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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS
CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA
CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A LOGÍSTICA MILITAR E O SERVIÇO DE INTENDÊNCIA:UMA ANÁLISE DO PROGRAMA EXCELÊNCIA GERENCIAL DO
EXÉRCITO BRASILEIRO
DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DEADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS PARA OBTENÇÃO DO GRAUDE MESTRE
MÁRCIO ALEXANDRE DE LIMA BRAZ
Rio de Janeiro - 2004
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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS
CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA
CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A LOGÍSTICA MILITAR E O SERVIÇO DE INTENDÊNCIA:UMA ANÁLISE DO PROGRAMA EXCELÊNCIA GERENCIAL DO
EXÉRCITO BRASILEIRO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA PORMÁRCIO ALEXANDRE DE LIMA BRAZ
E APROVADA EM
PELA COMISSÃO EXAMINADORA
______________________________________________________PAULO EMÍLIO MATOS MARTINS
Doutor em Administração
______________________________________________________ALEXANDRE LINHARESDoutor em Pesquisa Operacional
______________________________________________________ALAELSON VIEIRA GOMES
Doutor em Engenharia de Materiais
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Ao querido amigo e brilhante alunoValdeir, que muito me orgulho de terconhecido e que tão precocementenos deixou.
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AGRADECIMENTOS
Ao Professor Paulo Emílio Matos Martins, pela inestimável orientação na elaboração
deste trabalho.
À Professora Deborah Moraes Zouain, pelo apoio e incentivo demonstrados nacoordenação do Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa.
A Nilsa e Francisco, por terem se preocupado, antes de tudo, com minha saúde e minha
felicidade.
A Sandra Lopes de Lima, pela companhia e ajuda espontânea na formatação e revisão
do texto.
A Marcelo, Michelle, Alessandra, Taís, Breno, Marlon e Caio, pela alegria motivadora
que provaram só o ambiente familiar poder proporcionar.
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RESUMO
Este estudo tem como objetivo analisar alguns dos programas e medidas
adotados pelo Exército Brasileiro, bem como suas eventuais contribuições, para a
modernização da sua Logística. Para isso, enfoca um dos principais instrumentos de
apoio logístico da Força, o Serviço de Intendência, abordando algumas das funções
exercidas por este Serviço que configuram a atual concepção da Logística Militar
Terrestre. Esse processo de modernização se desenvolve principalmente por meio de um
programa de excelência estabelecido para todo o Exército que visa, dentre outros
fatores, a adoção de práticas gerenciais que conduzam a um melhor desempenhooperacional e à melhoria da qualidade dos produtos e serviços da Instituição: o
Programa Excelência Gerencial do Exército Brasileiro (PEG-EB). Neste ensaio, a
Logística é considerada peça-chave do sucesso organizacional e um dos principais
fatores de diferencial competitivo das empresas, relacionado diretamente à redução de
custos e ao aumento do nível de serviço prestado aos clientes. Para a Força Terrestre, o
aperfeiçoamento e atualização da doutrina logística despontam como prioridade para a
consecução dos seus objetivos, enfatizando principalmente a necessidade da integraçãode suas atividades logísticas, a fim de otimizar os recursos disponíveis, reduzir custos e
priorizar suas ações. Na busca de uma abordagem integrada para sua logística, o
Exército criou um órgão central com a incumbência de coordenar toda a cadeia de
suprimento de suas Unidades: o Departamento Logístico (D Log). Este órgão coordena,
de forma centralizada, grande parte das funções logísticas de emprego da Força. Conclui
afirmando que o desenvolvimento dessa mentalidade de integração interna das
atividades vai permitir uma racionalização nos processos de gestão, um acréscimo nos
índices de disponibilidade de material das organizações militares e, conseqüentemente,
um ganho de operacionalidade para o Exército Brasileiro.
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ABSTRACT
This study has the purpose to analyze some of the programs and measures
adopted by the Brazilian Army, as well as eventual contributions, for the modernization
of its Logistics. Thus, focus one of the main devices of logistic support of the Forces,
the Quartermaster, approaching some roles performed by this Service that comprises the
current conception of the Army Logistics. This modernization process is mainly
developed through a excellence program implemented for the whole Army aiming,
amongst other factors, the adoption of managerial practices leading to a betteroperational performance and to the improvement of the Institution' services and
products quality: the Managerial Excellence Program of the Brazilian Army (PEG-EB).
Here, the Logistics is deemed as key part for the organizational success and one of the
main factors of competitive differential of companies, directly related to costs reduction
and increase in the level of services provided for the customers. For the Army, the
improvement and update of logistic doctrine emerge as priority for achieving the goals,
especially focusing the need to integrated the logistics activities, in order to optimize theresources available, reduce costs and prioritize its actions. While searching for an
integrated approach for its logistics, the Army created a central body with the
responsibility to coordinate all the supply chain of its Units: the Logistic Department (D
Log). This body centrally coordinates a major segment of logistics functions in the
Forces. The conclusion states that the development of this mentality about the internal
integration of activities will allow a rationalization of the management process,
increasing the indexes of availability of material from military organizations, and
consequently a serviceability gain for the Brazilian Army.
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LISTA DE QUADRO
Quadro 5.1 – Instalações do 1º D Sup por classe de suprimento................................... 75
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LISTA DE GRÁFICO
Gráfico 5.1 - Gráfico Estatístico de viaturas do ECT..................................................... 78
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LISTA DE FIGURAS
Figura 3.1 – Evolução do Pensamento Logístico........................................................... 37
Figura 3.2 – A integração logística ................................................................................ 42
Figura 3.3 – A integração da cadeia de suprimentos...................................................... 43
Figura 4.1 – Concepção Sistêmica do Exército.............................................................. 47
Figura 5.1 – Subsistemas do Sistema Logístico ............................................................. 66
Figura 6.1 – Fluxo de ações do modelo de implantação do PEG-EB............................. 84
Figura 6.2 – As Bases do SIMATEx............................................................................... 93
Figura 7.1 – Organograma do D Log............................................................................. 101
Figura 7.2 – Organograma da Diretoria de Subsistência............................................... 103
Figura 7.3 – Organograma da D T Mob........................................................................ 104
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SUMÁRIO
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO............................................................................................................. 11
CAPÍTULO 2
O PROBLEMA E A METODOLOGIA...................................................................... 18
2.1 O PROBLEMA....................................................................................................... 182.1.1 Objetivos................................................................................................... 19 2.1.2 Delimitação do Estudo............................................................................. 19 2.1.3 Relevância do estudo................................................................................. 20
2.2 A METODOLOGIA................................................................................................. 222.2.1 Tipo de Pesquisa...................................................................................... 22 2.2.2 Coleta de Dados........................................................................................ 22 2.2.3 Tratamento dos Dados............................................................................ 23 2.2.4 Limitações do Método............................................................................. 24
CAPÍTULO 3
LOGÍSTICA: O ESTADO DA ARTE.........................................................................26
3.1 ORIGEM DA LOGÍSTICA........................................................................................ 263.1.1 Impacto dos fenômenos econômicos e tecnológicos na logística.......... 30
3.2 A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO LOGÍSTICO........................................................ 36
3.3 LOGÍSTICA I NTEGRADA........................................................................................ 403.3.1 Porque a logística precisa ser integrada................................................. 44
CAPÍTULO 4
BREVE HISTÓRICO DO SERVIÇO DE INTENDÊNCIA DO EXÉRCITOBRASILEIRO............................................................................................................... 46
4.1 O EXÉRCITO BRASILEIRO.................................................................................... 464.2 A LOGÍSTICA MILITAR TERRESTRE..................................................................... 494.3 O SERVIÇO DE I NTENDÊNCIA DO EXÉRCITO BRASILEIRO..................................... 53
4.3.1 A origem da Intendência......................................................................... 53 4.3.2 Evolução histórica do Serviço de Intendência....................................... 56
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CAPÍTULO 5
CONCEPÇÃO DA LOGÍSITCA MILITAR TERRESTRE E AS FUNÇÕESLOGÍSTICAS DO SERVIÇO DE INTENDÊNCIA................................................... 64
5.1 CONCEPÇÃO DA LOGÍSTICA MILITAR TERRESTRE: LOGÍSTICA ORGANIZACIONAL E LOGÍSTICA OPERACIONAL.................................................................................. 65
5.2 FUNÇÕES LOGÍSTICAS........................................................................................... 695.2.1 A Função Logística Suprimento.............................................................. 71
5.2.2 A Função Logística Transporte.............................................................. 76
CAPÍTULO 6
MODERNIZAÇÃO DA LOGÍSTICA MILITAR TERRESTRE............................ 79
6.1 O PROGRAMA EXCELÊNCIA GERENCIAL DO EXÉRCITO BRASILEIRO.................... 816.1.1 O Modelo de Gestão do PEG-EB..............................................................83
6.2 NOVA SISTEMÁTICA DE CATALOGAÇÃO DO EXÉRCITO......................................... 916.2.1 Concepção do Sistema de Material do Exército (SIMATEx)............... 926.2.2 O Desenvolvimento do SIMATEX........................................................... 95
CAPÍTULO 7
LOGÍSTICA INTEGRADA NO EXÉRCITO BRAILEIRO: A CRIAÇÃO DODEPARTAMENTO LOGÍSTICO.............................................................................. 96
7.1 O DEPARTAMENTO LOGÍSTICO............................................................................ 987.1.1 O Processo de Implantação do DLog...................................,................... 98 7.1.2 Organização e Atribuições do DLog...................................................... 100 7.1.3 A Diretoria de Suprimento e a Diretoria de Transporte e
Mobilização do D Log............................................................................ 1027.2 IMPACTOS DA IMPLANTAÇÃO DO D LOG NO EXÉRCITO E NO SERVIÇO DE
I NTENDÊNCIA..................................................................................................... 105
CAPÍTULO 8
CONCLUSÃO..............................................................................................................107
BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................... 113
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CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
Este trabalho trata da Logística Militar, uma área da Administração que, a
semelhança do que ocorre nas organizações empresariais, atualmente absorve grande
parte das atividades de diversas Unidades do Exército Brasileiro. Uma área que é
essencial no atendimento aos clientes e se tornou decisiva para a estratégia
organizacional. Ela tem recebido ao longo dos anos várias denominações, tais como
distribuição física, administração de materiais e serviços, gerenciamento dos transportes
e da cadeia de suprimentos, dentre muitas outras. As atividades a serem gerenciadas na
Logística podem incluir todas ou parte das seguintes funções: transportes, controle e
manutenção de estoques, suprimento, processamento de pedidos, aquisição,
armazenagem, manuseio de materiais e padrões de serviços ao cliente.
