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A COMISSAOPARLAMENTAR MISTA
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DE INQUERITO
MURILLO EVANDRO DE ANDRADEADVOGADO CRIMINALISTA
OAB/MG 108337
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Abril de 2012
Advogados Associados
EXCELENTÍSSIMA DEPUTADA FEDERAL JÔ MORAES PRESIDENTE DA
CPMI DO COMBATE A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER.
MURILLO EVANDRO DE ANDRADE, advogado militante na seara criminal na
defesa de mulheres vítimas de violência doméstica, pós-graduado pelo Centro
Universitário de Belo Horizonte, vem, honrosamente a presença de V.Exa, em
acatamento ao vosso pedido apresentar,
PARECER PERANTE A COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUÉRITO
QUE INVESTIGA A VIOLÊNCIA CONTRA MULHER
contendo opiniões subjetivas embasadas dentro de um conjunto de aspectos
jurídicos, apresentando casos concretos onde operou diretamente como
defensor particular, e outros que teve conhecimento pela mídia sobre violência
doméstica, ilustrando ao final algumas estatísticas de violência cometidas
contra mulheres em Minas Gerais e em diversas cidades de nossa Federação,
acreditando que esta contribuição possa servir de auxilio no sentido de
erradicar em nossa sociedade qualquer tipo de violência contra a mulher, seja
ela física, emocional, sexual ou patrimonial.
Av. Augusto de Lima, 479 - sala 804 - Centro - CEP.: 30190-000 - Belo Horizonte - MGTe!.: (31) 3271-7437 - e-mail: [email protected]
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o presente parecer terá como foco e analise alguns casos de violência
contra as mulheres no seio familiar sendo apresentado ao final sugestões
para o aperfeiçoamento das medidas protetivas de urgência.
Este trabalho não foi objeto de estudo aprofundando de tópicos específicos, e
apenas servirá de apoio as deliberações desta honrada Comissão Parlamentar
no sentido de visualizar possíveis erros judiciais e ajudar no aperfeiçoamento
da Lei Maria da Penha, mesmo porque, apesar do esforço técnico empenhado,
há sempre, possivelmente, algum aspecto que haja escapado ao meu exame e
possa vir a ser decisivo no ato de deliberação.
LEI MARIA DA PENHA É CONSIDERADA PELO
FUNDO DE DESENVOLVIMENTO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A MULHER
COMO SENDO UMA DAS 3 MELHORES DO MUNDO.
A Lei brasileira 11.340/06 conhecida como Lei Maria da Penha foi apontada
pelo Unifem (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher) no
relatório bianual de 2010 sendo uma entre as três melhores legislações do
mundo com relação ao enfrentamento à violência contra as mulheres.
Nossa legislação está ao lado da Lei de Proteção contra a Violência de Gênero
da Espanha, a legislação espanhola (Ley Orgánica 1/2004) tem como principal
objetivo a proteção tanto para o homem quanto para a mulher. Entretanto as
estatísticas do país europeu mostra que as mulheres são vítimas em
praticamente 100% dos casos registrados pela polícia. No ano de 2010 foram
mortas na Espanha 73 mulheres pelas mãos de seus companheiros ou ex
companheiros, o que dá uma média de 6 homicídios por mês!.
Por outro lado, os números brasileiros assustam: de acordo com o Instituto
Sangari entre 1997 e 2007, 41.532 (quarenta e uma mil quinhentas e trinta
duas) mulheres foram assassinadas - 10 por dia, próximo à 30 óbitos mês -
I Fonte: Ministerio de Igualdad - http: brasilcomz.wordpress.com/201 1/01/26/5332/
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perto de 4 assassinatos para cada 100 mil habitantes, conforme o estudo Mapa
da Violência no Brasil 20102 .
Conclui-se portanto, que apesar da modernidade da nossa legislação, muito
ainda deve ser investido e incorporado para conter as mortes de mulheres
vítimas de violência doméstica no Brasil.
o RETRATO DO JUDICIÁRIO DE BELO HORIZONTE
FRENTE A ONDE DE VIOLÊNCIA DOMÊSTICA
De acordo com o Tribunal de Justiça de Minas Gerais em 2011 chegaram até
as comarcar mineiras 31.504 (trinta e um mil quinhentos e quatro) pedidos por
medidas protetivas relacionados à Lei Maria da Penha e desse total apenas um
quarto foi efetivamente julgado. Das ações que foram analisadas apenas 5,709
(cinco mil setecentos e nove) medidas protetivas foram concedidas, que
representa 18% do total de medidas requeridas à Justiça Mineira. (fonte
Conjur3).
Em nossa Capital Mineira, possuímos apenas 2 (duas) Varas que atendem os
casos de violência contra a mulher. De acordo com o Juiz da 14a Vara Criminal
Dr. Nilseu Buarque de Lima em entrevista ao Jornal Estado de Minas do dia
03/02/2012, ele afirma que chegam em sua secretaria cerca de 50 processos
por dia, ou seja, uma média mensal de 1000 (mil) novos procedimentos. O
Nobre Magistrado admite dificuldades e cobra mais estrutura "Precisamos
criar mais varas e aumentar o número de servidores para dar maior fluidez
a todos os processos. Enfrentamos um problema operacional, com uma
média de 43 mil processos para dois juízes e somente 10 servidores. O
número vem aumentando desde a criação das varas e é preciso
acompanhar essa demanda".
2 Fonte: Jornal O Estado de São Paulo de 04,07.10, p, C6 e O Globo de 11.07.10, p. 16.3 WWW.conjUl..com.br/20 12-fev-05/45-mil-pedidos-protecao-mulheres-aguardam-justica-2009
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Neste sentido, observa-se que as mulheres conhecem seus direitos e buscam
na justiça proteção, no entanto a falta de estrutura judicial leva ás vitimas a
riscos desnecessários.
CASOS DE VIOLÊNCIA DOMÊSTICA
NO BRASIL NOS ÚLTIMOS ANOS.
Em pesquisa realizada nos meios de comunição, infinitos foram os casos
encontrados de violência doméstica contra a mulher, especialmente com
desfecho de assassinatos. Em sua totalidade, tais crimes foram cometidos por
maridos, namorados e companheiros. Ressaltando que, em muitas destas
situações as vítimas já encontravam-se separadas do agressor, inclusive
algumas com medidas protetivas judiciais.
Diante de tantos casos, sena humanamente impossível analisar todos.
Portanto, apresento 13 situações com vítimas fatais que mais me chamaram
atenção, seja pela brutalidade como foram mortas, seja pela forma como a
justiça atuou nos casos. As referidas mulheres foram vitimas da ineficiência
estatal em protegê-las e por medidas protetivas insuficientes e tímidas.
CASO 1: VALDENIRA MARIA DOS SANTOS4
DATA E LOCAL DO CRIME: 03 de junho de 2008 . Ceará
Valdenira (28 anos) já havia registrado vários boletins de ocorrência contra o
marido. O assassino Francisco Célio dos Santos Júnior dois dias antes de
matá-la já havia feito a vitima refém em sua casa. Ele apareceu na loja onde
Valdenira trabalhava como caixa há 8 anos. Temendo que ele fizesse mais um
escândalo, ela foi até a porta da loja pedir para que ele fosse embora quando foi
alvejada com 4 tiros a queima roupa. A vitima teve morte instantânea. No
mesmo ato assassino efetuou um disparo contra sua própria cabeça.
4 http://mortas.wordpress.com/2011/ 1O/21/va1denira-maria-dos-santos/
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A mãe da vitima foi enfática: "MINHA FILHA MORREU PORQUE NÃO TEVE A
DEVIDA PROTEÇÃO".
CASO 2: CLEITA REGINA RIBEIROs
DATA E LOCAL DO CRIME: 28 de setembro de 2008 - Santa Catarina
Cleita 24 (anos) procurou a policia varias vezes e confeccionou dois boletins de
ocorrência contra o ex-marido Maurício Muniz. Apesar de informar que estava
sendo ameaçada de morte e solicitar proteção judicial, nenhuma medida
protetiva foi deferida. O agressor cumpriu sua ameaça e matou a ex
companheira com dois tiros, um no tórax e outra na cabeça. Antes de ser
levada a julgamento o assassine conseguiu fugir duas vezes da cadeia.
