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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA AS BASES DOS ESTUDOS DA NEUROCIÊNCIA PEDAGÓGICA E O SISTEMA DE ENSINO MONTESSORI PARA FORMAÇÃO DA APRENDIZAGEM HUMANA. Por: Vergínia Chousinho Khouri Silva Orientador Professora Marta Relvas Rio de Janeiro 2014 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

AS BASES DOS ESTUDOS DA NEUROCIÊNCIA PEDAGÓGICA

E O SISTEMA DE ENSINO MONTESSORI PARA FORMAÇÃO DA

APRENDIZAGEM HUMANA.

Por: Vergínia Chousinho Khouri Silva

Orientador

Professora Marta Relvas

Rio de Janeiro

2014

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

AS BASES DOS ESTUDOS DA NEUROCIÊNCIA PEDAGÓGICA

E O SISTEMA DE ENSINO MONTESSORI PARA FORMAÇÃO DA

APRENDIZAGEM HUMANA.

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada

como requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Neurociência Pedagógica.

Por: Vergínia Chousinho Khouri Silva.

AGRADECIMENTOS

A Deus, aos meus pais, aos meus dois

filhos, ao meu marido, aos amigos e

família, à amiga Maria Luiza Gama, à

minha prima Sandra Caneira, às amigas e

professoras Ana Azevedo e Sonia Maria

Braga, e a minha orientadora Marta

Relvas, que me motivaram a me dedicar a

esse estudo.

DEDICATÓRIA

Aos meus filhos Theo e Athos que são

para mim a fonte de inspiração e de

sentimentos de amor, alegria, força,

coragem e superação, que me

impulsionam ao trabalho com crianças e

educação.

Ao meu marido que contribuiu com sua

compreensão e apoio, fortalecendo a

minha confiança em minha capacidade de

realizar este estudo e especialização.

A Casa Athos de Amor e Alegria, que se

tornou para mim a força de trabalho pela

educação e a oportunidade de crescimento

intelectual e espiritual.

RESUMO

Este estudo é sobre o conhecimento, como ele se constrói e se processa na

mente humana. Aborda a emoção, o sentimento, a afetividade, o pensamento, e suas

influências sobre o aprendizado e o comportamento humano. Faz uma pesquisa sobre

os sistemas pedagógicos de Comenius e Maria Montessori conectando-os aos

conceitos da Neurociência da aprendizagem na formação integral do Ser. Trata de

uma Educação para a formação de um Homem Novo para um Mundo Novo, onde o

pensar, o sentir e o vivenciar, a partir das idades infantis, tornam-se fundamentais e

imprescindíveis. O embasamento científico destes sistemas pedagógicos e da

Neurociência da aprendizagem norteiam esta pesquisa e as necessidades

educacionais da educação infantil deste século.

Palavras-Chave: Comenius, Montessori, Neurociências, Sentimentos, Educação.

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de autores, livros, revistas e artigos

científicos, nas diversas áreas que o autor deste trabalho reúne, num debate de ideias,

pontos de vista e interesses de cada área dos profissionais pesquisados.

Desvendando o cérebro, sua anatomia, fisiologia, conexões e memória,

autores como Fiori, Cosenza e Guerra, Lent e Relvas auxiliam a compreensão desse

importante elemento para este trabalho monográfico.

Autores como Aranha, Arruda, Cosenza e Guerra, Chaui, Eby, Luckesi,

Santomauro, Urbano e Zilles contribuem para o estudo que é realizado sobre o

Conhecimento, abordando algumas teorias filosóficas, natureza, origem e limites do

conhecimento, chegando a tratar da apropriação da realidade pelo conhecimento e a

perspectiva construtivista.

Autores como Almeida, Bastos, Bruce Lipton, Damásio, Marilda Lipp e

Vygotsky, das áreas da Educação, Psicologia, Terapia Cognitiva Comportamental,

Neurociência, Biologia Celular e Física Quântica, permitem, neste estudo, as relações

e diálogos entre Cognição, Sentimento, Comportamento.

Incontri, Beraldi, Walker, Eby, Colombo e Covello corroboram com o estudo

sobre a história, pensamento filosófico, bases e proposta pedagógica de Comenius e

Maria Montessori.

Autores como Braga, Diamond, Fassa e Hughes possibilitam, com suas

pesquisas sobre o Sistema Montessori e suas relações com a Neurociência do

aprendizado, um diálogo que preconiza ideias, ideais e proposta pedagógica que se

preocupam com o aprendiz e seu desenvolvimento psíquico, emocional e cognitivo.

Dessa forma, oferece-se a esse indivíduo a possibilidade de trabalhar suas

potencialidades e habilidades com autonomia e liberdade, construindo conhecimento e

valor para suas vidas.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 8

CAPÍTULO I ..................................................................................................... 13

CAPÍTULO II .................................................................................................... 38

CAPÍTULO III ................................................................................................... 49

CAPÍTULO IV ................................................................................................... 59

CAPÍTULO V .................................................................................................... 88

CONCLUSÃO ................................................................................................ 104

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ..................................................................... 107

ÍNDICE ........................................................................................................... 111

8

INTRODUÇÃO

Este estudo monográfico faz uma revisão bibliográfica sobre temas

como o cérebro e o sistema nervoso, conhecimento, sentimento, emoção e

comportamento, propostas pedagógicas que se preocupam com a Educação

integral do ser, e Montessori e Neurociência Cognitiva. O objetivo é promover

um diálogo com os autores e propor reflexões sobre o que é possível fazer

para que a Educação seja comprometida com as novas propostas pedagógicas

e didáticas que a Neurociência vem mostrando serem importantes para o

sistema de ensino dos novos tempos.

Busca-se mostrar que ao longo da história as ciências da Pedagogia e

da Neurociência trouxeram o debate sobre como realizar um trabalho que

contenha valor e significado, e que contribua com a construção de novos rumos

e modelos de ensino com abordagem e práticas na Educação; preocupadas

com a formação de indivíduos críticos, responsáveis e conscientes de seus

papéis nos diferentes contextos em que interagem, e nas relações que

estabelece consigo, com o outro, com o meio e outros seres, por fim, com o

mundo e o universo.

A Neurociência e o Sistema Montessori são as bases para as

mudanças, consideradas por este estudo para reflexão e fundamentação desta

“Nova Educação”.

O Sistema Montessori e suas conexões com a ciência moderna do

cérebro é considerado, por este estudo, a “ferramenta” importante para que

ocorram as transformações que se fazem urgentes na Educação e na

sociedade. Sua metodologia prima pelo desenvolvimento de estruturas do

corpo, do cérebro e do espírito, que são importantes para a execução de

tarefas e de funções executivas. Ela atua na construção de memória de

trabalho e de longo prazo. Trabalha na estruturação de comportamentos,

pensamentos, sentimentos e ações. Promove o equilíbrio, o bem estar, o

autoconhecimento, o autodomínio e a paz interior. Constrói bases morais,

emocionais, sociais e cívicas no indivíduo, possibilitando que ele se torne um

9

indivíduo que se preocupe com seu bem estar e desenvolvimento, mas

também, com o do outro e de toda a humanidade.

O ponto de vista que este estudo mantem é que existem subsídios no

Sistema de Ensino Montessori, que podem e devem ser utilizados como

metodologia para as novas salas de aula deste novo século, como a inovação

de práticas, didática e filosofia, a motivação para as descobertas e

aprendizado, a estimulação da autonomia, da responsabilidade e da liberdade

do estudante e a prática do autocontrole, autodisciplina e autoconhecimento.

Neste sentido são desenvolvidos os cinco capítulos deste estudo. O ponto

culminante é o último capítulo, que faz a relação entre a modernidade da

Neurociência Cognitiva de nossos dias e a modernidade do Sistema

Montessori, que, embora tenha sido criado em meados do século XX, se

manteve a frente de seu tempo e continua sendo uma proposta pedagógica

com grandes conexões com as necessidades de mudança da atualidade e com

a ciência moderna, a Neurociência Cognitiva.

Maria Montessori viajou pelo mundo fazendo palestras, seminários e

conferências no intuito de levar um novo significado do conceito de paz, de

educação, de cidadão e da sua responsabilidade. Nestas palestras, propôs ao

mundo suas ideias, filosofia e sistema montessoriano. Sua capacidade de

observação, sua dedicação à pesquisa com comprovação científica foram

avaliados importantes por muitos países, e os resultados e aplicabilidade foram

efetivos para estas avaliações.

No seu caminhar pelo mundo, Montessori pode fazer a sementeira de

sua ideologia e de sua metodologia. Hoje vivemos num mundo onde os

parâmetros de valores morais e as acirradas competições por

cargos/posições/status social, e as diferenças religiosas são os conflitos que

estão desestabilizando a paz, que inicia seu poder na intimidade do ser

humano, expandindo-se ao outro, à família, à sociedade e ao mundo.

O que se deseja mostrar com esta pesquisa, iniciada pelo estudo do

cérebro e do sistema nervoso do ser humano, seguida do estudo sobre a

aquisição e desenvolvimento do conhecimento e passando pela compreensão

da emoção, sentimentos, afetividade e comportamento (com suas implicações

10

e causas) sob os pontos de vista da Pedagogia, Psicologia, Biologia e

Neurociências, é que esses elementos da construção cultural, social e

individual do ser, estão interligados e são interdependentes.

A Ciência Moderna e a Neurociência já consideram que o sentimento, a

afetividade e o pensamento são propiciadores de saúde ou doença, felicidade

ou depressão, autoconfiança ou falta de confiança no próprio potencial, e

outras antíteses que causam as dificuldades nos processos de

desenvolvimento integral do ser.

Buscou-se reunir todos esses elementos para que, baseados na

ciência e na observação dos fatos, se lance a ideia da retomada destas

propostas pedagógicas, onde o indivíduo é considerado o “cocriador” do

mundo; sendo assim, é responsável por ele, por seu desenvolvimento, mas

também pelo desenvolvimento da coletividade.

Comenius e Maria Montessori foram incansáveis em propor ao mundo

mudanças urgentes quanto à relação com tudo e todos.

No mundo atual o que se mantém apropriado é consumir e competir,

contradizendo a proposta de sustentabilidade quanto a recursos

econômicos/planetários/individuais, que se faz tão urgente.

É necessário mudar, transformar, reeducar os sentimentos, e

compreender que o ser humano é parte integrante e importante na construção

de um mundo que será, no futuro, o resultado do que é semeado hoje.

Os capítulos deste estudo monográfico estão dispostos de maneira a

proporcionar ao leitor a compreensão da responsabilidade da Educação na

construção do novo mundo, do adulto do futuro, como diz Hughes da

“construção de melhores cérebros”. O primeiro capítulo tem como tema central

o Sistema Nervoso e o Cérebro, fornecendo bases científicas sobre as

estruturas, as funções, as conexões e o funcionamento deste complexo

sistema que rege todo o nosso corpo e, que nos torna capazes de pensar,

sentir, agir, interagir, realizar e, também, situação que só a mente humana

pode criar, que é a Metacognição, “o pensar sobre o pensar”. O segundo

capítulo aborda o Conhecimento. Nele pesquisa-se sobre as Teorias

Filosóficas do Conhecimento – Breve Histórico; A Natureza do Conhecimento –

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realismo e idealismo; A Origem e os limites do Conhecimento – Ideias sobre o

aprendizado; A perspectiva Construtivista. O terceiro capítulo reúne pontos de

vista da Psicologia e de educadores sobre os sentimentos, emoção, afetividade

e pensamento, e estudos da biologia celular e da Física Quântica, com suas

conexões e interrelações. As pesquisas são: Sentimento, Emoção, Afetividade

– Um diálogo com as Ciências, numa dialética entre psicologia e pedagogia; O

Pensamento nas perspectivas da Biologia Celular e da Física Quântica. O

quarto capítulo pesquisa sobre: Propostas Pedagógicas – Filosofias e Valores;

Comenius, sua história e obra, seu projeto e seu pensamento filosófico; Maria

Montessori, sua história e obra; as bases da Metodologia Montessoriana,

apresentando uma Educação que desperte sentimentos de responsabilidade,

paz, solidariedade e a consciência de cidadão do mundo. O quinto capítulo,

Montessori e a Neurociência Cognitiva, apresenta as conexões e relações

deste sistema de ensino e sua filosofia com a Neurociência. Aborda vários

aspectos que Montessori desenvolve e que estão em consonância com as

descobertas e propostas da Neurociência Cognitiva, para que se possa

modificar os padrões, modelos e parâmetros da Educação, de nossos dias e do

futuro; trabalhando potencialidades e habilidades e, desenvolvendo

competências.

Um dos aspectos básicos para esta construção do potencial humano é

oferecer o alimento necessário ao “embrião espiritual” e ao “embrião físico” da

criança, que tem necessidades e características próprias, de forma que o

desenvolvimento deste seja integral. Este estudo reúne recursos para refletir-se

sobre que tipo de alimento é importante oferecer à criança na Educação Infantil

para que o desenvolvimento seja amplo.

A Criança, A Educação Cósmica, A Educação para a Paz e a Mente

Absorvente, livros de Maria Montessori, são fontes riquíssimas de informação

científica, técnica e prática de como a educação pode oferecer, à criança e ao

jovem, recursos para o desenvolvimento de suas potencialidades.

Os dois educadores, Comenius e Montessori, viveram muito à frente de

seu tempo em ideologias, concepções e pesquisas. Nos dias atuais ainda

existem pessoas que não acreditam que a Educação seja a chave para

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resolvermos questões que estamos vivenciando em relação às drogas,

violência, diferenças sociais, limites e outros. Um indivíduo normalizado,

consciente de si, de seu potencial, de seu valor, e de sua responsabilidade

individual e cósmica poderá ser o pai de um novo mundo de oportunidades,

esperança e mais justo social e intelectualmente.

Maria Montessori sentia em sua metodologia a confiança de que se a

criança é guiada pelo educador (mediador) a conduzir seus passos em ritmo

próprio, com confiança, sendo respeitada em seus limites e com liberdade,

poderá ser capaz de construir o homem que, no futuro, oferecerá ao mundo

novas possibilidades em sentimentos, comportamentos e relações.

A mensagem que este estudo pretende passar é: para educar o

homem do futuro é preciso compreender todos os aspectos que envolvam a

formação do ser, o cognitivo, o psíquico, o emocional e afetivo, o relacional e o

físico, e propiciar ambiente ideal e possibilidade de desenvolvimento.

A criança é dotada de poderes desconhecidos que podem

produzir um futuro luminoso. Se verdadeiramente se quer

ter em mira uma reconstrução, o desenvolvimento das

potencialidades humanas deve ser o objetivo da

educação. (Montessori s/nº 2ª edição, p. 7 -8)

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CAPÍTULO I

1.O SISTEMA NERVOSO E O CÉREBRO

Anatomia, Fisiologia e Sistemas

Neste capítulo serão apresentados o Sistema Nervoso Central e o

Sistema Nervoso Periférico, cobrindo a sua embriogênese, anatomia, fisiologia,

e focando detalhadamente o cérebro com seus elementos e sistemas. O intuito

é oferecer base para a compreensão da dinâmica da construção do

conhecimento, do comportamento, da afetividade e da aprendizagem. A

abordagem será feita sem aprofundamento mas fornecendo subsídios para o

entendimento do funcionamento e complexidade do cérebro e de suas redes de

conexões e funcionamento. O potencial criativo, a memória, o aprendizado e

sua plasticidade, também serão foco de atenção deste capítulo.

Este estudo optou por iniciar a apresentação do Sistema Nervoso, suas

regiões e áreas para depois entrar nos elementos bases da informação e de

suas integrações. Segue-se, assim, a filosofia do Sistema Montessori, que é

iniciar o estudo pelo todo e depois passar para as partes.

1.1 - Embriogênese do Sistema nervoso

Lent (2010, p. 35-39) nos explica o quanto as fases da embriogênese

(ou morfogênese) são importantes para se compreender a estruturação e

organização do sistema nervoso de um vertebrado, especificamente, em nosso

estudo, o ser humano. O sistema nervoso é formado por três partes básicas

que dão origem a outras estruturas do sistema nervoso central e periférico.

Desde a fecundação, ocorrem transformações na estrutura do zigoto, que

darão origem ao novo ser.

“A morfogênese do sistema nervoso representa a série de

transformações morfológicas que ocorrem durante o

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desenvolvimento embrionário. O sistema nervoso surge

muito cedo no embrião, como uma placa de células

ectodérmicas que proliferam e se transformam em um

tubo cilíndrico. Este cresce, contorce-se e se transforma

em uma estrutura composta de vesículas –

protuberâncias que se sobressaem ao tubo neural – que

são precursoras das grandes regiões do sistema

nervoso.” (LENT 2010, p. 34)

A primeira estrutura formada a partir do zigoto é a mórula, que recebe

esse nome pela semelhança com uma amora. A mórula chega ao útero e se

subdivide, forma uma estrutura oca e circular, e se fixa ao útero. Com o tempo

vai sendo pressionada, transformando-se em uma superfície plana, formando

os três folhetos embrionários primordiais justapostos (endoderma, ectoderma e

mesoderma). ”O mesoderma exerce uma forte influência sobre o ectoderma

que o cobre, agora chamado neuroectoderma, porque é a partir dele que se

formará a quase totalidade do sistema nervoso.” (LENT 2010, p. 35)

A relação e influência do mesoderma sobre o ectoderma causa um

alongamento das células, tornando-as cilíndricas, formando a placa neural, que

após processos de proliferação e transformações formam um tubo, o tubo

neural. Ele “irá formar o sistema nervoso central”, e “duas lâminas longitudinais,

conhecidas como cristas neurais” que são formadas devido às transformações

dessas folhas em tubo neural, darão origem ao sistema nervoso periférico.

(LENT 2010, p. 36)

Após um mês de vida intrauterina, em meio a várias transformações

estruturais, “logo após o tubo neural completar o seu fechamento, pode-se

perceber que a extremidade cranial vai se dilatando, formando três “bolhas”

conhecidas com vesículas encefálicas primitivas” que formam as vesículas:

prosencéfalo (a mais anterior), mesencéfalo (a central) e rombencéfalo (a mais

posterior). (LENT 2010, p. 36) No interior das vesículas há a formação de um

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fluido orgânico que “dará origem aos ventrículos cerebrais e aos canais de

comunicação entre eles.” (LENT 2010, p. 38)

Durante o segundo mês de gestação, outras transformações ocorrem,

o tubo neural encurva-se, e as vesículas se subdividem em cinco.

“O prosencéfalo forma o telencéfalo e o diencéfalo. O

mesencéfalo não se modifica muito e por isso continua

sendo chamado assim. O rombencéfalo subdivide-se em

metencéfalo e mielencéfalo. Para trás do mielencéfalo, o

tubo neural continua cilíndrico, transformando-se

gradativamente na medula espinhal primitiva.” (LENT

2010, p. 38-39)

Com o estudo da embriogênese é possível compreender a origem e

como são formadas as estruturas mais primitivas e que são âncoras de todo o

desenvolvimento do sistema nervoso e do cérebro humano. A vesícula

telencefálica

“cresce enormemente para os lados e para trás e forma

dois hemisférios cerebrais, incluindo o córtex e os núcleos

de base (...). O diencéfalo e o mesencéfalo (...) se

originam, respectivamente, da vesícula diencefálica e da

vesícula mesencefálica do embrião. A vesícula

metencefálica dá origem ao cerebelo e à ponte. (...) O

bulbo é formado pela vesícula mielencefálica. Finalmente,

a medula espinhal primitiva cresce por igual sem se

modificar muito, e dá origem à medula espinhal adulta.”

(LENT 2010, p. 39)

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O córtex cerebral e o córtex cerebelar até os seis primeiros meses de

gestação se apresentam lisos. Após esse período o crescimento dessas duas

estruturas acontece com maior velocidade e ocorrem, então, a formação de

dobras, chamadas de giros, no córtex cerebral, e folha, no córtex cerebelar, e,

também, a formação de sulcos e fissuras. (LENT 2010, p. 39)

Outros elementos da estruturação do sistema nervoso são formados a

partir do tubo neural (que forma o SNC) e as cristas neurais, já mencionadas

anteriormente neste estudo. As células das cristas neurais “proliferam e migram

ativamente, afastando-se do tubo neural. Ao longo do caminho algumas se

fixam em uma determinada região, agrupam-se e formam gânglios enquanto as

outras continuam a migração.” Outras estruturas e elementos são formados a

partir das células das cristas neurais como, por exemplo, “as células da glia,

que formam a bainha de mielina da maioria dos nervos.” (LENT 2010, p. 39)

A seguir algumas figuras e tabelas que complementam a compreensão

deste tema.