Em uma organização como um todo e em todas as suas áreas específicas, o
meio de alcance dos seus objetivos é o processo administrativo de planejamento,
organização, direção, coordenação e controle, desenvolvido por quase todos os autores
clássicos (FAYOL, 1950; GULICK e URWICK, 1937). Dentre as áreas específicas, nos
últimos tempos, a área de logística vem ganhando destaque pela movimentação de
produtos tangíveis e intangíveis dentro e entre organizações. É pauta atualmente das
principais discussões empresariais e acadêmicas, visto que é peça-chave do sucesso
organizacional. Não se trata apenas de uma fase do processo administrativo, mas de
diferencial competitivo, relacionado diretamente à redução de custos e ao aumento do
nível de serviço prestado aos clientes (CHRISTOPHER, 1997; NOVAES, 2001;
RIBEIRO, 2003).
Inúmeros foram os conceitos referentes ao termo “logística” ao longo da
história e muitas são as definições do vocábulo, certamente todas elas sujeitas à crítica.
E é normal que seja assim, pois a logística abrange um grande número de atividades,
com características bem diferentes umas das outras, de maneira que tentar colocá-las
numa só chave e daí estabelecer uma definição para o termo, não é tarefa fácil.
Uma das definições, segundo Ferreira (2004, p. 1225), é a seguinte: “parte da
arte da guerra que trata do planejamento e da realização de projeto e desenvolvimento,
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obtenção, armazenamento, transporte, distribuição, reparação, manutenção e evacuação
de material para fins operativos e administrativos (...)”. Esta definição de dicionário põe
a logística no contexto militar. No entanto, tratá-la de forma mais ampla, nos mais
diversos ramos de atividades, além dos militares, seria fundamental para o entendimento
daquilo que Martins (2004) denominou de pensamento logístico1. A evolução deste
pensamento será abordada e analisada no capítulo 3, descrevendo o termo desde sua
origem, até os mais modernos conceitos existentes na literatura pesquisada.
Seria muito provável que, caso houvesse a conveniência das pessoas viverem
próximas dos lugares em que estivessem as matérias-primas e a produção de bens e
serviços, a logística seria esvaziada de sua importância. Todavia, o fenômeno da
globalização gerou, e gera cada vez mais, o rompimento das fronteiras entre países,
fazendo com que fornecedores e consumidores estejam em lugares muito distantes.
Assim, uma região especializa-se na produção daquilo que tiver maior
vantagem econômica, fato que cria uma significativa distância de tempo e espaço entre
matérias-primas/produção e entre produção/consumo.
A importância da logística, portanto, está na sua missão de aproximar as
mercadorias e os serviços onde se encontram os consumidores, no instante em que são buscados e nas condições que satisfaçam ao adquirente, construindo uma relação custo/
benefício satisfatória.
Atualmente, as intensas e rápidas mudanças que atuam no ambiente das
organizações já são rotinas. A busca por novas informações, em tempo real, é o objetivo
de todas as corporações, que não desejam ser surpreendidas por inovações de seus
concorrentes.
Algo parecido acontece nas organizações militares. A principal diferença seria
o fato de que estas, em princípio, não possuem concorrentes e não estão sujeitas a fechar
por falência administrativa, como ocorre com as organizações empresariais. Por outro
lado, a conjuntura nacional de escassez de recursos sugere a necessidade de uma
atualização ou de adaptação dos meios de administração de material com a finalidade de
continuar cumprindo suas missões com cada vez menos recursos disponíveis.
1 O professor Paulo Emílio Matos Martins, orientador deste trabalho, ressaltou, em depoimento a este
autor, a importância do estado da evolução do pensamento logístico para melhor compreensão da arte.
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Estratégia e a Tática, o fator determinante das vitórias e
derrotas, evidenciando que o resultado final das operações
será claramente influenciado por ela e pela capacidade de
melhor executá-la”. (BRASIL, 2002, p.1-1)
Neiva Filho (2001, p. 6) destaca também a importância da logística no curso
das ações militares.
“... a logística poderá tornar-se uma séria limitação às
operações se não tiver capacidade de atender às necessidades
dos sistemas operacionais. Por outro lado, será um
multiplicador do poder de combate e da mobilidade dos
exércitos, se gerida de forma eficaz. O gerenciamento da
logística deverá ser encarado como um dos grandes fatores de
eficiência da Força Terrestre tanto em tempo de paz, quanto
na guerra”.
Com base nesse pensamento, a partir do início dos anos 90, a doutrina de
logística foi assunto de estudos continuados no Estado-Maior do Exército (EME) e nos
estabelecimentos de ensino do Exército, particularmente na Escola de Aperfeiçoamentode Oficiais (EsAO) e na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), que
freqüentemente sugerem atualizações nos manuais que tratam de logística. Da mesma
forma, notou-se a necessidade de estruturar a logística da Força Terrestre em tempo de
paz, o mais próximo do exigido em tempo de guerra. A partir daí, o Exército Brasileiro
deu um novo enfoque sistêmico à sua logística após a aprovação do Manual de
Campanha Logística Militar Terrestre, em 1993.
Para a Força, a Logística Militar Terrestre passou a ser assim definida:“conjunto de atividades relativas à previsão e à provisão de meios necessários ao
funcionamento organizacional do Exército e às operações da Força Terrestre”.
(BRASIL, 2002, p.2-1).
A Logística Militar Terrestre e o seu principal instrumento operacional - o
Serviço de Intendência - serão abordadas no capítulo 4, que apresenta algumas
informações relevantes sobre a “Rainha da Logística” – nome pelo qual é conhecida a
Intendência - existentes na literatura em geral, destacando a posição deste Serviço noâmbito da Logística e descrevendo sobre sua organização e o emprego nas atividades
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logísticas do Exército.
Ainda no início deste século, a Logística Militar Terrestre continua sofrendo
transformações expressivas, identificadas por mudanças na estrutura organizacional em
diferentes níveis, pela adoção de concepções doutrinárias de emprego e pela preparação
adequada do homem, tudo isso para se ajustar às exigências do mundo moderno,
caracterizado pelo dinamismo, rapidez e flexibilidade.
Uma alteração doutrinária de forte impacto na atual concepção da logística
militar diz respeito às atividades de emprego do Exército. Estas, que antes eram regidas
por serviços técnicos, como os de Material Bélico e Intendência, passaram a ser
organizadas por funções logísticas, tais como: Recursos Humanos, Saúde, Manutenção,
Suprimento e Transporte. O capítulo 5 aborda principalmente as funções Suprimento e
Transporte, por serem entendidas como aquelas de maior relevância para o Serviço de
Intendência, desenvolvidas a partir do novo enfoque sistêmico dado pelo Exército à sua
logística. Apresenta também comentários de visitas realizadas em duas das mais
importantes Unidades do Exército Brasileiro, o 1º Depósito de Suprimento e o
Estabelecimento Central de Transportes, específicas das respectivas funções logísticas
em destaque.
Certamente, a Logística está direta ou indiretamente presente entre as
prioridades do Exército para a consecução dos seus objetivos. Em meio a crises
econômicas regionais e mundiais, os recursos materiais mostram-se cada vez mais
escassos e a compatibilidade entre necessidade e disponibilidade pende por vezes para o
lado das necessidades. Por isso, a aplicação de estratégias de melhoria de gestão se faz
cada vez mais necessária.
Buscando manter-se atualizado em suas práticas de gestão, o Exércitoestabeleceu como prioridade a implementação de um novo programa, denominado
Programa Excelência Gerencial do Exército Brasileiro (PEG-EB), visando alinhar e
coordenar as diversas iniciativas de melhoria da gestão já vigentes em algumas
organizações militares, bem como conciliar suas práticas de gestão com as empregadas
por várias organizações empresariais e públicas do país.
Um atendimento de excelência mostra-se fundamental para o fiel cumprimento
da missão de uma unidade logística, já que o contato com o elemento apoiado éconstante. A excelência gerencial irá se caracterizar, principalmente, pela melhoria da
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gestão que decorra na otimização de resultados, seja do emprego de recursos, ou dos
processos, produtos e serviços a cargo da Instituição.
Além do Programa Excelência Gerencial, será apresentado no capítulo 6 outro
fator preponderante para o avanço da logística militar terrestre nos últimos anos: a
implantação do Sistema de Material do Exército (SIMATEx), um moderno sistema de
controle de material responsável por obter dados a respeito de qualquer tipo de material
existente na Força. O SIMATEx é uma importante ferramenta na Logística da Força
para a busca da excelência gerencial e, principalmente, dos seus principais objetivos: a
melhoria do desempenho organizacional e a satisfação dos seus clientes.
Vale destacar, ainda, que a operacionalização da logística por atividades
funcionais em detrimento dos serviços técnicos representa apenas um dos aspectos da
logística militar moderna. Seu novo papel, mais amplo, é o da integração e coordenação.
Certamente, o emprego dos serviços técnicos de forma isolada, sem levar em conta o
processo no qual estão inseridos e a interdependência que há entre eles, aumentava
custos e restringia o apoio logístico às tropas. Somente uma abordagem integrada para a
logística viria a minimizar estas falhas, permitindo que o processo logístico seja visto
como um canal de atividades interrelacionadas.
O capítulo 7 apresenta como a abordagem da Logística Integrada, utilizada por
muitas organizações empresariais, está sendo aplicada no Exército. No entendimento
deste autor, o Departamento Logístico (D Log), criado em janeiro de 2001, é o mais
importante vetor do Exército Brasileiro na busca de uma abordagem integrada para sua
logística. Ele é o órgão de direção setorial responsável pela logística do material de
todas as organizações militares, cuja principal finalidade é coordenar, de forma
centralizada, grande parte das funções logísticas relativas ao emprego da Força
Terrestre.
Com a criação do D Log, as diretorias dos extintos Departamento Geral de
Serviços (DGS) e Departamento de Material Bélico (DMB), que antes eram organizadas
por serviços técnicos, passaram também a ser organizadas por funções logísticas, dando
origem a diretorias como as de Manutenção, Suprimento e Transporte/Mobilização,
dentre outras. Esta mudança estrutural gerou significativas mudanças nas ligações das
organizações militares com os diversos níveis de apoio logístico do Exército.
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A questão principal da abordagem integrada é fazer com que cada unidade
técnica, seja a Intendência, o Material Bélico, ou a própria organização militar, de
qualquer Arma, não seja vista como uma peça isolada, mas como um elo crítico para o
sucesso de toda a cadeia. O desempenho de cada unidade técnica continua importante,
mas jamais deve se sobrepor ao trabalho em equipe e à integração. Esse é um dos
pensamentos que encerra o presente estudo, no capítulo 8, onde se apresentam as
conclusões.
Ao final deste capítulo introdutório, oportuno se faz o pensamento de José
Antonio Valle Antunes Júnior, gerente da Produttare Consultores Associados e
professor de Ciências Econômicas da Unisinos (apud Ballou, 2001, p.7):
A aplicação de conceitos sem que estejam disponíveis as
ferramentas específicas ou o uso de ferramentas sem o
entendimento conceitual das questões da logística tende a
conduzir, respectivamente, ao conhecimento estéril ou a
tentativas infrutíferas de resolver problemas dessa área.
Daí a importância dos profissionais de logística, sejam do governo, de
universidades e de empresas, apresentarem suas experiências, a fim de contribuir para oenriquecimento da arte e para o desenvolvimento integrado das organizações que atuam
no Brasil. É bem verdade que os conceitos de logística já são divulgados a mais de uma
década no país, entretanto, sua aplicação pode ser ainda considerada extremamente
limitada.
Como tudo em logística, os assuntos abordados neste trabalho não são
exaustivos, nem definitivos. Tudo muda muito rapidamente nessa área. Fica assim
lançado, desde já, o incentivo para que outros colegas consolidem novas idéias e seusavanços.
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CAPÍTULO 2
O PROBLEMA E A METODOLOGIA
“Conhecimento é construção e construção é
processo que admite múltiplos conteúdos e
variados enfoques”.
Sylvia Vergara
O objetivo deste capítulo é apresentar ao leitor o problema a ser pesquisado, osobjetivos a serem alcançados para respondê-lo, a delimitação e a relevância do estudo.
Apresenta também a metodologia utilizada para buscar atingir os objetivos propostos.
2.1 O PROBLEMA
A Logística Militar Terrestre, integrante do sistema Exército, está sofrendo
transformações significativas, identificadas por mudanças na estrutura organizacional
em diferentes níveis, pela adoção de concepções doutrinárias de emprego e pela
preparação adequada do homem. A nova concepção do apoio logístico da Força
Terrestre traz, em sua essência, os aspectos genéricos de uma estrutura logística bastante
realista, voltada para a utilização das organizações militares já existentes, para a
compatibilização com os possíveis cenários de emprego do Exército e para a
mobilização.
O Programa Excelência Gerencial do Exército Brasileiro (PEG-EB) foi
estabelecido com o intuito promover práticas gerenciais que conduzam a um melhor
desempenho operacional e à melhoria da qualidade dos produtos e serviços da
Instituição, tendo por base a capacitação de seus recursos humanos, o gerenciamento de
projetos e o permanente estímulo para motivação de todos os integrantes do Exército.
O Serviço de Intendência - instrumento da logística militar voltado
principalmente para as atividades de suprimento e transporte - participa ativamente do
processo de modernização do Exército Brasileiro, quer com ações desenvolvidas no
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sistema econômico-financeiro, quer executando atividades inerentes ao sistema
logístico.
Nesse sentido, formula-se a seguinte questão: A partir da análise do Programa
Excelência Gerencial do Exército Brasileiro e dos modelos de gerenciamento logístico
praticado pelas organizações, quais os principais vetores que contribuem para a
modernização da Logística Militar Terrestre, notadamente aqueles relativos ao Serviço
de Intendência?
2.1.1 Objetivos
O objetivo final deste estudo é analisar, tendo por base o Programa Excelência
Gerencial do Exército Brasileiro, algumas das medidas adotadas pela Força, bem como
suas eventuais contribuições, para o processo de modernização do seu sistema logístico,
principalmente aquelas relativas ao Serviço de Intendência.
Objetivos Intermediários foram levantados como passos para atingir o objetivo
final, os quais são:
!
Descrever a origem da Logística e analisar a evolução do pensamento teóricosobre logística militar;
! Descrever a origem do Serviço de Intendência do Exército Brasileiro, bem como
levantar aspectos de importância histórica que determinaram a posição e o valor
da Intendência no âmbito da Logística;
! Analisar como está estruturado o Programa Excelência Gerencial - EB,
implementado a partir de 2003, bem como suas implicações para a atual
concepção da Logística Militar Terrestre e sua eficácia.
2.1.2 Delimitação do estudo
Diante da extensão do assunto a ser pesquisado, bem como das inúmeras
variáveis que apresenta, este estudo ficará restrito à análise da logística militar no
Exército Brasileiro. Tendo em vista as peculiaridades e as características de cada Força
Armada, existem diferenças entre a logística da Força Aérea, Naval e Terrestre, no que
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diz respeito à identificação das funções e atividades logísticas. Assim, não serão objeto
deste estudo as logísticas militares dessas Forças.
O sistema logístico militar tem o objetivo de prever, prover e manter os meios
em recursos humanos, recursos materiais e serviços, desempenhando todas as funções
logísticas necessárias de acordo com a situação vigente, de paz, crise ou guerra
(BRASIL, M.D., 2004). A fim de salvaguardar o caráter sigiloso das operações
militares, serão estudadas apenas atividades logísticas em tempo de paz, de caráter
ostensivo e inerentes a qualquer organização que emprega atividades logísticas em seu
funcionamento. As informações contidas neste trabalho foram selecionadas a partir de
ampla pesquisa documental e bibliográfica, realizada em livros, revistas, sites e outras
fontes acessíveis ao público em geral.
Por fim, cabe ressaltar que as atividades logísticas do Exército Brasileiro são
exercidas, principalmente, pelo Serviço de Intendência, pelo Quadro de Material Bélico
e pelo Serviço de Saúde. No entanto, será dada ênfase aos assuntos relativos ao
funcionamento, organização e emprego do Serviço de Intendência, por ser considerado
este o instrumento principal de execução das principais atividades logísticas da Força
Terrestre.
2.1.3 Relevância do estudo
O mundo assiste atento, ao avançar do novo milênio, às rápidas mudanças
ambientais que desafiam as organizações, além da tradicional diferenciação dos
produtos solicitada pelos próprios clientes, das especificações complexas de produto e
dos volumes reduzidos de produção. Tudo isso, fazendo frente à internacionalização da
concorrência, a uma sociedade informatizada, à necessidade de respeitar o ambiente eao caráter social das suas próprias atividades. Disso decorrem reestruturações radicais
nas organizações, novas formas de organização e novos modelos de gerenciamento.
A logística, em tudo isso, desponta como a atividade que pode criar a diferença
com os concorrentes e oferecer uma vantagem competitiva para a organização. Para as
organizações militares, o assunto apresenta significativa relevância, na medida que um
sistema logístico militar integra duas realidades extremamente complexas: homem e
instituição. Para essas organizações, isso exige a compreensão de fatores comodesempenho, valorização das pessoas, melhoria e aprendizado contínuos, e satisfação do
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público interno, entendidos aqui como características fundamentais para a modernização
de sua logística.
Para as forças militares, a logística adquiriu, pela sua destacada atuação na
solução de complexos problemas de apoio, posição de destaque nas operações, passando
a ser considerada como um dos “fundamentos da arte da guerra”. Em várias
oportunidades, foi a logística, mais do que a estratégia e a tática, o fator determinante de
vitórias e derrotas, evidenciando que o resultado final das operações é claramente
influenciado por ela e pela capacidade de melhor executá-la.
Para a Administração Pública, o presente estudo apresenta significativa
relevância, na medida que um sistema logístico militar integra duas realidades
extremamente complexas: homem e instituição. Para essas organizações, isso exige a
compreensão de fatores como desempenho, valorização das pessoas, melhoria e
aprendizado contínuos e satisfação do público interno, entendidos aqui como
características fundamentais para a modernização de sua logística.
A importância da logística e as lições que ela ensina são milenares e
contundentes. Perto da totalidade dos grandes chefes militares que não seguiram seus
princípios foram conduzidos ao fracasso, estando a História, inclusive a brasileira,repleta de exemplos. O país precisa de um Exército preparado e adestrado para cumprir
sua missão constitucional. Nessa missão, o profissional militar deverá estar qualificado
para assegurar o correto emprego dos seus meios logísticos num ambiente sistêmico e
extremamente complexo.
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2.2 A METODOLOGIA
2.2.1 Tipo de PesquisaSegundo Vergara (2003), existem diversas taxionomias de tipos de pesquisa, de
acordo com os critérios utilizados pelos autores. Dois critérios básicos são propostos:
quanto aos fins e quanto aos meios.
Quanto aos fins, esta pesquisa é descritiva e explicativa. Descritiva, porque
expõe os fundamentos da logística militar e empresarial, bem como define o emprego e
as características do Serviço de Intendência do Exército Brasileiro, colhidos nos
manuais, publicações e demais documentos a respeito de assunto. São ainda
pesquisados procedimentos e estratégias descritos a partir das informações, percepções
e expectativas dos diferentes profissionais que atuam no ramo. A investigação
explicativa tem como principal objetivo esclarecer quais os fatores que contribuem para
o processo de modernização do sistema logístico militar pretendido pelo Exército,
principalmente aqueles relativos ao seu Serviço de Intendência.
Quanto aos meios, a pesquisa é bibliográfica e documental. Bibliográfica
porque recorre a material acessível na literatura, sejam livros, teses ou jornais, para
compor o cenário da logística nas organizações e destacar a importância desta para as
mesmas. Documental, no que se refere às publicações técnicas específicas e diretrizes
de caráter militar e dirigidas ao funcionamento e organização das atividades logísticas
do Exército.
2.2.2 Coleta de dadosO critério para a coleta de dados na pesquisa bibliográfica levou em
consideração textos considerados clássicos a respeito de atividades logísticas
organizacionais como um todo, textos atuais com novas contribuições, artigos sobre
experiências de campo na área logística, bem como teses e dissertações associadas ao
assunto.
De modo semelhante ao da pesquisa bibliográfica, foram coletados os dados na
pesquisa documental referentes aos assuntos logísticos da doutrina militar e da prática
nos acervos do Exército Brasileiro. Foram realizadas análises em documentos tais
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como: manuais, regulamentos, portarias, diretrizes e noticiários expedidos pela Força,
listados na Bibliografia.
2.2.3 Tratamento dos dados
Segundo Gil (1987), o conhecimento científico é simultaneamente provisório e
confiável. Provisório porque deve submeter-se à contínua revisão, à crítica constante, à
permanente contestação e à confrontação, por meio do retorno à realidade, uma vez que
uma construção é sempre parcial. Confiável, porque, obedecendo ao método, será
sempre a maior aproximação possível com a realidade até o momento presente.
Apesar da logística poder estar comumente associada a números e métodos
quantitativos, em função da natureza do problema - ligado essencialmente à logística
organizacional, uma atividade que envolve a interação de processos e pessoas - o
tratamento dos dados neste estudo privilegia procedimentos qualitativos de pesquisa.
De acordo com os objetivos estabelecidos para este ensaio, foram elencadas as
características atuais da Logística Militar Terrestre e do Serviço de Intendência do
Exército Brasileiro, identificadas as transformações que vêm sofrendo as organizações
militares, sobretudo nas atividades logísticas e, em seguida, descritos fatos que visaram
contribuir para o processo de modernização do sistema logístico da Força Terrestre.
Um dos grandes entraves ao real desenvolvimento da administração tem sido o
caráter etnocêntrico das suas abordagens teóricas. De fato, quase que a totalidade das
teorias administrativas foram elaboradas considerando as condições específicas das
sociedades ocidentais desenvolvidas, principalmente dos Estados Unidos (Serva, 1992).
No caso da formação de administradores no Brasil, historicamente aquele país foi a
grande matriz do conhecimento transmitido pelas escolas, ratificada por meio de
convênios entre os governos brasileiro e norte-americano.
Uma nova abordagem científica da administração que se queira mais profunda,
abrangente e que assuma o desafio de apreender o “fato humano” nas organizações, tem
necessariamente que prestar contas ao risco do etnocentrismo. Chanlat (1985 apud
Jaime Júnior, 1995, p. 68), afirma que “só a etnologia pode dar uma visão exaustiva dos
diferentes homens nas diferentes sociedades”. O recurso a essa disciplina é considerável
para compreender a dinâmica interna que anima sua evolução e que as faz se abrir ou
resistir a determinada mudança com relação a outra.
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Segundo Leiner (1997), a antropologia foi a primeira ciência humana a
introduzir o pesquisador como parte integrante do universo pesquisado. Nos períodos de
colonização européia nas Américas, pesquisas de antropólogos com nativos eram
desenvolvidas, quase que inteiramente, a partir de inquéritos com poucos informantes
bilíngües, ou com questionários aplicados com o auxílio de tradutores. Utilizava-se
também a observação direta do comportamento dos nativos, ainda que de maneira breve
e superficial. Com o tempo, passou-se a viver por períodos maiores nas aldeias, com os
povos primitivos, enquanto se realizava observações, fundando assim o que hoje se
denomina observação participante.
A observação participante refere-se, portanto, a uma situação de pesquisa onde
o observador e observados encontram-se numa relação face a face, e onde o processo de
coleta de dados se dá no próprio ambiente natural de vida dos observados, que passam a
ser vistos não mais como objetos de pesquisa, mas como sujeitos que interagem em um
dado projeto de estudos.
Este estudo buscou, ao máximo, a utilização do método da observação
participante, procurando colher dados relevantes para a pesquisa no próprio ambiente
natural de vida dos observados, ou seja, nas organizações militares logísticas do
Exército, tendo em vista que o pesquisador, além de pertencer a esta Instituição, exerce
suas atividades profissionais na área de Logística.
2.2.4 Limitações do método
O método está limitado pela seleção de um tema referente à atividade militar.
As organizações militares possuem obviamente peculiaridades que as diferenciam das
demais organizações, seja, por exemplo, pela natureza pouco conhecida da atividade,
pelo caráter sigiloso de algumas atividades, ou pelo uso de terminologias específicas,
dentre outros. Por isso, alguns aspectos que até poderiam ser de interesse para a
pesquisa, deixaram de ser analisados.
Apesar de tais limitações, é plenamente possível a realização de um estudo de
tal natureza, tendo em vista a grande quantidade de informações a serem colhidas e
apresentadas, seja pela ampla e importante participação das organizações militares na
formação e desenvolvimento da sociedade nacional, seja especificamente pelas
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atividades que realizam, especialmente a logística, comum a tantas outras formas de
organização.
Outro fator limitador diz respeito especificamente à análise da atividade
logística nas organizações militares e, em particular, no Exército. Para um profissional
de logística empresarial, ou detentor de relativo conhecimento na área, determinadas
variáveis ou técnicas abordadas podem gerar uma sensação de anormalidade a respeito
de outras por ventura existentes em organizações que não serão investigadas pelo
pesquisador. Acredita-se que tais riscos serão minimizados com a observação e
posterior análise da atuação dos profissionais que prestam serviços em diferentes
organizações militares, de caráter eminentemente logístico, cujas atividades venham a
coincidir ou assemelhar-se às praticadas pelas organizações em geral. Espera-se, ainda,
que a experiência do pesquisador tanto na área logística como no ambiente militar
auxilie na fundamentação prática das propostas por ventura apresentadas.
Certamente as ações de planejamento, execução e controle das funções
logísticas do Exército Brasileiro, bem como as atividades desempenhadas atualmente
pelo Serviço de Intendência e as propostas ainda em discussão, já seriam suficientes
para um entendimento da estrutura básica que fundamenta este trabalho. Entretanto, esta
pesquisa visa, além da oportunidade de apresentar e ressaltar a importância de um ramo
específico do Exército Brasileiro, o Serviço de Intendência, a análise crítica e a
valorização de um assunto que até algum tempo atrás era pouco reconhecido pela
coletividade civil e militar, mas que hoje é considerado como a pedra angular da
competitividade entre organizações, tornando-se fator fundamental para a redução de
desperdícios e para o aumento da eficiência e da eficácia organizacional: a Logística.
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CAPÍTULO 3
LOGÍSTICA: O ESTADO DA ARTE
“[Na] diversidade de visões da racionalidade que preside
a ação administrativa, o enfoque etnográfico, vale dizer,
semiológico e histórico, parece destacar-se comoindissociável de qualquer estudo que se proponha ver
além do mundo aparente e ilusório dos processos e de
outras formas de estruturação lógica dos sistemas
organizacionais”.
Paulo Emílio M. Martins
Trata este capítulo de apresentar estudos já realizados por outros autores sobre a
Logística, destacando sua origem, evolução e atualidades, bem como abordando alguns
eventos de importância histórica, como a revolução da microeletrônica e a globalização,
que influenciaram no desenvolvimento da Logística até os dias atuais.
3.1 A ORIGEM DA LOGÍSTICA
Em grande parte das obras pesquisadas, seus autores afirmam que o termo em
discussão provém do antigo substantivo latino logisticus, utilizado para designar os
técnicos das finanças, controladores, contabilistas, intendentes do Exército romano ou
bizantino encarregados de efetuar o pagamento às tropas. Outros autores afirmam que,
na Grécia, ao tempo da dominação romana, o termo designava o membro de uma
comissão de dez cidadãos, escolhidos à sorte, anualmente, que se encarregavam de
verificar as contas dos magistrados. Há, ainda, autores que afirmavam que logística
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deriva da palavra grega logistikos, que teve acepção, na era clássica, de “método de
vida” ou modo de viver (DEL RE, 1955; CAMINHA, 1982; CAMPOS, 1952).
Segundo Del Re (1955), a primeira utilização do vocábulo “logística”, dentro
da Ciência da Guerra, foi realizada, em 1836, pelo general suíço Antoine-Henri Jomini
no seu livro Precis de L’Art de La Guerr e, quando sintetizou os três ramos da arte da
guerra como sendo a estratégia, a tática e a logística, cabendo ao último a
responsabilidade pelo fornecimento dos meios, a serem planejados e empregados pelos
dois primeiros. A logística apresenta-se, então, como sendo a arte prática de mover
exércitos, de dispor pormenores materiais das marchas e formações, de montar
acampamentos ou acantonamentos longe do inimigo.
Tudo indica que Jomini inspirou-se no título de major général des logis –
atribuído ao oficial francês encarregado de prover alojamento, suprimento, dirigir as
marchas e colocar as colunas das tropas francesas no terreno - para criar uma primeira
definição de logística militar como sendo tudo ou quase tudo, no campo das atividades
militares, exceto o combate (DEL RE, 1955).
Entretanto, segundo Taguchi (1999), a Logística só passou a ser entendida
como ciência, após as teorias desenvolvidas pelo Tenente-Coronel Cyrus G. Thorpe, doCorpo de Fuzileiros Navais dos EUA que, no ano de 1917, publicou o livro Logística
Pura: a ciência da preparação para a guerra. No decorrer do texto da obra, a logística
é elevada ao mesmo nível de importância da estratégia e da tática, por proporcionar os
meios necessários aos dois ramos responsáveis pela condução das operações militares.
No início do século XIX, Carl von Clausewitz, general prussiano, escreveu um
verdadeiro tratado sobre princípios de guerra, sugerindo como administrar os exércitos
em períodos de guerra. É considerado grande inspirador de muitos teóricos daAdministração que posteriormente se basearam na organização e estratégia militares
para adaptá-las à organização e estratégia empresariais. Ao terminar as partes referentes
à estratégia e a tática de sua obra, afirma:
até agora tratei dos exércitos empregados como força
militar. Mas existem na guerra muitas outras funções que
se relacionam com o combate, embora sejamcompletamente diferentes dele. Às vezes, intimamente a
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ele ligadas, outras vezes, menos próximas. Todas essas
atividades, porém, se relacionam com a manutenção da
tropa (1832, apud LANNING, 1999, p.59).
Entre as atividades citadas por Clausewitz estão as subsistências, a
administração, o tratamento das doenças, o reparo das armas e do equipamento e a
construção das fortificações, mas, em nenhum momento, empregou o termo “logística”.
Del Re (1955) afirma que, após o seu pioneiro emprego em 1836 com o
sentido militar atual, o termo “logística" caiu no esquecimento. Napoleão Bonaparte,
assim como os grandes generais que o precederam, nunca usou esse termo, não
querendo isto dizer que Bonaparte nunca empregou a logística. Afirma ainda este autor
que Napoleão “empregou-a e o fez genialmente” (p. 51), apenas não designou o
conjunto das atividades dos serviços, com essa expressão genérica.
Para as forças militares, a logística adquiriu, pela sua destacada atuação na
solução de complexos problemas de apoio, posição de destaque nas operações, passando
a ser considerada como um dos “fundamentos da arte da guerra”.
A importância da logística e as lições que ela ensina são milenares econtundentes. Segundo Campos (1952), perto da totalidade dos grandes chefes militares
que não seguiram seus princípios foram conduzidos ao fracasso, estando a história,
inclusive a brasileira, repleta de exemplos. Um país precisa de um Exército preparado e
adestrado para cumprir sua missão constitucional. Nessa missão, o profissional militar
deverá estar qualificado para assegurar o correto emprego dos seus meios logísticos
num ambiente sistêmico e extremamente complexo.
Como se pode observar, bem antes dos negócios mostrarem interesse em
administrar as atividades logísticas de maneira coordenada, os militares estavam
organizados para executá-las. Embora os problemas militares, com exigências rigorosas
de “serviço ao cliente”, não se identificassem com os dos negócios, a similaridade foi
grande o suficiente para fornecer uma base de experiência valiosa durante os anos de
desenvolvimento da logística empresarial (BALLOU, 2001).
De acordo com Christopher (1997), Logística é o processo com o qual se
dirige de maneira estratégica a transferência e a armazenagem de materiais,
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componentes e produtos acabados, começando dos fornecedores, passando através das
empresas, até chegar aos consumidores.
Para a Society of Logisitics Engineers (apud Kobayashi, 2000) a Logística é
uma técnica e, ao mesmo tempo, uma ciência que suporta a realização dos objetivos
organizacionais, a promulgação dos mesmos e a consecução. Serve para o management ,
o engineering e as atividades técnicas nos termos solicitados, o projeto, o fornecimento
e a preservação dos recursos.
Já Figueiredo (1998) afirma que Logística é um termo empregado pela
indústria e pelo comércio para descrever o vasto espectro de atividades necessárias para
obter um transporte eficiente dos produtos finais desde a saída da fabricação até ao
consumidor. Essas atividades incluem o transporte das mercadorias, a armazenagem, o
controle dos estoques, a escolha dos locais das fábricas e dos estoques intermediários, o
tratamento das ordens de compra, as previsões de mercado e o serviço oferecido aos
clientes.
Outra definição foi a promulgada pelo Conselho de Administração Logística
(Council of Logistics Management ), uma organização profissional de gestores de
logística, professores e práticos, formada em 1962 com a finalidade de oferecereducação continuada e fomentar o intercâmbio de idéias (BALLOU, 2001, P.21):
Logística é o processo de planejamento, implementação e
controle do fluxo eficiente e economicamente eficaz de
matérias-primas, estoque em processo, produtos acabados
e informações relativas desde o ponto de origem até o
ponto de consumo, com o propósito de atender àsexigências dos clientes.
As diversas definições apresentadas anteriormente, em conjunto, capturam
bem a essência da gestão da logística. No entanto, a logística preocupa-se não só com a
movimentação física de mercadorias. Na realidade, muitas organizações que produzem
serviços em vez de produtos físicos têm substanciais problemas logísticos. A missão
principal da logística pode ser descrita como afirma Ballou (2001, p. 21): “a missão da
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logística é dispor a mercadoria ou o serviço certo, no lugar certo, no tempo certo e nas
condições desejadas, ao mesmo tempo em que fornece a maior contribuição à empresa”
Pelo que a logística atualmente representa para as organizações pode-se
afirmar que esta não é, como se pode pensar, somente a distribuição física de produtos e
realização de serviços a diversos clientes. Ela envolve um campo mais vasto, cujo
objetivo soberano é garantir o sucesso organizacional pelo aumento sucessivo do grau
de satisfação dos seus usuários.
3.1.1 Impacto dos fenômenos econômicos e tecnológicos na logística
Para Fleury et al. (2000, p. 27), a “Logística é um verdadeiro paradoxo”.
Apresenta-se como uma das atividades econômicas mais antigas e um dos conceitos
gerenciais mais modernos. A partir do momento que o homem abandonou o
extrativismo e iniciou as atividades produtivas organizadas, com produção especializada
e troca de excedentes com outros produtores, surgiram três das mais importantes
funções logísticas: estoque, armazenagem e transporte. A produção em excesso, ainda
não consumida, vira estoque. Para garantir sua integridade, o estoque necessita de
armazenagem. E para que a troca possa ser efetivada, seria necessário transportá-la do
local de produção ao local de consumo.
Portanto, a função logística é muito antiga, e seu surgimento se confunde com
a origem da atividade econômica organizada. O que vem fazendo da Logística um dos
conceitos gerenciais mais modernos são, ainda segundo Fleury et al. (2000), dois
conjuntos de mudanças, o primeiro de ordem econômica, e o segundo de ordem
tecnológica. Mudanças econômicas decorrentes da globalização, dos menores ciclos de
vida de produtos, maiores exigências de serviço e aumento das incertezas ou crises
regionais - que tendem a espalhar-se numa escala mundial - criam novas exigências
competitivas.
Em seu conjunto, todas as mudanças de ordem econômica vêm transformando
a visão da Logística, que passou a ser vista não mais como uma simples atividade
operacional, um centro de custos, mais sim como uma atividade estratégica, umaferramenta gerencial.
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A exploração da Logística como arma estratégica resulta da combinação de
sua crescente complexidade com a utilização intensiva de novas tecnologias. Na base
dessas novas tecnologias está a revolução da Tecnologia de Informações, que vem
marcando o cenário mundial nas últimas décadas. Combinadas, as aplicações de
hardware e software permitem otimizar o sistema logístico de qualquer organização,
que passariam a gerenciar de forma mais integrada e eficiente seus diversos
componentes, quer sejam estoques, armazenagem, transporte e outros.
As mudanças ocorridas com a evolução da tecnologia de informação
possibilitaram ampla modificação do modus operandi de diversas organizações,
trazendo impactos positivos sobre o planejamento, a execução e o controle logístico.
A humanidade evoluiu em direção à sociedade do conhecimento e da
informação, baseada na utilização sempre mais difusa dos computadores. A cada dia
surgem novas descobertas em todos os campos do conhecimento. A concorrência é
global e não conhece fronteiras; o movimento das populações é contínuo de uma parte à
outra da Terra e constante é a preocupação para o futuro do planeta.
A economia mundial é caracterizada nos dias atuais pela troca e fluxo quase
que instantâneos de informação, capital e comunicação. Esses fluxos regulam oconsumo e a produção. A dependência dos indivíduos em relação aos novos modos de
fluxo informacional dá um enorme poder de controle sobre a sociedade àqueles que
estão em posição de controlá-los.
Castells (1999) afirma que vários acontecimentos de importância histórica têm
mudado o panorama social da humanidade. Para ele, uma verdadeira revolução
tecnológica concentrada nas tecnologias da informação está remodelando a base
material da sociedade em ritmo acelerado. As economias de todo o mundo passaram amanter uma interdependência global, apresentando o que chama de “uma nova forma de
relação entre a economia, o Estado e a sociedade em um sistema de geometria variável”
(p.22). O próprio capitalismo passa por um processo de gerenciamento, descentralização
das organizações e nova disposição em redes, tanto internamente quanto em suas
relações com outras organizações.
O sistema tecnológico em que está inserida a sociedade atual surgiu, segundo
Castells (1999), no início dos anos 70 com a invenção do microprocessador - principaldispositivo de difusão da microeletrônica. As tecnologias desenvolvidas a partir daí,
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embora baseada nos conhecimentos já existentes e desenvolvidos como uma extensão
das tecnologias mais importantes, representaram um salto qualitativo na difusão maciça
da tecnologia em aplicações comerciais, civis e militares. O microcomputador, o
comutador eletrônico, a fibra ótica e diversos sistemas operacionais surgiram e
desenvolveram-se a partir desse período. Por fim, foi nesse período, mais precisamente
em 1969, que a ARPA (Agência de Projetos de Pesquisa Avançada), do Departamento
de Defesa norte-americano, instalou uma nova e revolucionária rede eletrônica de
comunicação que se desenvolveu durante os anos 70 e veio a se tornar a espinha dorsal
da comunicação global mediada por computadores, do século passado, e deste que ainda
se inicia: a Internet.
A Internet é considerada por Castells (1999) uma rara mistura de estratégia
militar, grande cooperação científica e inovação cultural. No geral, embora haja grande
divergência na afirmação sobre o total de usuários conectados atualmente na Internet, há
convergência, segundo Kobayashi (2000), de que ao fim dos anos 90 mais de 36
milhões de pessoas tinham acesso a ela e que, no início deste século, estimou-se um
potencial de centenas de milhões de usuários em todo o mundo. A história do
desenvolvimento da Internet, apesar de não se constituir objetivo deste trabalho, fornece
material necessários para o entendimento das características técnicas, organizacionais e
culturais dessa rede, abrindo caminho assim para a avaliação de inúmeros e
significativos impactos sociais.
Tamanha é a revolução tecnológica defendida por Castells (1999) que este
sugere a formação de uma Sociedade Informacional, do mesmo modo que estudiosos, à
época, se referiam à Sociedade Industrial dos séculos XVIII e XIX, marcada por
características comuns em seus sistemas sociotécnicos. No entanto, com algumas
ressalvas: por um lado, as sociedades informacionais, como existem atualmente, são
capitalistas (diferentemente das sociedades industriais, algumas delas eram estatistas);
por outro, deve-se acentuar a diversidade cultural e institucional das sociedades
informacionais. Citando inclusive o Brasil, Castells (1999, p.38) exemplifica a
existência de sociedades informacionais:
Nessa nova trajetória para a modernização universal, desta
vez medida por índices de difusão de computadores, a
exclusividade japonesa ou as diferenças da Espanha não vão
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desaparecer em um processo de não-diferenciação cultural.
Nem a China, nem o Brasil serão fundidos no cadinho
global do capitalismo informacional, ao continuarem seu
caminho desenvolvimentista na alta velocidade do
momento. Mas o Japão, tanto quanto a Espanha, a China, o
Brasil e os EUA são e serão, ainda mais no futuro,
sociedades informacionais, pois os principais processos de
geração de conhecimentos, produtividade econômica, poder
político/militar e a comunicação via mídia já estão
profundamente transformados pelo paradigma
informacional e conectados às redes globais de riqueza, poder e símbolos que funcionam sob essa lógica.
Em função dessa constante preocupação com as inovações tecnológicas do
mundo atual e suas mudanças ambientais, estratégias de melhoria de gestão são
implantadas por dirigentes de grandes corporações privadas. Nesse sentido, aumenta de
importância a adoção de diversas práticas gerenciais que conduzam a um melhor
desempenho dos processos, projetos, produtos e serviços. Fleury et al. (2000) cita que a
cadeia de supermercados Pão de Açúcar investiu fortemente em processos de
automação e comunicações, que lhe permitiram conectar-se eletronicamente com seus
fornecedores. Da mesma forma, as Lojas Americanas, que até 1995 não possuíam
nenhuma ligação Electronic Data Intercharge (EDI) partiram para um agressivo
programa de interligação com seus principais fornecedores. Essa onda de investimentos
indica a importância vital da logística para as empresas.
Para a administração pública não seria diferente. Fez-se necessário educar - ou
reeducar - as pessoas e o modelo vigente. Para se reconstruir a administração pública foi
fundamental a implementação de um modelo de gestão menos burocrático, mais
empreendedor. Essa nova forma de gestão, segundo Pereira (2001), denominada
Administração Pública Gerencial, buscou condições para as organizações se adaptarem
à complexidade do momento atual, às grandes incertezas e instabilidades que circundam
o ambiente organizacional, como citado anteriormente, a globalização e o
desenvolvimento tecnológico acelerado.
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No contexto da Administração Pública enquadram-se as organizações
militares. Estas também buscam, de acordo com o novo modelo de gestão, acompanhar
os avanços da ciência e da tecnologia. Novos uniformes, equipamentos mais modernos e
armas de fogo cada vez mais eficazes desenvolvem-se a todo instante. Por isso, as
inúmeras necessidades materiais colocam as considerações logísticas no mesmo nível
das considerações de ordem tática e estratégica.
Certamente a era da informação criou raízes rapidamente, e sua presença foi
tão marcante que hoje está consolidada. Mas esta disseminação da informação pelo
mundo teve diversos efeitos profundos. Um deles, segundo Moura (2003), foi a
mudança de uma economia nacional e fechada para uma global. Os clientes e
competidores de uma empresa não estão mais em uma mesma cidade ou algum lugar de
seu país: eles estão em qualquer parte do globo. Os automóveis, por exemplo, até pouco
tempo chamados de “importados”, deixaram de sê-los. Os fabricantes de televisores
japoneses conquistaram o mundo. A internet por si só dá aos consumidores mais
alternativas e facilidades para a solicitação de pedidos cada vez mais rapidamente.
Em visita realizada por oficiais intendentes do Curso Intendência da Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), em outubro de 2004, na qual este pesquisador se
encontrava presente, a uma empresa especializada em logística de transporte, a
VarigLog do Rio de Janeiro, foi verificado que, certa vez, esta empresa foi incapaz de
atender aos compromissos de entrega a seus clientes, resultando em muitos pedidos
cancelados e determinando uma significante queda no faturamento. Não porque eles
precisavam de mais informações, mas porque não conseguiram disponibilizar as peças
certas, na quantidade certa, no momento certo.
Isto não é um problema de informação, é um problema logístico. Segundo
informações colhidas de um dos gerentes da empresa, o transporte aéreo leva, em
média, dois dias. No entanto, a carga gasta 90% deste tempo no solo e apenas 10% no
ar. Uma carga chega a ser movimentada ou manuseada 36 vezes. Aeronaves mais
rápidas não conseguiriam solucionar este problema.
É claro que a informação continuará sendo muito importante, mas apenas
quando as informações em tempo real preocuparem-se com a cadeia logística as coisas
acontecerão mais rapidamente. Acredita-se que o novo mestre será a logística –informação servindo a logística – não vice-versa. Se atualmente diz-se que o mundo
encontra-se na era da informação, é possível que num futuro bem próximo uma nova
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era, advinda de uma revolução silenciosa, mas que está aqui, agora, e está fazendo cada
vez mais barulho, venha tomar o seu lugar: a Era da Logística.
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3.2 A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO LOGÍSTICO
Em termos históricos, verifica-se que antes da década de 50 a responsabilidadeorganizacional pela logística estava dispersa por toda a empresa e que a estruturação
logística como organização integrada apareceu pela primeira vez na década de 50
(BALLOU, 2001; BOWERSOX, 2001; MOURA, 1998). A partir dessa época, iniciou-
se o desenvolvimento do conceito logístico que hoje se utiliza.
A cada momento, a prática da logística reflete e alimenta o pensamento
logístico, em uma criativa interação entre o meio acadêmico e o meio organizacional.
Mas o que seria o pensamento logístico? Segundo Fleury et al. (2000), são os conceitose teorias que orientam o estudo e a pesquisa em Logística, influenciando o que se
considera relevante e justificando as soluções propostas para os problemas logísticos.
Em linhas gerais, o campo da Logística evoluiu de um tratamento mais restrito, voltado
para a distribuição física de materiais e bens, para um escopo mais abrangente, em que
se considera a cadeia de suprimentos em sua totalidade e as atividades de aquisição,
administração de materiais e distribuição. Assim, não se limita a uma única função
dentre as estudadas em Administração, como Marketing ou as Operações, masrepresenta, de fato, uma área de integração de distintos enfoques.
Em pesquisas realizadas com autoridades em Logística nas universidades
americanas, os professores John Kent e Daniel Flint, citados por Fleury et al., 2000,
estudaram a evolução do pensamento na área e apontaram cinco eras ou etapas
principais. A figura 3.1 ilustra a evolução do pensamento logístico.
A primeira era denominada “do campo ao mercado”, teve seu início situado na
virada para o século XX, sendo a economia agrária sua principal influência teórica. A
principal preocupação, no caso, era com questões de transporte para escoamento da
produção agrícola.
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Figura 3.1 – Evolução do Pensamento Logístico (Kent e Flint, apud Fleury et al. , 2000)
Fonte: Fleury et al. , 2000
Rotulada de “funções segmentadas”, a segunda era, estendendo-se de 1940 ao
início da década de 70, sofre grande influência militar. Não é por acaso que o próprio
termo “logística” tem raízes na movimentação e na garantia de abastecimento das tropas
nas guerras. O pensamento logístico estava voltado, aqui, para a identificação dos principais aspectos da eficiência no fluxo de materiais, em especial as questões de
Era do “Campo ao Mercado”
Economia agrária
Início do século XX até anos 40
Era do supply chain
Logística como diferenciação
Anos 90 até hoje
Era do foco no cliente
Busca por eficiência
Anos 80 até meados dos anos 90
Era da integração interna
Funções integradas
Anos 70 até meados dos anos 80
Era da especialização
Ênfase nos desempenhosfuncionais
Anos 40 até início dos anos 70
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armazenamento e transporte, tratadas separadamente no contexto da distribuição de
bens.
A terceira era, denominada de “funções integradas”, vai do início da década de
70 até os primeiros anos da década de 80. Como seu nome indica, trata-se do começo de
uma visão integrada nas questões logísticas, explorando-se aspectos como custo total e
abordagem de sistemas. Pela primeira vez, o foco deixa de recair na distribuição física
para englobar um espectro mais amplo de funções, sob a influência da economia
industrial. É interessante observar que é neste período que se presencia o aparecimento,
tanto no ensino quanto na prática da Logística de um gerenciamento consolidado das
atividades de transporte de suprimentos e distribuição, armazenagem, controle de
estoques e manuseio de materiais.
A era seguinte, estendendo-se do início dos anos 80 até meados dos anos 90,
corresponde ao “foco no cliente”, com ênfase na aplicação de métodos quantitativos e
qualitativos às questões logísticas, com o objetivo final de atender as necessidades e
satisfazer as expectativas de seus clientes. Seus principais focos são as questões de
produtividade e custos de estoque. É exatamente neste período que se irá identificar uma
intensificação do interesse pelo ensino e pesquisa da Logística nas escolas de
administração.
A quinta era, que vai de meados da década de 90 até o presente, tem ênfase
estratégica, como indica o rótulo que lhe foi atribuído: “A logística como elemento
diferenciador”. Identificada como a última fronteira empresarial em que se podem
explorar novas vantagens competitivas, é ai que surge o conceito de Supply Chain
Management, cujo pano de fundo é a globalização e o avanço na tecnologia da
informação. Esse período implica e implicará maior preocupação com as interfaces,
dentro das organizações, entre as diferentes funções, além de maior destaque das
considerações logísticas no mais alto nível de planejamento estratégico das corporações.
Analisando toda a evolução deste pensamento, pode-se afirmar que, se a
logística era vista no passado como processo de abastecimento de materiais ou mesmo
atividade de transporte na distribuição física, a partir dos anos 80 ganhou uma maior
abrangência, quando as organizações perceberam a sua importância na administração
integrada dos processos de suprimentos, produção e distribuição física, ficandoestabelecido o conceito da logística integrada.
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A partir do início deste processo de integração, consolidado pela obtenção de
significativos resultados relacionados ao aumento de produtividade e à melhoria do
nível de serviço ao cliente, as empresas elegeram a logística como o instrumento de
integração de toda a cadeia de negócios, envolvendo clientes, fornecedores e todos
aqueles relacionados direta ou indiretamente com a mesma.
Ou seja, a necessidade de integração evoluiu de dentro para fora das
organizações, constituindo, conforme afirma Moura (2003, p. 38), uma “rede de
organizações integradas”, desde os fornecedores de matéria-prima até os consumidores
finais. Esta constituição integrada se traduz na cadeia de abastecimento, que
naturalmente se transformou na visão da logística moderna.
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3.3 A LOGÍSTICA INTEGRADA
O período entre 1980 e 2000 foi marcado por grandes transformações nosconceitos gerenciais, especialmente no que toca à função de operações. O momento da
qualidade total trouxe consigo um conjunto de técnicas e procedimentos como o Just in
Time (JIT), Kanban2 e o Controle Estatístico de Processo (CEP).
Amplamente adotadas em quase todos os países industrializados de economia
de mercado, essas técnicas e procedimentos contribuíram para um grande avanço da
qualidade e produtividade. Na trilha desse conjunto de mudanças, dois outros conceitos
surgiram e vêm empolgando as organizações produtivas: a Logística Integrada e oGerenciamento da Cadeia de Suprimentos.
Na seção anterior deste ensaio, que abordou a evolução do pensamento
logístico, verificou-se que a evolução da logística ocorreu de dentro para fora da
organização (MOURA, 2003), por meio de estágios que se iniciam nas funções
logísticas dispersas pela organização, passam pela integração interna sob gestão única e
terminam por extrapolar as fronteiras da organização através da gestão da cadeia de
suprimentos, onde há outras organizações participantes, e o foco nos elos de interação proporciona objetivos comuns, sempre buscando o maior nível de serviço aos clientes
ao menor custo possível.
Dessa forma, verifica-se que a logística ocorre dentro e dentre organizações,
caracterizando integração interna e externa. Segundo Bowersox (2001, p. 383): “a chave
para se alcançar uma logística de classe mundial é obter a integração das operações,
interna e externa”. Fleury et al. (2000, p. 37) também aborda tal questão:
A integração interna, ou seja, o gerenciamento integrado dos
diversos componentes do sistema logístico, é uma condição
necessária para que as empresas consigam atingir excelência
operacional com baixo custo. Para atingir essa meta, as
empresas necessitam conhecer muito bem os trade-offs
inerentes a sua operação logística, e possuir sistemas e
organização adequadas para tomar as decisões de forma
integrada.
2. Ferramenta conhecida na forma de um cartão utilizado para esclarecer a produção (Fleury et al., 2000).
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A integração externa, outra das dimensões da excelência
logística, significa desenvolver relacionamentos cooperativos
com os diversos participantes da cadeia de suprimentos,
baseados na confiança, capacitação técnica e troca de
informações. A integração externa pode eliminar duplicidade,
reduzir custos, acelerar o aprendizado e customizar serviços.
Essas duas dimensões da logística, interna e externa, são denominadas
Logística Integrada e Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos, respectivamente. O
primeiro deles, a Logística Integrada, despontou no começo da década de 80 e evoluiu
rapidamente nos 15 anos que se seguiram, impulsionada principalmente, segundo Fleury
et al. (2000), pela revolução da tecnologia da informação e pelas exigências crescentes
de desempenho em serviços de distribuição, conseqüência dos movimentos da produção
enxuta e do JIT. Embora ainda em evolução, o conceito de Logística Integrada já está
bastante consolidado nas organizações produtivas dos países mais desenvolvidos, tanto
em nível conceitual quanto de aplicação.
O Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos, ou Supply Chain Management
(SCM), ou ainda, para Moura (2003), Logística da Cadeia de Abastecimento, começou a
se desenvolver apenas no início dos anos 90. Mesmo em nível internacional, são poucas
as empresas que já conseguiram implementá-lo com sucesso, e, em nível acadêmico, o
conceito ainda pode ser considerado em construção. Existem inclusive alguns autores
que consideram o SCM como apenas um novo nome, uma simples extensão do conceito
de logística integrada, ou seja, uma ampliação da atividade logística para além das
fronteiras organizacionais, na direção de cliente e fornecedores na cadeia de
suprimentos.
Já Fleury et al. (2000, p. 49) apresenta outra abordagem:
O conceito de Supply Chain Management surgiu como uma
evolução natural do conceito de Logística Integrada.
Enquanto a Logística Integrada representa uma integração
interna de atividades, o Supply Chain Management representa
sua integração externa, incluindo uma série de processos de
negócios que interligam os fornecedores aos consumidoresfinais.
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O que parece claro é que esses novos conceitos chegaram para ficar. Os
resultados obtidos pelas empresas que já conseguiram implementá-los com sucesso são
uma garantia de que estes não são apenas “modismos gerenciais”, mas algo que vem
crescentemente despertando a atenção da alta cúpula gerencial nas grandes e mais
modernas organizações internacionais.
No Brasil, a onda do SCM começou a espalhar-se no final da década de 90,
impulsionada pelo movimento da logística integrada que vem se acelerando no país.
Segundo Fleury et al. (2000), maior prova disso é o movimento ECR Brasil ( Efficient
Consumer Response), iniciado em meados de 1997, e que só em novembro de 1998
apresentou os primeiros resultados, que apontaram para um grande potencial de redução
de custos.
As figuras 3.2 e 3.3 ilustram a Logística Integrada e o SCM, respectivamente,
segundo Bowersox (2001):
Figura 3.2 – A integração logística
Fonte: Bowersox, 2001 (p. 44).
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Figura 3.3 – A integração da cadeia de suprimentosFonte: Bowersox, 2001 (p. 99)
Para Silva (2002, p. 29), existem organizações que, devido às suas
características, estão em diferentes níveis de integração logística:
Nem todas as organizações podem operar segundo o
conceito de supply chain; algumas por questões
puramente formais ou legais (é o caso da administraçãodireta e das empresas públicas ou de economia mista,
todas vinculadas à legislação que regula as licitações
públicas), outras por suas características operacionais ou
de mercado. Assim, a prática da logística pode ser
exercida em diferentes perspectivas, segundo o foco
dominante de cada uma delas.
Devido à natureza das organizações militares e sua principal finalidade, bem
como, para os objetivos deste estudo, as considerações deste trabalho foram centradas
na Logística Integrada, já que esta tem a organização como cenário de ocorrência de
suas atividades, enquanto que o Supply Chain Management explora tal cenário e inclui
em seu escopo outras organizações que compõem determinada cadeia de suprimento
(integração externa), incluindo uma série de processos de negócios que interligam os
fornecedores aos consumidores finais3
.
3. Sobre a integração externa da logística militar pode ser citado Taguchi (1999), que realizou um estudosobre a integração da logística entre as três Forças Armadas brasileiras.
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3.3.1 Porque a Logística precisa ser integrada
Quando os profissionais de logística evitam disputas e desperdício de energia
em favor da participação da equipe, todos saem vencedores. Para muitas organizações,
cada componente da logística trabalha como uma “peça separada” da cadeia total.
Muitas pessoas acham que é assim que devia ser, elas enxergam a abordagem separada
como um caminho direto para o sucesso, argumentando que, se cada unidade
relacionada à logística (como transporte e armazenagem) procurar ser o “número um”, a
função coletiva será mais eficiente.
Programas logísticos em ação bem sucedidos podem ser encontrados na
literatura e observados no cotidiano de algumas empresas. No entanto, muitos erros e
oportunidades perdidas já foram verificados, em que os fracassos podem ter ocorrido
pela falta de trabalho em equipe.
Moura et al (2003) citam o exemplo de um silo de armazenagem de uma
determinada organização que reduziu seus estoques transferindo-se para um armazém
com aluguel mais baixo. No entanto, o novo armazém possuía portas menores para