4 IMPACTO EM MATERIAIS COMPÓSITOS
A resistência ao impacto é uma das mais importantes características do
material em um projeto em que se queira prever as possibilidades de fratura
prematura (Marshall et al., 1973). Entretanto essa é uma das propriedades menos
compreendidas e estudadas em materiais compósitos. Este fato pode ser explicado
em parte por essa propriedade não ser muito bem definida. Alguns autores
(Martinez et al., 1993) atestam mesmo que o impacto não é uma propriedade
fundamental do material, e depende, entre outros fatores, da temperatura, do tipo e
geometria do ensaio assim como da microestrutura e da orientação do material.
De acordo com N.L. Hancox (Hancox, 2000) a resistência ao impacto
pode ser definida como a aplicação repentina de uma força de impulso, em um
volume limitado de um material ou parte de uma estrutura. Já de acordo com
Abrate (Abrate, 1998) a resistência ao impacto é definida como o estudo do dano
induzido pelo impacto de um objeto em um determinado material e os fatores que
afetam o impacto. Neste trabalho o impacto é definido como a aplicação repentina
de uma carga a qual leva o material a fratura.
O impacto é categorizado em de baixa e de alta velocidade (e algumas vezes
em de hipervelocidade), entretanto não existe uma transição muito clara entre
estas categorias e alguns autores discordam destas definições (Richardson et al.,
1996). Sjoblom et al. (1988) definem impacto de baixa velocidade como eventos
que podem ser tratados como quase-estáticos. O limite superior pode variar de 1
m/s a dezenas de m/s dependendo da rigidez do impactador. Impactos de alta
velocidade são dominados por propagação de uma onda de tensão através do
material, onde a estrutura não dispõe de um tempo de resposta, sendo então
submetida a um dano local. Já de acordo com Abrate (2001), impactos de baixa
velocidade ocorrem quando a velocidade do impactador é inferior a 100 m/s e
para impactos de hipervelocidade, a velocidade é superior a 1 km/s. Cantwell et
al. (1991) caracterizam o impacto de baixa velocidade como impactos com
velocidade até 10 m/s. Já de acordo com Liu e Malvern (1987) o tipo de impacto
Impacto em Materiais Compósitos 71 71
pode ser classificado de acordo com o dano ocorrido no material. Robinson e
Davies (1992) definem impacto de baixa velocidade como sendo aquele no qual
as ondas de tensão, que se propagam através da espessura, não têm
comportamento significativo na distribuição de tensões e sugere um modelo
simples de transição para alta velocidade. Uma zona cilíndrica embaixo do
impactador é submetida a uma deformação uniforme, enquanto a onda de tensão
se propaga através da placa, resultando em uma deformação de compressão
apresentada pela equação 4.1:
materialnosomdovelocidadeimpacto de velocidade
=cε (4.1)
Para falhas causadas por deformações entre 0,5 e 1%, é gerada uma transição
para eventos dominados por onda de tensão entre 10 e 20 m/s para compósitos de
epóxi.
De acordo com Abrate (1988), outros pesquisadores consideram que impactos
de alta velocidade ocorrem quando a deformação da estrutura é localizada em uma
pequena zona ao redor da área de contato na duração do mesmo. Impacto de baixa
velocidade se refere a situações onde, durante o contato, a estrutura como um todo
se deforma enquanto ondas se propagam ao limite da estrutura e são refletidas,
ocorrendo este procedimento várias vezes.
4.1. Tipos de ensaio
Durante a primeira metade do século XX, um metalúrgico chamado Izod
inventou um tipo de ensaio de impacto para se determinar a capacidade de usar
alguns metais como ferramentas de corte. O teste envolvia um pêndulo com massa
conhecida o qual impactava o corpo-de-prova que estava engastado em posição
vertical. Alguns anos mais tarde outro metalurgista chamado Charpy efetuou uma
pequena modificação neste ensaio, orientando o corpo-de-prova em uma posição
horizontal. A diferença entre os dois ensaios pode ser vista na figura 4.1.
Impacto em Materiais Compósitos 72 72
Esses tipos de ensaio pendulares provaram ser muito úteis, produzindo
dados confiáveis durante a II Guerra Mundial e até hoje em dia. A partir dos anos
70 começaram a ser utilizados testes com velocidades e energias de impacto mais
(a) (b)
Figura 4.1 – Diferença entre ensaio de impacto (a) Charpy e (b) Izod.
elevadas através de ensaios de queda de peso. De fato, máquinas de impacto de
queda de peso passaram a ser populares, porém aplicações de impacto com
velocidades mais altas se tornaram cada vez mais necessárias com o avanço da
tecnologia, principalmente da aeronáutica. Foram então desenvolvidos ensaios de
impacto balístico no qual pode se atingir altas velocidades e simular, por exemplo,
o impacto de aves em aviões.
Até o presente momento não existem normas aceitáveis para ensaio de
impacto em materiais compósitos. Assim sendo, existe uma grande variedade de
procedimentos de ensaios e geometrias de corpos-de-prova. Técnicas de ensaio na
qual se utiliza pêndulo como Charpy e Izod necessitam de geometrias que não são
representativas das estruturas, sendo apenas adequadas para uma estimativa da
resistência ao impacto em compósitos. Estes métodos, porém, são amplamente
empregados para se comparar o comportamento ao impacto de materiais. Já
ensaios de queda de peso e ensaios balísticos são mais representativos, pois nestes
ensaios podem ser utilizados corpos-de-prova com dimensões mais próximas das
condições de utilização. Mais recentemente máquinas hidráulicas têm sido
utilizadas para se determinar a resposta de materiais compósitos em altas taxas de
deformação. Embora mais caros que os ensaios convencionais, os ensaios usando
estas máquinas são ideais para a análise da dependência de propriedades básicas
dos materiais em função da taxa de deformação.
Impacto em Materiais Compósitos 73 73
4.1.1. Impacto de baixa velocidade
4.1.1.1. Charpy
Vários dos primeiros ensaios de impacto em materiais compósitos foram
realizados utilizando-se o ensaio de Impacto Charpy (figura 4.2), o qual foi
desenvolvido originariamente para ensaios em metais. A razão dessa escolha foi
devido ao fato do pêndulo Charpy ser ao mesmo tempo simples de se usar e poder
ser instrumentado, e assim gerar informações sobre absorção e dissipação de
energia nos compósitos.
Corpo-de-prova Pêndulo
Apoios
Figura 4.2 – Configuração do ensaio de impacto Charpy.
O corpo-de-prova para o ensaio de Charpy é geralmente uma viga de
espessura considerável, algumas vezes contendo um entalhe no centro. O corpo-
de-prova é posicionado em um plano horizontal com dois apoios, sendo
impactado por um pêndulo, conforme mostra a figura 4.2.
O ensaio de impacto Charpy apresenta algumas desvantagens como o fato
da curva força x tempo conter oscilações harmônicas devidas à resposta natural do
impactador (Cantwell et al., 1991). De acordo com Macke e Quenisset (1990),
essas oscilações são atribuídas a efeitos de inércia, que dependem da natureza do
material (rigidez e densidade). Também de acordo com Suaris e Shah
(1981,1983), que estudaram essas oscilações em compósitos cimentícios, as
mesmas são geradas por efeitos de inércia.
Impacto em Materiais Compósitos 74 74
4.1.1.2. Izod
O procedimento para o teste de impacto Izod é bastante similar ao Charpy
conforme pode ser verificado nas figuras 4.2 e 4.3.
Martelo
Apoio
Figura 4.3 – Equipamento para ensaio de impacto Izod.
A única diferença entre os dois é a condição de apoio, como pode ser
verificada na figura 4.3 e 4.4 e o formato do martelo. No ensaio Izod o corpo de
prova é engastado na vertical como uma viga em balanço. Este teste apresenta
limitações similares ao Charpy (Cantwell et al., 1991).
Corpo-de-prova
Figura 4.4 – Detalhe do posicionamento do corpo-de-prova no ensaio de impacto Izod.
Impacto em Materiais Compósitos 75 75
4.1.1.3. Queda de peso
Neste tipo de ensaio um peso desprende-se de uma altura pré-determinada
e atinge um corpo-de-prova em um plano horizontal. Em geral este evento de
impacto não causa a destruição completa do corpo-de-prova, ao invés disso o peso
ricocheteia possibilitando assim a determinação de uma energia residual. A
velocidade de impacto pode ser obtida através de equações de movimento ou
através do uso de sensores ópticos localizados acima do corpo-de-prova.
Geralmente, o impactador é instrumentado possibilitando a obtenção da curva
força x tempo e também pode haver um transdutor para a determinação da
dissipação de energia. A principal vantagem deste teste em relação ao impacto
Charpy e ao Izod é devido ao fato de se poder utilizar uma maior variedade de
geometrias, proporcionando então o teste de componentes mais complexos.
