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Disperso espacial da populaoe do emprego formal nas regies
de influncia do Brasil contemporneo
Population and formal jobs spatial dispersion
in contemporary Brazilian influence regions
Carlos Lobo
Ralfo Matos
ResumoDesde finais da dcada de 1970, vrios autores
aventaram a hiptese de reverso da polarizao
no Brasil, como proposto pelos modelos aplicados
nos pases desenvolvidos. Diante das controvrsias,
o objetivo deste trabalho foi avaliar a magnitude
da disperso espacial da populao nas Regies
de Influncia das principais metrpoles brasileiras,
definidas pelo IBGE. Foram utilizadas as bases dos
ltimos Censos Demogrficos e da Relao Anualdas Informaes Sociais, a partir das quais foi pos-
svel identificar os fluxos da populao e da mo de
obra ativa formal. Os resultados indicam a intensi-
ficao na ocupao dos espaos alm das Regies
Metropolitanas. No caso da metrpole paulista, o
crescimento desses deslocamentos para sua Regio
de Influncia direta parece confirmar uma espcie
de disperso polinucleada.
Palavras-chave:disperso espacial; migrao;mobilidade de trabalhadores formais; regies de
influncia e disperso polinucleada.
AbstractSince late 1970s, several authors have worked on
the polarization reversion hypothesis in Brazil, as
suggested by the models applied in the developed
countries. Considering the existing controversies,
this research aims at evaluating the current
population spatial dispersion magnitude on the
main Brazilian metropolises Influence Regions,
defined by IBGE. The data for this research was
extracted from the last Demographic Censuses andfrom the Annual Relation of Social Information,
based on which it was possible to identify
population and active formal workers flows. The
results indicate the occupation of spaces expansion
beyond the of Metropolitan Regions limits. In the
case of So Paulo metropolis the increase of these
population flows to its Influence Region seems to
confirm a kind of polynucleated dispersion.
Keywords:spatial dispersion; migration; formalworkers mobility; influence regions; polynucleated
dispersion.
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Introduo
Alm das controvrsias que resultaram da di-
fuso de expresses como reverso da polari-zao, desconcentrao concentrada, de-
senvolvimento poligonal, entre outras, h um
relativo consenso acerca das evidncias empri-
cas de declnio do crescimento demogrfico de
grandes centros metropolitanos brasileiros nas
ltimas dcadas do sculo passado. Embora os
processos de urbanizao e metropolizao no
Brasil sejam ainda relativamente recentes oque exige cuidado no uso de expresses como
despolarizao ou mesmo desconcentrao
os dados referentes aos dois ltimos Censos De-
mogrficos parecem confirmar uma tendncia
de disperso espacial da populao, a despeito
de os principais centros metropolitanos conti-
nuarem mantendo suas posies hierrquicas
do ponto de vista macrorregional, atraindo ex-pressivos contingentes populacionais.
Mesmo tendo em vista as contribuies
da economia regional estrito senso, h um de-
bate que requer aprofundamento quanto dis-
tribuio espacial da populao, notadamente
no que se refere aos movimentos migratrios
e aos deslocamentos da fora de trabalho. No
mbito da geografia regional, so poucos ostrabalhos sobre migraes internas que se uti-
lizam de informaes censitrias para estimar
os movimentos da populao no espao. Escas-
sas tambm so as pesquisas voltadas para a
anlise espacial dos estoques e deslocamentos
da populao inserida no mercado de trabalho
formal. A investigao sobre a distribuio e
os fluxos da populao permite reconhecer di-menses ainda pouco exploradas do processo
de desconcentrao ou disperso espacial da
populao e por essa lacuna que este estudo
pretende trilhar.
O objetivo avaliar a atual magnitude
da disperso espacial da populao e da fora
de trabalho no Brasil, tendo como recorte es-pacial de anlise as Regies de Influncia das
principais metrpoles, estabelecido pelo IBGE.1
Pode-se perguntar se haveria um rearranjo dos
fluxos migratrios e dos deslocamentos da for-
a de trabalho ativa no interior das Regies de
Influncia das principais cidades brasileiras.
Seria a disperso espacial evidenciada pela
intensificao e difuso da influncia metropo-litana? Ou essa disperso ainda muito inci-
piente, estando ainda restrita s periferias das
metrpoles?
Diante desse propsito, foram utilizadas
as bases referentes aos Censos Demogrficos de
1991 e 2000 e Relao Anual das Informaes
Sociais (RAIS) de 1996 a 2005, a partir das quais
foi possvel identificar os estoques e fluxos dapopulao residente e da Populao Ativa For-
mal (PAF). O pressuposto principal de que es-
sa disperso se materializa no crescimento dos
estoques de pessoas residindo e/ou trabalhando
fora e em espaos mais distantes das principais
Regies Metropolitanas do pas, bem como no
incremento do volume dos fluxos de populao
migrante e dos deslocamentos da PAF para osmunicpios de cada uma das Regies de Influn-
cia, considerada a distncia envolvida nos veto-
res que representam esses fluxos.
Ainda que no seja o objetivo deste tra-
balho investigar os fatores sociais, polticos ou
econmicos determinantes da disperso espa-
cial, a elaborao e divulgao de indicadores
especficos podem ser teis elaborao eproposio de polticas pblicas necessrias
reduo das desigualdades regionais no pas.
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Em vrias circunstncias, a redistribuio da
populao residente e dos trabalhadores for-
mais deixa de ser uma mera consequncia de
determinados processos espaciais, tornando-se
catalisadora de profundas mudanas na reali-dade regional, a exemplo do papel da migrao
na dinamizao do estado de So Paulo ou do
Centro-Oeste brasileiro.
Reverso da polarizao,
desconcentrao ou dispersoespacial da populao.Aspectos tericose conceituais
Richardson (1980) um dos textos-referncia
sobre o processo de reverso da polarizao
(RP). Nessa obra, o autor afirmava que o cres-
cimento continuado da concentrao das ativi-
dades econmicas no leva ao aumento con-
tinuado da eficincia. Os benefcios marginais
derivados da escala urbana e da concentrao
produtiva tendem a diminuir a partir de certo
tamanho de populao. Os custos mdios de
prover infraestrutura fsica, servios pblicos
e administrao governamental local aumen-
tam em termos per capita com o crescimento
da cidade. Dessa forma, a relao custo-be-
nefcio altera-se diante dos custos crescentes.
