N!! 4· ANO XII· FLORIANÓPOLIS, FEVEREIRO DE 1995· CURSO DE JORNALISMO DA UFSC
Ç3
�
AO QI.1ADRINHO NACIONAL!::- ,!tíi."�;V"" - ...t"..,... '""'--
l ....
I);::,_,•• to/-
_" _"_.
SUMMER EDI ION
LOS 3 AMIGOSMais sexo, drogas& guacamolescom o �amigo
SANGUINHO NOVOTalentos brasileiros
desenham os
maiores da Marvel
;
MAURICIOO plano infalívelque deixou até a
Disney para trás
SPAWN X BATMANMiller e MacFarlanecobrem as grandeseditoras de porrada
GIBITECASPouca grana e muita
paixão pelas HQsfazem essa aventura
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
uma o o teI'
a•
I
S�RÁ Que...
voce VAl
CONS�U'RJZçRo?
CLAROQueSIM;
5-18
Crlaturae e criazíoree de ficção e realidade ee;tão povoando eataa 24
páginaa que entregamoa a você, Eet-a é a aegund41 vez que fazemosuma edição tratando excluelvamerrte do tema cartum &
quadrinhoa. O Zero Zlne II é uma lncuraão honeet.a que revela noaea
reverêncía a uma arte (e um meio de expreaaão) que eatá para.
completar 100 anoe em 1996. Cobrimoa com maia apuro o que aconteceu com
o vigoroao e deareapeitado quadrinho nacional, que tem em Ângelo Agoatinium doa ada grandea precuraoree; mundíale da área. Kevelamoe uma
de6Conhecida lei que protege a produção e o eapaço do autor braelleiro e com
vergonha conf'eeaamoe que quem maia burla, a 31 anoe, ee;ta legialação, aãojuet.arnerrte oe grandea jornale e editoraa maia conaideraaaa do mercado.
Deade o aéculo paaaado, eata arte regie;tra peraonagem como a popularMafalda, que completou 30 anoe de exiet.êncla - embora seu criador, o
argentino Quino, a tenha abandonado. Fomoa a Porto Alegre para fazer o
perfil de tr�a gaúchoa com propoataa novae: lotti, com e;eu Gibizón Radicci;Santiago, com o novo álbum Povaréu; e Edgar Vaaquea, que enfrenta algumaadeaventuraa com a grande imprenaa, mae continua publicando Separatie;mo,corta ee;e;a e Cere» Pintadae;. Para fechar o noaao material do Cone Sul,report.amoe o que aconteceu no III Salão Internacional de Deaenho de
lmprenaa - evento que ganha f8lego e tradição.De São Paulo, o lançamento da bem-aucedida aérie de álbuna/livroa de Loe
Trae; Amigoe;, que eoma ao trio Angeli, Glauco e Laerte o deaenhiata Adão
lturruegaral, tema de matéria no Zero Zlne I. Outro que também retorna àanoaaaa páginaa é Lourenço Mutarelli, um talento inegável, de carreirameteórica e premiada. O eecritor Álvaro de Moya fala aobre oe; dee;enhoa
didático-ecológicoa de Cláudia Lévay, e o conaagrado Maurício de Souaa tem
eua trajetória ao auceaao r capitulada. Ainda eem aair da paullcéía,regiatramoa o louvável trab o da Gibiteca Henfll, que meemo eem apoioaegue atendendo a centena e aflccíonadoe gratuitamente.Na cena internacional, o Zero lne lncurelona por quatro doa maloree autores
�-'l vanguarda: o iuguslavo Enki ílal, o brit�nico Neil Gaiman e oe americanos
Frank Miller e Todd MacFarlane. Nossa abordagem reagata publicaçõeaantológicaa e deaaparecidas, como a francesa Métal Hurlant, uma daa
precuraoras de uma imprenaa c bativa que insiste em pipocar por todo o
planeta, até mesmo na China e leete europeu. Ae not.ae deatoantea aão ae
perdae de dois mestre. tado como um doa ce� rnaioree
cartunistas do mundo, e Hilde Weber.
Maa vamoe alegrar ae coisael Afinal, eeta é uma edição de verão. Na página14, fazemoe uma homenagem ao quadrinho underground e preeenteamoe vacacom o deeenho -demente- do americano Robert Crumb, para cortar e colar na
porta do guarda-roupa. Depois de uma edição lon9a e eúada (mae; acima de' Ltudo gratificante), eeperal110e 't..
que este Zero eeja lido com o
mesmo prazer com que foi feito.Só nee resta agora arejar acabeça, pegar uma prainha e
gozar o que sobrou dae
noaaae fériae.
ANO XII· N!! 4FLORlANÓPOUS
• EDiÇÃO DE VERÃO·FEVEREIRO 95
*****MELHOR PEÇA GRÁFICA
I, II, III, IV, VSET UNIVERSITÁRIO88, 89, 90, 91, 92
Dalmoro, Katluscla Zanatta, Laura Tuyama, Lúcio Lambranho, MarceloSantos, Marina Moros, Paulo de Tarso, Renê Müller, Tharclla Werllch,
Van Boechat
EdHoraçio eletrônicaAndréa Luswarghi, Crlstlane Cardoso, Crlstiane Miranda, Diógenes
Fischer, Drlca Martorano, Emerson Gasperin, Glancarlo Proença, JaimeLuccas, Pablo Claudina, Zé Dassllva
FotografiaPaulo de Tarso, Van Boechat
Laborat6rlo fotográficoPaulo de Tarso
LevlsãoCebolinha e Hortellno Troca-letra
Secretaria gráficaJosemar SehnemTrilha sonora
Beatles, Caetano, Clarence "Gatemouth" Brown, Charlie Parker, DexterGordon, Eric Clapton, Gene Vincent, Gilberta Gil, Guru, Janis Joplin,
Jefferson Airplane, Jimmy Hendrix, Miles Davis, Prince, Rolling Stones,Second Come, Sonic Vouth, The Clash
Apolo etlllenAmstel Beer (from Amsterdam, Holland)
Cheque-ApufscBlue
Redação .
Curso de Jornalismo (UFSC-CCE), Trindade, Florlanópolis/SC - CEP88040-900Telefones
(048)234-9490 e 231-9215Telexllax
(048 )234-4069Impressão
Diário Catarlnense
Distribuição gratuitaCirculação dirigida
ZERO
eo IMPERIO
DO QlIAORINHOJAPONES
A primeira versão
do Zero ZineJeitaem março de 92
o CENrENARIO 0.11. O/rAVA ARTE
*3!! MELHOR
JORNAL-LABORATÓRIO DO BRASILINTERCOM 94EXPECOM
Jornal-laborat6rio do Curso de Jornalismo da universidade Federalde Santa Catarina, editado pelo laborat6rio de Infografia.
ArteMichelson Borges e Zé Dassilva
Colaboração espontâneaAI Ortega, Amâncio Chiodi (Agência Estado), General, IstoÉ, Paulo
Vasconcelos, Robert Crumb, Wizard
ColaboraçãoAgecom, Álvaro de Moya, Drica Martorano, Emerson Gasperin, Kátia
Klock, Paulo Neves, Paulo Noronha, Clark Kent, Jimmy Olsen, Lois Lane
(Planeta Diário), Peter Parker e J.J. Jameson (O Clarim), Donald e
Peninha (A Patada)Copy-wrHe
Diógenes Fischer, Josemar Sehnem, Paulo de Tarso, Ricardo Barreto,Ulysses Dutra Neto, Van Boechat
DiagramaçãoAndréa Luswarghi, Giovana Borini, Gisele Souza, Jaime Luccas,
Josemar Sehnem, Jussara Campelli, Pablo Claudlno, Ricardo Barreto,Ulysses Dutra Neto, Van Boechat, Zé Dassilva
Direção de arte e de redaçãoProfessor Ricardo Barreto
Ed Itores-sên lorDiógenes Fischer, Josemar Sehnem, Zé Dassilva
Ed.Hores-jOniorAlessandra Pereira, Andréa luswarqhí, Daniela Cunha, Fábio Bianchini,Gabriela Veras, Giovana Borini, Gisele Souza, Ivan Jerônimo, Jefferson
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Nós temos talento_13rasileiros invadem mercado americanode quadrinhos desenhando clássicoscomo Homem-Aranha, Hulk e X-Men
Quetat desenhar sua re- ��j--:..r.JW,..,�OgériO vem
vista -prefci.'4a, fazer "'á.;seiffiando o A-Men. Parasucesso nos-"1.stados chegar a 'esse estágio, ele fezUnidos e ainda por cima um teste para o estúdio Art &
pas, outro brasileiro, está desenhando a Liga da Justiça.O paulistano Luciano Queirós(Luke Ross) é quem faz a arte
do Homem Aranha 2099. A
adaptação para os quadrinhosde A Rainha dos Condena
dos, da escritora americanaAnne Rice, foi feita pelopernambucano Otávio Cariello. Anne queria que Cariello
adaptasse também Entrevista com o Vampiro, mas comoestava sem tempo, ele indicouo amigo Alexandre Gibran. Eo atual responsável pela MulherMaravilha é o paraibanoDeodato Filho, filho de Deodato Borges, que em 1963 desenhava o Flama, super-herói de criação e
circulação nacional.
Com essa "in
vasão", os artistas tupiniquinsacabam tendomais acesso às
grandes editorasestrangeiras do
que ao sempreingratomercadonacional. Pelo
viver só disso? Este sonho,até pouco tempo considerado
impossível está se tomandoreal para toda uma geraçãode desenhistas brasileiros.
Alguns dos títulos de maior
vendagem da DC e Marvelsão hoje desenhados por brasileiros que fazem isso sem
sair de casa.
Quem se deu melhor com
essa história foi o paulistaRogério Cruz, de 23 anos,
que assina Roger Cruz para o
mercado americano. Faz qua-
Comics, que o mandou paraos EUA. A primeira interessada foi a editora Continuity,que incumbiu Rogério de desenhar o gibi Armor. Logodepois, a Marvela chamou
para fazer aHyperkind, cujospersonagens eram criados
pelo escritor inglês CliveBarker.A partir daí foi uma ques
tão de tempo. Rogério desenhou algumas páginas do
Motoqueiro Fantasma, de
pois passou para �n Hulk, atéque cJl�gou ao sonhado trabalho com o X-Men. Agora elerecebe US$ 30 (salário de
iniciante)por cada página quedesenha no aconchego de seu
lar em São Paulo. Ele recebeos roteiros e faz os desenhos,que depois de prontos sãoenviados aos EUA pela Art &Comics, que o agencia. O processo é o mesmo para os demais brasileiros que trabalham no mercado americano,todos agenciados pela Art &Comics.Artista tupiniquim - É as
sim que Edilbenes Bezerra
(pseudônimo: Ed Benes) fazas histórias do Exterminador,GunFire e Flash sem sair deLimoeiro do Norte, interiordo Ceará. Em Belém do Pará,Benedito José do Nascimento
(ou Joe Benet) desenhaRavage ,a obra mais recente
de Stan Lee. Marcelo cam-
ogério Cruz antes deassumir o traço dos XMen
FEV 95 - ZERO ZINE
menos os dese-nhistas. Dos brasileiros, os
americanos só querem os tra
ços. Argumentos, roteiros e
criação de personagens con
tinuam fora do alcance dosartistas da terrinha.Resta saber como esses
quadrinistas poderiam trabalhar no Brasil. Fora a produção underground, não existe
por aqui um mercado de HQ
que não seja o infantil. O tra
balho de Rogério Cruz & Cia.só chega ao país como produto estrangeiro, depois de aprovado pelo público americano.Mesmo porque eles só teriam
emprego no Brasil se fossemtrabalhar na revistinha doLeandro e Leonardo ou coisadesse tipo.
Fábio BianchiniMutante, por "Roger Cruz" 3
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
\/
Verísimo lançalivro e assinacolunanoJB
Desde o dia 8 de dezerriJro,a sisuda página de opinião
do Jornal do Brasil vemrecebendo um especialtoque de humor. Luis
Fernando Veríssimo, um dosmais conceituados escrito
res do país, assina uma
coluna onde deve aparecerde tudo "desde política e
crítica, até bobagens emgerar, como diz.
Dono de uma página na
Revista de DolTingo,tainbém do JB, Veríssimo
resistiu umpouco aoconvite. O jornal fica no Rioe ele mora em Porto Alegre."Émelhorpara o cronistil'
viver onde o jornal éproduzido, mas na era daTV. do computador e fax,todo mundo é do rrl!smo
lugar. E eu disfarço bem o
sotaque", garante.Antes de estrear sua nova
coluna, Veríssimo já dava
indicações de que a futuraprirrl!ira-dama Ruth Cardososeria uma das figuras quemais seria retratada, por
ser, em sua opinião, apessoa mais iT1fJortante da
República. "Ela é quemconvive mais intimarrl!ntecom o presidente, cuida da
sua alirrl!ntação, do seudes_canso e de seu coração.
Eela quem nos separa doMarco Maciel. Não descuide, Dona Ruth!, iT1fJlora.
"
Com vários projetos emmeme, ele lança já nos
próximos dias o livroAmérica, editado pela Art e
Ofícios. O livro contémalguns textos que Veríssimoescreveu durante a cobertura da Copa do Mundo, alémde observações antigas e
novas sobre os EstadosUnidos, onde viveu duranteoito anos. Há personagens
como o Dunga, representando a "estranha seleção de
Parreira, que ganhou a Copapara o Brasil mas deixou o
país ressentido": e tambémmuita coisa sobre "a
América que eu vivi com o
rabo do olho enquantoolhava a Copa".
Odia 30 de janeiro foiinstitucionalizado pelaAssociação dos
Quadrinistas e Caricaturistas doEstado de São Paulo como «Diado Quadrinho Nacional". Mas,afinal de contas, que diabosaconteceu no tal 30 de janeiro?No ano de 1869, precisamentenesse dia, a publicação de AsAventuras de Nhô Quim, ouimpressões de uma viagem à
corte na revista carioca Vida
Fluminense marcava o início deuma saga que já dura mais de 120
anos. O responsável - um italiano
que passou a infância em Pariscom a avó - chegara dez anosantes ao Brasil, ainda adolescente. considerado um dos pioneirosda HQ mundial e homenageadopela mesma AQCESP em sua
premiação anual, AngeloAgostini dedicou-se à oitava arteaté o fim de seus 66 anos.
Ala che?!? Então quer dizer queos quadrinhos no Brasil surgiramao mesmo tempo, ou até antes,que em outros países considerados "berços" da HQ? Se é assim,porque será que o quadrinhonacional (salvo raras exceçõesmoMauricio de Sousa) sofrento para se manter de pé,
abrindo picadas aqui e ali naverdadeira selva de ediçõesestrangeiras que é o mercadobrasileiro? Essa, como dizia o
Fotão, é outra história para umoooutro pôr-do-sol. O que nos
interessa, por enquanto, éAgostini.Pois então ... Coma o ano de1864 quando, no pasquimpaulista Diabo Coxo, estreou umjovem artista que começava a
criar um estilo que durante anos
seria a maior influência no
trabalho dos desenhistas nacio
nais, definindo o chamado "traçobrasileiro". No Diabo e, maistarde no Cabrião e O Arlequim(este já no Rio de Janeiro), asilustrações de Agostini impressionavam pela riqueza de movimen
tação e pela sátira mordaz à
política do Segundo Reinado.Três anos depois o desenhistamuda-se para o Rio e, em 1868,entra na Vida Fluminense, ondepublica o marco da HQ no Brasil.Em nove episódios semanais,editado na horizontal, As Aventuras de Nhô Quim contam as
peripécias de um caipira na ex
capital federal. Agostini continuou na revista até 1871, desenvolvendo suas observações sobre
lJ
tipos populares como o caixeiroviajante, o mascate, a mucamaalcoviteira e uma série de outras
figuras que caracterizavam a
sociedade carioca da época.Durante o Segundo Reinadohavia uma enorme tolerânciacom relação à ímprensa e a
liberdade de � .:�'-:ar o governo.Angelo Agostini soube aprov.ztar muito bem esse ambiente,defendendo através dos desenhos suas idéias republícanas,anti-clericais, e abolicionistas.Criou um personagem-símbolodo cidadão brasileiro: um índiotodo pintoso, no melhor estilo OGuarani, que sempre apareciacarregando os podres doimpério nas costas ou observando indignado as trapalhadas dacorte.
