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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
ADOLESCENTE E O ATO INFRACIONAL
Por: Fabia Cristina de Almeida Chasse
Orientador
Prof. Vilson Sérgio
Rio de Janeiro
2014
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
ADOLESCENTE E O ATO INFRACIONAL
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Psicologia Jurídica.
Por: Fabia Cristina de Almeida Chasse
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AGRADECIMENTOS
A Deus por ter me guiado ao longo dessa jornada.
Aos meus pais, Gerson e Lucimar, que sempre estiveram ao meu lado, de
quem recebi incentivo e apoio incondicional para continuar minha caminhada.
Vocês são meus maiores exemplos e responsáveis por todos os momentos
bons e marcantes em minha vida.
Aos meus familiares, pela torcida, apoio constante e principalmente pelo
companheirismo nos momentos de ansiedade.
Ao meu orientador, Vilson Sérgio, pela disponibilidade e contribuição valiosa na
construção deste trabalho monográfico.
Ao corpo docente da AVM Faculdade Integrada, em especial a professora Érica
Piedade.
Á Bruna, minha grande amiga, pela incrível paciência e todos os momentos de
tensão e alegria compartilhados. Você ilumina minha vida de maneira muito
especial.
Finalmente, a todos que participaram diretamente e indiretamente desta etapa
e me fizerem crescer pessoalmente e profissionalmente.
4
DEDICATÓRIA
Dedico aos meus pais que me nutriram
de amor e me ensinaram, com muito
carinho, as coisas mais importantes
que aprendi na vida.
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EPÍGRAFE
“Para mim, eles não são vítimas, não são culpados.
Pra mim, eles não são marginais nem santos.
Pra mim, eles são apenas humanos, nada mais”.
(MV BIL)
“(...) A gente quer viver pleno direito
A gente quer viver todo respeito
A gente quer viver uma nação
A gente quer é ser um cidadão.”
(Gonzaguinha)
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RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo identificar e compreender os
possíveis motivos que podem levar o adolescente à situação de conflito com a
lei. Em termos conceituais, torna-se necessário, definir a adolescência e o
processo do desenvolvimento humano, evidenciando a existência do conflito
inerente a etapa, e os fatores de risco que apontam o envolvimento do
adolescente com prática delituosa. Posteriormente, este estudo buscou
ressaltar o caráter histórico descrevendo brevemente as legislações brasileiras
específicas, referente à criança e a adolescência, e as modificações após a
promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, no âmbito dos atos
infracionais e das medidas sócio-educativas, responsabilizando jovens devido
às transgressões cometidas. Além de, abordar a contribuição da Psicologia
Jurídica acerca da problemática.
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METODOLOGIA
A metodologia utilizada foi uma pesquisa bibliográfica, como leitura de
livros, artigos, periódico técnico científico em revista de Psicologia, além de
consulta de leis que responsabilizam o adolescente, e pesquisas na web. Todo
material teórico foi embasado em autores cuja abordagem está relacionada o
tema proposto. Dentre eles destacam-se, Batista (2003), Bulcão (2002) e
Coimbra (2009).
Inicialmente será abordada a temática da adolescência, posteriormente
os fatores que colaboram para que o adolescente cometa um delito e em
seguida será apresentada uma análise acerca da contribuição do Estatuto da
Criança e do adolescente no cotidiano desses infratores e por fim a
contribuição dos profissionais da psicologia jurídica e sua atuação.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................................................09
CAPÍTULO I- ADOLESCÊNCIA........................................................................11
1.1- Conceituando a adolescência..................................................................11
1.2- Adolescência e a vulnerabilidade............................................................14
CAPÍTULO II - ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI......................18
2.1 - Adolescente autor de ato infracional....................................................18
2.2 - Fatores de risco para a conduta infracional...........................................19
CAPÍTULO III – ADOLESCÊNCIA NO CAMPO DA LEGISLAÇÃO..............30
3.1- Legislações específicas...........................................................................30
3.2 - O Advento do Estatuto da Criança e do Adolescente..........................34
3.3 - A prática do ato infracional e as medidas sócio-educativas..................36
CAPÍTULO IV- CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA JURÍDICA....................41
CONCLUSÃO.........................................................................................................48
BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................50
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INTRODUÇÃO
A adolescência é um fenômeno específico do desenvolvimento do ser
humano, onde o indivíduo procura estabelecer sua identidade. Está etapa é
concebida entre a infância e a vida adulta.
Frequentemente, vários adolescentes se envolvem com a prática de atos
infracionais, tornando-se, assim, indiscutível que a temática apresentada
atravessa uma série de questões. Atualmente, houve uma preocupação por
parte da sociedade brasileira significativa que demonstra preocupação ou
desacordo com esse jovem autor de delito.
Vivemos em um cenário violento, onde a sociedade é considerada
desigual e produz uma cidadania distinta, ou seja, de acordo com a posição
social de cada indivíduo. Contudo, as consequências são destinadas apenas
para parte da sociedade, os pobres.
Tendo em vista essa premissa, o trabalho monográfico visa contribuir
para uma melhor compreensão, além de realizar uma revisão sobre o tema, a
adolescência e suas especificidades e aponta os principais fatores de riscos
que contribuem ou influenciam o adolescente a cometeram o ato infracional.
Com intuito de alcançar esse objetivo, o presente trabalho será
desenvolvido da seguinte forma.
O primeiro capítulo aborda o fenômeno da adolescência, citando a
origem e a definição da palavra, além de destacar as características do
processo de desenvolvimento humano marcado por contradições inerentes a
etapa e a relação da adolescência com a vulnerabilidade.
O segundo capítulo apresentada a questão do adolescente com enfoque
na prática o ato infracional realizado por eles. Os fatores que levam um
adolescente a cometer um ato infracional são variados e podem interferir na
formação do adolescente causando danos individuais e para a sociedade.
O terceiro capítulo expõe um breve histórico da legislação específica
referente á concepção da infância e adolescência no Brasil. Dentre eles, o
Código de Menores de 1927 e o Código de Menores de 1979, apresentando
suas reformulações. E por fim, a implementação do Estatuto da criança e do
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adolescente (ECA 1990), baseado na Doutrina da proteção Integral, focando no
ato infracional e nas medidas sócio-educativas.
O quarto e último capítulo aborda a Psicologia Jurídica e seus desafios
diários, finalizando com sua contribuição na área.
O propósito desse trabalho é enfatizar e refletir sobre a questão do
adolescente autor de ato infracional, além de problematizar o contexto social,
econômico e cultural em que esse jovem está inserido. Ademais, é essencial
analisar as causas e proporcionar meios para minimizar a ação.
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CAPÍTULO I
ADOLESCÊNCIA
1.1- Conceituando a adolescência
De acordo com Matheus (2007) adolescência é uma palavra de
origem latina, do verbo adolescere, que significa crescer e desenvolve.
A adolescência é o período situado entre a infância e a vida adulta.
Começa com os primórdios físicos da maturidade sexual e termina com a
realização social da situação de adulto independente. Também é
considerado como um tempo de transição (MYERS, 1999).
Em relação ao desenvolvimento físico, a adolescência inicia-se pela
puberdade, ou seja, quando o indivíduo começa a se tornar sexualmente
maduro. A mesma apresenta um fluxo de hormônios, que pode acarretar em
um acelerado desenvolvimento físico. Convém salientar que o professor
Myers (1999), declara como pontos de referência da puberdade, a primeira
ejaculação nos meninos e o primeiro ciclo menstrual nas meninas.
Erik Erikson elaborou a teoria do desenvolvimento psicossocial. A
mesma caracteriza cada etapa do desenvolvimento humano, ou seja, o ciclo
vital se estende desde o nascimento até a velhice e consiste em oito
estágios.
De acordo do Kaplan (1997):
“As formulações de Erikson fundamentam-se no conceito de epigênese, um termo emprestado da embriologia. O princípio epigenético sustenta que o desenvolvimento ocorre em estágios sequenciais e claramente definidos, e que cada um desses estágios deve ser satisfatoriamente resolvido, para que o desenvolvimento avance sem problemas” (KAPLAN, 1997, p. 252).
Kaplan (1997) salienta que o estágio Identidade versus difusão de
papéis, descrito por Erikson corresponde dos 11 anos de idade até final da
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adolescência. E acrescenta que a identidade saudável é construída de
acordo com a trajetória bem sucedida dos estágios precedentes.
Na perspectiva de Erikson (1987) a adolescência é a última etapa da
infância. Todavia, a mesma, só é finalizada quando o indivíduo ultrapassa as
identificações construídas no período da infância e constrói outras
identificações (ERIKSOM, 1987).
Erikson (1987) salienta que a palavra crise não é utilizada para
mencionar uma catástrofe, entretanto é referida apenas como um período
crucial de crescente vulnerabilidade. Assim, cada etapa do desenvolvimento
apresenta uma crise, e a mesma corresponde ao crescimento e surgimento
de uma nova função. Desse modo, indivíduo interage com o meio em que
vive e atualiza a fase em desenvolvimento.
Nesta premissa, é importante ressaltar que durante a fase do
desenvolvimento a crise é assinalada por uma série de modificações no
desenvolvimento físico, no amadurecimento genital e na consciência social
do indivíduo. Essas crises são afrontadas já no nascimento, quando o bebê
passa por uma mudança radical, da vida intrauterina e a vida fora deste.
Entretanto, Marcelli e Braconnier (2007) consideram que a crise na
adolescência contribui para o processo de amadurecimento e a ausência
desta é considerada patológica.
