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Sessão 7Sessão 7
SimetriaSimetria
na Relação de Explicaçãona Relação de Explicação
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• Uma relação R entre dois objectos x e y diz-se ser simétrica se x estiver com y na relação R implica que y está com x na mesma relação.
• Exemplos:
i) a relação “ser irmão de” é uma relação simétrica porque “x é irmão de y” implica que “y irmão de x”.
ii) a relação “x ama y” não é uma relação simétrica.
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• Uma relação R é assimétrica se x estiver com y na relação R implica que é falso que y esteja com x na mesma relação.
• Exemplo:
“x é mãe de y” é uma relação assimétrica.
• Podemos aplicar estas definições à teoria da explicação no Modelo D-N.
• A relação R é agora a relação binária
“x é explicado por y” em que
x é o explanandum e y o explanans.
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• A fórmula atómica de D-N <explanandum, explanans>
pode assim ser reformulada em “x é explicado por y”, substituindo “<,>” por “é explicado por” e introduzindo variáveis de ambos os lados.
• Se esta relação é simétrica então“x é explicado por y” implica que
“y é explicado por x”. • Se a relação é assimétrica então
“x é explicado por y” implica que é falso que “y é explicado por x”.
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• Vamos apresentar agora a tese de Bas van Fraassen segundo a qual o modelo D-N é vulnerável na definição da relação de explicação,
{<explanandum, explanans>}. • A vulnerabilidade consiste na existência de simetria
na relação de explicação.• Para o fazer Van Fraassen usa o
método do contra-exemplo. Recorde-se que um contra-exemplo refuta uma proposição universal.
• Exemplo: • “Todos os cisnes são brancos”
é refutado quando se apresenta um cisne preto.
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• Como a análise do conceito de explicação é feita em D-N por meio de condições necessárias e suficientes, há que considerar duas classes de contra-exemplos que são usados para atacar D-N:
• Classe 1:
Exemplos em que é racional reconhecer uma explicação como científica mas que não satisfazem uma ou mais das 4 condições impostas em D-N.
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• Classe 2: Exemplos em que é racional não reconhecer uma explicação como científica mas que satisfazem as 4 condições impostas em D-N para uma explicação científica.
• Exemplos da Classe 1: Em ciências sociais e humanas, como em História, não é em geral possível satisfazer H2 (a lei geral usada durante a dedução).
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• Exemplos: • “Por que razão entrou a Inglaterra na Iª Guerra
Mundial ?”.• A explicação
“a Inglaterra entrou na Iª Guerra Mundial porque...”não contém referência a uma lei geral mas apenas a “condições iniciais”.
• Exemplos desta classe são menos frequentes nas ciências da natureza.
• Se uma explicação científica não contém referência explícita a leis, então pode ser considerada como um esboço de explicação.
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• Neste caso é de esperar que no futuro as leis e as condições iniciais relevantes venham a ser explicitadas. Nesse momento o esboço transforma-se numa explicação D-N conforme.
• Passamos agora para os exemplos da 2ª classe, em particular para um exemplo (ou contra-exemplo) proposto por Van Fraassen e abundantemente citado e comentado na literatura.
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• O contra-exemplo de Van Fraassen pode ser posto sob a forma de uma pequena narrativa.
– O filósofo matemático Trignomius está na praia e observa que um banheiro espeta, perpendicular ao plano da areia, uma haste graduada de madeira, com a inscrição “0,90 metros”.
– O ângulo de incidência da luz é nesse momento de 45 graus.
– O banheiro pergunta ao filósofo Trignomius:– “Qual é o comprimento da sombra projectada pela
haste?”
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• Uma resposta a esta pergunta é (também) uma explicação D-N conforme.
• Eis como encontrar o formato D-N:
• Explanandum: Qual é o comprimento da sombra?
• Explanans: i) o ângulo de incidência da luz é de 45º eii) a haste tem 0,90m de altura.
• i) e ii) são as condições iniciais exigidas em D-N.
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• Que leis que precisamos para formatar a explicação em D-N?
• As duas leis conhecidas da Trignometria:i) a função trignométrica tangente de um
ângulo α é o número racional y / x;ii) tan 45º = 1.
• Como o número y / x só pode ser igual a 1 se y for igual a x, o filósofo deduz que o comprimento da sombra é igual ao comprimento da haste, i.e. 0,90m.
• Pode-se formular assim a resposta de Trignomius e a sua justificação como:
“O comprimento da sombra é de 0,90m porque num ângulo de 45º tan 45º=1”.
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• Esta resposta é não só uma explicação científica, se seguir o modelo D-N, como é racional para o banheiro aceitá-la como explicação do facto de o comprimento da sombra ser 0,90m.
• A ideia de Van Fraassen é que pelo mesmo argumento se pode construir uma explicação que continua a ser científica e D-N conforme mas que deixa de ser racional aceitá-la como explicação do facto.
• Suponha-se que o banheiro pergunta ao filósofo Trignomius em vez da sua pergunta inicial a nova pergunta:
“Qual é o comprimento da haste?”
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• O filósofo Trignomius pode repetir a sua dedução de há pouco e dar a resposta
“O comprimento da haste é de 0,90m porque a tan 45º=1”.
• Esta resposta é uma explicação científica e D-N conforme mas não seria racional para o banheiro aceitá-la como explicação do facto de a haste ter 0,90m.
• A haste pode ter sido produzida com 0,90m de comprimento por uma razão contingente e não por tan 45º ser igual a 1.
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• A moral da história de Van Fraassen dividida em três partes (I. slide 15; II. slide 16; III. slide 20):
• I. • Na análise do termo feita por Hempel, a definição D-N de explicação científica não capta tudo
o que seria racional entendermos por explicação.
• D-N admite explicações científicas que não explicam coisa alguma.
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• II.• O Modelo D-N permite simetria na relação de
explicação científica,enquanto que a relação “x é explicado por y”
não é uma relação simétrica,visto que “x é explicado por y” é uma explicação e “y é explicado por x” pode não ser considerado uma explicação.
• O que pensar do argumento de Van Fraassen?
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• Com o seu contra-exemplo Van Fraassen quer mostrar que a relação de explicação não se reduz apenas à questão de saber se existe uma lei da qual se possa deduzir o explanandum. Não é por isso apenas uma questão de sintaxe da dedução.
• Para se vir a saber o que é a explicação para Van Fraassen tem que se substituir a sintaxe pela pragmática.
• Para o fazer é útil começar por distinguir 3 modos diferentes de organizar a linguagem:
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• Sintaxe – compreende o conjunto das regras pelas quais se formam as expressões e se distinguem as expressões em bem formadas e mal formadas.
• Exemplo: Se a e b são pessoas “a ama b” é uma expressão bem formada e “a corre b” é uma expressão
mal formada.• Semântica – compreende o conjunto das regras por
meio das quais se explica o sentido que as palavras têm na linguagem. Explicações semânticas típicas utilizam o verbo “significar” em contextos como por exemplo:“a palavra” dolo “significa ter a intenção de enganar”.
• Pragmática – descreve os contextos de comunicação pelos quais o sentido é produzido e nos quais o sucesso ou insucesso de uma comunicação é testável.
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• Para Van Fraassen no modelo D-N de explicação científica a pragmática é ignorada e não existe por isso em D-N uma medida para o sucesso ou insucesso de uma explicação dada.
• Mas esta crítica só é aceitável para quem postula que a única medida possível é a descrição de contextos.
• As Regras H1-H4 de Hempel são também uma medida mas não em termos de contextos de comunicação.
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• III. • O Problema da Causalidade Invertida em D-N:
• Considere-se a última explicação D-N conforme proferida por Trignomius:
“a altura da haste é 0,90m porque tan 45º=1”.
• Entre as condições iniciais no explanans figura o facto de a sombra ter 0,90m. Assim numa interpretação causal da fórmula
{<explanandum, explanans>},o primeiro termo é o efeito e o segundo termo é a causa. Isto equivale então a dizer que a haste tem 0,90m porque a sombra tem 0,90m.
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• Mas nestes termos a sucessão causal está invertida. Não é a altura da haste que é o efeito da sombra mas ao contrário a sombra é que é o efeito do comprimento da haste.
• Assim para Van Fraassen o modelo D-N permite a formação de explicações de causalidade invertida.
• Mas esta crítica é apenas um corolário da questão da simetria e vale exactamente o mesmo que essa.
• N.B.: É importante recordar que um dos objectivos
estratégicos de D-N é eliminar relações causais (que não são conformes à epistemologia empirista)
em favor de relações de deducibilidade. Estas não são simétricas nem causais.
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