A políticA públicA e o pApel dA universidAde: reflexões dA incubAdorA de empreendimentos solidários de são bernArdo do cAmpo - sbcsol
Universidade Metodista de São Paulo – Umesp
Diretor GeralWilson Roberto Zuccherato
Conselho DiretorStanley da Silva Moraes (Presidente), Nelson Custódio Fér (Vice-Presidente), Osvaldo Elias de Almeida (Secretário)Vogais: Aires Ademir Leal Clavel, Augusto Campos de Rezende,Aureo Lidio Moreira Ribeiro, Jonas Adolfo Sala, Marcos Gomes TôrresOscar Francisco Alves Júnior, Paulo Borges Campos JúniorSuplentes: Regina Magna Araujo, Valdecir Barreros
Reitor: Marcio de MoraesPró-Reitora de Graduação: Vera Lúcia Gouvêa StivalettiPró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa: Fábio Botelho Josgrilberg
Faculdade de Administração e EconomiaLuciano VeneLLi costa
Conselho de Política EditorialMarcio de Moraes (presidente); Almir Martins Vieira; Fulvio Cristofoli; Helmut Renders; Isaltino Marcelo Conceição; Mário Francisco Boratti; Peri Mesquida (re pre sen tante externo); Rodolfo Carlos Martino; Roseli Fischmann; Sônia Maria Ribeiro Jaconi
Comissão de PublicaçõesAlmir Martins Vieira (presidente); Helmut Renders; José Marques de Melo; Marcelo Módolo; Rafael Marcus Chiuzi; Sandra Duarte de Souza
Editor executivoRodrigo Ramos Sathler Rosa
UMESPSão Bernardo do Campo, 2014
A política pública e o papel da universidade: reflexões da Incubadora de empreendimentos
solidários de São Bernardo do Campo – SBCSOL
Douglas Murilo SiqueiraFabiana Cabrera Silva
organizadores
Universidade Metodista de São PauloRua do Sacramento, 230, Rudge Ramos
09640-000, São Bernardo do Campo , SPTel: (11) 4366-5537
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AFILIADA À
P759 Apolíticapúblicaeopapeldauniversidade:reflexõesdaincubadoradeempreendimentossolidáriosdeSãoBernardodoCampo-SBCSol/organizaçãodeDouglasMuriloSiqueira,FabianaCabreraSilva.SãoBernardodoCampo:UniversidadeMetodistadeSãoPaulo,2014.198p.
BibliografiaISBN978-85-7814-280-3
1.Economiasolidária2.Políticaspúblicas-SãoBernardodoCampo(SP) 3.Incubadoradeempresas4.Incubadoradeempreendimentossolidários-SãoBernardodoCampo(SP)5.DesenvolvimentosocialI.Siqueira,DouglasMuriloII.Silva,FabianaCabreraCDD334
Sumário
SUMÁRIO
PrefácioLuiz Marinho–PrefeitodeSãoBernardodoCampo 7Marcio de Moraes – ReitordaUniversidadeMetodistadeSãoPaulo–Umesp 11
IntroduçãoDouglas Murilo SiqueiraFabiana Cabrera Silva 13
A economia solidária na atual política de desenvolvimento econômico de São Bernardo do Campo
Jefferson José da Conceição – SecretáriodeDesenvolvimentoEconômicoeTurismodeSãoBernardodoCampo 15
Gestão inovadora no processo de incubação: o caso SBCSolDouglas Murilo SiqueiraJaqueline Vieira de Moraes 21
Tudo junto e misturado: incubadora de empreendimentos solidários de São Bernardo do Campo: entre as experiências universitárias e públicas
Nilson Tadashi Oda 39
Construindo uma política pública de economia solidária em São Bernardo do Campo: da assistência social ao desenvolvimento econômico
Sandra Cristina Olmedilha 55
Considerações sobre o papel da universidade em processos de organização de empreendimentos solidários
Fabiana Cabrera SilvaMarco Aurélio Bernardes 75
Controles financeiros na economia solidária: um estudo de caso dos empreendimentos do projeto SBCSol
Marcelo dos Santos 95
A importância do tema inovação na SBCSolRenata Mendes 111
Captação de recursos em longo prazo para economia solidária: experiências do projeto de incubadora de empreendimentos solidários em São Bernardo do Campo (SBCSol)
Marcelo dos Santos 135
Microcrédito: o crédito para o empreendedorismo no meio popular Danilo dos Santos TrindadeGlauber Alves de SousaLuiz Silvério Silva 151
Das pessoas jurídicas nos empreendimentos de economia solidáriaJosé Celso MartinsRosângela Marques Consônio 179
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Prefácio I
* LuizMarinhoéprefeitodomunicípiodeSãoBernardodoCampo,graduadoemdireito,tendosidoMinistrodoTrabalhoeEmprego(julhode2005amarçode2007)eMinistrodaPrevidênciaSocial(marçode2007ajunhode2008).FoiPresidentedaCUT(junhode2003ajulhode2005)edoSindicatodosMetalúrgicosdoABC(2002/2003)
Luiz Marinho*
A políticapúblicadefomentoàeconomiasolidária,constituídanoprimeiroanodonossoGovernodaInclusão,seconsolidaaoladodeoutrastan-taspolíticaspúblicasinstituídasapartirde2009que,associadas,têm
tornadoSãoBernardodoCampoumacidadecadavezmelhorparaseviver.Osavançosalcançadosemnossomunicípioemtermosdainfraestrutura
urbana,comarealizaçãodeobrasfundamentaisquepossibilitammelhoriasnamobilidade,naeliminaçãodeenchentes,nosserviçosdesaúde,naedu-cação,nahabitação,naculturaenolazer,entreoutros,sãodinamizadaspornossasaçõesdeassistênciasocial,deturismo,desegurança,deatendimentoaoscidadãoseaostrabalhadores.
Umacidademelhorparaseviver,permanentemente,deveresolverseusproblemas,edeveigualmentepropiciarumambienteprodutivo–industrial,comercialedeserviços–quepromovaodesenvolvimentoeconômicoeageraçãodeemprego,trabalhoerenda,comoimportantemecanismoparasoluçãodeproblemassociais.
Aatraçãodenovasempresas,especialmenteaquelasquetragamino-vaçãotecnológica,aexemplodaproduçãodeaviõeseseusequipamentos,aorganizaçãodossegmentosparacriaçãodeumambientemaiscolaborativo,pormeiodaconstituiçãoedefomentoaosArranjosProdutivosLocais,are-vitalizaçãodeatrativosturísticosqueofereçamopçõesdelazereaomesmo
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
tempogeremnovasoportunidadesdenegócios,entreoutras,sãoestratégiasadotadaspornossogovernoparaodesenvolvimentoeconômico,dotrabalhoedoturismodeSãoBernardodoCampo.
Certamente,asoportunidadesdetrabalhoseconsolidampormeiodasobrasquerealizamoseestamosrealizando,comasnovasempresasqueseinstalamouqueseexpandememnossacidade,epelocrescimentoeconô-micodopaís,queemseuconjuntotêmresultadoemtaxasdedesempregodecrescentes.SegundoapesquisarealizadapeloSeade/DieesenaregiãodoABC,temosconstantementeatingidopatamarescadavezmenoresnastaxasdedesemprego.Certamenteaintervençãonaintermediaçãodemãodeobra,naqualificaçãosocialeprofissional,bemcomoemoutrosserviçospúblicosegratuitosoferecidospelonossogoverno,deespecialmodocomamunici-palizaçãodoSine,concretizadanacriaçãodaCentraldeTrabalhoeRenda,democratizaeampliaasoportunidadesderecolocaçãonomercadoformaldetrabalhoaosmunícipeseaostrabalhadoresetrabalhadorasdaRegiãodoABC.
Apublicaçãodestelivro,porsuavez,possibilitaexternarpartedaestra-tégiaadotadapelapolíticapúblicamunicipaldefomentoàeconomiasolidária,temapeloqualhámuitosanostenhodedicadomeucarinhoemeusesforços.NossoprojetoparainstalaçãodaincubadoradeempreendimentossolidáriosdeSãoBernardodoCampocontacomparceiros,comooInstitutoGranberyeaUniversidadeMetodistadeSãoPaulo,eaFinanciadoradeEstudoseProjetos(Finep)doMinistériodaCiência,TecnologiaeInovação(MCTI).Aliás,inovaréumdesafioquesemprecolocoparaosparticipantesdomeugoverno.Sairdazonadeconforto,analisar,planejareexperimentaronovosemprenospossibilitacriaremelhoraroquefazemosepretendemosfazer.
Anossaincubadoradeempreendimentossolidáriostemestacaracterís-tica.Aoadotaraideiadeseaproveitarascompetênciasdauniversidadeparadinamizarapolíticapública,imprimimosumcaráterúnicocriandooqueoSecretariosecretárioNacionaldeEconomiaSolidária,oProfessorPaulSinger,chamoudeincubadoramista.
Nossodesafioéconciliarosinteresses,ascompetênciaseasvontadesdopoderpúblicoedauniversidadeemtornodeumobjetivoúnico:possibi-litarqueosempreendimentossolidáriostenhamasmelhorescondiçõesparasedesenvolverem.Istorequerumprocessodecapacitaçãoparaagestãoeparaaautogestão,assimcomoparaodesenvolvimentodosprodutos,dosprocessosprodutivosedosmercados.Nossodesafioécriarumametodolo-giadeincubaçãoqueinove,quesejaousada,equeresultenaconsolidação
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prefácio 1
destesempreendimentossolidários,ecomistoresultenaemancipaçãodostrabalhadoresetrabalhadoraseconômicaesocialmente.
Époristoquesintograndesatisfaçãoemcompartilhardestapublicação,quecertamentepermitiráqueaspessoasseapropriemdasexperiênciasdanossaincubadora,dasinovaçõesrealizadas,bemcomodassuasdificuldades,contribuindocomistoparaquemaisempreendimentoseempreendedoressolidáriospossamusufruirdametodologiaqueestásendocriada,edapolíticapúblicaqueonossogovernotemrealizadoparafomentaraeconomiasolidáriaeodesenvolvimentoeconômicodeSãoBernardodoCampo.
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Prefácio II
Marcio de Moraes*
Asdenominadas“empresasassociativas”seguemcrescendoepossibili-tandoquenovoscamposdeatividadesejamabertos,especialmenteaquelesvoltadosàprestaçãodeserviçosàsfamílias.
Osconstantesmovimentosetransformaçõesnomododevida,sejanosgrandescentrosurbanosoumesmoemcidadesmenores,queproduzemerevelamconstantementenovasnecessidades,suscitamacriaçãodenovasempresase,nocasodestelivro,referimo-nosaincubadorasdeempresase,maisespecificamente,aoexercíciodecriarempreendimentossolidários.
Falaremumempreendimentosolidárioéreconhecerqueexiste“[...]ocompromissopelobemviverdetodos,odesejodooutroemsuavaliosadiferença,paraquecadapessoapossausufruir,nasmelhorescondiçõespos-síveis,dasliberdadespúblicaseprivadaseticamenteexercidas.1
Felizmenteaparceriapúblico-privadaentreFinep/PrefeituradeSãoBer-nardodoCampo,representantesdoentepúblico,eGranbery/UniversidadeMetodista,representantesdoenteprivado,pautadapeloscritériosacimaregistrados–liberdadeeética–,começaaproduzirseusbonsfrutos:de-zesseteempreendimentossolidáriosetrêsredesemprocessodeincubaçãonoprimeiroanodeatividade.Partedoquefoivivenciado,tantonoaspecto
* ÉReitordaUniversidadeMetodistadeSãoPaulo,desdeoutubrode2006;bacharelemeco-nomiapelaPUC-SPedoutoremeconomiaeadministraçãopelaUniversidadedeBarcelona(Espanha).
1 MANCE,EuclidesAndré.RedesdeColaboraçãoSolidária.In:CATANNI,AntonioDavid.Aoutraeconomia.PortoAlegre:VerazEditora,2003.,p.219-226.
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
acadêmicocomonodiaadiadosmesmos,éoquetemosoprivilégiodeapresentaraosfuturosleitoreseleitorasnaspróximaspáginas.
Sabemosqueodesafioégrandeequenossalutaparamanteracesaachamadosempreendimentossolidáriosnãoépequena.Juntos,poderpúbli-coeiniciativaprivada–aquirepresentadapelaUniversidade–,temosmaisforçasparaseguiradiante.
Boaleitura.
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Introdução
Douglas Murilo Siqueira*Fabiana Cabrera Silva**
A economiasolidária,comoumaalternativadeeconomiaquesedis-tanciadascaracterísticasquemoveaeconomiacapitalista,éfocodasreflexõesdestelivro.Pormeiodeinúmerosprojetoseparcerias,
pessoaseentidadesinteressadasnestecontextobuscamcolaborarparaestaeconomiaalternativa,nosentidodeoferecerformaçõesqueincentivemoempreendedorismoemsuavertenteassociativa,afimdequeaspessoasemsituaçãodevulnerabilidadepossammelhoraraqualidadedevida,pormeiodeaçõesempreendedoras.ÉnestecontextoqueestelivronorteiasuasreflexõesapartirdainiciativapioneiradeimplantaçãodaincubadoradeempreendimentossolidáriosdeSãoBernardodoCampo(SBCSol).Oprojetoéconsideradopioneiro,poisestreitaseuslaçosnumtrabalhocoletivo,soli-dárioecooperativoentreaUniversidadeMetodistadeSãoPaulo(Umesp),oInstitutoMetodistaGranbery(IMG),aPrefeituradeSãoBernardodoCampo(PMSBC)eaFinanciadoradeEstudoseProjetos(Finep).Buscarefletirsobreopapeldauniversidadenofomentoaoempreendedorismovoltadoparaaeconomiasolidáriaecomoinstituiçãosocialquebuscaacolherasiniciativaspúblicasparareforçarsuarelevânciasocialfrenteaosproblemaslocais.
Asreflexõesorganizadasemformadelivroestãoalicerçadasnasexperiên-ciasdoprojetodeimplantaçãodaincubadoradeempreendimentossolidáriosdeSãoBernardodoCampo,consideradoinovador,poisbuscaimplantaruma
* ÉProfessorecoordenadordocursodeAdministraçãodaUmesp.DoutorandoemAdminis-traçãoecoordenadorgeraldoprojetoSBCSol.
**ÉPedagogaemestreemEducação.DocentenocursodePedagogiaEaDdaUmespemembrodaIncubadoradeEmpreendimentosSolidáriosdeSãoBernardodoCampo(SBCSol).
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
incubadoraconsiderada“híbrida”,ouseja,comaçõesconjuntasdauniversi-dadeedopoderpúblico.OconvêniocomaFinepeaprefeiturafoiaprovadoepublicadonoDiárioOficialdaUnião(DOU)emdezembrode2011eestelivrobuscasocializaralgumasexperiênciasdestemodeloemimplantação.
OtrabalhodesenvolvidonoprojetoSBCSoleapresentadonestelivrofoidelineadopelareflexão,dentreoutras,decomoproporcionaraosempreen-dimentoseseusmembrosavalorizaçãodosprincípiosbásicosdaeconomiasolidária,alicerçadosnaautogestão,cooperação,colaboraçãoesolidariedade.
Dentreosdesafiosdesteprocessodeincubação,podemosressaltarcomopontocomum,presentenosartigosdestaobra,aconstruçãodeautonomiaapartirdosprocessosinovadoresconstruídospelaincubadora.Porserumprojetointerdisciplinar,diferentesáreasdoconhecimentosedebruçaramsobreaheterogeneidade–emtermosculturais,sociaiseramosdeatividades–dosempreendimentosacompanhadospeloprojetoafimdecompreendê-losàluzdasteoriasepensar,nestasiniciativasempreendedoras,sobreseussaberes,experiências,vivências(valoreseprincípiosqueosdiferenciamdaeconomiavigente)e,assim,construircomosgrupos,pormeiodemetodologiasdialógi-cas,processosenovossaberesquepossamcontribuirparaasustentabilidade,passandoaquipelalegalidadedosempreendimentos,bemcomoapropriaçãodosinstrumentosdegestãoecontabilidade,egerenciamento.Nota-sequeainovaçãopermeiaasrelaçõesdosprocessosqueconstituemoprojeto.Inova-doraquisuperandoaconcepçãoprimáriadesta,paraalémdesta;inovadornoatordegerir,nosaberfazer,noser;enfim,esteéoescopodoprojeto.
ÉnestesentidoqueasproduçõescientíficasdestelivrobuscadisseminaresistematizarpartedasconquistasdoProjetoSBCSole,ainda,fortalecerosempreendimentossolidáriosnosentidodeoferecerdirecionamentosqueorientamasuperaçãodosproblemasqueemergemdestaeconomiaalternativa.
Esperamosquealeituradestelivropermita,aosleitoreseleitoras,umareflexãocrítica,quepossacontribuirparaaexpansãoeconsolidaçãodestetipodeeconomianoBrasil,paraodesenvolvimentodealternativasmaisso-lidáriasnasrelaçõeseconômicasenodesenvolvimentosocial.
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A economia solidária na atual política de
desenvolvimento econômico de São Bernardo do Campo
Jefferson José da Conceição*
* SecretáriodeDesenvolvimentoEconômico,TrabalhoeTurismodeSãoBernardodoCampoeProf.Dr.daUSCS
A economiasolidáriarepresentaa“outrametade”dosistemaeconômicohoje.Aprimeirametadeéaquelacompostaporempresasetrabalha-doresinseridosnadinâmicaenasrelaçõescapitalistastradicionais,
istoé,submetidosàcompraevendadaforçadetrabalhoeaocircuitoqueenvolveprodução,comercialização,distribuiçãoeconsumotípicodeumaeconomiacapitalista.Asegundametadeérepresentadaporumconjuntodeempreendimentosqueestãoexcluídosdestadinâmica.Nestecaso,omodelomaisavançadoéodaeconomiasolidária.
Tantoemrelaçãoaumaquantoaoutraeconomia,osinstrumentosaoalcancedoPoderPúblicoMunicipalsãolimitados.Nãocabe,porexemplo,aumaSecretariadeDesenvolvimentoEconômico,TrabalhoeTurismoMunici-paladefiniçãodataxadejuros,taxadecâmbio,impostoscomoIPIeICMS,mpostodeImportação,tarifaspúblicas,saláriomínimo,legislaçãotrabalhistaecomercial.Enãohámuitamargemparapolíticasdeincentivotributário,tendoemvistaanecessidadedegastosemserviçospúblicosvitaisàpopula-ção.Istonãosignificaquenãoháoquefazer.
Nocasodasempresasinseridasnocircuitocapitalistaclássicoacimamencionado,temosbuscadoexerceropapeldearticuladorescomvistasaformarredeshorizontaisdecooperaçãoenvolvendogestãopública,setorpri-vado,instituiçõesdeensinoepesquisa,agênciasdecréditoesindicatos.Fazeremergirsinergiasqueaatuaçãoisoladanãopermite,emáreascomonovosmercados;qualificaçãodemãodeobra;aproximaçãodaofertaedademanda
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
emitensestratégicos,comoosserviçostecnológicos;inovaçõesprodutivasedegestão;comprascoletivas;parceriasnacionaiseinternacionais.Ogestorpúblicopode,semcustopraticamentealgum,fazersurgiruma“governança”público-privadaeum“capitalsocial”degrandevalia.Éestecapitalsocialque,apartirdosprópriosrecursosprivados,incrementaráacompetitividadeemoveráaatividadeprodutivalocal.FórunsdeDesenvolvimentoEconômicoeArranjosProdutivosLocais(APLs)dialogamcomestaestratégia,namedi-daemquejuntamosatoresemtornodabuscaderesultadosconcretos,apartirdeumaagendageralesetorial,calcadaemdiagnósticosemetas.EmSãoBernardoestãoemfuncionamentodozeAPLssetoriais(ferramentaria;autopeças;químico;têxteiseconfecções;indústriadedefesa;gráfico;indús-triamoveleiro;design,audiovisualeeconomiacriativa;turismo;panificação;restaurantes,baresehotéis;pesqueiro).Embreve,teremostambémonossoFórumdeDesenvolvimentoEconômico.
Nocasodaeconomiasolidária,temosbuscadoagirtambémdemodoainduzirprocessosvirtuososdecrescimento.Antes,porém,cabeumabre-víssimacontextualizaçãodaeconomiasolidária,paraquemelhorsediscutaseusavanços,possibilidadesedesafios.
Nestesentido,caberegistrardesdelogoqueaeconomiasolidáriavemde longadata.SuasorigensremontamameadosdoséculoXIX,quandoalgumasexperiênciaseuropeiasbuscaramconstituirumaeconomianãocapitalista,baseadanocooperativismodeproduçãoedeconsumo,vincu-ladoaumsocialismoutópico.Defato,estasexperiênciasforamconcebidaserealizadascomoumadasrespostasdomovimentooperárioeuropeuaosistemadeexploraçãocapitalista.Desdeentão,entreosprincipaisprincípiosdaeconomiasolidáriaestãoacooperação,auniãoeasolidariedadeentrehomensemulheres,para,nãosomentegarantirosustentodesuasfamílias,mastambémevidenciar,nocontextodeumalutaideológicaepolítica,queexistemoutrosmeiospossíveisdeeficientementeorganizaraproduçãoeadistribuiçãodariqueza,distintasdoindividualismoedavalorizaçãodoprivado,propugnadospelaideologialiberalcapitalista.
Nestalongatrajetóriadeaprendizadodaeconomiasolidária,hácasosdeempreendimentossolidáriosbemsucedidosedelongaduração.NaEuropa,doiscasosdeeconomiassolidáriasexitosas,porexemplo,são:odaRegiãodeEmiliaRomanha,naIIIItália,ondeaparticipaçãodascooperativasedaspequenasempresassitua-seemtornode30%doPIBdaregião;eodogrupoespanholModragonCorporacionCooperativa,grupoestequeestáentreos
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A economiA solidáriA nA AtuAl políticA de desenvolvimento econômico de s.B. do cAmpo
maioresdaEspanhanaatualidade.Muitosfatoresparticularesexplicamosucessodeambas,masumdelesparececomum:odabuscade“integração”destesempreendimentossolidáriosnosmercadoscapitalistas,semqueistoferisseosprincipiosbasilaresquesustentamaeconomiasolidária.Deoutrolado,tirantetambémasespecificidadesdecadacaso,hámuitasexperiênciasquepecarampornãoseprepararemadequadamenteparasuaparticipaçãonosmercadoscapitalistas.
Assim,apesardalongatrajetóriapercorrida,aindapermaneceumgrandedesafioparaaeconomiasolidária:comocultivarosprincípiosdasolidariedade,inclusão,cooperaçãoegeraçãoderendaemumcontextoemquepredominaomododeorganizaçãocapitalista?Comoconcorrercomospreços,qualidades,marcaseprazosdasempresascapitalistas?
NoBrasil,aeconomiasolidária–quetemorigensligadasàscooperati-vasagrícolas–foiretomadacomforçaapartirdadécadade1990,quandoseverificougrandenúmerodeempresasfalidasedepessoasdesempre-gadas.NaRegiãodoABC,osindicalismoapresentouocooperativismodeproduçãocomoformademanutençãodafábrica(seumaquinárioepostosdetrabalho).Istoampliouaabrangênciadaeconomiasolidárialocal,quevaidosmicroempreendimentosdeinclusãodesegmentosmaisvulneráveisatégrandesfábricasgeridaspeloscooperativados.NaRegião,vivenciamosumaimportanteexperiênciaquefoiadosmetalúrgicosdoABC–umadasmaisatingidasnacrisedadécadade1990.Naépoca,osindicatoerapresididopelohojePrefeitoLuizMarinho.Em1997,aempresaConforja,situadaemDiadema,tevesuafalênciadecretada.Arazãodestafalênciaresidiafunda-mentalmentenaquedadosinvestimentospúblicosdaPetrobrásnoperíodo.Estaempresa,noseuaugenosanosde1970,chegouaseramaiorforjariadaAméricaLatina.FornecedoradaPetrobrás,aempresaempregavacercade1.200funcionários.Apósmuitasdiscussões,osfuncionáriosdaempresadecidiram,comoapoiodoSindicatodosMetalúrgicosdoABC,arrendaraempresaeconstituiraUniforja–umconjuntodequatrocooperativasdeprodução.Hoje,aUniforjaexpandeseus investimentoseéumadasempresasquefazempartedoseletogrupodefornecedorasdaPetrobrás.Avontadedostrabalhadoresedastrabalhadoras,comoapoiofirmedoSindicato,possibilitouque,alémdarecuperaçãodafábrica,pudesseaUNI-FORJAconstituir-seemumaempresadesucesso,faturandomaisdeR$220milhõesporano,gerandomaisde600postosdetrabalhoecontribuindocomomunicípio,oEstadoeaUnião.
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
ApartirdaexperiênciaexitosadaUniforjaedemuitasoutras,aeconomiasolidáriavoltouaterumolharespecial,especialmentenaspolíticasdegeraçãodeempregoerenda,executadaspelosgovernos,sindicatos,universidades,igrejas,ONGseoutrosmembrosdasociedadecivil.AeconomiasolidáriasefortaleceunogovernoLulacomaconstituição,em2003,daSecretariaNacio-naldeEconomiaSolidária,econtinuaaseexpandirnagestãoDilma.Claroqueaindahámuitoaseavançaremitenscomofinanciamento,comercialização,capacitaçãogerencial,formaçãoderedeseparcerias.
Aindasãopoucososgovernosmunicipaiseestaduaisqueefetivamentetêmumapolíticadeapoioàeconomiasolidária.Nestecontexto,apolíticadesenvolvidapelaPrefeituradeSãoBernardo,sobacoordenaçãodaSDET,éreferêncianopaís.Estapolíticapúblicaérealizadaemparceriacominstitui-çõescomoUnisol,AgênciadeDesenvolvimentoSolidário(ADS-CUT),CentrodeFormaçãoPadreLéoComissari,Sebrae,ConsuladodaMulher,Capataziadospescadores,CentrodeReferênciaemAssistênciaSocial(Cras),CentrosdeAtençãoPsicossocial(Caps),FórumMunicipal,RegionaleNacionaldeEcono-miaSolidária,RededeGestoresemPolíticaPúblicadeEconomiaSolidária,GTTrabalhoeRendadoConsórcioIntermunicipaldoGrandeABC,Dieese,FundaçãoVolkswagen,entreoutras.
Umasériedeaçõesintegradasconstituinossapolíticaparaaeconomiasolidária:
a) constituiçãodeumCentroPúblicodeEconomiaSolidáriaemSãoBernardodoCampo.UmembriãodesseCentroPúblicofoiodeno-minado“EspaçoSolidário”,queinauguramosemagostode2011.AintençãoéqueesteEspaçoSolidário–queéanexoànossaCentraldeTrabalhoeRenda,consolide-secomoreferênciadaeconomiasolidárianomunicípio,possibilitandomaiorintegraçãoeorganizaçãodosempreendimentosesuasatividades.SãorealizadasnoEspaçoSolidárioatividadesdeformaçãoeassessoriaparaosgruposjáformados,assimcomoorientaçõesparapessoasquepretendemorganizar,coletivamente,umempreendimentoparaproduzirbensouprestarserviços.OEspaçoSolidáriocontribuiparaaexposiçãoecomercializaçãodosprodutoseserviçosdosempreendimentossolidários,taiscomoartesanato,costuraereciclagem.DignoderegistroéaexperiênciadalanchoneteconduzidaexclusivamentepelosusuáriosdoCentrodeAtençãoPsicossocial,queproduzemecomercializamdocesesalgados,propiciandoatividadesque,para
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A economiA solidáriA nA AtuAl políticA de desenvolvimento econômico de s.B. do cAmpo
alémdeterapêuticas,têmpossibilitadoareinserçãodosusuáriosnocotidianodetrabalhoenotratocomopúblicoconsumidor;
b) priorizaçãodosempreendimentosdaeconomiasolidárianascom-praspúblicas;
c) criaçãodeespaçosparaosempreendimentosnosbairrosempro-cessodeurbanização,comoéocasodosconjuntoshabitacionaisconstruídospelaPrefeitura;
d) fomentoàcriaçãodecadeiasprodutivasregionaisvinculadasàeconomiasolidária;
e) apoioàeconomiasolidáriapormeiodaleideMunicipal.fiscaldeincentivos.
DeixeiparaofinalumadasaçõesmaisimportantesdaSecretarianocam-podaeconomiasolidária:ainéditaincubadoradeempreendimentossolidáriosdeSãoBernardodoCampo(SBCSol),parceriaentreoInstitutoGranbery/UniversidadeMetodista,aPrefeituraMunicipaleaFinanciadoradeEstudoseProjetos(Finep)doMinistériodeCiência,TecnologiaeInovação(MCTI).
Criadaem2012,aSBCSol temodesafiodecriarumametodologiaespecíficade incubaçãoparaosempreendimentossolidários,bemcomoapoiá-loscomcapacitaçõesdiversas.Naprática,istosignificatambémtor-narosempreendimentossolidárioscompetitivosecapazesdeconcorrernomercadocapitalista.Istoenvolveaindaaparticipaçãodaeconomiasolidáriaemprocessosdelicitaçãodospoderespúblicosmunicipal,estadualefederal.
Apesardoseucurtoperíododeexistência, jáépossívelextrairele-mentosimportantesdaexperiênciadaSBCSol.Umadelaséanecessidadedequeoprocessodeincubaçãoenfatizeabuscaconstantedaqualidadedosprodutoseserviçosofertadospelosempreendimentos,oquerequer,porsuavez,oaprimoramentopersistentedosprocessosdeproduçãoedeprestaçãodeserviços.
Outroelementoadestacaréodadiscussãoquantoaosrumosdaforma-lizaçãodosempreendimentossolidários,senaformadecooperativa,associa-ção,pequenaempresa,entreoutras.Certamente,norteiaadiscussãoeescolhaaquelecaminhoquepossibilitedarmelhorescondiçõesderemuneraçãoaosseussócios.Masesteéapenasumdospontosaseremlevadosemconta.
CabeterclaroqueaSBCSol,porsimesma,jáéumainovaçãoemnossopaís,poisconciliaapolíticapúblicadefomentoàeconomiasolidáriacomopotencialdeaprendizagemqueaUniversidadeoferece.Estemodelopoderáserreplicadoemoutraslocalidades.
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
Porfim,queroencerrarreafirmandoocompromissodaSecretariadeDe-senvolvimentoEconômico,TrabalhoeTurismodeSãoBernardocomaSBCSolecomaeconomiasolidáriaemgeral.Continuaremosempenhadosparaquetodosetodasasparticipantesdosempreendimentossolidáriospossam,pormeiodotrabalhoautogestionário,setornarempreendedoresdesucesso,contribuindocomodesenvolvimentoeconômicoesocialdanossacidade.
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Gestão inovadora no processo de incubação: o caso SBCSol
* ProfessorecoordenadordocursodeAdministraçãodaUmesp.DoutorandoemAdminis-traçãoecoordenadorgeraldoprojetoSBCSol.
**Graduandado5ºperíododeadministraçãodaUmespebolsistaCNPqdoprojetoSBCSol.
Douglas Murilo Siqueira*Jaqueline Vieira de Moraes**
A economia solidária e as incubadoras
Ocooperativismonãoéumfenômenorecentenomundo,nasceunasegundametadedoséculoXVIIIdecorrentedaformaçãodeumamassadedesempregados,originadadaevoluçãotecnológicaeda
reorganizaçãodosmeiosdeprodução(LECHAT,2002;MAUAD,2001;SINGER,2010).Foiumaépocaemqueomovimentooperárioreagiuseorganizandoemsindicatosecooperativas(LEWIS,2007).EssemovimentoresultounaformaçãodaAliançaCooperativaInternacional(2013),criadaem1895,quecontaatualmentecom230membrosde100países,representandomaisde730milhõesdepessoas.
Omodelodocooperativismoéconsideradoumdostiposdeexperiênciadaeconomiasolidária(ES).Nessaoutravertenteeconômica,aspessoassereúnemparaproduzir,combasenosprincípiosdaigualdadeereciprocidade,caracte-rizadapelasocializaçãodariquezaepelagestãodemocrática(SINGER,2010).
SegundooMinistériodoTrabalhoeEmprego(MTE),aeconomiasolidárianoBrasilcomeçouasetornarmaisrepresentativanadécadade1980,masfoisomenteapartirde2003,comacriaçãodaSecretariaNacionaldaEconomiaSolidária(Senaes),queopaíspassouaterfocoparaofomentoecrescimentodessemodeloeconômico.Dadosde2007daSenaes,pormeiodeseuSistema
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deInformaçõesdaEconomiaSolidária(SIES),apontamumfortecrescimentodessetipodeeconomiaprincipalmenteapartirde2001.Levantamentore-alizadoem2007pelogovernoregistrou21.859empreendimentossolidários(EES).Dessetotal,2.115(9,7%)sãocooperativase113,resultadodarecupe-raçãodeempresasemprocessofalimentar,emqueagestãodaorganizaçãopassaparaaresponsabilidadedostrabalhadores,emformadecooperativa.Emrelaçãoàmotivaçãoparacriaçãodessesempreendimentos,51%nasceuporalternativaaodesemprego,25%paraobtermaiorganhofinanceiroe24%paracomplementararendafamiliar.Dototaldeempreendimentos,quasemetade(43%)encontra-senoNordeste,18%naregiãoSudeste,16%nare-giãoNorte,15%naregiãoSule11%naregiãoCentro-Oeste(BRASIL,2011).
Paraoestudodosempreendimentossolidários,independentementedoramodeatuação,énecessárioentender,inicialmente,aconcepçãobásicadeadministraçãonadimensãoassociativa,conformeoestudodoDepartamentoIntersindicaldeEstatísticaeEstudosSocioeconômicos(Dieese)edaCentraldeCooperativaseEmpreendimentosSolidários(Unisol)de2012(DIEESE;UNISOL,2012).Umacooperativaouassociaçãopertenceaostrabalhadoresquenelaproduzem.Agestãoacontecedeformademocráticaecompartici-paçãodiretaouporrepresentação.Asdecisõescolegiadassãotomadasemassembleia,ondeopesodovotodoscooperadosouassociadostemomesmovalor.Assim,énessesistemademocráticoquedecidemdesdeacomprademateriaisbásicosatéaformaçãodeumanovadiretoria,oumesmoacompradeequipamentosefinanciamentos(SINGER,2010).Noprocesso,ocooperadodesempenhaumduplopapel,ouseja,éodonoetambémooperário.Comoovotodecadacooperadotemomesmopeso,todostêmomesmopoderdeinfluêncianasdecisõesestratégicas,independentedograudecolaboraçãooudeparticipaçãonacooperativaouassociação.Alei5.764/71quedefineapolíticanacionaldocooperativismoexigequeascooperativaseassociaçõessejamregidasporumestatuto,redigidoevotadopeloscooperadosouasso-ciados,oquegaranteumasingularidadeparaaorganização(MAUAD,2001;SINGER,2010).Épormeiodoestatutoqueasregrasparaarealizaçãodaeleiçãoeomandatodagestãodoempreendimentosãodefinidas.Osgesto-reseleitos,alémdascompetênciastécnicas,devemcontarcomumarelaçãodeconfiançainterpessoalcomostrabalhadores,fatordeterminanteparaosucessodoempreendimento(DIEESE;UNISOL,2012).Arelaçãodeconfiançafazcomqueocomportamentocooperativonadimensãoassociativasejaconquistadocommaiorfacilidade(ROUSSEAUetal.,1998).
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Gestão inovadora no processo de incubação: o caso sbcsol
Apesardesuascaracterísticassingularesdegestãoeprodução,osempre-endimentossolidáriosnãoficamàmargemdaeconomiademercadoparasemantervivos,sendoodesempenhoeconômicoumgrandedesafio.SegundolevantamentodaSenaes(2011),agrandemaioriadosempreendimentos(36,6%)nãoéformalizadaeéconstituída,emgrandeparte(56%),pororgani-zaçõesdeaté50pessoas.Somente4,79%faturamacimade100.000,00reaispormêsemaisde60%possuiumfaturamentodeaté10.000,00reaispormês.Pesquisarealizadaem2007com54incubadorasuniversitárias,respon-sáveispor537empreendimentose18.074trabalhadores,confirmaqueumagrandedificuldadedessesempreendimentoséadenegociarseusprodutoseserviços(61,58%)(BRASIL,2011).Dosentrevistados,11,95%confessaramnãoconseguirquantidadesuficientedeclienteseoutros6,20%apontavaoutrasdificuldadesderelacionamentoparaocomércio.Paraagravarasituação,52,50%dospesquisadosnãoconseguemcréditoparadesenvolveronegócio:umdosmaioresdesafiosdessesempreendimentoséodeobteracessoaomercadofinanceiroparafinanciamento.Aspartesinteressadas(stakeholders)fornecedorasdecréditos–caracterizadaspelosbancospúblicosouprivados,entidadesgovernamentaisounãogovernamentaisemicrocrédito–nãoaten-demporcompletoàsnecessidadesdessepúblico,poisnãoconsideramsuapropostaassociativaesocial,tratando-oscomosmesmosparâmetrosdosempreendimentosmercantis(DIEESE;UNISOL,2012).Umdosempecilhosemconcederocréditoresidenafaltadeconfiançaaoavaliaraviabilidadedoempreendimentoenosinteressesdivergentesdosórgãosfinanciadores(DIEESE;UNISOL,2012).
Paraapoiarosempreendimentossolidáriosasuperarosdesafiosdasdimensõesassociativaedemercado,asincubadorasuniversitáriasepúblicasdeempreendimentossolidáriosprocuramfornecerassessoriatécnica,jurídicaedesustentabilidadeeconômica,alémdeconstruirereconstruircompetên-ciasparaossujeitosenvolvidos,valorizandoosaberacumuladodaspessoasedosgrupos(CULTI,2007).Asincubadorassão,pordefinição,arranjosins-titucionaiseinterinstitucionaisquesedestinamaapoiareassessorarnovosempreendimentosoufortalecerempreendimentosjácriados,oferecendoqualificaçãoeassistênciatécnicaduranteoperíododeincubação(BRASIL,2013bRUWER,2011).Alémdedesenvolverumatecnologiasocialutilizadaparaampliarageraçãodetrabalhoerenda,asincubadorasuniversitáriastecnológicasdeempreendimentospopularessãoespaçosquecongregamdiversosgruposdeinteresses,entreelesdiscentes,docentes,pesquisadores
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etécnicos.Osgruposestão,geralmente,inseridosemprogramasinstitucio-naisdepesquisaeextensãodauniversidade,comamissãodedesenvolverpesquisasteóricaseempíricassobreaeconomiasolidária(CULTI,2007),alémdeapoiarosempreendimentos.Osdesafiosdegestãodasincubadorassãovários,comdestaqueparaosfatoreseconômico,pedagógicoesociopolítico(quadro1).Noâmbitoeconômico,enfrentamodesafiodoacessoaocrédi-toedaorganizaçãodoprocessoprodutivocomtrabalhadores,geralmentepobresecompoucograudeescolarização.Noâmbitopedagógico,ograndedesafioestánaformaçãoculturaldotrabalhadorque,namaioriadoscasos,nãocompartilhoudeumaeducaçãoformalesedeparacomanecessidadedegerireconsolidarumnegócio,deformacoletiva.Jánoâmbitosociopolíticoodesafioresidenofatodeoempreendimentopreservarsuaautonomiaemrelaçãoàincubadoraemanteraautogestão(CRUZ,2004).
Quadro 1 – Desafio das incubadorasDESAFIOS QUESTÕES A QUE SE REFEREM
Econômico
• Comoorganizarefazerfuncionarempresasdetrabalhadorescomca-racterísticasdistintas(geralmentepobres,desempregadosecompoucaescolarização),quefossemcapazesdesobreviveremmercadosoligopoli-zadosedealtacompetitividade,oumesmoemmercadossaturadoscomoosdaspequenasemédiasempresas?
• Comoorganizar,nessascondições,umprocessoprodutivocomaeficáciaeaeficiêncianecessáriasquelhespermitissemaomesmotempoviabilizareconomicamenteaempresaegarantiraautogestão?
• Comoacessarcréditosparafinanciamentoecomoacessarmercadosparacomercialização?
Pedagógico
• Comocapacitaressetipodetrabalhador,quenãocompartilhouaculturadaeducaçãoformal,acriar,gerireconsolidarumnegócio,fazendo-odeformacoletiva?
• Comolograrqueessestrabalhadores,coletivamente,sejamcapazesdeacessaremanejarconhecimentosde(a)gestãoeconômica,(b)qualidadedoproduto,(c)mecanismosdedecisãodemocrática,(d)permanentebuscadetecnologiasalternativase,finalmente,(e)preservaçãodasaúdeedomeioambiente?
Sociopolítico
• Comointervirdemaneiraqueosgrupospreservemsuaautonomiaemre-laçãoàincubadoraeaautogestãosejaconstruídadeformapermanente?
• Comointervirdemaneiraqueaviabilizaçãodainiciativasetransformenumprocessodepotencializaçãodacidadaniadosgruposedaspessoas?
Fonte:Cruz,2004,p.47.
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Natividade(2011)estudou48incubadorasuniversitáriasquereceberamfinanciamentodoProgramaNacionaldeIncubadorasdeCooperativasPopu-lares(Proninc),eavaliouresultadosdiversosnosdesafiosdoquadro1.Dasincubadoraspesquisadas,duasnãoapresentaramresultadosporestaremnoiníciodoprocessoouporpassaremmomentosdifíceiscomosempreen-dimentosincubados.Amaioriaapresentouresultadosinstáveiselimitados,principalmentenofatoreconômicodageraçãoderendaparaasobrevivên-ciadosempreendimentos.Outras,porsuavez,obtiveramresultadosmaisexpressivos,comempreendimentosincubadoseematividadehámaisde10anos(NATIVIDADE,2011).ApesardeosresultadosdapesquisarealizadaporNatividade(2011)apontaremparagrandesdesafiosaseremsuperadosnoprocessodeincubação,aimportânciadasincubadoraspodesercomprovadanapesquisade2007daSenaes,queapontou,em54incubadorasuniversitáriasnopaís,aexistênciade537empreendimentosemprocessodeincubação,responsáveispormaisde13.000trabalhadores.Osucessodasincubado-ras,porsuavez,resideemsuperarosdesafiosdosresultadoseconômico,pedagógicoesociopolítico,queenvolveorelacionamentocomasdiversaspartesinteressadas(stakeholders),queinfluenciamesãoinfluenciadospelaincubadora.Osstakeholdersdasincubadorassãomuitos:governo,bancos,empreendimentos,alunos,ONG,pesquisadoresetc.
Gestão inovadora de política pública para geração de trabalho e renda no município de São Bernardo do Campo
Comoobjetivodedesenvolverumapolíticapúblicainovadora,ogover-nomunicipaldeSãoBernardodoCampobuscou,pormeiodaparceriacomaAgênciaBrasileiradeInovação(Finep),aUniversidadeMetodistadeSãoPaulo(Umesp)eoInstitutoMetodistaGranbery(IMG),recursosfinanceirosehumanosparaaimplantaçãoegestãodaIncubadoradeEmpreendimentosSolidáriosdeSãoBernardodoCampo(SBCSol),caracterizadapelasuages-tãoinovadora,poisaSBCSoléumprojetoquebuscaaimplantaçãodeumaincubadora“mista”,ouseja,geridaporumaaliançaintersetorial,compostapordiferentesatoresinstitucionais:aPrefeituraMunicipaldeSãoBernardodoCampo,representadaporgestoresetécnicosdaSecretariadeDesenvolvi-mentoEconômico;aUniversidadeMetodistadeSãoPaulo;easociedadecivil.
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Asdiversaspolíticaspúblicasdeerradicaçãodapobreza,naesferafederaldegoverno,queforamimplantadasnoBrasilnosúltimosdezanos,diminuíramdrasticamenteapopulaçãoemcondiçõesdeextremapobreza,porém,comodemonstraográfico1,aindaexistemcercadeoitomilhõesdepessoas,emterritórionacional,comrendaigualoumenoraR$70mensais.
Gráfico 1 – População com renda domiciliar per capita até R$ 70,00
Fonte:IBGE,PesquisaNacionalporAmostradeDomicílios(PNAD),2012.
SãoBernardodoCampolocaliza-senaregiãoMetropolitanadeSãoPauloemumaáreaconhecidacomoGrandeABC,tradicionalmentepolodaindústriaautomobilísticadopaís,altamenteurbanizadoecompotencialdecrescimentoeconômico.
Especificamente,SãoBernardodoCampo–territórionoqualoprojetodeincubaçãoestudadonesteartigoseinsere–apresentavaemmaiode2013,segundooMinistériodeDesenvolvimentoSocialeCombateàFome(MDS),23.312famíliasnoProgramaBolsaFamília,oquerepresentacoberturade88,75%dototalestimadodefamíliasdomunicípiocomperfilderendadoprograma.Portanto,aindaexisteumaparceladapopulaçãolocalqueviveemextremapobrezaenãotemacessoanenhumprogramasocial(BRASIL,2013d).
Atabela1mostraque,emmaiode2013,aindapodiamserencontrados15.500habitantesvivendoemsituaçãodepobrezaextrema.
20.000.000
15.000.000
10.000.000
5.000.000
02001 2003 2005 2007 2009
2002 2004 2006 2008 2011
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Tabela 1 – Pobreza extrema nas cidades da região do Grande ABC Paulista
Municípios do Grande ABC População Extremamente pobres
% Extremamente pobres
Diadema 386.089 11.482 3,0
Mauá 417.064 10.864 2,6
RibeirãoPires 113.068 3.976 3,0
RioGrandedaSerra 43.974 1.265 2,9
SantoAndré 676.407 10.617 2,6
SãoBernardodoCampo 765.463 15.567 2,0
SãoCaetanodoSul 149.263 775 0,5
Fonte:MinistériodoDesenvolvimentoSocialeCombateàFome/IBGE/IPEA.
Poressarazão,sãoimportantesaspesquisasqueanalisamalternativasgovernamentaisparageraçãodetrabalhoerenda.Essasalternativasbuscamsoluçõesqueseestendemalémdainclusãonosmodelosdetrabalhotradi-cionaisdosgruposmenosfavorecidoseconomicamente,ouseja,alémdopreparodepessoasparaatuarcomoempregadasnasempresasexistentes.Umadasalternativaséoincentivoaempreendimentossolidários,quepodemserestimuladosedesenvolvidosporintermédiodeincubadoraspúblicas.Taispesquisaspodemcontribuirparaacriaçãodepolíticaspúblicasqueconsigamaceleraroprocessodeerradicaçãodapobrezaextrema.Emfunçãodisso,estapesquisafoirealizadatendocomoseuobjetodeestudoaimplantaçãoegestãodeumaincubadoradessetipo.
As incubadoras nas universidades: seu papel na economia solidária
Aeconomiasolidáriacompõe-sedeempreendimentoscomdiferentesnaturezasdenegócios,demodoqueépossívelencontrarcooperativaspopu-lares,associaçõesdeprodutoreseconsumidores,clubesdetroca,recuperaçãodefábricasfalidasegeridasporcooperativasdeex-empregados,ocupaçõesdeterraeproduçãocoletiva,entreoutras.
TaldiversidadeimpulsionouasuniversidadesaseincluíremnasiniciativasdeincubaçãopormeiodasIncubadorasUniversitáriasdeCooperativasnaEconomiaSolidáriaouIncubadorasTecnológicasdeCooperativasPopulares(ITCP),comumapropostade,alémdebuscargeraçãoderenda,trazerpara
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aacademiadebatessobreessasexperiências,possibilitandoaconstruçãosocialehistórica.
