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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA ALIENAÇÃO PARENTAL SOB UM OLHAR NA PESPECTIVA PSICOLÓGICA: CRIANÇA X GENITOR Por: Aline da Silva Farias Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

ALIENAÇÃO PARENTAL SOB UM OLHAR NA PESPECTIVA

PSICOLÓGICA: CRIANÇA X GENITOR

Por: Aline da Silva Farias

Orientador

Prof. Willian Rocha

Rio de Janeiro

2015

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

ALIENAÇÃO PARENTAL SOB UM OLHAR NA PESPECTIVA

PSICOLÓGICA: CRIANÇA X GENITOR

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Psicologia Jurídica

Por: Aline da Silva Farias

3

AGRADECIMENTOS

....primeiramente a Deus, aos amigos e

professores da Universidade AVM,

durante a pós graduação, aos clientes

de atendimento clínico, a minha sogra

querida e aos meus familiares...

4

DEDICATÓRIA

.....dedico esse trabalho ao meu noivo

Marcus Bataglia, que tem se destinado

junto comigo, ao meu crescimento

profissional...

5

RESUMO

Buscar-se-á neste trabalho tecer uma breve análise sobre a Síndrome

de Alienação Parental e as suas implicações sócio-emocionais, bem como

jurídicas, trazendo doutrina e jurisprudência com o objetivo de salientar a

importância da convivência saudável que é possível entre pais e filhos mesmo

após a separação conjugal. Evidenciar as trágicas lesões psíquicas que se

instalam prejudicando o funcionamento e desenvolvimento cognitivo e afetivo

dos indivíduos (criança e genitores) visando, através da conscientização dos

mesmos, um repensar dos comportamentos conjugais, pós-conjugais e

parentais, contribuindo, assim, para a melhoria na qualidade de vida e bem-

estar individual e social.

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METODOLOGIA

Os métodos que levam ao problema proposto foram desenvolvidos

através de revisões bibliográficas com livros, jornais, revistas, artigos

acadêmicos, sites relacionados com os temas abordados. E a resposta

pesquisa bibliográfica com estudo de casos relatados nas entrevistas

anexadas.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Desenvolvimeto Humano 09

CAPÍTULO II - Relacionamento Afetivo 11

CAPÍTULO III - Alienação Parental 16

CONCLUSÃO 28

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 31

ANEXOS 33 ÍNDICE 49

FOLHA DE AVALIAÇÃO 50

8

INTRODUÇÃO

Podemos perceber que no meio social, a constituição de uma família se

provém de um vinculo existente entre um casal, com objetivos em comum.

Ambos trazem, mesmo que inconscientemente, algo que possa preencher sua

vida e sua relação interpessoal, através de trocas ou não de afetos existentes.

Tais como: amor, afetividade, interesse, atenção, relação, afeição, conflitos

entre outros comportamentos, que resultam no possível surgimento dos filhos.

Frutos que vem não só para unir o casal, mas também muitas vezes para

separarem casais. Constituindo assim em um modelo de família existente em

nosso dia-a-dia.

Por que as pessoas precisam de afeto para sobreviver ou se

relacionarem? Segundo Farias; Cirino; Oliveira (2014), os relacionamentos

interpessoais não ocasionais caracterizam-se pela troca entre pessoas que se

unem com objetivos e interesses que podem ser de ordem afetiva, profissional,

de amizade ou mesmo vínculo familiar, ou seja, é natural haver essa troca de

“interesses” no meio social, faz parte do convívio que passamos a ter desde o

inicio de nossas vidas.

O ser humano é um ser social, esta característica inerente fez com que,

desde os primórdios da história, buscasse a companhia de seus semelhantes

visando proteção, comodidade, lazer e essencialmente para o estabelecimento

de uma família.

Na infância que se estabelece essa vivencia e dependência do convívio

com o outro, as figuras que são representadas como “cuidadoras”, segundo

Jhon Bowlby (1907- 1990 apud FARIAS;CIRINO;OLIVEIRA,2014),

estabelecendo e internalizando a necessidade afetiva emocional da criança,

posteriormente que virá a ser adulto.

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As separações e rompimentos de afetividade vêm aumentando cada vez

mais, entre casais, sem ao menos tentarem o diálogo quando algo não está

sadio no relacionamento. Reproduzindo cada vez mais nas futuras gerações

familiares, consequências desestruturais no contexto familiar e distorções

psicológicas principalmente na criança e seus genitores, que

consequentemente irão resolver ou não na justiça.

CAPITULO I

DESENVOLVIMENTO HUMANO

De acordo com a Teoria do Apego de John Bowlby (1907-1990), que foi

um psiquiatra, psicanalista e psicólogo inglês, o desenvolvimento humano

possui uma relação entre os vínculos afetivos iniciais da construção da

personalidade dos indivíduos, descrevendo a repercussão destes não só na

infância, como também na vida adulta.

Ele defende em sua teoria que os seres humanos possuem

necessidades centrais de proteção, afeto, segurança, carinho, autonomia e

estabilidade emocional, entre outros. Tais necessidades universais essenciais

e tê-las atendidas é fundamental para o desenvolvimento emocional e o

estabelecimento de relações saudáveis gerando apego seguro, que pra ele

esse apego é o ideal, faz com que viva de forma sadia.

Essa teoria é de extrema importância a qual podemos associar quando

ele diz que a mãe é a figura central do mundo do bebê, ela atua como

reguladora central das emoções desse bebê, através do suprimento das

necessidades fisiológicas e afetivas existentes no desenvolvimento humano.

10

Sigmund Freud (1889- 1900) dizia que na infância encontra-se o centro

emocional ao longo da vida. É na infância que estabelecem e criam-se vínculos

básicos que fazem com que ao longo da vida cresçam sadios e sabendo lidar

melhor com as suas emoções e afetos.

1.1 - Possíveis causas da dependência afetiva

Através dos experimentos e pesquisas realizadas por Bowlby e James

Robertson, Bowlby e sua equipe deram credibilidade às observações de que a

falta materna seria a variável mais determinante e promotora de maior aflição e

perturbação do que era normalmente percebido até então. Foram descritas

três fases decorrentes das reações das crianças estudadas por Robertson, ao

afastamento materno: protesto, desespero e desapego.

Na fase de protesto é observada a questão da angústia da separação.

Caracteriza-se por um comportamento de intensa agitação e protesto por parte

da criança, com inúmeras tentativas de recuperar a mãe ausente (BOWLBY,

2002 apud FARIAS;CIRINO;OLIVEIRA, 2014).

Se a separação permanece e estando a criança anteriormente apegada à

mãe, entra em cena a fase de desespero. Esta se relaciona ao desgosto e ao

luto que a criança sente por não conseguir recuperar a figura materna. Ela fica

à espera de uma possível volta da mãe, porém, como isto não ocorre, a

esperança dá lugar à desesperança. O sentimento de perda e ausência é tão

intenso, que é como se a mãe tivesse morrido (BOWLBY, 1989 apud

FARIAS;CIRINO;OLIVEIRA, 2014).

Na fase do desapego, o comportamento da criança parece ser de

desinteresse pela mãe. A busca pela proximidade é quase inexistente: ao rever

a mãe, a criança demonstra um distanciamento emocional, um desligamento,

11

em uma espécie de processo defensivo. Estas três etapas experimentadas

pela criança devem-se fundamentalmente a ausência dos cuidados maternos

neste momento do desenvolvimento infantil no qual a criança é dependente e

frágil. São etapas ou fases que fazem parte de um processo único (BOWLBY,

1997).

Quando a criança é arrancada dessas figuras de representações, que são

identificadas por ela, sofre seqüelas que muitas vezes são irreversíveis,

podendo desencadear o abandono afetivo que provoca danos sócios

educativo, morais e principalmente desestruturais do desenvolvimento e seus

relacionamentos afetivos no meio social.

CAPÍTULO II

RELACIONAMENTO AFETIVO

O amor é um poderoso estado emocional que pode direcionar um casal a

estabelecer um relacionamento e constituir uma união estável. Contudo, este

estado emocional não deve ser avaliado como fator definitivo e suficiente para

a manutenção de um relacionamento afetivo. Não caracteriza a base única

para a construção de uma convivência satisfatória.

Algumas habilidades comportamentais, como ter um bom diálogo nas

relações afetivas, ser compreensivo, saber enfrentar as dificuldades que

surgem no cotidiano, entre outras, que são complementares ao repertório

comportamental característico de cada indivíduo, são decisivas para a

manutenção de uma convivência harmoniosa e, mais do que isso, prazerosa.

(ELIAS E BRITTO, 2007 apud FARIAS; CIRINO; OLIVEIRA, 2014).

12

De acordo com o ponto de vista de Jean Paul Sartre (1905 – 1980), o

amor é um “ideal irrealizável”, uma vez que queremos algo impossível das

pessoas que amamos. Somos atraídos pela liberdade e independência que

detectamos nelas, mas ficamos tão amedrontados que tentamos privá-las

desses atributos quando estabelecemos uma relação amorosa (SOPHIA, 2008

apud FARIAS; CIRINO; OLIVEIRA, 2014). Então pode-se dizer que o

relacionamento se inicia a partir de uma convivência que despertamos para

preencher algo que esta faltando, ou que não obteve em algum momento da

vida.

