documento protegido pela lei de direito autoral · 2013-12-17 · lista de siglas cc código civil...
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UNIVERSIDADE AVM
CURSO: GESTÃO PÚBLICA
HELIO BACELAR NETO JUNIOR
A DEMOCRACIA E FILIAÇÃO PARTIDÁRIA: UMA RELAÇÃO INVERSA?
Rio de Janeiro, RJ
2013
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HELIO BACELAR NETO JUNIOR
A DEMOCRACIA E FILIAÇÃO PARTIDÁRIA: UMA RELAÇÃO INVERSA?
Trabalho de Conclusão do Curso de Gestão Pública da Faculdade AVM sob a orientação do Professor LUIZ CHAUVET.
Rio de Janeiro, RJ
2013
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus filhos Matheus e Isabella Bacelar, pois
tudo que faço é pensando neles e para eles. Dedico também aos meus pais, in
memorian, que ficariam orgulhosos em ler esta dedicatória.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Deus, primeiramente, e a minha mulher, amiga e companheira,
pelo amor, compreensão e dedicação, me deixando tranquilo nos momentos mais
difíceis, sempre dando total apoio nas minhas decisões. T. A .
RESUMO
O tema deste trabalho é a filiação partidária no Brasil atual. O problema que
se examinou foi a razão pela qual no regime democrático se tem assistido um
enfraquecimento da filiação partidária. Não há na verdade no denso exame que se
fez das disposições legais e normativas sobre os partidos políticos nada que indique
que houve mudanças significativas que tenham desmobilizado os cidadãos. Neste
trabalho se examinou como se dá a criação dos partidos políticos e o significado de
elementos como a filiação partidária. Encaminhou-se naturalmente a discussão para
a questão das eleições, da fidelidade, e por fim da corrupção política. Ao cabo se
considera que a corrupção, por ser um pratica contagiosa tem modificado de tal
modo a instituição partidária e política que a sociedade se encontra em um momento
de vazio das percepções sobre o Estado e sobre a política, motivo pelo qual o
cidadão não vê muitas razões para participar politicamente.
Palavras-chave: Democracia, Filiação, Política.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................... 8
2. O CENÁRIO DA FILIAÇÃO PARTIDÁRIA ATUAL ................................ 10
2.1. CONCEITUAÇÃO .................................................................................. 10
2.2. O MINIMO PARA REGISTRO DO PARTIDO ........................................ 12
2.3. A FILIAÇÃO DE ACORDO COM OS PARTIDOS POLITICOS.............. 14
3. CRIAÇÃO E EXTINÇÃO DE PARTIDOS POLITICOS ............................ 19
3.1. A QUESTÃO DO PODER POLITICO .................................................... 19
3.2. FIDELIDADE PARTIDÁRIA ................................................................... 21
3.3. DECLINIO E EXTINÇÃO DE PARTIDOS POLITICOS .......................... 25
3.3.1. MOVIMENTOS SOCIAIS EM DIREÇÃO À DEMOCRACIA................ 25
3.4. A ÉTICA NO REGIME PÚBLICO .......................................................... 27
3.5. A CORRUPÇÃO POLITICA ................................................................... 28
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 35
REFERÊNCIAS..............................................................................................36
LISTA DE SIGLAS
CC Código Civil
CRFB Constituição da República Federativa do Brasil
STF Supremo Tribunal Federal
TRE Tribunal Regional Eleitoral
TSE Tribunal Superior Eleitoral
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1. INTRODUÇÃO
O tema deste trabalho é a filiação partidária tal como se verifica hoje no
Brasil. Certamente não se poderá ter um retrato fiel do que ocorre em todo o país,
mas o exame da questão se dirige apenas ao nível de participação da população
nos partidos políticos.
A questão que se quer examinar é porque a relação entre democracia - um
regime de maior liberdade politica - e filiação partidária tem se apresentado como
uma relação que se enfraquece com o tempo, ou seja, porque as pessoas não se
filiam mais como antes? O que aconteceu com a militância político-partidária? Quais
seriam as causas da desmobilização?
O objetivo geral é descrever um cenário atual e fiel da realidade da militância
nos partidos políticos, especialmente os de esquerda.
a) Estudar as regras atuais de legalização dos partidos políticos segundo a
Constituição;
b) Descrever o regime de filiação partidária;
c) Estudar os movimentos políticos partidários e as questões sociais de
maior mobilização;
Espera-se avaliar se a queda na prática de filiação partidária está
relacionada à diminuição do conceito político que tem a população em relação aos
seus representantes, e que faz com que o processo político se torne um foco de
rejeição para a população.
O estudo seguira a metodologia exploratória, lidando com fontes
bibliográfica, documentais e de mídia.
O estudo será concentrado na cidade do Rio de Janeiro, onde se observa
uma disputa política mais complexa em relação aos partidos atuais. Tendo em conta
a classificação feita por Gil (2002), a pesquisa empreendida é uma pesquisa
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exploratória, cujo objetivo foi o de proporcionar a familiaridade com o problema,
tornando-o mais explícito.
Assim, adotou-se a fórmula da pesquisa bibliográfica que reúne trabalhos
pertinentes ao tema da pesquisa, utilizando-se textos doutrinários e artigos voltados
especialmente para a prática atual da gestão dos recursos humanos.
Embora não se tenha procedido a uma pesquisa exploratória de campo, com
observação direta de instituições públicas, foram colhidas experiências descritas por
outros pesquisadores que realizaram estudo de campo.
Assim, o item 2 se dedica a examinar o conceito de partido politico e sua
forma de criação, condições e filiação.
O item 3 analisa a condição do poder politico, da fidelidade partidárias e do
declínio dos partidos.
Ao final se considera que os cidadãos se encontram sem razões políticas
para participarem do processo de mobilização em partidos políticos.
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2. O CENÁRIO DA FILIAÇÃO PARTIDÁRIA ATUAL
2.1. CONCEITUAÇÃO
O partido politico foi conceituado por Silva (2000) como sendo uma forma de
agremiação de um grupo social que se propõe a organizar, coordenar e instrumentar
a vontade popular com o fim de assumir o poder para realizar seu programa de
governo.