Esseformatodeincubadora,paraOliveiraeDagnino(2003),originou-seem1992,peloMovimentoemProldaCidadaniaContraaFomeeaMisériaeasolidificaçãodopensamentosolidário.Porém,eranecessáriocomplementaradistribuiçãodealimentoscomumaaçãoquegerassetrabalhoerenda,oquelevouprofessoresdaFundaçãoOswaldoCruz(Fiocruz),emparceriacomaUniversidadedeSantaMaria,acriarumacooperativapopular,compostapormoradoresdaMaré(RJ),paraprestarserviçosparaaprópriaFiocruz:aCooperativadeManguinhos.
ComosucessodeManguinhos,professoresealunosintegrantesdaCoor-denaçãodeprogramasdePós-GraduaçãodaEngenhariadaUniversidadeFederaldoRiodeJaneiro(COPPE-UFRJ),comsubsídiosdaFinep–AgênciaBrasileiradaInovação1,criaram,em1995,aprimeirainiciativadeumaIncubadoraTec-nológicadeCooperativasPopulares(ITCP),comoobjetivodeestabelecerumcontatocomcomunidadesdasfavelasinteressadasnaformaçãodecoopera-tivasdetrabalho(OLIVEIRA;DAGNINO,2004GUIMARÃES,1999).Noinício,asincubadorasuniversitáriasdeempreendimentosdeeconomiasolidáriafocaramnaorganizaçãodecooperativasemsetoressociaisexcluídos.Contudo,comocrescentenúmerodetrabalhadoresqueperdemseusempregosemdecorrênciadareestruturaçãoprodutiva,asincubadoraspassaramaformarcooperativascomessesgrupos,emdiversossetoresdeatividadeeconômica.Poroutrolado,asincubadoraspúblicasdeempreendimentossolidáriossurgiramvinculadasaosgovernosmunicipaiseàspolíticasdefinidasemâmbitofederalpeloSenaes.Ocasodeincubadoraaquiestudadoagregaumaparceriaenvolvendoopodermunicipaleduasuniversidades,umagestoraeoutracolaboradora.
Nãosetemnotíciadeincubadorasgeridasporaliançashíbridasdopontodevistadadiversidadedeatoresinstitucionaispresentesemsuaconstituição.Essaformadeestruturaçãoéinovadoraemsuaessência,poisintegraemsuagestãodiferentesolhares,interessesenecessidadesqueseunememproldeumobjetivocomum.
Caso da incubadora SBCSol
ASBCSoléumprojetointersetorial,envolvendoaFinep,aPrefeituraMunicipaldeSãoBernardodoCampo,aUniversidadeMetodistadeSãoPaulo
1VinculadaaoMinistériodaCiência,TecnologiaeInovação(MCTI).
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eoInstitutoMetodistaGranbery.OsintegrantesdoprojetosãobolsistasdoConselhoNacionaldeDesenvolvimentoCientíficoeTecnológico(CNPq).Oprojetotevesuaaprovaçãoemdezembrode2011, inícioemagostode2012comprevisãodetérminoemagostode2014.OstermosdoacordocomaFineppodemserverificadosnoprocessonúmero0111.0377.00,dedezembrode2011.
Foramcompromissadas,comaFinep,váriasmetasparaaimplantaçãoeaoperaçãodaincubadora.Asmaisimportantessão:incubarvinteempre-endimentossolidários;formalizar,nomínimo,dezempreendimentossolidá-rios;fomentaroacessodosincubadosaoutrosprogramassociais;inovarumprodutoouserviçoemcadaempreendimento;elaborardezcartilhascominstruçõesparaorientarosincubadossobrediversasáreasdeumempre-endimento;treinareprepararosempreendedoresparaatuaremdeformaindependenteemseusempreendimentos;assessorarosempreendedoresnarotinaeprocessosdetrabalho;realizarquatroseminários,sendouminicial,doismetodológicoseumfinal,visandoaodebateeàintegraçãocomoutrospúblicosparadiscutirtécnicaseresultadosobtidos;fundarabibliotecadoempreendedorsolidário;editarumlivrosobreoprojeto;editarumcadernocomasistematizaçãodametodologiautilizadanoprojeto.
Oprojetoprevêaparticipaçãode36profissionais,dentreelesumco-ordenadorgeraleumacoordenadoratécnica,quatrotécnicos,professorespesquisadoreseuniversitáriosdediversasáreasdoconhecimento,comoadmi-nistração,economia,recursoshumanos,comunicação,pedagogia,psicologia,designerdeprodutos,jornalismo,rádioeTV,biblioteconomia.HátambémtécnicosdaPrefeituraparticipandodeaçõesdoprojeto.
Osparticipantesdoprojetoestãoorganizadosemdoisgrandesgruposdetrabalhoquesão:ogrupoadministrativofinanceiroeogrupodeplane-jamentoeexecuçãotécnica.Aáreaadministrativaadquireosequipamentospermanentesedeconsumo,contrataserviçosdeterceiroseprestacontasparaosfinanciadores,sempreorientadapeloconselhogestor.Aáreatécnicaéresponsávelportrabalhardiretamentecomosempreendimentosincubados,diagnosticandoseuspontosfortesefracos,criandometodologiaparaalcançaragestãoautossuficientedoempreendimentoeavaliandocontinuamenteosresultadosalcançadosdeformaapromoverajustesnoprocesso.
Oconselhogestordoprojetoécompostoporumrepresentantedecadainstituiçãoparticipante.Aresponsabilidadedoconselhoéprimeiramentein-tegrarasinstituiçõesparaque,emconsenso,decidamasdiretrizesaserem
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seguidasportodososparticipantesdoprojeto.HáreuniõesregularesentreosmembrosdoConselhoparaacompanhamento,decisões,utilizaçãodeverbas,encaminhamentodesoluçõesparaeventuaisproblemas.
Nahierarquia,apósoconselhogestor,posiciona-seocoordenadorge-ral,queéumprofessordauniversidadee,respondendodiretamenteaele,umacoordenadoratécnica,oriundadoterceirosetor.Essesdoisníveisdecoordenaçãointeragem,diariamente,discutindoeencaminhando,deformaintegrada,asquestõesoperacionaisrelacionadasàimplantaçãodoprojeto.
OstécnicosdoprojetosãotodosbolsistasdeprodutividadeindustrialpeloCNPq,sendoquequatrodessestécnicossãoresponsáveispeloplanejamento,acompanhamentoeavaliaçãodeumgrupodeempreendimentosincubados.
Osempreendimentosincubadossãodediversossegmentos,entreeles:–reciclagemderesíduossólidos;–têxtil;–cooperativametalúrgica,oriundadeumamassafalida;–economiacriativa(gruposdeartistaspopulareseartesanato);–hortascomunitárias;–alimentação.Asreuniõesentreostécnicoseacoordenaçãotécnicaocorremquinze-
nalmenteparaqueexistatrocadasexperiências,apropriaçãodemelhorespráticaspelogrupoesoluçãodeproblemasdeformasinérgica.
AsdecisõeseencaminhamentosnaáreaadministrativatomamcomodiretrizfundamentaloorçamentodisponívelnoprojetoeprestaçãodecontasparaaFinepeparaaPrefeituraMunicipaldeSãoBernardodoCampo.
Inovação na construção e implantação de políticas públicas de geração de trabalho e renda – caso SBCSol em São Bernardo do Campo
SegundoSpink(2004),apartirdeanálisedosprojetosavaliadosnoPro-gramaGestãoPúblicaeCidadaniadaFGV,épossívelcompreenderosignificadodeinovaçãonagestãopúblicacombaseemcritériosquesãoutilizadospelosavaliadoresdosprojetosencaminhados:
–Representeumamudançasubstancial,qualitativaouquantitativa,naspráticasees-tratégiasanterioresnaáreageográficaoutemáticaemfoco,medianteaimplantaçãodeumnovoprogramaouconjuntodeatividadesounamelhoriasignificativadasatividadesouprogramasexistentes.
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–Permitaouapontemaneiraspelasquaisaexperiênciapodeserrepetidaporoutroetransferidaaoutrasregiõesejurisdição.-Amplieeconsolideformasdeacessoediálogoentreasociedadeesuasagênciaspú-blicas,aumentandoaqualidadedapráticapolíticaeinstitucional.-Utilizerecursos locaise/ounacionaise/ouoportunidades internacionaisemumaperspectivadedesenvolvimentoresponsáveleestimule,semprequepossível,práticasautóctoneseautônomasquepossamtornar-seautosustentáveis.(SPINK,2004,p.2).
AindadeacordocomSpink(2004),osautoresdosprojetosencaminha-dostambémdefiniramcritériosdosignificadodeinovação:açõesproativasnabuscadenovassoluçõesparaproblemasexistentes;mudançanoenfoquedecomopensaraação;inclusãoativaecoletiva,abrangendoparticipaçãoecogestãonabuscadesoluçõesenomonitoramentodeações;articulaçãocomoutrosenovosarranjosinstitucionais;mudançadeprioridadeseinclusãopassiva;transferênciadetecnologiadeumaáreaparaoutra;pioneirismo;respostasmúltiplasoumultitemáticas(SPINK,2004,p.8).
Analisando-seaestruturadegestãodaSBCSolcombasenasconclusõesdeSpink(2004),épossívelobservarquesuagestãopossuiumcaráterino-vador,poissuacomposição,comdiferentesatoresinstitucionais,ampliaodiálogoentreopoderpúblicoeauniversidade,transferindoconhecimentodessessetoresparaosempreendimentosdeeconomiasolidária,cujoresul-tadopoderáserdemaiorqualidadenasdecisõespolíticaseinstitucionais.
DeacordocomFrançaFilho(2006),aspolíticaspúblicasdeeconomiasolidária, inclusiveaquelasdirecionadasparaimplantaçãodeincubadorasdeempreendimentossolidários,possuemcomovocaçãoasinteraçõesre-cíprocas;elassãoconcebidaspormeiododiálogocomasociedadecivileoutrosatoresinstitucionaiscomosquaisrealizadiversasarticulaçõeseinterações.Oautordefinedoisníveisdearticulação:aintragovernamentalearealizadacomasociedade.Nessemovimentoresideocaráterinovadordessaspolíticasque,dessaforma,promovemumademocraciaparticipativaepolíticaspúblicasintegradas.ParaFrançaFilho(2006),essaéumavoca-çãodetaispolíticasenãoapráticacomumnomomento,emborapossaserencontradaemváriasexperiênciasbrasileiras.Oautorconcluiqueelasrepresentam“oqueexistedemaisinovadornessegêneronovodepolíticapúblicanoBrasil,sinalizandonovospadrõesdedefiniçãodasrelaçõesentreEstadoesociedade”(FRANÇAFILHO,2006,p.7).
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As alianças intersetoriais como meio para estruturação de políticas públicas
ÉpossívelanalisaraestruturaSBCSolutilizandooconceitodealiançaintersetorial.SegundoFischer(2002),foitambémnadécadade1990quesetornoumaisintensoofenômenodasparceriasealiançasentreempresas,ór-gãosgovernamentaiseorganizaçõesdasociedadecivilnaspráticasderespon-sabilidadesocial.Essasalianças,deacordocomessaautora,poderãotornar-seumatendênciapositivaparaestimularodesenvolvimentosustentável.
Asaliançasintersetoriaissãoformadaspororganizaçõesformaisvin-culadasaomercado,aoEstadoeàsociedadecivilquesearticulamparaumprocessocooperativovisandoàrealizaçãode“metasinstitucionaisoucomuns”(AUSTIN,2001).Essasmetassuperamasprópriasespecificidadesinstitucionaisdecadaumadelas.ParaFischer(2002,p.32),“ascaracterísticasorganizacionaisdecadaentidadeparticipantedeumaaliançadecooperaçãoinfluenciamaconfiguraçãoeodesempenhodaparceria”.
Épossívelcompreenderaaproximaçãoeparticipaçãodosatoresinstitu-cionaisnoprocessodeimplantaçãodeumaincubadoradeempreendimentossolidários,enquantopolíticapúblicadegeraçãodetrabalhoerenda,comomembrosdeumaaliançaintersetorial.Oriundosdeesferasdistintasdaso-ciedade,Estado,iniciativaprivadaeiniciativasdeorganizaçãosocialestãounidosembuscadeconstruiralternativasparageraçãodetrabalhoerendanomunicípiodeSãoBernardodoCampo,masmantendosuascaracterísticasespecíficas,ouseja,umórgãoexecutivodaadministraçãopública,umains-tituiçãodeensinosuperiorerepresentantesdasociedadecivilinteressadoseminiciativasdeassociativismoecooperativismo.
Austin(2001)chamaaatençãoparapontosaseremconsideradosnoprocessodeconstruçãodeumaaliança.Umprimeiroaspectoabordadorefere-seàcompreensãodanaturezaespecíficadaaliançaeemqualestágioseencontra.Oautorentendequeexistemtrêsestágiosdecooperação.Oprimeiro,filantrópico,caracteriza-seporpoucainteraçãoecomunicaçãoentreosaliadoseconfiguraomodelomaistradicionalderelacionamento,baseado,quaseexclusivamente,nadoaçãoerecepçãodebens,recursoseserviços.Noestágiotransacional,acooperaçãotemcomoobjetivocriarvalorparatodososparceiros,satisfazendonecessidadesespecíficasdecadaum–caracteriza--seporumaaproximaçãomaisintensaentreosparceiroseumacomunicaçãopossibilitadorademaiorintercâmbioentreeles.Opróximoestágio,integrativo,
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équandoasorganizaçõesparticipantesdaaliançaestabelecemumacom-patibilidadedeestratégiaseumplanodetrabalhoquepropiciaainteraçãoentrepessoaseautilizaçãoderecursosdetodososparceiros(AUSTIN,2001).
Analisando-seadinâmicadaaliançaentreprefeitura,universidadeeempreendimentosincubados,comparticipaçãodasociedadecivil,verifica-seumposicionamentodainiciativadaSBCSolnoestágiotransacional,poisnelaháumaintensainteraçãoetrocasentreosparticipantesdaprefeitura,sendoaproveitadas,inclusive,experiênciasdegestão,deoperaçãoedeprocessosdetrabalhosdetodososenvolvidos.
OsegundoaspectodestacadoporAustin(2001)refere-seàresoluçãodasdificuldadesdeconexãoentreorganizaçõespertencentesasetoresdiferentes.Fischer(2002),comentandoessesaspectos,enfatizaaimportânciadecadaparticipantedaaliançaseesforçarparaumexercícioconstantedeautoco-nhecimentoeautoavaliação,revendoexpectativassobreaaçãointegradadosparceirosesobreodesempenhodaaliança.Alémdessaquestão,coloca-seanecessidadedapercepçãoefortalecimentodosaspectosdecompatibilidadeentreosparceiros.Nessesentido,énecessárioquecadaparceirodesenvolvaacapacidadedearticulaçãocomosoutrosparticipantesdaaliança.Issopodeserumdesafioenorme,umavezqueaculturaorganizacionaldecadapartici-pante,suahistória,seusmodosdeatuaçãodivergemdosdemaisintegrantes,aindividualidadeéapresentadacomosuperioràcapacidadedeatingirumconsenso,porémquandoaequipeseuneparaummesmoobjetivo,nãomi-nimizandoasdiferenças,masressaltandoadiversidadeútilparaoêxitodaaliança,osresultadosemergemeaaliançatendeasefortalecer..
SegundoFrançaFilho(2006,p.8),
[...]muitassãoastensõesefricçõescaracterizandotalrelação,oquepareceapontarumparadoxoconstitutivodasuanaturezamesmo,ouseja,odesuporumpadrãoderelaçãoqueésempreomesmodecooperaçãoeconflito.Umparadoxo,aliás,quepareceinerenteàcondiçãoepossibilidadedoexercíciodemocrático.
OsdoisúltimospontosindicadosporAustin(2001)paracaracterizarumaaliançaintersetorialsãoaconfiançaeacooperação.Paraele,apráticadainteraçãoedatransparênciafortaleceaconfiançae,comela,épossívelacooperação.Alémdisso,éfundamentalparaaeficáciadeumaaliançain-tersetorialqueseusintegrantestenhamclarezacomrelaçãoàsmotivaçõesqueoslevaramatomaradecisãodeparticipaçãonaaliança,conhecendo,aomesmotempo,asmotivaçõesdosoutrosparceiros.
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
Sãodoisostiposdemotivosqueimpulsionamasorganizaçõesapartici-pardealianças:altruísticoseutilitários(AUSTIN,2001).Umposicionamentoaltruísticoéoqueconcentraointeresseemcontribuirparaasoluçãodeproblemascoletivos,relacionadosàpobreza,àdesigualdadeeexclusãosocial.Amotivaçãoutilitárianãoexcluiaconcomitânciadeinteressesespecíficosdecadaatorinstitucionalparticipantedaaliançaderazõesaltruísticas.
OconceitodealiançaintersetorialparaanalisarocaráterinovadordagestãodaSBCSolcontribuinosentidodeapresentarindicadoresdeeficáciadoprocessodegestãoquearticuladiferentesatoresinstitucionais.
Considerações finais
Épossívelverificar,pormeiodosestudosrealizados,queaSBCSolapre-sentacaracterísticasinovadorasemsuagestãoque,segundopalavrasdeumdosgestoresentrevistados,
[...]valorizaeestimulaaatuaçãodoConselhoGestorquedescentralizaasdecisões,integrandoosmembrosdaaliançaintersetorialcomaparticipaçãoderepresentantesdoInstitutoGranbery,InstitutoMetodistadeEnsinoSuperiorePrefeituraMunicipaldeSãoBernardodoCampo[...]comessadescentralizaçãoeconsequentesdecisõescolegiadasentreosdiferentesatoresinstitucionais,conquista-seumavisãoholísticadoprojetoedeseusimpactosnapopulaçãodomunicípio.
Aaliançaqueoriginouoprojetocompõeumdiferencial,poisosmodelosdeincubadorasexistentessãoexclusivamentedeincubadorasuniversitáriasoupúblicas;porém,emSãoBernardodoCampo,aincubadoraéhíbridaemsuaconstituição,utilizandoopoderpúblicocomofinanciadoreresponsávelpelainserçãodosempreendimentosincubadosemredesdecomercializaçãoearranjosprodutivoslocaiseregionaiseauniversidadecomoconhecimentoacadêmico.Deacordocompalavrasdeumdosentrevistados,“possibilitandoumauniãoqueextraioprincipalelementodecadaórgãoparatornaraSBCSolumprocessoquecumpreseusobjetivosealcançaumanovaformadegestãonaáreadeeconomiasolidária”.
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Tudo junto e misturado: Incubadora de Empreendimentos Solidários
de São Bernardo do Campo: entre as experiências universitárias e públicas
* EngenheirodeProdução(FEI)emestreemEngenhariadeProdução(DEP/Poli–USP),édiretordeEmpreendedorismo,TrabalhoeRendadaSecretariadeDesenvolvimentoEco-nômico,TrabalhoeTurismodaPrefeituraMunicipaldeSãoBernardodoCampo,docentenaFaculdadedeGestãoeServiçosdaUniversidadeMetodistadeSãoPaulo.
Nilson Tadashi Oda*
EstabeleceratrajetóriadaeconomiasolidárianaregiãodoABCPaulista,comênfasenomunicípiodeSãoBernardodoCampoenaperspectivadapolíticapúblicalocaleregionaléoquesepretendecomesteartigo.Paratanto,umabreveabordagemquantoàIncubadoradeEmpreen-
dimentosSolidáriosdeSãoBernardodoCampo(SBCSol)–conformaçãodoprojeto,interrelaçõesinstitucionaiseopçõesmetodológicas–pautar-nos-ãoàreflexãoquantoàspossibilidades,limitesedesafiosdoprocessodeincubaçãoedefomentoàgeraçãodetrabalho,rendaedesenvolvimentosocialpormeiodaeconomiasolidária,considerandoaadoçãodeummodelodeincubadoraquemesclaosinteressesdapolíticapúblicaeascompetênciasdaacademia.
Contexto
NoBrasil,umesforçodereconstituiçãohistóricaapontaparaoiníciode2000asprimeirasmanifestaçõesnacionaisemfavordainstitucionalizaçãodaeconomiasolidária.
Emestudoanterior(ODA,2007)destacamosaimportânciadoGrupodeTrabalho(GT)BrasileirodeEconomiaSolidária–criadoem2001comopropósitodearticularemediaraparticipaçãonacional,assimcomodasredesinternacionaisdeeconomiasolidária,no1ºFórumSocialMundialrealizadoemPortoAlegre(RS)–sendocompostoinicialmentepordiferentesentida-
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
deseredesnacionaisdefomento1,queposteriormenteelaboraramcartadeprincípios,apresentandoaindaapropostadecriaçãodeumFórumNacionaldeEconomiaSolidária.
Nestecontexto,segundoSinger(2004),
Noquatriêniode1997-2001,PortoAlegre,SantoAndréeBelémforamdosprimeirosmunicípiosadesenvolverpolíticasdeinclusãosocialpormeiodeapoioeestímuloainiciativascooperativasouassociativasporpartededesempregados,favelados,catadoresdelixoepobresemgeral.Diantedoêxitodessasprefeituras,noquatriênioseguinte,dezenasdeoutras(entreasquaisadeSãoPaulo)passaramadesenvolversuasprópriaspolíticasdeeconomiasolidária.
Em2003,comaeleiçãodeLuiz InácioLuladaSilvaàPresidênciadaRepública,écriadanoMinistériodoTrabalhoeEmprego(MTE)aSecretariaNacionaldeEconomiaSolidária(SENAES),visandopropor,organizareimple-mentaraspolíticaspúblicasdeapoioàeconomiasolidária.CriadopelomesmoatolegaldeconstituiçãodaSENAES,dejunhode2003,oConselhoNacionaldeEconomiaSolidária(CNES)seestabelececomoumórgãoconsultivoedeliberativoque,pormeiodainterlocuçãoentreasociedadecivil,oGover-noFederaleaprópriaSENAES,propõeeacompanhaaimplementaçãodaspolíticaspúblicasemfavordaeconomiasolidária.Suacomposição,definidapormeiodeumintensoprocessodenegociação,contemplaaparticipaçãode56entidadesrepresentativasdosempreendimentosdeeconomiasolidária,dasorganizaçõesnãogovernamentaisdefomentoeassessoria,edopróprioGovernoFederal.
Ressalta-sequediferentesiniciativasjáocorriam,motivadaspelosur-gimentodoschamadosempreendimentossolidários,decorrenteemgrandemedidadacriseeconômicaefinanceiravividasnopaís,deespecialmodoapartirdoiníciodosanosde1990.Valeressaltarqueesteperíodo,alémde
1 IntegraramesteGTBrasileirodeEconomiaSolidáriaaRedeBrasileiradeSocioeconomiaSolidária(RBSES);InstitutodePolíticasAlternativasparaoConeSul(PACS);FederaçãodeÓrgãosparaaAssistênciaSocialeEducacional(Fase);AssociaçãoNacionaldosTrabalhado-resdeEmpresasemAutogestão(Anteag);InstitutoBrasileirodeAnálisesSocioeconômicas(Ibase);CáritasBrasileira;MovimentodosTrabalhadoresSemTerra(MST/Concrab);RedeUniversitáriadeIncubadorasTecnológicasdeCooperativasPopulares(ITCPs);AgênciadeDesenvolvimentoSolidário(ADS/CUT);RedeInteruniversitáriadeEstudosePesquisassobreoTrabalho(Unitrabalho);RedeBrasileiradeGestoresdePolíticasPúblicasdeEconomiaSolidáriaeAssociaçãoBrasileiradeInstituiçõesdeMicrocrédito(ABCRED).
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Tudo junTo e misTurado
sacramentararetomadadaseleiçõesdiretasparaPresidentedaRepública,éigualmentemarcadopeloprocessodeaberturaeconômica,deforaparadentro,domercadonacional.
Ainserçãodopaísnosmercadosglobais,apartirdoiníciodosanosde1990,resultouemumchoqueentreospatamarescompetitivos, impondonecessidadesdemudançaseadaptaçõesdasempresasfaceànovaconcor-rênciadosprodutosimportados.Distodecorreramduassituaçõesdistintas:empresascomcapacidadeparainvestimentosqueadaptaram-seàsnovasformasdeorganizaçãodotrabalhoedaprodução,degestãoedeinovaçõestecnológicas,edeprodutos;e,deoutrolado,empresassemcondiçõesparainvestir,ouquenãosemoldaramaosnovospatamarescompetitivosemter-mosdecustos,qualidade,tempo,flexibilidadeeinovação,equeacabaramporsucumbiràsnovasexigênciasrelativasaosprodutos,processosemercados,encerrandonestecasoumacriseletale,consequentemente,oencerramentodesuasatividades.
Ademais,comasubstituiçãopor impeachmentdeFernandoCollordeMelloemoutubrode1992,entãoPresidentedaRepúblicaeleitoem1989,seuvice-presidente,ItamarFranco,assumee,aofinaldestemandatotampãosearticulaaeleiçãodoentãoMinistrodaFazenda,FernandoHenriqueCardoso.Comotrunfomaior,aadoçãodoPlanoReal–precedidopelaadoçãodeumartifíciodecontroleinflacionário,aURV(unidaderealdevalor)–rompecomosciclosinflacionáriose,umavezmais,umanovamoedanacional2éadotada.
EntreosdesdobramentosdesteplanoReal,asupervalorizaçãodamoedanacionalfrenteaodólarpropiciaoincrementodasimportaçõesemdetrimentodasexportações,resultandoemdéficitsdabalançacomercialdeumladoeconsumindoasreservascambiais;emtermosmicroeconômicos,comainfla-çãodomada,osganhosoriundosdasespeculaçõesnosmercadosfinanceirosdeixamdeserextremamenterentáveis,devolvendoàproduçãoafunçãodegerarosganhossobreocapitalinvestido.Assim,reduçãoecontroledecustos,seguidospeloaprimoramento,padronizaçãoecontroledaqualidade,bem
2 Considerando-seapenasascédulasemitidaspeloBancoCentral–anteriormenteocor-riasobresponsabilidadedoTesouroNacional–tem-se:Cruzeiro(Cr$)de01/01/1942a12/02/1967;CruzeiroNovo(NCr$)de13/02/1967a14/05/1970;Cruzeiro(Cr$)de15/05/1970a27/02/1986;Cruzado(Cz$)de28/02/1986a15/01/1989;CruzadoNovo(NCz$)de16/01/1989a15/03/1990;Cruzeiro(Cr$)de16/03/1990a31/07/1993;CruzeiroReal(CR$)de1/08/1993a30/06/1994(BRASIL,2010).
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
comoreduçãodostemposparaproduçãoelançamentodenovosprodutos,tornam-seasprincipaisestratégiascompetitivasdasempresas.Abuscapordiferentesdimensõesdeflexibilidadeeinovaçãodeprodutos,ouprocessos,ficarelegadaàsempresasmaisdinâmicas.
Emumcenáriodebaixocrescimentoeconômico,opaíssevê,emespecialapartirdesteanode1994,diantedaelevaçãodastaxasdedesemprego3eumcrescentenúmerodeempresasemcrisefalimentar.Arecuperaçãodospostosdetrabalhopormeioda“recuperaçãodeempresas”oude“massasfalidas”–viaderegracomaconstituiçãodecooperativas,ouaadoçãodaautoges-tãooudacogestão–engrossamasfileirasdosempreendimentossolidários.Eestafoiumadasestratégiasadotadasparaocontornododesempregonaregião,capitaneadaspeloSindicatodosMetalúrgicosdoABCemconsonânciacomoutrosmovimentosdasociedadecivilecomosgovernosmunicipaisdeSantoAndréeDiademaàépoca.
A economia solidária no ABC
Poragregarimportantecomplexoindustrial,formadoapartirdosanosde1950,aRegiãodoABCpaulista4secaracterizaporumdinamismoeconô-micoque,associadoao“novosindicalismo”(RODRIGUES,1990), imprimiuimportantepapeleconômicoepolíticonocenárionacional.
Oprocessointensodemudançasiniciadonosanosde1990,apartirdaaberturadomercadoàentradadeprodutosimportados,ocasionouofecha-mentodeplantasindustriais,odeslocamentodaproduçãoparaoutrasregiõesdopaís,areestruturaçãodaformanaqualseorganizavamaprodução,otrabalhoeagestãodasempresas,oenxugamentodasgrandesestruturasver-ticalizadas,areduçãodamãodeobraetc.Nestecenário,diversaspropostasdeenfrentamentodacriseindustrialedodesempregoforamestabelecidasapartirdaregião,particularmentepelosMetalúrgicosdoABC,aexemplodaCâmaraSetorialdoComplexoAutomotivo(ARBIX,1996)–comomeiode
3 SegundooDepartamentoIntersindicaldeEstatísticaeEstudosSocioeconômicos(DIEESE,2011),“NaGrandeSãoPaulo,ataxamédiaanualdedesempregomudade14,2%,em1994,para18,3%em1997”.
4 EstaregiãoéatualmenteconstituídapelosMunicípiosdeSantoAndré,SãoBernardodoCampo,SãoCaetanodoSul,Diadema,Mauá,RibeirãoPireseRioGrandedaSerra.
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Tudo junTo e misTurado
influêncianapolíticaindustrial–,eaCâmaraRegionaldoGrandeABC–comomeioaodiálogosocialedeinfluênciaapartirdamobilizaçãolocal5.
Alémdestes,temascomoacogestão,aautogestãoeocooperativismo–queconformamachamadaeconomiasolidária–,tambémsãoadotadosporestesindicatocomorespostaàssolicitaçõesdosprópriostrabalhadoresnasempresasemcrise.Valerecordarque,entre1994e1997,emmeioàcrisedaConforja(ODA,2001),osMetalúrgicosdoABCseenvolveramnacogestãodaempresa,queposteriormentefoiconvertidaemquatrocooperativasdeprodução.
Paracumpriranecessidadedeumanovaformadeorganizaçãopautadapelosinteresseseconômicos,sociaisepolíticosdostrabalhadores,osMeta-lúrgicosdoABCapoiam,emconjuntocomoutrosSindicatos,aconstituiçãodaCentraldeCooperativaseEmpreendimentosSolidários(UNISOLBrasil),tendoemcontaapercepçãodequeapenasacontinuidadedoprocessodeproduçãodasempresastransformadasemcooperativas,oudosempreendi-mentossolidários,nãogarantiriaamanutençãodotrabalhoedarendaparaseussóciostrabalhadores.Acertezadetrabalhoerendadependiaedependedacapacidadedestascooperativasemobteregerarrecursosfinanceirosparasecapitalizarem,danecessidadedeelasadquiriremcompetênciasquelhespermitissemsobrevivereseconsolidaremenquantoempreendimentoseco-nômicosaolongodostempose,demaneiravital,mantendoepraticandoosprincípioshistóricoseideológicosdocooperativismoedaeconomiasolidáriaparaevitarsuadegeneração.
Economia solidária e política pública no ABC
Emgrandemedida,ainserçãodosMetalúrgicosdoABCnaeconomiasolidáriaocorreaolongodagestãodeLuizMarinho6comopresidentedeste
5 Maisrecentemente,emrazãodacriseiniciadanosEstadosUnidos–crisedossubprimes–oSindicatodosMetalúrgicosdoABCpromoveemmarçode2009,emconjuntocomosdemaisatoressociais,osemináriointituladoOABCdodiálogoedodesenvolvimento,comomeioàdiscussãoeparaabuscadealternativasfaceà iminênciadestacriseseinstalartambémnoBrasil.
6 Eleitoinicialmentetesoureiroem1984,assumeposteriormenteoscargosdesecretário-geralevice-presidentedoSindicatodosMetalúrgicosdoABC.Em1996,foieleitopresidente,sendoreeleitoparaasgestõesposteriores,de1999a2002ede2002a2003,quandoassumeapresidênciadaCentralÚnicadosTrabalhadores(CUT).Em2005,assumeoMinistériodoTrabalhoeEmprego(MTE)–doqualaSecretariaNacionaldeEconomiaSolidária(SENAES)fazparte–e,em2007,oMinistériodaPrevidênciaSocial.
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sindicato.Posteriormente,em2008,durantesuacampanhaàPrefeituradeSãoBernardodoCampo,Marinhoreafirmaseucompromissocomaecono-miasolidáriadacidade,incluindonoprojetodereformaadministrativasuaintençãoquantoàpolíticapúblicaemtermosdoempreendedorismo,trabalhoerendanoâmbitododesenvolvimentoeconômicodomunicípio.
Ressalta-sequeosatoreslocais,aexemplodaUnisolBrasil–CentraldecooperativaseempreendimentossolidáriosdoBrasil–,doCentrodeFormaçãoProfissionalPadreLeoComissari,daPastoralOperáriaedopróprioSindicatodosMetalúrgicoseQuímicosdoABC,entreoutros,cumpremimportantepapelnoapoioaosempreendimentossolidáriosdaregião,emespecialnosmunicípiosquenãocontavamcompolíticaspúblicasespecíficas.
UmquadrogeraldemonstraquenaregiãodoABCquatrodeseusmuni-cípios–SantoAndré(2008),Diadema(2009),Mauá(2010)eSãoBernardodoCampo(2010)–passaramacontarcomlegislaçõesprópriasparafomentoedesenvolvimentodaeconomiasolidária.RibeirãoPiresiniciourecentementediscussãosobreotema;SãoCaetanodoSulinstituioConselhoMunicipaldeEconomiaSolidária(2009);restandoentãoRioGrandedaSerraque,atéentão,nãocontavacomnenhumainiciativaespecífica.
Emtermosregionais,aindano finalde2013,apartirdedemandaapresentadapeloFórumRegionalSocialepelodeEconomiaSolidária,oConsórcioIntermunicipalGrandeABC7 incorporaformalmenteemseuGT8
TrabalhoeRendaotema,passandoaserdenominadodeGTTrabalho,RendaeEconomiaSolidária9.EsteGT,noplanejamentodoConsórciorealizadoem2009,estabeleceudiferentesaçõesvisandoaofomentoàeconomiasolidáriaregional,queatéopresentemomentonãoseconcretizaram.
7 OConsórcioIntermunicipalGrandeABC,constituídoemdezembrode1990,atuacomoarticuladordepolíticaspúblicassetoriais.Emfevereirode2010foitransformadoemCon-sórcioPúblico(adequaçãoàsexigênciasdaLeiFederalnº11.107/2005),passandoaintegraraadministraçãoindiretadosmunicípiosconsorciados,comlegitimidadeparaplanejareexecutaraçõesdepolíticaspúblicasdeâmbitoregional.
8 OConsórcio,paraarticulareplanejaraçõesregionais,atuaemoitoeixos,cadaqualcom-postoporGruposdeTrabalho(GTs)formadosporgestorespúblicosindicadospelosChefesdosExecutivosdosmunicípiosconsorciadosetécnicosdoConsórcio.
9 InicialmenteoFórumRegionalSocialeodeEconomiaSolidáriapleitearamacriaçãodeumGTdeEconomiaSolidária,comointuitodeseusrepresentantesparticiparemdaformaçãodesteGT,oqueestatutariamentenãoéprevisto.Todavia,pelassuasprópriascaracte-rísticas,oConsórciotemcomoprincípiorecebertodasasdemandasdasociedadecivil,encaminhando-asquandopossível,àdeliberaçãodosPrefeitosoudosprópriosGTs.
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Tudo junTo e misTurado
Todavia,pormeiodestemesmoGT,oConsórciotemcofinanciadooprojetodeformaçãoeorganizaçãodoscatadoresdemateriaisreciclados,emparceriacomaSENAES/MTEcujoproponenteéaCoopcentABC10.
Política pública de economia solidária em São Bernardo do Campo
NoquedizrespeitoaSãoBernardodoCampo,alémdainstituiçãodaleimunicipalemmaiode2010,sãoelaboradoseimplantadosprojetosespecíficosdefomentoàeconomiasolidáriaapartirde2009,comvistasaodesenvolvi-mentodosempreendimentosjáexistentes–constituídosnagestãodoentãoprefeitoMauricioSoares(1997-2000)–,oudosqueforamconstituídosapartirde2009naprimeiragestãodeLuizMarinho.
A constituição do Espaço Solidário, anexo à Central de Tra-balhoeRenda11 (CTR), visa abrigar as açõesde fomento, de socializa-çãoedearticulaçãodaeconomiasolidária.Alémdisto,oEspaçoSoli-dário tem como objetivo favorecer a comercialização dos produtos eserviçosgeradospelosempreendimentossolidários,abrigandoumaloja12
eumafeirinhadeprodutosdashortasurbanas(horticulturasemusodeinsumosoudefensivosquímicoscolocadosàvendaàssextas-feiras),apaste-lariaQSabor,umabibliotecaeonúcleodaIncubadoradeEmpreendimentosSolidáriosdeSãoBernardodoCampo(SBCSol).
AsaçõesdefomentoàcomercializaçãocontamcomapoiodaSENAES/MTE(Edital003/201)13,cujoobjetivoémelhorarospontosfixosdecomercialização
10 ACoopcentABCéumacooperativadesegundograu,cujasfiliadassãoassociaçõesecoope-rativassingularesdecatadoresdemateriaisrecicláveisdaregiãodoABC.ACoopcentABCévinculadaaoMovimentoNacionaldeCatadoresdeRua(MNCR),importanteorganizaçãoquereúnemilharesdecatadoresdasdiferenteslocalidadesdafederação.
11 Comocompromissodoprogramadegoverno,apartirdemeadosde2009dá-seinícioàstratativasjuntoaoMinistériodoTrabalhoeEmpregosobreoprojetoparamunicipalizaroSistemaPúblicodeEmprego(SINE),possívelàscidadescommaisde200milhabitantes,conformecritériodoConselhoDeliberativodoFundodeAmparoaoTrabalhador(CODEFAT),visandoàprestaçãodeserviçospúblicos,gratuitosecomqualidade,paraintermediaçãodemãodeobra,habilitaçãodosegurodesempregoequalificaçãosocialeprofissional.
12 Inauguradaem2012,alojaencontra-seatualmenteemprocessodereformaparamelhoriadoespaçofísicoedoconfortoaosempreendedoreseclientes.
13 ProjetoparaPromoçãodeaçõesintegradasparaodesenvolvimentodaeconomiasolidáriaemSãoBernardodoCampo,pormeiodofomentoàcomercializaçãoeaoEspaçoSolidário.
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(terminalrodoviáriolocal,SecretariadeEducação,EspaçoSolidário,entreoutros)pormeiodaelaboraçãodeumdiagnósticoedeassessoriaemmarke-tingecomercializaçãoaosempreendimentossolidáriosqueusufruemdesteslocais.Sãoprevistosaindanesteprojetoaelaboraçãoeconfecçãodefoldersemateriaisdedivulgaçãoparaospontosfixos,aaquisiçãodeequipamentosdeproteçãoindividualparaosempreendimentosdereciclagens,acompradeumbarcoparadesenvolvimentodeturismosustentávelrealizadopelospesca-doresdarepresaBillings,deespecialmodonoperíododedefeso,bemcomoequipamentosparaapastelaria.
Noquedizrespeitoàcomercialização,cabedestacarqueaeconomiasolidáriaemSãoBernardodoCampoconsolidouaparticipaçãoativadeseusatorespormeiodoFórumMunicipaldeEconomiaSolidária14,quetemdesempenhadopapelrelevantenaarticulação,formaçãoe,especialmente,naorganizaçãodosempreendimentosparaparticipaçãoemfeiraseeventosrealizadospelaPrefeituraMunicipal,ounosquaisoGovernotenhaalgumtipodeparticipação.
Contudo,naperspectivadesepromovermaiorpodereautonomiaàeconomiasolidária,háumdebatejuntoaoFórumMunicipallocalparaqueesteseestrutureeseorganizeparaque,autonomamente,elepossaassumirarealizaçãodefeirasdeeconomiasolidárianomunicípio.Nestaperspectiva,apósa1ªFeiraMunicipaldeEconomiaSolidária,realizadanosegundose-mestrede2013,noâmbitodoprojetofinanciadopelaSENAES/MTE,oFórumrespondeuàprovocaçãodopoderpúblicoepassouaassumiraorganizaçãoeocusteiodasfeirassubsequentes,tendocomointençãorealizá-lasmensalmen-te.Nestecontexto,opoderpúblicotemassumidoaincumbênciadearticularedivulgararealizaçãodestasfeiras,incentivandoapráticaautogestionáriaeaparticipaçãoparaalémdoslimitesdosprópriosempreendimentos.
Desenvolve-seassimumdebateparaquesejaconstituídaumaAssociaçãoapartirdoFórumMunicipaldeEconomiaSolidáriadeSãoBernardodoCampo,formalizando-secomistoestearranjoparticipativo,enecessárioparatornarapolíticadegovernoemumapolíticapúblicacomparticipaçãoecontrolesocial.
14 OFórumMunicipaldeSãoBernardodoCampofoilançadoem2008comaparticipaçãodeentidadescomooCentrodeFormaçãoProfissionalPadreLeoComissari,aUnisolBrasil,oSindicatodosMetalúrgicosdoABCeaPastoralOperária,entreoutros,bemcomopelosempreendimentossolidáriosvinculadosaestasorganizações.MarcodestainiciativafoiaelaboraçãodeumacartadeapoioàcandidaturadoentãocandidatoaPrefeito,LuizMarinho.Em2010,oFórumpassaaserreconhecidopelaLeiMunicipaldeEconomiaSolidária.
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Porsuavez,apastelariaQSabor,projetorealizadoemconjuntopelaSecretariaMunicipaldeDesenvolvimentoEconômico,TrabalhoeTurismoeSecretariadeSaúde,abrigaalgunsusuáriosdoCentrodeAtençãoPsicossocial(CAPS),naperspectivadereinserçãosocialedegeraçãodetrabalhoerenda.
Naperspectivadageraçãodetrabalhoerenda,estainiciativapodeser-vircomoumprimeiroestágioparaconstituiçãodeumacooperativasocial15,tendocomoreferênciaasexperiênciasdeTriestenaItália.Contudo,paraqueospreceitosdocooperativismosocialocorram,éimportantequeseconsti-tuaumacooperativanaqualcoabitemnãousuárioseusuáriosdoCAPS.ÉexatamentenestaperspectivaqueseencontraemfasefinaldeimplantaçãooprojetodoCarrinhoSolidário.
Àluzdaleidefomentoàeconomiasolidária,oprojetoCarrinhoSolidá-rio,realizadoemparceriacomoInstitutoConsuladodaMulher,temcomoobjetivopropiciarqueosfuncionárioslotadosnoPaçoMunicipaltenhamacessoaalimentossadios.Alémdeoferecerdoces,salgadosebebidas,oCarrinhoSolidárioconsolida,alémdemaisumempreendimentosolidário,apropostadeseconstituirumarededealimentação,articulandodiferentesempreendimentosqueproduzemestesprodutos,assimcomopossibilitatra-balhoparaoutraspessoasqueservemoCarrinhoSolidário,ouparticipamdasualogísticae(re)abastecimento,entreosquaisalgunsdosusuáriosdoCAPSquepassarampelapastelariaQSabor.
Tudo junto e misturado: Incubadora de Empreendimentos Solidários de São Bernardo do Campo, entre as experiências universitárias e públicas
Demaneirageral,osempreendimentossolidáriosrecebemapoiodeorganizaçõesnãogovernamentais,universidadesepoderespúblicos.Segun-dooAtlasdaEconomiaSolidária(BRASIL,2013),elaboradopelaSecretariaNacionaldeEconomiaSolidária,considerandootipodefornecedordeapoio,apuradoem2007,33,5%éprovenientedeorganizaçãonãogovernamental;58,6%deórgãogovernamentale7,89%deuniversidades.
Isto,contudo,nãopodeserqualificadocomoumprocessodeincubação,queécompreendidocomosendo:
15 ÀluzdasexperiênciasitalianasestacooperativasocialpoderáserclassificadacomodetipoB–cooperativadeproduçãoqueabrigapessoasemdesvantagenssociais,possibilitandoageraçãodeatividadeslaborais,rendaereinserçãosocial.
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[...]oprocessodefomentoeacompanhamentodeempreendimentoseconômicos,cole-tivoseautogestionários,pormeiodaformaçãodostrabalhadoreseapoioàestruturaçãodoempreendimento,atéqueestetenhacondiçõesparasesustentardeformaautônoma.Aincubaçãoéentendidacomooacompanhamentosistêmicoeassessoriaagruposdepessoasinteressadasnaformaçãodeempreendimentoseconômicossolidários,tendoemvistaumprocessoeducativoesuportetécnicodessesempreendimentos16.
Cultiestabelecequeasincubadorasuniversitárias(2011,p.34):
Sãoespaçosqueagregamprofessores,pesquisadores,técnicoseacadêmicodediversasáreasdeconhecimento,bemcomoprogramasinternosexistentesnasuniversidadesparadesenvolverempesquisasteóricaseempíricassobreaeconomiasolidária,alémdasati-vidadesdeincubaçãodeempreendimentoseconômicossolidários(EES),comoobjetivodeatenderatrabalhadoresquetencionamorganizarseusprópriosempreendimentos,sejamcooperativas,associaçõesouempresasautogestionárias,urbanasoururais.
Porsuavez,aincubadorapúblicadeempreendimentossolidários,se-gundoLeiteetal. (2008,p.57)
[...]constituiumespaçopúblicodestinadoaaçõesdefomentoaoprocessodeincubaçãoedeapoioàorganização,consolidaçãoesustentabilidadedeempreendimentoseconômicossolidários,demodoqueseestruturemealcancemviabilidadeeconômicaeassociativa.
Oacompanhamentoeapoiomaissistêmicopropiciadopelaincubação–formaçãoeconsolidaçãodosempreendimentossolidáriosemtermosdagestãoedaautogestão,edaorganizaçãodotrabalhovisandoconformarumcenárionoqualoproduto,oprocessoeomercadopossamsercompreendidosebemadministrados–visampossibilitaroalcancedeumdesempenhoeconômicoesocialsuficienteàgeraçãodetrabalho,rendaedesenvolvimentosocialaosempreendimentossolidárioseaosseusparticipantes,contemplandocomistoosprincípioseobjetivospreconizadospelaeconomiasolidária.
Istoposto,cabeapontar,paraalémdassimilitudes,oqueconsideramosasprincipaispercepçõesquantoàparticularidadedasincubadorasuniversi-táriaseincubadoraspúblicas.
Aspolíticaspúblicasdeeconomiasolidária,bemcomooconjuntodaspolíticaspúblicas,sofremalteraçõesnoscasosdedescontinuidadedeum
16 Avaliaçãodoprogramanacionaldeincubadorastecnológicasdecooperativaseempreen-dimentossolidários–Proninc.Relatóriofinal,Recife-2011.(BRASIL,2011).
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governo,especialmentequandoocorreatrocaentregovernantesdepartidosopositores,quasequeinexoravelmente.Valedestacarqueemestudoanteriorpercebemosque:
Àexceçãodepoucoscasos,comonogovernodeMinasGeras,nagrandemaioriados33membrosdaRededeGestoresdePolíticasPúblicasdeEconomiaSolidáriaosinstrumentosdepolíticapúblicaforamestabelecidosoriginalemajoritariamenteporgestõesdoPT(PartidodosTrabalhadores)edoPSB(PartidoSocialistaBrasileiro).(ODA,2012,p.215).
Jánasincubadorasuniversitárias,emgrandemedidaconduzidaspordocentesqueseidentificamesededicamàeconomiasolidária,háumadeter-minadatemporalidadeemrazãodoprópriocalendárioacadêmico,resultadodosperíodosletivos,dasprovas,dosrecessosletivos,edaprópriaconclusãodoscursos,especialmenteparaosalunosquesevoluntariam,querealizamestágiose/oupercebemdeterminadasbolsasdeestudo.Isto,tambémdemaneirainexorável,conformaumadescontinuidadenoacompanhamentoeassessoramentoaosgrupos,agravadopois,viaderegra,osformandosacabamporseinserirnomercadodetrabalhoconsiderandoqueestesdificilmentesãocontratadosparaodesempenhoecontinuidadeprofissional.
PartindodoprincípioqueointeressemaioréodesenvolvimentodaeconomiasolidáriaemSãoBernardodoCampo,aPrefeituraMunicipaleaUniversidadeMetodistadeSãoPauloelaborarameconsolidaramumprojetoespecífico,apresentando-oàFinep(FinanciadoradeEstudoseProjetos,doMinistériodaCiênciaeTecnologia/MCT)sendoaPrefeituraintervenienteeaMetodistaaproponente.Estaparceriaentreopoderpúblicoeauniversidade,demaneirapioneira,propiciouaconstituiçãodaIncubadoradeEmpreendi-mentosSolidáriosdeSãoBernardodoCampo(SBCSol)que,segundooPrefeitoLuizMarinhoduranteolançamentodesteprojetojuntariaosproblemasdecadaqualpossibilitandoabuscadesoluçõescompartilhadaspormeiodacomplementaridadedecompetênciasedeinteressescomuns.
Destaca-seque,emsuaestruturaorganizacional,aSBCSoltemumcon-selhogestorbipartite,instânciamáximadedecisõesquantoaoprojeto;eumcomitêexecutivotambémbipartite,noqualsãodiscutidasedeliberadasasatividades.Operacionalmente,háumacoordenaçãogeraldesempenhadaporumdocente,queéassistidoporumacoordenaçãoadministrativaefinanceira,cujoresponsáveltambéméumdocente,eumacoordenaçãotécnica,ocupadaporumapessoacomexperiêncianotemamasquenãotemvínculocoma
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academia.Ocorpotécnicosobresponsabilidadedestacoordenação,igualmente,écompostoporprofissionaiscomexperiênciaanteriornaeconomiasolidária,todassemvínculoacadêmico.Completamestequadrotécnicoestagiáriosqueobrigatoriamentedevemestarvinculadosaalgumcursodauniversidade.
QualificadacomoumaincubadoramistapeloProf.PaulSinger,aSBCSolvisacolocarascompetênciasdauniversidadenaincubaçãodeempreendimen-tossolidáriosfocodapolíticapública.AliarosconhecimentoseosespaçosdeaprendizagenscomospropósitoseinteressesdapolíticapúblicadáàSBCSolapossibilidadedeumainteraçãoentreasatividadesepropósitosdeincubação,atéentãorealizadasindividualmentepelasinstituições,tornandoaparticipação,acooperaçãoeasolidariedadetambémumapráticaentreestasentidadesdeapoioàeconomiasolidária.
Breves considerações
Agestãodapolíticapúblicadeeconomiasolidária,apartirdosprincípiosdalegalidade,impessoalidade,moralidade,publicidadeeeficiência–artigo37daConstituiçãoFederal–associadoàpercepçãodequeosprincípioseconceitosdaeconomiasolidáriaassumemdimensõesamplas, levou-nosaadotarumacaracterizaçãoparaosempreendimentossolidáriosfocodapolíticapúblicadeSãoBernardodoCampo.
ApartirdaideiapostuladaporTauile(2005),adotou-seumatipologiadosempreendimentossolidáriostomando-secomobaseumespectronoqualosempreendimentospodemsesituar,apartirdapercepçãoquantoaseusobjetivosesuascondições(organização;relaçãoproduto/processo/mercado)transitemdeposiçõesmaissociaisaeconômicas,semque,comisto,seabramãodosprincípiosdaeconomiasolidária.
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Emboamedida,estatipificaçãotemservidoàdelimitaçãodeexpectativastantodosempreendimentosquantoaogovernoeàSBCSol,possibilitandoqueasaçõessejamrealizadasdeacordocomaespecificidadedosempreendimen-tos.Atítulodeilustração,apastelariaconduzidapelosusuáriosdoCAPS,comodevidoapoiodecuidadoresdaSecretariadeSaúde,assumeumaposiçãomaisàesquerdadoespectro,sendoetendoobjetivossociais,semcomistoeliminarapossibilidadedegeraçãodealgumtipoderendadecorrentedotrabalhorealizadoporeles.
Nooutroextremotem-se,porexemplo,aUnimáquinas,cooperativadeproduçãoconstituídaapartirdoprocessoderecuperaçãodeumaempresafalida,produtorademáquinaseequipamentosparaindústriafarmacêutica.
Entreestesdoisextremospode-sesituarosdemaisempreendimentossolidáriosobjetodapolíticapúblicamunicipal.Istocertamenteexigeumdiag-nósticosocioeconômicoesituacionalmaisrefinado,suficienteparaquesepercebaquaisaspossibilidades,oportunidadesourestriçõesemsetransitareocuparumlugaremposiçõesmaissocialoueconômica.
Leite(2009,p.39),aodiscorrersobreaeconomiasolidária,postulaque:
Issonãosignifica,contudo,queessasexperiênciassejamcarentesdesignificado,espe-cialmenteparaosatoresnelasenvolvidos.Aocontrário,[...]consisteemconsiderarque,emboranãosejamcapazesdepromoverumatransformaçãosocialmaissignificativa,elassãopartedanossahistóriaevêmdeixandomarcasimportantesemnossasociedadeaopromoverasolidariedadeeaautonomia.Nessesentido,emergemcomoformasderesistênciaimportantesàrealidadeatualdomercadodetrabalhoeadquiremumsignifi-cadoextremamenterelevanteparaostrabalhadoresquenelasseinserem,despontandocomoumelementocentralàcompreensãodonovomomentodomundodotrabalho.
Complementarmente,paraapolíticapúblicamunicipaldeeconomiasolidária,paraalémdageraçãodetrabalhoerenda,atipificaçãopropostaconsideraquetodososempreendimentossolidáriostêmumpapelrelevanteacumprir,sejacontribuindoparaocontornodeproblemassociaisassociando--seàsdemaispolíticassociaispropostaspelogoverno,sejacontribuindoparadefatogerartrabalho,rendae,comodesdobramentodisto,desenvolvimentosocialparatodososparticipantesdaeconomiasolidáriaeparaacidadedeSãoBernardodoCampocomoumtodo.
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Construindo uma política pública de economia solidária em São Bernardo do Campo:
da assistência social ao desenvolvimento econômico
* AssistenteSocialnaPrefeituradeSãoBernardodoCampo,pós-graduadaemPsicologiaComunitáriadeLibertação.
Sandra Cristina Olmedilha*
Umanovaconsciênciadevecriarummundonovoeenterraramisériaeaexclusãoparasempre.
Umaculturaquebusquenofimdecadaatalhoumareta,emcadapontodesofrimentoumaalegria.
Umanovaconsciênciadevecriarummundonovo,onderecriararealidade,atravésdasolidariedade,éprecisoeépossível.
Betinho
Introdução
OpresenteartigoéfrutodotrabalhoprofissionaldaautoracomoassistentesocialnaPrefeituradoMunicípiodeSãoBernardodoCamponasatividadesdegeraçãodetrabalhoerendae inclusão
produtivadesenvolvidaspelaPolíticaPúblicadeAssistênciaSocialde1996a2008,enoProgramaGeraçãodeTrabalhoeRenda–EconomiaSolidárianaSecretariadeDesenvolvimentoEconômico,TrabalhoeTurismoapartirde2010.Procura-seapontarocaminhopercorridopelosprojetosdegeraçãoderendanaspolíticaspúblicasdomunicípio,contribuindocomareflexãodaposiçãodaeconomiasolidária(ES)naspolíticaspúblicas.Nosúltimosanos,aeconomiasolidáriatemseapresentadocomoalternativadegeraçãodetrabalhoerendaeumarespostaafavordainclusãosocial.Elacompreendeumadiversidadedepráticaseconômicasesociaisdesenvolvidassobaformadecooperativas,associações,clubesdetroca,empresasautogestionáriase
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redesdecooperação,entreoutras,queatuamnasáreasdeprodução,distri-buição,consumo,poupançaecrédito,organizadassobaformadeautogestão.Osempreendimentoseconômicossolidáriostêmporbaseosprincípiosdacooperação,dagestãodemocrática,dasolidariedade,dadistribuiçãoequita-tivadasriquezasproduzidascoletivamenteedavalorizaçãodoserhumanoedotrabalho(BRASIL,2014b).
Noâmbitodaspolíticaspúblicas,osprogramaseprojetosdeeconomiasolidáriaestãosendodesenvolvidosaolongodotempopordiversasáreas,sendoasmaiscomunsaAssistênciaSocial,InclusãoSocial,TrabalhoeDe-senvolvimentoEconômico.
AseguirseráapresentadoumbrevehistóricodasaçõesvoltadasparaempreendimentosdaeconomiasolidárianomunicípiodeSãoBernardodoCampoesuainserçãonasaçõesdeassistênciasocial.OartigoseguecomasaçõesdesenvolvidaspelaSecretariadeDesenvolvimentoEconômico,TrabalhoeTurismoeencerra,nasconsideraçõesfinais,comumareflexãosobreosdesafioscolocadoshojeparaaeconomiasolidária.
Breve histórico
Açõesiniciaisdegeraçãoderendavoltadasparaapopulaçãoempobre-cidadomunicípiodeSãoBernardodoCampoforamdesenvolvidasnadécadade1990peloDepartamentodePromoçãoSocial,vinculadoàSecretariadeSaúde,pormeiodaSeçãodeAtividadesComunitárias.
EstaSeção,alémdeoutrosprojetoscomunitários,realizavacursoseofi-cinasprofissionalizantesnascomunidades,emparceriacomentidadeslocais(SociedadeAmigosdeBairro,Clubedemães,Igrejas,etc.),Senai,FundoSo-cialdeSolidariedade,entreoutros,comoobjetivodepossibilitaràsfamíliasatendidasageraçãooucomplementaçãodarenda.Comoopúblico-alvodaassistênciasocialnãoconseguiaacessaroscursosdasEscolasMunicipaisdeIniciaçãoProfissional(EMIPS),esteseramlevadosatéascomunidades.
Naassistênciasocial,aLeinº8.742,de7dedezembrode1993(BRASIL,1993),aLeiOrgânicadaAssistênciaSocial(LOAS),emseuartigo2º,incisoI,alíneac,jápreviacomoumdeseusobjetivos,enquantopolíticadedireitos,promoveraintegraçãodosusuáriosdaassistênciasocialaomercadodetra-balho.Oscursosparageraçãoderendabuscavamresponderaesteprincípioeforamampliadosnosanosde1996a1998.Osmonitorestambémerampessoasdaprópriacomunidade,contratadasparaensinaroquesabiamfazer.
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Nomesmoperíodofoi implantadooprojetodehortascomunitárias,comoobjetivodecontribuirparaumaalimentaçãosaudávelenutritivaparaacomunidadeeasfamíliasenvolvidas,alémdepossibilitaraconvivênciacomunitária.Oprojetoerarealizadoemáreasmunicipaisociosas,áreaspri-vadascedidasparaestefimeáreassobasredesdetransmissãodaEletro-paulocedidasemcomodatoaomunicípio.Aolongodeseudesenvolvimento,aatividadecomeçouaproduzirexcedente,quepassouaservendidoparaacomunidade,transformando-seassimemumapossibilidadedegeraçãooucomplementaçãoderenda.
A economia solidária e a assistência social
ASecretariadeDesenvolvimentoSocialeCidadania(Sedesc)foicriadapormeiodaLeinº4669/98(SÃOBERNARDODOCAMPO,1998),queapontaemsuaSeçãoII,art.3º,comocompetênciasprincipaisdeseusórgãos:
I-formulação,planejamento,coordenaçãoeexecuçãodepolíticaspúblicaseprogramasdedesenvolvimentosocialparaasdiversasfaixasetáriasesegmentosdapopulação,especialmente:[...]b)de iniciação,capacitaçãoe/ouqualificaçãoeencaminhamentodapessoaparaotrabalho;c)degeraçãoderendaparaoenfrentamentodapobreza;[...]
NamesmaleifoiextintaaSeçãodeAtividadesComunitáriasecriadaaSeçãoGeraçãodeTrabalhoeRenda,queassumiuosprojetosdaSeçãoextintaepassouatercomoobjetivodesenvolverprogramaseprojetosvoltadosàgeraçãodetrabalhoerendaparaoenfrentamentodapobreza.
EmsuaSeçãoV,artigo17,definecomoatribuiçõesdaSeção:
I -proporcionartreinamentosecursosdequalificaçãoparaotrabalho;II-possibilitarorientaçãoeencaminhamentoparaotrabalho;III-desenvolveriniciativasparaageraçãodetrabalhoerenda;IV-articular,comasdemaisesferasgovernamentais,condiçõesparaageraçãodefrentesdetrabalhoeoutras;V-implantarprojetosquepossibilitemageraçãoderecursosfinanceiros.(SÃOBERNAR-DODOCAMPO,1998).
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
OsprojetosforamrevistoseestaSeçãopassouatrabalharemtrêsfrentes:
1. Cursoseoficinasnascomunidades,quepassaramaseremrealiza-dosdeformamaisarticuladaentreaSeçãodeGeraçãodeRendaeaSeçãodeFormaçãoeIniciaçãoProfissional,quecoordenavaasEscolasMunicipaisdeIniciaçãoProfissionalecujotrabalhofoitrans-ferido,namesmaépoca,daSecretariadeEducaçãoparaaSedesc.OsencaminhamentosparaempregoeramfeitosporintermédiodoSistemaNacionaldeEmprego(Sine),postoSãoBernardodoCampo;
2. ImplantaçãodaFrenteMunicipaldeTrabalho;3. Projetosvoltadosaoempreendedorismo,associativismoecoopera-
tivismo.
Comrelaçãoaosprojetosvoltadosaoempreendedorismo,associativis-moecooperativismo,objetodareflexãoaquipretendida,foramrealizadasinúmerasatividadesdefomento,formaçãoecapacitaçãoparaosempreende-doresindividuais.Damesmaforma,foramapoiadosváriosgruposprodutivos,associaçõesecooperativasnasáreasdecostura,alimentação,artesanato,agriculturaurbanaereciclagem,emparceriacomoSebrae-SBCeoutrosparceiroscomoaEscolaPolitécnicadaUSP,Senac,dentreoutras.
Visandoatenderàdemandadosempreendedores,emespecialdaáreadeartesanatoealimentaçãoporlocaisdecomercializaçãodosprodutoscon-feccionados,foramimplantadosalgunspontosfixosdecomercialização,sendoumafeirasemanaldeartesanatonoPaçoMunicipal,denominadaPaçodasArtes,queatendeucentenasdeartesãos,artistasplásticoseempreendedoresdaáreadealimentação,duranteoscincoanosdesuaexistência,entre1999e2004.Em2006,foiimplantadooEspaçoArteCidadã,umaespéciedecasadoartesãoemáreacedidapelaprefeitura,gerenciadopelaAssociaçãoArtequeFaz,etambémoutrospontosdevendassituadosnasSecretariasdeFi-nanças,deEducação,noPaçoMunicipal,naRodoviáriaenaprópriaSedesc.
Comrelaçãoàshortascomunitárias,passou-seadarmaiorênfaseàpro-postadegeraçãoderenda,diminuindo-seassimonúmerodeparticipantesemcadaárea,deacordocomcritériossocioeconômicos.AcomercializaçãodosprodutoserarealizadanospróprioslocaisdeproduçãoetambémnaSedesc.1
1 Cadahortaatéentãotinhaumnúmeroaproximadode30participantesdeacordocomotamanhodaárea.NahortadoBairroAssunçãoporexemplopassou-sede40para5membros.
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Noiníciodosanos2000,iniciaram-senaregiãodoGrandeABC(com-postapelascidadesdeSãoBernardodoCampo,SantoAndré,Diadema,Mauá,RibeirãoPires,SãoCaetanodoSuleRioGrandedaSerra)asplenáriasdeeconomiasolidária.Apartirdainiciativadosprofissionaisqueestavamfomentandoeacompanhandoosempreendimentosemformaçãoiniciou-seumengajamentodomunicípionosdebatesdaeconomiasolidária.
Em2003,umadelegaçãodacidadedeSãoBernardodoCampocompostaporumaassistentesocialedoisrepresentantesdos(as)trabalhadores(as)dasassociaçõesapoiadaspelomunicípio,participaramdaIIIPlenáriaBrasileiradeEconomiaSolidáriarealizadaemBrasília.
NomesmoanofoicriadaaSecretariaNacionaldeEconomiaSolidária(Senaes)noMinistériodoTrabalhoeEmprego(MTE),jáapontandoolugardestapolíticanagestãopúblicaemâmbitofederal.
AdecisãodoGovernoFederaldecriaraSecretariaNacionaldeEconomiaSolidária,respondendopositivamenteàsmobilizaçõesfeitasnocampodaeconomiasolidária(se-minários,plenárias,fóruns),significaumamudançaprofundanaspolíticaspúblicasdetrabalhoeempregoquevisamageraçãoderendaeagarantiadedireitosdecidadaniadapopulaçãomenosfavorecidanasociedade.Asoutrasformasdetrabalhoassociadoecooperadoganharamespaçoereconhecimentoaoladodasdemaispolíticasdegeraçãodeemprego.(BRASIL,2014a).
Aindaem2003écriadooComitêRegionaldoscatadoresdaregiãodograndeABC,comoobjetivodearticularasexperiênciasevisando,principal-mente,àsvendasconjuntasdiretasparaasindústrias,eliminandoassimapresençadosintermediários.OprimeiroencontroregionaldecatadoresfoirealizadoemSãoBernardodoCampoecontoucomapresençadeaproxi-madamente150catadoresorganizadosdascidadesdoGrandeABC.AsduasAssociaçõesdeCatadoresdeMateriaisRecicláveis2existentesnomunicípioparticiparamativamentedesteseminário.
OprimeirosemináriodeeconomiasolidáriaorganizadopelaSeçãodeGeraçãodeRendatambémaconteceuem2003comaparticipaçãodeapro-ximadamente300pessoas.
2 Noano2000,noâmbitodoprogramaLixoeCidadania,foramformadasaAssociaçãodeCatadoresRefazendocompostaporex-catadoresdoLixãodoAlvarengaeaAssociaçãodeCatadoresRaiodeLuz,formadaporex-catadoresderua.Ambaseramapoiadaspelopoderpúblicopormeiodacessãodeusodeespaçoparaarealizaçãodesuasatividades,bemcomomaquinárioematéria-primaobtidaatravésdacoletaseletiva.
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Noâmbitodaassistênciasocialgrandesmudançasaconteciam.Em2005,foiimplantadooSuas(SistemaÚnicodeAssistênciaSocial)queéumsiste-mapúblicoqueorganiza,deformadescentralizada,osserviços,programas,projetosebenefíciosdaassistênciasocialnoBrasil.
CriadoapartirdasdeliberaçõesdaIVConferênciaNacionaldeAssistênciaSocialeprevistonaLoas,oSuastevesuasbasesdeimplantaçãoconsolidadasem2005,pormeiodaNormaOperacionalBásicadoSuas(NOB/Suas)(BRASIL,2005),queapresentaclaramenteascompetênciasdecadaórgãofederadoeoseixosdeimplementaçãoeconsolidaçãodainiciativa.
OSuasorganizaasaçõesdaassistênciasocialemdoistiposdeprote-çãosocial.Aprimeiraéaproteçãosocialbásica,destinadaàprevençãoderiscossociaisepessoais,pormeiodaofertadeprogramas,projetos,serviçosebenefíciosaindivíduosefamíliasemsituaçãodevulnerabilidadesocial.Asegundaéaproteçãosocialespecial,destinadaàsfamíliaseindivíduosquejáseencontramemsituaçãoderiscoequetiveramseusdireitosvioladosporocorrênciadeabandono,maus-tratos,abusosexual,usodedrogas,entreoutrosaspectos.
ANOB/Suascolocaqueaproteçãosocialbásicaseráoperadaporinter-médiode:
a) CentrosdeReferênciadeAssistênciaSocial(Cras),territorializadosdeacordocomoportedomunicípio;
b) rededeserviçossocioeducativosdirecionadosparagruposgeracio-nais,intergeracionais,gruposdeinteresse,entreoutros;
c) benefícioseventuais;d) benefíciosdeprestaçãocontinuada;e) serviçoseprojetosdecapacitaçãoeinserçãoprodutiva.ANOB-Suasdavacontinuidadeàresponsabilidadeporelaborareexecutar
serviçoseprojetosdecapacitaçãoeinserçãoprodutivaparaaassistênciasocial.EsteentendimentolevoupartedasatividadesdaSeção(cursos,oficinas
eencontrosdeformaçãoparaomundodotrabalho)aseremdescentralizadasparaosterritóriosdereferênciadosCras.
Osgruposprodutivos,associaçõesecooperativascontinuavamaserfomentadoseapoiadospelaSeção.
Comodesenvolverdostrabalhos,constatou-sequeosempreendedoresindividuaisusuáriosdaassistênciasocialnecessitavamdeapoiofinanceiroparadarinícioàssuasatividadesprodutivas.Paraatenderaessanecessidadefoicriadoumprogramadedistribuiçãoderenda,oProgramaFinanceirode
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FortalecimentodaInclusãoProdutiva(PROFFIP),querepassavameiosaláriomínimoparaqueoempreendedorinvestisseemmatéria-prima,equipamentos,reformas(nocasodealimentação)ecapitaldegiro.Esteprogramaacabounãoatingindoseusobjetivospornãoteraestruturanecessáriaparaoacom-panhamentodosempreendedores.Acompanharumnegócio,mesmoquepequenoeemfaseinicial,assimcomoacompanharautilizaçãodosrecursosexigiaprofissionaiscomconhecimentosespecíficosnasáreasfinanceiras,degestão,mercado,queextrapolavamaspossibilidadesdeatuaçãodosprofis-sionaisdaassistênciasocial.Oprogramafoiextintoem2009.
Anecessidadedearticulaçãodosprojetosdeinclusãoprodutivacomasdemaispolíticaspúblicaseoquestionamentoseosprojetosdeinclusãopro-dutivadeveriamsermantidosnaassistênciasocialcomeçaramaserpautadosporprofissionaisdaseção,inclusiveemfunçãodosdebatesrealizadospeloMovimentodeEconomiaSolidária,queapontavaseraeconomiasolidáriaumapolíticapúblicadedesenvolvimento.
Poroutrolado,arededegestoresdaeconomiasolidáriarealizavaomesmodebate:
Porserpolíticadedesenvolvimentoeporvoltar-setambémparaumpúblico-alvoquehistoricamentetemficadoexcluídoestapolíticademandaaçõestransversaisquearticuleminstrumentosdasváriasáreas(educação,saúde,trabalho,habitação,desenvolvimentoeconômico,saúdeetecnologia,créditoefinanciamento,entreoutras)paracriarumcon-textoefetivamentepropulsordaemancipaçãoesustentabilidade(SCHWENGBER,2004).
ApesardasmuitasatividadesrealizadaspelaSedescnoâmbitodageraçãodetrabalhoerenda,estasnãoconstituíamumapolíticapúblicamunicipal,massimserviçosofertadosàquelesusuáriosdapolíticapúblicadeassistênciasocialque,excluídosdomercadodetrabalhoformal,queriaminiciarumaatividadeempreendedoraindividualoucoletiva.
Asmaioresdificuldadesnestesentidoeramafaltadearticulaçãocomoutraspolíticaspúblicaseemparticularcomapolíticapúblicadedesenvol-vimentoeconômico,extremamentenecessáriaparadarcontadoladoeco-nômicodestasiniciativas.
Oacompanhamentoaosgruposerarealizadoporassistentessociaiseatendentessociaisqueacabavam“incubandoosgrupos”,sendocorrespon-sáveispelosempreendimentos,comatarefadeidentificarproblemase/ounecessidadeseintervirquandonecessário.Consultoreseramcontratados
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pontualmenteparadarcontadenecessidadesespecíficas(gestão,organizaçãodotrabalho,finanças,capacitaçãotécnica,dentreoutras).
Destaforma,apesardepossibilitaremnovasformasdesociabilidade,resgataremaautoestimaeadignidadedosenvolvidos,possibilitarvivênciascoletivasedeautogestão,muitasdasiniciativasnãoprosperarameoutrasconseguiramsemanter,mascomdificuldades.Aaçãoisoladadaassistênciasocialcomogestoradestaspolíticasvoltadasaomundodotrabalhojásemostravamineficientesnoquedizrespeitoaosaspectoseconômicos.
Muitasexperiênciasdeincubadorasdeempreendimentossolidários3 jáestavamsendoimplantadascomsucessoemoutrosmunicípiose,nestesentido,muitaspropostasforamelaboradaspelaSeção,masestaexperiêncianãofoiadotadapelosgestoresdomunicípiodeSãoBernardodoCampo.
Apesardosdebatesereflexõesacercadasinúmerasdificuldadesenfren-tadaspelosprofissionaisresponsáveispeloacompanhamentodosempreen-dimentoscoletivosedoslimitesdesuaatuação,em2008érealizadaumareformaadministrativanaSedescquemantémcomosuascompetências:
I-formulação,planejamento,coordenaçãoeexecuçãodepolíticaspúblicaseprogramasdedesenvolvimentosocialparaasdiversasfaixasetáriasesegmentosdapopulação,especialmente:[...]b)de iniciação,capacitaçãoe/ouqualificaçãoeencaminhamentodapessoaparaotrabalho;c)deiniciativasdegeraçãoderendaeempreendedorismoparaoenfrentamentodapobrezaeinclusãosocial;[...]
Em2008,foicriadooDepartamentodeInclusãoSocialeProdutivaeaSeçãodeAçõesSocioeducativas deInclusãoProdutivaqueassumiuosprojetosdaantigaSeçãodeGeraçãodeRenda.
ApróximaseçãoprocuramostraraevoluçãodaeconomiasolidárianomunicípiodeSãoBernardodoCampoapartirde2009,derivadadasmudançasocorridasnagestãomunicipal.
3 Incubadorasdeempreendimentossolidáriosentendidascomoumconjuntodeatividadessistemáticasdeformaçãoeassessoriaqueabrangedesdeosurgimentoatéaconquistadeautonomiaorganizativaeviabilidadeeconômicadosempreendimentoseconômicossolidários(Proninc).
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Economia solidária e desenvolvimento econômico
Em2006,quandoocupavaoMinistériodoTrabalhoeEmprego, LuizMarinhojáapontavaaeconomiasolidáriacomoumdoscaminhosparaodesenvolvimento,aodeclararnaaberturadaIConferênciadeEconomiaSo-lidáriaqueerapreciso“pensaronovomundo,umanovasociedade,novosvalores.Pensarapartirdaspessoas,pensarodesenvolvimentoapartirdenovasoportunidades.Eaeconomiasolidáriafazpartedesteprocesso”(Con-ferênciadeEconomiaSolidária,2006).
Em2009,emsuaprimeiragestãocomoprefeitodomunicípiodeSãoBernardodoCampo,LuizMarinhoextinguiuaSeçãodeAçõesSócio-EducativasdeInclusãoProdutivadaSedescetransferiuosprojetosdeinclusãoprodutiva,queatéentãovinhamsendodesenvolvidospelaSedesc,paraaSecretariadeDesenvolvimentoEconômico,TrabalhoeTurismo(SDET),eosprojetosdecapacitaçãoequalificaçãoprofissionalretornaramàSecretariadeEducação.
ASDETpassouatercomomissãoaimplementaçãodepolíticaspúblicasvoltadasparaodesenvolvimentoeconômicosustentável,promovendoaçõesdeestímuloàmanutenção,expansãoeinovaçãodaindústria,comércioeserviços,àgeraçãodetrabalhoerendaeaosempreendimentosdeeconomiasolidária,alémdoincentivoaodesenvolvimentodasatividadesturísticasemSãoBernardodoCampo.
Em2010,foicriadooDepartamentodeEmpreendedorismo,TrabalhoeRendaresponsávelpelapromoçãodepolíticasparageraçãodeemprego,trabalhoerenda,etambémpelosprojetosdeeconomiasolidária.
NomesmoanofoiimplantadaaCentraldeTrabalhoeRenda(CTR),frutodeconvênioentreaPrefeituradeSãoBernardodoCampoeoMinistériodoTrabalhoeEmprego,quetemcomomissãoinserirtrabalhadoresnomercadodetrabalhopormeiodeaçõesintegradasearticuladasdeintermediaçãodemãodeobra,habilitaçãodesegurodesemprego,qualificaçãosocialeprofissional,orientaçãoparaotrabalho,emissãodecarteiradetrabalhoeprevidênciasocial(CTPS),entreoutras,concretizandoamunicipalizaçãodoSistemaNacionaldeEmprego(Sine).
Em2011,foicriadaaSaladoEmpreendedor,umespaçoexclusivodes-tinadoaatenderosdiversosempreendedoresquedesejamabrirouampliarumnegócionacidade,emespecialummicrooupequenoempreendimento.
UmgrandeavançoeummarcoparaaeconomiasolidáriadomunicípiofoiapromulgaçãodaLei6045/2010queinstituiuapolíticamunicipaldefomentoàeconomiasolidária.Osobjetivosprimordiaisdestapolíticasão:
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I-criareconsolidarosprincípiosevaloresdaEconomiaSolidária;II-gerartrabalhoerendacomqualidadedevida;III-apoiaraorganização,legalizaçãoeoregistrodeempreendimentosdaEconomiaSolidária;IV-apoiaracriaçãoeacomercializaçãodenovosprodutos,processoseserviços;V-promover,agregarconhecimentoeincorporartecnologiasnosempreendimentosdaEconomiaSolidária;VI-integrarosempreendimentosnomercadoetornarsuasatividadesauto-sustentáveis,reduzindoavulnerabilidadeeprevenindoasuafalência;VII-proporaçõesparaaconsolidaçãodosempreendimentos;VIII-proporcionaraassociaçãoentrepesquisadores,parceiroseempreendimentos;IX-estimularaproduçãointelectualsobreotema,pormeiodeestudos,pesquisas,publicaçõesematerialdidáticodeapoioaosempreendimentosdaEconomiaSolidária;X-fomentaracapacitaçãoequalificaçãotécnicadostrabalhadoresdosempreendimentosdaEconomiaSolidária;XI-articularosentespúblicos,visandoàuniformizaçãodalegislação;XII-constituiremanteratualizadoasprincipaisinformaçõessobreosempreendimentosdaEconomiaSolidáriaquecumpramosrequisitosdestaLei;eXIII-garantiradisponibilizaçãodeespaçosapropriadosàcomercializaçãodeprodutoseserviçosdosempreendimentosdaEconomiaSolidária.(SÃOBERNARDODOCAMPO,2010).
Emseuartigo7º,aLeiapontaquea implementaçãodaPolíticaMu-nicipaldeFomentoàEconomiaSolidáriadar-se-ápormeiodosseguintesinstrumentos:
I-acessoaespaçofísicoebenspúblicosdoMunicípio,paraainstalaçãoeimplementaçãodoscentrospúblicosdeEconomiaSolidária,incubadorasdeempreendimentospopularesesolidários,linhasdemicro-crédito,centrosdecomérciojustoesolidário,bemcomoprogramaseprojetosquetenhamcomoobjetivoofortalecimentoeodesenvolvimentodaeconomiasolidária;II-assessoriatécnicanecessáriaàorganização,produçãoecomercializaçãodosprodutoseserviçoseàelaboraçãodeprojetosdetrabalhosecaptaçãoderecursos;III-cursosdecapacitação,qualificação,formaçãoetreinamentodeintegrantesdosempreendimentosdaEconomiaSolidária;IV-convênioscomentidadespúblicaseprivadas;V-suportetécnicopararecuperaçãodeempresasportrabalhadores,emregimedeautogestão;VI-suportejurídicoeinstitucionalparaconstituiçãoeregistrodosempreendimentosdaEconomiaSolidária;VII-estímuloàintegraçãoentrepesquisadores,parceiroseempreendimentos;VIII-apoioàrealizaçãodeeventosdaEconomiaSolidária;e
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IX-formaçãodofundoparaodesenvolvimentodaEconomiaSolidáriadoMunicípio.(SÃOBERNARDODOCAMPO,2010).
ALei6.045/2010abriuocaminhoparaumasériederealizações.Emapenastrêsanosdesuaaprovaçãojáfoiimplantadaemquasesuatotalidadeasaber:
1–ImplantaçãodoEspaçoSolidárioinauguradoemagostode2011,referênciadaEconomiaSolidária,quepossibilitouumamaiorintegraçãoeorganizaçãodosempreendimentosesuasatividades,pormeiodeatividadesdeformaçãoeassessoriaparaosgruposjáformados,assimcomoorienta-çõesparapessoasquepretendemseorganizarcoletivamenteparaproduzirouprestarserviços.
Alémdestasatividades,háumespaçodedicadoexclusivamenteparaacomercializaçãodosprodutoseserviçosdosempreendimentossolidáriosgerenciadopelosprópriosempreendimentos.
Destaca-seareformadeumadassalasexternasparaabrigaralanchoneteconduzidaexclusivamentepelosusuáriosdoCentrodeAtençãoPsicossocialqueproduzemecomercializamdocesesalgados,propiciandoatividadesque,paraalémdeterapêuticas,têmpossibilitadoareinserçãodosusuáriosnocotidianodetrabalhoenotratocomopúblicoconsumidor.
PormeiodoEspaçoSolidáriodisponibiliza-seaindaassalasdaCentraldeTrabalhoeRendaparaasreuniõesdoFórumMunicipaldeEconomiaSolidária,bemcomoparareuniõesespecíficasdosgruposapoiados.
2–ImplantaçãodaIncubadoradeEmpreendimentosEconômicosSolidá-riosdeSãoBernardo(SBCSOL)em2012,umaparceriaentreaPrefeituradoMunicípio,aFINEP,órgãodoMinistériodaCiênciaeTecnologia,aUniversidadeMetodistaeoInstitutoGranbery.Oprojetotemaduraçãodedoisanosparaimplantaçãodaincubadora.
ASBCSOLtemcomometasprincipaisestimulareassessoraracriação,odesenvolvimentoeaexpansãodosEmpreendimentosEconômicosSolidários;estimularaproduçãointelectualeoavançoconceitualsobreotemaalémdefomentaraconstituiçãoderedesdeproduçãoecomercializaçãosolidárias.Desdeoiníciodesuasatividadesjáincubouváriosempreendimentosnossegmentosalimentação,turismo,artesanato,costura,turismo, indústria,reciclagem,economiacriativaetrêsredesdecomercializaçãonasáreasali-mentação,têxtileartesanato.
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Em2013aSBCSOLinaugurounoEspaçoSolidárioaBibliotecadoEm-preendedorquedisponibilizacercade1.500títulosparaconsultaeéabertaaosempreendedoreseàcomunidade.
3–AprovaçãodoProjetodeAçõesintegradasparaoDesenvolvimentodaEconomiaSolidáriaemSãoBernardodoCampoemparceriacomoMinis-tériodoTrabalhoeEmprego,pormeiodaSecretariaNacionaldeEconomiaSolidária,estápossibilitando,alémdeassessoriatécnicaecapacitaçãonaáreadecomercializaçãoemarketing,aobtençãodeumasériedeequipamentoseequipamentosdeproteçãoindividual(EPI),fundamentaisparaamelhoriadascondiçõesdetrabalhodos(as)trabalhadores(as)dosempreendimentos.
4–Realizaçãodetrêsfeirasdeeconomiasolidária,sendoaprimeiraorga-nizadapelopoderpúblicoepeloFórumMunicipaldeEconomiaSolidáriacomrecursosdoconvênioMTE/SENAESeasdemaisorganizadaspeloFórumMuni-cipaldeformaautônomaeautogestionáriacomrecursosdosprópriosgrupos.
5–Aconquistadeespaçosemeventospúblicoseprivadosparaaexpo-siçãoecomercializaçãodosprodutosdaeconomiasolidária.
6–OapoioàtransformaçãodasAssociaçõesdeCatadoresdeMateriaisRecicláveisemCooperativascomoreconhecimentodoscatadorescomoparceirosnoprogramadecoletaseletivaconstantenoPlanoMunicipaldeResíduosSólidos;aimplantaçãodacoletaporta-a-portaeaentregadeumaCentraldeTriagemcominfra-estruturaadequadaparaarealizaçãodotra-balhocomaprevisãodeentregademaisumaeaampliaçãodonúmerodetrabalhadores(as)beneficiados(as).
Fórum Municipal de Economia Solidária: participação e controle social
AConstituiçãoFederal(BRASIL,1988),aoassegurar,dentreosseusprin-cípiosediretrizes,“aparticipaçãodapopulaçãopormeiodeorganizaçõesrepresentativas,naformulaçãodaspolíticasenocontroledasaçõesemtodososníveis”(Art.204),institui,noâmbitodaspolíticaspúblicas,aparticipaçãosocialcomoeixofundamentalnagestãoenocontroledasaçõesdogoverno.ParaissoforamcriadosouampliadosdiversoscanaisdeinterlocuçãodoEs-tadocomosmovimentossociais:conferências,conselhos,ouvidorias,mesasdediálogo,audiênciaspúblicas.
EmSãoBernardodoCampo,paragarantiraparticipaçãodos su-jeitos sociaisepolíticos, sejana formulação,nodesenvolvimento,no
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monitoramentoenaavaliaçãodaspolíticaspúblicasdeeconomiasolidária,visandoàsuaampliaçãoeaperfeiçoamentoconstante,foiexplicitadonaLei6.045,de2010:
Artigo8º-Os instrumentosdaEconomiaSolidáriadoMunicípioserãogeridospelaSecretariadeDesenvolvimentoEconômico,TrabalhoeTurismo,comaparticipaçãodoFórumMunicipaldeEconomiaSolidária.Artigo9º-[...]§3º-ASecretariadeDesenvolvimentoEconômico,TrabalhoeTurismopoderáatribuiraoFórumMunicipaldeEconomiaSolidáriaoexercíciodasfunçõesdeplanejamento,monitoramentoeavaliaçãodasaçõesdesenvolvidasnosequipamentosprevistosnestaLei.(SÃOBERNARDODOCAMPO,2010).
Fundadoemjaneirode2009comaparticipaçãodosatoresdaeconomiasolidária,oFórumMunicipaldeEconomiaSolidária(2009)definiucomoobjetivo
[...]articularomovimentodaEconomiaPopulareSolidária,divulgandoasaçõesecontribuindoparaainclusãosocialecultural,paraapráticadacidadaniaativaeparaaconstruçãodeumnovomodelosocialeeconômico,tendoemvistaofortalecimentodosempreendimentospopularesesolidários.4
AatuaçãodoFórumMunicipaltemcomoprincípioasdefiniçõesdoFórumBrasileirodeEconomiaSolidária,destacadasaseguir:
EmpreendimentosEconômicosSolidáriossãoorganizaçõescomasseguintescaracte-rísticas:1)Coletivas(organizaçõessuprafamiliares,singularesecomplexas,taiscomoassociações,cooperativas,empresasautogestionárias,clubesdetrocas,redes,gruposprodutivos,etc.);2)Seusparticipantesousócias/ossãotrabalhadoras/esdosmeiosurbanoe/oururalqueexercemcoletivamenteagestãodasatividades,assimcomoaalocaçãodosresultados;3)Sãoorganizaçõespermanentes, incluindoosempreendimentosqueestãoemfun-cionamentoeasqueestãoemprocessodeimplantação,comogrupodeparticipantesconstituídoeasatividadeseconômicasdefinidas;4)Podemterounãoumregistrolegal,prevalecendoaexistênciareal;5)Realizamatividadeseconômicasquepodemserdeproduçãodebens,prestaçãodeservi-ços,decrédito(ouseja,definançassolidárias),decomercializaçãoedeconsumosolidário;Entidadesdeassessoriae/oufomentosãoorganizaçõesquedesenvolvemaçõesnasváriasmodalidadesdeapoiodiretojuntoaosempreendimentossolidários,taiscomo:capacitação,assessoria,incubação,pesquisa,acompanhamento,fomentoàcrédito,as-sistênciatécnicaeorganizativa;Gestorespúblicossãoaquelesqueelaboram,executam,
4 SegundodocumentodeFundaçãodoFórumMunicipaldeEconomiaPopulareSolidária.
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implementame/oucoordenampolíticasdeeconomiasolidáriadeprefeiturasegovernosestaduais.(FÓRUMBRASILEIRODEECONOMIASOLIDÁRIA,2014).
Emsuaconstituição,oFórumMunicipaldeSãoBernardodoCamposepropôsaser
[...]umespaçopermanentededecisão,controlesocialdepolíticaspúblicasdetrabalhoeeconomiapopularesolidária,representação,comunicação,articulação,discussão,proposição,trocadesaberes,formação,incentivoeapoiotécnicoparaodesenvolvi-mentodaEconomiaPopulareSolidárianacidadedeSãoBernardodoCampo.(FÓRUMMUNICIPALDEECONOMIASOLIDÁRIA,2009). Ametodologiautilizadanasreuniõesseconstituiemumprocessode
formaçãopolítica, levantamentodeproblemasepropostasdesoluções,apresentação,análiseeaprovaçãodeprojetos,elaboraçãodoscritériosdeparticipaçãoemfeiraseeventos,participaçãonoFórumRegionaldeEcosol,formaçãodecomissõesdetrabalho(geralmenteformadaporummembrodecadagrupo),encaminhamentodereivindicações,dentreoutras.
Inicialmente,asreuniõeseramquinzenaisecompequenaparticipação,mascomotempoeaçõesconcretasfizeramcomqueonúmerodepartici-pantesaumentasse,ampliandoasaçõesdoFórum.
AparticipaçãoativadopoderpúblicolocalpormeiodoDepartamentodeEmpreendedorismo,TrabalhoeRenda,dasentidadesdefomento,emespecialdaPastoralOperáriaedos(as)empreendedores(as)daeconomiasolidária,emespecialdosegmentoartesanato,contribuíramparaestecrescimento.
Atualmente,oFórumMunicipaldeEconomiaSolidáriaseconstituiuemumespaçopermanenteeefetivodeparticipaçãoecontrolesocialdasaçõesdogoverno,mastambémdaconstruçãodeumaparceriafrutíferanaelaboraçãoeexecuçãodeprojetosquevisemaofortalecimentodaeconomiasolidárianomunicípiodeSãoBernardodoCampo.
Considerações finais
Épossívelverificar,pelatrajetóriadaeconomiasolidárianaspolíticaspúblicasnomunicípiodeSãoBernardodoCampo,queatransferênciadosprojetosdaSecretariadeDesenvolvimentoSocialeCidadaniaparaaSecre-tariadeDesenvolvimentoEconômico,TrabalhoeTurismo,possibilitouumgrandeavançoaoconsolidaraeconomiasolidáriacomopolíticapúblicadedesenvolvimentonoâmbitodaspolíticasdetrabalho.
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Construindo uma polítiCa públiCa de eConomia solidária em são bernardo do Campo
Asreflexõesnocampodaassistênciasocialsobrecomodeveriasedarapromoçãodaintegraçãodosseususuários/beneficiáriosaomercadodetra-balhoculminoucomaresoluçãodoConselhoNacionaldeAssistênciaSocialnº33/201,de2011,emseuart.2ºdefineque:
APromoçãodaIntegraçãoaoMundodoTrabalhodar-sepormeiodeumconjuntointegradodeaçõesdasdiversaspolíticascabendoàassistênciasocialofertaraçõesdeproteçãosocialqueviabilizemapromoçãodoprotagonismo,aparticipaçãocidadã,amediaçãodoacessoaomundodotrabalhoeamobilizaçãosocialparaaconstruçãodeestratégiascoletivas.(ConselhoNacionaldeAssistênciaSocial,2011).
Comessaresolução,ficaclaroqueoacessoao“mundodotrabalho”nãoéderesponsabilidadeexclusivadapolíticadeassistênciasocial,masresultadodaaçãointersetorialdediversaspolíticaspúblicas.
Apesardosmuitosavançosalcançadospelapolíticapúblicadeeconomiasolidáriaemnossomunicípio,aindahámuitosdesafiospelafrente.OatualsecretáriodeDesenvolvimentoEconômico,TrabalhoeTurismo5citaalguns:
Queremosaindafortalecerapriorizaçãodosempreendimentossolidáriosnascompraspúblicas.Criarnovospontosdecomercialização,comonosnovosconjuntoshabitacionaisconstruídospelaPrefeitura;fomentaracriaçãodecadeiasprodutivasregionais;cons-tituirpolíticasdeincentivosfiscaisenãofiscais;melhorarosprodutoseosprocessosprodutivos,demodoaalcançarcertificaçõeseelevaropatamardemateriaisrecicláveis(CONCEICÃO,2014).
EmrelaçãoaoprojetoSbcsol,aquestãofundamentalésobresuaconti-nuidadeapósoencerramentodosrecursosfinanceirosaportadospelaFINEPePrefeituradeSãoBernardo,poiséhojeumdosprincipaisinstrumentosdeefetivaçãodapolíticapúblicadeeconomiasolidáriajuntoaosempreendimen-tos.Adescontinuidadedostrabalhosprovocariaumarupturanodesenvolvi-mentodasaçõesjuntoaosempreendimentosjáincubadoseimpossibilitariaoatendimentodenovasdemandas.
Considerandoarealidadeatualdosempreendimentoseconômicossoli-dárioséimportanteacrescentarqueaindaháalgunsdesafios,apresentadosabaixoemtópicos,masquesãototalmenteinter-relacionados.
5 ArtigopublicadonoJornalABCDMaior,em2014,intitulado:‘AoutraEconomia’:
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
A autogestãoAmaioriadosempreendimentossolidários,emboraemníveisdiferentes,
aindanãochegaramaumaformaautogestionáriaplenadentrodoqueseentendeporautogestão:
[...]organizaçãodeumaformadeempreendimentocoletivoemquesecombinamacooperaçãodoconjuntodostrabalhadoresnasatividadesprodutivas,serviçoseadminis-traçãocomopoderdedecisãosobrequestõesrelativasaonegócioeaorelacionamentosocialdaspessoasdiretamenteenvolvidas(Verardo,2003).
ParaSinger(2002),aautogestãoexigeumesforçoadicionaldosassocia-dosdeumempreendimentosolidário,poisalémdecumprircomastarefasqueotrabalhoexige,precisamsepreocuparcomosproblemasgeraisdoempreendimento.Omaiorinimigodaautogestãoéodesinteressedossócios,suarecusaaoesforçoadicionalqueapráticademocráticaexige.Segundooautor,aautogestão
[...]temcomoméritoprincipalnãoaeficiênciaeconômica(necessáriaemsi),masodesenvolvimentohumanoqueproporcionaaospraticantes.Participardasdiscussõesedecisõesdocoletivo,aoqualseestáassociado,educaeconscientiza,tornandoapessoamaisrealizada,autoconfianteesegura.(SINGER,2002)
A autonomiaOsempreendimentosaindaestãoemumprocessodeconstruçãodesua
autonomia,entendidacomocondiçãobásicaparaconvivercomosriscos,asincertezaseosconflitosdasociedadeatual,considerandoaindaqueaauto-nomiarequerautossustentaçãofinanceiraepossedosmeiosdeprodução.