Figura 1 - Embriogênese – Sistema Nervoso

Fonte: (LENT 2010, p. 38)

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Tabela 1 - Vesículas Primitivas do Embrião e Estruturas Anatômicas Principais do Indivíduo

Vesículas Primitivas Estruturas Anatômicas

Prosencéfalo Telencéfalo

Córtex cerebral

Núcleos da base

Diencéfalo Diencéfalo

Mesencéfalo Mesencéfalo Mesencéfalo

Rombencéfalo Metencéfalo

Cerebelo

Ponte

Mielencéfalo Bulbo

Medula primitiva Medula primitiva Medula espinhal

Fonte: (LENT 2010, p. 39)

1.2 - O Sistema Nervoso e o Cérebro

1.2.1 - Sistema Nervoso Central (SNC)

Conforme relata Relvas, há partes do sistema nervoso que estão no

interior do cérebro e da coluna vertebral (constituindo o encéfalo) e há outras

“distribuídas por todo corpo” (os nervos). (RELVAS 2009, p. 14). Onde:

“As primeiras recebem o nome coletivo de sistema

nervoso central (SNC), e as últimas, de sistema nervoso

periférico (SNP). É no sistema nervoso central em que

estão a maioria das células, seus prolongamentos e os

contatos que fazem entre si. No sistema nervoso

periférico, estão relativamente poucas células e um

grande número de prolongamentos chamados fibras

nervosas, agrupadas em filetes alongados chamados

nervos, que funcionam como fios condutores de

informações motoras e sensitivas.” (RELVAS 2009, p. 14)

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A maioria das células, seus prolongamentos e os contatos que fazem

entre si, estão no sistema nervoso central. O sistema nervoso periférico contém

poucas células, há maior quantidade de prolongamentos (axônios) chamados

de nervos (ou fibras nervosas) (RELVAS 2009, p. 78).

O sistema nervoso periférico é composto de três tipos de sistemas de

nervos: cranianos, raquidianos e o sistema nervoso autônomo. (FIORI 2008, p.

33)

De acordo com as considerações de Fiori, a organização do sistema

nervoso pode ser observada sob dois “pontos de vista”: o “microscópico (a

célula ou tecido nervoso)” e o “macroscópico (subdivisões do SN

relacionando-as ao seu funcionamento)” (FIORI 2008, p. 21).

Numa visão macroscópica, Fiori considera “numa primeira abordagem”

que o Sistema Nervoso Central é constituído pelas seguintes partes

fundamentais: a medula espinhal, o bulbo (mielencéfalo), a ponte, o cerebelo

(metencéfalo), o mesencéfalo, o diencéfalo (tálamo e hipotálamo) e o

telencéfalo (hemisférios cerebrais) (FIORI 2008, p. 34). O tronco cerebral é

uma região bastante complexa e intermediária entre a medula espinhal e o

cérebro (porção posterior). “É uma região de passagem das fibras ascendentes

e descendentes pelas quais transitam as informações veiculadas nos dois

sentidos entre a periferia – via medula espinhal – o cérebro e o cerebelo.”

(FIORI 2008, p. 42).

A medula espinhal faz parte do sistema nervoso e não do encéfalo. Ela

“controla a musculatura somática e recebe estímulos chamados “gerais” (tato,

dor, propriocepção)” (LENT 2013, p. 51). Faz o transporte das informações que

vem da periferia, recebidas pelos neurônios sensoriais, para o cérebro, e

transporta as respostas (informações motoras), pelos neurônios motores, até a

periferia. Na medula espinhal sua parte central é formada de substância

cinzenta, “constituída dos corpos celulares de neurônios sensoriais, de

motoneurônios e de pequenos Interneurônios.” (FIORI 2008, p. 43-44)

19

A tabela abaixo mostra as relações hierárquicas das estruturas

neuroanatômicas.

Tabela 2 – Classificação hierárquica das grandes estruturas neuroatômicas

SNC

Encéfalo Medula

espinhal Cérebro Cerebelo Tronco encefálico

Telencéfalo Diencéfalo Córtex

cerebelar

Núcleos

profundos

Mesencéfalo Ponte Bulbo

Córtex

cerebral

Núcleos

da base

Fonte: LENT 2013, p. 9.

Figura 2 – Encéfalo

Fonte: http://www.cerebronosso.bio.br/divises-principais

Na Tabela 2, acima, pode-se observar que o encéfalo pode ser dividido

em três grandes estruturas: o cérebro (formado pelo telencéfalo e pelo

diencéfalo), o cerebelo (na parte posterior do encéfalo, na nuca) e o tronco

encefálico (formado por mesencéfalo, ponte e bulbo). (LENT 2010, p. 9)

Com base na Figura 2 conclui-se que o telencéfalo é a porção mais

anterior, seguida do diencéfalo, mesencéfalo, ponte e bulbo; o cerebelo se

forma por trás, da junção de parte das estruturas que dão origem ao tronco

encefálico. No diencéfalo encontramos estruturas como o tálamo, por onde

quase toda a informação passa, antes de ser encaminhada ao córtex cerebral.

Abaixo do tálamo fica o hipotálamo, “estrutura importante nos fenômenos da

emoção e do comportamento”. (RELVAS 2009, p. 102-103)

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Lent enfoca a natureza em par do encéfalo, que como ele mesmo diz

“a existência de duas metades aparentemente (só aparentemente...)

simétricas: são os hemisférios (...)” (LENT 2010, p.20)

O telencéfalo (a porção maior do cérebro humano) é formado por dois

hemisférios cerebrais: o esquerdo e o direito. “O hemisfério esquerdo controla o

lado direito do corpo e o hemisfério direito o lado esquerdo.” (RELVAS 2009, p.

34) No entanto, “não existe uma relação de dominância entre eles: pelo

contrário, eles trabalham em conjunto.” (RELVAS 2009, p. 20). Os dois

hemisférios são separados por sulcos: no plano mediano, o sulco longitudinal

que é profundo e se localiza entre os dois hemisférios, e o sulco superficial,

que é quase imperceptível e se localiza entre os dois lados do tronco encefálico

(LENT 2010,p.20), como pode ser observado nas Figura 3 e Figura 4.

Figura 3 – Hemisférios e lobos cerebrais

Fonte: (LENT 2010, p. 12)

21

Figura 4 – Sulcos e lobos – Vista lateral

Fonte: http://clinicasaudemental.com/morfologia.html

Mesmo não havendo nada “que seja unicamente regulado por um dos

hemisférios”, conforme afirma Relvas (2009, p. 35), pode-se associar cada um

dos hemisférios às seguintes funções:

Hemisfério direito:

• tem função verbal (usa palavras para descrever);

• utiliza símbolos para fazer as representações;

• tem capacidade analítica, abstrata, temporal, racional e lógica.

Hemisfério esquerdo:

• não é verbal e, sim, percebe as coisas pela imagem;

• enquanto o direito é analítico o esquerdo é sintético, agrupa as

informações num todo;

• é capaz de fazer “relações e perceber semelhanças”;

• “não possui sensação de tempo”;

• é intuitivo. (RELVAS 2009, p. 35)

Lent esclarece que há nos hemisférios do telencéfalo humano e de

outros mamíferos, “dezena de dobraduras chamadas giros, circunvoluções ou

folhas, separadas por sulcos ou fissuras. Em outros mamíferos, entretanto, os

hemisférios são lisos.” O estudo da anatomia agrupa os giros e sulcos em

áreas, de acordo com o padrão e complexidade apresentados por eles (LENT

2013, p. 20). Essas regiões, denominadas lobos, têm “nomes correspondentes

aos ossos do crânio que os cobrem”. (COSENZA E GUERRA 2011, p. 18).

22

Quatro desses lobos são visíveis externamente, como explica Lent, e um fica

no interior do sulco lateral. Os lobos visíveis são: frontal, parietal, temporal e

occipital. O situado profundamente e no interior do sulco lateral é o “lobo da

ínsula”. (LENT 2013, p. 20 e 21).

Fiori (2008, p. 37) corrobora definindo que, “de maneira geral podemos

associar funções principais a cada lobo.” Com isso, pode-se classificar e

enumerar as áreas associativas funcionais do córtex em:

Lobos cerebrais:

• Lobo occipital – áreas de tratamento visual;

• Lobo parietal – áreas somestésicas;

• Lobo temporal – áreas de tratamento auditivo;

• Lobo frontal – áreas motoras e funções executivas;

• Lobo da insula – não se relaciona diretamente com nenhum osso e

situa-se profundamente no sulco lateral.

Buchalla (revista Veja, Edição 1995, 14 de fevereiro de 2007), fala

sobre o mapeamento das emoções, onde a ínsula, com o formato de uma

ameixa seca, “trabalha em parceria com outras duas estruturas cerebrais, o

córtex pré-frontal e a amígdala”, e faz parte do sistema que está relacionado

aos processos de memória, pensamento e linguagem. Buchalla complementa

com as palavras e ideias de Cukiert e Paulus, neurocirurgião e psiquiatra,

respectivamente.

“A ínsula funciona como uma espécie de intérprete do

cérebro ao traduzir sons, cheiros ou sabores em emoções

e sentimentos como nojo, desejo, orgulho,

arrependimento, culpa ou empatia. “Ela dá colorido

psíquico às experiências sensoriais”, diz o neurocirurgião

Arthur Cukiert. Ou, como definiu o psiquiatra americano

Martin Paulus, professor da Universidade da Califórnia, “é

na ínsula que o corpo e a mente se encontram.”

(Bucchalla 2007)

23

Buchalla menciona as conclusões de Muszkat, neurologista, que

corroboram com o entendimento funcional da ínsula:

“Na porção frontal da ínsula, experiências sensoriais são

transformadas em emoções e sentimentos como nojo,

desejo, decepção, culpa, ressentimento, orgulho,

humilhação, arrependimento, compaixão e empatia.”

“Ela prepara o organismo para situações que ainda estão

por vir. Quando, por exemplo, alguém tem de sair de casa

e lá fora faz frio, a ínsula é ativada de modo a ajustar o

metabolismo para enfrentar a situação.”

“A ínsula modula a resposta do organismo aos estímulos

dolorosos.” (Muszkat in Buchalla 2007)

Cosenza e Guerra apontam que no cérebro humano pode ser

identificada uma área cortical, de substância cinzenta, e outra subcortical

(abaixo do córtex), que é constituída de uma substância branca. A diferença de

coloração é devido à subcortical ser constituída de poucas células, e, em sua

maior parte, por uma substância gordurosa, a mielina; na cortical, a área mais

externa do cérebro, há “um predomínio de corpos de neurônios” (os núcleos

dos neurônios). Esta porção externa é conhecida como córtex cerebral

(COSENZA E GUERRA 2011, p. 15) e se dispõe normalmente em camadas

paralelas (LENT 2013, p. 22).

Há também três estruturas importantes do cérebro anterior: o córtex, o

sistema límbico e os gânglios da base. (FIORI 2008, p. 34)

1.2.1.1. Córtex cerebral

“O córtex cerebral, situado no telencéfalo, é responsável pelas

sensações conscientes e pelos movimentos voluntários” (COSENZA E

24

GUERRA 2011, p. 25). Ele contém bilhões de neurônios que se organizam em

circuitos complexos e se encarregam de funções relacionadas à linguagem,

planejamento, raciocínio crítico, que são denominadas funções nervosas

superiores, e características da espécie humana. (COSENZA E GUERRA

2011, p. 16)

Relvas ressalta que:

“Todo o córtex cerebral é organizado em áreas funcionais

que assumem tarefas receptivas, integrativas ou motoras

no comportamento. São responsáveis por todos os

nossos atos conscientes, nossos pensamentos e pela

capacidade de respondermos a qualquer estímulo

ambiental de forma voluntária. Existe um verdadeiro mapa

cortical com divisões precisas e nível anatomofuncional,

porém todo ele está sempre mais ou menos ativado,

dependendo da atividade que o cérebro desempenha,

visto que há a interdependência e a necessidade de

integração constante de suas informações diante dos

mais simples comportamentos.” (RELVAS 2009, p. 42)

1.2.1.2. Sistema Límbico e Circuito de Papez

Para falar de sistema límbico e com bases em Relvas (2012, p. 139-

143) é preciso relembrar um pouco das teorias das emoções que se tornaram

tema de discussão, estudo, controvérsia e desenvolvimento da Neurociência

Emocional. Vários foram os pesquisadores que consideraram possível existir

uma área específica de deflagração e experimentação das emoções, mas foi

Broca o primeiro a fazer uma relação de uma área envolvida no sistema, ou

num “cérebro emocional”: o lobo límbico. Após Broca, o neuroanatomista

Papez, em 1937, identificou um circuito que pelo qual o caminho dos estímulos

faria seu percurso. Este circuito recebeu o nome de Circuito de Papez e é

formado por quatro estruturas básicas interconectadas por feixes nervosos: o

25

hipotálamo e os seus corpos mamilares, o tálamo, o giro cingulado e o

hipocampo; representado na figura abaixo:

Figura 5 – Circuito de Papez

Fonte: http://www.cerebromente.org.br/n05/mente/teorias.htm

Paul Mac Lean criou a denominação sistema límbico e acrescentou

novas estruturas ao sistema: a área pré-frontal, o giro parahipocampal, e

importantes grupamentos subcorticais: amígdala, núcleo mediano do tálamo,

área septal, núcleos basais do prosencéfalo (região mais anterior do cérebro),

e formações do tronco cerebral. (FIORI 2008, p. 39).

Corroborando com o entendimento e a localização Fiori (2008, p. 39)

explica que a palavra, límbico, significa periferia e que esse sistema fica na

periferia do telencéfalo e do diencéfalo.

Este sistema é formado por um conjunto de estruturas do cérebro

responsáveis por controlar as emoções e também participa das funções de

aprendizado, memória, e também do sistema endócrino. Localiza-se na parte

medial de cada hemisfério cerebral. Tem a forma de um “anel cortical contínuo”

constituído pelo giro cingulado, hipotálamo, corpos mamilares, amígdala,

hipocampo. (RELVAS 2009. p, 102-108)

Algumas das funções dessas estruturas (LENT 2013, p. 228 – 239):

• Giro cingulado – tem papel importante na regulação do comportamento

emocional;

26

• Hipocampo – responsável pela regulação do comportamento emocional,

participação no fenômeno da memória de longa duração, regulação de

atividades viscerais e endócrinas;

• Fórnix – principal via eferente do hipocampo. Conecta o hipocampo com

o hipotálamo;

• Corpos mamilares – regulam os reflexos alimentares, como a deglutição;

• Hipotálamo – responsável por diversas funções importantes como:

regulagem do sono, pela libido (“envolvido na integração e execução dos

comportamentos reprodutores”), controla o apetite e sede, faz ajustes

homeostáticos, comportamentais e ciclos circadianos;

• Amígdalas cerebrais – são responsáveis por memórias emocionais e

exteriorização do humor e principalmente no estado de medo, ameaça,

ansiedade, ira e agressividade. A amígdala “fornece um elo entre os

processamentos cognitivos e emocionais, ligados às experiências

emocionais”;

• Tálamo – responsável por quatro sentidos: tato, paladar, visão e

audição, e responsável também pelas sensações de dor, quente ou frio

e a pressão do ambiente. Considerado o “aeroporto das informações”,

recebe, classifica e distribui as informações.

Figura 6 – Sistema Límbico

Fonte: http://tathianatrocoli.files.wordpress.com/2009/12/sistema_limbico.jpg acesso:

03/01/2014 11:20

27

1.2.1.3. Gânglios da base

Os gânglios da base, também chamados de núcleos cinzentos centrais

(NCC) ou núcleos da base, e situados no telencéfalo, “são três núcleos

subcorticais”, que “estão envolvidos nos circuitos de controle da motricidade.”

Eles estão no interior profundo dos hemisférios cerebrais. (FIORI 2008, p. 38)

Os núcleos da base atuam em conjunto com o cerebelo e o córtex

cerebral, planejando, executando, controlando e adequando padrões motores

complexos. (LENT 2013, p. 32)

As funções dos núcleos da base são basicamente receber as

informações do córtex cerebral, integrá-las, processá-las e depois projetá-las

para o tálamo, que as direciona às áreas específicas do córtex cerebral;

afetando comportamentos motores, emocionais e cognitivos. (LENT 2013, p.

32)

Figura 7 – Gânglios ou núcleos da base

Fonte: http://bioeducafisica.blogspot.com.br/ acesso 03/01/2014 10:56

1.3 - Constituição e organização do cérebro.

O cérebro é um órgão que está imerso em um liquor cefalorraquidiano,

assim como todo o Sistema Nervoso Central. O liquor “o envolve” e “o protege

mecanicamente contra traumatismos que possam atingir a cabeça, e também

contribui com a sua nutrição e a manutenção do meio bioquímico ótimo para o

28

funcionamento neural.” O cérebro é irrigado por “vasos sanguíneos cerebrais

com um trajeto tortuoso e sua dinâmica é pulsátil.” (LENT 2010, p. 13)

Com bases em Cosenza e Guerra (2011, p. 11), é possível fazer uma

analogia do cérebro com um porto de chegada e saída das informações que

são recebidas pelos órgãos dos sentidos e dos órgãos internos do corpo. O

cérebro, no entanto, não armazena apenas as informações recebidas, também

as processa, controla e direciona às diferentes partes do cérebro ou corpo; que

conforme suas especificidades e necessidades, vincula-as a uma ou mais

áreas cognitivas, comportamentais, emocionais ou afetivas. “É preciso lembrar

que o cérebro recebe também informações que vêm do interior do corpo.”

havendo inclusive situações ou sensações viscerais que não chegam ao córtex

cerebral e não são percebidas de forma consciente. Como por exemplo, a

pressão sanguínea. (COSENZA E GUERRA 2011, p. 20)

Esses autores também elucidam (2011 p. 11):

“O cérebro, (...) é a parte mais importante do nosso

sistema nervoso, pois é através dele que tomamos

consciência das informações que chegam pelos órgãos

dos sentidos e processamos essas informações,

comparando-as com nossas vivências e expectativas. É

dele também que emanam as respostas voluntárias ou

involuntárias, que fazem com que o corpo, eventualmente,

atue sobre o ambiente.” (COSENZA E GUERRA 2011, p.

11)

“Na verdade, a maior parte dos processos que ocorrem no

cérebro é inconsciente, mesmo aqueles que dependem

da atuação do córtex cerebral” (COSENZA E GUERRA

2011, p. 20)

“Mesmo a aprendizagem que envolve nossa interação

com o ambiente pode ocorrer de uma forma da qual não

tomamos conhecimento” (COSENZA E GUERRA 2011, p.

20)

29

O cérebro é, portanto, o principal órgão do sistema nervoso e possui

cerca de 86 bilhões de neurônios, “capaz de produzir comportamento e

consciência”, “formando trilhões e complexos circuitos intercomunicantes”

(LENT 2010, p. 5)

1.3.1 - Neurônio

Sob uma visão microscópica do SN, o tecido nervoso “é constituído por

dois tipos de células: as células nervosas e as células gliais (mais numerosas

que os neurônios)”. (FIORI 2008, p. 21)

Conforme relata Fiori, o neurônio é o substrato base de transmissão da

informação nervosa, e as células gliais são necessárias a essa transmissão,

mesmo não transmitindo diretamente essa informação. (FIORI 2008, p. 21)

Esclarecendo sobre o que são neurônios, Relva, Fiori, e Cosenza e

Guerra definem:

“Neurônios são células especializadas. Eles são feitos

para receber certas conexões específicas, executar

funções apropriadas e passar suas decisões de um

evento particular a outros neurônios que estão

relacionados com aquele evento.” (RELVAS 2009, p. 26)

“(...) células excitáveis do sistema nervoso que veiculam

as informações entre a periferia do sistema nervoso

central, e, reciprocamente, entre as diversas regiões do

sistema nervoso central. Eles constituem assim as células

base que permitem retirar a informação do ambiente, de

agir sobre o ambiente, mas também de pensar,

memorizar, antecipar, programar uma ação...” (FIORI

2008, p. 22)

“O neurônio geralmente dispõe de prolongamentos,

representados pelos dendritos e pelo axônio. Os primeiros

30

captam informações de outras células e as conduzem até

o corpo celular. O neurônio envia impulsos a outras

células utilizando-se do axônio, que é um prolongamento

único.” (COSENZA E GUERRA 2011, p. 12)

“Os neurônios, como outras células, se alimentam, respiram, têm os

mesmos genes, mecanismos bioquímicos e organelas”. (RELVAS 2009, p. 27)

Figura 8 – Estrutura básica de um neurônio

Fonte: http://www.infoescola.com/sistema-nervoso/neuronios/

Lent destaca que o sistema nervoso central e o sistema nervoso

periférico, são formados por um “grande número de morfotipos neuronais”, e

que eles variam dependendo da região em que se localizam e da função que

exercem. Há várias células nervosas que possuem seus corpos celulares de

tamanho e formas distintas. Há corpos celulares de neurônios “muito pequenos

e aglomerados” (ex. no cerebelo), “grandes e esparsos (células piramidais do

córtex)”, “com soma esférico” (gânglios espinhais), piramidal, ou com soma

bem alongado (fotorreceptores da retina) e muitas outras variantes”. ( LENT

2013, p. 62-63)

Os tipos e formas dos neurônios podem variar segundo seus

prolongamentos, axônio e dendritos. Os axônios podem ser curtos, se forem de

neurônios de circuito local, e longos, se forem de projeção. “Além do

comprimento dos axônios, alguns neurônios arborizam-se densamente, outros

arborizam menos densamente”. Esta arborização é formada pelos dendritos.

31

Quanto à forma e seus prolongamentos os neurônios podem ser

classificados como multipolares, bipolares, unipolares ou monopolares,

pseudomonopolares ou pseudounipolares. Alguns representados na figura

abaixo.

Figura 9 – Morfotipos de neurônios

Fonte: http://blogelseviersaude.elsevier.com.br/odontologia/tecido-nervoso/

Quanto à função podem se classificar em:

• Motores (eferentes): controlam órgãos efetores, como glândulas e

fibras musculares;

• Sensoriais (aferentes): recebem estímulos do organismo ou do

ambiente;

• Interneurônios ou de associação: estabelecem conexões entre

outros neurônios, formando circuitos complexos. Eles “constituem

a categoria mais numerosa de neurônios do sistema nervoso”.

(FIORI 2008, p.24)

Um conjunto de neurônios forma os nervos, que tem duas importantes

funções:

• fibras (nervos) aferentes (sensórias);

• fibras (nervos) eferentes (motoras).

32

As fibras aferentes “levam a informação para o SNC”, que enviam

sinais dos receptores (células que respondem ao estímulo sensorial) ao SNC.

As fibras eferentes são “nervos que levam a informação do SNC”, aos

músculos e às glândulas (trabalho da motricidade). (RELVAS 2009, p. 15).

Todo processo de transmissão de informações nas diferentes áreas

ocorre devido à existência dos “circuitos nervosos constituídos por bilhões de

células, chamadas neurônios”. O que permite compreender que esse processo

de transmissão de informações é devido aos impulsos nervosos elétricos que

“percorrem (o neurônio) ao longo de toda a extensão.” (COSENZA E GUERRA

2011, p. 13)

1.3.2 - Células Gliais

Glia deriva do grego e significa cola. Existem diferentes tipos

morfológicos. Seu “corpo celular geralmente é menor que o dos neurônios e

seu núcleo ocupa grande proporção dele.” Os gliócitos não possuem axônio.

(LENT 2010, p. 20) O gliócito é a célula polivalente do sistema nervoso, com as

funções de dar sustentação e auxiliar no funcionamento dos neurônios.

(RELVAS 2009, p. 27)

Há diversos tipos de células gliais:

• Astrócitos – tem a função de dar suporte e alimentar os

neurônios. Os astrócitos envolvem os capilares sanguíneos;

• Oligodendrócitos – formam uma espiral ao longo do axônio do

neurônio do SNC, produzem a bainha de mielina, e têm função

isolante e de aumentar a velocidade do impulso elétrico;

• Micróglias – representantes do sistema imunitário do sistema

nervoso, fazem a fagocitose e a eliminação dos dejetos;

• Células de Schwann – são células que envolvem, dezenas de

vezes, os neurônios do SNP formando uma capa chamada bainha

de mielina; têm a mesma função dos oligodendrócitos;

• Ependimócitos – recobrem as paredes dos ventrículos e canais

que contêm o líquido cefalorraquidiano. (FIORI 2008, p. 26)

33

Figura 10 - Tipos de Células Gliais

Fonte: http://neuralsystem.blogspot.com.br/2008/11/clulas-gliais-ou-clulas-da-glia.html

Figura 11 – Associações e interações gliócitos e neurônios

Fonte: http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Histologia/epitelio28.php

A bainha de mielina atua como um isolamento elétrico e aumenta a

velocidade (condução saltatória) de propagação do impulso nervoso ao longo

do axônio. Sua “constituição é predominantemente lipídica, mas contem

também proteínas específicas”. (LENT 2010, p. 104)

1.4 - Sinapse

No final do século XIX, Sherington propôs o termo “sinapse” à junção

entre o neurônio que traz a informação (pré-sináptico) com o outro que recebe

a informação (pós-sináptico). (FIORI 2008, p. 25)

“A sinapse é a unidade processadora de sinais do sistema nervoso.”

(LENT 2010, p. 112). Sinapse é o contato que é feito entre um neurônio e outro

Astrócitos

Oligodendrócitos

Micróglias

Ependimócitos

34

no momento da transmissão da informação. São dois os tipos básicos de

sinapse que podem ocorrer entre os neurônios: sinapse química e sinapse

elétrica. (FIORI 2008, p. 25)

Relvas esclarece que “são nestas junções que os neurônios são

excitados, inibidos ou modulados.” (RELVAS 2009, p. 32)

A sinapse elétrica é feita através dos neurônios sensoriais (neurônios

mielinizados). Ela é rápida e veloz. Seu potencial de trabalho é de cargas

positivas e negativas. (LENT 2010, p. 67-72)

Na sinapse química “o modo de transmissão não é elétrico e sim,

carreado por neurotransmissores, substâncias neuroativas liberadas no lado

pré-sináptico da junção”. São dois tipos de junções químicas: a excitatória e a

inibitória. Para que possa ocorrer são liberadas algumas substâncias

chamadas de neurotransmissores químicos, que podem produzir um aumento

ou uma diminuição do estímulo inibitório ou excitatório para o neurônio

pós-sináptico, conforme função e necessidade. (RELVAS 2009, p. 33)

Figura 12 - Sinapse

Fonte: http://www.clickescolar.com.br/tecido-nervoso.htm

Terminais sinápticos

35

Figura 13 – Sinapse química

Fonte: http://oneurotransmissor.blogspot.com.br/2013/05/neurotransmissores.html

Os neurotransmissores são sintetizados no soma do neurônio e

transportados até os terminais pós-sinápticos ou também podem ser

produzidos no próprio terminal sináptico, através de enzimas ou moléculas

precursoras. Para maior eficiência em sua ação na transmissão química eles

são armazenados em vesículas. Os neurotransmissores transportam o impulso

nervoso no espaço entre dois neurônios, este espaço é chamado sinapse.

(LENT 2013, p. 73)

“Uma sinapse isolada teria pouca utilidade, porque a

capacidade de processamento de informação do sistema

nervoso provém justamente da integração entre milhares

de neurônios, e entre milhares de sinapses existentes em

cada neurônio.” (LENT 2010, p. 112)

1.5 - Plasticidade neural

Lent relata (LENT 2013, p. 223-225) que o fenômeno da plasticidade

neural ocorre quando uma região do SNC apresenta uma degeneração ou

lesão e outra área ou neurônio assume sua função. Neste fenômeno a área

que recebe a função do elemento lesado precisa se “reeducar” para receber os

estímulos e transformá-los em respostas adequadas ao resultado pretendido. A

36

plasticidade cerebral ocorre tanto nos neurônios sensórios quanto nos motores

e ela é mais comum em crianças, mas também ocorre em adultos. (RELVAS

2009, p. 16-17)

“A plasticidade neural consiste no conjunto de formas

pelas quais essas modificações são implementadas, e

hoje é consenso que os mecanismos de plasticidade

constituem a base fisiológica para o funcionamento

normal do encéfalo humano.” (LENT 2013, p, 223)

As pesquisas da neurociência neste campo apontam qe “utilizando

estratégias didáticas diferenciadas, estabelece-se a recontextualização dos

indivíduos, mesmo que (e é bom que seja) vagarosamente.” (RELVAS 2009, p.

17). “Os neurônios desenvolvem brotamentos axonais, promovendo um

aumento na habilidade funcional e um aumento aparente na força por

intermédio da aprendizagem”. (RELVAS 2009, p. 50)

Relvas fala sobre a importância da criação de mecanismos e estímulos

para que o indivíduo possa desenvolver habilidades e competências em áreas

como “musicalidade, raciocínio lógico-matemático, inteligência espacial e

cinestésica.” (RELVAS 2009, p. 17).

“Quanto às emoções e o equilíbrio psicológico” existem estudos que

apontam que, se houverem condições favoráveis e estímulos adequados, as

conexões do sistema límbico também podem ser fortalecidas e trabalhadas.

(RELVAS 2009, p. 17).

1.6 - Áreas associativas do cérebro – Broca e Wernick

As interações entre neurônios, células gliais e neurotransmissores

formam circuitos neurais e são mediadores de potenciais de ação e de

estímulos de regiões de funções importantes e variadas nos complexos

sistemas cerebrais e corporais.

37

O principal objetivo destas interrelações é o de levar a informação aos

seus destinos e fazer com que o sistema, ou elemento acionado, cumpra o seu

papel. Por esse motivo, este estudo abordará algumas áreas associativas, pois,

através da compreensão destes intrincados e complexos sistemas, poder-se-á

compreender como acontece a aprendizagem ou por que ela às vezes não

acontece.

1.6.1 - Área de Broca e Área de Wernick

Com base em Fiori (2008, p. 133-134) são duas as áreas do córtex

especializadas no campo da linguagem:

• A área de Broca, que é responsável pela produção da linguagem

oral e escrita, pela motricidade da fala e memória motora das

palavras;

• A área de Wernick, que é responsável pela compreensão e

escolha das palavras, uma região de “armazenamento auditivo

das palavras”, “sede da memória sensorial das palavras”. (FIORI

2008, p. 133-134)

Figura 14 – Áreas de Broca e Wernicke

Fonte: http://pedagogia1sa.wordpress.com/2010/03/23/12/

38

CAPÍTULO II

2.O CONHECIMENTO

Desenvolvimento e Apropriação

A abordagem sobre o conhecimento é importante para que se possa

iniciar a linha de pensamento que se deseja. Por vezes o exercício do ensino

acontece sem que se questione:

• o que é o conhecimento,

• seu significado,

• sentido e aplicabilidade.

É fundamental ter claro como o conhecimento vem sendo entendido ao

longo da história, seu processo, suas possibilidades, e formas de ampliação e

desenvolvimento. Importante também é refletir sobre a necessidade de uma

educação onde o pensar, o sentir e o vivenciar, a partir das idades infantis,

torna-se fundamental e imprescindível.

A síntese sobre a Teoria Filosófica do Conhecimento, neste capítulo,

contribui com as conexões que este estudo deseja realizar, no entendimento

das inter-relações, necessidades e dificuldades entre o ensino, o conhecimento

e suas aplicabilidades.

Há mais de dois mil anos existe a preocupação em responder às

perguntas sobre a natureza do conhecimento, seu valor ou possibilidades, e

sua origem. Por isso este capítulo dedica-se a fazer uma retomada deste

assunto para que as novas concepções, paradigmas e metodologias de ensino

possam ser mais uma vez objeto de estudo e discussão.

2.1 - Teorias Filosóficas do Conhecimento – Breve Histórico

Desde que o homem filosofa, procura pela essência do Conhecimento.

Conforme relata Urbano Zilles (2006, p. 11), na Filosofia Antiga a busca do

entendimento é o Ser, e na Filosofia Moderna a questão central é o

39

Conhecimento. No campo da metafísica, Platão e Aristóteles já faziam muitas

reflexões sobre a teoria do conhecimento (Urbano Zilles 2006, p. 11).

Luckesi (1994, p. 121) sustenta que: “O conhecimento é uma

compreensão inteligível da realidade, que o sujeito humano adquire através da

sua confrontação com essa mesma realidade.” O que quer dizer que esta

realidade exterior assume internamente no indivíduo “uma forma pensada e

abstrata”, uma representação abstrata que permite ao mesmo ter

conhecimento dela. “A realidade exterior se faz presente no interior do sujeito

do pensamento. A realidade, através do conhecimento, deixa de ser uma

incógnita, uma coisa opaca, para se tornar algo compreendido, translúcido”;

acrescenta Luckesi (1994, p. 122).

Algumas vezes o conhecimento é entendido como aquilo que se

adquire com a leitura ou estudo de livros, escolas e debates, mas o

conhecimento de fato só se concretiza quando temos o “entendimento da

realidade” (Luckesi 1994, p. 122) e não apenas quando retemos as

informações. Luckesi (1994, p. 122) menciona que “essas informações deverão

ser auxiliares no entendimento da realidade; contudo elas por si mesmas não

são o conhecimento que cada sujeito humano, em particular, tem da

realidade.”. Luckesi (1994, p. 122) sustenta que as informações devem estar

em atividade intelectual para que se constituam efetivamente em

“entendimento do mundo exterior”.

O mesmo autor (1994, p. 123) define o conhecimento como a

“iluminação da realidade, que envolve a inteligência, que envolve a

compreensão” sobre esta realidade.

Este autor (1994, p. 123) afirma ainda que: “o conhecimento é o

entendimento que permite ações adequadas para a satisfação de nossas

necessidades, sejam elas físicas, biológicas, estéticas ou outras”. Luckesi

(1994, p. 124) sintetiza a definição de conhecimento como: “Conhecimento no

verdadeiro sentido do termo, é aquele que possibilita uma efetiva compreensão

da realidade, de tal forma que permite agir com adequação”.

Chaui (2008, p. 124) aponta que, para os filósofos modernos “a

questão do conhecimento foi considerada anterior à questão da ontologia e

40

pré-requisito para a filosofia e as ciências.”, que a mudança de perspectiva dos

filósofos gregos para os modernos deve-se às questões “que o cristianismo

trouxe e que os antigos filósofos desconheciam”, que é a concepção da

separação entre o homem e Deus, causada pelo pecado original.

Chaui aponta que:

“A perspectiva cristã introduziu distinções que romperam

com a ideia grega de uma participação direta e

harmoniosa entre o nosso intelecto e a verdade, pois os

filósofos antigos consideravam que éramos entes

participantes de todas as formas da realidade: por nosso

corpo, participamos da inteligência divina.” (CHAUI 2008,

p. 124)

Segundo Chaui (2008, p. 125-126), na Idade Média os

questionamentos eram respondidos baseados nos conceitos da fé. O

cristianismo introduz duas verdades distintas: as “verdades de razão, o

conhecimento que nossa razão pode alcançar por si mesma” e as “verdades da

fé, conhecimentos alcançados por meio da revelação divina”. O conhecimento

da verdade, na era medieval, não poderia deixar que a razão contradissesse a

fé, pois a primeira deveria se submeter à segunda.

Chaui (2008, p. 128) acrescenta que foi a não aceitação desta ideia,

que fez com que os filósofos modernos mantivessem o Conhecimento como

questão central para a Filosofia. René Descartes (francês), Francis Bacon e

John Locke (ingleses), do século XVII, retomam o debate filosófico com duas

tendências opostas. John Locke, em 1690, pela primeira vez propõe uma teoria

do conhecimento e analisa “cada uma das formas de conhecimento que

possuímos, a origem de nossas ideias e nossos discursos, a finalidade das

teorias e as capacidades do sujeito cognoscente, relacionadas com os objetos

que ele pode conhecer”.

41

Conforme relata Chaui (2008, p. 128), Locke difere de Descartes e

considera que “todas as ideias e princípios do conhecimento derivam da

experiência sensível”. Descartes propõe colocar em dúvida qualquer

conhecimento que não resulte claro e distinto. A diferença de perspectiva entre

Descartes e Locke gera a distinção das duas grandes orientações da teoria do

conhecimento: o racionalismo e o empirismo.

O filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), “construiu um dos mais

importantes sistemas filosóficos do século XVIII e de marcante influência na

história do pensamento” (Aranha 2010, p. 180).

O idealismo kantiano não é individualismo. A teoria kantiana é

modernista. Aranha (2010, p. 180) fala da importância de Kant na educação

devido à crítica do pensar que ele desenvolve.

À luz de Urbano Zilles (2006, p.12), Kant toma seu ponto de partida,

indagando pelo papel do sujeito no processo do conhecimento e do pensar.

Kant traz o sujeito, agente do conhecimento, para o centro do processo. “Para

Kant, todo conhecimento é subjetivo. O mundo não se manifesta como é, mas

como o homem o capta” (2006, p.12).

Segundo Aranha (2010, p. 180), o debate entre o racionalismo

(representado por Descartes) e o empirismo (Bacon e Locke) é retomado por

este filósofo alemão. Em desacordo com as duas posições, Kant constrói uma

teoria que investiga o valor dos conhecimentos fazendo uma crítica das

possibilidades e limites da razão. É contrário à ideia empirista – “tudo que se

conhece, conhece-se através dos sentidos” e à ideia dos racionalistas – “tudo

que o sujeito conhece vem dele mesmo, de seu interior”. Segundo Kant, “o

nosso conhecimento experimental é um composto do que recebemos por

impressões e do que a nossa própria faculdade de conhecer, de si mesma tira,

por ocasião das impressões” (Aranha 2010, p. 180). As ideias deste filósofo

partilham dos ideais iluministas de sua época, dando primazia à razão.

Aranha (2010, p. 180) menciona que, para Kant, as questões

metafísicas não são acessíveis à razão; “além do ato do conhecimento, o

indivíduo é capaz de outra atividade espiritual, o exercício da consciência

moral, que rege sua vida prática conforme certos princípios”.

42

Para Kant, “a moral formal constituída a partir do postulado da

liberdade e baseada na autonomia, exige a aprendizagem do controle do

desejo pela disciplina, a fim de que a pessoa atinja seu próprio governo e seja

capaz de autodeterminação” conforme relata Aranha (2010, p. 181).

A autora acrescenta, também, que Kant sofre influência de Rousseau e

Basedow destacando:

“À semelhança de Rousseau e Basedow, dos quais sofreu

influência, Kant destaca os aspectos morais sobre os

intelectuais na formação dos jovens (...)Coerente com o

conceito de autonomia do pensar e do agir, Kant destaca

a liberdade de credo e valoriza a tolerância religiosa.(...) O

mesmo princípio da conduta moral vale para o saber, que

também deve ser um ato de liberdade. Nenhuma verdade

vem de fora (...) mas é construída pelo sujeito.”

(ARANHA, 2010, p.181)

Aranha (2010, p. 181) considera que o pensamento kantiano é uma

etapa decisiva que marcou diversos pensadores, posteriores à época. Piaget

foi um dos pensadores que, no século XX, reexaminou os parâmetros dos

princípios kantianos na área da moral e da educação. Kant é considerado o

fundador da Teoria do Conhecimento. A partir do século XIX a Teoria do

Conhecimento passa a ser denominada de Epistemologia.

2.1.1 - A Natureza do Conhecimento – realismo e idealismo

O que move as teorias sobre a natureza do conhecimento são os

questionamentos quanto ao que realmente conhecemos: o real ou a

representação do real do indivíduo, conforme Aranha (2010, p. 172).

Chaui (2008, p. 128) esclarece algumas respostas filosóficas. O

realismo admite a existência da realidade exterior (ou do mundo externo) como

sendo coisa distinta do pensamento ou das nossas representações, o que

43

significa que, para o realismo, o nosso conhecimento atinge a própria realidade

e não apenas as representações subjetivas – atinge o que é, e não o que

pensamos que seja. Contrariamente ao realismo, o idealismo afirma que o

objeto de conhecimento é produto do espírito e a realidade é reduzida às

ideias, o mundo sensível é mero produto do pensamento, é subjetivo. O

idealismo não nega propriamente a existência do mundo externo, mas reduz

este às representações, ou seja, ao pensamento, às ideias.

2.1.2 - A Origem e os limites do Conhecimento – Ideias sobre o

aprendizado

Qual a origem do conhecimento: a razão ou a experiência? “De onde

vinham os princípios racionais” e “a capacidade para a intuição e o raciocínio”?

“Seria algo próprio do ser humano”? Nasceu com ele ou seriam “adquiridos

pela experiência” ou “pelos costumes”? Chaui (2008, p. 83) relata que durante

séculos a Filosofia ofereceu duas respostas a essas perguntas. A primeira, o

inatismo (razão) e a segunda, o empirismo(experiência).

Eby (1974, p. 250) considera que o antigo mito das ideias inatas do

indivíduo, apoiadas nos princípios “tradicionais e escolásticos” da escola, da

sociedade, da igreja e do governo, impediam o desenvolvimento intelectual e

moral da época. “Era nocivo porquanto impedia todo o esforço para o

progresso do conhecimento por observações e experimentação”.

Corroborando com o entendimento destas teorias, Chaui (2008, p. 130)

diz que a diferença de perspectiva entre Descartes e Locke deu origem às duas

grandes orientações opostas da teoria do conhecimento: o racionalismo

(inatismo) e o empirismo.

O racionalismo se apoia na ideia de que a razão é a fonte principal do

conhecimento e que o valor, o sentido e o uso da experiência sensível “na

produção do conhecimento, dependem de princípios, regras e normas

estabelecidos pela razão.” Chaui (2008, p. 130).

A matemática representa para o racionalismo, o modelo perfeito de

“conhecimento verdadeiro”, “que depende exclusivamente do uso da razão e

44

que usa a percepção sensível sob o controle da atividade do intelecto”,

conforme menciona Chaui (2008, p. 130).

Aranha (2010, p. 154) coloca que o principal representante do

racionalismo foi Descartes, considerado o Pai da Filosofia Moderna e

responsável pela modificação do pensamento moderno. Ele, em contraposição

à tradição escolástica, analisou “os processos pelos quais a razão atinge a

verdade, usando o recurso da dúvida metódica”.

“Começou duvidando de tudo: do senso comum, dos

argumentos de autoridade, do testemunho dos sentidos,

da informação da consciência, das verdades deduzidas

pelo raciocínio, da realidade do mundo exterior e do

próprio corpo. Só interrompe a cadeia de dúvidas diante

do seu próprio ser que duvida. Se duvido, penso: “Penso,

logo existo.” (Cogito, ergo sum) (ARANHA, 2010, p. 154)

Aranha (2010, p. 155) sustenta que no decorrer da história da Filosofia,

vários filósofos defenderam a tese empirista, mas os que se tornaram mais

conhecidos foram os filósofos do século XVI ao XVIII: Bacon, Hobber, Locke,

Berkeley e Hume. A autora comenta que para Locke “nada está no espírito sem

antes ter passado pelos sentidos”; portanto ao contrário do racionalismo o

empirismo enfatiza a experiência sensível no processo do conhecimento. O

empirismo não desvaloriza o trabalho da razão e sim prioriza o da experiência

sensível.

Aranha (2010, p. 156) descreve que Locke faz crítica à teoria das

ideias inatas de Descartes e considera que a alma é uma tábula rasa, que por

este motivo é preciso a experiência sensível para ocorrer o conhecimento.

Conforme aponta Aranha (2010, p. 156-157), a teoria pedagógica de

Locke merece destaque. Ela enfatiza o papel do professor no oferecimento de

experiências para o uso correto da razão, valoriza o estudo de História,

Geografia, Geometria e Ciências Naturais; além da Educação Física e o

45

cuidado com o corpo, o trabalho de resistência e do autodomínio. Para Locke o

jogo para a educação é ótimo auxílio físico e também de superação dos

próprios limites. Também valoriza os estudos com aplicação na vida prática,

como: contabilidade, jardinagem e carpintaria. Há, porém, um grande contraste

em sua recomendação de uma educação alegre, pois trata com severidade as

crianças da tenra idade, para torná-las o “espírito-dócil e obediente”. Locke

propõe o desenvolvimento tríplice físico, moral e intelectual. Locke (1632-1704)

“não defende a universalidade da educação” proposta por Comenius (1592-

1670). Para Locke, a educação deve ser diferente para os “que irão governar” e

para os que “serão governados”, uma educação de “caráter elitista”.

Segundo Chaui (2008, p. 88), o empirismo se depara com “problemas

insolúveis”. Esta autora diz:

“Se as ciências são apenas hábitos psicológicos de

associar percepções e ideias por semelhança e diferença,

bem como por contiguidade espacial ou sucessão

temporal, então as ciências não possuem verdade

alguma, não explicam realidade alguma, não nos dão

certeza alguma sobre a realidade, não alcançam os

objetos tais como são em si mesmos e tais como

funcionam ou operam realmente. (...) A ciência, mero

hábito psicológico ou subjetivo, torna-se, afinal, uma

ilusão, e a realidade, tal como é em si mesma, jamais

poderá ser conhecida pela nossa razão.” (CHAUI, 2008,

p. 88)

Kant, filósofo alemão do século XVIII, oferece a resposta aos

problemas do inatismo e do empirismo, com a “revolução copernicana” da

filosofia. Segundo Chaui (2008, p. 90), Kant diz que “o ponto de partida da

Filosofia não pode ser a realidade (seja interna ou externa), e sim o estudo da

própria faculdade de conhecer ou o estudo da razão”. Ainda segundo esta

46

autora (2008, p. 90), Kant em seu livro Crítica da Razão Pura diz que, até

aquele momento, “nosso conhecimento devia ser regulado pelos objetos”, mas

a partir de então era preciso “admitir que os objetos devem regular-se pelo

nosso conhecimento”.

Chaui (2008, p. 91), aponta que Kant acreditava “que todos os nossos

conhecimentos começam com a experiência, mas não é verdade que todos

provenham dela”. Ele considerava o conhecimento “transcendental”. A

explicação deste filósofo para conhecimento transcendental é “todo

conhecimento que se ocupa menos dos objetos e mais de nosso modo de

conhecer, na medida em que deve ser a priori (ter prioridade com relação à

experiência)”.

Arruda (2010, p. 204) fala das interpretações dos filósofos do século

XIX sobre o pensamento de Kant. Ele cita três das principais tendências:

• Positivismo (Comte) – a preocupação de resposta foi quanto às críticas

de Kant, à metafísica, “afirmando que não cabe ao filósofo teorizar sobre

ideias sem conteúdo. Assim reduzem o trabalho da Filosofia à mera

síntese das diversas ciências”. Para Comte “todos os espíritos repetem

desde Bacon, que somente são reais os conhecimentos que repousam

sobre fatos observados”. O entusiasmo pelo “Saber é poder”

“desembocou no cientificismo” (2010, p. 204205);

• Idealismo (Fichte, Schelling, Hegel) – o destaque, sobre o pensamento

kantiano, foi “a capacidade que Kant atribuía à razão de impor formas, a

priori, ao conteúdo dado pela experiência” (2010, p. 204);

• Socialismo – os filósofos chamados materialistas (Feuerbach), “críticos

do idealismo, influenciaram a vertente socialista, representada por Marx

e Engels.” (2010, p. 205).

2.1.3 - A apropriação da realidade pelo conhecimento

Luckesi (1994, p. 124) aponta que são duas as formas de apropriação

da realidade pelo conhecimento: “uma pela investigação direta da realidade; e

outra através da exposição dos conhecimentos já produzidos e apresentados

por seus autores.”; que de acordo com Marx esses são os dois métodos do

47

conhecimento: “o da investigação (conhecimento direto) e o da exposição

(conhecimento indireto)”.

Luckesi (1994, p. 130-131) se mantém contrário a algumas práticas

escolares que fazem do conhecimento da realidade um mero repositório de

conteúdo, que nem sempre corresponde às necessidades e às compreensões

dos envolvidos no processo ensino-aprendizagem (2008, p. 90). Este autor

destaca que “o conhecimento escolar só pode vir a ser um conhecimento

significativo e existencial na vida do cidadão” se ele fornecer elementos

práticos para a construção do saber com níveis de complexidade adequados à

compreensão dos indivíduos.

2.1.4 - A perspectiva Construtivista

Segundo Aranha (2010, p. 275 – 285), no século XX nasceu uma

tentativa de caminho do meio para explicar o aprendizado: a perspectiva

construtivista. Nesta, o sujeito tem potencialidades e características próprias,

mas se o meio não favorece esse desenvolvimento (fornecendo objetos,

abrindo espaços e organizando ações), elas não se concretizam. Conforme

Piaget (1972, p. 12), a presença ativa do sujeito diante do conteúdo é essencial

– portanto não basta ter contato com o conhecimento para adquiri-lo. É preciso

“agir sobre o objeto e transformá-lo”.

Aranha (2010, p. 276) comenta que “O construtivismo realça a

capacidade adaptativa da inteligência e da afetividade, dando condições para

que o processo de amadurecimento não seja ilusório, o que acontece quando

resulta de pressões externas sem a “gestação” por parte do sujeito”.

Aranha (2010, p. 275) considera que as teorias construtivistas vêm

corroborar com o estudo da “complexidade do processo do conhecimento”.

Esta autora aponta que as pesquisas científicas foram o apoio da Psicologia,

da Psicologia Social, da Psicanálise, da Medicina, da Biologia, da Cibernética,

da Linguística, entre outras, para melhor compreender o funcionamento da

mente infantil e do desenvolvimento cognitivo.

Aranha (2010, p. 276) considera Piaget (epistemologia genética),

Vygotsky (pensamento e linguagem), Wallon (cognição, corpo e afeto), Emília

48

Ferreiro (psicogênese da escrita), importantes representantes das teorias do

Construtivismo.

Santomauro (2012) acrescenta Paulo Freire (educação popular),

Constance Kamii (Matemática) e Yves de Taille (Ética) na relação de

representantes do construtivismo. Esta autora menciona que, “nas últimas três

décadas”, as teorias construtivistas “têm influenciado investigações nas

chamadas didáticas específicas de cada disciplina”.

Aranha (2010, p. 276) complementa que, seguindo a tendência

construtivista, mais recentemente, embora seguindo caminhos diferentes,

vemos: Lawrence Kolberg (a educação de valores), Edgar Morin (o

pensamento complexo) e Philippe Perrenoud (a construção de competências).

49

CAPÍTULO III

3.SENTIMENTOS, EMOÇÃO, E PENSAMENTO

Conexões e Relações

A proposta deste capítulo não é de aprofundamento ou discussão

sobre definições e conclusões de estudiosos aqui citados. Pretende-se

organizar uma linha de pensamento focada em estudos científicos das áreas

da Pedagogia, Psicologia, Neurociência e Biologia dos aspectos emocionais e

cognitivos. Busca-se compreender as ligações, influências e consequências

vivenciadas em cada nível emocional, pela ação do pensamento e nos

relacionamentos com o meio, o outro, e do indivíduo consigo mesmo.

O intuito é fundamentar as influências das emoções, dos pensamentos

e sentimentos nas relações afetivas, na autoestima dos indivíduos, na forma de

valorização da vida, do modo de ver o mundo e as situações vividas.

É meta deste estudo, ampliar o conhecimento sobre estes aspectos

para que seja possível trabalhar na educação infantil e fundamental, de forma a

alcançar o propósito de que “todo conhecimento deve ser antecedido de uma

sensação de sede. O momento da emoção e do interesse deve

necessariamente servir de ponto de partida a qualquer trabalho educativo”

(Vygotsky 2004, p. 145). É objeto também de interesse que os sentimentos de

cidadania, de responsabilidade social e de ligação e interligação com o meio,

os seres e o próprio universo possam ser despertados e alimentados na

infância de forma mais significativa e efetiva.

3.1 - Sentimento, Emoção, Afetividade – Um diálogo com as

Ciências

À luz da Teoria Cognitivo-Comportamental, Marilda Lipp define a

emoção como o ápice de um sentimento e de breve duração. A emoção traz

em sua expressão mudanças físicas, motoras, glandulares e emocionais. Por

50

meio da emoção o indivíduo toma decisões ou tem atitudes utilizando a

cognição, após uma avaliação da situação que vivencia (2009, p. 9-10).

Segundo Lipp (2009, p. 9), o sentimento é definido como “um estado

afetivo mais duradouro e estável” (2009, p. 9) e pode se constituir como base

para outras formas de emoção, mais intensas e agressivas.

Lipp (2009, p. 10) considera a afetividade como resultado da relação

emoção e sentimento e da forma como o indivíduo interpreta e vivencia esta

relação, e também os eventos que a desencadeiam. O nível de afetividade é

determinado pela predisposição em dar, receber, sentir e expressar afeto. O

desejo de “aproximação ou de afastamento” (2009, p. 10) é o que alimenta a

experiência afetiva, que será base nas “interações interpessoais das quais

fazemos parte”.

Optou-se por padronizar, nesta monografia, a abordagem

cognitivo-comportamental. Conforme Lipp (2010, p. 9), o modelo

cognitivo-comportamental diz que a forma como o indivíduo interpreta as

situações faz com que este tenha pensamentos e avaliações automáticas, que

serão coerentes com suas emoções, comportamentos e sensações corporais.

Antônio Damásio (1994), neurologista e neurocientista bastante

conceituado na atualidade, dedicou estudos e livros às emoções, sentimentos,

razão e pensamento. Suas pesquisas algumas vezes são contrárias, e ora a

favor, dos pensamentos de filósofos e cientistas da história. Através da

Medicina e estudos de casos, ele apresenta uma série de argumentos

fundamentados na Anatomia e na Fisiologia. Damásio (1994, p.105) defende a

teoria da dominância hemisférica; esta postula que um hemisfério cerebral tem

um papel dominante no controle comportamental e cognitivo. Essa ideia é bem

aceita e é defendida não só por ele.

Damásio (1994, p. 160-168) dá à emoção a função da comunicação de

significados ao outro e esta tem um papel de orientação cognitiva. Diz que a

origem das emoções está numa causa ou objeto, que é expressa por reações

corporais, específicas e observáveis. As emoções são públicas, automáticas e

inconscientes, podendo ser de polaridades negativas e positivas, variam em

intensidade, e são de duração breve. As emoções têm princípio e fim. Ele

51

classifica as emoções em primária, ligada aos processos neurais e fisiológicos

específicos (ex.: a alegria, a tristeza, o medo, a ira, o espanto, o nojo), e em

secundária ou social, associada às relações sociais nas quais os aspectos

socioculturais aprendidos são muito significativos (ex.: a vergonha). Essa

classificação resume-se na tabela abaixo, criada por este estudo.

Tabela 3 – Emoções Primárias e Secundárias

Emoção Primária Emoção Secundária

Ligada aos processos neurais e fisiológicos específicos.

Ex.: alegria, tristeza, medo, ira, espanto, nojo

Associada às relações sociais nas quais os aspectos socioculturais aprendidos são muito significativos.

Ex.: vergonha

Fonte: Elaborado por este estudo monográfico

Lipp (2010, p. 11) esclarece que o sistema límbico, conjunto de

estruturas do cérebro, primordialmente é responsável por controlar as emoções

e, de forma secundária, participa das funções de aprendizado e memória. Ele

tem ligações profundas com os sistemas neurovegetativo, neuroimune e

neuroendócrino, podendo atuar ou promover diferentes reflexos sobre esses

sistemas, causando stress, fobias, medos, distúrbios e outros impactos,

gerando no indivíduo sentimentos de inaptidão nas realizações e construções

da vida. A exteriorização e a expressão corporal das emoções estão

relacionadas a diferentes reações no corpo humano, seja quanto ao tônus

muscular, secreções hormonais ou até na própria lágrima produzida, e em

outras que acarretam mudanças no organismo no ato emocional e no

comportamento do indivíduo.

Sobre o sentimento, Damásio (1994, p. 180-181) diz que ele pode ser

proveniente da emoção ou não. Os sentimentos que não provêm da emoção,

estão diretamente ligados ao estado de fundo do indivíduo (tensão, mal estar,

bem estar e outros). São chamados de sentimentos de fundo.

52

Segundo Damásio (1994, p. 172) as diferenças entre emoção e

sentimento se constituem, respectivamente, em começo e fim de um processo

contínuo. E ainda, as emoções são públicas, os sentimentos privados. Os

mecanismos básicos das emoções não requerem necessariamente

consciência; já os sentimentos têm uma relação estreita com a consciência. O

ser humano é capaz de racionalizar a emoção e obter sentimentos. Todas as

emoções originam sentimentos, mas nem todos os sentimentos provêm das

emoções.

Wallon, apud Almeida (2010, p. 26), esclarece que:

“Afetividade refere-se à capacidade do ser humano de ser

afetado pelo mundo interno e externo, por sensações

ligadas a tonalidades agradáveis e desagradáveis.”

“A emoção, por sua expressão corporal, motora, visível,

ativada pelo fisiológico, é a exteriorização da afetividade.”

“O sentimento corresponde à expressão representacional

da emoção. Não implicam, reações diretas e instantâneas

como na emoção.” (Wallon, apud Almeida, 2010, p. 26)

Almeida (2010, p. 25-27) comenta que: “A teoria walloniana postula que

o psiquismo é uma unidade que, em cada momento, resulta da integração dos

conjuntos ou domínios funcionais: afetividade, conhecimento ou cognição, ato

motor, pessoa”. E também “A pessoa expressa a integração do

afetivo-cognitivo-motor em suas inúmeras possibilidades”.

Segundo Bastos (in 2010, p. 44), Wallon considera a emoção

impulsionadora do desenvolvimento do psiquismo. A evolução da afetividade

parte de um estado primitivo, “sociabilidade sincrética”, e a vida afetiva se

desenvolve em contato com o outro, possibilitando uma “individualização

psicológica”.

53

Para Ana Rita Almeida (2007, p. 51), Wallon considera “a afetividade e

a inteligência um par inseparável na evolução psíquica, pois ambas tem

funções bem definidas e, quando integradas, permitem à criança atingir níveis

de evolução cada vez mais elevados”.

Bastos (2010, p. 52-53) comenta que Wallon classifica as emoções,

sentimentos e afetividade, classificação essa sintetizada, por este estudo, na

tabela abaixo:

Tabela 4 – Emoção, Sentimento, Afetividade

Emoção Sentimento Afetividade

Revela um estado fisiológico.

É efêmera.

É psicológico, ideativo e duradouro.

É abrangente e integra as relações afetivas: emoção, paixão e sentimento.

Fonte: Elaborado por este estudo monográfico

Vygotsky (2004, p. 145-146), precursor das inteligências emocionais,

preocupa-se, com pioneirismo, com a abordagem das emoções e sentimentos.

“Por algum motivo formou-se em nossa sociedade a

concepção unilateral da personalidade humana, por

algum motivo todos interpretam o talento apenas em

relação ao intelecto. Mas é possível não só pensar com

talento, mas sentir com talento. O aspecto emocional do

indivíduo não tem menos importância do que outros

aspectos e é objeto da educação nas mesmas proporções

em que são a inteligência e a vontade.” (VYOSTSKY,

2004, p. 145-146)

Vygotsky (2004, p. 135) questiona como a emoção modifica o

comportamento e o pensamento. Este autor define o comportamento como “um

54

processo de interação entre organismo e meio”. Vygotsky define três formas de

correlação entre organismo e ambiente considerando a emoção um processo

de interação entre estes dois elementos. A primeira é a predominância do

organismo sobre o meio. “O comportamento transcorre sem qualquer retenção

interna e realiza-se uma adaptação de nível excelente com o mínimo de

dispêndio de energia e forças”. A segunda forma é a supremacia e

predominância do ambiente sobre o organismo, quando o organismo adapta-se

com dificuldade e grande tensão. “O comportamento irá transcorrer com a

máxima perda de forças, com o máximo dispêndio de energias e o mínimo

efeito de adaptação”. A terceira forma de correlação há o equilíbrio entre

organismo e ambiente, não há supremacia de nenhuma das partes.

Vygotsky (2004, p. 139) diz que “toda emoção é um chamamento à

ação ou uma renuncia a ela”. Define as emoções como “organizadores internos

das nossas reações” e de nossos comportamentos.

Vygotsky (2004, p. 139) faz referência a “tempos remotos onde o

coração era considerado o órgão do sentimento” e que a ciência exata reforça

esta acepção.

“As reações emocionais são, antes de tudo, reações do

coração e da circulação sanguínea, e se lembrarmos de

que a respiração e o sangue determinam o desenrolar de

absolutamente todos os processos, em todos os órgãos e

tecidos, compreenderemos por que as reações do

coração podem exercer o papel de organizadores internos

do comportamento.” (VYGOTSKY, 2004, p. 139-140)

Vygotsky (2004, p. 143-144) se refere a “velha educação que sempre

“logicizava” e intelectualizava o comportamento” o que acarretava em um

“terrível secamento do coração” e afirma que “a emoção não é um agente

menor do que o pensamento.”.

Corroborando com as palavras, Vygotsky cita-se Lange:

55

“Devemos predominantemente ao nosso sistema

vasomotor todos os conteúdos emocionais da nossa vida

interior, as nossas alegrias e tristezas, os momentos de

felicidade e amargura. Se os objetos externos que agem

sobre os nossos órgãos externos não acionassem

também esse sistema passaríamos ao largo a vida com

indiferença e sem paixão: as impressões do mundo

exterior aumentariam nosso conhecimento, mas não

iriam, além disto; não despertariam em nós nem a alegria,

nem a ira, nem preocupações, nem medo.” (in

VYGOTSKY, 2004, p 140)

3.2 - O Pensamento nas perspectivas da Biologia Celular e da

Física Quântica

O Dr. Bruce Lipton (2007, p. 15), biólogo celular, renomado cientista

pesquisador norte-americano e professor universitário, lecionou na Escola de

Medicina da Universidade de Wisconsin. Desenvolveu pesquisas na

Universidade de Stanford e seus estudos pioneiros sobre a membrana celular

foram precussores de uma nova ciência, a Epigenética; dela foi fundador e um

dos seus maiores especialistas. Ela consiste no estudo dos mecanismos

moleculares, por meio dos quais o meio ambiente controla a atividade genética.

A Epigenética é hoje uma área de pesquisa bastante atuante.

O Dr. Lipton (2007, p. 21) buscou encontrar em seu conhecimento

científico as respostas para o que todos, de uma maneira geral, perguntam: o

que de fato comanda a cada indivíduo, em suas diferentes áreas da vida, os

genes que recebemos como herança ou outro fator que não se conhece ou não

se observa?

Conforme relata Lipton (2007, p. 30), a ciência, com essas

descobertas, pode dar uma nova ótica a essas questões, e abriu as discussões

sobre o efeito dos pensamentos sobre o corpo humano. Surgiu uma nova

56

biologia dando importância ao “ambiente”, aos pensamentos e sentimentos.

Comprovou-se como eles interferem na saúde e na vida do ser humano. A

pesquisa de Lipton (2007) sobre a Biologia Celular e a Física Quântica está

sendo aclamada como uma descoberta revolucionária.