Atualmente as pessoas estão cada vez mais, procurando algo que eles

mesmos não sabem o que é. Hoje com o imediatismo que existe na nossa

sociedade através da tecnologia avançada, cada vez mais, o individuo perde a

sensibilidade do que é amor, do que é amar.

A infância passa a ser cada vez mais desestruturada, quando não existe

essa troca de amor, afeto, carinho, presença dos pais, os quais despejam e

esperam algo em troca que nunca receberá, pois quando não é aprendido e ou

vivenciado esse relacionamento importante, não se pode impor a ter ou a dar

para alguém.

Ocasionando assim suas relações cada vez mais conturbadas e

formando famílias desestruturais, gerando mais conflitos na estruturação

cognitiva da criança que pertencerá aquela família.

Mudanças se deram gradualmente e, neste contexto, as grandes

guerras obrigaram as mulheres a sofrer uma redistribuição de tarefas, pois

muitas viúvas foram obrigadas a trabalhar fora para manter-se e à sua prole.

2.1 – Origens dos conflitos sócio afetivo

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A entrada da mulher no mercado de trabalho deu-se por força das

circunstâncias: a realidade das mulheres a trabalhar fora de casa a troco de

um salário teve um grande impulso entre 1914 e 1919 (primeira guerra

mundial) quando muitos homens foram chamados para o serviço militar para

irem para a guerra, e, então, as mulheres eram contratadas para fazer o

trabalho assalariado.

De acordo com Miranda (2007), citado por Toaldo (2009) durante a

guerra, as mulheres foram chefes de família, adutoras de bondinhos, operárias

de fábricas de munição, auxiliares do exército. Apanharam mobilidade,

mudaram as roupas para trajes mais confortáveis, adquiriram, principalmente,

confianças em si próprias.

Bittar (2006) citado por Toaldo (2009) também comenta as evoluções

nas relações familiares decorrentes da renúncia do campo e da concentração

da população nos grandes centros em decorrência da industrialização: “Com a

evolução da sociedade econômica, política e socialmente, por meio das

verdadeiras revoluções ocasionadas pelo surto industrial que se seguiu a

introdução de máquinas no processo produtivo, a partir da segunda metade do

século, modificaram-se completamente as condições de vida e, depois o

regime familiar.”

Ele fazer referência as consequências de tal processo, entre elas a

ocupação da mulher fora de casa, trabalhando nas fábricas e o “afastamento

diário dos filhos”, a redistribuição das responsabilidades no contexto familiar e

o distanciamento correspondente de parentes.

Com a chamada revolução sexual em meados de 1960, a descoberta da

pílula anticoncepcional e outros métodos de contracepção além do já

mencionado ingresso da mulher no mercado de trabalho, houve uma maior

autonomia para a mulher, que passou a ter liberdade sexual e a ter a

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prerrogativa de comportar-se de forma semelhante aos homens. Dias (2007)

apud Toaldo (2009) Diz que “o surgimento dos novos exemplares da família,

quer pela emancipação da mulher, quer pelo surgimento dos métodos

anticoncepcionais, levou à dissolubilidade do vínculo do casamento”.

Neste momento histórico a união indissolúvel passa a ser vista como

uma barreira para este novo momento de relacionamentos afetivos e,

necessária se faz a formalização da separação e do divórcio.

Toaldo (2009) cita a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 226 §

3º que reconhece a união estável entre homem e mulher como entidade

familiar, também a reconheceu como tal o Código Civil de 2002, em seu artigo

1723, definindo a união estável como uma relação de pessoas de sexos

distintos que tenham convivência pública, contínua e duradoura com ânimo de

constituição de família.

No entanto, sabe-se que as relações “informais” ou as uniões de fato

sempre existiram, ainda que sem o amparo da lei. Neste sentido, comenta: “A

Constituição Federal inovou ao compreender no conceito de família em sentido

restrito não apenas o núcleo formado por pais e filhos a partir do casamento,

mas também as entidades familiares, assim entendidas como as que são

formadas pela união estável, e também a comunidade monoparental,

representada por qualquer um dos pais e seus descendentes.” (DINIZ apud

TOALDO, 2009)

Como se percebe a instituição família não passou incólume pela

evolução dos tempos, existem muitos modelos de famílias na atualidade e

todos estes modelos têm garantia de proteção do Estado assegurada na

Constituição.

Notadamente como ocorrem as uniões, ocorrem as dissoluções destas

uniões e, com as últimas uma série de conseqüências sociais e jurídicas são

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desencadeadas: questões patrimoniais, questões relacionadas com a guarda e

sustento da prole, a reconstrução das famílias e as relações entre todas as

pessoas envolvidas.

Pode-se afirmar que um emaranhado de questões envolvendo não

somente o aspecto financeiro, mas o aspecto emocional de todos os seus

membros é iniciado com a dissolução de uma união. A seguir busca-se referir

aspectos importantes da dissolução de uniões afetivas, especificamente a

questão da guarda de menores e suas implicações no relacionamento das

crianças e adolescentes com seus genitores.

Quando o individuo em suas relações projeta no outro uma necessidade

de se relacionar, procura preencher, incoscientemente um desejo, que

segundo Freud (1889-1900) é o desejo recalcado, algo que ele deseja ter,

como forma satisfatória da necessidade de estar com outro.

A relação possui frutos, que são os filhos, a relação pode melhor ou

como pode piorar. Muitos filhos vêem para salvar relações, e outros quando

surgem em famílias não estruturadas, vêem para surgir divergências de

opiniões, quando o assunto engloba fatores de educação, alimentação, gastos

financeiros, responsabilidades nos limites, entre outros.

A partir da existência da Lei do Divórcio (Lei 6.515), que foi aprovada em

1977, conferiu a possibilidade de um novo casamento, mas somente por uma

vez. O “desquite” passou a ser chamado de “separação” e ficava, até hoje,

como um exercício intermediário até a obtenção do divórcio. Foi através

da Constituição de 1988 que passou a ser permitido divorciar e recasar

quantas vezes fosse preciso. Surgindo então conflitos permanentes, entre ex-

companheiro ou ex-cônjugue, se tratando da não aceitação da possível nova

reconstituição familiar.

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Entra no mérito de ciúmes, disputa, interesse financeiro, entre outros,

que mesmo após a separação, continuam a se relacionar de modo negativo, e

por vezes até passam a se referir e a tratar o ex-cônjuge de modo

absolutamente destrutivo, assumindo posturas radicais de oposição, com

requintes de perversidade conforme amplamente demonstrado pela mídia

(HIRIGOYEN, 2002 apud LEVY, 2010).

Para além de momentos extemporâneos de raiva, ciúme, revolta,

observamos um modelo socialmente estabelecido e aceito de rivalidade,

revanchismo, desrespeito à integridade, descaso e abandono, supostamente

justificável pelo término da relação conjugal.

Infelizmente, o que se nota é que, com as separações, têm aumentado

ainda mais com comportamentos desonrosos e a violação dos direitos

humanos, dificultando a digna reconstrução da integridade de cada cônjuge e

de sua descendência (RAJNEESH, [ca.1986] apud LEVY, 2010).

CAPITULO III

ALIENAÇÃO PARENTAL

O termo Síndrome de Alienação Parental foi delineado em 1985 pelo

psiquiatra Richard Gardner, sendo descrita por ele como um distúrbio no qual

uma criança (menor) é manipulada ou condicionada, normalmente por um dos

genitores, para vir a romper os laços efetivos com o outro genitor. Geralmente,

isso acontece, quando o casamento acaba e os filhos são usados por um dos

genitores para atingir o outro.

As causas que levam o alienador a cometer tal ato podem ser dentre

outras: inveja, ciúme, vingança ou possessividade. Em várias ocasiões o

menor é usado até mesmo como forma de chantagem contra o ex-cônjuge ou

17

ex-companheiro, com objetivos de retomar a relação e até objetivos

financeiros, pois mantendo o genitor alimentante afastado, este não poderá

fiscalizar e opinar como o dinheiro da pensão alimentícia é gasto.

“A síndrome de alienação parental (SAP) é uma disfunção que surge

primeiro no contexto das disputas de guarda. Sua primeira manifestação é a

campanha que se faz para denegrir um dos pais, uma campanha sem

nenhuma justificativa. É resultante da combinação de doutrinações

programadas de um dos pais (lavagem cerebral) e as próprias contribuições da

criança para a vilificação do pai alvo.”

É a forma de abuso psicológico que se caracteriza por um conjunto de

praticas efetivas por um dos seus genitores, que é denominado alienador,

capaz de transformar os pensamentos e influenciar comportamentos negativos

da criança ou adolescente, com intenção de impedir, dificultar ou destruir seus

vínculos com o outro genitor, denominado alienado, sem que existam motivos

reais que justifiquem essa categoria.

O SAP existe, pode ser evidenciada em inúmeros casos em que a

criança passa a rejeitar o pai sem motivo plausível, e para isso cria, distorce ou

exagera situações cotidianas para tentar “justificar” a necessidade de

afastamento do pai, inclusive reproduzindo falas de outras pessoas.

O alienador, o qual induz a criança a rejeitar imotivadamente o outro pai

ou mãe, inclusive mediante relatos inverídicos de molestação sexual, não tem

nenhum sentimento de respeito e consideração pelo outro, importando-se

apenas com seus próprios interesses egoísticos e narcísicos. Acusa o outro

genitor de agressão à criança, por exemplo.