CASO 3: FABILENE LEANDRO MARCULIN06
DATA E LOCAL DO CRIME: 24 de outubro de 2008 - Ceará
Fabilene Leandro Marculino (32 anos) estava em processo de separação depois
de oito anos de um casamento abusivo e de maus-tratos. Dias antes de morrer,
o Juiz de Direito Luiz Carlos Saraiva Guerra, havia determinado que o
ex-marido deixasse a casa por força de liminar. Foi morta com vários tiros no
meio da rua quando voltava para casa, por volta das 14hs, depois almoçar com
amigas em um restaurante.
CASO 4: ROMÊNIA DE OLIVEIRA e ANDRÉIA CHRISTINA SOUZA7
DATA E LOCAL DO CRIME: 13 de janeiro e 05 de fevereiro de 2011
Paraná
Romênia (38 anos) ignorada após pedir proteção da Lei Maria da Penha, foi
assassinada pelo companheiro Dirceu Petroski Castanha com tiros na cabeça.
O casal tinha uma filha de 2 anos. O pedido de proteção sequer chegou as
mãos do Juiz.
5 http:j jmortas.wordpress.comj2011jOSj08jcleita-regina-ribeiroj
6 http:j jmortas.wordpress.comj2011j lOj21jfabilene-leandro-marculinoj
7 http:j j mortas.wordpress.comj2011 j 11 j 06 j romenia-de-oliveiraj
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o mais grave ainda estava por vir. O assassino não foi preso e logo descobriu
se que ele tinha uma amante, Andréia Christina Souza (24 anos), também
com um filho de 2 anos de Dirceu. Esta mulher também tinha feito vários
registros policiais contra o amante, contudo, igualmente não foi atendida.
Resultado em 5 de fevereiro de 2011, foi assassinada e carbonizada pelo
mesmo homem que menos de 30 dias tinha ceifado a vida de outra mulher.
CASO 5: SANDRA REGINA MARTINS SILVEIRA8
DATA E LOCAL DO CRIME: 02 de abril de 2011 - Distrito Federal
Sandra (33 anos) tinha duas filhas, a mais nova, fruto do relacionamento
amoroso com Arony Cosseti o assassino. Eles eram namorados e estavam
separados há 6 meses. Sandra havia solicitado medidas protetivas em
setembro de 2010 e não foi atendida. O agressor tentou reatar o namoro sendo
rejeitado pela vitima. Insatisfeito ameaçou a namorada de morte. Sandra esteve
na delegacia no mesmo dia das ameaças, aflita, um dia antes de morrer. Como
a Polícia do Estado estava em greve ouviu de um policial: "Que não faria o
boletim de ocorrência e que só iriam se fosse para buscar o corpo". Sandra
foi assassinada no dia seguinte na frente dos filhos com varias facadas.
CASO 6: ÂNGELA MARIA DOS SANTOS9
DATA E LOCAL DO CRIME: 29 de maio de 2011 - Sergipe
Dona de um salão de beleza Anita tinha 33 anos, participava de uma reunião
de familia quando seu ex-marido invadiu a casa efetuando vários disparos na
vitima e nas demais pessoas que estavam na residência. O crime foi praticado
pelo ex-companheiro, o engenheiro Edwaldo Nunes da Conceição. Sempre o
mesmo motivo, ele estava inconformado com o fim do relacionamento. Ângela
já havia dado mais de uma queixa contra o ex-marido que a ameaçava de
morte e nenhuma medida protetiva deferida.
8 http:j j mortas.wordpress.comj 2011 j 04 j 20 j sandra-regina-martins-silveiraj
9 http:j jmortas.wordpress.comj2011j08j21jangela-ma-dos-santosj
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CASO 7: ANITA SAMPAIO LEITE10
DATA E LOCAL DO CRIME: 09 de agosto de 2011 - Espirito Santo
Anita (49 anos) não saía de casa sem o deferimento das "medidas protetivas"
deferidas em seu favor. Tinha fé na justiça. Não foi o bastante! O assassino
Euci de Souza Leite, mesmo impedido de se aproximar da esposa, desferiu
mais de 10 facadas contra a vítima, que faleceu dentro do banheiro da
residência. A Anita violentamente assassinada, a humilde costureira,
acreditava naquele pedaço de papel emitido pela Justiça.