Richardson sugere que o ponto de inflexo e
os custos sociais marginais refletem o comeo
de crescentes deseconomias de aglomerao
resultantes do incremento de diversos tipos
de congestionamentos urbanos; da elevao
do preo mdio da terra urbana (que passa a
sofrer concorrncia entre usos alternativos de
solo); do aumento do custo de vida devido aos
gastos crescentes de transporte e habitao
(explicados em parte pelas altas do preo da
terra); da expanso da criminalidade e piora
das condies de vida.Para Redwood III (1984), o momento de-
cisivo de incio da RP refere-se intensificao
das deseconomias de aglomerao e reflete in-
crementos derivados da elevao dos custos de
moradia e trabalho. Esse processo caracteriza-
se pela mudana da tendncia de polarizao
espacial na economia nacional, a partir da qual
ocorreria a disperso espacial para fora da re-gio central. Essa mudana manifesta-se por
uma sequncia de fases: no incio haveria um
processo bem definido de concentrao econ-
mica, quando se estabelece um centro e uma
periferia; em sequncia ocorreriam transforma-
es estruturais na rea central, momento em
que os ncleos adjacentes passariam a apre-
sentar crescimento mais acelerado que o cen-tro; o terceiro estgio marcaria o incio do pro-
cesso de reverso da polarizao, quando a dis-
perso ganharia maior amplitude; na sequncia
a disperso tambm atingiria os centros secun-
drios; e finalmente a rea central comearia
a perder populao.2Ainda de acordo com
Redwood III (ibid.), o crescimento demogrfico
e econmico das cidades secundrias reflete a
combinao de diversos fatores, que em vrias
circunstncias exigem a interveno pblica na
economia local.
Richardson, todavia, para alm da ex-
panso das cidades secundrias no entorno do
core metropolitano, afirma que a difuso regio-
nal do crescimento a prpria manifestao do
processo de reverso da polarizao.3Para esse
autor, a
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Polarization reversal may be defined as
the turning point when spatial polarization
trends in the national economy give way
to a process of spatial dispersion (grifonosso)out of the core region into otherregions of the system. [...] This process of
interregional dispersion is the main feature
of PR. (Richardson, 1980, pp. 67-68)
Talvez seja exatamente essa disperso re-
gional o principal aspecto controverso sobre a
ocorrncia da reverso da polarizao no Brasil.
Vrias foram as tentativas de aplicao desses
modelos para o caso brasileiro, cujas particula-ridades estruturais e setoriais oferecem difi-
culdades interpretao desse fenmeno. Um
dos primeiros trabalhos que avaliou a possvel
reverso da polarizao no Brasil foi realizado
por Townroe e Keen (1984). Esses autores con-
sideram que esse processo se verifica a partir
do ponto em que a concentrao da populao
urbana na regio central comea a declinar, demodo que a razo entre a populao da maior
cidade e a populao total do estado comea a
decrescer.4
Redwood III (1984) apresentou outras
evidncias sobre o caso brasileiro. Com a cons-
tatao da perda da participao do estado de
So Paulo a partir de finais da dcada de 1950,
esse autor acreditava que estaria em curso umprocesso de desconcentrao das principais
reas metropolitanas que favorecia os centros
secundrios mais prximos. Ao trabalhar com
as principais tendncias demogrficas e a lo-
calizao da atividade industrial, foram encon-
tradas evidncias de que os processos de su-
burbanizao, de descentralizao urbana e de
reverso da polarizao se difundiam em todoo sistema urbano (ibid.).5 essencial, nessa in-
terpretao, a ateno dirigida s necessidades
das cidades secundrias, que cumprem papel
fundamental na eficincia econmica e no de-
senvolvimento regional. Ao examinar o desen-
volvimento econmico regional, o autor sugere
que certos tipos de atividade industrial tendemnaturalmente a se localizar nessas cidades. As
indstrias de bens intermedirios baseadas em
recursos naturais (qumica, plsticos, madeira,
papel e metalurgia, incluindo ao) podem es-
tar localizadas prximas de grandes cidades, de
modo a reduzir custos de transportes valendo-
se da proximidade dos mercados. Outro grupo
de indstrias se dirige s cidades secundriaspara se servir dos mercados locais protegidos
da concorrncia externa, dados os custos de
transportes relativamente altos. Alguns servios
de maior magnitude e mais especializados, tais
como universidades, hospitais, algumas ativi-
dades comerciais, tambm procuram se instalar
em centros mdios.
Apesar de atraentes, as proposies so-bre a reverso da polarizao no Brasil sofre-
ram inmeras crticas. As controvrsias envol-
vem desde as evidncias empricas, at o tipo
de variveis e a metodologia utilizada. Azzoni
(1986), por exemplo, critica o fato de o tama-
nho da cidade ser considerado com indicador
de economias aglomerativas. Ao admitir que as
vantagens aglomerativas esto presentes noambiente urbano, a exemplo da linha de pola-
rizao psicolgica e do transporte de ideias,
imprescindvel considerar a regio como capaz
de gerar um campo de atrao sobre novos in-
vestimentos. A ideia essencial que a atrao
regional transcende o ambiente urbano, embo-
ra os custos locacionais sejam essencialmente
urbanos. Para Azzoni, era no mnimo apressadaa suposio de que haveria um processo de re-
verso da polarizao no Brasil. Pelo contrrio,
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[...] as evidncias indicam que, longede constituir-se um sinal de reverso dapolarizao, o fenmeno observado emSo Paulo estaria mais prximo de umespraiamento da indstria dentro da rea
mais industrializada do pas, em um pro-cesso do tipo desconcentrao concen-trada. Seria aproximadamente um tipode suburbanizao das atividades indus-triais em mbito mais abrangente, o que possvel pelas oportunidades abertaspelo desenvolvimento tecnolgico, em umsentido amplo, e separao das atividadesprodutivas das atividades de comando
empresarial. (Ibid., p. 126)
Azzoni acreditava que a Regio Metropo-
litana de So Paulo no deve ser tomada como
referncia para anlise das alteraes espaciais
no estado paulista. Ao considerar a ao de um
campo aglomerativo, o autor apontou um
conjunto de cidades, num raio de aproximada-
mente 150 km da Regio Metropolitana, com
alto poder de atrao sobre os investimentos
industriais e consequentemente sobre a popu-
lao. medida que aparecem novos avanos
tecnolgicos, esse campo aglomerativo amplia-
se e reduz o prprio poder de atrao do n-
cleo central.6
Diniz (1993), ao contestar alguns dos
pressupostos e os resultados apresentados por
Azzoni, incorpora uma srie de outros aspectos
a considerar, alm das economias de aglomera-
o.7 Desses aspectos, Diniz destaca cinco: a) a
distribuio espacial dos recursos naturais; b)
o papel do Estado; c) o processo de unificao
do mercado nacional e suas implicaes para
a concorrncia intercapitalista e para as estru-
turas produtivas regionais; d) as economias
de aglomerao; e) a concentrao regional
da pesquisa e renda, que cria obstculos
desconcentrao regional da indstria. Ava-
liando o processo recente de desenvolvimento
industrial e desconcentrao econmica, esse
autor prope um novo tipo de dualismo espa-
cial. A rea desenvolvida e verdadeiramentedinmica estaria restrita a um polgono que
abrange o Sul e parte do Sudeste brasileiro, es-
tendendo-se de Belo Horizonte a Porto Alegre,
ficando de fora o Rio de Janeiro e a maior parte
do territrio brasileiro. Nesse espao,
[...] mais apropriado considerar o Brasil
como um caso de desenvolvimento poli-gonal, onde um nmero limitado de novospolos de crescimento ou regies tem cap-turado a maior parte das novas atividadeseconmicas. O resultado est longe de seruma verdadeira desconcentrao, espe-cialmente porque os novos centros estono prprio estado de So Paulo ou relati-vamente prximos dele. (Ibid., p. 35).
Para Diniz, era restrita a abrangncia es-pacial da suposta reverso da polarizao para
o caso brasileiro. O autor ainda acrescenta
[...] no parece que esta tendncia de re-verso em sentido amplo continuar ato final do sculo. Ao contrrio, a grandenfase em indstrias de alta tecnologiae o relativo declnio e fracasso das pol-
ticas regionais e do investimento estatalabrem uma terceira possibilidade. Nesta,o processo de desconcentrao ser en-fraquecido e o crescimento tender a secircunscrever ao estado de So Paulo e aogrande polgono em torno dele. Estamoschamando este processo de aglomeraopoligonal. (Ibid., p. 54)
As concluses de Diniz (ibid.) introduzem
a ideia de que o resto do pas estaria margem
dos efeitos cumulativos do desenvolvimento do
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core paulista. Na verdade, o autor no traba-
lhou com uma temporalidade prospectiva de
longa durao e, assim, no vislumbrava de-
terminadas possibilidades de desenvolvimento
econmico para o resto do pas fora do padrotcnico-moderno que as sociedades de con-
sumo dos pases desenvolvidos prefiguram, e
que, evidentemente, se encontra presente nos
grandes centros urbanos do Centro-Sul brasilei-
ro (Matos, 2003). Anlises com base nas redes
geogrficas e, particularmente, nas redes urba-
nas mostram-se mais eficientes reflexo eco-
nmico-espacial do que as anlises baseadasem uma viso cartogrfica dual do territrio
brasileiro presentes em recortes espaciais como
o do polgono virtuoso de Diniz, onde o pas
se resume a dois, o que est dentro do polgono
e o que est fora. As redes podem expressar di-
menses abstratas, mas comumente traduzem
materialidades espaciais. So espaos e subes-
paos em movimento. So lugares articuladospor fluxos multivariados. Fluxos de pessoas, ca-
pitais, informaes, ideias e culturas. As redes
mais importantes esto carregadas de tcnica
e histria social, sendo, portanto, construes
dinmicas relativamente durveis. As redes
urbanas, por exemplo, so depositrias de es-
truturas sociais pretritas e futuras, tradicionais
ou modernas, que do forma e sentido vidade milhares de pessoas, famlias e instituies.8
Matos (1995) acredita que importantes
mudanas no padro de distribuio espacial
da populao esto em curso, sem se conhecer,
no entanto, qual o real alcance desse fenme-
no, e se as explicaes existentes so suficien-
temente abrangentes. seguro dizer, contudo,
que tanto as pessoas quanto as atividadeseconmicas reagem aos impactos das deseco-
nomias de aglomerao buscando localizaes
alternativas. A migrao pode responder aos
fatores de expulso do meio urbano (nota-
damente aos custos de moradia e escassez
de emprego), mas pode tambm se associar a
outro grupo de causas, no econmicas, rela-cionadas melhoria da qualidade de vida e/
ou busca de amenidades, como no retorno s
localidades de origem aps a aposentadoria.
indiscutvel que boa parte da expanso da ur-
banizao do pas nas ltimas dcadas deriva
dos efeitos multiplicadores de espraiamento da
concentrao urbana e industrial do Sudeste.
Esse processo estimulou o adensamento da re-de urbana e os vnculos de complementaridade
entre as centralidades. A suposio que a reali-
dade brasileira possa se enquadrar no modelo
analtico da reverso da polarizao, ou mesmo
em uma mudana de tendncia demogrfica
de longo prazo, parece uma generalizao sim-
plista, conquanto o pas esteja de fato passan-
do por um ciclo de descompresso do cresci-mento urbano central, no qual os movimentos
migratrios internos e os deslocamentos da
fora de trabalho assumem importante papel
explicativo.
Fluxos migratriose disperso espacial
Os deslocamentos da populao e a organi-
zao do espao regional so nexos impor-
tantes na literatura h muito tempo. Quando
Ravenstein formulou suas teses sobre os movi-
mentos migratrios, ainda em finais do sculo
XIX, apresentava explicitamente a relaoentre as atividades econmicas e os desloca-
mentos espaciais da populao. As principais
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regularidades encontradas por esse autor di-
ziam respeito distncia, aos movimentos
por etapas, configurao das correntes e
contracorrentes, predominncia da migrao
feminina e tambm ao fato de que as migra-es tendiam a gerar movimentos sucessivos a
partir de reas prximas a um centro industrial
ou comercial.9Quase um sculo mais tarde, Lee
(1980) retomou as formulaes de Ravenstein,
incorporando informaes a respeito dos movi-
mentos internos nas sociedades de capitalismo
tardio. Na interpretao desse autor, a deciso
de migrar est vinculada a uma deciso que le-va em conta os chamados fatores positivos e
negativos nas reas de origem e destino. Lee
tambm acredita que a migrao nunca com-
pletamente racional. Dessa forma, natural
que pessoas distintas sejam afetadas de ma-
neira diferente por uma srie de obstculos ou
incentivos possibilidade de migrar.
Singer (1973), contudo, considera a mi-grao como um reflexo da estrutura e dos me-
canismos de desenvolvimento do sistema ca-
pitalista, cujo motor principal o acirramento
das desigualdades regionais. Para esse autor,
claro que qualquer processo de indus-trializao implica uma ampla transfern-cia de atividades (e, portanto, de pessoas)do campo s cidades. Mas, nos moldes ca-pitalistas, tal transferncia tende a se dara favor de apenas algumas regies emcada pas, esvaziando as demais. Tais de-sequilbrios regionais so bem conhecidose se agravam na medida em que as de-cises locacionais so tomadas tendo porcritrio apenas a perspectiva da empresaprivada. (Ibid., p. 222)
Ao analisar a migrao, Singer identifica
os chamados fatores de atrao e os fatores
de expulso. Os primeiros referem-se neces-
sidade de mo de obra decorrente do cresci-
mento da produo industrial e da expanso do
setor de servios urbanos que funcionam como
foras de concentrao espacial. Os fatores deexpulso podem ser divididos em: fatores de
mudana, decorrentes da penetrao do capi-
talismo no campo e a adoo de um sistema
poupador de mo de obra; e os fatores de es-
tagnao, associados presso demogrfica
sobre a disponibilidade de terras. Para Singer,
a distino entre reas de emigrao (sujeitas
aos fatores de mudana) e de estagnao per-mite visualizar melhor suas consequncias. As
regies de mudana perdem populao, mas
a produtividade aumenta, o que permite, pelo
menos em princpio, uma melhora nas condi-
es de vida locais. J as reas de estagnao
apresentam deteriorao da qualidade de vida,
funcionando s vezes como viveiros de mo
de obra para os latifundirios e as grandesempresas agrcolas.
Nessa mesma perspectiva estruturalista,
h, tanto na economia como na demografia,
vrios autores que expressam a migrao co-
mo mobilidade, estreitamente vinculada cria-
o, expanso e articulao dos mercados de
trabalho do pas. O desenvolvimento desigual
do sistema capitalista faz com que a popula-o se distribua seguindo a mesma lgica de
intensificao dos espaos econmicos, for-
mando grandes reservatrios de mo de obra.
Apesar de seu mrito, boa parte dessas teses
responde apenas parcialmente a determina-
das causas da migrao, no vinculadas to
somente s necessidades estruturais do ca-
pitalismo. Alm disso, essas formulaes noenfatizaram as externalidades que poderiam
transformar os espaos de destino dos fluxos
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migratrios, ignoravam as vantagens compa-
rativas a favor das localidades no centrais e
no puderam avaliar o peso da imigrao de
origem urbana nem da migrao de retorno
(Matos, 1995). Tambm investiram de modoinsuficiente no entendimento dos efeitos posi-
tivos que a migrao pode gerar na dinamiza-
o das regies de destino, no que diz respeito
oferta de mo de obra qualificada, a certas
possibilidades de novos investimentos e de
intercmbio tcnico, por exemplo. Nesse senti-
do, mais que um indicador de concentrao ou
disperso das atividades econmicas, a migra-o reflete processos sociais mais complexos,
cujas consequncias vo alm dos aspectos
estruturais da economia.10
Se o modo como so organizados os
elementos do espao pode ser visto como
um resultado histrico da atuao dos agen-
tes sociais, os fluxos de informao, capitais
e pessoas, por exemplo, permitem alimentaro dinamismo das formas e funes que com-
pem e caracterizam o espao geogrfico. Para
Santos (1996), a necessidade de fluidez uma
das mais importantes caractersticas do mundo
atual que , ao mesmo tempo, causa, condio
e resultado. Essa condio de fluidez parti-
cularmente relevante nos estudos sobre as mi-
graes internas, que por definio envolvemo movimento de populaes entre pontos do
espao, em um determinado intervalo de tem-
po. As migraes so, em essncia, fluxos que
se manifestam e se materializam no espao. A
abordagem regional torna-se, nesse aspecto,
relevante para a compreenso dos desloca-
mentos da populao e da fora de trabalho e
para a explicao de diferenciaes espaciaisque se consolidam.
As regies de influncia dascidades (REGICs): a dimensoregional da disperso
De acordo com o IBGE, a delimitao das
Regies de Influncia das Cidades d conti-
nuidade tradio de estudar a rede urbana
brasileira e visa construir um quadro nacional,
apontando as permanncias e as modificaes
registradas. Os estudos anteriores realizados
nos anos de 1966, 1978 e 1993 definiram os
nveis da hierarquia urbana e estabelecerama delimitao das regies de influncia das
cidades brasileiras a partir de questionrios
que investigaram a intensidade dos fluxos de
consumidores em busca de bens e servios. A
atualizao realizada em 2007 e divulgada em
2008 retoma a concepo utilizada nos primei-
ros estudos realizados pelo IBGE em 1972, que
resultaram na Diviso do Brasil em regies fun-cionais urbanas.
A atual proposta estabeleceu uma classi-
ficao hierrquica dos centros metropolitanos
do pas e delimitou suas reas de atuao, de-
nominadas Regies de Influncia (RI). Foi privi-
legiada a funo de gesto do territrio, como
sugerido por Corra, quando observou que o
centro de gesto do territrio
[...] aquela cidade onde se localizam, deum lado, os diversos rgos do Estado e,de outro, as sedes de empresas cujas de-cises afetam direta ou indiretamente umdado espao que passa a ficar sob o con-trole da cidade atravs das empresas nelasediadas. (Corra, 1995)
Duas etapas metodolgicas so centraisna definio e hierarquizao dos centros de
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gesto do territrio e na delimitao de sua
regio de influncia. De modo simplificado, a
hierarquizao da rede de cidades privilegiou
dois nveis de centralidade: a Gesto Federal,
avaliada a partir da existncia de rgos do Po-der Executivo e do Judicirio Federal; e a Gesto
Empresarial, conjugada com a presena de dife-
rentes equipamentos e servios (estabelecimen-
tos de ensino superior, sade, comrcio e servi-
os, instituies financeiras, redes de televiso
aberta, conexes areas e internet). Classifica-
dos em seis nveis de hierarquia, conforme sua
posio no mbito da gesto federal e empre-sarial, integram o conjunto final 711 centros de
gesto do territrio. A intensidade das ligaes
entre as cidades permitiu estabelecer suas reas
de influncia e a articulao das redes no terri-
trio. Para investigar a articulao desses cen-
tros, foram considerados os eixos de gesto p-
blica e de gesto empresarial, complementados
pelos servios de sade. As reas de influnciados centros foram delineadas a partir da inten-
sidade das ligaes entre as cidades, com base
em dados secundrios e informaes obtidas
por questionrio especfico da pesquisa, e per-
mitiram identificar 12 redes de primeiro nvel.
A partir de algumas adaptaes dessa proposta
divulgada pelo IBGE, as Regies de Influncia
(RIs) utilizadas neste trabalho esto representa-das na Figura 1, que identifica as onze divises
regionais que compem o primeiro nvel hierr-
quico estabelecido nas REGICs 2007.
Figura 1 Regies de Influncia direta das principais metrpoles brasileiras(REGIC 1997)
Fonte: Extrado e adaptado de IBGE 2007.
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Os recortes espaciais das Regies de In-
fluncia das principais metrpoles brasileiras
do IBGE (2008), sobrepostos diviso muni-
cipal conforme diviso poltico-administrativa
de 2000, serviu de referncia s tabulaes e anlise de dados explorados nesta pesquisa.
Mais que isso, essa regionalizao permitiu
avaliar a intensidade da disperso espacial da
populao no interior das respectivas Regies
de Influncia. Essa atualizao metodolgica
trazida pela REGIC 2007, mesmo que possa
suscitar ressalvas e limitaes, oferece um re-
trato mais aproximado das relaes de inter-dependncia que se estabelecem no espao,
onde os fluxos de migrantes e da fora de tra-
balho so especialmente relevantes.
(Re)distribuio espacialda populao e do empregoformal
Sinais de disperso espacial da populao bra-
sileira podem ser identificados pelas entradas e
sadas de populao nos municpios das prin-
cipais Regies Metropolitanas do pas, consi-
deradas a partir dos fluxos referentes a migra-
o de Data Fixa,11nos perodos 1986/1991 e
1995/2000. No caso da RMSP, o saldo migra-
trio manteve-se negativo e consideravelmenteelevado nos dois quinqunios, resultado direto
do sensvel crescimento no volume de emigran-
tes. Como observado na Tabela 1, no intervalo
RMs1986/1991 1995/2000
Entradas Sadas Saldo Entradas Sadas Saldo
So Paulo 124.526 419.329 -294.803 142.783 510.260 -367.477
Rio de Janeiro 60.736 107.527 -46.791 70.522 135.482 -64.960
Braslia 39.946 74.360 -34.414 48.035 114.159 -66.124
Manaus 24.468 13.100 11.368 36.871 30.575 6.296
Belm 69.329 31.989 37.340 74.900 52.217 22.684
Fortaleza 137.316 41.847 95.469 95.655 60.349 35.306Recife 84.726 43.235 41.490 70.342 49.030 21.312
Salvador 111.880 52.045 59.835 108.251 70.901 37.349
Belo Horizonte 145.143 62.638 82.505 152.081 75.126 76.955
Curitiba 125.602 41.323 84.279 140.653 60.587 80.066
Porto Alegre 165.872 87.068 78.804 144.252 106.932 37.320
Tabela 1 Fluxos migratrios entre as regies metropolitanase os municpios da mesma REGIC (fluxos intra-REGIC)
Migrao de Data Fixa - 1986/1991 e 1995/2000
Fonte: IBGE. Censos Demogrficos de 1991 e 2000 (dados da amostra).
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1986/1991 cerca de 410 mil pessoas emigra-
ram da RMSP para sua Regio de Influncia.
Entre 1995/2000 o volume desse fluxo atingia
mais de meio milho de migrantes. Nesse mes-
mo perodo, o nmero de imigrantes na RMSPfoi inferior a 150 mil. Por outro lado, exceo
das RMRJ e Braslia, que tambm exibiam sal-
dos negativos, as demais RMs analisadas apre-
sentavam saldo positivo nos dois perodos. No
entanto, mesmo que essas Regies Metropoli-
tanas funcionassem como ncleos de atrao
de populao em suas respectivas Regies de
Influncia (RIs), o nmero absoluto de imigran-tes foi reduzido quando comparados os dois
quinqunios. Muito mais relevante, entretanto,
foi o crescimento na emigrao metropolitana,
observado em todas as REGICs.
Quando avaliados os vetores migratrios
que representam os deslocamentos espaciais
da populao, nota-se um aumento generali-
zado no nmero de municpios que receberamemigrantes das respectivas Regies Metropoli-
tanas. Mesmo que parte desse crescimento ti-
vesse sido resultado direto das emancipaes
municipais entre 1991 e 2000, o aumento da
frequncia e do volume de emigrantes proce-
dentes das RMs sugere um novo arranjo na di-
nmica migratria regional do pas. O caso da
RM de So Paulo, cujos volumes so mais ex-pressivos, novamente deve ser mencionado. No
perodo 1995/2000, 788 municpios da Regio
de Influncia de So Paulo (RISP) receberam
emigrados da RM, enquanto no intervalo ante-
rior eram 702. Em alguns casos, como na REGIC
de Porto Alegre, o crescimento no nmero de
vetores foi ainda mais significativo, elevando-
se de 387 de 1986/1991 para 510 municpiosentre 1995/2000.
Determinadas evidncias surgem quan-
do discriminadas as trocas de populao entre
as RMs e os municpios das respectivas RIs.
Novamente, o caso da RISP deve ser mencio-
nado. De 1995 a 2000, como resultado dastrocas de migrantes com a RMSP, foram veri-
ficados ganhos de populao em grande parte
dos municpios de sua Regio de Influncia.
Como representado na Figura 2, de um total
de 808 municpios que integravam a RISP,
mais de 89% deles (722) exibiram saldo po-
sitivo. No quinqunio anterior, eram 626 mu-
nicpios nessa condio. Apenas em algunsmunicpios localizados no Tringulo Mineiro
e no sul de Mato Grosso do Sul foi maior a
frequncia de saldos migratrios negativos.
No entanto, mesmo nesses espaos, bastante
diferenciados geograficamente, com caracte-
rsticas fsicas peculiares, como relevo, clima e
hidrografia, os vnculos com a metrpole pau-
lista tambm configuram campos de atraode populao.
Algumas observaes devem ser con-
sideradas quando incorporada a dimenso
distncia na anlise dos fluxos migratrios.12
Discriminados em trs Regies de Influncia,
RI-1, RI-2 e RI-3,13conforme tercisde distn-
cia em relao ao ncleo metropolitano, em
vrios casos, os resultados indicam um au-mento no volume da populao migrante que
se dirigiu s reas mais prximas da Regio
Metropolitana. Em todas as REGICs, nos dois
quinqunios observados, mais da metade dos
emigrados das RMs encaminharam-se para a
sub-regio RI-1. Em Braslia e Fortaleza, por
exemplo, a proporo de emigrantes que se
dirigiu para a RI-1, nos dois quinqunios, foisuperior a 90%.
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Figura 2 Saldo migratrio nas trocas entre os municpios da RISP e a RM1986/1991 e 1995/2000
Fonte: IBGE: Censos Demogrficos de 1991 e 2000 (dados da amostra).
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Ainda que fosse esperado um maior vo-
lume de migrantes com destino a RI-1, tendo
em vista a predominncia da migrao de cur-
ta distncia, como j descrita por Ravenstein,
acrescenta-se o fato de tambm ter ocorrido,em todas as REGICs, exceto as de Belo Horizon-
te e Manaus,14um crescimento absoluto e rela-
tivo no nmero de imigrantes procedentes das
RMs. Entre 1995/2000, dos 135.482 emigrados
da RMRJ, 85.456 dirigiram-se para a RI-1, o que
correspondia a 63,08%. No quinqunio ante-
rior, essa proporo era de 52,68%. No caso de
So Paulo, a proporo de migrantes com des-tino a RI-1 passou de 62,84% (1986/1991) pa-
ra 68,19% (1995/2000), o que perfaz 347.957
pessoas de um universo de 510.260 emigrantes
da RM com destino a toda a RI nesse ltimo
quinqunio.
Diante dessas evidncias, o que se pode
afirmar sobre a disperso espacial do emprego
formal no Brasil contemporneo? Uma infor-
mao relevante diz respeito aos nmeros refe-
ridos aos trabalhadores de carteira assinada se
analisados os dados da j mencionada Popula-
o Ativa Formal (PAF). Os indicadores extra-dos das bases da RAIS,15que se referem a uma
parcela importante da populao, permitem
avaliar a distribuio espacial de parte da fora
de trabalho. Avaliadas as sries anuais do pe-
rodo 1996/2005, os resultados referentes aos
estoques da PAF confirmam, em certa medida,
a perda relativa na participao da RMSP na
REGIC de So Paulo, ainda que em termos ab-solutos tivesse ocorrido um importante incre-
mento nesse decnio. Em 1996, a PAF na RMSP
agregava um volume prximo a 5 milhes de
pessoas, o que correspondia a 55,98% do total
da REGIC (ver Tabela 2). No ano de 2005 eram
pouco mais de 6,4 milhes, o que representava
51,83% de toda REGIC. Se a parcela relativa da
AnoRM RI-1 RI-2 RI-3
N % N % N % N %
1996 5.306.121 55,98 2.339.810 24,68 1.046.249 11,04 786.512 8,30
1997 5.370.550 55,56 2.392.710 24,75 1.071.228 11,08 831.186 8,60
1998 5.338.769 55,09 2.437.679 25,16 1.065.011 10,99 848.673 8,76
1999 5.387.028 54,60 2.504.488 25,38 1.097.451 11,12 877.427 8,89
2000 5.603.159 54,10 2.658.119 25,66 1.169.096 11,29 926.860 8,95
2001 5.694.868 53,39 2.764.271 25,92 1.220.508 11,44 986.543 9,25
2002 5.840.923 53,01 2.860.420 25,96 1.282.877 11,64 1.034.496 9,39
2003 5.931.732 52,46 2.951.009 26,10 1.339.481 11,85 1.084.426 9,59
2004 6.198.726 51,97 3.142.180 26,34 1.429.342 11,98 1.157.174 9,70
2005 6.470.277 51,82 3.330.611 26,67 1.479.634 11,85 1.206.297 9,66
Tabela 2 Nmero e percentual da populao formal ativana RM e nas RIs da REGIC So Paulo
1996 a 2005
Fonte: MTE. RAIS 1996 a 2005.
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PAF na Regio Metropolitana reduziu-se no de-
cnio 1996/2005, o mesmo no ocorreu nas trs
sub-regies de Influncia de So Paulo. Em todas
essas RIs houve um crescimento, tanto absoluto
quanto relativo. Cabe, porm, citar o significati-vo aumento da PAF observado na RI-1. De 1996
a 2005, ocorreu a incorporao de quase 1 mi-
lho de trabalhadores na PAF dessa sub-regio,
que passou a integrar 3,3 milhes de pessoas ao
final do perodo (em 1996 eram 2,3 milhes). Em
termos relativos, a RI-1, em 2005, j compreen-
dia 26,67% da PAF total da REGIC. No ano de
1996, essa proporo era de 24,68%.Considerados os fluxos anuais, obtidos
a partir da declarao do municpio de tra-
balho, o nmero referente PAF que deixou
a RM evoluiu de 83.690 para 90.351 entre
1996/1997. Grande parte desses deslocamen-
tos tinha como destino os municpios da RI-1,
os quais absorviam 78,26% dos fluxos no inter-
valo 2004/2005 (parcela que envolvia 70.709pessoas). No perodo 1996/97 essa proporo
era de 70,61%, o que representa um cresci-
mento de quase 8% nos deslocamentos da PAF
para a RI de So Paulo. Nas duas outras RIs foi
verificada uma reduo relativa nos fluxos pro-
cedentes da RM. No caso da RI-3, observou-se
uma reduo no volume de trabalhadores que
vieram se ocupar na regio, de 10.104 entre1996/1997 para 5.297 entre 2004/2005. Boa
parte dessa diminuio ocorreu em funo da
diminuio nos deslocamentos para Campo
Grande e rea de influncia, tradicional frontei-
ra de expanso receptora de trabalhadores da
REGIC de So Paulo.
A Figura 3 identifica a densidade mdia
dos deslocamentos anuais da PAF procedentes
da RMSP no perodo de 1996 a 2005. Nela des-
tacam-se quatro principais eixos direcionais de
disperso, coincidentes com os principais tron-cos virios do estado: 1) o da via Dutra, no vale
do Paraba do Sul, cujos ncleos so Taubat
e So Jos dos Campos; 2) o da Anchieta/Imi-
grantes, na Baixada Santista, onde o papel cen-
tral exercido por Santos; 3) o da Anhanguera/
Bandeirantes, cujos centros polarizadores so
Jundia e Campinas; e 4) o da Castelo Branco,
onde se destaca o municpio de Sorocaba. NaRI-2 e RI-3, a densidade ainda era marcada pe-
la existncia de polos de atrao menos inte-
grados, o que denotava certa nuclearizao
espacial.
Dessa forma, alm dos estoques da PAF,
as informaes referentes aos deslocamentos
espaciais tambm indicam um crescimento no
volume da fora de trabalho formal que dei-xou a Regio Metropolitana de So Paulo. Esse
crescimento no fluxo de trabalhadores para
fora da Regio Metropolitana parece confir-
mar a atratividade e o dinamismo de um grupo
de municpios da Regio de Influncia de So
Paulo, notadamente aqueles da RI-1 que for-
mam uma segunda periferia metropolitana.
Nesse espao, consolidam-se centros nodaiscom notvel funo polarizadora e formam-
-se espaos contguos de alta densidade que
tm atrado parcelas crescentes e significativas
da fora de trabalho regional, inclusive aque-
la que, em algum momento, vinculava-se ao
mercado de trabalho metropolitano.
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Consideraes finais
Existem incertezas acerca dos padres de dis-
tribuio espacial da populao brasileira. A
crena na suposta reverso da polarizao ou
mesmo de desconcentrao espacial, como
sugerida por determinados autores e propostanos modelos clssicos da economia regional,
tem se mostrado pouco adequada anli-
se do caso brasileiro. Contudo, a progressiva
queda no peso econmico e demogrfico dos
principais centros urbanos do pas, bem como
a desacelerao no ritmo de crescimento popu-
lacional das principais Regies Metropolitanas,
requer um maior aprofundamento na avaliaode novas tendncias e padres na distribuio
espacial da populao brasileira.
As ltimas trs dcadas do sculo passa-
do so decisivas na anlise da dinmica demo-
grfica brasileira. Se a progressiva queda nas
taxas de fecundidade foi responsvel direta pe-
la forte desacelerao no ritmo de crescimento
demogrfico do pas, de outro lado, as migra-
es internas tornaram-se fundamentais paraentender o processo de redistribuio espacial
da populao. A partir da dcada de 1970, co-
mo resultado da dinmica migratria interna,
ampliaram-se as evidncias acerca da reduo
do peso relativo das metrpoles. Mesmo que as
metrpoles e suas periferias continuem atrain-
do expressivos contingentes demogrficos, a
intensificao nos fluxos de emigrantes tem re-fletido diretamente no crescimento demogrfi-
co de vrios ncleos urbanos fora das principais
Figura 3 Densidade dos deslocamentos anuais mdios da PAFprocedentes da RM para as regies de influncia da REGIC de So Paulo
1996 a 2005
Muito baixaBaixaMdiaAltaMuito alta
Densidade
Fonte: MTE. RAIS 1996 a 2005.
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Regies Metropolitanas brasileiras, tornando
mais densa a rede de cidades em cada uma de
suas Regies de Influncia.
Os resultados obtidos neste trabalho
no confirmam a integralidade da reversoda polarizao nos termos de Richardson,
nem a suposta desconcentrao econmico/
demogrfica destacada por Redwood III, en-
tre outros, mas oferecem claros sinais de dis-
perso espacial da populao, j proeminente
em determinados casos, como na Regio de
Influncia de So Paulo. Ainda que as maio-
res Regies Metropolitanas brasileiras tenhammantido sua centralidade regional o que
torna equivocado absolutizar o processo de
desconcentrao espacial , o crescimento
demogrfico acelerado de vrios pontos da
rede urbana brasileira tm feito aumentar sua
participao na atrao de migrantes, o que
indica uma redistribuio espacial da popula-
o no interior das Regies de Influncia dasprincipais metrpoles do pas.
No caso da Regio de Influncia de So
Paulo, os efeitos dessa disperso espacial da
populao mostram-se mais consolidados, so-
bretudo no interior da rede de cidades mais
prximas capital. A denominada Regio de
Influncia 1 (RI-1) compreende muitos muni-
cpios que tm atrado um crescente nmerode pessoas que deixaram a RMSP. O volume
desses fluxos direcionados aos principais polos
de atrao da regio foi to expressivo que re-
duziu os escores de distncia ponderada, o que
sugere tratar-se de uma forma de disperso po-
linucleada(Lobo, 2009), por onde se observamclaros sinais de expanso no interior da Regio
de Influncia, para alm dos modestos 150 km
do campo aglomerativo de Azzoni.
Outra concluso deste trabalho refere-se
necessidade de se utilizarem ferramentas de
geoprocessamento na anlise espacial, ainda
pouco exploradas na Economia, na Demografia
e na Geografia. O estudo dos fluxos migrat-rios associados varivel distncia um exem-
plo das possibilidades oferecidas s pesquisas
nas reas de Cincias Humanas e Ambientais.
O recorte espacial oferecido pelas Regies de
Influncia das Cidades, proposto pelo IBGE,
mesmo que seja passvel de crticas pontuais
tendo em conta os conceitos adotados e os ele-
mentos metodolgicos utilizados, permite umaanlise diferenciada das tradicionais aborda-
gens desenvolvidas pela Economia. Por ltimo,
cabe tambm destacar a importncia, nota-
damente para a Geografia da Populao e os
estudos relativos s migraes, de se explorar
mais acuradamente as bases de dados extra-
das de fontes como o Censo Demogrfico e a
RAIS. So possibilidades que ganham relevn-cia tendo em vista o novo Censo de 2010.
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Carlos Lobo
Doutor em Geografia. Fundao Joo Pinheiro. Universidade Federal de So Joo Del-Rei. Belo Hori-
zonte, Minas Gerais, Brasil.
Ralfo Matos
Doutor em Demografia. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
Notas
(1) Cabe, contudo, expor algumas consideraes iniciais. Uma primeira refere-se adoo da Regio
Metropolitana (RM) como centro de disperso. Ainda que outras pesquisas tenham considera-
do o ncleo e a periferia como endades disntas e separadas, optou-se em manter a unidade
dessas regies, tendo em vista tratar-se, em geral, de espaos com razovel conguidade sica
e forte nvel de interdependncia, tanto econmica, quanto polca. Mesmo que existam dife-
renas quando comparadas as diversas Regies Metropolitanas no Brasil, resultado de critrios
disntos na delimitao e denio dos municpios que integram cada uma delas, parece pouco
razovel no considerar as RMs em sua integralidade. Veja os exemplos de So Paulo/Guaru-
lhos, Rio de Janeiro/Niteri, Belo Horizonte/Contagem, etc. Embora sejam unidades polcas e
administravas disntas, so espaos altamente arculados, cujas inter-relaes juscaram oprprio estabelecimento das Regies Metropolitanas. Outro ponto diz respeito no adoo de
um nico ncleo polarizador. Em estudos anteriores, foi comum a ulizao de So Paulo, seja
o municpio, RM ou Estado, como centro aglunador, a parr do qual era avaliada a suposta
desconcentrao espacial. Contudo, parece pouco plausvel supor que a acelerao do cresci-
mento demogrco das Regies Metropolitanas de Belo Horizonte, Curiba, Recife e Salvador,
por exemplo, possa representar um quadro de desconcentrao espacial da populao. Alm
do mais, So Paulo e regio manveram sua relevncia demogrca e econmica e ainda exer-
cem forte inuncia em grande parte do territrio nacional. A anlise centrada nas Regies de
Inuncia das principais regies metropolitanas do pas pode conduzir a resultados mais consis-
tentes e coerentes com a realidade atual. Mais que uma ampliao de escala, essa abordagemregional permite idencar processos espaciais que ocorrem em nveis hierrquicos inferiores,
mais prximos das relaes que se estabelecem entre os centros regionais e os demais muni-
cpios de sua rea de inuncia. Outro aspecto que tambm no deve ser ignorado refere-se
reduzida srie histrica dos dados referentes aos movimentos migratrios. Ante a necessidade
de ulizao dos uxos intermunicipais, a anlise restringiu-se aos dois quinqunios dos lmos
intervalos censitrios (1986/1991 e 1995/2000). Assim, a idencao de tendncias muito de-
nidas em duas contagens consecuvas no de todo conclusiva, mas convm no desconhecer
que esse perodo foi de forte desacelerao no ritmo de crescimento populacional das principais
metrpoles brasileiras.
(2) Na literatura econmica, como indicado por Lo e Salih (1991), so listadas as seguintes condi-es para a ocorrncia do processo de reverso da polarizao: a) existncia de pleno empre-
go (o que pode fomentar os uxos migratrios procedentes de reas rurais); b) aparecimento
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de deseconomias de aglomerao (o que faria com que novos empreendimentos buscassem as
regies perifricas); c) ocorrncia de efeitos de espraiamento em larga escala; d) aumento da
complexidade organizacional nas avidades empresariais.
(3) Richardson analisou os casos do Japo e da Coreia, onde teria vericado o processo de reverso
da polarizao. Contudo, a experincia americana, com a perda expressiva de populao das
grandes cidades do Nordeste e o grande crescimento dos centros do Sul do pas, aquela que
mais se aproxima do modelo proposto.
(4) Townroe e Keen, alm de calcularem ndices de reverso da polarizao, sugerem certa dualida-
de dos fatores que levam concentrao das avidades econmicas, representados pelo papel
concentrador de determinadas foras sociais e econmicas, que a parr de um ponto passa-
riam a atuar na direo oposta: da desconcentrao. A transio demogrca, os graus de de -
sigualdade social e econmica, os padres de desenvolvimento rural e as formas instucionais
e sociais de difuso de informaes e inovaes podem incrementar ou no a concentrao na
distribuio da populao urbana.
(5) Uma constatao feita por Redwood III foi a reduo na parcipao do estado de So Paulo na
produo industrial nacional, que passou de 48,3% em 1970/75 para 47,3 em 1980. Esse autor
tambm chama a ateno para a queda na proporo do emprego industrial na Regio Me-
tropolitana de So Paulo, que reduziu de 70,7% em 1959 para 63,3% em 1977/79. Na rea de
inuncia da RMSP, a tendncia foi inversa, com valores relavos que subiram de 29,3% para
36,4% no mesmo perodo.
(6) Para Negri (1996), a abordagem de Azzoni constui-se, na verdade, uma crca aos pressupos-
tos metodolgicos dos economistas da polarizao reversa, mas no transcende esse quadro
e busca indicar que a perda de importncia relava da regio metropolitana de So Paulo foi
compensada pelo crescimento do interior do estado. De acordo com esse autor, h ainda vriasquestes a serem qualicadas. Em primeiro lugar, a anlise locacional deixa de lado uma srie
de contribuies novas da moderna organizao industrial (formao de oligoplios e barreiras
comerciais; novas estruturas de mercado; novos padres de compees capitalistas; e diversi-
cao da produo visando ocupar mercados potenciais). Em segundo, houve subesmao da
ao do Estado, cujos invesmentos diretos e desdobramentos nem sempre so ditados pelas
regras de mercado. Por lmo, a existncia de um conjunto de outras determinaes externas
indstria e ao plano microeconmico das decises locacionais, que tambm se consturam em
determinantes especcos de desconcentrao.
(7) Para Diniz o espraiamento industrial brasileiro no ocorreu apenas dentro do limitado raio de
150 km da rea metropolitana de So Paulo. Aps a incontestvel concentrao econmica e
demogrca vericada at nais da dcada de 1960, iniciou-se em um primeiro momento o pro-
cesso de reverso dessa polarizao. Entretanto, o processo de desconcentrao no teria ocor-
rido de modo ampliado e sim em espaos selevos bem equipados e ricos em externalidades,
reendo, sobretudo, o espraiamento para o interior de determinados estados brasileiros. Em
uma segunda fase, ocorreria a relava reconcentrao no polgono denido pela regio formada
por Belo Horizonte Uberlndia Londrina/Maring Porto Alegre Florianpolis So Jos
dos Campos Belo Horizonte.
(8) As redes urbanas podem ser expressas mediante tcnicas que combinam um grande nmero de
dados econmicos, sociais e geogrcos, preferentemente transcritos em intensidades variveisde uxos entre as localidades. O dado populacional est sempre presente nas formulaes te -
ricas e sempre ulizado em qualquer tcnica de regionalizao, no raro substuindo variveis
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de uxos inexistentes. Sobre os signicados da populao enquanto varivel-controle, especial-
mente das populaes em movimento, convm observar que elas no s exprimem a sociedade,
a cultura e a ao polca, real ou virtual, mas impactam tambm os ambientes onde se repro-
duzem, por constuir fora de trabalho e mercados de consumo, fatores-chave para a gerao
de riqueza. Ademais, o estudo das populaes, sobretudo com base em dados censitrios, per-
mite conhecer em detalhe diversas caracterscas dos uxos de pessoas entre as localidades,pr-requisito para a formao de redes geogrcas e redes sociais (Matos, 2003).
(9) Para Ravenstein (1980, p. 26), as grandes cidades proporcionam facilidades to extraordinrias
diviso e combinao do trabalho, ao exerccio de todas as artes e prca de todas as pro-
sses que, a cada ano, um nmero maior de pessoas nelas possa habitar. Para o autor, outros
aspectos que tambm induzem a migrao so as facilidades educacionais, a salubridade do
clima ou a caresa de vida.
(10) Na discusso sobre os fatores que atuaram na quebra do padro concentrador, vrios autores
chamam a ateno para o perl de desenvolvimento rural e urbano, as formas instucionais e
sociais de difuso de informaes e inovaes, a insero tardia ou avanada na transio de-mogrca e os graus de desigualdade regional. De acordo com Matos (2003), novas abordagens
devem levar em conta as alteraes recentes no padro migratrio brasileiro, marcado pela
perda de primazia dos uxos do campo para a cidade e pela dinamizao da rede urbana. Em
grande parte, essas mudanas respondem difuso de determinadas possibilidades oferecidas
na periferia e novos uxos migratrios podem se reorientar espacialmente, reagindo a fatores
de atrao presentes nas cidades secundrias.
(11) Conforme Carvalho e Rigo (1998), as informaes obdas a parr desse quesito referem-se
ao conceito de migrante semelhante quele implcito no saldo migratrio por tcnica indireta.
Dessa forma, o migrante de data xa denido como a pessoa que residia em locais diferentes
no incio e ao nal do quinqunio considerado.
(12) importante destacar que parte do incremento no volume de emigrantes metropolitanos pode
ser explicada pelo prprio aumento no estoque de populao residente, consequncia direta do
crescimento demogrco vericado no intervalo entre os dois levantamentos censitrios.
(13) Convm observar que, ao trabalhar com o fator distncia, vrios aspectos geogrcos das Regies
de Inuncia explicam, direta ou indiretamente, possibilidades de trajetrias migratrias con-
sideradas a origem e desno dos migrantes. Nas Regies de Inuncia com vrios municpios
localizados na faixa litornea, por exemplo, h interferncia de atributos relavos s condies
morfoclimcas, aos recursos naturais disponveis e a fatores culturais. J nos espaos interiora-
nos, tambm h barreiras sicas similares e/ou especcas que podem restringir e/ou favorecer
a imigrao.
(14) Tendo como base o recorte cartogrco referente diviso polco-administrava de 2000,
adotado no Censo Demogrco de 2000, ulizou-se como referncia as coordenadas geodsicas
de referncia da sede municipal do core metropolitano, de acordo com critrios estabelecidos
pelo prprio IBGE. A partir desse ponto, para cada uma das REGICs, foram identificadas as
distncias em linha reta em relao sede de cada municpio. O conjunto desses valores permite
agrupar os municpios de cada REGIC conforme tercis de distncias, denominados de RI-1, RI-2
e RI-3 (o primeiro formado pelos municpios mais prximos do Core Metropolitano e o lmo
pelos mais distantes). Dessa forma, cada uma das RIs compreende aproximadamente 1/3 dosmunicpios de cada REGIC em 2000. Por exemplo, na REGIC de So Paulo as sub-regies RI-1,
RI-2 e RI-3 possuem 270, 269 e 269 municpios, respecvamente. As distncias em relao a
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So Paulo so obdas pelos seguintes raios de circunferncia: RI-1 aat 240,32 km; RI-2 ade
240,33 km a 453,52 Km; e a RI-3amais de 453,53 km.
(14) Nesses dois casos, a pequena queda na proporo de migrantes metropolitanos na RI-1 parece ser
um reexo da estrutura e organizao espacial da rede de cidades de cada REGIC, bem como de
caracterscas geogrcas singulares. Na RI de Belo Horizonte, um aspecto que provavelmente
inuencia essa disperso da migrao associa-se ao fato de que boa parte das Capitais Regionais
localiza-se nas RI-2 e RI-3, que atuam como importantes centros de atrao de populao.
Das seis Capitais Regionais consideradas pelo IBGE, excludos os municpios de Uberlndia e
Juiz de Fora (que integram as REGICs de So Paulo e Rio de Janeiro, respecvamente), apenas
Divinpolis e Ipanga compem a RI-1. J na RI de Manaus o quadro ainda mais disnto. Alm
de uma disperso relava prpria estrutura da rede urbana regional, fortemente limitada
pelas condies naturais, o principal centro de polarizao da RI Boa Vista (RR), muito alm
dos 303,82 km que delimitam a RI-1 Manaus.
(15) A Relao Anual das Informaes Sociais (RAIS) foi instuda pelo Decreto n. 76.900, de 2 de
dezembro de 1975. Originalmente, a RAIS foi criada para obter informaes acerca da entradada mo de obra estrangeira no Brasil e os registros relativos ao FGTS, teis ao controle de
arrecadao e concesso de benecios pelo Ministrio da Previdncia Social, e para servir de
base de clculo do PIS/PASEP. A RAISMIGRA uma base de dados derivada do registro da RAIS
e visa o acompanhamento geogrco, setorial e ocupacional da trajetria dos trabalhadores
ao longo do tempo. A base est organizada de forma longitudinal, permindo a realizao de
estudos de mobilidade, durao e reinsero de indivduos no mercado de trabalho, o que
no permido pela base RAIS convencional, que est organizada por ano de referncia da
declarao dos vnculos empregacios. Trata-se de uma forma de levantamento censitrio de
registro administravo. Contudo, essa cobertura variada no tempo e espao. De acordo com
o prprio MTE, a cobertura atual dessa base oscila em torno de 97% do universo do mercadoformal brasileiro (MTE, 2009).
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Texto recebido em 22/fev/2010
Texto aprovado em 2/jun/2010