Mas quando manipulam emocionalmente a criança para verbalizar

acusações infundadas, tornam-se eles sim os verdadeiros agressores das

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crianças, não se conscientizando de que os vínculos parentais são essenciais

para o equilíbrio psíquico da criança enquanto ser em formação.

Pode ocorrer da mais variadas formas, inclusive de maneira

dissimulada. Ao afirmar para o filho, por exemplo “seu pai nos abandonou”, ao

invés de seu pai “me abandonou”, a mãe alienadora inclui o filho em sua dor e

ele passa a acreditar que também foi preterido. A situação pode muitas vezes

ser desencadeada por um novo relacionamento, desta forma a nova

companheira do pai passa ser uma mulher maldita, uma ladra de marido

alheio, uma destruidora de famílias, entre outros termos. A alienação pode

alcançar outros membros da família do ex-cônjuge, como os avós, tios e

primos.

Pode ocorrer gradualmente e das mais variadas formas: telefonemas

são restringidos, presentes enviados são recusados, cartões de felicitações

são interceptados, entre outras attitudes que são tomadas com a clara

intenção de excluir qualquer acesso do genitor alienado ao filho.

A criança é levada a crer que é amada somente pelo genitor patológico,

passa a demonstrar ódio e ressentimento pelo outro genitor para garantir o

afeto do detentor da guarda. Muitas vezes não sabe justificar exatamente

porque odeia o outro genitor, pode inclusive manifestar emoções contraditórias

quando está sozinha com o familiar alienado: demonstrar entusiasmo, alegria e

em seguida retrair-se ao lembrar que tem sentimentos ruins por ele.

É comum que ao iniciar-se a investigação dos alegados abusos que se

verifique se existe litigância pela guarda da criança em questão, o que pode

ser indício de falsa imputação.

Muitas vezes quando da ruptura da vida conjugal, um dos cônjuges não

consegue elaborar adequadamente o luto da separação e o sentimento de

19

rejeição, de traição, o que faz surgir um desejo de vingança: desencadeia um

processo de destruição, de desmoralização, de descrédito do ex-parceiro.

Neste jogo de manipulação, todas as armas são utilizadas, inclusive a

assertiva de ter havido abuso sexual. O filho é convencido da existência de

determinados fatos e levado a repetir o que lhe é afirmado como tendo

realmente acontecido.

Existe uma Lei de n° 12.318, criada em 26 de agosto de 2010, que

dispõe sobre Alienação Parental, a qual proíbe que qualquer pessoa que

participe ativamente da vida da criança ou do jovem, induza-os ou influencie-os

negativamente contra qualquer dos seus genitores como forma de atingi-lo

moralmente, fazendo com que afete psicologicamente a estrutura cognitiva e

emocional da criança e adolescente, causando conseqüências estruturais e

morais.

A maioria dos casos (percentual superior a 90%) são as mães que têm a

guarda dos filhos é mais comum que essas manipulem as crianças e

adolescentes contra o pai, sugerindo ao menor que o pai é pessoa perigosa ou

irresponsável, controlando ou dificultando os horários de visitas, passeios e

viagens e criticando as atitudes do genitor e dos familiares ligados ao pai.

Em alguns casos extremos chegam a fazer enganosas acusações de

abuso sexual impetradas pelo pai ou mesmo falsas agressões físicas ou

psíquicas contra os menores. Alegam sempre que sua atitude visa proteger a

criança do pai que, na sua versão, não merece confiança.

O sentimento de vingança do alienador pode ser tão extremo ao ponto

de incutir memórias de um falso abuso sexual cometido pelo alienado. Pode

chegar a fazer denúncia criminosa com o fim de evitar o convívio do filho com o

outro genitor. Algumas situações são fáceis de identificar o alegado abuso

como inexistente: a criança usa termos impróprios para a idade para descrever

20

o abuso, fala com tranqüilidade sobre o assunto enquanto que as que

realmente sofreram o abuso normalmente não falam ou quando o fazem

sentem-se extremamente inseguras porque geralmente sofreram ameaças

para não revelar o ocorrido.

Importante observar que, ao acreditar que o abuso realmente ocorreu a

criança passa a sofrer como se tivesse sido dele vítima efetivamente. Muitas

vezes não tem a capacidade de análise para diferenciar a realidade induzida

da verdade e com isso o abalo da saúde emocional de todos os envolvidos já

está sedimentado.

Não resta a menor dúvida, que o familiar alienado deverá tomar

medidas para proteger o direito da própria criança ou adolescente a um

desenvolvimento saudável e à convivência regular com todos os membros da

família sem que qualquer exclusão injusta seja feita.

Neste sentido, a solução que se coloca é uma ação para a alteração da

guarda, na qual certamente a criança será examinada por perito, por

determinação do juiz, ou mesmo a pedido do autor da ação, que determinará

se houve o alegado abuso antes de qualquer decisão sobre a questão.

Tradicionalmente, ocorrem debates entre profissionais clínicos e legais

em relação ao conceito de SAP, estabelecendo-se uma discussão científica

em torno ao termo de Síndrome de Alienação Parental, nos tópicos de se

constitui ou não uma síndrome, de sua não inclusão no DSM-IV(5).

3.1 – Tipos de Alienação Parental

21

São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim

declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com

auxílio de terceiros:

I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no

exercício da paternidade ou maternidade. Isso ocorre, por exemplo, quando,

continuamente, um dos pais “implanta”, no filho, ideias de abandono e

desamor, atribuídas ao outro genitor, fazendo-o acreditar que, o alienado não é

uma boa pessoa e não possui valores à altura de ser “pai” ou “mãe”. “Seu pai

não se interessa por você, agora ele tem outra família...”. “Seu avô tem

dinheiro e não ajuda nas suas despesas, então você não deveria mais visitá-

lo...”.

II - dificultar o exercício da autoridade parental. Quando os pais não

vivem juntos e não houver acordo sobre quem deva exercer a guarda do filho,

a Lei nº 11698/2008 que, alterou o art. 1584 do Código Civil impôs que, o juiz

determine a guarda compartilhada entre eles. No entanto, mesmo que a

guarda fique restrita a apenas um dos pais, o outro permanece com o direito e

a responsabilidade de educar, cuidar e externar o seu amor ao filho, não

podendo aquele que, é o detentor da guarda desautorizá-lo. Formas de

alienação.

III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor, quando os

filhos vivem em companhia de um único genitor resta a ele a obrigação de

favorecer o contato destes com o outro genitor que, com eles não more. Os

filhos têm direito à convivência com ambos os pais, por isso mesmo que,

encontros marcados, com datas e horários estipulados, devem se dar somente

em casos excepcionais, pois o ideal é que sejam livres. As crianças e os

adolescentes devem permanecer o maior tempo possível com seus pais,

independentemente, de morarem ou não com eles. Dizemos que o direito da

população infanto-juvenil é o de “conviver” que, significa, “viver-com”, ambos os

pais. Os contatos por telefone, internet, bilhetes, cartas, etc, também não

22

podem ser obstruídos. Quando a convivência dos filhos com seus pais não se

da de forma livre, o juiz pode regulamentar os encontros entre eles. É comum,

o genitor com quem as crianças moram, apresentar uma série de dificuldades,

para impedir que o outro genitor encontre seus filhos. É comum, também, para

dificultar a interação entre eles, ficar ligando incessantemente, durante todo o

período de visitação.

IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência

familiar. “Hoje ele não pode ir, pois vamos fazer um passeio...”. “Ela não vai,

porque não pode faltar à aula de catecismo...”. “Parece que ela está febril,

então é melhor que fique...”. “Meu filho não visita o pai porque não gosta de

ficar na casa dele...”. Quanto mais se convive, maior será o vínculo entre pais e

filhos.

V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes

sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de

endereço. Todas as informações importantes que, envolvam as crianças e os

jovens, devem ser prestadas aos pais e parentes que não morem com eles, de

forma completa e em tempo hábil, tais como, eventuais problemas de saúde,

festividades escolares, dilemas apresentados pelos filhos, mudança de

endereço, etc. Não participar da vida cotidiana dos filhos provoca a fragilidade

do vínculo paterno ou materno-filial, gerando o sentimento de abandono na

criança, que pode levar a uma repulsa do filho ao genitor afastado.

VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou

contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou

adolescente. Atribuir fatos inverídicos contra aquele que não mora com a

criança ou contra seus parentes, assim como o uso indevido da Lei Maria da

Penha, retrata uma das formas mais graves de vingança contra o genitor que,

não convive com os filhos. Sabe-se que, se chega a atribuir ao genitor

alienado, falsas denúncias de maus tratos e, até de abuso sexual.

23

VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a

dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com

familiares deste ou com avós. O afastamento físico, através da mudança de

cidade, Estado ou até país, é outra forma, bastante utilizada, para impedir a

convivência entre os filhos e o genitor e seus parentes, com quem não moram.

Isso não quer dizer que, em alguns casos, o guardião não possa transferir o

seu domicílio, para um lugar distante do outro genitor. Porém, nesses casos

deve haver uma justificativa importante e o novo endereço deve ser

prontamente comunicado ao genitor.