Agostini só foi ter sua própriapublicação em 1876, quandofundou a Revista Ilustrada,onde desenhou mais umahistória retomando o tema deNhô Quim: AsAventuras de Zé
Caipora. A personagem feztanto sucesso que voltou a ser
publicada anos mais tarde noDom Quixote e n'OMalho.
Dirigiu a revista até 1888,quando partiu para a Europa,
ZERO ZINE • FEV 95
Há 126anos
AngeloAgostinipublicou a
primeiraHQbrasileira, com o
personagem• •
catptraNhôQuim
depois de "enamorar-se" porAbgail, sua aluna de desenho.Nosso herói era casado e tinha doisfilhos. Três agora; contando com a
pequena Angelina. que nasceu emParis.
Quando o escândalo esfriou. lá por1895, Angelo voltou ao Brasil etrabalhou por três anos no jornalDom Quixote. Em 11 de outubrode 1905, juntamente com LuizBartolomeu de Souza e Silvafundou O TiCD-Tico, a publicaçãoinfantil mais importante da época.Criou o logotipo da revista, ondeum pássaro pousava no meio deum grupo de garotinhas nuas quebrincavam por entre as letras.
Sábado, 22 de janeiro de 1910.Abalado pela morte do amigoJoaquim Naouco, cinco dias antes,Angelo Agostini volta para casa
após uma reunião com antigosmembros da ConfederaçãoAbolicionista, castigado pelo sol deverão e pelos anos de trabalho.Durou ainda mais um dia. No
domingo, deixava a vida parafinalmente para entrar para a história da História em Quadrinhos.
Diógenes RacherAcervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
"Não me preocupa tanto os
30 anos dela, mas os séculos de aniversárioda direita em todo o mundo"Quino
JoaquimSalvador Lavado, o
Quino, já era um cartunista
respeitado na Argentinaquando o chamaram para trabalhar em uma campanha publicitária de eletrodomésticos. O pedidoera que ele criasse uma série detiras em quadrinhos,protagonizada por uma tipicafamília de classe média. Acampanha acabou não se realizando, e Quino arquivou omaterial. Meses depois, emsetembro de 1964, aquelastirinhas saíram da gaveta paraserem publicadas 1:\0 Primera
Plana, o mais important".'�')",.�nário argentino da época. NasciaMafalda, a menina contestadoraque iria cativar milhares deleitores em todo o mundo e
chegar aos trinta anos de existência como assunto para discussãoentre intelectuais.Mafalda não é apenas uma
criança encurralando os pais comperguntas. Quando diz que a tevêé uma ameaça e avalia os sonhosde consumo de seus amigos e
pais, ela argumenta com serieda
de, preocupada com o futuro das
pessoas e do planeta. Mafaldarecusa o mundo como ele é, odeiasopa e permanece alerta para não
pensar e nem se portar como
adulto. Não acredita em governos, lê jornais e ouve rádio paratentar entender o mundo, e se
mantém insatisfeita.Todos os "porquês" de Mafaldafizeram dela um sucesso entre os
contestadores do i<},.al dos anos60 e inicio dos 7(FUm ponto a
mais no charme.ia enfantterrible (como fifi apelidada naFrança) era o fato de ela ter sidocriada na Argentina, distante das
grandes fontes da indústriacultural. Ela.j.ira especial, poistinha bagag� para discutir
assun�'il�')ãrln1!'41£I'5�iampe'la cabeça de Charlie Brown.
Não foi dificil para Mafalda
conquistar o mundo. Com meio
ano de publicação, a tirinha jásaía nos principais jornaisargentinos. Em 1966, o primeiroálbum de tiras se esgotou em 12
dias. Era o início do boom deMafalda.A primeira tradução aconteceu
em 1968, para o italiano. No
prefácio do álbumMafalda la
Contestaria, o intelectualUmberto Eco avisava: "já quenossos filhos vão se tornar, por·escolha nossa, outras tantas
Mafaldas, será prudente tratarmos Mafal�� com o respt:::;quemerece um personagem real". Em
.:. .. .: :.'
.: .
:. � : ': :
seguida, foi a vez de Espanha e
Portugal. A ditadura franquistaimpôs à primeira edição doálbum espanhol a tarja "somentepara adultos". Mafalda tocava em
questões que não eram coisa de
criança.Depois da Europa, álbuns e tirasem jornal foram publicados aténo Japão e na Austrália. EmIsrael, Mlialda falava em
hebraico. O Brasil, apesar de servizinho da Argentina, só foi ter oprimeiro álbum em 1981.
Enquanto Mafalda passeava pelomundo, em Buenos Aires eram
produzidos desenhos animados e
o marketing da personagem era
expandido para as capas decadernos e cartazes.
Mafaldófilos - Apesar do sucesso
da menina inquieta, Quinoresolveu matar a galinha dos ovos
de ouro. Emjulho de 1973, eleanunciou que, "pelo menos porenquanto", não retomaria a
personagem. Voltou a fazerMafalda uma única vez, a pedidoda Unicef, para ilustrar a "Declaração dos Direitos da Criança",lançada em 1978.As entrevistas de Quino revelam
que ele nunca foi entusiasmado
pela menina que odiava sopa. Ele
já repetiu várias vezes que, entre
os personagens que criou,Mafalda era a que menos lhe
agradava. "Essa menina quefalava de paz mundial e das
Nações Unidas foi concebida deuma maneira muito artificial. Elanasceu como garota-propagandade eletrodomésticos. Acho que os
outros personagens são mais
espontâneos e mais reais", avalia.Em abril passado, um grupo deintelectuais europeus se reuniucom Quino, em Milão, paracelebrar os 30 anos da Contestaria. Liderados por Umberto Eco,os semiólogos analisaram o
caráter de Mafalda e o que ela
estaria pensando do mundo hoje."Mafalda se fez popular entreVós", expljçou Eco, "poXgu.e suas
posições diante da vida são
européias. Enquanto CharlieBrown lia Freud, Mafaldacertamente lia Che Guevara".
Quino evita discutir com os
mafaldófilos sobre a importânciada personagem. No encontro em
Milão, ele deu uma de Mafalda:"não me preocupa tanto 030 .
aniversário dela, mas os séculosde aniversário da direita em todoomundo".
Textos Zé Dassilva
Lúcifer lançasanguenovono mercadoChegou às bancas, no finalde novembro, a ediçãonúmero um da revistaLúcifer. O lançamento émais uma tentativa de
reaquecer o quadrinhonacional. A bolação é deToninha Mendes e sua
editora Circo, responsávelpelos títulos Geraldão,Chiclete com Banana, Piratasdo Tietê e Striptiras. A
edição traz, em capacolorida e mioio preto- ebranco em papel off-set,quadrinistas que já andaram
publicando - mas também. com a pretensão de lançargente nova. Lúcifer abrecom uma HQ de Pavanelli,ilustrador da Folha de S.Paulo. Há também trabalhosde Maringoni (do Estadão),André ToraI, Mosquil,Carlos Matuck, Franco de
Rosa, José Daval e Louren
ço Mutarelli, premiadocomo a revelação da Bienalde HOs em 1991. Ainda dá
para achar a Lúcifer, por R$5,00.
FEV 95 - ZERO ZINE
5Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
vocalista e líder da banda TheDoors.
Luis Mendes é outro superherói da Ilha. Luis tem 28 anos, éilustrador do DC e faz cartuns
para a revistaEmpreendedor. Luisaprendeu a desenhar com ClóvisGeyer, chargista do DC, e observando outros desenhistas. AlémdeGeyer,foi influenciadoporKikaNovaes, mas como elemesmo diz,está "personalizando o traço" e
tentando seguir os estilos deDaveMckean e KentWilliams. Quantaà publi�ll de �us trabalhos,descbc� triste, mas não existemercado de trabalho em SantaCatarina" e acrescenta que "largaria tudo para viver dos quadrinhos" e ser conhecido por suas
criações.LuisMendes estáusando seus
super-poderes para conciliar trabalho e um curso supletivo, tudoiSSO para tentar cursar arquitetura. Ele diz que escolheu este cursoporque vai ajudá-lo a aperfeiçoarseu traço e a encontrar novos ângulos e sombras no desenho.
Fé nos quadrinhos - Masexistem os que usam o talento e
amor aos quadrinhos em trabalhosalternativos eaproveitamparadivulgar suas idéias. Um exemploéMichelson Borges, 22 anos, quetambém cursa Jornalismo na
UFSC. Michelson, que cita Deodato Borges Filho e John Byrnecomo suas influências junto com
váriosdesenhistas das editorasDCe Marvel. Ele faz parte da IgrejaAdventista do Sétimo Dia. Hápouco tempo, escreveu e ilustrouuma HQ para adultos pregandoreligião. Agora está trabalhandoem um similar para crianças, queserá distribuído pela Igreja.
Michelson ilustrou o primeiro RPG (jogo onde cada pessoarepresenta um personagem) catarinense, que também foi um dosprimeiros do Brasil. Depois de se
formar, Michelson tem empregogarantido na Casa PublicadoraBrasileira, editoraAdventista quetambém publica livros e revistascom mensagens para crianças e
adultos. Comooprópriodesenhista acentua, a finalidade de seu
trabalho é "tornar a Bíblia e a
religiosidademais acessíveis àjuventude".
£.,
NovaSampatraz de volta
Capitão MarvelA Nova Sampa Diretriz
Editora está trazendo devolta ao Brasil as
aventuras do CapitãoMarvel. As histórias sãooriginais dos anos 40,
onde o Capitão Marvel éimbatível, teimoso e até
mesmo ingênuo. A revistafoi relançada com o nome
de Shazam!,provavelmente para não
criar confusão com o
nome da editora norteamericana Marvel.
A revista faz parte dacoleção Invectus e estásendo vendida por R$
1,95. Impressa em papeljornal com desenhos em
preto e branco não muitosofisticados, contém
várias histórias, não sódo Capitão Marvel, mas
também de toda a
extensa família Marvel. Acapa é colorida e em
papel couché. A ediçãoconta ainda com um
prefácio de René Ferrique narra a história doCapitão marvel desde
1939, ano de sua
criação.Jefferson Da/moro
ZERO ZINE - FEV 95
Onde encontrar: NovaSampa Diretriz Editora
Ltda; Av. SenadorCasemiro da Rocha, 464
Cep: 04047-000São Paulo
Fone/Fax: (011)579-71976
Quadrinistas de Santa Catarina esperam em vãoporpatrocínio de editoras
Florianópolisnãotemmer
cado de trabalho para os
artistasdosquadrinhos. Aseditoras estão nos grandes
centros e não existem patrocinadores que aceitem bancar umapublicação. Com tantas dificuldades seria fácil desistir de desenhar.Mas os heróis daqui fazem bemmais do que os super-heróis dosquadrinhos. Enquantoesperam uma
oportunidade de publicar algo ou
de ir atrás das editoras, eles trabalham, desenham para publicaçõesalternativas e estudam. O que elesnão fazem é perder tempo.
Um desses corajosos é ZéDassilva, de 21 anos, que tambémescreve para este jornal, não poracaso. Zé se formou no Curso deJornalismo e, depois de adotar umpseudônimo, porachar onome Joséda Silva Jr. "comum demais", se
tomou mais um catarinense com
muitos trabalhos debaixo do braçoe com sonho de "viver das históriasque cria". "O problema é não teronde publicá-las" reclama Zé, quetem uma galeria de personagensinéditos, aguardando a hora de visitar as bancas.
Zé ainda está na dúvida entre
seguir a carreira de jornalista ou sódesenhar. A faculdade the rendeuuma intimidade com o texto e esse
pode ser um mercado mais garantido aqui. Enquanto não decide, elesegue escrevendo e, quando surgeuma oportunidade, publica seus
desenhos. Zé diz ter influências dequadrinistas como Laerte, Fernando Gonsales, Miguelanxo Prado e
Will Eisner. Ele também ilustra a
revista Inside, ex-chargista do jornal O Estado, faz trabalhos para oZero e trabalha como free-lancerpara a imprensa sindical, além depublicidade. Está publicando seus
quadrinhos no jornal/revistaifanzine Futio.
Migração - Para Zé, não háalternativa: o pessoal tem que sairpara fazer sucesso. E o lugar é SãoPaulo: "lá estão as editoras", mas oRio de Janeiro também tem algummercado. O desenhista gaúchoKipper, que já foi chargista do Diário Catarinense - DC, por exemplo,juntou suas histórias e personagens e foi para São Paulo. Hoje elemanda desenhos para as editorasdos Estados Unidos e recebe sem
sair do pais. Seu último trabalhopara a indústria norte-americanafoi a biografia de Jim Morrison,
_-- - - ----- - --- _--=_ - -
Confira o traçode Zé Dassilva e
Michelson
Borges (acima),e Luís Mendes
(ao lado), que se
auto-retratam
. especialmentepara o
Zero Zine Katiuscia Zanafta
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
DO TRAÇO EM PORTO ALEGREo III Salão Internacional de Desenho de
Imprensa reuniu mais de cem trabalhosbrasileiros, uruguaios e argentinos
Históriaem quadrinhos
foi a categoria quemaisteve trabalhos selecionados para a final do ill
Salão Internacional de Desenhode Imprensa, promovido pelosGrafistas Associados do RioGrande do Sul (Grafar) e a
Secretaria de Cultura de PortoAlegre. Os cinco premiados,escolhidos entre os mais de cemtrabalhos inscritos por desenhistas brasileiros, argentinos e
uruguaios, foram anunciados nodia da inauguração da exposiçãono saguão da Usina do Gasômetro, 15 de dezembro. Depoisdo encerramento, previsto para30 de janeiro, o Curso deJornalismo da UFSC pretendetrazê-la para Florianópolis.
A idéia do primeiro Salãosurgiu durante um debate sobrehistórias em quadr, ...
.,s. com
palestras de Joaquirrreonseca,Edgar Vasques, Goida e Santiago. Neste ano, subiu a premiação para cada categoria - deUS$ 200 para R$ 1.000 - e o
nível dojúri, formadoporJaguar,Luiz Fernando Verissimo, Angeli, os irmãos Chico e PauloCaruso (que seapresentaramcom
. sua banda no dia da premiação)e �rgarete �oraes, representante da SecretariaMunicipal deCultura.
Na categoria Cartum, venceuEduardo Ferreira Grosso, dePiracicaba (SP). Amelhorchargefoi do argentino Sabat Hermenegildo. Mandril/os Sphinx, dobrasiliense Carlos César LealXavier, venceu entre as históriasem quadrinhos. O prêmio na
categoria llustração ficou com o
"dono da casa"Eduardo Reis deOliveira, do jornal Zero Hora. A
melhor caricatura foi MichaelJackson, do também portoalegrense Ricardo Botega.
Retomo - O artista home
nageado nesta edição foi João
Baptista Mottini (1923-1990).Gaúcho de Santana do Livramento, ele começou aos 15 anos
cornoilustradordaEditoraGlobodePortoAlegre. Aomesmotempo em que participava de obrasdidáticas e livros infanto-juvenis,cornoOs três�que-teiros eAsaventurasdeG /;lliver, dedicavase à pintura. �jn 1946, foi paraBuenos AireirJ. onde colaboroucorn as prir .:ipais revistas doperíodo áurêo dos quadrinhosargentinos. Suas séries Aurélio,El Audaz e Las aventuras deBordon tojna,ram-se conhecidasem todo�aís.Ot1i'.6a"�I).og?rtQ Alegre, em11':5-L, rviottini for Uni. dos fundadores daCooperativaEdi-toradeTrabalhos e tomou-se célebrecom a série Os crimes queabalaramRioGrande,publicadapelo jornal Ultima Her-ra. Nosúltimos anos de vida dedicou-seà publicidade, rece-bendo o
prêmio Salão da Pro-pagandaGaúcha em 1980 e 1984.