Segundo Bobbio (1995):
(...) partido politico é uma associação que visa a um fim deliberado, seja ele objetivo, como a realização de um plano com intuitos materiais ou ideais, seja pessoal, isto é, destinado a obter benefícios, poder e, consequentemente, glória para os chefes e sequazes, ou então voltado para todos esses objetivos conjuntamente. (BOBBIO, 1995, p. 898).
Para Maltez (2004) o partido significa:
(...) parte, parcela de um conjunto maior que tende a disputar com outras parcelas a liderança do conjunto, que tem em vista aquilo que alguns qualificam como a conquista e a manutenção do poder. Na polis grega, a palavra correspondente era stasis, que começando por corresponder à nossa conotação de partido, depressa passou a corresponder a uma denominação pejorativa, entendida como facção e depois como sedição. Como sinal de uma guerra interior, de uma guerra civil, um estado doentio, uma degenerescência da política. Os partidos políticos em modelos de organização política pluralista e de sociedade aberta a uma parte em competição com outras partes num sistema político de uma democracia representativa, tendo em vista a competição eleitoral, nomeadamente pela nomeação de candidatos para uma eleição. (MALTEZ, 2004, s.p.)
Conforme Silva Neto (2008) os partidos políticos são forças organizadas que
reúnem cidadãos que buscam condições de mobilizar a opinião pública em torno de
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certos objetivos, influenciam e exercem o poder politico. (SILVA NETO, 2008, p0.
754).
Os partidos cumprem uma finalidade social que é a participação efetiva dos
cidadãos na distribuição das riquezas e no poder de decidir sobre os rumos da
sociedade. Trata-se, então de um instrumento politico da cidadania. (BOBBIO,
1995).
Segundo a Constituição em seu artigo 14, parágrafo 3º, inciso V, da CRFB
trata-se de um veiculo da democracia politica, e o Código Civil definiu que são
pessoas jurídicas de direito privado (CC Artigo 44), cuja finalidade e conquistar o
poder para realizar a direção do Estado, dentro de um programa político-social, ou
seja, ideológico.
Os partidos têm uma especificidade que os diferencia dos grupos políticos
mobilizados, pois estes não têm caráter permanente.
Quanto a sua organização interna se dividem em partidos de quadro e
partidos de massa. Os primeiros buscam a qualidade politica, enquanto os segundos
buscam a quantidade de adeptos sem distinção.
Pode-se classificar o poder politico de uma sociedade segundo uma
organização externa em monopartidária, bipartidária e pluripartidária. A primeira
configuração indica a existência de um partido único e nas sociedades assim
organizadas se concentram poderes autocráticos e antidemocráticos.
Nas sociedades bipartidárias os partidos se dividem em dois, como nos
Estados Unidos (Partido Republicado e Partido dos Democratas), em que dentro de
cada estrutura vigem tendências diferentes.
Nas sociedades caracterizadas pelo pluripartidarismo se encontram diversos
partidos que são dotados de características próprias. Nestas sociedades se impõe a
liberdade de opinião e a liberdade de escolha. O exemplo de uma sociedade
pluripardarista e o Brasil.
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Explica Bobbio (1995) que o partido compreende formações sociais muito
diferentes, desde os grupos vinculados por condições pessoais e particularistas até
as organizações complexas de estilo burocrático e impessoal, que se movem no
sistema politico. Os partidos surgem apenas quando a sociedade atingiu certo grau
de organização, e de complexidade onde a divisão do trabalho permite um processo
de tomada de decisão política em que se incluem partes diversas da sociedade, e
que os representantes destas partes possam ser distinguidos.
Assim, os partidos surgem nos países em que primeiramente se adotaram
formas de governo representativo, mas não porque tenham origem em governos de
base representativos, mas por que os processos civis e sociais que levaram a esta
forma de governo conduzem progressivamente a democracia.
2.2. O MINIMO PARA REGISTRO DO PARTIDO
Os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito privado que asseguram
o regime democrático representativo. Sua criação é livre, assim também como a
fusão, incorporação e extinção dos partidos.
O artigo 2º da Lei nº. 9.096/95 dispõe que na criação e transformações dos
partidos políticos devem ser respeitadas a soberania nacional, o regime
democrático, o pluripartidarismo e os direitos fundamentais da pessoa humana.
Aos partidos é garantido autonomia para definir sua estrutura interna,
organização e funcionamento. (Lei nº. 9.096/95, art. 3º).
Os partidos sempre são de escopo nacional e devem ter um estatuto e um
programa, e não tem subordinação a entidades ou governos estrangeiros, sendo
vedado ministrar instrução militar ou paramilitar, utilizar-se de organização da
mesma natureza ou adotar uniforme para os membros. (Lei 9. 096/95, art. 6º).
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. A personalidade jurídica dos partidos se adquire com o registro da sociedade
politica nos termos da lei. E é condição para que possa ser registrado no TSE. (Lei
9.096/95, art. 7º).
Quanto a essa exigência, a lei prevê em seu artigo 7º, § 1º que o partido tem
que ter no mínimo meio por cento dos votos da última eleição geral para a Câmara
dos Deputados, sem cômputo de votos brancos e nulos, ou seja, esse percentual diz
respeito apenas aos votos válidos distribuídos por um terço, ou mais, dos Estados,
com um mínimo de um décimo por cento do eleitorado que haja votado em cada um
deles.
Essa conta é difícil de ser realizada, pois não esclarece o artigo qual o
parâmetro real. Conforme o artigo 9º, § 1º a prova são as assinaturas dos eleitores.
Lei 9.096/95, art. 9º § 1º A prova do apoiamento mínimo de eleitores é feita por meio de suas assinaturas, com menção ao número do respectivo título eleitoral, em listas organizadas para cada Zona, sendo a veracidade das respectivas assinaturas e o número dos títulos atestados pelo Escrivão Eleitoral.
Segundo o Manual de Práticas Cartoriais da Justiça Eleitoral (BRASIL/TRE,
2013) após a elaboração do programa e do estatuto partidário, os seus fundadores
deverão subscrever o requerimento de registro do partido político, em número nunca
inferior a 101 (cento e um), com domicílio eleitoral em, no mínimo, um terço dos
Estados (9), conforme exigência do artigo 8º, caput, da Lei nº 9.096/1995.