Figura 4.5 – Equipamento para ensaio de queda de peso instrumentado.
Impacto em Materiais Compósitos 76 76
4.1.1.4. Máquinas hidráulicas
Há alguns anos, pesquisadores utilizam-se dessa técnica para caracterizar
a deformação e modos de falha de materiais em altas taxas de deformação. O
histórico de deformação do corpo-de-prova pode ser medido colando-se
extensômetros ou através de transdutores ópticos. Se um extensômetro ou outro
dispositivo de medida de deformação é colado ao corpo-de-prova, a sensibilidade
à taxa de deformação do adesivo deve ser levada em conta. A vantagem desse
teste é que o mesmo permite a determinação de propriedades básicas do material
como resistência à tração, módulo de elasticidade e tenacidade à fratura
interlaminar, sem efeitos de contato associados à queda de peso.
4.1.2. Impacto de alta velocidade
4.1.2.1. Barra Hopkinson
Esta técnica é parecida à utilizada nas máquinas hidráulicas no sentido em
que a mesma também permite a determinação de propriedades básicas dos
materiais como função da taxa de deformação. O esquema de ensaio pode ser
visto na figura 4.6. Arma de
pressão Barra de impacto Barra incidente Corpo de prova Barra de transmissão
Armazenamento de
dados
Figura 4.6 – Esquema de teste da Barra Ho
Condicionadores
de sinais
pkinson. (Kaiser, 1998)
Impacto em Materiais Compósitos 77 77
Diferentes tipos de Barra Hopkinson são utilizadas como: a barra de
compressão, a Barra Hopkinson com carregamento de soco, a barra de tração e
Barra Hopkinson para testes de cisalhamento. Uma foto de um ensaio da Barra
Hopkinson, que segue o modelo da figura 4.6 pode ser vista na figura 4.7.
Arma de gás Barra de impacto
Figura 4.7 – Teste utilizando a Barra Hopkinson. (Kaiser, 1998).
4.1.2.2. Impacto balístico
Teste de impacto atingindo taxas de deformações balísticas podem ser
feitos através de armas de pressão a gás como a mostrada na figura 4.8.
Normalmente um gás como o nitrogênio alimenta uma câmara localizada no final
de um tubo. O gás é restringido por um diafragma plástico. Quando este atinge um
valor pré-determinado o diafragma é queimado, acelerando o projétil em direção
ao alvo, ou seja, ao corpo-de-prova. A velocidade de impacto pode ser
determinada utilizando-se sensores ópticos. Geralmente o teste não é
completamente destrutivo porém freqüentemente resulta em um dano de larga
escala ou perfuração do corpo-de-prova. Até recentemente esta técnica tinha a
desvantagem de poucas informações poderem ser obtidas através deste ensaio.
Porém, já existem armas de gás instrumentadas proporcionando a obtenção de
gráficos força x deslocamento e assim possibilitando uma análise mais detalhada
Impacto em Materiais Compósitos 78 78
do evento de impacto. Armas de gás podem ser usadas para testar grandes
estruturas sendo bastante úteis para a determinação de respostas ao impacto em
alta velocidade de materiais compósitos.
Arma de
gás
Sensor óptico
Figura 4.8 – Aparato utilizado em um teste de impacto balístico. (Larsson e Svensson,
2002)
Na literatura existem várias descrições sobre os diversos tipos de ensaio de
impacto. A seguir, no quadro 4.1, são relacionados os diferentes autores com os
tipos de impacto descritos em seus respectivos trabalhos. Quadro 4.1 – Artigos com descrição de aparato de impacto.
Tipo Referência Tipo Referência
Arslan (1995) Collombet
(1998)
Gopalaratnam
e Shah (1986)
Yeung e
Broutman
(1978)
Server (1978) Ramsteiner
(1999)
Sjoblom e
Harness
(1988)
Vincent
(1973)
Suaris e Shah
(1983)
Marshall et al.
(1973)
Cheon et
al. (1999)
Queda de
peso
Mindess e Yan
(1993)
Adams et
al. (1990)
Pêndulo
Wolstenholme
(1962)
Mills e
Zhang
(1989)
Impacto em Materiais Compósitos 79 79
Tipo Referência Tipo Referência
Goldsmith
et al.(1995)
Hsieh et al.
(1992)
Impacto
por cargas
explosivas
Connell
(1999)
Mouritz
(2001)
Tarim et al.
(2002)
Iremonger e
Went
(1996)
Banthia et
al. (1996)
DeLuca et
al. (1998)
Larsson e
Svensson
(2002)
Impacto
por tração Chou et
al.(1973)
Tormala et
al. (1981)
Starrat et al.
(2000)
Lamongtane
et al. (2001)
Hou et al.
(2001)
Morye et al.
(2000)
Impacto
balístico
Okafor et
al. (2001)
Cox et al.
(2000)
4.2. Normas de impacto
Embora não existam normas para todos os tipos de ensaios de impacto e
para todos os materiais, já existem algumas normas e recomendações publicadas
para impacto. Uma vez que a geometria do material influencia no resultado do
teste como já foi provado em alguns materiais (Bader e Ellis, 1974) a
normalização deste tipo de ensaio é de grande importância para que se possa
comparar resultados de maneira correta. Algumas normas e recomendações para
ensaios de impacto estão mostradas no quadro 4.2:
Impacto em Materiais Compósitos 80 80
Quadro 4.2- Normas de testes de Impacto.
Normas e
Recomendações
Tipo de impacto Material
Rilem Technical
Committee 49
TFR
(1984)
Charpy Compósitos
cimentícios
reforçados por
fibras.
ASTM D1037
(1996)
Queda de peso Fibra à base de
madeira e painéis
ISO 180
(1993)
Izod Plásticos
ACI Committe
544
(1988)
Queda de peso Concreto reforçado
por fibras.
ASTM D256
(1978)
Charpy Plásticos.
4.3. Leis de contato
Deformações locais nas regiões de contato devem ser levadas em conta em
análises de impacto para se prever de forma acurada o histórico das forças de
contato. A identação, definida como a diferença entre o deslocamento do
impactador e a da face oposta do corpo-de-prova, pode ser da mesma ordem ou
maior que o deslocamento total do corpo-de-prova (Abrate, 1988). Este fenômeno
deve ser incorporado ao processo de impacto, pois a energia necessária para se
produzir esta deformação local pode ser uma parte apreciável da energia cinética
inicial (Goldsmith, 1960). O impactador e o corpo-de-prova podem ser
considerados como dois sólidos em contato e o problema então pode ser
considerado como um contato dinâmico. Entretanto, esta abordagem é
computacionalmente dispendiosa e não é capaz de descrever o efeito da
deformação permanente e o dano local no processo de descarregamento. A fase
de descarregamento no processo de identação pode ser modelada usando apenas
Impacto em Materiais Compósitos 81 81
leis de contato determinadas experimentalmente. Para se prever o histórico da
força de contato e a deformação total do corpo-de-prova não é necessário que se
faça um modelo detalhado da região de contato. Apesar do impacto ser um evento
altamente dinâmico no qual vários modos de vibração do corpo-de-prova são
excitados, leis de contato estaticamente determinadas podem ser usadas na análise
de impacto dinâmico em impactos de baixa velocidade. Isto ocorre pois, a taxa de
deformação e os efeitos de propagação das ondas podem ser negligenciados.
A identação é independente da deflexão global do corpo-de-prova. Quando
a área de contato é grande, a deflexão global do corpo-de-prova afeta a
distribuição de tensão em baixo do impactador, esta interação deve ser levada em
conta de forma precisa.
No anexo A deste trabalho é detalhada a Lei de contato de Hertz.
4.4. Métodos para o cálculo da energia de impacto
De acordo com Hancox (2000) existem 3 abordagens:
1 – Avaliar a energia de deformação armazenada
Se um corpo está submetido a tensões de tração, compressão, flexão ou
cisalhamento um método simples de resistência dos materiais pode ser utilizado
para o cálculo da energia de deformação armazenada. A área sob a curva tensão
deformação, até uma deformação ε, é igual a energia U armazenada pelo corpo:
∫=ε
εσ0
dU (4.2)
Se o material obedece à lei de Hooke, σ = Eε, a energia por unidade de
volume será, então:
2
2εEU = (4.3)
Impacto em Materiais Compósitos 82 82
Uma expressão similar é aplicada para a energia absorvida no cisalhamento
por unidade de volume:
G
U2
2τ= (4.4)
As seguintes expressões servem para o cálculo de energia de deformação em
uma viga de comprimento l, altura d e largura b:
Ebdl
UU ct 2,
2σ= (tração, compressão) (4.5)
Ebdl
xU bc 291 2σ
= (viga em balanço, viga com carregamento em 3 pontos)
(4.6)
GbdlxU s
2
154 τ
= (cisalhamento, carregamento em 3 pontos) (4.7)
Outra forma de se utilizar a abordagem de energia de deformação em
corpos de prova de área constante, porém de espessura, t , diferente é considerar :
EtU
2
2σ∝ (4.8)
Se a fibra, com fração volumétrica Vf, é a que mais contribui para a
resistência e módulo então a expressão anterior se torna:
tVU f∝ (4.9)
Impacto em Materiais Compósitos 83 83
2 – Micromecânica
Nesta abordagem a energia absorvida pelo compósito, U, é calculada
através do somatório da energia consumida por vários mecanismos de falha. Estes
mecanismos incluem:
Falha da fibra, Uf.
Falha múltipla da fibra, Umf.
Falha múltipla da matriz, Umm.
Arrancamento da fibra através de uma superfície de falha, Up.
Relaxação da fibra e redistribuição de tensão para a matriz, Ur.
Fissuração da matriz, Um.
Descolamento fibra/matriz, Ud.
A energia total de fratura é dada pela equação:
Utot = Uf + Um + Ud + Up + Ur + Umf + Umm (4.10)
Expressões típicas para o cálculo de Ud, Ur e Up são:
f
ffd E
yVU
2
2σ= (4.11)
f
c2ff
r E3LV
Uσ
= (4.12)
τσ
=σ
=24
dV12
LVU
2ffcff
p (4.13)
onde y é o comprimento de descolamento da fibra, Vf é a fração volumétrica de
fibras, σf a resistência à tração da fibra, τ é a resistência cisalhante interfacial, d o
diâmetro da fibra e Lc o comprimento crítico de transferência de tensão.
Uma dificuldade no uso destas equações é a obtenção de informações
realísticas para resistência ao descolamento fibra-matriz e a estimativa da tensão
de cisalhamento na interface fibra-matriz quando ocorre arrancamento da fibra.
Outras complicações podem aparecer se os modelos são aplicados a compósitos
laminados ou estruturas reforçadas com fibras distribuídas aleatoriamente.
Impacto em Materiais Compósitos 84 84
3 – Mecânica da fratura linear elástica
O propósito da mecânica da fratura é o de identificar critérios de fratura
como a energia de fratura, GIc, e a tenacidade à fratura, KIc, os quais são
independentes da geometria do corpo-de-prova (Kinloch, 1987). Os valores destes
parâmetros ajudam a desenvolver um melhor entendimento do processo da fratura
e são um benefício considerável nas áreas de formulação e seleção de materiais e
no projeto de engenharia. Estes parâmetros são determinados pelas equações a
seguir:
φφ BwUU
BwU
G ktcc
−==1 (4.14)
onde,
B = espessura
w = largura
φ = fator de forma o qual depende do comprimento da fissura
)/(/ waCC∂∂
=φ
C = Compliância do material = deslocamento/carga
a = comprimento da trinca
Ut = energia total
Uk = energia cinética
Uc = energia elástica
aBw
LFyayK c
cc 21 23
== σ (4.15)
Fc = carrega máxima
y = fator de forma, o qual depende do comprimento da trinca e para um
carregamento em três pontos é dado por:
2/3
2
)w/a1)(w/a21(]}))w/a(7,2w/a93,315,2)[w/a1(w/a{99,1(y
−++−−−
=
Impacto em Materiais Compósitos 85 85
Os valores de Fc são derivados diretamente das curvas experimentais
enquanto que os valores de Uc (Energia elástica) e δc (deslocamento) são obtidos
através da integração de curvas experimentais seguindo as seguintes equações:
∫∫
−=c
c
t
t
c M
FdtVFdtU
0
00 2
(4.16)
∫ ∫−=c ct t
cc dtFdtM
tV0 0
0 )(1δ (4.17)
Onde,
V0 = velocidade inicial
M = massa do martelo
tc = tempo para fratura
Os valores de GIc e KIc podem ser relacionados através do módulo do
material para deformação plana:
)1(EG
K 2Ic2
Ic υ−= (4.18)
O módulo de elasticidade do material pode ser determinado através da
compliância, pela equação:
22 )w/a(82,36)w/a(57,1958,5[x)]w/a1/(w/a[2412,19{BC1E +−−+=
]})w/a(77,12)w/a(95,34 43 +− (4.19)
4.5. Efeitos dinâmicos do impacto Charpy
Os equipamentos instrumentados de impacto têm os captadores de força
localizados na cabeça do pêndulo conforme é mostrado na figura 4.9. As forças
registradas são, assim, as forças que atuam sobre o pêndulo, e a energia calculada
Impacto em Materiais Compósitos 86 86
a partir dessas forças mediante o modelo estático é a energia perdida pelo
pêndulo.