FEV 95 - ZERO ZINE
�
.:{( '\
.... \\\,
Entre os selecionados do III salão, a charge cáusticado pintor Iberê Camargo por André Lieban, dois cartuns (esquerda e centro) do veterano Ronaldo Cunha Dias e
o talento emergente deMoacir Gutterres, Moa, da edição anterior.
Florianópolis está mal servida de lojas especializadas em
quadrinhos. Uma pesquisa feita na cidade sobre opçõesdas bancas e livrarias mostrou que o acervo de Has na
ilha deixa a desejar, se comparado ao que o mercado podeoferecer. Somente em poucas lojas é possível encontrarvariedade e qualidade.
A livraria Ex-Libris, no Beiramar Shopping, é a que ofereceo melhor estoque de histórias em Quadrinhos. Lá, o leitorencontra a série-saga da editora portuguesa Meribérica Líder,que ilustra histórias da Idade Média e compõe verdadeirasobras de arte. Um exemplar da série, que tem o tamanho deum caderno universitário, custa R$ 25,00. Bem mais em
conta, uma Ha de Moebius está custando R$ 8,45. A livrariavende também exemplares do autor Enki Bilal
Da mais procurados são os brasileiros Piratas do Tietê(R$ 16,00). Chiclete com Banana (R$ 16,00) e Los TresAmigos (R$ 10,00). Mas atualmente o gibi mais vendido em
Florianópolis é Sandman. Clássicos como Steve Canyon,
Mandrake, Flash Gordon e Dick Tracy, todos a R$ 6,35,tambémtêm boa vendagem. As novidades para osaficcionadossão as revistas espanholas Zona 84 e Cimoc e a ediçãoespanhola da francesa Metal Hurlant. Zona 84é composta porvários autores de diferentes linhas, mas as vendas da revistasão baixas. A falecida Metal Hurlant (ver texto nesta edição)tinha uma excelente equipe, vale a pena garimpá-Ia nos sebos.
locação - As eróticas são outra boa opção: Little Ego deRotundo e V81entina, de Guido Crepax, custam respectivamenteR$ 8,45 e R$ 8,00. A novidade da Ex-Libris é o sistema "HotLine". Basta você preencher um cadastro e pedir qualquernúmero das revistas distribuídas pela editora Devir que no
máximo em 20 dias você recebe os exemplares requisitados.A Banca Central é a mais antiga em atividade e tem
quadrinhos importados da Marvel e DC Comics por R$ 1,50.Outras publicações, nacionais ou importadas, em formatomaior e papel nobre, também podem ser encontradas. Alémdas Has tradicionais, a banca da rua Tiradentes, no centro,
vende e compra histórias em quadrinhos usada .. As revistasmenorescustam R$ 0,50 easmaiores, R$1 ,50 - ostítulos sãovariados.
Na banca de revistas Ilhabel, na rua Anita Garibaldi,podem serencontradosos importados E/leryOueen, Asimov's,HeavyMetal e Mad e os quadrinhos da coleção L & PM, quetraz títulos como Hagar, o Horrível, Nick Holmes (de AlexRaymond), Spirit (de Will Eisner), Billie Holiday - a DamaNegra do Jazz (do argentino Munoz Sampaio) e Valentina e
Anita.Outra alternativa é a Livraria Catarinense, que oferece
toda a coleção da L & PM, além do Diário de um Mago em
quadrinhos, de Paulo Coelho, por R$ 7,00 (Deodoro, 225). NaPapa-Livro, o acervo de Has é pequeno. A livraria alugaclássicos ilustrados de Edgar Allan Poe, Charles Dickens e
Herman Melville, cobrando cadastro de R$ 20,00 e mensalidadede R$ 10,00 (Ceisa Center, bloco B).
Daniela Cunha
Roteiro da HQ em Florianópolis
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
f
ZERO ZINE - FEV 95
Ai caramba!!!el Matador
está chegandoo quadrinista Angeli investe
na fama de 'essssino' e
lança este ano uma publicação que promete detonar.Matadorvai ter uma equipede produção, cor em todasas páginas e papel de luxo.A revista deve ser lançadapela Circo Editorial, quepublicava Chiclete com
Banana, e não terá apenasQuadrinhos. "Vou fazer um
joguinho de xadrez com
textos, fotos, fotonovelas e
sacadas em geral', avisaAngeli. Matador pretende seruma versão aperfeiçoada daChiclete, que foi um grande
sucesso editorial, chegandoa uma tiragemde 110mil
exemplares. "Com maisinfra e muitos colaborado
res", acrescenta o
quadrinista. AdãoIturrusgarai, criador doscowboys gays Rocky e
Hudson, deve assumir ocargo de diretor assistente.
Ulysses Dutra Neto
" .
... ". ...' ..
�T.�
SI MPRI' C.Ai wc MAlS UNO
Somambiente: salsa.
Margarita de birita.Guacamoles praapimentar.Quer más? Vá pro México.Ou então assuma o seu lado
junkie e dê as mãos pros Três Ami
gos. Más sexo, más drogas y más
guacamoles é com eles.O segundo livro de Angeli,
Laerte eGlauco pede tudo "demás".O lançamento, em novembro, naPaulicéia Desvairada, foi mui típico. O cenário mexicano foi montado naEscolaPanamericanadeArte,no bairro Jardins, por onde anda afina flor paulistana. Depois de umahora e meia de atraso los três ami
gos adentraram ao recinto embalados pelosmariachis. Três tocadoresde violas deram o ritmo da noitecaliente. O coquetel foi regado a
tequila e aquela pasta verde deabacate - a tão conhecida
guacamole. Blerc.Los amigos foram de copo em
copo autografando centenas de livros. A galerinha delirou com a
dedicação gráfica dos ídolos. É queeles não se contentam em-mandar
beijinhos e assinar o nome. Esqueceu que eles são artistas da pesada?E melhor: super animados com os
fanzocas. Rabiscam a primeira página do livro com os personagensmais sarcásticos. Isso quando nãoinventam na hora um novo
Miguelito. Isso depende da cara dodono do livreto.
Só que desta vez a obra-primanão passava pela mão de três, masde quatro. Adão Iturrusgarai, omaisnovo amigo, chegou para formar o
quarteto. Neste dia ele debutou oficialmente. Completou a mesa "florida de cabeças feitas". Los mata
dores de miguelitos são, no fundo,bonzinhos, simpáticos e brilhantes.
Los quatro amigos declaradosfizeram a festa. De vez em quandoum mostrava pro outro o que tinhaacabado de criar na mesa" de autó
grafos. Além dos livros; os pupilosentraram na fila com a coletânea do
anterior, os antigos Chiclete com
Banana, agendas e folhas amassa
das. Tudo valia de recordação. Nahora que Paulo Caruso e Kid Vinil,com seus livros debaixo do braço,se aproximaram, roubaram 30 minutos de atenção e as mais interessantes dedicatórias.
Please. Dá um time pra eu darumabicada na tequila. Ahh!! ! Mais
limão, mais sal. Que calor de loco!
Angeli, Laerte e Glauco lançam livro novo
de Los Três ...Amigos e apresentam o "quarto amigo"para a sociedadepaulistana
�
\NS'CRtPC'. N£$PArA �O CJJ.-��Or_
,..,AMIG.O ' t
MIGIJELIMS, TREMEI!/
"Más sexo, más drogas y más guacamoles" em Marisales
SLOSTrês Amigos fosse passar na telinha da
V acho que eles correriam o risco de ser
ensurados. Como os
scrotinhos Beavis and ........Butthead, queficarampor
,
um tempo fora do ar na MTV.Gracias que. os heróis
machistas-mexicanos ainda nãoentraram pra era eletrônica.Numa dessa eles pulam direto
pro CD-ROM. Quem sabe?Mas, porenquanto, estãoman
tendo a saudosa fase literária.
I.:en�oo segundo livro fui direto ver quem era o homenageadodessa edição. "El terrible Jaguar,que além de deixar su marca de
sangre, pólvora y terror por todoserton de Marisales, el infermolimpôel 'palo' nacortina". Pode?
E apolêmicadoquartoamigo tambémpinta nessacoletânea. Uma das histórias, 'EI Cuarto', faz umaparódia. Glauquito, Laertón e AngelVillaabremum
concursopara a escolhadesse camarada. Os inscritossão: Gerald Thomas, Jô Soares, Sharon Stone, Caetano e Gil. Os únicos que tiram um sarro dos mexicanos são os músicos, que obrigaram los três amigosa vestir parêo. Como dizem os garotos papa-macho:viraram maricóns. Politicamente incorreto, mas engraçado.
Vários personagens novos e repetidos aparecemnesse livro. Píter Coyote é um aliado para zombar dos
miguelitos.Don José Cuervo, arcebispo
de Marisales, tem um ninho defr e i r i n has-passar i n hoenclausuradas porbaixo dabatina. E élouquinhoporumapiDgaOutro muito doido é O Vierro deLa Lata. A barba dele tapa a
historinhadaMônica tatuada nabarriga OvelhoéCClllhecidotambém por não passar a bola. E o
pior é que nuncaninguémdescobriu onde ficaa suaplantaçiodemarijuana Que peninha!
As hermanas gipntas e siamesas, ConchayToro, acho quesão as mais sem sal. Na real 05iimira, mira, el cuarto amigo!!nossos amigos não conseguem
fazer asmulhéres brilharem. As que aparecem, até semimportância numa história, são deformadas pelas maravilhosas mãos radicais dos chargistas. Até a ptaSharon Stone émassacrada. AsmulheresparaLosTrêssão solamente fêmeas, no más.
Dáparaficar puta, mas tudobem, eles sãoadoráveis.
KIIfla Klock
Jornalista, repórter da 1V Bandeirantes-SP.Participou do primeiro ZERO-ZINE.
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
_-
Criador dapersonagem-simbolo da miséria
nacional, Edgar Vasques é boicotadopelosprincipaisjornais do país
Houveum tempona acredita que Betinho sabe queimprensabrasilei- filantropia não resolve o problema,ra, na década de masacampanhaserveparacolocar70, em que Edgar aquestãonabocadaspessoas. "CheVasques tinha no gou-se a falar nisso a nível naciosui dopaís otraba- nal, mas
eu�-ome articulei para
lho mais radical sobre a situação propor Ran como símbolo debrasileira na área de quadrinhos. porra nenhu a, mas se quiserem o
Pioneirona criação de personagens perSOnage�eleestá àdisposição",
que tratam damiséria e da fome no comenta R: , que ganhou doisBrasil, o gaúcho de 44 anos com- prêmios ARI (Associaçãopletou no ano passado 25 anos de Riograndense de Imprensa) decarreira e 20 anos de Rango, o cartum, um de charge e outro de
personagem mais antigo da im- ilustração no Salão Internacionalprensabrasileira. Para comemorar, de Des o de Imprensa de Portoeditou pela LPM seuprimeiro livro Alegre: �tualmente, Edgar dividesolo, Caras Pintadas, uma retros- s. e cartunista com a
pectiva de set...trab&�catu-.....�_ .&íçãodEnU'uriTa'asscssori� deraso
'
- _.
-
comunicação social da prefeituraEdgar se formou em arquitetura de Porto Alegre.
mas nunca exerceu a profissão. O Em 1991, Santiago, outro deseinteressepor quadrinhos surgiu em nhistaarnigo de Edgar, teve um dos1970, ainda na faculdade publicou seus personagens, o MacanudopelaprimeiravezRango, na revista Taurino (típico gauchão), compraGrilus.Rangocontinuadesdeaque- dopelojornal Zero Hora. Só que ola época, sendo um retrato nu e cru jornal publicou a tira do personadopovão, "nadando sempre contra gem apenas uma vez, sem cumprira corrente", como Vasques definiu o contrato. Para Edgar, "a sociedaseupersonagem. AacidezdeRango de gaúcha já discute bem mais o
provocou boicote dos grandes da papel destaimprensa, especialmenmídia e hoje até mesmo no Rio te quando ela se diz imparcial e aoGrandedoSul, dificilmente as tiras mesmo tempo promove um candisão publicadas. ''Eles continuam dato".Estamesmaimprensaboiconos ignorando olimpicamente. O tou Rango, que chegou a sumirpoder político é tão grande que, se algumas vezes do jornal, não poranoticianãoaparecernoZeroHora, proibição da ditadura, mas por sernão aconteceu", dizEdgar, que não um personagemmarginal. O únicovê possibilidade dessa. situação choque direto com os militares foimudar. Rango já foi publicado no em 1977. Ano em que��uim foiMéxico e em Paris. "Uma leve recolhícn de todas as bancas docarreirinha internacional". Atual- país. .
mente, as tiras deRango são distri- Em uma tira, durante a semana
buídas pela Pacatatu do Rio de da Pátria, Rango fazia alusão ao
Janeiro. Osjornais quepublicam as modo como os militares se apossatiras são: O Povo de Fortaleza, Di- vam dos símbolos nacionais. Eleário dePernambuco,FolhadeLon- respondia a outro personagem didrina e Diário de Bauru. zendo que estava amarelado de ic-
Rango foi adotado como símbo- terícia, azulado de anemia e
lo da campanha contra a fome em esverdeadodefome. EdgartevequePorto Alegre, quando ninguém se responder inquérito na Polícia Fepreocupava com o assunto. Edgar deral junto com Jaguar, editor do
.......�.
rjornal. No final, quando o processochegou à justiça, os juízes civil emilitar acabaram achando que nãovalia a pena encrespar e que "eratudo bobagem".
Trabalhando no extinto jornalFolha da Manhã, Edgar e Fraga,seu companheiro e humorista detexto,propuserampara adireçãodojornal a seçãoQuadrão. Eles achavam que havia muita gente quefazia cartuns e quadrinhos em Porto Alegre, mas não tinha lugar para
.
publicar. A direção do jornal concordou e o Quadrão, que começoua ser editado com apenas umapágina, terminou em quatro. Durantetrês anos, entre 73 e 75, foi publicado todos os sábados e depois repetido no Coojomal. A seção recebiatrabalhos de cartunistas como Santiago e Schroeder, que trabalhamhoje no Correio do Povo.
Sabendo que o cartum é a artemais premiada no Rio Grande doSul e que era necessário dar um
", tv6
,
nunnno de insntuciouanoace paratodos os artistas, Edgar e o;
cartunistas veteranos criaram en
1988 a Grafar (Grafistas Associados doRio Grande do Sul), que tev.nomes hoje conhecidos nacionalmente comoAdão Iturusgarai, Iottie Moa. Edgar vê a Grafar comouma associação "totalmente anárquica, sem carteirinha e sem men
salidades, mas que transmite novosconhecimentos para a nova geração". No dia 14 de dezembro a
Grafar promoveu a terceira ediçãodo Salão Internacional de Desenhode Imprensa (ver texto nesta edição). O evento surgiu de várioscursos de desenho e roteiro que a
Associação já realizou. A Grafarpromove reuniões todas as quintasno CentroMunicipal de Cultura dePorto Alegre.
Lúcio Lambranho
mar
em
da
FEV 95 - ZERO ZINE
•
1mpreDsa 9
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Arco-íris deCaruso retraia
opicadeiroOs políticos nunca conse
guem escapar das mãos doscartunistas. Uma prova sãoos políticos brasileiros, quetêm agora suas "peripéci
as" reunidas no livroO Circo do Poder,
do cartunista PauloCaruso. São 60 charges,publicadas durante 1994
na revista lstoé, queretratam os acontecimentos
políticos do ano.
O livro é o sexto da sérieAvenida Brasil. Já foram
lançados os livros branco,vermelho, amarelo, azul e
verde. O último é roxo e
completa o arco-íris dasobras do cartunista. O
lançamento foi em dezembro no Circo Escolar
Picadeiro, com a presençado também cartunista Chico
Caruso, irmão gêmeo e
parceiro de Paulo.
