78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __ª VARA DA
FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOIÂNIA-GO.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pela
Promotora de Justiça que a presente subscreve, com fundamento nos artigos 37,
caput e § 4º, e 129, inciso III, da Constituição da República Federativa do Brasil, na
Lei nº 7.347/85, nas Leis nº 8.625/93 e 8.429/92 e com base no Inquérito Civil Público
nº 013/2017 (Atena nº 201600505009), vem à presença de Vossa Excelência ajuizar
a presente
AÇÃO de IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA c/c
PEDIDO DE TUTELA CAUTELAR
em desfavor de:
1. JARDEL SEBBA, brasileiro, casado, prefeito de
Catalão/GO, ex-Presidente da ALEGO – Assembleia
Legislativa do Estado de Goiás, inscrito no CPF sob o nº
039.682.271-15, residente e domiciliado na Rua Jovina
Silva Leão, número 173, Loteamento Leão, CEP: 75707-
101, Catalão – GO;
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2. LEONARDO COSTA BUENO, brasileiro, solteiro,
vereador do Município de Catalão, inscrito no CPF sob o nº
889.953.561-20, residente e domiciliado na Rua Posse, nº
77, Bairro Nossa Senhora de Fátima, Catalão/GO;
pelas razões de fato e direito a seguir expostas:
I – DOS FATOS:
O Ministério Público do Estado de Goiás instaurou o
Inquérito Civil Público nº 013/2017 para apurar supostas irregularidades no âmbito da
ALEGO – Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, especificamente se o
Requerido LEONARDO COSTA BUENO teria recebido remuneração daquela Casa
sem ter prestado nenhum tipo de contraprestação, ou seja, se seria “funcionário
fantasma”.
A investigação teve início a partir de denúncia apócrifa, que
encaminhou matéria jornalística veiculada no Portal da Rádio 730, em que o
Requerido LEONARDO COSTA BUENO afirmou que ele próprio havia sido contratado
por JARDEL SEBBA, à época em que este ocupou o cargo de Presidente da ALEGO,
para ocupar cargo comissionado naquela Casa, mas que nunca compareceu a seu
local de trabalho.
Na referida matéria jornalística, o Requerido LEONARDO
COSTA BUENO declarou o seguinte: “Leonardo afirma que ele próprio foi
contratado por Jardel, sempre recebeu em dia, mas depois de quatro anos, não
sabe nem onde fica a Assembleia Legislativa. Eu era funcionário do deputado
(Jardel Sebba) e nunca fui na Assembleia. Não sei nem onde fica, eu era
fantasma”.
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Na época da entrevista à Rádio 730, se tem notícia de que
o Requerido LEONARDO COSTA BUENO, que é político influente na cidade de
Catalão e atualmente ocupa o cargo de Vereador, havia rompido politicamente com
JARDEL SEBBA e, por isso, resolveu declarar publicamente que era “funcionário
fantasma” da ALEGO.
Para apurar os fatos, inicialmente, o Ministério Público
oficiou à ALEGO solicitando as informações funcionais do Requerido LEONARDO
COSTA BUENO (fls. 30/31). Em resposta, a ALEGO informou que “não consta em
nossos registros que o Sr. Leonardo Bueno é ou foi servidor desta Casa de Leis” (fl.
35).
Expediu-se carta precatória ministerial à Promotoria de
Justiça de Catalão, solicitando a oitiva do Requerido LEONARDO COSTA BUENO
(fls. 36/70).
Em suas declarações, LEONARDO modificou
integralmente a versão dos fatos. Ao contrário do que LEONARDO COSTA BUENO
havia declarado à Rádio 730, no Ministério Público disse que trabalhou na ALEGO de
2007 a 2010, lotado na “extensão do Gabinete” do Deputado JARDEL SEBBA na
cidade de Catalão, e desempenhava atividades diversas, como marcar reuniões,
montar tendas, etc., e que esporadicamente comparecia à sede da ALEGO para
participar de reuniões.
LEONARDO afirmou que “além do vínculo profissional e
partidário declarante tem vínculos de amizade com JARDEL SEBBA”,
demonstrando que aquele rompimento que houve entre eles à época em que se dirigiu
à Rádio 730 já foi superado e voltaram a ser “amigos”.
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Os autos do Inquérito Civil Público que haviam sido
instaurados e tramitavam na 78ª Promotoria de Justiça foram redistribuídos à 73ª
Promotoria de Justiça, cujo titular é o Dr. Geibson Cândido Martins Rezende.
Recebidos os autos pela 73ª Promotoria de Justiça, fora
oficiado novamente à ALEGO solicitando informações acerca do Requerido
LEONARDO COSTA BUENO. Desta vez, fora informado que ele trabalhou naquela
Casa de 2007 a 2011, tendo ocupado diversos cargos comissionados, com
remuneração que variou de R$ 1.000,00 a R$ 5.900,00, conforme abaixo
demonstrado (fls. 82/83):
Posteriormente, a ALEGO encaminhou cópia integral do
dossiê funcional (fls. 93/207) de LEONARDO COSTA BUENO, e informou que apenas
no período de 1º/02/2009 a 31/01/2011 é que há registro de sua frequência, mas não
encaminhou nenhum documento comprobatório.
Período Cargo Remuneração
02/2007 a 08/2007 Motorista da Presidência
- FEC-3 R$ 1.000,00
09/2007 a 01/2008 Assessor 3 - DAS-3 R$ 2.000,00
02/2008 a 12/2008 Assessor - 4 - DAS-4 R$ 2.500,00
jan/09 Assessor Nível VII - ANI-
7 R$ 5.900,00
02/2009 a 01/2011 Função Gratificada de Secretário Parlamentar
FGSP-07 R$ 1.590,00
02/2011 a 09/2011 Assessor Nível I - ANI 1 R$ 1.500,00
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As fichas financeiras do Requerido LEONARDO informam
que ele recebeu os seguintes valores, a título de remuneração, da ALEGO (fls.
115/124):
Ano Valor
2007 R$ 15.000,00
2008 R$ 7.000,00
2009 R$ 18.947,49
2010 R$ 21.320,57
2011 R$ 16.745,00
Total R$ 79.013,06
Informam, ainda, que LEONARDO recebeu R$ 100.560,00
(cem mil, quinhentos e sessenta reais) a título de gratificação, totalizando, portanto,
R$ 179.573,06 (cento e setenta e nove mil, quinhentos e setenta e três reais, e seis
centavos).
Na sequência, os autos do Inquérito Civil Público
retornaram à 78ª Promotoria de Justiça, por conexão à Ação Civil Pública por Ato de
Improbidade Administrativa nº 0101196.72.2016.8.09.0051, proposta por este Órgão
do Ministério Público.
De todo apurado, não restam dúvidas que o Requerido
LEONARDO COSTA BUENO era “funcionário fantasma” da ALEGO.
Os cargos ocupados pelo Requerido LEONARDO COSTA
BUENO na ALEGO foram concedidos a ele por JARDEL SEBBA, que à época
ocupava a Presidência daquela Casa, como agraciamento ou verdadeira “compra” de
apoio político, não tendo sido exigido de LEONARDO a execução de nenhuma
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atividade proveito do órgão que o remunerava, mas somente em benefício de JARDEL
SEBBA e de suas candidaturas a Deputado Estadual e Prefeito de Catalão.
Ouvido no Ministério Público, o Requerido sequer soube
enumerar as atividades que desempenhava, dizendo genericamente que era
responsável por agendar reuniões e montar tendas, tarefas que os outros 34
Requeridos da Ação de Improbidade Administrativa nº 0101196.72.2016.8.09.0051
também diziam desempenhar, quando na verdade, nenhum fazia nada e sequer
compareciam à ALEGO para trabalhar.