CASO 8: PATRICIA ADADI SILVAll
DATA E LOCAL DO CRIME: 08 de outubro de 2011 - Santa Catarina
Patrícia (33 anos) assassinada pelo marido Maureci José da Silva Junior. A
vitima já havia solicitado apoio policial com a elaboração de Boletim de
ocorrência, diante das ameaças e agressões sofridas pelo marido. Nenhuma
medida de proteção foi realizada. Não aguentando mais a situação em que vivia
Patrícia pediu a separação. Sabemos o resultado I Ela foi morta com 5 facadas,
uma no pescoço e quatro na barriga na frente dos filhos.
VIOLÊNCIA CONTRA MULHER NO
ESTADO DE MINAS GERAIS.
CASO 9: MARIA ISLAINE DE MORAIS12
DATA E LOCAL DO CRIME: 10 de janeiro de 2010 - Minas Gerais
A cabeleireira Maria Islaine, estava separada do marido fazia um ano, mas o
agressor Fábio Willian Silva não aceitava a separação. A vítima por 08 (oito)
vezes procurou a polícia e estava sob a proteção das medidas protetivas de
urgência da Lei 11.340/06 (lei Maria da Penha), devidamente deferidas pelo
Juíz.
10 http:j jmortas.wordpress.comj2011j08j21janita-sampaio-leitej
11 http:j jmortas.wordpress.comj2011j llj lOjpatricia-adadi-silvaj
12 http:j jmortas.wordpress.comj2011j05j 10jmaria-islaine-de-moraisj
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Contudo tais medidas não foram suficientes para a devida e real proteção da
mulher, que foi brutamente assassinada com sete tiros a queima roupa. A
barbárie foi gravada pelo circuito interno do salão e tomou o noticiário
nacional.
CASO 10: ADRIANA CRISTINA ALVES DA SILVA13
DATA E LOCAL DO CRIME: 02 de agosto de 2010 - Minas Gerais
Em Curvelo outra tragédia. Idêntico aos casos anteriores, o suspeito é o ex
marido de Adriana que não aceitava o fim do relacionamento. A vítima foi
amarrada e esfaqueada no pescoço. Não há informações sobre pedidos de
proteção judicial.
CASO 11: ANA LUCIA BARBOSA14
DATA E LOCAL DO CRIME: 03 de agosto de 2010 - Minas Gerais
A faxineira Ana Lucia mãe de dois filhos, um de 09 (nove) meses e outro de 10
(dez) anos foi executada com 16 facadas na Cidade de Ribeirão das Neves,
região metropolitana de Belo Horizonte. A vítima procurou a polícia por
inúmeras vezes para pedir proteção, contudo não chegou o pedido ao
judiciário. O ex-companheiro, autor do crime Geraldo Joaquim dos Santos,
premeditadamente, pulou o muro da casa de Ana Lucia por volta das 5 horas
da manhã e na frente dos dois filhos matou a mulher. O filho mais velho
presenciou o crime e na tentativa proteger a mãe sofreu ferimentos nas mãos
com facadas.
13http://uaLcom.br.com.br/htmls/app/noticia137 /2010/08/03/noticia_minas,i= 172086/inde
x.shtml/
14http://uaLcom.br.com.br/htmls/app/noticia173/2010/08/03/noticia_minas,i= 172062/HO
MEM+MATA+EX+MULHER+NA+FENTE+DE+FILHOS+EM+CONTAGEM.shtm1/
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CASO 12: KASSIANE RODRIGUES MAIA15
DATA E LOCAL DO CRIME: 09 de agosto de 2010 - Minas Gerais
Kassiane era uma psicóloga. Uma entre muitas incapazes de distinguir
arrogância de um defeito, porque nâo fora educada para isso, tanto em vida
familiar, quanto na universidade que frequentou. Formada no "conhecimento"
de homens, muitas vezes bastante conveniente para eles, nâo percebeu que o
doente, agora seu ex-namorado, planejava, friamente, matá-la.
Kassiane foi estrangulada e esfaqueada. Exatamente um mês procurar a
policia e registrar queixa contra o namorado. Nenhuma medida protetiva foi
deferida em seu favor.
CASO NOTÓRIO DE VIOLÊNCIA DOMÊSTICA OCORRIDO
EM NOVA LIMA - MINAS GERAIS
CASO 13: ANA ALICE MOREIRA DE MELO
DATA DO CRIME: 02 de janeiro de 2012
Caso que tomou proporções nacionais. Ana Alice Procurador a Federal foi
morta a facadas pelo companheiro, que não consentia com a separação do
casal. O crime ocorreu na cidade de Nova Lima, região metropolitana da capital
mineira. O que chamou à atenção neste caso foi o padrão financeiro elevado da
vítima e agressor. O casal residia em condomínio de luxo, possuindo veículo
importados e muitas posses. O agressor Dijalma Brugnara Veloso, renomado
empresário de aluguel de veículo de Belo Horizonte, revoltado com o fim do
relacionamento, premeditou e executou o assassinato da mulher. Horas depois
se matou em um motel.
A vítima procurou a delegacia de policia para fazer queixa contra o marido, que
estava lhe ameaçando de morte, diante da iminente separação do casal. O
Boletim de ocorrência foi confeccionado na data de 24 de janeiro de 2012. No
dia seguinte, já havia uma medida protetiva em favor da vítima.
15 http: ffmortas.wordpress.comf20 11f10f11fkassiane-rodrigues-maiaf
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Mesmo requerendo o afastamento do lar conjugal do agressor, após detalhar as
agressões e ameaças sofridas, o Juiz de Direito Dr. Juarez Morais de Azevedo
de Nova Lima indeferiu o pedido da vítima, fundamentando sua decisão que tal
medida seria muito "drástica".
Outra situação que causou perplexidade foi o limite que o juiz determinou para
o agressor ficar distante da vítima, 30 metros. Não houve coerência na decisão
do magistrado, pelo fato do perímetro estipulado permitir que o agressor
permanecesse dentro da residência com a vítima!
No dia 10 de fevereiro a vítima requereu ao Judiciário Mineiro medidas
protetivas complementares e a reconsideração do afastamento do agressor da
residência. Desta vez, o magistrado agiria no sentido de proteger a vítima,
contudo não foi possível cumprir a ordem judicial. Djalma matou a esposa na
madrugada do dia 2 de janeiro com mais de 30 (trinta) facadas na presença de
dois filhos menores um de 3 e outro de 6 anos de idade.
ESTATÍSTICAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHERES
Os presentes dados foram fornecidos por Luiz Flávio Gomes em um de seus
artigos intitulado "Dez mulheres são assassinadas por dia na "Holding Brasil
de violência e delinquência"16.
Somente no mês de julho de 2010, foram 10 (dez) mulheres mortas
diariamente. A cada duas horas (e pouco) uma mulher é morta no pais! 68%
dos filhos assistem às agressões; 15% deles também sofrem violência
junto com a mãe.
Nos países europeus os índices anuais não ultrapassam, em média, 0,5 caso
para cada 100 mil habitantes. Os campeões mundiais, África do Sul, anda
na faixa de 25 mortes para cada 100 mil habitantes. El Salvador, 12,7;
lO http: j jwww.karinamerlo.comj2010j08jluiz-flavio-gomes-dez-mulheres-sao.html
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Colômbia: 7,8 por 100 mil. Alto Alegre, em Roraima, e Silva Jardim, no Rio
de Janeiro, estão perto do topo: 22 e 18,8 por 100 mil, respectivamente.
Em 50 municípios brasileiros os indices superam a 10 mortes por 100 mil
habitantes.
De outro lado, mais da metade dos municípios brasileiros (quase 52%) não
registrou nenhum assassinato de mulher, nos últimos cinco anos.
Espírito Santo é o Estado com maior "produtividade mortífera" (10,3
mortes por 100 mil). Já o Maranhão é o Estado que apresenta o menor
índice de violência doméstica (1,9 por 100 mil).
Mas o quadro de violência contra mulher é estarrecedor, a cada quinze
segundos uma mulher é agredida no nosso país (Fonte: Folha de S. Paulo).
Um terço das mulheres já foram fisicamente agredidas. Uma pesquisa de
2006 (Instituto Patrícia Galvão) perguntou se o homem podia agredir "sua"
mulher? 16% responderam afirmativamente, ou seja, 16% crê no "direito"
de correção do marido. Outra pergunta: a mulher deve suportar essa
violência? 11% disseram sim.
Amartya Sen, que é catedrático de filosofia e economia na Universidade de
Harvard e prêmio nobel de economia em 1998, no seu livro La idea de la
justicia (tradução de Hernando Valencia Villa, Madrid: Taurus, 2010), afirma
que se não podemos conseguir uma justiça perfeita, ao menos deveríamos lutar
contra algumas das injustiças mais gritantes, o que significa combater (1) a
opressão, retratada na escravidão assim como no submetimento e violência
contra as mulheres, (2) a negligência médica sistemática, (3) a falta de
cobertura (assistência) sanitária, (4) a permissividade da tortura [complacência,
conivência, tal como a postura da nossa Corte Suprema em relação à lei de
anistia dos crimes da ditadura], (5) a fome crônica, (6) a corrupção
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generalizada etc. Significa ainda lutar em favor do fim do apartheid, do fim da
pena de morte etc.
De todas as bandeiras levantadas pelo humanista Sen, num país em que
assassinam 10 mulheres por dia não há nenhuma dúvida de que a violência de
gênero tem que merecer especial atenção de todos nós, projetando-nos uma
política educativa e repressiva eficiente, na linha do que já está sendo feito com
base na lei Maria da Pena.
Assassinam brutalmente 10 mulheres por dia no Brasil e ainda há juiz que
considera inconstitucional a lei Maria da PenhaI Mas graças a nosso Ministros
do Supremo Tribunal Federal em 9 de fevereiro de 2012 julgaram a ADC 19
Ação Direta de Constitucionalidade, declarando a lei 11.340/06 constitucional
no sentido de desmistificar a alardeada discriminação jurídica.
As estatísticas não param por ai. De acordo com o anuário das Mulheres
Brasileiras 2011, 28% das mulheres assassinadas no país morrem em casa.
O ambiente doméstico é cerca de três vezes mais perigoso para as mulheres do
que para os homens. Dentre as mulheres assassinadas no país, 28,4%
morreram em casa. O número é quase três vezes maior do que a taxa entre os
homens, de 9,7%,.
Entre os homicídios em que as vítimas são viúvas, 41,7% das mortes
ocorrem em casa.
No caso dos assassinatos em que as vítimas são casadas, 39,7% das mortes
ocorrem em casa.
Dentre os homicídios de mulheres separadas judicialmente, em 36,1% do
casos as mortes ocorrem em casa.
Já entre as solteiras, 24,8% das assassinadas morrem em casa.
-~._---
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Outras informações contidas no anuário, constatam que a Central de
Atendimento à Mulher, serviço que atende queixas de violência domêstica e
esclarece dúvidas sobre a Lei Maria da Penha, recebeu 1.952.000 (hum milhão
novecentas e cinquenta duas mil) ligações em pouco mais de cinco anos de
existência --entre abril de 2006, quando foi criada, e junho de 2011.
A agência Patrícia Galvão17 selecionou alguns números das principais
pesquisas sobre violência doméstica:
. Seis em cada 10 brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de
violência doméstica.
- Machismo (46%) e alcoolismo (31%) são apontados como principais
fatores que contribuem para a violência.
- 94% conhecem a Lei Maria da Penha, mas apenas 13% sabem seu
conteúdo. A maioria das pessoas (60%) pensa que, ao ser denunciado, o
agressor vai preso.
- 52% acham que juízes e policiais desqualificam o problema.
- 91% dos homens dizem considerar que "bater em mulher é errado em
qualquer situação".
- Uma em cada cinco mulheres consideram já ter sofrido alguma vez
"algum tipo de violência de parte de algum homem, conhecido ou
desconhecido".
17http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/index.php?option=coill_content&view=article&id= 1975
--:-----:----c-----:- ~-~ ~~
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- O parceiro (marido ou namorado) é o responsável por mais 80% dos casos
reportados.
- Cerca de seis em cada sete mulheres (84%) e homens (85%) já ouviram
falar da Lei Maria da Penha e cerca de quatro em cada cinco (78% e 80%
respectivamente) têm uma percepção positiva da mesma.
- O medo continua sendo a razão principal (68%) para evitar a denúncia
dos agressores. Em 66% dos casos, os responsáveis pelas agressões foram
os maridos ou companheiros.
- 66% das brasileiras acham que a violência domêstica e familiar contra as
mulheres aumentou, mas 60% acreditam que a proteção contra este tipo de
agressão melhorou após a criação da Lei Maria da Penha (Lei n°
11.340/2006)
- Serviços de Atendimento à Mulher disponível no País.
O Brasil tem mais de 5.500 municípios e apenas:
190 Centros de Referência (atenção social, psicológica e orientação
jurídica)
72 Casas Abrigo
466 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher
93 Juizados Especializadas e Varas adaptadas
57 Defensorias Especializadas
21 Promotorias Especializadas
12 Serviços de Responsabilização e Educação do Agressor
21 Promotorias/Núcleos de Gênero no Ministério Público
Fonte: Secretaria de Políticas para as Mulheres
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CONCLUSÃO
o quadro de violência contra a mulher nos dias atuais é alarmante. As
estatísticas aterrorizantes!
Apesar da Lei 11.340/06 figurar entre as três melhores do mundo, em muitos
casos a sua eficiência é precária no sentido da real proteção da mulher vítima
de violência doméstica.
Pode-se observar esta situação com os casos apresentados, onde claramente a
mulher mesmo sobre a proteção Estatal ainda é vitima de atos atrozes de
violência.
Na maioria das vezes, o primeiro atendimento da mulher vitima de agressão
familiar já é inadequado, principalmente nos rincões brasileiros. Policiais
despreparados depreciam a vítima, não elaborando os Boletins de Ocorrência, e
mesmo quando o fazem, não encaminham para a justiça, colocando em risco
iminente a mulher violentada.
A falta de delegacias especializadas são outros fatores que elevam as
estatísticas de violência contra a mulher.
As varas criminais que atendem casos de violência domestica são insuficientes
para com a demanda, como bem informou o Nobre Magistrado Dr. Nilseu
Buarque de Lima, Juiz da 14a Vara Criminal de Belo Horizonte.
Contudo, mesmos com o implemento e aperfeiçoamento de pessoal, delegacias
preparadas para o primeiro atendimento às vitimas, bem como o aumento das
varas criminais especializadas, de nada adiantaria se as punições contra os
agressores não ocorrerem de forma célere.
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Advogados Associados
Neste sentido, ínclita relatora Já Moraes, aumentar a estrutura dos serviços
públicos, seja na esfera judicial ou policial, será aceitar a idéia de que a
violência contra as mulheres continuará.
Por isso se faz necessário a criação de mecanismos de punição, com efetividade
e celeridade a todos os atores envolvidos, direta ou indiretamente, seja na
agressão contra a mulher, seja na ineficiência das decisões cautelares de
proteção, seja na negligência no atendimento às vitimas.
Ao mesmo tempo temos de ter consciência, maturidade e responsabilidade na
elaboração de novas propostas e leis, visando o aperfeiçoamento da Lei Maria
da Penha.
Necessário ainda considerar, que qualquer ação neste sentido deve estar
sustentada por um ciclo racional que contemple a "informação, orientação,
educação, punição e co-responsabilização".
Sem estes requisitos corremos o risco de tornarmos cúmplices impiedosos com
aquelas a quem o Estado deveria assistir adequadamente: A MULHER.
Sendo assim, apesar de toda a complexidade que o tema envolve e todos os
estudos que merecem ser feitos, não podemos debater por mais 10 anos sem
inovações urgentes, tanto nas ações preventivas quanto nas corretivas e nas
punitivas, incluindo a co-responsabilização dos agentes judiciais e policiais,
sob pena de contabilizarmos, nos próximos 10 anos, mais 50 mil mulheres
assassinadas e outras centenas de milhares violentadas.
Considerando ainda que as ações preventivas, corretivas e punitivas aqui
sugeridas, merecem estudos quantitativos para demonstrar a redução nos
índices de violência contra a mulher.
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Por derradeiro, que esta Comissão Parlamentar Mista de Inquérito seja a caixa
de ressonãncia dos gritos ceifados de milhares de mulheres assassinadas e das
infinitas outras que se calam por medo dos agressores, agindo com severidade
nos casos em que identificados erros judiciais e falhas na proteção Estatal na
proteção às mulheres.
E não se esqueçamI Enquanto estava sendo lido este parecer, a cada 15
segundo uma mulher era vitima de violência no Brasil.
Vamos dar um basta a esta barbáriel
É o parecer.
Murillo Evandro de
OABMG 337
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