Somenteumindivíduoautônomoterásucessonasesferaseconômica,psicológica,so-cioculturalepolítica,poiséumindivíduoqueinterroga,refleteedeliberacomliberdadeeresponsabilidade,agindonosentidodecanalizarasoportunidadesparamudançasqualitativas(SOARES,1998).
Prepararohomemparaavidasignificadeixá-locaminharcomosprópriospés,possibilitando-lheatomadadeconsciênciadetodasaspossibilidadesquearealidadelheoferece,avaliandosuaprópriacapacidade(FREIRE,1996).
O trabalho em grupo e as mudanças pessoais e comportamentais
Otrabalhoemgrupo,basedoprincípiodacooperação,jápraticadonosdiversosempreendimentos,aindanãochegouaumaformadeorganização
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Construindo uma polítiCa públiCa de eConomia solidária em são bernardo do Campo
solidáriadefato.Emboracomavançosnessaárea,háoentendimentodequeamudançaculturaléumprocessoqueacontecealongoprazo,porissomesmoaindaéumdesafio,umavezqueéumaaçãonacontramãodosva-loresdifundidospelosistemaeconômicovigenteeinteriorizadosatravésdaideologiadominante(individualismo,competição,rivalidade,cadaumporsi).
Nãosepodemudarnadaexternamentesemque,antes,essamudançaocorraemsipróprio:
Asmudançaspessoaispodemabrangerdiferentesníveisdeaprendizagem:nívelcognitivo(informações,conhecimentos,compreensãointelectual),nívelemocional(emoçõesesentimentos,gostos,preferências),nívelatitudinal(percepções,conhecimentos,emoçõesepredisposiçãoparaaçãointegrados)enívelcomportamental(atuaçãoecompetência).(MOSCOVITI,2004).
Assim,valoresdesolidariedade,cooperação,trabalhoemequipe,sen-timentodecoletividade,aindaprecisamservivenciadoseincorporadosparaqueessanovaformadefazereconomiasejarealmentesolidária.ParaCouti-nho(2003)oautênticoespíritodegrupo“emergenaconstruçãoderelaçõeselaçosafetivossólidos,numacomunicaçãoefetiva,olhonoolho,ondeasexperiênciaspartilhadasedesafiospossamfavorecerasbasesdeumenten-dimentomútuo,comamorosidadeeelosdeconfiança”.
A resolução de conflitos e adoção de uma cultura de pazApesardosconflitossereminerentesàsrelaçõeshumanas,suasolução
setornaumgrandedesafioparaosempreendimentossolidários.Osgruposaindanãochegaramaumestágioondeconsigamtrabalharasdivergênciasatravésdodiálogo,doentendimentoedorespeitoàsdiferençasparachegaraumconsenso.
Diskin(2011)citaCelestinoArenalqueafirma:
[...]oconflitoéumprocessonaturalenecessárioemtodasociedadehumana,éumadasforçaspropulsorasdemudançasocialeumelementocriativoessencialnosrelacio-namentoshumanos.Semconflitos,semconfrontaçãodeinteresses,valores,normaseprocedimentosnãohaveriaespaçoparaarenovaçãoeinovação,ouseja,paraapossi-bilidadedemelhoraeavançosqueresultamemevolução.(Diskin,2011)
Aadoçãodeumaculturadepazpoderiacontribuirnesteprocesso,poispropõequeosconflitossejamresolvidosdeformanãoviolenta,combase
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
nosvalorestradicionaisdepaz,incluindo-seajustiça,liberdade,equidade,solidariedade,tolerânciaerespeitopeladignidadehumana.
Diskin(2011)citaGhandi,queafirma:“umconflitofoiresolvidosegundoosprincípiosdanãoviolênciaquandonãodeixarnenhumrancorentreosoponenteseosconvertaemamigos”.
Porfim,apolíticapúblicadeeconomiasolidáriaéumprocessodecon-quistaeconstrução.OseucrescimentoesuaexpansãodependemtantodosesforçosgovernamentaisquantodacapacidadedeorganizaçãopolíticadosquefazemaeconomiasolidárianoBrasil.
Referências
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COUTINHO,E.deP.Consciência de Grupo: a essência da cooperação.RevistaJogosCooperativos,Ed.3,ano2,Ed.3,2003.
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Construindo uma polítiCa públiCa de eConomia solidária em são bernardo do Campo
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Considerações sobre o papel da universidade em
processos de organização de empreendimentos solidários
* PedagogaemestreemEducação.DocentenocursodePedagogiaEaDdaUmespemembrodaIncubadoradeEmpreendimentosSolidáriosdeSãoBernardodoCampo(SBCSol).
**Economista,mestreemAdministração,atuacomempreendedorismoeincubadorasdeempresas.Docentenagraduaçãoepós-graduaçãonaUmesp.
Fabiana Cabrera Silva*Marco Aurélio Bernardes**
Introdução
Esteartigobuscaapresentaropapeldauniversidadenofomentoenaorganizaçãodenegóciosemcomunidadescarentes,peloapoioàcons-tituição,fortalecimentoeconsolidaçãodeiniciativasempreendedoras
emumcontextosolidário.Inicialmente,oartigoprocurasituaratemáticainteraçãoentreuniversidadeeempresa.Talrelaçãonãoéalgorecente.Seuhistóricodecrescimentoémarcadopelosinteressesdeambosprotagonistasdestarelação,“emqueocapitalismoglobalpretendefuncionalizarauniversi-dadee,defato,transformá-lanumavastaagênciadeextensãoaoseuserviço[...]”(SANTOS,2011,p.73).
Logo,éprecisoconsiderarque,paraleloaestecrescimento,comvistasainteressesdecrescimentoparamanter-senomercadonumaposiçãovantajosa,outrosetortemsecolocadocomonecessidadeparasobreviveraestacorridadesleal:empreendimentossolidários.ÉnessesentidoqueopresenteartigodelineiasuadiscussãoebuscacompreenderqualopapeldauniversidadenessecontextodefomentoaoempreendedorismoàsregiõescarentesapartirdaexperiênciadaincubadoradeempreendimentossolidáriosnomunicípiodeSãoBernardodoCampo,aSBCSol.
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
Umaincubadorauniversitáriacomvistasàeconomiasolidáriapodeconstituir-seemumespaçoimportanteparaproduzirconhecimentocientífi-co,realizarpesquisasteóricaseempíricassobreestaeconomiaalternativa,cujofocopolíticopodevoltar-separaatenderumaclassesocialdesprovidadosmeiosdeprodução.Logo,areformauniversitáriasefazemergenteparareposicioná-lanasociedadecomocaminhoalternativoaocapitalismoglobalcomvistasaefetivarsuaatuaçãonasociedadeembuscadeumacoesãoso-cialenalutacontraaexclusãosocial,atravésdemomentosformativosemqueestesgrupossociaistenhamvezevozeparticipaçãoativanasociedade.
Nota-sequearelaçãoentreauniversidadeeosempreendimentossoli-dáriossedesprendeda“pressãoquetemsidoexercidasobeauniversidadeparaproduziroconhecimentonecessárioaodesenvolvimentotecnológicoquetornepossívelosganhosdeprodutividadeedecompetitividadedasempresas”(SANTOS,2011,p.84).Ouseja,ofocodauniversidadepassaaserodecriarprocessosformativostécnicosesubsídiofinanceiro–nesteaspecto,aSBCSolcontoucomoapoiodaPrefeituradeSãoBernardodoCampoeFinep–deformaareposicionaraspessoasqueficaramamargemdodesenvolvimentoeconômicoatravésdeatividadesquegeremtrabalhoerenda,considerandoasqualificaçõesecompetênciasdestesempreendedores.
Diantedestecontexto,podemosafirmarqueauniversidade,enquantoinstituiçãosocial,assumeaposiçãodefomentarpesquisasfundamentais(SANTOS,2011)enãosóaplicadas,comoexigidaspelosetorcapitalistapri-vado.Quandoofocoencontra-seapenasnestaúltimaação,auniversidadeseisentadesuasresponsabilidadessociaisedeextensãocomosgrupossociaissubalternospopulares.ÉnestesentidoqueconcebemosarelevânciasocialdauniversidadetalcomocolocaSantos(2011,p.87):“emnomedeinteressessociaisconsideradosrelevantesequeobviamenteestãolongedeserapenasosquesãorelevantesparaatividadeempresarial”.
Emtermoseconômicos,asegundametadedadécadade1990secons-tituiunoperíodoemqueseverificou,noBrasil,significativaalteraçãonograudeaberturadaeconomia,que,desdeosanosde1930,haviasidoumaeconomiapredominantementefechadacomrelaçãoàimportaçãodeprodutosindustrializadosedetecnologias,portanto,poucoexpostaàconcorrênciadeprodutosfabricadosnoexterior.
Aexposiçãoàconcorrênciadesencadeoureestruturaçõesprodutivasemecanizaçãodasempresas,maisnotadamentenasindústrias,oquegerouadiminuiçãodoquadrodeempregados.Onovopadrãotecnológicomodificou
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Considerações sobre o papel da universidade em proCessos de organização...
oueliminoutarefasecriounovasprofissões.Amãodeobraquenãoteveoportunidadedeadequar-seànovademandaporespecialidades,segundoosempregadores,formouumexércitoindustrialdereservaouseviuforçadaatrabalharinformalmente(GREMAUD;VASCONCELLOS;TONETOJÚNIOR,2002).
ParaCacciamalieSilva(2003),osetorformalseassentanotrabalhoas-salariado,possibilitandosaltostecnológicosetaxascompetitivasderetornonumprocessodeacumulaçãoedeconcentraçãodecapital.Emcontrapar-tida,aeconomiasubterrâneaconsisteematividadeseconômicasnasquaisosexecutantesburlamospreceitostributáriosetrabalhistas.Sãoatividadesclandestinas,mercadosparalelos,ilegaismesmo,emqueseocultaminfor-maçõesdeempregosgerados,produçãoecomercialização.Atividadescomoprostituição,tráficodedrogasecomérciodeprodutospiratas,entreoutras,acabamporincluirgrandenúmerodepessoas,jovensemaduras,quenãosãorequisitadaspelosetorformaldaeconomia,porcontadesuaformaçãoeducacionaldeficitária.
SegundooMinistériodaIndústriaeComércio(BRASIL,2006)osnegóciosinformaisrepresentam40%darendanacionale,emmédia,60%dostrabalha-doresbrasileirosnãotêmregistrosformaisnempagamimpostos.Aexclusãodomercadodetrabalhoporfaltadequalificaçãodostrabalhadorespromoveuocrescimentodasiniciativasdeempreendedorismopornecessidade.
DeacordocomadefiniçãodaOrganizaçãoInternacionaldoTrabalho(OIT),osetorinformaléoconjuntodasempresasfamiliaresoperadaspelosproprietárioseseusparentes,ouemsociedadecomoutrosindivíduos.Sãounidadesprodutivasnãoconstituídascomoentidadeslegaisseparadasdeseusproprietáriosequenãodispõemderegistroscontábeispadrão.
Osetorinformal,sobaópticadaocupação,édefinidocomooconjuntodetrabalhadoresinseridosnessaformadeorganizaçãodaproduçãoqueincluiproprietários,amãodeobrafamiliareosajudantesassalariados(OIT,1993apudCACCIAMALI;TATEI,2008).
EstudosdoInstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatística(IBGE,2005)indicamqueamaiormortalidadeentreasempresasdemicroepequenoportesdecorreespecialmentedeproblemasdegestãoefaltadeplanejamen-to,entreoutros.Aqui,valeapontaradistinçãoentreempreendimentospornecessidadeeporoportunidade.
Empreendimentosporoportunidadesãoaquelesqueocorremmedianteumplanejamentoprévioevisamaoaumentoderendaouindependênciafinanceira.Osempreendimentospornecessidadesãoaquelescujamaior
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
motivaçãoparaaaçãoéacarênciafinanceira.SegundoaGlobal Entrepreneur-ship Monitor(GEM),“quantomaiorafaltadequalificaçãoelogodeoportuni-dadesdetrabalhoqueremuneremdignamente,maiorapossibilidadedequeestaspessoasempreendampornecessidade”(GEM,2013p.14).Atividadesartesanais,pequenoscomércios,trabalhoautônomoedepequenaprodução;nestascondições,tendemademandaraforçadetrabalhofamiliar.
Asatividadesinseridasnapequenaproduçãourbanaoururaldemandam,muitasvezes,forçadetrabalhofamiliar,nãoapenascomoestratégiadeso-brevivêncianapobreza,namedidaemquereduzcustos,mastambémcomoumelementodeconfiançaedegarantiaparaoperaremanterospequenosnegóciosemfuncionamento(CACCIAMALI;TATEI,2008).
Aspolíticassociaisdetransferênciaderendapós-planoReal,noperíodode1994a2013,desempenhamimportantepapelnavidadefamíliasmarginalizadaseconomicamente,masprovavelmenteporsisónãoconfiguramumquadrodeapoiovoltadoàsustentabilidadedasfamíliasapoiadaspelosprogramas.
ParaCacciamali(CACCIAMALI;SILVA,2003,p.3),
Políticassociaisqueapoiamoaumentodascapacidadesindividuaise/ouquevisamtransferênciaderenda(cash transfers),emboratenhamsidoindispensáveisnosúltimosquinzeanosparaminorarapobrezae/ouasdesigualdadesdeacessoabenspúblicos,sãoinsuficientesparasuperarasdesigualdadessociaisederenda,bemcomoapobrezaestruturalqueaindapersistemnocontinente,ouaindaparasustaranovapobrezaqueseinstaurounosestratosdaclassemédia.Apenasocrescimentodeatividadeseconômicasintensivasemmãodeobra,ageraçãodeempregos,políticascontínuasdedistribuiçãoderendaeacriaçãodeinstituiçõesquefavoreçamoacessodosmaispobresamerca-doseaserviçosquelhessãoaindarestritospermitirãoessasuperação,eaorientaçãodasociedadelatino-americananadireçãodoprogressosocialedapromoçãohumana. AreflexãodeCacciamalipermiteapontarosentidodesteartigo,queé
refletirsobrequalopapeldauniversidadenofomentoenaorganizaçãodeempreendimentossolidáriosempatamaresdesustentabilidadenaslocalida-desmaispobres.
1. Breves considerações sobre o mundo do trabalho
Aproduçãocapitalistacomeçouapartirdomomentoemquesecriaramcondiçõesdeexcessodeofertademãodeobraporforçadodesempregogeneralizadoquepredispunhaumcrescentenúmerodesereshumanosa
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Considerações sobre o papel da universidade em proCessos de organização...
vendersuaforçadetrabalhoa“qualquerpreço”parasubsistir.ConformeHuberman(1981,p.173),“umhomemsótrabalhaparaoutroquandoéobrigado”.EssascondiçõesfundamentaramaInglaterracomolocalondeocapitalismoseevidenciouereuniucondiçõesdeirradiarsuainfluênciaparaoutrasnaçõeseuropeias.
AsRevoluçõesIndustriaisdosséculosXVIIIeXIXforammarcosnastrans-formaçõesdasrelaçõesdetrabalhoenosavançostecnológicose,àmedidaqueoprocessodesubstituiçãodepessoaspormáquinasautomatizadaseaênfasenoaumentodaprodutividadeaumentavam,sereduziaopoderdecompradamaiorpartedapopulação.Gerou-se, inicialmentedeformagradual,posteriormentedeformaaguda,um“desempregoestruturalsemprecedentes”(KHURY,2007,p.9).
Osistemacapitalistatem,entreseuspressupostos,areduçãodecus-toseoaumentodaprodutividadeparatornarosprodutoscompetitivosnomercado.Estalógicafoihistoricamenteatendidanodecorrerdoprocessodedesenvolvimentodessemododeproduçãoecertamentebeneficiouumgruposeletodegrandescorporações,quealcançaramproduçãosemprecedentes,mercadostranscontinentais,ganhosfinanceirosnotáveis,eaumentosdepro-dutividadesemprecedentes,graças,entreoutros,aosavançostecnológicosincorporados.Essesavançostecnológicospropiciaramosurgimentodeoutracategoriadetrabalhadores,ostrabalhadoresdoconhecimento.
ConformeRifkin(2004,p.175),
Ostrabalhadoresdoconhecimentosãoumgrupodistinto,unidopelousodatecnologiadainformaçãodeúltimageraçãoparaidentificar,intermediaresolucionarproblemas,sãocriadores,manipuladoreseabastecedoresdofluxodeinformaçãoqueconstróiaeconomiaglobalpós-industrialepós-serviço.
DadosdaAssociaçãoNacionaldeFabricantesdeVeículosAutomotores(Anfavea)revelamque,em1991,osetorautomobilístico,noBrasil,empregou110miltrabalhadoresparaproduzir960milveículos.Em2008,graçasaoavançodatecnologia,compraticamenteomesmocontingentedetrabalhadores,essesetorindustrialproduziu3,2milhõesdeunidadeseaapropriaçãodesseganhodeprodutividadeocorreuembenefíciodasmontadoras.(BERNARDES,2009).
Valeressaltarquevivemosapiorcriseeconômicaefinanceiraglobaldepoisdacrisedosanos30doséculoXX.IniciadanosEstadosUnidos,re-percuteemnívelmundial,poisaeconomianorte-americanaéumadasque
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maisimportambenseserviçosdetodoomundo.Oquadroagravasituaçõesdeconcentraçãoderendanospaísesemergentesecontribuisobremaneiraparaoaumentodaatividadeeconômicainformal.Arecessãodiminuiaativi-dadedaindústria;osbancos,dadasasincertezassobreoencaminhamentodacrise,receiamnãoreceberpelosempréstimoseelevamastaxasdejuros;e,porfim,osconsumidoresacabamporpreferirpouparaconsumir.
Asituação,dramáticaecontraditória,desencadeou,porpartedosgo-vernosdospaísesdesenvolvidos,emespecialdogovernonorte-americano,decisõeseaçõesdegrandemonta,voltadasparaosocorrofinanceiro,comautilizaçãodebilhõesdedólaresderecursospúblicosparasanearmontado-rasdecarroseinstituiçõesfinanceirasprivadas,notadamenteaquelascomatividadesglobalizadas.
NoBrasil,acrisefoiperceptíveljánoprimeiromêsdoanode2009,comasdemissõesanunciadasporgrandesempresas,taiscomomontadoras,ins-tituiçõesfinanceirasemineradoras.Issoocorreumesmocomoatendimentoademandasdasociedade(empresáriosetrabalhadores),pormedidasquepudessemlevaraoaquecimentodaatividadeeconômica.Assim,ogovernoanunciou,paraoprimeirosemestredoano,reduçõesnoImpostosobreProdu-tosIndustrializados(IPI)paraveículoseeletrodomésticos,alémdeprontificar--seaestudarareduçãodataxadejuroseoutrosestímulosfacilitadoresdascondiçõesdeconcessãodecrédito.Asmedidastêm-sereveladoinsuficientesparaconterosmovimentosdedemissõesque,maisdoqueoutrasmetas,parecemvisaràpreservaçãodosganhosacumuladosdocapital.
Asinovaçõestecnológicasrepresentamgrandeentraveparaamãodeobrapoucoqualificada,poisessetipodetrabalhador,umavezdispensadopelasempresas,viaderegranãoconseguerefazersuavoltaaomercadoformale,quandoissoocorre,opatamarsalarialéinferioraoproporcionadopeloempregoanterior.
Orompimentodesseciclodeempobrecimentosemanifesta,nascamadasexcluídasdoambienteeconômicoformal,dediversasformas,comodescritoanteriormente.Atuandojuntoaessaspessoas,auniversidadepoderessigni-ficarousodenovastecnologiasesentidosapartirdeaçõesfundamentadasnaformaçãohumanaedeeconomiasolidária.
Seguem-seexemplosdeiniciativasdeapoioaoempreendedorismosocial,advindasdeuniversidadespúblicasbrasileiras.
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2. Algumas experiências de cooperação entre comunida-des e universidades públicas
Talcomojáfoidiscutidonesteartigo,dacriseeconômicaemergeane-cessidadedeencontrarnovoscaminhosesoluçõesquerespondamàinsta-bilidadeeconômica,aodesemprego,àprecariedadedotrabalho,àexclusãosocial,entreoutrasconsequênciasdestecontextodecrise.Logo,taisassuntosprecisamsercolocadosempautanocampoeducacional,emespecial,noensinosuperior,quefomentaainvestigaçãoeextensãocientífica,deformaafortalecerarelaçãoentreauniversidadeesociedade.
Atualmente,muitasuniversidadesestãoimplantandoprojetoscomoobjetivodeapoiarempreendimentosdealtatecnologiaoudecunhosocial,comoéocasodascooperativas,ouainda,desenvolverprogramasinternoscujoobjetivoéadisseminaçãodepráticasdeempreendedorismoentreseusalunoscomvistasaumaformaçãocríticasobreosproblemassociais,deformaacompreendê-lose,porconseguinte,agirnelesàluzdasteorias.
ComodizOrozcoSilva(2010)1,
[...]assumiraresponsabilidadesocialdeumapartepromoçãodademocraciaenoincre-mentodaparticipaçãodasociedadecivil.Issoimplicaumarevisãoprofundadossistemasdeformaçãoprofissionaleéticadosestudanteseumcompromissocomaatividadedepesquisa,comasurgênciasdecadadedesenvolvimentosustentáveldecadapaís.
Entreasuniversidadespúblicas,umdoscasosmaissignificativoséodoCentroIncubadordeEmpresasTecnológicas(Cietec), inauguradoemabrilde1998:foi instaladonocampusdaUniversidadedeSãoPaulo(USP),nacidadedeSãoPaulo,apartirdeumconvênioentreaSecretariadeEstadodaCiência,TecnologiaeDesenvolvimentoEconômico(SCTDE-SP),oServiçodeApoioàsMicroePequenasEmpresasdeSãoPaulo(Sebrae-SP),aUSP,aComissãoNacionaldeEnergiaNuclear(CNEN)atravésdoInstitutodePesqui-sasEnergéticaseNucleares(Ipen),eoInstitutodePesquisasTecnológicasdoEstadoSãoPaulo(IPT),entidadesquecompõemoConselhoDeliberativodoCietec.Posteriormente,incorporou-seaoConselhooMinistériodeCiênciaeTecnologia(MCT).
1 Disponívelem:<http://ries.universia.net/index.php/ries/article/view/22/calidad_academica>.Acessoem:10mar.2014.
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OCietecvisaàpromoçãododesenvolvimentodaciênciaedatecnologianacionais,medianteoincentivoàtransformaçãodoconhecimentoempro-dutoseserviçosinovadoresecompetitivose,paratanto,
[...]coloca-senavanguardadeumaestratégianacionaldedesenvolvimentocapazdeincentivaroempreendedorismo,melhoraraqualidadedevidaeposicionaropaíscomoumpolocriadoreexportadordetecnologias inovadorasnasmaisdiversasáreasdoconhecimento(UNIVERSIDADEDESÃOPAULO,2008).
Porestar instaladonocampusdaUSP,oCietecépartedeumaredeexcepcionalmentenotável,formadaporinstituiçõesdeensinoepesquisa,órgãosgovernamentaiseiniciativaprivada.Essasinergiaviabilizaaqualifi-caçãodasempresasaolongodoprocessodeincubação,emqueseaplicamosmaismodernosinstrumentosdegestãoetecnologia,alémdasnumerosascompetênciasdisponíveisnosdiversosInstitutosquecompõemaUSP.
CaminhosemelhanteseguemaUniversidadeEstadualdeCampinas(Uni-camp)eaUniversidadeFederaldeSãoCarlos(UFSCar).Assingularidadesouparticularidadesficamporcontadeaçõesdeatendimentodecooperativas.2
DomesmomodoqueoCietec,aIncubadoradeEmpresasdaUniversidadedeCampinas(Incamp)–criadaem2001eincorporadaàAgênciadeInovaçãodaUnicampem2003–sevaledeumaestruturaderedequecompreendepesquisadores,entidadesdefomento,decréditoegoverno,paraviabilizarodesenvolvimentodenovastecnologias.
OsprincipaisobjetivosdaincubadoratecnológicadaUnicampsão:a)aimplantaçãodeumaestruturapropíciaaosurgimentodeempresasdebasetecnológica–contandoparatantocomoapoiodoSebraeedosgovernosnastrêsesferasdepoder–comvistaaproduzirresultadosbenéficosemtermosdedesenvolvimentodetecnologiasadequadasaopaís;b)fluxocontínuodeinovações,diversificaçãoedesconcentraçãoindustrial;c)valorizaçãodaculturaempreendedora;d)sinergiaentreuniversidades,escolastécnicaseescolas
2 Deacordocomorelatóriode2007daCoordenaçãodeAperfeiçoamentodePessoaldeNívelSuperior(Capes),oBrasil–emumrankingcompostopor233países–éo15ºemquantidadedepesquisacientíficapublicadaeoprimeirodaAméricaLatina.OsnúmerostêmcomobaseoindicadorSCImago,queusaobancodedadosScopus, mantidopelaeditoracientíficahomônima.Emnossopaís,porordemdequantidadedepublicações,sãocincoasinstituiçõesquesedestacamemproduçãocientífica:USP,UnicampeasUniversidadesFederaisdeRioGrandedoSul,RiodeJaneiroeMinasGerais.
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Considerações sobre o papel da universidade em proCessos de organização...
municipais,governolocal,empresáriosesociedadecivil.Todososmencio-nadoscolaboramparaainstalaçãodeumadinâmicavirtuosanalocalidade.
Especialmenteaesserespeito,Dowbor(2006,p.2),valendo-sedoses-tudosdePutnam,esclareceque
[...]osmecanismosparticipativosnãosócomplementamaregulaçãodoEstadoedomercado,masconstituemumacondiçãoimportantedaeficiênciadestesmecanismos.Ocapitalsocialaparececomofator importantedaqualidadedagovernançadeumterritóriodeterminado.
AanálisedePutnam3(apudDOWBOR,2006)sobreosEstadosUnidosde-monstraaimportânciadacapacidadedeorganizaçãodasociedadeemtornodeseusinteressescomoumelemento-chavedaracionalidadedodesenvolvimentoemgeral.Empresassociais,cooperativaseincubadorassociaisdesempenhamessepapelaosecaracterizaremporatenderpessoasdebaixarendaecomdéficiteducacional.Sãopopulaçõesqueatuamcomocatadoresdematerialreciclávelorganizadosemsistemadecooperativas,costureiraseartesãos,pessoasqueatuamnoramodemanutençãodemáquinas,entreoutras.
Aeducaçãoambiental,acapacitaçãonocampodagestãoeaqualificaçãodemãodeobrasãoalgunsdoscamposdeapoioparaesseperfildeaçãodauniversidade.CaminhanessadireçãoaIncubadoraRegionaldeCooperativasPopularesdaUFSCar,aoseposicionarcomoumaformadeintervençãoaca-dêmica,orientadaparaaconstruçãocooperadadealternativasaoproblemadodesempregoedaexclusãosocial.
SegundoEid,GalloePimentel(2006),aquestãoqueseapresentaéanecessidadedeumfatorredefinidordaaçãouniversitáriadecarátersocial.QuandoapropostadeincubaçãodecooperativaspopularesemergiunaUFS-Car,comoiniciativadosNúcleosdeExtensãoMunicípio,SindicatoeCidada-nia,elasedefrontou,comomencionamGalloetal.(2000,p.22),comtrêsproblemasrelativamentesimultâneosparaasuaefetivação:
[...]oprimeiro,disseminarapropostaparatodaacomunidadeacadêmica;osegundo,extrapolardessafase,istoé,danecessidadedeumaformaçãoteóricacomum;terceiro,odeestabelecercritériosdeescolhadaprimeiraáreaougruposocialcomoqualaacademiairiainteragir.
3 RobertPutnamécientistapolíticoeprofessordepolíticaspúblicasnaUniversidadedeHarvard.SeuestudosobreaItália,Making Democracy Work, foitraduzidonoBrasilcomo Comunidade e Democracia.
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Asempresassociaisintentamaviabilizaçãodamudançasocial:entreasmaisfavoráveisconsequênciasdesuaimplantaçãodeveráestaramaiorintegraçãodauniversidadecomsegmentossociaisinvisíveis,vistoquesãosubdimensionadospelasestatísticas,inclusiveasoficiais.
NosprimeirosanosdoséculoXXI,aquestãodomulticulturalismoseapre-sentaaomeioacadêmicodeformaurgente.Auniversidadequeseproponhaapensareadesenvolvertecnologiasdeinclusãoedesustentabilidadedeveapresentar,àscomunidadesinteragentes,tecnologiasapropriadasàrealidadelocal,quepromovamsustentabilidadeaosgruposparticipantesdessaação.
Odiálogoentrediscentes,docenteseapopulaçãolocalsugereacons-truçãodeuminstrumentaldetrabalhoàfeiçãodarealidadeenãoapartirdaaplicaçãopuraesimplesdasteoriasexistentes.Aaçãouniversitáriadeverepercutiregerarodesejodoprotagonismonapopulaçãolocal.Nãodeveráseconsolidarcomoassistencialista,antes,engajadanarealidadesocial,envolverápessoas,grupos,cooperativas,parceirosouacomunidadecomoumtodo,buscandocausarimpactopositivonascondiçõesexistentesdedesemprego,precariedadedotrabalhoeexclusãosocial.(GALLOetal.,2006).
NomunicípiodeSãoBernardodoCampo,ainiciativadeincubaçãoéresultadodaparceriaentreaUniversidadeMetodistadeSãoPaulo,oInstitutoMetodistaGranberyeaPrefeituradeSãoBernardodoCampo,econtacomapoiofinanceirodaFinanciadoradeEstudoseProjetos(Finep),doMinisté-riodaCiênciaeTecnologia.Oprojetodeimplantação,iniciadaem2011,daIncubadoradeEmpreendimentosSolidáriosdeSãoBernardodoCampo(SBC-Sol),decarátermultidisciplinar,buscasuprirasnecessidadesdecorrentesdadesigualdadesocialdaregião,frutosdafaltadepolíticaspúblicasanterioresquepossibilitassemoportunidadesdeinclusão.Osramosdenegóciosdeem-preendimentossolidárioslocalizadosnomunicípiodeSãoBernardodoCampoatendidospelaSBCSolsãodiversificados,comoexemplo:processamentodematerialreciclável,oficinasdecostura,artesanato,hortascomunitárias.
Comoilustramasiniciativasacimadescritas,eemespecialestaúltima,aseguir,otemaaprofundadorefere-seàquestãododesenvolvimentolocal,considerandoamissãosocialdauniversidadealiadaaumaaçãotransforma-dora,atendendoàsnecessidadesdospúblicos-alvoquesesituamàmargemdauniversidade.
3. Desenvolvimento local: tradição e livre iniciativa
ParaMilani(2003),odesenvolvimentolocaldizrespeitoaumconjun-todepolíticasquenãoseregulampelosistemademercado.Afirmaqueo
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Considerações sobre o papel da universidade em proCessos de organização...
crescimentoeconômicoéumavariávelessencial,porémnãosuficienteparaensejarodesenvolvimentolocal:
Odesenvolvimentolocalpodeserconsideradocomooconjuntodeatividadesculturais,econômicas,políticasesociais–vistassobaóticaintersetorialetransescalar–quepar-ticipamdeumprojetodetransformaçãoconscientedarealidadelocalenquantoprojetointegradonomercado,masnãosomente:odesenvolvimentolocalétambémfrutoderelaçõesdeconflito,competição,cooperaçãoereciprocidadeentreatores,interesseseprojetosdenaturezasocial,políticaecultural(MILANI,2003,p.2).
Odesenvolvimentolocal,paraoautor,expressaocontextoeaqualidadedodiálogovigentenaregião.
ParaDowbor(2006,p.6),“promoverodesenvolvimentolocalnãosig-nificavoltarascostasparaosprocessosmaisamplos,inclusiveplanetários:significautilizarasdiversasdimensõesterritoriaissegundoosinteressesdacomunidade”.
Atransformaçãodarealidadelocalrequercondiçõesderelacionamentoentreatoreseducacionais,tecnológicosepolíticos,entreoutros;anãoocor-rênciadessascondições,emintensidadenecessária,talvezpossaserexplicadapelofatodeaorganizaçãosocialterderivadodopredomíniodointeresseprivadosobreointeressecoletivo.
DeacordocomCasarottoFilho(1998,p.87),enquantooprocessodeglobalizaçãoeconômicaseexpressanacrescentecompetiçãotransnacional,oderegionalizaçãosocialcompreendeumcrescenteesforçodassociedadesre-gionaisparaconfiguraresustentarseusprópriosprojetosdedesenvolvimento:
Emcasosdegrandespotencialidadesnaturaisounaquasetotalrestriçãodasmesmas,apotencialidadebásicadequalquerlocal,regiãooupaísestáassentadaemsuapopulação,oumaisamplamente,emseuambiente:ainteraçãodessagente,pormeiodesuacultura,comoterritórioesuasrelaçõesexternas.Essaéaalavancaprincipaldoprocessodedesenvolvimentoerequergrandesesforçosdefomentoepromoção.
AsseveraoRelatório sobre desenvolvimento humano no Brasil,estudorealizadopeloInstitutodePesquisaEconômicaAplicada(IPEA)epeloProgramadasNaçõesUnidasparaoDesenvolvimento(PNUD),queaequidadeéumcomponenteessencialdodesenvolvimentohumanoe,nessamedida,todostêmodireitodeparticiparedesebeneficiardosfrutosedasoportunidadescriadaspeloprocessodecrescimentoeconômico.Todavia,
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[...]dadooacentuadograudedesigualdadeobservadonamaioriadasnações,essaequidadenãodependeapenasdaeliminaçãodeeventuaisbarreirasquepossamimpediraspessoasdeusufruirplenamenteaquelasoportunidadesebenefícios;naverdade,adesigualdadeeapobrezasão,emsimesmas,asmaioresbarreirasaessaparticipação(PNUDapudGREMAUDetal.,1995,p.95).
ComosalientaDowbor(2006),odesenvolvimentosemprefoivistocomoumprocessoquechegaaumaregiãovindodasesferassuperioresdogoverno,sobaformadeinvestimentospúblicos,oumedianteainstalaçãodeempresasprivadas.Amodernização–nosentidoamplodegeraçãodeempregoerenda,valorizaçãodepequenasemédiasempresas,combateàpobreza,reduçãodasdesigualdades,provimentodepolíticaspúblicasdequalidade–tendeaservistapelacomunidade/sociedadecomodinâmicaquevemdefora;portanto,épassivamenteaguardadapelacomunidade.
Décadasdeexperiênciascomprojetosdedesenvolvimentocomprovam,noentanto,queacapacidadedeauto-organizaçãolocal,ariquezadocapitalsocial,aparticipaçãocidadãeosentimentodeapropriaçãodoprocessopelacomunidadesãoelementosvitaisemsuaconsolidação.Odesenvolvimentonãoé,meramente,umconjuntodeprojetosvoltadosaocrescimentoeconômico.Éumadinâmicaculturalepolíticaquetransformaavidasocial.(DOWBOR,2006,p.4).
ConformeoSebrae-2004,1,5milhãodeempresassãoabertasanual-mente.Entretanto,60%encerramasatividadesemmenosdecincoanos.Paradoxalmente,emummundocaracterizadopeloexcessodeinformação,ascausasmaiscomunsparaessamortalidadesãoaausênciadeplanejamentoprévio,desconhecimentooufaltadeexperiêncianoramoemáadministraçãodofluxodecaixa.Épossívelqueseencontreumaexplicaçãoparaofracassodetãograndenúmerodeempreendimentos–eissonãoocorreapenasnoBra-sil–nofatodequeasforçasempresariaisnãoestejamnemsuficientementeagrupadas,nemsuficientementerepresentadas.ComodizFilion(2004,p.29),
Encontramo-nosnumasituaçãoondeaquelesqueseriamosprincipaisatoresdodesen-volvimento–osempresárioseoslíderesdepequenasempresas–estãoausentesdaelaboraçãodaslegislaçõesquegovernamanossasociedade.
Amodernizaçãoeodesenvolvimentodaeconomiarequeremaintegraçãodepolíticascentraiscomadeagenteslocaisparaqueocorramdesdobramentos
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virtuososdopontodevistadapopulaçãocomoumtodo.TaisdesdobramentosvirtuososterãosidoconseguidosseequandoatingiremosatributospropostospelosformuladoresdoOrçamentoParticipativo: radicalizaçãodademocracia,construçãodenovacidadania,aperfeiçoamentodogastopúblicoepromoçãododesenvolvimentolocal(CARVALHO;SILVA,2006).
Nocasodacategoriatrabalhadoresporcontaprópria,ouformasanálo-gas(comoéocasodemuitosmicroempresários),observa-sequeelesestãocriandoumaocupaçãonomercadodebens,principalmentenaprestaçãodeserviços,comoobjetivodeseautoempregar.Oquecaracterizaessegrupo“éque[ele]compreendeindivíduoscompouconíveldecapitalfísicoouhumano,quesãosimultaneamentepatrõeseempregadosdesimesmos”(CACCIAMALI,2000,p.167
DeacordocomSantos(2008,p.72),
Examinadooprocessopeloqualodesempregoégeradoearemuneraçãodoempregosetornacadavezpior,aomesmotempoemqueopoderpúblicoseretiradastarefasdeproteçãosocial,élícitoconsiderarqueaatualdivisão“administrativa”dotrabalhoeaausênciadeliberadadoEstadodesuamissãosocialderegulaçãoestejamcontribuindoparaumaproduçãocientífica,globalizadaevoluntáriadapobreza.
Todoprocessodeapoiodeverásealinharaaçõesquepropiciemaau-togestão.Aolongodoprocessodeorganizaçãoefomentodenegóciosostópicosabaixodeverãosercontemplados:
1º) Acesso a linhas de financiamentos e investimentos.SegundoDor-nellas(2002,p.26),oacessoaocréditoédifícil,sobretudopelafaltadeculturadeinvestimentoderiscoemnegóciosdealtopotencialnopaís;ocapitaléfundamentalparaaconsolidaçãodepequenosnegócioseparaqueasempresascresçamesaiamdasincubadorasemcondiçõesdecompetirnomercado.Pequenasempresaspossuemmaiorescustos,proporcionalmenteàsgrandes,emrazãodasquantidadesproduzidasparacomercialização.
Troster(2007,p.136)informaque
[...]noBrasilaconcentraçãoempresarialéaindamaiordoqueaconcentraçãodaren-da.Enquantoos10%maisricosdapopulaçãodetêm46,4%darenda,as10%maioresempresasdetêm59,5%doslucrose60,8%dosrendimentosdasvendas.Enquantoos50%maispobresdapopulaçãotêm13,2%darenda,as50%menoresfirmasregistramapenas5,5%dasvendasenãolucram.
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ParceriascomoBancodoPovodevemserestabelecidasparasustentarocrescimentoeconsolidaçãodosempreendimentos.
2º) Programas de consultoria e assessorias.Sãoasaçõesdeatendimentopelosalunos,sobasupervisãodeprofessores:GestãoFinanceira,Marketing,ProcessosGerenciais(GPME),GestãodePessoas(RH),Gastronomia,LogísticaeTurismo.Alémdeprofessoresealunosdauniversidade,convémestabelecerparceriascomcentrostécnicoslocais,paradesenvolvertecnologiasecapacitaramãodeobra.
3º) Suporte à comunidade.SegundoDornelas(2002,p.27),“trata-sedaparticipaçãodemoradores,professoresealunoscomopartedoconselhodeadministraçãodoprojeto”.
4º) Rede de empreendedorismo.Éfundamentalestimularredesdesoli-dariedadeentreoprojetoeodeoutraslocalidades,paratrocadeexperiênciassobregestão,contrataçãoeoutrastemáticasdeinteressedeempresassociaisoucooperativasdepequenoporte.
CasarottoePires(1998,p.24)explicitamaimportânciadequemicroepequenasempresastenhamumposicionamentocadavezmaisflexívelevol-tadoaparcerias:“quandosepassaafalaremnegóciosenãomaisemfábricasisoladas,umaformadediminuirosriscoseganharsinergiaéaformaçãodealiançasentreempresas,especialmenteaspequenas”.
Algumasmedidasaseremconsideradasparapropiciarsustentabilida-deaosprojetossão:a)divulgaçãodasempresassociaiseoutrassurgidasnalocalidadeeregião;b)criaçãodeumsiteparadivulgaçãodosprodutosdasempresassociais;c)aberturadodiálogoentreempresáriosregionaiseempreendedoressolidáriosparapermitirdesenvolvimentodeparceriasregionais;d)apresentaçãodoconceitode“planodenegócios”paraacomu-nidadelocal;e)desenvolvimentodenovosformatosdeapoiosfinanceiroseestruturaisparaeventosdasempresassurgidaseconsolidadasnoprojeto;f)desenvolvimentodeumformatoinovadornarelaçãoentreempresassociaisebancoscomerciais.
5º) Processo de seleção de empresas.Oprocessodeseleçãodeveservirparaavaliar,recomendareselecionarasmelhoresempresasparaoprojetodeextensão.Algunscritérios,deacordocomDornelas(2002,p.30),são:sercapazdegerarempregos;pertencerasetorpriorizadopeloprojeto;terdisposiçãoparadesenvolverplanodenegóciosepotencialdegeraçãodepostosdetrabalho.
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6º) Programa de metas.Énecessáriodefinirclaramenteprocedimentosemetas,pactuarcritériosdeavaliação,prestaçãodecontasedireitosedeveresdasempresas.ComoafirmaAmatoNeto(2005,p.72),“naatualconjunturaeconômica,paramanterataxaderentabilidadequepermitapermanêncianomercado,aempresatemqueampliarreceitae/oudiminuircustos”.
Considerações finais
ComojádisseMiltonSantos(1998?),énecessárioresponderaoatrasoeàcomodidadedasmentescomprogramasquesignifiquemumolharadianteequecriemespaçoseoportunidadesvoltadosàemancipaçãoeautonomia.Épossívelsuporqueistodecorrasobretudodocrescimentoeducacional,socioeconômicoecultural,ouseja,deampliaçãodacidadania.
Porconseguinte,umprojetoconduzidoemparceriacomauniver-sidade,espera-sequesejaconstituídocomoumconjuntodeatividades,desenvolvidaspordocentesediscentes,comopropósitodeestimularodesenvolvimentodoterritório.
Paraasustentabilidadedasempresasorganizadaseconsolidadaspelaparticipaçãonumprojetodeincubaçãooudeextensão,éfundamentaloregistrodasreferênciasconstruídasapartirdasexperiênciasevalorespre-dominantesnolocal.
Éessaespéciederoteiroque,seguido,asseguraqueaspopulaçõeslocaisseapoderemdastecnologiastransferidasebenefíciosgeradospelotrabalho,parasuarepercussãopormuitosanos,atéquenovocicloseinicieeoutrosprocessosalteremopatamardoestadodaarte.Segue,comoexemplo,umapropostaderoteiroaseradotadonaslocalidades:
• articulação,casonãoexista,demoradoresmaisantigosparaacriaçãodeumaassociaçãodemoradores;
• identificaçãodepotencialidades;• ajudaaosinteressadosnodesenhodemetodologiadetrabalho;• construçãodeformatosdegestãoadequadosaoperfildaspessoas
dolugar;• diálogocontinuadosobrecooperativismo;• promoçãodeeventosnacomunidadequeenfatizemaparticipação
daspessoasdolocalnosresultadosperiodicamenteapresentados;• reuniõesperiódicas,oueventosnaregião,paratrocadeexperiências
sobreboaspráticasdegestãoentreosempreendedoresdalocalidadeedeoutras;
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• desenvolvimento,pelacomunidadeeporprofessoresealunos,denovosmodelosdegestãodeempresassociais;
• parceriascomentidadestécnicas;• parceriascomoBancodoPovo;• parceriascomgrandesindústriasdaregião;• promoçãodeintercâmbiocomoutrascooperativaseempresasso-
ciais;• apresentaçãodasempresasemassociaçõesregionais industriais,
comerciaisedeserviços.Asempresassociaispossivelmenteseconstituirãoemaçõesdemaior
impacto,porsereferiremàgeraçãodepostosdetrabalhoparaapopulaçãodesempregadaeestabeleceremparceriascomgrandesempresasdaregião.Issopoderáocorrercomopartedeumaagendadearticulaçõesqueirásedelineandoaolongodaimplantaçãodoprojeto.
Ésobremaneiraimportanteotrabalhopelaautonomiadessesprojetos,afimdequepromovam,deformavirtuosa,odesenvolvimentonalocalidade.Concomitanteàformaçãoeorganizaçãodenovosempreendimentossociais,deve-setrabalharcomosmoradoresderuaaformaçãoderedesecadeiasprodutivasvirtuosasquepossibilitemaelesumaarquiteturaoriginaldenovosnegóciosquerespondamanecessidadesdaquelalocalidade.
Em2007,nomunicípiodeSantanadeParnaíba(BERNARDES,2009,p.99),deu-seumexemplopráticodaimportânciadaaçãointegradaparaaconsolidaçãodenovosempreendimentos.Empreendedoreseempresáriosforamtreinadosecapacitadosparausodenovastecnologiasepostosemcontatocomaimportânciadainovaçãotecnológica.
Estudiososcitadosbrevementenestetrabalhoconvergemparaaimpor-tânciadaimplantaçãodeprojetosdainiciativaprivadaouaçõesdepolíticaspúblicasqueefetivamenteresultemematividadeseconômicascapazesdeabsorveramãodeobracomintensidade.Esseseriaumcaminhopossívelparadiminuiradesigualdadesocialentreosmaisricoseosmaispobres.
OsaudosoprofessorMiltonSantos(2007,p.191)aponta,emoEspaço do Cidadão,ofatodequeaspessoasaquemoplanejamentosedestinara-ramentetêmacessoaosdocumentosfinais,eaindamenosaosdocumentosdebase.Eisumdesafioaservencidoporprojetosquecontemcomaparti-cipaçãodacomunidadeacadêmica.
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Controles financeiros na economia solidária:
um estudo de caso dos empreendimentos
do projeto SBCSol
* MestreemFinançaseOrganizaçõespelaUmesp(2011),mestreemFinançascomespecializa-çãoemRiscopelaUniversidadedeSãoPaulo-USP(2000);pós-graduadoemAdministraçãoFinanceira(1997)etecnólogomecânicocomespecializaçãoemSoldagempelaFaculdadedeTecnologiaProf.LuizRosaFatec-SP(1994);especializadoemEducaçãoMatemáticapelaUniversidadeOswaldoCruz(2005).AtualmenteéprofessortitulardaUniversidadeMeto-distadeSãoPauloministrandoostemasligadosaFinanças,Contabilidade,MatemáticaeEstatística,noscursosdegraduaçãoepós-graduação;étambémconsultordeempresasnasáreasfinanceiraetreinamentogerencial.MembrodaSBCSol.
Marcelo dos Santos*
Introdução
A sustentabilidade,quegaranteaperenidadedeumempreendimento,supõequeaempresadeveimportar-secomomeioambiente,asocie-dadeenãoesqueçaoresultadoeconômicoquefarácomquetenha
recursosfinanceirosparatrabalharnasoutrasfrentes.O controle financeiro é uma parte importante da gestão de um
empreendimento.Umaboaadministraçãofinanceirapermitequesesaibaquandoentrarádinheironaorganização,quandosairádinheirodofluxodecaixaatravésdepagamentosdiversos,bemcomopossibilitaplanejarofuturodeacordocomosdiversoscenáriospossíveis.
Oplanejamentofinanceiroenglobatambémapartedeorçamentaçãoeacompanhamentodesteorçamento.Verifica-sequeasempresas,aolongodotempo,repetemsempreosmesmoserros.Comopodemrecorrerabancos,quandodeformainesperadaapareceumproblemadecaixa,poucaspensamnoseventosfuturosdeformaplanejada.
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SegundoHoji(1999),opapeldocontrolefinanceirodentrodeumaor-ganizaçãoimplicaemdecisõesdosgestoresdoempreendimentoquantoaoinvestimentoefinanciamento.Nessesentido.quandoocorreumexcessodeliquidezdentrodaempresa,naformadesobradecaixa,osgestoresprecisamdecidirondeinvestir:emmáquinas,equipamentos,novaspesquisasemeto-dologiasdeproduçãoouentãoinvestirnomercadofinanceiroeaguardarummelhormomentopararealizarinvestimentosnaorganização.
Poroutrolado,asdecisõessobrefinanciamentosdevembasear-seemumaprevisãocorretasobreoperíodoquepoderãoocorrer.Éimportante,também,analisarquaisopçõesestãodisponíveisparacoberturadeumdéficitnocaixa.Quandoseprocuralinhasdecréditonomercado,deve-setentarencontrarumafontederecursosqueapresenteasmenorestaxadejurosdomercadoecomistoreduzirentãoasdespesasfinanceiras.
Viaderegra,osgestoressupõemqueumadespesaoucustoinesperadosejaconsequênciadeparadanãoprevistaemumamáquina,umafaltadepagamentodeumcliente,ouaausênciadeumempregadopormotivodedoença.Entretanto,elesnãoentendemqueopagamentodeumaparcelaamaisdesalário,denominadadécimoterceirosalário,queénormatizadadeacordocomalegislação,comdataevaloresprevisíveisdentrodestalegisla-ção,sejameventosinesperados.
Opequenoempresário,porvezes,sevêdiantedediversasfrentesdetrabalhodentrodesuaempresaerelegaaumsegundoplanoaadministra-çãofinanceira,aadministraçãodepessoaleoutras.Aoobservaroestilodegestãodessaspequenasempresas,chamaaatençãoofatodequeamaestrianaqueletipodenegócionãofoiadquiridacomoresultadodacompetênciadeseusgestoresnaadministraçãoderecursoshumanos,oudacompetêncianagestãofinanceira.Masestasdimensõesdoempreendimentosãoessenciaiseogestordevededicarpartedoseutempoaestesprocessos.Oexemploexpostoanteriormente,sobreodécimoterceirosalário,poderiaserresolvidodividindo-seovalortotalemdozeparcelasepoupandoumacotapartepormêsenãoutilizaroartifíciodesolicitarempréstimoquandodopagamentodedécimoterceirosalário.
Nessecapítulo,serãoanalisadososcontrolesfinanceirosemempreen-dimentosdeeconomiasolidária.Essetipodeorganizaçãoprodutivaofereceumaalternativadeobtençãoderendaparaapopulaçãoexcluídadomerca-dodetrabalhoformal.Aorganizaçãodegruposparaentradanomundoda
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Controles finanCeiros na eConomia solidária
economiasolidáriaé,porsisó,umatarefadegrandeimpactonasociedade,edemuitoesforçoparaosenvolvidosnoprocesso.
Algunsgargalosnaoperacionalizaçãodeumempreendimentodeecono-miasolidáriapodemserobservadosnosempreendimentosquesãoacompa-nhadospeloprojetodeimplantaçãodaincubadoradeempreendimentossoli-dáriosdeSãoBernardodoCampo(SBCSol).EsteprojetoqueocorrenacidadedeSãoBernardodoCampo,noestadodeSãoPaulo,Brasil,éumaparceriaentreUniversidadeMetodistadeSãoPauloePrefeituradeSãoBernardodoCampo,comrecursosdaFinep(FinanciadoradeProjetosdoGovernoFederal)edoCNPq(ConselhoNacionaldeDesenvolvimentoCientíficoeTecnológico).
NessesempreendimentosacompanhadospelaSBCSol,ositensrelaciona-dosàcomercialização,controleseplanejamentoforamdiagnosticadoscomoosprincipaisentravesparaosucessodestetipodeempreendimento.Noprocessodeincubação,foramgeradostreinamentos,cartilhaseorientaçõescomoobjetivodereduzirasdificuldadesrelacionadasaoscontroleseplane-jamento;dessaforma,aumentandoaorganização,almejandoaperpetuaçãodosempreendimentosaolongodotempo.
Controles e gestão
Aoanalisar-seopapeldogestorquantoasuaeficiêncianaexecuçãodosobjetivosdaempresa,conclui-sequeoatingimentodosobjetivossempredependedasfunçõesdeplanejamento,liderança,organizaçãoecontrole.Osautoresconstatamquetodasessasfunçõespossuemumainterdependência,masocontroleéjulgadocomofatorprimordialparaqueasoutrasfunçõessejamrealizadascomeficáciaeeficiência.
Ocontroleverificaseaquiloquefoiplanejadoéexecutadocorretamen-te.Verificatambémseexistemocorrênciasquesedistanciamdepadrõesanteriormenteestabelecidos.Osprocessosoperacionaisadministrativos,den-trodeumaorganização,devemsercontroladosparaquepossamseravaliadosemensuradosgerandoassimumacomparaçãocomodesempenhopassadoetambémcomumavisãodeexecuçãodoplanejamentoparaofuturo.
SegundoavisãodeGitman(2002),agestãofinanceiradeumempreen-dimentopassapelacomunicaçãocomoutrasáreasinternaseexternas,poisaáreafinanceiraestáligadaatodasasáreasdeumaorganização.Dessaforma,paraqueoresponsáveltécnicopelaáreadefinançasfaçaboasprevisõespara
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atomadadedecisão,dependedesuainteraçãocomopessoaldevendasedeoutrasáreasdoempreendimento.
Osucessooufracassodepequenosempreendimentosdependemuitodesuagestãofinanceira,eesta,porconsequência,dependededadoscontá-beisdequalidadequepossamsertransformadoseminformaçõesúteisparatomadadedecisõescorretasqueauxiliarãoaorganizaçãoaseperpetuaraolongodotempo.
Nomundo,amaioriadaspequenasempresaspossuememsuaestruturaumsetordecontabilidadeouumescritóriodecontabilidadedesenvolvendoafunçãodosetorfinanceirodaorganização.NoBrasil,oescritóriodeconta-bilidadetemumafunçãoburocráticaemrelaçãoaopagamentoecontroledasituaçãofiscaldaorganização.Assim,desfalcadasdessafunção,queéessencialparaela,apoia-senoextratobancárioenosconselhosdogerentedobanco,emqueoempreendimentotemconta,pararealizarasuagestãofinanceira.
Comotodasasdecisõesdaorganizaçãopassampelaquantificaçãodere-cursosfinanceirosdisponíveise/ounecessários,quasetodasasdecisõesdeve-rãoseranalisadaspeloresponsávelpelaáreafinanceira,que,necessariamente,deveintegrarumcomitêquetomadecisãodentrodoempreendimento.
Controles financeiros
Aferramentamaisimportanteequeéindispensávelparaosempreen-dimentosdaeconomiasolidáriaeeconomiainformalsãooplanejamentoecontrolefinanceiros,visandoàmelhorianatomadadedecisõesnapre-cificaçãocorretadeprodutoseserviços.Esseprocessopermiteaanáliseedecisãocorretasobrequaistiposdepedidosouencomendaspodemsertratadospeloempreendimento.
Oscontrolesfinanceirossãoderivadoseoriundosdacontabilidadeondeseregistraopatrimôniodasorganizações,masexisteumapequenadiferençaentreocontrolecontábileocontrolefinanceiro.Navisãocontábil,osfatosjáocorrerameforamregistrados.Ocontrolecontábilrevelaopassadodoempreendimento,casoomesmopossuaestesregistros.Ocontrolefinanceiropossibilitaumamelhorvisãodecaixadaorganização.
Comoexemplo,pode-secitarumempreendimentoeconômicosolidárioquefabricabolsascomlonasusadasnafabricaçãodebanners.Esseempreen-dimentovendeuumaquantidadedebolsase,poressavenda,deveráreceber,emtrintadias,milequinhentosreais.Poroutrolado,afolhadepagamento
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Controles finanCeiros na eConomia solidária
eamatéria-primaparafabricaçãodasbolsasgeraramumadespesa,jápaga,novalordeummilreais.Navisãocontábil,oempreendimentotevecomoresultadoumlucrodequinhentosreais.Navisãofinanceira,dofluxodecaixa,aorganizaçãoreceberádaquiatrintadiasovalordemilequinhentosreais.Portanto,ocaixadoempreendimentonãopossuinenhumvalormasjáefetuouopagamentodossaláriosedamatéria-primanovalordemilreais.Pode-seconcluirque,deacordocomavisãofinanceira,aempresaapresentaumprejuízodemilreais.
Acontabilidadeauxiliaa tratarumasériededadose indicadoresfinanceirosdaorganização,comoníveldeliquidez,necessidadedecapitaldegiro,rentabilidade,níveldeendividamento,estruturadecapitaleoutros.Entretantoessescontrolesnãosãosuficientes.Fazendoumaanalogiacomaaçãodedirigirumautomóvel,seriaamesmacoisaquedirigi-loolhandoapenaspeloespelhoretrovisor.Claroquenãodariacerto!Assim,éneces-sárioefetuarprojeçõesdestesindicadoreseacompanhá-lostodososdiasdentrodoempreendimento.
Nãoépossível dispensar a contabilidade.A área contábil auxilia atransformarosdadoseminformaçõesemelhoraraqualidadedasdecisõesqueogrupodepessoasdoempreendimentodevetomar.Acontabilidadetambéménecessáriaparaqueoempreendimentotomecréditonomercadobancário,pois,semdocumentosformaisgeradospelacontabilidadeparaavaliação,estaliberaçãodecréditonãoocorrerá.Acontabilidadetambémsefaznecessárianaapuraçãoenopagamentodetributos,impostosecontribuiçõesacessóriasaofiscofederal,estadualemunicipal.Atravésdacontabilidade,tambémépossívelmostrarosresultadosdoempreendimentodeformamaiscríveleanalisável.
Ocontroledecaixaéaverificaçãodeentradasesaídasderecursosdaorganização;éumcontrolegerencialemetódicoquedeveserefetuadotodososdias.Oseuacompanhamentogaranteavisualizaçãodeparaondeaempresaestáindo;mas,comodiziaSeneca,“osventosnãosopramafa-vordequemnãosabeondequerchegar”.Umbomplanejamentodefluxodecaixaénecessário,comumaprevisãoparacadadiadomêsedoano.Oaperfeiçoamentodoplanejamentodofluxodecaixaverifica-secomopassardotempo;aspessoasquelidamcomesteinstrumentovãoconhecendocadavezmelhorocomportamentofinanceirodaorganização.
Éimportanteenfatizarque,emboraocontroledecaixasejaumcontrolegerencialfundamentalparaasaúdedaorganização,eleéumplanejamentooperacionaldoempreendimentoqueestádiretamenterelacionadoaoseu
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planejamentoestratégico.Odesenvolvimentodeumplanejamentoestratégicoemumempreendimentodeeconomiasolidáriarequerumamadurecimentomuitograndedogrupoparaqueomesmosejaefetuadoeacompanhadopelosintegrantesdaorganização.
Normalmente,amaioriadassaídasdecaixaéprevista,comopagamentodeágua,luz,gás,telefone,matéria-prima,transporte,alimentação,retiradasdosassociados,entreoutros.Entretanto,asentradasdependemdoníveldecomercializaçãoqueaempresatemeonúmerodeclientesfidelizadosqueamesmapossuiemsuacarteira.Umdosgrandesproblemasdeempresasdaeconomiasolidáriaéacomercializaçãodeprodutoseoportunidadesdevendas.
Umaprojeçãodevendaspautadanaexperiênciadaspessoasquecom-põemogrupodoempreendimentoéprimordial,masumregistrocomaquantidadedevendaspassadasauxiliaaverificarsazonalidadesetendências,queàsvezessãoimperceptíveisnaanálisequalitativa.Apartirdajunçãodaprojeçãodevendasedaprojeçãodosgastos,éelaboradoumprimeirofluxodecaixaqueauxiliaránatomadadedecisõessobreinvestimentoefinancia-mento.Parapotencializarasvendas,éimportanteteralgunsmembrosdogrupovoltadosexclusivamenteparaacomercialização,fomentandocontatoscomlojas,indústriasoupossíveiscompradoresempotencial.
Napartedecontroledeestoques,sãonecessáriosaelaboraçãoeocál-culodetabelas,constandoacapacidademáximaeamínimadosestoques,tantodematéria-primacomodeprodutosacabados;estoquedesegurançaemétododeproduçãoedeestocagem.Denadaadiantaaproduçãosemne-nhumaperspectivadevenda,masumamínimaproduçãodevesergarantidaparamostruário,participaçãodefeiraseeventos,entreoutros.Omelhormétododeproduçãoéaquelesobdemandaquegaranteummenorestoqueeoenvolvimentocomomenorníveldecustos.
Paraqueaproduçãonãopareénecessáriocontrolarofluxodematéria--primaqueentranaprodução,respeitandoo lead timedecadafluxopro-dutivo,queéotempoentreopedidodamatéria-primaeadisponibilizaçãodamesmaàlinhadeprodução.Portantonãoadiantaefetuaropedidodematéria-primanomomentoqueamesmaacabaoujáestáquasenofim;asolicitaçãodeveocorreremmomentooportuno,levando-seemconsideraçãoo lead timedofluxo.
Tambémépossívelefetuarocálculodequaléo loteeconômicodecompra(LEC),ouseja,aquantidadeasercompradaqueminimizaoscustoscomestoquesepedidos.Apartirdestecálculotodosospedidosdevemser
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rearranjadosparaficarbempróximodoloteeconômicodecompra(LEC),quelevaemconsideraçãoocustodepedir,ocustodemanterestoques,ademandapelamatéria-primaepeloprodutoacabadoemseucálculo.
Osmétodostradicionaisdecontroledeestoquesremetemàstécnicasderegistroondeasfichasdecontroledeestoquespodemserconfecciona-dasatravésdasmodalidadesPEPS(primeiroqueentraéoprimeiroquesai),UEPS(últimoqueentraéoúltimoquesai)eMMP(médiamóvelponderada).QuandoseutilizagerencialmenteoPEPS,nãoocorreoriscodeexistirmaterialvelhonoestoque,quandoseutilizaoUEPS,opreçodamatéria-primarefletemaisfielmenteopreçodomercadoeoMMPéummistodosdois,levandoaopreçodoestoquedematéria-primacomponentesdetodososlotesad-quiridosaolongodotempo.
Temosascontasdoempreendimentoouorganização,comoluz,água,telefone,gás,entreoutros,quechamamosdecontasapagar;temosqueefe-tuaroplanejamentoeaprevisãodevaloresparaestascontas,poissabemosdasdatasdevencimentomasnãotemoscertezadovalor;podemosresolveroproblemautilizandoamédiadasdozeúltimascontascomovalordeprevisão.
Contasdeenergiaelétricatêmsazonalidades,bemcomoconsumodeágua.Casopensarmosnoconsumoresidencial,oconsumodeenergiaelétricaémaiornoinverno,bemcomooconsumodeáguaémaiornoverão.Neces-sitamosverificar,dentrodoramodenegóciodoempreendimentoqualéasazonalidade,nafabricaçãodeovosdepáscoa,porexemplo,oconsumodosfatoresdeprodução(energiaelétrica,gásematéria-prima)ésazonal,ocorrecommaiorfrequênciaevolumeemfevereiro,marçoeabril.
Quantomaispróximadorealéestaprevisão,melhorficaránossofluxodecaixa,umavezqueestaremosacertandomaisosvaloresdesaídaparaofluxodecaixa,melhorandoassimaprevisãodecaixa.Nagrandemaioriadosempreendimentostemosqueasreceitasocorremdepoisdovencimentodecontaseistoéproblemáticoparaoresultadodaorganização,umavezqueascontassãopagasematrasogerandojurosemulta.Devemosadministrarbemascontasapagarereceberparagarantirorecebimentodovalordosclientesantesdovencimentodascontas;casoistonãoocorrapoderemosalteraradatadevencimentodascontas.
Oscontrolesdecontasapagarpermitemoplanejamentodecontasapa-garcomsuasmédiasmensaisesazonalidades,bemcomoperíodosdecorreçãoecomacorreçãoestimada.Quantomaisfidedignoéestecontrole,melhorficaonossofluxodecaixa,ouseja,maispróximodoreal.Umpontoimportante
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quantoàscontasapagarereceberébásico,masosempreendedoresnãopercebemcomoumitemquedevamtratardeformaextraordinária:ocorreemdiversospequenosempreendimentosquevisitamos,ovencimentodascontasdevemsempreocorrerposterioràsentradasdecaixa,salientandoqueoprazomédiodepagamentodeveserinferioraoprazomédioderecebimento.
Ascontasapagartambémservemparafinanciarumeventualproblemadecaixadaorganização,verificandoqualéamulta,jurosecomissãodeper-manênciadascontasapagar.Efetuandoumatabelacomosvaloresmédios,pode-sedecidirporatrasarascontasparafazerfrenteaoutrocompromissourgenteeimportante,aoinvésderecorreraomercadobancáriopararetirarumempréstimodecurtoprazo.Caracteriza-secomoatrasoadívidanãopagaemumprazodeaté30dias;acimadisto,considera-seinadimplência.
Noitemcontasareceberháaprevisãodevendasqueéopontapéinicialdequalquerprojeçãodevendas.Asdecisõesrelacionadasaoitemcontasareceberenvolvemvendersomenteàvistaouvendertambémaprazoparaaumentaraquantidadedevendas;nocasodevenderaprazo,deve-severificarseexistemrecursosfinanceirosparafazerfrenteaoscompromissosdentrodomês.Umasériedequestionamentosdevemserrespondidosparaquenãosetomeumadecisãoedepoissearrependadamesmaeoempreendimentofiquesemrecursosparaaretiradafinanceiradoscomponentesdogrupo.
Damesmaformaqueocontasapagar,ocontasarecebertambémpodeserutilizadoemergencialmenteparasanareventuaisproblemasencontradosnofluxodecaixa,poisvendendoaprazoparaseusclientes,aorganizaçãopoderásedirigiraqualquerestabelecimentobancárioeefetuarumaante-cipaçãodofluxodecaixatambémchamadodedescontodeduplicatasoudescontodetítulos.Entretanto,muitosempreendimentosnãosabemqueestaoperaçãopodeserefetuadacomrecebíveisdecartãodecréditooucomchequespré-datados.
Todavendaaprazodeveserconsideradaeanalisadacomoumemprés-timo,pois,segundoSchrikel(2000),todacessãodepatrimônioaoutrocomapromessadepagamentofuturoéconsideradocréditoedeveseranalisadocomasmesmaspremissascomoseoempreendimentoestivesseemprestandodinheiroaseusclientes,talfatoécorroboradopeloregistrodeseuestoquedeprodutosacabadosdentrodacontabilidadedaorganização.
Avendaaprazodeprodutosacabadosdeveserrevestidadealgunscuidados,comoanálisedequemestácomprando,atravésde instrumen-tossimplescomooscincoCsdocrédito,explicadosnopróximoparágrafo.
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Gitman(2004)observaqueestetipodeanálisenãorejeitaouaceitaocré-ditoouvendaaprazo,maspodeserumaótimabaseparaumanalistaoupessoaexperienteadotarparaverificaçãoseoclientetemvontadedequitarocompromissonoprazo.
OscincoCsdocréditosãoreconhecidospelosestudiososcomocaráter,colateral(emtraduçãolivredoinglêsgarantia),capacidade,capitalecon-dições.Emrelaçãoaoquesitocaráter,analisa-seavontadedoclienteempagareasrestriçõesqueomesmopossui.Noitemcolateral,verifica-seseháalgumbemqueomesmopossadeixaremgarantiaparaserexecutadanocasodenãopagamentodadívida.Emrelaçãoaotópicocapacidade,constata-seahabilidadedoclientetransformaremreceitaseutrabalhoouaproduçãodesuaempresa.Noitemcapital,analisa-seasituaçãofinanceiraecapacidadedepagamentoe,finalmente,noitemcondições,analisa-seofatorexternoàorganizaçãooupessoa,situaçãoeconômicadopaís,cidade,empregoerendalocal.
Ocontroledecapitaldegiroéprimordialparaqueaorganizaçãoouem-preendimentonãodeixedeexistir.Manterouaumentaroníveldevendasparaobterreceitaémuitobom,masénecessárioacompanharaquantidadededinheiroenvolvidanamanutençãodesteníveldevendas.Paravenderdeve-seproduziregastarcommatéria-prima,máquinasepessoal,ecomoprodutoprontoefetua-seavenda,massemprecomumprazoparapagamento.Estedinheiroenvolvidonoprocessodomomentodopagamentodamatéria-primaepessoaleoutrosgastosdeprodução,atéomomentoderecebimentodasvendaséocapitaldegiro.
Quantomaisoempreendimentovende,maiscapitaldegiroénecessárioeoempreendedornãonotaqueestácaindoemumaarmadilhachamadadeefeitotesoura,pois,enquantoanecessidadedecapitaldegiroaumenta,ocapitaldegirodisponíveldiminui,chegandoaopontodesernecessáriotomarempréstimosparainjetarnocapitaldegiroeosjuroscobradossaemdiretamentedamargemdelucroparadistribuiçãoaossócios.
Controles financeiros através de indicadores
Indicadoresounúmerosíndicessãoutilizadosparaoacompanhamentodedeterminadoitemdentrodeorganizações;essesindicadoressãotrans-formadosemgráficoseaspessoasrapidamenteconseguemcompreenderamensagemoutirarconclusõesatravésdessesindicadores.
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Umainformaçãopodesimplesmenteserumdadoperdido,comoquan-do,porexemplo,constata-sequenomêsatualobteve-seumsaldopositivoparadistribuiçãoaosassociadosdemileduzentosreais;estainformaçãoéboa,pois,nofinaldomêsaindasobroualgumdinheiro,masdeve-seobservaresteindicadordesucessodoempreendimentojuntocomoutrasinformações.Apesardeserumainformaçãopositivaparaosassociados,elapodenãosertãoboaseoempreendimentopossuirmileduzentosassocia-dos,ouseja,cadaumlevaráparacasaapósummêsdetrabalhoárduo,umreal,ousenomêsanterioroempreendimentoobteveresultadosuperioraistooresultadonãoétãobom.
Existemindicadoresdediversostipos.Osindicadoresdeliquidezsãoaqueles índicesquemostramasituaçãogeraldaorganizaçãoquantoàdisponibilidadederecursosparafazer frenteàsdívidasquepossui.Porexemplo,seoempreendimentosomartudoquetematualmente–dinheiroemcaixa,contasareceber,máquinaseequipamentos–conseguirápagartodasasdívidasdecurtoe longoprazo, incluindoadevoluçãodealgumdinheiroaosassociados?
Oindicadordeliquidezdevesersempremaiorqueumequantomaiormelhor,poisdenotaqueaempresaestácomfolgafinanceirajuntoaseuscre-doreseassociados.Se,hipoteticamente,considerar-seumindicadordeliquidezdeumemeio,pode-sedizerque,seoempreendimentodeixassedeexistirhoje,vendessetudooquetem,recebessetodasascontaseefetuassetodosospagamentos,aindasobrariacinquentacentavosparacadarealdedívida.
Outrogrupodeindicadoresnecessáriosàboagestãodosempreendimen-tossãoosindicadoresdeatividadequeenvolvemcálculosdeprazosmédiosdepagamentoerecebimento,bemcomoogirodeestoques.Estesindicado-resservemparaogerenciamentodeprazosdentrodaorganização.Pode-severificarqueoprazomédioderecebimentodevendasdeveserinferioraoprazomédiodepagamentodecompras.
Existeanecessidadedesecontrolaroendividamentodaorganizaçãoouaparticipaçãodecapitaldeterceirosnoempreendimento.Umbomindicadoréobtidocalculandoadivisãoentreototaldeempréstimosdecurtoprazo(passivocirculante)eototaldebensedireitos(ativototal)queaempresaouempreendimentopossuinaquelemomento.
Indicador de endividamento = passivo circulanteativo total
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Controles finanCeiros na eConomia solidária
Paraaverificaçãodemelhorianaretiradadosassociados,aorganizaçãodevesemprecontrolaroindicadorderentabilidade,quetraduzqualquan-tidadedecustosedespesasdoempreendimentosetransformaemretiradaparaosassociados.Combaseemumconceitodaeconomiacapitalista,épossíveldefinirolucro,antesdadistribuiçãoparaosassociados,divididopelototaldebensedireitosqueoempreendimentopossui,dandocomoresultadoumindicadorpercentualquetraduzamelhoraoupioradoretornofinanceiroparaosassociados.
Economia solidária
Aeconomiasolidáriaéumaopçãoparaaspessoasqueestãoàmargemdomercadodetrabalhoformal,emconsequênciadeumasériadecaracterís-ticaspróprias,taiscomoidade,graudeinstrução,capacitaçãotécnica,entreoutras.Estetipodeinciativafocaapopulaçãodebaixarendaeeconomiaslocaisondenãoexisteaindaadeterminaçãoclaradavocaçãodaregião,ouondeopoderpúbliconãoconsegueatingircapilaridadesuficienteparaauxiliaroscidadãosdebaixarenda,emsituaçãodevulnerabilidadee/ouapopulaçãoderua.Hespanhaetal.(2009)alegamqueaeconomiasolidáriavemarticularosdiversosatoresembuscadodesenvolvimentoeconômicoesocialemre-giõespobresobtendocomoresultadodistribuiçãoderendaeinclusãosocial.
Aeconomiasolidária,sobaóticadeZartetal.(2009),possuicaracte-rísticaspeculiares,poisosempreendimentospodemserruraisouurbanos,baseadosnaopçãodelivreassociação,notrabalhosobosistemadecoope-rativaesendoautogeridos,praticamasolidariedadeentreosmembrosdaorganizaçãoefuncionamcomoumaboaopçãodefontederenda.
Nãosepode,deformaalguma,confundireconomiasolidáriacomcaridadeouaçõesdefilantropia.Singer(1999,2002)afirmaqueaeconomiasolidáriaseexpandedentrodosistemacapitalistacomumolhardiferenciadoparaaspessoas,nascendodanecessidadedosmenosassistidosoudonãoatendimentopelocapitalismodaspopulaçõesmaiscarenteseemestadodevulnerabilidadesocial.Dentrodosistemacapitalista,aeconomiasolidárianãodeclaraguerraaosistema,masutiliza-sedealgunsdeseusartifíciosparagerarrenda,trabalhandocomoumpontodeequilíbriocomigualdadesocialparatodos.
Indicador de rentabilidade = lucroativo total
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
ParaZart(2009),existemdiversosatoresdentrodaeconomiadocapita-lismo,eaeconomiasolidáriavemparaseroamálgamaqueintegraosatoresdasociedadevoltadosparaprodução,comercialização,finanças,desenvolvi-mentoepesquisatecnológicaepesquisaemgestãoeconsumopara,atravésdecolaboração,autogestãoesustentabilidadeconseguiradistribuiçãoderendaequânimeentreaspopulaçõesmaisvulneráveisdasociedade.
Épossívelobservaraformaçãodealgunsgruposdeempreendimentosdeeconomiasolidáriaquesedenominaramredesdeeconomiasolidária,ondeoconsumo,compradematéria-primaeserviçoséefetuado,quandopossível,pelarede,fazendocomqueosrecursosgiremdentrodelaenãosejamexpropriadosparaoutrasorganizaçõesvoltadasparaocapitalismoferozeselvagem.Estasredesmuitasvezesoriginam-seemmovimentospelacida-daniaepelademocracianoBrasil.Pode-seperceberentãoqueasredesdeeconomiasolidáriaseformamcomapresençadetrabalhadores,integrantesdemovimentossociais,pessoasdemovimentosreligiosos,componentesdagestãopública,e,segundoHiga(2005),estasredesestãoligadasaquestõesenvolvendocidadaniaeinovação.
Controles financeiros na economia solidária
Para ilustrar os conceitos apresentados nas seções anteriores,são apresentadas conclusões sobre a gestão contábil financeira deempreendimentossolidários,apartirdedadosqueforamcoletadosjuntoaosempreendimentosacompanhadospelaSBCSol.Essesdadosforampes-quisadospormeioderelatosempíricos.
Efetua-setambémumacomparaçãocomrelatoscoletadosemprojetosdesenvolvidospelaUniversidadeMetodistadeSãoPauloemoutrasregiõesdacidadedeSãoBernardodoCampo,emconjuntocomoutrospesquisadoreseapresentadosporBomfaetal.(2011).
Quandoseabordaotemacontroledentrodeempreendimentosdaeconomiasolidáriaoueconomiainformal,aprimeiraimpressãoqueosem-preendedorestêméqueestescontrolesoslevarãoapagarmaisimpostosouaindaqueaformalizaçãolevaráacustoscomcontabilidadeaosquaisosmesmosnãoestavamsujeitosnainformalidade.Istoéumaverdadeemuitosempreendimentosquenãoestãomadurosemrelaçãoaogerenciamentosedesagregamefinalizamsuasoperaçõesporcontadaanálisedomomentoerradoemseformalizar.
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Controles finanCeiros na eConomia solidária
Quandooempreendedoradquireexperiênciaeconhecimentodegestão,ficaclaroqueoscustosdaformalizaçãoe/oucontabilidadefarãocomqueseabraummundonovoemrelaçãoarecursosgovernamentaisebancáriosqueelenãopodiaterpornãoestarformalizado.Aemissãodenotafiscalquandodaformalizaçãoémuitoimportante,poisaumentaemmuitoseuspotenciaisclientescorporativose,assim,oempreendimentopassaafazerpartedeplanosdedesenvolvimentodefornecedoresporoutrascompanhias.
Édesumaimportânciaaseparaçãododebatesobreaformalização,porumlado,e,poroutro,oscustosdacapacitaçãogerencialfinanceiradoempreen-dimento,poisogerenciamentofinanceirodoempreendimentoéindependentedesuaformalização,poiscontrolesfinanceirossãonecessáriosemqualquertipodeorganização,sejaelaformalouinformal,capitalistaousolidária.
Osprimeiroscontrolesobservadosnosempreendimentossãocadernosondesãoanotadasentradasesaídasderecursos,visandochegaraovalorcorretodaretiradadevaloresfinanceirospelaspessoasquecompõemoempreendimento.Nestecaso,écomumaconfusãoentrelucroadistribuiresaldodecaixa.Muitasvezesverifica-sequeovalordistribuídoaosassocia-dosera,emparte,umvalorquedeveriaserprovisionadoparapagamentodefornecedornomêsseguinte,mascomooextratobancáriodeumadaspartesenvolvidasnoprocessoeraoúnicodocumentooficialparaexecutarestapartilha,adistribuiçãoerafeitacombasenestevalor.
Muitasvezes,acapacitaçãoeminformáticaparaoscomponentesdaorganização,eotreinamentoquantoàelaboraçãodeplanilhaseletrônicasauxiliamnacoletaetratamentodedadoscommaisqualidade.Embora,noprojetoSBCSol,asaçõesdetreinamentoaindanãotenhamsidodirecionadasatodososintegrantesdosempreendimentosincubados,aseleçãodealgumaspessoascomumpoucomaisdeconhecimentoefacilidadenotratamentodenúmeros,facilitaráatarefadecontrolarasfinançasdoempreendimento.Odesenvolvimentodessacompetêncianoempreendimentootornarámaisprodutivo,pois,nomomentoemqueocontroleefetivoficaporcontadoempreendimentoomesmoseperpetuaaolongodotempo.
Ocontroledecustosparaestabelecimentodepreçostambéméumapreocupação.Entreosempreendimentos incubados,naquelesquetraba-lhamnoramodealimentação,háumatentativadeprecificaçãocorretadeprodutosalimentíciosatravésdacompraeregistrodaquantidadecorretadematéria-primaparaproduçãodeumdeterminadoalimento.Emboraoscustosindiretosnãotenhamsidocorretamenteimputados,comoenergiaelétrica,
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
gás,entreoutros,verificou-sequeexistiuanecessidadeeoempreendedorsolidárioacaboupordesenvolvermétodosprópriosparachegaraopreçodeseuproduto.
Avendalocalatravésdeinstrumentosdecréditotambémépraticadasemcontrole,pois,nomomentodacobrançadosdevedoresquenãoefetuamopagamentoespontâneo,afaltadecontroleéfatordeterminanteparaqueoempreendedornãoconsigarecebertudooquevendeuacrédito.Asimplesanotaçãoemfolhasoucadernosnãogaranteorecebimentodosvalores,odesenvolvimentodeformuláriossimplescontendoaassinaturadocompradorresolveboapartedosproblemasnomomentodacobrança,ondeocompra-dorreconheceasuaassinaturanoformuláriodevendaacrédito;apesardereclamar,aceitaqueefetuouacompraemmomentoanterior.
NaverificaçãodosempreendimentosdoprojetoSBCSol,quantoaoníveldecapitaldegiro,verifica-sequenasfasesemqueosempreendimentosseencontram,aindanãopossuemavisãoadequadaerefinadadocapitaldegiroedanecessidadedesuamensuração.Algunsempreendimentosobservamque,emalgunsmomentos,nãosobradinheiroparadistribuirparaosassociados,masnãotemcertezaquetaleventoseassociaànecessidadedecapitaldegiroacimadonívelqueoempreendimentopodegerar.
Conclusão
OamadurecimentosdosempreendimentosdeeconomiasolidáriadentrodoprojetodaincubadoraSBCSolocorrerãocadaumaseutempo,umavezquesãodiversosramosdeatividadeseaspessoasassociadasencontram--seemdiferentesníveisdepreparaçãoparageriressesempreendimentos.Poressarazão,osempreendimentosnãopodemsercomparadosatravésdeumaréguaúnicaquantoaotemponecessárioparaasuaconscientizaçãoeposicionamentonaáreadefinanças.
Aimportânciadenivelaroconhecimentoquantoafinançasentreosempreendedoresincubados,bemcomoagestãodeseleçãodepessoasparadesenvolverasrotinasfinanceirasémuitoimportanteparaosucessodosempreendimentos.
Oacompanhamentododiaadiafinanceirodosempreendimentos,atra-vésdeassessoriatécnica,dentrodoprojetodeincubação,tambéméimpor-tante.Nessesentido,existemdificuldadesnaobtençãodedadosfinanceirosdealgunsempreendimentos,peloníveldeconfiançaqueénecessárioexistir
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Controles finanCeiros na eConomia solidária
entreoincubadoeotécnicoqueoassessoranesseprocesso.Éimportanteenfatizarqueaconfiançaéumfatorquevaisendodesenvolvidoaolongodotempo.Adesorganizaçãoderegistrosnosempreendimentoséoutrofatorquedificultaaimplementaçãodessescontroles.
Apartirdomomentoquesedesenvolveummodeloempapelouemplanilhaeletrônica,oempreendimentodeveseapropriardesteconhecimentocomoseueteraconsciênciaqueistoauxiliarátantonaperpetuaçãodone-gócioaolongodotempo,comotendeamelhoraratransparênciaemelhordistribuiçãoderecursosparaosassociados.
Umasugestãoparanovosestudospodeserodesenvolvimentodenú-merosíndicesparaosdiversosempreendimentosdeeconomiasolidária,comalgumasaçõesaserempraticadasquandooindicadorficarabaixoouacimadaqueleponto-chave.
Referências
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ZART,L.L.etal.(Org.).Educação e socioeconomia solidária:processosorganizacio-naisesocieconômicosnaeconomiasolidária.Cáceres:Unemat,2009.(Sociedadesolidária,v.3).
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* Graduada em Desenho Industrial pela Faap e pós-graduada em Gestão da InovaçãopeloSenac.Atuahá12anosutilizandoodesignemprojetosculturaisedegeraçãodetrabalhoerenda,comprocessoscriativoscoletivosaplicadoàarte,aodesenvolvimentodeprodutosemodelosdenegócios.ÉmembrodaSBCSol.
A importância do tema inovação na SBCSol
Renata Mendes*
Ainovaçãoprecisaserumsistema:trata-sedeumprocessoparasetornarinovador,enãoparasimplesmenteinventarumprodutoespecífico.Emboraosprodutostenham
dominadoanossanoçãodeinovação,ovalorduradouroécriadopormeiodeumnovomodelodenegócios,capazderecombinarasideiaseinvençõesjáexistentese
criarumnovovalor.(KOULOPOULOS,2011,p.59).
A inovaçãoépercebidacomovantagemcompetitivaparaasempresas,comovaloreconômicoemumcampoondecadavezémaisdifícilsediferenciaremportiposdeprodutos.Inovarnãotemnecessariamente
avercomgrandesrevoluções,mascomumolharatentoparaoambienteinternoeexternodonegócio,paraquesepossamtomarmedidasdesobrevi-vênciaediferenciaçãodaconcorrênciaquesejamestratégicaseproporcionaisàspernasdaempresa.Essasmedidasestãorelacionadasaodesenvolvimentodecompetênciasdinâmicas(adaptáveisàsmudançasdecenário)eàaloca-çãoderecursosedecompetências,deformaaexplorarasoportunidadesqueaparecememsituaçõesadversasereduzirameaçasemumambientedeconstantemudança.
Ainovaçãonãodeveserumaatividadelocalizada,quedizrespeitoape-nasaoCEOouaumsetorespecíficodaempresa.Opensamentoinovadornormalmenteéimpulsionadopelosgestores,maspodeedevesercapila-rizado,envolvertodasaspessoasdeformamultidisciplinareseconfigurar
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
comoumprocessointegradoàrotina,capazdefomentarconstantementeacontribuiçãodenovasideias.Masageraçãodeboasideiasnãobasta.Aliás,seaorganizaçãoforumceleirodeideias,semfôlego,nemcritériosparase-leçãodessasideias,semfeedbackaosdonosdasideias,esemrecursosparadesenvolvimentodassoluções,muitoprovavelmenteamaravilhosainiciativadeincentivaracriatividadeparticipativadoscolaboradoresseráfrustrada,porqueoqueaspessoasverãoseráummontedeesforçojogadonolixo,semaomenosteroretornodeumaavaliação.
Ainovaçãoestáligadaàcriatividade(capacidadequetodosnóstemos),masnãodependesomentedegerarideiasedepensardeformasdiferentessobreummesmoproblema.Se invençãoéacapacidadedetransformaraideiacriadaemprática(atravésdemodelos,rascunhos,maquetes,protótipos),inovaçãoéaintroduçãodainvençãonomercado,queresultanamaximizaçãodovalordaempresa.Todososconceitos–criatividade,invençãoeinovação–pressupõemalgumgraudemelhoriaemrelaçãoaoqueexiste.Ouseja,inovadornãoéterboasideias,éterboasideiasimplementáveisegeradorasdevalorparaaorganização.Essecaminho–daideiaaosucessodasoluçãoimplementada–exigetempo,recurso,metodologiadetrabalho,tolerânciaaoerro,critériosdeavaliaçãoecrençadosenvolvidos,considerandoqueocampodainovaçãoénecessariamenteocampodaincerteza.
Éimportantedesmistificarainovaçãoparademocratizá-lacomoinstru-mentodetransformação,quetambémacontecealémdasesteirasdeproduçãoequenãoestárestritaaosambientescorporativosouàsnovastecnologias.Éumprocessodegestãosólidoeresiliente,queexigeinstrumentos,regrasedisciplinaparaserpostoempráticaeterseusresultadosmedidos. Issosignificaqueinovarrequersistemasdeimplementação,avaliaçãoeincentivosparaquepossaproporcionarrendimentosconsideráveisecontinuados.
Nãoépossívelgerenciaroquenãoépossívelmedir.Mediréfundamentalparaqueainovaçãodêresultados,porquepartedacompreensãodaviabili-dadedonegócioeconheceasbarreirasedesafiosatranspor.Seinovarestánocampodaincerteza,éatravésdaconstruçãodeindicadoresqueaequipedetrabalhotemdireçãoemotivação.Osindicadoresdãosubsídioparasealcançarasestratégiasplanejadas.
Oincentivoàgeraçãodeideiaseaoscomportamentosinovadoresnãoénecessariamentefinanceiro.Hámuitasempresasqueapostamnoreconhe-cimentodoindivíduooudaequipecomorespostaaumaboacontribuiçãofeita.Oincentivotambémpodeestarnaclarezadetrabalharporumacausa
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A importânciA do temA inovAção nA SBcSol
forte.Aliás,amotivaçãodaequipeeseufoco,alinhadoàmissãodaorgani-zação,sãoespecialmenteimportantesemtrabalhosvoltadosparaageraçãodetransformaçõessociais.Asaçõesempreendedorasbaseadasnaconstruçãodesoluçõessustentáveisparaosproblemascoletivos,especialmenteosre-lacionadosàdiminuiçãodapobreza,nãosemantêmpelabandeiradoapelo(causarpena,pedirajudaemproldodesfavorecido)ousódaboaintençãodequemtrabalhapelacausa.Éporissoqueaimplementaçãodaincubadoradenegóciosdaeconomiasolidáriasignificaaconstruçãoestratégicadeumempreendimentosocialqueapoiaráaformaçãodeoutrosempreendimentoseinclusãodessesnaeconomia.É,literalmente,acriaçãodeummodelodenegócioqueviabilizeaformaçãodeoutrosnegócioscomoalternativasdeinclusãosocial,culturaleeconômica.Nessesentido,faz-senecessárioter,emprimeirolugar,umacausalegítimaquemobilizecrenças,mastambémahabilidadeorganizacionaldereunir,planejarecombinarosdiferentesmeiosparaprovocar,efetivamente,transformaçõessociais.Issolevandoemcontaasfragilidadesdoscontextosinternos(conflitosinterpessoais,saídasdepessoas--chave,poucaaderênciaàcausa,etc.)easincertezasdocontextoexterno(mudançaspolíticas,mudançadefocodosapoiadores,etc.).Issoquerdizerquetransformaçõesimprevistasmuitoprovavelmenteacontecerãoduranteopercursodoprojetoeésaudávelparaaorganizaçãoqueelaspossamservistascomooportunidades.
Pormaisquesetentedefiniremumafaseprojetualocaminhoentreteraclarezadoproblemaeasoluçãocriada,essepercursopodemudar.Paralidarcomissocomoumdadoderealidade,énecessárioqueaequipeencareograudeincertezaquegeraincômodoeinsegurançacomoapossibilidadedeseterresultadosmelhoresdoqueosprevistosnopapel.Aequipeteráessapossibilidadeseagestãodoprojetoforinovadoraapontodecontrolarosbalizadores,ouseja,aquiloquenãoéflexívelcomocusto,escopoetempo,emanterativooclimaorganizacional,ondeosvaloresdoprojetoaderemaosvaloresintrínsecosnaspessoas.Hácampoparainovarquandoascompetên-ciasessenciaisdaorganização(comoelasediferencia,ondeinvestiuparaserreconhecida)estãoalinhadascomodesenvolvimentodecompetênciasdaspessoasquefazempartedoprojeto,tantoequipedetrabalhoquantoparcei-ros,clientesoubeneficiários,entendendo-secompetênciacomooconjuntoformadoporconhecimento(competênciatécnica),habilidade(saberfazer)eatitudes(comportamentos).Cabeàincubadora,emsuaestruturaçãocomoempreendimentosocial,auxiliarsuaequipeasedesenvolveralémdesuas
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
habilidadestécnicas,poisparaaformaçãodeoutrosempreendimentososprofissionaisnecessitarãodesenvolvercapacidadederelacionamento,lide-rança,criatividadeerealização,controleemocionalesensodeoportunidade.
Acapacidadedeinovartemavercomdisposiçãoparaorisco,mesmacaracterísticaquesustentaoempreendedorismo.Empreendedoresfazemusodeconhecimentotácitoeexplícitonaconstruçãodealgoemumcenáriodesconhecido.Visualizamapossibilidadedesairdocampodo“planejaraaçãocomoreaçãoaumasituação”epassamaocampodaproatividade,ondeseinfluenciaofuturo.Aquiaadversidade1évistacomooportunidadeparacriarnovassoluções,inclusivenovosnegócios.Háaquelevelhoprovérbiochinêsquediz“Sederesumpeixeaumhomemfaminto,vaisalimentá-loporumdia.Seoensinaresapescar,vaialimentá-loportodaavida.”Quemsabeapartirdessepontonãosejapossívelaprenderamontarumapeixaria,ouaprimoraraoportunidadeeformarumacooperativadepescaparapoderimpactarmaisgentealémdopescador?
Oresultadopercebidodainovaçãopodedemoraraaparecer,porqueainovaçãonãoéfeitasóemgrandeescala,comgrandeimpactorevolucionário.Elapodeestar,comonahistóriadoensinarapescar,emaçõesmuitosimpleseacessíveis,emmudançasmiúdasqueporseremincorporadasàvida,con-taminandoeinspirandooseuredoratambémsedisporàmudança.Sãoaschamadasmicrorrevoluções,ondeasomadeumgrandevolumedepequenosimpactossãocapazesdetransformaraspessoaseosistemaemquevivem.
Ainovaçãonãoéobrigatoriamenteumarevolução,maspodechegaraser.Esseéoestágiomaisaltodaintensidadedosresultados.Nooutroex-tremo,ainovaçãonãodeveserconfundidacomsimplesmelhoria.Mesmocomimpactospequenos,eladevetrazerumanovaexperiência,atéentãodesconhecidaparaqueméobjetodaação.Háduasprincipaisclassificaçõesparaaintensidadedainovação:
1 OQuocientedeAdversidade(QA)foidesenvolvidopeloeconomistaecomunicadororgani-zacionalamericanoDr.PaulStoltzpesquisador,nosúltimos30anos,detemasrelacionadoscomacapacidadedaspessoasderesistiremaacontecimentosquelhesimpactamavida.Dr.Stoltzescreveuumlivrosobotítulo“TheAdversityAdvantage”,queemtraduçãoli-vresignifica“AVantagemdaAdversidade”.Emresumo,dizqueacapacidadederesistiraimpactosouadversidadeséumaformaracionaldereação,ouseja,detransformarumapossívelfraquezaemoportunidade.Fonte:Quocientedeadversidade(QA)–QualidadeBrasil–portalbrasileirodegestão.
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A importânciA do temA inovAção nA SBcSol
• InovaçãoincrementalRefletepequenasmelhoriascontínuasemprodutosouemlinhasde
produtos.Geralmente,representampequenosavançosnosbenefíciosperce-bidospeloconsumidorenãomodificamdeformaexpressivaaformacomooprodutoéconsumidoouomodelodenegócio.
Exemplo:evoluçãodoCDcomumparaCDduplo,comcapacidadedearmazenarodobrodefaixasmusicais.
• InovaçãoradicalRepresentaumamudançadrásticanamaneiracomooprodutoouserviço
éconsumido.Geraquebradeparadigmasegeralmentemodificaomodelodenegóciosvigente.
