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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE.
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E O PROCESSO
AVALIATIVO NO ENSINO FUNDAMENTAL
MARIA APARECIDA DE ARAÚJO SANTANA.
ORIENTADOR (A)
PROF: FABIANE MUNIZ DA SILVA
POSSE – GO / 2008
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE.
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E O PROCESSO
AVALIATIVO NO ENSINO FUNDAMENTAL
POSSE – GO / 2008
Monografia apresentada como exigência de conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Orientação Educacional de Maria Aparecida de Araújo Santana.
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A Deus, pela sabedoria concedida e por dividir esta responsabilidade árdua,
porém honrosa.
Aos meus pais pelo apoio irrestrito em todos os momentos de minha vida e por
terem me dado a oportunidade de concluir minha trajetória.
Ao meu esposo que soube tão bem compreender os meus momentos de
ausência em função deste trabalho.
A meus filhos, pelo apoio, paciência, amizade e carinho.
A todos que me auxiliaram durante a execução deste trabalho
4
Agradeço a princípio a Deus, que me permitiu
a inteligência.
A minha orientadora, Fabiane Muniz da Silva
pelas orientações precisas em todos os
momentos solicitados.
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... “O melhor mestre não é aquele que se impõe aquele que se afirma, como
dominador do espaço natural, mas pelo contrário, é aquele que se torna aluno
de seu aluno”.
Sócrates
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RESUMO
Este trabalho tem por objetivo levar os educadores a refletirem sobre a
abordagem do sistema de avaliação do ensino e aprendizagem nas instituições
escolares públicas e privadas a perceberem que não podem simplesmente medir
e transformar de zero a cem a aprendizagem dos educandos. Para tanto
utilizamos a pesquisa bibliográfica.
Uma grande transformação atravessa a sociedade com conseqüências
profundas para todos os níveis da realidade social, econômica e educacional.
Novos tempos.
Novos desafios. Novo paradigma científico e, com ele, a necessidade de
mudança e de transformação. Esse aceleradíssimo processo exige constantes
adaptações e readaptações, para as quais nem sempre se está preparado.
Ao tentar compreender esse mundo em mudança, a escola, como
organização social, se conscientiza do sentido das modificações sofridas pela
sociedade – as quais interferem diretamente no trabalho do professor, em sala de
aula, e dos coordenadores do processo didático-pedagógico: supervisores e
orientadores educacionais.
Refletir sobre a ação do orientador e do supervisor educacional, ou seja,
sobre o exercício de modelos de gestão de orientação e supervisão educativa, é
visualizar um profissional comprometido com processos de aprendizagem,
estimuladores da construção de conhecimentos e das competências necessárias
para pensar e agir com horizontes mais amplos. Funções de planejamento,
organização e reflexão fazem parte de suas competências e para elas busca
inovações que lhe permitam, partindo do real, criar/recriar sua prática.
A velha, mas renovada preocupação com o fracasso escolar voltou à cena
ao final do século XX e início do século XXI a partir das diferentes experiências e
políticas de ciclos e de progressão continuada implementadas nessa última
década.
Souza (2000) mostra em seu estudo que há uma outra vertente que
entende o fracasso escolar como uma forma de resistência, como uma maneira
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dos estudantes pertencentes aos grupos marginalizados tanto social quanto
cultural ou etnicamente afirmarem sua diferença e sua identidade. Garcia (1995,
p.133) cita uma pesquisa realizada com jovens afro-americanos, cujo pesquisador,
Michael Afolayan, chega a conclusões de que há uma resistência quanto ao
“processo de domesticação e inculcação” aos estudantes, dos valores da
“civilização ocidental, burguesa, branca e patriarcal”. Garcia (1995, p.133) afirma:
“As crianças, ao fracassarem, estariam resistindo ao processo de inculcação
branca’ ou que foram ‘embranquecendo’ para serem aceitas, e terem sucesso, na
escola e fora dela. Muitas crianças e jovens, intuitivamente e inconscientemente,
vão criando formas de resistência ao processo de aculturação imposto pela
escola, que lhes faz perder a sua identidade cultural própria. A resistência se pode
verificar na indisciplina, no desinteresse, no absenteísmo, na agressividade, tão
conhecidos das professoras, e tão pouco estudados do ponto de vista da criança e
do jovem”.
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METODOLOGIA
A palavra metodologia tem sua origem no grego (méthodos = organização e
lógos = estudo sistemático, pesquisa, investigação), ou seja, é o estudo da
organização, dos caminhos a serem percorridos, para se realizar uma pesquisa ou
estudo ou para fazer ciência.
É um ramo da filosofia que se ocupa do estudo dos métodos adequados à
transmissão do conhecimento. Portanto, é um conjunto de procedimentos que
servem como instrumento para alcançar os fins de uma investigação. Não é
possível chegarmos a um lugar se não soubermos para onde queremos ir. Além
disso, avaliando-se os métodos que um autor utilizou para a realização de uma
pesquisa científica, podemos estabelecer um estudo analítico e crítico da sua
investigação. Assim, a metodologia não é condição suficiente para o êxito de uma
pesquisa, mas é uma condição necessária, para que o trabalho científico tenha
rumo, direção e que possam ser analisado/avaliado de forma crítica, por outros
pesquisadores ou mesmo colegas que irão estudá-lo. A finalidade da metodologia
é ajudar-nos a compreender em termos mais amplos possíveis o processo de
investigação científica. A metodologia é a lógica do procedimento científico, tem
um caráter normativo, que se diferencia claramente da teoria (substantiva). Mas,
os instrumentos e procedimentos usados na investigação sociológica devem
satisfazer aos critérios metodológicos pressupondo logicamente uma teoria
substantiva. Por isso, na prática da investigação, é muito difícil separar teoria e
método. É inegável que uma investigação desprovida de premissas teóricas não é
só infrutífera, mas impossível.
O termo método é utilizado quando se pretende converter a simples
especulação ideológica, filosófica ou literária sobre a sociedade em intentos de
compreensão ou explicação científica. Ou seja, trata-se do critério para obtenção
do conhecimento científico, é a própria lógica da investigação científica (García
Ferrando, 1986).
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Assim, o método aplicado em uma investigação pode ser indutivo (das
observações à teoria) ou dedutivo (da teoria às observações). O método científico
empregado às ciências sociais é empírico. Nele, a observação e a experimentação
têm um papel essencial e combinam-se à abstração e a generalização, com o
objetivo de descrever, compreender e explicar a realidade social.
Pesquisar significa, de forma bem simples, procurar respostas para
indagações propostas. (Silva e Menezes, 2001)
“Pesquisa científica é a realização concreta de uma investigação planejada,
desenvolvida e redigida de acordo com as normas da metodologia consagradas
pela ciência.” (Ruiz, 1991)
“A pesquisa é uma atividade voltada para a solução de problemas, através
do emprego de processos científicos.” (Gil apud Silva e
(Menezes, 2001)
“Pesquisa científica é um conjunto de procedimentos sistemáticos,
baseados no raciocínio lógico, que tem por objetivo encontrar soluções para os
problemas propostos mediante o emprego de métodos científicos.” (Andrade,
2001)
A metodologia a ser aplicada será a busca e a análise bibliográfica capaz
de direcionar a pesquisa no sentido de visualizar a importância do orientador
educacional no processo. A bibliografia até aqui estudada será básica na
argumentação sem, contudo, deixar a possibilidade de consultar novas
bibliografias.
A metodologia a ser aplicada vem de encontro à necessidade de uma
análise bibliográfica, acompanhamento de pesquisa já realizada que possa
contribuir para o desenvolvimento desse estudo. O método será o indutivo.
Buscando compreender em nossa experiência e através de análise bibliográfica
até que ponto o trabalho em grupo no Ensino Fundamental atua como recurso
pedagógico facilitando o ensino-aprendizagem e como essa metodologia é vista
pelos educandos e educadores e a contribuição que pode ser dada pelo
Orientador Educacional nesse processo.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.....................................................................................11
CAPÍTULO I a importância do Orientador Educacional no processo avaliativo;
sua contribuição face às dimensões filosóficas, políticas, sociais e pedagógicas da
Escola.....................................................................................................................15
CAPÍTULO II os diferentes critérios de avaliação do rendimento escolar se
exclui o aluno da instituição e da sociedade..........................................................21
CAPÍTULO III principais modalidades de avaliação; contribuição real na
formação da cidadania e na construção de uma educação mais democrática e
igualitária.................................................................................................................27
CAPÍTULO IV realidade da avaliação na escola................................................37
CONCLUSÃO.........................................................................................................41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................44
ANEXO...................................................................................................................49
FOLHA DE AVALIAÇÃO.......................................................................................57
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INTRODUÇÃO
O tema deste trabalho monográfico é a Orientação Educacional e o
processo avaliativo no Ensino Fundamental. A questão central desse trabalho é
saber de que maneira o Orientador Educacional pode contribuir no processo
avaliativo do Ensino Fundamental. O tema sugerido é de grande importância, pois
vemos uma discrepância entre práticas educativas e as vigentes formas
avaliativas, o cotidiano da escola desmente um discurso inovador de considerar a
criança e o jovem a partir de suas potencialidades reais. A avaliação assume
função comparativa e classificatória, pois apesar de ter avançado ainda traz
resquícios de uma avaliação mensurada e coercitiva.
Para Placco, “O Orientador Educacional, um dos educadores da escola
deverá participar de uma ação educacional coletiva, assessorando o corpo
docente no desencadeamento de um processo em que a sincronicidade é
desvelada, torna-se consciente, autônoma e direcionada para um compromisso
com ação pedagógica competente e significativa para os objetivos propostos no
projeto pedagógico da escola.”
O papel da Orientação na escola será de argumentar, discutir e refletir
sobre as problemáticas existentes de forma a tornar o aluno, principalmente, mais
crítico e consciente da sociedade evidenciando os conceitos de parceria,
coletividade, solidariedade, entre outros, para um país que se quer mais justo,
mais humano e mais solidário.
Podemos definir Orientação educacional como a concepção que cada
professor tem do que ensina e para que ensina. No fundo um sistema de crenças,
valores e idéias que enquadram o seu próprio ensino. É necessário analisar,
sistematizar e aprofundar qual o objecto de avaliação dos professores. Existe a
este respeito uma diversidade de perspectivas não sendo consensual em matéria
de investigação. Divergindo as concepções do que é ser professor e do que é um
ensino eficaz, naturalmente que serão diversas as respostas avaliativas, tendo
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como uma das principais conseqüências o pôr em causa a capacidade
indispensável para conduzir o processo de avaliação por parte do avaliador.
Desenvolver uma nova postura avaliativa requer desconstruir e reconstruir a
concepção e a postura da avaliação e romper com a cultura da memorização,
classificação, seleção e exclusão, tão presente no sistema de ensino. É
imprescindível a construção de uma cultura avaliativa que rompa com a
construção autoritária, seletiva, classificatória, punitiva e terminal.
A Orientação, hoje, caracteriza-se por um trabalho muito mais abrangente,
no sentido de sua dimensão pedagógica. Possui caráter mediador junto aos
demais educadores, atuando com todos os protagonistas da escola no resgate de
uma ação mais efetiva e de uma educação de qualidade nas escolas. O
Orientador está comprometido com a formação da cidadania dos alunos,
considerando, em especial, o caráter da formação da subjetividade.
Atualmente os objetivos da avaliação visam tanto o processo de
aprendizagem quanto os sucessos ou fracassos dos estudantes. Neste sentido,
uma diferença fundamental em relação às provas escolares é a avaliação
permanente, que se realiza com outro tipo de meios, entre os quais se inclui o
conjunto de tarefas realizadas pelo estudante no decurso do ano escolar. A
avaliação é, assim, realizada para obter sobre o aluno uma informação mais
abrangente que a simples e pontual referência das provas. A avaliação tem função
legitimadora da ideologia das sociedades modernas. Os bons resultados
acadêmicos são vistos como indicadores das aptidões que darão ao indivíduo
possibilidades de progredir e ter êxito. São, portanto objetivos desde trabalho
desvendar a realidade da avaliação na escola e aprofundar conhecimentos sobre
a avaliação como questão sociológica e conhecer as contribuições do Orientador
Educacional nesse processo e conhecer o papel do Orientador Educacional face
ao fracasso escolar;
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• Demonstrar a importância do Orientador Educacional no
processo avaliativo, sua contribuição face às dimensões filosóficas,
políticas, sociais e pedagógicas da Escola;
• Saber até que ponto os diferentes critérios de avaliação do
rendimento escolar exclui o aluno da instituição e da sociedade.
• Demonstrar os principais métodos avaliativos, a contribuição
real na formação da cidadania e na construção de uma educação mais
democrática e igualitária.
• Compreender a avaliação como processo permanente de
aprendizagem, dinâmico e transformador no contexto social, político,
econômico e cultural.
• Verificar se há conscientização dos docentes que uma
realidade de forma incorreta (tradicional), contribui para o fracasso escolar
e conseqüentemente com as relações do contexto social, pois a avaliação
deve ser um processo de mediação na construção do conhecimento.
• Dar a conhecer que o educando deve ser respeitado em todos
os aspectos, físico, social e econômico, não podendo haver qualquer
espécie de discriminação, pois sendo valorizado como ser humano pleno,
atingirá seus objetivos sem maiores problemas.
Os atuais processos de avaliação da aprendizagem dos alunos estão
centrados num desempenho cognitivo, sem referência a um projeto político-
pedagógico da escola, e, ainda, o sentido das avaliações escolares que se
direcionam, especialmente, para o ato de aprovar ou reprovar os alunos, pois
dependendo do uso que se faça da avaliação, o educador poderá estar
condenando seus alunos a uma pena cruel, sem que ele perceba o que está
fazendo, sendo que a mesma tem se tornado o centro da aula, em torno do qual
tudo gira.
A avaliação no Ensino Fundamental é assunto ainda polêmico, pois as
formas de avaliação tradicionais usadas em nosso país têm tomado rumos
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desastrosos em nossas escolas e promovido números assustadores de evasão,
apesar de a Educação ser um direito assegurado a todos, através de ações
desenvolvidas pelo Estado e pela família, com a colaboração da sociedade, nem
sempre esses direitos são respeitados. Uma grande questão é que avaliar envolve
valor, e valor envolve pessoas, pois a educação brasileira tem como grande
desafio dentro do contexto da atualidade promover a aprendizagem de todos os
alunos e lhes assegurar uma trajetória de sucesso.
No primeiro capítulo demonstraremos a importância do Orientador
Educacional no processo avaliativo, sua contribuição face às dimensões
filosóficas, políticas, sociais e pedagógicas da Escola;
No capítulo dois, trataremos sobre os diferentes critérios de avaliação do
rendimento escolar se exclui o aluno da instituição e da sociedade.
No terceiro capítulo discutiremos as principais modalidades de avaliação, a
contribuição real na formação da cidadania e na construção de uma educação
mais democrática e igualitária.
No capítulo quarto, discutiremos sobre as provas.
No capítulo quinto, demonstraremos a realidade da avaliação na escola.
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CAPÍTULO I
A IMPORTÂNCIA DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NO
PROCESSO AVALIATIVO, SUA CONTRIBUIÇÃO FACE ÀS
DIMENSÕES FILOSÓFICAS, POLÍTICAS, SOCIASI E
PEDAGÓGICAS DA ESCOLA
1.1 A importância do Orientador Educacional no processo
avaliativo
A importância da sincronicidade na realização do trabalho do orientador
educacional está sendo entendida como a ocorrência simultânea e crítica de
componentes políticos humano-interacionais e técnicos, que se traduz em sua
ação, ocorrência essa que gera movimentos que é ação de e entre professor-
aluno-realidade. Esse movimento engendra novas compreensões da totalidade do
fenômeno educativo, no qual há reestruturação contínua e consistente em todos,
em cada um e na relação entre esses componentes, na medida em que se define
e redefine um projeto pedagógico coletivo. Com isso, o orientador é um educador
consciente, não é alguém alheio e alienado ao mundo e ao que acontece nele,
mas, a ele pertence e nele participa. Essa consciência permite que ele perceba o
que acontece em sua sincronicidade para então operar, interferir, buscar
alternativas e transformar.
Nesse processo se destaca mais uma importância do trabalho do
orientador educacional que é a de promover a integração de todos os profissionais
da escola, conscientizando-os da necessidade da sincronicidade no fazer
pedagógico, isto é, despertarem que em suas ações, está presente a dimensão
política que se revela pela relação ética do educador com a realidade social mais
ampla: pela busca de um relacionamento entre o que faz e a realidade do aluno; a
dimensão humano-interacional que se caracteriza pela relação sócio-afetiva e
cognitiva que o educador busca construir entre ele e o aluno e entre aluno-aluno e
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pela preocupação em construir o grupo de educadores e educandos, garantindo
um trabalho integrado e cooperativo na escola; e a dimensão técnica manifestada
pelo conhecimento do educador em relação aos conteúdos e técnicas de sua área
de trabalho; pela sua capacidade de planejamento e previsão, pela sua atitude;
pela preocupação em relacionar conteúdo e metodologia à realidade de vida do
aluno, selecionando conteúdos e metodologias que sejam pertinentes aos
interesses da comunidade escolar.
A Escola não deve ter como único objetivo a simples transmissão de
saberes e a respectiva aquisição de conhecimentos, mas, sim conjugá-lo com
outros fundamentais para o desenvolvimento integral, propiciadores de um
desenvolvimento harmonioso dos alunos e que contribuam com vantagem para o
seu processo educacional e de formação.
Em face das transformações que vivemos no mundo e que repercute em
todas as Instituições, o papel da Orientação Educacional é muito significativo, ao
possibilitar ao sujeito compreender e analisar esse mundo, compreendendo-se
nesta relação com o outro, e também ajudando a Escola na interação de suas
relações e seu projeto político-pedagógico, de modo que possamos viver e
conviver neste mundo de forma mais crítica e consciente, buscando alternativas,
criando estratégias para uma escola de mais qualidade, uma sociedade mais justa
e um mundo que poste na paz (Mírian Paura, 2006, p. 187)
1.2 contribuição face às dimensões filosóficas, política, sociais e
pedagógicas da escola
A Escola é parte de um todo e para
compreendê-la temos que compreender as dimensões que a tecem. A Escola... é instituição de tal modo fundamental no funcionamento da sociedade, que o seu progresso será efeito de leis, do que do progresso real da sociedade brasileira e da melhor expressão dos seus anseios.
Anísio Teixeira
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A escola é uma organização complexa: comporta vários serviços,
executados por diferentes profissionais, cuja atribuição maior é a efetividade do
processo educacional. Nesse sentido, devemos lembrar que, da mesma forma que
a escola assume seu projeto político-pedagógico, ela pertence a uma instituição
maior, denominada educação, que, por sua vez, pertence à sociedade. Assim
sendo, a análise da escola não pode ser feita isoladamente das demais categorias
que corporificam direta e indiretamente na consecução de seus objetivos.
Segundo Mírian Paura (2006, p. 87,88), a escola, como centro de
socialização e desenvolvimento das capacidades dos alunos e transmissora do
conhecimento acumulado da cultura vigente, possui uma estrutura própria; seu
funcionamento está relacionado à proposta que ela pretende desenvolver. Dentro
de um sistema educacional, a escola desempenha a função de transmissora, de
modo formal e programático, do patrimônio cultural da sociedade. Tratando-se de
um sistema institucionalizado, a escola abarca, no desempenho de sua função,
uma estrutura própria, caracterizada por normas, papéis definidos, pessoal
especializado, local e equipamentos adequados.
Em termos de dimensão filosófica, identificamos toda a reflexão sobre que
três pontos principais do processo educacional envolvem: aluno, professor e
desenvolvimento do processo em si.
Para Mírian Paura (2006,88), a dimensão filosófica é aquela que nos
permitirá questionar quem é o aluno que formaremos, que concepção de homem
temos para essa formação, o que se espera, na escola, que esse aluno, como
pessoa, seja capaz de obter. O mesmo se aplica à reflexão sobre os educadores:
como são formados, como são preparados, de que forma se dá a relação com os
demais membros da escola. Essa análise abrange, também, a concepção de
mundo, de realidade social, dos sujeitos que fazem a história do processo
educacional e dentro dele. Em relação ao processo em si, a dimensão filosófica
permitir-nos-á pensar, questionar os fundamentos do processo educacional,
sendo, nesse interior, relacionadas desde as teorias educacionais e seus
respectivos objetivos e procedimentos, até a questão da construção do
conhecimento, dos aspectos ideológicos, da ciência, da arte, da ética, da estética,
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da cultura, dos valores, das atitudes, das normas e crenças, do cotidiano, das
relações de poder, da autonomia da escola, da participação da comunidade etc.
Partindo da afirmativa de que a escola é uma construção coletiva, a Filosofia da
Educação permitir-nos-á, como dizia Durmeval Trigueiro, compreender o
significado do fenômeno educativo, que se desenvolve formalmente na escola. O
saber fazer e o fazer saber assumem, na escola, pontos básicos que deverão ser
trabalhados a parti da dimensão filosófica que a caracteriza.
A escola é um local de confronto com o mundo social. Nela o aluno observa
os outros, adquire o conhecimento de outros comportamentos, das intenções, dos
valores, e das normas que os sustentam. É nesse contexto que vai sendo
desenvolvida, também, a questão do imaginário individual e social que se alimenta
da realidade. A compreensão da realidade de onde está a escola e aonde
pretende chegar, por certo, são pontos relevantes à sua dimensão filosófica.
Na dimensão filosófica da escola, devemos relacionar todos os dados que
nos remetem à questão da análise crítica de seus fundamentos e realidade. A
complexidade da escola caracteriza-a como organização única e própria, com
objetivos definidos; ela não pode ser comparada a uma empresa, que apenas
presta serviço no mercado da sociedade. O principal dado desta dimensão são os
valores que ela privilegia, ou hierarquia de valores dentro dela.
Quanto à dimensão social, a escola, além de transmitir o conhecimento
socialmente acumulado, tem como objetivo a socialização de seus alunos. Então,
além dos tópicos levantados, ela deve preparar os indivíduos para futuras ações
na sociedade e deve promover a socialização de processos produtivos de bens
materiais e espirituais, entre outros.
A dimensão sociológica da Escola nos é dada pelas teorias sociológicas
que respondem pela concepção de tal Instituição à luz dos fundamentos teóricos
do que é sociedade, escola, escola democrática, Estado, cultura, política e
cidadania.
A dimensão social da escola permitir-nos-á compreender as relações da
escola com as demais instituições da sociedade, assim como criar meios e
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mecanismos para a vivência da interação grupal. Em diferentes grupos, em seus
momentos históricos correspondentes.
Para Mírian Paura:
A principal função social e política da
educação escolar é a transmissão do conhecimento sistemático e
universal. A dimensão social será aquela que responderá pela garantia
de aquisição dessa transmissão do conhecimento, sem que ele seja
eliminado pela própria escola (p. 94).
A dimensão política se reveste de duplo aspecto de análise em relação à
escola: primeiro diz respeito à formação política do aluno em termos de formação
da cidadania. È a escola preparando, promovendo situações necessárias à
interpretação do compromisso político do aluno, do educador e da própria
instituição. O segundo está relacionado às políticas públicas referentes à
Educação, em geral, e à Escola, em particular, no que toca a um projeto político-
pedagógico para seu alunado.
A dimensão política envolve o comprometimento da escola com sua
participação nas diferentes instâncias da sociedade civil, a partir da concepção
que possui na transformação de tal sociedade.
A dimensão pedagógica da escola é seu aspecto mais importante, uma vez
que sua função principal, como diz Mello, é ensinar.
Um dado importante nessa dimensão segundo Mírian Paura (2006) é:
“a qualidade do ensino, que não se limita a atualizar em serviço,
mas inclui dados ligados à gestão escolar, ao processo de
aprendizagem e ao aperfeiçoamento dos próprios professores” (p. 96).
A Orientação educacional atua em todas as dimensões. Sua participação
no projeto político-pedagógico da escola é um trabalho de parceria, de
colaboração.Ela, a Orientação, faz parte da construção coletiva desse projeto,
portanto, dele participa questionando, discutindo, refletindo e buscando soluções
plausíveis para a realidade existente.
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Em síntese, como ressalta Mírian Paura (2006):
A Orientação procura atender às dimensões
da Educação como um serviço de apoio, atuando com todas elas.
Acredito, porém, que é a dimensão política a que tem um compromisso
maior em termos de cidadania; valho-me do pensamento de Aristóteles,
que diz que a educação das crianças deve ter um olhar fixo sobre a
constituição da sociedade, verificando o que é importante para o bem do
Estado e lembrando que, mais tarde, elas serão os cidadãos que
participarão do governo. A escola é um dos lugares em que se vive tal
cidadania (p.100).
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CAPÍTULO II
OS DIFERENTES CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DO
RENDIMENTO ESCOLAR SE EXCLUEM O ALUNO DA
INSTITUIÇÃO E DA SOCIEDADE
O vocábulo "avaliar" origina-se do latim "valere", que significa: ser forte, ter
valor. No senso comum, "avaliar" é empregado no sentido de atribuir valor a um
objeto. Assim, a avaliação permite diversos significados, tais, como: verificar,
calcular, medir, apreciar, classificar, diagnosticar, entre outros.
Avaliar, segundo Luckesi (1998), significa: Determinar a valia ou o valor de;
apreciar ou estimar o merecimento de: avaliar um caráter; avaliar um esforço; etc.
Com esta significação, a avaliação se encerra com a determinação de um juízo de
valor sobre a realidade. Perrenoud (2001), por sua vez, afirma que a avaliação
tradicional, além de produzir fracasso, empobrece o processo de ensino-
aprendizagem, induzindo os professores a utilizarem didáticas conservadoras.
De acordo com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(Brasil, 1996), a avaliação do rendimento escolar do aluno deverá observar os
seguintes critérios:
Contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos
aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período
sobre os de eventuais provas finais; possibilidade de aceleração de estudos para
alunos com atraso escolar; possibilidade de avanço nos cursos e nas séries
mediante verificação do aprendizado (Brasil, 1996).
O mito que ainda persiste é de que uma escola que não reprova não é uma
escola de qualidade. A grande resistência dos professores em, ainda, manter a
aprovação e a reprovação, e mesmo criticar novas estratégias, como regimes
seriados e escolaridade por ciclos, se explica pela necessidade natural de uma
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sociedade em desenvolvimento de perceber a sua escola como uma escola de
qualidade. E a escola de qualidade que se conhece é aquela conservadora,
tradicional, a que os pais estudaram e que as famílias conhecem.
Por outro lado, nesse processo de mudança, muitas escolas e professores
entenderam o processo de não-reprovação como um processo de não-avaliação.
Uma das questões que encontramos freqüentemente é que os professores dizem
que agora não fazem mais provas, que, estão seguindo o processo de "avaliação
mediadora". Isso é um sério equívoco, por que, mesmo que o termo "prova" possa
nos agredir, pelo seu significado de uma "prova" terminal, o teste, a tarefa e o
exercício são extremamente necessários para o acompanhamento do aluno.
Na escola tradicional, as avaliações são pontuais (realizadas em
determinadas datas), investigativas (pretende-se descobrir quem aprendeu e
quem não aprendeu), dependentes de exames (única fonte para atribuição de
notas), classificatórias (colocam-se os alunos em ordem decrescente de notas
obtidas) e excludentes (os alunos aprovados são promovidos, mas os alunos
reprovados são retidos ou excluídos da escola).
Para inserir a avaliação numa perspectiva transformadora, se faz
necessário remover o caráter de terminalidade e verificação dos conteúdos
assimilados, tão presentes no sistema educacional, com o objetivo de que "os
resultados da avaliação possam ser concebidos como indicadores para a
reorientação da prática educacional e nunca como um meio de estigmatizar os
alunos". (Brasil, 2000).
A respeito disso, Luckesi (1998) nos lembra que, por muitas vezes, o que
fazemos no nosso sistema educacional é verificação da aprendizagem,
representada por notas ou conceitos, cuja meta principal é classificar alunos em
aprovados, reprovados, ou colocá-los sob suspeita de apresentar distúrbios ou
dificuldades de aprendizagem. Para o autor, esse procedimento difere do real
sentido da avaliação, que na sua ótica é compreender os progressos, limitações e
dificuldades que os alunos encontram para alcançar os objetivos pedagógicos
propostos.
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Nessa mesma linha, Hoffmann (1998) ressalta que a avaliação, quando
praticada como uma função classificatória e burocrática revela um princípio de
descontinuidade e de fragmentação do conhecimento. Desta forma, o professor
executa apenas uma imposição burocrática e o aluno sofre com as conseqüências
desse processo avaliativo.
"Ambos perdem nesse momento e descaracterizam a avaliação de seu
significado básico de investigação e dinamização do processo de conhecimento".
(Hoffmann, 1998).
Portanto neste modelo a avaliação classificatória funciona na lógica da
seleção e da hierarquia de saberes e de pessoas, contribuindo para a competição,
homogeneidade e exclusão dentro do contexto escolar, pois atua no prisma da
negação:
(...) "negação do outro, do diferente, de suas práticas, de seus saberes, de
suas formas de vida, de seu contexto cultural, de sua realidade social, negação do
diálogo e das múltiplas possibilidades" (Esteban, 2002).
Logo, "a avaliação que impede a expressão de determinadas vozes é uma
prática de exclusão na medida em que vai selecionando o que pode e deve ser
aceito na escola" (Esteban, 2002).
Por sua vez, Hoffmann (1998) também considera fundamental a postura
questionadora do professor e percebe a avaliação como reflexão transformada em
ação, que desencadeia sempre novas reflexões. A autora identifica esse processo
como interativo, pois, através dele, educandos e educadores aprendem sobre si
mesmos, bem como sobre a realidade educacional durante a própria prática
avaliativa.
A Teoria das Inteligências Múltiplas, organizada por Gardner (1995), propõe
uma reestruturação significativa na forma pela qual os educadores avaliam a
aprendizagem dos alunos. Esta teoria é um modelo cognitivo que tenta descrever
como os indivíduos usam suas inteligências para resolver problemas e criar
produtos. Surgiu como uma contraposição aos testes de inteligência de Binet e
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propõe a existência de um espectro de inteligências a comandar a mente humana.
Gardner (1995) apresenta uma visão multifacetada de inteligência e uma
percepção pluralista da mente.
A teoria de Gardner sugere múltiplas maneiras de avaliar os alunos e
assegura "que os alunos devem ser capazes de mostrar competência em uma
determinada habilidade, assunto, área de conteúdo ou domínio em qualquer uma
de várias formas".
Essa perspectiva de avaliação da aprendizagem do aluno acredita que se
os alunos são beneficiados quando aprendem de diversos modos, também se
beneficiarão ao demonstrarem seus conhecimentos utilizando várias formas.
A teoria das Inteligências Múltiplas oferece uma estrutura tanto para o
ensino em sala de aula quanto para a avaliação. Alguns alunos acham mais fácil
compartilhar o que aprenderam através de gráficos, representações, canções,
diários, modelos ou desenhos animados, do que através do lápis e do papel.
Então, a prática avaliativa deve ser capaz dei r além de avaliar a
aprendizagem, entender o valor do aluno e propiciar o seu crescimento como
indivíduo e como integrante de uma sociedade. E que acima de tudo, seja uma
avaliação envolvida com uma prática pedagógica real, inovadora e não
excludente.
Segundo Souza (2000),
25
“em várias partes do mundo, constata-se que
crianças oriundas de grupos social, cultural ou etnicamente
marginalizados, têm um rendimento escolar inferior à média das crianças
dos grupos culturalmente dominantes”. (...) No caso das crianças
migrantes ou filhas de migrantes, o fracasso se explica pelo fato delas
não dominarem plenamente os códigos lingüísticos, simbólicos e
comportamentais da cultura dominante da sociedade na qual estão
inseridas. Porém, não são apenas os migrantes que estamos
considerando aqui como culturalmente marginalizados. No Brasil, os
negros, por exemplo, estão cultural e socialmente excluídos. Apesar de
uma presença demográfica expressiva, 44,2% (4,9% de pretos e 39,3%
de pardos) [dados do Censo 1991], este grupo pode ser identificado com
as minorias se tomarmos como referências as relações de poder, o
acesso aos bens materiais e aos direitos de cidadania”( p.22).
Segundo Lüdke (2001, p.27) “não se pode imputar à avaliação a
responsabilidade pelo fracasso escolar, mas não se pode também isentá-la
inteiramente dessa responsabilidade, pois ela representa o conjunto de
mecanismos através dos quais se sanciona o sucesso ou o insucesso do aluno”.
Também para Esteban (1999, p.7)
“qualquer reflexão sobre a avaliação só tem sentido se estiver atravessada
pela reflexão sobre a produção do fracasso/sucesso escolar no processo de
inclusão/exclusão social”.
Segundo Arroyo (2000, p.13), instaurou-se nas últimas décadas tanto no
ensino privado, como no público uma “indústria da reprovação”. Para esse autor,
há uma valorização das instituições e de profissionais que optam por “selecionar
os ‘cobras’ e eliminar os ‘medíocres’”. Essa “cultura da exclusão” estaria
encarnada no sistema escolar legitimando o fracasso. Paro (2001) também dá
ênfase à avaliação como responsável pelo fracasso escolar. Pesquisando sobre a
resistência dos professores à promoção de seus alunos e a insistência na
reprovação, o autor aponta que a reprovação escolar se constitui numa “renúncia
à educação”. Segundo Vasconcellos (1998, p.17), a temática da avaliação é
importante, pois trazem repercussões negativas como a evasão e os altos índices
26
de reprovação. Para ele, a importância se deve ao fato de que a avaliação pode
contribuir para a “construção de uma escola democrática e de qualidade para
todos”.
27
CAPÍTULO III PRINCIPAIS MODALIDADES DE AVALIAÇÃO; CONTRIBUIÇÃO REAL NA FORMAÇÃO DA CIDADANIA E NA CONSTRUÇÃO DE UMA EDUCAÇÃO MAIS DEMOPOCRÁTICA E IGUALITÁRIA
A avaliação escolar é sem dúvida alguma de suma importância, uma vez
que, é potencialmente o instrumento a ser usado na construção ou no pleno
desenvolvimento do modelo de atuação escolar. Se conduzida com caráter
reflexivo e, na medida em que sirva de termômetro a identificar as carências
apresentadas pelos alunos, no decorrer do período letivo, serve como
balizador, para que possa o professor, tomar certas decisões ou executar
modificações e reforços que favoreçam o desenvolvimento necessário ao
alcance pleno dos objetivos planejados
No conceito emitido por Sant'anna (1995,),
A avaliação escolar é o termômetro que
permite avaliar o estado em que se encontram os elementos
envolvidos no contexto. Ela tem um papel altamente significativo na
educação, tanto que nos arriscamos a dizer que a avaliação é alma
do processo educacional. (...) O que queremos é sugerir meios e
modos de tornar a avaliação mais justa, mais digna e humana (p. 7).
Para ela, a idéia de prova está, sem dúvida, presente, mas acredita que
isso não chegue a ser um mal, na medida em que seja percebida como um
estímulo para o progresso ou ainda, um indicador de que, não tendo
acontecido à aprendizagem, deve-se tratar de utilizar novas estratégias. Nesse
mesmo sentido, Hoffman (1998, p.112) nos diz que o erro não é um pecado,
quando coloca que os erros possíveis das crianças não estejam limitados a
uma esfera apenas, mas que podem ser de natureza diversa. Seria então
preciso, por parte do professor, uma reflexão teórica sobre cada uma das
respostas específicas do aluno e não considerar simplesmente que se deva
28
dizer a resposta certa para ele ou ainda, considerar que todo e qualquer erro
que o aluno cometa tenha o caráter construtivo e que possa ele descobrir as
respostas certas por si mesmo. Isso está diretamente ligado à aplicação da
prova e, conseqüentemente, à avaliação que se faça das respostas dadas pelo
aluno. Com efeito, se há uma relação de subjetividade dentro do contexto do
que se pretende objetivo, a medida utilizada como pontuação avaliativa ou
nota, é no mínimo uma questão discutível do ponto de vista do atingimento ou
não de seu real fundamento.
Não poderiam então, os registros de acompanhamento da evolução
dos alunos, comporem-se senão ao longo do processo, ou conforme o conceito
dado por Hoffman:
(...) Inútil tentar descrever o que não se
viu, o que não foi trabalhado e nem motivo de reflexão. Assim, se o
professor fizer apenas o registro das notas dos alunos nos trabalhos,
ele não saberá descrever, após um tempo, quais foram as
dificuldades que cada aluno apresentou, o que ele fez para auxiliá-lo
a compreender aquele aspecto. Da mesma forma, o professor que
só faz anotações dos alunos em termos de sua conduta, não poderá
descrever outros aspectos do seu desenvolvimento. Registros
significativos são construídos pelo professor ao longo do processo.
Sua forma final é apenas uma síntese do que vem ocorrendo, uma
representação do vivido trabalho pedagógico, ela é um processo
interativo, dialógico, existente enquanto relação, enquanto
confluência de idéias e vivências (idem, p. 118),
.
As primeiras idéias referentes à avaliação representavam medida e sua
presença na história da humanidade se reporta para o ano 2.202 a. C.
(DESPRESBITERIS, 1989).
Com referência ao Brasil a nossa prática pedagógica avaliativa se
origina da pedagogia jesuítica, trazida em 1549 com Tomé de Sousa, nosso 1º
governador geral, que normatizou as orientações dos estudos escolásticos,
onde era destacado o ritual das provas e exames como ocasiões solenes
compostas das bancas examinadoras e comunicação pública dos resultados.
29
A burguesia, por sua vez, lança mão da escola como forma de ascensão
social e manutenção do seu poder, para isso utilizou ou utiliza mecanismos
como os exames, para conformação do fracasso pelos maus resultados da
classe trabalhadora. O resultado dessas práticas burguesas foi, sem dúvida, a
seleção social, o disciplinamento para o trabalho e a inculcação ideológica
(VASCONCELOS, 1998).
Desde então o exercício pedagógico escolar vem sendo constituído
“mais por uma pedagogia do exame que por uma pedagogia de
ensino/aprendizagem” (LUCKESI, 2000, p.18). Este autor enumera também
algumas práticas desde então utilizadas, como: atenção à promoção, atenção
nas provas, os pais estão voltados para promoção, o estabelecimento está
centrado nos resultados das provas e exames, o sistema social se contenta
com as notas obtidas nos exames.
O resultado é que os processos de ensino e aprendizagem ficam sem
uma análise crítica para encaminhá-los significativamente.
A partir daí a relação professor aluno se danifica e desdobrasse em
provas para reprovar, pontos e mais ponto a menos. A avaliação tornou-se um
fetiche, como afirma Luckesi (2000), por dominar o próprio homem (o
professor) que pratica a classificação, a seleção, a exclusão e não vê o outro
lado do processo, a aprendizagem. Encontramos referências dessa prática em
Comênio na sua Didática Magna, onde priorizava os exames como forma de
estimular o trabalho intelectual. Dizia ele que jamais um estudante sabendo
que o exame marcado é “pra valer” deixaria de se preparar. Além do mais
acreditava muito na estimulação do medo como forma de manter a atenção dos
alunos e assim trazê-los envolvidos nas tarefas escolares (LUCKESI, 2000).
A avaliação escolar pode levar em consideração os interesses e
objetivos da administração ou pode se relacionar com propósitos e interesses
educativos (BATES, 1984, apud AFONSO, 2000). O mesmo autor diz que a
avaliação poderá assumir as modalidades de: exames tradicionais – que se
referem ao moderno exame acadêmico formal, escrito com atribuição de notas
(caráter quantitativo) que surgiu depois de 1800. Rogério Fernandes citado
também por Afonso (2000) mostra que o apogeu dos exames coincide com a
consolidação da burguesia no século XIX; os quocientes de inteligência e os
30
testes educacionais que surgiram como crítica aos exames tradicionais,
juntamente com as primeiras manifestações da Psicologia Científica.
Tentaram através dos testes chegarem a um conhecimento objetivo das
características individuais. Através Bawles & Gintis (1981) Afonso (2000) fala
que esta modalidade compreende também os testes objetivos em sala de aula
como aplicação do taylorismo, caracterizada como uma orientação de
estandardização dos testes; avaliação normativa – compreende a aplicação
dos testes estandardizados. Compara as realizações dos sujeitos, cognitivos e
instrucionalmente de um mesmo grupo. Ela construirá indicadores em
educação que funcionarão como indicadores de mercado. Portanto esta
modalidade de avaliação relacionasse de algum modo com a ideologia de
mercado; avaliação criterial – diz respeito ao grau de consecução dos objetivos
de ensino de forma individual. Facilita, portanto, o diagnóstico das dificuldades,
da programação das atividades de compensação e dos juízos de promoção ao
longo do percurso escolar. Realiza-se através de provas ou testes,
tecnicamente e metodologicamente construídos. Pode ser realizado em nível
micro (sala de aula), macro para diagnosticar o sistema educativo e as
informações são posteriormente divulgadas para opinião pública e também a
nível mega ou nível internacional; avaliação formativa – visa conseguir
objetivos definidos anteriormente, com a explicitação dos critérios a serem
utilizados, feitos de modo contínuo. Pode partir de testes criteriais, mas não se
restringirá apenas a coleta de informações e sim a uma pluralidade de método
e técnicas. É defendido por Philippe Perrenoud (1999) que afirma o seu uso,
exclusivamente, para melhorar o ensino e a aprendizagem.
Concordasse também com Afonso (2000) quando diz que não se trata
de uma panacéia, porém “uma das modalidades de avaliação mais aptas à
utilização dos espaços de relativa autonomia que a escola pública possibilita”
(AFONSO, 2000, p.40).
A avaliação é uma atividade política por isso as suas funções devem ser
compreendidas segundo o contexto educacional, econômico e político mais
amplo. Na perspectiva de D. Nevo, Afonso (2000) diz que a literatura se reporta
mais as funções de melhoria dos processos de aprendizagem; à seleção,
certificação e responsabilização; à promoção da motivação dos sujeitos;
desenvolve uma consciência mais precisa sobre os processos sociais e
31
educacionais e condiz com o exercício da autoridade. Para Perrenoud (1999) a
avaliação é usada para acompanhar o andamento da aula, a progressão do
programa, a manutenção da ordem, às vezes a individualização das
aprendizagens ou para reverter alguma situação, para o professor decidir o que
faz com a sua turma ou certos alunos, para tomada de decisão dos alunos ou
mesmo para o controle do ensino e do trabalho docente.
A prática avaliativa para cada realidade mundial possui as suas
características. Sabemos que a sociedade estadunidense tem obsessão pela
avaliação. Comprovamos com a própria história da avaliação com Tyler, Bloom
e outros. Contrariamente, A Inglaterra, por exemplo, busca as implicações
sociológicas da avaliação.
Na década de 70, no Brasil, a recém fundada pós-graduação investiu
crítica a situação educacional do país sobre a influência americana e da
sociologia francesa. Porém as dificuldades organizacionais e financeiras
acopladas à falta de uma cultura acadêmica para vultuosas. Todo esforço
nesta época resultou na construção da avaliação como forma de pesquisa
(BONAMINO e FRANCO 1999.).
Na década de 80 setores empresariais e o Banco Mundial (BM)
trouxeram implementações de diversas reformas educacionais em vários
aspectos, por exemplo, no currículo, nas prioridades educacionais, nas formas
de financiamento e na avaliação. Como também, os próprios educadores e
pesquisadores brasileiros se mobilizaram para o avanço político ideológico.
O modelo de avaliação padronizada para toda rede de educação básica
é um fenômeno recente na sociedade, como na Holanda, França e Inglaterra,
segundo Bonamino e Franco (1999).
Essa política se deve às pesquisas educacionais de cunho conservador
da década de 80 nos Estados Unidos e na década seguinte na Inglaterra que
fizeram aumentar o controle governamental sobre a escola, criando
mecanismos de incentivo e competitividade no sistema educacional, além de
transformar o setor educacional em um grande mercado, pois apresentará à
comunidade as escolas de maior rendimento, dando possibilidade de escolhas.
A atividade avaliativa, segundo Bonamino e Franco (1999) está
recheada de ensaios e erros, avanços, retrocessos e controvérsias. No caso
brasileiro tem mostrado inflexões nos objetivos do processo no decorrer dos
32
vários ciclos de avaliações, indo da ênfase dos aspectos processuais, (nos dois
primeiros ciclos) para produção de resultados que possam contribuir para
conduzir a situação educacional brasileira e para ajudar os organizadores de
políticas públicas.
A eficácia e eficiência são elementos fundamentais de qualquer
instituição, seja de ordem econômica ou educacional. Não se admite
desperdício de recursos.
O sistema escolar se tornou alvo de debate sobre sua gestão que deve
ser dirigida da melhor forma possível, “controlar o funcional, dominar o
rendimento, melhorar a gestão contábil, a gestão de estoque, a gestão de
pessoal” (BONNIOL, 2001, p 106). A avaliação aparece, então, como forma de
racionalizar, como forma de promover a “mais valia” a prática, como diz Bonniol
(2001).
A presença distinta e lancinante da avaliação no campo educativo
devesse a fenômenos sociais, como o desenvolvimento de práticas
democráticas, isto é, o executor de uma prática não deve ser o único juiz da
qualidade do seu trabalho, devem existir outros olhares sobre o mesmo; do
desenvolvimento da atitude de gestão, de administração, visto que, antes a
nossa eficácia se legava a mais recursos e mais horas, hoje, devido à crise
econômica e ideológica, tornamo-nos ecônomos, necessitando de análise
constante.
Hoje verificamos a perda da legitimidade própria das grandes instituições
sociais, ou seja, nenhuma instituição pode ter certeza de seus efeitos devido à
complexidade do mundo, é exigida, então, regularmente uma nova operação
de legitimação.
Bonniol (2001) elenca quatro principais funções da avaliação:
Função do tipo interinstitucional – é a comunicação dos professores aos
alunos, dos professores aos parceiros e de uma instância educacional a outra,
pois é necessário dar conhecimento do que e como fazer com os usuários dos
usuários dos certificados;
Função de ordem relacional – é dar retorno da imagem do aluno e do
professor a cada um e as instâncias hierárquicas encarregadas de geri-las;
33
Função de refletividade – é o estabelecimento da reflexão positiva ou
negativa da nota. Dá a certeza do saber, oferecendo condições de
argumentação e transformação no próprio ator, como sujeito de julgamento.
Função de conhecimento – é promover a ação conjunta do controle
(verificação) e avaliação (construção) (BONNIOL, 2001).
Atualmente, lidamos com a avaliação Educacional (aprendizagem e
desempenho escolar, currículo e profissional) e a Institucional (políticas
públicas, planos ou projetos e instituições).
Esta última se destina a avaliar um órgão ou instituição; visa promover a
autoconsciência da instituição; garante as informações necessárias para
tomada de decisão do gestor e tem a finalidade de constante melhoria da
qualidade e da relevância científica e política das atividades desenvolvidas.
Elas não estão em posição contrária, podendo se complementar. Um
determinado modelo poderá se adaptar tanto à realidade educacional, como
institucional.
Bonniol apresenta dois modelos de avaliação bem pertinentes a ambas
as realidades: de Michael Scriven e de Stufflebeam. O Primeiro corresponde à
avaliação baseada no processo; observa mais o contorno da ação e levam em
conta numerosos detalhes que na prática irão fornecer juízos. É uma avaliação
contínua. Possui o papel de avaliação formadora.
O segundo é global e macro. Está centrado na decisão em situação, a
fim de melhorar.
Compreende o modelo CIPP, isto é, contexto, input, processo e produto:
A avaliação de contexto serve para diagnosticar os problemas, se os
objetivos estão à altura das necessidades;
Avaliação dos inputs identifica as capacidades do sistema, prever os
procedimentos implantados e os recursos materiais, financeiros e humanos
necessários;
Avaliação de processo irá registrar e julgar os acontecimentos e as
atividades de formação para fundamentar as tomadas de decisões ligadas a
cada etapa, as modificações a fazer, o tipo de informação a ser coletado;
A avaliação de produto consiste em interpretar as descrições e os
julgamentos dos resultados em juízo de valor, levando em conta o contexto, o
input e o processo (BONNIOL, 2001).
34
A avaliação emancipatória foi caracterizada na perspectiva de Saul
(1991), em relação à avaliação de cursos e programas educacionais, aspectos
estes que transcendem o desempenho dos alunos. Já a avaliação, em uma
ótica sociológica, foi analisada por Ludke & Mediano (1992) em pesquisa no
ensino básico, com reflexos no ensino superior. As autoras concluíram que o
olhar sociológico sobre a avaliação é necessário para uma melhor
compreensão da escola e de suas possibilidades, na medida em que esta
estabelece suas próprias normas e critérios para o atingimento da excelência
escolar e emite certificados, ao final do ensino, que influenciarão a vida dos
alunos como futuros profissionais.
A avaliação é mediadora, na visão construtivista de aprendizagem
defendida por Hoffmann (1995), porque envolve uma dinâmica de processos
educativos que propiciam a construção de conhecimento pelo aluno. Opõe-se,
frontalmente, ao modelo transmitir - verificar - registrar. Nesta abordagem de
avaliação, o professor contribui para a troca de idéias entre e com os alunos,
utilizando-se das hipóteses, ações e manifestações diversas deles, em
movimentos recíprocos de reorganização de idéias. Essa relação dialógica
substitui a simples transferência de conteúdo do ensino tradicional e favorece o
atendimento às diferenças individuais.
Para Luckesi (1996), a avaliação "é um julgamento de valor sobre
manifestações relevantes da realidade, tendo em vista uma tomada de
decisões" (p.38). Tem por objetivo diagnosticar a situação de aprendizagem do
educando, tendo em vista subsidiar a tomada de decisões para a melhoria de
sua qualidade. O autor destaca também que a avaliação é inclusiva, na medida
em que inclui e acolhe o aluno dentro do processo educativo para verificar o
que pode ser feito para o seu crescimento. A visão de Luckesi acerca da
avaliação da aprendizagem supervalorizando sua função diagnóstica levou-nos
a refletir sobre modalidades outras de avaliação referendadas nas diferentes
abordagens existentes. Assim é que vale a pena resgatar, por exemplo, a
função formativa, atualmente tão enfatizada na literatura contemporânea de
avaliação e que está presente em todos os modelos avaliativos (Hadji, 2001;
Bonniol & Vial, 2001; Afonso, 2000, 1999; Perrenoud, 1999, 1992). Afonso
35
(2000) apresenta em sua obra "Avaliação educacional: regulação e
emancipação" algumas modalidades de avaliação, tais como: exames
tradicionais, testes de inteligência estandardizados, avaliação por normas,
avaliação por critérios e avaliação formativa. Afirma o autor que há dois
propósitos distintos que podem ser identificados em relação à avaliação escolar
- os que se relacionam com os objetivos da administração escolar e os que se
relacionam com propósitos educativos e pedagógicos. O primeiro apoia-se na
avaliação somativa e por normas; o segundo propósito apoia-se na avaliação
formativa, por critérios e diagnóstica. A este respeito, assim se posiciona
Perrenoud (1992):
Talvez seja mais razoável colocar como princípio que a
avaliação formativa dá informações que serão propriedade do
professor e seus alunos. Cabe-lhes a eles decidir o que querem
transmitir aos pais e à administração escolar. Se esta quiser ter uma
idéia precisa do que os alunos sabem e da eficácia dos professores,
tem de encontrar os seus próprios instrumentos necessários, não
inviabilizando uma avaliação formativa que deve permanecer, de
qualquer maneira, um assunto entre o professor e os seus alunos,
para que o contrato de confiança não seja quebrado (p.165).
Para Hadji (2001), a avaliação formativa não passa de uma "utopia
promissora", constituindo-se em um modelo ideal. Trata-se da esperança de
pôr a avaliação a serviço da aprendizagem e a convicção de que isso é
desejável. Essa utopia é legítima, na medida em que visa correlacionar
atividade avaliativa e atividade pedagógica e propugna por uma avaliação mais
a serviço das aprendizagens.
A avaliação sempre foi vista, portanto, no sentido micro, restrito a sala
de aula. Hoje a preocupação com a mesma surge em termos macro, município,
estado, nação, pois a força do contexto mundial, globalizado, impõe qualidade,
movimento rápido, sem desperdício de recursos humanos, materiais e
pedagógicos na educação. Com isso, certamente, irá ser construída uma
relação de influência entre ambos os processos avaliativos que levará a uma
36
nova reflexão ação para benefício da própria avaliação e conseqüentemente do
processo ensino-apredizagem.
Para que o processo de avaliação escolar tenha o potencial de contribuir
com o aperfeiçoamento das ações em desenvolvimento deve revestir-se de
características, tais como:
- "ser democrático, no sentido de considerar que os integrantes da
ação educativa são capazes de assumir o processo de transformação da
educação escolar, sob a ótica dos interesses das camadas majoritárias da
população;
- ser abrangente, significando que todos os integrantes e os diversos
componentes da organização escolar sejam avaliados: a atuação do professor
e de outros profissionais da escola; os conteúdos e processos de ensino; as
condições, dinâmicas e relações de trabalho; os recursos físicos e materiais
disponíveis; a articulação da escola com a comunidade, com grupos
organizados da sociedade; as relações da escola com outras escolas e
instâncias do sistema;
- ser participativo, prevendo a cooperação de todos, desde a definição
de como a avaliação deve ser conduzida até a análise dos resultados e escolha
dos rumos de ação a serem seguidos;
- ser contínuo, constituindo-se efetivamente em uma prática dinâmica
de investigação, que integra o planejamento escolar em uma dimensão
educativa “(Sousa, 1995, p. 64).
Thurler (1998, p. 176), ao discorrer sobre a avaliação da eficácia das
escolas, observa que esta "resulta de um processo de construção, pelos atores
envolvidos, de uma representação dos objetivos e dos efeitos de sua ação
comum. Assim, a eficácia não é mais definida de fora para dentro: são os
membros da escola que, em etapas sucessivas, definem e ajusta seu contrato,
suas finalidades, suas exigências, seus critérios de eficácia e, enfim, organizam
seu próprio controle contínuo dos progressos feitos, negociam e realizam os
ajustes necessários."
37
CAPÍTULO IV
REALIDADE DA AVALIAÇÃO NA ESCOLA
Atualmente, a avaliação da aprendizagem escolar, além de ser praticada
com tal independência do processo de ensino / aprendizagem, vem ganhando
aspectos de independência da relação professor-aluno. As provas e exames
são realizados conforme o interesse do professor ou do sistema de ensino.
Nem sempre se leva em consideração o que foi ensinado.
“Mais importante do que ser uma oportunidade de aprendizagem significativa, a
avaliação tem sido uma oportunidade de prova de resistência do aluno aos
ataques do professor” (LUCKESI, 2002, p. 23).
As notas são operadas como se nada tivessem a ver com a
aprendizagem. A concepção de avaliação deve ir além de uma visão
tradicional, que visa apenas o controle externo do aluno mediante notas ou
conceitos, para ser compreendida como uma parte integrante ao processo
educacional.
... O conceito "avaliação" é formulado a partir das determinações da conduta de
"atribuir um valor ou qualidade a alguma coisa, ato ou curso de ação...", que
por si, implica um posicionamento positivo ou negativo em relação ao objeto,
ato ou curso de ação avaliado. (LUCKESI, 1998, p. 76)
A avaliação escolar deve ser mais estudada e detalhada cientificamente,
buscando considerar relações de afetividade entre professor e aluno que
possam ser garantidas dentro das variadas formas de avaliação. A afetividade
tem um respaldo significante sob a avaliação do aluno como um todo, devendo
ter como aspecto fundamental, alcançar os objetivos do processo de ensino
dentro dos fatores cognoscitivos e sócio-emocional, intimamente ligada à
interação professor-aluno.
“Na avaliação inclusiva, democrática e amorosa não há exclusão, mas
sim diagnóstico e construção. Não há submissão, mas sim liberdade. Não há
medo, mas sim espontaneidade e busca. Não há chegada definitiva, mas sim
38
travessia permanente em busca do melhor. Sempre!” LUCKESI, 1997.
Para Wallon, a afetividade, além de ser uma das dimensões da pessoa,
é uma das fases mais antigas do desenvolvimento, pois o homem logo que
deixou de ser puramente orgânico passou a ser afetivo e, da afetividade,
lentamente passou para a vida racional. Nesse sentido, a afetividade e
inteligência se misturam, havendo o predomínio da primeira e, mesmo havendo
logo uma diferenciação entre as duas, haverá uma permanente reciprocidade
entre elas.
“(...) a afetividade depende, para evoluir, de conquistas realizadas no plano da
inteligência, e vice-versa." (DANTAS, p.90, 1992).
A maneira como a escola avalia é o reflexo da educação que ela
valoriza. Quando indagamos a quem ela beneficia, a quem interessa,
questionamos o ensino que ela privilegia. Como instrumento de medida de
conhecimento, a avaliação tem como enfoque principal aprovar ou reprovar o
aluno. Desta forma, a garantia do ensino de qualidade foi abolida do processo
escolar.
Assumindo um caráter pedagógico, a avaliação precisa desvincular do
processo classificatório, seletivo e discriminatório, para estabelecer o básico da
sua função que se aplica principalmente ao professor que a utiliza, analisando
e refletindo os resultados dos alunos. Desta forma, a avaliação propicia
retomada de conteúdos, novas metodologias e um redimensionamento de
trajetória conforme a necessidade do momento. Enfatizando assim o processo,
refletindo o ensino que busca a construção do conhecimento.
A avaliação deve ir muito além de avaliar a aprendizagem do aluno, ela
ultrapassa essa dimensão avaliando em contrapartida o trabalho da escola e o
desempenho do professor, promovendo a revisão e a redefinição dos objetivos
propostos.
Para Philippe Perrenoud: "Mudar a avaliação significa, provavelmente, mudar a
escola".
A avaliação se apresenta desta forma como o retrato da escola, demonstrando
39
a educação que ali se aplica, desvelando a concepção de escola, de homem,
de mundo, de sociedade. Acreditamos que esse é o caminho.
Avaliar o rendimento escolar, portanto, é um dos elementos para
reflexão e transformação da prática escolar e deve ter como princípio o
aprimoramento da qualidade do ensino. Os aspectos qualitativos devem
prevalecer sobre os quantitativos.
“... a inspirar amor ao trabalho sem sanções
arbitrárias, já existem sanções naturais e inevitáveis. Sobretudo,
evitemos fornecer às crianças a noção de comparação e medidas
entre compreender a diversidade infinita que existe de caracteres e
inteligência, é necessário evitar a figura de concepção imutável do bom
aluno.” (FRANCISCO FERRE – de um artigo de Maurício
Tragtemberg). Avaliar, mais do que saberes técnicos, exige sabedoria
para compreender a complexidade do ser humano em
desenvolvimento, para relevar suas deficiências menores, para
despertar valores e virtudes, muitas vezes adormecidos, e, sobretudo,
um depósito de discernimento, equilíbrio, afetividade, valores morais,
intelectuais, estéticos, religiosos, elementos fundamentais para a
importância e a grandeza da ação do professor.
“Avaliação significa ação provocativa do professor, desafiando o
educando a refletir sobre as situações vividas, a formular e reformular
hipóteses, encaminhando-se a um saber enriquecido.” (HOFFMANN:
1994, p. 58)
A avaliação do rendimento escolar tem sido utilizada, como parte de
uma ação política, que visa através do processo educativo, como um
instrumento de legitimação da seletividade da educação, conferindo ao ensino
e às escolas particulares e públicas um papel subsidiário diante do fracasso do
aluno.
Nas escolas, onde as variáveis sócio-econômicas não justificam diretamente
diferenças de desempenho, é clara a convicção de que o aluno é responsável
pelo seu sucesso ou fracasso na educação.
40
Atualmente, a avaliação ainda não é capaz de formar sujeitos com
autonomia, o que é sem dúvida uma forma de promoção do ser humano, que é
essencialmente o significado da educação.
A concepção de avaliação ainda é comumente relacionada a idéia de
mensuração de mudanças do comportamento humano. Essa abordagem
viabiliza o fortalecimento no aspecto quantitativo.
A avaliação do rendimento escolar tem como alvo a classificação do
aluno. Necessita ser redirecionada, pois a competência ou incompetência do
aluno não resulta apenas da escola ou do professor, e sim de todos aqueles
que participam do contexto escolar e social do educando. A avaliação ainda
não contempla os aspectos qualitativos que são difíceis de serem mensurados,
pois, envolvem objetivos subjetivos, postura, política, crenças e valores.
Serve como um meio de controle, feito através de atribuição de pontos ou
notas, para que os alunos realizem as tarefas e tenham comportamentos
esperados, no qual o professor e a instituição desejam. Não se importam com o
tipo de conhecimento que o aluno adquiriu, e sim, com o tipo de nota que o
aluno obteve. A nota, portanto, passa a apresentar um objetivo diferente da
representação do rendimento do aluno.
O ponto chave da educação deve ser o aluno aprender a aprender,
saber pensar, ser crítico e analítico. E é dentro dessa perspectiva que a
avaliação deve trabalhar.
Em relação à interação professor-aluno, percebemos que a educação
atual abre um espaço para essa parceria entre ambos, verificamos que vem
acontecendo um estreitamento desta relação. O que não percebemos, é a
utilização da proximidade desta relação, no desenvolvimento das aulas e
avaliação dos professores e alunos. Encontramos ambientes que propõe a
afetividade mais como contato físico que nem sempre considera o aluno como
ser autônomo, com direitos e desejos nem sempre iguais ao do professor.
“Mestre é quem, de repente, aprende.” GUIMARÃES ROSA.
41
CONCLUSÃO
A avaliação deve favorecer o desenvolvimento integral do aluno, sendo
entendida como um meio de se obter informações e subsídios. Ao se dispor
dessas informações, é possível adotar procedimentos para correções e
melhorias no processo, planejando e redirecionando o trabalho pedagógico e o
projeto educativo da Instituição.
Avaliar não é apenas medir, comparar ou julgar. Tem grande importância
social e política, presente em todas as atitudes e estratégias adotadas pela
Escola.
Avaliar auxiliar o aluno e o professor na reflexão conjunta sobre a
realidade e na seleção das formas apropriadas para dar continuidade ao
processo de aprendizagem;
Cabe aos orientadores criar, descobrir e propor novas formas, viáveis e
efetivas, de eliminação do fracasso escolar, tanto no nível de variáveis intra-
escolares, que às vezes o mantêm, como de variáveis extra-escolares, que
ainda não encontraram meios de suprimi-lo.
É preciso um rompimento com o modelo tradicional de avaliação, que
fuja da aplicação de provas como medidor de conhecimentos e ainda, que se
instale um novo modelo, onde o aluno seja acompanhado e estimulado
constantemente, podendo assim ser avaliado, também constantemente, em
função da construção em si dos conhecimentos que tenha sido capaz de auferir
e processar. O que deve ser modificado, antes de qualquer outra questão, é a
verdadeira função da avaliação no contexto escolar. Enquanto for realizada
com a intenção única de atribuir nota ao aluno, não contribui para um maior
desenvolvimento dos envolvidos em sua confecção, mas ao contrário até, pode
ser um dos fatores geradores de um maior índice, tanto de evasão como de
reprovação escolar.
É fundamental que se tenha uma visão sobre o aluno como um ser
social e político, capaz de atos e fatos, dotado de, e em conformidade com o
senso crítico, sujeito de seu próprio desenvolvimento.
42
Somente uma avaliação levada a termo de forma adequada, é capaz de
favorecer o desenvolvimento crítico pleno ou a construção perfeita da
autonomia.
Sendo a escola, o lugar de perpetuação da cultura, dos saberes e dos
valores de dada sociedade, não pode se eximir de tais compromissos e ser
responsável pela exclusão, evasão e fracasso de seus alunos, pois nesse
caso, estará sendo incoerente com seus princípios e falhando em sua função
social. Para Lüdke (2001, p.27) no nível fundamental do ensino “pode-se e
deve-se esperar que o sucesso chegue a todos9 os alunos, já que é um direito
de todos eles, como cidadãos, o que, infelizmente, ainda está longe de ocorrer
entre nós”.
Fundamental é reconhecer que, hoje, posições rígidas apenas fossilizam
o conhecimento, que é o fator motor principal da nova sociedade globalizada. O
centro da inteligência é aprender a aprender, saber pensar, ser crítico e
analítico. Esse deve ser o centro da educação, e é dentro dessa perspectiva
que a avaliação do desempenho escolar deve ser concebida.
Se o fracasso escolar se mantém por tanto tempo, é preciso
contextualizá-lo e “historicizá-lo” para tirar-lhe o caráter de fenômeno natural
que, por ser esperado, já que é natural, não é problematizado nem
questionado.
Avalia-se para afirmar valores, ou seja, avalia-se para subsidiar, induzir,
provocar mudanças em uma dada direção, evidenciando-se que não há
neutralidade nos caminhos, nos procedimentos e instrumentos que são
utilizados em uma atividade ou em um processo avaliativo.
Portanto, não é possível pensarmos em um modelo único de avaliação
que atenda a todas as escolas, pois, para que este ganhe significado
institucional, precisa responder ao projeto educacional e social em curso. Ao
discorrer sobre avaliação de programas educacionais, Stake (1982, p. 46)
observa que "não é possível realizar estudos avaliativos sem considerar -
implícita ou explicitamente (de preferência) - como as pessoas valorizam, em
43
termos subjetivos, os vários planos e produtos educacionais". Assim, é
importante ter-se em conta a multiplicidade de valores presente entre as
diversas unidades escolares e em cada uma delas, bem como a clareza de que
é preciso trabalhar a partir dessa diversidade, na construção ou explicitação do
Projeto de Escola, que é a referência para a proposição da sistemática de
avaliação.
44
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(Coleção Cadernos Pedagógicos)
www.jussarahoffmann.com.br
www.luckesi.com.br
49
ANEXOS ANEXO l
A avaliação da aprendizagem nos dias de hoje
Cássia Ravena Mulin de Assis Medel Professora e Orientadora
Pedagógica do CIEP 277 João Nicolau Filho “Janjão” e da Escola Municipal
Prof. Ewandro do Valle Moreira, localizadas no município de Cantagalo-RJ.
Nos dias de hoje, a avaliação da aprendizagem não é algo meramente
técnico. Envolve auto-estima, respeito à vivência e cultura própria do indivíduo,
filosofia de vida, sentimentos e posicionamento político. Embora essas
dimensões não sejam perceptíveis a todos os professores, observa-se, por
exemplo, que um professor que usa o erro do aluno como ponto inicial para
compreender o raciocínio desses educando e rever sua prática docente, e, se
necessário, reformulá-la, possui uma posição bem diversa daquele que apenas
atribui zero àquela questão e continua dando suas aulas da mesma maneira.
Do mesmo modo, o educador que faz uso de instrumentos de avaliação
diversos para, ao longo de um período, acompanhar o ensino-aprendizagem, é
diferente daquele que se restringe a dar uma prova ao final do período.
Segundo Canen (2001), Gandin (1995) e Luckesi (1996), a avaliação é
um julgamento sobre uma realidade concreta ou sobre uma prática, à luz de
critérios claros, estabelecidos prévia ou concomitantemente, para tomada de
decisão. Desse modo, três elementos se fazem presentes no ato de avaliar: a
realidade ou prática julgada, os padrões de referência, que dão origem aos
critérios de julgamento, e o juízo de valor.
Através desses elementos, constata-se que a avaliação não é um
processo apenas técnico. O educador deve refletir acerca de algumas
questões: Quem julga? Por que e para que se julga? Quais os aspectos da
realidade que devem ser julgados? Deve-se partir de que critérios? Esses
critérios se baseiam em quê? A partir dos resultados do julgamento, quais são
os tipos de decisões tomadas?
50
Como foi dito, a avaliação não é um processo apenas técnico, é um
procedimento que inclui opções, escolhas, ideologias, crenças, percepções,
posições políticas, vieses e representações, que informam os critérios através
dos quais será julgada uma realidade.
A avaliação do aproveitamento de alunos, por exemplo, pode basear-se
em critérios reduzidos, apenas à memorização de conteúdos, ou pode basear-
se em critérios que visem o crescimento pessoal dos alunos, no que diz
respeito as suas atitudes, liderança, conscientização crítica e cidadã. Esses
critérios se originam de opiniões acerca do que se entende por educação, e
vão direcionar o julgamento de valor acerca do desempenho daqueles alunos.
O Projeto Político-Pedagógico da escola deve ser elaborado
coletivamente, e expor a visão acerca da missão da unidade escolar,
direcionando os critérios através dos quais as práticas docentes que estão
sendo desenvolvidas, sejam avaliadas. A avaliação da aprendizagem não é um
julgamento de valor apenas acerca do aluno, mas também acerca da prática
docente, que tem como resultado o desempenho do aluno. Segundo Paulo
51
Freire, a avaliação não é um ato pelo qual A avalia B, mas sim um processo
pelo qual A e B avaliam uma prática educativa.
Quando um professor dá uma explicação sobre um conteúdo e, no
entanto, nos instrumentos de avaliação que ele elabora, propõe exercícios que
abordam aspectos e habilidades referentes à matéria que não foram
trabalhados, o aluno sente-se “perdido”, sem ter um caminho a seguir, uma
reflexão que possa fazer acerca daquela matéria.
O educador deve ter uma posição de não neutralidade envolvida na
escolha dos critérios para o julgamento de valor e na escolha daquilo que se
deseja julgar, a avaliação, como dissemos anteriormente, envolve mais do que
uma simples contemplação. Ela requer tomada de decisão. Conforme Luckesi
(1996), sendo o juízo satisfatório ou insatisfatório, temos sempre três
possibilidades de tomada de decisão: continuar na situação em que nos
encontramos, introduzir mudanças para que o objeto ou situação se modifique
para melhor ou suprimir a situação ou objeto.
Infelizmente, algumas tomadas de decisão partindo de critérios que
limitam o processo educativo a aulas expositivas, de linguagem pouco clara
para os educandos, e, que restringem a avaliação a apenas um momento final,
partindo de um único instrumento, homogêneo, tendem a optar pela
“supressão” do educando direta ou indiretamente, através de sua reprovação.
52
Desse modo, o educador de hoje, deve repensar acerca dos seus
critérios de avaliação, acerca da necessidade de construir políticas e práticas
que considerem essa diversidade e que estejam comprometidas com o
sucesso e não o fracasso escolar. Para isso, faz-se necessário um retorno as
formas pelas quais a avaliação foi planejada.
53
ANEXO lI AVALIAÇÃO EDUCACIONAL: UMA REFLEXÃO
Atualmente, muito se tem discutido sobre a avaliação no contexto
escolar. Busca-se uma verdadeira definição para o seu significado, justamente
porque esse tem sido um dos aspectos mais problemáticos na prática
pedagógica.
Apesar de ser a avaliação uma prática social ampla, pela própria
capacidade que o ser humano tem de observar, refletir e julgar, na escola sua
dimensão não tem sido muito clara. Ela vem sendo utilizada ao longo das
décadas como atribuição de notas, visando à promoção ou reprovação do
aluno.
Sabe-se que a educação é um direito de todos os cidadãos, assegurando-se a
igualdade de oportunidades (Constituição Brasileira). Inseridas neste contexto,
ao estudarem, as pessoas passam muitas e muitas vezes pela avaliação, cujos
aspectos legais norteiam o processo educacional através dos regimentos
escolares. Assim, as avaliações são tidas como obrigatórias e, através delas, é
expresso o "feedback" pelo qual se define o caminho para atingir os objetivos
pessoais e sociais.
Hoje a avaliação, conforme define Luckesi (1996, p. 33), "é como um
julgamento de valor sobre manifestações relevantes da realidade, tendo em
vista uma tomada de decisão". Ou seja, ela implica um juízo valorativo que
expressa qualidade do objeto, obrigando, conseqüentemente, a um
posicionamento efetivo sobre o mesmo.
A avaliação no contexto educativo quer se dirija ao sistema em seu
conjunto quer a qualquer de seus componentes, corresponde a uma finalidade
que, na maioria das vezes, implica tomar uma série de decisões relativas ao
objeto avaliado.
A finalidade da avaliação é um aspecto crucial, já que determina, em
grande parte, o tipo de informações consideradas pertinentes para analisar os
critérios tomados como pontos de referência, os instrumentos utilizados no
cotidiano da atividade avaliativa.
54
Nem sempre o professor tem definido os objetivos que quer alcançar
com seus alunos. Nesse sentido, a avaliação muitas vezes tem sido utilizada
mais como instrumento de poder nas mãos do professor, do que como
feedback para os seus alunos e para o seu próprio trabalho. Na realidade, é
comum ouvir dos professores, os famosos "chavões" sempre indicando o
desempenho ruim de alguns alunos, esquecendo-se de que esse desempenho
pode estar ligado a outros fatores que não só o contexto escolar.
Segundo Sant'Anna (1995, p. 27), "há professores radicais em suas opiniões,
só eles sabem, o aluno é imbecil, cuja presença só serve para garantir o
miserável salário detentor do poder".
Nos dias de hoje, sabe-se que o professor tem "fortes concorrentes": a
televisão, videocassete, computador, e aquele, em contrapartida, na sala de
aula, tem o quadro negro e o giz. Não seria pertinente pensar na questão da
utilização dos recursos no dia-a-dia, explorando mais o que o aluno tem fora,
em casa, não só para as suas aulas, mas também para o processo de
avaliação? Ezpeleta & Rockwell (1986, p. 25) declaram que "o conhecimento
que um professor desenvolve ao trabalhar com um grupo de criança, incorpora
necessariamente elementos de outros domínios de sua vida".
Na realidade, muitos professores fazem uso da avaliação, cobrando
conteúdos aprendidos de formas mecânicas, sem muito significado para o
aluno. Chegam até mesmo a utilizar a ameaça, vangloriam-se de reprovar a
classe toda e/ou realizar vingança contra os alunos inquietos, desinteressados,
desrespeitosos, levando estes e seus familiares ao desespero.
Enfatiza Hoffmann (1993) que geralmente os professores se utilizam da
avaliação para verificar o rendimento dos alunos, classificando-os como bons,
ruins, aprovados e reprovados. Na avaliação com função simplesmente
classificatória, todos os instrumentos são utilizados para aprovar ou reprovar o
aluno, revelando um lado ruim da escola, a exclusão. Segundo a autora, isso
acontece pela falta de compreensão de alguns professores sobre o sentido da
avaliação, reflexo de sua história de vida como aluno e professor.
De acordo com Moretto (1996, p. 1) a avaliação tem sido um processo
angustiante para muitos professores que utilizam esse instrumento como
recurso de repressão e alunos que identificam a avaliação como o "momento
de acertos de contas", "a hora da verdade", "a hora da tortura".
55
Percebe-se que a avaliação tem sido utilizada de forma equivocada
pelos professores. Estes dão sua sentença final de acordo com o desempenho
do aluno.
Luckesi (1996) alerta que a avaliação com função classificatória não
auxilia em nada o avanço e o crescimento do aluno e do professor, pois se
constitui num instrumento estático e frenador de todo o processo educativo.
Segundo o autor, a avaliação com função diagnóstica, ao contrário da
classificatória, constitui-se num momento dialético do processo de avançar no
desenvolvimento da ação e do crescimento da autonomia.
Essa problemática em torno da avaliação ocorre não só na educação
infantil, mas no ensino regular, médio e superior. E a exigência de um processo
formal de avaliação surge por pressões das famílias.
Exercendo a função de avaliador, deve-se ter claro o desenvolvimento
integral do aluno, pois, segundo Jersild (apud Sant’Anna, 1995, p. 24, "a
autocompreensão e a auto aceitação do professor constituem o requisito mais
importante em todo o esforço destinado a ajudar os alunos a se
compreenderem e forjar neles atitudes sadias de auto-aceitação".
O professor deve ver seu aluno como um ser social e político, construtor
do seu próprio conhecimento. Deve percebê-lo como alguém capaz de
estabelecer uma relação cognitiva e afetiva com o seu meio, mantendo uma
ação interativa capaz de uma transformação libertadora e propiciando uma
vivência harmoniosa com a realidade pessoal e social que o envolve. O
professor deverá, ainda, ser o "mediador" entre o aluno e o conhecimento,
proporcionando-lhe os conhecimentos sistematizados. Assim, nessa visão, o
professor deixa de ser considerado "o dono do saber" e o aluno, um mero
receptor de informações.
O ato de avaliar não pode ser entendido como um momento final do
processo em que se verifica o que o aluno alcançou. A questão não está,
portanto, em tentar uniformizar o comportamento do aluno, mas em criar
condições de aprendizagem que permitam a ele, qualquer que seja seu nível,
evoluir na construção de seu conhecimento.
A avaliação tem um significado muito profundo, à medida que
oportuniza a todos os envolvidos no processo educativo momentos de reflexão
sobre a própria prática. Através dela, direciona o trabalho, privilegiando o aluno
56
como um todo, como um ser social com suas necessidades próprias e também
possuidor de experiências que devem ser valorizadas na escola. Devem ser
oportunizados aos alunos os conhecimentos historicamente acumulados pela
humanidade.
Nesse sentido, faz-se necessário redimensionar a prática de avaliação
no contexto escolar. Então, não só o aluno, mas o professor e todos os
envolvidos na prática pedagógica podem, através dela, refletir sobre sua
própria evolução na construção do conhecimento.
O educador deve ter, portanto, um conhecimento mais aprofundado da
realidade na qual vai atuar, para que o seu trabalho seja dinâmico, criativo,
inovador. Assim, colabora para um sistema de avaliação mais justo que não
exclua o aluno do processo de ensino-aprendizagem, mas o inclua como um
ser crítico, ativo e participante dos momentos de transformação da sociedade.
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SANT'ANNA, Ilza Martins. Por que avaliar? Como Avaliar? Critérios e
instrumentos. Petrópolis: Vozes, 1995.
57
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE.
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E O PROCESSO
AVALIATIVO NO ENSINO FUNDAMENTAL
MARIA APARECIDA DE ARAÚJO SANTANA.
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito: