UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
A AGRESSIVIDADE COMO RESPOSTA DE UM INDIVÍDUO CRIADO EM UMA FAMÍLIA
DESESTRUTURADA
MÔNICA CABRAL DE CARVALHO
Orientadora Professora Maria Poppe
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2010
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
A AGRESSIVIDADE COMO RESPOSTA DE UM INDIVÍDUO CRIADO EM UMA FAMÍLIA
DESESTRUTURADA
Esta publicação atende a complementação didático-pedagógica de metodologia da pesquisa e a produção e desenvolvimento da monografia, para o curso de pós-graduação.
TERAPIA DE FAMÍLIA
MÔNICA CABRAL DE CARVALHO
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais e irmãos, por todo amor, apoio e carinho. Obrigada, amo
vocês!
Ao meu amigo Alexsandro, que por muitas vezes me ajudou, tirando
dúvidas, lendo meus capítulos para ver ser estava bom. Obrigada por tudo!
A minha amiga Isabella, que por muitas vezes agüentou meu estresse
devido aos trabalhos e seminários. Obrigada por tudo querida amiga!
Aos professores do curso Terapia de Família que compartilharam seus
conhecimentos comigo e com todos da turma. Muito Obrigada!
As amigas da Pós-Graduação, Annye, Alessandra, Cristina, Marilene,
Nanci e Rosilene, por todos os momentos de alegrias e risadas. Vou sempre
sentir saudades desses momentos que passamos juntas. Sejamos sempre
Felizes!
E a todos aqueles que direta ou indiretamente me ajudaram a concluir mais
esta etapa da minha vida. Obrigada!
Dedico este trabalho aos meus pais, com todo meu amor e carinho.
MENSAGEM A FAMÍLIA
Na educação de nossos filhos
Todo exagero é negativo.
Responda-lhe, não o instrua.
Proteja-o, não o cubra.
Ajude-o, não o substitua.
Abrigue-o, não o esconda.
Ame-o, não o idolatre.
Acompanhe-o, não o leve.
Mostre-lhe o perigo, não o atemorize.
Inclua-o, não o isole.
Alimente suas esperanças, não as descarte.
Não exija que seja o melhor, peça-lhe para ser bom e dê exemplo.
Não o mime em demasia, rodeie-o de amor.
Não o mande estudar, prepare-lhe um clima de estudo.
Não fabrique um castelo para ele, vivam todos com naturalidade.
Não lhe ensine a ser, seja você como quer que ele seja.
Não lhe dedique a vida, vivam todos.
Lembre-se de que seu filho não o escuta, ele o olha.
E, finalmente, quando a gaiola do canário se quebrar, não compre outra...
Ensina-lhe a viver sem portas.
Eugência Puebla
RESUMO
Este trabalho monográfico aborda a importância da instituição família,
seus papéis e funções na vida de um indivíduo. Salienta sobre a inserção da
mulher no mercado de trabalho, a dupla jornada de trabalho feminino e as
transformações ocorridas dentro das famílias, gerando novos modelos de
família, como: monoparentais, famílias formadas por pessoas do mesmo sexo,
de casais sem filhos, e pessoas que optaram viver individualmente. Sendo um
grande índice na atualidade de pessoas que moram sozinhas.
Faz referência sobre o papel da família na agressividade infantil.
Analisando até que ponto a família é responsável pela agressividade das
crianças. Aponta vários fatores que geram ou aumentam a agressividade,
como: o meio no qual a criança está inserida; a conduta dos pais como
exemplo para a atitude dos filhos; a falta de limites, a permissividade dos pais,
a violência doméstica, a insegurança, a frustração, entre outros.
Conceituando os diversos tipos de violência existente na sociedade.
Relatando a agressividade infantil dentro da família. Comprovando que parte
da agressividade do ser humano vem por eles virem de famílias
desestruturadas (pais desequilibrados, violentos, pais ausentes, pais que
educam sem amor, pais permissivos demais, a falta de limites, entre outras
coisas) provocando carência afetiva, rancor, ódio, vergonha, medo,
introspecção, insegurança, desconfiança, frustração, ou seja, uma série de
fatores e sentimentos negativos, os quais o indivíduo não sabe lidar.
O ser humano vem acumulando toda essa frustração (falta de amor dos
pais, falta de atenção, rejeição, atos violentos de pessoas da família, etc.)
desde sua infância, passando a se sentir inferior, triste, inseguro, fraco,
diferente das outras pessoas. A forma que essa pessoa encontra para se
defender contra tudo o que ela se tornou, contra tudo o que ela pensa de si
mesmo, é através da agressividade. A agressividade, portanto, é um
mecanismo de defesa do indivíduo para que ele possa enfrentar todos os seus
problemas e os de sua família.
Depois de um estudo mais aprofundado, exemplifica algumas atitudes
que os pais poderiam ter frente à agressividade dos filhos, como lhes ensinar o
que é limite, e que ele deve ser sempre respeitado; elogiar sempre que
possível à criança com o objetivo de levantar a auto-estima dela, e com isso,
para receber mais elogios, irá ter comportamentos cada vez mais positivos; não
confundir a autoridade com o autoritarismo. É importante que os pais tenham
autoridade, ela está relacionada com o poder, e os pais devem ter o poder.
Cabe aos pais, a responsabilidade pela segurança e mesmo pela vida dos
filhos. E para desempenhar bem esse papel, os pais precisam ter autoridade
em relação aos filhos, ou seja, devem ter poder, esse poder que é decisório.
Por último, disserta a importância do amor na educação dos filhos, e
defendendo a idéia do amor como prevenção e solução para a agressividade
dos filhos. O ambiente familiar é o primeiro e mais significativo para a
interiorização de valores, criação de hábitos e aprendizagens variadas. Quanto
mais estimulador esse ambiente for, mais a criança se desenvolverá de
maneira harmônica; em contrapartida, quanto mais conflitivo, carente de
afetividade, maiores problemas trará à criança em formação.
METODOLOGIA
Para o desenvolvimento deste trabalho foram pesquisadas distintas
bibliografias. Inicialmente foi abordada a figura da família e seus paradoxos, e
também o seu papel na formação do indivíduo, suas transformações, os novos
tipos de família que surgiram e o quanto ela se torna responsável pela atitude
agressiva de seus filhos. Depois foi feito um apanhado sobre o conceito de
violência e as diversas formas da mesma. Logo após foi analisado o tema
agressividade infantil, destacando a sua definição, as suas origens e funções, e
a forma de lidar com ela, exemplificando algumas atitudes que os pais
deveriam ter em relação à agressividade de seus filhos. Por último, foi tratado
sobre a importância do amor na educação dos filhos.
Para discorrer sobre o assunto família. Foram pesquisados, lidos e
utilizados diversos livros sobre a Família, como: família: modos de usar, a
família em desordem, a família como modelo: desconstruindo a patologia,
quando a família está com problemas, formação e rompimento dos laços
afetivos, pais e mães: culpados ou inocentes, a família como paciente, a família
de que se fala e a família de que se sofre, Adolescentes: Quem ama educa!
Sem padecer no paraíso – Em defesa dos pais ou sobre a tirania dos filhos,
100 segredos das famílias felizes. Utilizando autores como: Sayão,
Roudinesco, Cerveny, Heegaard, Bowlby, Naouri, Palazzoli, Richter, Gaiarsa,
Içami Tiba, Tania Zagury, David Niven, entre outros. Depois foi pesquisado
sobre a criança, nos seguintes livros: A Criança Explosiva: uma nova
abordagem para compreender e educar crianças cronicamente inflexíveis e que
se frustram facilmente, do autor Rossw; A Criança como indivíduo, do autor
Fordhan; Precisamos falar de Kevin, da autora Shriver. Após foi investigado
sobre a adolescência e/ou psicologia, nos livros a seguir: Psicologia
Educacional do autor Piletti; Adolescência e Psicopatologia, do autor Marcelli; A
Aceitação de si mesmo: as idades da vida, do autor Guardini. Por último foi
analisado sobre a agressividade e violência com os livros: No Risco da
Violência: reflexões psicológicas sobre a agressividade, do autor Bisker;
Violência e Psicanálise, do autor Costa. Foram também pesquisados vários
sites que comentavam sobre agressividade, violência, crianças agressivas, a
importância do amor na educação dos filhos, entre outros com estes mesmo
temas.
A pesquisa foi feita através de leituras de autores que fazem menção a
temas como família, violência, agressividade, suas origens, suas causas, o
papel da família na educação dos filhos, a responsabilidade da mesma no
processo de maturação do indivíduo, entre outros assuntos que enriqueceram
o trabalho. Foi pesquisado reportagens em Internet, revistas e jornais, que
auxiliaram na elaboração da mesma. Após, foi estudado e filtrado os dados
coletados, e usado somente o que foi válido, teve veracidade e somaram ao
trabalho de pesquisa.
SUMÁRIO INTRODUÇÃO 11 Capítulo I - FAMÍLIA: A BASE DE TUDO 1.1- Família: Conceito, papéis, funções e transformações. 14 1.2- O papel da família na agressividade infantil 23 Capítulo II - AGRESSIVIDADE E ESTRUTURA FAMILIAR. 2.1- Violência: Conceito e suas diversas formas 29 2.2- A agressividade na infância 32
Capítulo III - O AMOR COMO SOLUÇÃO PARA UMA VIDA
FAMILIAR SAUDÁVEL.
3.1- Algumas atitudes que deveriam ser tomadas pelos pais frente a
comportamentos agressivos dos seus filhos. 38
3.2- A importância do amor na educação dos filhos. 47
CONCLUSÃO 52
BIBLIOGRAFIA 55
11
INTRODUÇÃO
Escola e Família são as principais instituições socializadoras de uma
sociedade. A Família é uma peça fundamental nesse intricado problema, uma
vez que a família desestruturada gera pessoas problemáticas para a
convivência social e escolar. As raízes, para tais situações, são geradas desde
questões sócio-econômicas, étnicas e emocionais, com conseqüências
danosas para todo o conjunto da sociedade.
O ato de educar resulta da participação de todos. Aos pais cabe o
acompanhamento da educação de seus filhos, não delegando somente a
escola, tão grande responsabilidade. Na verdade, as famílias desestruturadas
cujos pais que não tem controle, não educam, não ensinam, e transferem todas
as responsabilidades para a Escola, para “terceiros”, normalmente geram
crianças com diversos problemas emocionais, ou agressivas se tornando mais
tarde adultos violentos, ou crianças sem limites, que não têm menor respeito
pelas pessoas.
Família é algo muito complexo e sempre me despertou muito interesse,
por isso resolvi fazer meu trabalho de conclusão do curso Terapia de Família,
pesquisando somente a família, apesar de achar a escola de muita importância
na educação das crianças, pois como vimos acima, tem pais que delegam a
escola, toda a educação de seus filhos. Portanto, neste trabalho para a
conclusão de curso de pós-graduação lato sensu, foi abordado sobre um
problema bem relevante para a sociedade, que acontece com bastante
freqüência dentro das famílias, que é a conseqüência de uma educação sem
limites, ou até mesmo uma criação sem amor, atenção e respeito, e muitas
vezes o convívio em lares violentos. Que tornam crianças cada vez mais
agressivas, violentas e desequilibradas emocionalmente.
Um dos primeiros aspectos que fez despertar a atenção para o problema
em questão, foi a percepção de que muitos pais hoje em dia têm sérias
12 dificuldades em estabelecer limites para os filhos e em dar fim a discussões e a
pequenas questões simples do dia-a-dia.
Na maioria das vezes a agressividade nasce dentro das pessoas como
conseqüência de tudo o que elas vivenciam no seu dia-a-dia, através de seus
lares violentos, e/ou, famílias desestruturadas, ou pais que também vieram de
famílias e lares com todos esses problemas, e por isso não souberam dar a
educação, a atenção e o amor devidos aos seus filhos. Criando assim homens
agressivos e violentos.
Primeiramente, é analisado o significado da família, o quanto essa
instituição é importante para todos os indivíduos, os papéis que ela exerce na
vida do ser humano e suas funções. Logo após é citado as mudanças ocorridas
dentro das famílias. Com a entrada da mulher no universo público, houve uma
diminuição das famílias extensas e das famílias nucleares, que são as
compostas do casal e dos filhos. As famílias estão ficando menores, houve
alterações nos tipos de arranjos familiares e nos padrões de conjugalidade.
Aumentaram as famílias compostas por apenas um indivíduo, às famílias
monoparentais, as compostas de casais do mesmo sexo e de casais sem
filhos. Com a entrada das mulheres no mercado de trabalho, elas passaram a
ter maior autonomia em suas escolhas, ganharam o espaço fora do âmbito
privado do lar, passaram a ter seus salários e começaram dividir com seus
maridos as dívidas da casa. Isto é, agora eles não eram os únicos provedores
da casa, elas passaram a dividir esse papel com eles.
Houve também, um aumento no número de divórcios, pois elas
conquistaram o espaço público, agora elas não precisam mais depender de
seus maridos. Elas agora têm a possibilidade de romper vínculos quando estes
não lhes forem satisfatórios. Hoje elas já podem se manter e não precisam
mais ficar com alguém pela dependência financeira. Com isso, aumentaram o
número de mulheres chefes de família, sem cônjuge e com filhos.
Também é discorrido sobre o papel da família na agressividade infantil,
citando o meio no qual a criança está inserida, como um dos fatores que geram
a agressividade; a conduta dos pais como exemplo para a atitude dos filhos; a
13 falta de limites, a permissividade, a violência doméstica, a insegurança, a
frustração como fatores que geram a agressividade.
Depois conceitua os diversos tipos de violência existente na sociedade,
e também sobre a agressividade dentro do âmbito familiar e a agressividade da
criança, fazendo um paralelo entre elas. No contexto atual, entre os temas que
merecem reflexão está a agressividade, um termo já conhecido entre as
pessoas e que se reflete em diversos ambientes. Com base nisso, houve a
necessidade de compreender a agressividade dentro do âmbito familiar.
Compreender qual a ligação da agressividade das crianças com a educação
dos pais. E analisar até que ponto os pais são culpados pela agressividade dos
seus filhos.
Por último, faz referência sobre as atitudes dos pais frente à
agressividade dos filhos, sobre a autoridade e o autoritarismo, sobre o elogio
como algo positivo para a criança, e também sobre a importância do amor na
educação dos filhos como uma solução para a construção de um ser humano
saudável. Por mais que uma família tenha seus problemas, se tiver o amor
presente nela, tudo se resolverá da melhor maneira possível.
O ambiente familiar é o primeiro e mais significativo para a interiorização
de valores, criação de hábitos e aprendizagens variadas. Quanto mais
estimulador esse ambiente for, mais a criança se desenvolverá de maneira
harmônica; em contrapartida, quanto mais conflitivo, carente de afetividade,
maiores problemas trará à criança em formação.
O desenvolvimento é parte da vida, e está profundamente marcado pelo
contexto social do qual a criança participa. Os comportamentos que cada
criança apresenta e as respostas que dá tem relação com o seu quotidiano.
Conseqüentemente, crianças diferentes, com vidas diferentes e recebendo
estímulos diferentes, estão expostas a problemas e a formas de solucioná-los
diferentes e constroem padrões de referência e de comportamento diferentes.
14
Capítulo I
FAMÍLIA: A BASE DE TUDO
O sucesso de um pai: "Existem muitas maneiras de medir o sucesso;
mas nenhuma delas se compara com a descrição que seu filho faz de você
quando conversa com um amigo”. (autor desconhecido)
1.1- Família: Conceito, papéis, funções e transformações.
“Toda a doutrina social que visa destruir a família é má, e para mais
inaplicável. Quando se decompõe uma sociedade, o que se acha como resíduo
final não é o indivíduo mas sim a família”. (Vitor Hugo)
O século XX trouxe a urbanização e, com ela, o fim da família estendida.
A mulher, principalmente a partir da segunda metade deste século, cada vez
mais sai à rua para trabalhar e dividir com o marido o sustento da casa, mas
essa nova situação não mudou radicalmente a posição de mando no interior da
sociedade conjugal.
A definição tradicional de família é descrita como a unidade básica da
sociedade formada por indivíduos com antepassados em comum ou ligados
por laços afetivos. A família representa um grupo social primário que influencia
e é influenciado por outras pessoas e instituições. É um grupo de pessoas, ou
um número de grupos domésticos ligados por descendência (demonstrada ou
estipulada) a partir de um ancestral comum, matrimônio ou adoção.
A família é unida por múltiplos laços capazes de manter os membros
moralmente, materialmente e reciprocamente durante uma vida e durante as
gerações. No interior da família, os indivíduos podem constituir subsistemas, os
referidos subsistemas podem ser formados pela geração, sexo, interesse e/ou
15 função, havendo diferentes níveis de poder, e onde os comportamentos de um
membro afetam e influenciam os outros membros. A família como unidade
social, enfrenta uma série de tarefas de desenvolvimento, diferindo em nível
dos parâmetros culturais, mas possuindo as mesmas raízes universais
(MINUCHIN, 1990).
A família até 1988 era considerada aquela constituída pelo casamento. A
partir da Constituição Federal de 1988, a “Constituição Cidadã”, na expressão
do saudoso Ulysses Guimarães, a família passou a ser considerada gênero do
qual são espécies: o casamento, a união estável e a família monoparental.
Ainda sob a inspiração dessa revisão conceitual a estrutura familiar compõe-se
de um conjunto de indivíduos com condições e em posições, socialmente
reconhecidas e com uma interação regular e recorrente também ela,
socialmente aprovada. A família pode então, assumir uma estrutura nuclear ou
conjugal, que consiste num homem, numa mulher e nos seus filhos, biológicos
ou adotados, habitando num ambiente familiar comum. A estrutura nuclear tem
uma grande capacidade de adaptação, reformulando a sua constituição,
quando necessário. Existem também famílias com uma estrutura de pais
únicos ou monoparental, tratando-se de uma variação da estrutura nuclear
tradicional devido a fenômenos sociais, como o divórcio, óbito, abandono de
lar, ilegitimidade ou adoção de crianças por uma só pessoa. A família ampliada
ou consangüínea é outra estrutura, que consiste na família nuclear, mais os
parentes diretos ou colaterais, existindo uma extensão das relações entre pais
e filhos para avós, pais e netos. Para além destas estruturas, existem também
as denominadas estruturas alternativas, sendo elas as famílias comunitárias e
as famílias homossexuais. As famílias comunitárias, ao contrário dos sistemas
familiares tradicionais, onde a total responsabilidade pela criação e educação
das crianças se restringe aos pais e à escola.
Nestas famílias, o papel dos pais é descentralizado, sendo as crianças
da responsabilidade de todos os membros adultos. Nas famílias homossexuais
existe uma ligação conjugal ou marital, por contrato entre duas pessoas do
mesmo sexo, que adotaram crianças ou, um ou ambos os parceiros têm filhos
biológicos de casamentos heterossexuais.
16 A família apresenta três tipos de relações pessoais. São elas, a de
aliança (casal), a de filiação (pais e filhos) e a de consangüinidade (irmãos). É
nesta relação de parentesco, de pessoas que se vinculam pelo casamento e/
ou por uniões sexuais, que se geram os filhos.
A família é um sistema social único, composto por um grupo de
indivíduos, cada um com um papel atribuído, e embora diferenciados,
consubstanciam o funcionamento do sistema como um todo. O conceito de
família, ao ser abordado, evoca obrigatoriamente, os conceitos de papéis e
funções. Em todas as famílias, independentemente da sociedade, cada
membro ocupa determinada posição ou tem determinado estatuto, por
exemplo: marido, mulher, filho ou irmão, sendo orientados por papéis. Papéis
estes, que não são mais do que, “as expectativas de comportamento, de
obrigações e de direitos que estão associados a uma dada posição na família
ou no grupo social” (DUVALL ; MILLER APUD STANHOPE, 1999, p.502)1.
Assim sendo, e começando pelos adultos na família, os seus papéis variam
muito e são considerados característicos os seguintes traços: a “socialização
da criança”, relacionada com as atividades contribuintes para o
desenvolvimento das capacidades mentais e sociais da criança; os “cuidados
às crianças”, tanto físicos como emocionais, perspectivando o seu
desenvolvimento saudável; o “papel de suporte familiar”, que inclui a produção
e/ ou obtenção de bens e serviços necessários à família; o “papel de
encarregados dos assuntos domésticos”, onde estão incluídos os serviços
domésticos, que visam o prazer e o conforto dos membros da família; o “papel
de manutenção das relações familiares”, relacionado com a manutenção do
contato com parentes e implicando a ajuda em situações de crise; os “papéis
sexuais”, relacionado com as relações sexuais entre ambos os parceiros; o
“papel terapêutico”, que implica a ajuda e apoio emocional nos problemas
familiares; o “papel recreativo”, relacionado ao objetivo de proporcionar
divertimentos à família, visando o relaxamento e desenvolvimento pessoal.
Relativamente aos papéis dos irmãos, estes são promotores e receptores, em 1 STANHOPE, Marcia – Teorias e Desenvolvimento Familiar. In STANHOPE, Marcia ; LANCASTER, Jeanette – Enfermagem Comunitária: Promoção de Saúde de Grupos, Famílias e Indivíduos. 1.ª ed. Lisboa : ciência, 1999. p. 492-514.
17 simultâneo, do processo de socialização na família, ajudando a estabelecer e
manter as normas, promovendo o desenvolvimento da cultura familiar.
“Contribuem para a formação da identidade uns dos outros servindo de
defensores e protetores, interpretando o mundo exterior, ensinando os outros
sobre equidade, formando alianças, discutindo, negociando e ajustando
mutuamente os comportamentos uns dos outros” (DUVALL ; MILLER APUD
STANHOPE, 1999, p.502). Há que se destacar, relativamente aos papéis
atribuídos que, será ideal que exista alguma flexibilidade, assim como, a
possibilidade de troca ocasional desses mesmos papéis, por exemplo, um dos
membros não possa desempenhar o seu.
Como os papéis, as funções estão igualmente implícitas nas famílias,
como já foi mencionado acima. As famílias como agregações sociais, ao longo
dos tempos, assumem ou renunciam funções de proteção e socialização dos
seus membros, como resposta às necessidades da sociedade pertencente.
Nesta perspectiva, as funções da família regem-se por dois objetivos, sendo
um de nível interno, como a proteção psico-social dos membros, e o outro de
nível externo, como a acomodação a uma cultura e sua transmissão. A família
deve então, responder às mudanças externas e internas de modo a atender às
novas circunstâncias sem, no entanto, perder a continuidade, proporcionando
sempre um esquema de referência para os seus membros. Existe
conseqüentemente, uma dupla responsabilidade, isto é, a de dar resposta às
necessidades quer dos seus membros, quer da sociedade.
DUVALL e MILLER (APUD STANHOPE, 1999) identificaram como
funções familiares, as seguintes atribuições: “geradora de afeto”, entre os
membros da família; “proporcionadora de segurança e aceitação pessoal”,
promovendo um desenvolvimento pessoal natural; “proporcionadora de
satisfação e sentimento de utilidade”, através das atividades que satisfazem os
membros da família; “asseguradora da continuidade das relações”,
proporcionando relações duradouras entre os familiares; “proporcionadora de
estabilidade e socialização”, assegurando a continuidade da cultura da
sociedade correspondente; “impositora da autoridade e do sentimento do que é
correto”, relacionado com a aprendizagem das regras e normas, direitos e
18 obrigações características das sociedades humanas. Para além destas
funções, STANHOPE (1999) acrescenta ainda uma função relativa à saúde, na
medida, em que a família protege a saúde dos seus membros, dando apoio e
resposta às necessidades básicas em situações de doença.
A família tem como função primordial à proteção, tendo, sobretudo,
potencialidades para dar apoio emocional para a resolução de problemas e
conflitos, podendo formar uma barreira defensiva contra agressões externas.
A família é então, para a criança, um grupo significativo de pessoas, de
apoio, como os pais, os pais adotivos, os tutores, os irmãos, entre outros.
Assim, a criança assume um lugar relevante na unidade familiar, onde se sente
segura. No plano do processo de socialização a família assume, igualmente,
um papel muito importante, já que é ela que modela e programa, o
comportamento e o sentido de identidade do indivíduo.
Deste modo, “(...) a família constitui o primeiro, o mais fundante e o mais
importante grupo social de toda a pessoa, bem como o seu quadro de
referência, estabelecido através das relações e identificações que a criança
criou durante o desenvolvimento (VARA, 1996; p. 8)2, tornando-a na matriz da
identidade.
A família vem-se transformando através dos tempos, acompanhando as
mudanças religiosas, econômicas e sócio-culturais do contexto em que se
encontram inseridas. Esta é um espaço sócio-cultural que deve ser
continuamente renovado e reconstruído.
Nas últimas décadas, a sociedade brasileira passou por profundas
transformações demográficas, econômicas e sociais que repercutiram
intensamente nas diferentes esferas da vida familiar.
A transição demográfica que teve início na década de 40 do século
passado com uma queda rápida da mortalidade, seguida, a partir da década de
60, pelo declínio da fecundidade que atingiu progressivamente todas as
camadas sociais, afetou intensamente a composição e o tamanho das famílias.
2 http://pt.wikipedia.org/wiki/Fam%C3%ADlia
19 Por outro lado, o acelerado processo de urbanização a partir dos anos
1950, acompanhando a industrialização e o crescimento econômico, essas
transformações trouxeram consigo a mudança dos valores, a redefinição dos
papéis da mulher e a sua maior participação no mercado de trabalho.
A inserção feminina no mercado de trabalho, tomando por base a família
implica ter em mente que as mudanças registradas nos padrões demográficos
– queda da fecundidade e da mortalidade, aumento de separações e o avanço
da expectativa de vida da população – afetam diretamente o modo de vida das
famílias. Essas mudanças causam impacto na redução do número médio de
filhos e do tamanho médio das famílias, bem como na alteração do perfil etário
de seus componentes. Vários estudos também têm identificado mudanças na
configuração típica das famílias, com a redução das organizações familiares
formadas por casal com filhos, isto é, a típica família nuclear, no entanto, ela
continua predominante. Em contrapartida, verifica-se aumento das famílias
formadas por chefe sem cônjuge com filhos (monoparentais) e indivíduos
morando sozinhos (unipessoais).
As unidades domésticas unipessoais e as famílias formadas por mulher
sem cônjuge morando com filhos são os dois tipos que apresentaram maior
crescimento relativo: 21,4% e 19,0%, respectivamente. Já os casais sem filhos
e os pais morando com seus filhos apresentaram pequenas elevações em suas
proporções.
O crescimento das famílias integradas pela mãe com filhos deveu-se a
uma série de fatores que merecem ser brevemente comentados. Por um lado,
a crescente participação feminina no mercado de trabalho e a transformação
de valores tradicionais que apontavam para o casamento como modelo de vida
mais adequado à mulher afetaram, mais ou menos amplamente, pessoas de
todos os níveis sociais, especialmente daqueles mais elevados, onde a
possibilidade de fazer escolhas é maior. Por outro, pode-se pensar ainda que o
próprio aprofundamento da situação de pobreza, decorrente da crise
econômica pela qual vem passando a sociedade brasileira, gerou uma série de
situações que também contribuíram para a não manutenção do padrão
20 tradicional. O fato de o homem adulto ter sido o mais afetado pelo desemprego
nessa década, por exemplo, trouxe consigo enormes dificuldades para o
desempenho do seu papel de provedor do grupo familiar. Segundo dados
extraídos desse fenômeno, entre outros, contribuiu para o expressivo aumento
de separações conjugais ocorrido nesse período. Entre, 1984 e 1990, o número
de separações e divórcios, no país como um todo, passou de 70,4 mil para
148,7 mil, representando um incremento de 55,9%, enquanto, durante toda a
década, a proporção de famílias constituídas por casal com ou sem filhos
aumentou em 30,1%.
Já o aumento de pessoas que moram sozinhas deveu-se não só às
separações, como ao casamento mais tardio das mulheres. As maiores taxas
de crescimento de pessoas vivendo nessas condições, na década, foram
encontradas para homens na faixa de 15 a 29 anos (12,5%), idades em que,
normalmente, deveriam estar casados. Nestas duas faixas estavam 27,9% das
pessoas que moravam sós, em 1990. O crescimento observado aponta, de
certa forma, para o fato de os jovens estarem adotando modelos de
comportamentos, relativos à nupcialidade, próximos àqueles encontrados nas
sociedades desenvolvidas, onde o casamento tardio e o morar só são
consideradas opções alternativas de vida, associadas à valorização da
liberdade e da independência.
No entanto, apesar de ter aumentado entre os mais jovens o número dos
que moram sozinhos, as unidades domésticas unipessoais continuaram sendo
predominantemente constituídas por idosos, 44,4% dos quais tinham 60 anos
ou mais e por mulheres em 52,8% dos casos. Grande parte dessas pessoas
(46,5%) tinha renda baixa (até um salário mínimo), embora o crescimento
tenha ocorrido entre os que ganhavam mais de três salários mínimos mensais.
No Nordeste, tanto as proporções de famílias de casal com filhos quanto
às de mulheres chefes eram superiores às do Sudeste. Contribuíam para isso
taxas de fecundidade mais elevadas e a forte presença de valores mais
tradicionais no Nordeste, o que explicaria a maior proporção de arranjos
familiares compostos por casal com filhos. Por outro lado, o maior peso
21 relativo de famílias chefiadas por mulher deve-se, possivelmente, à grande
incidência de pobreza nessa região, bem como à migração inter-regional que
tem afetado principalmente a população masculina.
A evolução desses modelos no período assemelha-se bastante à do
país como um todo. Contudo, registrou-se uma maior redução na proporção de
famílias conjugais integradas por casal com filhos no Sudeste (6,3%) do que no
Nordeste (5,3%), enquanto o crescimento relativo das famílias chefiadas por
mulheres foi mais intenso nesta última (21,0%). O fato de ter ocorrido, no
Nordeste, um aumento bem mais expressivo de separações e divórcios entre
1984 e 1990 (97,8%) do que no Sudeste (43,5%), pode ter contribuído
fortemente para o crescimento deste tipo de família.
A observação da distribuição de algumas das formas de organização
familiar nas Regiões Metropolitanas aponta para algumas questões
interessantes. A primeira é a de que em todas elas a proporção de famílias de
casal com filhos eram menor que a média do conjunto do país (61,0%),
indicando que a presença de formas alternativas de organização familiar
encontra-se bastante relacionada a elevados índices de urbanização. A
segunda, a de que a maior ou menor proporção de famílias chefiadas por
mulher estava fortemente associada à condição de pobreza. Eram justamente
as Regiões Metropolitanas de São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, as mais ricas
do país, que tinham menores proporções de famílias deste tipo, em torno de
12%, quando nas demais Regiões variavam de 23,1%, em Salvador, a 16,0%,
no Rio de Janeiro.
Em 2002, ¼ dos chefes de família brasileiros eram do sexo feminino;
entre as regiões do país, a maior taxa se verificou na região Norte (28,7%) e, a
menor, no Sul (23,8%) e entre todas as unidades da federação, foi no Amapá
onde se verificou a maior proporção de chefes de família do sexo feminino no
país (40,7%). Em contrapartida, a menor foi encontrada no Estado de Mato
Grosso: apenas 20% dos chefes de família eram mulheres.
Na maioria das unidades da Federação, predominam entre as “chefes de
famílias” as mulheres pretas e pardas e, invariavelmente, o rendimento mensal
22 dos domicílios chefiados por mulheres é inferior àquele dos domicílios cujos
chefes são do sexo masculino. Assim, em 2002, 53% das chefes de família
contavam com um rendimento domiciliar mensal de até 3 salários-mínimos
(SM) e apenas 45% dos chefes do sexo masculino. Observe-se ainda que em
menos de 5 anos, entre 1998 e 2002 o nível de rendimento das famílias, sejam
elas chefiadas por homens ou mulheres se deteriorou visivelmente: em 1998,
35,3% e 42,4% dos domicílios chefiados, respectivamente, por homens e
mulheres auferiam até 3 salários mínimos mensais.
É possível afirmar, portanto, que, no âmbito da oferta de trabalhadoras,
tem havido significativas mudanças. Restam, no entanto, algumas
continuidades que dificultam a dedicação das mulheres ao trabalho ou fazem
dela uma trabalhadora de segunda categoria. Em primeiro lugar, as mulheres
seguem sendo as principais responsáveis pelas atividades domésticas e pelo
cuidado com os filhos e demais familiares, o que representa uma sobrecarga
para aquelas que também realizam atividades econômicas. Exemplificando
concretamente essa sobrecarga, confronte-se a grande diferença existente
entre a dedicação masculina e a feminina aos afazeres domésticos: os homens
gastam nessas atividades, em média, 10,6 horas por semana e as mulheres,
27,2 horas. Outra medida é o número de horas mais freqüente dedicado a
essas tarefas: 7 horas semanais para os homens e 20 horas para as mulheres.
Estando ou não no mercado, todas as mulheres são donas-de-casa e
realizam tarefas que, mesmo sendo indispensáveis para a sobrevivência e o
bem-estar de todos os indivíduos, são desvalorizadas e desconsideradas nas
estatísticas, que as classifica como "inativas, cuidam de afazeres domésticos".
Numa perspectiva conservadora, passando a considerar na taxa de atividade
feminina o percentual das mulheres que, em 2002, se dedicavam
exclusivamente aos afazeres domésticos (ou as donas-de-casa em "período
integral"), a taxa de atividade global das mulheres seria muito superior, 72,3%,
praticamente empatando com a dos homens. Esses indicadores sociais
ilustram, objetivamente, as mudanças ocorridas no interior da vida cotidiana
das mulheres, bem como, as significativas transformações no universo público.
23 1.2- O papel da família na agressividade infantil
"Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo
sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida,
destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não
transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.(Paulo Freire)
A agressividade das crianças e dos adolescentes é um tema que
preocupa pais e a sociedade em geral. Casos como o ocorrido anos atrás em
Brasília, em que um grupo de adolescentes colocou fogo em um índio que
estava dormindo em um ponto de ônibus, e dos jovens de classe média alta
moradores da Barra da Tijuca no Rio de Janeiro, que espancaram uma
empregada doméstica, num ponto de ônibus, chocam as pessoas e suscitam
perguntas sobre por que isso ocorre.
Para entender a agressividade, é necessário olhar um pouco para o
desenvolvimento da criança e como ela aprende a se comportar
agressivamente. Por volta dos três ou quatro anos, é bastante comum as
crianças apresentarem condutas agressivas em relação aos adultos e às outras
crianças, como morder, bater, dar chutes, entre outras. Qualquer mãe de
crianças dessa faixa etária sabe muito bem disso. Nessa fase, diz-se que a
agressividade é essencialmente manipulativa, isto é, a criança agride os outros
para alcançar determinados fins, como, por exemplo, ganhar um brinquedo ou
defender-se (é comum a criança dar tapas nos pais quando eles lhe chamam a
atenção). Essa conduta é a forma que a criança encontra de controlar o
ambiente, ou seja, é a forma mais eficaz de satisfazer suas necessidades.
A agressividade não desaparece por completo com o passar do tempo.
O que ocorre é que a criança aprende com os adultos que há outras formas de
se defender e obter aquilo que deseja. Quando os pais ensinam que não é
necessário tirar dos colegas os brinquedos, mas que é possível pedir para
brincar com eles ou chegar a um acordo sobre como dividi-los, eles estão
24 ensinando à criança estratégias sociais que podem substituir condutas
agressivas. Se esse tipo de estratégia se mostrar eficaz, gradualmente a
criança aprende a negociar e, se o ambiente dela (escola, família, grupo social)
valorizar essa atitude, aos poucos, a conduta agressiva passa a ser menos
freqüente que outras formas de controlar o ambiente. É por isso que as brigas
e as disputas violentas são menos freqüentes com o passar do tempo e só
acontecem em situações extremas, como, por exemplo, em caso de ofensas
muito graves.
Isso nos mostra que a agressividade não é algo próprio da "natureza"
das crianças. É um tipo de comportamento que tem uma função no
desenvolvimento delas e, assim como é aprendido (se a criança bate no colega
é porque teve oportunidade de observar esse comportamento em outras
pessoas), também pode ser substituído por outras condutas.
Às vezes, porém, as condutas agressivas tornam-se um padrão
freqüente de comportamento e persistem com o tempo, podendo se
transformar em um problema mais sério na adolescência e na vida adulta. A
agressividade torna-se a forma preferencial da criança ou do adolescente para
resolver qualquer dificuldade. Várias pesquisas mostram que o
desenvolvimento desse padrão de comportamento começa na infância e tem
relação, principalmente, com as interações familiares e com o ambiente social.
Todos os seres humanos (e inclusive os animais) trazem consigo um
impulso agressivo. A agressividade é um comportamento emocional que faz
parte da afetividade de todas as pessoas. No entanto, a maneira de reagir
frente à agressividade varia conforme a sociedade e cultura em que vive a
pessoa, pois cada uma tem as suas leis (umas inclusive agressivas), valores,
crenças, etc. Alguns comportamentos agressivos são tolerados, outros são
proibidos.
Nas sociedades ocidentais, bastante competitivas, a agressividade
costuma ser aceita e estimulada quando esta vale como sinônimo de iniciativa,
ambição, decisão ou coragem. Mas é impedida, reprimida ou punida quando
identificada como atitudes de hostilidade, de sentimentos de cólera.
25 Ser agressivo seria qualquer ação que pretende danificar algo ou
alguém. Geralmente, estes atos agressivos não são a verdadeira expressão de
raiva, mas sim desvios de outros sentimentos como: como mágoa,
insegurança, carência, entre outras coisas, que devido ao fato da criança não
saber como lidar com eles expressa-os através de atos agressivos.
Dentre os fatores que influenciam a agressividade, encontramos o meio
ambiente no qual a criança está inserida. Geralmente acredita-se que a
agressividade provém apenas de força interna, que é algo inerente ao
indivíduo.Ao contrário, é o ambiente que perturba a criança. O que falta
internamente à criança é a capacidade e a habilidade para lidar com esse
ambiente que a deixa com raiva, com medo, insegura. Todos nós sofremos
pressões do ambiente em que vivemos e nem todos respondemos a esse
ambiente com comportamentos agressivos.
O que acontece é que para alguns existe um déficit frente à capacidade
de tolerar frustrações, para tolerar a falta e suportar coisas que não podemos
ter na vida, que não sabemos ou que não entendemos. Sabemos então que a
agressividade não é algo inato, algo com que a criança já nasça e não um traço
de personalidade. Ela é influenciada pelo meio.
Porém antes da criança receber a influência deste meio macro-social,
em uma primeira etapa a criança é influenciada pelo meio micro-social, ou seja,
pela sua família. Somente depois é que irá assimilar os valores da sociedade e
dos meios de comunicação.
Assim, atos agressivos que podem ser aprendidos por meio da
observação de modelos agressivos, também pode ter efeito de aumentar o
comportamento agressivo do observador. Portanto, é de se esperar que, em
geral, crianças recompensadas por agressão e as que vêem muita agressão
nas pessoas que a cercam irão se tornar mais agressivas do que aquelas
crianças que tem modelos menos agressivos e que foram menos
recompensadas por comportamentos agressivos.
Portanto, não há tendência inata ou subjacente para a agressividade.
Tudo isso é comportamento aprendido. Cada criança leva "diferentes socos" da
26 vida, cada uma é educada em famílias diferentes, com valores, idéias e
costumes diferentes.
Há uma série de condutas dos pais que podem ser chamadas de
"condutas de risco" para o desenvolvimento de padrões agressivos de
comportamento nos filhos. Uma dessas condutas é rejeitar a criança,
mostrando claramente que ela não é amada ou que ninguém se importa pelo
que possa lhe acontecer. Outra conduta de risco é a inconsistência na forma de
colocar limites. Por vezes, os pais são permissivos demais, deixando que a
criança faça tudo o que deseja, e, em outras ocasiões, são autoritários,
punitivos e inflexíveis em excesso. Esse tipo de educação deixa a criança
confusa sobre o que pode e o que não pode fazer e acaba tornando-se difícil
para ela distinguir o certo do errado, o aceitável do inaceitável. Também não é
raro encontrar pais que estimulam a conduta agressiva dos filhos,
principalmente dos meninos, para a resolução de conflitos.
A violência doméstica também é um fator que pode exercer uma
influência decisiva no comportamento. Crianças que assistem a cenas de
violência em casa, ou que são vítimas da violência dos pais, podem aprender
que essa é uma forma aceitável, "normal", de lidar com a raiva e com a
frustração.
E também pode gerar nas crianças e adolescentes sentimentos de
insegurança, ansiedade e dificuldades de integração com grupos. Em
conseqüência disso, condutas agressivas podem se tornar à única forma de
resolver conflitos. Uma criança assim provoca a hostilidade e a rejeição dos
colegas e isso pode gerar nela uma atitude defensiva e fazer com que tente se
impor aos outros pela violência, de forma a atingir aqueles que a rejeitam. Uma
atitude dessas mostra claramente a falta de recursos socialmente aceitos que
essa criança tem para lidar com a frustração.
O tema agressividade é muito complexo e envolve tantas variáveis que
seria impossível abordar o assunto de forma completa. É necessário, porém,
que pais entendam que o comportamento agressivo da criança e do
adolescente não surge do nada. Ele é construído na interação com o ambiente.
27 É de suma importância o cuidado dado pelos pais aos seus filhos. Tem
sim que se preocupar: saber com quem seu filho está se relacionando, quem
são aqueles que ele considera como amigos, sua turma no "orkut", suas
conversas no "MSN", os lugares que freqüenta quando sai, ditar horas para
que eles cheguem em casa, fiscalizar se andam ingerindo bebidas alcoólicas
ou mesmo utilizando outras drogas.
Durante o dia são poucos os pais que retornam ao lar para almoçar. Já
com o entardecer e o chegar do luar, a televisão é o atrativo, o calmante para o
estresse. Muitas vezes o filho quer demonstrar o que realizou, desabafar e
contar os seus problemas, partir em busca de soluções, mas os pais não
possuem tempo, viram a página e lá está o filho jogado ao relento, abandonado
emocionalmente.
Há muitos nesse estado, sofrendo pelo descaso emocional. A família
esfacelou-se, foi destruída pelo descaso de seus patriarcas. Aspectos
biológicos, psicológicos e sociais acabam influenciando, mas nada justifica a
ausência, o descaso, a indiferença e a qualificação desajustada dada aos filhos
pelos pais. De nada adianta a compra desenfreada de presentes, bens
materiais, se o gesto de amor desapareceu. Filhos são comprados com afeto,
carinho, preocupação. Os pais hoje nutrem os estômagos de seus filhos,
estimulam sua ganância pelo capital, mas se esquecem de alimentar suas
almas, seus corações.
Educação é dada em casa, no seio familiar. Não esperem mandar seu
filho para a escola e lá obter a educação que você não ofereceu. Não pensem
em se livrarem daquilo que chamam de problema, transferindo-o à unidade
escolar. Pois para os reais educadores, o caos educacional chegou a esse
ponto pela ineficiência familiar.
A educação é um processo continuado e dinâmico. Portanto, nunca é
tarde para iniciar o projeto educativo, se a meta é transformar o filho num
cidadão progressivo. Para isso, os pais também têm que ser progressivos.
Pais progressivos dão exemplos, ensinam e estimulam os filhos a serem
progressivos. Sabem que têm que ser firmes para exigir dos filhos os caminhos
28 e os resultados. Percebem rapidamente que a imposição autoritária, a
exigência cega, a agressividade e a violência animais, o grito desvairado, a
chantagem ardilosa são recursos dos pais retrógrados. (TIBA, 2005, p.130).
É preciso enfatizar que os pais são de grande importância para um
processo sadio de desenvolvimento da criança. É preciso encarar a
agressividade como:
“Uma questão inteiramente vital. Relacionada com a doença de um mundo em
que o ódio floresce do berço ao túmulo. Há, como é natural, muito amor neste
mundo. Se não fosse assim, poderíamos desesperar a humanidade. Cada pai
e cada educador antes de sê-lo deve tomar conhecimento disso e tentar
conscientizar-se da gravidade e complexidade do problema. Cada pai e cada
educador deveria tentar descobrir, seriamente o amor em si próprio para poder
tentar coibir esta agressividade” (BOLSANELLO, 1990, p.163)
29
CAPÍTULOII
AGRESSIVIDADE E ESTRUTURA FAMILIAR
2.1- Violência: Conceito e suas diversas formas
“A violência não é força, mas fraqueza, nem nunca poderá ser criadora
de coisa alguma, apenas destruidora”. (Benedetto Croce)
O que é violência? Segundo o Dicionário Houaiss, violência é a “ação ou
efeito de violentar, de empregar força física (contra alguém ou algo) ou
intimidação moral contra (alguém); ato violento, crueldade, força”. No aspecto
jurídico, o mesmo dicionário define o termo como o “constrangimento físico ou
moral exercido sobre alguém, para obrigá-lo a submeter-se à vontade de
outrem; coação”.
Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) define violência como “a
imposição de um grau significativo de dor e sofrimento evitáveis”. Mas os
especialistas afirmam que o conceito é muito mais amplo e ambíguo do que
essa mera constatação de que a violência é a imposição de dor, a agressão
cometida por uma pessoa contra outra; mesmo porque a dor é um conceito
muito difícil de ser definido.
Para todos os efeitos, guerra, fome, tortura, assassinato, preconceito, a
violência se manifesta de várias maneiras. Na comunidade internacional de
direitos humanos, a violência é compreendida como todas as violações dos
direitos civis (vida, propriedade, liberdade de ir e vir, de consciência e de culto);
políticos (direito a votar e a ser votado, ter participação política); sociais
(habitação, saúde, educação, segurança); econômicos (emprego e salário) e
culturais (direito de manter e manifestar sua própria cultura). As formas de
violência, tipificadas como violação da lei penal, como assassinato, seqüestros,
roubos e outros tipos de crime contra a pessoa ou contra o patrimônio, formam
30 um conjunto que se convencionou chamar de violência urbana, porque se
manifesta principalmente no espaço das grandes cidades. Não é possível
deixar de lado, no entanto, as diferentes formas de violência existentes no
campo.
A violência urbana é todo o efeito que provocam sobre as pessoas e as
regras de convívio na cidade. A violência urbana interfere no tecido social,
prejudica a qualidade das relações sociais, corrói a qualidade de vida das
pessoas. Assim, os crimes estão relacionados com as contravenções e com as
incivilidades. Gangues urbanas, pixações, depredação do espaço público, o
trânsito caótico, as praças mal cuidadas, sujeira em período eleitoral compõem
o quadro da perda da qualidade de vida. Certamente, o tráfico de drogas,
talvez a ramificação mais visível do crime organizado, acentua esse quadro,
sobretudo nas grandes e problemáticas periferias.
Atualmente no Brasil, a violência, que antes estava presente nas
grandes cidades, espalha-se para cidades menores, à medida que o crime
organizado procura novos espaços. Além das dificuldades das instituições de
segurança pública em conter o processo de interiorização da violência, a
degradação urbana contribui decisivamente para ele, já que a pobreza, a
desigualdade social, o baixo acesso popular à justiça não são mais problemas
exclusivos das grandes metrópoles. Na última década, a violência tem estado
presente em nosso dia-a-dia, no noticiário e em conversas com a família e com
amigos. Todos conhecem alguém que sofreu algum tipo de violência, seja ela
nas ruas ou até mesmo dentro da própria casa.
A violência vem, dia-a-dia, invadindo as nossas vidas. São assaltos,
assassinatos, seqüestros, balas perdidas, sujeira, abandonos, desemprego,
drogas, corrupção, violência doméstica, entre outros. O ser humano é um ser
pensante. E pensar é reformular e assumir o compromisso que se tem não só
com o individual, mas também com o coletivo. Em outras palavras, pensar é se
implicar na reformulação de condutas próprias e do convívio coletivo. E a falta
de estrutura familiar, muitas vezes impede que a pessoa possua um
determinado nível de consciência de si mesmo e de outro.
31 A violência, a agressividade desequilibrada, gera um ambiente doentio,
interior e exterior. Gera medo, tensão, estresse, tristezas, ressentimentos,
mágoas, culpas, inseguranças, entre outros. Sentimentos que estão na origem
da grande parte das doenças físicas.
Segundo Bisker e Ramos, quando a pessoa se posiciona de forma
passiva como uma vítima, ela não está usando sua capacidade reflexiva de
ação, mas omitindo-se como ser integrante e participativo da comunidade,
tornando-se assim, mais um instrumento de violência para si, para os seus e
para o seu meio (BISKER; RAMOS, 2006, p.8).
A violência no sentido amplo da palavra pode ser definida como
qualquer comportamento ou conjunto de comportamentos que vise causar
dano a outra pessoa, ser vivo ou objeto. Nega-se autonomia, integridade física
ou psicológica e mesmo a vida de outro. É o uso excessivo de força, além do
necessário ou esperado. O termo deriva do latim violentia (que por sua vez
deriva de vis, força, vigor); aplicação de força, vigor, contra qualquer coisa ou
ente. Assim, a violência diferencia-se de força, palavras que costumam estar
próxima na língua e pensamento cotidiano. Enquanto que força designa, em
sua acepção filosófica, a energia ou “firmeza” de algo, a violência caracteriza-
se pela ação corrupta, impaciente e baseada na ira, que não convence ou
busca convencer o outro, simplesmente o agride3.
Em outras palavras, a intensidade da violência caracteriza-se pela
intensidade da agressão imposta ao outro, seja este outro uma pessoa ou algo
do meio ambiente. E até mesmo, a violência imposta a si mesmos, agredindo-
se e muitas vezes até matando-se.
Para a visão freudiana, o ser humano, como qualquer outro animal
nasce com a agressividade necessária à sua sobrevivência, que aparece
quando precisa defender seu território, lutar pela alimentação, etc. Assim como
também nasce com a amorosidade necessária à sua sobrevivência, que
aparece quando precisa conquistar uma parceira, defender sua prole, etc.
Tanto a agressividade quanto a amorosidade podem ser acentuadas em
3 http://pt.wikipedia.org/wiki/Viol%C3%AAncia
32 função de distúrbios da própria pessoa, ou do meio ambiente, manifestando-se
de forma destrutiva (BISKER; RAMOS, 2006, p.20).
2.2 - A agressividade na infância
“A agressividade é uma forma de mascarar a fraqueza” (The secret –
Jumagrini)
O que é Agressividade? Segundo o Dicionário Aurélio, agressividade é
tendência a atacar, a provocar./ Psicologia: forma de desequilíbrio psíquico que
se traduz por uma hostilidade permanente diante de outrem.
Agressividade não é traço da personalidade, e sim uma força instintiva
que como outras são inatas em todos os seres humanos. Ela é parte integrante
do desenvolvimento social da criança e se faz necessária para a sobrevivência
desde o nascimento. Principalmente a criança, expressa tudo o que é mais
essencial do ser humano, uma vez que ela ainda não amadureceu
afetivamente e intelectualmente, ou seja, ela ainda não tem recursos próprios
para se relacionar com o mundo.
Evidentemente, a agressividade não desaparece por completo com o
passar do tempo, o que acontece é que as crianças aprendem com os adultos
que existem outras formas de se defender ou de se conseguir o que deseja. É
importante, ser ensinado para as crianças que as mesmas não precisam bater
ou morder os colegas para conseguir o que quer, é preciso que ela aprenda a
dividir, e isto deve ser ensinado em casa pelos pais, para que as mesmas
aprendam algumas estratégias sociais que irão substituir tais condutas
agressivas.
A agressividade está cada vez mais presente, isso pode ser explicado
pela falta de estrutura familiar, falta de atenção dos pais, reprodução de
33 atitudes presenciadas, tentativa de chamar a atenção do outro, etc. Se a
criança está agressiva, certamente ela está sendo influenciada pelo cotidiano
familiar, e em menor escala, por fatores externos, como televisão, escola,
amizades e entre outras coisas.Os pais têm que construir atitudes positivas na
criança para transformar essa realidade.
O ambiente familiar é o principal fator influenciador dos comportamentos
agressivos de crianças, acrescentamos que, desde a barriga da mãe, a criança
já sente se é aceita ou não e isso poderá ter conseqüência no comportamento
do bebê.
O que presenciamos no dia-a-dia são pessoas cada vez mais
preocupadas com o trabalho e, conseqüentemente, menos preocupadas com a
família, participando cada vez menos de momentos conjuntos. Esse ambiente
de desagregação pode comprometer as crianças, tornando-as agressivas,
podendo afetar o comportamento da criança.
A família, portanto, é uma peça fundamental nesse intricado problema.
Uma família desestruturada pode gerar adultos problemáticos para enfrentar a
complexidade da convivência social, aproximando-os muitas vezes até mesmo
das drogas e do alcoolismo desenfreado, o que possibilita o aparecimento de
oportunidades para a prática de delitos.
Patterson (1982) estudou a agressividade no ambiente familiar e
verificou que nas famílias, em que não há demonstrações de aprovação e
afeto, as crianças são extremamente agressivas. Também ambientes familiares
coercivos, com punições, ameaças, provocações entre os membros familiares,
contribuem para o desenvolvimento da agressividade nas crianças.
Este fato se comprova através de um estudo feito pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE).
Família desestruturada e violência urbana estão fortemente ligadas. É o
que afirma a pesquisa realizada pelos economistas da Fundação Getúlio
Vargas (FGV) Samuel Pessoa e Gabriel Hartung.
34 O estudo foi produzido com dados retirados dos 536 municípios do
estado de São Paulo entre 1999 e 2001 e números da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) de 20 anos antes. Por meio da comparação dos dados, foi
constatado:
Que entre filhos de mães adolescentes ou de famílias monoparentais
(sem o pai, sem a mãe ou sem ambos) é muito alta a presença de criminosos
que cometeram homicídios4.
Segundo o professor Cornélio Schwambach, do Colégio Bom Jesus, que
falou sobre o assunto “Família desestruturada leva jovem às drogas” para
educadores, num encontro nacional, em Curitiba. Este foi o resultado de uma
pesquisa feita por ele para a sua tese de mestrado, em 2001. Para Cornélio a
escola tem um papel muito importante para mudar este quadro, já que a família
não está conseguindo cumprir sua parte. Cornélio ensina que a prevenção
deve fazer parte da dinâmica escolar e os professores devem conhecer as
causas que levam o jovem para este caminho. A principal delas são os
problemas familiares. O educador verificou que mais de 50% dos alunos
pesquisados apontaram que a instabilidade em casa foi fator que o levou até as
drogas. "A ausência dos pais, pais separados cria no adolescente a sensação
de vazio. A droga compensa a carência afetiva", exemplifica5.
Sobre esse assunto, Lisboa (2006, p.55) se manifesta, em linguagem
contundente, afirmando:
Eis como você cria uma criança violenta: ignore-a, humilhe-a e
provoque-a. Grite um bocado. Mostre sua desaprovação a tudo o que ela fizer.
Encoraje-a a brigar com irmãos e irmãs. Brigue bastante, especialmente no
sentido físico, com seu parceiro conjugal na frente da criança. Bata-lhe
bastante. Eu adicionaria: ameace-a, castigue-a, engane-a, minta-lhe, seja
4 http://aprendiz.uol.com.br/content/sleuivevib.mmp 5http://www.paranaonline.com.br/editoria/cidades/news/18416/?noticia=FAMILIA+DESESTRUTURADA+LEVA+JOVEM+AS+DROGAS
35 permissivo, ensine-a que o mundo é dos ‘vivos’, vangloriando-se diante dela de
atos dos quais deveria se envergonhar (...).
Na busca pela defesa dos próprios interesses, a criança esbarra na
questão dos valores morais, ou seja, naquilo que é aceito como moralmente
adequado em determinada sociedade. Dessa forma, vemos que a
agressividade pode estar ligada ao desenvolvimento da moral na criança, pois
a criança que não respeita condutas morais, ou seja, não acata regras e tem
dificuldade em controlar suas demonstrações emocionais, pode manifestar-se
de forma agressiva. Este estado pode ser fruto de um ambiente coercivo, do
aprendizado pela imposição dos adultos ou mais velhos, pela falta de
afetividade positiva no ambiente familiar. Portanto, para que a agressividade
diminua, é necessário proporcionar também à criança o desenvolvimento de
condutas morais.
É muito importante que se construa um processo de socialização
adequado para que a agressividade da criança possa ser controlada e
canalizada de acordo com os padrões socialmente aceitos em cada
coletividade ou cultura. Não se trata, portanto, de reprimir a agressividade da
criança, mas sim de sublimá-la por meio da sua transformação em atitudes
construtivas.
Uma outra atitude que os pais devem tomar é lembrar que a criança
precisa ser elogiada de forma que ela se sinta enaltecida por ter feito uma
coisa boa, desta forma, ela vai saber que as pessoas que convivem com ela se
interessam pelo que ela faz.
Agressão é qualquer comportamento com intenção de ferir alguém física
ou verbalmente. Alguns pesquisadores caracterizam a agressão de três
formas: a agressão instrumental: empregada para obter ou reter um brinquedo
ou outro objeto qualquer; a agressão reativa: a retaliação raivosa em função de
um ato intencional ou acidental; a agressão ameaçadora: um ataque de
agressão espontâneo.
Outro tipo de agressão que parece ter efeitos mais graves que a própria
agressão física, é a chamada agressão relacional ou agressão social, que
36 envolve insultos e rejeição social. Este tipo de agressão, ao que parece, é mais
comum entre meninas que entre meninos e entre crianças mais velhas que
mais novas, sendo uma forma de ataque social.
Classificação da agressividade humana:
Agressão hostil (hostilidade)
É um tipo de agressão emocional e geralmente impulsiva. É um
comportamento que visa causar danos ao outro, independentemente de
qualquer vantagem que se possa obter. Estamos face a uma agressão hostil
quando, por exemplo, um condutor bate propositadamente na traseira do
automóvel que o ultrapassou. Este comportamento só trouxe desvantagens
para o próprio: tem de pagar os danos do seu carro, do carro do outro
condutor, podendo ainda vir a ter problemas com a justiça. O termo raiva pode
designar esse sentimento em oposição à agressão premeditada.
Agressão instrumental
É um tipo de agressão em que visa um objeto, que tem por fim conseguir
algo independentemente do dano que possa causar. É, freqüentemente,
planejada e, portanto, não impulsiva. Podemos apontar como exemplo de
agressão instrumental o assalto a um banco: pode ocorrer no decurso da ação
uma agressão, mas não é esse o objetivo. O seu fim é conseguir o dinheiro, a
agressão que possa surgir é um subproduto da ação.
Agressão direta
O comportamento agressivo dirige-se à pessoa ou ao objeto que justifica
a agressão. Na agressão sexual o objeto almejado confunde-se com o motivo
da agressão na categoria acima descrita. Os motivos fúteis opõem-se à defesa
da vida como critério de gravidade do ato agressivo.
37 Agressão deslocada
O sujeito dirige a agressão a um alvo que não é responsável pela causa
que lhe deu origem. Em animais também se observa esse mecanismo de
controle dos impulsos agressivos.
Auto-agressão
O sujeito desloca a agressão para si próprio.
Agressão aberta
Este tipo de agressão, que se pode manifestar pela violência física ou
psicológica, é explicita, isto é, concretiza-se, por exemplo, em espancamentos,
ataques à auto-estima, humilhações.
Agressão dissimulada
Este tipo de agressão recorre a meios não abertos para agredir. O
sarcasmo e o cinismo são formas de agressão que visam provocar o outro, feri-
lo na sua auto-estima, gerando ansiedade. A teoria psicanalítica tem como
explicação desta forma de agressão a motivação inconsciente.
Agressão inibida
Como o próprio nome indica, o sujeito não manifesta agressão para com
o outro, mas dirige-se a si próprio. O sentimento de rancor é um exemplo desta
forma de expressão da agressão. Algumas teorias psicológicas têm a agressão
inibida como causa de diversas doenças psicossomáticas. O grau mais severo
do rancor pode ser designado por ódio contudo ainda não existe um consenso
para essa terminologia6.
6 http://pt.wikipedia.org/wiki/Agressividade
38
CAPÍTULO III
O AMOR COMO SOLUÇÃO PARA UMA VIDA FAMILIAR
SAUDÁVEL.
“Um ser humano é como uma árvore. Se você fizer um arranhão no galho de
uma árvore crescida, afetará somente aquele galho. Porém, se fizer um risco
numa semente, a árvore jamais crescerá reta, se é que chegará a crescer”.
(autor desconhecido)
3.1- Algumas atitudes que deveriam ser tomadas pelos pais
frente a comportamentos agressivos de seus filhos.
"Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos”.
(Pitágoras)
As expressões de agressividade em crianças estão surpreendendo cada
vez mais os pais, que se sentem muitas vezes impotentes para lidar com o
problema. Os pais ficam horrorizados com os sinais de hostilidade e perda de
controle dos filhos. No entanto, esta irritação não é apenas inevitável como
necessária. As causas para as crises das crianças são várias e as fúrias
tornam-se menos preocupantes caso os pais consigam antecipar e
compreender as mesmas, de forma a ajudar os filhos a contorná-las. Segundo
vários autores, a maioria dos adultos considera a agressividade uma emoção
de carga negativa e algo que deve ser escondido.
Em algumas fases do desenvolvimento, a agressividade é até uma
forma da criança estabelecer a sua independência. Os pais têm de
compreender este objetivo e tê-lo em consideração, estabelecendo, ao mesmo
tempo, limites firmes para que a criança cresça forte e independente, mas
39 também segura. A agressividade está presente em todos os seres humanos e
vai evoluir, principalmente de acordo com a relação que mantivermos com o
mundo à nossa volta.
Nas crianças mais novas, a agressividade aparece de forma natural,
para obterem o que precisam. É, portanto, um instinto próprio de todo o ser
humano. Ao contrário do que se possa pensar, a adolescência não é a fase em
que as crianças são mais agressivas. Segundo um estudo realizado pelo
professor Richard Tremblay7, é entre o primeiro e o quarto ano de vida que se
verifica o maior índice de agressividade. O investigador procurou desvendar se
a violência é ou não uma característica intrínseca do ser humano e incidiu a
pesquisa na forma como a interação da genética com os fatores ambientais
contribuem para desencadear comportamentos agressivos ou anti-sociais.
Entre as conclusões, Tremblay descobriu que, aos 17 meses, metade das
variações nas respostas agressivas estavam relacionadas com fatores
genéticos e que a violência diminui à medida que a criança cresce e aprende a
controlar o seu comportamento. “Os nossos estudos demonstram que é
essencial que se ensine às crianças, durante os primeiros anos de vida, a
controlar os comportamentos violentos”, defende o investigador, que realça a
idade pré-escolar como a etapa chave para entender o aparecimento e
posterior desenvolvimento de comportamentos violentos no ser humano8.
Esta situação vai diminuindo progressivamente, à medida que a criança
aprende a gerir as emoções, utilizando a linguagem para comunicar e exprimir
as suas frustrações de forma mais positiva. Para isso as crianças devem ser
educadas e ensinadas desde os primeiros anos a reprimir e controlar os
impulsos agressivos. A agressividade vai diminuindo de intensidade à medida
que o cérebro da criança vai amadurecendo, levando esta a conseguir controlar
7 Richard Tremblay – Mestre Doutor em psicologia pela Universidade de Londres, é professor de psicologia, pediatria e psiquiatria e diretor da Unidade de Pesquisa em desajustes psicosocial da Universidade de Montreal. Ocupa a cadeira de pesquisa de desenvolvimento infantil no Canadá, é diretor do Centro de Pesquisa do National Longitudinal Survey of Children e membro do Consórcio Nacional de Pesquisa da Violência, nos EUA. Dirige o Centro de Excelência para o desenvolvimento da primeira infância e o Centro de conhecimento para aprendizado da primeira infância. 8 http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=24948&op=all
40 os impulsos agressivos e a lidar com a frustração. A situação tende a fugir ao
controle dos pais quando a agressividade começa a ser uma constante.
As causas são as mais diversas: desde falta de atenção parental ou
excesso sem limites, separação dos pais, nascimento de um irmão, ambientes
familiares disfuncionais, sonos perturbados, ritmos de vida desgastantes.
Quando a agressividade se manifesta de uma forma exagerada e persistente
pode ser um indicador que algo não está bem com a criança, poderá inclusive
ser sinônimo da existência de problemas mais graves como violência intra-
parental, negligência, falta de afeto, ausência de limites de educação parental e
violência emocional.
A ausência de limites, a tolerância excessiva dos pais, a falta de
tolerância perante frustrações, violência física ou emocional, ausência de
carinho são fatores que provocam comportamentos agressivos, porém é
interessante observar também se a criança não está passando por um
momento de transformação em sua família, como separação dos pais, ganho
ou perda de novos membros na família, seja por nascimento de irmão ou morte
de alguém querido.
Quando as condutas agressivas persistem no tempo, isso está ligado às
interações familiares e ao ambiente social. Existem várias condutas de risco da
parte dos pais, que podem estimular o desenvolvimento de padrões
comportamentais agressivos nos filhos, como a inconstância no
estabelecimento de limites. Por exemplo: Quando um comportamento é punido
num determinado momento e ignorado no momento seguinte, é difícil para a
criança distinguir o certo do errado. É importante os pais definirem claramente
o que a criança pode ou não fazer e serem coerentes em termos das medidas
educativas e comportamentais.
O comportamento agressivo é uma manifestação de perturbação de
conduta e caracteriza-se por uma situação de conflito crônico com os pais, os
professores e os pares, podendo resultar em danos físicos na própria criança
ou nos outros. A agressividade na criança pode gerar agressividade no adulto,
41 tanto verbal como com recurso a castigos físicos, o que leva a um círculo
vicioso difícil de quebrar.
Sempre que a criança tenha um comportamento adequado, não
agressivo, deve ser recompensada e elogiada, procurar enaltecer o que a
criança faz de bom, ao invés de ficar falando uma, duas, três vezes algo
negativo que ela cometeu, tente elogiar um gesto delicado que ela teve, uma
coisa engraçada que ela tenha feito, um carinho que ela fez, a palavra
carinhosa que ela falou. Perceber o lado positivo de suas atitudes é uma
excelente atitude. O elogio dos pais é importante, pois melhora a auto-estima
da criança. E ela passa a fazer sempre coisas positivas para conseguir novos
elogios dos pais. Com isso ela vai substituindo as atitudes negativas por
atitudes positivas. Também deve ser demonstrado a criança que existem
outras formas não agressivas de se relacionar com os outros e com o meio
ambiente.
A ausência de regras e limites é uma das causas da agressividade.
Quando os pais adaptam uma postura passiva na educação dos filhos, isto é,
com ausência de regras e limites, resulta numa excessiva tolerância que em
nada contribui para a estruturação da personalidade dos mesmos, que crescem
com dificuldades em controlar os impulsos e de lidar com a frustração. Este
fator é o que mais se encontra nas crianças que são sinalizadas com
comportamentos violentos.
Quanto aos castigos quando aplicados de forma adequada, ou seja, se
forem coerentes, perto da ação que os motivou. Podem contribuir para que a
criança perceba a dimensão negativa do comportamento. Mas, é importante
perceber que disciplinar não se limita às punições e castigos. Devem
igualmente ser ensinadas formas de resistir ao impulso, de aprender a esperar
e estratégias para a resolução dos problemas. A relação de confiança entre a
criança e o adulto deve ser também estimulada.
A agressividade que acontece ocasionalmente, não é por si só um
comportamento inadequado e não deve ser motivo de preocupação. Pode
refletir alguma alteração específica. No entanto é necessário procurar ajuda
42 quando a criança recorre sistematicamente a este comportamento, não
consegue controlar o impulso agressivo, não cede às medidas aplicadas para o
modificar nem é capaz de estabelecer uma relação positiva com os adultos do
seu meio ambiente.
Caso haja agressão por parte da criança, é importante que os pais
sejam firmes na postura que irá ter com seu filho, pois da agressão à violência
física pode ser um passo. A violência, na verdade, é o péssimo emprego da
nossa agressividade. É a total perda do controle que precisamos ter sobre ela.
As crianças que não adquirem capacidades relacionais corretas, numa fase
precoce da vida, têm mais probabilidades de evoluir para alterações de
comportamento, hábitos de consumo e conduta de risco9.
Compreender que a criança está zangada como reação à frustração, é
uma coisa, permitir que ela nos agrida ou agrida os outros é algo muito
diferente. O deixar passar sem tomar nenhuma atitude reforça na criança a
falsa sensação de que pode repetir esse comportamento sempre que quer
obter alguma coisa ou simplesmente é contrariada. Esta atitude faz com que as
crianças permaneçam imaturas, impulsivas e que repitam com maior
freqüência ao ato como estratégia para a resolução dos conflitos. Podem ter as
emoções ainda não totalmente controladas, mas são muito capazes de
entender os limites que lhes são colocados.
A ação segura e firme, porém carinhosa, dos pais ajuda a criança a
estruturar o seu comportamento de forma mais rápida. Muitas crianças que são
agressivas ou têm comportamentos negativos constante, podem utilizar este
meio para mascarar outros sentimentos e emoções tais como tristeza,
frustração ou incapacidade em lidar com dificuldades no ambiente familiar.
Tal como em outras situações, o importante é agir o mais cedo possível
para contrariar atitudes agressivas desajustadas, prevenindo a consolidação de
problemas de comportamento e permitindo à criança um desenvolvimento
harmonioso. Ajudá-la a utilizar palavras para exprimir as dificuldades e ensiná-
la a falar do que a preocupa é um início para a resolução da situação. É
9 http://www.paisefilhos.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=1321&Itemid=63
43 igualmente importante estar disponível e atento de forma a poder ter uma
supervisão e intervenções eficazes, não nos esquecendo que temos de lidar
com um mau comportamento e não com uma criança má.
Dizendo “não” aos comportamentos errados, reforçar pequenas
recompensas (beijos e carinhos) quando tem comportamentos corretos. Usar
os castigos, em caso necessário e como último recurso.
O comportamento violento depende da forma como a criança é educada
e da conduta que os pais, como modelos que são, têm e da influência do meio
em que estão inseridas. Quando aparece, essa violência traduz questões mais
complexas e ligadas à forma como a criança se sente.
A autoridade também é muito importante quando se trata do assunto
educação dos filhos. É possível a uma pessoa ser democrática e ter autoridade
ao mesmo tempo. Autoridade relaciona-se com fenômeno de poder. O pai e
mãe ocupam uma função, dentro da família, que lhes dá poder. E eles devem
ter poder, porque a criança em transformação, ainda não possui determinados
conhecimentos e capacidades que a habilitem a gerir sozinha sua própria vida.
Então, cabe aos pais a função de criar essa capacidade e esses
conhecimentos, cabe-lhes principalmente, a responsabilidade pela segurança e
mesmo pela vida dos filhos.
Quanto menor for a criança, maior será a responsabilidade dos pais
sobre ela. À medida que ela se desenvolve, vai adquirindo maior capacidade
de decisão, maior discernimento.Os pais podem e devem conversar com seus
filhos, esclarecer suas dúvidas, debater questões as mais diversas com os
filhos, até deixar que tomem as decisões que acreditem já possam ser tomadas
pelos filhos, sozinhos. O que não impede dos pais conversarem com a criança
para esclarecer porque foram tomadas certas decisões, como: proibir que
assista um filme, ou um programa na televisão, proibir a sua ida em
determinado lugar, entre outras coisas.
No entanto, nas três últimas décadas, uma série de informações sobre a
educação infantil, até então restritas ao domínio de especialistas em Pedagogia
e Psicologia, começou a ser difundida, através de livros para leigos, entrevistas
44 e artigos em rádios, jornais, revistas e televisão. Obviamente, a influência nas
relações pais-filhos não tardou a se fazer notar. Afinal, as mudanças que
surgiram eram tão profundas que levaram ao questionamento de quase tudo
que se fazia até então. Apesar da inquestionável contribuição positiva que
esses conhecimentos trouxeram, a fase de transição entre uma época e outra
marcou nos pais uma acentuada insegurança quanto ao modo de agir com os
filhos. A forte tendência psicologizante10 que tomou conta tanto da literatura
leiga quanto das publicações científicas sobre Educação veio ajudar a
confundir os pais, levando-os a uma postura excessivamente liberal e
mesclada de culpa ao tentarem impor limites aos filhos. Influenciados por essa
literatura, se constrói o medo de provocar frustrações nos filhos, com isso os
pais se encontram cada vez mais indefesos, impotentes e inseguros, frente às
situações mais simples.
“Se na geração anterior, que não se preocupava com os ”possíveis
traumas” a cada momento, o problema era superado com um simples severo
olhar, porque sua autoridade era inquestionada, hoje, ao contrário, é freqüente
a mãe interromper três, quatro ou mais vezes uma conversa para atender a
criança que lhe pede as mais diversas coisas, todas sem a menor urgência e
importância...” (ZAGURY, 2004, p.85)
A conquista de uma relação baseada no respeito mútuo, no diálogo e na
franqueza é sem dúvida um passo fundamental para uma boa relação. Na
prática, porém, muitos pais interpretaram essa necessidade de ouvir a criança
como um sinal para abdicarem de qualquer tipo de autoridade, confundindo-a
com autoritarismo.
A autoridade vem sendo colocada como algo ruim, mas na verdade o
que é ruim e negativo é o autoritarismo, que é o exercício exacerbado e sem
medida da autoridade. A educação implica sempre, em maior ou menor grau, a
necessidade de limitar e às vezes negar alguma coisa aos filhos. O que se
10 O psicologismo é uma forma deturpada de se encarar a realidade, na qual os aspectos psicológicos assumem uma proporção maior do que têm verdadeiramente. No psicologismo, tudo é visto, analisado e apresentado do ponto de vista psicológico. Assim, um todo formado de muitas partes (a relação pais-filhos) é analisado somente sob um enfoque (no caso, o psicológico), ignorando-se ou subestimando-se a existência de outras variáveis intervenientes no processo.
45 observa então é uma tendência à inversão de papéis, e não uma mudança
qualitativa na relação. Agora, o autoritarismo passou a ser dos filhos em
relação aos pais. É preciso que os pais readquiram a coragem e a
autoconfiança. Privar a criança de correções é um modo sutil de super protegê-
la. Pensa-se que a está poupando de broncas e da dura realidade, mas a está
fragilizando, e o cotidiano é implacável com indivíduos frágeis. Como diz o
professor Içami Tiba “muitos pais, em nome do amor, deixam de cobrar coisas
que precisam cobrar e ficam poupando os filhos”.
Crianças superprotegidas resultam em adultos indecisos, dependentes,
sem iniciativa e resignados. Mokiti Okada11 (1882-1955) escreveu muitos
artigos sobre educação, onde afirmou que é preciso deixar a criança ser
independente desde os primeiros anos: aprender a se levantar sozinha quando
cair, ter iniciativa para resolver as suas dificuldades, desenvolver a sua
espontaneidade e criatividade. É missão dos adultos instigar a criança a
aprender, a buscar coisas, a entender o que é limite. Para Mokiti Okada a
missão de educar é nobre e importante. Por esse motivo, merece muita
atenção12.
A missão dos pais é formar seu filho, fornecer condições para que ele
possa crescer, amadurecer, e apoiá-lo neste desenvolvimento. O que não quer
dizer, de forma alguma, assumir a missão no lugar do filho. Os pais devem dar
limites aos filhos. Devem ter a paciência necessária para deixá-lo aprender a
olhar o mundo com seus próprios olhos, orientando-o, mas jamais assumindo o
seu lugar. Porque uma criança criada com excesso de cuidados resultará num
adulto sem forças para encarar desafios ou conquistar seus sonhos. Uma
criança que sempre recebeu soluções prontas e definitivas, não saberá
resolver questões do cotidiano, pensar sozinha, tomar decisões importantes,
11 Mokiti Okada realizou estudos sobre diversas áreas do conhecimento humano, como política, medicina, educação, filosofia, economia, entre outras, mas, sobretudo, dedicou-se ao estudo da religião, das artes e da agricultura, apresentando propostas viáveis para um desenvolvimento social integrado. Deixando prontas as bases para a construção de um mundo espiritual e materialmente evoluído, denominado por ele “Paraíso Terrestre”, expressão que significa a concretização do mundo ideal. Um mundo onde o pensamento, as palavras e as ações do ser humano se fundamentam na Verdade da Lei da Natureza, ou seja, no Grande Ordenamento Jurídico Universal, que submete, regula e harmoniza toda a Criação. 12 http://www.johvem.com.br/hiperinteressante/educacao/elogiar.htm
46 relutar diante da vida. Um ser humano que cresce sem encarar dificuldades ou
frustrações torna-se fraco. E para que ele amadureça é necessário que seja
forte e seguro.
“Os pais retrógrados13 são os” donos da verdade” e acham que sempre
sabem o melhor caminho para os filhos, ou que carregam sempre os filhos
para que eles não se cansem. O que acaba acontecendo é a atrofia das
pernas...” ( TIBA, 2005, pág.130)
Com base em estudos de textos filosóficos de Mokiti Okada, alguns
educadores sugerem práticas a serem adotadas pelos pais e que podem dar
bons resultados:
1 – Mostre tanto o lado positivo quanto o negativo daquilo que as crianças
querem;
2 – A superproteção enfraquece a criança, impedindo-a de aprender a
enfrentar os problemas que a vida apresenta;
3 – Ensine-a a conquistar o que deseja, pois a dificuldade colabora no
desenvolvimento do espírito de busca;
4 – Defina as tarefas a serem executadas com a finalidade de que ela no
futuro, torne-se uma pessoa útil à sociedade;
5 – Diga menos: “Não”;
6 – Fortaleça sempre o lado positivo (qualidade e virtudes) dela para que se
torne um adulto bom;
7 – Utilize na sua formação a força de atração (conquista) ao invés da pressão,
repressão e imposição (fazem parte de uma era que já passou);
8 – Desenvolva nela a espontaneidade, a iniciativa, a criatividade e a vontade
própria;
9 – Busque a verdadeira educação centralizada em Deus; 13 Progressivas são as pessoas que andam para frente e avançam na vida. A pessoa progressiva se desenvolve, amadurece e torna-se um cidadão do bem. Retrógradas são as pessoas que andam para trás. Mesmo que elas só parem, continuam retrógradas, pois o mundo caminha e elas vão ficando para trás. O pior retrógrado é o que acha que já sabe tudo e não precisa aprender mais nada.
47 10 – Procure não atacar o que é errado. Reforce o certo (elogie). Geralmente,
quando os adultos dão uma bronca nas crianças, elas ficam sabendo o que
está errado, mas não sabem exatamente o que é certo.
Estes educadores também enfatizam que é importante lembrar que são
os pais os responsáveis pela educação dos filhos, reflexos das suas atitudes e
pensamentos. Numa árvore, eles são o tronco; os filhos, os galhos. Se houver
problemas no tronco, jamais os galhos irão prosperar. Já se o tronco for sólido
dará garantias para os galhos crescerem o máximo que puderem sem receios
ou inseguranças.
3.2- A importância do amor na educação dos filhos.
"Não se pode falar de educação sem amor". (Paulo Freire)
Para Açami Tiba, a palavra negociação usada no contexto afetivo, é tudo
o que acontece no relacionamento entre duas ou mais pessoas ao longo da
vida, considerando as trocas afetivas, permuta de favores, intercâmbio de
idéias, investimentos na educação, etc.
Trocas afetivas saudáveis são todos os familiares ganhando e sentindo-
se bem com elas. Mesmo não sendo mercantilistas no sentido débito-crédito,
elas implicam não ter prejuízos afetivos, sacrifícios de trabalho útil, desgastes
relacionais nem desperdício de vantagens recebidas. Nelas prevalece o ganha-
ganha. Pela vida, uma pessoa na família passa por vários estágios de trocas
afetivas, focando seus aspectos educativos. O grande capital a ser computado
é a formação da auto-estima e a construção do caráter da personalidade.
A amamentação no início da vida é mais doação que troca. O bebê
funciona mais por determinação genética que pela vontade própria. Cabe a
mãe conseguir fazer a leitura do que o bebê necessita e atendê-lo. Quanto
48 melhor a mãe fizer a leitura do que o bebê precisa, mais satisfeito ele fica.
Nada gratifica mais uma mãe que ver seu filho feliz. É o amor dadivoso, que faz
tudo pelo e para o bebê. A mãe funciona como um ego-auxiliar do bebê, que
necessita totalmente dela.
Esse amor dadivoso é natural na maternagem, porque traz traços
biopsicossociais. A mulher tem preparo biológico para ser mãe. Já na
paternagem, o homem tem que desenvolver esse amor dadivoso, pois não há
preparo biológico para ser pai. Mas atualmente os homens estão se
preparando mais afetiva, familiar e socialmente para exercerem a paternagem
(TIBA, 2005, p.167).
O amor dadivoso é tão prazeroso que muitos pais o mantêm por muito
tempo, mesmo quando não é mais necessário, portanto tornando-se
inadequado. É tão gostoso para os filhos receberem tudo de mão beijada, sem
nada ter que fazer.
Uma criança que nada faz não aprende. O que transforma as
informações em conhecimento é a prática, o fazer. Esse é um dos motivos pelo
quais uma criança precisa mais fazer que ouvir repetidas vezes. É mais
importante dar uma dica para a criança se lembrar do aprendido do que ficar
ensinando tudo novamente. Ensinar repetidas vezes cansa o cérebro, enche a
paciência, e o relacionamento fica complicado. Depois das dicas, basta um
dedo, um levantar de sobrancelhas para a criança lembrar do que estava
esquecendo.
“Ensinar uma criança a aprender é umas das maiores lições de vida que
os pais podem passar aos seus filhos. Nada impede que a criança aprenda
sozinha, mas ela vai saber fazer muito melhor se fizer sozinha depois que
aprender o básico”. (TIBA, 2005, p.168).
Ensinar algo exatamente no momento em que ela busca a resposta é o
momento ideal do aprendizado. Tentar ensinar fora de tempo é desperdício de
esforço dos pais e desgaste do filho para o aprendizado. Essa busca pela
resposta é o momento sagrado do aprendizado, e os pais têm que estar bem
atentos para esse momento. Esse momento também é o certo para semear os
49 ensinamentos que os pais queiram que seus filhos aprendam, incluindo os
valores superiores, como: gratidão, religiosidade, disciplina, ética, cidadania,
entre outros).
O ensinar é um amor bem próximo do dadivoso, pois o mestre sente-se
gratificado pelo que conseguiu passar para o seu aprendiz. Os pais sentem-se
realizados quando seus filhos são bem educados. A criança precisa do amor
que ensina, pois ela nasceu somente com seus instintos e um imenso potencial
de apreender e aprender o que existe à sua volta. O amor que ensina é um
investimento afetivo e material para um bem viver futuro do filho.
O fascínio das famílias por soluções fáceis para seus problemas
educacionais é conseqüência de vários fenômenos: pais que geram
tardiamente seus filhos, redução no número de crianças nas famílias, aumento
no número de pais que criam seus filhos sozinhos e, finalmente, pai e mãe que
trabalham fora e delegam a educação de seus filhos a terceiros, às vezes por
tempo integral. Por chegarem cansados do trabalho e por ter pouco tempo de
lazer com os filhos eles sentem-se constrangidos em punir as crianças quando
os limites são ultrapassados. Ou então procuram recompensá-las com
presentes pelo tempo em que não estiveram com elas. Esse sistema de
recompensas não funciona com as crianças.
Outra explicação para a dificuldade dos pais com as crianças, é que
somos de uma geração em que a obediência era inimiga do amor. Os pais não
queriam que seus filhos tivessem medo deles. Resgatar a autoridade não
significa, como muita gente imagina ser menos doce, sensível ou amoroso em
relação à criança.
Tratar da temática da importância da família no desenvolvimento e
aprendizagem infantil é abrir um leque para muitas reflexões, pois o ambiente
familiar é o primeiro e mais significativo para a interiorização de valores,
criação de hábitos e aprendizagens variadas. Quanto mais estimulador esse
ambiente for, mais a criança se desenvolverá de maneira harmônica; em
contrapartida, quanto mais conflitivo, carente de afetividade, maiores
problemas trará à criança em formação.
50 De 0 a 6 anos ocorre um processo de complexidade do ser humano que
não se repetirá durante todo seu desenvolvimento. Seis anos na vida de uma
criança representam muito mais do que seis anos na vida de um adulto, pois
nesse período a criança passa por muitas transformações que irão influenciar
fortemente toda sua vida futura. O desenvolvimento é parte da vida, está
profundamente marcado pelo contexto social do qual a criança participa. Os
comportamentos que cada criança apresenta e as respostas que dá tem
relação com o seu quotidiano. Conseqüentemente, crianças diferentes, com
vidas diferentes e recebendo estímulos diferentes, estão expostas a problemas
e a formas de solucioná-los diferentes e constroem padrões de referência e de
comportamento diferentes. Nessa fase, as crianças precisam de uma
dedicação muito grande de seus pais.
Algumas atitudes que os pais devem ter em mente para contribuir na
educação de seus filhos: demonstrar afeto freqüentemente; mostrar interesse
pelas coisas que acontecem à criança; confiar em suas possibilidades; cumprir
os acordos e normas estabelecidas com firmeza, mas também com certa
flexibilidade; marcar limites coerentes e acessíveis; estimular os filhos a
emitirem sua própria opinião e levá-la em conta quando as situações
possibilitarem; estabelecer uma relação de respeito mútuo.
Os pais precisam lembrar sempre que o cérebro de uma criança de 0 a 6
anos é como uma esponja, que absorve o que a cerca. Precisam estar com
seus filhos, responder suas perguntas, brincar com eles, estar atentos às
etapas de seu desenvolvimento, participar de sua vida escolar, oferecer-lhes
atividades variadas, enfim, acompanhar sua infância e, principalmente, fazer
parte dela.
Criança precisa de adulto responsável a sua volta. Os pais precisam
funcionar como consciência familiar e social. São os pais que ensinam, ou não
a adequação do querer dos filhos. Portanto, mais que somente dar, está na
hora de ensinar.
51 O aprender dá segurança e os primórdios da independência ao filho que
pode começar a contar consigo próprio. Os pais começam a ensinar como é
bom o aprender a aprender, através de agrados, estímulos e reforços.
Para finalizar é citado Celso Antunes14, que resume de uma maneira
genial o papel dos pais no desenvolvimento das crianças: “Que os pais nunca
se recolham na omissão da dúvida, que ajudem suas crianças a ampliar os
espaços de suas referências e estimulem com serenidade, mas ardor, suas
muitas linguagens, suas inúmeras inteligências, transformando alguns
momentos das crianças com quem convivem em instantes de afeto,
companheirismo, entusiasmo e paixão. Que não se atemorizem com inevitáveis
erros, mas privilegiem a intenção sincera do acerto. E que não aguardem a
maturidade de se tornarem avós para a ousadia da entrega e a sublime missão
de construir o futuro”.(ANTUNES, 1999)15
14 Celso Antunes – professor e psicopedagogo, bacharel e licenciado em Geografia pela Universidade de São Paulo, mestre em Ciências Humanas e especialista em Inteligência e Cognição. Celso Antunes é coordenador-geral do ensino de graduação do Centro Universitário Sant'Anna (UNISANTANNA) e do Colégio Sant'Anna Global, em São Paulo. Atua também como consultor da revista Nova Escola, da Editora Abril, e possui mais de cem obras didáticas e paradidáticas traduzidas para a América Latina e para a Europa e dezenas de outras que envolvem cognição, criatividade, ensino e aprendizagem. 15 http://www.fersap.pt/fersap/modules.php?name=News&file=article&sid=463
52
CONCLUSÃO
Analisando a sociedade moderna observa-se que uma das mudanças
mais significativas é a forma como a família atualmente se encontra
estruturada. Aquelas famílias tradicionais, constituídas de pai, mãe e filhos
tornaram-se uma raridade. Atualmente, existem famílias dentro de famílias.
Com as separações e os novos casamentos, aquele núcleo familiar mais
tradicional tem dado lugar a diferentes famílias vivendo sob o mesmo teto.
Esses novos contextos familiares geram, muitas vezes, uma sensação de
insegurança e até mesmo de abandono, pois a idéia de um pai e de uma mãe
cuidadores dá lugar a diferentes pais e mães “gerenciadores” de filhos que nem
sempre são seus.
Além disso, essa mesma sociedade tem exigido, por diferentes motivos,
que pais e mães assumam posições cada vez mais competitivas no mercado
de trabalho. Então, enquanto que, antigamente, as funções exercidas dentro da
família eram bem definidas, hoje pai e mãe, além de assumirem diferentes
papéis, conforme as circunstâncias saem todos os dias para suas atividades
profissionais. Assim, observa-se que, em muitos casos, crianças e
adolescentes acabam ficando aos cuidados de parentes (avós, tios), estranhos
(empregados) ou das chamadas babás eletrônicas, como a TV e a Internet,
vendo seus pais somente à noite.
Toda essa situação acaba gerando uma série de sentimentos
conflitantes, não só entre pais e filhos, mas também entre os próprios pais. E
um dos sentimentos mais comuns entre estes é o de culpa. É ela que, na
maioria das vezes, impede um pai ou uma mãe de dizer não às exigências de
seus filhos. É ela que faz um pai dar a seu filho tudo o que ele deseja,
pensando que assim poderá compensar a sua ausência. É a culpa que faz uma
mãe não avaliar corretamente as atitudes de seu filho, pois isso poderá
significar que ela não esteve suficientemente presente para corrigi-las.
Enfim, é a culpa de não estar presente de forma efetiva e construtiva na
vida de seus filhos que faz, muitas vezes, um pai ou uma mãe ignorarem o que
53 se passa com eles. Assim, muitos pais e mães acabam tornando-se reféns de
seus próprios filhos. Com receio de contrariá-los, reforçam atitudes
inadequadas e, com isso, prejudicam o seu desenvolvimento, não só
intelectual, mas também, mental e emocional.
Entretanto, é importante compreender que, apesar de todas as situações
aqui expostas, o objetivo não é o de condenar ou julgar. Está-se apenas
demonstrando que, ao longo dos anos, gradativamente a família, por força das
circunstâncias já descritas, tem transferido para a escola a tarefa de formar e
educar. Entretanto, essa situação não mais se sustenta. É preciso trazer, o
mais rápido possível, a família para dentro da escola. É preciso que ela passe
a colaborar de forma mais efetiva com o processo de educar. É preciso,
portanto, compartilhar responsabilidades e não transferi-las.
A família deve, portanto, se esforçar em estar presente em todos os
momentos da vida de seus filhos. Presença que implica envolvimento,
comprometimento e colaboração. Deve estar atenta a dificuldades não só
cognitivas, mas também comportamentais. Deve estar pronta para intervir da
melhor maneira possível, visando sempre o bem de seus filhos, mesmo que
isso signifique dizer sucessivos “nãos” às suas exigências. Em outros termos, a
família deve ser o espaço indispensável para garantir a sobrevivência e a
proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo
familiar ou da forma como se vêm estruturando.
Educar, portanto, não é uma tarefa fácil, exige muito esforço, paciência
e tranqüilidade. Exige saber ouvir, mas também fazer calar quando é preciso
educar. O medo de magoar ou decepcionar deve ser substituído pela certeza
de que o amor também se demonstra sendo firme no estabelecimento de
limites e responsabilidades. Deve-se fazer ver às crianças e jovens que direitos
vêm acompanhados de deveres e para ser respeitado, deve-se também
respeitar.
No entanto, para não tornar essa discussão por demais simplista, é
importante, entender, que quando se trata de educar não existem fórmulas ou
receitas prontas, assim como não se encontra, em lugar algum, soluções
54 milagrosas para toda essa problemática. Como já foi dito, educar não é uma
tarefa fácil; ao contrário, é uma tarefa extremamente complexa. E talvez o que
esteja tornando toda essa situação ainda mais difícil seja o fato de a sociedade
moderna estar vivendo um momento de mudanças extremamente
significativas.
Segundo Paulo Freire16: “A mudança é uma constatação natural da
cultura e da história. O que ocorre é que há etapas, nas culturas, em que as
mudanças se dão de maneira acelerada. É o que se verifica hoje. As
revoluções tecnológicas encurtam o tempo entre uma e outra mudança” (2000,
pag.30). Em outras palavras, está-se vivendo, em um pequeno intervalo de
tempo, um período de grandes transformações, muitas delas difíceis de serem
aceitas ou compreendidas. E dentro dessa conjuntura está a família. Tentando
encontrar caminhos em meio a esse emaranhado de escolhas, que esses
novos contextos, sociais, econômicos e culturais, nos impõem.
E para finalizar essa conclusão é importante fazer algumas
considerações que, se não trazem soluções definitivas, podem apontar
caminhos para futuras reflexões. Assim, é preciso compreender, por exemplo,
que no momento em que a família conseguir estabelecer um acordo na forma
como irá educar suas crianças e adolescentes, muitos dos conflitos hoje
observados serão gradativamente superados. A presença, o envolvimento e o
amor devem ser permanentes e, acima de tudo, construtivos, para que a
criança e o jovem possam se sentir amparados, acolhidos e amados. E, do
mesmo modo, deve-se lutar para que os pais estejam em completa sintonia em
suas atitudes, já que seus objetivos são os mesmos. Devem, portanto,
compartilhar de um mesmo ideal, pois só assim realmente estarão formando e
educando, superando conflitos e dificuldades que tanto vêm angustiando as
famílias.
16 Paulo Freire - foi quase tudo o que deve ser como educador, de professor de escola a criador de idéias e "métodos". Sua filosofia educacional expressou-se primeiramente em 1958 na sua tese de concurso para a universidade do Recife, e, mais tarde, como professor de História e Filosofia da Educação daquela Universidade, bem como em suas primeiras experiências de alfabetização como a de Angicos - RN, em 1963. A coragem de pôr em prática um autêntico trabalho de educação que identifica a alfabetização com um processo de conscientização, capacitando o oprimido tanto para a aquisição dos instrumentos de leitura e escrita quanto para a sua libertação fez dele um dos primeiros brasileiros a serem exilados.
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