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DOS CRIMES DE APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRI A Marcio Giorgi da Matta Melo Universidade Candido Mendes Pós-Graduação Lato Sensu em Direito Público e Tributário Professor Mestre Claudia Gurgel Rio de Janeiro 2005

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DOS CRIMES DE APROPRIAÇÃO INDÉBITA

PREVIDENCIÁRIA

Marcio Giorgi da Matta Melo

Universidade Candido Mendes

Pós-Graduação Lato Sensu em Direito Público e Tributário

Professor

Mestre

Claudia Gurgel

Rio de Janeiro

2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

DOS CRIMES DE APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA

OBJETIVOS:

Esta monografia tem como finalidade, demonstrar uma visão sobre o artigo 168-A do Código Penal, especificamente os Crimes de Apropriação Indébita Previdenciária e sua visão moderna.

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AGRADECIMENTOS

A Deus e a toda a minha família, em especial minha esposa e meu filho, que a cada dia me dão força e esperança para um mundo justo e melhor.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta Monografia a meus Pais que sempre me apoiaram e a minha esposa e meu filho que estão ao meu lado todos os dias.

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RESUMO

O tema escolhido da Monografia “DOS CRIMES DE

APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA”, tem como finalidade

demonstrar que o Estado usa da coerção para arrecadar os seus tributos, mais

precisamente, para evitar a apropriação.

Em alguns casos o Estado quer utilizar-se da pretensão Punitiva,

mesmo após o pagamento do tributo, o que não tem sido acolhido pelos

nossos tribunais.

Por fim, há de ser verificado que vivemos em um Estado

Democrático de Direito, e desta forma deve ser observado o Princípio da

Liberdade da Pessoa Humana.

Assim, faremos um breve relato sobre a liberdade da pessoa

física, que ao longo da história diversas pessoas lutaram e morreram para

conseguir, dentre eles os escravos contra os seus cativeiros, a revolta de

Espártaco que buscava a conquista da liberdade

Sendo assim, abordamos de forma mais ampla possível, todos os

assuntos relacionados ao tema, afim de não deixarmos dúvidas, que devem ser

dissipadas no decorrer da presente monografia.

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SUMÁRIO

Dos Crimes de Apropriação Indébita Previdenciária

Introdução 7

1. Lei n° 8212/95 art. 95 10

2. Do Estado Democrático de Direito 12

2.1. A lei no Estado Democrático de Direito 13

2.2. Princípios da Democracia 13

2.3. Da Liberdade 14

3. Crime Omissivo 15

3.1. Elemento Objetivo do Tipo 16

3.2. Elemento Subjetivo 16

4. sujeito do Delito 18

4.1 Sujeito Ativo 18

4.2. Sujeito Passivo 18

5 Da Causa Supralegal 19

6. Extinção da Punibilidade 23

7. Perdão Judicial 25

8. Aplicabilidade da Lei n° 10.684/2003 27

8.1. Do Voto do Ministro Hamilton Carvalho do STJ, no HC n° 36628 30

9. Da Fase Administrativa 38

10. Comentário 39

Conclusão 41

Bibliobrafia 42

Índice 43

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INTRODUÇÃO

A hipótese de apropriação indébita de valores relativos à

contribuição previdenciária foi, de início, capitulada genericamente no art. 168,

do Código Penal para fatos ocorridos até 27/12/1990; sendo posteriormente

prevista na Lei de Crimes Contra a Ordem Tributária (art. 2°, II, da Lei n°

8137/90 c/c art. 5° da Lei n° 7.492/86) entre 28/12/90 até 24/07/1991, véspera

da entrada em vigor da Lei de Custeio da Seguridade Social (art. 95 da Lei n°

8.212/91), quando, então, mereceu tipificação específica. Por último, a Lei n°

9.983/2000 cuidou do tema, revogando a norma anterior e introduzindo no

Código Penal o art. 168-A, em vigor desde 15/10/20001.

Assim, o legislador brasileiro optou por reformas pontuais na

legislação penal, deixando de lado a técnica adotada em vários países de

elaborar um projeto único, no sentido de que se tenha, efetivamente, uma

legislação coerente. Existe uma numerosa legislação extravagante, de grande

importância, não inserida na Parte Especial do Código Penal, o que, muitas

vezes, acaba por contrariar a sistemática adotada quando da elaboração do

Código.

Este fato também se deu em relação aos denominados crimes

previdenciários, pois, como se sabe, a regulação penal deste delito encontra-se

na Lei n° 8212/91. Aliás, insistia-se, na vigência da Lei, que o delito em tela

era o de não-recolhimento de contribuições previdenciária, diferente, assim, da

apropriação indébita acolhida na Parte Especial do Código Penal. Essa

discussão não tem mais razão de ser, pois o legislador, através da edição da

1 TAVARES, Marcelo Leonardo – Direito Previdenciário – editora Lumen Júris – 6ª edição – Rio de Janeiro 2005 – p.396.

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8Lei n° 9.983, de 14 de julho de 2000, inseriu o crime de não-recolhimento das

obrigações previdenciárias no Capitulo V da Parte Especial do Código Penal,

que trata, justamente, do crime de apropriação indébita. Porém, agora temos

uma apropriação indébita específica, denominada “apropriação indébita

previdenciária”, prevista no art. 168-A do Código Penal2.

"Apropriação indébita previdenciária"

“ART. 168- A. Deixar de repassar à previdência social as

contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal

ou convencional:"

"Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa."

"§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de:"

"I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância

destinada à previdência social que tenha sido descontada de

pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do

público;"

"II – recolher contribuições devidas à previdência social que

tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda

de produtos ou à prestação de serviços;"

"III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas

cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela

previdência social."

"§ 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente,

declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições,

importâncias ou valores e presta as informações devidas à

previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes

do início da ação fiscal."

"§ 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar

somente a de multa se o agente for primário e de bons

antecedentes, desde que:"

2 CALLEGARI, André Luis – Direito Penal Empresarial – editora Dialética – São Paulo 2001 – p. 33

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9"I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de

oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição social

previdenciária, inclusive acessórios; ou"

"II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja

igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social,

administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento

de suas execuções fiscais."3

A nosso juízo, a edição de leis penais como esta que se analisa,

tem um caráter nitidamente intimidatório, é dizer, procura-se através do Direito

penal, cobrar uma divida fiscal, o que contraria, muitas vezes, o Princípio da

intervenção mínima do Direito Penal. Como o Estado não está organizado

suficientemente para a cobrança deste tipo de débito, torna-se mais fácil impor,

através da ameaça da sanção, a obrigatoriedade do pagamento. Não que se

defenda o empresário que não recolhe o tributo, ou como quer o novo tipo

penal, que dele se apropria indevidamente. O problema é que há uma

enxurrada de leis e medidas provisórias, alteração do câmbio, planos

econômicos, etc., que, muitas vezes, não são levados em consideração na

hora da conduta do responsável pelo delito de apropriação indébita

previdenciária4.

Tal atitude do Estado traduz a sua forma ineficaz de fiscalização,

uma vez que é mais fácil utilizar-se de meios coercitivos para impor a

obrigação do pagamento dos tributos, do que fazer uma fiscalização rígida e

eficaz nas empresas.

Podemos, afirmar ainda que a medida utilizada afronta o Estado

Democrático de Direito, uma vez que no estado realmente democrático o

Estado não utilizaria da coerção para exigir o pagamento de um tributo, mas, a

aplicação de sanções Administrativas de forma justa.

3 Código Penal – editora Saraiva.4 CALLEGARI, André Luis – Direito Penal Empresarial – editora Dialética – São Paulo 2001 – p. 34

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1- Lei n° 8212/95 art. 95

A antiga redação do art. 95 da Lei 8.212/91, no qual eram

previstos os crimes praticados em detrimento da previdência social, não era de

boa técnica, pois se limitava a enunciar o preceito mas não cominava sanção,

obstando a sua aplicabilidade em função do princípio da legalidade que impede

a aplicação de pena sem prévia cominação legal (CF, art. 5º, XXXIX e CP, art.

1º). Apenas em relação às alíneas d, e e f é que o § 1º fez remissão à pena

cominada no art. 5º da Lei 7.492/86 (crimes contra o sistema financeiro

nacional) que era de 2 a 6 anos, possibilitando a persecução penal nesses

casos.

Dentre esses crimes, avulta o previsto na alínea d, art. 95 da Lei

8.212/91, cuja redação é a seguinte:

Art. 95 – constitui crime:

...

d) deixar de recolher, na época própria, contribuição ou outra

importância devida à Seguridade Social e arrecadada dos

segurados ou do público;

Em um primeiro momento, a jurisprudência dos tribunais federais

inclinou-se no sentido de que a referida conduta era modalidade de

apropriação indébita, exigindo para a configuração do delito a presença do

elemento volitivo consistente no animus de ter para si os valores não recolhidos

(animus rem sibe habendi). Consequentemente, se não restasse comprovado

esse elemento anímico, por sinal, de difícil comprovação, a conduta era atípica

e o acusado absolvido.

Posteriormente, esse entendimento evoluiu para reconhecer que

o tipo seria autônomo, e não modalidade de apropriação, cuidando-se na

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11verdade de crime omissivo puro (ou próprio) que prescinde da intenção de

apropriar-se dos valores não recolhidos. Com base nessa jurisprudência, a

simples conduta de o agente arrecadar a contribuição do empregado e não

recolhê-la aos cofres da previdência, independente da destinação dada a esses

recursos, configura o crime. O argumento de insuficiência de recursos em

razão de grave crise financeira, freqüentemente invocado pelos empresários

como ausência de dolo (rectius: excludente de culpabilidade pela

inexigibilidade de conduta diversa), em regra, não é aceita pelo Judiciário.

Com a edição da nova lei volta à tona a discussão. Se o legislador

optou por tipificar a conduta como modalidade de apropriação indébita e

atribuiu ao tipo o título de apropriação indébita previdenciária, decerto, não

faltarão novos argumentos para tentar ressuscitar o antigo entendimento

jurisprudencial que exigia a presença do animus rem sibe habendi para a

configuração desse delito.

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2. DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

O Estado Democrático de Direito não significa apenas unir formalmente

os conceitos de Estado Democrático e Estado de Direito. Consiste na criação

de um conceito novo, que leva em conta os conceitos dos elementos

componentes, mas os supera na medida em que incorpora um componente

revolucionário de transformação do status a quo. E aí se entremostra a

extrema importância do artigo 1° da Constituição de 1988, quando afirma que a

República Federativa do Brasil se constitui em Estado Democrático de

Direito, não como mera promessa de organizar tal Estado, pois a Constitui aí

já está proclamando e fundando.

A democracia que o Estado Democrático de Direito realiza há de

ser um processo de convivência social numa sociedade livre, justa e solidária

(art. 3°, I), em que o poder emana do povo, e deve ser exercido em proveito do

povo, diretamente ou por representantes eleitos (art. 1°, parágrafo único);

participativa, porque envolve a participação crescente do povo no processo

decisório e na formação dos atos de governo; pluralista, porque respeita a

pluralidade de idéias, culturas e etnias e pressupõe assim o diálogo entre

opiniões e pensamentos divergentes e a possibilidade de convivência de

formas de organização e interesses diferentes da sociedade; há de ser um

processo de liberação da pessoa humana das formas de opressão que não

depende apenas do reconhecimento formal de certos direitos individuais,

políticos e sociais, mas especialmente da vigência de condições econômicas

suscetíveis de favorecer o seu pleno exercício5.

5 SILVA, José Afonso da – Curso de Direito Constitucional Positivo – Editora Malheiros – 24ª edição– p. 120

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2.1. A Lei no Estado Democrático de Direito.

O princípio da legalidade é também um princípio basilar do Estado

Democrático de Direito. É da essência do seu conceito subordinar-se à

Constituição e fundar-se na legalidade democrática. Sujeita-se, como todo

Estado de Direito, ao império da lei, mas da lei que realize o princípio da

igualdade e da justiça não pela sua generalidade, mas pela busca da

igualização das condições dos socialmente desiguais. Deve, pois, ser

destacada a relevância da lei no Estado Democrático de Direito, não apenas

quanto ao sei conceito formal de ato jurídico abstrato, geral, obrigatório e

modificativo da ordem jurídica existente, mas também à sua função de

regulamentação fundamental, produzida segundo um procedimento

constitucional qualificado. A lei é efetivamente o ato oficial de maior realce na

vida política. Ato de decisão política por excelência, é por meio dela, enquanto

emanada da atuação da vontade popular, que o poder estatal propicia ao viver

social modos predeterminados de conduta, de maneira que os membros da

sociedade saibam, de antemão, como guiar-se na realização de seus

interesses.

2.2. Princípios da Democracia

A doutrina afirma que a democracia repousa sobre três princípios

fundamentais: o princípio da maioria, o princípio da igualdade e o princípio da

liberdade.

Assim, podemos dizer que a democracia é o regime de garantia

geral para a realização dos direitos fundamentais do homem.

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14Dizemos ainda, que a democracia, é o governo do povo, pelo

povo e para o povo, que aponta para a realização dos direitos políticos, que

apontam para a realização dos direitos econômicos e sociais, que garantem a

realização dos direitos individuais, de que a liberdade é a expressão mais

importante.

2.3. Da Liberdade

Existem vários tipos de liberdade, dentre elas a liberdade da

pessoa física, liberdade de pensamento, a liberdade de ação profissional entre

outras.

No nosso caso, o que nos interessa é a liberdade da pessoa

física, que ao longo da história diversas pessoas lutaram e morreram para

conseguir, dentre eles os escravos contra os seus cativeiros, a revolta de

Espártaco que buscava a conquista da liberdade.

Hoje, o Estado ameaça a liberdade da pessoa física para obter o

pagamento do Tributo, ou seja, se a Pessoa Jurídica deixar de repassar ao

Estado o valor descontado, por exemplo de um empregado, a pessoa física do

sócio irá responder pelo crime de omissão, e terá a sua liberdade ameaçada.

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3. CRIME OMISSIVO

O crime de omissão nos recolhimentos de tributos e contribuições

sociais está definido no inciso II do art. 2° da Lei n° 8.137/90, e substituiu todas

as formas equiparadas da apropriação indébita constante na legislação

anterior.

No entanto, quando se tratar de contribuição social deverá ser

observada a redação do preceito estabelecido na Lei n° 9.983/00, por tratar-se

de uma conduta omissiva, pois o tipo refere-se a “deixar de repassar à

Previdência Social”.

Assim, o tipo penal não alcança toda e qualquer omissão de

recolhimento, mas somente aquela em que a inadimplência se refira a tributo

ou contribuição social, descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo

de obrigação.

É certo que os tipos omissivos puros, ou próprios, são aqueles em

que o tipo é realizado quando o agente não realiza a ação requerida pela lei, ou

seja, no caso em tela, não repassa a Previdência Social as contribuições

devidas.

A situação típica vem expressamente estabelecida no preceito

contido no artigo 168-A, do Código Penal: “Deixar de repassar à Previdência

Social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e na forma legal

e convencional”. Portanto, esta omissão típica não significa “não fazer nada”,

senão, “não fazer algo determinado”.

Não se pode obrigar ninguém a agir sem que tenha a

possibilidade pessoal de faze-lo. Esta capacidade individual de atuar está

condicionada à modalidade de conduta típica a que se refere, simplesmente

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16porque inexiste uma omissão em si, senão uma omissão determinada. Isso

significa que, dependendo da configuração do tipo injusto, essa capacidade

individual pode expressar-se de várias formas, de acordo com a característica

da norma mandamental. Nos delitos vinculados exclusivamente a infrações de

deveres, nos quais o legislador negligenciou a cerca da identificação do

desvalor do resultado, contentando-se com a mera inatividade, como ocorre no

delito de apropriação indébita previdenciária, a real possibilidade deve também

englobar a capacidade individual de realizar aquela específica conduta

determinada pela norma, ou seja, a capacidade de repassar o tributo. Nesse

sentido, se o sujeito não possui dinheiro ou qualquer outro bem (até mesmo

particular), não se omite de repassa-lo à Previdência Social.

Nessa linha de argumentação, pensamos que o sujeito comprova

que não repassou à Previdência Social as contribuições devidas porque

atravessava por dificuldades financeiras, Preferindo continuar o negócio, pagar

os empregados e mantê-los, não se tipifica a conduta descrita no art. 168-A do

Código Penal, porque, justamente, falta a capacidade individual de poder

realizar a conduta ordenada. Se falta dita capacidade individual, elemento da

estrutura típica do delito omissivo, não se aperfeiçoa o tipo penal em comento6.

3.1. Elemento Objetivo do Tipo

A conduta à qual esse tipo penal pretende repelir tem como

núcleo norteador a expressão deixar de repassar /recolher, que caracteriza o

mencionado crime como omissivo puro e autônomo.

3.2. Elemento Subjetivo

O elemento subjetivo do tipo é o dolo; é a vontade livre e

consciente do agente de deixar de repassar as contribuições descontadas e/ou

6 CALLEGARI, André Luis – Direito Penal Empresarial – editora Dialética – São Paulo 2001 – p. 36.

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17recolhidas pelos contribuintes não sendo necessária a existência de qualquer

outro elemento subjetivo ulterior ao dolo, tal qual o animus rem sibe habendi

requerido na prática da apropriação indébita comum (art. 168, CP).

A natureza do crime em testilha não se insere em nenhuma das

hipóteses de prisão por dívida, mas tão-somente na quebra de confiança

depositada no empregador, configurada no deixar de repassar valores retidos

/recolhidos dos contribuintes, que constitui, inequivocadamente, conduta

omissiva. Ressalte-se que referido delito se consuma no momento em que se

finda o prazo convencional ou legal para o repasse ou recolhimento das

contribuições devidas ou do pagamento dos benefícios devidos a segurados,

quando mencionadas quantias já tiverem sido reembolsadas às empresas pela

Previdência.

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4. SUJEITO DO DELITO

4.1. Sujeito Ativo

Trata-se de crime omissivo próprio e, por isso, somente pode ser

praticado por quem tem o dever legal de repassar contribuições previdenciárias

retidas dos contribuintes (empregados, prestadores de serviços, e outros).

Assim, podemos afirmar que o sujeito ativo é o representante

legal da pessoa jurídica que reteve as contribuições previdenciárias, e deixou

de repassar para os cofres públicos (Previdência Social).

4.2. Sujeito Passivo

O sujeito passivo desse delito é o Estado, mas precisamente a

Previdência Social que deixa de receber os valores retidos/arrecadados e não

repassados, seja pela empresa empregadora, seja pela instituição

arrecadadora.

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5. DA CAUSA SUPRALEGAL

Na visão do Mestre Damásio, aplicando o juiz o art. 4° da LICC

prevê a possibilidade de decidir de acordo com a analogia, os costumes e os

princípios gerais do direito, poderá reconhecer excludente referida, não pelo

dispositivo legal propriamente dito, mas pela norma superior que os inspira.

Citamos, também, o Mestre José Adriano Marrey Neto, invocando

a lógica razoável, de Recasens Siches, que diz:

“As justificativas supralegais são aplicáveis a analogia, os

costumes e os princípios gerais de Direito, segundo o critério

excelsior, de prevalência em qualquer caso, dos fins sociais a que

a lei se destina e das exigências do bem comum. O interprete

pode e deve, em certos casos ir além da só e mecanicista

aplicação do texto legal, buscando a solução razoável, conforme

o Direito, na sua acepção mais ampla e que seja também a mais

justa para o caso concreto”.

Assim, considerando a faculdade de uso da analogia para normas

penais justificantes; considerando a exigibilidade de conduta diferente como

elemento (ou pressuposto) da culpabilidade e considerando que o legislador

jamais será onisciente a ponto de prever todos os acontecimentos do mundo

dos fatos, não será defesa a absolvição do agente, com base no artigo 386,

inciso V, do Código de Processo Penal, se não podia o ordenamento jurídico-

criminal a ele impor outro comportamento, mesmo que esse ordenamento não

tenha antevisto a faculdade.

Aplicar-se uma reprimenda a alguém quando, segundo

FREDERICO MARQUES (1965, p. 227) sua "conduta típica ocorreu sob a

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20pressão dos acontecimentos e circunstâncias que excluem o caráter reprovável

dessa mesma conduta".

Há de se deixar claro, que o simples fato de causar o resultado,

não basta para preencher o tipo penal objetivo. É indispensável que se indague

do conteúdo da vontade do autor do fato, ou melhor, o fim que se estava

contido na ação, já que não pode ser compreendida sem que se considere à

vontade do agente.

A jurisprudência majoritária, baseada em farta prova documental,

reconhece, em alguns casos, a inexigibilidade de outra conduta para excluir a

responsabilidade do agente nos casos em que este não repassa os valores

devidos a Previdência Social.

Nesse diapasão, a descaracterização do dolo resta indeclinável,

tendo em vista a extrema necessidade dos agentes de terem tomado tal

atitude. Não se poderia exigir sacrifício de outros bens jurídicos tais como a

manutenção da própria sobrevivência. Ademais, privilegiar a quitação das

dívidas com os funcionários da empresa que dependem daquele numerário

para sustentar suas famílias.

Descabe, em casos assim, a tradicional resposta repressiva e

punitiva do Direito Penal. É incoerente com as finalidades do Direito Penal e

com a manutenção da ordem e da justiça social perseguir penalmente um

agente que, diante de circunstâncias anormais, atua de forma típica, quando

não se podia exigir um comportamento de acordo com a norma jurídica.

Trata-se de uma "situação limite", em que não há no

comportamento adotado pelo agente o dolo de praticar ação típica, mas um

comportamento imposto pelo contexto da realidade social do agente. É um

comportamento que pode ser adotado por qualquer pessoa que se encontre

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21nas mesmas circunstâncias excepcionais. Estamos, pois, diante de situação

em que há inexigibilidade da conduta diversa.

Não há renúncia por parte do direito, mas uma revaloração deste,

diante de uma situação em que estão presentes determinados requisitos

objetivamente determinados. A não exigibilidade não se reduz às situações em

que o instinto de conservação determina a ação, mas implica uma valoração

acerca de um conflito de valores, o valor da norma e o valor posto como motivo

de agir em determinada situação.

A jurisprudência pátria, em especial a dos Tribunais Regionais

Federais, acolhe os postulados doutrinários que recomendam a absolvição dos

agentes quando demonstrado o conflito entre bens jurídicos, que tornam

inexigível a conduta conforme o Direito:

Podemos citar a inexigibilidade subjetiva ou individual, que se

refere a determinadas situações extremas em que não se pode exigir do autor

concreto de um fato típico e antijurídico se abstenha de praticá-lo, porque isso

significa um sacrifício excessivo para si mesmo.

Conforme já mencionado anteriormente, é dizer de extrema

dificuldade financeira, em que o sujeito já não tem mais recursos financeiros e,

tampouco patrimônio, outra conduta não se poderia exigir deste, pois caso

repassasse as contribuições previdenciárias não só suportaria, muitas vezes,

diversas pessoas que perderiam o emprego, e tal conduta, além de não poder

se exigir, não se coaduna com o moderno Direito Penal.

Deve-se levar em conta que para a exigibilidade da conduta são

fundamentais as idéias de poder e de dever. Só se pode exigir do sujeito que

se comporte de acordo com o dever (norma) quando possa faze-lo. A

exigibilidade é um dever que pressupõe um poder. No caso concreto, o que se

deve verificar é se existe a possibilidade do repasse à Previdência social sem

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22o sacrifício pessoal, que, deve incluir, inclusive, a possibilidade de continuar

trabalhando, ainda que se sacrifique a Seguridade Social.

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23

6. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

O parágrafo 2° do art. 168-A do CP prevê a extinção de

punibilidade “se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o

pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações

devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do

início da ação fiscal. Até o advento da Lei n° 9983/2000 e na ausência de

norma semelhante na Lei n° 8.212/91, a jurisprudência havia se pacificado sob

o entendimento da aplicação analógica in bonam partem do dispositivo do art.

34 da Lei n° 9.249/95, que previa a extinção de punibilidade quando o agente

promove o pagamento do tributo ou contribuição social até o recebimento da

denúncia (para os crimes de sonegação fiscal – Lei n° 4.792/65 e crimes contra

a ordem tributária – Lei n° 8.137/90). A norma atual (art. 168-A, do CP) é bem

mais rigorosa, vedada sua aplicação retroativa a fatos ocorridos anteriormente

a sua vigência e exige a declaração, confissão, pagamento e prestação de

informações à previdência de acordo com a legislação previdenciária antes que

o procedimento fiscal tenha início. O termo “antes do início da ação fiscal”

possibilitaria três interpretações:

a) antes da lavratura do termo de início da ação fiscal – TIAF, documento

que formaliza a visita do auditor fiscal da previdência social – AFPS à

empresa;

b) antes da Notificação Fiscal do Lançamento do Débito – NFLD, ou;

c) antes do início da ação judiciária fiscal, a execução fiscal.

A última hipótese deve ser logo descartada, pois a legislação

tributária penal, quando deseja referir-se à propositura da ação judicial

executiva, utiliza o termo de execução fiscal (art. 98, da Lei n° 8.212/91 e a

própria Lei n° 9.983/2000).

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A Cobrança de cunho administrativo tem início com a ciência do

contribuinte da notificação fiscal de lançamento do débito – NFLD, ou

documento similar, a partir de quando se marca prazo para oferecimento de

defesa do débito. Até então, há tempo para a confissão da dívida de forma

espontânea, uma vez que o débito não foi formalizado; o lançamento, antes da

ciência da notificação fiscal, ainda será considerado por homologação e não

lançamento de ofício. Sendo assim, caberá a extinção de punibilidade caso

haja pagamento até a ciência da notificação do débito pelo devedor.

Vale ressaltar que com a nova redação do crime de apropriação

indébita previdenciária, somente haverá extinção da punibilidade quando o

agente realizar uma das condutas mencionadas no tipo antes do início da ação

fiscal. Não parece acertada tal medida. É que muitas vezes a ação fiscal é

iniciada e o sujeito discute, justamente, o débito, ou ainda, se é devedor do

lançamento efetuado. Portanto, para que se livre da ação penal terá agora que

declarar, confessar ou efetuar o pagamento, caso contrário, ver-se-á

processado criminalmente.

Questão ainda a ser analisada é a da realização conjunta dos

verbos contidos no parágrafo, pois para que ocorra a extinção da punibilidade o

agente deverá declarar e confessar o débito, efetuar o pagamento deste, pois

os verbos não são alternativos no sentido de que a realização de uma das

condutas é suficiente para a extinção. Nesse sentido, esta só ocorrerá quando

preenchidos todos os verbos do parágrafo. Além disso, exige-se que o agente

também preste as informações devidas à Previdência Social na forma definida

em lei ou regulamento. Portanto, não basta o termo de compromisso com a

declaração e confissão do débito, exigindo-se, também, o pagamento.

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7. PERDÃO JUDICIAL

No parágrafo 3° do art. 168-A o legislador estabeleceu uma nova

espécie de perdão judicial:

“É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a

de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde

que:

I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de

oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição social

previdenciária, inclusive acessórios; ou

II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja

igual ou inferior àquele estabelecido pela Previdência Social,

administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento

de suas execuções fiscais.”

Podemos dizer que o legislador menciona que o perdão judicial

será aplicado quando o agente pagar a contribuição social previdenciária após

o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia. Assim, ainda que

exista a ação fiscal em curso e, desde que não oferecida a denúncia, existe a

possibilidade de o agente efetuar o pagamento e ver-se beneficiado pelo

perdão judicial. Porém, o parágrafo exige ainda que o agente seja primário e

tenha bons antecedentes para que seja beneficiado pelo instituto.

Se compararmos o parágrafo com a interpretação analógica da

Lei n° 9.249/95, esta exigia, tão somente, o pagamento antes do recebimento

da denúncia, não estabelecendo condições para concessão do benefício do

perdão judicial, ou seja, não havia a necessidade da pessoa ser primário ou de

bons antecedentes. Com a nova redação não basta efetuar o pagamento

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26antes da denúncia, tem de ser observada a primariedade da pessoa, e se tem

bons antecedentes criminais.

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8. APLICABILIDADE DA LEI N° 10.684/2003

Um ponto que é disseminado entre os doutrinado, porém com

algumas ressalvas, mas que os Tribunais Superiores vêm adotando de forma

quase que unânime, é a aplicabilidade do art. 9° da Lei n° 10.684 de 30 de

maio de 2003, que trata o seguinte:

“Art. 9o É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos

crimes previstos nos arts. 1o e 2o da Lei no 8.137, de 27 de

dezembro de 1990, e nos arts. 168A e 337A do Decreto-Lei no

2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, durante o

período em que a pessoa jurídica relacionada com o agente dos

aludidos crimes estiver incluída no regime de parcelamento.

§ 1o A prescrição criminal não corre durante o período de

suspensão da pretensão punitiva.

§ 2o Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo

quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o

pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e

contribuições sociais, inclusive acessórios.”

Como podemos observar no artigo supracitado, o contribuinte que

efetuar o pagamento do débito após a denúncia terá suspensa a pretensão

punitiva do Estado.

Verifica-se no caso em tela que há conflito entre o art. 168-A do

Código Penal e a Lei n° 10.684/03, no seu art. 9°, que entendemos que deverá

ser aplicado a citada Lei (10.684/03), haja vista o Princípio da Dignidade da

Pessoa Humana.

Segue abaixo o entendimento dos nossos Tribunais:

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“HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL. APROPRIAÇÃO

INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA. LEI Nº 10.684/03. PAGAMENTO

DOS DÉBITOS PREVIDENCIÁRIOS APÓS O RECEBIMENTO

DA DENÚNCIA. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE.

1. O pagamento integral dos débitos oriundos da falta de

recolhimento de contribuição à Previdência Social descontada

dos salários dos empregados, ainda que posteriormente à

denúncia e incabível o parcelamento, extingue a punibilidade do

crime tipificado no artigo 168-A do Código Penal (Lei nº

10.684/03, artigo 9º, parágrafo 2º).

2. Precedentes do STF e do STJ.

3. Ordem concedida.

(HC 36628 / DF; HABEAS CORPUS 2004/0095370-1, Ministro

HAMILTON CARVALHIDO (1112), SEXTA TURMA, 15/02/2005,

DJ 13.06.2005 p. 352).”

“CRIMINAL. HC. OMISSÃO DE RECOLHIMENTO DE

CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. PARCELAMENTO

ANTERIOR À DENÚNCIA. DESNECESSIDADE DO

PAGAMENTO INTEGRAL. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE.

ORDEM CONCEDIDA.Uma vez deferido o parcelamento, em

momento anterior ao recebimento da denúncia, verifica-se a

extinção da punibilidade prevista no art. 34 da Lei n.º 9.249/95,

sendo desnecessário o pagamento integral do débito para tanto.

Precedentes da 3.ª Seção e da Corte Especial deste Tribunal.

Ordem concedida para declarar a extinção da punibilidade dos

pacientes e determinar o trancamento da ação penal movida

contra eles.

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29(HC 41587 / MT ; HABEAS CORPUS 2005/0018150-8, Ministro

GILSON DIPP, QUINTA TURMA, 26/04/2005, DJ 23.05.2005 p.

322).”

“CRIMINAL. HC. OMISSÃO NO RECOLHIMENTO DE

CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. ART 95, D, DA LEI

8212/91 E ART 168-A DO CÓDIGO PENAL. TRANCAMENTO DA

AÇÃO PENAL. LEI 10.684/03. PAGAMENTO INTEGRAL DO

DÉBITO. COMPROVAÇÃO. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE.

PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS

BENÉFICA. ORDEM CONCEDIDA.

Hipótese em que os pacientes foram denunciados pela suposta

prática do crime previsto no art. 95, alínea d, § 1º, da Lei 9.249/95

(art. 168-A, § 1º, inciso I, do Código Penal). Comprovado o

pagamento integral do débito previdenciário, incide, à hipótese

dos autos, o § 2º do art. 9º da Lei 10.684/2003. Tratando-se de

norma penal mais benéfica, deve retroagir aos fatos anteriores à

sua vigência, de acordo com o artigo 5o, inciso XL, da

Constituição Federal. Precedentes do STF e desta Corte. Deve

ser cassado o acórdão impugnado, determinando-se o

trancamento da ação penal instaurada contra os pacientes.

Ordem concedida, nos termos do voto do Relator.

(HC 36199 / SP ; HABEAS CORPUS 2004/0083834-5; Ministro

GILSON DIPP; QUINTA TURMA; 17/02/2005; DJ 07.03.2005 p.

294)”.

Há de ser observado que é vasta a Jurisprudência, no sentido de

que mesmo após o recebimento da denuncia, o pagamento do débito

previdenciário ou até mesmo, o parcelamento do referido débito, impede o

prosseguimento da Ação Penal, pelo que o Magistrado deverá declarar extinta

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30a punibilidade, uma vez que a Ação perderá o seu objeto, qual seja, a

pretensão punitiva do acusado pelo não pagamento das verbas

Previdenciárias.

Dessa forma, antes do advento da Lei n° 10.684/2003, e após a

Lei n°9983/2000, não havia benefício para aquele que efetuasse o pagamento

após a denúncia, no entanto, para o contribuinte beneficiar-se do parágrafo 3°

do Art. 168-A, o perdão judicial, deverá pagar a contribuição social

previdenciária após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, e

mesmo assim ficará a cargo do Juiz, uma vez que deverá verificar a

primariedade da pessoa física, bem como os antecedentes criminais.

Assim, antes do Estado oferecer a denúncia contra a pessoa

física nos crimes de apropriação indébita é necessário esgotar todas as fases

administrativa.

8.1. Do Voto do Ministro Hamilton Carvalho do STJ, no HC. N°

36628

Assim é o voto:

...

“É esta, por pertinente, a letra do artigo 9º da Lei nº 10.684, 30 de

maio de 2003, verbis :

"Art 9º. É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos

crimes previstos nos arts. 1o e 2o da Lei no 8.137, de 27 de

dezembro de 1990, e nos arts. 168A e 337A do Decreto-Lei no

2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, durante o

período em que a pessoa jurídica relacionada com o agente dos

aludidos crimes estiver incluída no regime de parcelamento.

§ 1º A prescrição criminal não corre durante o período de

suspensão da pretensão punitiva.

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31§ 2º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste

artigo quando a pessoa jurídica relacionada com o agente

efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de

tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios ."

(nossos os grifos).

A matéria foi já objeto de decisão do Excelso Supremo Tribunal

Federal, que, nos autos do habeas corpus nº 81.929/RJ,

concedeu ordem de ofício, cuja ementa e voto-vista, de lavra do

Ministro Cézar Peluso, têm o seguinte teor, verbis :

"EMENTA: AÇÃO PENAL. Crime tributário. Tributo.

Pagamento após o recebimento da denúncia. Extinção da

punibilidade. Decretação. HC concedido de ofício para tal

efeito. Aplicação retroativa do art. 9º da Lei federal nº

10.684/03, cc. art. 5º, XL, da CF, e art. 61 do CPP. O pagamento

do tributo, a qualquer tempo, ainda que após o recebimento da

denúncia, extingue

a punibilidade do crime tributário."

"1. Os impetrantes atacam aresto do Superior Tribunal de Justiça,

argüindo, em síntese, nulidade do julgamento em virtude de

entrave à realização de sustentação oral e, no mérito, insurgem-

se contra avaliação dos antecedentes para efeito da prisão contra

o ora paciente decretada.

2. Pedi vista dos autos para melhor exame de ambas as

increpações e, ao fazê-lo, deparei com questão preliminar que, a

meu juízo, prejudica a análise dos fundamentos do pedido.

3. Os impetrantes aduriram, à inicial, ter sido o débito quitado

antes da edição da sentença que condenou o ora paciente.

Deveras, do apenso consta cópia incontroversa da guia de

recolhimento do tributo e de seus acessórios, cujo pagamento se

deu em 24 de novembro de 1998 (doc. nº 14, fls. 61). Por

confirmar o acerto da decisão do Plenário no HC nº 81.611 (rel

Min. SEPÚLVEDA PERTENCE ), sublinho que a impugnação

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32administrativa do auto de infração e lançamento acabou por

reduzir o débito de 899.321,81 para 10.122,87 UFIR, ou seja,

reduziu-o em 97% (!), tornando possível ao paciente quitar a

dívida e assoalhar a magnitude do desacerto da autuação.

4. É de recordar que, na época - 1998 -, os efeitos penais do

pagamento do tributo estavam regidos pelo disposto no art. 34 da

Lei nº 9.249/95, que previa a extinção da punibilidade mediante o

pagamento, só quando fosse este realizado até o recebimento

da denúncia . Daí, não terem os impetrantes postulado desde

logo a extinção da punibilidade, por falecer-lhe tal direito ao

paciente, ao tempo da impetração.

Ocorre que, em 30 de maio do presente ano, veio a lume a Lei

nº 10.684 , a qual, no art 9º, deu nova disciplina aos efeitos

penais (do parcelamento e) do pagamento do tributo, nos casos

dos crimes descritos nos arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137, de 27 de

dezembro de 1990, e nos arts. 168-A e 337-A do Código Penal:

"Art 9º. É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos

crimes previstos nos arts. 1o e 2o da Lei no 8.137, de 27 de

dezembro de 1990, e nos arts. 168A

e 337A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 –

Código Penal, durante o período em que a pessoa jurídica

relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no

regime de parcelamento.

§ 1º A prescrição criminal não corre durante o período de

suspensão da pretensão punitiva.

§ 2º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste

artigo quando a pessoa jurídica relacionada com o agente

efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de

tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios."

(grifei).

Pondera, então a doutrina: "uma leitura apressada, feita sob a

ótica da disciplina do antigo Refis, do novo § 2º do artigo 9º

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33poderia levar à crença de se tratar de norma que faz referência ao

momento final do parcelamento, ou seja, que o final do

parcelamento, implicando em pagamento, levaria à extinção da

punibilidade. Sim, o entendimento está correto, mas o dispositivo

diz mais que isto. Em nosso entender, o dispositivo pode

perfeitamente ser interpretado de forma a permitir que sempre

que houver pagamento, independentemente de ser o momento

final do parcelamento, extinta estará a punibilidade e, agora, sem

limite temporal, isto é, sem que o recebimento da denúncia

inviabilize o efeito jurídico-penal do pagamento integral do tributo.

Esta interpretação se assenta em dois fundamentos. Primeiro

deles: na disciplina anterior (no Refis), o § 3º expressamente

atrelava a extinção da punibilidade ao pagamento das parcelas do

parcelamento, verbis: "Extingue-se a punibilidade dos crimes

referidos neste artigo quando a pessoa jurídica relacionada com o

agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de

tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios, que tiverem

sido objeto de concessão de parcelamento antes do recebimento

da denúncia criminal" (grifamos). A nova disciplina é bem

diferente sob este aspecto, confira-se: "Extingue-se a punibilidade

dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa jurídica

relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos

débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive

acessórios" (art. 9º, § 2º). O segundo deles reside na questão da

igualdade: se o agente pode, a qualquer momento, parcelar o

débito, suspendendo a punibilidade que, ao cabo do

parcelamento, será extinta, com maior razão a mesma extinção

deve atingir aquele que opta por, nem só ato, pagar integralmente

o débito.

Tal qual ocorre relativamente ao parcelamento, a nova disciplina

dos efeitos jurídicos-penais do pagamento, por ser mais benéfica,

retroage atingindo todos os cidadãos que se encontrem nesta

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34situação, não importando, igualmente, o estágio processual (art.

5º, XL, CF, art. 2º, CP)" (HELOÍSA ESTELLITA , "Pagamento e

Parcelamento nos Crimes Tributários: a Nova Disciplina da Lei n.

10.684/03", in Boletim IBCCRIM, SP, set. 2003, p. 2-3).

A nova disciplina, evidentemente mais benéfica ao réu, retroage

para alcançar o presente caso (art. 5º, XL, da Constituição

Federal), impondo à Corte o dever de outorgar de ofício a ordem,

nos termos do art. 61, caput, do Código de Processo Penal: "Em

qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer extinta a

punibilidade, deverá declará-lo de ofício".

4. Por tais razões, concedo habeas corpus de ofício, para

declarar extinta a punibilidade do crime imputado ao paciente, em

virtude do pagamento do tributo a acessórios na forma prevista

pelo art. 9º, § 2º, da Lei nº 10.684/03." (HC nº 81.929-0/RJ,

Relator Ministro Sepúlveda Pertence, in DJ 27/2/2004).

E, por igual, em recente julgado daquela Suprema Corte, verbis :

"A Turma deferiu habeas corpus impetrado em favor de

denunciado pela suposta prática de apropriação indébita de

contribuições previdenciárias descontadas de segurados. Na

espécie, o paciente e mais dois co-réus, após o recebimento da

denúncia, haviam parcelado e pago, espontaneamente, todos os

débitos. A mesma medida fora indeferida no STJ, que entendera

não existir previsão legal para o parcelamento de contribuições

previdenciárias descontadas de empregados, havendo, ao

contrário, expressa vedação (Lei 10.666/2003, art. 7º), o que teria

sido ratificado pelo veto do § 2º do art. 5º da Lei 10.684/2003, que

previa esse benefício. Aplicou-se, ao caso, o disposto no § 2º do

art. 9º da Lei 10.684/2003, extinguindo-se a punibilidade do

paciente, considerado o princípio da retroatividade da lei penal

mais benéfica (CF, art. 5º, XL).

Salientou-se que, ainda que o parcelamento e a quitação do

débito com a Previdência tivessem ocorrido após a vigência

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35dessa lei, ela deveria incidir, haja vista que as regras referentes

ao parcelamento são dirigidas à autoridade tributária, de modo

que, se esta defere a faculdade de parcelar e quitar o débito e o

paciente cumpre a respectiva obrigação, deve ser beneficiado.

Com base no art. 580 do CPP, estendeu-se a decisão a um dos

co-réus, dada a identidade de situações, esclarecendo que o

terceiro acusado já fora absolvido. (“Lei 10.684/2003: Art. 9o É

suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes

previstos nos arts. 1º e 2º da Lei n° 8.137, de 27 de dezembro de

1990, e nos arts. 168A e 337A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de

dezembro de 1940 – Código Penal, durante o período em que a

pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes

estiver incluída no regime de parcelamento. ...

§ 2o Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo

quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o

pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e

contribuições sociais, inclusive acessórios.”)." (HC nº 85.452/SP,

Relator Ministro Eros Grau, julgado em

17/5/2005, Informativo nº 388/STF).

Confira-se, ainda, os seguintes precedentes deste Superior

Tribunal de Justiça:

"CRIMINAL. HC. OMISSÃO NO RECOLHIMENTO DE

CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. ART 95, D, DA LEI

8212/91 E ART 168-A DO CÓDIGO PENAL. TRANCAMENTO DA

AÇÃO PENAL. LEI 10.684/03. PAGAMENTO INTEGRAL DO

DÉBITO. COMPROVAÇÃO. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE.

PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS

BENÉFICA. ORDEM CONCEDIDA. I . Hipótese em que os

pacientes foram denunciados pela suposta prática do crime

previsto no art. 95, alínea d, § 1º, da Lei 9.249/95 (art. 168-A, §

1º, inciso I, do Código Penal).

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36I I .Comprovado o pagamento integral do débito previdenciário,

incide, à hipótese dos autos, o § 2º do art. 9º da Lei 10.684/2003.

III.Tratando-se de norma penal mais benéfica, deve retroagir aos

fatos anteriores à sua vigência, de acordo com o artigo 5o, inciso

XL, da Constituição Federal.

IV.Precedentes do STF e desta Corte.

V. Deve ser cassado o acórdão impugnado, determinando-se o

trancamento da ação penal instaurada contra os pacientes.

VI.Ordem concedida, nos termos do voto do Relator." (HC nº

36.199/SP, Relator Ministro Gilson Dipp, in DJ 7/3/2005).

"RECURSO ESPECIAL. PENAL. CONTRIBUIÇÃO

PREVIDENCIÁRIA. APROPRIAÇÃO INDÉBITA. VIOLAÇÃO AO

ART. 9º, § 2º E ART. 5º DA LEI 10.684/03. INOCORRÊNCIA.

DEFICIÊNCIA. FUNDAMENTAÇÃO.SÚMULA 284 – STF. É

perfeitamente aplicável a Lei 10.684/03 ao art. 168-A, § 1º do

Código Penal, tendo em vista que o parágrafo é parte

integrante do próprio artigo a que pertence.

Sendo a espécie quitação de débito, quitado este, não há razão

para excluir a extinção da punibilidade.

Impossibilidade de se conhecer do recurso pelo permissivo da

alínea a, em face de deficiência na sua fundamentação. (Súmula

nº 284 - STF)." (REsp nº 656.621/RS, Relator Ministro José

Arnaldo da Fonseca, in DJ 8/11/2004 - nossos os grifos). Tem-se,

assim, que o pagamento integral dos débitos oriundos da falta de

recolhimento dos tributos ou contribuições sociais, ainda que

efetuado posteriormente ao recebimento da denúncia, extingue a

punibilidade dos crimes tipificados nos artigos 1º e 2º da Lei nº

8.137/90, 168-A e 337-A do Código Penal, por força do artigo 9º,

parágrafo 2º, da Lei nº 10.684/03, de eficácia retroativa,

induvidosa por força do artigo 5º, inciso XL, da Constituição

Federal.

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37In casu, embora a denúncia, na ação penal a que respondeu

como incurso nas sanções do delito tipificado no artigo 168-A,

parágrafo 1º, inciso I, do Código Penal, tenha sido recebida em

15 de setembro de 2003, e o paciente efetivamente tenha quitado

os débitos previdenciários pendentes somente na data de 20 de

novembro de 2003, é de rigor a declaração de extinção da

punibilidade, por força do dispositivo inserido no artigo 9º,

parágrafo 2º, da Lei nº 10.684/03.

Pelo exposto, concedo a ordem para desconstituir a condenação

do paciente e declarar a extinção da punibilidade do crime.

É O VOTO.

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38

9. DA FASE ADMINISTRATIVA

O Estado por meio de sua Administração e fiscalização, deverá

dar ciência administrativamente a pessoa que estiver incurso no crime de

apropriação indébita.

A Secretaria da Receita Federal através da Portaria de n° 326,

publicada no Diário Oficial de 29/03/2005, informa que o contribuinte que

possui alguma dívida com o fisco, não pode ser julgado criminalmente antes

que o processo administrativo do caso seja finalizado.

Em muitos casos o Auditor Fiscal Previdenciário, ao providenciar

a Notificação Fiscal de Lançamento de Débito –NFLD, encaminha o auto de

infração ao Ministério Público, antes mesmo de findar o processo

administrativo.

Por fim, devemos salientar que a indigitada portaria da Secretaria

da Receita Federal, é uma conseqüência direta da decisão do Supremo

Tribunal Federal proferida no HC 81.929 (documento em anexo), já que havia

definido, em 2003, que os fiscais e o Ministério Público só poderiam acusar o

devedor após o término do processo administrativo.

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10. COMENTÁRIO

Hoje verifica-se cada vez mais a preocupação do Estado em

aumentar a sua arrecadação, não que o Estado esteja erra, mas errado está na

forma que Ele adotou para isso. No nosso caso, sabe-se que a arrecadação

Previdenciária destina-se ao custeio dos benefícios concedidos, que vão desde

as aposentadorias existentes até as pensões e auxílio maternidade, não nos

esquecendo é claro do auxílio doença.

Mas, este que escreve é contra a forma coercitiva adotada pelo

Estado com a finalidade de aumentar a arrecadação, não que seja a favor do

não repasse, mas que seja observado a conduta social adotada, que em

muitos casos a inadimplência ocorre por culpa do próprio Estado.

Como culpa do próprio Estado podemos citar o caso que está

sendo divulgado pela mídia, que é o caso da febre aftosa nos animais bovinos,

mas deve estar perguntando, o que isto tem a ver com o nosso estudo, eu falo

que muito, pois com o caso exposto, os exportadores de carnes bovinas

tiveram a sua produção reduzida drasticamente, mas os senhores devem estar

perguntando o que tem a ver com o Estado? Falo que muito, pois o Estado

havia reduzido a verba destinada a Secretaria Sanitária, que cuida da

prevenção das doenças animais, em mais de 60%, redução esta que está

gerando esses cortes na exportação.

Com isso, aqueles que têm inúmeros empregados trabalhando

desde a fazenda (com a criação) até o frigorífico (com o abate), terão

dificuldades de efetuar o pagamento dos tributos.

Diante disso, pergunto aos senhores leitores, quem esses

empresários deverão pagar? O Estado ou os empregados? Se pagar ao

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40Estado (arrecadação) não correrá o risco de sofrer conseqüências desastrosas

diante do fisco, mas estará indo contra o fator social; no entanto se optar por

pagar os empregados, o empresário estará assumindo uma briga gigantesca

com o Estado, que utilizará da coerção para obter a arrecadação.

Como falamos no início do nosso estudo, nós vivemos no Estado

Democrático de Direito, e espero que assim seja feita a justiça social, ou seja,

observando o Princípio Constitucional da Igualdade.

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CONCLUSÃO

Como podemos observar ao longo do tema, o Estado utiliza-se da

coerção para cobrar os seus tributos, ou seja, utiliza-se da imposição, ao passo

que deveria ser observado o Estado Democrático de Direito, onde o objetivo é

um Estado mais social.

No entanto, diante da imposição do Estado, o judiciário vem

adotando medidas em que extingue a punibilidade, mesmo quando o

pagamento é efetuado após o oferecimento da denúncia, contrariando a

redação do artigo 168-A, porém, baseando-se no conflito de normas existente

face ao artigo 9° da Lei n° 10.684/2003, que trata da suspensão da pretensão

punitiva do Estado.

Por fim, o argumento utilizado de insuficiência financeira utilizada

usualmente por alguns empresários, face a inexigibilidade de conduta diversa,

em regra ainda não há uma unanimidade do judiciário, pelo que vem sendo

analisado caso a caso.

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BIBLIOGRAFIA

ANDRADE FILHO, Edmar Oliveira, Direito Penal Tributário, editora Atlas, 4ª

Edição, São Paulo, 2004.

CARRAZA, Roque Antônio, Curso de Direito Constitucional Tributário, editora

Malheiros, 20ª edição, São Paulo.

MORAES, Alexandre de Moraes, Constituição do Brasil Interpretada e

Legislação Constitucional, editora Atlas, 2ª edição, São Paulo, 2003.

SALOMÃO, Heloisa Estellita, Coordenadora, diversos autores, Direito Penal

Empresarial, Editora Dialética, São Paulo, 2001.

SILVA, José Afonso da, Curso de Direito Constitucional Positivo, Editora

Malheiros, 24ª Edição, São Paulo.

TAVARES, Marcelo Leonardo, Direito Previdenciário, Editora Lúmen Júris, 6ª

edição, Rio de Janeiro, 2005.

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Índices

Introdução 7

1. Lei n° 8212/95 art. 95 10

2. Do Estado Democrático de Direito 12

2.1. A lei no Estado Democrático de Direito 13

2.2. Princípios da Democracia 13

2.3. Da Liberdade 14

3. Crime Omissivo 15

3.1. Elemento Objetivo do Tipo 16

3.2. Elemento Subjetivo 16

4. sujeito do Delito 18

4.1 Sujeito Ativo 18

4.2. Sujeito Passivo 18

5 Da Causa Supralegal 19

6. Extinção da Punibilidade 23

7. Perdão Judicial 25

8. Aplicabilidade da Lei n° 10.684/2003 27

8.1. Do Voto do Ministro Hamilton Carvalho do STJ, no HC n° 36628 30

9. Da Fase Administrativa 38

10. Comentário 39

Conclusão 41

Bibliobrafia 42

Índice 43

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

Título da Monografia: Desapropriação Rural e seus Aspectos Legais

Data da Entrega: 28/10/2005

Auto de Avaliação: Como você avaliaria esta Monografia?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Avaliado por:___________________________________Grau______________

Rio de Janeiro, 28 de outubro de 2005.

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