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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE IDOSOS PRATICANTES DE DANÇA DE SALÃO
Por: Helen da Rocha Menezes
Orientador(a)
Profa. Me. Fátima Alves
Rio de Janeiro
2013
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE IDOSOS PRATICANTES DE DANÇA DE SALÃO
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Psicomotricidade.
Por: Helen da Rocha Menezes
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar gostaria de agradecer a Deus que sempre esta a abençoar e
iluminar meu caminho, em segundo minha Família, principalmente minha mãe
Maria Helena, que sempre fez de tudo para me ajudar a realizar meus sonhos
e aos professores do curso, que me ajudaram a enriquecer meu conhecimento.
DEDICATÓRIA
Dedica-se a Deus, minha mãe, avó, irmão
e amigos.
RESUMO
A Dança de Salão é uma prática corporal muito popular desde os primórdios da sociedade e em sua grande parcela praticada por pessoas que se encontram na senescência. Os benefícios dessa atividade são muito expressados por seus praticantes, sendo pesquisas que evidenciem suas reais contribuições, ainda pouco realizadas. Se tratando de um público que muitas vezes se encontram acima dos 60 anos e que gostam de realizar a atividade de Dança de Salão como prática corporal, torna ainda mais importante trazer uma resposta social relacionada ao desenvolvimento psicomotor de pessoas idosas, que praticam a Dança de Salão. O presente estudo tem como foco realizar um levantamento bibliográfico sobre as possíveis contribuições da Dança de Salão no desenvolvimento psicomotor de pessoas acima de sessenta anos.
METODOLOGIA
Esta pesquisa será de caráter direto com a intenção de investigar o desenvolvimento da motricidade, equilíbrio, lateralidade, imagem corporal e sociabilidade, utilizando uma pesquisa bibliográfica através dos livros: A psicomotricidade e o idoso (Fátima Alves), Abraço afetuoso em um corpo sofrido (Giulio Vicini), Psicomotricidade Filogênese, Ontogêneses e Retrogênese (Vitor da Fonseca) Psicomotricidade Corpo, Ação e Emoção (Fátima Alves), Observação Psicomotora (Vitor da Fonseca), (Denise do N. Cipriano) A dança de salão como lazer e interação social para idosos, (GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J.C.) Compreendendo o desenvolvimento motor: bebes, crianças, adolescentes e adultos, (HANSELBCH, Barbara) Dança, improvisação e movimento: expressão corporal na Educação Física, entre outros.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Dança de Salão 10
CAPÍTULO II - A Terceira Idade 19
CAPÍTULO III – Dança de Salão
e o 28
Desenvolvimento Psicomotor
CONCLUSÃO 33
BIBLIOGRAFIA 35
ÍNDICE 38
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INTRODUÇÃO
Segundo LABAN (1990, p.13) “o movimento, considerado desde sempre – pelo menos em nossa civilização – como um auxiliar do homem, utilizado para alcançar um propósito prático extrínseco, mostrou-se como um poder independente que cria estados mentais freqüentemente mais poderosos que a vontade humana”.
O movimento corporal constitui habilidade natural do humano,
considerando, principalmente, a necessidade de sobrevivência e comunicação.
Historicamente, podemos constatar que a evolução humana tem proporcionado
mudanças significativas no comportamento e relacionamento social, apontando
comunicações verbais e não verbais.
O deixar-se experimentar permite conhecer as possibilidades de
movimentos do corpo, as dimensões de espaço e o período de movimento,
podendo ser vivenciada sozinha, em grupo, com parceiros ou recursos
materiais, partindo de um trabalho concreto e ou abstrato. Segundo Haselbach
(1988, p. 7) “essas fases representam etapas elementares da improvisação e
estimula a sensibilidade do indivíduo, auxiliando-o nas necessárias
experiências subjetivas, associadas ou não a realidade que são indispensáveis
e enriquecedoras.” Somado a isto, Laban (1990, p.25) refere que “a dança
alivia a sensação de mal-estar provocada pela repressão dos movimentos do
corpo que ocorre quando se põem em ação articulações isoladas”.
A partir da importância do movimentar-se, pode se inferir como a prática
de atividade física tem se tornado popular entre as pessoas, que a cada dia
buscam como forma de manutenção da saúde tanto física quanto mental. Na
sociedade atual a expectativa de vida tem aumentado e com isso a um grande
crescimento da população acima de sessenta anos, estes que muitas vezes
continuam ativos, buscando manter a qualidade de vida, através da prática de
atividades que os ajudem a manter sua mobilidade, funcionalidade e convívio
social.
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O público acima de sessenta anos, têm buscado a prática de atividade
física regular, sendo em sua grande maioria modalidades como: ginástica,
alongamento, pilates, hidroginástica, musculação, Dança de Salão, entre
outros. Este estudo terá como foco tratar especificamente da prática de Dança
de Salão por pessoas acima de sessenta anos, prática esta que tem na maioria
das vezes como integrantes das aulas, pessoas que se encontram na
senescência.
No decorrer deste estudo, no primeiro capítulo será feito um
aprofundamento sobre a Dança de Salão, buscando investigar o histórico e os
possíveis motivos de sua escolha como atividade corporal. O segundo capítulo
irá falar sobre a terceira idade, o idoso de hoje, suas dificuldades, limitações
entre outros. No terceiro capítulo será feito um comparativo entre as possíveis
contribuições da Dança de Salão e o desenvolvimento psicomotor.
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CAPÍTULO I A Dança de salão
“A partilha, o sorriso, o encontro, a festa e a beleza dos momentos passados a dançar chega a provocar mudanças no comportamento de algumas pessoas que afirmam que aprendem a olhar os outros através do toque da pele, dos cheiros corporais, do ritmo dos pés ou do balanço do corpo. Também afirmam que lhes dá raízes e o sentido de identidade, em muitos casos lembram os seus antepassados como transmissores da herança do gosto pela dança.” (MOURA, 2007, p.127)
1. 1- Contextualização sobre a Dança de Salão
O conceito da Dança de Salão se origina das causas sociais, causas
políticas ou acontecimentos em destaques no momento, o que a faz se
enquadrar do mesmo modo na categoria de danças populares.