Observa-se, ademais, que um dos cargos ocupados por
LEONARDO na ALEGO foi o de motorista da Presidência, mas ele mesmo disse que
raramente ia à sede da Assembleia e, quando inquirido sobre as funções que
desempenhava, não disse que tinha a função de dirigir, comprovando que ele nem
mesmo sabia qual o cargo que ocupava.
JARDEL SEBBA utilizou o cargo de Presidência da ALEGO
de maneira absolutamente abusiva e imoral, contratando diversos parentes e
correligionários para ocuparem cargos comissionados sem que nenhum prestasse
qualquer atividade de interesse público ou fossem obrigados à comparecerem
regularmente ao local de trabalho, sendo exigido deles apenas que votassem e
fizessem campanha política em seu favor.
O Ministério Público comprovou na Ação de Improbidade
Administrativa nº 0101196.72.2016.8.09.0051 que foram nomeados por JARDEL
SEBBA no mínimo 34 “funcionários fantasmas” para ocuparem cargos comissionados
na ALEGO, todos residentes na cidade de Catalão/GO, que nunca compareceram à
sede da Assembleia Legislativa ou prestaram qualquer atividade de interesse público,
mas se tem a notícia de que JARDEL SEBBA chegou a nomear mais de 300
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“funcionários fantasmas”, que tudo indica que o Requerido LEONARDO COSTA
BUENO é um deles, já que ele próprio assumiu isso publicamente.
II – DO DIREITO:
Os atos praticados pelos Requeridos JARDEL SEBBA e
LEONARDO COSTA BUENO amoldam-se às três modalidades de atos de
improbidade administrativa descritos pela Lei nº 8.429/92, quais sejam:
enriquecimento ilícito (art. 9º), dano ao erário (art. 10º) e violação aos princípios
constitucionais da Administração Pública (art. 11).
O Requerido LEONARDO COSTA BUENO, em ato
voluntário, declarou publicamente em entrevista que concedera à Rádio 730, que era
“funcionário fantasma” da ALEGO e que sequer sabia onde ficava a Assembleia
Legislativa.
Disse, ainda, conhecer muitas pessoas que estavam ou
estiveram na mesma condição de “funcionário fantasma” da ALEGO, que recebiam
suas remunerações sem nenhum tipo de contraprestação.
Detalhe importante é o de que LEONARDO é político
influente no Município de Catalão, atualmente Vereador daquele Município, que na
época da referida entrevista, concedida no ano de 2011, havia rompido politicamente
com JARDEL SEBBA, o que somente reforça a veracidade do que declarou, pois
sabe-se que é nesse momento de briga e ânimos exaltados que a verdade é
revelada.
Mas não é somente pela “confissão” de LEONARDO
COSTA BUENO que se tem certeza de que ele era “funcionário fantasma”. Como já
adiantado, o Ministério Público comprovou na Ação de Improbidade Administrativa nº
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0101196.72.2016.8.09.0051 que a nomeação de “funcionários fantasmas” era prática
costumeira de JARDEL SEBBA à época que esteve na Presidência da ALEGO.
Comprovou-se que JARDEL SEBBA chegou a nomear 34
pessoas, dentre parentes e correligionários, mas acredita-se que esse número chegue
a 300 pessoas, para ocuparem cargos comissionados na ALEGO, todos residentes
na cidade de Catalão, que nunca foram à sede da ALEGO, e que nunca prestaram
qualquer atividade inerente aos cargos que ocupavam.
Ouvido no Ministério Público, LEONARDO COSTA BUENO
disse que suas funções na ALEGO eram as seguintes: “trabalhando com a
população, marcando as reuniões, ajudando a montar tendas, trabalhando no
Município da região, marcando reunião”.
Essas atividades desempenhadas por LEONARDO não
eram de interesse da ALEGO, mas sim eram atividades políticas privadas de
JARDEL SEBBA.
Veja-se: o Requerido trabalhou por mais de 4 (quatro) anos
na ALEGO e sequer sabe descrever com detalhes as suas funções, dizendo apenas
e genericamente que marcava reuniões, montava tendas e trabalhava nos municípios
da região, atividades que todos ou a grande maioria dos Requeridos da Ação de
Improbidade nº 0101196.72.2016.8.09.0051 também diziam desempenhar, mas
nenhum desempenhava de fato, ou quando faziam, era pelo interesse privado de
JARDEL SEBBA.
Além de não saber os cargos que ocupou na ALEGO e
quais eram suas funções, o Requerido LEONARDO também não conhecia nenhuma
pessoa que trabalhava no escritório político de JARDEL SEBBA em Catalão, tendo
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sido claro ao dizer que “não tem o nome das pessoas com quem trabalhou na
extensão do Gabinete do à época Deputado JARDEL SEBBA”.
E mais: não há nenhum registro de ponto de LEONARDO
COSTA BUENO na ALEGO, ele mesmo disse que “não lembra de assinar folha de
ponto; que trabalhava por tarefa e não tinha controle de horário” e, embora a
ALEGO tenha informado ao Ministério Público que no período de 1º/02/2009 a
31/01/2011 existe registro de sua frequência, aquela Casa não encaminhou nenhum
comprobatório do ponto do Requerido.
Por tudo isso, não há dúvidas que o Requerido
LEONARDO COSTA BUENO era “funcionário fantasma” da ALEGO, tendo sido
contratado por JARDEL SEBBA com a finalidade exclusiva de ampliar ou manter sua
base eleitoral, exigindo-se dele apenas comparecer a eventos políticos privados
promovidos pelo ex-Deputado.
Assim, por ter recebido da ALEGO valores a título de
remuneração sem prestar nenhum tipo de contraprestação, o Requerido LEONARDO
COSTA BUENO enriqueceu-se ilicitamente às expensas do Poder Público,
encontrando-se incurso na conduta descrita no art. 9º caput e inc. VIII, da Lei nº
8.429/92, verbis:
Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa
importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas
entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e notadamente: [...] VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de
consultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições
do agente público, durante a atividade;
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O Requerido JARDEL SEBBA também enriqueceu-se
ilicitamente, na medida que utilizou para fins particulares de serviços pagos pela
ALEGO, pois o Requerido LEONARDO COSTA BUENO recebia salário para ser seu
cabo eleitoral, desempenhando atividades de seu interesse particular, logo, incorreu
na conduta descrita no caput do art. 9º da Lei nº 8.429/92.
O valor do enriquecimento ilícito dos Requeridos
corresponde ao valor recebido por LEONARDO COSTA BUENO da ALEGO,
LEONARDO por ter recebido sem trabalhar e JARDEL SEBBA por ter deixado de
pagar pessoalmente por serviços ou “compra” de apoio político de seu interesse
particular, devendo, portanto, responderem solidariamente.
As fichas financeiras do Requerido LEONARDO informam
que ele recebeu os seguintes valores a título de remuneração e gratificação da
ALEGO (fls. 115/124):
PARCELA VALOR DO PRINCIPAL
REMUNERAÇÃO R$ 79.013,06
GRATIFICAÇÃO R$ 100.560,00
TOTAL R$ 179.573,06
Saliente-se que esta modalidade de ato de improbidade
administrativa – enriquecimento ilícito – é necessário que a conduta do agente seja
praticada com dolo. In casu, o dolo está evidenciado, pois o Requerido JARDEL
SEBBA tinha plena consciência de que estava contratando LEONARDO COSTA
BUENO para ser seu cabo eleitoral, sem sequer exigir dele que comparecesse a seu
local de trabalho, e LEONARDO também tinha consciência disso, que seria
remunerado pela ALEGO sem nada ter de fazer, a não ser votar e dar apoio político a
JARDEL SEBBA.
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A segunda modalidade de ato de improbidade
administrativa é o que causa prejuízo ao erário, tipificado no art. 10 da Lei nº
8.429/92.
Diferentemente do que ocorre no enriquecimento ilícito,
esta modalidade de ato ímprobo permite a responsabilização do agente público que
tenha agido com dolo ou culpa.
Em análise ao art. 10 da Lei nº 8.429/92, Emerson Garcia
e Rogério Pacheco Alves1 averbam que “qualquer diminuição do patrimônio público
advinda de ato inválido será ilícita, pois 'quod nullun est, nullum producit effectum',
culminando em caracterizar o dano e o dever de ressarcir”.
Deste modo, como o Requerido LEONARDO COSTA
BUENO recebeu indevidamente da ALEGO a quantia de R$ 179.573,06, sem ter
executado nenhuma atividade de interesse público ou inerente aos cargos que
ocupou, ele e JARDEL SEBBA, que foi o agente público que permitiu e executou o
ato, devem respondem solidariamente pelo dano sofrido pelos cofres da ALEGO,
encontrando-se incursos no caput do art. 10 da Lei nº 8.429/92:
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que
causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou
haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:
1 GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa. 3ª Edição, 2006. Ed. Lumen Juris. p. 265.
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O Requerido JARDEL SEBBA, por ter permitido, facilitado
ou concorrido para que LEONARDO COSTA BUENO tenha se enriquecido
ilicitamente, também encontra-se incurso no inc. XII do supracitado artigo:
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se
enriqueça ilicitamente;
Finalmente, a terceira classe dos atos de improbidade
administrativa contempla os atos que atentam contra os princípios da administração
pública. Esta classe encontra previsão no artigo 11 da Lei nº 8.429/92.
Por descumprirem os princípios regentes da atividade
administrativa insculpidos no art. 37, caput, da Constituição Federal, notadamente os
princípios da legalidade, moralidade, impessoalidade e eficiência, os Requeridos
também incorreram na prática de ato de improbidade administrativa tipificado no art.
11, caput, e inciso I, da Lei 8.429/92.
Nesse ponto, imperioso destacar as lições de Marino
Pazzaglini Filho2, que sustenta que violar um princípio “é a MODALIDADE MAIS
GRAVE E IGNÓBIL DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, pois contempla o
comportamento torpe do agente público que desempenha funções públicas de
sua atribuição de forma desonesta e imoral”.
O primeiro princípio descrito no art. 37 da Constituição
Federal é o princípio da legalidade, o qual, segundo Celso Antônio Bandeira de
Mello3, “É o princípio basilar do regime jurídico-administrativo (...). É o fruto da
submissão do Estado à lei. É em suma: a consagração da ideia de que a
Administração Pública só pode ser exercida na conformidade da lei e que, de
2 MARINO PAZZAGLINI FILHO. Lei de Improbidade Administrativa Comentada, Atlas, 2002, p. 54. 3 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 58 e 59).
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conseguinte, a atividade administrativa é atividade sublegal, infralegal, consistente na
expedição de comandos complementares à lei”.
Hely Lopes Meirelles4, ao abordar o tema, lembra que “A
eficácia de toda atividade administrativa está condicionada ao atendimento da lei. (...)
As leis administrativas são, normalmente, de ordem pública e seus preceitos não
podem ser descumpridos, nem mesmo por acordo ou vontade conjunta de seus
aplicadores e destinatários, uma vez que contêm verdadeiros poderes-deveres,
irrelegáveis pelos agentes públicos. Por outras palavras, a natureza da função pública
e a finalidade do Estado impedem que seus agentes deixem de exercitar os poderes
e de cumprir os deveres que a lei lhes impõem”.
Assim, com amparo nos ensinamentos da melhor doutrina,
resta sobejamente demonstrado que os Requeridos violaram o princípio da legalidade,
pois, foram arquitetaram um “esquema” de obterem vantagem econômica indevida e
favorecerem politicamente, sem prestarem nenhuma atividade de interesse público.
O princípio da impessoalidade, por sua vez, tem
recebido diversas interpretações. Segundo Maria Sylvia Zanella di Pietro5:
Exigir impessoalidade da Administração tanto pode
significar que esse atributo deve ser observado em relação aos administrados como à própria Administração. No
primeiro sentido, o principio estaria relacionado com a
finalidade pública que deve nortear toda a atividade administrativa. Significa que a Administração não pode atuar com vistas a prejudicar ou beneficiar pessoas
determinadas, uma vez que é sempre o interesse público que tem que nortear o seu comportamento. No segundo sentido, o princípio significa, segundo José
Afonso da Silva baseado na lição de Gordillo que os atos e
4 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 82). 5 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 71.
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provimentos administrativos são imputáveis não ao
funcionário que os pratica, mas ao órgão ou entidade administrativa da Administração Pública, de sorte que ele é o autor institucional do ato. Ele é apenas o órgão que
formalmente manifesta a vontade estatal."
Os Requeridos agiram com pessoalidade, praticando atos
visando interesses próprios, LEONARDO COSTA BUENO de ser remunerado com
dinheiro público sem ter de trabalhar, e JARDEL SEBBA em manter ou ampliar sua
base eleitoral.
O princípio da moralidade administrativa também não
foi respeitado.
Para Celso Antônio Bandeira de Mello6, de acordo com o
princípio da moralidade administrativa, “a Administração e seus agentes têm de atuar
na conformidade de princípios óticos. Violá-los implicará violação ao próprio Direito,
configurando ilicitude que assujeita a conduta viciada a invalidação, porquanto tal
princípio assumiu foros de pauta jurídica, na conformidade do art. 37 da Constituição.
Compreendem-se em seu âmbito, como é evidente, os chamados princípios da
lealdade e boa-fé”.
A imoralidade decorre das próprias condutas dos
Requeridos, contrárias aos valores éticos e morais e sobretudo, contrárias à lei.
Os Requeridos também agiram contrários aos interesses
da Instituição que representavam, especialmente JARDEL SEBBA, que na qualidade
de Presidente do Legislativo Goiano, deveria ser o agente com a maior qualificação
possível, diligente em seus atos, compromissado incondicionalmente com a lei, mas
6 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 72 e 73.)
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como não tem nenhum respeito com o povo, preferiu utilizar do cargo para obter
vantagem indevida e praticar atos ilícitos.
Por fim, quanto ao princípio da eficiência, Hely Lopes
Meirelles7 ensina o seguinte:
Dever de eficiência é o que se impõe a toda agente público
de realizar suas atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta em ser
desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus
membros.
Assim, é inegável que os Requeridos JARDEL SEBBA e
LEONARDO COSTA BUENO não agiram com presteza, perfeição ou rendimento
funcional, eles agiram ardilosamente para auferirem benefícios às expensas do Poder
Público, sendo absolutamente ineficientes e incapazes de desempenharem qualquer
função ou cargo público.
Com efeito, pelos atos que importaram enriquecimento
ilícito, lesão ao patrimônio público e que atentaram contra os princípios da
administração pública, JARDEL SEBBA e LEONARDO COSTA BUENO estão sujeitos
às penalidades do art. 12, I, II e III, da Lei 8.429/92.
III – DA TUTELA DE URGÊNCIA
A Lei n.º 7.347/85 prevê expressamente no seu art. 12 a
possibilidade de concessão de liminar com ou sem justificação prévia para evitar dano
7 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 22ª ed. São Paulo: Malheiros, 1997.p. 90.
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irreparável ou de difícil reparação, presentes, claro, os requisitos do fumus boni iuris
e do periculum in mora.
No mesmo sentido, o art. 300 do CPC dispõe que:
Art. 300 - A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo”.
Na sequência, o art. 301 do CPC trata do poder geral de
cautela do juiz, que autoriza a ele adotar qualquer medida idônea para assegurar o
direito invocado pela parte, verbis:
Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante arresto, sequestro, arrolamento de
bens, registro de protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do direito.
A probabilidade do direito repousa na vasta prova
documental acostada autos, especialmente: a) na própria “confissão” do Requerido
LEONARDO COSTA BUENO que em 2011 declarou à Rádio 730 que era “funcionário
fantasma” da ALEGO, b) não há registro de frequência; c) o Requerido LEONARDO
não sabe descrever as atividades que executava no exercício dos cargos que ocupou;
d) o Requerido LEONARDO não conhece e nem soube dizer o nome de nenhuma
outra pessoa que trabalhava no escritório político de JARDEL SEBBA em Catalão.
Ademais, é bom registrar que o Ministério Público tenha
ciência que os Requeridos virão com força tentando demonstrar que LEONARDO
executava sim tarefas inerentes aos cargos que ocupava na ALEGO, a prática
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demonstra que os itens enumerados no parágrafo acima são típicos do “funcionário
fantasma”, daquele agente que não comparece ao seu local de trabalho.
O segundo requisito para concessão da tutela de urgência
- perigo de dano ou ao resultado útil do processo – também se encontra presente.
As provas ou, no mínimo, evidências de que os Requeridos JARDEL SEBBA e
LEONARDO COSTA BUENO praticaram atos que acarretaram seus enriquecimentos
ilícitos, causaram danos ao erário e atentaram contra os princípios constitucionais da
administração pública, exige, nesse momento, a contrição de seus bens para
assegurar o ressarcimento ao Poder Público, evitando que dilapidem seus patrimônios
ou pratiquem qualquer ato fraudulento.
Diante do exposto, presentes os requisitos autorizadores
para concessão da tutela de urgência previstos no artigo 300 do CPC, o Ministério
Público requer a concessão da indisponibilidade de bens dos Requeridos JARDEL
SEBBA e LEONARDO COSTA BUENO até o limite de R$ 1.792.245,81 (um milhão
setecentos e noventa e dois mil duzentos e quarenta e cinco reais e oitenta e um
centavos), que corresponde ao valor do dano ao erário, devidamente atualizado,
acrescido do valor da multa civil, que nos termos do art. 12, II, da Lei nº 8.429/92,
equivale a duas vezes o valor do dano.
VALOR TOTAL R$ 179.573,06
VALOR TOTAL ATUALIZADO R$ 597.415,27
MULTA CIVIL (art. 12, II, Lei nº 8.429/92)
R$ 1.194.830,54
TOTAL A SER BLOQUEADO R$ 1.794.245,81
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Acerca da possibilidade de constrição de bens
considerando o valor da multa civil elencada na Lei de Improbidade Administrativa,
confira-se a ementa do seguinte enunciado de jurisprudência do TJGO:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DE BENS. 1- A concessão de medida liminar em ação civil pública por ato de improbidade administrativa, com a
decretação de indisponibilidade de bens da parte requerida, tem seu fundamento no artigo 7º, da Lei nº 8.429/1992, e reclama, para a sua concessão, a presença
concomitante do fumus boni iuris e do periculum in mora, em, juízo de cognição sumária. Cumpre ressaltar que, conforme precedente do STJ, o periculum in mora, nesse
caso, é presumido. INDISPONIBILIDADE DE BENS LIMITADA AO VALOR INDICADO NA INICIAL DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA ACRESCIDO DA MULTA LEGAL. 2-
Considerando que, na inicial da presente ação de improbidade, o representante ministerial quantifica inicialmente o prejuízo ao erário na esfera de R$23.253,92
(vinte e três mil, duzentos e cinquenta e três reais e noventa e dois centavos), deve ser esta a quantia considerada na decretação de indisponibilidade dos bens, devendo ser
acrescentado o valor da multa civil, que nos termos do art. 12, II, da Lei nº 8.29/92, equivale à duas vezes o valor do dano. PLURALIDADE DE RÉUS. BLOQUEIO DO VALOR
INTEGRAL. POSSIBILIDADE. 3- Em caso de pluralidade de réus e não sendo possível quantificar, de plano, o montante do prejuízo atribuível a cada um deles, devem ser
mantidos bloqueados tanto quantos bens forem necessários para garantir a execução de eventual sentença condenatória, vez que somente após a formação do
contraditório e da instrução processual é que poderá ser exigido e emitido um juízo de certeza acerca do alcance da decisão com relação a cada réu. AGRAVO DE
INSTRUMENTO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (TJGO, Agravo de Instrumento ( CPC ) 5179247-
34.2017.8.09.0000, Rel. Sebastião Luiz Fleury, 4ª Câmara Cível, julgado em 20/09/2017, DJe de 20/09/2017)
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A constrição deve ser realizada por meio do sistema
BacenJud 2.0, eis que possível o uso de penhora on line de forma cautelar e não
somente na fase de execução, o que inegavelmente geraria efetividade ao processo.
Se o bloqueio dos valores nas contas bancárias dos
Requeridos não alcançar a cifra referendada, requer seja decretada a
indisponibilidade de seus bens imóveis e veículos, com expedição de ofícios aos
quatro cartórios de registro de imóveis de Goiânia/GO e Catalão/GO, bem como a
expedição de ofícios ao DETRAN/GO para registrar a indisponibilidade nos cadastros
dos veículos de propriedade dos Requeridos.
IV – DOS PEDIDOS:
Ante o exposto, o Ministério Público requer:
1. o deferimento da medida cautelar incidental inaudita altera pars, consistente na
decretação de indisponibilidade de bens dos Requeridos JARDEL SEBBA e
LEONARDO COSTA BUENO até o limite de R$ 1.792.245,81 (um milhão
setecentos e noventa e dois mil duzentos e quarenta e cinco reais e
oitenta e um centavos), que corresponde ao valor do dano ao erário,
devidamente atualizado, acrescido do valor da multa civil, que nos termos do
art. 12, II, da Lei nº 8.429/92, equivale a duas vezes o valor do dano.
2. a notificação pessoal dos Requeridos, nos termos do artigo 17, § 7º, da Lei
8.429/92;
3. o recebimento da inicial, nos termos do artigo 17, § 9º, da Lei de Improbidade
Administrativa e posterior citação dos Requeridos;
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4. a citação do Estado de Goiás, na pessoa de seu Procurador-Geral, com
endereço na Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, n.º 03, Centro, Goiânia/GO,
CEP 74003-010, nos termos do art. 17, § 3º, da Lei 8.429/92;
5. a procedência do pedido para condenar os Requeridos JARDEL SEBBA e
LEONARDO COSTA BUENO nas penas do art. 12, I, II e III, da Lei nº 8.429/92,
por JARDEL SEBBA ter incorrido nas condutas descritas no art. 9º, 10º, caput
e inc. XII e 11 caput e inc. I, da Lei nº 8.429/92, e LEONARDO COSTA BUENO,
nas condutas descritas no art. 9º, caput e inc. VIII, 10º caput e 11 caput, da
mesma Lei.
6. a condenação dos requeridos ao pagamento de custas e emolumentos
processuais e ônus de sucumbência;
7. a juntada do inquérito civil n.º 013/2017 (registro Atena n.º 201600505009),
bem como a produção de todas as provas legalmente admitidas.
Valor da causa: R$ 1.792.245,81 (um milhão setecentos
e noventa e dois mil duzentos e quarenta e cinco reais e oitenta e um centavos).
Goiânia, 07 de dezembro de 2017.
VILLIS MARRA Promotora de Justiça
Defesa do Patrimônio Público