Exemplo:evoluçãodoCDdemúsicaparaosarquivosdigitaisemMP3.Hádiversasmaneirasdeinovar.Épossívelencontrarnaliteraturaaino-
vaçãorelacionadaà:• criaçãodeum novo modelo de negócio ou de uma nova organi-
zação dentro do setor (comoaconstituiçãoderedesdeempre-endimentos);
• implementaçãode inovação social,queserefereanovasestra-tégiasnodesenvolvimentodeconceitos,processos,produtos,serviçosemodelosdenegóciosqueatendamanecessidadessociaisdetodosostipos:dascondiçõesdetrabalhoeeducaçãoatédesenvolvimentodecomunidadesequalidadedevida;
• introduçãodeumnovo produto ou serviço (oudeumanovaqua-lidadedesseproduto/serviço);
• introduçãodeumnovo método de produção;• aberturadeumnovo mercado (jáexistenteounão);• conquistadeumanova fonte de recursos.
Napráticaépossívelrelacionarmaisdeumamaneiradeinovar.Àsvezeséatéimprescindívelquesejamrelacionadas.Amudançaemmodelodenegó-ciopodeimplicaremmudançanosprodutoseserviços.Asbarrasdecereais,porexemplo,inicialmentefocadasnosatletas,hojesãoconsumidasporumpúblicoamplo,eporissooferecemvariaçõesdesaborescomcoberturadechocolate,atéimitandosobremesas“não”saudáveis.(KOULOPOULOS,2011;PRABHU;AHUJA;RADJOU,2012;OSTERWALDER;PIGNEUR,2009).
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
Incubadora SBCSol: inovação no modelo de negócio para amplitude dos impactos sociais
ASBCSolé,emsuaconcepção,umprojetoinovador,considerandoqueinauguraumnovosistemamistodegestãoformadopordoisagentes:ogo-vernomunicipaleauniversidade.Asincubadorasbrasileirasnormalmentesãoimplementadasporumououtro:universidadeougoverno.Nessesentidotemsidofundamentalalinharconstantementeexpectativaseobjetivosdosdoispontosdevista,paraque,aoseaprenderfazendoessenovomododefuncionar,sepotencializeomelhordecadaexpertise.
Oempreendimentosocial,nessecasoformadoporagentesdogover-noedaeducação,precisamestardisponíveisparasetornaremumaformaorganizativainovadora,poisaampliaçãoediversificaçãodoespaçoemqueatuamimplicamemrealinhamentodevaloresemodosdeoperar.SegundoRosaMariaFischer(2011),esteé,provavelmente,omaiordesafio,porqueparaenfrentá-lonãobastamasinovaçõestecnológicas,osaperfeiçoamentostécnicoseasmodernidadesdecomportamento;eleexigeumprofundoen-volvimento“decoraçõesementes”comodesejodetransformaçãosocial.
Todobomprojetoimplementadonãoénecessariamentearealizaçãoliteraldesuapropostaescrita.Umprojetorealistaévivo,perseguesuasmetasàluzdainteraçãocomseusbeneficiáriosedocontextoemqueestãoinseridos,aolongodarealizaçãodoprojeto.
AinovaçãoapareceexplicitadanocorpodoprojetodaSBCSolcomometaparamelhoriadeprodutoseprocessosdeproduçãodosempreendi-mentosincubados.Aconteceque,aoserlançadooedital2parainscriçãodosempreendimentosem2012,amaioriainteressadanãotinhamaturidadede
2 AincubadoraSBCSoltemcomoprincipaismetasestimulareassessoraracriação,odesen-volvimentoeaexpansãodeempreendimentoseconômicossolidáriosnacidade;estimularaproduçãointelectualeoavançoconceitualetecnológicosobreotemaefomentaraconstituiçãoderedesdeproduçãoecomercializaçãosolidárias.ÉuminstrumentopúblicodefomentoàeconomiasolidárianacidadedeSãoBernardodoCampo,frutodaparceriaentreaUniversidadeMetodistadeSãoPauloeaPrefeituraMunicipal.Visaaodesenvolvi-mentodeempreendimentoseconômicossolidáriosdossegmentosdereciclagem,pesca,hortaurbana,alimentação,artescênicas,artesanato,costuraemetalurgia,comomeiosgeradoresdetrabalho,rendaecidadania.EssasinformaçõesfazempartedaPesquisaEm-preendedoresbrasileiros:Perfisepercepções,divulgadaemfevereirode2013pelaequipedaEndeavorBrasil,comoapoiodaIbopeInteligência.
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seupróprionegócio.Aliás,muitosgruposeramtãoincipientesenquantoempreendimentos,quesecaracterizavammaiscomoum“ajuntamento”depessoasqueaindaestavamdelineandoseusinteressescomuns,doquecomoumcoletivodetrabalho.Deu-seaíoprimeirodesafiodaincubadora:sele-cionarapenasospoucosgruposjácaracterizadoscomoempreendimentoseconômicosouadequarseuescopodeaçõesparaestruturarnovosnegóciosapartirdarealidadedamaiorpartedosinscritos.Foiinovadoroptarporcriarnovassoluçõesdeincubaçãoapartirdasituaçãoadversaconstatada,porqueumdadoderealidadequenãotemumarespostaconhecidaoportunizaex-perimentarumanovaformadefazer.
Aescolhasedeuafavordomelhorbenefíciopúblico:somaroconhe-cimentoqueaPrefeituratemsobreascaracterísticasdeseusmunícipeseasarticulaçõesestratégicascomaspolíticaspúblicas,comautilizaçãodosconhecimentosespecíficosdauniversidadenasáreasdeadministração,psi-cologia,direito,gestãofinanceira,gestãoorganizacional,nutrição,engenhariadeprodução,design,pedagogiaecomunicação.
Auniversidade,queviabilizaoprogramadeaçõescomtécnicos,pro-fessoresealunos,criasuasaçõesespecialmentepensadasparaopúblicodoprojeto:pessoasquesãoempreendedorespornecessidade,excluídasdomercadoformaldetrabalho,comexpectativadeganhosimediatoseregulares,semexperiênciaemnegócio,semfôlegofinanceiroparainvestireaguardarotempodoretorno.
Empreendedores sem preparo para empreender
NãoénovidadequeesseperfildepúbliconãoéexclusividadedeSãoBernardodoCampo.Emtodocantodopaísháprojetosdegeraçãodetrabalhoerendarealizadosporgovernos,instituições,ONGsquebuscamminimizaroabismoexistenteentreodesejodacarteiraassinadacomo“garantia”deestabilidadefinanceiraeafaltadeoportunidadesformaisdetrabalhoparapessoasforadomercadodetrabalho,muitoscombaixaounenhumaescola-ridade,commuitasmãesnopapeldearrimosdefamília.
SegundopesquisarealizadapeloInstitutoEndeavorBrasilem20133,oBrasiléosegundopaísdomundoemvontadedeempreender,ficandoatrás
3 Endeavoréumaorganizaçãointernacionalsemfinslucrativosquevisaimpulsionaroem-preendedorismodealtocrescimentoempaísesemdesenvolvimento.
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apenasdaTurquia.AamostradaEndeavorrevelaquetrêsemcadaquatrobrasileirosprefeririamterumnegóciopróprioaserempregadooufuncionário.Umdosprincipaisimpedimentosparacomeçar,segundoapesquisa,éafaltaderecursosfinanceiros.Entreaquelesqueachampoucoprovávelempreendernofuturo,66%dizqueestaéaprincipalrazãoparaisso–umdosmaioresíndicesemtodoomundo.
Emborahajavontade,hápoucoplanejamentoparaaação:noBrasil,ou-trosriscosdaatividadeempreendedoraparecemsersubdimensionados,comoperderapropriedade,falirougastarmuitaenergiaoutempodetrabalho.Umaprovávelcausadessecomportamentoestánoperfildessesempreendedores.Segundoapesquisa,obrasileiro,empreendedorounão,temumgrandedéficiteducacionalasuprir,mesmoaquelecomnívelmaisaltodeescolaridade.Issoseevidenciaquandosãorelacionadosaosprincipaisproblemasdocotidianodoempreendedor,trêsdelesligadosàfaltadeconhecimento:emgestãodepessoas,emfluxodecaixaecomoadministrarumnegócio.
Outropontoimportanteéoacessoàsfontesdeconhecimento.Apes-quisaapontaqueempreendedoresformaisutilizamtelevisão,jornais,revis-taseinternet,enquantoempreendedoresinformaistendemaacompanharasnovidadessomenteatravésdatelevisão,sendoquequase60%diznãoacessarainternet.
Diantedessecenário,apropostadaSBCSoldefomentarainclusãodeumaparceladapopulaçãolocalvulnerávelnãosódizrespeitoaosaspectossociaiseeconômicos.Opúblicoincubadosofreafaltadeculturaempreen-dedora,demodelosinspiradores,doexercíciodeplanejarerealizar.Osem-preendedores,nessecaso,sãomobilizadospelapaixãopeloquesabemfazer,pelanecessidadedeganhos,pelasoportunidadesquesurgemaosejuntarememumcoletivooupelafaltadeoutrasopçõesdetrabalho.
Seoacessoàsfontesdeinformaçãoéumfatorimprescindívelaopreparodoempreendedor,háquesepensaremcriarmaneirasdeabordarconteúdosrelevantescomlinguagemacessívele,alémdisso,despertarnopúblicooin-teressepeloconhecimento.Nãoésóumaquestãodegeraraoportunidade,porqueaoportunidadepodenãoserpercebidacomoalgobom,desejávelenecessáriodopontodevistadopúblico-alvo.
Afactibilidadedoprojetoestáemdescobrirospontosdeconexãoentreosconteúdosnecessáriosdoempreendercomossonhosdecadaindivíduo,suasnecessidades,osaberfazerdoempreendedor,osrecursosqueeleécapazdeacessaresuacapacidadedeseenvolvererealizar.
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Aindaháqueseestabeleceressaconexãocomoindivíduodentrodeumplanocoletivo,ampliandoperspectivasparaoalcancedeobjetivoscomuns,quepossivelmenteterãomaischancesdesucessoserealizadoscomasomadascompetênciasdostrabalhadoresdoempreendimentoeconômico.
Comospontosrelevantesemvistaeconectados,é importantecriarumfiológicodeimplementaçãodasações.Issoporqueamemóriaécurtaeagentetendeaesquecerporqueestamosmexendocomessesassuntosequaléarelevânciadelesparanossointeresseimediato.Alémdisso,umaabordageminovadoranaimplementaçãodeaçõesparacriarsoluçõesparadeterminadoproblemapercebidofazummovimentodivergenteeconver-genteotempotodo,sucessivamente.Divergenteporqueampliaapercepção,asbasesdepesquisa,acognição.Oolhardivergentebuscaaquantidadedeinformaçõesparaconstruirapercepçãodaoportunidade,enãoaespeci-ficidade,arespostaaoproblema.Essesmomentosdeabrangênciapodemdarasensaçãodeperdadefoco,de“paraquemesmoestouaprendendoisso?”.Porissoéimportanteresgataramemóriadosrecursosaprendidosecomoaconexãoentreelesinstrumentalizaoempreendedorpararealizarofuturodesejado.
Comesseolhartreinadoemunidodeinformaçõesrelacionáveiséhoradeconvergir,defazerasmelhoresescolhas,decriaralternativasderespostasparaoproblemaeexperimentá-lasnaprática.
Quantoàcompreensãodoqueéinovar,paraosempreendedoresaindahápercepçõesmuitorasas.EmdiagnósticorealizadopelaSBCSol,osgrupos,emsuamaioria,sereconhecemcomoinovadoresporquefizerammodifica-çõesemseusprodutosouinventaramumanovaembalagem.Repensarseumododeproduzir,suaestruturadegestão,ou,alémdisso,questionarseumodelodenegócio(paraosquetêmumnegóciodefinido)nementraemquestão.Cabeaquinãosódesmistificarainovaçãoeampliarapercepçãodeseusignificado,mastambémaprenderapesquisarastendênciasglobaisdeoportunidadesdenegócios,tãobemcaptadaspelomercadovigente,eutilizá-lascomoferramentadeinovaçãosocial.
Osempreendedoresincubadossentemorgulhodoquefazem,maslhesfaltaolharocontextoexternoaoseunegócio,lhesfaltaampliarasreferênciasdeconcorrência,deprodutosouserviçossimilares,dainsatisfaçãodeconsu-midorescomoqueéoferecidopelomercado,oudastendênciasapontadaspelomercadomaisamplo,quevãoalémdoqueoempreendedoracessaemseucírculodeconvivênciaouassistindotelevisão.Temqueseaprendercom
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omodelodenegócioempresarialapesquisareaousar,medindodeformarealistaosriscoseopotencialdonegócio.Umnegócioinclusivo,formadoembasessolidárias,prosperará,comoqualqueroutroempreendimento,quandoestiversuficientementemaduroparaassumirriscoscombaseemestratégias.Entendendoestratégiacomoumconjuntodeelementosfocadosnamissãoevisãodaempresa,formadaporintençõesprecisas,compartilhadaentreaspessoas,capazdeconfigurarumambientemaisestávelecontrolável.Acom-preensãodosempreendimentosdequemudarumaembalagemouadaptarumprodutoàstendênciaspercebidasdemercadoéumaaçãoinovadoraestádesprovidadepensamentoestratégico.
Osempreendimentoseconômicosemquestãosofremdeumacontra-dição:têmorgulhodoquefazem,massesentemfrágeisedesvalorizadosquandonãogeramvendaounãotêmreconhecimentoexterno.Porumladosãoorgulhososdoquesabemfazerehipervalorizamissocomrelaçãoaoqueconseguemobservardesemelhantenomercado.Nãofazempesquisasignificativa,nãoinvestememnovasformasdeproduzir.Nãodesenvolvemparâmetrosamplosdecomparaçãodequalidade,decapacidadedeatenderàsdemandasdemercadoouatédeantecipá-las.Eentãosefrustramousãoengolidos,porquenãoforampensadosparafuncionarnaeconomiavigente.Poroutrolado,apesardaautovalorizaçãoedoorgulhodesuaexperiência,faltacompreensãooucoragemparainvestirtempoetrabalhonacriaçãodealgorealmentenovoemseunegócio,quepossivelmenteaumentariasuaviabilidadecomercial.Afaltadevisãoamplaecríticadesi,quede-veriaserparametrizadapelaobservaçãodoqueacontecenomundo,fazcomqueessesempreendimentosfiquemestáticos,esperandodogovernoedeoutrosapoiadoresassoluçõesprontasparaseusproblemas.Aliás,namaioriadoscasos,oproblemaemsuaintegridadesequerépercebido.Osempreendimentosreclamamdefaltadeapoioparaqualificaçãotécnica,deinfraestrutura,demaquinário,deferramentasedeoportunidadesdecomer-cialização.Essaúltima,emespecial,épercebidacomoograndeobstáculoparaosucessodoempreendimento,masavendadeprodutoseserviçosésóapontadoiceberg.Embaixodoqueéaparente,háumuniversodeconhecimentonecessárioaserdesenvolvido,quecomeçapormapearoporquêdaexistênciadoempreendimentoeopotencialdesuaviabilidadeeconômica.Essadiretrizabreoportunidadesparanovosnegócioseparanovasformasderepensaroempreendimento.
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Processo de educação e o comportamento inovador
A única forma de aprender é pelo encontro.MartinBuber
O sujeito se constrói na atribuição de significado ao conhecimento coletivamente produzido. Só aprendemos realmente
aquilo que usamos.EscoladaPonte
Todosnascemoscriativos,masaolongodavidaaprendemosoude-saprendemosaserhábeiscriadores.Consolidamosmodosdeoperarqueevitamoerro,portantonosdispomosmuitopoucoàsexperimentaçõeseàsmudanças.Masépossíveldesconstruirparaconstruirmelhor,comnovasperspectivas,potencializandoasprópriascompetências.Apropostadeincu-barumnegócioimaturoouquedeuerradoeprecisaserrepensado,ouqueaindaéapenasumdesejodenegócioimplicaemesbarrarnainstabilidadedacrençadaspessoasnoseuprópriopoderderealização.Opotencialinovadordesseprojeto–criaralternativasdetrabalhoerendaparapessoasmovidasporsuasnecessidadesedesejos,excluídasdomercadoformaldetrabalhoedespreparadasparaempreender–sematerializaapartirdeumaconstruçãometodológica,capazdesertestada,ajustadaemultiplicada.
AmetodologiadeaprendizagemdaSBCSoladotacomobasespedagógi-casaEducaçãoPopulareoDesign Thinking.PeloviésdaEducaçãoPopular,doeducadorPauloFreire,entende-seopúblicocomoagentedesuaprópriaconstruçãodoconhecimento.Osconteúdosrelacionadosàformaçãodeumempreendimentoeconômicosãointroduzidosapartirdoqueaspessoassabemedosrecursosqueelasacessam.Assimcomoditamospilaresdaedu-caçãodeJacquesDelors4,oconhecimentodaincubaçãoéconstruídosobreacrençadequeénecessário:aprenderaconhecer,aprenderafazer,aprenderavivercomosoutros,paraentãoaprenderaser.
ODesign Thinkingadereaessaconstrução,mostrandoqueatravésdeprocessoscriativosépossívelresolverdesafios,inclusivesociais,demaneirainovadora.ODesign Thinkingestimulaoolhar investigativo,ondeémais
4 OsquatropilaresdaEducaçãosãoconceitosdefundamentodaeducaçãobaseadonoRelató-rioparaaUnescodaComissãoInternacionalsobreEducaçãoparaoSéculoXXI,coordenadaporJacquesDelors.
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importantefazerperguntasparadepoisdescobriramelhorrespostadoqueterpressadeencontraraprimeiraresposta.Juntas,essasbasesdirecionamaincubaçãodemaneiraqueoconteúdo,apesardeterumaestruturapreesta-belecida,éconstruídoapartirdasdemandas,dasrespostasedaparticipaçãoativadosincubadosedaequipedetrabalho.Éamaneiramaiseficazcriadaparaoferecerumaformaçãodenegóciorelevanteeacessívelparaquemtempoucaounenhumamaturidadecomoempreendedor,masquedesejaeprecisareinventarsuaformadetrabalho.
NoDesign Thinking(BROWN,2010;VIANNAetal.,2012)sefazusode:• empatiaparaacessaropúblicodeformanaturaleverdadeira;• experimentaçãoparaconstruirsoluçõesbaseadasnarealidadeda-
quelecontextoenascompetênciasdosenvolvidos;• colaboraçãoradicalparaqueainteraçãoentrediferentescompe-
tênciasgeremsoluçõesinovadoras,inclusivenascidasdosconflitosentreasdiversasvisõessobreoproblema.
Énapráticaquesefazfluiroconhecimento.Ointeresseemaprenderédespertadoporseacharsentidoeaplicabilidadedoassuntoabordadonavidadoaprendiz.Seapessoanãoperceberoimpacto,paraelanãofarásentidomudar.Porissoénecessárioenvolverequipedetrabalhoebeneficiáriosemaçõespráticasdeestruturaçãodosempreendimentos.Assoluçõesnãoestãoprontasemummanualouumlivrodereceitas,elasdependemdecopartici-paçãoesensoderesponsabilidadeparaexistir.
Incubar,paraaSBCSol,temavercomummodelonãoformaldeedu-cação,ondesedesejaprovocarumainfluênciaintencionalnavontadedemudançadoincubado.Ummecanismoéidentificarasliderançasetrabalharodesenvolvimentoefortalecimentodelas(seucarisma,seusvalores,suashabilidadesdegestão)paraquesejamespelhos,exemplosaseremseguidos.Asliderançassãocapazesdepropiciarambienteparaqueaspessoassesintamcapazesecomprometidasepotencializamo“efeitoviral”,ouseja,quandooobjetivoétãoclaro,sedutorecondizentecomasexpectativasdosintegran-tes,aspessoastêmvontadedeestardentroefazeracontecer.Nesselugarháconsciênciadequeoresultadodasuaaprendizagempodemudaroseufuturo.
Asprimeirasaçõescomosgruposincubadosforamtrêsetapasdediag-nóstico,ondeseavaliaramasrelaçõescooperativas,aestruturadeproduçãoearelaçãodogrupocomseumercadoconsumidor,chamadasrespectivamen-tede:dimensãoassociativa,dimensãoeconômicadeproduçãoedimensãoeconômicademercado.Paraaplicá-las,utilizaram-sefigurasquefacilitaram
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A importânciA do temA inovAção nA SBcSol
odiálogoeainteração.Maisdoqueumjogodeperguntaserespostas,odiagnósticoobjetivouestimularosintegrantesdosempreendimentosasesoltarem,afalaremdesi,desuasexpectativas,deseussonhos,doqueachamquetêmeoquefalta.Elesfizeramessasanálisesatravésdecores:vermelhoparaoqueéinexistenteouestáruimnoempreendimento;amareloparaoqueprecisamelhorareverdeparaoqueconsiderarambemencaminhado,resol-vido.Oresultadododiagnósticodirecionouoplanodeaçõesdaincubadora.
Figura 1 – Construção de plano de trabalho a partir do diagnóstico
Fonte:RelatórioSBCSol.
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Figura 2 – Tabela de norteadores de conteúdos da incubação
Fonte:RelatórioSBCSol.
Ostemasabordadosnodiagnósticopercorremtodooprocessodeincu-bação,desdobrandocadaaspecto,conformeaevoluçãodaaprendizagemeaaplicabilidadenaprática,nomomentoadequadoparacadaempreendimento.
Aincubaçãobuscadesenvolvernosempreendimentosopensamentosistêmicoparaquesepossa“verdelonge”eenxergarasconexõesentrepla-nejamento,ações,objetivosemetas.Esteúltimocomoestágiomaisconcreto,ondeseatribuemnúmerosaosobjetivos(prazos,quantidadedeinvestimento,perspectivaderetorno,etc.).Comotendemosarepetiroqueconhecemosesomostemerososdofracasso,poucoestamosdispostosasairdenossazonadeconforto.Conhecer(ereconhecer)aempreitadaemumnegóciocomoumciclodevida–implementação,crescimento,maturidade,declínioereinvençãodonegócio–oportunizaadescobertadepossibilidadesinovadorascompa-tíveiscomoquedesejamosrealizar,comoqueétecnicamentepraticávelefinanceiramenteviável.
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A importânciA do temA inovAção nA SBcSol
Figura 3 – Diagrama de intersecção entre desejo, praticabilidade e viabilidade
Fonte:KitdeFerramentas–HumanCenteredDesign(IDEO,2013).5
Saindo da zona de conforto
Porcausadafaltademodelosedeconhecimentosespecíficos,davisãodequeconflitoédesgastantee,portanto,deveserevitado,osempreendimen-tosforjaramsuaprópriamaneiradefuncionar,muitasvezes“empurrandocom
5 HumanCenteredDesign(HCD)éumkitdeferramentasresultadodeumprojetofinanciadopelaFundaçãoBill&MelindaGates.ABMGFassociouquatroorganizações–IDEO,IDE,HeiferInternational,eICRW–naparceriaparaacriaçãodeummétodoqueservissecomoguiadeinovaçãoedesignparapessoasquevivemcommenosdedoisdólarespordia.Apublicaçãopodeseracessadagratuitamentenosite:<http://www.ideo.com/work/human--centered-design-toolkit/>.
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abarriga”asinsatisfaçõesnasrelaçõesdetrabalhoecompoucoounenhumretornofinanceiro.Mesmoassim,diantedapropostaderepensaroempre-endimentoeavaliarsuaviabilidadeeconômica,aparecemos“matadores”deideias.Novaspossibilidadessãoeliminadasantesmesmodeamadureceremquandoosempreendedoresadotamaposturadanãomudança.Pormedodearriscar,deterqueseresponsabilizarporsiepelooutro,deficarpiordoqueestá,asprimeirasbarreirasàinovaçãoaparecememrespostasdotipo:“Issojáfoifeitoantes”;“Nãovaidarcerto”;“Nãovaifuncionar”;“Vaidemorarparaserimplantado”;“Nãotemostempo”;“Ninguémtemcompro-metimento”;“Custarácaro”;“Issoéparaofuturo,nãoparaagora”.Ocaminhoescolhidoparafomentaroenvolvimentodosincubadoseacessarsuacrençanamudançafoiodoaprenderfazendo(learning by doing)6,quepropõeaconstruçãodoconhecimentodeformaespiral7,nãolinear,ondecadaetapavividaéreexperimentadaemummomentoposterior,diantedanecessidadedeumnovodesafio.Deformacrescente,oempreendedortemaoportunidadedeaprenderomesmoassuntoemfasesdiferentesdesuamaturação.Issopotencializaaefetividadedosresultadosporquepropõeaaprendizagemdeformanatural,orgânica,quesesobrepõeàsequênciadepassosordenados.Namedidaemqueoempreendimentovivenciaapráticadonegócio,eleécapazdelidarcomdiferentescomplexidadesdostemasabordados.
Essaéumamaneiradeircolecionandoeincorporandoconhecimentoesóéefetivaseforprática.Poucoapoucovaisequebrandoaresistênciaàexperimentaçãodonovo,porquenocompartilhamentodeexperiênciasemgrupoépossívelseespelharnooutro.Quandoacoragemdeexperimentarummododiferentedefazertrazparaquemfaz, independentedeerroseacertos,asatisfaçãodesesentircriador,essasensaçãoépercebidapelosoutrosintegrantesetemaforçadedespertaravontadedesearriscarparachegaraomesmolugar.
6 Learningbydoing”éoconceitoquepodesertraduzidocomo“aprenderfazendo”,ondeoparticipanteégeradordaaprendizagem.
7 AespiraldaaprendizagemfoicriadapelopsiquiatraepsicoterapeutaCarlJungparaexpli-caroprocessodeaprendizagemdoserhumano.Deformanãolinear,odesenvolvimentosedádemaneiraespiralada,constanteeretroalimentadopeloconhecimentoconstruídoanteriormente.Oconhecimentoéfrutodarelaçãocriativaeexperimentaldohomemcomseumeio.
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Omododaequipecondutoraoperarparahabilitaraspessoasacons-truíremsuassoluçõesapartirdeaçõespassapor:
1. pesquisar,adaptarerecriarferramentasdefacilitaçãodegrupos,denegócioedemarketingexistentes;
2. aprenderdemaneiraparticipativa,ondeaspropostassãoapenasdireçõesquenorteiamodiálogo,apesquisa,ageraçãodeideiaseotestedassoluçõescriadas;
3. colocarassoluçõesempráticaomaisrápidopossível,mesmoqueaindanãoestejamamadurecidas.NalógicadoDesign Thinking,apro-totipageméamelhorformadecomunicarumaideiaedetestarsuaviabilidadeantesdegastartempoedinheirocomsuaimplementação.
Oprocessodecriaçãodesoluçõesinovadoras,quesaemdazonadeconfortodosempreendimentos,começaentãodemaneirabemampla,colecionandoumgrandevolumedeinformações(odiagnósticoé instru-mentodessafase),paradepoispropiciarterrenoparagerarinsightsenovas
Figura 4 – Caminho da aprendizagem em espiral
Fonte:RelatórioSBCSol
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maneirasdeolharoproblemae,apartirdaí,cocriarassoluções.Esseprocessotemaimagemdeumfunilcomumabocalargaondesãocolocadostodososelementospesquisados(internoseexternosaoempreendimento),quevãosecombinando,tomandoformadeideia,quesãotestadoseselecionadosesaempelobicodeumanovaforma,comoarespostamaisbemelaboradaparaoproblemaapresentadonoiníciodoprocesso.
Asfasesdaevoluçãodaprática(dabocaaobicodofunil)podemserseparadasemtrês:
Fase1–Campodapesquisa(entradadofunil):abertoedecertaformacaótico,commuitasreferênciasinternaseexternas,nãonecessariamenteconectadas.Objetivacolecionaromaiornúmerodepossibilidadeseampliaravisãosobreotema.Estámaisparaaelaboraçãodeperguntas(Comopo-deríamos?)doqueparaencontrarrespostas.
Fase2–Campodaideação(meiodofunil):aquiasideiasselecionadas,organizadasecombinadascomeçamatomarformadesolução.Aindadeformaaberta,éelaboradoomaiornúmeropossíveldesoluções(Ese?).Valemaisaquantidadequeasrespostasrestritasporjulgamentosprévios.
Fase3–Design–Prototipaçãoeimplementação(saídadofunil):asideiassaemdoplanoimaginárioepassamatomarformaconcreta.Materializarnosauxiliaacompartilharcomosoutrosnossasideiasparapoderavaliá-las,testá-lasemelhorá-las.Umprotótipopodeserqualquercoisaquetenhaumaformafísicaparaqueaideiaganhevidaemtrêsdimensões.Podeserumaparedecheiadeanotaçõesempost-its,umaencenação,umespaçoadaptado,umobjeto,umainterface,etc.Aresoluçãodoprotótipodevesercompatívelcomoprogressodoprojeto.Nasprimeirasexploraçõeséimportantemanterprotótipossimpleserápidos,paraqueaspessoassepermitamaprenderrapidamentecomeleseinvestigarumasériedediferentespossibilidades.Assoluçõestestadaseavaliadaspeloempreendimentoestarãoprontasparaseremimplementadasefazerempartedeseumodelodenegócio.
Posturas e ferramentas como instrumentos de trabalho
ÉumagrandeforçaparaaSBCSolterumaequipemultidisciplinarcobrin-dováriasáreasdoconhecimento.Entretando,arespostaparaoacessoaessesconteúdosestánaformadeadequá-losàcompreensãodopúblico.Maisqueisso,estánaformadedescobrirqueconteúdossãorealmentenecessáriosapartirdoqueaincubadoraedoqueobeneficiárioprojetamcomofuturo.
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Nessesentido,aempatiadaequipedetrabalhoéabasedeumprocessodecriaçãodesoluçõescentradonoserhumano.Possibilitaobservaropúbliconoseuprópriocontexto,envolver-se,interagir,entenderpensamentos,emoçõesemotivações.Énecessárioentenderafundoparaquemotrabalhoestásendofeito,paraquesepossadeterminarcomoinovarcombasenoproblemaqueédeterminadopelobeneficiário.Observandooqueaspessoasfazemecomoelasinteragemcomoseuambienteépossívelterpistassobrecomoelassentem,pensamedoquerealmenteprecisam.Aocompreenderasescolhasqueaspessoasfazemeseuscomportamentosépossívelidentificarsuasreaisnecessidades.Essainteraçãopermiteàequipecapturarmanifestaçõesnaturaiseinterpretarosignificadointangíveldessaexperiência,afimdedescobririnsights.Esses insightssãoportadeentradaparaassoluçõesinovadoras,porqueestãonoterrenodasnovaspossibilidades(Ese?),deexperimentarcriarrespostasdesconhecidasparademandasconhecidas.
Serempáticotambémsignificaalinharalinguagem,omododeexporoconteúdoparadespertarinteresseeenvolvimentodopúblico.Umbomrecursoéfugirdosmonólogosexpositivos.Maiseficientedoquecontaroassuntoémostrar,écomunicarcriandoexperiênciasinterativascomopúblico,usandoilustraçõesvisuais,mostrandocasos,contandoboashistórias.
Oterrenodainteraçãoéodaspossibilidadesnãoprevistas,masissonãosignificaqueéumprocessosemdirecionamento.Éimportantequeaequipetenhajogodecinturaparalidarcomreaçõesnãoprevistas,commudançasnocenárioetambémtenhaexperiênciaeferramentasparamanterocontroledesseprocessocomfoconosobjetivosemetas.
Kit de ferramentas de gestão e marketing
Existempublicadasedeusolivreumasériedeferramentasdesenvolvidasnasáreasdegestãodeempresasedemarketingextremamenteúteisparaaformaçãodeempreendimentos.Aaprendizagemdasmelhorespráticasdemercadoauxilianapercepçãodeoportunidadesedaviabilidadedonegócio,mesmosobosvaloreseprincípiosdaeconomiasolidária.Essasferramentas,muitasdelasjáadaptadasaumusomaisamploforadasempresas,sãolentesfocaisdosproblemasaseremenfrentadosedasoportunidadesnãopercebi-daspeloempreendimento.Mesmoqueoempreendimentosejaincipiente,asferramentasajudamjádeinícioaorganizaroquesetememmãospara,apartirdaí,projetarofuturodesejadodemaneirarealista.
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Comopartedametodologiadeincubação,algumasdessasferramentasforamtestadasemtrêsfinalidades:
• Preparação de cenários Prepararocenárioésaberqualéaperguntaqueoempreendimento
teráqueresponder.Éapartirdessecenárioqueseesperaterclaroqualéarazãoquemobilizaaspessoasparafazerempartedoempreendimento.Odiagnósticofeitoemtrêsetapaséumaferramentadeconhecimentodocenáriodosempreendimentos.Apósafasedediagnóstico,foramutilizados:
• BrainstormÉumaótimamaneiradeseproduzirmuitasideias.Aintençãododeba-
teéaumentaraproduçãocriativa,aproveitandoopensamentocoletivodogrupo,ouvireconstruirsobreoutrasideias.Émuitoútilparagerarsoluçãodeumproblemaoudesenvolverumaoportunidade.Obrainstormpressupõefalarlivrementearespeitodedeterminadoassunto,semqueumparticipantecensureooutrooumesmoseautocensure.Entretanto,paraqueaferramentasetornemaiseficiente,deve-sedefinirumobjetivoclaro,controlarotempoeadicionarrestrições,porqueprocessosdecriaçãopodemserintermináveissenãoháumpontofinalquedáinícioàaçãopropriamentedita.Apósa“tempestadedeideias”agrupam-seospensamentosparecidos,identificam--serecursoseobstáculosejáépossívelsugerirestratégiasepriorizarações.
• Check listFerramentaqueajudaachecaroqueébemconhecidopelopúblico,
ondeaautoconfiançadámargemparaoerro.Levaumtempomínimo,ésimplesedireto.
• 5W2HAnalisa-seasituaçãodadaatravésdeseteperguntasgerais:Quem?Por
quê?Oquê?Quanto?Como?Onde?Quando?Essaferramentaérápida,claraeobjetiva.Ajudaaconduzirníveismaisprofundosdeobservação.Essesenfoquessimplespermitemobservartantoacontecimentosconcretosquantopotenciaisemocionaisabstratoseosmotivosqueestãoemjogonasituação.Éespecial-menterelevanteaabundânciados“Porquês?”paraaconstruçãodocenário.
• Análise SWOT (ou FOFA)Aanáliseseparaemquadrantesostópicos:forçasefraquezas,quere-
metemaosaspectosinternosdoempreendimentoeoportunidadeseamea-ças,relacionadasaosaspectosexternos(concorrência,mercadoconsumidor,políticasfavoráveisoudesfavoráveis,etc.).Éumaboaferramentaparareverestratégiasedirecionamentosdonegóciooudaintençãodonegócio,oupara
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explorarsoluções.Épossívelvisualizaroqueonegóciopodeoferecerequaissãoospontos-chavequedeverãosertrabalhadosparaoseusucesso.
Essasferramentasnãodãoumaresposta.Elasapontamparapossibilida-desdesoluções.Utilizarmaisdeumaferramentaéaoportunidadedeverdemaneirasdiferentesoucomplementaresomesmocenário,paradarmelhorsuporteàtomadadedecisões.
Uma estratégia inovadora de incubação
Construirdesafiosestratégicosajudaacriaravisãoglobal(divergente)tãonecessáriaparaaconstruçãodasmelhoresrespostas(convergente).Depoisquesetemclarezadoproblemadaformamaiscompletaecomplexa(nãosóapontinhadoiceberg),épossívelquebrá-loempartesmenores,maisadminis-tráveisepossíveisdeseremsolucionadas.Essaéaaçãodecompordesafiosestratégicos:olharparacadapartedoproblemacomogeradordepossibilida-desdesoluções,ouseja:olharparaaadversidadecomooportunidade.Umaboamaneiradesefazerissoéutilizarapergunta“Comopoderíamos?”antesdadescriçãodoproblema.Umbomdesafioestratégicodeveserabrangenteosuficienteparapermitirdescobertadeáreasdevalorinesperadoeespecíficoosuficienteparatornaraquestãogerenciável.Arespostaàpergunta“Comopoderíamos?”temgrandeschancesdeserinovadoraporquebuscaránovaspossibilidadesparasolucionarantigosproblemas.
AabordagemdecriardesafiosestratégicosfoiutilizadapelaSBCSolnaestruturaçãodeumarededealimentaçãoformadaporquatroempreendi-mentosdaeconomiasolidáriadeSãoBernardodoCampo.Oproblemaclaroparaopúblicoera:Comofuncionaremredeparaatendermaisoportunidadesdevendas?Seofocofossevoltadopararesponderaessapergunta,provavel-menteoprocessoconsumiriamuitaenergiaeteriacomoresultadosoluçõesidealizadasesuperficiais.Aescolhadaconduçãofoiprimeirolistartudooqueosempreendedoressabiamousupunhamcomrelaçãoaoproblema.Depoisessasinformaçõesforamorganizadasporassuntos.Cadainformaçãofoitransformadaemumapergunta,umdesafioestratégico.Dessamaneira,todasasinformaçõesreferentesàsentradasesaídasdedinheiro,porexem-plo,foramagrupadasemdesafiosfinanceiros.Jánaformadeperguntas,osdesafiosforamcombinadosporsemelhançasereformulados.Porexemplo,asperguntas“Comopoderíamosfazerocontrolefinanceiro?”“Comopode-ríamosdividirarendaemRede?”e“Comopoderíamosterumaparticipaçãodavendajusta?”foramcombinadaseresultaramnodesafioestratégico:QualéomodeloidealdecontrolefinanceiroparaaRede?
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Imagem 1 – Mapa de desafios estratégicos da rede de alimentação
Fonte:Arquivodaprópriaautora.
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Essaéumaconstruçãoqueintencionaexplorarafundo,commuitasopiniõesarespeitoparaquesejaaprimoradaaqualidadedasrespostaseparatorná-lasmaisassertivaseinovadoras.
Tarjetas,post its,fotos,desenhoscoladosnaparedesãomateriaisdeapoioparaqueopúblicoenxergueasrelaçõesentreasinformações.Ain-formaçãovisualcompartilhadacomtodosémuitoimportanteparaacom-preensãodoprocessocomcomeço,meioefim.Tambémauxiliaarefrescaramemóriaeincentivaasconexõesentreasideias.
Oprocessodeconstruirdesafiosestratégicosfoiinovadorporquedesa-fogouosempreendedoresdarededealimentaçãodeummardeproblemasepossibilidadespoucoclaroseostransformouemdesafiosbastanteconcretos,organizadosnasáreasfinanceira,administrativa,deoperaçõesdeprodução,decomunicação,entreoutras.Essemapeamentofacilitouacriaçãodamissão,davisãoedosvaloresdaredeetemnorteadooplanodeações,aatribuiçãodefunçõeseaconstruçãodasregrasdefuncionamento.
Reflexões sobre a prática
OprocessodeincubaçãodaSBCSoltemcaráterinovadoremváriasdi-mensões:naformadiferenciadadegestão(híbrida);noprocessodecondu-çãodasatividadesdeincubação(participativaseestimulantesderespostasinovadoras);naancoragemembasespedagógicasqueencaramoprocessoformativocomoprática(educaçãopopularedesign thinking);napesquisaeadaptaçãodeferramentasdegestãoemarketing,extremamenteúteisparaaformaçãoprofissionaldenegóciosdaeconomiasolidária.
Apropostatambéméumaoportunidadeparaampliaroentendimentosobreinovaçãodopúblicobeneficiário,degestoresedetodaaequipeenvol-vidanoprojeto,porqueformaummodelodenegóciocapazdefomentaredarsuporteàcriaçãodeempreendimentosqueprecisamsereinventarparasobreviver.Assoluçõesdeixamdeserrestritasaocampodoproduto,dapro-duçãoedaviabilidadecomercialepassamaresultardeumavisãosistêmica,quetemumolhonoqueoempreendimentosabe,desejaeacessaeoutroolhonaspossibilidadesdomercado.Nesseaspecto,háquesefazerusodaincerteza,característicaintrínsecadainovação,paraousaracriaçãodeumnovomodelodeinserçãoeconômicaquebeneficiepessoasdespreparadasesemoportunidadenomercadovigente,semtratá-lasemumarealidadepar-ticulareprotegida.Aocontrário,éaoportunidadedeabsorverosrecursosjá
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amplamentedesenvolvidosnomundodosnegócioseadequá-losemforma,linguagemeconteúdoparauniversalizarseuacesso.
Porfim,aincubaçãoéaoportunidadedepraticarainovaçãoaderenteàculturaorganizacionaldaSBCSoleaosprincípiosdaeconomiasolidária,capazdetransformarasexperiênciasdecampoemmetodologiasistematizadaereplicável,adequadaàsespecificidadesdeinúmerosempreendimentosnas-centesouemfuncionamento,masquesofremogapdafaltadeescolaridade,dafaltadeformaçãoempreendedora,edafaltadefôlegofinanceiroparainvestirnoprópriosonho.
Referências
BROWN,Tim.Design Thinking:umametodologiapoderosaparadecretarofimdasvelhasideias.TraduçãoCristinaYamagami.RiodeJaneiro:Elsevier,2010.
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135
Captação de recursos em longo prazo para economia solidária:
experiências do projeto de incubadora de empreendimentos solidários de
São Bernardo do Campo (SBCSol)
Marcelo dos Santos*
* MestreemFinançaseOrganizaçõespelaUmesp(2011);mestreemFinançascomespecia-lizaçãoemRiscopelaUniversidadedeSãoPaulo(2000);pós-graduadoemAdministraçãoFinanceira(1997)etecnólogomecânicocomespecializaçãoemSoldagempelaFaculdadedeTecnologiaProf.LuizRosaFatec-SP(1994);especializadoemEducaçãoMatemáticapelaUniversidadeOswaldoCruz(2005).AtualmenteéprofessortitulardaUniversidadeMeto-distadeSãoPauloministrandoostemasligadosaFinanças,Contabilidade,MatemáticaeEstatística,noscursosdegraduaçãoepós-graduação;étambémconsultordeempresasnasáreasfinanceiraetreinamentogerencial.MembrodaSBCSol.
Introdução
Odesenvolvimentodeumbomambientedenegóciostemcomocondiçãoprimordialaofertadeapoiofinanceiroparaodesenvolvimentodenovosempreendimentosetambémmaturaçãodeempresas jáestabelecidas.Aperpetuação,aolongodotempo,dequalquermodalidadedeempresastemcomoprincipalproblemaumafontederecursospereneedelongoprazo;estafontederecursospodeseracomercializaçãodebenseserviçosaliadaafontesderecursosnomercado.
OBrasilpossuiatualmenteumdosmelhoressistemasfinanceiroseban-cáriosdomundo,mas,emrelaçãoaapoiofinanceiroàsempresas,osbancoseinstituiçõesdefomentodeixamadesejar.Opaísapresentaumgrandepro-blema,denominado“baixoaprofundamentofinanceiro”,queécaracterizadoporcréditomuitocaro,créditoefinanciamentoreduzidoacompanhadodecustosexorbitantementeelevadossecomparadocomoutrospaísesdemesmoporteouprodutointernobruto.
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
CarvalhoeAbramovay(2004)citamasdificuldadesqueaspequenasemédiasempresasdearranjosprodutivoslocaisenfrentamnomomentodeconseguirrecursosdelongoprazoparafazerfrenteaseusprojetos.
PodemoscompararofornecimentoderecursosemrelaçãoaoPIBdopaís:em2005,oBrasilpossuíaCrédito/PIBiguala35%enquantoosEstadosUnidospossuíamumarelaçãoCrédito/PIBde218%;oBrasilmelhorouumpouconosúltimosanos,passandoaumindicadorde53%,em2012,masosEUAcontinuamcomindicadoracimade200%mesmocomacrise.
Pode-senotar,nográfico1,queospaísesdesenvolvidostêmumapro-porçãoCrédito/PIBquevariaentre80%e218%,enquantooBrasilestáemumgruponafaixade30%derelaçãoCrédito/PIBparaoanode2005.
Gráfico 1 – Comparativo de volumes de crédito em relação ao PIB (2005)
Fonte:Carvalho(2005)
Nográfico2,notamosclaramenteaevoluçãodoBrasilnoquesitoCrédito/PIB,emboraque,comavelocidadedetalevolução,chegaríamosaoindicadordosEUAde218%paraCrédito/PIBsomenteem2055.
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Captação de reCursos em longo prazo para eConomia solidária
Gráfico 2 – Evolução crédito em relação ao PIB (2006-2012)
Fonte:BancoCentraldoBrasil
Verifica-sequeocréditonoBrasilémuitoescassoemrelaçãoaoutrospaísesmaisdesenvolvidos;tambémtemosoproblemadastaxasdejuros,ficandosempreentreasdezmaiorestaxasdejurosdomundo,eumagra-vanteéqueataxabásicadejurosnãoécobradadocliente,poiselaéabasedastaxasdejurosnaeconomia.Ocréditoaoconsumidorfinalouaempresasestánafaixade30%a.a.até146%a.a.,corroborandomaisumitemparaadenominaçãode“baixoaprofundamentofinanceiro”paraosistemafinanceirodopaís.
Paraopequenoempresáriobrasileiroouparaaspessoasqueatuamnaeconomiasolidáriaficamuitodifícildeixardeladoasatividadesoperacionaisdonegócioparasededicaraopreenchimentodetantosformulárioseprovi-denciartantosdocumentosqueaáreadecréditodosetorbancáriosolicitanomomentodaentradadasolicitaçãodecrédito.
Órgãos de financiamentos
NoBrasil,atualmente,oscréditossãoprovenientesdebancosprivados,bancospúblicos,cooperativasdecrédito,bancosdefomento,órgãosdeincen-tivoapesquisaedesenvolvimento,inseridosdentrodasesferasmunicipais,estaduaisefederal.
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
Paraobtençãodocréditopretendidodevemosconhecerostiposdeagentesfinanceirosqueapoiamefornecemrecursos paraasatividadesdemicro,pequenasemédiasempresas,bemcomoempreendimentosdaeco-nomiasolidária.
Osbancosestãoclassificadoscomoinstituiçõesfinanceirasmonetáriasenãomonetárias.SegundoFortuna(2008),dentreasinstituiçõesfinanceirasmonetáriaspodemosterbancoscomerciais,caixaseconômicas,bancoscoo-perativosetambémcooperativasdecrédito.
Osbancoscomerciaissãoreconhecidoscomoentidadesquetêmopapeldeintermediarrecursosentreosagentessuperavitárioseagentesdeficitáriosdaeconomia,financiandobenseemprestandorecursosaindústrias,comércio,prestadorasdeserviçoepessoasfísicas.
Emrelaçãoàscaixaseconômicas,pode-sedizerqueintegramosistemabrasileirodepoupançaeempréstimos(SBPE);portantoatuamfortementenacaptaçãoderecursosatravésdacadernetadepoupançaenofinanciamentoimobiliárioparapessoasfísicasejurídicas.
Gráfico 3 – Taxas de juros no mundo
Fonte:CruzeirodoSulCorretora
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Captação de reCursos em longo prazo para eConomia solidária
Osbancoscooperativossãoderivadosdascooperativasdecrédito,umavezqueoBancoCentraldoBrasil(BC)autorizouascooperativasdecréditoaconstituírembancoscomerciaisnaformadesociedadesanônimasdecapitalfechado,comaparticipaçãoexclusivadecooperativasdecrédito,auxiliandoacaptaçãoderecursosexternosparacooperativasatravésdeseubancoco-mercial.Osempregadosdainiciativapúblicaouprivadaetambémassociadosdeentidadesdeclassespodemabrircooperativasdecréditoquepoderãosugeriraaberturadeumbancocooperativo.
Dentrodasinstituiçõesfinanceirasnãomonetárias,quesãoinstituiçõesquenãotêmopoderdecriarmoedaecomissonãopossuemcontacorrenteeoutrosprodutosdosbancoscomerciais,temososbancosdedesenvolvimento,tendocomoprincipalagentedogovernooBancoNacionaldeDesenvolvimen-toEconômicoeSocial(BNDES).Estesbancosfomentamossetoresprimário,secundárioeterciáriodaeconomia,fornecendorecursosdemédioelongoprazocomtaxasdejurosbaixas.
TemostambémasSociedadesdeCréditoaosMicroempreendedores,ficandocomatarefadeproverrecursosparamicroempresas,semassisten-cialismo,mastambémcomumníveldeburocraciareduzida,apoiandooempreendimentoemrelaçãoàgestão.
Asagênciasdefomentosãoconstituídassobaformadesociedadeanônimadecapitalfechado.EstasagênciasdefomentosomentepoderãorepassarrecursoscaptadosnoBrasilenoexteriorquetêmcomoorigemderecursosfundosconstitucionais,orçamentosfederal,estadualemunicipaleorganismosnacionaiseinternacionaisdedesenvolvimento.
Napráticadeseutrabalho,asagênciasdefomentopoderãorealizaroperaçõesdefinanciamentodecapitalfixoetambémcapitaldegiroquetêmassociaçãoaoprojeto,prestargarantia,fornecerserviçosdeconsultoriaetambémdeserviçosdeadministraçãoderecursosdestinadosàcomposiçãodefundosdedesenvolvimento.
Fontes de recursos no mercado bancário
SegundoFortuna(2008),nomercadobancárioexisteumagrandevitrinedeprodutosdeempréstimos,comoHot Money,contasgarantidas,créditosrotativos,descontodetítulos,empréstimosdecapitaldegiroemicrocrédito,cadaumcomsuascaracterísticasprópriasparaobtençãoderecursos.
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
OHot Moneyéumempréstimodecurtíssimoprazo,deaténomáximodezdias,comtaxasdejurosaltas;avantagemépoderassinarumcontratoúnicoesemprequenecessitarocréditoéliberadocomumadendoaocon-tratooriginal.
Ascontasgarantidas,créditosrotativosechequesespeciaissãomuitosemelhantes,poisdeixamocréditoàdisposiçãodoclienteeomesmoso-mentearcarácomosjurosnocasodeutilização.Acontagarantida,comoopróprionomejádiz,élastreadaporumagarantiafornecidapelotomador;jáocréditorotativoeoschequesespeciaistambémsãolinhasondeoslimitesdecréditoficamdisponíveisparaocliente,garantidosexclusivamenteatravésdaassinaturadeumapromissória.
Emrelaçãoaoempréstimodecapitaldegiro,mensura-sequaléaneces-sidadequeaempresatemdentrodesuasatividadesnormaisoperacionais,pois,conformeexisteoaumentodasvendas,aempresapoderáapresentarcrescimentoatédeterminadopatamar,acimadestepatamarteráquetomarrecursosnomercado.
Ocapitaldegiroéreconhecidocomopartedocapitaldaorganizaçãoqueficaimobilizadodentrodesuasatividadesdesdeomomentoemqueaempresaefetuaopagamentodamatéria-prima,pagamentodosempregados,pagamentodeágua,luz,telefone,gáseoutrosatéorecebimentodasvendas.Paraumcrescimentodevendasacimadesuacapacidadedegeraçãodecapitaldegiro,aempresadeverátomarrecursosemprestadoscomtaxasabaixodeseucustomédioponderadodecapital.
Aantecipaçãodofluxodecaixadacompanhianaformadedescontodetítulosouduplicataséumamaneiradecobrireventuaisproblemasdentrodaorganização.Nãodeveserrecorrentetalfato,poisaantecipaçãodofluxodecaixadacompanhiapodeeventualmentemostrarincapacidadedeplane-jamentofrenteaosdiversoscenáriosquepodemacontecer.
Nomicrocréditosegue-sealinhadeempréstimosdebaixovalor,muitosdelesdeR$100aR$500,podendoserconcedidoscréditosabaixodestevalor,levandoacomunidadescarentesaapropriaçãoderecursosparagerarrendadentrodaprópriacomunidade,comoemprestardinheiroparaacomprademáquinadecosturaeomicroempreendedoriniciaraatividadecomtrabalhosdeconsertoseconfecçãoderoupasparapessoasdacomunidadeondeelaestáinserida,cobrandopeloserviçoexecutado.
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Captação de reCursos em longo prazo para eConomia solidária
Entidades de fomento ao desenvolvimento
BNDESOBNDESéumdosprincipaisórgãosdefinanciamentoefomentoao
desenvolvimentodopaís.SegundoValente(2012),osempresáriosreclamamdaaltaburocraciaenvolvidanasconcessõesdelinhasdefinanciamentoparaasorganizações,eumcontrapontoaestaopiniãogeraldospequenosem-presárioséqueoBNDESemprestoupróximode200bilhõesdereaiscomaproximadamenteummilhãodeoperaçõessomentenoanode2011.
OBNDESsuperaaquantidadedevaloresdefinanciamentosaofomentoedesenvolvimentoquandocomparadocomorganismosinternacionaiscomooBID(BancoInteramericanodeDesenvolvimento)eoBird(BancoMundial).OBNDEStememseusrecursosaadministraçãodosFundosdeAmparoaoTrabalhador,FundoPIS/Pasep,FundoNacionaldeDesenvolvimento,FundodeDesenvolvimentoTecnológicodasTelecomunicações,FundodeGarantiaàsExportaçõeseFundoGarantidordeInvestimentos.
UmacaracterísticadoBNDESéadefinanciarsomentebensnovosealgunscomindicadordenacionalizaçãoacimade80%;ouseja,fomentarodesenvolvimentosobaóticadequeoequipamentonacionalnovodeveserfabricadocomtecnologianacionaleomesmofomentaráodesenvolvimentodopaís.Porexemplo,oBNDESnãofinanciaaaquisiçãodeterrenosoudeempresas,poisnãosãogerados,nestecaso,empregosounovastecnologiascomestastransações.
Obancoatendeaempresasprivadasetambémaoempresárioindividualdesdequeomesmoexerçaatividadeprodutivaequeesteja inscritonosórgãosmunicipais,estaduaisefederais(CCM,CNPJeInscriçãoEstadual).Obancotambémpodeatenderdemandasdaadministraçãopúblicadiretaeindireta,deórgãoseempresaspúblicasdasesferasmunicipais,estaduaisemunicipais.
OinteressadoemobterrecursosdoBNDESdeveprocurarumbancocredenciadoeretirarinformaçõesdoprocessodentrodainstituição,poisoBNDESrepassarecursosparaasinstituiçõesfinanceiraseasmesmasconcedemestesrecursosparaempresasdentrodasdiversaslinhasdoBNDES,cobrandodoclienteumataxadeintermediaçãoeanálisedecrédito.
OsrecursostécnicosdoBNDESsãolimitados.Comoemqualquerprojeto,temoslimitaçõesquantoapessoas,tempoedinheiro.RepassandooscréditossolicitadoscomvalorinferioraR$20milhõesdereaisparaoutrasinstituições
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
financeiras,foipossívelconcentrar-seeespecializar-senaconcessãodiretaparagrandesprojetos.
OsprincipaisprodutosdefinanciamentodoBNDESsãooFiname,FinameAgrícola,FinameLeasing,Exim,CartãoBNDES.Cadalinhadefinanciamentopossuiassuaspeculiaridades:oFinameéumalinhadefinanciamentodemáquinaseequipamentosnovos;quandodirecionadoparademandasdeempresasdosetoragropecuáriotemosoFinameAgrícola;jánocasodoFi-nameLeasingtemosaaquisiçãodemáquinaseequipamentosparalocaçãoaoutrasentidadesouoperaçõesdearrendamentomercantil,existindoaopçãodecompraaofinaldocontrato.
NalinhadefinanciamentoExim,oBNDESefetuaoperaçõesdecréditoquepermitamaexportaçãodebens,queéacomercializaçãodeprodutoscomofoconomercadoexterno.AlinhamaispopulardoBNDEShojeéoCartãoBNDES,queéumalinhadecréditopré-aprovadadestinadaamicro,pequenasemédiasempresaseutilizadoparacompradebenseinsumos.
FinepAFinanciadoradeProjetosreconhecidaatualmentecomoaAgênciade
InovaçãoBrasileirafoicriadaem1960parafomentarprojetosligadosàsáre-asdeciênciaetecnologia.FoiconcebidaparasubstituiroFuntec,queeraoFundodeDesenvolvimentoTécnicoeCientíficodentrodoBNDES.Tendoemvistaestaorigem,ostrâmitesparasolicitaçãodefinanciamentoecomposi-çãodoprojetosãomuitosemelhantesaosdoBNDES.ConformereconheceValente(2012),osfinanciamentosdaFinepestãoligadosaetapasdoprojetoqueprecedemafaseprodutiva;nãotêmaintençãodefinanciaraumentodacapacidadedeproduçãodeparquesfabris.
AFinepconcederecursoscomasseguintesfinalidades:pesquisabási-ca,pesquisaaplicada,inovações,desenvolvimentodeprodutos,serviçoseprocessos,incubaçãodeempresas,estruturaçãodeprocessosdepesquisa,desenvolvimentoeinovação.
TemoscomofinanciamentosdaFinepduasmodalidades:osreembolsáveis,querequerempagamentoapósumacarênciadeaplicaçãoderecursos,eosnãoreembolsáveisquesãoinvestimentosondenãoexisteoretornodorecursofinan-ceiro,massomentepodeserconcedidoatravésdechamadapública;somenteparticipamuniversidades,centrosdepesquisaeentidadessemfinslucrativos.
Amodalidadedefinanciamentoreembolsávelésubdivididaemtrêscategorias:
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Captação de reCursos em longo prazo para eConomia solidária
a) ofinanciamentocomencargosreduzidos,quevisaàrealizaçãodeprojetosdepesquisa,desenvolvimentodeinovaçõesetambémtemointuitodecapacitarempresasbrasileiras;oscustosdecadaprojetonãosãopadronizadosedependemdeavaliaçãodostécnicos;
b) emrelaçãoaofinanciamentoreembolsávelpadrão,pode-seenqua-drarosprojetosquetêmcomoobjetivodesenvolverinovaçõesemprodutoseprocessos,podendofinanciaraté90%doprojetocomataxadejurosdelongoprazo(TJLP)maisjurosde5%aoano;
c) amodalidadedefinanciamentocomjurorealzeroqueapresentacomocaracterísticaofinanciamentoamicroepequenasempresasinovadoras,compossibilidadedefinanciamentode100milreaisaté900milreais.
Valente(2012)classificacomoincipienteogastocompesquisaedesen-volvimentovoltadosparainovaçãonasempresasbrasileiras,apesardeem2010aFinepterdesembolsadomaisdeumbilhãodereaisemoperaçõesreembolsáveiscomestafinalidade.ExistetambémumaaltaconcentraçãonasregiõesSuleSudestedopaís,emrelaçãoaestetipodefinanciamento,totalizandonestasregiões81%dosrecursosliberados.
Aofinaldoanode2010,entretodasasmodalidadesdefinanciamentosdesembolsadoseadesembolsar,somadosàsconsultaspréviaseprojetosemprocedimentodeanálise,haviaumtotalde5,3bilhõesdereaisenvolvidosdiretaouindiretamentecomprocessosdeinovação.
IFC – International Finance CorporationEsteorganismointernacionaléumdosbraçosdoBancoMundialque
auxiliaainiciativaprivadanoBrasil.Esteorganismotemsuasorigenspauta-dasnareuniãodeBrettonWoodsem1944.ComofinaldaSegundaGuerra,osEUA,juntamentecomaInglaterra,sereuniramparatentarformatarumanovaordemparaosistemafinanceirointernacional.AofinaldareuniãoforamcriadosoFundoMonetárioInternacional(FMI),oBancoMundialeumacordocomercialchamadoGeneral Agreement on Tariffs and Trade(GATT),queseriaoembriãodaOrganizaçãoMundialdoComércio(OMC).
OIFCfoirealmentecriadooficialmenteem1956comafinalidadedeapoiarfinanceiramenteempresasprivadassemanecessidadedegarantiadogovernoepodendoadquirirparticipaçãonacomposiçãoacionáriadaempresaquenecessitedeapoio.Ressalta-sequenãopodemadquiriraçõescomdireitoavotonoconselhodeadministração.
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Editais de organismos multilaterais
Acaptaçãoderecursosdelongoprazoatravésdeeditais,deorganismosnacionaiseinternacionais,visandoàperpetuaçãodenegócioseempreendi-mentosdaeconomiasolidária,deveserumametaperseguidapelasentida-desdeapoioaosempreendimentosdeeconomiasolidária,emparticularasincubadorasdestesempreendimentos.
OBrasiltemumbomrelacionamentocomosórgãosfinanceirosmultila-teraiseentidadesdosgovernosdeoutrospaíses,facilitandoassimoproce-dimentodecaptaçãoderecursosparafinanciarprojetosdedesenvolvimentodeproduçãoesociais,atravésdeprogramasfederais,estaduaisemunicipaisdeassessoramentoespecializadooferecidosporessasentidades.
Normalmenteoquetornaoprocessoburocráticoéaquantidadedeformulárioseodetalhamentotécnicoqueoprojetodeveterparaqueoempreendimentosecredencieaconcorreraosrecursosofertadosnoseditais.
Temosqueorganizarpreviamenteumcompostodedocumentosetextosqueservirãodeapoioebaseparaaelaboraçãodedocumentossolicitadosnoedital.Cadaprocessoeprojetosãoúnicos,portantonãopodemoschegaraumníveldepadronizaçãodeapresentaçãoparainscriçãojuntoàentidadequedivulgouoeditalequeforneceráosrecursosparaoprojeto.
Roteiro para elaboração de proposta para financiamento
Asbasesparaaformataçãodeumroteiroparaelaboraçãodepropostadefinanciamentoéoriundadateoriadeanálisedeprojetos,análisedecréditoeanálisedeinvestimento,juntamentecomaexperiênciadaformataçãodoprojetodaincubadoradeempreendimentosdeeconomiasolidáriaSBCSol,financiadaatravésderecursosdaPrefeituradeSãoBernardodoCampo,daFinepedoCNPQ,comamissãodedesenvolverumanovametodologiadeincubaçãodeempreendimentosdaeconomiasolidária.
Tantoaelaboraçãodosdocumentosdaconsultapréviacomoaelabo-raçãodosdocumentosreferentesaoprojetonãoseencerramcomoúnicasoportunidadesdesucessonacaptaçãoderecursos,umavezquepassadaestaprimeirafaseexistemasentrevistaspessoais,visitastécnicasnolocalondeaaçãosedesenrolará,emaisrespostasporescritoaquestionamentosrelacionadoscomdúvidasemelhoramentosnoprojeto.
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Captação de reCursos em longo prazo para eConomia solidária
Conformeabordadoanteriormente,pode-semontarumescopoeumasériededocumentosqueserãonecessáriosnamaioriadoscasosdeentradadeprocessosparacaptaçãoderecursos,emboraéhumanamenteimpossívelpreveraquaissolicitaçõesostécnicosresponsáveispelaaprovaçãodoproje-topoderãodarmaiorênfase.Queosrelatóriossejamconstruídosdeformaresumidaeconcisa,dandomargemàampliaçãodasinformaçõesinicialmenteapresentadas,poishádependênciadiretadoconhecimentodoanalistasobreaáreadeapresentaçãodoprojetoesuaexperiêncianocargo.
Aconsultapréviaéumresumodoprojetoedeveseromaisbrevepos-sível,mastomandoocuidadoparaqueabordetodosositensdoprojeto.Oprimeiropassoéprotocolaraconsultaprévianoagentefinanceirocredenciadoounoórgãoqueapresentaoedital.Estaconsultapréviaénecessáriaparaoenquadramentodoprojetoemumadaslinhasoueditaisqueoorganismooferece.Apartirdestepontooprojetopodesermaisbemelaboradovoltadoàáreaoulinhadefinanciamentodequeoorganismodispõe.
Nocasodeserapresentadoaorganismosquedivulgameditaiscomdisponibilizaçãoderecursos,deveseridentificadonocorpodoeditalane-cessidadedeconsultaprévia,oualgumcredenciamentoprévioexigido,pois,emmuitoscasos,estaetapapoderásersuprimidadaparteoperacional;masparaaorganizaçãoeapresentaçãodeumbomprojetodeve-selevaremconsideraçãoahipótesedeelaboraçãodaconsultapréviaparaservirdedirecionadornaconstruçãodoprojetodefinitivo.
Aconsultapréviadeveserconstituídadedadoscadastraisdaempresaouempreendimento,informaçõessobreapessoaqueseráocontatodaem-presaouempreendimento,estruturadecapital,estruturadeadministração,caracterizaçãodaempresaouempreendimento, indicadoresfinanceiros,produçãodaempresa,objetivosdoprojeto,justificativadoprojeto,metasaserematingidas,quadrodeusosefontesdosrecursos,estimativadosefeitosdoprojetosobreoempreendimento,geraçãodeempregoerenda,mercadoemqueaempresaatua,garantiasquepodemseroferecidas,informaçõesadicionaisquejulgaremnecessárias.
Apósaaprovaçãodestaconsultapréviaeenquadramentoemumalinhaoueditalespecífico,deve-separtirparaaconstruçãodoprojetodefinitivo,ondedeverãoconstarositenselaboradosparaaconsultaprévia,comummaiordetalhamento,visandosubsidiarostécnicosqueavaliarãooprojetodedadoseelementosparaelaboraçãodeumparecerpositivo;algunsitensdeverãoseradicionadosnestafasedoprocesso.
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Noprojetodefinitivo,os itensquemerecerãomaioratençãoe,porconsequência,maiordetalhamentosãoacomposiçãodogrupoeconômico,ocapitalsocialenvolvido,asvendasoureceitas,aáreadegestãoambiental,custoseprodutividade,quadrodeusosefontesdosrecursos,detalhamentodosmercadosexternoseinternos,condiçõesdaconcorrênciaeimpactosdoprojeto, indicadoresfinanceirosdoempreendimento,análiseprospectiva,aspectosjurídicosenvolvidosedemaisaspectosdoempreendimentoqueestásolicitandoosrecursos.
Aseguir,apresentamosquadrocomospassosdecisórioseprocedimentosadotadosinternamentepeloBNDESemrelaçãoaumaanáliseeaprovaçãodeumprojetodecaptaçãoderecursosvialinhadecréditoespecíficanoBNDES.
Processo de Análise de Projetos
Fonte:BNDES.
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Captação de reCursos em longo prazo para eConomia solidária
Análise de projeto
Naanálisedeprojetosdelinhareembolsáveis,queterãooretornodorecursoparaaentidadequeconcedeuofinanciamento,haveráumaanálisecommaiordetalhamentoarespeitodacapacidadedoprojetoemgerarrenda,visandoàobtençãodemeiosfinanceirosparaadevoluçãodosrecursosconcedi-dosacrescidosdetaxasdejurosque,apesardemuitobaixas,garantemopoderdecompradocapitalaserutilizadoemoutroprojetoreembolsávelounão.
Analisa-sequalquerprojetopelosprismasfinanceiro,operacionaledemercado,emboraquandoanalisamosempreendimentosdeeconomiasolidáriatemosquelevaremconsideraçãoasforçasdomovimentoassociativoecoletivo.
Osinstrumentosdeanálisefinanceiraverificamfriamenteoretornodoprojetoeotempodoretornoatravésdosinstrumentosvalorpresentelíquido(VPL),taxainternaderetorno(TIR)epayback.
ConformeapresentadoporGitman(2002),ovalorpresentelíquidove-rificaseofluxodecaixafuturogeraráumganhomaiorqueoinvestimento,adotandoumataxadejurosadequadaaocomportamentodoempreendi-mento,quepoderáserumataxademercadoouocustomédioponderadodecapital(CMPC)queéamédiaponderadadastaxasevaloresdeempréstimosefinanciamentosqueoempreendimentopossui.CasooVPLsejamaiorquezero,oprojetopoderáserbemavaliado;casooVPLcalculadosejamenorquezerooprojetodeveráserrejeitado;enocasodoVPLserigualazero,tantofazarejeiçãoouaprovaçãodoprojeto.
Nocasodataxainternaderetorno(TIR),temosacomparaçãodestataxacomataxamédiadeatratividade(TMA).ATIRéelaboradaapartirdaprojeçãodofluxodecaixafuturodoprojeto.AdecisãoaseradotadaserádeaceitaçãodoprojetoquandoaTIRformaiorqueTMA;oprojetopoderáserrejeitadoquandoaTIRformenorqueaTMA;etantofazquandoaTIRforigualaTMA.
Nametodologiadenominadapayback,teremosarespostaemtempo,visandoàverificaçãodequandosetemoretornodovalorinvestidonopro-jeto.Umbomprojetoéaquelequenãodemoramuitoparaterdevoltaovalorinvestido.Quandoseanalisadoisprojetos,optamosporaqueleprojetoqueapresentaomenorpayback.
Tambémsedeveanalisaracapacidadedepagamentooucapacidadedegeraçãoderendareferenteaoprojeto.Aprimeiraéumaanálisefinanceiraenquantoasegundaétambémumaanálisesocial,umavezquemensura
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
quantoarendadoscomponentesdoempreendimentodeeconomiasolidáriapoderáaumentarcomaimplantaçãodoprojeto.
Osestudosmaisatuaisemrelaçãoàanálisedeempreendimentosdeeconomiasolidáriaanalisamtambémindicadoressociaisdoempreendimento,taiscomovitalidadeassociativa,queverificaaparticipaçãoativadossócios;tambéméanalisadaagestãodemocrática,ondeéidentificadooprocessodetomadadedecisãodentrodoempreendimentoeseocorredeformaquetodossejamrepresentadosemqualquerprocessodecisório.
Igualmente,éanalisado,deformaclara,oenraizamentoterritorial,ouseja,oapoioqueoempreendimentorecebedasociedadeedaspessoasdoentornodoempreendimento.Existetambémapossibilidadedeanálisedoimpactosocialdoempreendimentoqueconstataráseotipodeprodutoouserviçooferecidoresolvealgumproblemadoentornodasociedadeouseexisteacriaçãodetrabalhoerenda.
Conclusão
Existemrecursosdisponíveisparafinanciardiversostiposdeatividadesnopaís,deveexistiracapacitaçãodeumgrupodepessoasparacaptaçãoderecursos,queindicaráqualéamelhorlinhadecréditooueditalparacadaempreendimentodeeconomiasolidáriaouincubadoradeempreendimentosdeeconomiasolidária.
Oprocessoaindaémuitoburocráticoetécnico,mascomolidamos,namaioriadoscasos,comdinheiropúblico,temosqueresguardaresterecursoqueéconseguidocomaarrecadaçãodeimpostosezelarpelamelhorapli-cação.Comoesterecursoéfinito,deve-seaplicá-loemprojetosquetenhammaiorabrangênciaouatendamaumpúblicomaisnecessitado.
Umaoutravisãoparaaanáliseeclassificaçãodoprojetoéadequemuitosrecursossãoinvestidoseaplicadosemprojetoseempreendimentosdeeconomiasolidáriaeosempreendimentostemumafunçãosocial,àsvezesgerandorendaparapessoasemsituaçãoderua,socializandopessoasqueestavamencarceradas,eoutrasatividadesqueemúltimaanálisepodemserencaradascomofunçãodoEstado.
Pode-segerarumaextensãodesteestudoanalisandoasprincipaisformasdeclassificarempreendimentosdeeconomiasolidáriaentreosseusdiversosestágiosassociativosefinanceiros,bemcomoaelaboraçãodeindicadores
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Captação de reCursos em longo prazo para eConomia solidária
sociaiscomdadapadronizaçãoparaquepossamoscompararosempreendi-mentosdeumcertoramoeespecialidade.
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Microcrédito: o crédito para o empreendedorismo
no meio popular
* BacharelemCiênciasEconômicaspelaUniversidadeMetodistadeSãoPaulo.**BacharelemCiênciasEconômicaspelaUniversidadeMetodistadeSãoPaulo.***MestreemAdministraçãoeDoutoremEducação.PresidentedoBancodoPovoCrédito
Solidário.CoordenadordaCátedraCelsoDanieldeGestãodeCidadesdaUniversidadeMetodistadeSãoPaulo.
Danilo dos Santos Trindade*Glauber Alves de Sousa**
Luiz Silvério Silva***
Introdução
Nestepequenotextoqueapresentamos,somam-seostrabalhosreali-zadosnapesquisasobreomicrocréditoeocréditosolidáriocomasexperiênciasvivenciadasnadireçãodoBancodoPovoCréditoSolidário
nestesdoisúltimosanos(2013e2014).Esperamospodercontribuirparaadiscussão,reflexãoeformulaçãodepropostasdeaçãonalinhadocréditodestinadoaosegmentosocialdetentordepotencialparaoempreendedoris-mo,porém,comenormesdificuldadesdeacessoàredebancáriacomercial.Otrabalhodepesquisasobremicrocréditofoirealizadoem2013,juntoaoBancodoPovoCréditoSolidário,cujoresultadoapuradocompletoencontra--sedocumentadonotrabalhoapresentadoparabancaexaminadoracomoatividadedeconclusãodoCursodeCiênciasEconômicasnaUniversidadeMetodistadeSãoPauloemdezembrode2013.Compartilhamosexperiênciaseapoios,cumplicidadeacadêmicacontinuadanestetexto.
O microcrédito
SegundoBarone(2002,p.11),“microcréditoéaconcessãodeemprésti-mosdebaixovalorapequenosempreendedoresinformaisemicroempresas
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semacessoformalaosistemafinanceirotradicional,principalmentepornãoteremcomooferecergarantiasreais”.ParaNichter(NICHTER;GOLDMARK;FIO-RI,2002,p.15),microcréditoéa“concessãodeempréstimosderelativamentepequenovalor,paraatividadeprodutiva,nocontextodasmicrofinanças”.
Omicrocréditoéaconcessãodeempréstimosdepequenovaloramicroempreendedoresformaiseinformais,normalmentesemacessoaosistemafinanceirotradicional,quetemcomoobjetivopromoveraeconomiapopularpormeiodaofertaderecursosparaomicrocréditoprodutivo,orientadoapessoasfísicasejurídicasempreendedorasdeatividadesdepequenoporte,visandoincentivarageraçãodetrabalhoerenda,inclusãosocial,complementaçãodepolíticassociaise/oupromoçãododesenvolvimentolocal.Osrecursosdestinam-seaofinanciamentodocapitaldegiroe/ouinvestimentosprodutivosfixos,comoobrascivis,comprademáquinaseequipamentosnovosouusados,etambémacompradeinsumosemateriais.(BNDES,2013).
OProgramaNacionaldeMicrocréditoProdutivoOrientado(PNMPO),iniciativadoGovernoFederaleinstituídopelaLeinº11.110,de25deabrilde2005,definemicrocréditoprodutivoorientadocomosegue:
Omicrocréditoprodutivoorientadoéocréditoconcedidoparaoatendimentodasnecessidadesfinanceirasdepessoasfísicasejurídicasempreendedorasdeatividadesprodutivasdepequenoporte,utilizandometodologiabaseadanorelacionamentodiretocomosempreendedoresnolocalondeéexecutadaaatividadeeconômica,devendoserconsiderado,•oatendimentoaoempreendedordeveserfeitoporpessoastreinadasparaefetuarolevantamentosocioeconômicoeprestarorientaçãoeducativasobreoplanejamentodonegócio,paradefiniçãodasnecessidadesdecréditoedegestãovoltadasparaodesen-volvimentodoempreendimento;•ocontatocomoempreendedordevesermantidoduranteoperíododocontratodecrédito,visandoaoseumelhoraproveitamentoeaplicação,bemcomoaocrescimentoesustentabilidadedaatividadeeconômica;•ovaloreascondiçõesdocréditodevemserdefinidosapósaavaliaçãodaatividadeedacapacidadedeendividamentodotomadorfinaldosrecursos,emestreitainterlocuçãocomeste.(BRASIL,2005).
ExisteumenormecampoparaodesenvolvimentodomicrocréditonoBrasil,emfunçãodograndenúmerodefamíliasepessoasquetêmcondi-çõesdesobreviver,empreenderbemcomomelhorarsuacondiçãodevidasehouverumaportefinanceiro.Omicrocréditoéaferramentafundamentalparaocrescimentodeummicroempreendimento,sejaeleformalouinformal.
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Entretantoomercadobancário,especificamentenainiciativaprivada,nãoofertaosrecursosfinanceirosnecessáriosparaosmicroempreendedores,porconsideraremumaoperaçãodealtorisco,jáqueamaioriadestespossíveisclientesnãopodecomprovarsuarendadevidamente.Diantedestadificuldade,asinstituiçõesdemicrocréditopossuemumpapelfundamentalnoprocessodegeraçãodeempregoerenda.ExisteumafortedemandapelomicrocréditonoBrasil,poisemtornode10milhõesdepessoasnãopossuemacessoaomercadobancário,segundodadosdoIBGE.
SegundoMonzoni(2006),aprimeirainiciativademicrocréditoprodu-tivodequesetemnotíciaaconteceunosuldaAlemanha,noanode1846.Naqueleano,umrigorosoinvernoobrigouosfazendeiroslocaisatomaremempréstimosdeagiotas.Semrecursosfinanceiros,osfazendeirosnãotinhamcomoproduzireconsequentementeoquevender.Comovidopelosimpactossociaiseeconômicos,umpastorchamadoRaiffeinsenpassouaceder,aosfazendeiros,farinhadetrigoparafabricaçãoecomercializaçãodepão,deformaagerarcapitaldegiroparaseusnegócios.Esseempreendimento,de-nominado“AssociaçãodoPão”,acaboucrescendoetransformando-seemumacooperativadecréditoparaapopulaçãodebaixarenda.Contudo,nenhumaoutraexperiênciadaaplicaçãodomicrocrédito,teveoalcance,divulgaçãoemodelodeempreendimentomaisdifundidoecopiadodoqueoGrameenBank,criadopeloProfessorMuhammadYunus,emBangladesh,noanode1976.Ametodologiadegrupossolidáriosfoiidealizadaporele.Metodologiadaqualfalaremoslogomaisàfrente.
O microcrédito no Brasil
ParaGoldmark;PockrosseVechina(2000),aprimeirainiciativademicro-créditonoBrasilfoiiniciadaem1973,pelaUniãoNordestinadeAssistênciaaPequenasOrganizações,conhecidacomoProgramaUNO,naregiãometropoli-tanadeRecife,Pernambuco.ExpandidadepoisparaointeriordoestadoeparamunicípiosdaBahia.Alémdeconcedercrédito,oProgramacapacitavaseusclientes,microempresáriosinformais,emgestãoerealizavapesquisasobreoperfildeseusclientes.OUNOcontribuiuparaaformaçãodedezenasdeagentesdecréditoespecializadosnomercadoinformaletornou-sereferênciaparaváriosprogramasdemicrocréditonaAméricaLatina.
Monzoni (2006)afirmaquenoanode1986foramcriadosoBancodoMicrocrédito,noParaná,eoProgramadeMicrodestilariasdeÁlcoole
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Biocombustíveis(Promicro),noDistritoFederal.Aproveitando-sedeexpe-riênciasbrasileirase latino-americanasanterioresbemsucedidas,surgiuem1987,sobaformadeumaorganizaçãonãogovernamental (ONG),oCentrodeApoioaosPequenosEmpreendimentosAnaTerra(Ceape/RS),nacidadedePortoAlegre.OCeapeAnaTerracontoucomfundosdoBancoInteramericanodeDesenvolvimento(BID)eda Inter-American Foundation (IAF).Em1988,foicriadooInstitutodeDesenvolvimentoAçãoComunitária(Idaco),noRiodeJaneiro.
Nofimdadécadade1990,umasériedeinstituiçõeseprogramasligadosagovernosestaduaiselocaissurgiram:em1998,BancoPalmas(CE),BancodoPovodeSantoAndré(SP),BancoPopulardeIpatinga(MG),BancodoPovodeBelém(PA),Acredita(SP),BancodoPovoPaulista(SP)eBancodoPovodeUberaba(MG).Em1999,BancodoPovodeGoiás(GO),BancodoPovodeMatoGrossodoSul(MS),SindicatodostrabalhadoresemcooperativasdecréditodoestadodoParaná(Sindicred/RJ),InstituiçãoComunitáriadeCréditodeConquistaSolidária(BA),BancodoPovodeItabira(MG),BancoPopulardeBeloHorizonte(Banpop/MG),PrefeituradeRecife,CrescerCréditoSolidário(SP),AgênciadeFomentodoAmapá,InstituiçãoComunitáriadeCréditodePelotas,BancodoPovodeImperatriz,CredProduzir,ICCItabunaSolidáriaeBanpope–BancoPopulardeJoãoMonlevade.
Em2001,surgiramoSãoPauloConfia,ICCBagé,ICCSantaMaria;BancodoPovodeItuiutabaeoBancodoPovodeUberlândia(MG).Naquelemesmoano,oServiçoBrasileirodeApoioàsMicroePequenasEmpresas(Sebrae)lan-çouoProgramadeApoioaoSegmentodeMicrocrédito.Portanto,formaram-sediversasinstituiçõesvoltadasparaotrabalhocomomicrocréditonoBrasil.
EssasinstituiçõesfundaramaABCRED(AssociaçãoBrasileiradeEnti-dadesdeMicrocréditoeMicrofinanças),quepossuisuasedenacidadedeSantoAndré,presididaatualmentepeloSr.AlmirdaCostaPereira,DiretorExecutivodoBancodoPovoCréditoSolidário.AABCREDtemcomopropósitocongregaras instituiçõesdemicrofinançasefortalecê-lasnodesenvolvi-mentodesuasatividades.
Economia informal e microempreendimento informal
ParaRodriguesetal.(2008),oconceitodeeconomiainformalabrangeasatividadeseconômicasque,nãosendoemsimesmailegal,seprocessaàmargemdalegislaçãovigente,especialmentenoâmbitofiscal.Entretantoas
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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular
queenvolvemodesrespeitoàsnormastrabalhistas,ambientaisequalidadedoprodutosãoigualmenteenquadráveisnesteconceito.JáparaPilagallo(2009,p.25),“economiainformaléaqueenglobatodasasatividadeseconômicasnãoregistradasquecontribuemparaoPIB”.
Aeconomiainformalincluiapenasaproduçãoeoserviçodisponíveisnomercadoquesãodeliberadamenteocultadosdasautoridadespúblicaspelasseguintesrazões:evasãofiscal,nãopagamentodecontribuiçõesàprevidênciasocial;nãocumprimentodepadrõeslegaisdomercadodetrabalho,taiscomosaláriomínimoenúmeromáximodehorasdetrabalho;enãoobservaçãodeprocedimentosadministrativos,taiscomoresponderquestionáriosestatísticos.(SCHNEIDER,2009apudPILAGALLO,2009,p.25).
SegundoTanzi(2009),asprincipaisconsequênciasdaeconomiainfor-malestãorelacionadasaosimpactosnosistematributário.Ogovernopodearrecadarmenosreceitasfiscaisdoqueonecessárioparaevitardificuldadesmacroeconômicas,tendoqueaumentarasalíquotasparacompensar.Umagrandeeconomiainformaltambémdesencorajaoinvestimentoprodutivoestrangeironopaís. Issopodeforçarogovernoacompensarasempresasestrangeiraspelosaltosencargostributárioscommaioresincentivosfiscais.Isso,porsuavez,podecriardistorçõeseproblemas,alémderesultaremimplicaçõesnosistemademercado,promovendoumaconcorrênciadesleal.
ParaPochmann(2005),osmicroempreendimentosinformaisnoBrasilabrangemoconjuntodeunidadeseconômicascujasatividadesproduzemalgumtipodeserviçooudebem,comafinalidadedegeraçãodetrabalhoerenda,comumentecaracterizadapelapequenaescaladeprodução,poucaorganizaçãoadministrativaesemnítidaseparaçãodosrecursosdonegócioefinançasdomésticas.Acomposiçãoocupacionaldosmicroempreendimentosemgeraléformadapelotrabalhadorporcontaprópria.Sãoproprietárioscomhabilidadesbásicaseatémesmodealgumasespecíficasadquiridaspelaexperiênciaprática,muitomaisdoqueproporcionadapelaformaçãoprofis-sionalclássica,naformadecursoseaprendizagemtécnica.
Crédito solidário
AmetodologiadegrupossolidáriosfoiaplicadaporMuhammadYunus,ganhadordoprêmioNobeldaPazem2006efundadordoBancoGrameenemBangladesh.Segundoele,éummétodoeficaznaofertademicrocrédito.
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Descobrimosinicialmentequeaconstituiçãodeumgrupoeraessencialaosucessodenossaempresa.Individualmenteumpobresesenteexpostoatodosostiposdeperigo.Ofatodepertenceraumgrupolhedáasensaçãodesegurança.Oindivíduoisoladotemtendênciaaserimprevisíveleindeciso.Numgrupoelesebeneficiadoapoioedoestímulodetodose,comisso,seucomportamentosetornamaisregulareelepassaaserumfinanciadomaisconfiável.Apressãomutuamenteexercida–demodoàsvezessutil,àsvezesnemtanto–mantémosmembrosdogrupoemconsonânciacomosobjetivosmaisamplosdoprogramadecrédito.Osentimentodecompetiçãoqueseinstauranogrupoetambémentreosdiferentesgruposincitaacadaumafazeromelhor.Édifícilcontrolarindivíduosquefazemumempréstimo,émuitomaisfácilfazê-loseelesintegramumgrupo.Alémdisso,transferirparaogrupoatarefadocontroleinicialaumentaaautoconfiançaediminuiotrabalhodosempregadosdobanco.(YUNUS,2008,p.135).
Naépocadaimplementaçãodametodologiadecréditosolidário,Ban-gladeshestavaemumcontextosocioeconômicocrítico.Em1974,opaísfoiacometidopela“TerrívelFome”,queagravouamisériaecausouumimensoêxodoruralparaacidadedeDaca,capitaldopaís.MuhammadYunus,entãoprofessordeeconomiadauniversidadelocal,passouaestudaraeconomiaregionalcomoobjetivodeencontrarumasoluçãoparaograveproblemaqueassolavaBangladesh.UmadaspercepçõesdeYunuseraquebarreirasaoacessoafontesderecursosfinanceirosacarretavamaexclusãodosmaisnecessitadosdaeconomiaformal,oqueacentuavaamisériaabsolutaemqueviviaopaís.Aqueleperíodofoiumaépocafavorávelparaagiotasindepen-dentes,queemprestavamdinheirofácilcomjurosabusivosparacompradematéria-primaeferramentas.Yunusiniciouentãoumprogramadeconcessãodeempréstimos,iniciandocomovalormédiodeUS$27parapequenosgruposdeumuniversode42pessoas.Paratransporabarreiradagarantia,omode-lodenegóciodoprofessorYunusdesconsiderouasregrasconvencionaisdeinstituiçõesfinanceiras,normalmentecarregadasdeburocraciaeexigênciasdegarantiasreais,econtoucomo“avalsolidário”.Esteavalconsisteemumgrupodepessoas,queseresponsabilizavamsolidariamentepelopagamentodoempréstimo,quandoomutuárionãoconseguequitar.
SpidolaeVilela(2007,p.21)afirmamque“Ametodologiadegrupossolidáriosrealizaoperaçõesparagruposdeempreendedoresdetrêsasetepessoas,compequenosnegócios,osquaisseco-responsabilizampelovalortotaldocrédito”.SegundoSilveira(2013,p.7),osgrupossolidáriosutilizamosistemade“fiançasolidáriaqueconsistenaassociaçãodepessoas–cada
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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular
qualresponsávelporumpequenoempreendimento–queassumemcoleti-vamenteasobrigaçõesquantoaoretornodosempréstimos”.
Ametodologiadegruposproporcionaaomutuárioasuaautodescobertaeaautoexploração.Quemrecebeomicrocréditocomeçaaexploraroseupotencialeaexercersuacriatividade,embuscadosmelhoresresultados,aumentandoaprobabilidadedocumprimentodesuasresponsabilidadesfinanceiras.
Ocréditosolidárioéumsegundopassonesseprocessodeconcessãoderecursosfinanceiros.Trata-sedeumsaltodequalidadeeumaexperiên-ciadesolidariedadetambémnabuscadosempréstimos.Ocréditosolidáriofundamenta-senotrabalhoemgrupodostomadoresdecrédito. Istoé,ocréditoseconcedeaumgrupodeempreendedoresenãomaisindividual-mente.Portanto,juntam-sepessoascomdiferentesatividadeseconômicase,cadaumcomsuademandaespecífica,forma-seumgrupoquerecebeovalortotaldasnecessidadesindividuais.Cadaumrecebeovalorindividualsolicitado,porémopagamentoserealizanumúnicocarnê,sobaresponsa-bilidadedetodos.Novencimentodaparcela,umintegrantedogrupofazaarrecadaçãodosvaloreseefetuaopagamentodocarnê.Comisto,cria-seovínculoearesponsabilidadesolidáriadecadaumparacomosnegóciosdetodososintegrantesdogrupo.
Aaplicaçãodametodologiadegrupossolidáriosfoiumasoluçãoparaesteimpasse,porémpoucoutilizadanoBrasil.Nossopaísémarcadopeladesigualdadesocial,ondepoucosganhammuitoeamaiorianãopossuinemosuficienteparaatenderasnecessidadesbásicas.Nestecenárioeconômico,aspessoasquenãopossuemempregosfixos,vendo-senanecessidadedegerarrendaparasuprirasnecessidadesbásicas,veemnonegóciopróprioumaoportunidadeparatal,masmuitasvezesfaltaocapitalfinanceiroparareali-zaremoinvestimentonecessárioparaaumentaremsuacapacidadeprodutiva.
Osgrupossolidáriosfornecemumaoportunidadedecréditoaosempre-endedores,queindividualmentenãosãoalcançadospelosistemabancáriotradicional.Estainiciativapermiteoacessoaumafonteformalderecursosfinanceiros,dispensandooauxíliodefamiliareseagiotas.Aresponsabilidadecoletivapelaquitaçãodoempréstimorepresentaumainovaçãocontratual,poistransferemosriscosfinanceiros,aavaliaçãoemonitoramentodasorga-nizaçõesparaosmutuários,induzindo-osacumpriremosseuscompromis-sos.Ocréditoconcedidoauxiliaasnecessidadesdefluxodecaixa,devidoàsinstabilidadesfinanceirasmomentâneas,alémdepossibilitaroinvestimento
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produtivo.EmBangladesh,temosumexemplodaaplicaçãobemsucedidadametodologiadegrupossolidáriospeloBancoGrameen,ondehouveumaumentonosrendimentosdosmutuários,quepossibilitaramaampliaçãodacapacidadeprodutivadeseusmicroempreendimentos.
Nestetextoconsta,maisàfrente,umaanálisedaaplicaçãodomicrocré-ditonosmicroempreendimentosinformaislocalizadosnomunicípiodeSantoAndré,regiãodograndeABC,ondeoBancodoPovoCréditoSolidárioatua.Buscaverificaroimpactonosrendimentosfinanceirosnestesmicroempreen-dimentos.Trata-sedaverificação“inloco”daexperiênciadeumainstituiçãodemicrocrédito,utilizandodametodologiadocréditosolidário.
Estaanálisecompreendetambémdemonstraravariaçãonovolumedeempréstimosconcedidosaosmicroempreendedoresesuarespectivacapacida-dedepagamentonoperíodoconsiderado,expondooaumentonosrendimen-tosdomutuário,demodoaevidenciaraeficáciadosgrupossolidárioscomoprincipalferramentadefomentonesteprocessoe,nestecontexto,identificaremensuraroprocessodeformalizaçãodestesmicroempreendimentosnoperíodode2010a2012,salientandoacontribuiçãodestefenômenoparaaadministraçãopúblicalocaleaeconomiaformaldaregião.
O Banco do Povo Crédito Solidário: experiência do Grande ABC
OBancodoPovoCréditoSolidário(2010)temcomomissão“oferecerserviçosfinanceirosaosempreendedorespopularesedebaixarenda,forta-lecendosuasatividadeseconômicasecontribuindoparaodesenvolvimentolocalesustentável”.Fundadoem1ºjaneirode1997,poriniciativadoentãoprefeitodeSantoAndré,CelsoDanieltinhacomoestratégiacriarpolíticaspúblicasdecombateàexclusãosocialnassuasáreasdeatuação.Iniciousuasatividadesem12demaiode1998,numaparceriaentreaPrefeituradeSantoAndré,oSindicatodosTrabalhadoresBancários,oSindicatodosMetalúrgicosdoABC,aAssociaçãoComercialeIndustrialdeSantoAndréeoSindicatodasEmpresasdeTransportedeCarga.
Ainiciativapartiudanecessidadedeaçõeslocaisdecarátereconômicoedeinclusãosocial,quealavancassemomicrocréditoamicroempreendedoresformaiseinformais,poisumcenáriodedesempregoerecessãopairavanoBrasil.Aideiaeraqueoacessoamicrocréditopudesseimpulsionarosmicro-empreendimentos,que,umavezbemfortalecidoseestruturados,poderiam
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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular
geraraumentoderendaedeempregolocal.Oprojetoocorreuporintermé-diodaSecretariadeDesenvolvimentoEconômicoeAçãoRegional(àépocaSecretariadeDesenvolvimentoEconômicoeEmprego)eatravésdaDiretoriadeGeraçãodeEmpregoeRenda.
Ocapitalinicialdoadopelossóciosfoidestinadoàcontrataçãodaequipetécnica,àformaçãodefundosnecessáriosparaacarteiradecréditoeestrutu-raparafuncionamento,ouseja,aoiníciodasatividadesdobanco.CabeaquiressaltarqueoBancodoPovodeSantoAndréfoiaprimeiraorganizaçãodogêneronoestadodeSãoPaulo.
Quandopelaentradadenovosparceiros,acoberturadobancofoiam-pliadaparaosmunicípiosdeMauá,RibeirãoPires,DiademaepartedeSãoBernardodoCampoatravésdaInstituiçãoPadreLéoComissari.ComissoonomedaorganizaçãopassouaserBancodoPovoCréditoSolidário(BANCODOPOVOCRÉDITOSOLIDÁRIO,2010).
OBancodoPovotemduasmarcantesfasesemseus16anosdeexistên-cia.Aprimeirafaseémarcadacomoumperíodoexperimentalededescober-tas,umperíododeadaptaçõese,porsetratardealgotãonovo,umperíododedesenvolvimentoinclusivedaequipetécnica.OServiçoBrasileirodeApoioàsMicroePequenasEmpresas(Sebrae)estevepresentedesdeentãofazendoassistênciatécnicaeparticipandocomorepresentantenoConselhodeAdmi-nistração.Nestafase,obancooperavacomcréditoindividualetinhacomogarantiaoavalista,alémderegistroformaloucarteiradetrabalhoassinada(BANCODOPOVOCRÉDITOSOLIDÁRIO,2010).Entendendoqueascondiçõesrequeridasdificultavamaampliaçãodoprojeto,poisnofinaldadécadade1990oBrasilcresciaataxasnulaseodesempregopairava,obancobuscoupormetodologiasquepudessemfazercomqueomicrocréditoatingisseaindamaismicroempreendedores.FoiquandoaparticipaçãodaequipedobanconoProgramaIntegradodeInclusãoSocial(atualMaisIgual)levouàimplementaçãodenovasformasdegarantiamaisligadasaosvaloreséticosemoraisdosmutuários.
