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FRANCINE RAMOS
A CRÍTICA LITERÁRIA EM BLOGS: LEITORES COMENTAM A
LITERATURA
Monografia apresentada ao Curso de Letras da Universidade de Sorocaba, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciatura em Letras Português-Inglês. Orientador: Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes Coordenador:
SOROCABA
2012
FRANCINE RAMOS
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A CRÍTICA LITERÁRIA EM BLOGS: LEITORES COMENTAM A
LITERATURA
Monografia apresentada ao Curso de Letras da Universidade de Sorocaba, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciatura em Letras Português-Inglês. Orientador: Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes
SOROCABA
2012
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AGRADECIMENTOS
À Jeniffer Santos, que sempre contribuiu com informações importantes para este trabalho. À Alex Sens, pelas conversas literárias. À Erika Saab, pelas reflexões sobre todos os assuntos. A Teylor Soares, pela paciência. À Mara Nidia Silva, por estar sempre presente, até quando estou ausente. À minha mãe, Jucineide Arimatea Ramos, por tudo.
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“A vida é um sonho, é o despertar que nos mata. Quem nos rouba os sonhos, rouba-nos a vida.”
Virginia Woolf.
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SUMÁRIO
RESUMO..................................................................................................................... 6
ABSTRACT ................................................................................................................. 7
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 8
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................... 10
O QUE É BLOG .......................................................................................................... 10
RESENHA (UM GÊNERO TEXTUAL) E A INTERNET ............................................... 16
TEORIA DA LITERATURA – AUTOR, OBRA, LEITOR E PÚBLICO .......................... 19
ANÁLISE LITERÁRIA ............................................................................................... 22
METODOLOGIA ...................................................................................................... 24
ANÁLISE DE DADOS ............................................................................................... 31
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 34
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 35
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RESUMO
A crítica literária em blogs: leitores comentam a literatura
O presente trabalho irá analisar blogs especializados em literatura, procurando identificar análises literárias em textos sobre romances da literatura de língua inglesa e portuguesa. Foram analisados cinco blogs que publicam opinião sobre a literatura. Foram lidos mais de quatro textos de cada blog e selecionado um texto de cada blog para a análise sobre o conteúdo publicado, a forma como os blogs comentam a literatura e se os textos publicados possuem características de análise e crítica literária. Os blogs comentam literatura através de resenhas. Dos cinco blogs lidos, quatro possuem características de análise literária, um blog não possui essa característica. Há cultura acontecendo na rede mundial de computadores, há pessoas engajadas em comentar a literatura, em querer entendê-la. E essas pessoas são simples apreciadoras de livros que possuem a delicadeza de ver a literatura não apenas como livros numa prateleira e sim como um objeto de arte, onde é possível aprender, entender e perceber melhor a humanidade.
Palavras-chave: internet, literatura, blog, cibercultura, análise literária, crítica literária
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ABSTRACT
Literary critical in blogs: Readers comment on the literature This study will analyze blogs specialized in literature, identifying analyzes texts on literary novels in the English language literature and Portuguese. We analyzed five blogs that publish review of the literature. Were read more than four of every blog texts and selected a text of each blog for the analysis on the content posted, how blogs and comment on the literature published texts possess characteristics of literary critical and analysis. The literature blogs commenting through reviews. Read the five blogs, four have characteristics of literary analysis, a blog does not have this feature. There culture happening in the world wide web, there are people engaged in the literature review, in wanting to understand it. And these people are simply appreciative of books that have the courtesy to not only see literature as books on a shelf, but as an object of art, where you can learn, understand and better understand humanity.
Keywords: internet, literature, blog, cyberculture, literary analysis, literary critical
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Introdução
Esta pesquisa irá analisar cinco blogs especializados em literatura,
procurando identificar teorias literárias. Cheguei a este tema por apreciar a leitura dos
blogs que possuem a característica de publicações eletrônicas, ou seja, blogs destinados
a passar informações sobre um determinado assunto, que neste caso é a literatura, e
também por reconhecer os blogs como uma ferramenta de busca de novas leituras que
proporcionem, além do aprendizado, a satisfação de que a internet pode ser um meio
prático de adquirir e fornecer informações sobre a literatura. Outro fator importante é
haver relativamente poucos estudos sobre os blogs voltados a resenhas de livros e a
comentários sobre literatura.
Justifico a minha escolha porque vivemos um momento de transição sobre a
forma pela qual buscamos informações. Antigamente, utilizávamos a biblioteca,
emprestávamos alguns livros e perguntávamos aos nossos professores, amigos e
familiares. Hoje, além das bibliotecas, temos a internet, podemos utilizá-la como um
ambiente de pesquisa e, principalmente, como um local onde é possível produzir
informação e adquiri-la de uma forma prática, confortável e de acordo com os nossos
interesses. Assim temos a definição de Paz (2003, p. 6):
Os diversos usos da internet fazem com que novas ferramentas apareçam ou que antigas sejam renovadas, num ciclo contínuo de construção e apropriação social que caracteriza tudo o que seja tecnologia e que, muitas vezes, certamente, toma caminhos nunca pensados quando da sua criação. Assim, a tecnologia por ela mesma não iria muito longe se não fosse seu caráter social que pode lhe conferir a capacidade de adaptar-se às necessidades sociais, estendendo suas possibilidades de continuar existindo até que haja uma quebra de paradigma e uma inovação socialmente aceita a torne obsoleta. O uso reconstrói e ressignifica, a exemplo do weblog, que de simples registro de atividades realizadas num servidor tornou-se poderosa ferramenta integradora e reprodutora de relações sociais.
Há blogs que desenvolvem conteúdos a partir de um gosto pessoal pela
literatura, ou seja: o blogueiro, a partir de referências pessoais, define suas leituras e
apresenta na web, através de resenhas, suas opiniões sobre um livro ou um autor. Esta
pesquisa pretende traçar um panorama do conteúdo que esses blogueiros apreciam para,
dessa forma, contribuir para a tecnologia e a literatura, pois “estima-se que o número de
total de blogs, atualmente, gire em acima de meio milhão, de acordo com a revista
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Wired. E, no entanto, o fenômeno ainda é muito pouco estudado pelos pesquisadores”
(RECUERO, 2003, p.1).
O ano de 2002 representa um marco na história dos blogs, pois foi quando
começaram a surgir os blogs com características de publicações eletrônicas. As
primeiras formas de blog eram caracterizadas por diários virtuais, onde o tema principal
era a exposição pessoal, conforme definição de Vidal (2003, p.3):
Por volta de 2002, esta ferramenta começa a se tornar um fenômeno no Brasil, com intensa disseminação ao longo do ano de 2003... Começou-se a perceber que o blog não era somente um diário de adolescente, podendo ser tomado também como veículo para divulgação de conteúdos literários.
Ou seja, com a evolução das tecnologias e da comunicação, o formato de
publicação na web chamada de blog também é utilizada por pessoas que apreciam a
literatura e querem divulgá-las na internet, o que é chamado de publicações eletrônicas.
Assim define Recuero (2003, p. 1):
Publicações Eletrônicas – São weblogs que se destinam principalmente à informação. Trazem, como revistas eletrônicas, notícias, dicas e comentários sobre um determinado assunto, em geral o escopo do blog. Comentários pessoais são evitados, embora algumas vezes apareçam.
Assim, as questões que esta pesquisa pretende responder são: 1.) De que
forma os blogs comentam a literatura? 2.) Os textos apresentados em blogs possuem
características de análise e/ou crítica literária?
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Fundamentação Teórica
O que é blog
Blogs existem porque a internet também existe. Tudo começou em
1945 quando a Inglaterra e os Estados Unidos construíram grandes máquinas de
calcular que armazenavam programas e eram usadas pelos militares. A partir de 1970
que o conceito de microcomputadores começou a aparecer e, consequentemente, os
projetos com computadores em rede que, então, originou a internet (LEVY, 1999. p.32).
Sem que nenhuma instância dirigisse esse processo, as diferentes redes de computadores que se formaram desde o final dos anos 70 se juntaram umas às outras enquanto o número de pessoas e de computadores conectados à inter-rede começou a crescer de forma exponencial. (LEVY, 1999. p. 33)
Em meados de 1997 é que apareceram as primeiras publicações que
hoje chamamos de blogs. O maior salto só ocorreu em 1999, com a criação do Pitas, o
primeiro site do tipo “faça-seu-próprio-blog”, destinado ao internauta sem
conhecimentos de linguagem HTML. Logo depois, surgiu o Blogger, hoje a mais
popular ferramenta para a construção de blogs. (OLIVEIRA; FADEL; 2004, p.8). No
Brasil, os blogs literários começaram a se destacar por volta de 2003, quando
“começou-se a perceber que o blog não era somente um diário de adolescente, podendo
ser tomado também como veículo para divulgação de conteúdos literários.” (VIDAL;
AZEVEDO, 2008. p.3/4)
Os blogs podem ser feitos por qualquer tipo de computador, e também
por qualquer pessoa, com ou sem conhecimento de informática, pois eles são de fácil
acesso, formatação e publicação, ou seja, “as facilidades na confecção e na manutenção,
assim como as possibilidades que os autores dos blogs têm de publicar textos e imagens
sem restrições, contribuíram para a rápida popularização dessas páginas” (NICOLACI-
DA-COSTA, 2007, p.5).
Os blogs estão inseridos no que é chamado de “espaço virtual”,
também chamado de “comunidade virtual”. Este espaço não deve ser reconhecido como
algo sem estrutura ou superficial, no sentido da qualidade de quem contribui para esse
espaço, pois conforme Levy (1999, p. 130), “uma comunidade virtual não é irreal,
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imaginária ou ilusória, trata-se simplesmente de um coletivo mais ou menos permanente
que se organiza por meio do novo correio eletrônico mundial.”