Erikson (1987) define a identidade como o somatório das
identificações consecutivas desde os primeiros anos de vida do indivíduo, ou
seja, quando a criança almejava ser como a pessoa de quem ela já
dependeu. Ademais, a identidade é descrita como um produto singular que
confrontar-se com uma crise a ser resolvida e com as novas identificações
com as pessoas da mesma idade. O desenvolvimento humano não começa
e nem termina na identidade.
Segundo a teoria do desenvolvimento psicossocial de Erikson (1987)
a identidade está inclusa no ciclo vital, e somente o indivíduo que chegou à
adolescência, ou seja, que evoluiu nas condições precedentes do
desenvolvimento físico, do amadurecimento mental e da responsabilidade
social podem percorrer a crise da identidade. Em outras palavras, a crise da
identidade, no aspecto psicossocial, ocorre apenas no processo da
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adolescência.
Erikson (1987) descreve ainda sobre a moratória psicossocial, onde o
adolescente encontra-se em busca de um novo sentido de continuidade.
Neste estágio do desenvolvimento, alguns adolescentes tiveram de enfrentar
novamente as crises das fases precedentes antes de introduzir as ideias
duradouras ou uma identidade final.
Estes necessitam de uma moratória para integração dos elementos
de identidade relacionados á fase da infância indefinida em seus contornos.
Kaplan (1997) acrescenta que durante a moratória vários papéis são
testados e os valores morais podem mudar.
Erikson (1987) ressalta que a moratória psicossocial está relacionada
à experimentação de papéis. Este conceito é considerado importante para a
formação da identidade do indivíduo. Ademais, é caracterizado por uma
tolerância seletiva pela sociedade e visto, pelos adolescentes, como uma
atividade lúdica.
Nesta premissa, cada sociedade institucionaliza a moratória para a
maioria de seus adolescentes. Entretanto, algumas moratórias coincidem
com valores da sociedade outras são caracterizadas por delinquência.
Vale destacar, segundo Erikson (1897), é preciso analisar o rótulo ou
diagnóstico que se adquiri durante a fase psicossocial e oferecer maior
importância para o processo de formação de identidade.
Aberastury e Knobel (1988) também contribuem acerca da temática,
segundos os autores a adolescência não é uma fase concretizada, mas sim
um processo em pleno desenvolvimento, onde se passa por instabilidades
externas e desequilíbrios caracterizado como “a síndrome normal da
adolescência”. Deste modo, o adolescente estabelece sua identidade. Ainda
nesta temática, os indivíduos, passam por um momento descrito como
confuso apresentando ambivalências no âmbito familiar e social.
Segundo a teoria apresentada acima, o adolescente passa por três
lutos considerados fundamentais neste momento da vida. São eles: luto pelo
corpo perdido, onde acontecem mudanças externa e no organismo; luto pelo
papel e a identidade infantil, que ocorre um processo de abdicação da
dependência e concordância de responsabilidades; e o luto pelos pais da
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infância, onde os mesmos tentam deter o desenvolvimento da personalidade
e essa situação é dificultada pelas ações dos pais que se recusam a
entendem que os filhos estão crescendo.
O adolescente apresenta uma vulnerabilidade para absorver os
aspectos projetivos dos familiares, dos amigos e também da sociedade, ou
seja, é um receptáculo favorável para conduzir conflitos de outros indivíduos
e adquirir as características negativas do meio que está inserido.
(ABERASTURY e KNOBEL, 1988).
A psicanálise, por sua vez, também conceitua adolescência e
acrescenta que esta fase é caracterizada como um período de extremos
opostos, onde os jovens são egoístas e alguns apresentam comportamentos
considerados grosseiros com os demais, mesmo eles sendo sensíveis, e
seus temores oscilam entre otimismo e pessimismo (ANA FREUD apud
PAIVA 2007).
Para finalizar, Marcelli e Braconnier (2007) conceituam a adolescência
com uma fase de modificações, onde o indivíduo não é mais uma criança e
ainda não se tornou um adulto. Essa negação da infância e a busca de um
estatus mais estável estabelecem uma crise do processo psíquico que todo
adolescente atravessa para se desenvolver.
Convém salientar, que no campo psicopatológico, a crise não é
considerada evolutiva, e sim é um momento temporário de desequilíbrio, sua
evolução é variável e depende de fatores internos e externos, como por
exemplo, o estresse.
1.2- Adolescência e a vulnerabilidade
Como aponta Zavaschi (2009) às crianças e adolescentes são
vulneráveis, por si próprio, ou seja, pelo estágio de desenvolvimento, e a
ausência de proteção, cuidado e ações efetivas com intuito de tratá-los
podem torná-los adultos também vulneráveis.
Segundo Levisky (1998) a violência está presente em nossa
sociedade e em todos os lugares, inclusive dentro de casa, nas instituições
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de ensino, nos espaços públicos e principalmente nos meios de
comunicação. Em outras palavras, os crimes estão cada vez mais
constantes em nosso cotidiano e em nossas vidas.
Neste contexto, a violência surge na sociedade em diversas maneiras,
dentre elas: a falta de condições básicas de sobrevivência, considerada pelo
autor como violência básica, ou seja, da fome até miséria e a carência de
oportunidade. Nesta perspectiva, “adolescente (assim como a criança) será
a vítima preferencial dessa violência social, pois ela é mais vulnerável”
(LEVISKY, 1998, p. 16).
Levisky (1998) ressalta que a vulnerabilidade é referente à invasão de
seu ser por estímulos internos acoplados a sexualidade e á agressividade,
que interagem com ambiente externo que não admite sua transformação
adequada refletindo, assim, na forma de pensar e agir de maneira útil para si
e para toda a sociedade.
Levisky (1998) complementa:
“o jovem vivendo numa espécie de estado confusional, em que não se sabe mais o que deve ou não fazer, menos ainda como deve fazer. Não consegue discriminar o que é certo ou errado, bom ou mau, criativo ou destrutivo. Encontra-se perdido, atrapalhado e, pior, não tem a quem recorrer” (LEVISKY, 1998, p. 16-17).
Quando a violência é banalizada pela sociedade ou não é apontada
como um sintoma de patologia social é provável que o mesmo passe a ser
considerada como um valor cultural que pode ser assumido pelos jovens ou
como seu modo de ser.
Neste contexto, Levisky (1998) ressalta que:
“durante as transformações da adolescência os jovens buscam novos modelos para a formação de sua identidade adulta; período altamente vulnerável e suscetível ás influências ambientais, construtivas e destrutivas” (LEVISKY, 1998, p. 30).
De acordo com o autor supracitado, alguns adolescentes liberam sua
impulsividade podendo se envolver em acidentes e brigas, ou utilizando
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substâncias ilícitas, e até mesmo cometendo atos infracionais.
Levisky (1998) prossegue abordando a questão da violência e
adolescência e comenta:
“á adolescência por ser essa fase da vida altamente influenciável, possuidora de inestimável potencial, porém menos cuidada pela sociedade, fato que já representa uma violência. Esperamos que as ideias aqui registradas estimulem a reflexão e encontro de novos, caminhos diante de algumas questões: qual será o futuro psíquico de crianças e adolescentes submetidos a esta estimulação maciça e precoce? Quais os benefícios e prejuízos para as mentes em desenvolvimento quando uma sociedade satura a cultura, através de meios de globalização de comunicação de massa movidos por forças que transformam a arte, a religião, o corpo os sentimentos, a vida e a morte em material de consumo?” (LEVISKY, 1998, p. 33-34).
Levisky, (1998) aborda também a questão da sociedade e
adolescência.
“Quando pensamos nas crianças e jovens em pleno processo de formação de sua identidade, incorporando valores éticos e morais, nos perguntamos que sociedade estamos oferecendo a eles, quando nós mesmos nos encontramos em dificuldade de posicionamento quanto aos nossos papéis de pais e de cidadãos?” (LEVISKY, 1998, p. 21).
A pós-modernidade é consequência do processo sócio-econômico-
político-cultural que é marcado pela individualidade, racionalismo e
universalidade. Sendo decorrente aos avanços tecnológicos e à busca de
igualdade e o coletivo.
Atualmente o homem conquistou a igualdade de direitos,
individualidade. No entanto, está fracionando a sociedade e a cultura, sendo
insuficientes para dar conta do conjunto de transformações e essenciais
para os processos de desenvolvimento. Além do mais, os meios de
convivência social encontrar-se ameaçadas, sendo refletidos nos valores
éticos e morais (LEVISKY, 1998).
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Desde modo, pode-se entrar no estado de indiferença e passividade,
ou atuações impulsivas e impensadas. Esses estados emocionais podem
acarretar em sentimentos de impotência e insegurança gerados pelas
transformações frequentes por parte da sociedade criando sentimento de
vazio interior.
Na adolescência, os sentimentos se intensificam pela depressão
inerente “à crise normal da adolescência”, tornando favorável para as
drogas, licitas e ilícitas. (ABERASTURY e KNOBEL apud LEVISKY, 1998, p.
23).
Levisky (1998) acrescenta que a definição de vulnerabilidade egóica é
inerente ao período da adolescência e as condições ambientais
inapropriadas aumentam os estados mentais descritos como egocentrismo,
onipotência, e negação da realidade, dentre outras. Podendo refletir no
comportamento e prejudicar o funcionamento mental destes.
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CAPÍTULO II
ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI
2.1- Adolescente autor de ato infracional
Teixeira (2006) salienta que o adolescente autor de ato infracional é
antes de tudo um adolescente, ele considera uma etapa peculiar acerca do
desenvolvimento do indivíduo que obtém configurações particulares
referentes aos aspectos históricos e contextos culturais, econômicos e
sociais. Nesta premissa, a história pessoal do adolescente se estabelece a
partir de diversos acontecimentos, entre elas vivências subjetivas e objetivas.
Contudo, observar o adolescente somente pelo víeis do conflito com a lei,
torna-se inviável entender os motivos da conduta apresentada, uma vez que
se desconhece história pessoal.
O mesmo autor citado acima considera o ato infracional como um
sintoma e salienta que a comportamento do adolescente revela
acontecimento do seu ambiente social que causam efeitos e refletem em seu
dia-a-dia, neste caso, o envolvimento com práticas delituosas. E acrescenta
ainda que, a diferença mais importante não é entre o adolescente autor de
ato infracional e o adolescente não infrator, entretanto, entre as classes
sociais diferentes onde os jovens estão inseridos.
Paiva (2007) ressalta que lidar com esses jovens não é uma tarefa
fácil para nenhum profissional. Visto que, a definição da delinquência juvenil
é multifacetado. Nesta premissa, Teixeira (2006) assinala que a
multiplicidade de características que compõem a história do indivíduo,
demonstra que o fenômeno é multideterminado. Em outras palavras, existem
vários fatores e aspectos que influenciam na constituição da subjetividade do
adolescente. Portando, definir como único fator seria simplista e reducionista.
Deste modo, a reflexão sobre essas e outras determinações na
produção do adolescente autor de práticas delituosas resulta em pensar no
mundo que arquitetamos e formamos para as gerações posteriores; implica
numa crítica á sociedade brasileira e no fortalecimento da solidariedade com
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o próximo e com a ética. Neste contexto, é essencial enfatizar as condições
geográficas onde alguns jovens residem, visto que, são formados
importantes pilares da conduta. Em algumas cidades, por exemplo, no Rio
de Janeiro, foi instalado o crime organizado, onde traficantes locais criam
territórios de disputa referentes aos adolescentes residentes da comunidade
para atuar nas atividades ilícitas prejudicando o seu próprio futuro
(TEIXEIRA, 2006).
Convém salientar que existe uma naturalização dos atos criminosos
que percorre em paralelo com a banalização. Isso procede de dois fatores,
são eles: os delitos cresceram estatisticamente e a mídia enfatiza esses
fatos tornando um tema comum na vida cotidiana dos indivíduos. O segundo
fator, é a noção de sociabilidade violenta, onde afirma que os centros
urbanos têm obrigado a população a uma convivência diária com a violência
e criminalidade (GONÇALVES, 2003).
Por sua vez, Teixeira (2006) sinaliza que alguns adolescentes que
entraram em conflito com a lei encontrar-se em condições de extrema
vulnerabilidade. Contudo, é fundamental, não tratarmos as condições de
vulnerabilidade apenas como medidas sócio-educativas, as mesmas devem
ser abordadas no âmbito de políticas básicas, além de políticas de caráter
protetivo, antes medidas de profilaxia do que ato infracional.
Para finaliza, é importante destacar, que a aliança entre o Direito e a
Psicologia é essencial para apoiar, o adolescente em conflito com a lei, pois
estas ciências podem contribuir para que o mesmo possa encontrar sua
identidade e exercer a cidadania plena. Além da garantia de direitos
estabelecidos por lei para que os mesmos possam ser valorizados e com
máxima visibilidade pela sociedade. (VERANI apud PAIVA, 2007).
2.2- Fatores de risco para a conduta infracional
Tendo como objetivo compreender os fatores que contribuem para o
envolvimento de adolescentes com infrações Zeitoune (2009) expõe, em sua
pesquisa desenvolvida no curso de doutorado no instituto de Psicologia da
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Universidade do Rio de Janeiro, o perfil do adolescente privado de liberdade,
no DEGASE - Departamento Geral de Ações Sócio-educativas, órgão
responsável pela execução das medidas aplicadas pelas Varas de infância e
Juventude do Estado do Rio de Janeiro. Dentre eles destacam-se os jovens
entre 16 e 17 anos, a maioria do sexo masculino, moradores de
comunidades pobres na cidade do Rio de Janeiro e do interior do estado.
Segundo a pesquisa apresentada 58% dos adolescentes ingressaram no
DEGASE pela primeira vez e o número de reincidente é de 42%.
Zeitoune (2009) ressaltou os principais motivos do ato infracional. São
eles: para obter roupas de marca, falta de trabalho, uso de drogas, tráfico de
drogas, situação de risco, influência de amigos, evasão escolar, conflitos
familiares, entre outros.
Em consonância com Zeitoune (2009) um dos motivos que levam o
adolescente a cometer a prática do ato infracional é obter roupas de marcas,
os jovens se identificam com propagandas e buscam através do consumo
uma inserção subjetiva no mundo em que está inserido. O discurso
capitalista determina o indivíduo apenas pelo consumo que vai adiante da
satisfação de necessidade, produz no indivíduo a convicção que os objetos
são sempre de fácil acesso.
Neste sentido, da lógica capitalista, Guattari e Rolnik (1996)
acrescentam:
“Tudo que é produzido pela subjetivação capitalística- tudo o que nos chega pela linguagem, pela família e pelos equipamentos que nos rodeiam- não é apenas uma questão de ideia, não é apenas uma transmissão de significações por meio de enunciados significantes. Tampouco se reduz a modelos de identidade como pólos maternos, paternos e etc. Trata-se de sistema de conexão direta entre as grandes máquinas produtivas, as grandes máquinas de controle social, e as instâncias psíquicas que definem a maneira de perceber o mundo. As sociedades “arcaicas”, que ainda não incorporaram o processo capitalístico, as crianças ainda não integraram o sistema, ou as pessoas que estão nos hospitais psiquiátricos e que não conseguem (ou não querem) entrar no sistema de significação dominante, têm uma percepção do mundo inteiramente diferente dos esquemas dominantes- o que não quer dizer que a natureza de sua percepção dos valores e das relações sociais seja caótica” (GUATARRI e ROLNIK, 1996, p. 27).
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Então, podemos concluir que as condutas infracionais, podem ser
decorrentes ao amplo valor que a sociedade atribui aos bens matérias, visto
que, o consumismo é estimulado de diversas formas entre elas, pela mídia.
A desigualdade social faz com que apenas uma parcela da população tenha
acesso a objetos materiais. Desta forma, o desejo de obtenção que não
podem ser realizadas através de atividades lícitas, como o trabalho, muitas
vezes, é realizado de maneira ilícita visando à satisfação.
Zeitoune (2009) identifica a falta de trabalho como fator de risco para
o adolescente entrar em conflito com a lei. Coimbra e Nascimento (2003)
completam que no período do capitalismo liberal os jovens pobres foram
recolhidos em espaços públicos com a finalidade de serem disciplinados e
com a perspectiva de se tornarem indivíduos trabalhadores e honestos.
Atualmente, no neoliberalismo, esses jovens não são mais essenciais no
mercado de trabalho, justificando o extermínio. No entanto, os jovens pobres,
quando resistem ao extermínio, também são excluídos, uma vez que, não
conseguem ser inseridos no mercado de trabalho formal. Ao passo que
cresce a apartação social, os jovens se envolvem com práticas ilegais com
forma de sobrevivência.
Coimbra e Nascimento (2003) apontam que, nos dias atuais, a
sociedade brasileira associa a periculosidade e criminalidade com á situação
de pobreza. Sendo, justificada o extermínio da juventude desprovida
financeiramente juntamente com o acréscimo de jovens cumprido medidas
de reclusão. Convém citar ainda, que a exclusão de jovens pobres tem
acarretado marcas na existência, os que sobrevivem ao extermínio, não
consegue evitar o recolhimento em internatos ou o sistema prisional.
Na Europa, no século XIX, surgem as teorias eugenistas e racistas
onde apresentavam uma crítica a acerca das misturas raciais assinalando
como indesejável e geradora de enfermidades tanto física quanto moral. É
importante destacar que, nesta época ocorreu também o movimento que
influenciava a proposta da abolição dos escravos na América, já que, a
liberdade dos mesmos era uma ilusão, visto que o capitalismo iria extrair
como mão de obra com baixo custo. De acordo a lógica do capitalismo
liberal, os trabalhadores têm autonomia para oferecer sua mão de obra, o
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trabalho, todavia esses trabalhadores têm que respeitar as regras
estabelecidas pela sociedade de classes (COIMBRA e NASCIMENTO,
2003).
Já o Higienismo, que também surgiu no século XIX, sustentava a ideia
que os vícios e as virtudes eram provenientes de ascendentes. Relatava que
os indivíduos oriundos de “boas” famílias apresentariam tendências para a
virtude. Entretanto, os que se apresentassem “má herança”, eram portadores
de degenerescência, ou seja, os pobres. Neste contexto, explicava-se uma
série de medidas contra a pobreza, até mesmo a afirmação que a má
herança era transmitida de forma hereditária (COIMBRA e NASCIMENTO,
2003).
Assim, os pobres, considerados dignos, tinham seus valores morais
fortalecidos, além de serem afastados de ambientes considerados ruins. Já
os “pobres” viciosos, que não exerciam nenhuma atividade eram
classificados como portadores da delinquência, assim, assinalavam um
perigo social que deveria ser extinto. Após a classificação dos pobres surge
a preocupação com a infância e a juventude, que poderia compor as classes
perigosas que deveriam ter suas virtualidades sobre controle (COIMBRA e
NASCIMENTO, 2003).
De forma complementar, Batista (2003) menciona que a difusão do
medo, do caos e da desordem tem como objetivo deflagrar as estratégias de
disciplinamento direcionadas para população mais pobre. O ordenamento
inserido pela escravidão na formação sócio-econômica apresenta
insegurança quando ocorre ameaça de rebelião. O término da escravidão e
a instalação da República não cessaram com os ordenamentos, Por isso,
existe o medo da rebelião negra que habitam nos morros justificando a
implementação de políticas autoritárias de controle social.
Batista (2003) prossegue e assinala que no cotidiano a propagação de
imagens de pânico é devido à produção de políticas violentas de controle
social extremamente rígida, onde a ocupação dos espaços públicos pelas
classes empobrecidas, os negros e pobres, produz fantasia de pânico do
caos social. No entanto, concentrar o medo em apenas uma parte da
população, que pode ser classificada e reconhecida, é uma estratégia.
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No que se refere à criminalização da juventude Batista (2003) ressalta
que na passagem da ditadura para a democracia o controle social se
manteve ileso, com mais investimento no combate ao crime que gerou um
pânico social e permitiu a internalizarão do autoritarismo. Ademais,
atualmente, a ideologia do extermínio é mais introjetada do que posterior ao
término da ditadura.
Segundo Rauter (2003), a associação entre pobreza/ miséria e o
crime estão sempre presente. A indisciplina e a ociosidade produzem a
miséria que consequentemente gera a criminalidade. O meio mais correto
para o aprendizado da disciplina, ou seja, da obediência é o trabalho.
“A pobreza é vista como o principal agente causador do fenômeno do crime. Esta noção é concebida da seguinte maneira: não que o estado de necessidade material gerasse, por exemplo, os delitos contra a propriedade, ou que estes encontrassem um sentido ao serem assim explicados. Ao contrário, a pobreza é vista como decorrente de características morais ou mentais de um grupo de indivíduos na sociedade” (RAUTER, 2003, p. 62).
Neste contexto, segundo o autor citado acima, o que caracteriza a
pobreza/miséria é vista como resultado de características morais e como
causador do crime gerando estratégias que possibilita ampliar a ação
disciplinar, por parte do Estado, sobre a camada empobrecida.
Nesta perspectiva, o uso de drogas, segundo Zeitoune (2009) também
é apontado como fator de risco. A substância ilícita serve como defesa diante
do mal-estar produzido pelo desejo, pela angústia.
Para Marlatt (2003) os jovens começam a consumir a droga ilícita
com a finalidade de experimentar os seus efeitos. Contudo, mesmo
apresentado problemas é normal que uso prossiga por um determinado
tempo sendo amparado pelo conflito entre os aspectos do consumo de
substâncias psicoativas, entendido pelo jovem como positivo, e os aspectos
negativos vivenciados por ele. A droga é atribuída aos jovens com um
significado de transgressão e independência.
Convém destacar, que as algumas drogas, como por exemplo, a
cocaína apresentam propriedades que refletem no comportamento do
24
indivíduo, aumentando sua agressividade. Marlatt (2003) ressalta que, ao
utilizar essas drogas o adolescente corre o risco de se envolver com
problemas de ordem social, legal e físico que variam de leve a grave. Neste
caso, a prevenção é indicada objetivando reduzir os riscos que tendem a
refletir na trajetória de vida.
De acordo com Batista (2003) os efeitos da política criminal contra as
drogas são refletidos nos discursos dos operadores do sistema penal
designado os jovens, carregados de metáfora do darwinismo social
empregadas para o diagnóstico das ilegalidades populares. As
representações da juventude pobre são estabelecidas como imoral, suja e
perigosa e constituem o controle social para justificar a questão da violência
urbana. No entanto, o marco do sistema penal é o extermínio.
O envolvimento com tráfico de drogas, segundo Zeitoune (2009), é um
dos motivos que levaram o adolescente a entrar em conflito com a lei.
Contudo, apresentou uma redução devido à elevada taxa de homicídio entre
os jovens e a diminuição dos lucros que tornou essa atividade menos
atraente e fazendo com que eles buscassem outra função de origem ilícita.
Batista (2003) em sua compreensão comenta que o tráfico de drogas
reforçou o sistema de controle social aprofundando seu caráter letal, já que
apresentou um acréscimo de mortes vítimas da guerra do tráfico e a
violência por parte polícia é legitimada se a vítima for um suposto traficante.
O mercado da substância ilícita propiciou uma gama de investimentos no
sistema penal, proporcionou argumentos para uma política de violação de
direitos humanos aplicadas contra as classes mais vulneráveis.
Para Zeitoune (2009) a situação de risco, como a perda da mãe ou
habitar com a família desprovida de condições para gerenciar a educação
dos filhos, são considerados como fatores de risco para a conduta do ato
infracional. Nessas condições citadas acima, a criança e adolescente são
educados com a ausência de limites, e ainda, são expostos à situação de
abandono em seus laços sociais e sem vínculos efetivos, já que passar a
maior parte do tempo nas ruas, onde o uso de drogas pode contribuir para
evitar a realidade do cotidiano. Ademais, os jovens, enxergam a prática
delituosa como subsistência.
25
Podemos perceber que a família é responsável pela constituição das
relações interpessoais que serão estabelecidas. No que se refere à família
Szymanski (2002) acrescenta que as trocas efetivas, que ocorre no ambiente
familiar, causam marcas que o indivíduo leva para o restante da vida, ou
seja, determina o modo de ser e a maneira de agir com os demais. Esse
aprendizado, com pessoas significativas, mãe ou pai, é projetado nas
famílias que será constituída futuramente.
O autor citado acima complementa:
“Numa família, a linguagem, a metalinguagem, o modo de compreensão das experiências vividas e as disposições afetivas predominantes orientam um ser como o outro que irá se configurar de diferentes maneiras. Esse modo de proceder entre os membros de uma família refere-se, numa perspectiva existencial, ao cuidado ou solicitude, que pode ser vivida tanto de modo deficiente como autentico” (SZYMANSKI, 2002, p. 12).
Nesta premissa, de acordo com Zeitoune (2009) a influência dos
amigos é apontada como motivo para condutas ilícitas. Visto que, essa é
uma forma de se identificar e serem aceitos pelo grupo. Nessa idade, o
grupo tem uma relevância para o adolescente, pois é uma forma de
separação, além de representar uma troca do âmbito familiar para o grupo
social. Eles buscam afinidade com o outro adolescente com que se identifica.
A compreensão de Aberastury e Knobel (1988) em relação à
influência dos amigos, é que o adolescente, nesta etapa da vida, manifesta
como comportamento defensivo na busca de uniformidade, que gera estima
pessoal e segurança. Desse modo, surge o espírito de grupo. Ocorre
também, um processo de superidentificação onde os indivíduos se
identificam com cada um. As ações dos componentes pertencentes a esse
grupo revelam uma oposição ás figuras dos pais e uma forma de definir uma
identidade distinta do contexto familiar onde está inserido. No grupo, o
adolescente se depara com um reforço essencial para os aspectos mutáveis
do ego que são gerados nesta etapa.
Ademais, é deslocado para o grupo parte da dependência que era
destinado ás figuras parentais e seus familiares e o grupo compõe a
26
transição indispensável ao mundo externo necessário para atingir a
individualização adulta. Após passar pela vivência grupal, o adolescente
tende a separar-se e adquirir a sua identidade adulta. (ABERASTURY e
KNOBEL, 1988).
Ainda na perspectiva da influencia dos amigos, Marcelli e Braconnier
(2007) ressaltam que o furto corresponde uma conduta delinquente mais
frequente no período da adolescência que visa adquiri status de componente
de um grupo. O furto de automóveis representa 25% dos delitos cometidos
por jovens. No que tange a psicologia, o furto de carros, é cometido por um
contexto impulsivo devido a uma necessidade imediata. Já no plano
sociológico, esses furtos são realizados devido o meio socioeconômico
desfavorecido.
Zeitoune (2009) aponta a evasão escolar, como motivo que contribui
para a prática de delitos, visto que, a desvalorização da escolarização
conserva esses jovens sem perspectiva de futuro e sem capacidade de
modificar a vida.
Neste sentindo, Teixeira (2006) comenta a relação entre o nível de
escolaridade dos adolescentes que cometeram o delito e a gravidade. Os
jovens com menor escolaridade tendem a cometer delito contra o patrimônio
enquanto os adolescentes que apresentam maior índice de escolaridade
cometem delitos contra outros indivíduos.
Convém tecer, que alguns jovens, que apresentam dificuldade na
aprendizagem e que não obtém sucesso na trajetória escolar acoplado com
ausência de orientação e acompanhamento por um profissional da área pode
gerar um desinteresse levando até a desistência.
Zeitoune (2009) destaca os conflitos familiares, a fragilidade da
relação entre pais e filhos podem contribuir para o envolvimento com o ato
infracional. Frente as dificuldade em impor limites e regras para seus filhos
alguns pais encarregaram à tarefa de educar as instituições de ensino, ao
juiz, entre outros. Assim, os adolescentes ficam sem referência e como
consequência apresentam comportamentos agressivos.
Vale frisar que, de acordo com Zeitoune (2009), quando o adolescente
entra em conflito com a lei, ocorreu ruptura nas relações familiares e os
27
mesmos geralmente residem com madrastas, padrastos ou até vizinhos.
Alguns jovens já exercem a função paterna, mesmo não estando
preparados, caracterizando a impotência referente à educação dos filhos.
Outro fator importante na perspectiva familiar é o aparecimento da
mãe como principal responsável pelo sustento da família, devido à baixa
remuneração, além do desemprego que atinge a população masculina, que
sem possuir recursos financeiros suficientes para gerir a educação dos
filhos, a sua falta fica evidente. Visto que, as crianças e adolescentes,
crescem sem limites impostos e sujeitos ás influência por parte da
comunidade, que muitas vezes é cenário de violência (ZEITOUNE, 2009).
Nesta perceptiva, podemos perceber, que nas famílias monoparentais,
ou seja, comandada apenas pelo genitor ou pela genitora, onde único
responsável se ausenta com a finalidade de atender as necessidades
básicas da família, ou seja, reduzir a situação econômica precária, pode
gerar envolvimento com a vida nas ruas da cidade.
Neste contexto, a falta da lei paterna é um fator que estimula o
adolescente a cometer uma infração. Pois, os mesmos, vivem em uma
relação chamada de dual, ou seja, imaginária, onde uma terceira pessoa não
entrou na família. (GOLDENBERG, 1998).
Desta forma corrobora o autor:
“Esses jovens, talvez inconscientemente, arruma uma forma de o terceiro entrar, de maneira inadequada, através de infrações, ou seja, a partir do momento em que não foi estabelecida a lei interna: em contrapartida fazem surgir à lei externa (Juiz) para interditar essa relação dual”. (GOLDENBERG, 1998, p. 119).
No desenvolvimento do indivíduo é comum que outras pessoas
adotem a posição de pai, como por exemplo, um tio. Entretanto, num
desenvolvimento onde apresentaram várias falhas no ambiente ou
perturbações, “o juiz passar a exercer a função paterna no inconsciente da
criança e do adolescente”. (GOLDENBERG, 1998, p. 119).
No que tange a falta de estabilidade familiar na concepção proposta
por Rauter (2003):
28
“é uma das características das chamadas das populações de baixa renda; as uniões sexuais são efêmeras, os filhos ditos “ilegítimos” proliferam. As mortes, tanto de genitores quanto de crianças, são precoces e frequentes em razão da miséria (a expectativa de vida é de fator menor), as condições de trabalho e a extrema exploração levam a que os pais se ausentem de casa por longos períodos” (RAUTER, 2003, p. 93).
Ainda, segundo autor citado acima, a tendência a transgredir faz parte
da realidade desses adolescentes e do dia -a- dia população a que pertence,
ou seja, as condições de miséria gerada pela própria exploração do sistema
capitalista recebem uma leitura estigmatizante que é empregada na
formação da personalidade criminosa.
Brusius e Gonçalves (2012) concluem que adolescente autor de auto
infracional gera um mal- estar social e acrescenta:
“A estratégia de punição e encarceramento vai de encontro com o funcionamento de uma sociedade, que diante do estranho, do disfuncional, exclui e elimina, assim, ilusoriamente, acredita retorna a um estado de segurança, no qual se coisas funcionam normal, tranquilamente” (BRUSIUS e GONÇAÇVES, 2012, p. 192).
Dubar (2007) apresenta sua compreensão de acerca da delinquência
juvenil, o autor considera um problema social e apresenta quatro teorias, são
elas: a teoria culturalista das “subculturas” delinquentes, que está organizada
em torno das condições de vida do indivíduo, ou seja, a camada da
sociedade desprovida financeiramente possui uma associação aos delitos.
Acredita- se que a causa do delito está inserida no meio social. Em outras
palavras, a cultura delinquente nasce na pobreza e causa o crescimento de
práticas delituosas; já a teoria funcionalista do controle social foi formulada
através da obra do sociólogo Durkheim e sua teoria da anomia, que é a falta
de referência e a perda do sentido das normas estabelecidas pela
sociedade, assim, a desorganização moral torna o delito mais frequente
quando a anomia se manifesta. O enfraquecimento da ordem social aparece
29
como origem o aumento de atos delituosos; na teoria interacionalista da
rotulagem, o autor não considera o meio ambiente ou a falta de controle
social como responsáveis pelos atos delinquentes, e sim a decisão de
corresponder ao rótulo que foi fornecido em um dado momento. No entanto,
este rótulo exprime reações através de conduta delinquente, por uma parte
de jovens que foram estigmatizados; por fim, a teoria da oportunidade ou do
“vidro quebrado”, onde o surgimento das oportunidades constitui a causa
principal da delinquência.
Para concluir, Zeitoune, (2009) ressaltar a trajetória de vida desses
adolescentes, que é constituído em meio à violência, em histórico de
abandono que admite marcas na construção subjetiva desse indivíduo que
se encontra em desenvolvimento. Entretanto, é possível, através de uma
intervenção, na esfera educacional, clínica, social e política a restauração
visando um novo percurso.
Vale destacar ainda, que é fundamental criar condições para que os
jovens reflitam sobre a sua realidade e relatem suas vivencias para que não
fiquem capturados pelo caminho percorrido até o momento e sem
perspectiva de futuro. Em relação aos profissionais, é fundamental que os
mesmos estejam envolvidos no atendimento aos adolescentes que
apresente uma escuta baseada na ética (ZEITOUNE, 2009).
30
CAPÍTULO III
ADOLESCÊNCIA NO CAMPO DA LEGISLAÇÃO
3.1- Legislações específicas
No Brasil, foram ressaltas três legislações específicas que marcam a
infância e a adolescência. São elas: o código de Menores de 1927; o Código
de Menores de 1979 e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de
1990.
O Código Mello Mattos, conhecido como Código de Menores de 1927,
Decreto Nº 17.945 A, de 12 de outubro, dispõe sobre as leis de Assistência e
Proteção aos Menores, ou seja, é destinado à regulação e disciplinarização
dos filhos apenas dos pobres, denominados como “menores”.
Segundo Bulcão (2002), o conceito de menor é constituído por
crianças de famílias pobres que vagam pelas ruas da cidade e onde algumas
são abandonadas, e em certas ocasiões, deslizam para a delinquência
sendo conduzidas a instituições, como exemplo, orfanato ou cadeia. Já o
termo criança, está acoplado a instituições como família e escola, de forma
que, não necessita de atenção especial.
Em seu artigo 1°, o código define que:
“o menor, de um ou outro sexo, abandonado ou delinquente, que tiver menos de 18 anos de idade, será submetido pela autoridade competente ás medidas de assistência e proteção conditas neste código”.
De acordo com Coimbra (2009) a referida lei tinha como objetivo o
saneamento social. Naquela época, o Brasil vivenciava os primeiros passos
em direção à República, sob a supervisão da burguesia, e precisava
estabelecer ideais nacionalistas. O discurso higienista, consolidou o modelo
de família burguesa, de controle e intervenção do Estado destinado para os
31
indivíduos que não seguissem o modelo estabelecido pela sociedade.
Tornando assim, o higienista um investimento onde a mulher, a criança e o
jovem eram considerados alvos, uma vez que a utilidade e docilidade da
sociedade empobrecida não representava um problema.
No início da República, no Brasil, os ex- escravos e os pobres
passaram a ser classificados como perigosos e a família moral e cristã
passaram a ser imposto à pobreza. Assim, a infância empobrecida passa a
ser considerada pelo dispositivo da periculosidade. Contudo, as alianças
entre os juristas e os médicos da época apresentaram um o discurso de
assistência através da penalização que constituía o código de 1927. O juiz
de Menores passou a ter o direito de intervir na vida das crianças e dos
adolescentes empobrecidos tendo como aliado a vigilância.
Por sua vez, Rizzini (2009) acrescenta que o Código de menores é
minucioso e através dessa lei procurou-se cobrir situações envolvendo
crianças e adolescentes e acrescenta:
“Parece-nos que o legislador, ao propor a regulamentação de medidas “protectivas” e também assistenciais, enveredou por uma área social que ultrapassavam em muitos as fronteiras do jurídico. O que impulsionava era “resolver” o problema dos menores, prevendo todos os possíveis detalhes e exercendo firme o controle sobre os menores, através do mecanismo de “tutela”, “guarda”, “vigilância”, “educação”, “preservação” e “reformar” (RIZZINI, 2009, p. 133)”.
De forma complementar, Rizzini (2009) comenta que o art. 54 do
Código de Menores esclarece: “os menores confinados a particularidades, a
instituição ou associação, ficam sob a vigilância do Estado, representado
pela autoridade competente”.
Em relação ao trabalho infantil e juvenil, o art. 101 do Código de
Menores, coloca a proibição referente a empregar menores com idade
abaixo de 12 anos. Essas restrições eram severas em relação ao local,
horário e o empregador, desempenhando a vigilância sob pena de multa.
Para os menores de 18 anos foi estipulado o limite de apenas 6 horas diária
de trabalho. (RIZZINI, 2009).
Neste sentido, a regulamentação do trabalho abrangeu a ocupação
32
dos espaços públicos, ou seja, nas ruas. Segundo o Código de Menores em
seu artigo 112:
“Nenhum varão menor de 14 anos, nem mulher solteira menor de 18 anos, poderá exercer ocupação alguma que se desempenhe nas ruas, praças ou lugares públicos; sob pena de ser apprehendido e julgado abandonado, e imposta ao seu responsável legal 50$ de multa e 10 a 30 dias de prisão cellular”
No entanto, o presente Código é direcionado apenas para os menores
reforçando a produção de infância desigual, pois tornou proibida a
permanência dos das crianças e adolescentes nos espaços públicos
impedido que os mesmo desempenhassem ou exercessem alguma
atividade. (BULCÃO, 2002).
Já o código de Menores, de Alyrio Cavallieri, lei Nº 6.697, de 10 de
outubro de 1979, introduziu a Doutrina da Situação Irregular, entretanto, não
incluí todos os menores, apenas aqueles que se adaptava às situações de
risco, citadas no art. 2º do Código de Menores. Atuando apenas na
ocorrência de irregularidade.
“Art. 2°. Para efeitos deste Código, considera-se em situação irregular o menor: I - privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de: a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável; b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para provê-las; II - vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou responsável; III - em perigo moral, devido a: a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes; b) exploração em atividade contrária aos bons costumes; IV - privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável; V - com desvio de conduta, em virtude de grave inadequação familiar ou comunitária; VI - autor de infração penal”
Bulcão (2002) ressalta que o artigo 2°, visa aborda todas as situações
em que o menor se encontra em situação contrária ao padrão de
33
normalidade estipulado pela sociedade reforçado pelos juristas. Contudo, a
associação entre menor e pobreza continua intacta.