A crença de que se pode ser controlado pelos genes está sendo

substituída pela consciência de que os próprios geradores e administradores

de suas vidas e do mundo que os cerca são os próprios seres humanos e seus

comportamentos, sentimentos e concepções da vida, conforme diz Lipton

(2007 p. 81).

“A realidade de um universo quântico, retoma conceitos que Descartes

(Séc. XVII) refutou” (2007, p. 147), pois Lipton (2007) comprova cientificamente

o elo entre mente e corpo. O referido autor discorre sobre a mecânica do

universo, das células do corpo humano e mostra como ele (corpo) pode ser

afetado pela mente. Afirma que “o pensamento é a energia da mente e

influencia diretamente a maneira como o cérebro (físico) controla a fisiologia do

corpo” (2007, p. 147).

Para o Dr. Lipton (2007, p. 147) o pensamento e o ambiente criado por

cada ser humano internamente estão numa relação direta com o que acontece

ao seu organismo. O autor (2007, p. 153) descreve, detalhadamente, o trabalho

entre os elementos da célula, do organismo e de seus sistemas, e os define

como “solidariedade” (2007, p. 231).

Segundo Lipton (2007, p. 61), as palavras e os pensamentos são

intensos em informação, as quais são captadas e interpretadas pelos

receptores da membrana celular, modulando assim a expressão genética, ou

seja, determinando quais genes irão se manifestar, e como.

Lipton (2007, p. 84) dá às células do corpo humano as características

de inteligência, propósitos de vida e vontade próprias, a capacidade de

aprender com as experiências que vivenciam e de procurarem ambientes

ideais à sua sobrevivência. “Cada célula é um ser inteligente e que sobrevive

por conta própria, algo que os cientistas já demonstraram retirando células

individuais do corpo para mantê-las em cultura separada.” (2007, p. 46).

57

Lipton (2007, p. 143) aborda sobre a força do “pensamento positivo e

negativo” sobre o bem estar do indivíduo e em que medida o subconsciente

pode sabotar ou dinamizar nossos objetivos.

Bem estar, na classificação de Damásio (1994, p. 180-181), é um

sentimento de fundo. Complementando esta ideia de bem-estar, Lipton (2007,

p. 143) diz que “Pensamentos consomem tanta energia quanto as maratonas.”.

Comenta ainda:

“Os pensamentos positivos têm um efeito profundo sobre

nosso comportamento e sobre nossos genes, mas,

somente, se estiverem em harmonia com a nossa

programação subconsciente, e o mesmo vale para os

pensamentos negativos. Quando entendemos como

crenças positivas e negativas controlam nossa vida,

podemos modificar esses padrões e passar a ter mais

saúde e felicidade.” (LIPTON, 2007, p. 36)

“Aprender a mudar sua mente para crescer e se

desenvolver é o segredo da vida. (...) o segredo da vida

na verdade não é segredo algum. (...) nossas crenças que

controlam nossa vida...” (LIPTON, 2007, p. 172)

Lipton (2007, p. 36) realizou pesquisas sobre o crescimento e a saúde

das células e como o medo pode prejudicá-las, “tanto as células quanto as

pessoas precisam crescer e se desenvolver (...) o medo pode impedir esse

processo.”.

Lipton (2007, p. 56) deixa uma mensagem que denominou “paternidade

consciente”, que significa: o quanto está ao alcance de todos influenciarem as

crenças de seus filhos.

“Como pais precisam entender o papel que

desempenham na programação das crenças de nossos

58

filhos e o impacto destas crenças em suas vidas (...) um

dia todos fomos crianças, e entender esse mecanismo é

crucial mesmo agora que somos adultos.” (LIPTON, 2007,

p. 36)

Damásio (2003, p. 16) considera que “elucidar a neurobiologia dos

sentimentos e das emoções” é importante porque modificará a concepção que

se tem do corpo e da mente, e será possível compreender as relações entre

eles e suas especificidades; também auxiliará no autoconhecimento dos

indivíduos. As emoções e as reações fisiológicas desencadeadas por elas

“estão alinhadas com o corpo, enquanto os sentimentos alinhados com a

mente”. As pesquisas de como os pensamentos desencadeiam as emoções e

de como as modificações do corpo, durante as emoções, se transformam nos

“fenômenos mentais, a que chamamos sentimentos”, dão uma nova

perspectiva sobre o corpo e a mente, “integrado e singular”.

O diálogo com os autores, citados neste capítulo, é representado pela

Figura 15:

Figura 15 – Cognição, Sentimento, Comportamento.

Cognição / Sentimento / Comportamento

Emoções / Sentimentos

Pensamentos Crenças / Sensações físicas Sentimentos de fundo

Comportamentos

Fonte: Figura criada por este estudo monográfico.

59

CAPÍTULO IV

4.PROPOSTAS PEDAGÓGICAS

Filosofias e Valores

Neste capítulo pretende-se abordar três propostas pedagógicas que

postulam a Educação Integral e a Educação Global. Estas propostas são

focadas no trabalho do desenvolvimento da autonomia e da liberdade, das

potencialidades e necessidades, das responsabilidades e direitos e da

consciência das vinculações com o outro, com o mundo e com o universo. As

propostas pedagógicas aqui mencionadas trazem como objeto principal o

indivíduo como ser integral (corpo, mente e espirito).

Os educadores estudados neste capítulo partem da premissa de uma

mudança e organização interna e externa, para que seja amplo e irrestrito o

seu desenvolvimento em se tratando de conhecimento, de potencialidades e

valores.

Buscar no passado estudos e propostas pedagógicas de Educação

Integral e de interdisciplinaridade é potencializar o enfoque que se deseja dar a

esta pesquisa. O trabalho interno perpassa pela necessidade de reformar o

pensamento e os sentimentos sobre os vínculos do indivíduo com seu intimo,

com o conhecimento, com o outro e as coisas do mundo. É preciso dar

atenção, realizar estudo e trabalho sobre as próprias emoções, pois estas

serão impulsionadoras do desenvolvimento nos três aspectos do Homem como

Ser Integral.

Pesquisar Comenius, a Pampaedia e Pansofia, Maria Montessori, a

Educação Cósmica e Educação para a Paz e Edgar Morin e sua proposta de

Reforma do Pensamento e o Pensamento Complexo é o que move este

estudo. Considerar o conhecimento, a interdisciplinaridade, a emoção e o

sentimento aspectos interdependentes a serem trabalhados para que possa

ocorrer a Educação Integral, torna-se uma hipótese de uma nova proposta em

Educação.

60

4.1 - Comenius

Este trabalho de resgate dos ensinamentos e obras de Comenius

torna-se possível devido às pesquisas, dos estudiosos e educadores Dori

Incontri e Luiz Augusto Beraldi Colombo, sobre Comenius. Estas são

fundamentadas nos documentos oficiais da época de Comenius.

Daniel Walker e Frederick Eby vêm também corroborar com esta volta

às bases da Didática e da Pedagogia Moderna.

A obra de Comenius é vasta e aborda diferentes assuntos. Segundo

Walker (2001, p. 59) ela é classificada pelos críticos em três categorias:

1) as que tratam de princípios educacionais;

2) recursos auxiliares para a sala de aula;

3) obras mistas, incluindo religiosas (sermões), histórias eclesiásticas,

hinários, catecismos, traduções e trabalhos proféticos.

Neste estudo apontaremos as mais conhecidas.

4.1.1 - Um pouco de sua história e obra

Jan Amos Komensky (Comenius) era de família eslava e protestante,

nasceu em 1592 em Uhersky Brod, Morávia (hoje República Checa), com base

religiosa nos preceitos de Jan Huss. Comenius cresce valorizando sua língua

mater e sua cultura checa. Inicia seus estudos aos 16 anos, o que lhe causa

lamentação e o influencia em sua ideia de reforma educacional. Comenius

cursa as Universidades de Herborn e de Heidelberg. Lá conhece as obras de

Campanella, Vives, Andrea e Ratke, que já abordavam sobre a reforma de

ensino. Comenius começa desde então a escrever sobre suas ideias. Propõe

uma língua, a Panglotia, uma língua universal “com a qual todos os sábios

possam se comunicar”. Em Heidelberg inicia o Amphiteatrum universitatis

rerum, trabalho onde queria compilar “todo conhecimento humano” Colombo

(2006, p. 42).

A vida de Comenius é marcada por tragédias. Perde filhos e esposa,

numa epidemia que devastou a cidade, após a invasão da Espanha, em 1621.

Perde também sua segunda esposa, e por duas vezes sua obra, em incêndios

61

devido a Guerra dos Trinta Anos e conflitos, “que o lançam a um caminho de

exílios e desilusões”. Eby (1996, p. 154-155).

A Batalha da Montanha (em 1620 – Guerra dos Trinta Anos) “marca

definitivamente a vida de Comenius, e o lançará a um caminho de exílios e

desilusões”. Em 1623 Comenius revela “seu sofrimento e também todo o

germe de seu pensamento em sua obra, O Labirinto do Mundo e Paraíso do

Coração”. Exilando-se dos assédios da intolerância religiosa, Comenius

percorre os países protestantes da época e começa a redigir o seu projeto.

Escreve sua primeira obra de sucesso Porta Aberta das Línguas. Trata-se de

uma enciclopédia simplificada sobre uma ampla variedade de temas – ao todo

98 – começando pela origem da Terra e terminando com uma seção sobre os

anjos. Contendo oito mil vocábulos em cem capítulos, nesta obra “descreve

animais, vegetais, minerais, o homem, as relações sociais, a vida espiritual e

moral”. São lançadas mais de “oitenta edições durante sua vida com versões

em: checo, grego, italiano, húngaro, polonês, alemão, sueco, holandês, inglês,

francês e espanhol”. Em 1632 Comenius é eleito bispo da Unidade dos Irmãos;

a partir de 1636, reitor das escolas dos Irmãos em Leszno. Sua produção

literária não fica apenas no âmbito da língua materna, pois em 1633 publica,

em alemão, um livro educacional: A Escola do Regaço Materno, direcionado a

pais e crianças pequenas. Colombo (2006, p. 42)

Kulesza (apud Colombo 2006, p. 43) comenta:

“Este trabalho precursor conhecerá edições em várias

línguas, no século XIX, e terá papel destacado no

desenvolvimento do Kindergarten de Fröbel.

Preconizando um tipo de escola que viria a ser

institucionalizada apenas dois séculos depois, este

manual dirigido aos pais das crianças foi certamente

inspirado na educação de seus próprios filhos: sabe-se

que teve cinco filhos com Dorotéia.” (KULESZA apud

Colombo 2006, p. 43)

62

Em 1638, Comenius redige a Didática Magna, que contém os

fundamentos para uma Ciência da Educação. Seu objetivo maior era o de

“ensinar tudo a todos”. Em 1639, para sustentar a proposta da Didática Magna

com caráter científico, cria um sistema filosófico: a Pansofia (a sabedoria do

todo – “ensinar tudo a todos”), segundo Kulesza (2006, p. 52).

Comenius tinha uma sublime confiança no poder da Educação de

regenerar a vida humana; estava convencido de que “não há caminho mais

seguro sob o sol para reerguer a humanidade sucumbida, do que a educação

adequada dos jovens” (Comenius apud Eby 1996, p. 158).

A Didática Magna é uma versão latina da Didática Checa, “em razão do

papel mais amplo que ela assumiria” Walker (2001, p. 59). Comenius dedica

esta obra a “todos os que presidem os destinos humanos, aos ministros de

Estado, aos pastores das Igrejas, aos diretores das escolas, aos pais e aos

preceptores dos jovens” (Comenius apud Walker 2001, p. 59). Para esse fim,

ele reescreve-a e muda alguns capítulos para torná-los mais compatíveis com

as ideias pansóficas, que ele vinha elaborando. Esta obra foi editada somente

em 1657, na Opus Didactica Omnia, em Amsterdã. Comenius submete a leitura

de sua obra a várias pessoas, inclusive a Joachim Hübner, historiador, ao qual

pede um parecer técnico. Hübner faz duras críticas à obra, sua estruturação e

aplicabilidade, deixando Comenius aborrecido e retardando, em duas décadas,

a edição desta obra. Em resposta a Hübner e a outros críticos Comenius

escreve:

“Não mudo nada, a Didactica Magna começa pelo fim

último do homem e, despertado nele o desejo de sua

última perfeição, o conduz por meio de todos os graus

intermediários, até a suprema fruição de seu desejo”.

(COMENIUS apud Walker 2001, p. 62)

63

Segundo Eby (1991, p. 155), o projeto de Comenius segue em

movimento de expansão para outros países e, entre 1641 e 1650, Comenius

faz viagens com a finalidade de implantar reformas educacionais na Inglaterra,

Holanda, Suécia e Hungria. Em 1654 retorna a Leszno e, em 1656, católicos

incendeiam Leszno, e Comenius perde sua biblioteca. Vai, então, para

Amsterdã onde continua escrevendo.

Em 1657 edita um compêndio com todos os escritos de Educação,

incluindo a Didática Magna, a Opus Didactica Omnia. Como última de suas

obras Comenius propõe uma reforma geral da sociedade humana. Esta obra se

intitulou Deliberação Universal, acerca da reforma das coisas, e era dividida em

sete partes (Colombo 2006, p. 45-46):

1) Panegersia ou Despertar Universal,

2) Panaugia ou Iluminação Universal,

3) Pansophia ou Sabedoria Universal,

4) Pampaedi ou Educação Universal,

5) Panglottia ou Língua Universal,

6) Panorthosia ou Reforma Universal, e

7) Pannuthesia ou Exortação Universal.

A parte central desta obra, a Pampaedia ou Educação Universal,

amplia ainda mais os conceitos de didática que prega “a formação universal de

todo o gênero humano” (Comenius apud Colombo 2006, p. 45).

Eby (1996, p. 154-161) relata que de 1654 até o fim de sua vida,

Comenius fixou residência em Amsterdã e lá permaneceu até sua morte (15 de

novembro de 1670), quase octogenário. Combateu até o final a intolerância.

Incontri (2006, p. 125) comenta sobre este nobre educador, sua obra e

projeto:

“Autor de mais de 250 obras, em latim, checo e alemão,

sobre temas políticos, sociais, pedagógicos, filosóficos e

teológicos, o eco de suas ideias ainda nos alimenta. Seu

projeto de educação universal, para a paz, ecumênica e

64

integral foi assumido apenas no século XX como

necessidade e direito dos povos e ainda está longe de ser

plenamente concretizado.” (INCONTRI, 2006, p. 125)

Conforme Covello (apud Walker 2001, p. 40), em 1956 a Conferência

Internacional da UNESCO realizada em Nova Délhi delibera a publicação das

obras de Comenius e o aponta como um dos primeiros propagadores das

ideias que inspiraram a UNESCO por ocasião de sua fundação.

4.1.2 - O Projeto e o pensamento filosófico de Comenius

De acordo com Incontri (2006, p. 98) o projeto da pansofia (a sabedoria

do todo) é um ideal pretensioso, mas a consequência coerente de sua visão de

mundo. Não pode haver uma apreensão científica e racional do universo e, do

outro lado, uma visão religiosa que se lhe oponha.

A prática de uma Educação para todos, onde seja possível “ensinar

tudo a todos”, é hoje um dos desafios da educação, comenta Incontri (2006,

p.99).

Muitos de seus conceitos hoje presentes nas escolas, como Educação

para todos, democratização do ensino, aprendizagem global, diferenças

individuais, inteligências múltiplas, foram inicialmente apresentados por

Comenius, inegavelmente à frente de seu tempo, diz Incontri (2006,p.100).

Jan Amos Comenius, segundo define Incontri (2006, p. 132–133), tinha

como parâmetros para sua Pedagogia: o respeito à natureza (criação e

sabedoria Divina), o processo de aprendizagem da criança (que deveria ser

diversificado e estimulado numa relação de afetividade), e o pensamento

filosófico e científico (que deveria ser estimulado nos alunos dando-lhes

subsídios e oportunidades para que fossem desenvolvidos). Comenius também

foi considerado, conforme relata Incontri, o precursor das teorias do

desenvolvimento, tal qual afirma Piaget em texto de uma Coletânea de

Comenius, por Piaget, prefaciada e selecionada em edição da UNESCO:

65

“O mais surpreendente, e em muitos sentidos, o mais

moderno aspecto de sua doutrina, conservado até agora,

são suas ideias sobre a Educação para cada um e para

todos os povos e (o que ainda é mais espantoso) sobre a

organização internacional da educação pública. Esse lado

de sua obra é o que mais interessa à UNESCO e, em

certo sentido, Comenius pode ser considerado como um

dos precursores desta organização.” (PIAGET apud

Incontri 2006, p. 126)

Comenius relacionou suas teorias e práticas à sua concepção religiosa.

Ele acreditava na potencialidade humana de qualquer cidadão para o

aprendizado, e em qualquer idade (Incontri 2006, p. 126).

À luz de Colombo (2006, p 172-173) conhece-se o entendimento de

Comenius quanto como deveria ser organizada a educação de um ser humano;

o que o nobre educador checo detalha em sua Pampaedia, estabelecendo um

“paralelismo geral” entre a teoria pansófica dos mundos e das escolas

existentes. As oito divisões que Comenius (apud Colombo 2006, p. 173)

estabelece são representadas na tabela abaixo criada por este estudo

monográfico:

Tabela 5 – Teoria Pansófica dos Mundos e Escolas

Teoria Pansófica dos mundos

Escolas Descrição das Escolas

Mundo das possibilidades

Escola pré-natal Mãe e filho / relações afetivas

Mundo dos Arquétipos Escola materna Crianças de 0 a 6 anos

Mundo Angélico Escola da puberdade

Lógica/matemática/sensorial - 6 a 12anos

Mundo Natural Escola da adolescência

Organizar os conceitos da Puberdade

66

Teoria Pansófica dos mundos

Escolas Descrição das Escolas

Mundo Artificial Escola da juventude

Ciências elaboradas em conjunto/diálogos e trocas de conhecimento constante

Mundo Moral Escola da virilidade

Orientação práxis da vida Ligação plena com Deus

Mundo Espiritual Escola da velhice Preparação para a morte Sapiência/vida eterna

Mundo Eterno Escola da morte. Preparação para a morte em todos os estágios.

Fonte: Elaborado por este estudo monográfico

Comenius não inclui em sua obra uma “discussão especial da

Psicologia”, mesmo assim todos os seus princípios e concepções são

“baseados numa bem estruturada teoria da vida mental e do desenvolvimento

da criança” e concordam de um modo geral com o ponto de vista funcional da

atualidade, cita Eby (1996, p. 163-164).

Colombo (2006, p. 148–173) e Eby (1996, p. 163-164) destacam o que

Comenius considerava importante:

• A formação do ser humano em etapas que seguiam uma metodologia

diferenciada, onde o estágio do indivíduo era priorizado;

• A criança, o fator humano e a relação sujeito / objeto;

• A interdisciplinaridade;

• O conhecimento deveria ser construído pela relação e inter-relação de

“ferramentas empíricas”, pela racionalidade iluminada pela virtude

apoiada na revelação religiosa;

• Uma Educação universal, integral e permanente;

• Conhecimento através dos sentidos;

• Imaginação, que evolui da sensibilidade;

• Memória e disciplina formal, que deveria ser exercitada na criança pela

prática;

• Valorizava a razão e compreensão;

67

• Diferenças individuais – indicou algumas das principais diferenças e

discutiu como lidar com elas;

• Adaptação ao nível de desenvolvimento – estágios de desenvolvimento;

• O aprender fazendo;

• Emoção e vontade – Comenius muito avançado para sua época ao

reconhecer a importância capital das emoções das crianças.

“Com sua insistência sobre o interesse, a atenção e o

senso de necessidade em conexão com tudo a ser

aprendido, ele antecipou teorias atuais. Alimentaria a

curiosidade natural ou o “desejo de ver, ouvir, manusear

todas as coisas novas”. Reconheceria que nestas

tendências emocionais a natureza fornece o esforço

interior em busca do conhecimento. (...) Os desejos ou

afeições influenciam a vontade e determinam o caráter.

Assim Comenius atribui o lugar mais importante na

experiência humana à vontade e natureza moral, que

formam a pedra fundamental no processo de

desenvolvimento.” (EBY, 1996, p. 165)

Comenius fala que o que prejudica a percepção reta, “turvando a

visão”, são os vícios, os sentimentos negativos e os condicionamentos do

homem imperfeito, como nos relata Colombo (2006, p. 112).

A Educação proposta por Comenius é sem violência e de forma

natural. Colombo (2066, p. 110-) relata:

“Se observarmos as pegadas da natureza torna-se

evidente que a educação da juventude se processará

facilmente, se:

1. Começar cedo antes da corrupção das

inteligências;

68

2. Se fizer com a devida preparação dos espíritos;

3. Proceder das coisas gerais para as coisas

particulares;

4. E das coisas mais fáceis para as mais difíceis;

5. Se ninguém for demasiado sobrecarregado com

trabalhos escolares;

6. Se em tudo se proceder lentamente;

7. E se os espíritos não forem constrangidos a fazer

nada mais que aquilo que desejam fazer

espontaneamente, segundo a idade e por efeito do

método;

8. Se todas as coisas forem ensinadas, colocando-as

imediatamente sob os sentidos;

9. E fazer ver a utilidade imediata;

10. E se tudo se ensina sempre com um só e o mesmo

método.” (COMENIUS Apud Colombo 2006,

p. 110).

Comenius, considerado o Pai da Pedagogia Moderna por críticos e

educadores, teve grande influência na fundação de entidades como ONU e

UNESCO (Colombo 2006, p. 40).

Conforme relata Incontri (2006, p. 128): “a unidade que Comenius vê

em todas as coisas, porque todas são originárias de uma só raiz, que é Deus,

ele a simboliza na árvore. A realidade tem nexos orgânicos, e a mesma seiva,

que vem da raiz, alimenta os galhos, ramos, folhas, frutos e flores”.

Segundo Ritzkomski (apud Incontri 2006, p. 128-129), a concepção de

mundo e de Comenius é representada por uma árvore. “Ela (a árvore) alcança

do mundo inferior ao mundo superior. Ela sustenta o céu e une o céu e a terra.

É símbolo da unidade e da variedade. Reconhecer a árvore significa inserir-se

69

no todo universal e obter conhecimento deste todo”. A verticalização da árvore

torna os pensamentos e a sensibilidade impregnados de seu movimento, num

esforço continuo de alcançar o que está no alto (elevação profissional,

espiritual e religiosa) e embaixo (fundamento, razão). Quanto à questão da

horizontalidade (a extensão e largura), representa que “seus ramos alcançam

os confins do mundo. Todos os povos habitam sob seu teto”.

Segue, abaixo, o desenho da árvore criado por Comenius em seu livro

Centrum Securitatis. (apud Incontri 2006, p. 129):

Figura 16 – Árvore de Comenius

Fonte: http://editoracomenius.com/nossa-missao/

Estão entre seus discípulos Jean-Jacques Rousseau, John Locke e J.

H. Pestalozzi (Incontri2006, p. 125-132).

Walker (2011 p, 42) destaca que Comenius, suas ideias e sua

pedagogia continuam vivas quando Montessori diz:

“Devemos despertar na consciência do educador o

interesse pelas manifestações dos fenômenos naturais

em geral, levando-o a amar a natureza e a sentir a

ansiosa expectativa de todo àquele que aguarda o

resultado de uma experiência que preparou com cuidado

e carinho”. (WALKER, 2011, p, 42)

70

4.2 - Maria Montessori

Falar de Maria Montessori neste estudo tem o intuito de mostrar que a

metodologia Montessoriana, vai além da sala de aula e do lidar com o material

pedagógico criado por ela, para auxiliar o desenvolvimento da inteligência e

dos aspectos motor, cognitivo e sensitivo da criança. O que se deseja mostrar

é que existe uma filosofia Montessoriana própria em significados e intenções,

que defende o desenvolvimento integral do indivíduo, de sua geração à idade

adulta.

A filosofia e metodologia Montessoriana é fundamentada pela

observação, pesquisas e conhecimentos científicos. A individualidade,

atividade e liberdade do aluno compõem a base do sistema de ensino

Montessoriano, dando ênfase ao indivíduo como sujeito e objeto do

ensino/aprendizado.

Maria Montessori acredita que a vida e a educação não devem se

limitar apenas a conquistas materiais e sim que o homem deve cumprir sua

missão de cidadão, “cocriador do mundo”, dando o melhor de si, construindo-se

internamente para, assim, construir externamente com responsabilidade, paz e

amor.

O sistema de ensino Montessoriano se dedica a incentivar o

desenvolvimento da autonomia, da responsabilidade, da autoconfiança, do

desejo e amor ao aprender, e ao sentimento de conexão com tudo e todos

numa rede de solidariedade.

Por este motivo este estudo monográfico irá focar o trabalho de

Montessori quanto às concepções e ideais de educação, construção íntima do

indivíduo, e sua participação no mundo. Sabe-se que seu material pedagógico

e sua aplicabilidade desenvolve o cognitivo de forma a dar à criança as bases

fortes necessárias ao seu caminhar, mas o que se pretende aqui é abordar as

questões intrínsecas da filosofia Montessoriana, as condutas e os sentimentos

Montessorianos.

71

Neste estudo será feita uma compilação de autores que comentam a

metodologia e a filosofia Montessoriana e também as palavras de Maria

Montessori.

Livros como: A Educação para a Paz, A Educação Cósmica e Mente

Absorvente, de Maria Montessori, são preparações para uma educação de

sentimentos do indivíduo consigo mesmo, com o conhecimento, com o outro,

com o mundo e com a sua participação cósmica (universo). Uma proposta de

educação de cidadãos universais, uma educação integral.

4.2.1 - Um pouco da sua história e obra

Segundo AMI (2005, p. 4-5), Maria Montessori nasceu em 31 de agosto

de 1870 na pequena cidade de Chiara Valle, no leste da Itália. Filha única de

Alessandro Montessori e Renilde Stoppani, Montessori era neta do famoso

geólogo e naturalista, Antônio Stoppani.

Nos relatos de AMI (2005, p. 9-10), em 1896, Maria Montessori torna-

se a primeira mulher a se formar em Medicina na Itália. Em 1898, dirige o

Ortophernic Institute em Roma. De 1900 a 1907, em paralelo com sua atividade

em Medicina, é muito ativa na reforma social, e escreveu o livro Pedagogical

Anthropology, graduando-se, neste período, em Antropologia. Maria constrói

sua história pessoal, intelectual, profissional e científica dedicando-se por mais

de meio século ao estudo e à pesquisa da Educação. Viaja pelo mundo (EUA,

Londres, Espanha, Áustria, Alemanha, Holanda, Dinamarca, Suíça, Argentina e

Itália) realizando cursos para formar professores Montessorianos, palestras,

congressos, fundando escolas e associações Montessorianas. Ocupa cargos

como psiquiatra e pedagoga em instituições e escolas. Funda a primeira Casa

dei Bambini em 6 de janeiro de 1907, numa região pobre no centro de Roma,

que se torna a origem e materialização de seu método educativo Montessori.

Maria Montessori vive e sofre as consequências dos conflitos que a

Europa vivencia na Guerra Civil da Espanha (1936-39) e na Segunda Guerra

Mundial (1939- 45). As escolas Montessorianas são fechadas na Itália, devido

à divergência de ideais entre Maria Montessori e Mussolini. Maria deixa a Itália

por não concordar com o regime fascista e a forma brutal com que o governo

72

de Mussolini formava os jovens. Mora na Espanha (antes da Guerra Civil

Espanhola) e depois Ceilão (hoje Sri Lanka), Índia, e Holanda até sua morte

(AMI 2005, p. 35).

Montessori (2004, p. 101-108) fala da estruturação do Sistema

Montessori de Educação, baseado na sua observação e no seu conhecimento

científico sobre o modo de aprender do educando. Considera importante que o

ambiente seja propício para que “a criança tenha possibilidade de agir

livremente” e se desenvolver.

As conferências que Maria Montessori (2004, p. 25-142) faz deixam

claro que ela considerava que só através da educação seria possível construir

uma nova sociedade, um novo mundo de paz e solidariedade.

Montessori (2004, p. 25-142) participa de numerosos congressos e

cursos visando sempre a Educação, a criança como agente na construção do

adulto, um mundo melhor usufruindo da paz. A busca da paz por meio da

educação foi uma de suas bandeiras, o ideal de sua metodologia e filosofia.

Recebe inúmeras manifestações de apoio como de: Madeleine Edson (1912),

Alexander Graham Bell (1913), Daily Chronicle (1913), Helen Keller e Ann

Sullivan Macy (1913), Sigmund Freud (1917), Papa Benedictus S.S. XV (1918),

Daily News (1919), Rabindranath Tagore (1925/1940), Bertrand Russel (1926),

Mahatma Gandhi (1931), entre outros. Durante sua vida fez seguidores e

admiradores de seu sistema de ensino e também teve opositores que não

compreenderam o significado do seu ideal de educação (AMI, 2005).

Maria morre em 6 de maio de 1952, em Noordwijk, Holanda (AMI 2005,

p. 35).

Sua obra é especialmente voltada para as mais variadas questões de

ensino e educação. Entre elas: “Método da Pedagogia Científica aplicada à

Educação” (1909), “Autoeducação nas escolas elementares” (1912), “O Método

Montessori Avançado” (1919), “A criança” (1936), “Educação para um novo

mundo” (1946) e “Mente absorvente” (1949). Em “Mente absorvente” se ocupa

das crianças com menos de três anos de idade.” Outras obras de sua autoria:

“A Criança”, “A Educação e a Paz”, “A Formação do Homem”, “A Mente da

Criança”, “Montessori em família”, “O que você precisa saber sobre seu filho”,

73

“Para educar o potencial humano”, “Pedagogia Científica: a descoberta da

criança”, ”Psicoaritmética” e “Psicogeometria” (AMI 2005, p. 72).

A Organização das Nações Unidas (2004, p. 25-142) declarou o ano do

centenário de seu nascimento (1970), Ano Internacional da Educação, numa

justa homenagem.

Suas participações em congressos, palestras, cursos e seminários

foram importantes e significativas para a Educação transformadora e

construtora da paz (2004, p.25-142):

• Em 1939, ela expôs sua análise do problema da paz num discurso de

grande importância, no Escritório Internacional de Educação de

Genebra, então centro do movimento europeu pela paz;

• Em 1936 – Congresso Europeu pela Paz – Bruxelas – Maria Montessori

faz várias conferências. Ao eclodir na Espanha a Guerra Civil, Maria fez

em Londres vários discursos pela paz;

• Em 1937 – Congresso “Educar para a paz!” (movimento Montessoriano)

o governo dinamarquês ofereceu sua sala do parlamento, em

Copenhague, para a realização do Congresso. Neste, Maria Montessori

fez uma série de conferências, em “defesa da moral da humanidade”;

• Ainda em dezembro de 1937 fez três conferências na Escola

Internacional de Filosofia (Sociedade Científica de Utrecht);

• Em julho de 1939 fez conferência na Fraternidade Mundial dos Crentes,

uma organização religiosa internacional;

• A partir de 1939, ela se consagrou sem entraves em sua obra na Índia.

“Maria Montessori trouxe uma nova e autêntica luz ao

pensamento social, político, científico e religioso. As

universidades, as organizações e associações de

numerosos países, unidas na vontade de reformar a

sociedade humana, propuseram sua candidatura ao

prêmio Nobel da Paz em 1949 e 1950.” (AMI 2004, p. 15)

74

Acreditando que a infância é um mundo a parte Maria Montessori

pesquisou e desenvolveu metodologia também para as crianças de 3 a 6 anos.

Ela considerava este período da infância como o da Mente Absorvente e, sob

os mesmos critérios de observação, pesquisa e comprovação científica,

também conduziu seus estudos e trabalho para essa etapa do

desenvolvimento. A próxima figura, criada por Montessori, é um exemplo de

sua fundamentação científica e observação da prática (2ª ed. 5-245).

75

Figura 17 – Desenvolvimento da Linguagem

Fonte: Mente Absorvente, 1ª ed., s/ ano de edição – Maria Montessori

76

4.2.2 - Bases da Metodologia Montessoriana

Montessori Jr (1ª edição, p. 71), expõe que “O Método de Montessori é

baseado na ideia revolucionária de que a educação tem um papel

indispensável na formação do homem”. “O objetivo é oferecer ajuda adequada

ao ser humano que se desenvolve”. Desta forma é possível um

desenvolvimento pleno e feliz. O método Montessori valoriza um ambiente

preparado no qual a criança tenha a liberdade de ação e um aprendizado de

acordo com as leis do seu desenvolvimento. Montessori Jr (1ª edição, p. 21-50)

esclarece que as leis de desenvolvimento são os estágios sucessivos que a

criança atravessa. Cada estágio tem suas características únicas que requer

ambiente e tipo de ensinamento específico. Relata também que eles têm uma

coisa em comum, os períodos sensíveis, que são momentos particulares em

que a criança é atraída a certas atividades, a fim de que o desenvolvimento

específico ocorra.

Montessori (ref. 186/83, p. 51-63) define os períodos sensíveis como

uma sensibilidade especial, que desperta um poderoso desejo espontâneo

para aprender um conceito ou desenvolver uma habilidade. Sua duração é

transitória e variável, e é uma fase do desenvolvimento ideal para a aquisição

de uma característica específica. Uma vez esta característica seja adquirida, a

sensibilidade desaparece. “Cessado o período sensível, as conquistas

intelectuais devem-se a uma atividade reflexa, ao esforço da vontade, ao

trabalho da pesquisa.” O Sistema de ensino Montessoriano se dedica a

oferecer oportunidades para que a criança, em cada um de seus períodos

sensíveis, possa receber os estímulos e as ferramentas para o

desenvolvimento das habilidades e competências, que cada uma dessas fases

tem latente. Montessori (ref. 186/83, p. 54) fala que esta vitalidade interior é o

que explica as conquistas naturais da criança. Um clássico exemplo de período

sensível é a aquisição da fala.

“A criança realiza suas aquisições nos períodos sensíveis,

que se poderia comparar a um farol aceso que ilumina

interiormente, ou, a um campo elétrico que ocasiona

77

fenômenos ativos. É essa sensibilidade que permite à

criança relacionar-se com o mundo exterior de maneira

excepcionalmente intensa. Cada esforço é um acréscimo

de poder. O torpor da indiferença, a fadiga, só ocorre

depois de que a aquisição foi completada no período

sensível.” (MONTESSORI ref. 186/83, p. 54)

Montessori (ref. 186/83, p. 54) alerta que, se houver algum obstáculo

durante o período sensível, que não permita o trabalho da criança, ela sofrerá

perturbação que poderá ser levada para sua vida adulta como marca indelével.

A ordem, a autonomia, a liberdade de escolha e de desenvolvimento, e

a normalização da criança são também importantes na Metodologia

Montessoriana. (Montessori ref. 186/83, p. 54).

Hermann Rohrs enfatiza que:

“O período sensível da primeira infância oferece a ocasião

única de incentivar um desenvolvimento real. Montessori

considerava a educação social como elemento importante

dessa primeira fase, visto que a autodeterminação deve

receber orientação de outrem para que o indivíduo possa

atingir a perfeição enquanto ser social.” (Hermann Rohrs

2010, p.21)

Rohrs cita ainda as palavras de Maria Montessori:

“Nenhum coração sofre com o bem de outrem, mas o

triunfo de um, fonte de encantamento e de alegria para os

outros, cria frequentemente imitadores. Todos têm um ar

feliz e satisfeito de fazer “o que podem”, sem que o que

os outros fazem suscite uma vontade ou uma terrível

78

emulação. O pequeno de três anos trabalha pacificamente

ao lado de um menino de seis; o pequeno está tranquilo e

não inveja a estatura do mais velho. Todos crescem na

paz.” (Montessori apud Rohrs 2010, p.21)

Maria Montessori (2ª ed. p. 168-173) esclarece que as principais

características da criança normalizada, são: amor à ordem, amor ao trabalho,

concentração profunda e espontânea, vínculo com a realidade, amor ao

silêncio e ao trabalho individual, sublimação do instinto de posse, ação por livre

escolha e não por curiosidade, respeito, independência e iniciativa,

autodisciplina.

Um conceito muito importante para o Sistema e Metodologia

Montessori é o “embrião espiritual”. Montessori (ref. 186/83, p. 43) parte do

conceito de encarnação e de instinto para que se compreenda o que é o

embrião espiritual. Ela concebe por encarnação: “o processo misterioso de uma

energia que animará o corpo do recém-nascido”, referindo-se a “fatos psíquicos

e fisiológicos do crescimento”.

Montessori, sempre quando deseja passar um conceito ou um novo

conhecimento, o faz por analogias, o que pode ser comprovado no livro “Para

Educar o Potencial Humano”. E, neste caso, para o entendimento de seu

pensamento, ela não fez diferente (ref. 186/83, p. 46). Compara o nascimento

do recém-nascido humano ao de um recém-nascido de outro animal mamífero.

Maria apresenta um recém-nascido animal pronto em estruturas motoras, em

instintos e pormenores de sua espécie, que se põe de pé, embora de forma

ainda imprecisa, emite sons característicos de sua espécie e pode,

autonomamente, se locomover, logo após seu nascimento. O recém-nascido

homem, ao contrário, surge ao mundo com suas estruturas motoras ainda à

espera de um estímulo; não porque não estão prontas, mas porque ainda não

há a vontade diretora que as dirija. Explica que, no animal, há o “impulso

intrínseco, assumem as características de sua espécie”, “o tempo de

preparação é curto” e “ a carne do animal já nasce animada pelo instinto que

79

determina suas ações” (ref. 186/83, p 44). Como ela argumenta, já é possível

saber de que forma aquele animalzinho se comportará e que som emitirá. Além

do corpo (órgãos fisiológicos) há o instinto da espécie, do qual os

comportamentos são dependentes. Montessori complementa dizendo que,

todos os instintos “se manifestam através do movimento e representam

características da espécie”; existindo nos animais uma transmissão hereditária

de experiências e de características.

No homem os órgãos sensoriais já estão em ação desde o nascimento,

mas o movimento do recém-nascido humano ainda é lento e “pouco

desenvolvido”. Montessori destaca que o homem também tem a faculdade da

hereditariedade; andar ereto e a linguagem articulada são características da

espécie humana. Não há “instintos-guias fixos e determinados como os dos

animais”, porque possui uma “inata liberdade de ação que requer uma

elaboração especial”. Esta ação e elaboração são, por cada humano,

construídas a seu jeito e de maneira única, por isso “imprevisíveis”. Utilizando

uma nova analogia, Montessori (ref. 186/83, p.45) compara a fabricação de

objetos, de forma industrial e artesanal. Na industrial, os objetos são

normalmente idênticos; ao passo que na artesanal são diferentes entre si e,

recebem “a marca do autor”. Montessori (ref. 186/83, p. 45) explica:

“O animal é como o objeto fabricado em série, cada

indivíduo reproduzindo de imediato as características

uniformes fixadas na raça inteira. O homem, ao contrário,

é como o objeto trabalhado, à mão: cada um diferente do

outro, cada um possuindo um espírito criador próprio, que

o transforma numa obra de arte da natureza. Mas o

trabalho é lento. Antes que surjam os efeitos exteriores

tem que haver um lavor íntimo que não é a reprodução de

um tipo fixo, mas a criação de um tipo novo – e,

consequentemente, é um enigma, um resultado de

surpresa, que permanece oculto durante longo tempo,

exatamente como ocorre com a obra de arte que o autor

80

conserva na intimidade do estúdio, transfundindo-se nela

antes de expô-la em público.” (MONTESSORI ref. 186/83,

p.45)

Montessori considera a criança encarnada um “embrião espiritual”, que

deve ainda como “embrião físico” receber proteção, carinho, afeto, amor,

possibilidades e oportunidades para seu desenvolvimento, pois ela traz “a

chave de seu próprio enigma individual, se possui um padrão psíquico e

diretrizes de desenvolvimento estes devem ser potenciais” e os adultos

precisam auxiliá-la a desenvolver-se sem anulá-la ou causar-lhe danos. “A

Criança é um ser animado por paixões intensas. Sim, a criança tem uma

grande paixão por aprender.” (MONTESSORI 2004, p. 73).

4.2.3 - Por uma Educação que desperte sentimentos de

responsabilidade, paz, solidariedade e a consciência de cidadão do

mundo

Hermann Rohrs relata:

“Maria Montessori foi uma das figuras autênticas da

Educação Nova enquanto movimento internacional. De

fato, a reforma que recomendava não se limitava a uma

simples substituição mecânica dos métodos antigos por

novos, supostamente melhores. Nenhum termo dá mais

conta do processo que a interessava fundamentalmente

que o reformatio, no seu sentido original de reorganização

e renovação da vida.” (Hermann Rohrs 2010, p.15)

Calame (apud Montessori 2004, p. 9-10) prefaciando o livro “A

Educação e a Paz” diz, que: “a paz não é um resultado de negociações, é uma

construção” Ele fala que Maria Montessori achava importante “redefinir o

81

conceito de paz”. Para Montessori o conceito da paz estava conectado com o

progresso da razão e considerava-a “uma ciência, uma arte, uma cultura. A paz

se aprende.”. Calame corrobora com as concepções de Montessori dizendo

que para existir um “Mundo responsável e solidário” é necessário que haja

vontade e movimento dos “simples cidadãos do planeta”. Calame faz a

inter-relação deste movimento com os sistemas de valores, representações e

reflexos. Ele (apud Montessori 2004, p. 10) enfatiza que o “mundo muda nas

nossas mentes antes de mudar materialmente” “É necessário uma tomada de

consciência da cidadania mundial”. O autor do prefácio levanta a questão da

competição e da colaboração e a relação do homem com o seu meio. Frisa a

necessidade de transformação e cita que Maria Montessori considerava que “a

criança tem o poder que não temos: o de construir o homem por ela mesma.”.

Braga (apud Montessori 2004, p.18) destaca que Montessori defende

uma Educação que possibilite o desenvolvimento das potencialidades da

criança e o que de melhor ela possua. Para Maria Montessori é essencial que o

homem se harmonize consigo mesmo, com o outro, com o meio, com o

universo; o que contribuirá também para a construção da paz.

Calame (2004, p. 11) cita que Edgard Morin fala em “civilizar a terra”,

expressando a mesma ideia.

Braga (apud Montessori 2004, p.18) faz referência aos quatro pilares

traçados pela UNESCO, como proposta de educação no séc. XX. São eles:

“aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser, aprender a conviver”.

Braga relata que Maria Montessori já baseava sua metodologia e filosofia

nestes pilares, quando formulou a Educação Cósmica, e também sua obra

“Para Educar o Potencial Humano”. O sentimento de conexão em rede de

todos os seres é a base da Educação Cósmica. Braga contribui dizendo que

existindo este sentimento, os “intercâmbios cósmicos”, serão interpretados e

gerenciados pelo homem de forma diferenciada da que vem sendo agente.

“A primeira fase da educação, a que corresponde aos

pilares aprender a conhecer e aprender a fazer, permite

ao ser humano tomar contato com a realidade, com os

82

meios de interagir com ela. A seguir, os dois outros

pilares: aprender a ser e aprender a conviver são o

caminho para a valorização das qualidades positivas de

cada um, abandonando a priorização da posse material,

de modo que, ao estar bem consigo mesmo, o indivíduo

possa conviver melhor com os demais, respeitando todas

as diferenças – de raça, de credo, de situação social, dos

que, porém, portem alguma deficiência, enfim que ele

saiba conviver com qualquer ser humano.” (BRAGA apud

2004, p. 18)

Montessori Jr (1ª edição, p. 71) esclarece que a Educação Cósmica foi

sistematizada para os alunos entre 6 anos e 12 anos, por esta fase ser

considerada por Montessori o período intelectual. Nela, a criança tem

condições de aprofundar os conhecimentos já adquiridos. Este sistema de

educação se apoia na interdisciplinaridade, nos materiais concretos e em

histórias que desenvolvem a imaginação, causando emoção, proporcionando

conhecimento, desenvolvendo o respeito às realizações do passado; nutrindo o

sentimento de ligação de cada ser, da humanidade e do universo numa

proposta de solidariedade e trabalho para o progresso de todos. A Educação

Cósmica proporciona ao aluno uma visão geral do mundo, onde passado e

presente estão vinculados. Eles dão bases para uma construção consciente do

futuro. É o desenvolvimento integral sendo trabalhado. O conhecimento, na

Educação Cósmica, se constrói a partir de uma relação de interdependência,

partindo do geral para o particular.

Montessori Jr. conclui que:

“A inteligência coletiva da qual todos nós participamos

não tem limites, o homem poderá seguir eternamente

descobrindo novas possibilidades. É para esta inteligência

coletiva, uma entidade dinâmica criada pelas

83

personalidades individuais, que a educação cósmica está

dirigida (...) se formos inspirados pela visão e imaginação

criativa nosso progresso poderá ser excepcional e nossas

ações futuras orientadas. (MONTESSORI JR 1ª ed, p.71)

Para a maior compreensão sobre a Educação Cósmica, este estudo

monográfico utiliza os esquemas abaixo elaborados por Ramos (2007),

interpretando a concepção de Montessori, que parte do círculo externo para o

interno, ou seja, do todo para a parte.

Figura 18 – Representação da História do Universo, por Ramos

Fonte: Apostila do Curso de Capacitação do Sistema Montessoriano de Educação, do Centro Educacional Menino Jesus, 2007.

84

Figura 19 – Representação da Educação Cósmica, por Ramos

Fonte: Apostila do Curso de Capacitação do Sistema Montessoriano de Educação, do Centro Educacional Menino Jesus, 2007.

Montessori (2007/2, p. 7) fala que na vida sempre há ciclos e, por isso,

o círculo pode ser usado como símbolo, pois desta forma não haverá um ponto

de início ou fim. Ela dá exemplo do sangue que percorre o corpo, sem cessar,

e que isto não se constitui em círculo geométrico e sim num círculo vital, dando

vida e mantendo o organismo vivo. O sangue faz conexões com o meio

ambiente, o que se pode dizer que este círculo vital não é fechado e está em

comunhão com o universo. Ela termina dizendo que esta mesma análise se faz

em cada detalhe.

A filosofia de Maria Montessori sobre a Educação, a formação do

indivíduo em sua potencialidade, e a Educação desenvolvendo e trabalhando

em favor da paz se expandiu pelo mundo. Maria realizou entre 1932 e 1939,

uma série de conferências em diferentes países sobre “as ligações entre a

Educação e a paz” Calame (apud 2004. p, 7).

Montessori (2004, p. 19-143) em suas conferências, deixa mensagens

de que é necessária a mudança interior dos indivíduos e das suas relações

com tudo. Realça esta necessidade também quanto à mudança de valores, as

85

condutas de responsabilidade de cidadão, a liberdade, a autonomia, o

autoconhecimento e o desenvolvimento espiritual. Maria diz que: “É preciso

desenvolver a vida espiritual dos homens e organizar a humanidade para a

paz.” Ela (2004, p 220) defende a ideia missionária do homem como “cocriador”

do mundo, e considera urgente a conscientização desta missão e a da

responsabilidade nos resultados de sua ação.

Assim Montessori se expressa:

“Devemos investigar, cultivar e colocar em ação os

dinamismos do homem, sua inteligência, seu espírito

criativo, sua força mental, para que nada seja perdido. O

dinamismo moral do homem, em particular, deve ser

considerado porque ele não é apenas um produtor. Ele é

também chamado a responsabilizar-se por uma missão

no universo e a cumpri-la. A produção do homem deve

ser orientada em direção a uma finalidade que podemos

chamar de civilização... o homem deve tomar consciência

de sua grandeza; ele deve se tornar, de forma consciente,

mestre do mundo exterior e dos eventos humanos.”

(MONTESSORI 2004, p.22)

Dentre as várias Conferências que Montessori participou pela paz e a

Educação, a realizada no Congresso Europeu pela Paz (Bruxelas, 3 de

setembro de 1936), aborda a necessidade de “uma reforma universal, que

permitirá o desenvolvimento interior da pessoa humana” dando a cada um

“uma consciência mais clara da missão da humanidade que favoreça a

situação social”.

Qual a tarefa que toca à Educação? A nobre educadora (2004, p. 77)

faz esta pergunta e responde dizendo que “Antes de mais nada, é a de fechar

as brechas, de preencher as lacunas, e isso não é trabalho simples. Os

86

objetivos fundamentais são a tomada de consciência do valor da pessoa

humana e o desenvolvimento da humanidade”.

“Eis a maravilha que precisamos atingir: ajudar a criança

a se tornar independente de nós e a seguir seu próprio

caminho, para receber de volta seus tesouros de

esperança e de luz.”

[...]”Nessa nova imagem, o adulto aparece não apenas

como construtor do mundo exterior, mas, sobretudo, como

protetor das forças morais e espirituais que não param de

surgir em cada novo ser humano que nasce”.

(MONTESSORI 2004, p. 82)

Edgar Morin (2011, p. 7) cita as palavras de Pascal quando fala que

todas as coisas são “causadas e causantes, ajudadas e ajudantes, mediatas e

imediatas, e que todas (se interligam) por um laço natural e insensível que liga

as mais afastadas e as mais diferentes”.

Morin (2000, p. 111-115), em 1999, dedica estudos ao aprofundamento

da visão transdisciplinar da Educação, fazendo uma reflexão que intitulou: Os

sete saberes Necessários à Educação do Futuro. Neste estudo fala sobre: As

cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão; Os princípios do conhecimento

pertinente; Ensinar a condição humana; Ensinar a identidade terrena; Enfrentar

as incertezas; Ensinar a compreensão; e A Ética do gênero humano. À luz de

Jorge Werthein, representante da UNESCO no Brasil e coordenador do

Programa UNESCO/MERCOSUL, estes temas “constituem eixos e ao mesmo

tempo caminhos que se abrem a todos os que pensam e fazem Educação, e

que estão preocupados com o futuro das crianças e adolescentes”.

“Pela primeira vez, o homem compreendeu realmente que

é um habitante do planeta e, talvez, deva pensar ou agir

sob o novo aspecto, não somente sob o do indivíduo,

87

família ou gênero, Estado ou grupo de Estados, mas

também sob o aspecto planetário.” (VERNADSKI apud

Morin 2000, p. 63)

Morin faz uma grande reflexão e apresenta a ideia de que “Tudo se

interliga”, “o todo está na parte que está no todo” (Silva apud Morin 2011).

Morin (2011, p. 5–8) apresenta o pensamento complexo; a

necessidade da reforma do pensamento (2011, p. 21). Diz: “em vez de

acumular o saber, é mais importante dispor ao mesmo tempo de: uma aptidão

geral para colocar e tratar os problemas; princípios organizadores que

permitam ligar os saberes e lhes dar sentido.” Faz a religação dos saberes,

propondo o desenvolvimento de metodologia que reúna os saberes e que

eduque o indivíduo para ser um cidadão planetário (2010, p. 18). Em suas

palavras sintetiza esta ideia:

“A condição humana encontra-se totalmente ausente do

ensino atual, que a desintegra em fragmentos

desconjuntados. Ora, os recentes desenvolvimentos das

ciências naturais e da tradição mais relevante da cultura

humanista permitiriam um ensino que fizesse convergir

todas as disciplinas, no sentido de fazer com que cada

jovem espírito se conscientize do significado de ser

humano.” (MORIN 2010, p.18)

88

CAPÍTULO V

5.Montessori e Neurociências

Neste capítulo será abordada a relação do Sistema Montessori, sua

filosofia, prática, dinâmica e currículo, com a Neurociência e a mente infantil.

Não há ainda muitos estudos sobre esta relação, talvez devido ao fato

da Neurociência Cognitiva ser uma ciência nova e por isso as discussões sobre

o assunto estão tomando corpo.

Duas palestras em conferências internacionais e um artigo de Fassa,

Huges e Diamond, respectivamente, oferecerão base para este estudo.

Maria Elisabeth Gasal Fassa, Psicóloga é especialista em

Psicopedagogia e Psicologia Piagetiana, Mestre em Educação pela Montessori

Integrative Learning, pelo Endicott College;

Dr Steven Huges é PhD, presidente da Academia Americana de

Neuropsicologia Pediátrica, membro da AMI Global Research Commitee;

Profª. Adele Diamond, Departamento de Psiquiatria da Universidade.

Fassa (2009) toma como base a Teoria do cérebro trino de Paul Mac

Lean, (1970/1990), que defende que o desenvolvimento do cérebro das

diferentes espécies (filogênese), sob o ponto de vista evolutivo, apresenta uma

estrutura trina. Estas estruturas são: o Cérebro reptiliano, o Cérebro

emocional ou sistema límbico, e o Neocórtex, conforme se vê na figura

abaixo.

89

Figura 20 – Cérebro Trino

Fonte: http://cerebrointegral.blogspot.com.br/2012/07/cerebro-e-suas-funcoes.html

Para melhor compreensão desta teoria, este estudo monográfico toma

por base, a análise de Beijo (2009). Ele esclarece que Mac Lean divide o

cérebro humano em três estruturas hierarquicamente organizadas “que se

sucederam filogeneticamente e que apresentam diferenças de estrutura e de

funções bioquímicas” (BEIJO 2009, p. 3).

Fassa (2009) aborda a relação entre a teoria do cérebro trino e o

Sistema Montessori, levando em conta as aquisições e evolução do cérebro

humano ao longo de seu desenvolvimento filogenético e sua ontogênese. Ela

defende a relação direta dos propósitos e objetivos do Sistema Montessori e

sua filosofia, e as funções dos três cérebros da teoria de Mac Lean.

Fassa (2009) detalha e identifica as estruturas que compõem este

cérebro trino. O primeiro nível de organização cerebral – o cérebro reptiliano

ou cérebro primitivo, constitui-se das estruturas: tronco cerebral (bulbo,

cerebelo, ponte e mesencéfalo), do mais antigo núcleo da base – o globo

pálido, e dos bulbos olfatórios.

Prada (2011) corrobora com o entendimento relatando que:

“Para Ernest Haeckel (naturalista alemão do séc. XIX), “a

ontogênese (...) recapitula a filogênese”, pois que ao se

construir um novo ser durante o seu processo de

desenvolvimento (ontogênese), ele passa por fases que

90

por assim dizer “recordam”, “recapitulam” estágios que

caracterizam espécies mais primitivas.” (PRADA 2011)

(...) Este mesmo aspecto permeia a organização não

apenas do cérebro, mas de todo o sistema nervoso do ser

humano, que reflete hoje a somatória de diferentes

estágios que encontramos entre os animais.” (PRADA

2011)

Mac Lean (Prada 2011) estabelece assim a “Lei de Maturidade e de

Estabilidade Evolutiva” que considera que:

“a medula espinhal já se apresenta estabilizada desde os

peixes, ou seja, peixes, anfíbios, répteis, aves e

mamíferos exibem (apesar das características próprias), o

mesmo modelo básico de estruturação da medula

espinhal”. (PRADA 2011)

“Quanto ao tronco encefálico (...) estabilizou-se apenas a

partir dos répteis”. (PRADA 2011)

Fassa (2009) faz a correspondência deste cérebro primitivo humano

com o cérebro dos répteis, formado há 230 milhões de anos. A autora elenca

as funções desta unidade primitiva, que foram relacionadas abaixo:

• responsável pela autopreservação e sobrevivência;

• onde nascem os mecanismos de agressão e de comportamento

repetitivo;

• “dominância: estabelecimento e defesa de território”;

• “acasalamento/sexualidade”;

• “senso de individualidade”;

• linguagem básica: imagem visual;

91

• onde acontecem as reações instintivas, dos chamados arcos

reflexos e os comandos que possibilitam ações involuntárias;

• controla funções viscerais (cardíaca, pulmonar, intestinal, etc),

indispensáveis à preservação da vida;

• controla a homeostase (condições de equilíbrio) do organismo, a

respiração e as ações reflexas, como ocorre em répteis.

Como segundo nível de organização cerebral, o cérebro emocional,

mais tarde denominado sistema límbico, é constituído pelas estruturas dos

núcleos da base do telencéfalo (responsáveis pela motricidade grosseira); do

diencéfalo (tálamo, hipotálamo, epitálamo e Giro do Cíngulo); e do hipocampo

e parahipocampo. A autora (Fassa 2009) faz a correspondência desta estrutura

cerebral humana com a do cérebro dos “mamíferos inferiores”, formado há 130

milhões de anos. A seguir se detalham funções do sistema limbico:

• “consciência social e sentimento de ser parte da comunidade”;

• “instinto de preservação do grupo”;

• reação ao mundo externo de forma reflexa, instantânea e em

tempo real, sem elaboração de pensamento;

• centro das emoções da maioria dos mamíferos;

• onde se desenvolvem as funções afetivas, como o cuidado das

mães com suas crias, o desenvolvimento do comportamento

lúdico, as emoções e sentimentos, como amor, ódio, paixão, ira,

pavor, alegria e tristeza;

• responsável pela identidade pessoal e por funções ligadas à

memória;

• “mediar a aprendizagem e a memória”. (FASSA 2009)

O neocórtex, composto pelo córtex telencefálico, é dividido em lobos

frontal, parietal, temporal, occipital e insular. O neocórtex é uma rede de células

nervosas altamente diferenciadas. É a maior parte do cérebro, e o cérebro

humano pensante, intelectual, responsável pela cognição e memória de ordem

mais elevada. Ele é capaz de:

92

• produzir a linguagem simbólica;

• fazer cálculos e atividades intelectuais, como leitura e escrita;

• funções executivas (habilidades como: criticar, avaliar, julgar,

planejar, organizar, interpretar, intuir, criar e abstrair);

• atua na memória de trabalho;

• controle racional sobre tendências provenientes dos cérebros

reptiliano e límbico.

Fassa (2009) ressalta que “o imenso crescimento do córtex é

associado com o desenvolvimento da linguagem.”.

Em resposta a pergunta: “Como o cérebro reptiliano satisfaz

necessidades fundamentais?” Fassa (2009) considera que são satisfeitas,

“através das tendências naturais” de:

“observação, exploração, orientação, ordem/organização,

comunicação, imaginação, abstração, repetição,

manipulação, aperfeiçoamento, trabalho/ação” (FASSA

2009)

A autora ainda enfoca o importante papel dos gânglios basais na

aprendizagem, que “codificam respostas repetidas/aprendidas” e que “circuitos

formam-se por processos associativos”. Fassa faz referência às experiências

com “macacos submetidos à aprendizagem pavloviana” que, em “tarefas

motoras condicionadas por um som precedente”, são recompensados quando

bem sucedidos no exercício. Neste caso o resultado é possível devido à busca

das necessidades básicas – a satisfação.

Maria Montessori (2ª ed.) fala de um período pós-natal, que o ser

humano, recém-nascido, vivencia, e que exige um trabalho formativo,

considerado por ela “período de vida embriológica construtiva que torna a

criança um Embrião Espiritual”. Ela explica:

93

“a humanidade tem, pois, dois períodos embrionais: um é

pré-natal, semelhante ao dos animais, e o outro é

pós-natal, exclusivo do homem. Desta maneira se

interpreta aquele fenômeno que se distingue o homem

dos animais: a longa infância.” (MONTESSORI 2ª ed., p.

53).

Fassa (2009) faz referência ao “embrião espiritual” como inerente a

todo ser humano e que é “como um gênio em potencial, com um maravilhoso

organismo auto-regulável, com tendência de adaptar-se ao ambiente”. A autora

interpreta que Montessori denomina esta fase embriológica pós-natal do ser

psíquico como Mente Absorvente.

Fassa (2009) relata como o desenvolvimento e o trabalho das

estruturas do cérebro límbico, podem ser potencializados no Sistema

Montessori. O ambiente Montessori proporciona:

• “ausência de recompensa e punição;

• favorecimento da cooperação, evitando

competição;

• respeito ao ritmo individual de aprendizagem;

• espaço para seguir o próprio interesse;

• contato com a natureza;

• educação cósmica atendendo a necessidade de

sentir-se parte” (FASSA 2009)

Fassa(2009) aborda a evolução psíquica do ser humano e compara-a ao

cérebro trino estabelecendo relações com as três estruturas psíquicas

propostas por Freud:

94

1. Reptiliano – concepção / 15 meses da criança – ID

2. Límbico – criança até os 4 anos – Superego

3. Neocórtex – adulto – Ego

Fassa, estudiosa do sistema de ensino Montessori e suas relações com a

Neurociência da Aprendizagem, conduz sua pesquisa enfatizando a utilização

de estratégias múltiplas que o Sistema de Ensino Montessori oferece como

suporte aos estudantes, num trabalho que visa a utilização dos três cérebros

acima citados. Essas estratégias são: “abordagem multissensorial – cérebro

reptiliano; assistência individualizada – cérebro límbico; técnicas organiza-

cionais (tempo, agenda, anotações). (FASSA 2009)

A autora enfatiza, ainda, que a aprendizagem precisa ser significativa

para a vida prática e social do indivíduo, e que contenha sempre desafios

intelectuais e tenha relação com os níveis de felicidade e construção da paz.

Oferecendo sempre (FASSA 2009):

• bases para a “concreta manutenção da vida” Vida Prática;

• conhecimento das potencialidades Individualidade;

• organização, autonomia e liberdade Normalização;

• responsabilidade e participação social Cidadão Universal;

• “desafio intelectual” Desenvolvimento intelectual;

• melhorias nas suas relações Construção da Paz.

Numa tradução livre, própria deste estudo monográfico, foi possível

interpretar e compreender o pensamento e as conclusões de Hughes quanto as

relações entre o Sistema Montessori e a Neurociência Pedagógica.

Hughes (2012) inicia sua abordagem sobre esta relação a partir da

pergunta: “O que é necessário para produzir um ser humano feliz, motivado, e

criativo? 1 Sua resposta a essa pergunta é “Nós conhecemos pois Montessori

fala disso todo o tempo.” Hughes cita as palavras de Alvin Toffler: “Os

1 No original: What does it take to produce a happy, motivated, creative human being?”

95

analfabetos do século 21 não serão aqueles que não puderem ler e escrever,

mas aqueles que não possam aprender, desaprender e reaprender.”.2

Hughes (2012) inicia sua abordagem focando sobre a necessidade de

modificação no modelo de educação aplicado nos dias de hoje, que está muito

mais voltado ao quantitativo dos resultados dos exames e provas do que

propriamente à qualidade, inovação, estímulos e criatividade do

ensino/aprendizado. Ele cita, então, a necessidade de um novo modelo de

escolas, que define como “2.0”, e que está diretamente relacionado ao que hoje

já se sabe, que o aprendizado é um processo que perpassa pelo que ele

chama de : “o desenvolvimento do cérebro depende de experiências” 3. Ele

chama a atenção para ser preciso auxiliar as crianças na construção desse

processo, e de “melhores cérebros”.

Com base em sua experiência, observação e conhecimento, Hughes

(2012) afirma que o modelo de educação defendido pelo Sistema Montessori

oferece essa possibilidade através do trabalho e das descobertas feitas pelo

individuo, realizando conexões importantes para um melhor aprendizado com

motivação e busca constante pelo conhecimento.

Hughes (2012) defende que “o desenvolvimento do cérebro depende

das experiências vividas” e ressalta a importância do “aprender-fazendo”. No

que concorda com as palavras de Adele Diamond: “o desenvolvimento motor e

o desenvolvimento cognitivo podem estar muito mais interrelacionados do que

tenha sido considerado anteriormente. Na verdade, eles podem estar

essencialmente interligados” 4.

Ele sintetiza a ideia dizendo ”O conhecimento é apenas uma extensão

do sistema motor” 5.

Este estudo relaciona a ideia acima com as palavras de Montessori:

2 No original: “The illiterate of the 21 st century will not be those who cannot read and write, but those who cannot learn, unlearn, and relearn.” 3 No original: “brain development is experience dependente” 4 No original:”motor development and cognitive development may be much more interrelated than has been previously appreciated. Indeed, they may be fundamentally intertwined” 5 No original: “Cognition is really just an extension of the motor system”

96

“O desenvolvimento da habilidade da mão acompanha,

pois em igual ritmo, o desenvolvimento da inteligência.

Certamente o trabalho manual de tipo requintado requer,

para ser executado, a guia e a atenção do intelecto.”

(Montessori 2ª ed.)

Hughes (2012) ressalta que “ambientes enriquecidos constroem

melhores cérebros” e coloca a Escola Montessoriana como possível

representante deste modelo de escola tipo “2.0”, que permite a

experimentação, a exploração, a construção de conhecimento no tempo e ritmo

da criança, e a construção de cérebros melhores e mais bem preparados para

o futuro.

Hughes (2012) fala também da relação amigável com o erro, e que é

por meio desta relação que o cérebro aprende. Complementa ainda que todo o

aprendizado da vida é baseado em tentativas e erros; e que é através da

análise dos erros que se aprende, corrigindo-os e fazendo novas descobertas.

“(...) se um menino recebe prêmios ou castigos, significa

que não tem energia para se guiar e se entrega à

contínua direção do professor. Os prêmios e os castigos,

estranhos ao trabalho espontâneo do desenvolvimento da

criança, suprimem e lesam a espontaneidade do espírito.

Não podem, por isso, ter lugar nas escolas, como as

nossas, onde se quer possibilitar e defender a

espontaneidade. As crianças deixadas livres são

absolutamente indiferentes a prêmios e a castigos.”

(MONTESSORI 2ª ed., p. 203)

Montessori (2ª ed.) ressalta que:

97

“(...) quanto ao erro, uma atitude amigável é considerá-lo

como um companheiro que vive conosco e tem sua

finalidade, porque verdadeiramente a tem. Muitos erros

corrigem-se espontaneamente no decurso da vida. A

criança de um ano começa a andar insegura, vacila, cai,

mas finalmente anda bem. (MONTESSORI 2ª ed., p. 204)

(...) Na ciência nada é dado ou aceito sem a indicação do

provável erro, e o que dá importância aos elementos é o

cálculo do erro. (...) Se este cálculo de erro é tão

importante para a ciência exata, sê-lo-á ainda mais para o

nosso trabalho, onde o erro apresenta um especial

interesse, e o seu conhecimento é necessário para corrigir

ou controlar. Alcançamos, portanto, um princípio científico

que é também um principio de verdade, o “controle do

erro” (MONTESSORI 2ª ed, p. 205)

Hughes (2012) valoriza a conduta de colaboração que há entre os

estudantes, pois, desta forma, quando adultos podem se tornar “lideres ou

trabalhar muito bem em conjunto”. Outros importantes elementos ressaltados

por ele deste sistema e filosofia educacional são a liberdade, a autonomia, o

desenvolvimento de habilidades e competências através dos materiais e do

trabalho realizado.

Hughes (2012) afirma que as melhores conexões neurais são feitas

através das descobertas. Ele diz que as coisas essenciais numa escola são:

explorar, engajar e integrar. Ele define a “Escola 2.0” desta forma;

“O professor apoia o auto-aprendizado”

“O professor é um mentor e um ajudante”

“Fontes de informação primárias, não livros texto (o

conhecimento é ilimitado)”

98

“O currículo é integrado”

“Tem um relacionamento amistoso com o erro”

“Aprendizado não limitado à sala de aula”

“Os estudantes se tornam experientes”

“O comportamento é movido pelo interesse e motivação”

“Os estudantes trabalham de maneira colaborativa”

“Trabalho, prioritariamente, com pequenos grupos”

“O foco está nas capacidades e competências”

“A escola é para criar oportunidades para as crianças se

empenharem em interações experimentais com o meio”

(HUGHES 2012)

Com suas observações e estudos, Hughes (2012) destaca que há três

coisas importantes, a seu ver, nas Escolas Montessorianas:

• o respeito pelos movimentos de descoberta desses cérebros em

desenvolvimento;

• uma cultura que respeita as crianças e suas necessidades de

descobrir e se desenvolver;

• o método se preocupa em facilitar e não dirigir o aprendiz;

• respeito ao ritmo de cada aluno.

Sobre os materiais pedagógicos montessorianos, Hughes (2012)

considera que eles são ferramentas para facilitar e possibilitar o aprendizado,

passando-o do concreto ao abstrato. Em sua análise considera que o ambiente

montessoriano proporciona: liberdade de escolha, ambientes mistos (idades

diferentes agrupadas conforme critérios definidos por Montessori), nenhuma

criança é deixada para trás, e o trabalho é individual. Ele ressalta que, desta

99

forma, o aprendizado é cooperativo, por pares, e as escolhas são feitas dentro

dos limites apropriados com a mediação e o cuidado do professor.

Hughes (2012) aponta que fazer descobertas, novas conexões, é

divertido e, na filosofia Montessori, a cada descoberta haverá uma nova

adiante, e isso desperta o interesse e a motivação.

Hughes (2012) exemplifica como o trabalho é realizado dando como

exemplo o processo da habilidade da “pega do lápis” para a escrita. No

Sistema Montessori esse processo se inicia um ano antes, trabalhando a

movimentação de ombros e pulsos nos trabalhos de vida prática. O trabalho de

refinamento motor fino é realizado através dos materiais sensoriais que

desenvolvem o trabalho motor, coordenação e motricidade fina. Através de

todo este trabalho é possível desenvolver e fortalecer os músculos para

segurar o lápis. Após esta fase, outras habilidades são desenvolvidas, como

pressão e habilidade com o lápis. Após todo esse processo a criança é

convidada a aprender a fazer as letras; sendo desta forma natural o

aprendizado.

Hughes (2012) declara que a sutileza e objetivo desses materiais, em

todos os aspectos do currículo, são impressionantes e, às vezes, é difícil

compreender toda a gama de atuações desses materiais, filosofia e método.

Abordando a habilidade de resolver problemas, Hughes (2012) reforça

o entendimento sobre o córtex pré-frontal, que é o responsável pela resolução

de problemas com aplicações na vida diária do indivíduo. O objetivo principal

desta região é “coordenar pensamento e as funcionalidades básicas,

orquestrando pensamento e ação com os objetivos internos”.

No ponto de vista de Hughes (2012), o “desenvolvimento do córtex é

melhor indicativo do desenvolvimento acadêmico” do que a “inteligência inata

ou a capacidade de ler ou fazer cálculos matemáticos”. Ele afirma que as

funções executivas sendo trabalhadas prepara o estudante para o futuro. Ele

complementa que “a beleza do Montessori é desenvolver as funções

executivas e o córtex pré-frontal muito cedo, enquanto as crianças ensinam a si

mesmas e as outras a aprender coisas.”.

100

Corroborando com o entendimento sobre funções executivas do córtex

pré-frontal, Fontes (2014) esclarece:

“As funções executivas são aquelas que mais nos

diferenciam dos animais já que compreendem o processo

cognitivo orientado a uma determinada meta. Para tanto,

nós, seres humanos, temos a habilidade de processar

atividades com atenção sustentada, memória operacional,

inibição dos impulsos, fluência verbal e, especialmente,

pensamento abstrato. A principal região cerebral

relacionada ao funcionamento executivo é o córtex

pré-frontal (In FONTES Cherkes-Julkowski,2005).

Assim como um CEO 6 de uma empresa, que tem o papel

de coordenar as diversas unidades de negócio em seus

diversos aspectos, o cérebro humano tem o seu próprio

CEO, o córtex pré-frontal. Este não tem uma função única

e exclusiva, mas é responsável pela orquestração,

administração e organização de toda a cognição,

chamada de funções executivas.” (FONTES 2014)

Hughes (2012) enfatiza que Montessori já falava e trabalhava as

funções executivas décadas antes e “antes de qualquer outra pessoa”. Embora

ela não as tenha enumerado especificamente, “o que hoje chamamos funções

executivas ela chamava de normalização”. “Crianças normalizadas tem grande

capacidade de concentração, uma boa autodisciplina, mostram iniciativa, bom

nível de organização e trabalho”. Segundo Hughes (2012) essas “são

manifestações de crianças que tem um bom desenvolvimento do córtex

pré-frontal e uma boa base desenvolvida e preparada”. Ele destaca que essas

crianças mostram algumas vezes a “necessidade de estarem sozinhas, consigo

6 Em inglês, Chief Executive Officer, basicamente o Presidente de uma grande empresa.

101

mesmas, num apego à sua realidade e alegria”. Hughes (2012) ressalta que só

é possível apreciar o silêncio e estar sozinho se o indivíduo tiver uma

experiência de paz consigo mesmo, e estiver concentrado em seus objetivos,

pensamentos e conexões íntimas. Ainda ressalta ele, “quando uma pessoa

atinge seus objetivos ela se torna satisfeita e particularmente feliz. É muito

importante uma criança ter esse tipo de capacidade.”

“Nas nossas escolas, não só se fortifica o caráter, mas a

inteligência parece tornar-se insaciável na busca de

conhecimento.” (MONTESSORI 2ª ed., p. 173)

Segundo Fassa (2009) normalização significa:

“liberação da criança de bloqueios que desviam suas

energias”,

“recanalizando-as para atividades positivas e com

propósito”;

“revela-se a personalidade própria da criança.” (FASSA

2009)

“A normalização propicia a harmonia, o funcionamento

integrado de todas as instâncias cerebrais, melhor

integração entre os seres humanos e com o planeta.”

(FASSA 2009)

Hughes (2012) ressalta que, para desenvolver as funções executivas

das crianças e o controle de si mesmos num sistema de ensino “2.0” ou

Montessori, é importante que a criança interaja e tenha experiências com o

meio. Nos ambientes preparados (ambientes Montessori) é possível verificar as

oportunidades ricas de desenvolvimento em vários aspectos, como, por

exemplo: normalização, controle motor, flexibilidade, memória de trabalho. As

“aulas externas” de Montessori também propiciam este contato e

desenvolvimento. Hughes enfatiza que todo o trabalho desenvolvido pela

102

criança, tanto com os materiais como nas aulas externas, necessitam de

planejamento, organização e tomadas de decisão, que são atividades

relacionadas ao desenvolvimento e trabalho do córtex pré-frontal.

Hughes cita o trabalho de Adele Diamond no desenvolvimento das

funções executivas, e que é descrito num artigo da revista Science de

outubro/2011, “Interventions Shown to Aid Executive Function Development in

Children 4 to 12 Years Old”. Trata-se de um treinamento do cérebro

(computadorizado, chamado Cogmed), que trabalha um aspecto fundamental

do executivo central, que é chamado Memória de Trabalho. Hughes (2012)

reforça que a memória de trabalho é fundamental e necessária para todas as

funções do executivo central. Hughes (2012) expõe que, crianças estudadas no

referido artigo e que eram de Escolas Montessorianas, apresentaram um

desenvolvimento das funções executivas acima da média. Esses níveis foram

atingidos devido à metodologia do experimentar e fazer coisas, através do

desenvolvimento das habilidades e controles motores do movimento,

principalmente de equilíbrio e coordenação da motricidade fina. Hughes (2012)

se refere a duas práticas do sistema Montessori. A primeira é a da criança

Caminhar sobre a Linha (marcada no chão), que propicia o desenvolvimento do

equilíbrio e coordenação motora. A segunda é o Jogo do Silêncio, que

desenvolve o autocontrole e o domínio sobre si e seu próprio corpo. Exercícios

como esses e outros são encarados como desafios e, promovendo a habilidade

de formar estratégias, ajudam a buscar o equilíbrio psíquico e físico para a

resolução de problemas. Desta forma o córtex pré-frontal se desenvolve por

meio das experiências vivenciadas, da interação com o ambiente e do controle

de si mesmo. As crianças quando executam atividades em conjunto, ao redor

da linha, também estão desenvolvendo a capacidade de resolver problemas

em conjunto.

Hughes (2012) comenta como é surpreendente observar as

“possibilidades tão ricas e diferentes que o Sistema Montessori proporciona”

como, por exemplo: o controle motor, desenvolvimento de memória de

trabalho, flexibilidade, tomada de decisão e resolução de problemas; ligados ao

103

desenvolvimento do córtex pré-frontal, executivo central. Todas esses aspectos

Montessori já trabalhava muito antes dos estudos da Neurociência Cognitiva.

104

CONCLUSÃO

Conclui-se com essa pesquisa, e com todos os aspectos por ela

focados, que a Educação do mundo moderno precisa mudar seus padrões e

modelos pedagógicos. As avaliações de conhecimento não podem mais estar

centradas no quantitativo do currículo oferecido e nem nas notas apresentadas

ao final do ciclo letivo. A Educação de hoje e do futuro precisa inovar em

didática e estímulo, para que o aprendiz desenvolva a autonomia e deseje

aprender e buscar conhecimento.

A Neurociência já entende como o cérebro humano constrói o

conhecimento e que tipos de recursos e estratégias são necessários para que

isso ocorra. Ela mostra que o importante é propiciar o estímulo que desperte a

motivação, e que essa aprendizagem tenha sentido, significado e valor para o

aprendiz.

Esta pesquisa mostrou que existem estudos e metodologias que

propõem inovações e consistência científica em seus sistemas de ensino, e

que estes não atuam simplesmente na esfera intelectual, mas também na

psíquica, emocional, cultural, comportamental e espiritual. Toda a gama de

contextos compartilhados e experimentados por um indivíduo podem ser

influenciados nas relações que esse indivíduo faz com eles, devido à filosofia e

às práticas aprendidas nestes sistemas de ensino. Em particular pesquisou-se

o Sistema Montessori, que trabalha também questões que envolvem essas

relações aqui citadas. O autoconhecimento, o autocontrole e autodisciplina, a

autonomia e liberdade, são competências que o estudante terá oportunidade

de desenvolver, assim como a capacidade de resolver problemas e de ter

facilidade de realizar funções executivas.

As relações e a sequência desse estudo tiveram por objetivo mostrar

como o cérebro é capaz de construir conexões, receber informações,

transformá-las em conhecimento, desenvolver potencialidades e habilidades,

educar sentimentos e pensamentos, bastando receber o estímulo ideal e o

direcionamento propício para que isso ocorra. A Educação, aliada à

105

Neurociência, tem os recursos pedagógicos e científicos para oferecer ao

estudantes melhores meios para seu amplo e integral desenvolvimento.

Os modelos pedagógicos aqui mostrados são conclusivos para

promover uma Educação que se deseja para este novo século e para a

construção das futuras gerações e sociedades.

A Neurociência mostra, que o processo de mudança de uma

informação da memória de trabalho para memória de longo prazo só será

possível se o estímulo, a atenção, a emoção e a prática estiverem em

consonância, e desta forma, a consolidação da memória (do saber) poderá

ocorrer.

Os temas abordados são considerados importantes para que os

debates, as reflexões e as tomadas de decisão em prol deste ideal de

Educação possam ser sempre mantidos como fonte de interesse, dedicação e

contribuição para uma Educação que forme cidadãos cônscios de seus

potenciais, necessidades, responsabilidades e deveres. Seres humanos

melhores, para uma sociedade melhor e mais justa, e para um progresso no

seu tríplice aspecto: intelectual, social e espiritual.

Comenius e Maria Montessori tornam-se presentes, neste século, pelas

ideias e palavras de Edgar Morin. O que reforça a certeza de que as bases, os

conceitos, e as filosofias de Comenius e Montessori estão conectados com o

desejo de transformação e redirecionamento da educação, também neste

século.

Se esta reforma de pensamento conseguisse atingir todos

os setores da cultura, seria possível supor que a

sociedade como um todo encontraria energia pluralista,

transgressora, democrática, que garantisse às futuras

gerações o direito de repensar o mundo de modo mais

ético e responsável. (Carvalho apud Morin 2011)

Afinal de contas, como reitera Morin (... ) somos todos

filhos do Cosmo, e, por isso mesmo, a nossa missão é

transmitir às novas gerações uma política de civilização

106

que integre a razão e a paixão, a onda e a partícula, a

unidade e a multiplicidade”. (Carvalho apud Morin 2010)

Cérebros brilhantes também podem produzir grandes

sofrimentos. É preciso educar os corações. (Dalai Lama)

Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas.

(Rubem Alves)

A educação não deveria ser somente uma aquisição de

conhecimento, mas tomar um novo caminho, procurando

a descoberta das potencialidades humanas. (Maria

Montessori)

A preparação, que nosso método exige do professor, é

autoexame e a renuncia à tirania.

Deve expelir do coração a ira e o orgulho, deve saber

humilhar-se e revestir-se de caridade. Estas são as

disposições que seu espírito deve adquirir a base

essencial da balança, o indispensável ponto de apoio para

o seu equilíbrio. Nisso consiste a preparação interior: o

ponto de partida e a meta. (Maria Montessori)

107

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111

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO ........................................................................................... 2

AGRADECIMENTOS ......................................................................................... 3

DEDICATÓRIA ................................................................................................... 4

RESUMO ........................................................................................................... 5

METODOLOGIA ................................................................................................ 6

SUMÁRIO .......................................................................................................... 7

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 8

CAPÍTULO I 1. O SISTEMA NERVOSO E O CÉREBRO ..................................................... 13

1.1 - Embriogênese do Sistema nervoso ...................................................... 13 1.2 - O Sistema Nervoso e o Cérebro ........................................................... 17

1.2.1 - Sistema Nervoso Central (SNC) ..................................................... 17 1.2.1.1. Córtex cerebral .......................................................................... 23 1.2.1.2. Sistema Límbico e Circuito de Papez ....................................... 24 1.2.1.3. Gânglios da base ...................................................................... 27

1.3 - Constituição e organização do cérebro. ............................................... 27 1.3.1 - Neurônio ......................................................................................... 29 1.3.2 - Células Gliais ................................................................................. 32

1.4 - Sinapse ................................................................................................. 33 1.5 - Plasticidade neural ............................................................................... 35 1.6 - Áreas associativas do cérebro – Broca e Wernick................................ 36

1.6.1 - Área de Broca e Área de Wernick .................................................. 37

CAPÍTULO II 2. O CONHECIMENTO .................................................................................... 38

2.1 - Teorias Filosóficas do Conhecimento – Breve Histórico ....................... 38 2.1.1 - A Natureza do Conhecimento – realismo e idealismo .................... 42 2.1.2 - A Origem e os limites do Conhecimento – Ideias sobre o aprendizado ............................................................................................... 43 2.1.3 - A apropriação da realidade pelo conhecimento ............................. 46 2.1.4 - A perspectiva Construtivista ........................................................... 47

CAPÍTULO III 3. SENTIMENTOS, EMOÇÃO, E PENSAMENTO ........................................... 49

3.1 - Sentimento, Emoção, Afetividade – Um diálogo com as Ciências........ 49 3.2 - O Pensamento nas perspectivas da Biologia Celular e da Física Quântica ....................................................................................................... 55

112

CAPÍTULO IV 4. PROPOSTAS PEDAGÓGICAS ................................................................... 59

4.1 - Comenius ............................................................................................. 60 4.1.1 - Um pouco de sua história e obra .................................................... 60 4.1.2 - O Projeto e o pensamento filosófico de Comenius ......................... 64

4.2 - Maria Montessori .................................................................................. 70 4.2.1 - Um pouco da sua história e obra .................................................... 71 4.2.2 - Bases da Metodologia Montessoriana ............................................ 76 4.2.3 - Por uma Educação que desperte sentimentos de responsabilidade, paz, solidariedade e a consciência de cidadão do mundo ........................ 80

CAPÍTULO V 5. Montessori e Neurociências ......................................................................... 88

CONCLUSÃO ................................................................................................ 104

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ..................................................................... 107

ÍNDICE ........................................................................................................... 111