Uma melhor definição para “comunidade virtual” é imaginar que
pessoas têm interesses em comum e quando há um encontro entre elas, acontece a troca
de experiências, ideias e informações. Por meio da internet as pessoas também podem
realizar esse encontro, gerando, assim, uma comunidade virtual. Ainda citando Levy
(1999, p. 130) temos o seguinte exemplo:
Os amantes da cozinha mexicana, os loucos pelo gato angorá, os fanáticos por alguma linguagem de programação ou os intérpretes apaixonados de Heidegger, antes dispersos pelo planeta, muitas vezes isolados ou ao menos sem contatos regulares entre si, dispõem agora de um lugar familiar de encontro e troca. Podemos, portanto, sustentar que as assim chamadas “comunidades virtuais” realizam de fato uma verdadeira atualização (no sentido da criação de um contato efetivo) de grupos humanos que eram apenas potenciais antes do surgimento do ciberespaço. A expressão “comunidade atual” seria, no fundo, muito mais adequada para descrever fenômenos de comunicação coletiva no ciberespaço do que “comunidade virtual”.
ALONGE (2006, p.10) informa que “blog” pode ser definido como
um canal de comunicação e que se disseminou rapidamente e atingiu níveis internos de
proliferação de debates e discursos sobre variados temas e questões. A característica é
ser mais uma prática comum e cotidiana existente na internet, ou, como informa LEVY
(1999, p. 17), o “ciberespaço”, a “cibercultura”:
O ciberespaço (...) é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial de computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo “cibercultura”, especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço.
Olhando o que temos em nossa volta: toda a tecnologia encontrada
diariamente em nossas rotinas, temos a sensação de uma grande revolução digital, mas
isso não é de agora, pois, conforme define CHARTIER apud NICOLACI-DA-COSTA
(2007, p.3), “desde a antiguidade grega e romana até a contemporaneidade, novas
tecnologias geraram diferentes suportes textuais que, por seu turno, deram origem a
diversas ‘revoluções da escrita e da leitura’”. Ou seja, o acontecimento “blog-
ciberespaço-cibercultura” não difere das outras descobertas de comunicação, não
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podemos relacioná-la como melhor ou pior, é apenas uma revolução natural do desejo
de aprimoramento de comunicação. Levy (1999, p.129) realiza a seguinte reflexão:
Em geral é um erro pensar as relações entre antigos e novos dispositivos de comunicação em termos de substituição. (...) O cinema não eliminou o teatro, deslocou-o. As pessoas continuam falando-se após a escrita, mas de outra forma. (...) O desenvolvimento das comunidades virtuais acompanhe, em geral, contatos e interações de todos os tipos. A imagem do indivíduo “isolado em frente á sua tela” é muito mais próxima do fantasma do que da pesquisa sociológica. Na realidade, os assinantes da Internet (estudantes, pesquisadores, universitários, executivos sempre em deslocamento, trabalhadores intelectuais independentes etc.) provavelmente viajam mais do que a média da população (...). Não nos deixemos, portanto, cair em armadilha de palavras.
Então, sem preconceitos sobre quem são e o que fazem as pessoas que
utilizam blogs como uma ferramenta de interação, comunicação e busca por outras
pessoas com os mesmos interesses culturais, partiremos para um maior entendimento
sobre como funciona a estrutura de um blog, não do ponto de vista da engenharia do
software, mas do ponto de vista de um simples usuário da rede mundial de
computadores, a internet.
Há vários formatos de blogs que podem ser definidos por três tipos:
diários eletrônicos, publicações eletrônicas e mistas. Os diários eletrônicos
compreendem os blogs pessoais, onde o tema é a vida do próprio blogueiro; publicações
eletrônicas são blogs com características mais específicas, sendo organizados por temas
que variam muito, como exemplo: blogs sobre ecologia, sobre estética, sobre cinema,
etc; publicações mistas são blogs que tratam tanto da vida do blogueiro, quanto algum
tema específico. Abaixo uma definição de RECUERO (2001, p.1) mais detalhada desses
três tipos:
Diários Eletrônicos – São os weblogs atualizados com pensamentos, fatos e ocorrências da vida pessoal de cada indivíduo, como diários. O escopo desta categoria de weblogs não é trazer informações ou notícias, mas simplesmente servir como um canal de expressão de seu autor. Nesta categoria classificamos 16 dos weblogs estudados. Publicações Eletrônicas – São weblogs que se destinam principalmente à informação. Trazem, como revistas eletrônicas, notícias, dicas e comentários sobre um determinado assunto, em geral o escopo do blog. Comentários pessoais são evitados, embora algumas vezes apareçam. Nesta categoria classificamos quatro dos weblogs estudados. Publicações Mistas – São aquelas que efetivamente misturam posts pessoais sobre a vida do autor e posts informativos, com notícias, dicas e comentários de acordo com o gosto pessoal.
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Além dessa classificação, os blogs também possuem uma estrutura
similar, independente do conteúdo explorado pelo blogueiro (termo utilizado para
designar pessoas que fazem blogs), que consistem em:
• Posts (textos): são apresentados de forma cronológica, onde o texto mais
atual fica no topo da página;
• Comentários: lnk que geralmente aparece abaixo de cada post, pode ser
utilizado por qualquer pessoa que visite o blog;
• Barra lateral: contém links definidos pelo blogueiro, como exemplo:
arquivos antigos do blog, redes socais, assuntos mais divulgados e
número de visitantes. Os links são textos ou imagens que ao serem
clicados levam o usuário a outra página da internet. (CONTI, 2012)
Abaixo um exemplo da página principal de um blog sobre literatura
com característica de publicação eletrônica:
Abaixo um exemplo do conteúdo revelado quando o usuário clica no
botão “comentários” que, basicamente, “oferece-se um espaço de fórum, onde os
internautas podem deixar seus comentários e, posteriormente, retornar para ver as
contribuições de outras pessoas” (Primo, 2003, p. 3).
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No Brasil há poucos estudos sobre os blogs nacionais, conforme
LEMOS (2012) “é possível pensar que tenhamos pouco mais de 2,5 milhões de Blogs
em língua portuguesa” que estão separados de acordo com as seguintes plataformas:
• Usando o Blogger (Blogspot.com) = 1.060.000 resultados
• Usando o WordPress.com = 884.000 resultados • Usando o Tumblr = 1.140.000 resultados
Agora, com os dados sobre a grandiosidade do mundo dos blogs,
posso, com mais tranquilidade adentrar nos caminhos de análise de blogs de um ponto
de vista menor, utilizando cinco blogs que têm me chamado atenção nesse longo
caminho que é a navegação na internet, pois:
Atualmente, a internet ocupa lugar realmente significativo na vida das pessoas, uma vez que é utilizada para executar múltiplas funções – pessoais, profissionais, relacionais, de lazer e de entretenimento, por exemplo. No entanto, é por
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disponibilizar informação livre (em princípio, não manipulada por interesses, como ocorre com os meios de comunicação em massa) e facilitar a comunicação que ganha cada vez mais adeptos (Angeli, 2011. p. 18 ).
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Resenha (um gênero textual) e a internet
“Gêneros textuais” é um termo antigo, pois Aristóteles (V e IV
A.C.), através de estudos sobre oratória, utilizava-o para definir “o que se considera a
primeira teoria sistemática sobre os gêneros e sobre a natureza do discurso” (Angeli
apud Marcuschi, 2008, p. 147). Hoje em dia, “para a grande maioria dos estudiosos, os
gêneros textuais são considerados como fenômenos históricos, relacionados à vida
cultural e social de um povo.” ( Dell’isola, 2009, p. 20 ).
Defende Nóbrega (2009, p.4) os mesmos conceitos utilizados por
Douglas Biber (1988), John Swales (1990.), Jean-Michel Adam (1990), JeanPaul
Bronckart (1999):
Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de construção teórica definida pela natureza linguística de sua composição {aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas}. Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção.
Basicamente, os gêneros textuais são todos os “tipos” de textos que
podem ser produzidos, como uma carta, um bilhete, uma redação, uma resenha. Esses
textos, através da internet, podem ser divulgados em chats, e-mail, vídeo-conferência,
lista de discussão, blogs, entre outros. (Marcuschi. 2008, p. 31)
Também Marcuschi (2008, p. 18) afirma que “a internet transmuta
de maneira bastante complexa gêneros existentes, desenvolve alguns realmente novos e
mescla vários outros.” A partir desse ponto, e conforme o objetivo da pesquisa, é
necessário adentrar nos gêneros textuais divulgados na internet para, ao final, encontrar
similaridades ou não nos textos digitais que divulgam literatura, que também são
chamados, pelos próprios blogueiros, de resenhas.
Resenhas, como gênero textual, “refere-se a textos materializados, orais
ou escritos, utilizados no dia a dia e que apresentam padrões sociocomunicativos
característicos definidos por sua função, conteúdo temático e finalidade” (Angeli apud
MARCUSCHI, 2008, p. 155).
A seguinte tabela, elaborada a partir do quadro mostrado por Angeli
apud Ibarro (2011) “com base em vários autores que apresenta uma proposta bastante
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abrangente de classificação dos gêneros quanto à situação discursiva e à capacidade de
linguagem”, define as resenhas:
RESENHAS DOMÍNIO DISCURSIVO
(situação discursiva)
CAPACIDADE DE
LINGUAGEM
• Discussão de problemas sociais controversos • Levantamento, sustentação, refutação e negociação de
tomada de posição
Argumentar
• Estabelecimento, construção e transmissão de realidades e saberes
Expor
O que temos é a seguinte mesclagem: a resenha, como um gênero
textual tradicional, inserido numa forma de veiculação digital (blog), “que permite a
produção fácil e simplificada de conteúdo livre em hipermídia. (Vidal, 2008, p.2)”. Em
outras palavras, o indivíduo usa o blog para expor sua opinião sobre uma obra literária,
através do gênero textual chamado de resenha.
Resenhar, segundo Fiorini (2007, p. 426), “significa fazer uma relação
das propriedades de um objeto, enumerar cuidadosamente seus aspectos relevantes,
descrever as circunstâncias que o envolvem”. E ainda, seguindo a sua definição, temos:
A resenha, como qualquer modalidade de discurso descritivo, nunca pode ser completa e exaustiva, já que são infinitas as propriedades e circunstâncias que envolvem o objeto descrito. O resenhador deve proceder seletivamente, filtrando apenas os aspectos pertinentes do objeto, isto é, apenas aquilo que é funcional em vista de uma intenção previamente definida.
