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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
GRADUAÇÃO PEDAGOGIA
PROCESSO DE FORMAÇÃO DO EDUCADOR AMBIENTAL
Por: Gleice Máira Fernandes Alves
Orientador
Prof. Vilson Sérgio de Carvalho
Barra de São João
2008
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
GRADUAÇÃO PEDAGOGIA
O QUE NÃO PODE FALTAR, NO PROCESSO DE FORMAÇÃO SOCIAL DO
EDUCADOR AMBIENTAL
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre, como requisito parcial para obtenção do
grau de Licenciatura em Pedagogia
Por: . Gleice Máira Fernandes Alves
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos aqueles que de
alguma forma estiveram presentes
durante esse processo de
aprendizagem, em especial a Denise
Spiller e a Gabriela Priolli pela
confiança e incentivo depositados no
meu trabalho.
4
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho a todos os que
acreditam numa educação dialógica,
capaz de provocar intervenções sociais.
5
RESUMO
Vários estudos e pesquisas em Educação Ambiental apontam que os projetos
desenvolvidos por suas instituições proponentes, como ONGs (Organizações
Não Governamentais), empresas, escolas, poder público, associações e
outras instituições não são eficazes e efetivos. Eficazes no sentido de que não
produzem os resultados esperados por uma série de motivos que vão desde a
má administração dos projetos até a falta de conhecimentos teórico e prático
por parte dos educadores ambientais.
Apesar das dificuldades é reconhecido o empenho dos educadores ambientais
em propostas que visam à construção de uma sociedade educada para a
sustentabilidade, com projetos que articulem atividades de proteção e melhoria
sociambiental, potencializando o papel de educação para as necessidades e
inadiáveis mudanças. É também notória a falta de conhecimento de como
desenvolver tais projetos, de que metodologias utilizar para alcançar os
objetivos propostos.
No âmbito da educação ambiental, temos ambientalistas atuando como
educadores e educadores atuando como ambientalistas. Na busca de solução
e na integração dos saberes, se vislumbra a atuação de biólogos, advogados,
professores, economistas, médicos, engenheiros, ambientalistas, que atuam
em contextos educativos, sociais e ambientais. Diante do novo quadro
socioambiental está surgindo o “profissional educador ambiental”.
Idealiza-se um profissional critico e atuante, que se sinta pertencente
ao processo de construção, ao processo da relação com o outro, construindo
uma sociedade de forma emancipatória e coletiva. Esse trabalho busca trazer
as ferramentas necessárias para a formação desse “profissional educador
ambiental” .
PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental. Formação do Educador Ambiental.
6
METODOLOGIA
O trabalho foi desenvolvido a partir de pesquisa bibliográfica e pesquisa
documental, fomentado pela experiência profissional e atuação dentro do
Programa de Educação Ambiental do Consórcio Lagos São João e da Câmara
Técnica Permanente de Educação Ambiental Coletivo Educador do Comitê de
Bacia Hidrográfica Lagos São João, onde o tema proposto vem sendo
discutido por profissionais que atuam com a Educação Ambiental.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Educação: Encontros e Caminhos 09
CAPÍTULO II - Educação Ambiental 14
CAPÍTULO III - Formação do Educador Ambiental 22
CAPÍTULO IV – Metodologias de Trabalho 35
CONCLUSÃO - 39
ANEXOS 40
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 62
ÍNDICE 65
FOLHA DE AVALIAÇÃO 67
8
INTRODUÇÃO
Em meio ao desenvolvimento e conquistas tecnológicas, estamos
vivendo uma grande crise socioambiental, revelada através de diversas formas
de degradação, como desmatamento, aquecimento global, trabalho escravo,
prostituição infantil, analfabetismo, em fim, são inúmeras as degradações que
atingem o homem e todas estão relacionadas entre si. Vivemos numa teia
socioambiental, numa rede de acontecimentos que se interagem, o que quer
que aconteça ao meio vai atingir ao homem e que quer que o homem faça
para seu desenvolvimento vai com toda certeza atingir ao meio.
Estamos diante de uma situação emergencial que para ser enfrentada
necessita da integração dos vários campos do saber, onde se faz necessária
uma visão ampla e critica inerente a educação. Na busca de solução e na
integração dos saberes, se vislumbra a atuação de biólogos, advogados,
professores, economistas, médicos, engenheiros, ambientalistas, que atuam
em contextos educativos, sociais e ambientais. Diante do novo quadro
socioambiental está surgindo o “profissional educador ambiental”. Aonde cada
um desses profissionais vem atuando de acordo com a sua formação
acadêmica, buscando soluções para os problemas, mas trazendo em si a
dicotomia e o olhar fragmentado de sua profissão. Para dar vida a um
processo “profissional educador ambiental, atende-se ao indivíduo, que em seu
trabalho cotidiano apóie-se na Educação Ambiental “como instrumento gerador
e mobilizador das forças e potências de sujeitos, num estímulo constante, que
facilite a desejada transformação da história de sofrimento individual e coletivo”
(RAYMUNDO, 2002).
Idealiza-se um profissional critico e atuante, que se sinta pertencente
ao processo de construção, ao processo da relação com o outro, construindo
uma sociedade de forma emancipatória e coletiva. Esse trabalho busca trazer
as ferramentas necessárias para a formação desse “profissional educador
ambiental” .
9
CAPÍTULO I
EDUCAÇÃO: ENCONTROS E CAMINHOS
Nem eu nem ninguém mais pode caminhar esse caminho por você
Você deve caminhá-lo por si mesmo.
Não está longe, está ao alcance.
Talvez você esteja nele
desde que nasceu e não saiba.
Talvez esteja em todas partes,
Sobre a água e sobre a terra”
Walt Whitmann
Muito se fala no sistema educacional brasileiro, muito se fala sobre suas
legislações, metodologias e educadores e muitos são os adjetivos atribuídos a
educação: Inclusiva, ambiental, indígena, popular, para gestão, interdisciplinar,
transdiciplinar. A questão aqui levantada é a maneira como estamos vendo e
nos relacionando com a educação. Há realmente a necessidade de tantos
adjetivos? A educação não deveria ser “substantivo” com o “adjetivo” em si
mesmo. Educação para educação? Qual o princípio da educação? Quais os
caminhos percorridos até aqui?
Para Paulo Freire, educar é construir, é libertar o ser humano das
cadeias do determinismo neoliberal, reconhecendo que a história é um tempo
de possibilidades. É um "ensinar a pensar certo" como quem "fala com a força
do testemunho". É um "ato comunicante, co-participado", de modo algum
produto de uma mente "burocratizada". No entanto, toda a curiosidade de
saber exige uma reflexão crítica e prática, de modo que o próprio discurso
teórico terá de ser aliado à sua aplicação prática. (FREIRE, 1991)
10
“A educação então é povoada de posturas, idéias e práticas que
referendam as relações bastante fortes entre ações educativas, condições
sociais especificas e transformação da realidade (vida, sujeitos, sociedade,
ideologias etc.). “ (AMORIM, 2005).
Precisamos rever os paradigmas da educação, que deve se inspirar na
pedagogia da autonomia, da emancipação, onde o conceito de liberdade seja
significativo na produção das ações educacionais. Uma educação que prepara
o individuo para buscar o seu auto-conhecimento e uma vez conhecedor de si
como um ser pertencente a um contexto socioambiental, busque conhecer o
seu ambiente para compreende-lo e assim atuar de forma a modificá-lo.
As ultimas décadas foram marcadas por grandes mudanças, que se
manifestaram nos campos da cultura, economia, tecnologia, nos campos
socioeconômico e político e com mais intensidade no campo da ecologia.
Estamos vivendo um tempo de expectativas, perplexidade diante a uma crise
de paradigmas. Por isso precisamos rever o papel da educação diante esse
novo quadro social.
Precisamos nos voltar, para a pedagogia e inspirada por Marx, Gramsci
e Paulo Freire, trazer para a discussão a pedagogia da Práxis, “que é a teoria
de uma prática pedagógica que procura não esconder o conflito, a
contradição, mas, ao contrário, entende-os como inerentes á existência
humana, explicita-os e convive com eles.” (GADOTTI, 2005).
Estamos falando de uma pedagogia de ação, da ação transformadora,
emancipada.
“A prática educativa compreende a participação como exercícios
cotidianos em que indivíduos e grupos vão, através da gestão de seus espaços
e do compartilhamento de interesses e sonhos, tecendo compromissos de
cada um, de cada grupo e de cada comunidade com processos de
desenvolvimento, com o todo, com a vida e com o planeta”. (SORRENTINO,
2001).
A pedagogia da práxis pretende ser uma educação transformadora, que
vê o homem como um ser incompleto, inacabado e por isso, um ser sujeito da
história e capaz de cria a sua história, que se transforma na mesma medida
11
que transforma o mundo. E dessa pedagogia capaz de provocar
transformações, capaz de despertar a esperança e a luta, surge a educação
que provoca no individuo reflexões e ações.
A educação tem em si mesma, a intenção de ser ambiental, pois
desperta o homem para o seu mundo e o seu mundo é o ambiente onde vive,
é essa que se consolida na pedagogia da práxis. O Fórum Global 92 foi um
dos eventos mais significativos do final do século XX, dando um forte impulso à
globalização da cidadania. O debate que hoje se estabelece em torno da
Carta da Terra (em anexo) está se constituindo num fator importante de
construção desta cidadania planetária. E qualquer pedagogia que não atenta a
esse olhar global sobre movimentos ecológicos, encontra dificuldade de se
contextualizar e de se sustentar.
“Educar para uma cidadania planetária implica muito mais
do que uma filosofia educacional, do que o enunciado de
seus princípios.
A educação para a cidadania planetária implica uma
revisão dos nossos currículos, uma reorientação de nossa
visão do mundo da educação como espaço de inserção
do individuo não numa comunidade local, mas numa
comunidade que é local e global ao mesmo tempo.
Educar, então, não seria como dizia Emile Durkheim, a
transmissão da cultura de uma geração para outra, mas a
grande viagem de cada individuo do seu universo interior
e no universo que o cerca”. ( GADOTTI, 2005)
É neste contexto que se concebe a compreensão da intervenção educacional.
Uma educação que transforma deste que estejamos comprometidos com seu
caráter crítico e emancipatório. “Ë a ação e a reflexão dos homens sobre o
mundo para transforma-lo”. (FREIRE, 1992).
Um mundo que vem sendo visto de forma fragmentada: em um lado o
homem com suas necessidades, com seu desenvolvimento, do outro, o meio,
12
com seus ecossistemas. Não se sentindo pertencente a esse ecossistema o
homem na busca do seu desenvolvimento cria uma série de degradação, sem
que perceba que degradando o meio está degradando a si próprio. “A violência
sinaliza para a perda da afetividade, do amor, da capacidade de se relacionar
do um com o outro (social), e do um com o mundo (ambiental), detonando a
crise socioambiental que é de um modelo de sociedade e seus paradgmas,
uma crise civilizatória”. (GUIMARÃES, 2004).
A educação conservadora se apóia nessa concepção de mundo fragmentado,
com uma realidade simplificada e reduzida que perde a riqueza e a
diversidade da relação. Dessa forma a prática pedagógica fica apoiada no
individuo (na parte) e na transformação de seu comportamento (educação
individualista e comportamentalista). Isso era o que Paulo Freire denominava
de “educação bancária”. É uma idéia simplista de que transmitindo o
conhecimento, informando sobre comportamentos corretos o individuo vai agir
de forma correta no mundo. O que não se compreende aqui, é que a educação
é a relação e se dá no processo e não, simplesmente, no sucesso da mudança
comportamental.
Já educação critica objetiva promover ambientes educativos de
mobilização dos processos de intervenção sobre a realidade e seus problemas
socioambientais, superando os paradigmas da educação e propiciando um
processo educativo, em que o educando possa ser educador e o educador
possa ser educando, pelo exercício de uma cidadania ativa, na transformação
da grave crise socioambiental que estamos vivenciando.
No campo da abrangência da educação e suas abordagens, a influência
de maior destaque encontra-se na abordagem de Paulo Freire, que em 1970
iniciou na América Latina, o grupo das pedagogias libertárias e emancipatórias
que travavam um forte diálogo com as tradições marxistas e humanistas.
É essa educação que se destaca pela concepção dialética de educação, vista
pelo processo de ação e transformação, que nos abre caminho para uma
atuação onde o diálogo entre o homem e o meio se estabelece, criando uma
sinergia que gera mudanças comportamentais e sociais. A educação no seu
sentido social, ambiental, inclusiva e popular. Buscamos essa educação que
14
CAPÍTULO II
EDUCAÇÃO: EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Anda, quero te dizer nenhum segredo
Falo desse chão, da nossa casa, vem que tá na hora de arrumar.
Tempo, quero viver mais duzentos anos
Quero não ferir meu semelhante, nem por isso quero me ferir.
Vamos precisar de todo mundo prá banir do mundo a opressão
Para construir a vida nova vamos precisar de muito amor
A felicidade mora ao lado e quem não é tolo pode ver
A paz na Terra, amor, o pé na terra
A paz na Terra, amor, o sal da...
Terra, és o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro, tu que és a nave nossa irmã.
Canta, leva tua vida em harmonia
E nos alimentas com teus frutos, tu que és do homem a maçã
Vamos precisar de todo mundo, um mais um é sempre mais que
dois
Prá melhor juntar as nossas forças é só repartir melhor o pão
Recriar o paraíso agora para merecer quem vem depois
Deixa nascer o amor Deixa fluir o amor ...Deixa crescer o amor ...
Deixa viver o amor.
(Beto Guedes – O Sal da Terra)
“Vamos precisar de todo mundo, um mais um é sempre mais que
dois” ... Vamos precisar de todo mundo mesmo !!!... De todos os que possam
ajudar na construção de um novo “projeto civilizatório” e para isso, respeitando
as diferenças, precisamos aprender a sintonizar e afinar idéias e linguagens
15
em freqüências e melodias semelhantes, na prática do diálogo e da escuta
sensível ... Por isso a necessidade de se pensar nos Processos de Formação!
Quais devem ser os objetivos de um processo de formação social de um
educador ambiental?
Propiciar, fortalecer e qualificar a participação efetiva da sociedade civil,
nos processos de gestão dos recursos naturais.
Trabalhar para que as(os) educadoras(es) ambientais se reconheçam e
se sintam apoiadas(os) e contempladas(os) dentro das políticas públicas
municipais, onde as ações educativas e os projetos ambientais deixem de ser
fruto do improviso, da necessidade de apenas se comemorar uma data
importante do calendário ambiental e passem a ser planejados de forma
integrada, dentro de uma agenda única anual, com clareza de objetivos, metas
e formas de monitoramento e para que sejam providenciadas estruturas de
apoio, com recursos humanos qualificados para o trabalho de educadoras(es)
ambientais, além de considerar os objetivos apontados pelo ProFEA –
Programa Nacional de Formação de Educadoras(es) Ambientais criado pelo
Ministério de Meio Ambiente1 .
2.1 Concepção político pedagógica
O princípio da gestão para uma educação ambiental eficaz deve ser
descentralizada e participativa, já praticada em quase todos os países que
avançaram na gestão dos recursos naturais e no caso do Brasil trabalhamos
também à luz do recomendado pela Lei Federal No. 9433/97.
Na gestão descentralizada promove-se uma hierarquia distributiva
descentralizada que se pauta na premissa de que tudo quanto pode ser
decidido em níveis hierárquicos mais baixos de governo não será resolvido por
níveis mais altos dessa hierarquia ou seja , trata-se de uma holarquia2 e na
1 Os objetivos propostos no ProFEA, podem ser encontrados no site do Ministério do Meio Ambiente www.mma.gov.br 2 O Conforme Ken Wilber, os Sistemas Holónicos baseiam-se na noção de 'holon' que significa "o todo" e "a parte", permitindo esta dualidade que um holon seja ao mesmo tempo visto como um elemento de construção de unidades maiores e ele próprio uma dessas unidades e define duas propriedades fundamentais dos holons: autonomia (a capacidade de uma entidade criar e
16
gestão participativa, envolvem-se os usuários, à sociedade civil organizada, às
ONGs e outros agentes interessados, propiciando a possibilidade de
influenciarem no processo da tomada de decisão sobre toda e qualquer forma
de intervenção na bacia hidrográfica onde residam ou atuem. Este modelo de
gerenciamento visa então, estabelecer uma relação de poder compartilhada e
descentralizada, criando oportunidades de participação social, construindo
consensos, dirimindo conflitos e pactuando a unidade na diversidade
(QUINTAS, 2002).
Conseqüentemente, em relação ao gerenciamento e planejamento do
trabalho, a visão adotada tem uma abordagem regional integrando proteção e
recuperação de terras, águas e biodiversidade com as necessidades humanas
para o que utilizamos a “Abordagem Ecossistêmica”3 e o Mapeamento
situacional.
Este método de gestão, conhecido como “Abordagem Ecossistêmica”4,
é aplicado dentro de uma estrutura geográfica definida por limites ecológicos -
a bacia hidrográfica5, enfatizando os processos, funções e interações
essenciais entre os organismos e o ambiente físico, reconhecendo o ser
humano como um componente do ecossistema. A delimitação territorial por
Bacia Hidrográfica geralmente é diferente da divisão administrativa, ou seja, da
divisão por estados e municípios, exigindo uma efetiva integração das políticas
públicas e ações regionais.
controlar a execução dos seus próprios planos e estratégias) e cooperação (um processo no qual um conjunto de entidades desenvolve e executa planos mutuamente aceites). Assim a estrutura organizacional de um sistema holónico é denominada holarquia. O ponto forte dos sistemas holárquicos reside no fato de permitir a construção de sistemas complexos que, não obstante a sua complexidade, são eficientes na utilização de recursos, altamente resilientes às perturbações (externas e internas) e adaptáveis às mudanças no ambiente no qual existem. 3 “Ecosystem Approach” também conhecido como “Abordagem Ecossistêmica”, modelo de gestão recomendado pela ONU durante a Conferência das Partes da Convenção da Diversidade Biológica, 5º Encontro realizado em Nairóbi em maio de 2000. 4 “Ecosystem Approach” também conhecido como “Abordagem Ecossistêmica”, modelo de gestão recomendado pela ONU durante a Conferência das Partes da Convenção da Diversidade Biológica, 5º Encontro realizado em Nairóbi em maio de 2000. 5 Bacia Hidrografia é a área delimitada por pontos mais altos do relevo, por onde a água proveniente das chuvas escorre para o pontos mais baixos, formando cursos de água, rios e lagos. Uma Bacia Hidrográfica pode ultrapassar limites municipais e estaduais.
17
Por outro lado o Mapeamento Situacional, é uma ferramenta que
possibilita o pleno conhecimento da realidade local onde os processos
educacionais poderão ocorrer através das ações integradas e contextualizadas
das(os) Educadoras(es) Ambientais.
Assim sendo, através do Mapeamento Situacional mapeamos para ver o
que temos (lançar o olhar), para compartilhar o que vemos (ampliar o olhar) e
para juntos percebermos a nossa realidade (focar o olhar), para melhor poder
alcançar os seguintes objetivos: subsidiar processos de formação social do
Educador Ambiental a partir de um esboço do cenário socioambiental do
território; conhecer e apresentar a diversidade sociocultural que um programa
de educação ambiental pretende contemplar; gerar uma base de informações
para posterior aprofundamento e interpretação pelos Educadores e finalmente
apresentar os recursos, estruturas, instituições, coletivos, foros que o programa
pretende envolver e articular.
Dentre outros, os documentos utilizados como embasamento para esse
processo de formação compreendem - se:
Tratado de educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global;
A Carta da Terra;
A Política Nacional de Educação Ambiental – Lei nº 9597/99 e seu
Decreto Lei de Regulamentação nº 4281/02
O ProFEA – Programa Nacional de Formação de Educadores
Ambientais
Na Iª Jornada Internacional de Educação Ambiental do Fórum
Internacional de ONGs, durante a Eco 92, foi consolidado o Tratado de
Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade
Global. Na sua Introdução podemos ler:
“Consideramos que a educação ambiental para uma
sustentabilidade eqüitativa é um processo de aprendizagem
permanente, baseado no respeito a todas as formas de vida.
18
Tal educação afirma valores e ações que contribuem para a
transformação humana e social e para a preservação
ecológica. Ela estimula a formação de sociedades
socialmente justas e ecologicamente equilibradas, que
conservam entre si relação de interdependência e
diversidade. Isto requer responsabilidade individual e
coletiva a nível local, nacional e planetário.
Consideramos que a preparação para as mudanças
necessárias depende da compreensão coletiva da natureza
sistêmica das crises que ameaçam o futuro do planeta. As
causas primárias de problemas como o aumento da
pobreza, da degradação humana e ambiental e da violência
podem ser identificadas no modelo de civilização dominante,
que se baseia em superprodução e superconsumo para uns
e subconsumo e falta de condições para produzir por parte
da grande maioria.
Consideramos que são inerentes à crise a erosão dos
valores básicos e a alienação e a não participação da quase
totalidade dos indivíduos na construção de seu futuro. É
fundamental que as comunidades planejem e implementem
suas próprias alternativas às políticas vigentes. Dentre estas
alternativas, está a necessidade de abolição dos programas
de desenvolvimento, ajustes e reformas econômicas que
mantêm o atual modelo de crescimento com seus terríveis
efeitos sobre o ambiente e a diversidade de espécies,
incluindo a humana.
Consideramos que a educação ambiental deve gerar com
urgência mudanças na qualidade de vida e maior
consciência de conduta pessoal, assim como harmonia entre
os seres humanas e destes com outras formas de
vida”(1992).
19
No Preâmbulo da Carta da Terra, também nascida durante a Eco 92,
como produto da reflexão de uma enorme diversidade de participantes,
encontramos o seguinte:
“Estamos diante de um momento crítico na história da Terra,
numa época em que a humanidade deve escolher o seu
futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais
interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo,
grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante,
devemos reconhecer que no meio da uma magnífica
diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família
humana e uma comunidade terrestre com um destino
comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade
sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos
direitos humanos universais, na justiça econômica e numa
cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo
que, nós, os povos da Terra, declaremos nossa
responsabilidade uns para com os outros, com a grande
comunidade da vida, e com as futuras gerações.”
Já, nos dois primeiros Artigos da Lei nº 9795/99 que dispõe sobre a
Política Nacional de Educação Ambiental podemos ler:
“Art. 1o Entendem-se por educação ambiental os processos por meio
dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade.
Art. 2o A educação ambiental é um componente essencial e permanente
da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos
os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-
formal. “
20
Finalmente, encontramos no documento norteador do ProFEA -
Programa Nacional de Formação de Educadores Ambientais as seguintes
diretrizes:
“Os princípios que orientam nosso trabalho exigem uma
população cidadã, consciente da importância e da força
de sua participação, portanto nosso projeto de formação
de educadores ambientais assume o desafio de construir
uma sociedade educada, educando ambientalmente para
a sustentabilidade buscando a promoção de mudanças
que permeiem o cotidiano de todos os indivíduos e
instituições. Nesse sentido, a concepção pedagógica da
educação ambiental objetiva a articulação das ações
educativas voltadas às atividades de proteção,
recuperação e melhoria sócio ambiental, potencializando
o papel da educação para as necessárias e inadiáveis
mudanças culturais e sociais de uma transição societária
em direção a sustentabilidade.”
Finalmente, voltando ao documento norteador do ProFEA (2006) ,
entendemos que a “Pesquisa-Ação-Participante” é uma metodologia que induz
a autogestão, mas , sabemos também que ”a continuidade depende da
democratização dos processos decisórios, da mobilização de diferentes
organizações, de diferentes saberes e da sinergia de recursos”, sendo por
tanto necessária a busca da práxis onde todos os parceiros possam contribuir
com os recursos e os saberes necessários para garantir o processo.
Uma das idéias que mais prevalece, para entendermos o
processo do “enraizamento da educação ambiental” é a necessidade de
garantir a “capilaridade da educação ambiental” , ou seja criarmos estruturas
de interatividade que, de fato, garantam uma apropriação das práticas
sustentáveis em todos os níveis dos tecidos sociais envolvidos, numa analogia
do sangue que percorre nosso corpo envolvendo não somente grandes artérias
21
e veias mas até finíssimos capilares que, tal como os veios de d´água que
alimentam a terra , garantam a vida até a dimensão das suas menores células.
22
CAPÍTULO III
FORMAÇÃO DO EDUCADOR AMBIENTAL
Visando a Formação de cidadãos participantes dentro de sua
comunidade em busca da uma sensibilização que promova a mobilização e
ação individual e coletiva em favor da sustentabilidade, a metodologia para a
formação social das(os) Educadoras(es) Ambientais, promoverá condições
que favoreçam o estabelecimento e fortalecimento de laços com comunidades
e destas com os meios aos quais pertencem, para a criação de processos
sustentáveis de gestão ambiental.
A metodologia prevista envolverá a “sensibilização afetiva e a
compreensão cognitiva da complexidade ambiental, estimulando um saber
ambiental e fortalecendo a potência de ação dos diversificados atores e grupos
sociais que trabalham na perspectiva da criação de um futuro sustentável”
( ProFEA, 2006).
Assim, já aponto para alguns princípios,para um processo de formação
tais como:
Adesão ao ProFEA – estabelecendo parceria com o MMA
Promover processos de formação e qualificação dos educadores
ambientais e demais componentes do público beneficiado do programa;
Promover a construção coletiva do projeto político pedagógico da
formação de educadores ambientais;
Fomentar a criação e o desenvolvimento dos Programas Municipais de
Educação Ambiental;
Que os educadores ambientais sejam reconhecidos. Se reconheçam e
se sintam apoiados e contemplados dentro das políticas Públicas Municipais;
Que através dos processos formativos, os Educadores Ambientais, se
sintam capacitados para desenvolver ações educativas e projetos ambientais
que deixem de ser fruto do improviso,passando a promover ações planejadas
23
de forma integrada dentro de agendas anuais, com clareza de objetivos, metas
e formas de monitoramento;
No Programa de Formação está prevista também a abordagem de
integração e articulação de todos os atores e instâncias envolvidas, dentro da
realidade sócio-ambiental local e regional, possibilitando uma maior e melhor
compreensão, por parte das(os) Educadoras(es) Ambientais, quanto a
relevância do papel que desempenharão nos Coletivos Educadores.
Processos Educacionais
Tendo como referência o ProFEA , bem como os princípios dos
Documentos de referencia já apontados é possível afirmar que a
Educação Ambiental:
. Faz parte do cotidiano de todo e qualquer cidadão;
. Deve ser planejada para todos os espaços de ação, vivencia e
convivência dos cidadãos, não devendo ser restrita somente ao trabalho em
sala de aula;
. Deve acontecer de maneira continua e permanente bem como de
forma presencial e difusa, através de diferentes vias tais como ”oficinas, cursos
presenciais, textos, programas radiofônicos, de TV... a através de “um
viveiro, uma trilha interpretativa ecológica rural ou urbana, uma mostra
24
fotográfica, uma faixa de pedestres, um Centro de Educação Ambiental”
(ProFEA, 2006)
Entendo também que para promover a continuidade e a auto-gestão dos
processos formativos, é condição necessária a multiplicidade que caracteriza
os “Cardápios de conteúdos”, superando o conceito tradicionalmente instituído
de acreditar-se que a educação se dá somente no encontro presencial e em
sala de aula.
Tenho então como princípios metodológicos para a formação de
educadores(as) ambientais: a Pedagogia da Práxis, a prática da Pesquisa-
Ação-Participante, o DRP a Inter e a transdisciplinaridade, o estabelecimento
de Comunidade de Aprendizagem e o trabalho através do Cardápio de
Conteúdos.
Por outro lado, acreditamos, para que os processos educacionais
possam dar-se de forma contextualizada, contribuindo para que cada ator
envolvido consiga enxergar-se como co-responsável e co-autor das ações de
educação ambiental que levem as comunidades a buscar práticas sustentáveis
local e regionalmente, tendo como foco principal de atenção toda a beleza da
dinâmica que caracteriza os recursos naturais.
O Processo de Formação Social para Educadores Ambientais, tem
como linha mestre de sua metodologia a “(...) potencialização de processos de
formação de educadoras e educadores ambientais, por intermédio do
estabelecimento de articulações entre instituições que atuam com atividades
socioambientais de caráter pedagógico. Bem como a “(...) harmonização de
interesses entre as instituições ofertantes e demandantes de processos
formativos em educação ambiental que contribuam na criação de sociedades
sustentáveis”(ProFEA 2006).
Em outras palavras, visa: Sensibilizar para repensar valores e atitudes,
valorizando os saberes e as relações interpessoais, resgatando o
pertencimento do ser humano com a natureza para estimular o exercício da
cidadania, através do empoderamento para a mobilização social, despertando
o sentimento de cooperação pela busca da qualidade de vida ao traduzir a
25
ciência com criatividade para potencializar toda e qualquer ação que contribua
para a sustentabilidade local e regional.
A seqüência proposta para os processos educadores perpassa as
seguintes etapas: Sensibilização – Pesquisa – Criação – Mobilização, nas
quais o papel das(os) educadoras(es) Ambientais é de fundamental
importância, enquanto agentes vitais deste processo, que além do
conhecimento específico, tal como os rios, precisam da persistência da água
que na sua passagem vai deixando marcas com o decorrer do tempo e o
acolhimento para todos os jeitos de ser e fazer dos que fazem parte das
comunidades tal como as águas acolhem e abrigam todas as formas de vida
em harmoniosa relação.
Neste contexto e conforme o ProFEA, (2006), a “Formação de
Educadoras(es) Ambientais”,
“refere-se à formação de educadoras(es) cuja função
primordial é editar o conhecimento construído durante o
seu processo de aprendizagem, apropriando-o para o seu
contexto e atuando na formação de novos
educadores(as)/editores(as)”. Por outro lado “o processo
consiste em reforçar a capacidade dos editores para
estabelecer convergência entre as questões sociais e
ambientais, o local e o global, além de sintetizar a
complexidade envolvida nas questões ambientais,
potencializando a sua ação junto a sua base no sentido
de identificar e contribuir para a formação de novos
formadores/editores que atuem como educadores(as)
ambientais cotidianamente”
Por outro lado, entendendo que a dinâmica do ensino aprendizagem
constitui uma construção participativa, curiosa, permanente e de acordo com a
realidade local, os processos formativos devem além de informar contribuir
também com a formação das(os) educadoras(es) ambientais, uma vez que a
26
formação constitui um processo educativo, capaz de construir conhecimentos e
valores transformando-os em ações práticas.
Entendo que a integração e a intersetorialidade na realização das ações
e atividades serão um exercício constante para garantir a transversalidade,
reforçando a importância do trabalho em rede.
As estratégias previstas, para a Formação de Educadores – Educadoras
Ambientais prevê:
Realização de Mapeamentos ou Diagnósticos das realidades sócio-
ambientais locais de onde os educadores e educadoras provem, nas suas
principais características, atores, potencialidades e conflitos;
Realização de Oficinas sócio-participativas e colaborativas;
Registro, análise e sistematização regular das experiências com
divulgação e compartilhamento das informações, como referência para
replicabilidade, de acordo com o seguinte roteiro sugerido: De onde partimos? -
Por quê? - O que foi feito? - Para quê? - Com quem? - De que forma? - Quais
os resultados obtidos? -Reflexões e Conclusões.
3.1 - Modalidades Ensino/Aprendizagem
E assim, aos poucos, de mansinho como os regatos que correm mansos
em tardes de verão, vamos nos apropriando dos referenciais necessários para
entender o papel do Educador Ambiental.
Vamos os agora navegar pelas águas das “modalidades de
ensino/aprendizagem” propostas .
As 3 modalidades de Ensino/Aprendizagem a serem utilizadas são:
. Educação Presencial;
. Educação à Distância;
. Educação Difusa
Com a utilização dessas modalidades esperamos que as(os)
Educadoras(es) Ambientais possam contribuir para:
. Efetivar a EA, tanto nas escolas como fora delas, de forma contínua e
permanente;
27
. Criar materiais coerentes com a realidade local em parceria com
universidades e outras instituições (estudos ambientais);
. Envolver a comunidade nos projetos do ensino formal;
. Resgatar a identidade cultural para despertar o sentido de
pertencimento na comunidade;
. Entender a escola e/ou a comunidade como espaços para discutir,
experimentar e exercitar as questões de política pública;
. Trabalhar com a Política da EA integrada e respaldada pela política
ambiental;
. Trabalhar com o ensino formal como um potencializador de
experiências e práticas;
. Promover a participação efetiva da comunidade na gestão por meio de
metodologias adequadas
3.1.1 - Educação Presencial
Esta modalidade implica processos que devem propiciar e promover
relações de interatividade significativa, com múltiplos sentidos, múltiplas
linguagens. O contato direto implícito na Educação Presencial possibilita o
fortalecimento de laços, e a definição mais precisa dos sonhos que mobilizam
os educadores, bem como favorece a percepção dos entraves que dificultam a
concretização dos mesmos.
3.1.2- Educação à Distância
Pautados, novamente no ProFEA e entendendo também que ensino e
aprendizagem não são lineares ou iguais, a educação à distância se constitui
numa das bases da sustentabilidade dos nossos processos de formação de
educadores(as) ambientais.
3.1.3- Educação Difusa
Nesta modalidade, está implícita uma riqueza muito grande de
diferentes processos, manifestações e linguagens gerados por educadores(as)
e educandos(as). Como é planejada e implementada em cada contexto, tem
28
uma natureza similar à educomunicação socioambiental proposta pela
Diretoria de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, entretanto
torna-se mais qualificada e apropriada localmente (municípios que fazem parte
do Comitê, com suas respectivas realidades locais e regionais). Essa
modalidade consegue sensibilizar os participantes com ações presenciais
enriquecidas e fortalecidas depois, através da “difusão educativa” por diversos
meios de comunicação, tornando-os mais receptivos à ação dos(as)
educadores(as) e estimulando-os a buscar e construir conhecimentos e a
tomarem atitudes para além daquelas deflagradas pelas modalidades
presenciais e à distância.
3.2 - Eixos Pedagógicos
Os Eixos Pedagógicos apontados pelo ProFEA são: ”o acesso a
conteúdos e processos formadores por meio de Cardápios6; a constituição e
participação em Comunidades Interpretativas e de Aprendizagem e a
elaboração, implementação e avaliação de Intervenções Educacionais como
Práxis Pedagógica”
3.2.1- Cardápios de Aprendizagem
Pautados nos conceitos e princípios que fundam a perspectiva da
Educação Ambiental, tais como: “Autonomia, Complexidade, Democracia,
Identidade, Inclusão Social, Justiça Ambiental, Participação, Pertencimento,
Diversidade, Sustentabilidade, Emancipação, Potência de
Ação/Empoderamento” (ProFEA, 2006), e , construído pela acumulação de
conhecimentos ao longo dos últimos sete anos o Cardápio de aprendizagem
contém dois módulos :
I. Módulo Básico
II. Módulo Optativo (a ser oferecido no momento da intervenção
educacional, ou seja, gradativamente, conforme a diversidade de demandas
6 Conforme a base conceitual do ProFEA, entendemos por Cardápios à lista de possibilidades que podem servir como recurso para a formação de educadores ambientais (disciplinas no
29
contextualizadas que as(os) educadoras(es) irão enfrentando em suas ações e
intervenções locais e/ou regionais),
Ambos módulos consideram a realidade local e o cotidiano da
população, contendo temas significativos e necessários, pautados nos
levantamentos diagnósticos fruto dos Mapas Situacionais realizados que
servirão de base para a formação das(os) educadoras(es) ambientais.
3.3 - Módulo Básico
Os temas do Módulo Básico, considerados essenciais para o programa
de formação, aqui denominado de cardápio de aprendizagem básico, estão
contidos em 4 eixos:
1 - O sentido da educação ambiental
2 - O endereço ecológico
3- Metodologias e Materiais para as intervenções participativas na
realidade socioambiental
4 - Gestão ambiental compartilhada
Os eixos terão uma abordagem conceitual e prática, envolvendo a
formulação, implementação, monitoramento e avaliação das ações em nível
local e regional de projetos na área de Meio Ambiente, com dinâmicas que
privilegiem saídas a campo e estudos de meio. Serão trabalhados conceitos,
problemas, conflitos e riscos socioambientais, para que os educadores estejam
aptos a compreendê-los na área onde atuam, apontando a importância do
trabalho conjunto na busca por soluções para a sustentabilidade dentro da
região.
3.3.1 - O Sentido da Educação Ambiental
Entendendo que “o conteúdo das mudanças de procedimento, atitude,
comportamento, opção política, escolhas enquanto consumidor, enquanto
produtor, as modificações tecnológicas, deve ser definido com ou a partir
das(os) educandas(os), imersos em seu contexto cultural, político, ambiental”
ensino formal, materiais didáticos diversos, vídeos, oficinas, consultorias, softwares, jogos,
30
(ProFEA, 2006), este eixo, como primeira parte do cardápio de aprendizagem
básico está voltado a um trabalho de sensibilização e de despertar dos
participantes, primeiramente enquanto “Pessoas”, e depois, como cidadãos-
educadores ambientais, uma vez que reconhece que cada ser humano detém
o direito à participação, à definição de seu futuro e à construção da sua
realidade.” (ProFEA 2006)
Nesse eixo, o foco estará fortemente pautado em ações e movimentos
de sensibilização para o valor e beleza implícita na vida per se, bem como no
fortalecimento dos vínculos de pertinência dos participantes com as suas
respectivas realidades e histórias locais, trabalhando-se com os potenciais
das(os) educadoras(es), tais como: Alegria, Carinho, Criatividade,
Compromisso, Conhecimento, Conhecimento técnico, Dinamismo, Interesse,
Paciência, Perseverança, Qualidade, Responsabilidade, Sinergia e
fundamentalmente Esperança.
Espera-se que, com esta abordagem, os(as) educadores(as) ambientais
tenham clareza das suas possibilidades pessoais e das necessidades do outro,
que tenham em seu dia-a-dia o espírito da cooperação e da igualdade entre as
partes além de se sentirem como parte do meio ambiente em que vivem e
responsáveis pelo mesmo.
Desta forma, o processo formativo terá como resultado pessoas
sensibilizadas e com clareza do seu papel de Educador(a) Ambiental. Assim,
nesse eixo serão vivenciadas e apreendidas as técnicas de senso-percepção
ambiental e compreendidas as diversidades de Educações Ambientais
existentes, para que toda intervenção deflagrada, por meio das(os)
Educadoras(es) Ambientais, esteja permeada pelos pilares de Participação,
Humanização nas ações, respeito pela Coletividade, busca pela Integração,
Atitude, Confiança, Harmonia, Mudanças cultural, Socialização e Capilaridade.
RPGs, dentre outros)
31
3.3.2 - O endereço ecológico
O segundo eixo do Cardápio aborda os conceitos, problemas, conflitos
e riscos socioambientais, objetivando a compreensão dos principais problemas
e conflitos da área de atuação e a importância da sustentabilidade dentro da
mesma. Os temas serão:
A visão de meio ambiente e natureza ontem e hoje;
Ecossistemas locais;
História da formação geológica do nosso pedaço, formação dos
ecossistemas, principais características destes ecossistemas;
Bacias hidrográficas e microbacias como referência para a
compreensão e gestão das questões ambientais;
Relações sistêmicas dentro das bacias hidrográficas (exemplo: Água e
floresta);
Processo de ocupação antrópica: problemas e conflitos socioambientais
(poluição/saneamento, lixo/gestão de resíduos sólidos, especulação
imobiliária/ordenamento do solo, extração mineral/sustentabilidade);
Outros que a própria dinâmica local apontar como relevantes.
3.3.3 - Metodologias e Materiais para as intervenções
participativas na realidade socioambiental
A partir do que foi apresentado e discutido nos eixos anteriores, aqui
serão abordadas as formas de intervenções possíveis nos endereços
ecológicos, aos quais os participantes pertencem.
Formas de intervenção – Autoritarismo, Democracia, Holarquia;
Mobilização social e níveis de participação;
Metodologias participativas: Pesquisa-Ação Participante, Biomapas,
diagnósticos participativos, oficinas do futuro, Projeto CAM;
Educomunicação (murais, campanhas, rádio local, jornal local entre
outros).
Nesse módulo, o grupo deverá adquirir competência para planejar,
executar e avaliar uma intervenção educativa em seu território.
32
“A intervenção é o eixo central do processo
formativo, envolvendo ações educacionais intencionais
dos educandos junto com outros sujeitos da
comunidade. Este eixo metodológico se aplica a todos
os grupos de Pesquisa-Ação-Participante; os Coletivos
Educadores têm por intervenção educacional o
processo que desenvolvem junto aos Formadores de
Educadoras(es) Ambientais, as(os) Educadoras(es)
Ambientais Populares, por sua vez, com as pessoas de
sua comunidade planejam e executam intervenções
educadoras socioambientais, buscando soluções para
problemas concretos da comunidade.
A idéia de Práxis que embasa o eixo das Intervenções
Educadoras traz implícita a necessidade da articulação
orgânica de ação e reflexão; ação e teoria são
indissociáveis em qualquer projeto transformador. A
centralidade deste eixo metodológico não demarca
uma hierarquia entre os eixos, mas sugere que a
demanda por itens de cardápio de aprendizagem e as
pautas das Comunidades Interpretativas e de
Aprendizagem são definidas a partir daquilo que
emana da Práxis pedagógica7.” (ProFEA 2006)
As intervenções educacionais são essenciais dentro dos processos
formativos e deverão ter como ponto de partida a realidade local e o cotidiano
da população, trabalhando sob a ótica da Bacia Hidrográfica e da imagem do
território para diagnóstico e planejamento participativo das ações. Para o
aprofundamento da metodologia, planejamento, delineamento e avaliação da
7 Práxis significa ação transformadora e Pedagogia da Práxis é um conceito desenvolvido no contexto da filosofia marxista: trata-se da teoria de uma prática pedagógica que procura não esconder o conflito, a contradição, mas ao contrário, entende-se como inerentes à existência humana, explicitando-os e convivendo com eles. (GADOTTI, 2005)
33
intervenção educativa, os educandos terão o acompanhamento de tutores
facilitadores.
Nessa etapa, os educandos poderão escolher temas que possibilitem o
desenvolvimento de projetos de forma mais efetiva, contínua e participativa
reforçando as ferramentas apresentadas na formação básica que auxiliem na
construção de uma nova atuação profissional engajada na transformação da
realidade. Esses temas serão apresentados em cardápios de aprendizagem,
inseridos no Módulo Optativo.
Alguns dos temas que surgiram ao longo dos processos de formação já
vivenciados são:
Ecoturismo e Gestão de recursos pesqueiros;
Legislação ambiental;
Saúde e meio ambiente, saneamento e resíduos sólidos;
UC´s e EA em UCs;
Hortos, viveiros e trilhas interpretativas: planejamento, construção e
utilização pedagógica;
Oficinas de reaproveitamento de materiais e reciclagem artesanal de
papel;
Jogos cooperativos no trabalho do educador ambiental;
Elaboração de projetos e captação de recursos;
Saberes e práticas tradicionais: como resgatá-las;
Como formar uma cooperativa;
Guia metodológico de oficinas de informação ambiental;
Educação socioambiental e geração de renda.
Cabe ressaltar que o Cardápio estará sujeito a alterações conforme as
demandas a serem registradas nos mapeamentos como parte da estratégia
pedagógica para fortalecimento e/ou consolidação do processo formativo
É importante ressaltar que a divisão apresentada em 4 eixos tem mais
uma característica didática do que real, pois no trabalho de Educação
34
Ambiental os temas que compõem cada eixo devem permanentemente estar
integrados e interligados inter e transdisciplinarmente.
3.3.4 - Gestão Ambiental Compartilhada
Nesse eixo, serão apresentados e discutidos os princípios, a legislação
e as formas e instrumentos de intervenção que já estão sendo utilizados na
gestão ambiental compartilhada na região e que deverão ser fortalecidos pela
ação das(os) educadoras(es) ambientais.
Dentre as formas organizacionais e os instrumentos regionais,
municipais e locais de intervenção serão apresentados:
Coletivos para gestão ambiental compartilhada, tais como:
Plenária de ONGs, Eco clubes, COMVIDAS, Núcleos municipais de EA,
conselhos municipais, Consórcio Intermunicipal, Comitê de Bacia, Sub-comitês
e comitês de microbacias; Conselhos gestores de Ucs e Câmaras Técnicas.
Instrumentos para a gestão ambiental compartilhada, tais como: Agenda
21 locais e municipais, códigos e leis ambientais, orçamentos participativos,
planos de bacias e microbacias, plano diretor municipal, audiências públicas,
etc.
Caberá a cada Educador(a) a decisão das melhores formas ou
ferramentas de Gestão a serem adotadas conforme as demandas e realidade
locais.
35
CAPÍTULO IV
METODOLOGIAS DE TRABALHO
Neste capítulo final apresentam-se algumas ferramentas que
acreditamos podem ser úteis para facilitar e subsidiar o trabalho dos
Educadoras(es) Ambientais. As mesmas vem sendo aplicadas e trabalhadas
nas diversas instâncias de formação já propostas e desenvolvidas por alguns
comitês junto aos diversos atores dos vários Municípios.
Por metodologia podemos etimológicamente compreender como origem
a palavra grega metá = a seguir e hodós = caminho, estrada, etc.(Dicionário
Aurélio). Método = Caminho a seguir. Um caminho a seguir de forma
compartilhada e participativa. Para isso a metodologia aqui apresentada, é
participativa, cujo o objetivo é o de propiciar a participação, uma vez que
acreditamos ser a educação ambiental um processo de ação, de construção e
reconstrução coletiva e dialógica.
Existe uma infinidade de ferramentas e métodos participativos que
podem ser utilizados pelos educadores ambientais; para o uso das mesmas é
importante observar que as ferramentas escolhidas deve facilitar que sejam
trazidas as múltiplas perspectivas existentes no tema a ser trabalhado.
4.1 - MAPEAMENTO - Contando nossa história
Este é um ótimo começo para poder localizar-se no seu papel de
Educador(a) Ambiental. Quanto mais detalhadamente conhecer a realidade da
comunidade onde vai atuar mais facilidade haverá de contextualizar as linhas
de ação a serem construídas conjuntamente com todos os envolvidos no
processo!
Em geral a prática do registro não costuma fazer parte da cultura
organizativa das comunidades, assim, esta ferramenta permite que as(os)
36
Educadoras(es) Ambientais orientem um melhor registro do histórico das
atividades realizadas pelas mesmas.
Uma das características importante do mapeamento é a idendificação
da diversidade de atores sociais atuantes no mesmo território, sua distribuição
espacial e social, suas características socioeconômicas e culturais. Feito o
mapeamento é chegada a hora de partir para o diagnóstico, ou seja, para a
identificação e análise dos problemas socioambientais, com explicitação das
ideologias que fundamentam a avaliação daquilo que é desejável ou não para
a construção de sociedade sustentáveis naquele território.
4.1.1 – Biomapa –
O biomapa é uma metodologia flexível, que pode ser usada com
diferentes grupos sociais. O material base para essa metodologia é uma base
cartográfica da região, onde se estará desenvolvendo o diagnóstico.
Deve se pensar em formas que serão utilizadas pelos participantes para a
sinalização dos itens nos diversos mapas (fotos, imagens, desenhos, pinturas,
figuras, cores, símbolos, íconesououtros).
É importante o desenvolvimento de um trabalho voltado à identificação dos
participantes e de suas relações com o espaço e a comunidade no qual estão
inseridos, os conhecimentos que poderão ser aplicados e suas expectativas
em relação ao trabalho a ser realizado. Para esta identificação inicial podem
ser utilizadas técnicas de dinâmicas de grupo.
Para identificar na base cartográfica, os itens a serem mapeados, tais como
características físicas (vegetação, hidrografia, urbanização, domicílios,
serviços, etc.), percepção e sensibilização (áreas e locais agradáveis, seguros,
perigosos, sujos, barulhentos, etc), e documentação histórica (configuração
passada, processos de transformação, etc.) podem ser elaborados um ou mais
mapas de acordo com o tema ou informação a ser sinalizada. Pode-se
incorporar ao trabalho atividades de campo, caminhadas, estudos do meio e
passeios para registro de informações dos locais mapeados. Tais registros
devem ser transpostos para o mapa referente. Após a elaboração dos mapas,
37
os resultados e informações obtidos se configuram em um significativo “retrato”
da percepção e das demandas da comunidade, podendo ser utilizados como
instrumentos de conhecimento ou enquanto subsídio aos processos de
planejamento e gestão, estímulo à participação popular e democratização e
troca de informações e experiências entre técnicos, gestores e cidadãos. Os
biomapas elaborados podem ser apresentados à toda a comunidade,
promovendo outras discussões acerca dos assuntos mais importantes e das
idéias de batidas durante o processo.
Finalizados os biomapas, os mesmos devem ser expostos em locais de fácil
acesso e visibilidade para consulta dos participantes, das comunidades e
outros interessados e devem ser atualizados periodicamente.”
4.2 - DRP – Diagnóstico Rápido Participativo ou
Diagnóstico Rural Participativo.
“O Diagnóstico Rural Participativo (DRP) é um conjunto de técnicas e
ferramentas que permite que as comunidades façam o seu próprio diagnóstico
e a partir daí comecem a autogerenciar o seu planejamento e
desenvolvimento. Desta maneira, os participantes poderão compartilhar
experiências e analisar os seus conhecimentos, a fim de melhorar as suas
habilidades de planejamento e ação. Embora originariamente tenham sido
concebidas para zonas rurais, muitas das técnicas do DRP podem ser
utilizadas igualmente em comunidades urbanas.
O DRP pretende desenvolver processos de pesquisa a partir das condições e
possibilidades dos participantes, baseando-se nos seus próprios conceitos e
critérios de explicação. Em vez de confrontar as pessoas com uma lista de
perguntas previamente formuladas, a idéia é que os próprios participantes
analisem a sua situação e valorizem diferentes opções para melhorá-la. O
objetivo principal do DRP é apoiar a autodeterminação da comunidade pela
participação
e, assim, fomentar um desenvolvimento sustentável.” Verdejo 2006.
38
4.3 - Oficina do Futuro - Metodologias de Avaliação de projetos de desenvolvimento local.
Em Oficinas do Futuro, participantes de diversas classes sociais e/ou
diferentes formações profissionais discutem temas ou problemas de forma
democrática, que permite a expressão de opiniões fundamentadas em
argumentos técnicos e estudos científicos como também o aproveitamento do
chamado “saber popular“. As oficinas estabelecem espaços que permitem que
nessa discussão questões de domínio de certos grupos ou pensamentos
sejam reduzidas ou eliminadas. A metodologia consiste em se desenhar em
um papel uma árvore gigante e em outro um muro, também gigante. Os
participantes recebem papéis menores em formas de folhas, frutos e pedras.
Nas folhas e frutos devem escrever, os sonhos que desejam para aquele lugar
e nas pedras o que impede a realização desse sonho. Após a montagem da
arvores dos sonhos e do muro das dificuldades, se discute maneiras, ações
que podem resolver as questões levantadas. Cria-se então um plano de ação
popular.
39
CONCLUSÃO
Estamos vivendo uma grande crise socioambiental, revelada através
de diversas formas de degradação, como desmatamento, aquecimento global,
trabalho escravo, prostituição infantil, analfabetismo, e todas estão
relacionadas entre si.
Estamos diante de uma situação emergencial que para ser enfrentada
necessita da integração dos vários campos do saber.
. Na busca de solução e na integração dos saberes, se vislumbra a atuação
de biólogos, advogados, professores, economistas, médicos, engenheiros,
ambientalistas, que atuam em contextos educativos, sociais e ambientais. No
âmbito da educação ambiental, temos ambientalistas atuando como
educadores e educadores atuando como ambientalistas . Diante do novo
quadro socioambiental está surgindo o “profissional educador ambiental”.
Idealiza-se um profissional critico e atuante, que se sinta pertencente ao
processo de construção, ao processo da relação com o outro, construindo uma
sociedade de forma emancipatória e coletiva.
Buscando o que não se pode faltar em um processo de formação para
esse “profissional educador ambiental” depare-se com um processo de
formação constituído por quatro eixos: O sentido da educação ambiental, O
endereço ecológico, Metodologias e Materiais para as intervenções
participativas na realidade socioambiental, Gestão ambiental compartilhada.
No final desse processo o “profissional educador ambiental”, deverá ter
condições de ajudar a sociedade perceber o que está acontecendo, para que
se construa, de forma participativa, uma ação contrária a esse paradigma o
qual estamos vivendo. Para que um indivíduo tome um posicionamento político
claro é preciso que ele saiba quem ele é, e como pretende atuar nesse mundo
e essa atuação não pode ser individual, mas coletiva, participativa, articulada,
criada em um movimento conjunto de articulação, mobilização. Saber como
criar esse movimento articulado é o que o “profissional educador ambiental”
construirá durante o seu processo de formação.
40
ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1 Tratado de Educação Ambiental
Anexo 2 Carta de Transdisciplinaridade Anexo 3 Carta da Terra
41
ANEXO 1
Tratado de Educação Ambiental para
Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global
Este Tratado, assim como a educação, é um processo dinâmico em
permanente construção. Deve portanto propiciar a reflexão, o debate e a sua
própria modificação. Nós, signatários, pessoas de todas as partes do mundo,
comprometidos com a proteção da vida na Terra, reconhecemos o papel
central da educação na formação de valores e na ação social.
Comprometemo-nos com o processo educativo transformador através de
envolvimento pessoal, de nossas comunidades e nações para criar sociedades
sustentáveis e eqüitativas.
Assim, tentamos trazer novas esperanças e vida para nosso pequeno,
tumultuado, mas ainda assim belo planeta.
Introdução
Consideramos que a educação ambiental para uma sustentabilidade eqüitativa
é um processo de aprendizagem permanente, baseado no respeito a todas as
formas de vida. Tal educação afirma valores e ações que contribuem para a
transformação humana e social e para a preservação ecológica. Ela estimula a
formação de sociedades socialmente justas e ecologicamente equilibradas,
que conservam entre si relação de interdependência e diversidade. Isto requer
responsabilidade individual e coletiva em nível local, nacional e planetário.
Consideramos que a preparação para as mudanças necessárias depende da
compreensão coletiva da natureza sistêmica das crises que ameaçam o futuro
do planeta. As causas primárias de problemas como o aumento da pobreza, da
degradação humana e ambiental e da violência podem ser identificadas no
modelo de civilização dominante, que se baseia em superprodução e
superconsumo para uns e em subconsumo e falta de condições para produzir
por parte da grande maioria.
42
Consideramos que são inerentes à crise a erosão dos valores básicos e a
alienação e a não-participação da quase totalidade dos indivíduos na
construção de seu futuro. É fundamental que as comunidades planejem e
implementem suas próprias alternativas às políticas vigentes. Dentre essas
alternativas está a necessidade de abolição dos programas de
desenvolvimento, ajustes e reformas econômicas que mantêm o atual modelo
de crescimento, com seus terríveis efeitos sobre o ambiente e a diversidade de
espécies, incluindo a humana.
Consideramos que a educação ambiental deve gerar, com urgência, mudanças
na qualidade de vida e maior consciência de conduta pessoal, assim como
harmonia entre os seres humanos e destes com outras formas de vida.
Princípios da Educação para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade
Global
A educação é um direito de todos; somos todos aprendizes e educadores.
A educação ambiental deve ter como base o pensamento crítico e inovador,
em qualquer tempo ou lugar, em seus modos formal, não-formal e informa l,
promovendo a transformação e a construção da sociedade.
A educação ambiental é individual e coletiva. Tem o propósito de formar
cidadãos com consciência local e planetária, que respeitem a
autodeterminação dos povos e a soberania das nações.
A educação ambiental não é neutra, mas ideológica. É um ato político.
A educação ambiental deve envolver uma perspectiva holística, enfocando a
relação entre o ser humano, a natureza e o universo de forma interdisciplinar.
A educação ambiental deve estimular a solidariedade, a igualdade e o respeito
aos direitos humanos, valendo-se de estratégias democráticas e da interação
entre as culturas.
A educação ambiental deve tratar as questões globais críticas, suas causas e
inter-relações em uma perspectiva sistêmica, em seu contexto social e
histórico. Aspectos primordiais relacionados ao desenvolvimento e ao meio
ambiente, tais como população, saúde, paz, direitos humanos, democracia,
fome, degradação da flora e fauna, devem se abordados dessa maneira.
43
A educação ambiental deve facilitar a cooperação mútua e eqüitativa nos
processos de decisão, em todos os níveis e etapas.
A educação ambiental deve recuperar, reconhecer, respeitar, refletir e utilizar a
história indígena e culturas locais, assim como promover a diversidade cultural,
lingüística e ecológica. Isto implica uma visão da história dos povos nativos
para modificar os enfoques etnocêntricos, além de estimular a educação
bilíngüe.
A educação ambiental deve estimular e potencializar o poder das diversas
populações, promovendo oportunidades para as mudanças democráticas de
base que estimulem os setores populares da sociedade. Isto implica que as
comunidades devem retomar a condução de seus próprios destinos.
A educação ambiental valoriza as diferentes formas de conhecimento. Este é
diversificado, acumulado e produzido socialmente, não devendo ser
patenteado ou monopolizado.
A educação ambiental deve ser planejada para capacitar as pessoas a
trabalharem conflitos de maneira justa e humana.
A educação ambiental deve promover a cooperação e do diálogo entre
indivíduos e instituições, com a finalidade de criar novos modos de vida,
baseados em atender às necessidades básicas de todos, sem distinções
étnicas, físicas, de gênero, idade, religião ou classe.
A educação ambiental requer a democratização dos meios de comunicação de
massa e seu comprometimento com os interesses de todos os setores da
sociedade. A comunicação é um direito inalienável e os meios de comunicação
de massa devem ser transformados em um canal privilegiado de educação,
não somente disseminado informações em bases igualitárias, mas também
promovendo intercâmbio de experiências, métodos e valores.
A educação ambiental deve integrar conhecimentos, aptidões, valores, atitudes
e ações. Deve converter cada oportunidade em experiências educativas de
sociedades sustentáveis.
A educação ambiental deve ajudar a desenvolver uma consciência ética sobre
todas as formas de vida com as quais compartilhamos este planeta, respeitar
44
seus ciclos vitais e impor limites à exploração dessas formas de vida pelos
seres humanos.
Programa Nacional de Educação Ambiental
Diretoria de Educação Ambiental/MMA
Esplanada dos Ministérios
Bloco B – 5o andar
70068-900 – Brasília – DF
Tel. (61) 317-1207
Fax: (61) 225-3405
www.mma.gov.br/educambiental
45
ANEXO 2
Carta de Transdisciplinaridade
Preâmbulo
Considerando que a proliferação atual das disciplinas acadêmicas conduz a
um crescimento exponencial do saber que torna impossível qualquer olhar
global do ser humano;
Considerando que somente uma inteligência que se dá conta da dimensão
planetária dos conflitos atuais poderá fazer frente à complexidade de nosso
mundo e ao desafio contemporâneo de autodestruição material e espiritual de
nossa espécie;
Considerando que a vida está fortemente ameaçada por uma tecnociência
triunfante que obedece apenas à lógica assustadora da eficácia pela eficácia;
Considerando que a ruptura contemporânea entre um saber cada vez mais
acumulativo e um ser interior cada vez mais empobrecido leva à ascensão de
um novo obscurantismo, cujas conseqüências sobre o plano individual e social
são incalculáveis;
Considerando que o crescimento do saber, sem precedentes na história ,
aumenta a desigualdade entre seus detentores e os que são desprovidos dele,
engendrando assim desigualdades crescentes no seio dos povos e entre as
nações do planeta;
Considerando simultaneamente que todos os desafios enunciados possuem
sua contrapartida de esperança e que o crescimento extraordinário do saber
pode conduzir a uma mutação comparável à evolução dos humanóides à
espécie humana;
Considerando o que precede, os participantes do Primeiro Congresso Mundial
de Transdisciplinaridade (Convento de Arrábida, Portugal 2 - 7 de novembro de
1994) adotaram o presente Protocolo entendido como um conjunto de
princípios fundamentais da comunidade de espíritos transdisciplinares,
constituindo um contrato moral que todo signatário deste Protocolo faz consigo
mesmo, sem qualquer pressão jurídica e institucional.
46
- Artigo 1:
Qualquer tentativa de reduzir o ser humano a uma mera definição e de
dissolvê-lo nas estrutura formais, sejam elas quais forem, é incompatível com a
visão transdisciplinar.
- Artigo 2:
O reconhecimento da existência de diferentes níveis de realidade, regidos por
lógicas diferentes é inerente à atitude transdisciplinar. Qualquer tentativa de
reduzir a realidade a um único nível regido por uma única lógica não se situa
no campo da transdisciplinaridade.
- Artigo 3:
A transdisciplinaridade é complementar à aproximação disciplinar: faz emergir
da confrontação das disciplinas dados novos que as articulam entre si;
oferece-nos uma nova visão da natureza e da realidade. A
transdisciplinaridade não procura o domínio sobre as várias outras disciplinas,
mas a abertura de todas elas àquilo que as atravessa e as ultrapassa.
- Artigo 4:
O ponto de sustentação da transdisciplinaridade reside na unificação
semântica e operativa das acepções através e além das disciplinas. Ela
pressupõe uma racionalidade aberta por um novo olhar, sobre a relatividade
definição edas noções de "definição"e "objetividade". O formalismo excessivo,
a rigidez das definições e o absolutismo da objetividade comportando a
exclusão do sujeito levam ao empobrecimento.
- Artigo 5:
A visão transdisciplinar está resolutamente aberta na medida em que ela
ultrapassa o domínio das ciências exatas por seu diálogo e sua reconciliação
não somente com as ciências humanas mas também com a arte, a literatura, a
poesia e a experiência espiritual.
- Artigo 6:
Com a relação à interdisciplinaridade e à multidisciplinaridade, a
transdisciplinaridade é multidimensional. Levando em conta as concepções do
tempo e da história, a transdisciplinaridade não exclui a existência de um
horizonte trans-histórico.
47
- Artigo 7:
A transdisciplinaridade não constitui uma nova religião, uma nova filosofia, uma
nova metafísica ou uma ciência das ciências.
- Artigo 8:
A dignidade do ser humano é também de ordem cósmica e planetária. O
surgimento do ser humano sobre a Terra é uma das etapas da história do
Universo. O reconhecimento da Terra como pátria é um dos imperativos da
transdisciplinaridade. Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade, mas,
a título de habitante da Terra, é ao mesmo tempo um ser transnacional. O
reconhecimento pelo direito internacional de um pertencer duplo - a uma nação
e à Terra - constitui uma das metas da pesquisa transdisciplinar.
- Artigo 9:
A transdisciplinaridade conduz a uma atitude aberta com respeito aos mitos, às
religiões e àqueles que os respeitam em um espírito transdisciplinar.
- Artigo 10:
Não existe um lugar cultural privilegiado de onde se possam julgar as outras
culturas. O movimento transdisciplinar é em si transcultural.
- Artigo 11:
Uma educação autêntica não pode privilegiar a abstração no conhecimento.
Deve ensinar a contextualizar, concretizar e globalizar. A educação
transdisciplinar reavalia o papel da intuição, da imaginação, da sensibilidade e
do corpo na transmissão dos conhecimentos.
- Artigo 12:
A elaboração de uma economia transdisciplinar é fundada sobre o postulado
de que a economia deve estar a serviço do ser humano e não o inverso.
- Artigo 13:
A ética transdisciplinar recusa toda atitude que recusa o diálogo e a discussão,
seja qual for sua origem - de ordem ideológica, científica, religiosa, econômica,
política ou filosófica. O saber compartilhado deverá conduzir a uma
compreensão compartilhada baseada no respeito absoluto das diferenças
entre os seres, unidos pela vida comum sobre uma única e mesma Terra.
48
- Artigo 14:
Rigor, abertura e tolerância são características fundamentais da atitude e da
visão transdisciplinar. O rigor na argumentação, que leva em conta todos os
dados, é a barreira às possíveis distorções. A abertura comporta a aceitação
do desconhecido, do inesperado e do imprevisível. A tolerância é o
reconhecimento do direito às idéias e verdades contrárias às nossas.
- Artigo final:
A presente Carta Transdisciplinar foi adotada pelos participantes do Primeiro
Congresso Mundial de Transdisciplinaridade, que visam apenas à autoridade
de seu trabalho e de sua atividade.
Segundo os processos a serem definidos de acordo com os espíritos
transdisciplinares de todos os países, o Protocolo permanecerá aberto à
assinatura de todo ser humano interessado em medidas progressistas de
ordem nacional, internacional para aplicação de seus artigos na vida.
Convento de Arrábida, 6 de novembro de 1994
Comitê de Redação
Lima de Freitas
Edgar Morin
Basarab Nicolescu
49
ANEXO 3
Carta da Terra
Preâmbulo
Estamos num momento crítico da história da Terra, numa época em que a
humanidade tem de escolher o seu futuro.
À medida que o mundo se torna cada vez mais interdependente e frágil, o
futuro encerra, ao mesmo tempo, grandes
perigos e grandes promessas. Para avançar, devemos reconhecer que, no
meio de uma magnífica diversidade de
culturas e formas de vida, somos uma família humana, e uma só comunidade
na Terra, com um destino comum.
Devemos conjugar forças para gerar uma sociedade global sustentável,
baseada no respeito pela natureza, nos direitos
humanos, universais, na justiça económica, e numa cultura da paz. Para
alcançar este propósito, é imperativo que nós,
os povos da Terra, declaremos a nossa responsabilidade uns para os outros,
para com a grande comunidade da vida, e
para com as gerações futuras.
Terra, a Nossa Casa
A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, a nossa
casa, está viva como comunidade de vida
única. As forças da natureza fazem da sobrevivência uma aventura exigente e
incerta, mas a Terra providenciou as
condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação
das comunidades vivas, e o bem-estar da
humanidade, dependem da manutenção de uma biosfera saudável em todos
os seus sistemas ecológicos, uma enorme
50
diversidade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O
ambiente global com seus recursos não
renováveis, é uma preocupação comum a todas as pessoas. A protecção da
beleza, diversidade e vitalidade da Terra é
um dever sagrado.
A Situação Global
Os padrões dominantes de produção e consumo estão a provocar a
devastação dos ecossistemas, a redução drástica
dos recursos, e uma explosiva extinção de espécies. As comunidades estão a
ser minadas. Os benefícios do
desenvolvimento não são partilhados equitativamente, e o fosso entre ricos e
pobres aumenta colossalmente. A
injustiça, a pobreza, a iletracia e os conflitos armados têm aumentado, e são a
causa de muitos sofrimentos. O
crescimento sem precedentes da população humana tem sobrecarregado os
sistemas ecológicos e sociais.
As bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são
perigosas mas evitáveis.
Desafios para o futuro
A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos
outros, ou pôr em risco a nossa
existência e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças
fundamentais nos nossos valores, instituições e
modos de vida. Devemos entender que, quando as necessidades básicas
estiverem ao alcance de todos, o
desenvolvimento humano estará voltado, primariamente, a ser mais e não a ter
mais. Temos o conhecimento e a
tecnologia necessários para abastecer todos e reduzir os impactes sobre o
ambiente. O crescimento de uma sociedade
51
civil global está a criar novas oportunidades para construir um mundo
democrático e humano. Os nossos desafios em
questões ambientais, económicas, políticas, sociais e espirituais estão
interligados, e juntos podemos estabelecer
soluções que incluam todos estes aspectos.
Responsabilidade Universal
Para aceitarmos estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de
responsabilidade universal, identificandonos
com toda a comunidade global, bem como com as nossas comunidades locais.
Somos, ao mesmo tempo, cidadãos
de nações diferentes e do mundo, no qual as dimensões local e global estão
ligadas. Cada um partilha da
responsabilidade pelo bem-estar actual, e o futuro da humanidade e de todo o
mundo vivo. O espírito de solidariedade
humana e de parentesco com todas as formas de vida é fortalecido quando
vivemos com reverência pelo mistério da
existência, com gratidão pelo dom da vida, e com humildade, considerando o
lugar que ocupa o ser humano da
Natureza.
Necessitamos urgentemente de uma visão conjunta de valores básicos, para
proporcionar um fundamento ético à
comunidade global emergente. Por isso, juntos na esperança, afirmamos os
seguintes princípios, todos
interdependentes, visando um modo de vida sustentável como objectivo
comum, através dos quais a conduta de todos
os indivíduos, organizações, empresas, governos e instituições transnacionais
será guiada e avaliada.
Princípios
I. Respeitar e cuidar a comunidade da vida
1. Respeitar a Terra e a vida em toda a sua diversidade.
52
a) Reconhecer que todos os seres estão interligados e que cada forma de vida
tem valor,
independentemente da sua utilidade para os seres humanos.
b) Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no
potencial intelectual,
artístico, ético e espiritual da humanidade.
2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.
a) Aceitar que, com o direito de possuir, administrar e usar os recursos
naturais, vem o
dever de impedir danos causados ao ambiente, e de proteger os direitos das
pessoas.
b) Assumir que o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder implica
aumento da
responsabilidade na promoção do bem comum.
3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas,
sustentáveis e
pacíficas.
a) Assegurar que as comunidades, a todos os níveis, garantam os direitos
humanos e as
liberdades fundamentais, e proporcionem a cada um a oportunidade de usar o
seu
potencial.
b) Promover a justiça económica e social, proporcionando a todos alcançar
uma subsistência
significativa e segura, que seja ecologicamente responsável.
4. Garantir as dádivas e a beleza da Terra para as actuais e as futuras
gerações.
a) Reconhecer que a liberdade de acção de cada geração é condicionada
pelas necessidades
das gerações futuras.
b) Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apoiem,
a longo
53
prazo, a prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra.
Para poder cumprir estes quatro grandes compromissos, é necessário:
II. Integridade Ecológica
5. Proteger e repor a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com
especial
preocupação pela diversidade biológica, e pelos processos naturais que
sustentam
a vida.
a) Adoptar planos e estratégias de desenvolvimento sustentável, a todos os
níveis, que
façam com que a conservação ambiental e a reabilitação sejam parte
integrante de todas
as iniciativas de desenvolvimento.
b) Estabelecer e proteger de forma viável as reservas naturais e a biosfera,
incluindo
regiões selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de sustento à
vida da
Terra, manter a biodiversidade e preservar a nossa herança natural.
c) Promover a recuperação de espécies e de ecossistemas ameaçados.
d) Controlar e erradicar organismos não-nativos ou geneticamente modificados
que causem
dano às espécies nativas, ao ambiente, e prevenir a introdução desses
organismos.
e) Gerir o uso de recursos renováveis como a água, o solo, os produtos
florestais e a vida
marinha de uma forma que não ultrapasse as taxas de regeneração e que
protejam a
saúde dos ecossistemas.
f) Gerir a extracção e o uso de recursos não-renováveis, como minerais e
combustíveis
fósseis para que diminuam a exaustão e não causem dano ambiental grave.
54
6. Prevenir os impactes negativos para o ambiente como o melhor
método de protecção
ambiental e, quando o conhecimento for limitado, assumir uma
abordagem de
precaução.
a) Orientar acções para evitar a possibilidade de sérios ou irreversíveis danos
ambientais,
mesmo quando a informação científica for incompleta ou inconclusiva.
b) Impor o ónus da prova àqueles que afirmarem que a actividade proposta
não causará dano
significativo, e responsabilizar as partes pelos danos causados no ambiente.
c) Garantir que a decisão a ser tomada se oriente pelas consequências
humanas globais,
cumulativas, de longo prazo, indirectas e de longo alcance.
d) Impedir a poluição de qualquer parte do ambiente, e não permitir o aumento
de produção
de substâncias radioactivas, tóxicas ou outras substâncias perigosas.
e) Evitar que o ambiente seja danificado por actividades militares.
7. Adoptar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as
capacidades
regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário.
a) Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e
consumo e
garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos
b) Actuar com restrição e eficiência em relação ao consumo energético e
recorrer cada vez
mais aos recursos energéticos renováveis, como a energia solar e a eólica.
c) Promover o desenvolvimento, a adopção e a transferência equitativa de
tecnologias
ambientais seguras.
d) Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no
preço de venda, e
55
habilitar os consumidores a identificar produtos que satisfaçam as mais altas
normas
sociais e ambientais.
e) Garantir acesso universal aos cuidados médicos que fomentem a saúde
reprodutiva e a
reprodução responsável.
f) Adoptar modos de vida que acentuem a qualidade de vida e a subsistência
material num
mundo finito.
8. Desenvolver o estudo da sustentabilidade ecológica e promover a
permuta aberta e a
ampla aplicação do conhecimento adquirido.
a) Apoiar a cooperação científica e tecnológica internacional relacionada com a
sustentabilidade, com especial atenção às necessidades das nações em
desenvolvimento.
b) Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria
espiritual, em todas
as culturas, que contribuam para a protecção ambiental e o bem-estar
humano.
c) Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para
a protecção
ambiental, incluindo informação genética, estejam disponíveis no domínio
público.
III. Justiça Social e Económica
9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social e ambiental.
a) Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos
solos não
contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, distribuindo os necessários
recursos
nacionais e internacionais.
b) Proporcionar educação e recursos a cada ser humano, para assegurar uma
subsistência
56
sustentável, e proporcionar segurança social, e rendimentos sociais a todos
aqueles que
não capazes de manter-se por conta própria.
c) Reconhecer os ignorados, proteger os vulneráveis, servir aqueles que
sofrem, e permitirlhes
desenvolver as suas capacidades e alcançar as suas aspirações.
10. Garantir que as actividades e instituições económicas, a todos os
níveis, promovam o
desenvolvimento humano de forma equitativa e sustentável.
a) Promover a distribuição equitativa da riqueza internamente e entre as
nações.
b) Promover o desenvolvimento dos recursos intelectuais, financeiros, técnicos
e sociais das
nações em desenvolvimento, e isentá-las de dívidas internacionais onerosas.
c) Garantir que todas as transacções comerciais apoiem o uso de recursos
sustentáveis, a
protecção ambiental e normas laborais progressistas.
d) Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras
internacionais actuem
com transparência em benefício do bem comum, e responsabilizá-las pelas
consequências das suas actividades.
11. Afirmar a igualdade e a equidade entre sexos como pré-requisito para
o desenvolvimento
sustentável e assegurar o acesso universal à educação, assistência na
saúde e às
oportunidades económicas.
a) Assegurar os direitos humanos das mulheres e das jovens e acabar com
toda a violência
contra elas.
b) Promover a participação activa das mulheres em todos os aspectos da vida
económica,
57
política, civil, social e cultural, como parceiras plenas e paritárias, decisoras,
líderes e
beneficiárias.
c) Fortalecer as famílias, e garantir a segurança e a educação de todos os
membros da
família.
12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um
ambiente natural e
social capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-
estar psíquico,
concedendo especial atenção aos direitos dos povos indígenas e das
minorias.
a) Eliminar a discriminação em todas as suas formas, como baseadas em raça,
cor, sexo,
orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social.
b) Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, educação, terras
e recursos,
assim como às suas práticas, relacionadas com formas sustentáveis de vida.
c) Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os a
cumprir o seu papel
essencial na criação de sociedades sustentáveis.
d) Proteger e restaurar lugares notáveis pelo significado cultural e espiritual.
IV. Democracia, não-violência e Paz
13. Fortalecer as instituições democráticas, a todos os níveis, e
proporcionar transparência e
prestação de contas na governação, incluindo a participação nos
processos de tomada de
decisão e no acesso à justiça.
a) Defender o direito de todas as pessoas à informação, clara e oportuna,
sobre todos os
assuntos ambientais, planos de desenvolvimento e actividades que poderiam
afectá-las ou
58
naqueles em que estejam interessados.
b) Apoiar sociedades civis locais, regionais e globais, e promover a
participação significativa
de todos os indivíduos e organizações na tomada de decisões.
c) Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de reunião
pacífica, de associação
e de oposição.
d) Instituir o acesso efectivo e eficiente a procedimentos administrativos e
judiciais
independentes, incluindo remediação e compensação por danos ambientais e
pela ameaça
de tais danos.
e) Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas.
f) Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios
Ambientes, e
atribuir responsabilidades ambientais aos níveis governamentais, onde possam
ser
assumidas com maior eficiência.
14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os
conhecimentos,
valores e capacidades necessárias para um modo de vida sustentável.
a) Oferecer a todos, especialmente às crianças e aos jovens, oportunidades de
educação que
lhes permitam contribuir activamente para o desenvolvimento sustentável.
b) Promover a contribuição das artes e humanidades, assim como das
ciências, na Educação
para a sustentabilidade.
c) Intensificar o papel dos média no sentido de aumentar a sensibilização para
os desafios
ecológicos e sociais.
d) Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma
subsistência
59
sustentável.
15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração
a) Impedir maus-tratos aos animais integrados em sociedades humanas e
protegê-los de
sofrimentos.
b) Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca, que
causem sofrimento
extremo, prolongado ou evitável.
c) Eliminar ou evitar até ao máximo possível a captura ou destruição de
espécies não visadas.
16. Promover uma cultura de tolerância, não-violência e paz
a) Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a solidariedade e a cooperação
entre todas as
pessoas, internamente e entre as nações.
b) Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos armados e usar a
colaboração na
resolução de problemas para manejar e resolver conflitos ambientais e outras
disputas.
c) Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até chegar ao nível de
uma postura não
provocativa da defesa, e converter os recursos militares em propósitos
pacíficos,
incluindo restauração ecológica.
d) Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras armas de destruição
em massa.
e) Assegurar que o uso do espaço orbital e cósmico mantenha a protecção
ambiental e paz.
f) Reconhecer que a paz é a plenitude criada por relações correctas consigo
mesmo, com
outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com a
universalidade da qual
somos parte.
60
O CAMINHO EM FRENTE
Como nunca antes na história, o destino comum chama-nos para encontrar um
novo começo.
Tal renovação é a promessa dos princípios da Carta da Terra. Para cumprir
esta promessa, temos
que nos comprometer a adoptar e promover os valores e objectivos da Carta.
Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de
interdependência
global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com
imaginação a visão de
um modo de vida sustentável aos níveis local, nacional, regional e global. A
nossa diversidade
cultural é uma herança preciosa, e diferentes culturas encontrarão as suas
próprias e distintas
formas de concretizar esta visão. Devemos aprofundar e expandir o diálogo
global gerado pela
Carta da Terra, porque temos muito que aprender a partir da busca iminente e
conjunta pela
verdade e pela sabedoria.
A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode
significar escolhas
difíceis. Porém, necessitamos encontrar caminhos para harmoniosamente
conjugar diversidade
com unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objectivos de curto
prazo com metas
de longo prazo. Todo o indivíduo, família, organização e comunidade têm um
papel vital a
desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas, os
meios de
comunicação, as empresas, as organizações não-governamentais e os
governos são todos
61
chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo,
sociedade civil e empresas
é essencial para uma governabilidade eficaz.
Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo
devem renovar o seu
compromisso com as Nações Unidas, cumprir as suas obrigações respeitando
os acordos
internacionais existentes e apoiar a implementação dos princípios da Carta da
Terra como um
instrumento internacional legalmente unificador quanto ao ambiente e ao
desenvolvimento.
Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova veneração face
à vida, pelo
compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação da luta pela
justiça e pela paz,
e a alegre celebração da vida.
62
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
AMORIM, Antonio Carlos. Intervenção Educacional. In: FERRARO Jr, Luiz
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ambientais e coletivos educadores. Brasília: MMA, Departamento de Educação
Ambiental. 2005
BRANDÃO, Carlos R. Aqui é onde eu moro, aqui nós vivemos: escritos para
conhecer, pensar e praticar o Município Educador Sustentável. Brasília:
Ministério do Meio Ambiente, 2005.
BRANDÃO, Carlos R. Pesquisa Participante. In: FERRARO Jr, Luiz Antonio.
(org.) Encontros e Caminhos: Formação de Educadoras (es) ambientais e
coletivos educadores. Brasília: MMA, Departamento de Educação Ambiental.
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Meio Ambiente e Ministério da Educação. 2005
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Meio Ambinte e Ministério da Educação. 2007
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LAYRARGUES, Philippe. . (org). Identidades da educação ambiental
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MORRIN, Edgar. Os setes saberes necessários à educação do futuro. São
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ambientais e coletivos educadores. Brasília: MMA, Departamento de Educação
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RUSCHEINSKY, Aloísio. Atores Socioambientais. In: FERRARO Jr, Luiz Antonio. (org.) Encontros e Caminhos: Formação de Educadoras (es) ambientais e coletivos educadores. Brasília: MMA, Departamento de Educação Ambiental, 2007. Volume 2
65
INDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
Educação: Encontros e Caminhos 09
CAPITULO II
Educação: Educação Ambiental 14
2.1 – Concepção Político Pedagógica 15
CAPITULO III
Formação do Educador Ambiental 22
3.1 – Modalidades Ensino/Aprendizagem 26
3.1.1 – Educação Presencial 27
3.1.2 – Educação a Distância 27
3.1.3 – Educação Difusa 27
3.2 – Eixos Pedagógicos 28
3.2.1 – Cardápios de Aprendizagem 28
3.3 – Módulo Básico 29
3.3.1 – O Sentido da Educação Ambiental 29
3.3.2- O Endereço Ecológico 31
3.3.3 – Metodologias e Materiais para as intervenções
Participativas na realidade socioambiental 31
3.3.4 – Gestão Ambiental Compartilhada 34
CAPITULO IV
Metodologias de Trabalho 35
66
4.1- Mapeamento – Contando Nossa História 35
4.1.1 – Biomapa 36
4.2 – DRP – Diagnóstico Rápido Participativo 37
4.3 – Oficina do Futuro 38
CONCLUSÃO 39
ANEXOS 40
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 62
ÍNDICE 65