Captador de
força.
Figura 4.9 – Detalhe do captador de força do martelo utilizado no ensaio de impacto
Charpy.
É errado considerar que as forças medidas no pêndulo são as mesmas que
atuam sobre o corpo-de-prova e, assim, os valores de energia calculados
correspondem a energia ganha pelo corpo-de-prova. Em velocidades
relativamente baixas de impacto, a diferença entre os valores medidos e os que
atuam sobre o corpo-de-prova são desprezíveis, porém à medida que a velocidade
do pêndulo aumenta, a diferença pode ser considerável.
A natureza dinâmica dos ensaios de impacto no qual se utilizam pêndulos,
como o impacto Charpy e Izod, provoca vibrações nos corpos-de-prova. Devido a
essas vibrações, os corpos-de-prova podem se soltar dos apoios e como os
captadores de força estão colocados na cabeça do pêndulo, é registrada e gerada
uma curva de força em função do tempo oscilante, a qual pode conter inclusive
vários zeros.
Quando a magnitude dos efeitos dinâmicos é pequena, existe um estado
quase-estático e dessa forma pode-se aplicar a análise estática, porém à medida
que os efeitos dinâmicos aumentam, as forças e energias que existem sobre o
corpo-de-prova são diferentes das registradas. Neste caso o fenômeno deve ser
analisado dinamicamente. Para isso um modelo dinâmico deve ser constituído
para o tipo de ensaio em questão. No próximo item é mostrado um modelo
dinâmico de dois graus de liberdade para um ensaio de Impacto Charpy utilizado
por Williams et al.,(1987).
Impacto em Materiais Compósitos 87 87
2.5.1 - Modelagem dinâmica
Análise de impacto usando modelo massa-mola com sistema de dois graus
de liberdade. O modelo utilizado por Williams et al., (1987) foi idealizado para a
geometria do ensaio de impacto Charpy. Este é modelado com uma mola de
rigidez k2 e massa equivalente “m”, calculada igualando-se a energia cinética
atuando no ponto de carga a “m”. Para essa geometria a massa equivalente é igual
a 3517 da massa do corpo-de-prova. Um fator vital é a rigidez de contato k1, o qual
controla a dinâmica do sistema. Na realidade este parâmetro seria não linear,
porém para o caso do contato de um cilindro finito em um plano, pode ser
considerado linear. Esta rigidez pode ser estimada estaticamente ou
dinamicamente e um fator de amortecimento pode também ser incluído. O modelo
final é mostrado na figura 4.10 , onde o deslocamento da massa é “u” e a massa
“m”.
O modelo de Williams permite predizer que a magnitude dos efeitos
dinâmicos será reduzida ao diminuir a constante dinâmica dos contatos. Isso pode
ser conseguido, diminuindo a velocidade ou colocando uma interface elastomérica
entre o corpo-de-prova e o pêndulo.
Figura 4.10 – Modelo dinâmico para o teste de impacto Charpy.
Impacto em Materiais Compósitos 88 88
O equacionamento do modelo é dado abaixo:
Equação de movimento:
t121 vku)kk(um =++&& (4.20)
Condições iniciais:
0== uu & , quando t = 0 (4.21)
Resultando assim em:
ωω
−
+
=tsentv
kkk
u t21
1 (4.22)
Onde,
mkk 21 +
=ω freqüência natural do sistema em rad/s
Força de contato:
( xsenxv
k1
)uv(kP t2t11 α+
ω
+αα
=−= ) (4.23)
Onde,
2
1
kk
=α
tx ω=
Força no corpo-de-prova:
)xsenx(v
k1
ukP t222 −
ω
+αα
== (4.24)
Energia perdida pelo pêndulo:
−α−
ω
+αα
= )1x(cos2
xvk
1U
22t
21 (4.25)
Impacto em Materiais Compósitos 89 89
Energia ganha pelo corpo-de-prova:
−
+αα
ω
+αα
= 22
t22 )xsenx(
121v
k1
U (4.26)