Daniela Cunha
-
ZERO ZINE - FEV 95
-----�---------------------------------------------------------------------------
$(f fAlTA fllfl#?COVS7RUiR4
� R4DiCfJiÂNJ1i1.'
- /
izoti- -
iceiJ{Q de Bombacha é moia entre gaúcfws
a vida de Fellini, o gato. setas, bonés, abrigos, cue- uruguaio Tabaré. Todos puIottitambém já produziu a cas,adesivoseatécofrinhos blicados em preto-eHQ de uma guerra de mídia com a estampa do persona- branco e com personagensentre Deus e o Diabo, pu- gem. Em Caxias, �� capital cômicos, propícios ao es
blicada em formato de li-
enointeriOr,onde<'iICjibizónpaço da HQ brasileira.
vrinho. circula, Radicci é .
n bem- Radicci consegue serum
Opersonagemprincipal, sucedido personag m de personagem multimídia.
Radicci, tem sua aceitaç}o HQ regionalista.' Além dos quadrinhos, umaimpulsionadapelaidentifi- OcriadordeRadiccinão banda foi formada em Ca
caçã� �m o gaúcho de ori - acredita que estesuc�s-o se xias il:,spirada no personagem italiana, Radicci apre- restrinja aos locais ? !\� gem. E o "Conjunto Producia chimarrão, usa chapéu, obr� provoca IQ�tificaçci.u . "'0 da�_S'W};da<Íç Caxi
lenço no pesco- .:7 ....-,. . ---: com o leitor. ense", onde o vocalista é o
ço e possui uma P"fu�:��z e» iJ'r) : "Histórias desse próprio Iotti. O quadrinista
barba picada e � fi], t .
..,. tipo possuem faz as letras das músicas e
um bigodão..;
tema universal e as interpretacom o sotaqueAlém dos leito- são inteligíveis de Radicci, típico do local:res usuais de emqualquerpar- gurrizada, rivista, botemo,quadrinhos, o te". Como exem- gibizon. A banda foi citada
personagem al- plo, ele cita os na revista Bizz e tem algunscança gente de caubóis e o hits nasFM's dePorto Ale-todas as idades hollywoodiano gre, como Me perdoe Ge-
-noextintojomal caxiense Crocodilo Dundee, "o noveva e Chá de Cogu.Folha de Hoje, Iotti publi- Radicci da Austrália", na Casado, pai de um filhocava um suplemento infan- visão de�. "com dois anos de idade e
til, inclusive com uma pá- Na formação do d:se- 38 graus de febre", Iottigina doRadicci parapintar. nhista caxiense Iotti não conquistou o mercado do
Loja do Radicci - A re- constam os considerados gaúcho com um personavista, mantida pelos anún- "grandesquadrinistasinter- gem regional. E, mais: comcios,mostraoRadiccisem- nacionais". Ele lembra de uma editora própria, indeprecomogaroto-propagan- ter sofrido influências do pendente das grandes edida Há também uma loja, a trabalho de Angeli, dos toras que insistem em não
"Radicci Club", que vende quadrinistas gaúchos das apostar na HQ nacional.avental dechurrasco, cami- décadas de 70 e 80, e do ZéDa_lva
uito além dos
grandes centros edas principais
editoras, o quadrinho naci-onal faz sucesso. EmCaxiasdo Sul, no interior do Rio
, Grande do Sul, o personagem Radicci é moda na cidade. O responsável pelaobra é Carlos Henrique
I.
Iotti, 30 anos, caxiense,quadrinista e músico.
A âncora do sucesso deIotti é a revista Gibizán do
Radicci, lançada em fevereiro deste ano, em ediçõesbimestrais. A capa é colori-
da, papel couchê e o miolo
completa as 40 páginas empreto e branco. Com colaboradores como Santiago e
Verissimo, a revista saltoudos 3 mil exemplares iniciaispara os 10mil,nonúmero 4, publicado em outubro.
O Gibizon traz coletâneas de tiras já publicadas emjornais junto com históriascurtas e inéditas. Além do
Radicci, a revista apresentaoutros personagens criados
por lotti. Um caso é a duplaFederido eFellini. Federicoé ummenino que atormenta
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Extremamente regio�al -
e extremamente uruver
sal, a um só tempo. Estarara capacidade de travar contatoe empatiaimediatas comvariados
tipos de leitores, através de um
grafismo de linhas claras, sofisticadamente simples, pode ser no
vamente constatada no álbumPovaréu. Nas 28 páginas da obra,lançadahápoucopelaL&PM Edi
tores, de Porto Alegre, NeltairRebés Abreu, oSantiag�aao público uma coletânea especial. Ou melhor, com uma de suas
especialidades: os grandes painéis, lotados de gente e de humanidade. São 13 panorâmicas, desenhos onde consegue dar plenaindividualidade a cada membroda multidão.
Com uma apurada capacidade de observação, a serviço dohumor, do lirismo, da critica social e até do insólito, o gaúcho Santiago retrata nas 13 pranchas quecompõem Povaréu uma síntesedo ser humano e suas principaisnecessidades, motivações, alegrias e problemas. O cenário podevariar do rural (cenas da vida
campeira, um boteco de gaúchos)ao caótico centro de uma grandecidade, ou ao falso chique de umrestaurante caro. O que nãomudaé a abundância de detalhes, a visão minimalista que a todos os
elementos retratados confere im
portância.Em Santiago, o absurdo e o
inusitado convivem - mais oumenos pacificamente - coma norma
lidade aparente das coisas. O te
são, a raiva, a ostentação, a amizade, a briga e o ódio - tudo isso e
muito mais, filtrados pelo humore oamor aos personagens, tornamessas panorâmicas atraentes. Épreciso atenção, e uma segunda -
ou mesmo terceira - leitura parasacar todas as armadilhas que o
desenhista armou. Aí então vocêvai notar uma inesperada transa
de cachorros através deumaárvoreo Ou um autêntico extra-terres-
."
GOtre desapercebido na multidão
apressada. Ou a personagemMafalda (do cartunistaargentinoQuino) entre as crianças no pátioda escola. Ou ainda um
indefectível punguista que, comarte certeira (inexistente nos atu
aisassaltantes e trombadões), pinça a carteira no bolso da vitima,enquanto olha inocentemente
para o lado.Seu desenho é registro de
nosso tempo e de suasmudanças,e é também invenção. E não raro- como em outros criadores visuais (Hitchcock, por exemplo) -
podemos encontraropróprio Santiago auto-retratado em algumcanto de suas pranchas. Nota-seque a seleção e edição destas pa-
norâmicas (de várias épocas dacarreira do artista) busca pegarcarona no sucesso mundial, e brasileiro, da série Onde está Wally?Tambémnas pranchas criadas peloamericano Martin Handford en
contram-se multidões, nos maisvariados cenários e atividades. E,nomeio delas, difícil de ser localizado, embora a camisa listrada e o
gorro na cabeça, o protagonistaWally.
. Atento ao apelo potencialque seu trabalho tem junto às cri
anças (apesar de nunca ter editadonada especialmente para elas, aoque parece), Santiago avisa, na
capa de Povaréu: "Não é proibidocolorir, pintar, bordar, nem procurar o cachorrinho." Nas páginas
Jornalista e escritor, autor de Tiques e Taques(poemas, Editora Klaxon, São Paulo, 1983), A
Impressão da Cultura (ensaios jornalísticos, Editora Sulina, Porto Alegre, 1990) e Lá Vem o QuePassou (poemas, Secretaria Municipal da Cultura, Porto Alegre, 1993).
finais do livro (um dos campeõesde vendagem da 40 Feira doLivrode Porto Alegre, entre outubro e
novembro de 94), fichas de leituradesafiam o público a encontrar
este ou aquele bonequinho nos
desenhos - exatamente comoacon
tece na série Wally. Só que, nocaso de Santiago, o chavão é perfeitamente cabível e verdadeiro:trata-se de diversão qualificada -
com uma pitada de reflexão crítica - para leitores de todas as idades. Mesmo.
José Antônio Silva
o caricaturista brasileiroLoredano Cássio Silva Filholançou recentemente, pelaEditora Globo, o livro Loredano,um balanço dos seus 22 anos decarreira. Em 176 páginas, a obratraz interpretações de 300personalidades, brasileiras e
estrangeiras, do mundo político,cultural e artístico.Carioca, 46 anos, Loredanocomeçou a trabalhar na imprensacomo jornalista e por volta de1972 conheceu o caricaturistaargentino Luiz Trimano, o artistaque mais o influenciaria. Depoisde alguns anos dedicados a
caricaturas não políticasLoredano partiu para a Europa,onde durante seis anos foicolaborador de diversos jornais.Entre esses se destacam LaStampa e La Repubblica, na Itália,Libération, na França e FrankfurterAllgemeine, na Alemanha. Entre1984 e 1992 viveu na Espanhacolaborando intensamente com o
jornal EI País, principalmente com
caricaturas políticas.Atualmente vivendo no Rio,Loredano decidiu publicar suacoletânea de caricaturas como
conseqüência natural de seu
trabalho de revalorização dasobras de grandes caricaturistas,como Nássara e Trimano. Emoutubro, o artista brasileiroapresentou seus trabalhosnaFeira Internacional de
Frankfurt.
Jaime Luccas
FEV 95 - ZERO ZINE
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Lei completa 32 anos sem ser cumprida·Decreto nº 52497, de 23 de setembro de 1963,
disciplina a publicação de histórias em quadrinhose dá outras providências
o Presidente da Re
pública, usando da
atribuição que lheconfere o art. 87, itemI, da ConstituiçãoFederal e
Considerando a imperiosa necessidade de
disciplinar a exploração das chamadas histórias em quadrinhos,dada a influência queexercem sobre o con
dicionamento emocionaI e a formação mo
ral da infância e da
adolescência;Considerando quemuitas dessas publicações inserem histórias de cunhopolíticoideológico, ou estam
pam cenas altamenteprejudiclais à boaformaçãomoral e mental
da adolescência e da
infância;Considerando a freqüência com que as
histórias publicadaspelas revistas e jornaissão divorciadas no
nosso contexto cultural;Considerando a con
veniência de se utilizarem, para a formaçãode uma consciênciahistórica nacional danossa juventude, cer
tos tipos e mitos folclóricos brasileiros,inclusive curiosidade
referentes ao meio físico, fauna e flora;Considerando que a
enorme quantidade domaterial estrangeirodestinado à substituição do gênero entra
no país sem pagarqualquer taxa;Considerando quecumpre ao Governoevitar a evasão de divisas com importação dematerial desnecessários em virtude da existência de congêneresde produção nacionaldecreta:Art 1- As empresaseditoras de históriasem quadrinhos deverão publicar no con
junto de suas edições,histórias em quadrinhos nacionais nas se
guintes proporçõesmínimas: 30% (trintapor cento) a partir deI de janeiro de 1964;400/0 (quarenta porcento) a partir de 1 de
janeiro de 1965; e,
finalmente, 60% (sessenta '���" cento) ..�partir de 1966.
1 - Para efeito decálculo da percentsgem a que se refereeste artigo, levar-se-áem conta tanto o número total de revistasde histórias em quadrinhos publicadaspor editora, quanto o
número de páginas do
conjunto de ediçõesdo gênero, feitas mensalmente por empre-sas.
2 - Quando se tratarde jornais, a percentagem será contadaem função do númerode "tiras" de históriasem quadrinhos publicadas por exemplar.
Lei de reserva de mercado garante60% para produção nacional mas não
é cumprida por jornais e editoras
osquadrinhos nacionais nunca che
garam a ter o mesmo espaço dasHQs importadas, por isso os
argumentistas e desenhistas brasileiros sempre precisaram enfrentar a
falta de interesse do público e, principalmente,das editoras. A concorrência desleal do materialimportado, publicado massivamente no país -
porque custamais barato para a editora do quebancar uma produção nacional - mantém a
maioria dos desenhistas desempregados ou trabalhando em outras áreas.A vontade demudar esta história émais velha
que amaioria dos leitores de HQ no Brasil. Em1963, o presidente João Goulart assinou urn
decreto que garantiareserva demercado de 60%� para histórias nacionais. Mas os interesses po-�,ol líticos das grandes editoras e dos jornais, que
_e, 1\ não queriam e não querem este tipo de lei,, dos n. :��baram �d(Pcom que ela não fosse regu
lamentallii: --Antes mesmo do decreto ser promulgado, o
jornal O Estado de São Paulo publicou, em 29de junho de 1961, urn artigo em que dizia ser
"absurdo o projeto visando anacionalização dashistórias em quadrinhos." Junto com as pressões de outros grandes jornais da época, a leiacabou praticamente esquecida e os desenhistassem urna posição definida, já que o decreto.previa a regulamentação de um código profissional para a classe. Além disso, a lei foi criadapara tentar evitar a entrada de histórias estrangeiras no Brasil, que não pagavam impostos e
ainda difundiam valores culturais de outros
países. Para combater isso, outro item previa o
uso das HQs produzidas aqui para divulgar acultura brasileira.Em 1981, um deputado paulista reapresentou
a lei ao Congresso Nacional, mas as editorasconseguiram que o texto fosse alterado antesmesmo de ir à votação. Todas as históriastraduzidas no Brasil passariam a ser consideradas nacionais. Desta maneira, qualquer HQimportada tornava-se brasileira e os 60% dareserva de mercado eram cumpridos. Com este
artificio, não havia mais necessidade de se
pagar a produção nacional e, pela segunda vez,as editoras deram uma rasteira nos artistas brasileiros e inviabilizaram um mercado potencialpara a sua produção.O ex-deputado Ibsen Pinheiro percebeu o
"engano" na redação do decreto e levou o
problema à Comissão de Justiça da CâmaraFederal, que convocou representantes das editoras e dos desenhistas para resolver a questão.Henfil, Fortuna, CláudioPaivaeEdgarVasquezforam a Brasília representando os quadrinistas,mas o acordo entre empresários e arti stas não
Luta porespaço divideartistaso Zero ouviu alguns dos auto
res do mundo dos quadrinhos,chargese cartunsbrasileiros, sobre o decreto n!! 52497, que garante a reserva de mercado de60% para as HQs nacionais.
"Já fui a favor, já fui contra. Acho queuma reserva de mercado não tem sentido. O espaço pode ser conquistado, e
uma lei assim não ajuda em nada. É difícilganhar da DC e da Marvel. O quadrinhobrasileiro jamais vai se firmar em definitivo, por causa das características dacultura brasileira. Vou procurar outrasáreas de trabalho, como o teatro e o
cinema."
Angeli, criador da revistaChiclete com Banana
"Acho meio ridícula esta lei. Não se podeimpor condições no mercado. A HQ brasileira deve se impor para o leitor. A saídaé o humor como o Laerte e as editoraspequenas estão fazendo. O público nãoacredita no material brasileiro porque a
cultura estrangeira é muito forte aqui."Leandro Luigi Del Manto,editor da Editora Globo
"É bom uma reserva de mercado que criaum mercado livre para a HQ nacional.Nossos quadrinhos só são ruins porfaltade incentivo."Santiago. ca�nnrtagaúcho
"Sou a favor dalei. O mercado de quadrinhos no Brasil já é definitivo e viável."
lotti,criador do Radicci
"Uma lei assim pode ser complicadapara os quadrinhos brasileiros. Como o
preço dos importados é bem mais barato, isto pode acabarfazendo com que as
editoras simplesmente parem de publicar quadrinhos de qualquer nacionalidade."
Fernando Gonsalescriador do Níquel Náusea..
FEV 95 - ZERO ZINE
saiu. Os deputados preferiram ficar em cima domuro e pediram veto à lei de 1981 para o entãopresidente João Figueiredo. A Comissão deJustiça exigiu uma nova redação para a lei e umacordo posterior entre as partes, que nunca
chegou a acontecer.Conforme o Prodasen (Processamento de
Dados do Senado), responsável pela atualização das leis brasileiras, o decreto continua em
vigor, sem ser cumprido. Há 31 anos a situaçãodos quadrinhos nacionais continua amesma, asoportunidades oferecidas pelas grru;eies editoras aos desenhistas são mínimas. 1, para não
depender deste "espaço", a saída éíerriscar nasproduções independentes. Para ; desenhistaSantiago, que atualmente faz charges e cartuns
para jornais sindicais do Rio cgande do Sul,essa situação poderia começar�l mudar se os
desenhistas de todo o país se /�issem em um
sindicMo.lije acredita que fi'" t.::n���:. ...1� -ssim
teriamais ffli 'Y" �"tÍlaIlCeS de brigar pela regulamentação da lei. "
"Seria muito bom se o
público percebesse que o
material produzid.o no
Brasil, e por brasileiros,é tão bom ou até. melhordo que muita coisa Q4J;6ifPvem de fora. Mas paraisso acontecer é preciso
(tUB. exista um lugar dignoe definifvo para a HQbrasileira no mercado"
Edgar VasquezJá Edgar Vasquez, criador do Rango (veja
perfil nesta edição) e diretor de arte da assessoria de comunicação da prefeitura de Porto Alegre, acha que um sindicato não é a saída ideal.Para ele, a "classe é muito desunida e algunscartunistas não querem a lei. Como o Ziraldo,que é contra a reserva de mercado e acha que o
quadrinho nacional deve competir com o es
trangeiro. Seria muito bom se o público percebesse que o material produzido no Brasil, e por
brasileiros, é tão bom oumelhor quemuita coisaque vem de fora. Mas para isso acontecer, épreciso que exista um lugar digno e definitivopara a HQ brasileira no mercado."lotti, criador dos personagens Frederico &
Fellini, também acha isso. Completamente a
favor da reserva de mercado, ele afirma que háum campo de trabalho definido e que a HQnacional é viável. A prova disto é a editora doautor, que lança no Rio Grande do Sul os
trabalhos dos desenhistas gaúchos, com tiragens mensais de 10 mil exemplares.Outro exemplo é a Agência Funarte - uma
versão nacional dos Syndicates norte-americanos (detentores dos direitos de distribuição) -
que publ.cou, de 1985 até ser extinta pelogoverno Collor, uma página só com tiras deartistas brasileiros no Jornal de Brasília. O
preço do material era o mesmo das tiras americanas e 70% do lucro ia para os desenhistas,euquanto o restante ficava para a agência.Logo depois do fim da Funarte, um dos seus
membros resolveu continuar dando força aos
quadrinhos brasileiros. O ex-colaborador dojornal Pasquim,Ricki Goodwin, fundou aPacaTatu e continua distribuindo as HQs brasileiraspara diversos jornais do país.Sacanagem - Apesar deste apoio, os qua
drinhos nacionais continuam marginalizados e
quase desconhecidos do grande público. A editora Abril, por exemplo, não publica nenhumahistória nacional desde que Mauricio de Souzalevou a Turma da Mônica para a editora Globono fim da década de 80. O diretor responsávelpelaAbril Jovem, Sílvio Fukumoto, afirma quea editora já publicou HQs brasileiras, mas nãodeu certo. "Publicamos Os Trapalhões e OMeninoMaluquinho, mas o mercado não aceitou. O público prefere o material estrangeiro,que tem melhor qualidade.
"
Fukumoto garante que a Abril é a favor doquadrinho brasileiro, tanto que a editora man
tém urna equipe de desenhistas, roteiristas e
arte-finalistas produzindo o material dos Estúdios Disney no Brasil, em Zé Carioca,Margarida, Urtigão e O Pato Donald. Se é que podemos considerar o mundo Disney como "quadrinho nacional."Mas, com certeza, a HQ brasileira foi traída
por quem tradicionalmente mais dá apoio aos
quadrinhos: os jornais. As tiras diárias, queimortalizaram asHQs, não oferecemmais espaço para os desenhistas do Brasil. A maior partedelas, publicadas em quasetodososjornais, sãoimportadas e apenas a Folha de São Paulo e o
Jornal do Brasil cedem espaço considerável aoautor nacional.
Reportagem: Alessandro da Silva
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
" ..• I
I• ,
I,
, ,
,
.. �.'t. "
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
,
ararso
')"Tem uns caras que casam e
trazem a coleção aqui, porque a
mulher não quer aquela bagulhadaem casa e a mãe diz que não tem
mais nada a ver com isso. "
.FEV 95 - ZERO ZINE
A Gibiteca Henfilpossui 30 mil obras e
recebe 200 leitorespor dia, mesmo sem
apoio da Secretaria de Cultura de SP
Umano e meio lendo ou quatro malucos". MágoaAntiga - Além de
�uadrinhos sem p�rar! Este Agendacheia-Oacervofoicrescendo tudo isso, os faozines Saga,e o tempo que sena neces- à medida em que a Gibiteca foi Panacea, Marvel News,sário para esgotar os 30mil ganhando divulgação nos meios de Círculo dos Quadrinhos e
volumes da Gibiteca Henfil, de São comunicação. "Temcarasquecasam Clipping também têm horasPaulo. As opções vão do infantil ao e trazem a coleção aqui. A mulher reservadas para suas reuniões de
pornô e incluem, além das revistas de não quer aquela bagulhada em casa pauta. No escasso tempo que sobra,linha, centenas de álbuns, outro tanto e a mãe diz que não tem mais nada os membros da Associação dede faozines, quase todos os livros com isso" , diverte-se Klink. Quadrinistas e Caricaturistas de Sãopublicados no Brasil sobre o assunto Entretanto, ultima te a falta de Paulo (AQC-SP) se encontram. Sãoe cerca de quatro mil obras pessoal, de material todas iniciativas sem qualquer ajudaestrangeiras, entre elas gibis feito com que as daPrefeitura,atéporqueoficialmenteportugueses da década de 30 - as recusadas. aGibitecanemexiste,jáqueoProjetomaiores raridades do acervo. As revistase oarquivadasem de Lei que a cria não foi aprovado.
Há oito mil sócios da gibiteca, caixas de leit' adaptadas, os A bro. dos fundadores dana maioria adolescentes. Para se faozines empi dos em caixas de Gibitecaoofiia SecretariadeCulturacadastrar e poder levar os gibis para televisão, os
.
ngás ainda nem remonta a uma questão anterior àcasa, não é preciso pagar taxa de foram catalogad se - o pior de tudo financeira. Ela se chamaria Victor
inscrição nem mensalidade, basta - é comum mirem revistas. Civita, em homenagem ao então re-morarnaGrandeSãoPauloeterficha "Esqueç qua rcoisaqueenvolva cém-falecido fundador da Editora
limpa no SPC. Cerca de 200 pessoas dinheir()� ". \ �»�do por Abril. Marilena Chauí, secretária dovisitam a Gibiteca pordia�W ·�et apoio dã"'Secret�l�,�emodeLuízaErundina,mandouler sentadas à mesa ou dei�----apesar de toda a badalação da mídia ãóis bil},,�ha� primeiro diziaalmofadas. Estão à disposição quase - do Fantástico inclusive - e do "pensem no nom 'de Henfil" e o
lOmilvolumes, os números repetidos sucesso dos eventos promovidos. segundo "a Gibiteca irá se chamareos 800mangásjaponeses. Revistas E são muitos oS.J:.",�ntos_EV1 . Henfil", "É inegável o .mérito daque têm um único exemplar ficam meados de outubro, por exemplo, o obra de Henfil, mas civita fezmuitonum recinto fechado e só podem ser novo álbum de Lourenço Mutarelli pela realização de nosso sonho", dizacessadas se solicitadas. foi lançado na Gibiteca e vendeu Klink.
Os cinco funcionários são pagos noventa exemplares numa só noite. Problemas à parte, a Gibitecapela Secretaria de Cultura da cidade Pouco antes, houve uma exposição MunicipalHenfil vai sobrevivendo ede São Paulo, que cedeu espaço na sobre o Fantasma. A Gibiteca visitá-la é obrigação para os fãs deBiblioteca da Vila Mariana para que participa das tantas mostras quanto quadrinhos. Ela fica na rua Senaa Gibiteca fosse instalada, aprovei- possível, das Bienais deQuadrinhos Madureira número 298, Vila Matando a ressonância do boom dos e promove os prêmios Angelo riana,dezminutosapédoParquedoquadrinhos no final da década de 80. Agostini e HQ Mix. Na manhã do Ibirapuera. Para quem quiser fazer"Klink", que não revela o primeiro primeirodomingodecadamês, abre contato à distância, o CEP é 04021-nome "porque é muito feio", conta suas portas para uma feira de troca 050 e o telefone (OIl) 574-0389. Oque em maio de 1991, quando a de gibis. As tardes de sexta eos horário de funcionamento é das 9 àsGibiteca foi inaugurada, havia pouco sábados estão reservados aos joga- 20 h, de terça a sexta, e das 10 às 17maisdemil exemplares, todos doados dores deRPG. Nos domingos à tarde h aos sábados e domingos.por seus idealizadores - elepróprio, o é oencontro doOrcade, um grupofieescritor Álvaro deMoya e mais "três fãs dos quadr�os japon� Maurício Oliveira
f'
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Gibispodemter espaço na
biblioteca. Santa idéia, Batman!
. Isso mesmo Robin, estãoquerendo criar uma gibiteca na
,UFSC!
E verdade, Batman, Robin,Mônica, Tio Patinhas e companhiaterão um lugar reservado só para
eles na universidade, Emoutubro, professores,
bibliotecários e especialistas emHO discutiram a possibilidade decriar um setor especializado em
quadrinhos na BibliotecaUniversitária. A principal questão
do Seminário sobre quadrinhos,promovido pela própria
biblioteca, era até onde os
quadrinhos podemser um produtode enriquecirrento cultural ecomo ele pode ser usado de
forma didática no ensino infantojuvenil.
De um lado professores e
especialistas em HQ, como o
quadrinista e cartunista deFlorianópolis Zé Dassilva, usavamtodas as armas para provar que
os quadrinhos podem trazervantagens para a universidade.
Do outro, bibliotecários e
rrembros do ConselhoUniversitário ouviam, céticos,
não acreditando que o velho gibipudesse ser útil de uma outra
forma, que não a da pura e
simples diversão aos estudantes.fkpois de algumas horas deexposição de argurrentos, a
opinião final foi unânirre: umagibiteca só traz vantagens para a
Biblioteca. "Ogibi serve como
ponte para aqueles que não lêemnada até a literatura, é um
estímulo para se coueçst a ler",dizEglê Medeiros, escritora e ex
assessora da Fundação Nacionalpara o Uvro Infantil. Zé Dassilva
lembrou que além de ser um localde estímulo à leitura de
quadrinhos, a gibiteca pode darapoio aos desenhistas locais,
estimulando a produção dequadrinhos regionais.
&boços - Apesar de todo apoioque vem recebendo esta históriaainda está nas prirreiras traças.
Um projeto específico para a
criação da gibiteca não foipreparado, questões como
acervo, local e verbas não foramdiscutidas oficialrrente. Existemidéias, e uma delas é conhecer
gibitecas maiores e mais antigas,que possam repassar suas
experiências. Um bom exemplo éa gibiteca municipal de São
Paulo, ou Gibiteca Henfil, como émais conhecida. Ela é a maior doBrasil e dispõe de mais de 30 niltítulos. Lá todo acervo foi obtidoatravés de doações, inclusive de
editoras especializadas emquadrinhos. Aqui a gibiteca da
UFSC quer levantar seu materialda rresma forma.
O acervo deve ser bem eclético,com obras que vão desde o estilo
Mônica até áfbuns de luxoeuropeus. Assima gibiteca
atinge um público variado. Masnada está definido, o que resta éesperar o próximo capítulo paraconhecer o final desta aventura.
Van Boechat,
ZERO ZINE - FEV 9516 I
--- -
A hislólia de um ex-olonisfapolicial que hoje 'alula milhões de dólales
Todomundo conheceMau
rício de Sousa. Desenhista e empresário, 59 anos,
pai de cerca de 200 personagens que vendem milhões derevistas por mês, "O Mais BemSucedido Quadrinista do Brasil". Só que nem sempre foi assim; no começo da carreira, o paida Mônica e do Cebolinha teve
que enfrentar o dia-a-dia de um
repórter. Ele aceitou o cargo na
Folha de São Paulo em 1955
porque parecia ser o único meio
que tinha para publicar seus desenhos. "Na época, a única vagaera a de repórter policial. Cheguei no primeiro dia de trabalhovestido a rigor, com capa e cha
péu. Foi muito engraçado, todomundo riu", conta.
Mauríciotrabalhava feito louconaqueletempo. Duranteodia,como repórter. À noite, como
desenhista. "Lá pelas 3 horas damanhã precisava parar, não
agüentava mais". Como naquelehorário não tinha condução paravoltar para casa, às vezes elejuntava três cadeiras na redaçãoe dormia ali mesmo. Em 1959,começou a publicar na Folha as
primeiras tiras do Bidu, que no
início eram semanais e sem assinatura. Um ano depois, encerrousua carreira na editoria de polícia: "Tive muita sorte. Em cincoanos de atividade,jamais vi sangue". Ainda em 1960, semudoupara Bauru (interior de São Paulo), onde nasceu Mônica, sua
segunda filha. Foi numa tira do
Cebolinhaqueopersonagem ins
pirado nela apareceu pela primeira vez, e roubou a cena.
O ano era 1963 e Mauriciotinha voltado a São Paulo paratrabalhar na Folhinha. Ele precisava de uma menina para dividir as tiras com Cebolinha,Franjinha, Titi e Jeremias.Achou o que procurava na própria filha, com dois anos e meio,
?J'briguenta e sempre agarrada ao comumatiragt ude2milhõesdeseu coelhinho de pelúcia . "Ge- exemplares. tralmente me inspiro em pessoas Aprincipalint# uênci.adeMaude verdade e com todos os perso- ricio de Sousa f�l� as revistasnagens tenho uma rela� depai da Rio Gráfica Ed.Qtora da décapara filho. Quando tenho que dade40,principahl enf.eoGimeaprovarumahistóriadaMônica, o GloboJuvenil.:tI� sua infãnvejo como ela está vestida, se cia, as histórias �ft.l3drinhosnão�, agrc::s�iv� demais, se o ����er;dflS:ft;a Ji.w',.�fo�que diz e pOSItIVO . ���..�.�ças.�llA!l •.Ja-
Tanta "corujice"1m! fWlicaL' aotevesorte: seupai achava queção. Graças à n.#na daMôni- toda leitura somava cultura" e
ca, as indústrias quetrabalham semprechegavaemcasa.dabarcom aMauriciodeSouzaProdu- bearia onde trabalhava" com alções faturaram cerca de 250 mi- guns quadrinhõs para o :fi1ho.lhões dedólares em 93. Aempre- "Eu gostava mais do Gib;. quesa, instalada na Zona Norte de tinhaoFemandinho,caipiraqueSãoPaulo, tem 120 funcionários nemoChicoBemo.Masaminha
. e trabalha com mais de 2 mil prediletaera1heSpirit.wnahisprodutos ligados aos persona- tóriapolicial super bem feita, dogens.brinqaedos.roepas.alinee- Will Eisner. Tudo que eu seitos e outros artigos para crian- sobrecriaçãoeoarrativaaprmdiças. Em 1987, depois detrocar a nas histórias dele. meu guru e
Editora Abril - onde trabalhou hoje amigo". Com o tempo, osdurante 17 anos - pela editora personagens da TUTIIIQ foramGlobo, suas revistas começaram evoluindonotraço eno compora vender mais que as da Disney. �. AMônica. por exem-
.
Na época, a editora chegou a plo, era'lduito� no inÍimprimir 3,5 milhões de exem-
.
cio.mashojesóusaoSansãoseplares por mês, com os títulos a twma aprontarmuito,. MesmoMônica, Magali, Chico Bento, assim, Mauricio não gosta queCascão eCebolinha:Atualmen- ela apareça batendo; wna fumate são onze revistas diferentes. cinha insinua o lance.
Os novos personagens N"unbus e Do Contra inspiTaáo!f nosfilhos; cil{1I11B
Essa preocupação com o con
teúdo das histórias vai levar ospersonagens deMauricio de volta aomercadoeuropeu.Nosanos10, na Alemanha, suas revistaschegaram a lDD3 tiragem de 60mil exemplares DM!II$8Ís. HaviarevistasnaDinamarca. Noruegae IngJaterra. Noinício da década�P_
ahcCeIJ a "'invasão� no.men:ado europeu,commnpaaJteque induia, alémdas revistas. seriadosedesa1hoc;.animados para a TV. Aporradacomia solta.Hoje. osgibis brasileiroswltaramàmoda. "'OmlDldo inteiro busca material igualao nosso. está saturado da violência das histórias japonesas" .
O últimofilão descoberto porMaurício de Sousa são os parques de diwrsões. OPtuqW da
Mônica. emSãoPaulo. foi inauguradoemjaneirode 1993 e. emmn ano de fUncionalllfJ'lfo. recebeu tunmilhãoemeiodevisitanteso Já existem projetos paraconstruir parques DO Rio de Janeiro. em Curitiba, Boston e
Miami. O objetivo é trazer devolta a intância à moda antiga:"Osparques vãoresgataroquintalperdido. ondea criança possaescorregar na grama e subir emárvores". Viajando mn poucomais. Mauricio prevê que em
breveos leitorespoderãoint:eragircom o universo da Turma da
Mônica. através de revistas em
realidade virtual. Viajando maisainda. eleprevêpara a virada doséculo um grande showtridimensional transmitido viasatélite. reunindo os principaispersonagens de HQ no mundo."Já falei com algumas pessoas,queacharamumaboa idéia.Maspor enquanto é só sonho .. .nem
um pouco impossível".
Renata Marques
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
dos balõezinhos e a capa em cores.
Cláudia Lévay, advogada criminalista e ex-professora primária,encontrouum campo fértil para a sua
criatividade. Alicerçada muna pesquisa exaustiva, partiu para seu primeiro projeto, imediatamente aprovado pelo editor, por se tratar detema atual na luta ecológica mundial: a Amazônia.
A partemais trabalhosa foi exatamente a de pesquisa. E a mais
demorada.OresUltadopodesercomprovado nas ilustraçõesminuciosas.Todas as árvores, folhas, insetos,animais, detalhes e imagens secun
dárias são cuidadosamente verídicas. Diferentemente de outros trabalhos no gênero, os desenhos são rigorosamente verazes. O que desperta a
identificação dos leitores mirins.
(Naspalestraseapresenta\)ÕeSquefaznas escolas, ao vivo, a autora depara-se com a constatação das criançasque reconhecemnos desenhos dos peixes, os mesmo peixinhos em suas ca
sas, pois grandepartedoshabitantes deaquários em SãoPaulo são origináriosda Amazônia).
T .�nClI(Jocorno FcolooiaemOua-
•
If•
IGibi didático defende a natureza e o espaço do quadrinho nas livrarias
O saudoso editor CaioGracoPrado comprou osdireitos para o Brasil de
um livro de Luca Novelli, inicianteautor italiano, sobre o meio ambiente. Nessa época, sua editora obtiverasucesso com as coleções PrimeirosPassos, O Que É, etc. Teve a idéia,portanto, de desmembrar a obra italiana nas pequenas publicações sobo título Ecologia em Quadrinhosvolumes 1 e 2. E fim.
LucaNovellivoltou-se para outros projetos, em seu país natal, e a
Brasiliense se viu com uma coleçãode apenas dois volumes.
Mas, a visão editorial de CaioPrado Jr., herdada de seu pai, CaioPrado, fundador da EditoraBrasiliense, juntamente com Monteiro Lobato e Arthur Neves, era ilimitada. Ao se deparar com as tirinhas
para jornal da jovem autora CláudiaLévay, publicadas nos jornais AGazeta, Diário Popular e Folha daTarde, bem como suas charges políticas em O Estado de São Paulo, viuali a solução. convidou-a para fazerum terceiro volume da coleção. Eacertou. Ela não só escreveu o texto,mas desenhou tudo, fez as letrinhas
drinhos, volume 3, Amazônia virouum best-seller. Em poucos meses, al
cançou a quarta tiragem Com os dois
primeiros volumes tinham sido im
pressos empreto e branco, esta terceiraobra também o foi. Issopossibilitou àsprofessoras e diretoras de escolas, bemcomo às orientadoras pedagógicas,escolherem o livro para seus alunos,pois opreçoera e é omesmo deumgibinas bancas de jornais. Dessa forma,também as esco-
las de periferia,com famílias de
baixopoderaquisitivo � ideramadotaro livronasáreas de Biolo
gia, Ecologia,Geografia e ou
tras. E contar
com a presençavivadaautoraemsuas aulas.
Essa primeira experiência brasileira na
coleção possibilitou a verificaçãode que as crianças liam o livro como um
verdadeiro gibide aventura. A
presença de Jor
ge Ginga, um
jacará simpático,
a avalanche não tirou ohábito da leitura atenta dos baixinhos. Pelocontrário.As questões de conteúdo eram respondidas mecanicamente pelos estudantes, como se suas perguntas fossemditadas pelos pais ouprofessores. mas,os detalhes de uma simples joaninhanum canto perdido de um quadrinhoera anotado por todos os aprendizes,.Surpreendente. O leitor era conquistadopela históriabásica epelosdetalhes.
O conteúdo ab-sorvido posteriormente.
Aexperiência deAmazônia,principalmentepelos resultadosaferidos nas sa
las de aula, levaramaovolume4,Pantanal. Destafeita, a autora,maislivre,oonseguiu inserir os
conceitos indis
pensáveis a umaobra didáticadentro de uma
narrativa eminentemente infantil, com mes
cla de gibi e delivro infanto
juvenil tradicional.
Em Panta-nal, a busca da
onçaRainha Leôncia assumecaracterísticas de livro infanto-juveniL Já a
aventura é típica de gibis. E a didáticaestá embutida nos conceitos inteligentes emitidos no inicio da saga. Novamente comandada pelo jacaré (agora
Amazonia e Pantana� ensinamnoções de ecologia com linguagem
de História em quadrinhos, etornaram a autora Cláudia Livayreconhecida internacionalmente
e o papagaioEurico conduziram a ação num planolúdido. O humor entrava entrosado nahistória, fluente-e atraente. O desenhotinha os tchans dos comics made in
USA. E detalhes que não escapavam àleitura acurada dos petizes. Parece que
•
astro) Jorge Ginga e seu amiguinho, opapagaio Eurico, mantendo a tradiçãodas histórias em quadrinhos de criarpersonagens fixos e identificados como leitor em sua complexa personalidade.
Aautora apresentouos dois trabalhos nos Congressos de Lucca, Itália,com palestras, exibição de slides, e
exposição, apresentação para os
bambini e studenti. Em 1990, Amazônia e na Bienal seguinte, 1992, Pantanal. Com idêntico sucesso. Uma
opção para Espanha e Estados Unidos
possibilitará a edição colorida tambémna Itália.
A revista romana Comic Art, deRinaldo Traini, ex-diretor dos salõesde Lucca, trouxe um artigo assinadopelo professor SérgioMicheli, da Universidade de Siena, intitulado Da/Brasile, Ecologia a Quodretti.
"O gênero cômicoatravés do qualpersonagens e situações são apresentadas nestevolume, parece umveículoparticularmente cativante a fim de queo conteúdo enfrentado possa fluir melhoreportantoproduzir omelhorresultado possível."
E continua o professor: "Destemodo, o trabalho se apresenta muitoconvincente, considerando o fato de
que a história contada por Cláudia
Lévay aparece escrupulosamente sustentada por um absoluto rigor científico. Isso faz com que a leitura seja de
grande interesse e utilidade, tambémdo ponto de vista estritamente didáti-co."
O reconhecimento internacionalda obra de Cláudia Lévay e o sucesso
de suas edições levaram o editor CaioGraco, pouco antes de seu trágico falecimento, a sugerir a Cláudia a feiturade um tema sugerido pela filha doeditor: o rio Tietê.
As aquarelas de Cláudia sobre o
históricoriopaulista foramexibidas nafeira de Roma, na Expo-Cartoon, emnovembro de 1994.
Portanto, inmemorian do insubstituível Caio Graco Prado, o quintovolume da coleção Ecologia em Quadrinhos, publicado este ano é: Tietê.
Álvaro de MoyaEscritor, autor dos livros AHistória das Histórias em
Quadrinhos e Shazam
, .
r lira/do avalia
situação docartum no Brasi/
É diffcil encontrar algumaatividade relacionada às artesplásticas e à imprensa em
que Zira/do não tenhaparticipado. Aos 62 anos deidade e 40 de profissão, jáfoi desenhista, cartunista,cartazista, entrevistador,publicitário, jornalista,humorista, autor teatral enunca usou o esquecidodf/Ioma de advogado.Zira/do Alves Pilto particf/oudos grandes momentos dojornalismo brasileiro.Desenhou para as revistasPenthouse e a Private Eye,dalnglaterra; Mad, dosEstados Unidos; Plexus e
Planête, da França. Hoje,dedica-se a escrever paracrianças. Uma de suasúltimas obras é a ColeçãoABZ : 26 livros infantis, ondeos personagens são as letrasdo alfabeto.
Zero - Qualo papel docartum e dos quadrinhos namfdi!l impressa?Z - E um papel de estímulo.Tudo para vender tem queter chama, uma descoberta,precisa dizer algo novo ediferente. O humor estimulaa comunicação porque édescoberta .. E o queinteressa é que o desenhodiga algo e expresse uma
boa idéia. Os cartuns e os
quadrinhos sãoimportantes, pois sãotambém uma maneira deinformar, divertir o leitor eestimular o seu dia-a-dia.Zero - A imprensa brasileiradá a devida importância aos
- quadrilhos e cartuns comofontes de ilformação?Z -Quando eu comecei naprofissão, a imprensadesprezava muito os
desenhos de humor. TirandoO Cruzeiro, que tinha o
Mil/ôr, Carlos Estevão,Péricles e alguns velhosdesenhistas quetrabalhavam em outroslugares, como o RaulPederneiras e o Calixto, nãohavia espaço parapublicações nacionais. Ascharges, caricaturas e
quadrinhos eram compradosde agências americanas.Hoje em dia, há espaço parao trabalho dos desenhistase o reconhecimentoprofissional. Eu quero fazerum levantamento dequantas charges sãopublicadas por dia no
Brasil, acho que dá mais de100.Zero - Faça uma avaliaçãodos desenhistas brasileiros.Z - Acho todos eles ótimos:desenhistas, chargistas,cartunistas, caricaturistas.O nível dos trabalhos aquino Brasil é muito bom. Sefalassem em inglês então,seriam os reis do mundo.
A/essandra Pereira
FEV 95 - ZERO ZINE
�7Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
18
.
Como seria o mundo com a
existência real dos superheróis? Com esta dúvida no
ar, a Editora Abril pretendepreparar seus leitores para
o lançamento da novamnissétie Marvel. A
novidade é transformar oscidadãos comuns em
protagonistas das histórias.Na segunda quinzena dejaneiro os fãs terão uma
surpresa, com o primeiro .
número da série.De acordo com Marco
Moretti, editor das revistasMarvel no Brasil, esta nova
série vem com a intençãode mostrar os super-heróisdo ponto de vista humano.
Para isso, tem como
'personagem principal ofotografo Phil Sheldon, queobserva e conta a história
através de sua própriavisão, mostrando a reaçãodos seres humanos comunsàs batalhas dos Marvels.
O primeiro número vaimostrar a visão "ingênua"
.
dos anos 40, com uma
aparição do primeiro TochaHumana, quando os superheróis ainda podiam salvar
o mundo. Dá ênfase tambémao nacionalismo
característico da época. Osegundo número, com os XMen, retrata o fim dos anos50 e o início dos anos 60,com todas as lutas raciais
da época. Esta ediçãocoloca a humanidade contra
os mutantes, perdendo a
confiança nos super-heróis.No terceiro capítulo da
série, que dá uma idéia decomo seria o fim do mundo,
aparecem Galactus e o
Surfista Prateado. A quarta e
última parte vem com o
Homem-Aranha. Vai mostrara desilusão com os superheróis e pôr fim à idéia deque eles são invencíveis.A série vai contar aindacom várias inovações na
parte artística Terá duascapas, a primeira só com
desenhos dos Marvel e a
segunda em acetatotransparente, com o nome
Marvel escrito em preto. Osdesenhos no interior darevista serão à base de
fotografia e pintura,impressos em papel couchê.
Alex Ross, na arte, e KurtBusieck, no roteiro,
assinam a série, que foilançada no início do ano
nos Estados Unidos. Marvelé um dos lançamentos mais
badalados dos últimostempos e custará cerca decinco dólares no Brasil, um
dólar mais barato que o
original americano.Jefferson Dalmoro
Eraumavezwnarevista
que publicavaMoebius, Caza,Liberatore, Bilal e
outros papas daHQ européia emprimeira mão. Que tinha urna
sofisticadaapresentaçãográfica,aliada a temáticas queanteseramprivilégio dos quadrinhosunderground, e que foi moldepara muitas outras revistas do
gênero em todo o mundo.Fundada no dia 19 de
dezembro de 1974, a MétalHurlant foi urna iniciativa dequatro quadrinistas franceses:Jean Pierre Dionnet, PhilippeDruillet, Farkas e Grot. Juntos,fundaram a editora HumanoidesAssociés, que logo se tornaria a
vanguarda dos quadrinhos na
Europa.Ela não foi a primeira revista
européia destinada ao públicoadulto. A italianaLinus, de 1965,chegou antes. Mas em
compensação, abriu as portaspara desenhistas e roteiristasantes só conhecidos por leitoresiniciados. Em suas páginasdesfilaram algumas das melhoreshistórias da época.
Praticamente tudo o que o
francês Moebius publicou na
revista foi premiado:A GaragemHermética, Arzach, The LongTomorrow, O Incal. A MétalHurlant sem Moebius não seriaa mesma. Mesmo assim, um
time de ótimos desenhistas e
roteiristas segurava a barra com
dignidade. Philippe Druilletdesde o início delirava em
histórias experimentais. Em
1976, Philippe Caza iniciou sua
colaboração com histórias defantasia e ficção científica,semprecomumtraçoprimoroso.A partir de 1979 foi a vez do
húngaro Enki Bilal, com sua
atmosfera pesada emelancólica.Fez o Exterminador 17 com
Dionnet, além deoutros trabalhoscom Pierre Christin.
Além de colaboradores
exclusivos, MH publicavamateriais de outras revistas e
autores europeus. Assim foi comBarbarella, de Jean-ClaudeForest, Ranxerox, de Tamburinie Liberatore e Valentina, deGuido Crepax.
Mas não só de europeus viviaaMétal Hur/ant. Os brasileiros
Sérgio Macedo e Alain Voss,cansados de não conseguirem
Capa da ediçãoespanhola da revista
que popularizou a
fantasia deMoebius
e lançoudesenhistas de alto
tj "
------------------------------------------�-��----�--_._--
Super Heróitambémfaz cocô
publicação no Brasil fora docircuito underground, foramtentar a sorte no exterior.Desconhecidos por aqui, têmálbuns publicados na Europa e
são reconhecidos por lá. E o queé melhor: sem ter que desenhar
super-heróis.Publicando histórias de
fantasia, humor, ficção científicae aventura, sempre com pitadasde sexo e violência, a MétalHurlant ganhou fama e
conquistou novos leitores. Nãodemorou para que editoras deoutros países se interessassemem publicar seu material.Resultado: além de muitashistórias pirateadas em todos os
cantos do mundo, inclusive no
Brasil, surgiram quatro filiais: aSchwer Mfw', ":emã, a Métal
J-��-... , .:.... __yanhola, urna versãoholandesa e a Heavy Metal,americana, a mais famosa dascrias da revista original.