Ou seja, o blogueiro, para divulgar a literatura em seu espaço virtual
(blog) deve estar atento aos moldes de uma resenha: argumentar, expor ou descrever os
aspectos relevantes de uma obra. E, conforme sua preferência, a resenha pode ser 1.)
descritiva (resenha-resumo) que se limita a resumir o conteúdo de um livro, sem
qualquer crítica ou julgamento de valor. Trata-se de um texto informativo, pois o
objetivo principal é informar o leitor; 2.) ou crítica que, além de resumir o objeto, faz
uma avaliação sobre ele, uma crítica, apontando os aspectos positivos e negativos.
Trata-se, portanto, de um texto de informação e de opinião, também denominado de
recensão crítica, conforme define Scarton (2002).
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Teoria da Literatura – Autor, obra, leitor e público
A teoria da literatura, assim como os gêneros textuais, também tiveram origem
na Grécia antiga, nos séculos X e IV A.C., por Aristóteles. Em conceitos gerais, a teoria
da literatura dessa época se voltava para a caracterização da obra literária e para um
conjunto de preceitos que, se seguidos à risca, fariam, da obra literária a ser construída,
perfeita. (Amora, 2007, p. 24).
O primeiro desenvolvimento considerável da teoria da literatura ocorreu com a
Renascença (XVI a XVIII), provocado pela literatura grega e latina, que tiveram de
defender os princípios de seu Classicismo, contra manifestações literárias medievais. E
assim, por necessidade da imposição das teorias literárias antigas, vários teóricos
surgiram, mostrando teorias diferentes das divulgadas por Aristóteles. A partir desse
período, a teoria da literatura passou por transformações de acordo com os novos estilos
literários que foram surgindo, como exemplo, o romance histórico, a novela sentimental
e os poemas de formas livres, já no século XIX. (Amora, 2007, p. 25)
Do século XX ao XXI, destacam-se duas correntes de estudos literários, uma de
caráter científico (objetivo) e outra de caráter filosófico (abstrato) que contribuem para
o que é chamado de evolução da literatura, quando, nos dias de hoje, utilizam-se as duas
correntes de estudo para se obter a máxima de uma análise literária. (Amora, 2007, p.
33)
Segundo Amora (2007, p.17), a teoria da literatura é um resultado específico de
um comportamento diante de fatos literários, o qual não se confunde com o
comportamento do leitor comum, do analista de obras literárias, do crítico e do
historiador da literatura. Em resumo, é um conjunto de análise que podem ser definidas
como: 1.) a teoria da literatura tem como objeto de estudo todos os fatos literários; 2.)
tem, diante desses fatos, um comportamento específico (procura neles o que tem de
mais geral); 3.) com esse geral visa elaborar um sistema de teorias.
Conforme afirma Amora (2007 p. 40/41) há 5 princípios que precisam estar bem
claros para a prática da teoria literária, são eles:
1. O fato literário é diferente de:
a. Tratamento analítico (Análise literária)
b. Tratamento crítico (Análise Crítica)
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c. Tratamento historiográfico (Historiografia Literária)
2. O estudo teórico do fato literário pode ser feito em 2 níveis de
conhecimento:
a. Nível científico
b. Nível filosófico
3. O estudo do fato literário deve ser feito a partir da análise dos
aspectos objetivos do mesmo fato, independente se a escolha de
análise for de nível filosófico.
4. A análise objetiva de um fato literário requer um método de
trabalho, que varia de acordo com o objeto a ser analisado. Os
métodos de trabalho são concebidos pela Análise Literária.
5. Teoria literária é uma disciplina em permanente progresso.
Se com esta pesquisa pretendo analisar a literatura divulgada em
blogs, é preciso que a Teoria Literária esteja clara quanto a sua composição, pois ajuda,
também, a classificar as resenhas encontradas em blogs como um objeto de divulgação.
Para isso, uso como alicerce a seguinte premissa:
(...) todo processo de comunicação pressupõe um comunicante, no caso o artista; um comunicado, ou seja, a obra; um comunicando, que é o público a que se dirige; graças a isso define-se o quarto elemento do processo, isto é, o seu efeito. (Candido, 2006, p. 31)
Ou seja, a teoria da literatura se desenvolve através de: 1.) O autor;
2.) A obra em si e 3.) O público.
O receptor da arte (o público), segundo Candido (2006, p. 45), está
automaticamente influenciado pela sociedade como um ciclo vicioso. Existem vários
“níveis” de públicos que identificam-se perante o próprio gosto cultural. E isso está
ligado diretamente a técnica do artista, os valores, a ideologia, etc... O público dá
sentido e realidade à obra, pois é o espelho da própria arte. Ou seja, o texto divulgado
no blog em formato de resenha também compõe a obra, pois expõem as ideias,
sentimentos e sensações do leitor, o público, o blogueiro. Mas, claro, conforme afirma
Amora (2007, p. 122), “a recriação do leitor pode ser ‘certa’ ou ‘errada’”.
Seguindo o raciocínio de Amora (2007, p. 18), diante de uma obra
literária, o comportamento do público pode ser de 2 modos: como leitor comum,
interessados apenas no prazer e na utilidade intelectual da leitura ou como profissional.
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Se o comportamento é como profissional, é necessário que o blogueiro defina um tipo
de estudo literário: análise, crítica, historiografia ou teoria literária. Após essa escolha, é
necessário saber qual o objeto de estudo, o método de trabalho e objetivos.
Abaixo um esquema que representa o raciocínio de Amora (2007, p.
19):
O blogueiro é o leitor de uma obra, e a sua apreciação é de acordo
com sua educação literária, o seu gosto e seu espírito crítico:
A recriação de uma obra literária pelo leitor é sempre feita em termos muito pessoais. Cada um de nós compreende, sente e julga uma obra de acordo com suas possibilidades de compreensão, com seu tipo sensibilidade e sua capacidade crítica. (Amora, 2007, p. 121)
Basicamente, então, temos a seguinte base: 1.) O autor; 2.) A obra
em si; 3.) O leitor, que, como esta pesquisa é sobre divulgação de literatura em blogs, é
o próprio blogueiro e 4.) O público que podemos classificar como o grupo de pessoas
que usam o sistema de comentários de um blog para opinar sobre a obra e a resenha.
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Análise Literária
Se o leitor pretende expor sua opinião literária num blog, há de nos
atentarmos às possibilidades de uma análise literária e assim, conforme Moisés (1988,
p. 25), “entende-se por princípios gerais de análise literária uma primeira tentativa de
sistematização e esclarecimento”, portanto, abaixo alguns conceitos do próprio Moises
(1988, p.36) a respeito das fases de uma análise literária:
1. Leitura de contato, descontraída, lúdica, para obter impressão ou ideia geral do
texto;
2. Releitura de análise (anotações das passagens que mais chamaram a atenção ou
que envolvem problemas de entendimento);
3. Consultas ao dicionário léxico;
4. Releitura para compreender o índice conotativo das palavras e expressões;
5. Apontar as constantes ou recorrências do texto;
6. Interpretar as recorrências do texto;
7. Consultar fontes secundárias, como história literária, cultural, biografia do autor,
a política, a sociologia, a psicologia, etc;
8. Organizar em ordem hierárquica de importância as ocorrências, com critérios
estatísticos e qualitativos e também a qualidade emocional, sentimental e
conceitual;
9. Compreender a visão do escritor quanto aos fatos;
10. Conclusão da análise e redação:
a. Evitar o descritivismo;
b. Convocar o texto para o interior da redação;
c. Organizar os pensamentos numa ordem lógica;
d. Interpretar sempre, estabelecer nexos, salientar relevos. Usar perguntar
“como?” e “por quê?”;
e. Redigir com clareza;
f. Conclusões plausíveis;
g. Concluir com juízo de totalidade.
Como esta pesquisa pretende analisar resenhas postadas em blogs que apliquem
ou não a teoria literária e a análise literária, e como a resenha, no caso, já é o produto
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final da análise literária, não será possível analisar item a item demonstrado acima,
porém, através dessa sistematização irei responder de que forma os blogs comentam a
literatura, se há profundidade nas análises e se os textos apresentados em blogs possuem
características de análise e/ou crítica literária.
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Metodologia
A princípio, foram consultados cinco blogs aleatórios e selecionados os últimos
4 posts publicados em cada um deles, utilizando como condição os posts sobre
romances escritos em língua portuguesa ou inglesa e relacionados a romances,
totalizando 20 resenhas. Abaixo os blogs, com os respectivos endereços e data da
primeira visita.
Nome do Blog Endereço Data de visita
Blog Meia Palavra http://Blog.meiapalavra.com.br 11/09/2012
Livrada http://Livrada.wordpress.com 25/09/2012
Devaneios Literários
http://Devaneiosliterarios.wordpress.com 25/09/2012
Livros Abertos http://Livrosabertos.com.br 24/09/2012
Rizzenhas http://Rizzenhas.com 24/09/2012
Blog Meia Palavra
O blog Meia Palavra é um blog coletivo, ou seja, escrito por mais de uma
pessoa. O conteúdo da página inicial é organizado por categorias e resumo dos posts,
conforme a imagem abaixo registrada em 30/09/12:
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Blog Livrada
O blog Livrada possui um único autor, os posts são mostrados inteiramente na
página inicial, do mais atual para os mais antigos, conforme imagem abaixo registrada
em 01/10/12:
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Blog Devaneios Literários
O blog Devaneios Literários possui uma autora, os posts são mostrados
inteiramente na página inicial, do mais atual para os mais antigos, conforme imagem
abaixo registrada em 01/10/12
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Blog Livros Abertos
O blog Livros Abertos também possui uma autora, os posts, geralmente longos,
ficam visíveis por completo na página inicial, , do mais atual para os mais antigos,
conforme imagem abaixo registrada em 01/10/12
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Blog Rizzenhas
Blog também formado por uma autora, com um resumo dos posts exibidos na
primeira página, do mais atual ao mais antigo, conforme imagem registrada em
10/10/12:
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Abaixo o nome do romance e autor das obras resenhadas nos blogs que foram
lidas por mim para esta pesquisa:
Nome do Blog Nome dos Posts Selecionados
Blog Meia Palavra
As aventuras de Huckleberry Finn (Mark Twain) O Torreão (Jeniffer Egan) Tieta do Agreste (Jorge Amado) Serena (Ian McEwan)
Livrada
Fantasma (Luiz Alfredo Garcia) Cinquenta Tons de Cinza (E.L. James) A Trama do Casamento (Jeffrey Eugenides) Meridiano de Sangue (Cormac McCarthy)
Devaneios Literários Assassinato no Expresso Oriente (Agatha Christie) O Natal de Peirot (Agatha Christie) Cai o Pano (Agatha Christie) Razão e Sensibilidade (Jane Austen)
Livros Abertos Sinuca embaixo d´água (Carol Bensimon) Complô contra a América (Philip Roth) O sentido e um fim (Julian Barnes)
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A memória de nossas memórias (Nicole Krauss) Rizzenhas Compaixão (Toni Morrison)
A brincadeira favorita (Leonard Cohen) Na praia (Ian McEwan) A culpa é das estrelas (John Green)
Os blogs serão analisados a fim de responder as questões propostas nesta
pesquisa: 1.) De que forma os blogs comentam a literatura? 2.) Os textos apresentados
em blogs possuem características de análise e/ou crítica literária?