A dança popular é diferente da dança folclórica, por ser uma manifestação do momento, enquanto a folclórica é uma tradição que se mantém através dos tempos, e originada por festas ligadas à natureza, fatos históricos, acontecimentos religiosos ou tradição cultural transmitida de geração para geração. (PERNA, 2001)
A Dança de Salão da mesma maneira é chamada de dança social por
ser praticada com objetivos claros de socialização e diversão por casais,
permitindo a proximidade das relações entre os mesmos. O contato que se tem
entre os pares na Dança de Salão traz harmonia na relação, pois ambos se
percebem em uma parceria que só da certo se entrarem em um consenso, de
trabalhar em conjunto, em sincronia, pois o deslocamento na Dança de Salão,
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geralmente, é em sentido anti-horário, apresentando certos desafios como
dificuldade para se manter no ritmo da música e em par ou no par.
A característica expressiva da dança é de ser realizada pelos membros
inferiores e os passos (as bases) lembram uma variação do andar. Segundo
Volp (1994) “as estruturas dos passos desenham uma figura no espaço,
podendo ser simples – passos básicos ou complexos – variações, e há
ocorrência de estrutura de passos típicos e específicos a cada ritmo, que se
adaptam a cada estrutura rítmica”.
A Dança de Salão tem origem nos acontecimentos e/ou situações
sociais. Importa considerar que estes eventos exigem certa formalidade ou
cordialidade na abordagem ao sexo oposto, concentração para realização dos
movimentos, percepção rítmica trabalhada nos ritmos rápidos ou lentos e
espaço temporal (execução dos movimentos). Acredita-se na possibilidade de
trabalhar e treinar essas habilidades e comportamentos por meio das praticas
em Dança de Salão para ambos os sexos e em faixas etárias diferenciadas.
A Dança de Salão é uma modalidade que engloba múltiplos gostos pela
dança, além de trabalhar com ambos os sexos, envolve várias faixas etárias e
promove a possibilidade de expressão e comunicação por meio do ato
dançante com o corpo em movimento (praticas corporais).
Numa proposta socialibilizadora, torna-se necessário desenvolver
programas e ou propostas que viabilizem oportunidades em favor dos
movimentos expressivos e espontâneos. Acredita-se que a dança possa
contribuir com uma gama de estratégias de forma natural, técnica e ou
sistematizada, para uma melhor consciência e percepção corporal, permitindo
fazer com que o corpo se teste de diferentes maneiras, além de trabalhar com
a musicalidade, ritmo, criatividade e o relacionar com o outro.
A dança é uma atividade que trabalha com diferentes partes do corpo,
sendo capaz de alcançar níveis de evolução tanto perceptíveis e observáveis
quanto os não mensuráveis ou notáveis.
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A partir da importância do movimentar-se, pode-se inferir que a dança
contribui para o desenvolvimento da consciência corporal, da relação intra e
interpessoal, da criatividade, da autoestima, entre outros. Estes fatores são
considerados fundamentais para um estilo de vida comprometido com a
satisfação e a qualidade plena do ser humano com ele mesmo, com o outro e
com o meio.
Na sociedade atual em que as mudanças são constantes e que o
individuo se encontra sobre influência de variáveis internas e externas que
podem desencadear em sua rotina diária uma séria de problemas
psicomotores, faz com que seja necessário se inserir no dia a dia atividades
que possam estar contribuindo para a minimização desses problemas que
afligem a cada vez mais a população.
A Dança de Salão é uma prática que trabalha diretamente com a
interação entre os sexos, proporcionando uma troca de informações que são
essenciais para o desenvolvimento humano e somado a isto Barbosa (2008)
diz que “É pela interação entre o indivíduo e o outro que ocorre a
aprendizagem”. Evidenciando que é a conexão entre os indivíduos, um
elemento importante para o desenvolvimento humano.
Acredita-se que a herança histórica e cultural das Danças de Salão
possa proporcionar um legado que amplie as chances de um crescimento
social no século XXI em favor da democracia, da solidariedade e do respeito.
Buscando contribuir para desenvolvimento humano, social, focado na saúde e
qualidade de vida.
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1.2 – Breve Histórico
A dança de salão ou dança social ou de sociedade como era chamada
quando surgiu no século XV, iniciou nas cortes europeias, nasceu para
entretenimento das reuniões sociais. Na idade média teve um período em que
a dança era considerada pagã e condenada pela igreja, mas com o início do
Renascimento, começaram as manifestações sociais nas cortes reais. As
Danças de Salão, na época, tinham um significado filosófico, cuja beleza e
leveza de movimentos da dança refletia a harmonia da natureza e do universo.
O nome salão vem da necessidade de espaços ou salas grandes, para que se
pudesse realizar a ampliação dos passos das danças.
Também no período da Renascença a dança se dividiu em Danças
Teatrais - de exposição, apresentação, show e que hoje compreende o Balé, a
dança contemporânea, as folclóricas e o sapateado. As Danças Sociais ou de
Salão são consideradas as praticadas por puro prazer pessoal, são elas as de
bailes, festas e reuniões sociais.
Antes de chegar às cortes as danças sociais eram realizadas pelas
camadas pobres dos reinos nas suas comemorações, ela chegou ao salão da
corte pelos dançarinos (as) ou mestres de baile que eram contratados pelos
nobres para ensinar as danças. Quando a dança chegou à corte ganhou status
social e aprimoramento, chegando até a fazer parte da educação da nobreza.
Logo quando dançada em grupos, era caracterizada por rituais em
formação com filas, em pares de dançarinos e o exemplo dessas primeiras
danças são a pavana, a gavota e o minueto (danças populares de origem
francesa dos séculos XVII e XVIII). Com surgimento da valsa (Áustria,
Alemanha e Paris) começou a se dançar em casal e a partir da difusão entre os
países ocorreu um sucesso da valsa e da polca no século XIX, ocorrendo a
popularização desses estilos (PERNA, 2005).
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A difusão das danças sociais para outros países fez com que em cada
lugar fosse sofrendo modificações e adaptações que influenciaram no
surgimento de novos estilos, que começaram a compor os ritmos da Dança de
Salão.
No século XIX quando a corte real portuguesa veio para o Rio de
Janeiro, trouxe seus hábitos da Europa, que incluíam as danças e bailes. Estas
atividades eram os momentos de lazer preferidos da corte, e a partir desse
momento a vida da sociedade brasileira muda, pois todo acontecimento,
casamento, aniversário era motivo para se ter um baile.
Com essa mudança na vida social a mulher começa a aparecer mais e
desfilar sua beleza, elegância e roupas. A Dança de Salão foi bastante
difundida, principalmente pelo sexo feminino e a partir disso até os colégios
femininos passaram a ensinar a dança e a música, que eram considerados
sinônimos de ter uma boa educação. Com a difusão da Dança de Salão no
Brasil cada vez mais era trazido professores da Europa para modernizar a
nobreza.
Grandes nomes da Dança de Salão da época eram Lourenço Lacombe,
Millet e Chevalier (1839), Philippe Caton e Caroline (1840).
Segundo Perna (2005, p.16) “a primeira dança a dois, enlaçada, a
chegar no Brasil foi a Valsa por volta de 1837. Dança ternária que no Brasil
desenvolveu características próprias, como andamentos lentos e um esquema
de modulações similar ao das polcas”.
A dança que chegou ao Brasil após a valsa foi a polca dançada pela
primeira vez em 1845 (PERNA, 2005, p.16). A polca fez muito sucesso,
passando a ser dançada em bailes, teatros e ruas. Por se tratar de uma dança
com melodias mais animadas e comunicativas ganhou muitos simpatizantes
brasileiros.
O lundum foi outra dança que se popularizou no Brasil, que se
caracterizava pela umbigada, forma esta que depois foi dançada o maxixe. “As
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últimas décadas do século XIX marcam o apogeu do Lundum, depois desse
estilo vieram os Xótis (schottisch), a Havanera, a Varsoviana, a Quadrilha (em
cinco seções), a Contradança (uma quadrilha um pouco menor de três seções),
a Redova e etc” (PERNA, 2005, p.20).
No século XIX a Dança de Salão passou por um processo de
transformação das danças coletivas (minueto e quadrilha) para as em par
(valsa e polca). No império bailes faziam bastante sucesso, Dom Pedro II
gostava muito de dança e regulamente eram realizados bailes no salão da
Quinta da Boa Vista. No Brasil devido ao sucesso das Danças de Salão
criaram sociedades dançantes, a primeira foi a Assembléia Estrangeira,
substituída pela sociedade recreativa e dançante do Cassino Fluminense
(1845).
A proliferação da prática de dança pelo Brasil só foi aumentando e com
isso a necessidade de se ter mais aulas, tanto para homens e para mulheres,
nesse último caso necessitava quebrar preconceitos sobre a frequência em
aulas e bailes.
Após a guerra do Paraguai (1870) o contexto da cidade do Rio de
Janeiro modifica, com aumento da população de origem humilde, que traz
consigo todo um movimento de dança e músicas, que originam o Maxixe, o
Choro e um tempo depois o Samba. “O Maxixe foi a primeira dança urbana, de
salão a dois e agarrada, a ter origem no Brasil, por volta de 1870”. (PERNA,
2005, p.26)
O Maxixe ficou em auge por cerca de 40 anos, na década de 1930
perdeu espaço para o Fox-trot e Charleston (dança ligada a primeira fase do
Jazz), depois para o Samba (como estilo musical) e Samba de Gafieira na
década de 1940.
No início do século XX no pós- primeira guerra se tocou e dançou, por
cerca de cinco anos os mesmos tangos e maxixes, seguindo uma influência
norte americana, pois nas décadas de 1930 e 1940 ocorreram salões de bailes
grandes, tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos.
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A dança também começou a existir em hotéis, clubes restaurantes e
qualquer lugar que possuía espaço para que as pessoas dançassem, filmes,
musicais americanos se popularizaram na década de 1940 e com isso se teve
uma exportação da cultura das danças Norte Américas, principalmente do Fóx-
trote para a América do Sul.
No período de 1950 estilos mais quentes como os latinos, a rumba, o
samba e o chá-chá-chá estiveram em alta, chegando a fazer parte de muitos
filmes da época.
No período da década de 40 e 50, ocorreu o surgimento dos dancings.
Segundo Perna (2005 p. 61), “Os dancings tiveram seu auge principalmente
após o fechamento dos cassinos no governo Dutra (1946 – 1951), era um local
onde o homem não precisava temer a rejeição da dama”.
O Rio de Janeiro era a capital do Brasil e onde ocorria um grande
movimento de pessoas, principalmente no centro onde existiam diversos
sobrados onde aconteciam os grandes bailes de dança de salão. Quando a
capital Federal foi para Brasília em 1960, os estabelecimentos (sobrados) que
realizavam os bailes entraram em decadência e com a ascensão do rock que
ocorria nesse período a Dança de Salão perdeu seu espaço. O rock and roll no
seu início era uma dança de salão dançada a dois, mais de forma separada e
que passou a ser bastante popular entre os jovens.
“Na década de 1950 começavam os Anos Dourados, e o declínio da
Dança de Salão, juntamente com o declínio ocorrido nos Estados Unidos, de
onde tínhamos a influência de Hollywood” (PERNA, 2005. p.63). O período dos
Anos Dourados foi uma época em que existia muitas comemorações
tradicionais, como Bailes de formaturas de escolas militares e do Instituto de
Educação, casamentos e outros tipos de solenidades. Estes eram
considerados os bailes mais importantes da elite carioca da época, que foi
perdendo espaço aos poucos até a década 1980 para discotecas.
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Na época de 1980 a Dança de Salão desaparece da classe média,
retornando a fazer sucesso com a Lambada no ano de 1988 e com o forró em
1997, encantando os jovens a dançar, resgatando a dança em par.
Nas últimas décadas no Brasil as modalidades de dança de salão
envolvem mais especificamente a lambada, forró, soltinho, bolero, salsa,
merengue e o samba. Importa destacar que o samba, bolero e soltinho são as
modalidades de maior repercussão.
Com o surgimento do grupo Kaoma no final da década de 80, com a
lambada de grande sucesso “Chorando se foi”, que o estilo lambada alcança
todo o espaço Brasileiro chegando a fazer sucesso internacional. O forró foi
um estilo que veio para região sudeste trazendo uma mistura das diversas
danças típicas do nordeste.