No requerimento deverá indicar o nome e a função dos dirigentes provisórios
e o endereço da sede do partido na Capital Federal, nos termos do artigo 8º, § 1º, da
Lei nº 9.096/1995.
Assim, apenas o partido que tenha realizado sua inscrição nos termos da Lei
9.096/95 poderá participar das eleições, receber recursos do Fundo Partidário e ter
acesso a propaganda eleitoral gratuita. (Lei 9.0-96/95, art. 9º, § 2º).
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O registro também opera no sentido de garantir ao partido a exclusividade
do nome, sigla e símbolos. (Lei 9.0-96/95, art. 9º, § 3º).
2.3. LIMITAÇÕES A CRIAÇÃO DE PARTIDOS POLITICOS EM 2014
O Senado aprovou recentemente um projeto de lei que dificulta a criação de
partidos políticos, limitando o acesso de novas legendas a verbas do Fundo
Partidário e propaganda eleitoral gratuita.
Esta foi uma decisão controvertida que havia já criado debates no Supremo
Tribunal Federal (STF) pois os partidos políticos garantem o regime democrático,
embora hoje existam inúmeros partidos sem condições de disputar as eleições pela
insuficiência da sua estrutura.
Os Senadores, entretanto, entendem que já existam partidos suficientes e que
há grupos que criam legendas apenas para acessar as verbas do Fundo e negociar
o tempo que teriam de propaganda na televisão.
A partir do PL Complementar apenas os partidos que elegem deputado terão
condições de participar do Fundo.
2.4. A FILIAÇÃO DE ACORDO COM OS PARTIDOS POLITICOS.
O envio de informações ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decorre de
exigência legal. Este ano trinta e dois partidos políticos existentes no Brasil enviaram
os números da filiação, o que corresponde a cerca de 10% do total de eleitores do
país (cerca de 140 milhões).
O sistema de contato entre partidos políticos e a Justiça Eleitoral atualmente é
feito pelo Filiaweb, que é uma aplicação utilizada pelos partidos políticos e que
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também pode ser utilizada pelos cidadãos para interagir on-line com o Sistema de
Filiação Partidária.
Segundo a Lei nº. 6.996, de 7 de junho de 1982, o processamento eletrônico
de dados é um serviço eleitoral que os Tribunais Regionais realizam (Art. 1º). É um
serviço que depende de autorização do TSE e se refere a serviços que são
realizados mediante contrato, conforme se dessume da norma em comento:
Lei 6.996/82 Art. 1º - Os Tribunais Regionais Eleitorais, nos Estados em que for autorizado pelo Tribunal Superior Eleitoral, poderão utilizar processamento eletrônico de dados nos serviços eleitorais, na forma prevista nesta Lei. § 1º - A autorização do Tribunal Superior Eleitoral será solicitada pelo Tribunal Regional Eleitoral interessado, que, previamente, ouvirá os Partidos Políticos. § 2º - O pedido de autorização poderá referir-se ao alistamento eleitoral, à votação e à apuração, ou a apenas uma dessas fases, em todo o Estado, em determinadas Zonas Eleitorais ou em parte destas.
Art. 2º - Concedida a autorização, o Tribunal Regional Eleitoral, em conformidade com as condições e peculiaridades locais, executará os serviços de processamento eletrônico de dados diretamente ou mediante convênio ou contrato.
Para os cidadãos o sistema o partido ou o cidadão deve se habilitar no TRE
e obter uma senha através da qual se pode obter gerenciamento do cadastro de
filiados (inclusive com dados facultativos); o gerenciamento de relações de filiados
(oficiais e internas); o gerenciamento de usuários de partidos políticos; a emissão
de certidão de filiação partidária pela Internet; e fazer consulta às relações de
filiados oficiais pela Internet.
O uso desse sistema se tornou obrigatório a partir de abril de 2010, por
força da Resolução TSE 23.117, de 2009, que em seu artigo 19, 2º dispõe.
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Res. 23.117/2009, Art. 19. A entrega das relações ordinárias do mês de outubro de 2009 e de eventuais relações especiais de dezembro de 2009 poderá ser feita, a critério dos órgãos partidários, utilizando-se o Filiaweb ou o módulo externo do sistema de filiação aprovado pela Res.-TSE nº 21.574, de 27 de novembro de 2003, observadas as regras nela definidas, com posterior comparecimento ao cartório eleitoral competente. § 1º A habilitação de dirigente partidário para acesso ao Filiaweb, no período de que cuida o caput deste artigo, tornará obrigatório o uso da aplicação. § 2º A partir da entrega das relações ordinárias do mês de abril de 2010, a utilização da nova sistemática será obrigatória em todo o território nacional, quando estarão revogadas as disposições da norma mencionada no caput e suas alterações posteriores.
Assim, em Outubro de 2013 foi entregue a relação de afiliados dos atuais
partidos políticos.
Os partidos possuem em conjunto apenas 15.270.234 milhões de afiliados,
mas ainda existem cerca de 75 mil casos em litígio, suspeitos de dupla filiação
(G1.GLOBO, noticia veiculada em 29/10/2013).
Abaixo, o Quadro 1 apresenta a composição de filiados de cada partido
político existente no atual quadro político.
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QUADRO 1. NUMERO DE AFILIADOS POR PARTIDO POLITICO. 2013
SIGLA PARTIDO AFILIADOS
PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro 2.357.021
PT Partido dos Trabalhadores 1.589.941
PP Partido Progressista 1.416.214
PSDB Partido da Social Democracia Brasileira 1.352.107
PDT Partido Democrático Trabalhista 1.209.740
PTB Partido Trabalhista Brasileiro 1.185.443
DEM Democratas 1.089.092
PR Partido da República 766.899
PSB Partido Socialista Brasileiro 583.678
PPS Partido Popular Socialista 465.739
PSC Partido Social Cristão 371,313
PC do B Partido Socialista do Brasil 353.465
PV Partido Verde 340.494
PRB Partido Republicado Brasileiro 302.389
PRP Partido Republicano Progressista 222.613
PMN Partido da Mobilização Nacional 211.414
PSL Partido Nacional Liberal 200.681
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PSD Partido Social Democrata 191.934
PTC Partido Trabalhista Cristão 176.558
PT do B Partido Trabalhista do Brasil 167.926
PSDC Partido Social Democrata Cristão 167.143
PHS Partido Humanista da Solidariedade 145.230
PTN Partido Trabalhista 129.461
PRTB Partido Renovador Trabalhista Brasileiro 115.596
PSOL Partido Socialismo e Liberdade 89.151
PPL Partido Pátria Livre 17.232
PSTU Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado 16.774
PCB Partido Comunista Brasileiro 15.280
PEN Partido Ecológico nacional 7.538
SDD Partido Solidariedade 4.647
PROS Partido Republicano da Ordem Social 4.258
PCO Partido da Causa Operaria 2.263
TOTAL 15.270.234
A primeira discrepância que chama atenção é o fato de que um partido
político possa estar ativo contando com pouco mais de dois mil filiados. Essa é uma
questão que se deve entender do ponto de vista da lei.
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3. CRIAÇÃO E EXTINÇÃO DE PARTIDOS POLITICOS
3.1. A QUESTÃO DO PODER POLITICO
A durabilidade e a complexidade, bem como a representatividade são
marcas do poder que se organiza politicamente em partidos. Os partidos políticos se
submetem a Constituição e a soberania nacional no regime democrático. O
pluripartidarismo tem a mesma conotação do multipartidarismo.
O poder nas sociedades pluripartidárias organiza a opinião pública a partir
de um “diálogo” maior entre os representantes de diferentes grupos sociais.
O caráter nacional dos partidos políticos é observado quando se organizam em nove Estados-Membros, com a criação de diretórios municipais, regionais e nacionais e com o apoio do número de eleitores indicado no § 1º do art. 7º e § 3º do art. 8º da Lei nº 9.096/95. É mesmo de discutível constitucionalmente a exigência legal de número mínimo de eleitores para viabilizar o registro do partido político perante o TSE, porquanto o §2º do art. 17 dispõe apenas que “os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral”, razão por que restrição de tal natureza não se coaduna com a liberdade quanto à criação de grêmios partidários consagrada no art.17, caput, da Constituição. Os Tribunais têm entendimento amplamente majoritário em linha de afinidade com a previsão legal. (SILVA NETO, 2008, p. 755).
Desse modo é preciso entender que a identidade partidária se dá por atenção
ao principio da liberdade de escolha, o que iria confrontar a atual regra da fidelidade
partidária.
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Segundo Santos (2012) foi a partir da teoria de Hans Kelsen que começa a
surgir uma nova teoria sobre a função dos partidos na democracia representativa,
que até então eram tidos como uma forma de sectarismo social.
Os teóricos até então acreditavam que o sectarismo político próprio ao fenômeno partidário conduzia inexoravelmente à segregação da própria sociedade. Dissentindo destas conclusões, Kelsen defendia que os partidos poderiam aprimorar a democracia, bastando que se organizassem com base em programas de governo. Desta sorte, o eleitor votaria nas ideias expressadas pelos diferentes partidos, e não nas próprias pessoas que as defendessem. (SANTOS, 2012, p. 1).
Foi a partir então dessa maneira de ver o partido politico defendida por Kelsen
que os partidos começam a se organizar com base em programas de governo.
Mas a crítica, segundo Santos (2012) é que o paradigma do programa só
funciona se um partido sozinho detiver maioria no centro de decisões políticas do
Estado (geralmente, o parlamento). Do contrário, é necessário que ele se coligue
com outros partidos para que possa governar. Tal fato implica em dizer que outra
ideologia – vencida nas eleições – passe a integrar o governo. (SANTOS, 2012).
Os partidos se firmaram como uma expressão da vontade organizada e se
ligam a grupos dominantes. Estes grupos acabam influenciando os destinos da
sociedade, e modificando também a estrutura interna dos partidos por influencias
politicas dos que já foram eleitos.
Para Silva (2000) há quatro grupos no cenário politico que podem ser
identificados como dominantes: a) contentes com a ordem estabelecida, contrários a
qualquer mudança, que são os conservadores; b) contentes, mas predispostos a
aceitar certas alterações na ordem vigente, que são os liberais, ditos também de
centro; c) descontentes com a ordem estabelecida, postulando transformações, que
são os socialistas, os esquerdistas em geral entre os moderados e radicais; d)
descontentes com a ordem vigente, não porque desejem mudanças, mas porque
acham que já se avançou demais, que já se ultrapassaram os limites razoáveis, que
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são os reacionários de todos os matizes, os direitistas em geral: integralistas,
fascistas, nazistas e outras espécies. (SILVA, 2000, p. 399).
Os grupos mais expressivos tendem a concorrer e ganhar eleições, fazendo
representantes no parlamento, enquanto os grupos menos expressivos são
facilmente corrompidos pelo dinheiro, ou conquistados por pessoas corruptas do que
defluem interferências indevidas no processo de formação da vontade geral. “Em si
mesma, a multiplicidade dos partidos é um obstáculo ao funcionamento do regime
parlamentar, pois, se nenhum dos partidos tem a maioria absoluta, os governos são
necessariamente de coalizão e, em consequência, quase tíbios e instáveis".
(SANTOS, 2012, p. 1).
A liberdade politica, entretanto, pressupõe a diversidade como forma de
exercício democrático do governo; daí a necessidade de se garantir o funcionamento
dos partidos, através do apoio dos eleitores.
3.2. FIDELIDADE PARTIDÁRIA
A filiação a um partido implica em que um cidadão que seja eleitor adote o
programa do partido e passe a integrá-lo como forma de apoio. O vinculo que
decorre da filiação é condição de elegibilidade, segundo a Constituição, artigo 14º, §
1º, V. apenas eleitores que estão em gozo de seus direitos políticos podem filiar-se,
conforme dispõe a Lei nº. 9.096/95, artigo 16º.
Uma vez filiado o cidadão que deseja e se articula internamente no partido
poderá concorrer a cargo eletivo, se estiver filiado há pelo menos um ano antes da
data das eleições (art. 9º da Lei nº 9.504, artigo 28 e 20).
A fidelidade é um dever no atual quadro de regras eleitoral. O candidato que
é eleito tem que cumprir o seu mandato dentro da legenda que o elegeu e cumprir o
estatuto do seu partido, bem como a plataforma eleitoral que defendeu durante a
campanha.
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Caso o candidato eleito venha a afastar-se do partido ele se submete a perda
do mandato eletivo.
Santos (2009) explica que a perda do mandato por troca de partido não era
permitida na Constituição de 1988. O artigo 15º da CRFB vedava a cassação dos
direitos políticos e estabelecia as restrições, in verbis:
I – cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
II – incapacidade civil absoluta;
III – condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;
IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos
termos do art. 5º, VIII;
]V – improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.
A CRFB em seu artigo 17º, § 1º, estabeleceu normas de fidelidade, in verbis:
CRFB, art. 17º, § 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.
Mas a lei nº 9.096/95, que regulamenta o artigo 17º supra, em seu Capítulo
V, trata das normas de fidelidade e disciplina partidária, dispõe que a violação dos
deveres partidários será apurada da seguinte forma:
Art. 23. A responsabilidade por violação dos deveres partidários deve ser apurada e punida pelo competente órgão, na conformidade do que disponha o estatuto de cada partido: § 1º- filiado algum pode sofrer medida disciplinar ou punição por conduta que não esteja tipificada no estatuto do partido político. § 2º - Ao acusado é assegurado amplo direito de defesa. Art. 24. Na Casa Legislativa, o integrante da bancada de partido deve subordinar sua ação parlamentar aos princípios doutrinários e
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programáticos e às diretrizes estabelecidos pelos órgãos de direção partidários, na forma do estatuto. Art. 25. O estatuto poderá estabelecer, além das medidas disciplinares básicas de caráter partidário, normas sobre penalidades, inclusive com desligamento temporário da bancada, suspensão do direito de voto nas reuniões internas ou perda de todas as prerrogativas, cargos e funções que exerça em decorrência da representação e da proporção partidária, na respectiva casa legislativa, ao parlamentar que se opuser, pela atitude ou pelo voto, às diretrizes legitimamente estabelecidas pelos órgãos partidários. Art. 26. Perde automaticamente a função ou cargo que exerça, na respectiva Casa legislativa, em virtude da proporção partidária, o parlamentar que deixar o partido sob cuja legenda tenha sido eleito.
Assim, é questionável a aplicação da liberdade politica diante de tais
disposições, pois o partido detém o comando de seus membros, o que sugere muito
mais um caráter paramilitar, que é vedado constitucionalmente.
Conforme Santos (2009) trata-se de entender o perfil totalitário que adquiriram
os partidos políticos atualmente, mas deve-se pesar, no entanto que o livre arbítrio
do eleito pesa contra a própria existência dos partidos.
A questão da infidelidade partidária contribui para diminuir o grau de representatividade do regime democrático brasileiro, porque não se respeita a vontade do eleitor, altera-se a representação eleita. Ainda porque o voto dado a um partido é transferido para outro partido, sem a vontade ou a consulta ao eleitor que depositou seu voto. Na verdade, os partidos políticos se tornaram protagonistas da democracia representativa, e não o candidato, pois sem a filiação, em nossa legislação, este não pode sequer registrar sua candidatura e concorrer ao cargo que almeja. Não há nenhuma dúvida, quer juridicamente quanto na prática, a vinculação de um candidato com o partido pelo qual se registra a sua candidatura, daí onde se verifica sua identidade política, e também, partindo deste princípio, pode-se dizer que fora do partido, o político em si não existe, pelo menos para concorrer numa eleição. (SANTOS, 2009, 41).
Para Reiner (2001, apud Santos, 2009) os partidos fazem parte de peças
fundamentais no jogo democrático especialmente porque tem estabilidade,
atribuições e condições de funcionamento segundo regras conhecidas “para que o
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eleitor possa ter a consciência de, em quem e para quê está votando” (SANTOS,
2009, p. 41).
Assim, devem-se ponderar os interesses do candidato, pois ele não venceu
a eleição sozinho, mas contou com o apoio da legenda e dos eleitores que votam
junto com o partido. Deve-se “coadunar as vontades do parlamentar e do partido,
dentro dos princípios gerais que norteiam o programa partidário que foi sufragado
pelo eleitor”, segundo Santos (2009).
Na verdade não há como entender a vedação do parlamentar a discordância
da orientação do partido, vez que se trata de um regime de liberdades civis.
Mesmo que obedeça às diretrizes estabelecidas pela direção partidária, o parlamentar poderá, em determinadas circunstâncias, discordar de alguma orientação ou decisão, por razões de foro íntimo ou de natureza política, ideológica, ou religiosa. Mudanças constantes nas orientações de um partido em razão de sua posição com relação ao governo têm levado a impasses entre parlamentares fiéis à orientação anterior e a nova diretriz partidária, mesmo que ela inove em relação ao programa original do partido. E continua a citada autora, comentando que a infidelidade partidária, ou o “troca-troca” de partido, não diminuiu com o amadurecimento de nossa democracia: Além de não terem diminuído com o avanço da democracia, as mudanças de partidos viraram quase uma regra, ou melhor, uma solução para múltiplos problemas dos parlamentares, como convenções perdidas ou ameaçadas, ampliação das chances dos candidatos nas eleições proporcionais, conflitos e aproximações pessoais, busca de recursos para projetos regionais e locais e diferenças ideológicas. (SANTOS, 2009, p. 42).
Assim, a questão da fidelidade partidária faz parte de um conjunto de
debates afeto aos interesses dos partidos políticos e dos seus afiliados, mas não há
que se esquecer de que o pluripartidarismo implica em consciência e identidade de
ideais, e nessa perspectiva a vedação parece ir em direção contrária.
25
3.3. DECLINIO E EXTINÇÃO DE PARTIDOS POLITICOS
3.3.1. MOVIMENTOS SOCIAIS EM DIREÇÃO À DEMOCRACIA
Há uma grande diferença entre o poder politico, que se estende a todo o
tecido social e o poder político derivado do ato de governar.
No que se refere ao poder político, sua definição compreende a energia
derivada das relações intersubjetivas e objetivas capazes de coordenar e impor
decisões visando a realização de certos fins. Trata-se de um poder superior aos
outros poderes ditos sociais, que reconhece esses poderes, mas os submete pela
força da lei, com o objetivo de ordenar as relações individuais e coletivas entre si e
reciprocamente. A função do poder político é a de remeter a vida às instâncias da
ordem e do bem comum.
Assim, o conceito está também referido a todas as outras formas de poder
que se derivam ou se modelam a partir do poder de Estado.
A princípio pode-se dizer que o poder político se diferencia do ato de governar
porque no primeiro todos os demais poderes são dominados em razão de que o
poder político é uno, indivisível e indelegável e seu objetivo é a ordem e o bem
comum. Enquanto o ato de governo é um tipo de exercício do poder político dividido
entre suas funções: legislativa, executiva e jurisdicional.
Os movimentos sociais que foram crescendo entre 1960 e 1990 no Brasil se
enquadraram dentro de uma ordem de poder que extrapolou a organização em
sindicatos ou em grupos religiosos. Os movimentos operário e pastoral acabaram se
ampliando tanto que deram origem a grupos políticos dispersos em partidos, entre
os quais o mais fortalecido foi o Partido dos Trabalhadores, sob a liderança de Luís
Inácio Lula da Silva, que veia a ser eleito Presidente da República do Brasil,
exercendo dois mandatos consecutivos (2003-2006 e 2007-2010).
26
O próprio conceito de movimento social parece ter se modificado do ponto de
vista sociológico em função dos interesses do povo naquele momento (1960-1990),
conforme se encontrou no estudo de Miranda, Castilho e Cardoso (2009).
Até o inicio do século XX, o conceito de movimentos sociais contemplava apenas a organização e a ação dos trabalhadores em sindicatos. Com a progressiva delimitação desse campo de estudo pelas Ciências Sociais, principalmente a partir da década de 60, as definições, embora ainda permanecessem imprecisas, assumiram uma consistência teórica, principalmente na obra de Alain Touraine, para quem os movimentos sociais seriam o próprio objeto da Sociologia. Apesar do desenvolvimento que o conceito teve nos últimos anos, não há consenso ainda hoje entre os pesquisadores sobre seu significado. Outros estudiosos do tema, como Alberto Melucci, por exemplo, questionam o conceito de movimentos sociais por considerá-lo reducionista, e empregam preferencialmente o de ações sociais, potencializando o processo de dominação econômica, politica, social, ideológica e cultural e a manutenção domando e do poder. (MIRANDA, CASTILHO, CARDOSO, 2009, pp. 175-176).
É interessante notar que Goss e Prudêncio (2004) estudando os movimentos
sociais entendem que estes devam ser diferenciados dos movimentos sociais.
Enquanto estes últimos combinam um conflito social com um projeto cultural,
defendendo os valores morais de modo diferente, os movimentos culturais são
ações que se dirigem a afirmação de direitos mais do que no conflito com posições
opostas.
(...) distingue os movimentos societais dos movimentos culturais — ações voltadas para a afirmação de direitos culturais mais que no conflito com o adversário —, e dos movimentos históricos — que põe em questão uma elite e apelam ao povo contra o Estado. A partir disso, afirma que o que se forma, sobretudo, são movimentos históricos de defesa contra a globalização, mesmo porque eles são mais visíveis que os movimentos societais. Estes, por sua vez, se caracterizam por estarem ligados não a uma situação revolucionária, mas à capacidade do ator de elaborar uma práxis, de comprometer-se num conflito societal e erigir-se em defensor dos valores societais, que não podem reduzir-se aos interesses do ator nem conduzir ao aniquilamento do adversário (Touraine, 2003). Ou seja, num conflito societal, a contestação é permanente. Embora essa distinção tenha
27
sido elaborada para evitar equívocos nas considerações sobre movimentos sociais, ela de certa forma restringe a análise, que fica engessada dentro das três categorias. Por outro lado, se enfocamos a discussão de movimento social como chamamento ao sujeito (Touraine, 1998), as possibilidades de análise dos fenômenos coletivos recentes se abrem. Mesmo sendo as definições de sujeito como movimento social e de movimentos societais muito próximas, a abordagem da primeira permite considerar fenômenos que não necessariamente se enquadram na segunda. (GOSS, PRUDÊNCIO, 2004, p. 79).
Assim, pensando em localizar os movimentos sociais que ocorreram no país
nos últimos cinquenta anos chega-se a conclusão que se trata de um movimento
histórico que colocou a questão da elaboração de nova práxis social, com a
participação ativa dos cidadãos.
Examinando mais detidamente veja-se, entretanto, que esse movimento foi
revolucionário, tanto no sentido material, pois houve luta real quanto no sentido
simbólico, pois o que se pretendia com a reorganização social fora, na verdade,
modificar a situação política, social e econômica do país.
3.4. A ÉTICA NO REGIME PÚBLICO
A reflexão sobre a postura ética dos indivíduos transcende o campo
individual e alcança o plano profissional dos seres humanos. A ética está
no cotidiano da vida das pessoas. Em jornais, revistas, diálogos e outros aspectos
da realidade social, a ética é utilizada, lembrada, esquecida, mencionada ou até
mesmo exigida.
A questão da ética, hoje, é tão abrangente que ganhou um aspecto
interdisciplinar: ética nos negócios, ética na política, ética nas profissões, ética da
informação, bioética, ética ecológica ou ambiental, ética da ciência e da tecnologia.
Na área política temos, como exemplo, a Câmara dos Deputados. Foi criado
sítio na Internet com páginas sobre o assunto, em que se pode encontrar todos os
28
dados do Conselho de Ética sobre os processos de quebra de decoro parlamentar.
Criada pelo Presidente da República em maio de 2000, a Comissão de Ética
Pública (CEP) entende que o aperfeiçoamento da conduta ética decorreria da
explicitação de regras claras de comportamento e do desenvolvimento de uma
estratégia específica para a sua implementação.
Na formulação dessa estratégia, a Comissão considera que é imprescindível
levar em conta, como pressuposto, que a base do funcionalismo é estruturalmente
sólida, pois deriva de valores tradicionais da classe média, onde ele é recrutado.
Portanto, qualquer iniciativa que parta do diagnóstico de que se está diante de um
problema endêmico de corrupção generalizada será, inevitavelmente, equivocada,
injusta e contraproducente, pois alienaria o funcionalismo do esforço de
aperfeiçoamento que a sociedade está a exigir. Afinal, não se poderia
responsabilizar nem cobrar algo de alguém que sequer teve a oportunidade de
conhecê-lo.
Um único senão a esta colocação é o fato de que é obrigação do servidor
público, ao ingressar, conhecer e concordar com as disposições estabelecidas na
legislação que regulamenta suas atividades. Assim, o conhecimento prévio da lei
8.112, é o mínimo exigível para ingresso nos quadros da Administração Pública.
Do ponto de vista da CEP, a repressão, na prática, é quase sempre ineficaz.
O ideal seria a prevenção, através de identificação e de tratamento específico, das
áreas da administração pública em que ocorressem, com maior frequência, condutas
incompatíveis com o padrão ético almejado para o serviço público. Essa é uma
tarefa complicada, que deveria ser iniciada pelo nível mais alto da administração,
aqueles que detém poder decisório.
3.5. A CORRUPÇÃO POLITICA
A corrupção politica no Brasil desde o inicio do processo de redemocratização
atingiu agora um nível muito alto, que compromete as estruturas do governo.
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Segundo noticia publicada no Jornal do Brasil (2013) o levantamento da ONG
Transparência Internacional o Brasil chegou a números alarmantes.
De acordo com o levantamento, nada menos que 81% dos brasileiros acreditam que partidos políticos são “corruptos ou muito corruptos”. Em segundo lugar está o Congresso, que para 72% dos brasileiros é a instituição mais corrupta. Segundo a pesquisa, os países com mais pessimistas em relação à corrupção são Argélia, onde 87% dos entrevistados avalia que a situação piorou, Líbano (84%) e Nigéria (84%).O curioso é que não aparecem no topo do ranking países onde escândalos financeiros e de corrupção abalaram o mundo e alcançaram cifras estratosféricas. (JORNAL DO BRASIL, 10/07/2013).
A corrupção tem sido uma explicação para diversos males no país, ela afeta o
estado de Bem estar social especialmente porque os desvios de verbas públicas faz
com que os investimentos públicos nas áreas primordiais, como educação, saúde,
transporte, segurança e habitação sejam escasseados.
A corrupção tem ainda atingido de perto o partido político, uma vez que no
último escândalo politico, denominado “Mensalão”, poucos partidos não estavam
presentes nas listas de indiciados e suspeitos.
A questão da corrupção começa pelo descaso dos políticos em relação a
regras básicas como o repúdio ao nepotismo.
Para se estudar a fundo a corrupção devem-se considerar ainda os
mecanismos de reforma politica que tem sido incessantes no Brasil. As reformas
estão ligadas a uma modernização do Estado que se tornou um mercado político.
As velhas ideias de política que informavam sobre o exercício de um mandato
como expectativa de cidadania não mais reflete a realidade. Os políticos atuais são
profissionais da política, e nem de longe lembram os cidadãos que se mobilizavam
em torno de uma causa e reuniam-se em grupos instituídos com a finalidade de
defendê-la.
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O Estado moderno se diferencia muito do Estado pré-moderno, conforme
descreve Silva (1996) com suas quatro características principais: a) ser uma
extensão da família real; b) uma propriedade do soberano; c) indiferenciado da
sociedade e d) patrimonialista.
O sistema de remuneração politica dentro do patrimonialismo podia ser feito
por delegação de direito de apropriação de tributos pelo funcionário-súdito ou pela
concessão de terras ou de direitos de produção.
A corrupção assume uma feição peculiar nas sociedades patrimonialistas, já que não há uma clara distinção legal e normativa (constitucional) entre a res privada e a res publica. É natural a mistura entre o privado e o público, entre as posses do soberano e o orçamento do Estado. Mas isto não quer dizer que não houvesse, em determinados casos históricos, uma consciência acerca do fenômeno. No entanto, o estudo de alguns exemplos retirados da história europeia mostram que a consciência clara da corrução e a emergência de regras e leis que tinham por objetivo minimizá-la surgem com o Estado moderno, com a separação legal e moral entre o soberano e o poder constitucional, com o fortalecimento das democracias e coma transição da dominação patrimonialista para a administração burocrática racional e profissional. (SILVA, 1996, s.p.).
Na perspectiva de um Estado moderno há Constituição, e há separação entre
o patrimônio do Estado e dos particulares. Esse é o primeiro viés para se entender
que a corrupção se dá na apropriação de partes do patrimônio estatal.
A democracia constitucional não permite que haja confusão entre Estado e
particulares e o ponto essencial nesse quadro é o controle do ponto de vista legal
tanto da máquina do Estado quanto do comportamento dos políticos e agentes
públicos.
Segundo Silva (1996) na democracia os cidadãos podem exigir maior
eficiência e disciplina nos gastos do patrimônio estatal em virtude de ser do próprio
sistema o poder de fiscalização do comportamento dos agentes políticos e públicos.
31
Segundo Brei (1996) há dúvidas quanto ao fato de que a corrupção seja um
dado cultural. A suposição de que uma das principais causas seja a cultura não se
sustenta pois existe enorme diferença entre as leis promulgadas em uma sociedade
e a prática da corrupção.
Ainda, contrariamente à tese funcionalista de que práticas corruptas são autodestrutivas, reduzindo-se com a evolução do processo de modernização, insiste Werner em que elas têm vigorado também em países avançados, fazendo parte do estilo nacional do modus operandi na maior parte do mundo. É fenômeno universal, não uma variável dependente do desenvolvimento. Manifesta-se nos países desenvolvidos também como nefastas consequências e com tendência à autoperpetuação. (BREI, 1996, p. 109).
Segundo Brei (1996) Becquart-Leclercq critica o funcionalismo a partir da
existência de um paradoxo nas relações da sociedade com a corrupção. Embora os
cidadãos não desejem a corrupção no Estado, por outro lado aceitam de forma
latente ou legitimada a corrupção como parte do exercício de poder.
Assim, apesar de se ter a impressão de que a corrupção é uma anomia
social, ela na verdade introduz certas regras aonde não existem, produzindo a
conformação dos atores.
Assim, ela atende a certas necessidades do sistema, ignora a interação entre
atores concretos, sua rede de relações e hierarquias. Ela se apoia essencialmente
na assimetria pela desigualdade das posições dos atores, o que permite os abusos
de poder. Práticas de corrupção também beneficiam quem não está diretamente
atuando nesse eixo, e por ser uma atividade feita em segredo ela se torna também
contagiosa.
A participação política nos processos de governo deve também ser pensada
em termos de motivação.
Segundo Caminha (2013) para avaliar uma política é preciso saber que existe
uma agenda de políticas que consiste em uma lista de prioridades que já estão
estabelecidas e as quais os governos dedicam-se:
32
O momento da formulação da agenda política é aquele em que os issues que lograram a atenção pública passam a ser considerados para efeito da ação do Estado. Os autores distinguem dois tipos de "agenda de política": a agenda sistêmica, denominada também de agenda do Estado ou agenda da sociedade, e a agenda formal, igualmente conhecida como agenda institucional ou agenda governamental. A expressão "agenda sistêmica" é utilizada para fazer referência à lista de questões que preocupam permanentemente diversos atores políticos e sociais, ou que dizem respeito à sociedade como um todo, não se restringindo a este ou aquele governo. No Brasil, por exemplo compõe a agenda sistêmica questões como a desigualdade social, a violência, a degradação ambiental e o desenvolvimento econômico e social, por afetarem toda a sociedade, independentemente de partidos políticos e governos (RUA, 2009, p. 66). Para fazer parte da agenda sistêmica requer-se do issue uma atenção difundida, a preocupação compartilhada por parcela considerável de público como objeto de ação, a percepção partilhada de que se trata de um assunto apropriado à esfera governamental, o acesso à mídia ou a recursos necessários para alcançar pessoas, a percepção por um grande número de pessoas e que a ação a ser desencadeada seja considerada possível e necessária (CAMINHA, 2013, s.p.).
Outro elemento pensado por Caminha (2013) foi a crise do sindicalismo, que
se deu pelo avanço do neoliberalismo e pela descontinuidade de uma consciência
de classe que resultou dessa crise.
Os sindicatos que no Brasil formaram a base dos partidos políticos de
esquerda “se fecharam” defendendo instituições burocráticas e deixaram de se
adaptar as mudanças políticas, segundo Caminha (2013)
A crise do sindicalismo e, com ela, a crise dos partidos gestados no seio do movimento sindical é uma crise de legitimidade, pois já não reúnem em torno de si a classe trabalhadora na complexidade de sua composição hoje em dia. Hoje a classe trabalhadora deve ser compreendida como a classe de todas as pessoas que vivem do trabalho, aí incluídos, portanto, não só os trabalhadores em empregos estáveis, mas também aqui o enorme contingente de desempregados e daqueles trabalhadores que estão no trabalho informal, em empregos temporários ou mesmo em empregos sob condições precárias. (CAMINHA, 2013, s.p.).
33
Assim, para Caminha (2013) a solução para a desmobilização passaria por
um esforço em favor da sindicalização.
Outra questão é a abertura ao multiculturalismo que se tornou uma doutrina
estratégica para encontrar dentro de um mesmo território diferentes minorias
políticas.
A adoção pública de uma política aberta à diversidade e à pluralidade cultural reduz
a tensão social e permite a troca dentro do mercado econômico em condições mais
atrativas.
O multiculturalismo se tornou, portanto, uma doutrina, adotada por governos
em certos momentos considerados estratégicos. A ideia de encontrar minorias
políticas dentro de um mesmo território traz certas vantagens locais, e talvez a
principal delas tenha caráter humanista, ou seja, o fato de que as minorias
incentivam o desenvolvimento de leis e políticas públicas de benefício a toda
sociedade e que trazem reconhecimento a certos políticos que advogam ou realizam
essas mudanças.
As culturas dentro da doutrina multiculturalista são tomadas singularmente,
através de um processo que inclui uma visão não etnocentrista e que está sempre
amparada por um conjunto de leis protetivas.
Acaba se tornando uma fonte de reivindicações e de conquistas de minorias
que beneficiam muito mais pessoas além dos grupos, como é o caso das
populações negras, indígenas, das mulheres ou dos homossexuais.
Do ponto de vista sociológico se entende que a doutrina multiculturalista é
um ponto de resistência contra a dominação de um grupo homogêneo, e nesse
sentido, é importante entender que a doutrina foi reforçada após a 2ª. Grande
Guerra em função do repúdio geral ao nazismo e às suas características eugênicas.
Resistindo a homogeneidade cultural se estreitam as possibilidades de um
regime político duro e fascista, onde a opressão aos grupos de minoria seria mais
sentido e mais cruel. Sociedades com estas características convivem em cerca de
10 a 15% dos países do mundo que se consideram etnicamente homogêneos.
34
Dentro da perspectiva doutrinária há uma classificação defendida também
por Semprini (1999) de que os problemas da convivência multicultural são de três
ordens: na educação; na construção da identidade sexual e nas reivindicações
legais.
Para que existam bases de identificação e de fixação dos grupos
multiculturais dentro da mesma localidade é necessário que exista também
intermediação e composição de interesses mediada, o que significa entender que
tem que haver direitos garantidos como ponto de apoio a reivindicações e também
ao atendimento dessas reivindicações.
35
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho buscou compreender o decréscimo da filiação partidária
examinando primeiramente a constituição atual dos partidos políticos como
estruturas de interesse social.
Não se vislumbra nas disposições legais ou normativas qualquer indicativo de
que as regras de constituição dos partidos políticos possam responder por um
decréscimo das filiações, mesmo considerando os obstáculos a liberdade de
transferir-se de partido.
Entretanto, chamou atenção o fato de que vários estudiosos indicam uma
desmobilização político-partidaria com o avanço do neoliberalismo. De fato, no
Brasil, boa parte dos partidos políticos tem sido constituídos com a força dos
sindicatos, e a sua perda de interesse no processo político coincide com uma
desmobilização político partidária.
Chama atenção também o problema da corrupção, pois se em parte não se
pode dizer que ela seja um fenômeno cultural, de outro lado é inegável a depressão
em que o avanço da corrupção partidária tem deixado a população.
Estudar a desmobilização político partidária, entretanto, é uma tarefa muito
difícil, pois sempre que se tem em contra a participação humana é preciso assumir a
provisoriedade de toda e qualquer condição que esteja na base de uma explicação.
36
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