Ainda, segundo o autor supracitado, essa lei apenas substituiu o
termo menor abandonado e delinquente por situação irregular, visto que era
considerado o sistema socioeconômico- familiar dos menores referidos.
De acordo com o Código de Menores de 1979, em seu artigo 1º, essa
lei de destinada para:
“Este código dispõe sobre assistência, proteção e vigilância a menores: I - até dezoito anos de idade, que se encontre em situação irregular; II- entre dezoito e vinte e um anos nos casos expressos em lei. Parágrafo único- As medidas de caráter preventivo aplicam-se a todo menor de dezoito anos, independente de sua situação.”
Coimbra (2009) acrescenta que essa legislação tinha como base a
assistência às crianças e adolescentes considerados em situação de risco,
como incapacidade da família empobrecida que apresentava deficiência de
recursos financeiros para a criação dos filhos. Nesta época, os problemas
referentes à infância e adolescência não era de responsabilidade do Estado,
a ele cabia apenas à tutela dos jovens pobres.
Neste âmbito, a Doutrina da situação irregular, estabelecida pelo
Código de Menores de 1979, apenas como um dispositivo de controle, já que
o menor em situação de risco não podia ser eliminado. No entanto, a
internação em massa foi opção adotada.
O controle era empregado desde o surgimento do Código de 1927,
contudo somente no início de 1970 ganhou força, nesta época, várias
instituições foram inauguradas visando abrigar os filhos da pobreza, trazendo
consigo uma separação entre as famílias, justificando, assim, como vínculos
familiares debilitados e enfraquecidos perante á situação de pobreza.
Surgindo, então, um sentimento de incompetência por parte das famílias
mais pobres. (COIMBRA, 2009).
34
3. 2 - O Advento do Estatuto da Criança e do Adolescente
O Estatuto da Criança e do Adolescente (Eca) - Lei Federal nº 8.069,
de 13 de julho de 1990, revoga o Código de Menores e contrapõem um
passado de controle e exclusão social e apresentando novos paradigmas
referentes à infância e adolescência.
Coimbra (2009) saliente que essa lei abdicou o foco da assistência, já
que, o Estatuto introduziu a Doutrina de Proteção integral, em substituição à
da situação irregular, exposto no artigo 1º que dispõe sobre a proteção
integral à criança e ao adolescente.
Com o advento da nova lei o termo menor que era empregado para
distinguir e discriminar os indivíduos que não tinha uma estrutura familiar é
substituído pelos termos crianças e adolescentes que são utilizados para
mencionar todos os cidadãos inclusos em uma faixa etária específica. Sendo
considerada como crianças a pessoa com até 12 anos de idade incompletos
e os adolescentes entre 12 e 18 anos de idade.
Com intuito de assegurar o desenvolvimento pleno e sadio da criança
e do adolescente são erguidos à condição de Sujeito de Direito. Podemos
observa que é necessário atingir a maioridade para exercício da cidadania.
Assim, consoante com artigo 3º do Estatuto da criança e do adolescente:
“Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade”.
Nesta premissa, Oliveira (2005) considera o ECA como instrumento
pedagógico, visto que, as crianças e adolescentes só se tornaram sujeitos
de direitos ao passo que seu processo de desenvolvimento humano se
compor de vivência e experiências que possibilitam a formação da
35
identidade.
O Estatuto da criança e do Adolescente dispõe sobre a responsabilidade dos pais em relação ao filho
“Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”.
Neste contexto, Oliveira (2005) colabora:
“Dentro da Doutrina da situação irregular esta atribuição era dividida, de forma excludente, entre família e Estado, Ou seja, à família exclusivamente, cabia o dever de cuidar de seus filhos (crianças e adolescentes). Ao Estado cabia a função de vigiar e exercício deste dever e, em julgamento-o inadequado ou insuficiente, intervir nesta relação retirando crianças / os adolescentes da responsabilidade da família e tornando-os sob sua tutela. O Eca subverte esta lógica perversa e institui a concepção de atribuições concorrentes em lugar de excludente.” (OLIVEIRA, 2005, p. 14).
Por sua vez, Oliveira (2005) salienta, que o paradigma da visão
adultocêntrica da infância e da adolescência onde estas etapas passam a
ser concebidas de acordo com um referencial que considera como etapa
específica do processo do desenvolvimento humano.
“Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento”.
Em consonância com Coimbra (2009), a Doutrina de Proteção
Integral, apresenta pelo Eca, assegura a modificação do quadro social de
abandono e desamparo infantil, entretanto, é essencial a apresentação
Políticas Públicas efetivas, uma vez que, as leis não se impõe por si só.
36
3.3- A prática do ato infracional e as medidas sócio-
educativas
Teixeira (2006) destaca que as medidas sócio-educativas,
estabelecidas pelo Estatuto da criança e do adolescente, são designadas
aos adolescentes que entraram em conflito com a lei. No entanto, sua
intencionalidade possui um caráter de punho educativo. As medidas
estabelecidas procuram a responsabilização do adolescente diante da
conduta.
Neste contexto, é importante ressaltar que os adolescentes são
considerados penalmente inimputáveis, os menores de 18 anos,
considerando a idade na data do fato, os mesmos não são inseridos no
sistema penal e sim apreendidos. De acordo com o ECA, ao infringir a lei os
jovens não cometem contravenção penal ou crime. Contudo, cometem ato
infracional.
As crianças de até 12 anos, são aplicadas medidas protetivas e aos
adolescentes são aplicadas medidas sócio-educativas. De acordo com os
artigos 98 e 101 do ECA.
“Art. 98 As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os diretos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: I- por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II- por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável III- em razão de sua conduta”
“Art. 101 Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: I-encaminhamento aos pais ou responsáveis, mediante termo de responsabilidade; II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; III- matrícula e frequência obrigatória em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV- inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente; V- requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial, VI- inclusão em programas oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos.”
37
Segundo o Estatuto da criança e do adolescente, no que tange às
medidas sócio-educativas, as mesmas são aplicadas levando em
consideração a capacidade do adolescente de cumpri-las e a gravidade da
infração cometida. Segundo o artigo 112 do Eca, comprovada a prática de
ato infracional, as medidas aplicadas podem ser: advertência, obrigação de
reparar o dano, prestação de serviços a comunidade, liberdade assistida,
semi- liberdade e internação em estabelecimento educacional. Ademais
qualquer uma das previstas no art. 101. I ao VI do presente Estatuto.
O artigo 115 refere-se à advertência, é apenas verbal e consiste na
assinatura de termo. Já o artigo 116, menciona a obrigação de reparar o
dano, se tratando de ato infracional, que implica em danos patrimoniais, a
autoridade poderá determinar o adolescente que restaure o objeto e
promova o ressarcimento do dano apresentado, ou indenize o prejuízo da
vítima. Havendo outra possibilidade a medida poderá ser substituída por
uma mais adequada.
Já o artigo 117 dispõe sobre a prestação de serviços à comunidade e
versa no cumprimento de tarefas gratuitas de interesse da sociedade em
geral, por um período que não ultrapasse há seis meses, junto às
instituições assistenciais, programas comunitários ou governamentais. Essas
tarefas serão atribuídas conforme aptidões do adolescente, devendo ser
desempenhadas, com no máximo de oito horas semanais, de maneira que
não prejudique a frequência escola ou mesmo a jornada de trabalho.
O artigo 118 expõe a liberdade assistida, que deverá se adotada
sempre que se configurar a medida mais pertinente com a finalidade de
acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. Assim, a autoridade apontará
um profissional capacitado para acompanhar o caso. Deverá ter o prazo
mínimo de seis meses, podendo sofrer alterações, como prorrogação,
substituição ou até mesmo revogada, ouvido o orientador, o Ministério
Público.
Podemos observar que no cumprimento das medidas sócio
educativas, no que tange a Liberdade Assistida e Prestação de serviços, a
escola, a família e o trabalho aparecem como suporte e que podem evitar a
38
reincidência de delitos.
O artigo 120 do Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece
sobre o regime de semi- liberdade. O mesmo pode ser designado desde o
início, possibilitando a prática de atividades externas, independente da
autorização judicial. Sendo exigida a escolarização e profissionalização
devendo, sempre que possível, recorre a recursos da comunidade. Esta
medida não possui prazo estabelecido.
Portanto, as medidas de meio aberto têm uma característica
essencial, de não retirar o adolescente do convívio social, e sim elaborar um
projeto de percurso existencial visando à interrupção com a prática do ato
infracional, criando condições para que o adolescente construa um projeto
de vida autônoma, além de proporcionar o adolescente o exercício de sua
cidadania (TEIXEIRA, 2006).
De acordo com o artigo 121 do ECA a internação expõe que a
medida privativa de liberdade, está sujeita aos princípios de brevidade e
excepcionalidade em respeito á condição de pessoa em desenvolvimento. A
medida aplicada não apresenta prazo determinado. Todavia, devem ser
reavaliada, no máximo a cada seis meses. E o tempo máximo para a
internação não pode ultrapassa há três anos.
Ao alcança o limite máximo estipulado, o adolescente deve ser
liberado, ou seja, alocado em regime de semiliberdade ou liberdade
assistida. A liberdade compulsória ocorre aos 21 anos de idade, sendo a
desintenação precedida de autorização e ouvido apenas pelo Ministério
Público.
O ECA surgiu em meios movimentos sociais, assegurando a criança e
o adolescente de qualquer segmento social como sujeito de direitos,
empregando a lógica da "proteção integral", retirando o princípio da
"situação irregular". A prática da internação deixa de ser primeiro e principal
método de assistência às crianças e aos adolescentes. (COIMBRA, 2003).
Em seu o artigo 122 do Estatuto da Criança e do adolescente, a
medida de internação só poderá se destinada quando: descumprida e
injustificada a medida dada anteriormente, reiteração na prática de outras
infrações consideradas graves e apresentação de ato infracional mediante
39
ameaça ou violência. Havendo outra medida adequada, a internação não
será aplicada.
Vale frisar, que o Estatuto da criança e do adolescente acarretou em
transformações de paradigmas com reflexos na questão do ato infracional. O
presente estatuto arquitetou uma opção pela inclusão social do adolescente
autor de ato infracional não considerado apenas como um objeto de
intervenção.
Sobre a internação dispõe o artigo 123 deverá ser cumprida em
instituição destinada aos adolescentes, em ambientes distintos daquele
designado ao abrigo, correspondendo à separação por idade e a gravidade
da infração. Durante a internação, até mesmo a provisória, será
indispensável à implementação de atividades pedagógicas.
Segundo o ECA, no artigo 124 que se refere aos direitos do
adolescente privado de liberdade, até mesmo a provisória, serão obrigatórias
a participação nas atividades pedagógicas propostas.
“I-entrevistar-se pessoalmente com o representante do Ministério Público; II- peticionar diretamente a qualquer autoridade; III-avista-se reservadamente com seu defensor; IV- ser informado de sua situação processual, sempre que solicitada; V- ser tratado com respeito e dignidade; VI-permanecer internado na mesma localidade ou naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsáveis; VII- receber visitas, ao menos, semanalmente; VIII- corresponder-se com seus familiares e amigos; IX- ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio pessoal; X- habitar alojamento em condições adequadas de higiene e salubridade; XI- receber escolarização e profissionalização; XII- realizar atividades culturais, esportivas e de lazer; XIII- ter acesso aos meios de comunicação social; XIV- receber assistência religiosa, segundo a sua crença, desde que assim o deseje; XV- manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de local seguro para guardá-los, recebendo comprovante daqueles porventura depositados em poder da entidade; XVI- receber, quando de sua desinternação, os documentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade.”
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Para finalizar, vale ressaltar, que de acordo com o ECA (1990), toda
criança e adolescente tem direito à vida, à saúde, à educação, ao esporte, á
profissionalização, á dignidade, ao respeito, á liberdade, à conivência família
e comunitária, entre outros. O presente Estatuto também estabelece que os
mesmos devem respeitar os direitos dos demais.
Na esfera das medidas sócia educativas, podemos observar que é
necessário considerar que o adolescente é um indivíduo em
desenvolvimento, assim, torna-se essencial respeitar a condição peculiar,
além de suas particularidades, o que faz os direitos serem aplicados de
maneira distintas dos adultos.
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CAPÍTULO IV
CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA JURIDÍCA
De acordo com Brito (2001) o psicólogo jurídico não é aquele que
opera somente nos Tribunais de Justiça, mas também os que exercem suas
atividades com temas referentes à justiça, como por exemplo, o profissional
que atuam com medidas sócio-educativas, com o adolescente autor de ato
infracional. Todavia, é importante ressaltar que o psicólogo jurídico tem sua
prática diferenciada do psicólogo forense que excuta sua função no apenas
em fórum.
Nesta temática, corrobora Gonçalves e Brandão (2011):
“A Psicologia Jurídica originalmente constituída como campo do saber que auxilia os procedimentos e atos no campo jurídico, que ajuda a avaliar a veracidade e a validade de testemunho, que produz diagnóstico e prediz condutas, que se subsidia a decisão acerca da guarda, da visitação, da tutela e da interdição, que informa processos de sanção, progressão regressão de penas ou medidas sócio-educativas.” (GONÇALVES e BRANDÃO, 2011, p. 08).
Observamos, quanto às medidas sócio-educativas, que a contribuição
do psicólogo não deve ficar restrita a confecção de parecer para auxiliar na
decisão judicial.
Desta forma, Arantes (2011) acrescenta:
“Constata-se, no exercício profissional dos psicólogos no âmbito judiciário, a predominância das atividades de confecção de laudos, pareceres e relatórios, no pressuposto de que cabe a Psicologia, neste sentido, uma atividade predominante avaliativa e de subsídio aos magistrados” (ARANTES, 2011, p. 17).
Brito (2011) afirma que os profissionais contemporâneos da psicologia
jurídicas, após reavaliaram suas práticas, através de debates e discussões,
42
se distanciam das práticas apenas psicotécnicas. Atualmente, destacam a
importância de enfatizar o contexto histórico social do indivíduo.
Compreendemos, no entanto, que a atuação do psicólogo no sistema
sócio-educativo dedicou-se a pensar como se dá a construção de sua
biografia. Assim, segundo Serafim e Saffi (2012) a contribuição da psicologia
se dá no “estudo das relações psicossociais enquanto fatores existentes e
influentes na realidade social inerente a qualquer processo jurídico”
(SERAFIM e SAFFI, 2012, p. 9).
Nesta temática, Serafim e Saffi (2012) acrescentam:
“A psicologia se configura como a ciência que estuda a relação do funcionamento mental (funções e estruturas psicológicas) e sua expressão no comportamento. A complexidade da ação humana correlaciona ao mundo psíquico se reveste de um dos principais fatores que despertam o interesse por esta ciência. A possibilidade de observar, descrever, analisar e predizer como uma pessoa percebe, sente, analisa e decide ação se reveste de equação complexa de multifatorialidade representando assim a matéria da psicologia enquanto ciência” (SERAFIM e SAFFI, p. 4, 2012).
Segundo Coimbra (2003) o psicólogo tem sido convidado a atuar nos
casos considerados difíceis, entre eles as práticas de atos infracionais.
Desse modo, a demanda dirigida ao profissional de psicologia requer que o
mesmo desempenhe a função de um perito do individual, adotando uma
postura neutra.
Por sua vez, cabe frisar que antes de 1990, a atuação dos psicólogos
era norteada de acordo com o Código de Menores de 1927 e posteriormente
o código de Menores de 1979. Assim, a execução das atividades era
baseada na "situação irregular". Essas legislações adotavam uma dialética
que alocava no campo da imoralidade e da anormalidade os modos de vida
das famílias empobrecidas, fundamentando a obrigação do Estado em
exercer a função de proteger a infância e a adolescência caso os familiares
fossem consideradas como "irregulares" (COIMBRA, 2003).
Brito (2001) salienta que o ECA, descreveu algumas alterações na
aplicação das medidas sócio-educativas destinadas aos adolescentes em
43
conflito com a lei. Com isso, é fundamental que o psicólogo apresente uma
integração gradual referente ao jovem no contexto social onde estão
inseridos. Ressalta-se ainda, que é essencial que essas medidas sejam
pautadas com base na cidadania, visto que, os adolescentes estão em
período de desenvolvimento e se encontram na fase de estruturação de sua
personalidade.
De acordo com o Conselho Federal de Psicologia (2010), compete ao
profissional da psicologia estabelecer indicações relevantes que refletem no
adolescente e na sua maneira de viver. Neste contexto, é essencial que a
intervenção produza efeitos e tenham continuidade, independentemente da
medida aplicada ao adolescente. Essa ininterrupção poderá acontecer
através da criação do Plano individual de Atendimento, no cumprimento da
medida atribuída.
Nas unidades de internação designadas aos adolescentes autores de
atos infracionais, são destacados alguns pressupostos que devem orientar a
conduta do psicólogo e fornecer suporte.
No que tange os adolescentes, segundo o Conselho Federal de
Psicologia (2010):
“- O atendimento aos adolescentes autores de ato infracional é responsabilidade do Estado e da sociedade e deverá envolver todas as políticas públicas. A qualidade do atendimento e o que ocorre no interior das unidades de privação de liberdade- internação provisória e internação - é de responsabilidade também dos profissionais que lá trabalham, incluindo o psicólogo. - O adolescente autor de ato infracional é um ADOLESCENTE, com características peculiares e próprias a todos que atravessam esse período de desenvolvimento humano em nossa sociedade. Isso implica considerar o ato infracional no contexto de sua história e circunstâncias de vida” (CFP, 2010, p. 22-23).
No que se refere à prática do psicólogo, nas unidades de internação,
“é o um profissional que considera a subjetividade”. (CFP, 2010, p. 23). O
mesmo tem uma escuta diferenciada e produz as intervenções de acordo do
compromisso ético.
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“É necessário, a partir de perspectiva desnaturalizante e crítica, analisar as práticas instituídas e reconhecer, entre outros aspectos: os indicadores de sofrimento do adolescente, os motivos das manifestações de violência entre os adolescentes e a resposta dos adolescentes ás arbitrariedades presentes nas relações sociais da instituição” (CFP, 2010, p. 24).
No que tange a instituição, o psicólogo deve ter sua prática
desenvolvida no contexto multiprofissional, ou seja, com profissionais de
diversas áreas. No entanto, ao produzir um parecer técnico, o mesmo deve
ser realizado de acordo com a Resolução CFP nº 07/2003, que institui o
manual de elaboração de documentos produzido pelo psicólogo, decorrente
de avaliação psicológica. O objetivo do documento é auxiliar ás decisões
jurídicas e não rotular ou estigmatizar o jovem.
Em relação aos adolescentes que se encontram em unidades de
internação provisória, é a entrada para o sistema sócio-educativo, ou seja, o
momento que o jovem esperar a decisão judicial. Essa etapa deve ocorre em
45 dias. Nesta premissa, o psicólogo deve considerar as peculiaridades
judiciais e compreender as normais estabelecias pelo Estatuto da criança e
do adolescente e do Código de Ética do Psicólogo. Além de, possuir
conhecimento teórico e técnico específico que se aplica a intervenção
institucional, não se limitando a confecção de pareceres e laudos, mas sim
considerando as particularidades do jovem e assegurando o direito á
dignidade (CFP, 2010).
Segundo o CFP (2010), cabe também ao psicólogo colaborar para a
rotina da instituição implicando em ações que incluem a organização das
atividades referentes ao setor, além da interação com outras seções.
De acordo com o CFP (2010), a atuação do profissional deve ser
marcada pela escuta técnica visando à constituição da biografia do jovem, ao
entendimento do envolvimento com práticas delituosas e as consequências e
reflexos em sua vida. Deste modo, a habilidade do jovem de responder e
produzir aos novos desafios referentes à realidade social e também pessoal.
Apesar da internação provisória não ultrapassar 45 dias, é essencial
45
considerar que esse período pode acarretar em vivências significativas que
podem refletir no futuro destes.
Segundo o CFP (2010) a elaboração do parecer:
“A elaboração do parecer psicológico implica o uso de técnicas psicológicas (observação participante, entrevistas, testes, dinâmicas grupais, escuta individual) que permitam ter acesso a aspectos relacionados à sua subjetividade e à coleta de dados objetivos e rigorosos sobre o adolescente. Esses dados serão interpretados a partir de um referencial teórico que contextualize o ato infracional na dinâmica do desenvolvimento pessoal do adolescente, seus impasses, o conjunto de suas vivencias e de seus grupos de pertencimento- sua história de vida e seu contexto social” (CFP, 2010, p. 27).
Vale destacar, que é aconselhável a discussão de casos com a equipe
da unidade, objetivando a confecção do parecer ou relatório técnico que
deverá sem enviado ao Poder Judiciário. Entretanto, incumbe ao psicólogo
intervir na dinâmica da instituição visando garantir um atendimento de
qualidade para o adolescente.
Evidencia-se ainda o psicólogo que atua na unidade de privação de
liberdade, que consiste em apresentar uma contribuição para o
planejamento, avaliar o cotidiano da instituição proporcionando vivência e
experiência terapêutica significativa para o jovem que se encontra inserido
no sistema de medida sócio-educativa.
Nesta esfera, a contribuição do profissional de psicologia é constituída
em:
“no planejamento do projeto técnico da unidade e/ou do diagnóstico institucional com vistas à elaboração, avaliação e redefinição desse projeto; a definição do perfil do grupo de adolescentes para composição das unidades (em algumas unidades da Federação existe mais de uma unidade); o incentivo à participação democrática de todos os setores, a retaguarda e o apoio para os demais profissionais, particularmente aqueles de atendimento direto no sentido de garantir práticas coerentes do conjunto de trabalhadores” (CFP, 2010, p. 29).
46
Segundo o Conselho Federal de Psicologia (2010), O Plano Individual
de Atendimento também é uma tarefa do psicólogo:
“Apenas em um ambiente com possibilidade de experiências significativas tem sentido a elaboração do Plano Individual de Atendimento (PIA). Essa é uma atribuição que o psicólogo poderá realizar individualmente ou em conjunto com os outros (s) técnicos (s) da unidade. A construção do PIA junto com o adolescente implica conhecê-lo (sua história de vida, suas habilidades, seus interesses, suas dificuldades e a prática do ato infracional situada no contexto de sua biografia) e, sempre que possível, conhecer sua família ou seus responsáveis, no sentindo de garantir a viabilidade do plano e os incentivos necessários ao adolescente, durante e após o cumprimento da medida de internação” (CFP, 2010, p. 30).
De forma complementar o Plano Individual de atendimento se
desenvolve no momento em que o adolescente está privado de sua
liberdade. Apesar de o plano ressaltar o presente, ou seja, o período da
internação, o futuro também deve ser enfatizando, levando em consideração
o retorno da convivência familiar. Durante a construção do PIA, o psicólogo
deve atuar apenas como um facilitador, auxiliando e orientando, já que, o
adolescente é autor do próprio do plano. A constituição do PIA não deve
ocorre somente em um atendimento, mas sim construído ao longo do tempo.
Assim sendo, o acompanhamento deve ser efetuado individualmente,
devido à singularidade do indivíduo. Todavia, não é recomendável rejeitar
atividades grupais, onde são abordados diversos temas, entre eles as
drogas.
De acordo com o CFP (2010) o Plano Individual de Atendimento deve
conter informações referentes à psicologia, a área social e jurídica. Além de
ingresso ao esporte, a saúde, a escolarização, profissionalização, a garantia
de condições apropriada de alimentação, moradia e alimentação e
vestimenta, entre outros.
O CFP (2010) atenta ainda sobre a documentação referente ao
trabalho realizado em instituições que atuam com medidas sócio- educativas
de cada adolescente atendido deve:
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“Essa documentação se mostra de grande valia para os momentos de avaliação e replanejamento do trabalho e para elaboração dos relatórios parciais e finais dos casos. A documentação também servirá para elaborar os informes e as solicitações encaminhamentos dos adolescentes a diversos programas e serviços da rede social por onde o adolescente circulará. Documentar é um dever ético de registrar a passagem do adolescente pela internação, não banalizar o processo e incentivar a sistematização da experiência. As práticas da escrita, da pesquisa e da publicação são estratégias de publicação da experiência, como estímulo ao bom desenvolvimento do trabalho e facilitador no estabelecimento de laços externos à unidade de internação com a formação, capacitação e produção do saber” (CFP, 2010, p. 32).
O CFP (2010) delineou que embora o adolescente encontra-se
internado, o profissional de psicologia, que atua em medidas sócio-
educativas, deve realizar articulação com outros serviços e programas, como
por exemplo, atividades esportivas. Essas parcerias favorecem a saída da
internação e a inserção gradual no mundo externo. Assim, o adolescente em
conflito com a lei necessita de uma rede de proteção e serviços que visam
impedir o regresso com condutas infracionais. Ademais, é essencial um
acompanhamento do adolescente após o momento de privação de
liberdade.
Nesta perspectiva, Verani (1993) afirma que a medida sócio-
educativa, em específico a privação de liberdade, é na verdade uma
repressão e punição, assim, não possibilitam a reeducação e ressocialização
dos adolescentes em conflito com a lei. Desse modo, a medida de
internação destinada ao jovem é considerada como uma condenação
semelhante ao sistema penal designada aos adultos. Contudo, o trabalho da
Psicologia, com o adolescente autor de ato infrator, se dá no sentido de
libertá-lo e não somente interná-lo.
Por fim, Verani (1993) ressalta que a interface entre a Psicologia e o
Direito deve ocorre com a finalidade de garantir a cidadania e a assegurar a
dignidade do indivíduo, que é um compromisso da Constituição Federal.
Entretanto, o mesmo considera que as pessoas não são iguais diante da lei,
visto que, a sociedade é fragmentada em classes.
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CONCLUSÃO
O adolescente que cometeu um delito traz uma problemática que está
além da sua biografia, o mesmo é resultado de uma história de violência,
preconceitos e rótulos sociais que está presente na sociedade brasileira.
Com o advento de algumas legislações como o Código de Menores de
1927 e Código de Menores de 1979, apresentaram uma postura cautelosa em
relação às crianças e adolescentes, na maioria das vezes, oriundas de
linhagem pobres. Surgindo assim, políticas com objetivos de coibir os que não
se adequavam a elite. Entre elas surgiram também às políticas higienistas
onde iniciaram à discriminação entre as famílias desprovidas financeiramente
e as famílias que não apresentavam problemas econômicos.
A promulgação do Estatuto da criança e do adolescente de 1990
deveria romper com o paradigma estabelecido pela legislação anterior e
instituir a Doutrina Integral, ou seja, tornando os jovens portadores de
proteção integral. No entanto, a população brasileira se habituou a
criminalizar os jovens provenientes de famílias empobrecidas, os mesmo são
considerados as maiores vítimas da violência social e sofrem preconceitos
diários e são estigmatizados como delinquente gerando revolta, frustração e
desesperança entre eles.
Nessa perspectiva, a finalidade das medidas de caráter sócio-
educativas é reeducar o adolescente e reinseri-lo na sociedade, contudo,
essa prática não ocorre. Tanto que as medidas são designadas apenas aos
jovens de famílias carentes financeiramente. Dessa forma, existe uma
intervenção distinta que modifica de acordo com a condição social de cada
pessoa. No entanto, as maiorias dos adolescentes que estão em cumprimento
de medidas são pobres.
As medidas sócio-educativas, foram consideradas um desafio,
entretanto, a implementação implica em modificações na mentalidade da
população, no sentindo de romper com a associação entre a pobreza e a
delinquência. Neste contexto, é necessário considerá-los como sujeitos de
49
direito e obter mais atenção em relação aos jovens para que os mesmos não
se desenvolvam já marginalizados.
Nesta premissa, o psicólogo que atua com o adolescente em conflito
com a lei não deve reproduzir o discurso da sociedade impregnado de rótulo e
preconceito, esses profissionais devem apresentar um escuta diferenciada e
compreender a dinâmica familiar do jovem orientando e auxiliando para que o
mesmo possa retorna á sociedade com dignidade e perspectiva para futuro.
É importante destacar que o adolescente requer respeito devido a sua
condição de indivíduo em desenvolvimento. Ademais, se encontram em um
período de extrema vulnerabilidade. Essa etapa demanda proteção por parte
da família, da sociedade e Estado mediante as Políticas Públicas mais
efetivas, principalmente na área educacional e esportiva, para garantir que as
crianças e os adolescentes, que são portadores da sequência da
humanidade, se desenvolvam de maneira saudável, com dignidade para que
o país se torne menos desigual.
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