O soltinho é um estilo que procede do swing e o rock, e nos bailes de
Dança de Salão possui muitos adeptos, que o dançam em qualquer ritmo
musical de andamento rápido, confundindo com o swing ou foxtrote.
O Bolero estilo de grande sucesso nos bailes de Dança de Salão é
dançado no Brasil diferente do dançado no exterior e alguns autores chegam a
dizer que é uma criação realmente brasileira, uma nova dança por existir uma
identidade nela. (PERNA, 2005, 116p.)
Nos anos de 1994 e 1995 a Salsa e o Merengue estiveram em alta, e
com o lançamento da novela “Salsa & Merengue”, muitos lugares como boates
começaram a fazer festas com esse tema, nessa época esses estilos eram
confundidos e muitas vezes considerados uma coisa só, generalizados, como
se fosse um estilo latino. “O ano de 2000 marcou a volta do modismo, com o
surgimento de vários bailes específicos por modalidades em boates
incrementadas.” (PERNA, 2005, p. 124). O Samba possui variadas divisões no
qual se tem como estilos de samba: o Jongo, o samba exaltação, o samba
sincopado, o samba de breque, o samba – enredo, bossa nova, pagode,
samba suingue / samba funk/ samba rock e samba de gafieira que é o dançado
em bailes e já foi conhecido como “samba batucada” (Idem, 134p.), o que
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diferencia esse samba dos outros é ser executado na maioria das vezes por
conjuntos de gafieira, utilizando instrumentos de metais, com uma bateria
mantendo o tempo da cadência básica do samba e o instrumento tradicional
utilizado pelas bandas é o trombone.
Nem todos os estilos dançados na Dança de Salão chegaram a fazer
grandes sucessos, mas o samba, o bolero e o soltinho conseguiram
significativo destaque nacional, sendo hoje muitas vezes utilizados como os
estilos básicos de aprendizado nas aulas de Dança de Salão.
A partir de todo levantamento histórico da Dança de Salão no Brasil
pode-se observar que seus objetivos de interação social, trabalho rítmico, bem
estar, movimento, entre outros, estão sempre interligados a sua prática,
contribuindo para a satisfação pessoal e qualidade de vida de seus praticantes.
Pode-se notar que uma grande parcela dos praticantes de Dança Salão
hoje, são pessoas com certa idade e as vezes que já se encontram na
senescência, que em muitos casos a procuram como meio de se realizar um
resgate cultural e social, no qual os permitam continuar ativos e se sentindo
integrados, sendo que junto a esse resgate em muitos casos se observa um
resgate motor, uma reeducação motora, pela prática da Dança de Salão.
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CAPÍTULO II
A Terceira Idade
“Envelhecer é um processo universal e se realiza gradualmente, e esse envelhecimento salienta-se segundo as oportunidades que o idoso vivencia e experencia.” (ALVES, p. 39, 2013).
2.1- O Envelhecer
Nas turmas de Dança de Salão se observa que a uma grande
participação de pessoas que se encontram acima de sessenta anos, que hoje
também é chamada de terceira idade ou senescência. Observando-se a
participação ativa desse público nesta prática, torna-se, mas intrigante ainda, o
aprofundamento sobre esse público tão experiente e vivido.
Para a Organização Mundial de Saúde, é considerado idoso aquele com
65 anos ou mais para países mais desenvolvidos e 60 anos ou mais, em
países em desenvolvimento (World Health Organization, 2001). Já a expressão
Terceira Idade tem origem francesa (les universités du Troisiene Age), surgiu
através da mídia e foi adotada com a implantação das políticas sociais para a
velhice na França, caracterizando os indivíduos em processo de
envelhecimento. Terceira idade pode ser entendida também como sinônimo de
envelhecimento ativo e independente, na busca de uma nova representação
social do indivíduo, visando à continuidade da vida ativa, com autonomia
(PEIXOTO, 2003).
As fases do desenvolvimento humano perpassam pelo ato de nascer,
crescer, amadurecer, envelhecer e morrer, todas estas com sua grande
20
importância e significado. Ao se passar do amadurecimento, se chega à fase
do envelhecer, que é um processo natural e de extrema importância no
processo de evolução humana.
Segundo Marchand (2001), o processo de envelhecimento é
caracterizado por perdas de funções orgânicas, que é conhecido por
senescência, onde ele consegue aceitar essas perdas das capacidades
intelectuais e físicas, e a selinidade, é conhecida como um envelhecimento
onde aparecem as patologias. Nesse sentido o envelhecimento, somente e
conhecido pelas mudanças anato-fisiologicas, esquecendo que o aspecto
psicológico é de estrema importância.
Na sociedade atual no qual o culto ao corpo e a juventude se tornou algo
com tanta em evidência, o processo do envelhecimento nem sempre é
encarado como algo natural, sendo criado a cada dia, mas métodos para se
retardar as marcas da idade.
Além da tentativa de mascara o envelhecimento, a visão social que se
tem em sua grande maioria sobre as pessoas idosas, é de corpos cansados
que não aguentam realisar muitas das funções que antes eram fáceis e
naturais.
“É interessante sinalizar que, na maioria das vezes, o idoso é tratado
com um excluído da sociedade, pois as pessoas o consideram como um ser
estranho que já não possui as mesmas necessidades e sentimentos que
tinham antes quando jovem [...] (ALVES, p. 93, 2013)
Hoje as características dessa população idosa têm mudado a cada dia
as pessoas vivem mais, continuam ativas socialmente, participando de grupos,
estudam, praticam atividade física, entre outros. Somado a isso o IBGE em
sua ultima pesquisa (2011) identificou que esta população soma cerca de 23,5
milhões de brasileiros, o que demonstra como esta população tem aumentado
a cada dia.
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Com toda preocupação e cuidado com a saúde as pessoas tem
melhorado sua qualidade de vida, buscando fazer uma manutenção do corpo
que o possibilite um envelhecer ativo e saudável. Somado a isto Alves (p. 77,
2013) escreve que, “Para manter as faculdades intelectuais, é fundamental e
eficaz que o idoso leve uma vida tão ativa quanto possível”.
Na busca de uma vida saudável, o que se tem observado a cada dia, é
que o público de idosos está cada vez mais ativo, experimentando e/ ou
praticando atividades que sempre tiveram vontade de realisar, que em muitos
casos devido à rotina árdua, acabavam por repremir, não conseguindo ter a
oportunidade de praticar.
“A repressão é a tendência do homem moderno e, com isso, ele reprime
sua expressividade corporal e emocional, facilitando as formas estereotipadas
de comportamento corporal levando à passagem do corpo dentro de dois
universos, da saúde e da doença.” (ALVES, p. 110, 2013)
Nesse momento a um grande conflito em aprender a lidar com as
limitações do corpo, sendo que a mente muitas se encontra na sua melhor fase
de amadurecimento, querendo realisar coisas que para o corpo já não são
fáceis. Também a casos em que a mente já não trabalha da mesma forma, não
acompanha a energia do corpo e principalmente nesses casos é importante,
acompanhamento e estímulos para que se mantenha um funcionamento ativo
da cognição.
“O idoso deve saber que existe sempre alguma coisa para aprender, faz-
se necessário que ele participe de tudo um pouco, e a sua curiosidade deve ser
mantida”. (ALVES, p. 76, 2013)
Ao se envelhecer o corpo já não funciona da mesma maneira, o
metabolismo, órgãos e sistemas envelhecem junto com a idade e aprender a
lidar com as limitações fisiológicas é um dos obstáculos que grande parte do
público que se encontra na da terceira idade relata.
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Segundo Vinci (p. 102, 2002) “A velhice sim poderia ser entendida como
uma etapa da vida, culturalmente e biologicamente definida, mas não o
envelhecimento, que decorre mais de características biológicas (ou será que
biopsíquicas?)”.
Em grande parte da sociedade a aceitação ao processo do
envelhecimento é muito difícil, mas não impossível, como a cada dia esse
público tem aumentado, muitos estudos relacionados a essa faixa etária
também, e com isso a criação de novos projetos que estejam qualificados,
preparados e direcionados a esse público.
Com todo questionamento sobre o envelhecimento, muitos idosos e
jovens se perguntam, de como ter uma velhice satisfatória? Segundo Vinci:
“As pessoas tem uma boa velhice não porque tenham se comportado adequadamente na juventude, mas porque, constantemente, desde sempre se adaptam de forma adequada – controlando emoções eventos produtores de estresse, solucionando problemas, desenvolvendo novas habilidades de memória e compreensão, sendo ativas e tendo desempenhos e competências sociais efetivos, adequados à realidade de cada período de suas vidas.” (VINCI, p.121, 2002)
A forma com que cada pessoa vive casa fase de sua vida, muitas vezes
esta ligada a como irá ocorrer seu processo de envelhecimento, e por isso uma
vida ativa, que busque equalizar a balança da rotina diária, de trabalho, família
e estresse, acaba sendo um grande segredo para o envelhecimento saudável.
“Uma boa velhice é fruto constante – e não resultado final – de um processo
contínuo de adaptação.” (VINCI, p. 121, 2002)
Aquisição de hábitos saudáveis, adaptação da rotina diária, para que ela
seja encarada de uma maneira, mas leve e serena, às vezes acaba por ser
uma grande ajuda na manutenção de uma vida saudável, e com isso um
envelhecimento pautado no cuidado com sua saúde.
A saúde do idoso é de estrema importância e a preocupação em se
fazer a manutenção da saúde ao longo da vida, ajuda a retardar alguns
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processos do envelhecimento (sarcopenia, osteopenia, artrose, osteoporose,
problemas cardiovasculares, problemas cardiopulmonares, entre outros) e se
manter longe do sedentarismo que é um dos grandes agravantes para o
aceleramento de alguns problemas de saúde.
Segundo Vicini (p. 134, 2002) “Não é possível que as pessoas possam
prevenir as doenças sem que possam aprender (conhecimentos e habilidades)
a controlar seus hábitos de vida e as condições ambientais em que vivem”. O
que demonstra a importância de se aprender sobre hábitos saudáveis, para se
entender como essas atitudes podem estar fazendo total diferença em suas
vidas, além de ter a percepção de como as condições do ambiente, podem
estar ligadas a rotina diária.
O cuidado com a rotina diária, equalizando todos os fatores do dia a dia,
não significam que não ocorrerá o envelhecimento, o envelhecer é um
processo natural que faz parte do desenvolvimento humano e também não
significa que não haverá ocorrência de problemas de saúde, pois todos os
seres humanos estão passíveis a sofrer com doenças, a diferença é que se faz
uma prevenção e retardamento de alguns processos, fazendo com que estes
em alguns casos se estabilizem, ajudando a melhorar a condição de vida.
A questão de se cuidar em todas as idades é muito importante, pois as
vezes um pequeno fator na rotina pode desencadear grande problemas. “Um
estresse pode geralmente provocar problemas físicos tais como tensões, dores
de cabeça ou ataques cardíacos.” (VERDERI, p.43, 2004)
Quando se completa sessenta anos muitos pensam que é o momento
em que se para e não se tem, mas o que fazer e esse é um pensamento que
hoje tem mudado, com todo o aumento da população nessa faixa etária a
sociedade tem olhado de maneira diferente, observando como esses
continuam ativos e cheios de garra.
“A idade avançada não indica o fim da vida de uma pessoa. Apenas a
intensidade nas atividades do dia-a-dia é que diminuem. Porém os sabores da
vida passam a ser melhor degustados”. (VERDERI, p.43, 2004)
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2.2 – A Terceira idade e as limitações
Quando se começa a ter que diminuir o ritmo de suas atividades é que
se começa um grande conflito entre corpo e mente, pois em muitos casos é o
momento da vida em que a pessoa se sente melhor, seguro e maduro para
realisar múltiplas coisas, sendo que o corpo já não acompanha no mesmo
ritmo.
O fato de ter que diminuir o ritmo muitas vezes gera um desconforto e
certo conflito, pois se demora a entender que é necessário desacelerar. A partir
desse conflito outro começa a surgir que é o da funcionalidade e limitação.
O conflito entre a funcionalidade e limitação está sempre a ocorrer com o
passar do tempo, e aprender a lidar com as condições da idade são muito
importante para que se mantenha um corpo e mente em equilíbrio. A procura
de práticas que busquem o desenvolvimento de habilidades sejam elas
motoras ou sócias são de máxima importância para a manutenção de hábitos
saudáveis e do bem estar.
Os hábitos saudáveis também estão ligados a colocar o corpo em
movimento e segundo Verderi “A atividade física é fundamental ao pleno
desenvolvimento do gerontes tanto para funções cardiovasculares,
pulmonares, locomotoras e psicológicas como também manutenção da saúde
social”. (p.62, 2004)
O que exemplifica como essa movimentação corpórea pode estar
ajudando a melhorar alguns desconfortos causados pela idade ou por
problemas fisiológicos.
“O idoso como qualquer outra pessoa não deve conviver com
inconvenientes, com sintomas desagradáveis. Devem–se prevenir problemas
comuns e buscar ajuda.” (ALVES, p.55, 2013)
25
Todo o trabalho de estimulação a movimentação, ao cuida-se, ao
experimentar-se, busca fazer uma prevenção e melhora do quadro de vida do
idoso, fazendo com que ele vivencie pelo corpo momentos que o levem a se
sentir bem tanto consigo mesmo quanto socialmente.
“O idoso dá muita importância à sua saúde, principalmente quando uso do corpo é intenso ou mais frequente. Sentem-se mais dispostos para a vida de uma forma geral quando se adaptam a programas de atividade físicas para sua faixa etária e, dessa forma, não evidencia as alterações orgânicas, como a hipertensão, as cardiopatias, os distúrbios digestivos e outras alterações.” (ALVES, p. 65, 2013)
Com práticas adequadas a sua faixa etária, facilita com que os idosos se
sintam, mas confortáveis para experimentar e realisar atividades que antes
nunca tinham vivenciado e a partir dessa vivência ter outra muito importante
que é o convívio com outras pessoas de sua idade.
“As atividades físicas não devem estar dissociadas ás atividades sociais, já que as atividades sociais contribuirão para acabar com certos preconceitos, complexos que os idosos adquirem e vivenciam e facilitam o redescobrimento de sua alegria e espontaneidade, fazendo-os reintegrarem à sociedade”. (ALVES, p.65, 2013)
Através da oportunidade de vivenciar práticas que o levem a sair da
situação de imobilidade, fazendo enxergar além das dificuldades e dos
problemas de saúde, o idoso consegue se redescobrir socialmente, se
encontrando e descobrindo que ainda a um lugar para ele, que ainda faz parte
da sociedade, que como todos tem seus direitos e deveres.
E pela atividade física que vêm com compromisso de resgate as
capacidades físicas como coordenação, ritmo, velocidade, agilidade,
resistência cardio-respiratória, flexibilidade, resistência muscular localizada e
26
equilíbrio, o idoso se encontra com seu corpo, aprendendo a lidar com suas
limitações, e ousando com o que têm de funcional, buscando em suas
dificuldades maneiras para vencer barreiras e realisar seus desejos, mostrando
como todos podem aprender a viver com suas limitações.
2.3 – A terceira idade e a Psicomotricidade
Na busca do resgate as capacidades físicas aliadas ao trabalho
psicológico e de convívio social que se pode encontrar a psicomotricidade, esta
que tem todo seu trabalho comprometido com a movimentação do corpo e seu
relacionar com a mente.
A psicomotricidade nessa faixa etária busca fazer um trabalho de
resgate, fazendo com que se relembrem coisas, como movimentos e atitudes
que se foram esquecidos, e muitas vezes estas através de pequenos jogos,
brincadeiras e vivências que fazem com que se vivencie novamente todo o
valor motor e social aprendido anteriormente.
“Pela Psicomotricidade, a intenção é o prosseguimento no processo de conscientização, estimulando a autoconfiança, a solidariedade e a participação na esfera coletiva, conjugando conhecimento e a ação e, por meio de planejamento, acompanhamento e avaliação, permitir ao idoso pensar e agir e é por meio de propostas variadas que a Psicomotricidade favorece a participação desse idoso em um conceito mais ativo” (ALVES, p.40, 2013).
Motivando uma participação ativa, buscando a interação, o contato a
vivência e a experimentação, a psicomotricidade leva o idoso a novamente se
deixar testar e se libertar dos temores do não conseguir, pois o objetivo é fazer
da forma que cada um consegue não há erros, o que existe é uma reeducação
pelo movimento.
27
“A Psicomotricidade por meio da educação, reeducação e terapia psicomotora promove o crescimento do esquema corporal, assim como sua imagem corporal, o aumento das habilidades articulares e motoras, e também trabalha a autoestima e socialização do idoso atingindo todas as áreas do comportamento humano. (ALVES, p. 41, 2013)
Por meio da psicomotricidade o idoso vivência movimentos que os
fazem reaprender habilidades motoras, além de estar sempre trabalhando o
seu contato social, se comunicando por meio da linguagem corporal e
continuando a buscar realizações, dando o suporte necessário para um
desempenho melhor.
“A Psicomotricidade é a incorporação das funções motoras com as
funções intelectivas ao mesmo tempo, mas que só consegue aprimorar-se por
meio da maturação e de experiências neuromotoras e é também essencial
condições emocionais para a capacitação da aprendizagem.” (ALVES, p. 97,
2013)
Através da vivência que se amadurece as habilidades, e a
psicomotricidade busca através da educação e reeducação psicomotora, que
os idosos vivenciem, relembrem e amadureçam o que se foi esquecido,
fazendo expressar no corpo posturas, tônus e ritmo coordenado com
movimentos.
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CAPÍTULO III
A Dança de Salão e o Desenvolvimento Psicomotor
A dança tem como objetivo trabalhar o organismo do individuo harmoniosamente, respeitando as suas emoções, o seu estado fisiológico, desenvolvendo habilidades motoras, o autoconhecimento e ainda possibilitando benefícios como: prevenção e combate a situações estressantes; estimular a oxigenação do cérebro; melhorar o funcionamento das glândulas; reforçar os músculos e a proteção das articulações; auxiliar no aumento do desempenho cognitivo, da memória, da concentração e da atenção, proporcionar cooperação, colaboração, contato social; estimular a criatividade, a melhora da auto-estima, da auto-imagem e o resgate cultural. (SOUZA, 2010)
3.1 – A Dança de salão e seus possíveis benefícios para o
Desenvolvimento Psicomotor
Com passar dos anos, no desenvolvimento psicomotor começa a se
observar dificuldades, que em muitos casos começam a causar grandes
desconfortos no dia-a-dia. Depois de toda estimulação motora que se tem na
infância, quando adulto começa a se ter em alguns casos um retrocesso do
aprendizado e a importância de estimulação e movimentação do corpo se faz
necessário para se ter uma velhice pautada na funcionalidade e mobilidade.
Segundo OLIVEIRA (2005):
“O idoso ativo não vive muito mais que outro que é sedentário, porem programas diferenciados de atividade física para a terceira idade, possibilita ao corpo uma disposição maior para as atividades diárias, com isso, consequentemente, produzirão a sensação de bem-estar, reduzindo ansiedade, tensão, depressão e efeitos de estresse.”
29
Além dos benefícios motores que ajudam a melhorar a funcionalidade
diária, a prática de atividade física também pode trazer grandes benefícios
psicológicos, como bem estar, autoestima, satisfação, entre outros. Para
GALLAHUE; OZMUN (2003), “o exercício pode ter efeitos benéficos em muitas
variáveis psicológicas associadas ao envelhecimento, algumas delas são o
sentimento de bem-estar, que pode representar uma alteração positiva após a
realização de alguma atividade ou de qualquer tarefa”.
A questão de se estimular o movimento é muito importante para se
manter o corpo e mente em funcionamento, e para Fonseca (p.173, 2009) “O
significado de uma existência subjetiva respeita a situação dada, isto que dizer
que, para se observar um comportamento, é necessário que o homem esteja
em situação. O estar em situação permite perceber a finalidade do
comportamento”.
A importância do corpo se movimentar estar ligado ao seu aprendizado
psicomotor, quando se volta a estimular o movimento o corpo reconhece
aprendizados que antes ficaram esquecidos e a partir disso o indivíduo volta a
se reconhecer tanto corpo (motor) tanto mente (psico).
Na busca de se realizar um resgate de movimentos que muitas vezes se
ficam esquecido tanto pelo corpo e mente, é de grande importância estimular o
idoso a sair da imobilidade, e saindo desse quadro começa a se observar quais
as atividades que estes possam praticar e nessa busca a Dança de Salão é
uma atividade que possui muitos adeptos.
Este estilo de Dança tem como grande parcela de seus praticantes
pessoas acima de sessenta anos e esta prática pode trazer muitos benefícios
para a mobilidade e funcionalidade de seus praticantes, como o trabalho do
ritmo que é desenvolvido em todos os estilos de músicas ensinados nessa
aula. Sobre isso NANNI (p.212, 2002) diz:
“Ritmo individual no movimento são (sic) as interações de forças das contrações musculares pela distribuição de energia
30
que refletem sobre o movimento. Ritmo do grupo e forma conjunta de distribuição dos movimentos na inter-relação sincronizada de distribuição da energia, da força, da intensidade, da velocidade da força e reação da energia.”
Somado a isso o autor ARTAXO (p.9, 2003), “afirma que o ritmo e o
aspecto mais natural da musica; que se chega a musica a partir das pulsações
de nosso corpo”. Este autor aponta que “os objetivos do ritmo são: Desenvolver
a capacidade física do educando nos aspectos: do equilíbrio, saúde e da
qualidade de vida; procurar a descoberta do próprio corpo e de suas
possibilidades de movimento; desenvolver o ritmo natural; desenvolver a
criatividade, chegando à conquista do estilo pessoal; possibilitar o trabalho em
grupo, despertando o sentido de cooperação, solidariedade, comunicação,
liderança, entrosamento, etc”.
Nesse sentido MIRANDA e colaboradores (1996), dissertam que “a
musica foi reconhecida como uma benéfica fonte na realização dos exercícios
aeróbios, pois auxilia no bem-estar, no ritmo do exercício, podendo também
aumentar a motivação do grupo, e interferir nos estados emocionais”.
Para NANNI (2002), “o ritmo é que da forma aos movimentos, dando
características a expressão, diferenciando-se através da velocidade e
intensidade”. Ela afirma que, “a dança permite o “toque de pele”, possibilitando
o individuo usufruir dos seus limites e dos outros, e gerar uma relação social e
pessoal, podendo comparar emoções e sensações”.
Nas aulas de Dança de Salão também é trabalhado o equilíbrio, pois no
aprendizado de cada passo o aluno é ensinado a realizar a troca de peso e se
colocar junto ao seu parceiro, de forma a realizar os passos sem se desalinhar.
Segunda Fonseca (p.131, 2012) “A equilibração reúne um conjunto de aptidões
estáticas e dinâmicas, abrangendo o controle postural e o desenvolvimento das
aquisições de locomoção”.
A noção de lateralidade é muito desenvolvida, pois cada passo começa
para um lado diferente para o cavalheiro e para a dama, por isso cada um
31
trabalha muito o lado que tem que estar se colocando, além de aprenderem a
se locomoverem no baile sempre em sentido anti-horário.
“A lateralização como resultado da integração bilateral e postural do corpo é peculiar no ser humano e está implicitamente relacionada com a evolução e a utilização dos instrumentos, isto é, com integrações sensoriais complexas e com aquisições motoras unilaterais muito especializadas, dinâmica e de origem social”. (FONSECA, p. 151, 2012)
Na Dança de Salão muitos movimentos requerem contração muscular,
isso em diversos passos, o que também auxiliar na melhora do tônus muscular.
Segundo Fonseca (p.202, 2009) “O tônus não serve só para pôr os segmentos
corporais no lugar; serve para manter os grandes aparelhos da vida vegetativa
em funcionamento. Também já focamos que o tônus tem toda uma
interferência significativa na esfera da afetividade”.
Nesse sentido pode se inferir sobre a importância do tônus para o
funcionamento do corpo e como esta totalmente ligada ao que a pessoa
vivencia em sua vida pessoal.
A noção espaço - temporal é muito trabalhada nessa prática, pois todos
precisam aprender a dançar com outros casais a sua volta, aprendendo a
adequar os passos ao espaço que se tem para dançar, sempre buscando
associar movimento, espaço, tempo, pessoas e música. Para Fonseca (p. 184,
2012) “A estrutura espaço – temporal emerge da motricidade, da relação com
os objetos localizados no espaço, da posição relativa que ocupa o corpo, enfim
das múltiplas relações integradas da tonicidade, da equilibração, da
lateralização e da noção do corpo”.
A relação da prática de Dança de Salão por parte de seus praticantes
pode estar muito vinculada ao contato que se tem com outras pessoas, nessa
prática o convívio social é muito grande, as pessoas muitas vezes formam
grandes ciclos de amizade e passam a compartilhar com outras pessoas suas
32
vidas e muitas vezes observam como os outros também estão passando pelas
mesmas coisas e assim acaba ocorrendo uma identificação, se sentindo na
maioria dos casos acolhido, se sentido fazendo parte de algo.
A dança como atividade física, de acordo com Salvador (2004) e
Chiarion (2007), “proporciona melhor elasticidade muscular, aumenta e
melhora a circulação sanguínea e os movimentos articulares, além de diminuir
o risco de doenças cardiovasculares, problemas no aparelho locomotor e o
sedentarismo, reduzindo o índice de depressão e ansiedade”.
Somado a isto OKUMA 1998 apud SILVA (2007) corroboram dizendo
que “A dança como atividade física é importante para as idosas porque
estimula as funções do organismo, previne o diabetes, a hipertensão, a
osteoporose, causa uma melhora no aparelho locomotor, auxiliando assim em
suas atividades diárias”.
Com base no que foi tratado acima se observa como a realização de
movimentos ajuda no desenvolvimento psicomotor de idosos, e para
FONSECA (p.209, 2009) “A motricidade humana está dependente da
integração dos dados exteroceptivos e dos dados proprioceptivos. O cérebro, o
corpo e o envolvimento estão em permanente interação”.
Para os praticantes da Dança de Salão ela vai muito além de uma
atividade, ela ajuda a se sentirem bem e incluídos. “Ao dançar, assumem uma
nova expectativa de qualidade de vida e, consequentemente, melhoram a
performance corporal.O prazer da dança, esta em expressar a arte, através de
sentimentos e emoções. (CIPRIANO, p. 2, 2011)
O que vêm corroborar para a importância e os possíveis benefícios da
prática da Dança de Salão, que trabalha toda a interação com o movimento,
pessoas e ambientes, fazendo com que seus praticantes façam um resgate de
habilidades que com passar do tempo ficaram esquecidas.
33
CONCLUSÃO
A partir do levantamento bibliográfico realizado observa-se que a prática
de dança de salão por pessoas acima de sessenta, pode trazer muitos
benefícios para o corpo e a mente de seus praticantes.
A necessidade se manter em movimento buscando, estar na ativa e se
sentindo bem deve sempre ser incentivado ao público da terceira idade. Nessa
faixa etária o desenvolvimento psicomotor pode ficar um pouco prejudicado,
por isso é importante incentivar que eles relembrem suas habilidades, e a
maneira melhor de se realizar isso é na prática.
Todo trabalho psicomotor é pautado em aprender fazendo e o público da
terceira idade necessita dessa movimentação corpórea, para resgatar
habilidades, que às vezes ficaram perdidas com o passar do tempo. Na hora de
escolher uma atividade é imprescindível que o idoso se sinta confortável com a
modalidade, e o que se observa na maioria dos casos é a escolha da Dança de
Salão como uma das atividades de maior agrado desse público.
A escolha da Dança de Salão como modalidade esta diretamente ligada
a identificação com os estilos de músicas, que os fazem muitas vezes
relembrarem seu passado, outra identificação é com as regras (etiquetas) da
modalidade que trabalha muito o valor de respeito e também se identificam
pelo fato de encontrarem muitas pessoas de sua faixa etária praticando essas
aulas.
O conforto em se realizar esta atividade esta inteiramente ligada à
satisfação que o idoso sente em suas aulas. O contato que se tem com
pessoas que muitas vezes passam por problemas parecidos traz a sensação
de acolhimento, de encontro e a relação social melhora, fazendo com que se
volte a ter um circulo de amizade, que o faça se sentir bem.
34
Com todos os benefícios que a dança de salão pode trazer para o bem
estar, para a relação social e para a satisfação, ainda se tem a questão de todo
o trabalho de melhora das habilidades motoras que são estimuladas em todos
os passos que são ensinados nos estilos de dança. Em cada movimento esses
idosos conseguem resgatar não só coisas perceptíveis (habilidades motoras),
mais também questões que não se pode visualizar (psico), ocorrendo um
trabalho de desenvolvimento e de resgate por inteiro nesses indivíduos.
Através de todos os estímulos que a prática de dança de salão pode
trazer aos seus praticantes, pode se inferir que ela possa trazer grandes
benéficos para o desenvolvimento psicomotor de idosos praticantes de dança
de salão. Corroborando para o que o Estatuto do Idoso norteia como o que se
deve garantir a esse público: “assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a
efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao
esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito
e à convivência familiar e comunitária”. (BRASIL, 2003)
35
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38
ÍNDICE
Capa ............................................................................................................................1
Folha de Rosto ............................................................................................................2
Agradecimento ............................................................................................................3
Dedicatória ..................................................................................................................4
Resumo .......................................................................................................................5
Metodologia..................................................................................................................6
Sumário .......................................................................................................................7
Introdução ....................................................................................................................8
Capítulo I: A Dança de salão.......................................................................................10
1.1 – Contextualização sobre a Dança de Salão ........................................................10
1.2 Breve Histórico.......................................................................................................13
Capítulo II: A Terceira Idade........................................................................................19
2.1 – O Envelhecer .....................................................................................................19
2.2 – A Terceira Idade e as limitações........................................................................24
2.3 – A Terceira Idade e a psicomotricidade...............................................................26
Capítulo III: A Dança de Salão e o Desenvolvimento Psicomotor ..............................28
3.1 – A Dança de salão e seus possíveis benefícios para o Desenvolvimento
Psicomotor ..................................................................................................................28
Conclusão ...................................................................................................................33
Bibliografia ..................................................................................................................35
Índice ..........................................................................................................................38