Misturando material damatriz com produção própria, aHeavy Metal foi a mais bemsucedida das quatro. Publicouferas como Richard Corben,Howard Chaykin, FrankFrazetta, Charles Burns, SimonBisley e outros expoentes domercado norte-americano"alternativo". Além disso,produziu o desenho animado
Heavy Metal- Universo em
Fantasia, com histórias darevista, onde vários episódiosindependentes eram ligadosapenas pela presença de uma
misteriosa esfera verde brilhante.
Ironicamente, a matrizfrancesa faliu. Enquanto isso, aHeavy Metal continua a ser
publicada até hoje, mas perdeuespaço dentro do cenário norteamericano para os quadrinhosingleses que invadi ram omercado
ianqueequehoje são avanguardanos Estados Unidos. Quanto lOS
artistas daMétalHurlant, algunsainda publicam um ou outro
álbum esporadicamente. Outrosvoltaram ao que faziam antes deserem quadrinistas. A maioriavive mais da fama e da fortuna
queganharamna épocado "metalpesado" quedeproduções atuais.Pode parecer pouco, mas ao
menor sinal de algum trabalhonovo, os colecionadores logocorrem atrás.
Ivan Jerônimo
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Do
undergroundao
supermercado
N�o�������=-te-americanos p�ssavam por um peno
do decadente, onde a criatividadedos roteiristas e desenhistas era
limitada por uma moral hipócrita. O macartismo da década an
terior e o puritanismo da sociedade fizeram com que os editores criassem um código de censura: o Comics Code. Cansadosdetanta caretice, alguns quadrinistas começaram a produzir e
publicar revistas independentes.Assim nasceu o Comix ou Quadrinho Underground.
As histórias dos Comix tinham um caráter anárquico e
libertário para seus autores.Eram feitas para derrubar as
normasmorais da sociedadeburguesa e avacalhar com tudo queo americano médio consideramais sagrado. Dessa forma, recuperaram a tradicional funçãocritica dos quadrinhos e destnúram os limites do que se podia representaremumaHQ. Hojetudo pode ser desenhado, desdemutilações e curras até estuprose consumo de drogas, ou qualquer coisa que as revistas dequadrinhos de massa nãopublicavam. Mas essa revolução dos comix teve seus antecedentes.
Origem - A revista Mad,criada por Harvey Kurtzman,desafiava abertamente oComicsCode e foi uma grande influência dos comix. Ela fazia sátiras,ridicularizando os grandes heróis americanos, os filmes deHollywood e os programas deTV. Em 1954 a EducationalComics, editora de Mad, foi o
Os desenhos irreverentes de Robert Crumb (acima) e de GilbertShelton avacalharam a sociedade americana na revista Z4P.
Crumb semanteve na linha alternativa efoi atropelado pelo mainstream
principal alvo da paranóia con
tra os quadrinhos detonada pelolançamento do livro A Seduçãodos Inocentes, do psicólogoFrederic Werthan. Mad sofreuuma dura perseguição oficial etevequetornar seu conteúdomaisameno, além de cancelar suas
publicações de guerra, ficçãocientifica e terror.
Outra influência direta foram os eight papers, cadernosde oito páginas onde as personagens viviam as mais loucasaventuras sexuais, desenhadassemnenhu-ma inibição. Oseightpapers, também conhecidoscomo kinky comics ou Tijuanabibles, fizeram muito sucesso
nos anos 20 e 30, quando eram
encartados dentro de outras publicações. Nos anos 60 foramreimpressos por grupos con
traculturais e se tornaram fontede inspiração para os comix.
No dia 25 de fevereiro de1968, em São Francisco, RobertCrumb lançou Zap, que é considerada a primeira genuína revista de comix. Porém esse númerode Zap era o segundo criado porCrumb. O primeiro, feito em
1967, não encontrou saída nos
Estados Unidos e o autor resolveu mandá-lo para a Inglaterra,onde os originais se perderam.Posteriormente, Crumb recuperou um jogo de fotocópias que,devidamente retocadas, forampublicadas co-mo número zero.
Papa - Totalmente desenhada por Crumb, a primeira ediçãodeZap deu origem a uma série deoutras publicações undergrounde rendeu ao desenhista o titulo de"papa" do gênero. Depois dosegundo número, Robert Crumbabriu espaço para outros desenhistas na revista. Um deles foiClay Wilson, que havia tra
balhadopara uma editora pornográfica parisiense. Crumb ficoufascinado pelas histórias deWilson onde bêbados, gângsters e
piratas se enfrentavam em terríveis batalhas com sangue jorrando para todos os lados, projetadoporcerteiras punhaladasnosgenitais. Ao lado de Crumb e
Gilbert Shelton, criador doshilários Freak Brothers e
WonderWartHog, ClayWilsonformou o trio dos mais influentesdesenhistas de comix.
Nos anos 70 uma crise mundial afetou os preços do papel etornou dificil a vida dos editoresindependentes. Muitos autoresforam trabalhar em publicaçõesprofissionais, como a National
Lampoon e a Playboy, e em editoras como a Marvel e a DCComics. Coletâneas de autores
underground passaram a ser
vendidas até em supermercados.Robert Crumb, que sempre editou e distribuiu suas revistas,decretou a morte dos comix e
trocou os desenhos pelamúsica.Era necessário manter-se dentrodos canais underground de distribuição, pois sem eles suas criações perdiam a utilidade. "Quanto mais dinheiro em jogo, maischance decorrupção. Deumjeito ou de outro eles sempre te
enquadram", garante o desenhista.
Ulysses Outra NettodeZap deu origem a uma série de
FEV 95 - ZERO ZINE
Herói bósnioenfrenta uma
super-roubada
9
Um novo herói surge dasruas de Sarajevo,combatendo os extremistassétvios-bôsnios e fazendoda guerra palco parafantásticas histórias emquadrinhos. Com seus
poderes de premonição e
roupa à prova de ataquesnucleares, Bosman enfrentaperigos já conhecidos doshabitantes da capitalbósnia, na primeira HQpublicada no país desde o
início da guerra. Asaventuras começam quandoBosman vê nacionalistassérvios equipados comtanques iugoslavos,planejando o ataque iniciala Sarajevo. No fim doprimeiro número, a cidadejá se aproxima da guerra.Apesar de a personagem ser
mais parecida com o SuperHomem que com um
soldado, a intenção de seus
criadores era fazer umretrato do homem bósnio."Bosman é um símbolo daspessoas que sobreviveram a
esta guerra, que se
opuseram à besta e quelutaram só com fuzis",conta Enes Pehiivsnovic,produtor da história. Longede virar um símbolo decrítica ao militarismo ou um
alter-ego dos soldadosbósnios, Bosman nãoempolgou as crianças e os
adultos reagiram àshistórias com gargalhadas."É verdade, somos heróis",disse um soldado,esforçando-se para se
manter sério. "Mas não me
acho parecido com esse
cara. Ele é a cara doBatman ou do SuperHomem, só que no nosso
ambiente". As crianças,acostumadas a fugir debombas e tiros do exércitoiugoslavo, acharam a
história fraca, comsituações ridículas.Mas o super-herói, queveste uma roupaindestrutível com o
emblema heráldico daBósnia no peito, tem fãsperigosos. Uma cartaescrita pelo garoto Denis,de 12 anos, está pregada na
parede da editora, um ex
salão de bilhar: "Sou umrefugiado de Vogosca (emmãos sérvias). Fico feliz deter te conhecido e quero teparabenizarpor tua vitóriacontra o ma!", escreveu o
garoto. "Eu queria que vocêfosse a Vogosca e matassetodos os nossos inimigos.
n
MamaMoros
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
FrankMilleramadurece em
Sin CityQuando Frank Miller
assumiu o argumento e os
desenhos da revistaDaredevil (Demolidor), em
1979, o título estava àsvésperas de ser cancelado.Em menos de dois anos, a
revista atingia o topo domercado, transformando a
personagem Demolidor emum dos mais populares nos
Estados Unidos, fazendo o
nome de Frank Miller sersinônimo de HQ com
qualidade e
"descareteando"a linguagem dos quadrinhos de
super-herói.Miller, sob influência deWill Eisner e Hugo Pratt,
absorveu nos quadrinhos os
elementos cinematográficos. Como argumentista,ele reestruturou a vida depersonagens clássicos e
"imbatíveis". Sob uma visãopsicológica, Miller apresen
tava os heróis como
sujeitos problemáticos quepunham uma roupa de Iycra
e saíam para descarregarseus rancores. Foi assimcom Batman, que adquiriuum caráter sombrio após a
minissérie O Cavaleiro dasTrevas, onde aparece com
55 anos de idade, e o
Demolidor, recalcado com a
morte do pai.Os quadrinhos japonesesencantaram Frank Miller,que escreveu e ilustrou a
premiada minissérie Ronin(lançada no Brasil), sobre o
karma de um samurai e um
demônio. Na segundametade da década de 80,Miller se dedicou mais ao
texto, utilizando verdadeiros artistas gráficos, como
o expressionista BillSiekienwicz, para ilustrar
seus trabalhos.No ano passado, através daeditora independente DarkHorse, Miller retornou ao
desenho com Sin City, em
preto-e-branco. A ediçãoamericana está disponívelem bancas especializadas,e traz Frank Miller na sua
fase mais madura.
Zé Oassilva
ZERO ZINE - FEV 95
Autores consagrados trocam a burocraciadas "grandes" pela liberdade daseditoras independentes americanas
e o dia em que terá de entregarsua alma. Toda essa confusão quevende muito gibi foi criada e
desenhada por Todd McFarlane,famoso por seu trabalho como o
Homem-Aranha e já foiroteirizado por ases como Frank
Miller, Alan Moore e NeilGaiman.Esse é outro trunfo poderoso das
independentes: cada vez maisgrandes nomes migram para ela.Além dos já citados John Byrne,Rob Liefield e John Shooter, entreoutros, aderiram. Dizem estar desaco cheio da burocracia das
grandes editoras, de não poderdecidir sobre seus personagens e
A Image só perde para aMarvel
não receber direitos autoraissobre eles. Além disso, eles nãotêm mais vínculos, podendolançar seus títulos pela editoraque mais lhes convir.Além da Image, as maioresforças independentes são a DarkHorse e a Valiant. Seus maioreshits são super-heróis e grupos de
mutant�. emhistóriasqu.tftiãofogem do padrãoMarvel. A DarkHorse faz também
adaptações de filmesde sucesso (Exterminador do Futuro,Predador, Aliens) elançou Robocop x
I Terminator. Issomesmo! !! O tãosonhado encontro de
megacyborgs.Correndo por fora,estão a Now Comicse a Eclipse, responsáveis, respectivamente, por Syphons(HQ sobre umaturma de superheróis adolescentes)e Grip (surpresa, umgrupo de mutantes).
=eComo fazer para lertudo isso? É só
correr até sua importadorafavorita e esvaziar os bolsos.Nada disso foi lançado por aqui enossas amadas editoras não
parecem fazer muita questão.
�McFarlane (no destaque), criador do Spawn,é um dos responsáv�elo crescimento das indies � mercado dos Estados Unidos
N
I�S"IJ J'I)11JU' I'll"" �llrrl��� 'I 11 �_.�, I� �•..i..-.r. r �
Fábio Bianchini
Spawn é o principal título independente
f)que acontece quando,em 94, você tem uma
HQ sobre dois caras de
capa que vão impedir umamaluca que quer dominar omundo? Acertou quem disse "oacontecimento do ano". Ahistorinha de Spawn x Batmannão é grande coisa, mas isso não
importa. O que realmente conta
são os seus autores, Frank Millere Todd McFarlane, e que o
álbum representa: editorasindependentes estourando nos
Estados Unidos.A Image, que lançou Spawn xBatman é o melhor exemplo. Asegunda maior editora dos EUA
(só perde para a poderosaMarvel) conseguiu este posto àscustas de títulos com
Youngbloods, Wildcats (gruposde mutantes a la X-Men) e
principalmente o próprio Spawn- um camarada que morreu e não
gostou muito da idéia. Fez entãoum pacto com o coisa-ruim quelhe devolve a vida e o enche de
super poderes em troca de sua
alma. Só que o demônio cansou
de esperar e começou a mandarservos para acabar com Spawn e
receber sua dívida. Quanto maiso cara luta contra as criaturas do
inferno, mais perto chega seu fim
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
«---- .1_t:'�U,",w..,
moséra q7J1le lll
mos-te podeestilll-r lll-nJlll-nJoentire n6s
I Você ainda vai senfirotoque dessa
Estaestranha terra de
onde viajantealgum jamaisretomou.
Se para Shakeaspeare era um
lugar, para seu conterrâneo NeilGaiman trata-se de uma mulher.Ela tem um visual gótico, inspiradona cantora Siouxsie, da bandaSiouxsie and The Banshees. Umamulher docemente infantil, espontaneamente sensual, às vezes comuma vaga tristeza no olhar.
Sim, ela é a Morte. Pelo menosna cabeça de um sujeito que, entreoutrascoisas, fezoDiabotirar férias.Neil Gaiman, criador do já clássicogibi Sandman, é o roteirista daminissérieMorte: oPreço da Vida,que a parceria GlobolDevir trouxeao Brasil em setembro. O álbumfinalmente mostra como protagonista aquela que talvez seja amaior criação de Gaiman.
OPreçoda Vida relata a ocasiãoem que aMorte deve passar um diacomomortal, para entendermelhoro ponto de vista dos vivos. Issoacontece de cem em cem anos e,dessa vez, ela vem como uma
adolescente chamadaDidi. Para ela,todas as sensações destemundo têmsabordenovidade: comerumamaça,
ouvir música e até respirar são evita os caminhos fáceis. Não fazmomentos especiais aserem desfru- um sermãomoralista sobreo "valortados. ,.da vida", nem transforma tudo na
O outro personagem é �-il_t' celebração estiloMary Poppins daFurnival, um adolescente com personagem Didi. Tampouco cedeidéias suicidas. Aos 16 anos, está ao pessimismo quase absoluto doafundado na solidão urbana, não jovem Furnival. Viver vale a penaacreditano amor, nobeme nomal, sim, mas não é nenhum mar deno sucessofinanceiro ouemmudar rosas.
o mundo. A vida para ele é um Nesta série fica evidente uma
tédio, um vazio. das principais qualidades dosÉ claro que estas figuras opostas roteiros de Gaiman: a inteligência,
se encontram ao acaso e, a contra- o texto rico em leituras, que fazgosto do garoto, acabam passando pensar. Entre os ingleses, pode ser
juntos o primeiro e último dia de menos visceral do queAlanMoore,vida de Didi. Paralelamente, Mad mas é muito mais sutil. As vezesHettie - uma velhota de 250 anos destrincha um racionício sofisde idade, que apareceuemSandman ticado em uma única imagem. Lê-3 - quer a todo custo encontrar seu lo é sempre um belomomento paracoração. Não,elanãoéumamorta- reflexão.viva. Hettie sabe queDidi é aMorte Apesar disso, o Preço da Vida
epedeaajudadajovem.Hátambém não é uma obra-prima. A arte deum velho místico sem olhos, Chris Bachalo é bonita e compemetáfora deGaimanparaas ilusões tente,mas onegócio deneil Gaimanmetafisicas das religiões. Ele quer é trabalhar com Dave McKean,o ankh, símbolo que a garota traz não temjeito. A maior habilidadependuradono pescoço. Ele acredita do roteirista é e�l?lorar adualidadeque o objetovai revelar os segredos entre o simbólico e o real. Ada vida e da morte. tradução perfeita disso na arte é o
Reflexão - Gaiman lida o tempo estilo hiperrealistaJexpressionistatodocomaidéiadevalor. Trabalha de McKean, que fez as capas doa tensão entre o concreto, onde álbum. No fim das contas, nadavida e morte.nada significam, e as que torne injustopagarR$ 3,00 porabstrações humanas. Comosempre, cada urna das três partes da
minissérie.Na última parte do álbum, na
versão original, há um encartesobre AIDS, escritopor Gaiman e
desenhado por McKean com um
traço mais simples, lembrando a
minissérie Cages. Nele, a Mortedá explicações sobre a doença e
sua prevenção. Junto com o
personagemJohnConstantine, elaensina como colocar uma
camisinha. Antes que a DonaEvangelinaberre, ademonstraçãofoi feita com uma banana.
O roteirista inglês estámesmogostando de trabalhar com
músicos. Além de fazer uma
minissérie tendo o roqueiro AliceCooper como personagemproncipal- The Last Temptation- para o selo Marvel Music, a
edição encadernada do originalde O Preço da Vida tem uma
introdução da cantora pop ToriAmos. Tori é uma "popista" cult,dada a canções tristes e grandiloqüentes, uma das favoritas deGaiman. Resta saber se essa ediçãovai ser lançada aqui. Do jeito quea coisa está...
TextosAlexandre Winck
Gaiman não saino Brasil
Se você é um fã brasileirode Neil Gaiman e não
compra revistasimportadas, está perdendoo melhor do seu roteitistepredileto. A maioria das
parcerias Gaiman/McKean,por exemplo, foi feita para
as editoras inglesas. ViolentCases, feita em 87 para a
falida Editora Tundra,recebeu três prêmios Eagle.Signal to Noise, inicialmenteserializada na revista The
Face, ganhou o prêmio WillEisner 93. Há também
Hellblazer n. 27, o récemlançado Mr. Punch e a
desconhecida OutrageousTales of the Old Testament,
sobre a Bíblia.Quem pensa que Sandman é
a única série feita peloroteirista inglês precisaconhecer Miracleman, um
super-herói fascista dofuturo. Este título vinhasendo escrito por Alan
Moore, que sugeriu Gaimancomo substituto. Ao
contrário de Sandman,Miracleman, segundo o
autor, "só sai quando estáperfeito". Não se pode
prever o futuro da série, jáque Gaiman rompeu com a
editora Eclipse.O roteirista inglês também
colabora com outrasrevistas. Fez o n 9 do
megasucesso Spawn, deTodd McFarlane. Escreveutambém Hellogabolus, que
fala de uma sociedadeasumidamente falocrática,para a revista Cerebus, deDave Sim. Era para sairemuma edição de Sandman,mas Gaiman preferiu não
arriscar. Há também a sérieSweeney Todd, the DemonBarber of the Fleet Street,
feita para a revista Taboo.Pra quem não sabe, Gaiman
também escreve livros.Good Omens relata a
aparição de um anticristomoderno e Angels Visitations
reúne contos do autor.Entre todos esses
trabalhos, talvezThe LastTemptation, por ter sido
feita para a Marvel, aindasaia por aqui. Mas o leitorbrasileiro já tem que se dar
por feliz por poder ler aedição brasileira de
Sandman.
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
ZERO ZINE - FEV 95
22
SeLourenço Mutarelli tivesse
nascido nos primórdios dosquadrinhos e recebesse metade do reconhecimentodevido,
essa arte nunca teria o apelido de"comics". Não que não haja humorno trabalho dele, mas se houverumlugar para Mutarelli nos livros dehistória escritos pelos Disneys e
Stan Lees, será como um dos artistasmais depressivos que essegênero tão "alegre" já conheceu.
Se alguém acha que a tristezadeMutarellijánão éuma novidadeno quadrinho nacional, que estámanjado, precisa muito ler Eu te
Amo Lucimar. O álbum, lançadoem outubro, traz experimentaçõese algumas das cenas mais agonizantes criadas pelo autor. Conta a
história dos gêmeos Cosme e
Damião, um deles gerado misteriosamente por uma tentativa dofeto de sobreviver a um medicamento abortivo. Um sente as
dores do outro. Quando Damiãomorre,Cosme sente em si adecom
posiçãodo cadáver. Adescriçãodoprocesso é um misto assustador derealismo e delírio.
Amor? - O título é enganoso.Eu te Amo Lucimar nada tem deromântico. Mostra o amor da piormaneira possível. As personagenssó encontram nesse sentimentomais ummotivoparasofrerem com
suas culpas e neuroses. Como na
imagem do início do álbum, damão que sai da água com o reflexo
apontando para o fundo, o amor
pode dar a impressão de estar sal-
A
LourençoMutarelli expõesuas neuroses no
álbum Eu te amo Lucimar
vando a pessoa de se afogar, quando na verdade a está puxando maispara baixo.
Mutarelli sofre de síndrome depânico, doença que faz com que a
pessoa se sinta terrivelmenteameaçada sem motivo aparente.Neste álbum ele explora a influência fisiológica nosmales damente.Cosme resiste a todas as provocações deDamião,masafundanumprocessodeenlouquecimentoquando o irmão dá choques na cabeçadele com um revólver de mentira.
O álbum é marcado por comportamentos oossessivos, e muitaspersonagens sugerem seralteregosdistorcidos deMutarelli. O pai dosgêmeos é um desenhista que passaodia inteiro desenhando demôniosque habitam seus pesadelos. O tioé um leitor contumaz de quadrinhos completamente alienado domundo.
O autor pode não ter se tornado urna pessoa mais feliz, mas semdúvida evoluiu como roteirista e
desenhista. O textoestámuitomaiscentrado, conciso, sem a fragmentação excessiva dos trabalhosanteriores. Isso se reflete no desenho. O uso da pintura, sem os
traços ostensivos de Transubs
tanciação e Desgraçados, toma a
leitura mais fácil. Não se perdeu a
dramaticidade, pelo contrário. AeditoraVortex caprichou, com uma
edição em papel couchê.O surpreendente é que, numa
época de baixas vendas, Mutarelliestá produzindo cada vez mais.
Vai ser um dos colaboradores deLúcifer, nova revistada Circo Editorial, lançada recentemente. Eletambém trabalha numnovo álbum"Histórias Quase Esquecidas. Emelhor que não tenha o mesmo
destino deDesgraçadose Lucimar,que levaram pelo menos dois anoscada para serem concluídas e
lançadas. .
Reconhecimento - Ness=realidade, é quase certo queMutarelli não terá novamente concorrentes em premiações da cate
goria graphic novel nacional. O
primeiro álbum dele, Transubs
tanciação, publicado em 91 pelaeditoraDealer, recebeu os prêmiosde melhor história do biênio na
primeira Bienal Internacional deQuadrinhos, o Prêmio AngeloAgostini de melhor desenhista nacional e o HQ-MlX de melhor
graphic novel nacional. Desgraçados, de 93, lançada pela editoraVidente, venceu o HQ-MIX demelhor desenhista e melhor
graphic novel nacional.Amaioriados autores faz fama,
prestígio e, às vezes, dinheiro ex
plorando o sofrimento alheio.Mutarelli segue o caminho inverso. Nós é que nos deliciamos, numaespécie de êxtase masoquista, como produto das angústias e problemas do autor. Lourenço Mutarellitransforma os leitores em vampiros de sua dor.
Alexandre Winck
Mesmo em um período de poucas vendas, Mutarelli preparaseu próximo álbum, Histórias quase esquecidas
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
\
Crítica ao regimemareou a carreira
do mestre-
,_ ,
_ ,J voto
T ,-J \ otas
Fortunabateu um recorde
na literatura brasileira:trabalhounahistóriaparacrianças Dahabu duran
te trinta anos e morreu sem tê-lapublicado. O motivo? Simplesmente não a considerava pronta.Perfeccionista, desenhava como
um artista plástico, usando materiais inusitados paraum cartunistada imprensa diária - papel recortado, tintas de parede, cotonetes e
atépincéis. Nãohesitavaemignorar os apertados prazos do jornalismo em busca da qualidade, oque fez com que, no final da vida,�osse marginalizado pela grandeimprensa.
Jamais chegou ao estrelato,como muitos senhistasque passaram peHenfil, Jaguar, Millôr Fernandes,Ziraldo,EdgarVasques, Nássara,Miguel Paiva, Santiago, Glauco;I"Laerte, Claudius, Caulos, entreoutros. Mas, dono de um traçoextremamente elegante, era um
profissional respeitado e admirado pelos colegas. Foi o único brasileiro a ser incluído na lista doscem carturústas mais importantesdo mundo no Salão de Humor eSátira de Gabrolvo, na Bulgária.
Durante a ditadura militar,Fortuna raramente abandonava a
critica ao regime em troca da sátira do cotidiano, caminho maiscômodo seguido pela maioria.Numa recaída, entretanto, ele deuà luz sua mais conhecida e, comoconfessaria mais tarde, prediletacriação: Madame e seu bichomuito louco. Tratava-se de uma
dama da sociedade, cheia de brincos, colares e penteados mirabolantes, que vivia fora darealidade,numa eterna relação de perplexidade com o mundo ao seu redor.Quem mantinha os pés no chão -
as patas,melhor dizendo - era seu
cachorro, dono de uma aristocrático bigode de lorde inglês, quedecifrava os enigmas da vida cominvejávellucidez.
Resistência - Da pranchetade Fortuna saíram muitos cartunsque enfureceram os governantes ehoje são considerados símbolosda resistência à ditadura. Ogeneralque govemavasobre o cavalo(ele nãocostumava darnomes pró- ./P?�s às personagens) era uma .:;:-:.(Vsabra demolidora a prepotênciados militares golpistas. Nela um
.
homemfardado permaneciao tem- Quem? Adão? Ah, esse foi o primeiro.
r'�o,) vota�sVos votais
........ -
po todo sobre o dorso do s��cJt'�:- ��êm¥�� possíveis interprelo, mesmo quando sentava-se à taçoes, lemo.ava uma boca se ca
mesa ou ia ao banheiro. lando e o desequilíbrio da balança-Em,y 96� quando o AJ..S fe- da Justiça.
chou as �rtas do Congresso Na- As melhores charges dessecional,Fortunadesenhouummili- tempo heróico estão reunidas nostar, sem cabeça, que retirava o livrosAbertosparabalançoeHayprato virado para baixo do prédio Gobiemo?, este último em con
do Congresso e o colocava sobre o junto com Jaguar e Claudius. Eleprato virado para cima, formando se manteve firme no combate àum ovo. Uma sutil analogia que, ditadura nas páginas do Correio
_--__....
da Manhã,depois de ter
trabalhadonas revistas ACigarra, OCruzeiro e
Manchete e
tercolaborado
i\
'� ......�-'_�'{f;)
...., \tj;; .......t ,�' �
Morre uma das
pioneiras docartum brasileiroNo dia 14 de dezembromorreu em São Paulo,aos 81 anos, a chargistae caricaturista alemãHilde Weber. Hilde foiuma das precursoras docartum e da charge no
pars. Logo que chegou aoBrasil, em 1933,trabalhou nos DiáriosAssociados, para AssisChateaubriand e naTribuna da Imprensa, deCarlos Lacerda. Pormaisde trinta anos também foicolaboradora do jornal OEstado de São Paulo.Hilde era uma cartunistade traços fortes e de umhumor crftico e
marcante. "Ela tinha ulnapersonalidade srttsttceextraordinária ", diz ocartunista Mil/ôrFernandes. Chargistascomo Paulo Caruso e
Liberati admitem teremsido influenciados pelosdesenhos de Hilde. Em19861ançou o livro Brasilem Charge - 1959-1985,pela Circo Editorial.Além de seu trabalho na
imprensa, Hilde Webertambém se dedicou àpintura, cerâmica e
xilogravura. Trabalhoucom Alfredo Volpi nadécada de 40, pintandopst» decoração, além departicipar de váriasexposições individuais ecoletivas e de cincobienais de arte. Hilde foicasada com o jornalistaCláudio Abramo, mortoem 1987.
Yan Boechat
com quasetoda a im
prensa ilustrada e em vários jornaiscanocas.
Morte -
Maranhensede São Luís,órfão de paidesde cedo,Fortuna mu
dou-se aindaadolescentepara o Rio deJaneiro, Irrequieto, ele não ficou'muito tempo nos veículos em quetrabalhou -nem mesmo no Pas
quim, que ajudou a fundar mas
para o qual colaborava apenasesporadicamente, Começou desenhando historinhas nas revistasSesinho, Vida Infantil, Vida Juvenil e O tico-tico , usando o
pseudônimo "Chico Forte". Em1950, passou a fazer cartum e
adotou a assinatura que carregaria pelo resto da vida.
Em 1975, quando osmilitarescomeçaram a afrouxar, Fortunalançou a revista mensal O Bicho,preocupado em criar um espaçoexclusivo aos desenhistas brasileiros. O sonho durou apenas oitoedições, mas contou com participações importantes como as deLaerte, Luis Gê e dos irmãos Paulo e Chico Caruso. Em 1977 ele semudou par São Paulo, onde editouo suplemento cultural Folhetim,daFolhadeSão Paulo, oprimeirodogêneronoBrasil. Assinavaumacoluna chamada Diz, Logotipo!,em que satirizava, com uma fraseengraçada, os símbolos das em
presas famosas.Em 1994, mais de quarenta
anos depois de ter começado a
desenhar, estava em plena atividade. Trabalhava em outro livro,que incluiri a textos (MillôrFernandes costumava dizer queFortuna era o maior escritor dehumor do Brasil, só precisava escrever), colaborava para aGazetaMercantil e preparava uma re
trospectiva da carreira. Tudo interrompido pelo ataque cardíacoque omatou no dia 5 de setembro,aos 63 anos.
Maurício Oliveira 3
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
fie jáfoi lançado no Brasilmas continua desconhe
cido,mesmo sendo um dosmaiores quadrinistasda atualidade. É dos melhores porque além de
ser completo (cria roteiros, desenha, faz as
color-ízações), incorpora em sua arte reflexões agudassobre o atual e o futuro estágio sócio-político dessalouca humanidade fim de século. Você vive presentee futuro através de um dos melhores traços dos anos
recentes, com inventividade capaz de sugerir novasformas para per-sonagens e cenários.Enki Bilal, nascido em Belgrado em 'I' de outubro de
1961, tem criatividade semelhante a de grandescriadores como Alex Raymond au Jean "Moebius"
Giraud, na construção de cenários e ambientes inusi
tados, de outras eras oumundos. Todo o talento de umbom autor de ficção-cientlfica também está vivo em
seu desenho.E mesmo as
cores têm sua
marca. Sua
base é Paris,para onde foi
levado pelospais no iníciodos anos 60eonde começousua carreira,como ilustra
dor para a re
vista Pilote,ainda em sua
fase semanal,em '1'2. Já
quase trintão
pôde demonstrar seu talento e suas ou
sadas cria
ções naMétalHur-Ierit, re
vista da van
guarda dos
quadrinhosque originousua edição
americana HeavyMetal, até mais famosa. Foi aí queBílal se impôs.Continuando a colaborar com a Pilote, em suas séries
fantásticas, conheceu o argumentista PierreChristin,futuro parceiro constante, com quem produziu A
Feira dos Imortais, O Cruzeiro dos Esquecidos e
histórias como As Falanges da Ordem Vermelha e A
Caçada, onde foram muito críticos com a realidade de
nosso conturbado planeta. E eles acertam. Sua visãodo mundo não tem o cinismo da maioria, mas é cruao suficiente para não deixar o leitor esquecer o
mundo. É uma arte de verdade, delirantementecriativa mas não alienante.Qg Imortais, dois livros publicados no Brasil pelaMartins Fontes, demonstram muito bem tudo isso: a
essência de um artista que não faz arte apenas paraos sentidos. Tanto quanto em AMulherEnigms; Bílalfala da atualidade - a ação nerasta do poder, a solidão,o sexo, as drogas, o cenário de desolação de ummundo
pós-industrialmeio onírico, meio 1984, Metrópolis ouBladeRunner. A estética vai por aí, mas a abordageme o traço trazem o impensado, o talento de um grandecriador.
Enki Bílal está na vanguarda do quadrinho mundial,já que poucos fazem do quadrinho uma atitude de
conexão com o mundo reaL Suas novas formasestéticas e sólidas experiências vanguardistas nuncao afastaram do questionamento das problemáticasatuais. Ele consegue.
Ricardo Barreto
Jornalista e professor do Curso de Jornalismo da UFSC24
ZEBOAcervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina