Pecado e redenção no A.T.
Não se tem no A.T. definição de pecado. O que
se encontra são descrições concretas da realidade do mal em várias esferas.
O pecado é uma ação ou condição?
A essência do pecado é rebeldia contra Deus. Não simplesmente um mal mora, mas um mal moral com conotações religiosas.
A natureza do pecado
No AT, o pecado é a violação da “graciosa e
justa vontade divina, rebelião que destruiu a comunhão pessoal”. Israel, diferente dos seus vizinhos, analisava os problemas da vida em relação à vontade e ao propósito do Deus que escolheu um povo para ser instrumento do seu projeto de redenção universal (Gn 12.3).
Pecado no AT, não é a perturbação do status
da natureza ou uma aberração que destruiu a harmonia dos eventos do estado cósmico. É a violação da comunhão, a traição do amor de Deus e a revolta contra o seu senhorio.
Von Rad lembra que Israel tinha muitos termos para pecado, mas a pesquisa destes está longe de desvendar o cerne da questão para a teologia.
O termo básico traduzido por pecado, hata, significa “errar o alvo”, como no caso de alguem que atira pedras com uma funda (Jz 20.16), ou um viajante que erra o caminho (Pv 19.2). Já ´awôn significa “perverter” ou “tornar mau” (1 Sm 20.1). Pecado é o que é tortuoso, não reto, correto ou direito. “É da natureza do pecado não atingir um alvo; é natural do que é tortuoso, em comparação com o que é reto; é natural do que é irregular, em comparação com o que é nivelado; é natural do que é sujo, em comparação com o que é limpo.”
O vocabulário do pecado
Alguns estudiosos dedicam-se a classificação
das palavras relacionadas ao pecado por grupos.
Não é por acaso que a Bíblia tem um rico vocabulário referente ao pecado. Seus autores não se preocuparam em dar uma definição teórica do pecado, mas refletiram em sua terminologia rica e visual, “a profundidade e os amplos efeitos do pecado que experimentaram.”- Vries
No A.T., o pecado é quase sempre pessoal. É
resultado de uma decisão consciente entre o “bem” e o “mal”. Pode também ser individual ou coletivo. Para melhor compreensão da temática, deve-se observar listas de pecados de Israel e de indivíduos (Cf. Dt 9.6-24; Sl 106.6-39; Is 59.1-8; Jr 2.4-28; Ez 16.14-58; Am 2.6-8; Mq 2.1)
E.W. Heaton afirma que os profetas fizeram
uso de toda a sua experiência de vocabulário para mostrar a Israel o alcance da sua falta de retidão (p.270)
Pessoa, rebelião contra Deus, Moral, desvio de uma norma externa de
conduta, Monista, ligado a natureza fisica e a condição
de criatura humana, Dinâmico, transgressão de um tabu.
Categorias de pecado
Pecado no AT vai além de ações ou atitudes
erradas. Engloba o ser humano como todo. Tem uma dimensão espiritual, fisica e mental. O ser humano não peca com uma parte de sua natureza, mas com todo o seu ser.
O ser humano tem capacidade elevada e a usando de modo errado, faz escolhas erradas que resultam em fracasso, frustração, sofrimento e alienação de Deus e dos outros. Pecou!
A essência do pecado
“Sempre que se identifica um problema, o
curso natural da ação é descobrir sua causa, origem ou fonte principal”.
O AT reconhece a existência de um problema na natureza e na raça humana. Existem em ambos desordem profunda e anormal.
A origem do pecado
Segundo Barth, “a rebelião humana é uma
ocorrência que nos deixa perplexos”. “A rebelião contra o criador sempre será inesperada, infundada, ilógica, indesculpável e injustificada. Se Deus criou todas as coisas de modo perfeito, não pode haver explicação nem razão aceitável para o pecado.”
Se a natureza e a raça humana foram criadas
boas e agora são “más”, como e quando ocorreu a mudança?
Resposta da igreja: “queda” ou “pecado original”. O A.T. raramente refere-se ao pecado em termos
teóricos ou teológicos. Ao tratar sobre o pecado, a ênfase recai sobre a
sua expressão momentânea concreta em ações individuais. Assim, “a questão da origem do pecado é relegada a segundo plano”. (Eichrodt)
O A.T. relata como o pecado começou e continuou
aumentando no âmbito da raça humana. A porta de entrada aponta para a livre escolha de Adão e Eva em desobedecer a Deus.
O A.T. não diz que a serpente era o Diabo, Satanás, ou a fonte do pecado. Ele não culpa Deus pelo pecado do ser humano. A origem definitiva do pecado no AT continua sendo um enigma.
Zimmerli afirma não ter o A.T. resposta a pergunta de como o mal entrou no mundo. Mesmo assim, duas declarações sobre o assunto são claras (Gn 3): o mal não vem de Deus e está sujeito ao poder de Deus.
Nada se diz sobre como o pecado de Adão
afetou seus descendentes, mas Genesis mostra as consequências do primeiro pecado para os envolvidos.
O AT conta simplesmente a historia das gerações subsequentes.
Varios textos são usados para defender a universalidade do pecado (1 Rs 8.46; 2 Cr 6.36; Jó 14.4; 25.4; Sl 51.5; 58.3; Pv 20.9; Ec 7.20; Is 48.8).
Efeitos do pecado
Mesmo não dizendo nada sobre a culpa
transmitida a partir de Adão, o AT está muito ciente da tendencia humana natural em direção ao mal.
O AT também não relata a origem dessa inclinação que é “simplesmente aceita como um fato, um fato revelado por observação e introspecção”.
Sentimento de culpa (perturbação, alienação e
distanciamento) Gn 3.10; Lv 5.17.
Consequências do pecado para o indivíduo
Punição ou condenação Toda a falta traz punição. Isso é necessário
porque a ofensa contra Deus tem de ser reparada, o veneno contagioso do pecado tem de ser eliminado, e o pecador tem de ser penalizado.
Javé não inocenta o culpado (Ex 34.7; Nm 14.18), não esquecendo seus feitos (Am 8.7).
Havia como que uma “irradiação do mal”.
O propósito do julgamento de Deus no AT é
mais que punir. Ele tem o propósito de purificar, como o fogo que refina (Ml 3.2,3); o propósito de corrigir, como o prumo (2 Rs 21.10-13); e o propósito de renovar, como quando se limpa um prato (2 Rs 21.10-13).
Ele o remove, joga fora como roupas sejas e
rasgadas (Is 6.7) Ele afasta-o (Ex 34.6,7) Ele o apaga (Is 43.25) Ele o lava e limpa (Sl 51.2) Ele o elimina e remove (Sl 51.7) Ele o cobre (Sl 32.1) Ele o expia (Ez 16.62)
A remoção do pecado
Ele esquece (Is 43.25) Ele os lança no mar (Is 38.17) Ele os perdoa (Sl 103.2)
O AT as vezes usa a ideia de propiciação ou
expiação para falar da remoção da ira de Deus. No hebraico, a palavra tem o sentido de “acariciar o rosto” de Deus, de “abrandá-lo” e torná-lo favorável (1 Sm 13.12).
As pessoas tentavam livrar-se dos pecados pelos cultos (sacrifícios).
Os profetas tinham pouca confiança no
sacrificio como meio de se livrar do pecado. Falavam da necessidade de arrependimento (Is 1.11; Os 6.6; Am 5.23; Mq 6.8).
No AT, as pessoas se arrependem e Deus
perdoa. Uma parte do arrependimento é a confissão.
A confissão do pecado indica que o pecador está ciente de pecados pessoais (Lv 5.5) e decidido a afastar-se deles (Pv 28.13; Dn 9.4).
No A.T. o pecado é um problema sério
que não é resolvido de modo satisfatório. Alguns tentam negar que pecaram (Gn 4.9), outros tentam o encobrir (Gn 3.8-11). O pecado não pegou Deus de surpresa. Ele o previra e se preparara para lidar com ele de modo provisório no AT.
O meio de perdão definitivo, porém, veio
no N.T., em Cristo, por meio de sua morte expiatória e do poder de sua ressurreição.