O Art. 2° da Lei 12.318/2010 define de forma ampla a alienação parental

da seguinte forma: Considera-se ato de alienação parental a interferência na

formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por

um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente

sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que

cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.

Figura 1

PESSOAS ENVOLVIDAS

ALIENADOR Que pode ser um dos genitores; avós; qualquer

responsável pelo menor (quem tem autoridade, guarda

ou vigilância sobre a criança ou adolescente);

MENOR

ENVOLVIDO

Criança ou adolescente que tem sua integridade

psicológica atacada com o intuito de repudiar genitor;

GENITOR

ALIENADO

Pai ou mãe contra quem o ataque é direcionado.

Fonte: FILHO (2012)

24

Figura 2

AMPLITUDE DA ALIENAÇAO PARENTAL

Tipo de conduta

promovida ou

induzida:

Quem pratica a conduta

sujeito ativo (alienador):

A quem é dirigida

sujeito passivo

(alienado):

Dificultar a convivência; Um dos genitores

(pai/mãe);

Genitor (pai ou mãe).

Repudiar genitor; Avós (paternos/maternos);

Causar prejuízo ao

vínculo com o genitor

alienado.

Qualquer responsável pelo

menor*;

* o responsável pode ser qualquer pessoa que tenha, mesmo

temporariamente, autoridade, guarda ou vigilância sobre a criança ou

adolescente.

Fonte: FILHO (2012)

3.2 - Consequências psicológicos: Criança X Genitor

Verificamos, no decorrer deste tema, que a Alienação Parental é um

assunto atual, sério e importante no Direito de Família. A visão da família como

instituição protegida na Constituição Federal deve ser interpretada de forma

sistemática de forma a permitir a proteção de cada um de seus integrantes,

ainda que algumas vezes pareça complicado proteger uma criança de uma

ação nociva de um pai ou uma mãe que a use para sua vingança pessoal.

Obviamente, não parece nada lógico, mas por outro lado absolutamente

irracional que um genitor use seu filho como uma absurda medida catártica,

como um meio de promover retaliações contra seu ex-cônjuge ou companheiro

e talvez com isso amenizar a própria angústia.

25

Algumas vezes outros membros da família do ex-companheiro são

hostilizados e a criança passa a adquirir também com abandono, sofrimento

intenso. Com isso solidarizando-se com o genitor que realiza uma espécie de

programação das emoções do filho contra o outro familiar. Tal comportamento

representa sérios prejuízos na vida e desenvolvimento da criança, além de

sérias implicações para o próprio familiar alienado que se vê privado da

companhia do filho, podendo inclusive ser acusado de abuso sexual como

forma de promover este distanciamento emocional entre os envolvidos.

Neste contexto, resta absolutamente nítida que a solução passará por

via judicial, o familiar alienado terá que utilizar-se de ação própria para reverter

o quadro, sendo muitas vezes necessária a alteração da guarda e o tratamento

médico sistemático da criança e dos pais para que se possa reverter a

situação.

Conforme disposição do Art. 6º da Lei 12.318/2010: 01. Advertência, como medida para prevenir ampliação dos atos de alienação.

Essa penalidade deve ser usada, por exemplo, nos casos mais brandos;

02. Alterar o regime de convivência em favor do genitor alienado, como por

exemplo, ampliar os dias e horários de visita em favor do alienado;

03. Multa, como forma de penalizar, por exemplo, o alienador financeiramente

mais forte ou que usa o poder econômico para influenciar negativamente a

criança ou adolescente;

04. Determinar acompanhamento psicológico ou biopsicossocial do menor com

a finalidade de corrigir os ataques à integridade psicológica sofrida;

05. Alterar o regime de guarda como, por exemplo, de guarda unilateral para

guarda compartilhada ou o contrário em favor do alienado;

06. Fixar cautelarmente o domicílio do menor quando o alienador tenta

mudança de domicílio para afastar a criança ou adolescente do genitor

alienado;

07. Suspensão da autoridade parental. Medida extrema para retirar do genitor

ou responsável alienador a capacidade de exercer influência sobre o menor.

26

Conforme a gravidade do caso o juiz poderá aplicar, cumulativamente

ou não, as penalidades acima sem prejuízo da decorrente responsabilidade

civil ou criminal. Também poderá utilizar amplamente, instrumentos

processuais aptos a inibir ou atenuar os efeitos da alienação.

A Lei no SAP vem preencher uma lacuna referente à proteção

psicológica do menor, pois ao dispor sobre a alienação parental vem coibir

esse tipo de comportamento tão prejudicial à formação da criança e

adolescente e ampliar a proteção integral ofertada pela Lei do ECA (Estatuto

da Criança e do Adolescente).

Não devemos esquecer que a Constituição Federal dispõe como dever

da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao

jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à

educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à

liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de

toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e

opressão.

A lei nº 12.318/2010 impõe também que, a prática de ato de alienação

parental fere direito fundamental da criança ou do adolescente de convivência

familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações com o genitor e

com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente e

implica em descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou

decorrentes de tutela ou guarda.

Absurdo imaginar que além do sofrimento natural que a dissolução de

uma união traz aos filhos, estes ainda tenham que sofrer em conseqüência de

uma campanha contra o outro genitor ao ponto de serem conduzidos a

acreditar que sofreram abusos, que foram abandonados por ele. É impor uma

carga muito pesada sobre um ser em desenvolvimento que necessita amparo,

proteção e amor de ambos os pais.

27

3.3 - A guarda e as visitas aos filhos menores

De acordo com Guimarães (2006) citado por Toaldo (2009) a guarda “é

ato ou efeito de guardar, amparo, vigilância”. Seguramente, os filhos menores

do casal merecem cuidado, atenção, educação e essencialmente merecem

sentir que são amados e apoiados por ambos os pais.

A guarda dos filhos menores, como mencionado, historicamente vem

sendo exercida pela mãe na maior parte dos casos, mas existem situações em

que se verifica que o pai tem melhores condições para zelar pelo interesse e

educação dos filhos.

Como assevera Lauria (2012) apud Toaldo (2009) houve uma mudança

em costumes e procedimentos nos tribunais que somente se reflete uma

realidade social: “Nos dias atuais, em que a mulher conquistou importantes

espaços na sociedade, sobretudo no mercado de trabalho e que não se encara

mais com reprovação o ato do pai cuidar dos filhos e realizar tarefas que antes

eram exclusivas das mulheres, (...) o fato da maternidade por si só não goza

mais de presunção absoluta de melhores condições para o exercício da guarda

dos filhos.”

Muito tem sido discutido sobre a questão da guarda, especificamente

sobre a guarda compartilhada, na qual ambos os genitores participam

ativamente da vida do filho, tomam decisões em conjunto e trabalham a

relação com o objetivo de preservar a criança ou o adolescente da ausência do

genitor que por não ser o guardião legal somente teria contato com o menor

em datas estabelecidas.

Segundo Motta (2007) apud Toaldo (2009), “o poder familiar (antes

pátrio poder) atualmente é considerado múnus público, compreendendo

inúmeros deveres aos pais”. Estes deveres respeitam a doutrina da proteção

28

integral, pela qual se interpretam todas as normas em função do melhor

interesse da criança. O Código Civil de 2002 em seus artigos 1586 a 1590 traz

as regras concernentes à guarda dos filhos em caso de dissolução da

sociedade conjugal. Tais artigos respeitam o dispositivo constitucional de

igualdade entre homem e mulher.

Percebe-se que a guarda não é uma questão tão simples de resolver,

havendo litígio entre os pais pela guarda dos filhos, o juiz deverá proceder

criteriosa análise sobre quais condições representam melhor desenvolvimento

para os menores.

No caso de que a guarda seja concedida á um dos pais, o genitor que

não detiver a guarda não perderá o poder familiar, deverá exercer influência e

participação positivas sobre todos os aspectos da vida do filho e as visitas

representam uma forma de convivência e fiscalização da situação em que a

criança ou o adolescente se encontra inserido.

CONCLUSÃO

As famílias modernas vivem uma época de relacionamentos

conturbados, são comuns as separações conjugais e a reconstituição das

famílias. Neste contexto, revelam-se situações difíceis para seus integrantes,

especialmente para as crianças, que passam a ter duas casas e muitas vezes

convivem com constantes agressões entre seus pais, sendo que na maioria

das vezes as próprias crianças são o objeto das brigas.

Ainda que todas essas considerações pareçam inconcebíveis, negar

que situações como estas ocorrem diariamente seria propagar a impunidade e

promover uma situação de prejuízo irreparável aos envolvidos.

29

O genitor alienador precisa de ajuda para resolver sua dor, o genitor

alienado precisa da tutela jurisdicional que lhe permita reverter um quadro de

injusta separação daquele filho que ama e que dele precisa para desenvolver-

se de forma equilibrada e completa. A criança precisa de ambos os pais para

ter seus referenciais, para ter modelos de conduta para seguir, para sentir-se

segura e protegida.

Importante observar que o alienador não consegue ou não deseja

perceber que os danos causados por seu comportamento não somente

atingem o outro genitor, mas afetam imensamente a criança que depende de

modelos de ambos os pais para sua formação e que necessita sentir-se amada

e amparada a despeito da separação dos pais.

Cabe á toda sociedade desenvolver uma consciência sobre o papel da

família na atualidade, entender a dinâmica das relações entre seus membros e

mormente ao judiciário, em um sistema integrado de cooperação com

profissionais habilitados e bem treinados transformar uma realidade que muitas

vezes não se quer enxergar.

É importante entender que a criança é sujeito de direitos e que todos

temos a clara obrigação de zelar por sua proteção, pleno desenvolvimento e

felicidade, afinal, o futuro será escrito pelas crianças de hoje e os padrões

vividos normalmente são repetidos: neste contexto, aquele que sofre hoje o

abuso pode ser o que o cometerá amanhã.

É direito também das pessoas recomeçarem suas vidas e buscarem a

felicidade da maneira que lhe é viável, com outros companheiros, mas os filhos

das uniões desfeitas, por vezes pagam um preço alto demais. A raiva e

angústia de um ex-cônjuge que se sinta abandonado pelo outro muitas vezes é

direcionada de forma irracional para os filhos que passam a ser usados em

30

uma verdadeira campanha de desmoralização direcionada contra o outro

genitor.

A finalidade básica da lei 12.318/2010 é proteger os direitos

fundamentais da criança e adolescente. Por disposição do Art. 3° da referida

lei: A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da criança

ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de

afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral

contra a criança ou o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à

autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda.

Conclui-se que a alienação parental deve ser combatida porque fere o

direito fundamental de uma convivência familiar saudável. Prejudica o afeto

nas relações familiares. Constitui abuso moral contra a criança ou o

adolescente. Quem provoca descumpre os deveres inerentes ao responsável

pelo menor.

A família é o local onde se dá a construção individual da felicidade, onde

o ser humano pode desenvolver suas potencialidades e caminhar com

segurança para o seu futuro. Deve ser um ambiente determinado pela

harmonia, afeto e proteção, onde haja uma relação de confiança e bem-estar.

Desse modo, os pais não devem permitir que seus filhos se envolvam

nos conflitos dos adultos e tampouco puni-los, com a privação do contato com

seu outro genitor e demais parentes. É importante ter em mente que, estamos

formando pessoas que, quando adultas, deverão agir com ética e, para isso é

necessário que se invista na construção de uma família fortalecida pelo amor,

compreensão e valores, independentemente, do formato que essa família

possa vir a ter.

31

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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de Janeiro: 2002.

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32

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VIGANÓ, Carlo. As dependencias patológicas. Latusa Digital, ano 5, n. 33, jun.

2008.

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ANEXOS

Índice de anexos

Anexo 1 >> Estudo de caso judicial; Anexo 2 >> Relato de caso; Anexo 3 >> Reportagens Internet.

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ANEXO 1

ESTUDO DE CASO JUDICIAL sobre Síndrome de Alienação Parental

NOMES FICTÍCIOS: Maria (autora do processo), José (réu) e Mariazinha (filha das partes, com 05 anos).

A pretensão da autora (Maria) é de modificação do regime de visitas

à filha, com quatro anos de idade, e que consensualmente estabeleceu com o genitor desta em 16.5.2005.

Verifico, nos autos, que o regime de visitas foi fixado já há três anos,

sendo certo que as afirmações feitas no boletim de ocorrência de fl. 23 (o pai causa hematomas na filha) não foram ratificadas por laudo que atestasse as alegadas lesões (hematomas e marcas de insetos) que a criança apresentaria. A declaração subscrita por psicóloga (psicóloga clínica, contratada pela autora, sem vínculo com o poder judiciário) à fl. 25 não serve como elemento de convicção em desfavor do genitor, posto que sequer esclarece os critérios e tempo de avaliação usados pela profissional, e em nada indica que o comportamento de ansiedade da menor possa ser atribuído ao pai.

Não vislumbro, assim, elementos de convicção seguros, ainda que

em juízo de cognição sumária inerente à tutela de urgência, sendo de se propiciar previamente, a bem dos interesses da criança, avaliação do caso. 04/02/09

RELATÓRIO PSICOLÓGICO, em 14/03/09.

ANÁLISE:

O ex casal teve relacionamento conturbado, com muitas brigas e agravadas pela gestação. Maria, apesar de jovem, atualmente com 24 anos, deixou que sua mãe viesse até o Fórum e conversasse previamente conosco (assistente social e psicóloga). A mãe e o pai exercem total influência sobre as decisões da Maria e considero que este foi o centro dos problemas que o ex casal enfrentou.

A Maria era menor de idade quando iniciou o namoro com o José e os pais dela ficaram assustados com o relacionamento. Os conflitos se iniciaram quando ficou evidenciado o relacionamento sexual dos dois. O pai, então, começou a controlar horários e houve discussões, inclusive um BO mostrado pelo José, de que o pai agrediu a própria filha, em gesto de desespero por não ter controle da situação. O pai sentiu-se envergonhado da aparição da filha com o namorado e da exposição sobre a sua virgindade ou não, relatando que os vizinhos comentavam sobre os dois.

A mãe da Maria tenta nos passar a impressão de que a família sempre foi harmônica, de que a Maria sempre foi apoiada, mas não relatou os conflitos que a filha teve com o pai em função da sua maturidade sexual.

A Maria demonstrou-se incapaz de assumir o casamento e posicionar-se diante dos conflitos, nos relatando que rompeu com o José logo após o nascimento da Mariazinha e que ainda amava-o. Parece sentir-se muito culpada pelos transtornos que causou aos seus pais, por voltar à casa materna com uma filha e de estar 100% sob os cuidados dos mesmos.

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Foi relatado pela Maria que o seu pai não aceita que o José pague pensão para a Mariazinha, ficando evidente a pressão psicológica que o pai exerce para que os laços se rompam, inclusive a responsabilidade financeira do pai biológico.

O José relatou-nos de que percebeu que não era normal seu relacionamento com a filha quando uma parente sua alertou-o de que o amor entre pais e filhos é espontâneo e de que a resistência da Mariazinha era por falta de contato. Dessa forma, tentou impôr sua presença para a menor, em gesto de desespero, aumentando assim a resistência da mesma em sair com o pai porque a companhia dele, após se afastarem da casa materna, ficava tranquila e agradável.

A Mariazinha é uma criança de 04 anos bastante comunicativa. Chegou feliz e empolgou-se com os brinquedos. Não há qualquer indício de ansiedade

caracterizada por comportamento de retraimento. Muito pelo contrário, não há nenhum indício de retraimento na menor. Também não foi constatado medo de

situações novas ou inabituais conforme sugerido por psicóloga citada no processo, página 05.

A criança está passando sim por problemas psicológicos porque é muito perceptiva do ambiente materno e sabe que os conflitos gerados entre sua mãe e seu avô dizem respeito ao seu pai José. É inteligente suficientemente para evitar que o pai frequente a sua casa, demonstrando que não gosta de sair com o pai. Porém, assim que sai do ambiente da casa materna, começa a vincular-se espontaneamente com o pai.

Quando começa a entardecer, a Mariazinha sente que deve ir para a casa, sente saudades da mãe e necessidade de voltar. Em alguma situação, o pai não cumpriu essa necessidade e a Mariazinha ficou apreensiva e desconfiada sobre o pai.

A estrutura de linguagem da Mariazinha denota a sua ambivalência sobre esse pai quando diz, por exemplo: " eu quero brincar com meu pai, mas não quero que ele vá lá em casa porque o pai e a mãe ficam brigando." , "Meu pai não é mau comigo só que ele brigou comigo no carro." Quase todo o seu discurso foi iniciado com uma afirmativa e concluído com uma oposição.

No início da entrevista disse que não gostava do pai e após trinta minutos disse: "eu gosto do meu pai, eu quero sair com ele e com a Crislaine" (noiva do pai).

PARECER:

Considerando que não há motivo justificável para que o pai da Mariazinha não possa visitá-la, sugerimos visitas que serão acompanhadas pela psicóloga deste setor, em relação ao bem estar da Mariazinha e a sua adaptação.

Considerando a resistência do avô materno em relação à presença do José e os conflitos passados, sugiro que a readaptação do pai e filha seja feita de forma lenta e contínua, porém que a Mariazinha seja entregue para o pai no portão de sua casa e que o pai não entre e seja devolvida na casa da mãe, também no portão de casa. O pai não deve impor à Mariazinha sua visita quando a mesma, não importa o motivo, não quiser sair com ele.

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Sugiro que o pai considere os dias e horários de visita como uma grande oportunidade e não tente transferi-los ou compensá-los, porque o tempo da criança é muito mais urgente que o do adulto e poderia gerar novamente desconfiança na Mariazinha, visto que estará em fase de readaptação.

TERMO DE AUDIÊNCIA, em 27/03/09

Aberta a audiência, presentes as partes acima identificadas. Proposta a conciliação, restou exitosa, nos seguintes termos: I – A filha menor do casal, ficará sob a guarda e responsabilidade da genitora; II – As visitas ficam regulamentadas da seguinte forma: Para melhor adaptação da menor nos meses de Abril/2009 a Junho/2009 o pai poderá visitá-la nos primeiros e terceiros Domingos de cada mês das 09:00 às 18 horas, sendo que a entrega e a devolução da criança se darão no portão da casa da genitora, respeitando-se o interesse da criança; Na páscoa, o pai terá direito de visitação à menor. Durante todo esse período haverá o acompanhamento da psicóloga forense e da assistente social forense, que comunicarão qualquer situação diferente e ao final do período elaborarão novos pareceres sobre a situação da visita. Em caso de não adaptação da criança às visitas do pai e sendo viável de acordo com a avaliação do setor competente, o período será prorrogado até que haja parecer favorável às visitas no horário estendido abaixo explicitado, mediante a elaboração de estudo psicossocial no período de 3 em 3 meses. Após este período, havendo parecer favorável do setor psicossocial: a) O pai poderá visitar a menor nos primeiros e terceiros finais de semana de cada mês, das 09:00 horas do Sábado às 18:00 horas do Domingo; b) Fica o pai com direito de ter a filha em sua companhia na metade das férias escolares da menor...

INFORMAÇÃO DA PSICÓLOGA, em 27/04/09

Conforme determinação de Vossa Excelência, no termo de audiência (27/03/2009), no item II – referente à regulamentação de visitas do pai para a menor Mariazinha, comunico que houve resistência da menor em aceitar sair com o pai.

A mãe esteve no setor psicossocial junto a menor, em 14/04/09, alegando que a mesma está tendo febres e não quer mais ver o pai.

Aguardei a manifestação do pai que, duas semanas mais tarde, dia 23/04/09, relatou as dificuldades de realizar as visitas na casa da criança em tela, dificultando sua vinculação com a filha.

Considerando o acima exposto, entendemos que as visitas devam acontecer neste setor para melhores resultados. Sugerimos que as visitas aconteçam uma vez por semana, iniciando no dia 06/05 as 17:00 horas.

INFORMAÇÃO DA PSICÓLOGA, em 27/07/09

Informo que as visitas da Mariazinha e o pai aconteceram no Fórum, uma vez por semana. A Mariazinha foi bastante resistente e, somente após mudança de conduta de sua mãe, aceitou trocar as visitas no Fórum por visitas no sábado.

No dia 18 de julho aconteceu o primeiro passeio fora do Fórum e a receptividade da Mariazinha foi excelente. Porém, no sábado seguinte (25/07/09), a Maria programou viagem com a Mariazinha e família e não

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acordou com o José um dia para reposição. Dessa forma, agiu contrariamente à facilitação do vínculo do pai e da filha.

Diante da resistência da mãe, sugiro que, enquanto a Mariazinha não sair sempre com o pai no sábado, sem alegações de outros compromissos por parte da mãe, os encontros permanecerão no Fórum.

As visitas devem ser semanais e não quinzenais e o pai deve ter acesso a conversar com a filha durante a semana, via celular, que o mesmo providenciará e que será de responsabilidade da mãe mantê-lo com a Mariazinha em perfeito funcionamento, para que converssem uma vez por dia, à noite, sendo assumida a despesa do crédito pelo pai e de qualquer avaria, ou desligamento do celular, ou sumisso, pela mãe.

Solicito convocação da Maria para assistir ao filme sobre alienação Parental, 11/08/09, 18h.

R.h., em 06/08/09

Em razão do conteúdo da informação de fls. 64, determino a convocação da genitora Maria para assistir ao filme sobre alienação parental, no dia 11/08/2009, às 18:00 horas, no Tribunal de Júri, neste Fórum. Intime-se.

INFORMAÇÃO DA PSICÓLOGA, em 18/08/09

Com o devido respeito, informo que mesmo diante dos esclarecimentos que tenho tentado fazer na esfera emocional da tríade (Maria – Mariazinha - José), ainda assim, Mariazinha é resistente para sair com o pai, não conseguindo o pai exercer seu dever de visita. A postura da mãe é o foco do insucesso: não se opor ao "querer" da Mariazinha, se a criança diz "não", devido ao processo de alienação vivido de 01 ano até os 6 anos, a Maria diz: "fiz minha parte, não posso obrigar minha filha".

Segundo Françoise Dolto1, "nos dias de visita a mãe não pode ter o direito de conservar o filho com ela. Que se diga às mães que elas não têm que guardar a criança no dia reservado ao pai. Se a criança não quiser ver o pai, que elas a confiem, nesse dia, a um parente neutro. Caso contrário, quando a mãe aceita ficar com seu filho, a criança acredita inconscientemente que tem direito exclusivo sobre essa mãe. É importante que o genitor que a abriga lhe diga, nesse dia: "Hoje não posso ficar com você, já que este é o dia em que você tem a obrigação de se dedicar ao seu pai". O genitor contínuo deve respeitar esse espaço, não se fazendo presente para a criança nesse dia – quer a criança se recuse a ver o outro genitor, quer o outro genitor não compareça."

Dentro dessa perspectiva educacional, Maria está recebendo orientações de como agir em relação ao restabelecimento do vínculo pai e filha, mas não está executando as orientações.

Transcrevo a última ligação telefônica que o atual companheiro de Maria, Vitor, fez ao pai de Mariazinha na noite anterior à visita do pai para a Mariazinha.

"Oi, senhor José, amanhã (sábado, dia 15/08/09), tenho um compromisso e vou levar a Mariazinha e a mãe dela, e não vou desmarcar por sua causa. A Mariazinha está falando que não quer sair com você. Me ligue que eu quero falar com você. Não vou te esperar. Vitor." Fone de origem: 8462-1119, gravada no celular do José.

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Assim, o trabalho de ida em direção à alienação parental foi feito pela Maria e família, destruindo a imagem do pai e fazendo com que Mariazinha não sinta interesse em estar com o pai. Maria foi orientada por nós a fazer o caminho da volta, isto é desalienar a filha em relação ao pai. Quem faz o caminho da ida, deve saber fazer o caminho da volta, de qualquer forma, sabendo ou não, estivemos aqui para ajudá-la, porém, não houve interesse da parte da mãe.

Sugiro que a Mariazinha seja entregue ao pai na sexta-feira, após o horário de aula, e que o pai a devolva somente no domingo 18h. Assim, tentaremos por fim em um processo de alienação que durará a vida de Mariazinha se não for interrompido. O pai tem todas as condições para cuidar da Mariazinha. A "aparente" agressão à acomodação emocional de Mariazinha, abrirá um espaço para o que lhe pertence, o espaço que lhe pertence é ter o pai em sua vida.

Vistos, etc., em 20/09/09

Trata-se de Ação de Regulamentação de Visitas, em que as partes acordaram o direito de visitas nos termos expostos às fls. 51/52.

Importante recordar que durante o período de adaptação da criança para com o seu genitor, foi determinado que houvesse o acompanhamento da psicóloga forense e da assistente social forense, o que efetivamente vem sendo cumprido, conforme demonstram os relatórios de fls. 58, 64 e 72/73.

Dos acompanhamentos realizados, a Psicóloga forense sugeriu às fls. 72/73 que "(...) Mariazinha seja entregue ao pai na sexta-feira, após o horário de aula, e que o pai a devolva somente no domingo 18h. Assim, tentaremos por fim em um processo de alienação que durará a vida de Mariazinha se não for interrompido. O pai tem todas as condições para cuidar da Mariazinha. A "aparente" agressão à acomodação emocional de Mariazinha, abrirá um espaço para o que lhe pertence, o espaço que lhe pertence é ter o pai em sua vida".

Com vista dos autos, o Representante Ministerial nada opôs quanto à sugestão feita pela psicóloga (fl. 74).

É o relato do necessário. Decido e advirto ambos os genitores:

Lamentável, que a genitora, pessoa adulta, esclarecida e ciente das consequências emocionais que pode causar à filha, continue dificultando o relacionamento da filha com o genitor, o que, por certo, afeta o bem-estar da criança.

Outrossim, não obstante a certeza de que as partes conhecem seus direitos e obrigações, especialmente em prol da filha comum, importa transcrever da doutrina:

"Um grave problema é conscientizar o guardião quanto à importância da visita para o visitado, por ser fator imprescindível ao seu integral desenvolvimento." (BOSCHI, Fábio Bauab. Direito de Visita – São Paulo : Editora Saraiva, 2005. p. 175).

Ressaltando a inegável prevalência dos interesses da filha, de estatura constitucional, diga-se de passagem (CF/88, art. 227) o citado doutrinador indica o caminho para assegurar o direito de visitas:

"Sendo o visitado criança ou adolescente, pode-se lançar mão das medidas de proteção previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente

39

sempre que o guardião omitir-se ou faltar com seus deveres ou abusar de seu direito (art. 98, II).

"Dentre as medidas protetivas pertinentes aos responsáveis pela criança ou adolescente, o art. 129 da Lei 8.069/90 arrola: a) encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; b) realização de cursos ou programas de orientação; c ) advertência; d) perda da guarda; e e) suspensão ou destituição do poder familiar.

[...]

"Persistindo o guardião com o propósito de dificultar a visita ou não cumprindo a determinação judicial de submeter-se a tratamento psicológico e participar de curso de orientação familiar, dever-se-á destituí-la da guarda ou, ainda, se o fato for grave, suspendê-lo ou destituí-lo do poder familiar (art. 22 c/c o art. 24 da Lei 8.069/90)

[...]

"No terreno das visitas, a posição do guardião é a de verdadeiro devedor de uma obrigação de fazer, positiva e negativa; por isso, é seu dever facilitar a convivência entre visitante e visitado a abster-se de opor empecilhos ou obstáculos a que elas venham a transcorrer no tempo e no espaço, como determinado em acordo ou sentença." (op. cit. 177/179)

Ante o exposto, levando-se em consideração os pareceres emitidos pelo Setor Psicossocial, bem como considerando o princípio do melhor interesse da criança, sendo que a convivência com o pai é um direito a ser preservado e garantido à criança, a sugestão de fl. 73 mostra-se razoável, a qual é acatada e deferida por este juízo.

Assim, determino que o sistema de visitação continue sendo acompanhado pelo setor psicossocial, ficando garantido ao genitor o direito de visitas quinzenalmente, podendo pegar a filha na sexta-feira, após o horário de aula, devendo devolve-la à genitora no domingo até às 18:00 horas.

Consigno, por fim, que a forma acima estabelecida deverá ter seu cumprimento já no dia de amanhã, ou seja, 21/08/2009, devendo a criança ser entregue pela mãe no Setor Psicossocial, até às 19:00 horas, sob a supervisão da Psicóloga Forense.

Desde já, advirto à genitora para o cumprimento da decisão judicial, sob as penas da lei e de lesão grave à filha ntimem-se. Notifique-se.

INFORMAÇÃO DA PSICÓLOGA, em 22/10/09

Com o devido respeito e consideração, informo que após as visitas terem sido decididas com a entrega da Mariazinha no Fórum, quinzenalmente, e devolvida em casa, o vínculo entre o José e a Mariazinha começa a se restabelecer com sucesso.

Nas duas primeiras tentativas, Mariazinha chorou e se agarrou na mãe - Maria colaborou com a proposta, indo embora. Dalí para frente, a chegada e saída de Mariazinha tem sido em clima alegre e descontraído.

Entretanto, há controvérsias referente aos feriados. No dia 12/10/09, Maria passou esse dia com Mariazinha e só aceitará alternar os feriados com o devido despacho de sua Excelência. Assim, para que não haja desentendimentos entre as partes em relação a alternância dos feriados, sugiro o despacho para o próximo feriado 02/11/09 e todos os seguintes.

R.h., em 30/10/09

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Considerando o progresso no fortalecimento dos laços afetivos entre pai e filha, determino que sejam incluídos no sistema de visitação os feriados oficiais, de forma alternada, iniciando-se a partir do feriado de 02/11/2009 junto ao genitor, nos moldes dos horários fixados na decisão de fls. 51/52, decisão esta alicerçada também na informação de fl. 87.

R.h., em 26/01/10

Ao Setor Psicossocial para que informe ao juízo a atual situação do caso, devendo encaminhar relatório no prazo de 20 (vinte) dias.

Após a juntada da devida informação, dê-se vista ao Ministério Público.

INFORMAÇÃO DA PSICÓLOGA, em 09/02/10

Com o devido respeito e consideração, informo que as visitas supervisionadas no Fórum atingiram o objetivo – restabelecer o vínculo afetivo entre a filha e o pai. As primeiras vezes, Mariazinha mostrou-se resistente, chorava e se agarrava à mãe. Após um período, compreendeu e começou a aproveitar os momentos bons e mostrar-se segura de que iria com o pai, mas voltaria para a mãe. Hoje, seu afeto pelo pai é espontâneo e positivo.

Atualmente, Mariazinha está fazendo o teste da realidade, verificando na família do pai se certos fatos ocorrem ou não conforme o que lhe era dito. A partir desse ponto, Mariazinha mostra-se apta a aceitar o pai e reconstruir certos conceitos sobre o mesmo. Porém, Mariazinha ainda guarda em seu relacionamento com a mãe, "conflitos de fidelidade", não sendo capaz de demonstrar seu amor pelo pai para não magoar a mãe. Mostra-se que é "obrigada" a sair com o pai para permanecer "fiel" ao desejo da mãe. Esse sentimento tende a diminuir conforme Mariazinha amadurecer e sentir-se segura com o pai.

José procura restabelecer o vínculo sem perder de vista o compromisso com a educação e autoridade da filha, o que dará a Mariazinha a noção de autoridade e limite. Também ficou com a sequela do medo de fracassar e não conseguir manter o interesse da Mariazinha, devido aos inúmeros fracassos no passado. Caso encontre ainda dificuldades nesse sentido, podemos retornar a qualquer tempo as visitas supervisionadas no Fórum.

Diante do exposto e do sucesso do restabelecimento do vínculo afetivo, considero que podemos interromper o acompanhamento no Fórum desde que a família da Maria mantenha-se respeitando o espaço do pai na vida da Mariazinha. Sugiro que não haja aberturas para trocas de dias de visitas, nem exceções e que qualquer falta por emergência, deve ser reposta para as visitas do pai.

INFORMAÇÃO DA PSICÓLOGA, em 15/04/10

Com o devido respeito e consideração, informo que José esteve no setor psicossocial, no dia 15 de abril de 2010, relatando o seguinte: Mariazinha foi hospitalizada para operar as amídalas e teve alta em 14/04/10. José foi avisado somente após a operação.

No dia 16/04/10, sexta-feira, José deverá buscar a filha para visita, mas, em conversa com a avó materna, esta antecipou que Mariazinha estará de licença escolar por 30 dias, sugerindo que a criança não sairá de casa durante esse período, o que fez com que José viesse até o setor

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para garantir seu direito de visitas, além de comprometer-se espontaneamente com todas as condições de convalescência da criança, mostrando-se apto para cuidá-la e medicá-la, conforme as orientações prescritas pelo médico. É a informação.

R.h., em 16/04/10

Considerando a informação de fl. 98, determino que a visitação passe ocorrer na forma acordada às fls. 51/52.

Considerando, ainda, a informação de fl. 100, importante registrar, desde já, que a injusta negativa da genitora em permitir as visitas configura descumprimento de ordem judicial e viola não apenas os direitos do genitor, mas também o da filha, na medida em que a priva da convivência paterna, e dificulta o fortalecimento dos laços de afeição, parentesco, carinho e amizade entre pai e filha.

Consigno, por fim, que havendo oposição de qualquer dos genitores quanto ao direito de visita acordado, poderá ocorrer a perda da guarda.

Intimem-se, pessoalmente, através de serventuário de plantão, se necessário.

Em 01/12/10, recebi a visita da advogada da Maria trazendo algumas reclamações importantes da sua cliente sobre as visitas do pai para a filha, (mordida de insetos, não utilização obrigatória da cadeirinha de segurança no carro, entrega da criança fora do horário) sobre a mudança de cidade da Maria e Mariazinha e necessidade de novo arranjo de visitas.

A advogada também intencionou orientação a respeito de como conduzir a situação com sua cliente, por concordar com o diagnóstico da SAP e com as determinações judiciais que alcançaram os objetivos de restabelecer a comunicação entre o pai e a filha.

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ANEXO 2 Alienação Parental - Relato de um caso

Maria Helena Alcântara Lisboa - Psicóloga Clínica Especialista

Em meados de 2002, chegou ao meu consultório um senhor com uns 45 anos, que vinha indicado por um advogado, que eu mesma não conhecia. Então nos apresentamos e perguntei a ele qual o motivo de sua consulta. Foi quando o mesmo me respondeu que precisava de orientação para lidar com a difícil situação que vinha atravessando por não poder ser pai de sua única filha. Explique melhor não pode ser pai ? Pois para mim se você tem uma filha é porque já o é. Foi então que começou a relatar que logo após o nascimento de sua filha sua esposa não deixava que ele tivesse um acesso direto a filha, só a mãe é que sabia e podia cuidar dela. Bem a situação foi se agravando e a separação foi inevitável. Foi aí que tudo piorou, pois se morando já era difícil ficar com a filha, quanto mais afastado. Nessa mesma época meu cliente ficou envolvido com a doença de seu pai que veio a falecer e por esta razão não tinha muita disponibilidade de ver sua filha diariamente. Com isso a mãe afastava cada vez mais essa aproximação paterna. Investiguei durante esse ano como era a sua relação com o pai. Ele me relatou que a sua ex-sogra e suas duas filhas foram abandonadas por esse pai que nunca mais conviveu com as mesmas. Ficou claro para mim que essa mãe não tinha nenhuma referência boa da figura paterna e com isso faltava nela a identificação de quanto um pai é necessário para o desenvolvimento e crescimento de um filho. Penso que por esta razão sua ex-esposa vinha punindo não só o pai de sua filha, mas também o seu próprio pai e tendo como referência à mãe ou a figura maternal como única, se apossando assim de sua filha e privando o pai de poder acompanhar e principalmente criar os vínculos afetivos de pai e filho. Fazendo com que se caracterize alienação parental. Interpretação do caso Neste caso, como em alguns semelhantes que já tive a oportunidade de trabalhar, percebo que a mãe é socorro, abrigo e segurança. A mãe ama sem limites, sem condições, sem interesse próprio nem expectativas. Vive para o filho ! Do que estou falando ? Certamente essa mãe de carne e osso não era esse ideal perfeito. Ela se cansa, se ressente, se queixa. Sem dúvida ama outras pessoas e nem sempre nos ama, e deve haver momentos em que a criança se aborrece, se incomoda e tem raiva. Contudo, se a mãe for suficientemente boa, citando Winnicott, essa bondade é sentida como perfeição. Agora se ela for apenas suficientemente boa, os desejos, sonhos e fantasias se confirmam e ela dá o sabor do amor incondicional a esse filho. Permitindo que o filho perceba principalmente a figura do pai, formando assim figuras parentais, assim como outras pessoas são tão necessárias para seu desenvolvimento normal e saudável. Conclusões finais Neste caso em particular eu citei a relação anterior da mãe com seu pai. Porquê o amor infantil segue o princípio de que “amo porque sou amado”. Logo essa mãe que não recebeu esse amor do pai, não reconhece a figura paterna, sendo assim, se estabelece à alienação parental, não sendo apenas suficientemente boa, não conseguiu fazer a transferência do amor de sua filha para o seu pai. Pois amor é o sangue da vida, o poder de reunião do que está separado. O que estou querendo dizer é que apesar de ter ocorrido à separação do casal, o amor e a união dos filhos com os pais não deve acabar.

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ANEXO 3

Reportagens Internet

COMPORTAMENTO

Famílias dilaceradas Pai ou mãe que joga baixo para afastar o filho do ex-

cônjuge pode perder a guarda da criança por "alienação parental"

Claudia Jordão Comportamento Famílias dilaceradas

Pai ou mãe que joga baixo para afastar o filho do ex-cônjuge pode perder a guarda da criança por "alienação parental"

Claudia Jordão

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Fazia seis anos que Karla, de oito, não via o pai. Nem mesmo por foto. Sua irmã mais nova, Daniela, nem sequer o conhecia. Quando seus pais se separaram, ela ainda estava na barriga de sua mãe. Aquela noite de 1978, portanto, era muito especial para as duas irmãs. Sócrates havia deixado o Rio de Janeiro, onde morava, e desembarcado em São Luís do Maranhão, onde elas viviam com a mãe, para tentar uma reaproximação. “Minha mãe disse que nosso pai iria nos pegar para jantar”, conta Karla Mendes, hoje com 38 anos. As garotas, animadas e ansiosas, tomaram banho, se perfumaram e vestiram suas melhores roupas. “Acontece que meu pai nunca chegou, ficamos lá, horas e horas, até meia-noite”, diz. Enquanto as meninas tentavam superar a decepção, a mãe repetia sem parar: “Tá vendo? O pai de vocês não presta! Ele não dá a mínima!”

Naquele dia, Karla viveu sua primeira grande frustração. Mas o maior baque aconteceu 11 anos depois, quando recebeu uma ligação inesperada do pai, que até então estava sumido. Karla começou a entender que sua mãe havia armado contra todos naquela noite – e em outras incontáveis vezes. Ela descobriu que o pai esteve mesmo em São Luís. Para ele, minha mãe prometeu que iríamos à praia em sua companhia, mas sumiu com a gente

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quando ele passou para nos pegar. Para nós, inventou o jantar”, conta Karla. De tão desorientada com a descoberta, trancou a faculdade por um ano para digerir a história. “O mais difícil foi descobrir que meu pai não era um monstro”, diz Karla, que há 20 anos tem uma relação próxima com o pai, mas não fala com a mãe desde que descobriu que ela manipula da mesma forma seus dois outros filhos de outro casamento

.

A história de Karla e sua família é tão triste quanto antiga e corriqueira. Pais e mães que mentem, caluniam e tramam com o objetivo de afastar o filho do ex-parceiro sempre existiram. A diferença é que, agora, há um termo que dá nome a essa prática: alienação parental. Cunhada em 1985, nos Estados Unidos, pelo psicanalista Richard Gardner, a expressão é comum nos consultórios de psicologia e psiquiatria e, há quatro anos, começou a aparecer em processos de disputa de guarda nos tribunais brasileiros.

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Inspirados em decisões tomadas nos EUA, advogados e juízes começam a usar o termo como argumento para regulamentar visitas e inverter guardas. “Se comprovada a alienação, através de documentos ou testemunhos, quem trama para afastar pai de filho está sujeito a sanções, como multa e perda de guarda”, diz a psicóloga e advogada Alexandra Ullmann. São as mesmas penalidades previstas no projeto de lei 4.053/2008 que tramita na Câmara e pune mães, pais e demais familiares alienadores – também sujeitos a processo criminal por abuso psicológico.

A alienação parental consiste em programar uma criança para que, depois da separação, odeie um dos pais. Geralmente é praticada por quem possui a guarda do filho. Para isso, a pessoa lança mão de artifícios baixos, como dificultar o contato da criança com o ex-parceiro, falar mal e contar mentiras. Em casos extremos, mas não tão raros, a criança é estimulada pelo guardião a acreditar que apanhou ou sofreu abuso sexual. “É a maneira mais rápida e eficiente de afastar a criança do ex-cônjugue”, diz a desembargadora aposentada Maria Berenice Dias, uma das maiores especialistas no assunto. “Afinal, que juiz vai correr o risco de, na dúvida, não interromper o contato da criança com o acusado?” Segundo ela, nesses casos, testes psicológicos mostram que não houve crime em 30% das vezes. A investigação é complexa e o processo lento por isso a criança permanece anos afastada do pai, tempo suficiente para que os vínculos sejam quebrados. “Quando há falsa acusação de abuso, a criança sofre tanto quanto se tivesse sofrido a violência de fato”, afirma a psicóloga Andreia Calçada, autora de livros sobre o tema.

O que motiva alguém a jogar baixo com o próprio filho? Na maioria dos casos, a pessoa não se conforma com o fim do casamento ou não aceita que o ex-cônjuge tenha outro parceiro. No Brasil, 90% dos filhos ficam com a mãe quando o casal se separa. Por isso, a prática é muito mais comum entre as mulheres. “Há diversos níveis de alienação, mas no afã de irritar o ex-marido, as mães não têm noção do mal que fazem aos filhos”, diz Andreia.

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“O guardião altera a percepção da criança porque ela sente que o pai gosta dela, mas a mãe só o critica, e isso pode desencadear crises de angústia, ansiedade e depressão.” Além disso, a criança cresce em uma bolha de mentiras, o que pode provocar desvios de caráter e conduta.

Crianças de até seis anos são mais suscetíveis a uma modalidade de alienação chamada “implantação de falsas memórias”. É quando o pai ou a mãe a manipula a ponto de acreditar que vivenciou algo que nunca ocorreu de fato. Os dois filhos do consultor empresarial Nilton Lima, 45 anos, foram estimulados pela mãe e pela avó materna a acreditar que haviam apanhado do pai na infância. Nilton e a mãe dos rapazes se separaram após dez anos de casamento. “Certo dia, meu filho mais velho me disse que eu já havia batido nele”, diz Nilton, pai de Anderson, 22 anos, e Bruno, 16. “Fiquei chocado”, diz. Com o tempo, os filhos perceberam a manipulação e ficaram contra a mãe. Esse “efeito bumerangue” é comum quando as crianças crescem e começam a entender o que ocorre ao redor delas. “Nesses casos, os filhos se viram contra quem fez a cabeça de les”, diz a advogada Sandra Vilela. Há quatro anos, depois de quase uma década de briga na Justiça, Nilton conseguiu a inversão de guarda dos filhos. Para isso, foi fundamental o desejo deles de ficar com o pai.

Mas nem sempre uma decisão judicial favorável é suficiente para remendar laços partidos. Pai de uma adolescente de 15 anos e um garoto de dez, o publicitário Paulo Martins, 45, se separou há cinco anos. E, desde então, luta para ficar mais tempo com os filhos, que, sob influência da mãe, já chegaram a ignorar suas ligações, recusar seus convites e mudam de comportamento quando estão na presença dos dois. “Sempre que vou deixar o meu filho em

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casa, ele muda comigo, percebo que ele não quer que eu o abrace para que a mãe não veja”, conta Martins.

Em 2005, ele entrou com uma ação de regulamentação de visitas, na tentativa de ampliar o tempo de convívio com os filhos. A decisão, favorável a ele, saiu recentemente. Mas a filha mais velha de Martins ainda se recusa a vê-lo. Em julho, Martins resolveu presenteá-la com uma festa de 15 anos, o que deixou a adolescente superanimada. Tudo quase pronto, a bomba: “A mãe dela disse que só iria se a minha mulher não fosse”, conta ele. “Minha filha pediu para eu não levála, mas não quis ceder.” A adolescente preferiu abrir mão da festa e desde então não fala com o pai. Quando um casamento chega ao fim, o ex-casal precisa ter claro que a separação é entre eles. Separar a criança do pai ou da mãe é puni-la por algo que ela não tem culpa. “Não existe filho triste de pais separados, existe filho triste de pais que brigam”, diz o advogado Rodrigo da Cunha Pereira.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

(DESENVOLVIMENTO HUMANO) 9

1.1 – Possíveis causas de dependência afetiva 10

CAPÍTULO II

(RELACIONAMENTO AFETIVO) 11

2.1- Origens dos conflitos socioafetivos 12

CAPÍTULO III

(ALIENAÇÃO PARENTAL) 16

3.1- Tipos de Alienação Parental 20

3.2- Consequências psicológicas criança x genitor 24

3.3- A guarda e as visitas aos filhos menores 27

CONCLUSÃO 28

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 31

ANEXOS 33

ÍNDICE 49

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: