do brasil Às amÉricas: a memÓria social e coletiva a partir dos ex-votos

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  • 8/12/2019 DO BRASIL S AMRICAS: A MEMRIA SOCIAL E COLETIVA A PARTIR DOS EX-VOTOS.

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    36 ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS;

    GT19 - Memria social, museus e patrimnios:

    novas construes de sentidos e experincias de transdisciplinaridade

    Ttulo do trabalho:

    DO BRASIL S AMRICAS:

    A MEMRIA SOCIAL E COLETIVA A PARTIR DOS EX-VOTOS.

    Autor:

    JOS CLUDIO ALVES DE OLIVEIRA

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    RESUMO:

    O objeto de estudo deste texto o ex-voto, testemunho colocado atravs dadesobriga em salas de milagres de igrejas e santurios catlicos, em formas variadas debilhetes, esculturas, quadros pictricos, fotografias, mechas de cabelo, enfim umainfinidade de objetos que ficam no espao denominado de milagres. Encontradostambm em museus, os ex-votos so mdias ou documentos representativos damemria social e coletiva que elucidam, alm do agradecimento dos fatos ocorridos, a f,a devoo, o amor, a morte, os desejos, as angstias, as alegrias, enfim, uma variao desentimentos que transcendem geraes e se mantem num ritmo de uma tradio queremonta perodos anteriores a Cristo.

    O presente tema traz como cases dois Projetos de pesquisa financiados pelo

    Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico, Universidade Federalda Bahia e a Fundao de Amparo Pesquisa da Bahia.O primeiro, denominado Ex-votos do Brasil (2006-2011) mapeou, iconografou e

    estudou ex-votos de salas de milagres, cruzeiros e museus do sul ao norte do Brasil. Osegundo (2012 -), passa para a etapa internacional, que objetiva a anlise iconogrfica etipolgica dos ex-votos dos Estados Unidos ao Uruguai. o Projeto Ex-votos dasAmricas, que alm de notabilizar o objeto ex-votivo como riqueza da memria social,buscar verificar similitudes e divergncias diante da rica tipologia encontrada no Brasil.Riqueza que enaltece histrias, estrias, acontecimentos, marcos de pessoas ocultas deuma historiografia oficial, mas que se notabilizam em espaos (con) sagrados queelucidam o universo da memria social.

    1. CONTRIBUTOS PARA A MEMRIA SOCIAL: RESULTADOS

    O ex-voto, testemunho colocado atravs da desobriga em salas de milagres de

    igrejas e santurios catlicos, em formas variadas de bilhetes, esculturas, quadros

    pictricos, fotografias, mechas de cabelo, CDs, DVDs, monculos, enfim uma infinidadede objetos que ficam no espao denominado de milagres, traz ao pblico, e leva a

    Deus, mensagens, histrias.

    Em um dicionrio da lngua portuguesa encontra-se a seguinte definio:

    Quadro, imagem, inscrio ou rgo de cera ou madeira etc., que se oferece e se expe

    numa igreja ou numa capela em comemorao a um voto ou promessa cumpridos.

    (FERREIRA, Apud OLIVEIRA, 2009).

    As enciclopdias nacionais brasileiras seguem a mesma linha definidora do

    dicionrio, ao conceituarem o ex-voto como quadro ou objeto suspenso em lugar santo,

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    em cumprimento de promessa ou de memria de graa obtida. Ou ainda definindo-o

    como expresso de culto que quase sempre assume forma retributiva, concretizada na

    oferta de elementos materiais, em agradecimento de qualquer interveno miraculosa ou

    graa recebida. (Id.)

    Esculpio, mdico na Antiguidade, na Grcia, recebia daqueles a quem curava, a

    reproduo do brao, perna ou cabea do doente. Objetos que traziam em suas formas os

    traos, as marcas e os sinais, artisticamente detalhados, dos males ocorridos nas referidas

    partes do corpo. Esse costume se generalizou a partir dos gregos, tomando conta, por

    volta de 2000 a.C., de grande parte do Mediterrneo, em locais sagrados, santurios, onde

    os crentes pagavam suas promessas aos seus deuses. Os santurios de Delos, Delfos e

    Epidauro, na Grcia, notabilizaram-se pela quantidade e qualidade das ofertas recebidas.

    (Ib)

    Hoje, no mundo, os pequenos e grandes santurios catlicos apresentam acervos

    efmeros em suas salas de milagres. Objetos que ficam por pouco tempo nas salas.

    Objetos que vo para museus, e outros que simplesmente somem por algum tipo de

    descarte. Salas famosas como as de Nossa Senhora Aparecida, no Brasil, Guadalupe, no

    Mxico, Lourdes, na Frana e outras, apresentam a riqueza tipolgica desses objetos.

    Os objetos ex-votivos, em sua rica tipologia, primam-se de riqueza e se

    encontram multidisciplinarmente, passveis de estudos em diversas cincias: so

    testemunhos histricos, fontes artsticas, media da cultura popular, da religiosidade

    catlica; testemunhos que atestam variados valores do homem, e que, por atestarem,

    mostram-se em mltiplas linguagens, desafios para as cincias das letras e da

    comunicao.

    So quase que infinitos os tipos de ex-votos conhecidos, os tradicionais (v. figuras

    1 e 2) condicionando-se o maior nmero de determinado modelo ao prprio meio

    geogrfico, embora isso no tenha carter determinante, pois encontraremos modelos

    nordestinos na regio Sul do Brasil, como podemos notar no Centro-Oeste tambm uma

    tipologia encontrada no Norte e Sul.

    Claro que estticas sero predominantes em suas regies, mas os modelos se

    dissipam por regies afora e alm das terras brasileiras, mesmo com similitudes, como

    nos casos de Guadalupe, no Mxico, e das divergncias tipolgicas nos EUA e alguns

    pases centro-americanos e do Caribe. Toda essa aproximao e riqueza tipolgica

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    demonstram a expanso das romarias e peregrinaes no mundo catlico, que traz uma

    tradio milenar.

    As pinturas ex-votivas mexicanas, semelhana das portuguesas, so quase sempre

    de aspectos ingnuo. (Figura 2) Nelas o emprego da tcnica em que a disposio dos

    elementos explicita a cena e apario do santo invocado. No plano inferior destaca-se a

    verbete relatando a passagem histrica mostrada numa cena congelada entre um leito

    com dossel azul e o enfermo embrulhado em cobertor branco e rosa, do lado direito do

    espectador a imagem do Bom Jesus de Matosinhos entre nuvens. O verbete traz:

    El dia 7 de mayo de 1961 se volco um carro com peregrinos del Pueblo deSanta Ana Necoxtla que veniamos procedentes de San Miguel del Milagro y salimostodos com bien por (...) que em accion de gracias dedicamos el precene a la milagrosaimagen de San Miguel que se venera en este lugar.

    Septiembre 20 de 1961 (1)

    Fig. 1. Ex-votos tradicionais em Juazeirodo Norte, CE.

    Fig. 2. Ex-voto tradicional em San Miguel, Potos,Mxico

    Trata-se de um exemplar do sculo XX, que retrata, no s a f, mas um acontecimento

    histrico daqueles que estavam numa viagem. Retrato da histria de vida de cada pessoa salva.

    Retrato daquele que trouxe ao pblico o acontecimento que testemunhado em um dos suportes da

    memria, veiculado pela tradio ex-votiva.

    O exemplo do ex-voto da famlia Ramos, documentado em San Miguel del Milagro, no

    Mxico, reflete no universo que gira entre a sade e o fator econmico. O exemplo (Figura 3)

    ilustra o lado individual pela consagrao aps uma cirurgia, e em seguida a compra de um bem

    material, o carro. Memria social recorrente a uma famlia, cujo trao histrico est escondido

    1Transcrio ipis literis, sem a sintaxe gramatical. T.A.

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    das grandes mdias, como os museus, mas divulgada e socializada numa sala que traz uma

    tradio milenar.

    Em outros casos similares, como nas tbuas votivas setecentistas, em Minas Gerais,

    clssicas, h o predomnio de quadros que representam doentes que muitas vezes encontram-se

    deitados na cama do quarto, cercado por parentes que rezam juntos, diante da imagem do

    padroeiro que pode vir como um pequeno quadro na parede ou surgindo entre nuvens, numa

    meno de presena e apoio aos pedidos. Travesseiros e lenis, na maioria dos exemplos,

    brancos, que demonstram o capricho do pintor nos detalhes das rendas e bordados, assim como

    nos desenhos da colcha adamascada, que d um toque colorido ao conjunto. Neste caso

    brasileiro, o testemunho da doena, do ambiente, dos usos e costumes da poca.

    SAN MIGUEL DEL MILAGRO

    Te doy las gracias por clida bien de mi operacionpor darmos la suerte de tener buena produccin detuna para poder comprar una camioneta pero sobretodo tener una buena () en mi familia y gozar desalud

    GraciasFamilia Ramos ()

    Fig. 3. Ex-votos em desenhoSala de milagres San Miguel, Potos, Mxico.

    O que percebemos hoje a rica tipologia que se estende por salas de milagres, isento de

    quaisquer regionalismos que possam existir. No Brasil, podemos perceber ex-votos esculpidos,

    embora de parafina, em Congonhas e em Aparecida, da mesma forma que o vemos em Juazeiro

    do Norte. O que se deve ressalvar que a estrutura em madeira mais predominante no

    Nordeste, mas que, diminutamente, se encontra em So Paulo e em Minas Gerais. Assim como a

    rica pintura em Matosinhos, que em esttica diferenciada pode ser encontrada no Bomfim deSalvador e Trindade, em Gois.

    O ex-voto, aps a desobriga, ser o testemunho da crena religiosa, dos traos

    culturais de comunidades e sociedades, de uma famlia, de uma poca. Ele, junto a tantos

    outros no espao da sala de milagres, ser uma variedade documental que reflete e

    registra a memria coletiva, esteja ela imbuda de valores sociais ou culturais.

    Como documento, o ex-voto testemunha vrios tipos de atitudes do homem,

    sobretudo as ambies, o medo, a felicidade, o amor etc., expresses vistas em bilhetes,

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    cartas, maquetes, cabeas, objetos industriais e uma infinita tipologia ex-votiva que vem

    se renovando em diversos suportes que acompanham a contemporaneidade. (Figura 4)

    Fig. 4. Variao de ex-votos em Matosinhos, MG, Brasil.Detalhe para os DVDs de bodas de ouro

    Para Michel Vovelle (1989, p.88) os ex-votos so um dos raros meios de

    investigao no mundo do silncio daqueles que no sabem escrever. Eles, no campo da

    histria, so uma fonte rica de investigao do social e da arte. Por pouco que sejam,

    levam-nos aos segredos das conscincias da sociedade, dos momentos, do cotidiano, do

    indivduo, dos valores que permeiam o contexto social.O ex-voto, como j referenciado, pode ser qualquer objeto. Em sociedade, ele

    visto no comrcio, na venda, em pequenas barracas e armarinhos, a frente dos santurios,

    que vendem diversos tipos de ex-votos, mantendo o emprego daqueles que vivem da

    venda.

    A fotografia, uma das maiores invenes que ocorreram no sculo XIX, teve papel

    fundamental enquanto possibilidade inovadora de informao e conhecimento,

    instrumento de apoio pesquisa nos diferentes campos da cincia e tambm como formade expresso artstica. (KOSSOY, 1989, p. 14)

    Foi a partir do sculo passado que pintores retratistas entraram em concorrncia

    com os fotgrafos retratistas que, por encomenda, faziam retratos de pessoas e do

    cotidiano da cidade e tambm passaram a trabalhar como documentadores em expedies

    de bilogos.

    Nesse processo da fotografia, os ex-votos, a partir da dcada de 1950, no ficaram

    de fora. Dessa data em diante o nmero de riscadores de milagres comeou a diminuir. Apopularidade da fotografia propiciou a inusitada possibilidade de autoconhecimento e

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    recordao, de criao artstica e, portanto de ampliao dos horizontes da arte -, de

    documentao e denncia, graas sua natureza testemunhal. Justamente em funo

    deste ltimo aspecto ela se constituiria, tambm, para romeiros, crentes e visitantes de

    santurios, em ex-votos. (Figura 5.)

    As pessoas passaram a denunciar acidentes automobilsticos atravs de

    fotografias, depositando-as em salas de milagres. Cerimnias de casamento e reunies de

    famlia tambm foram e ainda so fotografadas e colocadas nas salas de milagres. Mas a

    maior difuso de ex-votos fotogrficos fica a cargo das fotos 3X4, que em quantidade nas

    salas de milagres dos santurios do Senhor do Bomfim, Candeias e Aparecida do Norte,

    de nmero assustador, superando a quantidade de qualquer outro tipo de ex-voto.

    Fig. 5. Ex-votos fotogrficos.Nossa Senhora Aparecida. SP

    O ex-voto, hoje, alm desses fatores vinculados venda, sua feitura enquanto

    objeto artstico ou industrializado, um objeto que, atravs de fotografias, pinturas,

    esculturas e desenho, elucida questes socioculturais que refletem em assuntos da

    economia, habitao, poltica, sade, educao, acidentes e violncia. em toda essa

    captao do social que o ex-voto se mostra um rico objeto que reflete condies sociais,portanto coletivas, e vetores individuais, recorrentes memria social de cada cidado.

    Para Brgson (apud BOSI, 1979, p.8), o universo das lembranas no se constitui

    do mesmo modo que o universo das percepes e das ideias. Brgson est centrado no

    princpio da diferena: de um lado, o par percepo e ideia; de outro o fenmeno da

    lembrana.

    A observao de Brgson a propsito da natureza e das funes da memria s

    pode ser avaliada com a devida justeza quando posta em relao com o contexto da suaobra filosfica, em que se interpenetram e se iluminam mutuamente as definies de

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    memria, tempo, devir, energia, que trazem uma rica fenomenologia da lembrana que

    ele perseguiu em sua obra, bem como uma srie de distines de carter analtico, que

    auxilia na compreenso do museu e outras mdias como sistema que objetiva,

    tambm, a preservao, processamento e divulgao de fatos, acontecimentos e histrias,

    fatores pertinentes lembrana, aosflash backsde um passado distante ou recente.

    "Aos dados imediatos e presentes dos nossos sentidos ns misturamosmilhares de pormenores da nossa experincia passada. Quase sempre essaslembranas deslocam nossas percepes reais, das quais retemos ento apenasalgumas indicaes, meros signos destinados a evocar antigas imagens" (BERGSON,1999, p.183).

    Segundo Ecla Bosi (1979, p.9), o que o mtodo introspectivo de Brgson sugere

    o fato da conservaodos estados psquicos j vividos; conservao que nos permite

    escolher entre as alternativas que um novo estilo pode oferecer. A memria teria uma

    funo prtica de limitar a indeterminao (do pensamento e da ao) e de levar o sujeito

    a reproduzir formas de pensamento que j deram certo. Mais uma vez: a percepo

    concreta precisa valer-se do passado que de algum modo se conservou; a memria essa

    reserva crescente a cada instante e que dispe da totalidade de nossa experincia

    adquirida (Id.).Embora em Brgson a meta seja entender as relaes entre a conservao do

    passado e a sua articulao com o presente, a confluncia de memria e percepo, falta-

    lhe, a rigor, um tratamento da memria como fenmeno social. (LE GOFF, 1996)

    O passado conserva-se e, alm de conservar-se, atua no presente, mas de forma

    homognea, num processo onde ocorrem lembranas independentes de quaisquer

    hbitos: lembranas isoladas, singulares, que constituiriam autnticas ressurreies do

    passado. Na viso de Bosi a Memria-Hbito, que se adquire pelo esforo da ateno epela repetio de gestos ou palavras. Ela faz parte de todo o nosso adestramento

    cultural. (Ib)

    H outro tipo de memria social que est no outro extremo e que seria a

    lembrana pura, quando se atualiza Imagem-Lembrana, traz tona da conscincia um

    momento nico, singular, no repetido, irreversvel da vida". Ela tem data certa: refere-

    se a uma situao definida, individualizada, ao passo que a Memria-Hbito j se

    incorporou s prticas do dia-a-dia. Esta parece fazer um s todo com a percepo dopresente (BOSI, 1979, p.9).

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    essa lembrana e memria, guardada por cada um, em casa, em memoriais e

    museus, em salas de milagres e em cemitrios, que podem ser difundidas, socializadas

    para entendimento de fontes histricas, como acontecimentos e fatos, para compreenso

    como fora o passado para a compreenso das mudanas at o presente, num ritmo ex-

    post-facto(2).

    Para Lvy (1999, p. 78). A memria humana possui dois momentos, o de curto e

    o de longo prazo. O primeiro momento considerado do trabalho, que mobiliza a

    ateno. Ela usada, por exemplo, quando lemos um nmero de telefone e o anotamos

    mentalmente at que o tenhamos discado no aparelho. O segundo momento necessita da

    construo de representaes quando uma nova informao ou um novo fato surge

    diante de ns, pois esta representao encontra-se em estado de intensa ativao no

    ncleo do sistema cognitivo, ou seja, est em nossa zona de ateno, ou muito prxima a

    esta zona.

    Numa sala de milagres o processo da memria social, respaldado nas

    representaes simblicas e iconogrficas, nas propores gramaticais que elucidam

    acontecimentos de famlias, do lao coletivo e do individualismo de cada cidado.

    A lembrana do que se passou e est sempre lembrado pelo ato do depsito do ex-

    voto; o hbito do pagamento da promessa; a esttica de uma sala de milagres que traz a

    infinidade colorida dos ex-votos variados representativos de acontecimentos de passados

    distantes ou imediatos.

    Sonhos, tristezas, paz, amor, alegria, realizaes, dores... Fatores que so

    lembrados e marcados num espao religioso que, num processo comunicacional, traz aos

    observadores informaes de sujeitos ocultos dos museus e de outras mdias clssicas,

    agora em um lugar mais democrtico que possibilita qualquer um apresentar o seu

    acontecimento, esteja ele implicado em uma agonia, esteja entrelaado da alegriaamparada pelo seu santo padroeiro.

    2 Algo realizado ou formulado depois de certo fato e com ao retroativa. In: Dicionrios Houaiss daLngua Portuguesa. Disponvel em http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?stype=k&verbete=ex-post-facto&x=11&y=6 . Acessado em 28 de setembro de 2004. O termo aplicado aqui referencia tambm ao

    tipo de pesquisa que leva o mesmo nome, cuja tcnica entrevistar pessoas (testemunhas) que possamtestemunhar as mudanas ocorridas em determinados espaos, como ruas, jardins, bairros etc.. Mtodoutilizado pela Sociologia, Turismo e Antropologia, que visa verificar as transformaes ocorridas.

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    2. O USO DA INTERNET PARA A MEMRIA SOCIAL

    Uma questo que se coloca nos dias atuais como a Internet usada pelos

    museus. Mais do que um veculo de comunicao, a Internet permite uma maior

    interao com o pblico, mas tambm com os especialistas. Alm do uso como uma

    ferramenta de marketing, mencionada por Pierre Lvy (1999), a Internet possibilita a

    montagem de redes de conexo entre vrias instituies afins e com objetivos

    convergentes. Este uso pode ser feito atravs de listas de discusses, das redes etc.

    A sociedade tende a se modificar diante das novas estruturas tecnolgicas. As

    cidades modificam nos seus aspectos paisagsticos, com torres, sinais, caixas eletrnicos,

    quiosques multimdia, servios on-line, mutando a arquitetura urbana. Os aspectos

    psicossociais e antropolgicos so alterados no movimento do dia-a-dia. As filas no so

    as mesmas. O contato entre as pessoas torna-se mais rpido com a utilizao de cartes

    magnticos, principalmente nas agncias bancrias; muda aquele pequeno ou grande

    momento em que o citadino faz a amizade ou puxa o bate-papo. A influncia

    tecnolgica inegvel na sociabilidade. (PALCIOS, 1996)

    Para Andr Lemos (1999), a tecnologia, que foi o instrumento principal da

    alienao, do desencantamento do mundo (Weber) e do individualismo burgus v-se

    investida pelas potncias da sociedade. A cibercultura que se forma sob os nossos olhos

    mostra, para o melhor ou para o pior, bom que fique claro, como as novas tecnologias

    esto sendo, efetivamente, utilizadas como ferramentas de convivialidade e de formao

    comunitria, perspectivas essas, principalmente em se tratando da tecnologia, colocada

    parte pela modernidade (ativistas, terroristas, pedfilos, anarquistas, ONGs...). A

    cibercultura a sociedade que se apropria da tcnica.

    Isso no significa o fim daquilo que tradicional. Bancos financeiros, bancas de

    jornal, museus, universidades etc. continuaro existindo nos seus ambientes fsicos, ou

    seja, de pedra, reais ou em tomos como fala Negroponte. (1995) Hoje se pode

    pensar na tcnica, no meio tecnolgico como extenso e comunicao da sociedade, da

    histria e memria social. Certamente que o exemplo principal est na interconexo de

    linguagens, escritas, sons e produes variadas na rede mundial de computadores que

    possibilita o dilogo todos-todos. (LVY, 1999, p.63). Tal dilogo cria um processo

    que podemos denominar de extenso da memria social.

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    A questo da memria social vem emergindo como muito importante na

    cibercultura, com a multiplicao de projetos de memria local, regional e nas prprias

    comunidades criadas no ciberespao. Hoje em dia, cada vez mais as pessoas percebem a

    importncia de terem suas prprias histrias como tema e como essa construo de

    vnculos importante para a prpria autoestima. Ento positivo ver a memria social

    em pauta, abordada com a possibilidade de trocas de experincias, de questionamento e

    apreenso mais rpida.

    Voltando-se um pouco para o passado, pode-se perceber uma convergncia de

    maneiras diferentes de preservar a memria. A Internet um espao fundamental para

    isso hoje, desde que possa ser compartilhada e desde que o acesso seja democratizado.

    Os meios se somam. A preservao de som, imagem e texto permite que essa relao seja

    mais rica, desde que quem produz a informao possa se reconhecer no que est l, de

    alguma maneira. Isso permite a criao de vnculos. As tecnologias, em si, no so nem

    positivas nem negativas, desde que a sociedade consiga se perceber ao ver sua histria

    retratada.

    O exemplo do www.museudapessoa.net , que utiliza da tecnologia, dando voz e

    preservando a experincia de pessoas comuns, notrio para exemplificar esse assunto

    que enaltece a histria social e amplia o universo biogrfico. A histria uma construo

    de narrativas, feita de vrios pontos de vista. Quanto mais pessoas tiverem suas

    experincias preservadas, mais se garante a preservao da memria. No caso do

    www.museudapessoa.net , a expectativa de que muitos possam falar para muitos.

    Hoje, atravs de uma busca na Internet, pode-se encontrar um grande nmero de

    sites que mostram as mais diversas formas com que a histria e a memria social se

    partilham. Nesses ambientes digitais novos museus esto se organizando. E neles a

    sociedade se coloca diante de um novo modelo, o das possibilidades de tambm ajudar na

    criao de acervos. Um acervo onde o prprio visitante, cidado comum, guardar e

    divulgar a sua histria. uma demonstrao da democracia que os Cibermuseus

    ambientes totalmente criados para funcionar no ciberespao e Museus Digitais

    interfaces dos museus presenciais vm demonstrando desde 1994 num efeito totalmente

    oposto ao da pomposidade e do luxo de muitos Museus Presenciais ainda existentes.

    (OLIVEIRA, 2002) Esse processo mostra a possibilidade do compartilhamento de dados

    histrico-pessoais e histrico-coletivos que valorizam a memria social, aquela que mudaem cada perodo o esprito do tempo que a molda. O museu dentre outras instituies

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    trabalha, tambm, a memria histrica. Busca armazen-la, quantific-la, preservar

    atualizando e contextualizando os fatos, atitudes e valores humanos. na preservao do

    que foi, do que e daquilo que est sendo construdo que o museu vem tornando slido

    na sociedade.

    Para Brgson, o universo das lembranas no se constitui do mesmo modo que o

    universo das percepes e das ideias. Brgson est centrado no princpio da diferena: de

    um lado, o parpercepoe ideia;de outro ofenmeno da lembrana. (BRGSON apud

    BOSI, 1979, p.8).

    A observao de Brgson a propsito da natureza e das funes da memria s

    pode ser avaliada com a devida justeza quando posta em relao com o contexto da sua

    obra filosfica, em que se interpenetram e se iluminam mutuamente as definies de

    memria, tempo, devir, energia, que trazem uma rica fenomenologia da lembrana que

    ele perseguiu em sua obra, bem como uma srie de distines de carter analtico, que

    auxilia na compreenso do museu e outras mdias como sistema que objetiva,

    tambm, a preservao, processamento e divulgao de fatos, acontecimentos e histrias,

    questes pertinentes lembrana, aosflash backsde um passado distante ou recente.

    Segundo Ecla Bosi, o que o mtodo introspectivo de Brgson sugere o fato da

    conservao dos estados psquicos j vividos; conservao que nos permite escolher

    entre as alternativas que um novo estilo pode oferecer (BOSI, 1979, p.9) A memria

    teria uma funo prtica de limitar a indeterminao (do pensamento e da ao) e de

    levar o sujeito a reproduzir formas de pensamento que j deram certo. Mais uma vez: a

    percepo concreta precisa valer-se do passado que de algum modo se conservou; a

    memria essa reserva crescente a cada instante e que dispe da totalidade de nossa

    experincia adquirida (Id.).

    Embora em Brgson a meta seja entender as relaes entre a conservao do

    passado e a sua articulao com o presente, a confluncia de memria e percepo, falta-

    lhe, a rigor, um tratamento da memria como fenmeno social.

    O passado conserva-se e, alm de conservar-se, atua no presente, mas de forma

    homognea, num processo onde ocorrem lembranas independentes de quaisquer

    hbitos: lembranas isoladas, singulares, que constituiriam autnticas ressurreies do

    passado. Isso seria, para Ecla Bosi a Memria-Hbito, que se adquire pelo esforo da

    ateno e pela repetio de gestos ou palavras. Ela faz parte de todo o nossoadestramento cultural. (Ib)

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    H outro tipo de memria social que est no outro extremo e que seria a puralembrana, quando...

    ...se atualiza Imagem-Lembrana, traz tona da conscincia ummomento nico, singular, no repetido, irreversvel da vida. Ela tem data certa:refere-se a uma situao definida, individualizada, ao passo que a Memria-Hbito

    j se incorporou s prticas do dia-a-dia. Esta parece fazer um s todo com apercepo do presente (BOSI, 1979, p.9)

    essa lembrana e memria, guardada por cada um, em casa, em memoriais e at

    mesmo museus, que podem ser difundidas, socializadas para entendimento de fontes

    histricas, como acontecimentos e fatos, para compreenso como fora o passado para a

    compreenso das mudanas at o presente, num ritmo ex-post-facto(3

    )Em sua obra "As tecnologias da inteligncia", Pierre Lvy reserva a memria ao

    captulo que reflete sobre a oralidade primria, a escrita e a informtica. Nele, Lvy

    trabalha a palavra, a escrita, a histria, o tempo, o esquecimento e a memria voltada, em

    sua concepo, no atual mundo e na cibercultura. (LVY, 1999b, p.78).

    "Ao conservar e reproduzir os artefatos materiais com os quaisvivemos, conservamos ao mesmo tempo os agenciamentos sociais e asrepresentaes ligados a suas formas e seus usos... (Id, p. 78).

    A emergncia da cibercultura provoca uma mudana radical no imaginrio

    humano, transformando a natureza das relaes dos homens com a tecnologia e entre si.

    Lvy (Ib) defende uma inter-relao muito prxima entre subjetividade e tecnologia. Esta

    influencia aquela de forma determinante, na medida em que fornece referenciais que

    modelam nossa forma de representar e interagir com o mundo. Atravs do conceito de

    "tecnologia intelectual", o autor supracitado discorre sobre como a tecnologia afeta o

    registro da memria coletiva e social. O que se compreende que as noes de tempo e

    espao das sociedades humanas so afetadas pelas diferentes formas atravs das quais

    este registro realizado.

    3 Algo realizado ou formulado depois de certo fato e com ao retroativa. In: Dicionrios Houaiss daLngua Portuguesa. Disponvel em http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?stype=k&verbete=ex-post-facto&x=11&y=6 . Acessado em 28 de setembro de 2004. O termo aplicado aqui referencia tambm ao

    tipo de pesquisa que leva o mesmo nome, cuja tcnica entrevistar pessoas (testemunhas) que possamtestemunhar as mudanas ocorridas em determinados espaos, como ruas, jardins, bairros etc.. Mtodoutilizado pela Sociologia, Turismo e Antropologia, que visa verificar as transformaes ocorridas.

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    A memria humana possui dois momentos, o curto prazo e o longo prazo. O

    primeiro momento considerado do trabalho, que mobiliza a ateno. Ela usada, e.g.,

    quando lemos um nmero de telefone e o anotamos mentalmente at que o tenhamos

    discado no aparelho. O segundo momento necessita de uma construo de uma

    representao quando uma nova informao ou um novo fato surge diante de ns, pois

    esta representao encontra-se em estado de intensa ativao no ncleo do sistema

    cognitivo, ou seja, est em nossa zona de ateno, ou muito prxima a esta zona. (Lvy,

    Id. 78).

    A partir da histria, da escrita e da palavra (a oralidade), preservar e mostrar os

    testemunhos dos fatos so uma forma de preocupao cultural com os signos que se

    transformam diariamente. Dai a articulao que Lvy faz com questes que vo de

    Gutenberg a Bill Gates. Para Lvy. (Lvy, Ib. 94).

    Desde que a histria se tornou efeito da escrita, trabalhada e discutida por

    personagens que a contextualizam, ela pode ser constituda, fruto da dialtica do ser e

    do devir..., mas um devir secundrio, relativo ao ser, capaz de desenhar uma

    progresso ou um declnio.

    "A partir de ento, a memria separa-se do sujeito ou da comunidade tomadacomo um todo. O saber est l, disponvel, estocado, consultvel, comparvel. Estetipo de memria objetiva, morta, impessoal, favorece uma preocupao que, decerto,no totalmente nova, mas que a partir de agora ir tomar os especialistas do sabercom uma acuidade peculiar: a de uma verdade independente dos sujeitos que acomunicam. (Ib. 95).

    A objetivao da memria como uma separao existente entre o conhecimento e

    a identidade pessoal ou coletiva. Lvy acredita que o saber deixa de ser apenas aquilo

    que me til no dia-a-dia, o que me nutre e me constitui enquanto ser humano membro

    desta comunidade. [...] A exigncia da verdade, no sentido moderno e crtico da palavra,seria um efeito de necrose parcial da memria social quando ela se v capturada pela rede

    de signos tecida pela escrita. (LVY)

    O que interessa aqui que o estudo da escrita, palavra e memria so as palavras-

    chave do captulo da obra que Lvy traa com o objetivo de mostrar os suportes que

    mostram os testemunhos, embora ele se prenda escrita e ao armazenamento de dados. A

    escrita, que vai dos poemas aos registros de Herdoto at chegar difuso ps-

    Gutenberg. Os dados, trazidos das memrias digitais, que acumulam signos erepresentaes de acontecimentos que so compartilhados entre sistemas do tradicional

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    ao cibersistema -, dos tablets rede. Todos com fatores sociais, representativos do

    prprio pensamento e perodos histricos.

    Ao analisar Andr Lemos (2001), sobre cibercidades, e elucidando o projeto

    Living Memory, verifica-se que h um compartilhamento e troca de experincias e

    conhecimentos entre as pessoas em um ritmo mais acelerado quando h uma intercesso

    entre a cidade digital e a cidade real. Lemos acredita que tal processo alcanado quando

    h a possibilidade de coleta, estoque e distribuio de informao entre as pessoas.

    (LEMOS, 2001, p.31). Esse o objetivo do Cibermuseu, que possibilita compartilhar

    histrias numa grande dimenso, no mais local ou regional, sobre acontecimento,

    estrias, enfim, retratos da memria no apenas transmitidos mas interligados em

    uma rede mundial.

    A cibermemria aqui compreendida como todo o contexto histrico-social

    (individual ou coletivo) armazenado em Cibermuseus e Museus Digitais, portanto no

    ciberespao, podendo estar tambm domesticamente em Hds, CDse pendrives, prontos

    para ser atualizada, compartilhada, enviada para algum ou um no-lugar qualquer

    tem um papel determinante na preservao e na difuso de acontecimentos e

    testemunhos. (AUG, 1994) Mais precisamente na preservao-armazenamento-

    atualizao, com o objetivo de divulgar os prprios fatos e objetos testemunhais,

    acumulando, processando e partilhando um interminvel banco de dados.

    3. DAS SALAS DE MILAGRES AO CIBERESPAO

    O Projeto Ex-votos do Brasil tem sua origem numa pesquisa, iniciada em 1990,

    que procurou analisar os ex-votos da sala de milagres da igreja do Bomfim, em Salvador,Brasil. Em 1999, alm de ter criado o BDI (banco de dados iconogrficos) e textos sobre

    as romarias, histrias locais e os ex-votos, concretizou o Projeto Ex-votos da Bahia.

    Com ttulo e temtica voltados para os Ex-votos do Brasil, vinculado ao CNPq,

    iniciou pesquisa nas maiores salas de milagres do Brasil, ramificando-se a outras salas de

    menores dimenses de norte a sul, leste a oeste do pas.

    Em 2009, passou etapa museus, tambm vinculado ao CNPq, quando, alm da

    anlise dos ex-votos em salas de milagres, objetivou estudar os ex-votos musealizados

    em colees particulares e pblicas.

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    Em 2011, findando a etapa Brasil, teve incio o Projeto Ex-votos das Amricas:

    etapa Amrica do Norte e Central, cujo objetivo inicial est no estudo iconogrfico e

    semiolgico dos ex-votos mapeados nos EUA, Mxico, Nicargua, Honduras,

    Guatemala, El Salvador e Costa Rica.

    Deste modo, o Projeto Ex-votos, em crescente continuidade, com mapeamento

    que abrange o mais recndito local de desobriga ex-votiva, ao mais reluzente e conhecido

    ambiente que possui essa tipologia de acervo, traz contedo para os caminhos dos

    estudos nos campos da semiologia, iconografia, comunicao, cincias da informao e

    memria social. A tabela1, em sntese, mostra alguns caminhos percorridos no Brasil e a

    expectativa dos acervos:

    Local Museu Sala de MilagresCanind, CE Regional de Canind. Cultura popular.

    Pouca sistematizao. Circuito fechado.No se restringe a ex-votos. Sem taxa. Ex-votos escultricos e industriais, comominiaturas de carros.

    Livre. Organizada aleatoriamente eparcialmente por funcionrios. Variao de ex-votos muito grande, que vai de cartas aesculturas.

    Santurio deAparecida

    Sistematizado, com reserva tcnica esistema de documentao. Informatizado.Com consultoria de muselogo.Funcionrios das reas da histria eturismo. No se restringe a ex-votos. Com

    taxa.

    O crente entrega o ex-voto aos funcionrios,que o categoriza e expe. A sala possuiesquema de agradecimento digital, via sms.(4).Variao de ex-votos das mais ricas do Brasil

    Cmara Cascudo, emNatal

    Cultura popular e Arte sacra catlica emgeral. Acervo variado, com exposio deex-votos. Sistematizado, com muselogosprofissionais. Com taxa

    ----

    Tabela 1 Exemplos de espaos e acervos pesquisados. Fonte: Projeto ex-votos do Brasil.

    Projeto Ex-votos do Brasil possui concretizados os dados bibliogrficos, sonoros

    e imagticos de 40 ambientes em 17 Estados Brasileiros, num percurso que cobre do Par

    ao Rio Grande do Sul, com pesquisa de campo in locusnos santurios, museus e salas de

    milagres. (v. tabela 3)

    Na etapa internacional (v. tabela 2), as incurses foram iniciadas no Mxico em

    maro de 2012. E nela h trs metas acadmicas. A primeira, e evidente, a pesquisa de

    campo, que visa documentar os ex-votos dos maiores santurios de pases das Amricas

    do Norte, Central e do Caribe; a segunda meta, com toda coleta da pesquisa, visa

    fomentar e sistematizar o BDI e textos criados a partir das incurses in locus e da

    pesquisa bibliogrfica, para apoiar os estudos de pesquisadores da graduao e ps-4Safety Management System. Mensagem curta de texto, enviadas a celulares.

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    graduao, proporcionando tambm subsdios para o nvel mdio. Todo esse acervo

    digital ser disponibilizado on-line, no portal da UFBA, no Museu Digital dos Ex-votos

    (MDE), que servir de repositrio de todo o processo iniciado em 2006, agora aberto ao

    pblico. (v. http://www.nucleodepesquisadosex-votos.org/index.html). Todavia, reitera-se aqui que o acervo

    j est aberto ao pblico no NPE (Ncleo de Pesquisa dos Ex-votos) desde 2010, tanto

    para consulta de textos e imagens em papel, quanto do acervo digital.

    A ltima meta, j concretizada, a manuteno do NPE, voltado para estudos

    sobre o presente tema, direcionado pesquisa e extenso, colaborador dos museus que

    possuem acervos ex-votivos, de pesquisadores de vrias reas, e base para a pesquisa e

    extenso de articulaes que o Projeto Ex-votos do Brasil teceu, a exemplo da Incluso

    Social e Capacitao Digital que vem sendo desenvolvido com moradores do entorno do

    Santurio de So Lzaro.

    ESTADOS UNIDOS DA AMRICA1. Church of Cristo Rey, New Pascua Yaqui India Reservation, Tucson, Arizona.2. Mission San Xavier del Bac, San Xavier Reservation, Tucson, Arizona3. Saint Anthonys Chapel, Tucson, Arizona4. Santa Cruz, Tucson, Arizona5. Shrine of Saint Michael Taxiarchis, Tarpon Springs FloridaMXICO1. Santurios Nossa Senhora de Guadalupe Mxico D.F2. Santurio de Chalma Estado de Mxico3. Santurio San Francisco de Asis, na Real de Catorce, em San Luis Potos.4. Santurio San Miguel de Milagro, na Nativitas Tlaxcala

    AMRICA CENTRAL1. Santurio Nossa Senhora dos Anjos San Jos, Costa Rica2. Santurio Nossa Senhora da Paz San Salvador3. Santurio Nossa Senhora do Rosrio Guatemala4. Santurio Nossa Senhora de Suyapa Tegucigalpa5. Santurio Nossa Senhora La Purssima Mangua

    CARIBE6. Santurio Nossa Senhora da Divina Providncia San Juan, Porto Rico

    Tabela 2. Incurses in locus do Projeto Ex-votos das Amricas. O realce em amarelo mostra ambientes jincursionados.

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    EX-VOTOS DO BRASIL (com etapa Museus) 2006-20111. Aparecida (SP) Sala de milagres Museu ---2. Antnio Prado (RGS) Id --- ---3. Bom Jesus de Matosinhos (MG) Ib --- ---4. Canind (CE) Ib Museu ---5. Divino Pai Eterno (GO) Ib --- ---6. Nossa Senhora da Sade de Mucuripe (CE) --- --- Igreja7. Juazeiro do Norte (CE) Id. Museu Memorial8. Crio de Nazar (PA) Ib Id ---9. Ibia (RGS) Ib --- --10. Iguape (SP) Ib --- --11. Gruta da Lapinha (BA) Ib --- --12. Maria Milza (BA) Ib --- ---13. Museu da Cidade (Salvador, BA) --- Museu ---14. Museu Cmara Cascudo (RGN) --- Id ---15. Museu do Homem (PE) --- Id ---16. Nossa Senhora das Graas (Caxias RGS) Ib --- ---17.

    Nova Trento (SC) Ib Memorial ---18. N. Sra. Bom Socorro (SC) Ib --- ---

    19. N. Sra. do Carmo (SE) Ib --- ---20. N. Sra. do Carmo, Cachoeira (BA) Ib Museu ---21. N. Sra. da Luz dos Pinhais (PR) --- --- Igreja22. N. Sra. do Caravaggio (RGS) Ib ---23. Penha (RJ) --- Museu Igreja24. Penha (PB) Sala de milagres --- ---25. Penha (ES) Id Museu ---26. Presidente Jnio Quadros (BA) --- -- Igreja27. Santo Antnio da Barra (BA) Ib --- ---28. So Judas Tadeu (MG) Ib --- ---29. So Judas Tadeu (RJ) Ib --- ---30. Sr. Bom Jesus dos Perdes e Gruta N. Sr. De

    Lourdes (PR)

    Ib (gruta) --- ---

    31. Vacaria (RGS) --- --- OratriosTabela 3. Sntese de um percurso: do Projeto Ex-votos do Brasil: etapa museus

    A partir de 2006, no caminhar do Projeto Ex-votos do Brasil, salas de milagres de

    santurios catlicos brasileiros foram documentadas e mapeadas. Ento o Projeto ganhou

    maior dimenso, estendendo-se etapa Museus, em 2009, cujo objetivo visou tambm

    os ex-votos em acervos musesticos.

    Em suas produes, o Projeto objetivou trs outros caminhos extensionistas: ONcleo de Pesquisa dos Ex-votos (NPE), a Incluso Social e Capacitao Digital dos

    moradores de entorno dos santurios, e a criao do Museu Digital dos Ex-votos (MDE).

    A proposta do MDE possui quatro objetivos: apresentar toda a pesquisa que

    envolve os ex-votos desde 2006; apresentar a tipologia dos ex-votos; apresentar os

    cidados que fazem os ex-votos e os que colocam os ex-votos nas salas de milagres, como

    tambm, elucidar os testemunhos ex-votivos que esto nos museus.

    O projeto do MDE j foi encaminhado CPPD da UFBA, onde passar por anlise

    para a reduo de dados. Tal anlise, que passa tambm por uma burocracia, visa

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    redimensionar imagens e sons para no ocupar muito espao na CPD da Universidade.

    Com isso, haver certa reduo de contedo em termos de vdeo e imagens JPG.

    A ideia principal desse Museu dar voz ao romeiro, ao peregrino, ao pagador de

    promessas, queles agraciados pelos seus padroeiros, que depositaram os ex-votos e

    tornaram pblico suas histrias de vida. Histrias que retratam o amor, a felicidade, a

    tristeza, a vontade de vencer e transpor doenas e dores. A conquista da cura e da casa, do

    carro e do vestibular. Enfim histria que um objeto nos traz a partir da iconografia, do

    vdeo VHS, do DVD, da carta e do bilhete.

    O MDE est programado para dezembro de 2012, aps seis anos de pesquisa sobre

    os ex-votos. Todavia, enquanto ele no entra em rede, o NPE Ncleo de Pesquisa dos Ex-

    votos desenvolveu dois portais e dois blogs em plataformas distintas (blogspot, wordpress

    e weebly) para divulgar a extenso e a pesquisa num processo hipertextual e

    hipermiditico.

    Para a divulgao da pesquisa que aborda o Brasil, so utilizadas duas plataformas:

    Google-blogger e a Wordpress. Delas, a criao do http://ex-votosdobrasil.blogspot.come

    do http://projetoexvotosdobrasil.worpress.com, que vem divulgado o Projeto Ex-votos do

    Brasil, cada passo, cada sala de milagres e museus analisados. (v. figura1)

    Blog do Projeto Ex-votos do Brasil.http://ex-votosdobrasil.blogspot.com.

    Acesso em 2 de julho de 2012

    Site do Projeto Ex-votos do Brasilhttp://projetoexvotosdobrasil.wordpress.com

    Acesso em 2 de julho de 2012

    Em 2008 foi criado o http://www.nucleodepesquisadosex-votos.org/index.html,

    um site que apresenta o NPE, criado quela poca, para dar visibilidade ao acervo que foi

    constitudo durante o Projeto Ex-votos do Brasil, e nessa visibilidade o visitante pudesse

    baixar textos e imagens, como tambm agendar a visita ao NPE presencial para consulta

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    bibliogrfica, e at mesmo tomar de emprstimo livros e revistas. Hoje o NPE conta com

    mais de 1.500 ttulos em papel.

    J o http://www.ex-votosdasamericas.net/, foi criado em 2011 quando o Projeto foi

    aprovado. Nele, informaes sobre a pesquisa, a tipologia ex-votiva, imagens em JPG e em vdeo

    so veiculadas para apresentar ao pblico resultados e descobertas da pesquisa. At o momento,

    ex-votos documentados no Mxico esto apresentados no site.

    Sem dvidas que, ao falarmos das tecnologias da informao, vemos o ciberespao

    como caminho fundamental para expandir a cultura, o patrimnio cultural e,

    consequentemente, a memria social e coletiva.

    Os meios se somam. A preservao de sons, imagens e textos permite que essa

    relao seja mais rica, mais compartilhada. Desde que quem produz a informao possa se

    reconhecer no que est l, de alguma maneira. Isso permite a criao de vnculos. As

    tecnologias, em si, no so nem positivas nem negativas, desde que a sociedade consiga se

    perceber ao ver sua histria retratada.

    O Projeto do MDE foi enviado para ser disponibilizado na rede mundial e no

    sistema WAP, para que todos possam perceber uma pesquisa, um rico objeto (o ex-voto),

    os devotos, a devoo e os cidados que guardam o patrimnio dos santurios catlicos.

    O MDE linkaa heurstica, a incluso social e uma rica iconografia para o estudo devariados valores do homem. A ideia ter um museu que no esteja somente como site,

    mas como um repositrioque coaduna o mundo digital e as experincias sobre a memria

    social e coletiva, englobando a participao do povo e as produes dos pesquisadores.

    A preocupao, como um todo, est na preservao. Pois quanto mais as pessoas

    tiverem suas experincias preservadas, mais se garante a preservao da memria histrica.

    Os exemplos acima ilustram uma fase da histria, onde a expectativa de que muitos

    possam falar para muitos, em que a Internet, principalmente, se tornou um espao til edemocrtico, notadamente quando a sociedade por inteiro faz uso consequente dela.

    4 REFERNCIAS

    BERGSON, Henri. Matria e memria: ensaio sobre a relao do corpo com o esprito.Traduo de Paulo Neves. 2. ed. So Paulo: Martins Fontes, 1999. 291 p. il.

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    KOSSOY, Boris.Fotografia e Histria

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    ______. Cibercidades. In: LEMOS, Andr, PALCIOS, Marcos. (org.) As janelas do

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    LVY, Pierre. Cibercultura.Traduo de Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: 34,1999a. p. 145-155

    ______. As tecnologias da inteligncia. Traduo de Carlos Irineu da Costa. Rio deJaneiro: 34. 1999b. 203 p.

    NEGROPONTE, Nicholas. A vida digital. Traduo de Srgio Tellaroli. So Paulo:Schwarcz Ltda, 1995. 265 p.

    OLIVEIRA, Jos Cludio Alves de. O museu e as tecnologias da inteligncia: memria eobjeto. In: Revista Museu. 2002.Disponvel em http://www.revistamuseu.com.br/artigos/art_.asp?id=1227 Acessado emoutubro de 2011

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