1999) Using maximum likelihood to estimate population size from temporal
changes in allele frequencies. Genetics 152, 755-61.
Wilson E.O. (1992) The Diversity of Life. Harvard University Press, Cambridge.
Wisely S.M., Santymire R.M., Livieri T.M., Mueting S.A. & Howard J. (2008) Genotypic and phenotypic
consequences of reintroduction history in the black-footed ferret (Mustela nigripes). Conservation
Genetics 9, 389-99.
Wozencraft W.C. (2005) Order Carnivora. In: Mammal Species of the World: A taxonomic and geographic
reference (eds. by Wilson DE & Reeder DM), pp. 279-348. The Johns Hopkins University Press,
Baltimore.
Wright S. (1951) THE GENETICAL STRUCTURE OF POPULATIONS. Annals of Eugenics 15, 323-54.
Wright S. (1990) EVOLUTION IN MENDELIAN POPULATIONS (REPRINTED FROM GENETICS, VOL 16, PG 97-
159, 1931). Bulletin of Mathematical Biology 52, 241-95.
Zane L., Bargelloni L. & Patarnello T. (2002) Strategies for microsatellite isolation: a review. Molecular
Ecology 11, 1-16.
Zeveloff S.I. (2002) Raccons: a natural history. Smithsonian Institution, Washington.
60
ANEXO I
INDIVÍDUOS UTILIZADOS NAS ANÁLISES DO PRESENTE ESTUDO , COM RESPECTIV OS
SEXOS , CLASSES ETÁRIAS , ANO DE CAPTURA E BANDOS , DIVIDIDOS POR POPULAÇÃO
E IDENTIFICADOS PELO NÚMERO DO BANCO DE DNA DO ICB/UFMG.
POPULAÇÃO: BAL
ID Sexo Classe etária Ano Bando M1403 M Jovem 2010 ?
POPULAÇÃO: CAP
ID Sexo Classe etária Ano Bando M1207 M Infante 2010 Camping M1208 F Idoso 2010 Camping M1209 F Adulto 2010 Camping M1210 F Subadulto 2010 Camping M1211 M Subadulto 2010 Camping M1232 F Adulto 2010 Camping M1234 F Adulto 2010 Camping M1236 F Adulto 2010 Camping M1237 F Infante 2010 Camping M1238 M Infante 2010 Camping M1240 M Infante 2010 Camping M1241 F Infante 2010 Camping M1242 M Subadulto 2010 Camping M1330 M Jovem 2010 Camping M1212 F Infante 2010 Portaria M1213 F Adulto 2010 Portaria M1231 M Subadulto 2010 Portaria M1233 M Subadulto 2010 Portaria M1239 M Subadulto 2010 Portaria M1235 M Adulto 2010 solit/camping
POPULAÇÃO: DAV
ID Sexo Classe etária
Ano Bando
M1349 ? ? 2010 ?
POPULAÇÃO: MAN
ID Sexo Classe(s) etária(s) Ano(s) M1255 F Adulto 2007 M1245 F Adulto 2007, 2008 M1289 F Adulto 2007 M1252 F Adulto 2007, 2009 M1279 F Adulto 2007, 2009 M1254 F Adulto, Idoso 2007, 2009 M1042 F Adulto 2007, 2010 M1006 F Adulto 2007 M1010 F Adulto 2007
61
ID Sexo Classe(s) etária(s) Ano(s) M1011 F Adulto 2007 M1014 M Adulto 2007 M1015 F Adulto 2007 M1016 F Adulto 2007 M1017 F Adulto 2007 M1018 F Adulto 2007 M1026 F Adulto 2007 M1030 F Adulto 2007 M1036 F Adulto 2007 M1038 F Adulto 2007 M1043 M Adulto 2007 M1044 F Adulto 2007 M1045 F Adulto 2007 M1046 F Adulto 2007 M1048 F Adulto 2007 M1049 F Adulto 2007 M1050 F Adulto 2007 M1053 M Adulto 2007 M1054 F Adulto 2007 M1055 F Adulto 2007 M1056 F Adulto 2007 M1057 F Adulto 2007 M1058 F Adulto 2007 M1059 F Adulto 2007 M1064 F Adulto 2007 M1066 F Adulto 2007 M1067 F Adulto 2007 M1072 F Adulto 2007 M1073 M Adulto 2007 M1077 F Adulto 2007 M1085 F Adulto 2007 M1087 F Adulto 2007 M1290 F Adulto 2007 M1276 F Infante, Subadulto, Adulto 2007, 2008, 2009 M1076 M Infante, Subadulto 2007, 2008 M1079 M Infante, Subadulto 2007, 2008 M1047 F Infante, Adulto 2007, 2009 M1069 F Infante, Adulto 2007, 2010 M1007 M Infante 2007 M1013 M Infante 2007 M1019 M Infante 2007 M1020 M Infante 2007 M1021 F Infante 2007 M1022 M Infante 2007 M1023 F Infante 2007 M1024 F Infante 2007 M1025 F Infante 2007 M1027 F Infante 2007 M1028 M Infante 2007 M1029 M Infante 2007 M1032 M Infante 2007 M1033 F Infante 2007 M1035 F Infante 2007 M1039 F Infante 2007 M1040 M Infante 2007
62
ID Sexo Classe(s) etária(s) Ano(s) M1041 M Infante 2007 M1051 M Infante 2007 M1052 F Infante 2007 M1060 F Infante 2007 M1061 F Infante 2007 M1062 F Infante 2007 M1068 F Infante 2007 M1071 F Infante 2007 M1074 M Infante 2007 M1075 M Infante 2007 M1078 F Infante 2007 M1080 M Infante 2007 M1081 M Infante 2007 M1082 M Infante 2007 M1083 F Infante 2007 M1084 M Infante 2007 M1012 F Subadulto 2007 M1031 M Subadulto 2007 M1037 M Subadulto 2007 M1063 M Subadulto 2007 M1065 M Subadulto 2007 M1070 F Subadulto 2007 M1086 F Subadulto 2007 M1088 M Subadulto 2007 M1251 M Subadulto 2007 M1303 M Subadulto 2007 M1247 F Adulto 2008 M1260 F Infante, Adulto 2008, 2009 M1304 F Infante 2008 M1328 M Infante 2008 M1264 F Jovem 2008 M1249 F Subadulto 2008 M1259 F Adulto 2009, 2010 M1262 M Adulto 2009, 2010 M1246 F Adulto 2009 M1283 F Adulto 2009 M1287 M Adulto 2009 M1331 F Infante, Adulto 2009, 2010 M1271 M Infante 2009, 2010 M1281 F Infante, Jovem 2009, 2010 M1226 M Infante 2009 M1228 M Infante 2009 M1229 M Infante 2009 M1258 F Infante 2009 M1268 F Infante 2009 M1270 M Infante 2009 M1273 M Infante 2009 M1284 F Infante 2009 M1285 M Infante 2009 M1300 F Jovem, Adulto 2009, 2010 M1329 F Jovem, Adulto 2009, 2010 M1244 M Jovem 2009, 2010 M1250 M Jovem, Subadulto 2009, 2010 M1248 M Jovem 2009 M1263 M Jovem 2009 M1265 M Jovem 2009
63
ID Sexo Classe(s) etária(s) Ano(s) M1266 M Jovem 2009 M1278 F Jovem 2009 M1288 F Jovem 2009 M1267 M Subadulto 2009 M1275 M Subadulto 2009 M1277 M Subadulto 2009 M1282 F Subadulto 2009 M1308 M Adulto 2010 M1327 F Adulto 2010 M1352 F Adulto 2010 M1214 F Infante 2010 M1217 M Infante 2010 M1218 F Infante 2010 M1219 M Infante 2010 M1225 M Infante 2010 M1230 ? Infante 2010 M1293 F Infante 2010 M1297 F Infante 2010 M1313 F Infante 2010 M1321 M Infante 2010 M1335 F Infante 2010 M1215 M Jovem 2010 M1221 M Jovem 2010 M1222 M Jovem 2010 M1223 F Jovem 2010 M1294 F Jovem 2010 M1295 F Jovem 2010 M1298 M Jovem 2010 M1307 F Jovem 2010 M1316 M Jovem 2010 M1319 F Jovem 2010 M1320 M Jovem 2010 M1322 M Jovem 2010 M1324 M Jovem 2010 M1350 M Jovem 2010 M1351 M Jovem 2010 M1367 M Jovem 2010 M1388 M Jovem 2010 M1390 M Jovem 2010 M1393 M Jovem 2010 M1404 M Jovem 2010 M1405 M Jovem 2010 M1216 M Subadulto 2010 M1220 F Subadulto 2010 M1224 M Subadulto 2010 M1314 F Subadulto 2010 M1323 F Subadulto 2010 M1353 F Subadulto 2010 M1395 F Subadulto 2010
POPULAÇÃO: NLI
ID Sexo Classe(s) etária(s) Ano(s) Bando M1269 M Infante, Adulto 2008, 2010 Família M1272 F Infante, Adulto 2008, 2010 Família M1400 M Infante 2010 Família
64
M1401 F Infante 2010 Família M1402 F Infante 2010 Família M1310 M Adulto 2010 ? M1325 M Infante, Adulto 2008, 2010 ?
POPULAÇÃO: PET
ID Sexo Classe(s) etária(s) Ano(s) Bando M1389 M Adulto 2010 Rio M1394 F Idoso 2010 Rio
POPULAÇÃO: SEP
ID Sexo Classe(s) etária(s) Ano(s) Bando M1396 F ? 2003 ? M1339 M Subadulto 2010 Laranja M1340 F Idoso 2010 Laranja M1347 F Adulto 2010 Laranja M1348 F Adulto 2010 Laranja M1336 F Subadulto 2010 Pedras M1337 F Adulto 2010 Pedras M1338 M Subadulto 2010 Pedras M1342 F Adulto 2010 Pedras M1343 M Subadulto 2010 Pedras M1344 M Subadulto 2010 Pedras M1345 F Adulto 2010 Pedras M1346 M Adulto 2010 Pedras M1341 M Adulto 2010 Solitário
POPULAÇÃO DESCONHECIDA
ID Sexo Classe(s) etária(s) Ano(s) Bando M1355 M Adulto 2010 ?
65
ANEXO II
RESULTADOS DOS TESTES DE MATERNIDADE E PATERNIDADE REALIZADOS ATRAVÉS
DO PROGRAMA CERVUS , POR POPULAÇÃO .
POPULAÇÃO: CAP
Filhote N. locos tipados
Mãe N. locos tipados
N. locos comaparados
N. locos incompatíveis
Valor LOD do par
Valor Delta do par
M1240 6 M1236 7 6 0 2.44E+00 2.44E+00
Filhote N. locos tipados
Pai N. locos tipados
N. locos comaparados
N. locos incompatíveis
Valor LOD do par
Valor Delta do par
M1237 6 M1235 7 6 0 3.39E+00 3.39E+00 M1241 6 M1235 7 6 0 1.31E+00 1.31E+00 M1210 6 M1235 7 6 0 3.86E+00 3.86E+00 M1240 6 M1235 7 6 0 9.13E-01 9.13E-01
POPULAÇÃO: MAN 2007
Filhote N. locos tipados
Mãe N. locos tipados
N. locos comaparados
N. locos incompatíveis
Valor LOD do par
Valor Delta do par
M1013 5 M1056 5 5 0 3.24E+00 7.25E-01 M1019 5 M1056 5 5 0 1.04E+00 0.00E+00 M1020 5 M1026 5 5 0 4.03E+00 1.37E+00 M1020 5 M1085 5 5 0 2.66E+00 0.00E+00 M1023 5 M1067 5 5 0 1.88E+00 8.34E-01 M1024 5 M1049 5 5 0 1.92E+00 3.59E-01 M1024 5 M1067 5 5 0 1.29E+00 0.00E+00 M1025 5 M1056 5 5 0 1.94E+00 0.00E+00 M1025 5 M1044 5 5 0 1.42E+00 0.00E+00 M1027 5 M1017 5 5 0 2.54E+00 0.00E+00 M1027 5 M1289 5 5 0 2.54E+00 0.00E+00 M1028 5 M1026 5 5 0 9.40E-01 0.00E+00 M1028 5 M1085 5 5 0 9.40E-01 0.00E+00 M1032 5 M1059 5 5 0 3.38E+00 7.90E-01 M1035 5 M1064 5 5 0 2.01E+00 1.95E-01 M1035 5 M1059 5 5 0 1.82E+00 0.00E+00 M1039 5 M1056 5 5 0 1.73E+00 0.00E+00 M1040 5 M1067 5 5 0 2.11E+00 1.02E+00 M1041 5 M1057 5 5 0 1.50E+00 0.00E+00 M1041 5 M1011 5 5 0 1.50E+00 0.00E+00 M1047 5 M1030 5 5 0 3.25E+00 1.28E+00 M1047 5 M1015 5 5 0 1.12E+00 0.00E+00 M1051 5 M1056 5 5 0 1.72E+00 9.30E-01 M1061 5 M1056 5 5 0 2.21E+00 2.21E+00 M1062 5 M1044 5 5 0 1.42E+00 0.00E+00 M1062 5 M1072 5 5 0 2.72E+00 4.12E-01 M1071 5 M1057 5 5 0 1.48E+00 0.00E+00 M1071 5 M1011 5 5 0 1.48E+00 0.00E+00 M1080 5 M1056 5 5 0 7.42E-01 0.00E+00 M1080 5 M1044 5 5 0 7.35E-01 0.00E+00 M1081 5 M1064 5 5 0 3.45E+00 8.84E-01
66
Filhote N. locos tipados
Mãe N. locos tipados
N. locos comaparados
N. locos incompatíveis
Valor LOD do par
Valor Delta do par
M1083 5 M1011 5 5 0 1.20E+00 0.00E+00 M1083 5 M1056 5 5 0 1.04E+00 0.00E+00 M1012 5 M1006 5 5 0 2.84E+00 1.21E+00 M1012 5 M1006 5 5 0 2.84E+00 1.21E+00 M1031 5 M1049 5 5 0 3.71E+00 9.74E-01 M1065 5 M1056 5 5 0 1.94E+00 0.00E+00 M1065 5 M1044 5 5 0 1.42E+00 0.00E+00 M1088 5 M1085 5 5 0 1.26E+00 0.00E+00 M1303 5 M1057 5 5 0 2.95E+00 4.88E-01 M1303 5 M1016 5 5 0 2.46E+00 0.00E+00
Filhote N. locos tipados
Pai N. locos tipados
N. locos comaparados
N. locos incompatíveis
Valor LOD do par
Valor Delta do par
M1013 5 M1014 5 5 0 1.64E+00 1.18E+00 M1013 5 M1073 5 5 0 4.54E-01 0.00E+00 M1019 5 M1014 5 5 0 1.43E+00 1.43E+00 M1023 5 M1053 5 5 0 1.62E+00 1.62E+00 M1024 5 M1053 5 5 0 9.81E-01 9.81E-01 M1025 5 M1053 5 5 0 1.23E+00 1.23E+00 M1027 5 M1053 5 5 0 9.77E-01 9.77E-01 M1032 5 M1014 5 5 0 7.53E-01 7.53E-01 M1040 5 M1053 5 5 0 2.05E+00 2.05E+00 M1041 5 M1014 5 5 0 2.12E+00 2.12E+00 M1047 5 M1053 5 5 0 -1.30E-01 0.00E+00 M1061 5 M1053 5 5 0 9.40E-01 9.40E-01 M1071 5 M1053 5 5 0 2.73E+00 6.18E-01 M1083 5 M1053 5 5 0 1.23E+00 1.23E+00 M1012 5 M1014 5 5 0 2.99E+00 0.00E+00 M1012 5 M1043 5 5 0 3.46E+00 4.69E-01 M1031 5 M1073 5 5 0 3.84E+00 2.34E+00 M1031 5 M1014 5 5 0 1.49E+00 0.00E+00 M1065 5 M1053 5 5 0 1.23E+00 1.23E+00 M1088 5 M1014 5 5 0 1.82E+00 6.75E-01 M1303 5 M1053 5 5 0 2.54E+00 2.54E+00
POPULAÇÃO: MAN 2009
Filhote N. locos tipados
Mãe N. locos tipados
N. locos comaparados
N. locos incompatíveis
Valor LOD do par
Valor Delta do par
M1281 5 M1283 5 5 0 2.32E+00 2.32E+00 M1268 5 M1047 5 5 0 -3.23E-01 0.00E+00 M1273 5 M1047 5 5 0 -1.30E-01 0.00E+00 M1300 5 M1047 5 5 0 -9.06E-01 0.00E+00 M1300 5 M1283 5 5 0 9.34E-01 9.34E-01 M1244 5 M1047 5 5 0 8.29E-01 8.29E-01 M1288 5 M1047 5 5 0 1.09E+00 1.09E+00 M1282 5 M1283 5 5 0 6.48E-01 0.00E+00 M1282 5 M1047 5 5 0 -9.51E-01 0.00E+00
POPULAÇÃO: MAN 2010
Filhote N. locos tipados
Mãe N. locos tipados
N. locos comaparados
N. locos incompatíveis
Valor LOD do par
Valor Delta do par
67
Filhote N. locos tipados
Mãe N. locos tipados
N. locos comaparados
N. locos incompatíveis
Valor LOD do par
Valor Delta do par
M1214 5 M1069 5 5 0 1.41E+00 0.00E+00 M1217 5 M1042 5 5 0 1.96E+00 1.76E-01 M1217 5 M1069 5 5 0 1.78E+00 0.00E+00 M1219 5 M1300 5 5 0 2.31E+00 2.90E-01 M1223 5 M1327 5 5 0 1.04E+00 0.00E+00 M1223 5 M1300 5 5 0 1.13E+00 9.39E-02 M1224 5 M1069 5 5 0 4.88E-01 4.88E-01 M1244 5 M1327 5 5 0 1.04E+00 1.04E+00 M1281 5 M1300 5 5 0 9.34E-01 9.34E-01 M1297 5 M1300 5 5 0 1.51E+00 8.51E-01 M1313 5 M1327 5 5 0 1.04E+00 1.04E+00 M1314 5 M1300 5 5 0 3.52E+00 3.52E+00 M1322 5 M1327 5 5 0 1.03E+00 1.39E-01 M1322 5 M1300 5 5 0 -5.31E-01 0.00E+00 M1323 5 M1042 5 5 0 1.63E+00 1.16E+00 M1335 5 M1327 5 5 0 1.72E+00 1.72E+00 M1353 5 M1327 5 5 0 2.45E+00 2.31E+00
Filhote N. locos tipados
Pai N. locos tipados
N. locos comaparados
N. locos incompatíveis
Valor LOD do par
Valor Delta do par
M1217 5 M1308 5 5 0 3.06E+00 3.06E+00 M1307 5 M1308 5 5 0 2.72E-01 2.72E-01 M1323 5 M1308 5 5 0 1.20E+00 1.20E+00 M1353 5 M1308 5 5 0 -2.03E-01 0.00E+00
POPULAÇÃO: NLI (APENAS TESTE DE PATERNIDADE)
Filhote N. locos tipados
Pai N. locos tipados
N. locos comaparados
N. locos incompatíveis
Valor LOD do par
Valor Delta do par
M1400 6 M1355 5 5 0 4.33E-01 4.33E-01 M1401 5 M1355 5 5 0 -6.12E-02 0.00E+00 M1402 6 M1355 5 5 0 1.32E+00 1.32E+00
POPULAÇÃO: SEP
Filhote N. locos tipados
Mãe N. locos tipados
N. locos comaparados
N. locos incompatíveis
Valor LOD do par
Valor Delta do par
M1339 7 M1348 5 5 0 1.06E+00 1.06E+00 M1343 7 M1347 5 5 0 8.78E-01 8.78E-01
Filhote N. locos tipados
Pai N. locos tipados
N. locos comaparados
N. locos incompatíveis
Valor LOD do par
Valor Delta do par
M1336 7 M1341 7 7 0 1.09E+00 1.09E+00 M1338 7 M1341 7 7 0 9.23E-01 9.23E-01 M1344 7 M1341 7 7 0 1.93E+00 1.93E+00