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UNIVERSIDADE DE BRASLIA
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
CONSTRUO DA SUSTENTABILIDADE EM CANTEIROS DE
OBRAS UM ESTUDO NO DF
JULIANA GEHLEN
ORIENTADORA: RAQUEL NAVES BLUMENSCHEIN
DISSERTAO DE MESTRADO
BRASLIA-DF, 18 de DEZEMBRO de 2008.
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UNIVERSIDADE DE BRASLIA
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
CONSTRUO DA SUSTENTABILIDADE EM CANTEIROS DE OBRAS UM ESTUDO NO DF
JULIANA GEHLEN
Dissertao de Mestrado submetida a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre em Arquitetura e Urbanismo, na rea de Tecnologia e linha de pesquisa em Construo Sustentvel. Aprovado por: Prof. Dr.Raquel Naves Blumenschein (FAU/ UnB) (Orientadora) Prof. Dr. Rosa Maria Sposto (Faculdade de Tecnologia - UnB) (Examinadora Interna) Profa. Dr. Rejane Maria Candiota Tubino (Escola de Engenharia - UFRGS) (Examinadora Externa)
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Braslia-DF, 18 de dezembro de 2008. GEHLEN, JULIANA Construo da Sustentabilidade em Canteiros de Obras Um estudo no DF, 154p. , (FAU/UnB, Mestre, Tecnologia, 2008). Dissertao de Mestrado Universidade de Braslia. Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo. 1. Construo Sustentvel. 2. Canteiro de Obras.
3. Certificao. 4. Sistema de Aprendizado.
I UnB-FAU II- Ttulo concedida Universidade de Braslia permisso para reproduzir cpias desta dissertao e emprestar ou vender tais cpias somente para propsitos acadmicos e cientficos. O autor reserva outros direitos de publicao e nenhuma parte desta dissertao de mestrado pode ser reproduzida sem a autorizao por escrito do autor.
Juliana Gehlen
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minha amada me (Ity) e ao meu instigante pai (em memria).
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Pensar s nos traz alegria Saber j outra questo
Somente quando sonha o homem vai ao cu O resto pelo cho
Almir Sater / Renato Teixeira
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AGRADECIMENTOS
Meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que participaram dessa caminhada e que mesmo sem saber me ajudaram e ensinaram a superar os meus limites.
Em especial: FAU/UnB pelo suporte e fornecer um espao aberto a discusses e proporcionar momentos muito agradveis; Ao Sinduscon-DF pelo apoio institucional, em especial ao Sr. Presidente Elson Ribeiro e Pvoa pela ateno e divulgao do questionrio da pesquisa entre as empresas filiadas e a todas aquelas que responderam. Ao Consrcio ETA-Braslia por todo o apoio desde o incio deste trabalho, por me proporcionar a oportunidade de vivenciar e colocar em prtica diversas questes abordadas na dissertao, alm de patrocinar a participao em congressos e seminrios. Estacon Engenharia pelo incentivo e ensinamentos de como vencer barreiras, e a ter o jogo de cintura to necessrio ao meu desenvolvimento profissional e pessoal. Raquel pelo carinho e por toda orientao ao longo do percurso sem a qual esse trabalho no teria chegado ao fim. equipe do LACIS pelo apoio, em especial Vitria por toda ateno e conselhos essenciais, apesar da minha resistncia. Ao grande amigo Caetano por todo o apoio, apesar dele achar essa histria de canteiro sustentvel uma chatice, e ter me adotado e resolvido de uma vez por todas me transformar numa engenheira de verdade. minha me por todo o exemplo de fora e perseverana, independente de tudo, sem contar as palavras de conforto e o incentivo. s minhas irms pela compreenso nos perodos de ausncia e carinho. Tia ria e Tio Darcy pelo suporte inicial, fora e oraes desde o incio at a reviso final deste trabalho. Ao meus padrinhos, Tia Lucia e Tio Carlos, pela confiana e incentivos constantes. Ao Pedro pela pacincia, companheirismo dirio, tradues e revises, e me transportar do meu mundinho sustentvel para as divertidas discusses e interpretaes zwischen Realitt und Wirklichkeit.
Obrigada a todos, com muito carinho.
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RESUMO
Esta dissertao aborda o conceito da sustentabilidade e a sua aplicao nos canteiros
de obras. Prope-se que a sustentabilidade no um conjunto de regras fixas mas uma srie
de prticas que vo se aprimorando medida que os agentes da cadeia produtiva atingem as
metas iniciais.
Mostra-se o papel das construtoras enquanto agentes vetores de mudanas na cadeia
produtiva da construo civil. Ainda que o foco principal das iniciativas de sustentabilidade
na construo tenha sido no escopo do projeto arquitetnico, o canteiro de obras a rea
onde as empresas construtoras tm mais poder de deciso pode contribuir
significativamente para a reduo dos passivos da indstria.
O canteiro de obras sustentvel pode ser atingido de diversas maneiras por meio da
aplicao de aes estratgicas, que so divididas nos seguintes temas: Compra responsvel;
Relao com a comunidade; Gesto de sade e segurana ocupacional; Projeto de gesto da
qualidade; Reduo das perdas de materiais; Gesto de resduos slidos; Uso e ocupao do
solo (implantao do canteiro); Consumo de gua; Consumo de energia e transporte;
Conservao de fauna e flora local; e Educao dos colaboradores.
Tendo como premissa que a sustentabilidade s ser alcanada atravs do
fortalecimento do sistema de aprendizado das empresas construtoras, so analisadas as
certificaes dos sistemas de gesto (ISO 9001, PBPQ-H, ISO 14001, OHSAS 18000, SA
8000), as certificaes de edifcios verdes (LEED e AQUA) e os programas locais (PGM e
PRAS) sob a perspectiva de suas respectivas contribuies para o desenvolvimento de
canteiros de obras sustentveis.
Buscando contribuir com a formao de uma base de dados para o desenvolvimento
do setor, foi traado o panorama das prticas adotadas em canteiros de obras no Distrito
Federal, mostrando como o aprimoramento alcanado gradativamente pelo setor. A pesquisa
mostrou que de fato h um percurso de aprendizado a ser seguido, tendo como incio as aes
relativas s questes econmicas, passando para as sociais, seguidas das educacionais e em
ltimo lugar aquelas relativas proteo do meio ambiente.
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ABSTRACT
This work addresses the concept of sustainability and its application in construction
sites. It is suggested that sustainability is not a set of fixed rules but a series of practices which
go on improving as the players in the productive chain meet its initial goals.
Construction firms are portrayed as having a role in conveying changes in the
productive chain of the construction industry. Although the main focus of sustainable
initiatives in building has been in the architectural design phase, the building sitewhere
construction firms have more leveragemay contribute significantly to reduce the
environmental liabilities in the industry.
The sustainable construction site may be actualized in different ways from the
pursuing of strategic actions, which are classified as: responsible procurement; community
relations; occupational health and safety management; quality management project; reduction
of construction waste; solid waste management; land use and occupation (construction site
design); water consumption; energy consumption and transportation; local vegetation and
wildlife conservation; and education of partners.
Assuming that sustainability will only be attained by means of strengthening the
learning system of construction firms, three sorts of corporate culture instruments are
analyzed: management systems (ISO 9001, PBQP-H, ISO 14001, OHSAS 18000, SA 8000),
green building certifications (LEED and AQUA) and local programs (PGM and PRAS), from
the standpoint of each instruments contributions to the development of sustainable
construction sites.
With the aim of contributing towards the constitution of a database for the
development of this sector, I sketched a picture of the practices adopted in construction sites
in the Federal District of Brazil, showing how gradual enhancements occur. The survey
showed that there is in fact a learning process to be followed, starting with actions related to
economic issues, from there on to the social, then educational and, lastly, environmental
protection issues.
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SUMRIO LISTA DE FIGURAS.............................................................................................................11
LISTA DE TABELAS ............................................................................................................12
LISTA DE GRFICOS..........................................................................................................13
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ...........................................................................14
INTRODUO.......................................................................................................................16
1. CAPTULO I SUSTENTABILIDADE NA INDSTRIA DA CONSTRUO.....22
1.1. SUSTENTABILIDADE......................................................................................................22
1.2. A SUSTENTABILIDADE APLICADA CONSTRUO CIVIL ...............................................25
1.3. CONSTRUO SUSTENTVEL ........................................................................................28
1.4. ETAPAS E ATORES RELEVANTES....................................................................................36
2. CAPTULO II CANTEIRO SUSTENTVEL...........................................................43
2.1. A ETAPA DA CONSTRUO............................................................................................43
2.2. AES ESTRATGICAS ..................................................................................................48
2.2.1. PROJETO DE GESTO AMBIENTAL ...............................................................................49
2.2.2. COMPRA RESPONSVEL..............................................................................................50
2.2.3. RELAO COM A COMUNIDADE..................................................................................52
2.2.4. GESTO DE SADE E SEGURANA OCUPACIONAL .......................................................53
2.2.5. PROJETO DE GESTO DA QUALIDADE..........................................................................53
2.2.6. REDUO DAS PERDAS...............................................................................................54
2.2.7. GESTO DE RESDUOS SLIDOS ..................................................................................55
2.2.8. USO E OCUPAO DO SOLO ........................................................................................57
2.2.9. CONSUMO DE GUA ...................................................................................................59
2.2.10. CONSUMO DE ENERGIA .............................................................................................60
2.2.11. CONSERVAO DE FAUNA E FLORA LOCAL...............................................................62
3. CAPTULO III BOAS PRTICAS EXISTENTES DE ORGANISMOS
INTERNACIONAIS...............................................................................................................63
3.1. BOAS PRTICAS E FERRAMENTAS PARA A QUALIDADE, SADE E SEGURANA, MEIO
AMBIENTE E RESPONSABILIDADE SOCIAL ...............................................................................63
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3.2. CERTIFICAO EMPRESARIAL ......................................................................................68
3.2.1. ISO 9001: 2000, E PBQP-H (NVEL A) SISTEMA DE GESTO DA QUALIDADE ........70
3.2.2. ISO 14001:2004 SISTEMA DE GESTO AMBIENTAL................................................77
3.2.3. OHSAS 18001: 2007 SISTEMA DE GESTO DE SEGURANA E SADE
OCUPACIONAL...... .................................................................................................................80
3.2.4. SA 8000: 2001 RESPONSABILIDADE SOCIAL ...........................................................83
4. CAPTULO IV FERRAMENTAS PARA CONSTRUO SUSTENTVEL ......87
4.1. BOAS PRTICAS E FERRAMENTAS PARA A SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUO .........87
4.2. LEED V2.2 (LEADERSHIP IN ENERGY AND ENVIRONMENTAL DESIGN) ........................90
4.3. AQUA ALTA QUALIDADE AMBIENTAL ....................................................................96
4.4. PROGRAMA DE GESTO DE MATERIAIS (PGM) ..........................................................103
4.5. PROGRAMA DE RESPONSABILIDADE AMBIENTAL E SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA DA
INDSTRIA DA CONSTRUO (PRAS) .................................................................................106
4.6. CONSIDERAES SOBRE AS CERTIFICAES ...............................................................109
5. CAPTULO V PANORAMA DO CANTEIRO SUSTENTVEL NO DISTRITO
FEDERAL .............................................................................................................................113
5.1. MTODO DE PESQUISA ................................................................................................113
5.2. ESTRUTURA DE ANLISE ............................................................................................118
5.2.1. RELAO ENTRE AS AES ESTRATGICAS E AS FERRAMENTAS ..............................119
5.2.2. RELAO ENTRE AS AES ESTRATGICAS E AS DIMENSES DA
SUSTENTABILIDADE...... .......................................................................................................126
5.2.3. DIMENSES DA SUSTENTABILIDADE E O PORTE DAS EMPRESAS................................131
5.3. COMPARAO ENTRE OS GRUPOS DE CONSTRUTORAS ................................................134
6. CONCLUSO ................................................................................................................141
BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................148
ANEXO..................................................................................................................................157
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ListadeFiguras
Figura 1 - Introduo dos aspectos ambientais no paradigma da indstria da construo .......26Figura 2 - Reinterpretaes da Agenda 21 relacionadas ao setor de construo (CIB/UNEP-
IETC, apud Silva 2003). ...........................................................................................................29Figura 3 - Sustentabilidade aplicada.........................................................................................33Figura 4 - Cadeia produtiva da Construo Civil. Fonte: Blumenschein, 2004. ......................38Figura 5 - As interrelaes das etapas no processo construtivo, adaptado de Hendriks, 2000.41Figura 6- Modelo de transformao nos canteiros de Obras. ...................................................45Figura 7 - Principais etapas de execuo da obra. ....................................................................47Figura 8 - Ciclo PDCA. ............................................................................................................73Figura 9 - Rede GEA de certificaes de edifcios (FERREIRA, 2008)..................................97Figura 10 - Perfil mnimo Aqua, adaptado de (CASADO, 2008). ..........................................99Figura 11 - Categorias avaliadas pelo AQUA ........................................................................100Figura 12 - Exemplo de certificado AQUA (FERREIRA, 2008)..........................................101Figura 13 - Caminho para a sustentabilidade..........................................................................112
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ListadeTabelas
Tabela 1 - Construo Sustentvel - Responsvel nas suas diversas dimenses......................35Tabela 2 - A atuao potencial dos diferentes stakeholders e suas ferramentas na construo
sustentvel, adaptado de (BAKENS, 2003)..............................................................................37Tabela 3 - Classificao de sistemas aplicveis construo civil no Brasil...........................67Tabela 4 - Certificaes de Green Buildings pelo mundo ........................................................88Tabela 5 - Pontuao necessria LEED NC, adaptado de (CASADO, 2008). .........................92Tabela 6 - Categorias e Pontuao LEED NC, adaptado de (CASADO, 2008).......................92Tabela 7 - Crditos atribudos ao construtor de acordo com o LEED v2.2..............................93Tabela 9 - Questes abordadas referentes Dimenso Econmica e as suas ferramentas
facilitadoras.............................................................................................................................116Tabela 10 - Questes abordadas referentes Dimenso Ambiental e as suas ferramentas
facilitadoras.............................................................................................................................116Tabela 11 - Questes abordadas referentes Dimenso Social e as suas ferramentas
facilitadoras.............................................................................................................................117Tabela 12 - Questes abordadas referentes Dimenso Educacional e as suas ferramentas
facilitadoras.............................................................................................................................117
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ListadeGrficos Grfico 1 - Nmero de empresas por tipo de certificao ......................................................120Grfico 2 - Aes exigidas pelo PBQP-H e a sua difuso entre as empresas.........................121Grfico 3 - Aes exigidas pela OHSAS 18001 e a sua difuso entre as empresas...............121Grfico 4 - Aes exigidas pela ISO 14001 e a sua difuso entre as empresas......................122Grfico 5 - Aes exigidas pela SA 8000 e a sua difuso entre as empresas.........................123Grfico 6 - Aes exigidas pelo LEED e a sua difuso entre as empresas.............................123Grfico 7 - Aes exigidas pelo AQUA e a sua difuso entre as empresas ...........................124Grfico 8 - Aes recomendadas pelo PGM e a sua difuso entre as empresas.....................125Grfico 9 - Aes recomendadas pelo PRAS e a sua difuso entre as empresas ...................125Grfico 10 - Difuso das aes da dimenso econmica........................................................126Grfico 11 - Difuso das aes da dimenso social................................................................127Grfico 12 - Difuso das aes da dimenso ambiental .........................................................128Grfico 13 - Difuso das aes da dimenso educacional......................................................129Grfico 14 - Aes realizadas sem promoo da educao ambiental ...................................130Grfico 15 - Distribuio geral do atendimento s aes de acordo com as dimenses. .......135Grfico 16 - As aes praticadas pelas pequenas construtoras...............................................137Grfico 17 - As aes praticadas pelas mdias construtoras em seus canteiros .....................138Grfico 18 - As aes praticadas pelas grandes empresas em seus canteiros.........................139Grfico 19 - Difuso das aes pelos grupos de empresas, onde 3-ao bem difundida; 2 ao
comum; e 1 ao rara. .............................................................................................................140
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ListadeAbreviaturaseSiglas ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas
ACV Anlise do Ciclo de Vida
AQUA Alta Qualidade Ambiental
BREEAM Building Research Establishment Environmental Assessment Method
CBIC Cmara Brasileira da Indstria da Construo
CDS Centro de Desenvolvimento Sustentvel
CIB International Council for Research and Innovation in Building and Construction
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
CPIC Cadeia Produtiva da Indstria da Construo
CUB Custo Unitrio Bsico
EPI Equipamento de Proteo Individual
FAU Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
HQE Association pour la Haute Qualit Environnementale
iiSBE International Initiative for Sustainable Building Enviroment
INMETRO Instituto Nacional de Metrologia
ISO International Standards Organization
LACIS Laboratrio do Ambiente Construdo e Incluso Social
LEED Leadership in Energy and Environmental Design Green Building Rating System
OHSAS Occupational Health and Safety Assessment Series
PBQP-H Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Habitat
PGM Programa de Gesto de Materiais
PIB Produto Interno Bruto
PRAS Programa de Responsabilidade Ambiental e Social
SA 8000 Social AccountAbility 8000
SINDUSCON-DF Sindicato da Indstria da Construo Civil
SIPAT Semana Interna de Preveno de Acidente de Trabalho
UnB Universidade de Braslia
UNCED United Nations Conference on Environment and Development
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UNEP United Nations Environment Programme
WBCSD World Business Council for Sustainable Development
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Introduo
A indstria da construo civil tida como uma das mais conservadoras e inerte a
mudanas devido a fatores tais como: demora na absoro de novas tecnologias, resistncia na
alterao dos seus processos e baixa retroalimentao de informaes e conhecimentos
adquiridos em obras e experincias anteriores (YIN, TSERNG et al., 2008). Entretanto, a
necessidade de adaptao nova realidade, que inclui escassez de recursos naturais, mudana
climtica, crises sociais, movimentos de valorizao das culturas tradicionais, valorizao de
eco-produtos e necessidade de minimizar e controlar impactos ambientais, requer a busca por
instrumentos de melhoria que auxiliem na mudana de comportamento que aos poucos vem
crescendo no setor.
A importncia dos impactos econmicos, sociais e ambientais das construes pode
ser notada tanto pela economia que movimentam por meio do estmulo produo de bens e
renda dos trabalhadores, quanto pela quantidade de empregos de profissionais qualificados ou
no (ROVERS, 2003) e dos recursos que consomem.
A indstria da construo, bem como todo o ambiente construdo, so os maiores
consumidores de recursos, energia e materiais. Os edifcios so responsveis pelo consumo de
aproximadamente 40 % da energia total e por gerar 40% de todo o lixo produzido pelo homem
(JOHN, 2000). Ao mesmo tempo, ela tambm responsvel por cerca de 7,3 % do PIB
nacional, com uma economia que movimenta aproximadamente R$ 126,2 bilhes, e emprega
3.771.400 trabalhadores em todo o pas, que corresponde a 5,6 % da Populao Ocupada
Total. Diferente de outras indstrias, os seus produtos, edifcios e infra-estruturas, so
produtos nicos que possuem uma longa vida til. Estruturas construdas hoje podem durar
pelo menos oitenta anos, tanto quanto os seus impactos (CMARA BRASILEIRA DA
INDSTRIA DA CONSTRUO, 2005).
Outro fator relevante o desperdcio de materiais durante o processo construtivo.
Segundo John (2000), a construo civil desperdia em mdia 56 % do cimento, 44 % da
areia, 30 % do gesso, 27 % dos condutores e 15 % dos tubos de PVC e eletrodutos. Alm
destes, outros impactos ambientais tambm so causados durante o processo construtivo.
Dentre eles cita-se o consumo de gua e energia, efluentes das atividades inerentes aos
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canteiros de obras como a gua da lavagem das betoneiras e sanitrios, poluio sonora,
contaminao de solos, gerao de poeira e poluio atmosfrica.
Considerando o tamanho e a importncia dos seus impactos, a indstria da construo
pode e deve contribuir com a busca de um desenvolvimento sustentvel. Onde
tradicionalmente tem sido considerado apenas o trip tempo, custo e qualidade, deve-se passar
a considerar tambm os aspectos ambientais como relevantes (BLUMENSCHEIN, 2004).
A partir da dcada de 1990 o mercado impulsionou a busca pelos sistemas de gesto
da qualidade, com a implantao da ISO 9001 da mesma forma que o mercado atual, aqui
entendido como clientes pblicos, particulares e acionistas, vem exigindo a internalizao das
dimenses ambiental e social pelas empresas, com a implantao de ISO 14001 (gesto
ambiental) e SA 8000 (responsabilidade social).
Como exemplos dessa nova postura de mercado, pode-se citar a Petrobrs que exige
em contrato que seus fornecedores e prestadores de servio possuam sistemas de gesto
integrada (qualidade, ambiental e de sade e segurana), e realiza auditorias peridicas para
avaliao. O Estado de So Paulo tambm comea a exigir em suas licitaes a
responsabilidade ambiental das construtoras interessadas. A entrada no mercado brasileiro de
certificaes de edificaes verdes, ou Green Buildings, como o LEED dos Estados Unidos e
o HQE da Frana mais uma constatao deste movimento em busca da construo
sustentvel. Vale mencionar, ainda, o nmero cada vez maior de congressos, seminrios,
reportagens e matrias em diferentes mdias sobre construo sustentvel.
Uma das barreiras para o desenvolvimento sustentvel da construo civil no Brasil
a falta de dados sistematizados sobre as prticas adotadas pelo mercado, bem como sobre o
ciclo de vida1 dos materiais (SILVA, 2007). Atualmente so sistematizados apenas os dados
econmicos do setor, disponibilizados pela CBIC, como levantamentos sobre a participao
do setor no PIB nacional, quantidade total de empresas, nmero de trabalhadores contratados,
e CUB2 mdio.
Uma base de dados que contribua com o desenvolvimento sustentvel da construo
civil deve abordar outros aspectos alm dos financeiros. Como exemplo de outras informaes
1 Por meio da avaliao do ciclo de vida avaliam-se os impactos ambientais de um produto desde a
extrao de suas matrias-primas at o seu descarte. 2 Custo Unitrio Bsico (CUB), ndice dos custos bsicos da construo civil por metro quadrado.
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relevantes, tem-se: as boas prticas adotadas pelo setor; quantificao dos seus impactos
ambientais; desenvolvimento social e educativo dos seus colaboradores; nmero de empresas
certificadas; e de informaes sobre o desempenho ambiental dos principais produtos
utilizados e lista de fornecedores responsveis.
A base de dados serve para a formulao de benchmarks3 nacionais, auxiliando na
avaliao de desempenho de empresas e empreendimentos. Os benchmarks so importantes
quando se almeja estabelecer metas de desenvolvimento e realizar comparaes entre
empresas e mercados. A sua construo requer esforos de diversos agentes, como o incentivo
de rgos do governo, comprometimento das instituies de pesquisa e envolvimento do setor
produtivo e terceiro setor atravs da disponibilizao de dados e apoio pesquisa.
Todavia, a existncia de uma base de dados, por mais completa que seja, por si s no
conduz a uma mudana de comportamento, muito menos ao desenvolvimento sustentvel. O
que a torna til o conjunto de informaes que se pode extrair atravs do cruzamento dos
dados, bem como as inferncias resultantes. Por sua vez, essas informaes, junto com o
contexto histrico, poltico, cultural e econmico geram o conhecimento necessrio para a
formulao de polticas que levem ao desenvolvimento sustentvel.
Considerando este contexto, uma questo importante a ser colocada a preparao das
empresas construtoras por regio, o que no caso deste trabalho visa investigar se as empresas
no Distrito Federal esto preparadas para essa nova realidade. Se no, o quo distantes esto
as prticas atuais daquelas exigidas?
Justificativa
A indstria da construo responde por cerca de 15% do PIB brasileiro, e as
estimativas so de que somente entre 30% e 40% das empresas fatia ocupada pelas grandes
corporaes tenham maiores preocupaes e aes concretas em relao ao equilbrio entre
as dimenses sociais, ambientais e econmicas da sustentabilidade (OLIVEIRA, 2008).
Entretanto no h dados concretos sobre as prticas adotadas pelo setor e as informaes sobre
3 Benchmark so os valores padro, uma mdia, de um determinado mercado que servem de referncia
para as empresas, investidores e governos na avaliao de suas atividades.
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construo sustentvel esto concentradas no mercado de So Paulo, que devido as suas
caractersticas no podem ser aplicadas ao restante do pas.
Considerando-se ainda que o exerccio da sustentabilidade s se concretiza atravs da
ao responsvel de cada um perante o todo, a indstria da construo deve exercer as suas
responsabilidades em cada uma de suas atividades (KIBERT, 2005). Contudo, dada a sua
complexidade, faz-se necessrio a subdiviso das responsabilidades entre os diversos atores e
etapas envolvidos para tornar a sustentabilidade aplicvel (BAKENS, 2003).
San-Jos, Losada et al. (2007) ressaltam, entretanto, que no mbito da construo
sustentvel a maior parte dos trabalhos e estudos voltada para edifcios comerciais ou
residenciais e com foco direcionado apenas para a etapa de projeto. Ainda h poucos trabalhos
que abordem outras tipologias ou as demais etapas de um empreendimento.
Sobre a aplicao das dimenses da sustentabilidade por profissionais e empresas do
setor construtivo mostram que no Brasil 82% dos profissionais possuem conscincia sobre as
questes da sustentabilidade, entretanto apenas 9% realmente j estiveram envolvidos ou
colocaram em prtica esses preceitos (WBCSD, 2007).
Esses dados sinalizam a distncia entre a prtica e a teoria, e que apesar de existir
conhecimento sobre o tema os profissionais no sabem como pratic-los, mostrando a
necessidade do desenvolvimento e difuso de ferramentas que fortaleam o sistema de
aprendizado e orientem a absoro de novas prticas pelo setor.
Dentre as diversas etapas de um empreendimento, a etapa de execuo de obras,
atividade principal das empresas construtoras, deve ser o seu foco no exerccio de suas
responsabilidades sociais, ambientais, econmicas e culturais, que resultam na
sustentabilidade aplicada nos canteiros de obras. Sua aplicao no canteiro e a extenso da sua
adoo pelas empresas construtoras no Distrito Federal o cerne desta pesquisa.
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Objetivos
Esta pesquisa tem como objetivo geral contribuir para a formao de uma base de
dados sobre as prticas adotadas pelas construtoras durante a execuo das obras no Distrito
Federal visando verificar a preparao do setor para a sustentabilidade.
Como forma de alcanar esse objetivo geral, tem-se os seguintes objetivos especficos:
Discutir a aplicao do conceito da sustentabilidade na construo, e definir
construo sustentvel;
Discutir o exerccio da responsabilidade na fase de execuo, ou seja, a
construo de um canteiro de obras sustentvel independente do projeto em
questo;
Apresentar exemplos de ferramentas e aes estratgicas que fortalecem o
sistema de aprendizado das empresas construtoras preparando-as para a nova
realidade emergente;
Mostrar o panorama da aplicao e disseminao das boas prticas no Distrito
Federal.
Estrutura da Dissertao
No captulo 1 so apresentados os referenciais tericos da pesquisa. O conceito de
sustentabilidade em seu aspecto mais amplo, a sua aplicao na construo, as diversas
abordagens e divergncias na definio da construo sustentvel. A discusso sobre o
desenvolvimento da construo sustentvel levanta a necessidade de desenvolver o tema de
acordo com as etapas que envolvem a construo de um empreendimento e com os atores
relevantes para a disseminao das boas prticas.
No captulo 2 realizada a descrio da etapa de execuo, os canteiros de obras, onde
se sintetizam as atividades das empresas construtoras, foco deste trabalho. So analisadas as
suas principais caractersticas, e desenvolve-se um conceito de um canteiro de obras
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sustentvel a partir do conceito de construo sustentvel. A construo de um canteiro de
obras sustentvel depende da aplicao de aes estratgicas que orientam as tomadas de
deciso e defina os itens prioritrios. Mostra-se quais so as responsabilidades do construtor
independentemente da tipologia do projeto e suas especificidades.
No captulo 3 so apresentadas as principais ferramentas que auxiliam no
desenvolvimento da construo sustentvel e as boas prticas j adotadas pelas empresas
construtoras. So analisadas as normas de certificao de empresas ISO9001 (Sistema de
Gesto da Qualidade), PBQP-H -SiAC (Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do
Habitat), ISO14001 (Sistema de Gesto Ambiental), OHSAS 18001 (Sistema de Gesto de
Sade e Segurana do Trabalho), e SA8000 (Sistema de Gesto de Responsabilidade Social),
que so ferramentas desenvolvidas por organismos internacionais e estabelecem critrios para
o desenvolvimento dos sistemas de gesto das empresas.
No captulo 4 so analisadas as ferramentas de aplicao direta nas construtoras,
dentre elas as certificaes de edifcios LEED (Leadership in Energy and Environmental
Design) e o AQUA (Alta Qualidade Ambiental); e os programas locais para a adoo de
prticas sustentveis pelo setor como o PRAS (Programa de Responsabilidade Ambiental e
Social) e o PGM (Programa de Gesto de Materiais), desenvolvidos pelo LACIS (Laboratrio
do Ambiente Construdo e Incluso Social). As certificaes e programas so descritos sob a
perspectiva da sua aplicao nos canteiros de obras e as suas contribuies para o
desenvolvimento da sustentabilidade nos canteiros de obras.
No captulo 5 so apresentadas as caractersticas da indstria da construo no Distrito
Federal, universo de aplicao deste trabalho. Nesse captulo, descreve-se o mtodo de
pesquisa utilizado para traar o panorama da aplicao das boas prticas pelas empresas
construtoras. Os resultados foram apresentados em trs anlises: em relao difuso das
prticas relacionadas com as ferramentas descritas no captulo trs; em relao s aes
praticadas pelas empresas e as dimenses da sustentabilidade; e quanto a correlao entre as
aes praticadas e o porte das empresas.
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1. CaptuloISustentabilidadenaIndstriadaConstruo
1.1. Sustentabilidade
O conceito de sustentabilidade tem as suas origens na dcada de 1960, quando o
movimento ambientalista se fortaleceu, sendo que a sua definio mais difundida foi o
resultado da publicao do Relatrio Brundtland em 1987, sob o ttulo Nosso futuro comum 4,
desenvolvido aps quatro anos de estudos e debates promovidos pela World Commission on
Environment and Development e coordenados pela ento primeira-ministra da Noruega, Gro
Harlem Brundtland.
A Comisso recomendou que ecologia e economia deveriam ser abordados de forma
integrada, uma vez que os desastres ambientais afetam diretamente o desenvolvimento
econmico e social de uma comunidade. O conceito de Desenvolvimento Sustentvel,
tambm conhecido como caminho do meio5 por no priorizar nem a ecologia nem a
economia, mas abord-los de forma holstica, sendo definido como Aquele que atende s
necessidades da gerao atual sem comprometer as necessidades das geraes futuras
(BRUNDTLAND, 1987, apud UNITED NATIONS CONFERENCE ON ENVIRONMENT
AND DEVELOPMENT, 1992.)
A busca de equilbrio entre o que socialmente desejvel, economicamente vivel e
ecologicamente sustentvel tem sido descrita em funo da chamada triple bottom line
(SILVA, 2003) que foi consagrada na Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre Mudana
do Clima (UNCED) realizada no Rio de Janeiro, onde foi publicada a Agenda 21 (UNITED
NATIONS CONFERENCE ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT, 1992). A
Agenda 21 foi assinada por 178 governos e representou um plano de ao global para o sculo
seguinte estabelecendo uma viso de longo prazo para equilibrar as necessidades econmicas
e sociais com os recursos naturais do planeta.
O conceito de desenvolvimento sustentvel passou a incorporar, portanto, as
dimenses sociais, econmicas e ambientais. A dimenso ambiental do desenvolvimento
sustentvel requer o equilbrio entre proteo do ambiente fsico e seus recursos, e o uso
4 No original: Our common future. 5 O termo foi originalmente cunhado na doutrina budista do Nobre caminho ctuplo, que busca a
iluminao sobre as causas do sofrimento no mundo, sem cair nos excessos opostos do ascetismo e do hedonismo.(AZEVEDO, 1987, p.155)
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desses recursos de forma a permitir que o planeta continue a suportar uma qualidade de vida
aceitvel. A dimenso social requer a construo de sociedades justas, que proporcionem
oportunidades de desenvolvimento humano e um nvel aceitvel de qualidade de vida. A
dimenso econmica, por sua vez, requer um sistema econmico que facilite o acesso a
recursos e oportunidades e o aumento de prosperidade para todos, dentro dos limites do que
ecologicamente possvel e sem ferir os direitos humanos bsicos (CIB/UNEP-IETC, 2002).
Veiga (2006), McDonough e Braungart (2003), e Hammond (1995) ,entretanto,
apontam que o termo desenvolvimento sustentvel alvo de diversas crticas por
entenderem que o desenvolvimento no pode ser por si sustentvel, pois a palavra
desenvolvimento tem a sua origem nas cincias econmicas, indicando um crescimento
infinito num ecossistema finito.
Meadows et al (1993)6, entretanto, colocam que crescimento est relacionado com
variveis quantitativas, enquanto desenvolvimento com variveis qualitativas e portanto
possuem significado distinto, sendo a discusso terminolgica apenas um modo de desviar a
discusso central da sustentabilidade e das aes a serem tomadas com esse fim.
Para Leff (2006) essas crticas terminologia podem ser suprimidas ao analisar-se a
diferena entre desenvolvimento sustentado e desenvolvimento sustentvel. Enquanto
aquela est ligada lgica do mercado e a necessidade de garantir a proviso dos recursos a
custos aceitveis garantindo a viabilidade econmica dos negcios, o desenvolvimento
sustentvel implica uma mudana de paradigma, de modo de produo e principalmente de
valores.
Para Dias (2002), a mudana do modelo vigente de desenvolvimento baseado no
consumismo, imediatismo e utilitarismo para um modelo baseado na sustentabilidade no
ocorrer sem conflito, e que o elemento fundamental para a implantao desse novo modelo
a educao ambiental ( p.65). Vistos dessa forma, os instrumentos ou ferramentas que
contribuem para o fortalecimento do processo de aprendizagem so o caminho para a
mudana de paradigma rumo sustentabilidade.
Smeraldi (2004) sugere ainda que a sustentabilidade deve ser vista no como um alvo
esttico ou pr-determinado, mas sim como um alvo dinmico que se aperfeioa ao longo do
6 Grupo de Pesquisadores do Clube de Roma, responsveis pelo relatrio Crescimento Zero de 1972.
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tempo. O alcance da sustentabilidade est relacionado a padres como nveis de poluio
aceitveis, urbanizao ideal, etc. Ainda que esses padres devam ser pr-estabelecidos como
requisitos mnimos, eles mudam ao longo do tempo. Os nveis de poluio que eram aceitos
na dcada de 1970 hoje so considerados ultrapassados e novos limites, cada vez mais
restritivos, so impostos (RIBAS, 2003). Desta forma, a sustentabilidade est intimamente
ligada ao conceito de melhoria contnua, ou seja, algo que sempre h de ser aperfeioado. O
que hoje definido como sustentvel daqui alguns anos pode ser considerado lugar-comum ou
obsoleto e novos patamares ou padres sero definidos como ideais a serem alcanados.
Quando se aceita que a sustentabilidade um padro mutvel, e que implica a
mudana de paradigmas, evidencia-se que o conceito de sustentabilidade no se restringe aos
aspectos ambientais, mas engloba aspectos sociais, educacionais, econmicos e culturais. A
sustentabilidade concebida como um imperativo tico (BURSZTYN, 2001; SACHS, 2002)
em relao responsabilidade e solidariedade da gerao atual com as geraes futuras, tanto
com respeito ao acesso aos recursos naturais para garantir a qualidade de vida quanto a
conservao7 da biodiversidade8 propriamente dita.
Sachs (2002) a concebe a partir de diversos critrios: social, cultural, ecolgico,
ambiental, territorial, econmico, e poltico (nacional e internacional). E aponta que os
critrios que vm merecendo maior ateno por parte da sociedade se referem s atividades
direcionadas para a ecoeficincia e para a produtividade dos recursos, como reciclagem,
aproveitamento de resduos, conservao de energia, gua, e manuteno de equipamentos,
infra-estruturas e edifcios visando extenso de seu ciclo de vida. importante notar que
essas atividades esto diretamente ligadas indstria da construo, formando assim os
principais paradigmas da construo sustentvel.
Para serem aplicveis, as dimenses da sustentabilidade precisam estar divididos por
reas de atuao, por setores. Para se atingir o todo deve-se atuar nas partes, aes locais
com efeitos globais (BEZERRA e BURSZTYN, 2000). Essa diviso no significa deixar de
abordar a sustentabilidade de forma sistmica, mas pretende apenas ajudar a melhor definir
7 Conservao a gesto racional dos recursos naturais de modo a garantir ao mesmo tempo sua
renovao e sustentabilidade. Enquanto preservao prev a manuteno de um ambiente natural sem qualquer mudana ou retirada dos seus recursos.
8 O termo recursos naturais pressupe valorao econmica e que determinado elemento natural possui uma utilidade direta e valor de mercado, j o termo biodiversidade se refere ao direito de existncia em si, independente da sua utilidade potencial. Para maiores esclarecimentos sobre o assunto ver (BEZERRA, 1996) e (MOTTA, 2006).
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diretrizes e planos de ao por atividade econmica. Com essa viso pode-se discutir a
sustentabilidade do sistema de qualquer atividade econmica como um todo, incluindo a
dinmica de consumo, extrao de matrias-primas, distribuio de materiais industrializados,
e a etapa de construo. Apesar de abordar as partes, faz-se necessrio discutir a
sustentabilidade do conjunto, pois a sustentabilidade das partes no garante a sustentabilidade
do todo, uma vez que a sustentabilidade de um componente pode depender de suas inter-
relaes com os outros elementos do sistema do qual faz parte (BEZERRA e VEIGA, 2000,
p.58).
[...] o Relatrio Brundtland, convida-nos a pensar globalmente e a agir localmente, ou seja, a fazer avanar a nossa anlise com muita lucidez. No faz sentido pensar globalmente se formos incapazes de aplicar tais conceitos a uma crise social que experimentamos individualmente. No se vai longe na busca fragmentada de solues para as crises. Quando tentamos controlar a poluio sem dispormos de um plano de desenvolvimento, ou de gesto mais abrangente do territrio, acabamos criando mais problemas do que contribuindo efetivamente para sua superao. Quando no conseguimos identificar com lucidez as causas e conseqncias mais remotas e gerais, falhamos no cumprimento da tarefa (DANSEREAU, 1999, p.413).
Deve-se atentar para o fato de que a sustentabilidade no existe de forma isolada, ela
s existe em conjuntos ou sistemas. Deste modo, no existe uma casa sustentvel, um prdio
sustentvel, uma empresa sustentvel, como um ponto, uma exceo no meio do todo. O que
existe so sistemas sustentveis, redes de trocas sustentveis, da a importncia de se atuar em
pontos centrais das cadeias de produo, para que atravs desse local de sinergia seja possvel
difundir os conceitos e valores inerentes sustentabilidade.
1.2. Asustentabilidadeaplicadaconstruocivil
O alcance da sustentabilidade depende do estabelecimento de um consenso a respeito
da contribuio de cada setor produtivo, inclusive do setor da construo civil
(ZIMMERMANN, ALTHAUS et al., 2005). Convencionalmente, a indstria da construo
possui como referncia apenas o tringulo de custo, qualidade e tempo. Porm, o tamanho e a
complexidade dessa cadeia produtiva, incluindo a quantidade de recursos que utiliza (cada vez
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mais escassos) e sua interferncia no meio ambiente, so evidncias de que necessrio
mudar o paradigma e passar a considerar os fatores ambientais tambm como relevantes
(BLUMENSCHEIN, 2004), conforme Figura 1.
Figura 1 - Introduo dos aspectos ambientais no paradigma da indstria da construo
No caminho em busca da sustentabilidade da construo civil, a mudana de
paradigma nos pases em desenvolvimento fundamental, pois estes pases respondem juntos
por 23% do volume mundial de construes e esse nmero s tende a aumentar (ROVERS,
2003), uma vez que as suas necessidades de infra-estrutura e moradias ainda no foram
satisfatoriamente atendidas. Quanto a este fato Halliday (2008) alerta para a falsa
argumentao para justificar construes de baixa qualidade que venham a atender
necessidades bsicas:
Os argumentos se tornaram polarizados. Em respeito agricultura, aqueles que promovem o uso de sementes geneticamente modificadas (transgnicos) recorrem ao argumento moral da necessidade de suprir a fome mundial. Os que so contra invocam o princpio da precauo e promovem mtodos sustentveis de aumentar a produo agrcola, sem recorrer aos riscos implcitos na modificao gentica. E o mesmo acontece no meio ambiente construdo. O dficit habitacional usado para suprimir todos os argumentos de que estas casas devem ser econmicas, saudveis, eficiente no uso dos recursos e bem
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localizadas. Entretanto uma coisa no exclui a outra.9 (HALLIDAY, 2008, p.21).
Rovers (2001) aborda a sustentabilidade da construo civil em trs nveis:
construes atentas ao meio ambiente, construes sustentveis e vida sustentvel. Estes so
os trs pontos principais que precisam ser manejados para que se reduzam os impactos
ambientais e mudanas climticas diretamente relacionadas s atividades de construo. O
primeiro, construes atentas ao meio ambiente, considerado do ponto de vista de uma
construo em si: reduzir o impacto do uso de energia, gua e recursos materiais (incluindo
rejeitos). O segundo nvel, construes sustentveis, inclui todos os aspectos relacionados a
construes e ao meio ambiente: flora, fauna, infra-estrutura, qualidade do ar e projeto
urbanstico. O terceiro nvel, vida sustentvel, considera o nosso modo de vida dirio, de uma
maneira que garanta um padro de vida elevado e signifique que polticas e aes econmicas
trabalhem juntas para aumentar o bem-estar geral.
A sustentabilidade de uma construo tambm est diretamente ligada sua
durabilidade e sua capacidade de sobreviver adequadamente ao longo do tempo, referindo-
se maneira com que ela responde s condies de poluio do ar, solo, gua e aos impactos
no meio ambiente em geral (BLUMENSCHEIN, 2004). A durabilidade das edificaes o
principal quesito para uma edificao sustentvel, e est diretamente ligada qualidade do
processo construtivo e dos materiais empregados. H correntes filosficas que consideram
sustentveis apenas edifcios que possuam pelo menos 200 anos, ou sete geraes (KIBERT,
2005). Esse seria o tempo necessrio para se realizarem as compensaes ecolgicas dos
impactos das construes.
Hendriks (2000.) aponta que durabilidade est relacionada com a capacidade do
material de resistir s intempries e aes do tempo sem perder nenhuma de suas propriedades
9 Arguments become polarised. In respect of agriculture, those promoting genetically modified crops
claim the moral high ground of feeding the world`s hungry. Those against involke the precautionary principle and promote sustainable methods of increasing food production without the risks implicit in genetic modification. The same is true in built environment. A need for housing is used to override any argument for such housing to be affordable, healthy, resource efficient and in the right place. Yet it could be all these things.
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funcionais e que a nfase do conceito de durabilidade para sustentabilidade est relacionada
como uma medida da qualidade ecolgica dos materiais, do meio ambiente e a sade humana.
Durabilidade e sustentabilidade esto evidentemente intimamente associadas, e h muitas conexes entre ambos os conceitos em termos de propriedades dos materiais. Essas tm a ver com o uso da matria-prima e da energia, mecanismos de deteriorao, emisses de produo, produo de resduos (aproveitveis ou no), capacidade de recuperao e manuteno, proteo preventiva, ocupao do espao, e bem estar humano durante a execuo as obras (condies de trabalho) e durante o uso das estruturas (HENDRIKS, 2000., p.19).10
Outro aspecto importante a respeito da durabilidade est relacionado capacidade do
projeto se adaptar a diversas funes ao longo do tempo e se estabelecer como elemento
visual de identidade de um lugar (ROMERO, 2001), sustentando assim o seu aspecto cultural.
O preceito de que para serem sustentveis as construes devem ser a priori duradouras est
tambm embutido na traduo em francs de desenvolvimento sustentvel, como
dveloppement durable et solidaire. Uma vez que durable acarreta o sentido de tempo
vivido, e solidaire em relao s questes sociais, abrindo o seu significado para questes
culturais de percepo histrica, e simblicas.
1.3. Construosustentvel
A utilizao do termo construo sustentvel como uma construo mais durvel,
mais confortvel, com menor consumo energtico e de gua, socialmente correta, entre outros,
denota a insatisfao com o desempenho das construes modernas11 e a necessidade de
mudar a maneira de projetar, construir, usar, manter e demolir as construes.
A Agenda 21 para a Construo Sustentvel faz distines entre aspectos sociais,
econmicos e ambientais. Estes por sua vez so divididos em trs nveis: materiais e
10 Durability and sustainability are of course closely related, and there are many links between both
concepts in terms of properties of materials. These relate to the use of raw materials and energy, deterioration mechanisms, development emissions, production of waste streams (usable or otherwise), potential recovery and maintenance, preventative protection, space occupation, and human well-being during construction (labour conditions) and during the practical stage
11 Construes modernas aqui no uma referncia ao estilo de construo modernista, referimo-nos s
construes do sculo XX, e contemporneas em geral.
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componentes, edifcios e meio ambiente interno, e meio ambiente urbano. A Agenda indica
objetivos possveis, barreiras, desafios e aes em direo do desenvolvimento de uma
indstria da construo sustentvel (BAKENS, 2003).
No setor da construo civil, as interpretaes da Agenda 21 mais relevantes so: a
Agenda Habitat II, assinada na Conferncia das Naes Unidas realizada em Istambul, em
1996; a CIB5 Agenda 21 on Sustainable Construction (CIB, 1999), que contempla, entre
outros, medidas para reduo de impactos atravs de alteraes na forma como os edifcios
so projetados, construdos e gerenciados ao longo do tempo; e a CIB/UNEP6 Agenda 21 for
sustainable construction in developing countries (CIB/UNEP-IETC, 2002) (Figura 2).
Figura 2 - Reinterpretaes da Agenda 21 relacionadas ao setor de construo (CIB/UNEP-IETC, apud Silva 2003).
A Agenda 21 para a Construo Sustentvel para Pases em Desenvolvimento (CIB,
2000) apresenta os principais aspectos e desafios que a indstria da construo deve superar
em busca do desenvolvimento sustentvel, com nfase nos aspectos sociais. Uma construo
sustentvel, vista dessa forma, pode ser encarada como uma contribuio para a reduo da
pobreza, criando um ambiente de trabalho saudvel e seguro, distribuindo eqitativamente
custos sociais e benefcios da construo, facilitando a criao de empregos, desenvolvimento
de recursos humanos, conquistando benefcios financeiros e melhorias para a comunidade.
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As principais barreiras para a construo sustentvel em pases em desenvolvimento
citadas na Agenda 21 for sustainable construction in developing countries (CIB/UNEP-IETC,
2002), e que os diferenciam dos pases desenvolvidos, tornando as medidas sustentveis mais
complexas so (STRAND e FOSSDAL, 2003):
falta de capacitao tanto na indstria quanto nos governos;
falta de autoridade das agncias ambientais, financiamento e ambiente econmico
incerto;
pobreza e o subseqente baixo investimento urbano e a baixa capacidade de pagar por
servios;
falta de interesse por parte dos stakeholders12;
inrcia e dependncia tecnolgica (neocolonialismo);
falta de dados em geral, falta de padronizaes e normas para contribuir com o
estabelecimento de benchmarks nacionais;
baixo nvel de preocupao ambiental entre os cidados, e
falta de instituies para facilitar polticas apropriadas.
Existem diversas terminologias relacionadas construo sustentvel: Eco-
Arquitetura, Bioarquitetura, Arquitetura Bioclimtica, Construo Verde, Construo Natural,
Arquitetura Alternativa, Green Building, entre outros, so termos afins que fazem parte do
espectro do tema, entretanto no significam a mesma coisa (SCHWARZ, 1982). Cada um
desses termos foi criado para descrever caractersticas de um determinado projeto dentro de
um contexto especfico.
Otto (1982) alerta que o uso dessas terminologias problemtico e que elas devem ser
usadas com cautela, pois do a entender que este tipo de construo no pode ser realizado em
qualquer lugar e nem para todos os tipos de usurios, e assim acaba por se tornar esteretipo e
serem vistas com receio por parte da sociedade.
Mora (2007) atenta para o fato de que embora a expresso construo sustentvel 12 Stakeholders so os diversos atores envolvidos ou influenciados por um empreendimento.
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venha sendo cada dia mais utilizada, necessrio distinguir entre a sustentabilidade aplicada
atividade construtiva e a sustentabilidade do ambiente/ edifcio construdo. Para este autor, em
termos absolutos, a sustentabilidade s ser possvel na construo civil quando esta passar a
usar apenas fontes de energia renovveis, materiais reciclveis ou reciclados de resduos de
construes. Como essa considerada uma utopia, o conceito de construo sustentvel usado
por ele assume: construo que inclua os critrios ambientais na concepo do projeto, no
modo de construir, na manuteno e, quando chegar o momento, na sua demolio. Porm,
Mora no leva em considerao na sua descrio de construo sustentvel os demais
aspectos sociais, econmicos, e culturais da sustentabilidade, que na perspectiva desse
trabalho tambm devem ser considerados.
Uma construo para ser sustentvel deve contemplar os aspectos sociais, econmicos,
ambientais e culturais relacionados concepo do produto, produo, operao e
modificao do ambiente construdo (FOSSATI, ROMAN et al., 2005). Deve-se repensar e
modificar os modos produtivos atravs da internalizao da poltica dos Rs: Respeito a si
mesmo; Respeito ao prximo; Responsabilidade por suas aes; Reduzir o consumo, Reduzir
o desperdcio, Reutilizar materiais, Reciclar e preciclar, e Replanejar (DIAS, 2002, p.68).
Otto (1982), Rovers (2003), Kibert (2005) e Arajo (2007) apontam ainda que uma
construo sustentvel antes de mais nada uma construo responsvel. Vista dessa maneira,
construo sustentvel o exerccio da responsabilidade de cada ator envolvido no processo
para com o todo, a responsabilidade de um indivduo perante os outros, o uso responsvel dos
recursos naturais, a responsabilidade da gerao atual com as geraes futuras.
O termo responsabilidade a definio da liberdade de agir segundo a razo e no
segundo o interesse. Agir segundo a razo, para Kant, fazer de tal modo que toda ao possa
ser vista como uma regra universal a ser seguida por todos: esse o imperativo categrico13
(SCRUTON, 1997, p.77-78).
A construo sustentvel deve ser vista, portanto, como uma construo na qual
durante todo o seu processo desde a concepo, planejamento, construo, manuteno e
demolio sejam realizados de modo responsvel. Os seus diversos impactos ambientais,
sociais, econmicos, com vistas as suas contribuies para o sistema de aprendizagem e
13 O imperativo categrico uma determinao de cunho moral: A moralidade comum exige respeito
para com os outros e si prprio; ela probe excees em benefcio prprio; ela trata a todos como iguais perante a lei moral. (SCRUTON, 1997, p.79).
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respeitando a cultura, e o contexto em que o projeto ser desenvolvido, como colocado por
Ball:
Os princpios emergentes incluem regionalizao, incluso da cultura na sustentabilidade, e a base para um entendimento material da cultura no mbito da linguagem arquitetnica. Dessas discusses pode-se concluir primeiro, que o meio ambiente sofre com as prticas insustentveis e explorao de recursos, e que essas prticas afetam no somente o meio ambiente natural, mas tambm as comunidades e suas culturas. Depreende-se que, se o regionalismo reconhecido, faz-se necessria uma maior valorizao dos recursos regionais, da capacidade de suporte ambiental e social, bem como da interao destes sistemas para o planejamento de uma estratgia ambiental holstica. (BALL, 2002, p.426)14
Alm da valorizao das questes estticas da regionalizao da construo
expressadas pela arquitetura, Ball tambm trata da capacidade de suporte social, indo alm das
questes ambientais. Esse suporte social inclui a capacidade da sociedade em mudar o seu
estilo de vida, estar preparada, educada para atingir novos padres, principalmente no que se
refere implantao de normas de certificao ambiental para edificaes que exigem prticas
ambientalmente corretas muitas vezes acima da capacidade das comunidades locais em
atend-las, gerando frustraes e um repdio da extenso da aplicao das boas prticas ao
invs de dissemin-las (STRAND e FOSSDAL, 2003).
Bre; Car; Eclipse apud (SILVA, 2003) definem construo sustentvel por meio dos
seus aspectos econmicos, ambientais e sociais, onde a sustentabilidade econmica significa
aumentar a lucratividade e crescimento com o uso mais eficiente e racional de recursos,
incluindo mo-de-obra, materiais, gua e energia. A sustentabilidade ambiental significa evitar
ou minimizar os efeitos perigosos e potencialmente irreversveis no ambiente atravs de uso
racional de recursos naturais, reduo de resduos, proteo de fauna e flora e, quando
possvel, melhoria do ambiente. A sustentabilidade social implica responder s necessidades 14 The principles that emerge include regionality, inclusion of culture in sustainability and the basis for
cultural materiality within the languages of architecture. From these discussions it is possible to conclude, firstly, that the environment is suffering from unsustainable practices and resource exploitation and these unsustainable practices affect not only the natural environment but communities and their culture as well. It follows that, if regionality is acknowledged, a greater appreciation of regional resources, environmental and social carrying capacities and the interaction of environmental and social systems is necessary for planning a holistic environmental strategy. (BALL, 2002, p.426)
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de pessoas e grupos sociais envolvidos em qualquer estgio do processo de construo (do
planejamento demolio), prover alta satisfao do cliente e do usurio, e trabalhar em
parceria com clientes, fornecedores, funcionrios e comunidades locais.
Figura 3 - Sustentabilidade aplicada
importante notar que quando se fala na implantao da sustentabilidade, em
caminhos rumo ao desenvolvimento sustentvel, diversos autores salientam a importncia
do fortalecimento dos sistemas de aprendizagem e que o caminho s possvel atravs da
educao (BURSZTYN, 2001; DIAS, 2002; OFORI, GANG et al., 2002; SACHS, 2002;
MCDONOUGH e BRAUNGART, 2003; LEFF, 2006). Entretanto, quando se discute
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construo sustentvel as questes relativas educao, sistemas de aprendizagem e gesto
do conhecimento so pouco abordadas (STRAND e FOSSDAL, 2003), apesar de serem
fundamentais.
Desta forma, a sustentabilidade aplicada deve incluir os sistemas de gesto de
aprendizagem e a tomada de decises devem estar de acordo com os aspectos culturais das
comunidades envolvidas, conforme Figura 3.
Tendo em vista essa abordagem, a construo sustentvel definida de acordo com a
dimenso ambiental, social, econmica, educativa (sistema de aprendizagem) e cultural, de
acordo com a
Tabela 1.
A construo sustentvel a aplicao harmnica de todas as dimenses, de modo a
buscar o equilbrio entre as questes econmicas, ambientais, sociais e educativas, sendo que
so as questes culturais que inter-relacionam as demais e permeiam a tomada de decises
que colocam em prtica de modo responsvel, como um imperativo tico, todos os aspectos
da sustentabilidade.
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Tabela 1 - Construo Sustentvel - Responsvel nas suas diversas dimenses
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1.4. Etapaseatoresrelevantes
A implementao de aes que contribuem para o desenvolvimento da construo
sustentvel exige esforo de diversos atores, envolvendo polticas pblicas, iniciativa privada
e rgos de financiamento. Quanto s aes a serem realizadas nesse sentido, deve-se
estabelecer o escopo de cada ator social, ou seja, qual a esfera de atuao de cada um.
Por se tratar de uma cadeia produtiva complexa, a indstria da construo pode ser
dividida em trs grandes grupos: de suprimentos, auxiliar, e principal ou de processos,
conforme mostra a Figura 4 (BLUMENSCHEIN, 2004).
A cadeia de suprimentos formada pelos fornecedores de produtos e matrias primas
para a construo em geral, como esquadrias, cermicas, cimento, e brita, por exemplo. A
auxiliar composta pelas equipes de projeto e especificaes, logstica de transporte e
aspectos tericos em geral. E a principal ou de processos, como o prprio nome diz, onde se
executam as atividades de construo em si, sendo o ponto central de atividades tanto da
cadeia de suprimentos quanto da auxiliar. A cadeia principal o vetor para disseminar
mudanas de comportamento na Indstria da Construo, pois ela a detentora dos recursos
que viabilizam as construes e mobilizam as atividades do conjunto como um todo
(BLUMENSCHEIN, 2004).
A atuao da cadeia principal est entrelaada, entretanto, com a atuao de diversos
stakeholders que possuem um papel fundamental no desenvolvimento de uma construo
sustentvel. Somente a sua integrao ir resultar num edifcio realmente sustentvel. Como
mostra a Tabela 2, cada ator possui a sua relevncia de acordo com a etapa do processo como
um todo, as aes potenciais de cada um, o seu grau de influncia num contexto geral e
exemplos de ferramentas que auxiliam na busca de uma construo mais sustentvel.
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Tabela 2 - A atuao potencial dos diferentes stakeholders e suas ferramentas na construo sustentvel, adaptado de (BAKENS, 2003).
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Figura 4 - Cadeia produtiva da Construo Civil. Fonte: Blumenschein, 2004.
Os principais atores so: governos, investidores, incorporadores, proprietrios,
ocupantes comerciais, pesquisadores, projetistas, administraes, corretores
imobilirios, indstria e fornecedores, construtoras, usurios, associaes
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profissionais, rgos reguladores e fiscalizadores, mdia e sociedade civil organizada
(BAKENS, 2003).
Os governos devem promover polticas e legislaes que viabilizem a
disseminao de prticas sustentveis, elaborarem planos de desenvolvimento
territoriais amplos e que atendam a toda sociedade. Os governos tambm so os
principais clientes da indstria da construo, cabendo aos seus projetos e obras
servirem como exemplo de construo sustentvel e liderarem o desenvolvimento do
setor.
Aos investidores cabe o papel de liderar o mercado como exemplo ao
escolherem investimentos que possuem alto desempenho e reduo de riscos; uma vez
que construes sustentveis apresentam menores riscos de passivos ambientais,
econmicos e sociais, elas aumentam a rentabilidade dos investimentos e promovem a
sustentabilidade. Por serem retentores de grande volume de recursos financeiros,
tambm possuem forte influncia no desenvolvimento do setor.
Os proprietrios possuem a tarefa de exigir estruturas de alto desempenho e
pensar na escolha dos materiais com base no seu ciclo de vida, visando a durabilidade,
versatilidade, manuteno e conforto. Os ocupantes comerciais promoverem a
demanda de edifcios de alto desempenho para aluguel, reduzindo o custo operacional
de suas estruturas. Aos pesquisadores e instituies de ensino cabe a gerao e difuso
do conhecimento, por meio do desenvolvimento de mtodos e tecnologias de
aplicao direta pelas indstrias, e empresas, estando disponvel para toda a sociedade.
Os projetistas devem adotar os princpios da sustentabilidade em seus projetos
com o uso de parmetros tcnicos, garantindo: a acessibilidade; a escolha de
tecnologias adequadas ao meio e a sociedade na qual o projeto est inserido; a escolha
dos materiais com o auxlio da anlise de seus EPDs15 (Environmental Product
Declaration) e desempenhos funcionais. Deve-se fazer uso das ferramentas de
bioclimatismo para garantir estruturas e edifcios com maior conforto ambiental e com
menor uso de energia, por meio da especificao de produtos eficientes, reduo do
consumo de gua, cabe a eles conscientizar os clientes da importncia e vantagens da
aplicao dessas tcnicas, entre outros. Vale ressaltar que na etapa de projeto que
15 Declarao de Desempenho Ambiental dos Produtos.
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esto concentradas as oportunidades mais visveis de aplicar os aspectos ambientais da
sustentabilidade e que vm merecendo maior destaque atualmente.
s administradoras de imveis cabe a tarefa de operar as estruturas
adequadamente e de maneira ambientalmente consciente, monitorar o desempenho
energtico, de conforto e consumo de gua, bem como compartilhar informaes de
suas atividades com os demais setores para garantir a retroalimentao das decises
tomadas em projeto. Os corretores imobilirios devem orientar os seus clientes de
modo a promover as vantagens dos edifcios de alto desempenho e da construo
responsvel, contribuindo para a disseminao dos valores da sustentabilidade no
mercado.
A indstria e fornecedores de materiais e produtos manufaturados tem a
obrigao de disponibilizar informaes sobre o ciclo de vida dos seus produtos,
assumirem as suas responsabilidades ambientais, sociais e educativas na sua produo
e promover e a participar das inter-relaes do sistema e da formao de redes.
As construtoras devem minimizar os seus impactos ambientais, promover
relaes sociais mais justas, atender as exigncias dos seus clientes, agregarem valor
aos seus servios e produtos e promover a difuso de sistemas de aprendizagem.
Aos usurios cabe exercer os seus direitos e respeitar as necessidades de
manuteno dos sistemas operacionais dos edifcios. As associaes de profissionais
podem assegurar o aumento das habilidades e conhecimento dos membros, adotar,
capacitar e promover os princpios da sustentabilidade no seu meio e promover a ao
multidisciplinar.
Os rgos reguladores podem ser mais receptivos s novas tecnologias que
melhoram o desempenho dos projetos e combater a informalidade e promover a
legalidade e atendimento s normas. Por sua vez,a mdia e a sociedade civil
organizada, representada pelas ONGs, devem promover os princpios da
sustentabilidade atravs da difuso das informaes e facilitando a transmisso de
conhecimentos, gerando demanda pela sustentabilidade. Tambm no se pode deixar
de mencionar o seu papel de gerar polmicas, alardearem irregularidades, e
influenciarem nas tomadas de decises de governos e empresas.
Dentre os atores listados, as construtoras so foco deste trabalho por possurem
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um papel importante na mudana do cenrio como um todo devido amplitude dos
impactos das suas atividades na sociedade e no meio ambiente. Alm disso, na
atividade das construtoras que se sintetizam, concretizam e so promovidas as aes
dos demais atores.
Hendriks e Pietersen (2000) apontam que o processo construtivo pode ser
dividido em diversas etapas e que cada uma dessas possui a capacidade de aplicar a
sustentabilidade de acordo com o seu poder na tomada de deciso no desenvolvimento
e construo dos projetos. As principais etapas so: fase inicial (definio das
necessidades, especificaes e escolha do local); etapa de projetos (layout,
detalhamentos, instalaes, estruturas e especificao de materiais); execuo da obra
(preparao do terreno e construo); uso e manuteno; e finalmente demolio e
reuso.
Linhas de interdependncias no tranversais
Figura 5 - As interrelaes das etapas no processo construtivo, adaptado de Hendriks,
2000.
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Para se obter uma edificao de alto desempenho e com impactos reduzidos,
preciso incorporar princpios de sustentabilidade como fundamentao na tomada de
deciso nos projetos e na maneira de constru-los. Uma construo no pode ser
considerada sustentvel se desde o princpio no for concebida como tal. necessrio
o envolvimento de todos os atores em todas as etapas: desde a formulao do
programa, anlise do terreno, concepo e desenvolvimento dos projetos, execuo da
obra, uso e manuteno das estruturas construdas, at a previso da sua demolio ou
desmonte para a liberao do terreno para outras atividades ou estruturas
(BLUMENSCHEIN, 2004). A Figura 5 mostra o desenvolvimento linear dessas
etapas, bem como as interferncias no lineares do processo voltadas para a execuo
da obra, que o local e o momento que as expectativas e idias projetadas se
concretizam16.
Tendo em vista que a aplicao da sustentabilidade requer a sua diviso por
reas de atuao, setores, ou etapas (BEZERRA e BURSZTYN, 2000), faz-se
necessria uma abordagem sobre cada etapa e seus atores envolvidos no processo
construtivo, de acordo com as suas respectivas responsabilidades e especificidades,
para viabilizar o desenvolvimento sustentvel do setor. No mbito deste trabalho,
sero abordados os aspectos relacionados com as empresas construtoras, com nfase
na etapa de construo.
16 As demais relaes entre as vrias etapas do processo construtivo foram subtradas por causa
do enfoque na etapa de execuo.
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2. CaptuloIICanteiroSustentvel
2.1. Aetapadaconstruo
Dentre as diversas etapas, a execuo de um edifcio ou empreendimento
merece especial ateno por sintetizar a sua concepo e projetos, ser o momento onde
os maiores impactos so gerados17 (demanda pela extrao de recursos18, gerao de
resduos, gerao de renda) e o momento e local onde os diversos componentes da
indstria da construo mais interagem entre si. Por ter essas caractersticas que a
etapa de construo, o canteiro de obras, o momento chave para disseminar os
princpios da sustentabilidade por toda a cadeia, por meio do fortalecimento das
ferramentas de aprendizagem que contribuem para a mudana de paradigma.
As aes a serem realizadas pelas construtoras para promover o
desenvolvimento sustentvel devem ter o seu foco na sua prpria rea de atuao e
possuir relao com o seu negcio, que no caso so as atividades ligadas aos canteiros
de obras. Esse o ambiente onde so realizadas as suas atividades principais e onde
esto os seus principais recursos financeiros e humanos, merecendo, portanto, maior
ateno e onde as aes surtiro maiores efeitos (PORTER e HERZOG, 2007).
Outro aspecto importante para focar a atuao sustentvel das empresas
construtoras nos seus canteiros de obras o fato destas nem sempre serem as
responsveis pelos projetos executados. Com exceo das incorporadoras, que
influenciam diretamente as decises de projeto e podem modific-lo, as demais
construtoras so contratadas somente para a etapa de execuo e possuem autonomia
apenas para modificar o seu processo de produo, desde que essas modificaes no
processo no alterem o projeto ou as caractersticas do produto final.
Ambrozewicz (2003) e Yin (2008) salientam que o setor da construo civil
apresenta uma srie de peculiaridades que o diferencia dos demais setores industriais,
dentre as quais se destacam o carter nmade, com dificuldade de constncia de
materiais e processos; produtos geralmente nicos e no seriados; produto fixo e 17 Os impactos podem ser positivos e negativos e classificados em ambientais, sociais,
econmicos ou culturais. 18 Como exemplo de recursos pode-se citar a extrao de areia, brita, calcrio e terra.
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operrios mveis, ao contrrio da produo em cadeia (produtos mveis e operrios
fixos), dificultando a organizao e o controle; indstria muito tradicional, com grande
resistncia s alteraes; uso de mo-de-obra pouco qualificada, com escassas
possibilidades de promoo; trabalho sujeito s intempries; longo ciclo de aquisio,
uso, reaquisio, com pouca repercusso posterior da experincia do usurio; emprego
de especificaes complexas, quase sempre contraditrias e muitas vezes confusas;
responsabilidades dispersas e pouco definidas; grau de preciso quanto a oramento, e
prazos e caractersticas muito menores do que em outras indstrias.
Todas estas caractersticas so prprias da etapa de execuo, que se sintetiza
no canteiro de obras, realando a necessidade de um programa especfico para o
desenvolvimento sustentvel do setor em funo da sua complexidade e extenso.
O canteiro de obras definido pela NR-18 (FUNDACENTRO, 1996) como
rea de trabalho fixa e temporria, onde se desenvolvem operaes de apoio e
execuo de uma obra. A NB-1367 (ABNT, 1991) define canteiro de obras como reas
destinadas execuo e apoio dos trabalhos da indstria da construo, dividindo-se
em reas operacionais e reas de vivncia. Menezes e Serra (2003) observam que o
canteiro de obras uma estrutura dinmica e flexvel, que durante o desenvolvimento
da obra assume caractersticas distintas em funo dos operrios, empresas, materiais e
equipamentos presentes.
Para Serra (2001), cada configurao de canteiro de obras corresponde a sua
forma de organizao, pois existem diferenas de transporte e movimentao de
materiais e operrios, tipos de equipamentos, localizao de suas instalaes, entre
outros. A seqncia de execuo tambm varia conforme o planejamento, podendo
existir vrias frentes de servio atuando ao mesmo tempo.
O canteiro de obras onde os recursos transformadores (pessoas e instalaes)
processam os recursos a serem transformados (matria-prima, gua, energia, meio
ambiente, informaes) em produtos (bens e servios). Entretanto, alm do produto, o
processo de transformao tambm gera impactos ambientais (resduos, efluentes,
emisses), sociais (renda, relao com a comunidade, acidentes de trabalho) e
educacionais (desenvolvimento tcnico, melhoria contnua), que so genericamente
chamados, junto com o produto, de sadas do processo de transformao, conforme a
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Figura 6.
Um processo de transformao sustentvel atento tanto s suas entradas
quanto s suas sadas, por meio de aes do seu processo interno (NASCIMENTO,
LEMOS et al., 2008). Em relao s entradas, deve-se atentar para a origem dos seus
recursos de modo a garantir a sua qualidade, procedncia ambiental e legal. Em
relao s sadas deve-se atentar para a qualidade final do produto, reduzir os seus
impactos ambientais, aprimorar a renda dos trabalhadores, garantir boas relaes com
a comunidade vizinha da obra, diminuir os acidentes de trabalho, aprimorar o
desenvolvimento tcnico, e gerar conhecimento que retroalimente o processo de
melhoria contnua.
Figura 6- Modelo de transformao nos canteiros de Obras.
Assim como a realizao de um empreendimento como um todo possui
diversas etapas, a etapa de execuo da obra tambm possui as suas sub-etapas do
processo. A execuo da obra compreende: planejamento, incio das atividades,
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realizao dos servios (execuo dos projetos), e entrega da obra, conforme mostra a
Figura 7.
A etapa de planejamento da obra primordial para a qualidade do
empreendimento e deve atender os prazos, custos, prever os impactos ambientais,
elaborar diretrizes e padres a serem seguidos durante a execuo dos projetos. Esse
planejamento realizado basicamente com o estudo e anlise crtica dos projetos,
elaborao dos cronogramas financeiros, de atividades e treinamentos, e estudo do
layout do canteiro de obras de modo a aperfeioar a realizao das atividades
previstas.
O incio das atividades marcado pela contratao da mo-de-obra e seu
treinamento, aquisio dos recursos (materiais e equipamentos), e construo das
estruturas auxiliares essenciais para a realizao dos servios, tais como vestirios,
refeitrio, ferramentaria, carpintaria, escritrio, e almoxarifado. O planejamento da
obra e o incio das atividades so aquilo que na Figura 6 chamado de entradas do
processo.
A realizao dos servios a etapa onde se executam os projetos em si. Alm
de se construir as estruturas. Nessa etapa a atividade de verificao dos servios
essencial para garantir a qualidade das tarefas realizadas e a sua rastreabilidade.
Tambm deve ser realizada a proteo dos servios para evitar que atividades e
servios subseqentes os danifiquem ou os intoxiquem.
A etapa de entrega da obra marcada pelo comissionamento19 das estruturas de
acordo com as exigncias dos clientes, pela elaborao do Manual do Cliente que
facilita a manuteno posterior das estruturas pelos usurios, e pelo desmonte do
canteiro de obras. As etapas de realizao dos servios e de entrega da obra
correspondem juntas fase de transformao da Figura 6.
19 Comissionamento neste trabalho considerado o procedimento de checagem se o executado
est de acordo com o contratado, e / ou especificaes de projeto, sendo em certos casos elaborado um plano de comissionamento.
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Figura 7 - Principais etapas de execuo da obra.
Para um canteiro de obras ser sustentvel necessrio que as dimenses
econmica, ambiental, social, educacional e cultural da sustentabilidade estejam
incorporados em cada etapa de execuo da obra. O seu exerccio vai alm do
planejamento e programao das atividades mas, tambm devem estar presentes nos
seus espaos fsicos, na maneira como as diversas tarefas so realizadas, no convvio
dos colaboradores e na relao da obra com as suas reas vizinhas. Conforme
colocado por Quelhas e Limas:
Como pr-requisito para a sustentabilidade das organizaes necessrio possuir garantia de que suas operaes no iro provocar aes futuras no que se refere a suas prticas em relao aos trabalhadores (passivos trabalhistas) e ao meio ambiente (passivos ambientais), quanto continuidade de disponibilidade de bons fornecedores, quanto construo de imagem positiva junto opinio pblica e quanto ao cumprimento da legislao e ao recolhimento de taxas e impostos. (QUELHAS e LIMA, 2006, p.4).
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Ao considerar-se os diversos aspectos da sustentabilidade e a complexidade da
sua prtica, preciso compreender que no possvel materializar todos os aspectos
de uma s vez pelas empresas (SAFATLE, 2007). Assim, faz-se necessrio
estabelecer quais aes devem ser implantadas e quais so os seus respectivos
objetivos.
2.2. Aesestratgicas
A definio de pontos de ao essencial para que as empresas construtoras
possam comear a agir de modo mais estratgico rumo sustentabilidade (Iseppe,
apud SAFATLE, 2007). As aes destacadas podem ser colocadas em prtica em
qualquer canteiro de obras, independentemente do projeto do empreendimento como
um todo. De qualquer modo, inegvel o conhecimento da necessidade e importncia
de um bom projeto de arquitetura para se alcanar uma construo sustentvel, uma
vez que esse deve ser o ponto de partida.
Entretanto, dado que os construtores no possuem controle e influncia sobre o
projeto, deve ser -lhes dado a oportunidade de exercerem a sua responsabilidade de
forma independente para que possam reforar a importncia da sua atividade na
construo sustentvel como um todo. Deve-se ter em mente que as aes aqui
propostas no esgotam as possibilidades de melhoria aplicveis no caminho da
sustentabilidade.
As aes que contribuem com a implantao de um canteiro sustentvel foram
divididas por temas e prticas especficas:
Projeto de gesto ambiental;
Compra responsvel;
Relao com a comunidade;
Gesto de sade e segurana ocupacional;
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Projeto de gesto da qualidade;
Reduo das perdas de materiais;
Gesto de resduos slidos;
Uso e ocupao do solo (implantao do canteiro); e
Consumo de gua;
Consumo de energia e transporte;
Conservao de fauna e flora local; e
Educao dos colaboradores (intrnseco aos demais itens).
2.2.1. Projetodegestoambiental O projeto de gesto ambiental o mecanismo de preveno e minimizao dos
impactos ambientais no processo como um todo. Consiste em um documento que deve
avaliar o programa de execuo da obra em todas as suas etapas em relao aos seus
aspectos ambientais de forma integrada, estabelecer metas e padres de conduta a
serem seguidos e possibilitar a avaliao contnua dos servios verificando a eficcia
das solues adotadas, gerando registros, e possibilitando um melhor monitoramento
para a preveno de acidentes ambientais. No projeto de gesto ambiental ficam
registrados o comprometimento da empresa, dos subcontratados e dos fornecedores
atingirem um melhor desempenho ambiental e assegurarem o treinamento dos
trabalhadores.
Ele deve incluir procedimentos para sua implantao e atendimento s
emergncias (acidentes ambientais), bem como outros procedimentos referentes
disposio de resduos,proteo do solo, gua e ar (gerao e sedimentao de
particulados) e preveno de vazamentos. Define os responsveis pelas aes, e
mostra aos clientes de forma clara o comprometimento dos construtores. A sua
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implantao pode ser verificada atravs de checklists e verificao de registros dos
procedimentos adotados.
2.2.2. Compraresponsvel Compra responsvel o comprometimento da empresa em exercer a sua
responsabilidade e influncia para garantir a compra de materiais de fornecedores e
prestadores de servio que no utilizem em seu processo mo-de-obra infantil, ou
escrava, que utilizem processos de fabricao mais limpos, e materiais de jazidas
licenciadas.
A indstria da construo consome diretamente um grande volume de
materiais de origens diversas que formam uma cadeia de suprimentos complexa. Ela
vai desde produtos de alta tecnologia como aditivos e impermeabilizantes qumicos,
passando por componentes de baixa tecnologia como o bloco cermico, at materiais
granel como a areia. Por consumir diretamente esses materiais, as construtoras
possuem co-responsabilidade social e ambiental junto aos seus fornecedores. Ignorar
essa realidade assumir passivos e riscos de outras empresas para si e a sua preveno
por meio da compra responsvel.
A compra responsvel se consolida no apenas com a declarao de uma
poltica, mas com a adoo da prtica de avaliao dos fornecedores, quando se realiza
o mapeamento da posio da empresa em relao aos seus insumos e aos seus riscos
potenciais. A implantao de um sistema de avaliao dos fornecedores requer o
posicionamento dos dirigentes das empresas para que a deciso de compra no se
baseie apenas no preo de tabela dos produtos, j que necessrio avaliar os custos
indiretos e os passivos em potencial.
Na indstria da construo a adoo desses critrios dificultada pela
capacitao tcnica e pelo baixo investimento nos recursos humanos que so
necessrios para a correta avaliao dos fornecedores, tanto pelo entendimento da
importncia da prtica quanto pela locao de pessoas necessrias pelo departamento
de compras e oramentos (JOBIM e FILHO, 2006). Jobim e Filho colocam ainda que a
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prtica da compra responsvel ainda mais eficaz quando realizada por um conjunto
de empresas, e no de forma isolada:
A definio dos posicionamentos exige, [...], que a empresa identifique perfeitamente seus fornecedores e clientes. Dessa forma, o escopo da gesto da cadeia de suprimentos abrange toda a cadeia produtiva, incluindo a relao da empresa com seus clientes, e no apenas com seus fornecedores. Introduz, tambm, uma importante mudana de paradigma competitivo, na medida em que considera que a competio no mercado ocorre, de fato, no nvel das cadeias produtivas, e no apenas no nvel das unidades de negcios isoladas (JOBIM e FILHO, 2006, p.242).
Essa abordagem reflete como a compra responsvel um elemento
intrnseco sustentabilid