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Análise de Dados
A leitura de vários posts dos blogs selecionados para esta pesquisa, me fez
perceber que as diversas resenhas de um mesmo blog possuem características em
comum, portanto, analisei detalhadamente uma resenha de cada blog, que é a forma
como os blogs comentam a literatura. Os blogs Meia Palavra, Livrada, Livros Abertos e
Rizzenhas apresentam a crítica literária, pois, as resenhas postadas nesses blogs contêm
diversas características que representam a análise literária. Já o blog Devaneios
Literários não possui. Vejamos:
A resenha do romance Serena, do escritor inglês Ian McEwan, postada no blog
Meia Palavra possui argumentos de crítica literária, pois há o uso de termos
característicos de uma análise, conforme o trecho que destaco:
Aqui entra a parte do plot twist, que vá lá, nem é tão surpreendente assim. Mas acho que o fundamental nessa nova informação que McEwan apresenta não é a de surpreender o leitor, mas de forçá-lo a revisar uma série de conceitos estabelecidos ao longo de toda a leitura. Comentei inicialmente sobre um jogo em que você só sabe as regras no fim porque foi essa a sensação que tive ao chegar no último capítulo, quando ficamos sabendo através de uma carta de Haley que ele sabia do segredo de Serena, e resolveu continuar com ela para observá-la e assim ter material para escrever um novo romance (que no caso é justamente o Serena que o leitor tem em mãos). Vou dar um exemplo de como essa informação faz toda a diferença na mecânica do romance citando uma conversa que tive com o Felippe (que já resenhou o livro). Como comentei antes, inicialmente estava bastante irritada com a personagem Serena, achava o fim quando ela comentava sobre como os seios dela eram desejáveis entre outras observações narcisísticas. Aí lembrei que o Felippe também não gostou dela e resolvi perguntar o motivo. Em dado momento em nossa conversa ele falou sobre a personagem: “eu particularmente adorei essas viagens, essa egotrip total, porque cria todo um espectro que ela não gosta de ninguém além dela, ela não chegar nas pessoas.“
“Ela não gosta de ninguém além dela”… Lembrei disso no exato momento em que Haley contava para Serena sobre o livro que escrevera baseado nela. Serena, a narradora, parecia uma narcisista apaixonada por si mesma. A questão é que há um outro narrador implícito, e é ele que ama Serena e a descreve tão apaixonadamente: Haley. Lembra muito o esquema que Umberto Eco faz em seu Seis Passeios Pelos Bosques da Ficção sobre A narrativa de Arthur Gordon Pym, de Edgar Allan Poe.
No texto é possível identificar a análise literária: o termo “plot twitst”, para
explicar que em determinado momento da história há uma grande reviravolta em relação
ao narrador da história, que só é conhecido realmente no final do livro; as referências a
outras obras, clássicos da literatura escritos por Umberto Eco e Edgard Allan Poe.
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Faço a mesma afirmação em relação ao blog Livrada, que na resenha do
romance “Meridiano e Sangue”, escrito por Cormac McCarthy, comenta sobre a
qualidade da escrita do autor e também sobre a tradução do livro, no qual cita Nietzche
(filósofo) e Turner (artista plástico). É mais uma resenha crítica com características de
teorias e análises literárias, pois faz referências externas e atenta-se à qualidade do texto
e à tradução:
Mas e a escrita, meus amigos? Preciso confessar que até então só tinha visto uma prosa tão maravilhosamente bem escrita assim em português, nunca em língua inglesa. Não li no original, mas a julgar pelo trabalho do tradutor de encontrar as palavras mais precisas possíveis, sei que o cara não ficou nos the book is on the table nesse romance (mérito do tradutor também, meus parabéns, senhor Cássio de Arantes Leite, quem quer que seja o senhor, tornou minha leitura muito mais aprazível). A prosa do McCarthy é densa, bonita, cada frase do juiz Holden parece sair de um aforismo do Nietzsche e cada descrição parece um quadro do Turner, bonito mesmo quando se está tratando de algo meia-boca. E me assombra a capacidade do cara de falar de detalhes específicos sobre como o sangue seca numa ferida, como uma bala atravessa a cabeça de um cavalo ou como uma faca raspa um osso. Não sei muito sobre o passado do autor, à exceção de seu ingresso nas forças armadas, mas tirando isso não sei se quero descobrir também.
O terceiro blog analisado e que possui características de crítica literária é o
Livros Abertos, pois na resenha do livro “Complô contra a América”, um romance do
escritor Philip Roth. A blogueira informa que o livro contém “uma costumeira
combinação de fatos autobiográficos e situações fictícias”, prática comum do escritor,
porém, no caso do livro “Complô contra a América”, há mais ambição. E inicia um
resumo da obra, incluindo as dificuldades do protagonista, “acontecimentos poderosos e
incontroláveis” e a revelação de que “o primeiro nome e o sobrenome, o núcleo familiar
e a cidade natal deste protagonista são absolutamente idênticos aos do autor” porém
logo nas primeiras páginas, fica claro que o livro é uma ficção pois,
“a partir de um único fato jamais ocorrido, tem início o que será uma distopia levemente absurda (...) que modifica inteiramente a história norte-americana da primeira metade do século 20.”
Há informações sobre o processo de criação do romance, as leituras e
inspirações que colaboraram para Philip Roth escrever essa obra que, segundo a
blogueira:
“é uma aula de escrita, de humanismo, de solidariedade — e também um retrato preocupante que nos mostra onde nossos temores e nossas paixões (amores ou ódios) podem nos levar.”
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A blogueira se preocupa em esclarecer também a vida do autor Philip Roth,
sendo esta uma característica de análise literária, pois procura compreender a visão do
escritor quanto aos fatos literários.
O quarto blog que contém características de crítica literária é o Rizzenhas, pois a
resenha do livro “A brincadeira favorita”, de Leonard Cohen recebe várias explicações
sobre sua forma e sobre a vida do autor. O início da resenha é a história de Leonard
Cohen e o próprio livro em questão. A blogueira conta que, sob ameaça de despejo,
“Cohen se viu obrigado a escrever no mínimo três páginas por dia de seu primeiro
romance”. E explica que a obra é um romance de formação, pois o personagem
principal tem sua vida contada desde a infância até os primeiros anos da vida adulta.
Destaco o seguinte trecho, que evidencia a análise crítica da blogueira, pois há
informações sobre o narrador, a troca de voz narrativa, uma informação importante da
obra e vista por quem possui um olhar mais atento à leitura:
O narrador de A brincadeira favorita constantemente se confunde com o seu protagonista. Parece que desde o início quem narra é o próprio Breavman, como se ele tratasse suas lembranças como as de outra pessoa. Nos momentos mais intensos, que despertaram mais emoções, a figura do narrador é deixada de lado e ele assume o relato desses relacionamentos, com uma troca de voz em meio à narrativa ou através de suas cartas e diários. Leonard Cohen faz seu personagem incorporar a imagem do artista que vê poesia, arte e beleza em tudo.
O blog que também foi analisado é o Devaneios Literários, porém não contém
estruturas suficientes para que seja considerado um blog que atinge as teorias de
literatura e, assim, seja classificado como um blog que comenta a literatura. As resenhas
limitam-se à opinião da leitora (blogueira) sobre gostar ou não de livros. Não há
domínio discursivo, sendo o blog de um leitor comum.
Conforme acima, procurei analisar três pontos: os blogs como resenha, como
análise literária e como crítica literária. Como gênero textual – resenha, os blogs Meia
Palavra, Livrada, Rizzenhas e Livros Abertos apresentam características de resenha
crítica, pois além de resumir o livro, há uma avaliação sobre ele. Já o blog Devaneios
Literários, classifico como resenha-resumo, pois os textos analisados ficam somente na
opinião pessoal da blogueira quanto à apreciação do livro ou não.
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Considerações Finais
Quando inicie esta pesquisa, não imaginei que seria tão prazeroso construir a
base para chegar até aqui. Desde o projeto de pesquisa até essas próprias conclusões
finais, o que mais pude perceber é o processo de construção do pensamento acadêmico e
esse é o maior presente que a monografia proporciona. O melhor momento, sem dúvida,
desta pesquisa foi a consolidação da fundamentação teórica, poder enxergar a teoria
literária, o autor, o leitor, a obra e o público, numa ferramenta tecnológica nova, que é o
blog, foi de extrema importância para mim, pois acredito muito no poder da internet,
por sua facilidade de acesso e por todos os componentes que definem o meio virtual
como cibercultura. Há cultura acontecendo na rede mundial de computadores, há
pessoas engajadas em comentar a literatura, em querer entendê-la. E essas pessoas são
simples apreciadoras de livros que possuem a delicadeza de ver a literatura não apenas
como livros numa prateleira e sim como um objeto de arte, onde é possível aprender,
entender e perceber melhor a humanidade.
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Referências
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