OBancodoPovoCréditoSolidário,comsedeemSantoAndré,estácompletando15anosdeexistênciaem2013.SegundooSr.FábioMaschio,diretoradministrativo-financeirodainstituição1,obancotemhojeumacarteirade2.875clientesativosevisiona“serumainstituiçãodemicrofinançascommaisde10.000clientesativos,reconhecidanacionalmentepelaeficiênciana
1 InformaçãocoletadaemapresentaçãodoSr.FábioMaschio,diretoradministrativo-financeirodoBancodoPovoCréditoSolidário,nodia27deagostode2013.
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gestãodeprocessosemetodologiascreditícias”(BANCODOPOVOCRÉDITOSOLIDÁRIO,2010).
Hoje,oBancodoPovoCréditoSolidárioécompostoporumaequipetécnicademaisdevintepessoas.Éumareferênciadomicrocréditonopaísealgunsdeseusprofissionais,prefeiturasedemaissóciossãorequisitadoseatuamparaadisseminaçãodomicrocréditoemoutrasregiõesatravésdefóruns,associaçõeseoutrasorganizações.
Outrasinformaçõesdoanode2012tambémcorroboramobomdesem-penhodoBancodoPovoCréditoSolidário,tornando-aumaorganizaçãocomequilíbriooperacional.EmborasejaumaOscip(OrganizaçãodaSociedadeCivildeInteressePúblico)e,portanto,semfinslucrativos,oBancodoPovoCréditoSolidáriotematuadocomumpequenosuperávitnosúltimosanos,padrãoesperadoenecessário.
INFORMAÇÕES DO BPCS - 2012 Descriçãodoitem Quantificação
Carteiratotal R$ 4.9 milhões
N°declientesativos 2903 (21/12/2012)
Valortotalemprestadonoano R$10.5 milhões
N°operaçõescontratadasnoano 5863
ValoremprestadoemDez/12 R$1,7 milhões (21/dez.)
N°operaçõesrealizadasemDez/12 833
Inadimplência 0,93% (21/dez.)
EstaorganizaçãoteveetemcomoobjetivoaimplementaçãodaatividadedemicrocréditonaregiãodoGrandeABC,experiência,comojácomentamosnoiníciodestetexto,queteveinícionofinaldadécadade1970,quandoobengaliMuhammadYunuscriaoBancoGrameen.UtilizandoocapitaldoGovernodeBangladesh,iniciaotrabalhocomoperaçõesdemicrocrédito,emprestandodinheirosemgarantiasesempapéisamilhõesdepessoas,principalmentemulheres(97%dototal).Em2006,YunuséagraciadocomoPrêmioNobeldeEconomia.Apartirdestaexperiência,emoutrospaísesforamadotadaspráticassemelhantes:créditoparamilharesdepessoasefamíliasdebaixarenda,comoobjetivodefornecerrecursosfinanceiros,aindaqueparcos,masosuficienteparaqueosnegóciosfossemtocadoseasfamíliassobrevivessememelhorassemsuacondiçãodevidanaquelasocupaçõesquelhesdavamsustentação.
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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular
Apartirde2008,obancooptoupelametodologiadegrupossolidários,oquediminuiuoriscodaoperaçãodecréditosubstancialmente,devidoàscaracterísticassupracitadassobreametodologia.Talfatopodesermedidoatravésdataxadeinadimplência2,que,comopodeservistonográficoabaixo,passouporfortereduçãonoperíodo:
Gráfico 1 – Taxa de inadimplência do Banco do Povo Crédito Solidário
Fonte:BancodoPovoCréditoSolidário,2013.
Ametodologiasemostrouassertivatendoemcontaque,alémdadimi-nuiçãodataxadeinadimplência,acarteiradeclientesativosdobancocresceu32,5%eomontanteemprestadocresceu45,0%,totalizando10,6milhões3,entre2008e2012.
A aplicação da metodologia de grupos solidários: o funcionamento da metodologia
Essametodologiarealizaoperaçõesparagruposdeempreendedoresdequatroasetepessoas,compequenosnegócios,queassumemacorresponsabi-lidadepelovalortotaldocrédito.Aformaçãodessesgrupossedesenvolvepor
2 Ataxadeinadimplênciaédadapelarazãoentreosvaloresdacarteiraematrasoedacar-teiratotal.
3 InformaçãocoletadaemapresentaçãodoSr.FábioMaschio,diretoradministrativo-financeirodoBancodoPovoCréditoSolidário,nodia27deagostode2013.
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
meiodeumprocessoautônomo,noqualostomadoresdecréditoassociam-secomoutrosempreendedoresdesuaconfiança.Aessênciadessametodologiaestánoslaçoscriadosecultivados,osquaisexercempressãosocialentreosmembrosdogrupo.Auniãodogrupopossibilitaoacessoaocréditomaisbarato,oportunidadequeindividualmentenãoseriaoferecidanomercadotradicionaldecrédito.
Osgrupossolidáriosfuncionamcomomecanismodegarantiaeficazdepagamentodecrédito,devidoaosseguintesfatores:
a) auto-seleçãodosmembros,quesóseassociaramapessoasdesuaconfiança;
b) compromissointernopelapontualidadedospagamentosassociadoaumapolíticadecréditoqueincentivaapontualidade;
c) valordocréditoprogressivo,condicionadoaohistóricodepagamento;d) corresponsabilidadedetodosostomadorespelovalortotaldo
crédito.Dessaforma,nãoháanecessidadedeseremdadasoutrasgarantias,taiscomoavalistasoualienaçãodebens,ampliandooalcancedocréditoacomunidadesdebaixarenda.
UmordenamentopublicadopelarevistaThe EconomistmostraqueoBrasil,apesardeterumadasmaioreseconomiasdomundoeumsólidosis-temabancário,ocupaapenasa16ªposiçãonadistribuiçãodecréditoparaapopulaçãomaispobre.FicaatrásdePerueBolívia,porexemplo.
Apesardeasorganizaçõesqueemprestamdinheiroparapessoasefamíliasquepossuempequenosnegócios(formaisouinformais)atenderemnoBrasilumpatamarpróximode170milempreendedores,comumvolumedeR$340milhõesdeempréstimos,existeaindademandaparaseratendida.
UmBancodeMicrocréditoéumainstituiçãodestinadaatrabalharcomalinhadecréditodepequenosvalores,destinadosàpopulaçãoquegeral-menteficasemacessoaosistemadecréditooferecidopelaredebancária.Estetipodeinstituiçãofocaapopulaçãodebaixarendae,viaderegra,operanasperiferiasdasregiõesmetropolitanas.OpapelfundamentaldeumBan-codeMicrocréditoéproporcionarcondiçõesparaageraçãodeempregoerenda,apoiandoiniciativasdeempreendedorismodapopulação,pormeiodofornecimentodecréditoaospequenosnegócios.Destaca-se,entreseusobjetivos,acriaçãodeempregoerenda,proporcionandocondiçõesparaodesenvolvimentosocialeeconômicoparaacomunidadeondeoBancoatua.AgrandemaioriadosBancosdeMicrocréditofuncionacomoumaorganiza-çãosemfinslucrativos,normalmenteformalizadosemOscip(Organização
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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular
daSociedadeCivildeInteressePúblico),títulofornecidopeloMinistériodaJustiça,sendoregidospelaLeinº7.790,de23demarçode1999.Agrandedificuldaderesidenaformaçãodocapitalparautilizaçãonaofertadecrédito.SemdinheironãohácomooBancodeMicrocréditooperar.
ParaopresidentedaABCRED,Sr.AlmirdaCostaPereira,“omodeloju-rídicodeatividadenoBrasilprecisaevoluirparaquesejamdisponibilizadosmaisrecursosfinanceirosnoatendimentodosempreendedoresdasclassesderendasmaisbaixas”.
A pesquisa
Aoempreenderestapesquisa,pretendemosdemonstrarosresultadosobtidospelaofertadomicrocréditonomunicípiodeSantoAndréeapresentaroseupotencialdecrescimentonaregiãocomopolíticasocial.Omicrocrédi-toéumimportanteinstrumentodegeraçãoderenda,quecontribuiparaareduçãodapobrezaeinclusãosocial.Osmicroempreendedoresembairrosdebaixarendanomunicípiosãocarentesdecapitale,qualquer injeção,principalmentedecapitaldegiro,podeprovocaralavancagensfinanceirassignificativas.Ofatortrabalhoestádisponível,masfaltaofatorcapitalparaquehajaoaumentodaprodução.
Metodologia
Inicialmente,realizamosumapesquisadecamponaOrganizaçãodaSociedadeCivildeInteressePúblico(Oscip)BancodoPovoCréditoSolidário,poisestainstituiçãoadotaametodologiadegrupossolidáriosdesde2008,voltadaespecialmenteparaosmicroempreendedores,sendoqueamaioriadeleséinformalenãotemacessoaosistemabancáriotradicional.Seleciona-mosaunidadedaVilaLuzita,porapresentarumacarteiradeclientesativosrepresentativanomunicípiodeSantoAndré,alémdepossuirmutuáriosquecaptaramrecursosnoperíodode2010a2012.
Primeiramente,coletamosumaamostrade50clientesdoBancodoPovonaunidadesupracitada,correspondendoaproximadamentea10%daamostrageral.Estesclientessãointegrantesdegrupossolidários,possuemmicroempreendimentoslocalizadosemSantoAndréecaptaramemprésti-mosem2010,2011e2012.Valeressaltarqueoptamospormutuáriosquepermaneceramemummesmogrupodurantetodooperíodoconsiderado.A
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
partirdaí,osdadosforamtabuladosemordemcronológicaeporatividadeeconômica,possibilitandoavisualizaçãodaevoluçãodosvaloresconcedidosedacapacidadedepagamento.Partimosdopressupostodequeoaumen-tonovolumedeempréstimosconcedidoséumindicadordoaumentonorendimentofinanceirodasorganizaçõeseconômicasinformaisaolongodoperíodode2010a2012.
Emseguida,utilizamosamesmaamostraparaverificaramigraçãodasatividadesparaaeconomiaformalnoperíodoconsiderado.Estaverificaçãofoimensuradaatravésdopagamentodeimpostosdescritosnolevantamentosocioeconômicodosmutuáriosnoperíodopesquisado,levandoemconside-raçãoarepresentaçãopercentualdestesmutuáriosemrelaçãoaototaldeclientesabrangidospelaamostra.
Posteriormente,comparamosamédiadosvalorescontraídosdecadagraudeescolaridade,afimdeconstatarseograudeescolaridadedosadmi-nistradoresdosmicroempreendimentos(clientes)têminfluênciadiretasobovalordoempréstimoconcedido.
Análise dos dados
Aamostrautilizadanestapesquisaécompostaporclientesdediversossegmentosdaeconomia,especialmentenossetoresdocomércioedepresta-çãodeserviços,onderepresentam83%e17%dosclientesrespectivamente.Aotodo,aamostraabrange33atividadeseconômicasdiferentes.Aatividadepredominanteéobar,com14%daamostraselecionada,seguidopeloartesa-nato,cabeleireiro,merceariaepadariacom6%,ocupandoasegundaposição.Segueabaixoadistribuiçãodaamostraporatividadeeconômica.
Asoutrascategoriasrepresentam50%daamostra,nelaestãocontidas25atividadeseconômicasdistintas,distribuídasigualmentecom2%cadauma.Asreferidasatividadesforamlistadasnoquadro1:
Amaioriadosclientesécompostapormulheres(64%daamostra).Du-ranteacoletadedadospercebemosque,emsuamaioria,osgrupossolidáriossãoformadosporpessoasdomesmogênero,porémasatividadeseconômicassãodiversificadas.Estadiversificaçãoocorredevidoàconcorrênciadosiste-mademercado,emqueamaioriadosclientesatuaemregiõespróximasecompartilhamomesmomercadoregional.Osmicroempreendimentosana-lisadospossuem,emmédia,noveanosdefuncionamento,demonstrandoquepossuemcertasolidezeque,noperíodopesquisado,buscavamcapital
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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular
Gráfico 2 – Distribuição dos clientes por atividade econômica
Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.
Quadro1–Relaçãodasoutrasatividadeseconômicasabrangidaspelaamostra
Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
parainvestimento.Cercade60%dosmicroempreendedoresdedicam-seàatividadeduranteossetediasdasemana,eaproximadamente30%trabalhamseisdiasnasemana.
Comrelaçãoàfaixaetáriadosclientes,amaiorparteseconcentranointervaloentre40e49anos,seguidopor30e39anos.Segueadistribuiçãodaamostrapesquisadaporfaixaetária.
Tabela 1 – Distribuição dos clientes por faixa etária
Faixaetária Clientes Percentual20-29 1 2%30-39 15 30%40-49 18 36%50-59 14 28%60-69 1 2%70-79 1 2%
Totalgeral 50 100%Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.
Aamostratambémapresentoucertaconcentraçãonaetniadosclientes,ondepredominaabrancacom52%,seguidopelospardoscom26%daamostraselecionada.Segueabaixoadistribuiçãodaamostraporetnia.
Gráfico 3 – Distribuição dos clientes por etnia
Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.
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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular
Osmicroempreendimentos,emsuamaioria,sãofixosepróprios.Valeressaltarqueentreosmicroempreendimentosfixosepróprios,existemcasosemqueopontoestáestabelecidonomesmolocaldaresidência.Segueadistribuiçãodaamostraporponto.
Gráfico 4 – Distribuição por ponto (empreendimento).
Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013. Entreosclientesestudados,verificamosque20%nãopossuemconta
bancária.Destaforma,constatamosadificuldadequeestepúblicotemparacaptarrecursosfinanceirosnosistemabancáriotradicional.Abaixoadistri-buiçãodosmutuáriosporacessibilidadeaosistemabancário.
Tabela 2 – Distribuição dos clientes por acessibilidade ao sistema bancário.
Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.
Osdadostambémrevelaramque52%dosclientessãocasados,tornando--seassimoestadocivilpredominantenaamostra.Constatamosque32%daamostrapossuemtrêsdependentese26%possuemdoisdependentes.
Correntista Clientes PercentualSim 40 80%Não 10 20%
Totalgeral 50 100%
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
Gráfico 5 – Distribuição por número de dependentes
Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.
Observamosqueamaioriadosmicroempreendedorespossuiresidênciaprópria,indicandocertonívelderenda,possibilitandoaformaçãodepatrimônio.
Tabela 3 – Distribuição dos mutuários por residência
Residência Clientes PercentualPrópria 44 88%Alugada 4 8%Cedido 2 4%TotalGeral
50 100%
Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.
Rendimento dos microempreendimentos
Paraavaliaroimpactodomicrocréditonosrendimentosdosmicroe-emprendimentos informais,tabulamososvaloresconcedidosnoperíodode2010a2012.Selecionamosumempréstimoporano,demodoamediraevoluçãodosrendimentosanualmente.Valeressaltarqueosvaloresconce-didospelobancosãoinfluenciadospelanecessidadederecursosfinanceirosdecadaempreendimento,nãosignificandoumdecréscimonosrendimentos
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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular
aconcessãodevalorinferioraoempréstimoanterior.Pararefinaraanálisedosdadosutilizamostambémacapacidadedepagamento,demostrandooaumentonosrendimentosdeformadireta.Ambososvaloresforamdeflacio-nadospeloÍndicedePreçosaoConsumidor(IPC-Fipe),afimdepossibilitaravisualizaçãodovalorrealdosrendimentose,consequentemente,davariaçãopercentualreal.
AescolhadoIPC-Fipedeve-seàregionalizaçãodamediçãodavariaçãodoníveldepreços,delimitadaaomunicípiodeSãoPaulo,geograficamentepróximodomunicípiodeSantoAndré(regiãometropolitanadeSãoPaulo).Estaproximidadepossibilitaamensuraçãodaevoluçãodocustodevidadosmicroempresáriosandreenses.Aseguir,oíndice IPC-Fipenosanosde2010a2012,bemcomoonúmeroíndiceeofatordecorreção.
Tabela 4 – Índice IPC-Fipe
Ano IPC-FIPE(%)NúmeroÍndice Fatorde
Correção(base2012)2010 6,40 88,83 1,132011 5,81 94,51 1,062012 5,10 100,00 1,00
Fonte:FIPE,2013.
Apartirdesteíndiceosvaloresconcedidosaosmicroempresáriosforamdeflacionados,considerandoosvaloresde2012comobase,possibilitandoamediçãodavariaçãopercentualrealdosvaloresdosempréstimos.Valeressaltarqueselecionamosapenasumempréstimoporanoparafacilitaraanálise.Agrupamososclientespesquisadosporramodeatividadeeconômica.
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
Tabela 5 – Média dos valores concedidos e variação percentual real por ati-vidade econômica
Atividade 2010 2011 2012 Variação (%)
Artesanato R$1.651,13 R$1.975,06 R$1.933,33 8,21%
Bancadejornal R$1.688,66 R$3.174,20 R$3.000,00 33,29%
Bar R$2.766,18 R$3.248,27 R$3.255,71 8,49%
Mercearia R$2.439,17 R$3.170,68 R$2.666,67 4,56%
Borrachariaeautoelétrico R$1.125,77 R$2.645,17 R$3.000,00 63,24%
Brechó R$2.251,54 R$3.174,20 R$2.400,00 3,24%
Cabeleireiro R$1.801,23 R$2.151,40 R$3.033,33 29,77%
Comércio/sacolão R$3.377,31 R$3.174,20 R$3.000,00 -5,75%
Cosméticos R$2.138,96 R$2.888,52 R$2.480,00 7,68%
Costura R$1.688,66 R$2.750,98 R$3.000,00 33,29%
Diversos R$3.940,20 R$5.279,76 R$4.990,00 12,54%
Diversos/comércio R$1.046,97 R$2.116,14 R$3.000,00 69,28%
Doces R$1.170,80 R$1.100,39 R$1.500,00 13,19%
Drogaria R$2.026,39 R$3.703,24 R$4.990,00 56,92%
Feirante R$3.377,31 R$3.174,20 R$3.000,00 -5,75%
Feirante/flores R$1.125,77 R$2.063,23 R$2.000,00 33,29%
Lingerie R$1.857,52 R$2.248,39 R$2.600,00 18,31%
Lojaderoupas R$1.688,66 R$3.174,20 R$3.500,00 43,97%
Mini-mercado R$2.814,43 R$3.174,20 R$3.900,00 17,72%
Padaria R$1.898,80 R$1.587,10 R$2.433,33 13,20%
Pedreiro R$3.658,75 R$3.967,75 R$3.995,00 4,49%
Petshop R$562,89 R$846,45 R$1.200,00 46,01%
Prestaçãodeserv./conserto R$900,62 R$1.692,91 R$3.000,00 82,51%
Produtosdelimpeza R$4.277,93 R$5.279,76 R$4.990,00 8,00%
Quitanda R$3.039,58 R$4.232,27 R$2.000,00 -18,88%
Restaurante R$1.913,81 R$2.803,88 R$1.000,00 -27,71%
RevendedoradeYakult R$3.377,31 R$3.174,20 R$4.000,00 8,83%
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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular
Atividade 2010 2011 2012 Variação (%)Roupafeminina R$3.377,31 R$3.174,20 R$3.000,00 -5,75%
Roupa/cosméticos R$1.125,77 R$1.015,74 R$960,00 -7,66%
Roupasefrangoassado R$1.125,77 R$2.116,14 R$2.500,00 49,02%
Salãodebeleza R$2.532,98 R$2.539,36 R$2.400,00 -2,66%
Serralheria R$2.251,54 R$3.174,20 R$4.000,00 33,29%
Vendedordevidros R$3.546,18 R$4.761,30 R$4.990,00 18,62%
Médiageral R$2.267,98 R$2.822,29 R$2.929,20 13,65%
Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.
Notamosque,duranteoperíodopesquisado,osvaloresconcedidoscresceramemmédia13,65%,demonstrandoumaevoluçãonosrecursosfinan-ceirosdemandadosparainvestimentoe,consequentemente,osrendimentosdestesmicroempresários.Asatividadeseconômicasqueapresentaramumconsiderávelaumentoforam:prestaçãodeserviços(consertodepanelas),com82,51%;diversos(comércio),com69,28%;borrachariaeautoelétrico,com63,24%;edrogaria,com56,92%.Ondeobservamosqueosrecursosparainvestimentomaisquedobraram.
Acapacidadedepagamentofornecidapelolevantamentosocioeconô-mico(LSE)éadiferençaentreamédiadasreceitasdoempreendimentoeoscustos/despesasdomesmo.Porsetratardemicroemprendimentosinfor-mais,oscustospessoaistambémsãoconsiderados.Segueabaixoositenscontempladosnocálculodoscustos/despesas:alimentação,saúde,educação,vestuário,aluguel,água,luz,gás,telefone,salário/prestação.
SegundoinformaçõesdoBancodoPovoCréditoSolidário,outrosfato-ressãolevadosemconsideraçãonocálculodacapacidadedepagamento.Oagentedecréditodobancotambémverificaseoclientepossuialgumfinanciamento,omontantedevidoeonúmerodeparcelas.Conjuntamente,éfeitaaanálisedafrequênciadecomprasdeinsumos(matéria-prima)eacomputaçãodestecusto.Destaforma,acapacidadedepagamentopassaaserumindicadorquemostraoaumentonosrendimentosdeformadireta.
Entretanto,acapacidadedepagamentodosclientesselecionadoséme-didadeacordocomaperiodicidadedopagamentodoempréstimo,quepodesersemanalouquinzenal.Estaperiodicidadevariadeacordocomofluxodecaixadecadaempreendimento.Parasolucionaresteimpasseacapacidade
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
depagamentosemanalfoidobradaparaigualarcomaperiodicidadequin-zenal,poisamaioriadosclientes(74%daamostra)estáenquadradanestaperiodicidade.
Tabela 6 – Média da capacidade de pagamento e variação percentual real por atividade econômica
Atividade 2010 2011 2012 Variação (%)
Artesanato R$670,73 R$630,40 R$854,04 12,84%
BancadeJornal R$1.715,74 R$1.090,32 R$1.030,48 -22,50%
Bar R$367,81 R$338,88 R$462,50 12,14%
Borrachariaeautoelétrico R$816,79 R$1.160,76 R$833,31 1,01%
Brechó R$633,02 R$531,80 R$502,61 -10,89%
Cabeleireiro R$631,38 R$593,41 R$957,08 23,12%
Comércio/sacolão R$280,16 R$263,31 R$613,20 47,94%
Comércio/lingerie R$249,20 R$533,27 R$610,46 56,51%
Comérciodecosmético R$736,50 R$2.244,29 R$2.121,12 69,71%
Costura R$295,63 R$513,15 R$483,74 27,92%
Diversos R$719,64 R$961,04 R$1.453,67 42,13%
Diversos/comércio R$625,96 R$1.367,22 R$653,86 2,20%
Doces R$290,49 R$317,21 R$299,80 1,59%
Drogaria R$808,51 R$908,88 R$1.330,02 28,26%
Feirante R$1.284,19 R$1.993,82 R$1.084,40 -8,11%
Feirante/flores R$259,38 R$260,71 R$246,40 -2,53%
Lojaderoupas R$519,90 R$626,95 R$566,48 4,38%
Mercearia R$919,02 R$1.218,75 R$943,55 1,33%
Mini-mercado R$1.600,00 R$1.503,78 R$830,92 -27,94%
Outrascategorias R$614,41 R$577,46 R$552,47 -5,18%
Padaria R$964,34 R$634,17 R$700,66 -14,76%
Pedreiro R$1.516,14 R$1.427,28 R$1.549,97 1,11%
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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular
Atividade 2010 2011 2012 Variação (%)PetShop R$609,15 R$1.692,27 R$1.286,80 45,34%
Prestaçãodeserv./conserto R$192,27 R$125,85 R$168,43 -6,40%
Produtosdelimpeza R$1.768,77 R$1.752,46 R$1.656,28 -3,23%
Quitanda R$676,48 R$1.075,46 R$602,80 -5,60%
Restaurante R$1.069,09 R$1.238,76 R$1.053,45 -0,73%
RevendedoradeYakult R$790,88 R$156,01 R$147,45 -56,82%
Roupafeminina R$1.501,64 R$852,38 R$1.173,20 -11,61%
Roupa/cosméticos R$1.240,06 R$1.165,48 R$3.880,88 76,91%
Roupasefrangoassado R$1.615,69 R$1.518,53 R$270,00 -59,12%
Salãodebeleza R$859,77 R$1.692,02 R$528,44 -21,60%
Serralheria R$443,88 R$556,76 R$309,20 -16,54%
Vendedordevidros R$1.463,50 R$732,27 R$2.130,40 20,65%
MédiageralR$881,52R$921,55R$909,18
1,56%
Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013. Observamosque,duranteoperíodoconsiderado,acapacidadedepa-
gamentoaumentouemmédia1,56%,demonstrandoumaevoluçãorealnorendimentofinanceirolíquidodosmicroempresários.Devemosponderarqueumaumentosubstancialnorendimentoprovocaumamelhorianaqualidadedevidaeporconsequênciaoscustos/gastosfamiliaresseelevam.Porestemotivo,acapacidadedepagamentosópoderámostrarorendimentoqueestálivredequalquerdespesa.Mesmocomumamédiadeaproximadamente2%,orendimentodosempresáriospodeteraumentadosignificativamente.
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
Processo de formalização
Aoanalisarmososmutuários,observamosque90%destesclientesatuamnaeconomiainformal.Segueabaixoadisposiçãodosclientesqueatuamnaeconomiaformaleinformal.
Gráfico 6 - Distribuição dos clientes que atuam na economia formal e informal
Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.
Duranteoperíodopesquisadoconstatamosapenasaformalizaçãodeumclientedaamostra,correspondendoa2%daamostraestudada.Estaverificaçãofoimensuradaatravésdopagamentodeimpostosdescritosnolevantamentosocioeconômico,vistoqueocadastramentodosclientesésem-prerealizadopeloCadastrodePessoaFísica(CPF).Considerandosomenteosclientesquetrabalhamnaeconomiaformal,compostopor5clientes(10%daamostra),percebemos,comoditoanteriormente,queoprocessodeformaliza-çãodeumclientedaamostraocorreuem2012.Osdemaisforamformalizadosemumperíodoanteriora2010.Seguedisposiçãodosclientesqueatuamnaeconomiaformaldeacordocomoperíodoemqueseformalizaram.
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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular
Tabela7–Distribuiçãodosclientesqueatuamnaeconomiaformalporperíodo
Período Clientes Percentual
Anteriora2010 4 80%
2012* 1 20%
TotalGeral 5 100%
Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.*Abrangidopeloperíodopesquisado(2010a2012).
Nível de escolaridade
Amaioriadosclientesselecionadospossuioensinofundamentalincom-pleto(antigo1°grau),correspondendoa40%daamostra.Comrelaçãoàfaixaetáriadosclientes,amaiorparteseconcentranointervaloentre40e49anos,seguidopor30e39anos,estesclientesnaidadeescolarsedepararamcomosmaisvariadosproblemasqueresultaramnaevasãoescolar.Segueadistribuiçãodaamostraporgraudeescolaridade.
Gráfico 7 – Distribuição dos clientes por nível de escolaridade.
Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.
Comparamosamédiadosvalorescontraídosdecadagraudeescola-ridade,afimdeverificarseograudeinstruçãodosadministradoresdos
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A políticA públicA e o pApel dA universidAde
microempreendimentos(clientes)têminfluênciadiretasobomontantedovalordoempréstimoconcedido.Contudoconstatamosqueosclientesquereceberamumvalormaiorpossuemoensinofundamentalincompleto,se-guidopeloensinomédioincompleto.Segueamédiadosvalorescontraídosporníveldeescolaridade.
Tabela 8 – Média dos valores contraídos por nível de escolaridade
Níveldeescolaridade Médiadevalorcontraído2010
Médiadevalorcontraído2011
Médiadevalor
contraído2012
Ensinofundamentalincompleto R$2.285,00 R$3.033,50 R$3.148,50Ensinofundamentalcompleto R$1.708,57 R$2.065,71 R$2.465,71Ensinomédioincompleto R$2.050,00 R$2.878,00 R$2.660,00Ensinomédiocompleto R$1.895,00 R$2.518,13 R$3.060,63Ensinosuperiorincompleto R$1.000,00 R$960,00 R$960,00
Ensinosuperiorcompleto R$1.500,00 R$2.600,00 R$3.000,00
Médiageral R$2.014,60 R$2.667,40 R$2.929,20
Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.
Aoanalisarosdadoscomprovamosqueograudeinstruçãonãointerfe-resignificativamentenovalorconcedido,poisdependedeoutrasvariáveis,dentreelaspodemosdestacaranecessidadederecursosfinanceirosdecadaempreendimentoeosegmentoemqueoempreendimentoatua.
Considerações finais
Apósanalisarmososdados,verificamosquehouveumaumentodovalordosempréstimosconcedidosaosmicroempreendedores,bemcomoasuarespectivacapacidadedepagamentonoperíodoconsiderado.Notamosqueosvaloresconcedidoscresceramemmédia13,65%,enquantoqueacapa-cidadedepagamentoapresentouumcrescimentodeaproximadamente2%,mostrandoqueomicrocréditoporintermédiodosgrupossolidárioséumaferramentadefomentoparaosmicroempreendimentosinformaispermitindoaosmicroempresáriosrealizaremoinvestimentonecessárioparaaumentarem
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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular
suacapacidadeprodutivadeacordocomasnecessidadesdomercadoemqueatuam,alémdemelhorarsuaqualidadedevida.
Comrelaçãoaoprocessodeformalização,constatamosapenasaformali-zaçãodeumclientedaamostra,correspondendoa2%daamostraestudada.Esteresultadoéinfluenciadoporoutrosfatoresaquinãoexplorados.Esteprocessotambémépassíveldepolíticasadotadaspelogovernoemdiferentesesferas,sendoomicrocréditosomenteineficaznesteprocesso.
Observamosqueograudeinstruçãonãointerferesignificativamentenovalorconcedido,poisanecessidadederecursosfinanceirosdecadaempreen-dimentoexerceumainfluênciamaiorcomovariável.Amaioriadosclientesdobancopossuioensinofundamentalincompletoeentreelesestãoosmutuáriosquecaptaramosmaioresvolumesderecursosfinanceiros.
Osbenefíciosdomicrocréditonãoserestringemsomenteaosrendimen-tosfinanceirosdosmicroempresários,mas,também,àeconomiaregional.AmaioriadosempreendimentosabrangidosporestetrabalhoatuanocomérciodosbairrosdomunicípiodeSantoAndréqueofertamosmaisvariadosbenseserviços.Estecenáriopromoveummercadocompetitivoemquesebuscamqualidadenosbenseserviçosofertados,produtividade,preçoscompatíveis,alémdeimpulsionarodesenvolvimentoeconômicodaregião.Osconsumi-doreslocaissãobeneficiadoscomestaconjuntura,poispartedesuasrendascircularánosprópriosemquemoram,trazendoinvestimentoeminfraestru-turaecrescimentoeconômico.Omicrocréditoéumimportanteinstrumentodegeraçãoderenda,quecontribuiparaareduçãodapobrezaeainclusãosocial,constituindoumapoderosaeeficazferramentaaserexploradacomopolíticasocialalternativa.
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Das pessoas jurídicas nos empreendimentos de economia solidária
José Celso Martins*Rosângela Marques Consônio**
* Advogado,mestreemDireitoPolíticoeEconômicoeespecialistaemDireitoEmpresarialpelaUniversidadePresbiterianaMackenzie.ProfessordaFaculdadedeDireitodaUniversidadeMetodistadeSãoPaulo,pedagogo.PresidentedoTribunalArbitraldeSãoPaulo(TASP)eintegrantedaSBCSol.
**BacharelemDireitopelaUniversidadeMetodistadeSãoPaulo(Umesp).Atuação:AssistenteJurídica.
Introdução
A organizaçãodosistemacapitalistaexigequeaexploraçãodequal-queratividadeestejarepresentadaporumapessoajurídicaqueseráosujeitodedireitoseobrigaçõesnaordemcivil.Aformalizaçãode
umempreendimentodeeconomiasolidáriasetornanecessáriaparaqueoempreendimentopossasedesenvolverdentrodosistema,sobpenadeficaràmargemenãoterapossibilidadedeexercerumaatividaderegularmente.Paraqueessetipodeempreendimentopossafazerpartedosistemaeconô-micotradicional,mesmosendoumpequenoempreendimento,devetersuasituaçãoregularizada.Aformadeconstituiçãodeumempreendimentodeveráserpreferencialmentepormeiodeumacooperativa,associaçãoouorganiza-çãonãogovernamental(ONG).(retirarestapalavra)Osempreendimentosdeeconomiasolidáriatemcomoprincipalobjetivoainclusãosocioeconômicadepessoasegrupospormeiodeiniciativasdetrabalhoquepossamserde-senvolvidasdeacordocomavocaçãoeaspossibilidadesdeumaatividademercantilàdisposiçãodeumapessoa,deumgrupodepessoasoudeumacomunidade.(retirarestapalavra)oempreendimentosolidárioédiferente
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daempresatradicional,namedidaemqueseusobjetivosnãoestãovoltadosparaolucro,masparagarantirasobrevivênciadeseusempreendedores.Alémdessacaracterísticadiferenciadora,noempreendimentosolidárionãohápatrões,namedidaemquenãoháumproprietáriodocapitaledosmeiosdeprodução,porumladoe,poroutro,pessoasquevendemsuaforçadetrabalhoàempresa,osempregados.Essesempreendimentoscomercializamseusprodutoseserviçosnomercadodeconsumoqueéregidopelasregrasdocapitalismo.
Nessesentido,osistemacapitalistaexigequeaexploraçãodequalqueratividademercantilestejarepresentadaporumempresárioouumapessoajurídicaqueseráosujeitodedireitoseobrigaçõesnaordemcivil.Apessoaqueiráresponderpelosnegóciosrealizadospeloempreendimentoepelasobrigaçõeslegaisdecorrentesdaatividadeexploradadeveseridentificadaad-ministrativamente.Arealizaçãodeoperaçõesmercantis,indústria,comércioouprestaçãodeserviçosimplicaráemobrigaçõesfiscais,trabalhistasetributáriasquesurgirãoindependentementedavontadedaquelesqueresponderemporestesempreendimentos.Assim,arealizaçãodenegóciosimplicaemrespon-sabilidadesalémdaquelascontratualmenteassumidaspeloempreendedor.
Defato,aformalizaçãodeumempreendimentodeeconomiasolidáriaénecessáriaparaqueoempreendimentopossasedesenvolverdentrodosistemacapitalistadeproduçãoecomercialização.Oprocessodeforma-lizaçãodoempreendimentotorna-secondiçãoparaseudesenvolvimentoeregularidadedeoperaçõesmercantis;énecessárioqueconsigaemitirnotasfiscaisecomprovantes, ter inscriçõesemórgãospúblicos,dentreoutrasformalizaçõesAviabilizaçãodeatividadesnormaisdeorganizaçãoprodutiva,comercialoudeserviços,como,porexemplo,avendadeumprodutoouserviço,aaberturadeumacontabancária,ousodecartõesdecrédito,aobtençãodefinanciamentos,dentreoutrasnecessidadessimples,somenteocorreráseoempreendimentoestiverregularizadoperanteosórgãospúblicoscompetentes.Destaforma,paraqueumempreendimentodeeconomiasolidáriapossafazerpartedosistemaeconômicotradicional,mesmosendoumpequenoempreendimento,deverátersuasituaçãojurídicaeadministrativaregularizada.
Poroutrolado,aadequaçãodeumempreendimentodeeconomiasolidá-riaaosistemaeconômicoaindacarecedeumreconhecimentoedeumaformajurídicaespecífica.Assim,àmínguadeumaformasimplificadaeadequadaparaumapropostaquetemumobjetivosocial,muitomaisqueeconômico,e
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destaformadeveriamreceberumtratamentomaisbrandonoqueserefereàsobrigaçõesfiscais,tributáriaseadministrativasperanteoEstado.
Nessecapítulo,sãoabordadasduas,entreaspossibilidadesdeforma-lizaçãodosempreendimentosdeeconomiasolidária–ascooperativaseasassociações–caracterizando-sesuasimplicaçõeseresponsabilidadesperanteoEstadoeperanteterceiros.
O empreendimento de economia solidária
Oespíritodeumempreendimentodeeconomiasolidáriaéodeincluirsocialmenteaquelaspessoasque,semrecursosoucomparcosrecursospes-soaisefinanceiros,possamvivercomdignidadeepossamfazervalerseusdireitosprevistosnaConstituiçãoFederal.
AConstituiçãoFederal(BRASIL,1988),desdeseuartigoprimeiro,ditacomofundamentosdenossoEstadodemocráticodedireitoacidadania,adig-nidadedapessoahumana,osvaloressociaisdotrabalhoedalivreiniciativaecontinuaemseuartigoterceiroadeclarar,comoseuobjetivo,aconstruçãodeumasociedadelivre,justaesolidária,quepossagarantirodesenvolvimentonacional,comaerradicaçãodapobrezaedamarginalização,comareduçãodasdesigualdadessociaiseregionaiseporfimpromoverobemdetodos,sempreconceitodeorigem,raça,sexo,cor,idadeequaisqueroutrasformasdediscriminação.
EstasaspiraçõesdaCartaMagnaimpõemoincentivoaosempreendi-mentosdeeconomiasolidáriaearegularizaçãodeprojetosdessanaturezadeveocorrercombasenaslegislaçõesexistenteseemoutrasquedeverãosersancionadasparamelhoriadosistema.
MarcosArruda(1996)apresentouotextoGlobalização e sociedade civil: repensando o cooperativismo no contexto da cidadania ativa,paraaConferên-ciasobreGlobalizaçãoeCidadania,organizadapeloInstitutodepesquisadaONUparaodesenvolvimentosocial.Nestetextoeleabordaocooperativismoautogestionárioesolidáriocomopropostaparaumdesenvolvimentoque“reconstruaoglobalapartirdadiversidadedolocaledonacional”:
Énesseprocessoqueganhaenormeimportânciaapráxisdeumcooperativismoau-tônomo,autogestionárioesolidário,queinovanoespaçodaempresacomunidadehumanaetambémnarelaçãodetrocaentreosdiversosagentes;[...]oassociativismoeocooperativismoautogestionários,transformadosemprojetoestratégico,podemser
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osmeiosmaisadequadosparaareestruturaçãodasocioeconomiananovaeraqueseanuncia.(ARRUDA,1996).
Umempreendimentodeeconomiasolidáriaé,naverdade,umaempresanoseuconceitoeconômico,masnãooénoseusentidosocial.Umaempresaserevelapeloconjuntodebensorganizados,queagregadoacapitaletra-balhoexploraumaatividademercantilcomoobjetivodelucro(REQUIÃO,2012,p.86).
Aoconceitodeempresasegueoconceitodeempresário,queéoagentequesearriscanaexploraçãodeumaatividadeeconômicacomoidealizadoreorganizadordoempreendimento,comautilizaçãoounãodemãodeobraempregada,comoobjetivodelucro(COELHO,2013,p.126).
Estesconceitosestãoadequadosaomodelocapitalistadeexploraçãodeatividadeeconômica.Porém,nãoésomenteissoqueseesperadeumempreendimentodeeconomiasolidária.OprofessorPaulSinger(2000,p.14)assimdiscorresobreestemodeloeconômico:
Aeconomiasolidáriaéoprojetoque,eminúmerospaíseshádoisséculos,trabalhado-resvêmensaiandonapráticaepensadoressocialistasvêmestudando,sistematizandoepropagando.Osresultadoshistóricosdesteprojetoemconstruçãopodemsersinte-tizadosdoseguintemodo:1.Homensemulheresvitimadospelocapitalorganizam-secomoprodutoresassociadostendoemvistanãosóganharavidamasreintegrar-seàdivisãosocialdotrabalhoemcondiçõesdecompetircomasempresascapitalistas;2.Pequenosprodutoresdemercadorias,docampoedacidade,seassociamparacomprarevenderemconjunto,visandoeconomiasdeescala,epassameventualmenteacriarempresasdeproduçãosocializada,depropriedadedeles;3.Assalariadosseassociamparaadquiriremconjuntobenseserviçosdeconsumo,visandoganhosdeescalaemelhorqualidadedevida.
AevoluçãodestemodeloesuapráxistambémforamdefinidasporPaulSinger(2008,grifonosso):
Nóscostumamosdefinireconomiasolidáriacomoummododeproduçãoquesecarac-terizapelaigualdade.Pelaigualdadededireitos,osmeiosdeproduçãosãodeposse coletivadosquetrabalhamcomeles–essaéacaracterísticacentral.Eaautogestão,ouseja,osempreendimentosdeeconomiasolidáriasãogeridospelosprópriostraba-lhadorescoletivamentedeformainteiramentedemocrática,querdizer,cadasócio,cada membro do empreendimento tem direito a um voto.Sesãopequenascooperativas,nãohánenhumadistinçãoimportantedefunções,todomundofazoqueprecisa.Agora,
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quandosãomaiores,aíhánecessidadequehajaumpresidente,umtesoureiro,enfim,algumasfunçõesespecializadas,eissoéimportantesobretudoquandoelassãobemgrandes,porqueaíumagrandepartedasdecisõestemquesertomadaspelaspessoasresponsáveispelosdiferentessetores.Elestêmqueestritamentecumpriraquiloquesãoasdiretrizesdocoletivo,e,senãoofizeremacontento,ocoletivoossubstitui.Éoinversodarelaçãoqueprevaleceemempreendimentosheterogestionários,emqueosquedesempenhamfunçõesresponsáveistêmautoridadesobreosoutros.
Assim,umempreendimentodeeconomiasolidárianãotemum“empresá-rio”responsávelpeloempreendimento,mastodososenvolvidossãogestoresdeumnegóciocujosmeiosdeproduçãosãodeposseoupropriedadecoletivae,portanto,nãoexisteatradicionalexploraçãodohomempelohomemcomaconsequentedivisãodeclassescomoocorreemumarelaçãodeemprego.
AConstituiçãoFederal(BRASIL,1988),noseuartigo5º,XVIII,tratadasassociaçõesedascooperativascomodireitoegarantiafundamentaleesclareceque,constituídasnaformadalei,estaspodemoperarindependentementedeautorizaçãoeévedadaemseufuncionamentoainterferênciadopoderestatal.
Portanto,umempreendimentodeeconomiasolidáriairáexplorarumaatividadeeconômica,masfaráissocomapropriedadecoletivadosmeiosdeproduçãoeosparticipantesdoempreendimentoserãogestoresdonegócioparticipandoemigualdadenasdecisõesnecessáriasparaodesenvolvimentoemelhoriadoempreendimento,alémdeseremosresponsáveisperanteosórgãospúblicoscompetentes.
As cooperativas
Ascooperativassão,porexcelência,omodeloidealparaaformalizaçãodeumempreendimentodeeconomiasolidária.Odireitoàcriaçãodecoope-rativasestáprevistonaConstituiçãoFederalemseuartigo5º,XVIIIeoseuincentivoporpartedoEstadonoartigo174,parágrafo2º1.
Temosaindalegislaçõesespecíficasquedisciplinamasquestõesligadasàscooperativas.ALei5.764de1971éalegislaçãomaiscompletaeésempreareferênciaquandoexistedúvidasobredeterminadasquestõesespecíficassobreoregimecooperativo.
1 ConstituiçãoFederal,artigo174:Comoagentenormativoereguladordaatividadeeconômica,oEstadoexercerá,naformadalei,asfunçõesdefiscalização,incentivoeplanejamento,sendoestedeterminanteparaosetorpúblicoeindicativoparaosetorprivado.[...]§2º–Aleiapoiaráeestimularáocooperativismoeoutrasformasdeassociativismo.(BRASIL,1988)
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Osartigos1.093a1.096doCódigoCivilde2002(BRASIL,2002)tambémtrazeminformaçõesimportantessobreocooperativismonoBrasil.
ALeinº12.690,de19dejulhode2012(BRASIL,2012),modificouaconstituiçãoeofuncionamentodascooperativasdetrabalhoeinstituiuoProgramaNacionaldeFomentoàsCooperativasdeTrabalho(Pronacoop),alémderegulamentarasatividadesexercidaspeloscooperados.Estanovalegislaçãoveiodeencontrocomasnecessidadesdedesenvolvimentodosempreendimentosdeeconomiasolidária.
O conceito de cooperativa
Umacooperativaéumaformadeuniãodeesforçosquesãocoordenadosentrepessoassemhierarquiaousubordinaçãoentresi,quevivememregimedecolaboraçãoparaumafinalidadesocialeeconômica.Apalavracooperativaderivadolatimcooperatio, quesignificaaaçãodecooperar,umaprestaçãorecíprocadeauxíliocomum.
EdivâniaBiachinPanzan(2006,p.48)esclarecequeacooperativanãotemobjetivoslucrativos,masvisaàprestaçãodeserviçosemfavordosassociadosoucooperadosequeosmembrosaderemvoluntariamenteàcooperativa,sendoonúmerodeassociadosilimitado.Oobjetivoprincipaldascooperati-vasé,portanto,areuniãodepessoascompontosdevistacomuns,objetivoscomuns,comhabilidadescomuns,quebuscammelhoriasnacondiçãodevidadeseusassociados,nasmaisamplasediversaspossibilidades.
Osistemacooperativotemporobjetivoaigualdadedohomemnaso-ciedade,independentementedesuaclassesocial.Predominaaproduçãoeadistribuiçãoigualitáriaequivalenteàproduçãodecadaumefundamenta-senareuniãodepessoasenãodocapital.Visanaverdadeatenderasnecessidadesdeumdeterminadogrupoenãonecessariamenteobterlucro.
Breve histórico do cooperativismo no Brasil e no mundo
Desdeapré-históriaohomemseutilizadosistemacooperativoparaseudesenvolvimento.Desdequandoohomemviviacomonômade,oshomensseorganizavamemgruposparaacaçaeparaapescaedepoiscompartilhavamoresultadocomosgruposqueviviamgregariamente.
Aprimeiracooperativaorganizadaformalmentenomodeloqueconce-bemoshojefoiadostecelõesdeRochdale,bairrodacidadedeManchester,
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naInglaterra,em21dedezembrode1844,entãodenominadaSociedadedosProbosdeRochdale.Acooperativafoifundadapor27homenseumamulher,comcapitaldeumalibracadaum,tendocomoobjetivoacompraeofornecimentodealimentos(COOPERATIVISMO...,2013).
AcooperativadeRochdalenãofoioprimeirosistemacooperativodahistória,vistoqueoutrascivilizaçõesemoutrasépocastambémfizeramusodosistema,masos“pioneirosdeRochdale”foramaquelesquemelhorempregaramosprincípiosdocooperativismosetornandoreferênciaparaaevoluçãoeimplantaçãodosistemanaEuropaedepoisemtodoomundo.
EmoutrospaísesdaEuropa,outrosmodelosdecooperativasforamsedesenvolvendodeacordocomanecessidadeeascircunstânciaseconômicasesociaisdecadapaís.NaInglaterraseimplementaramascooperativasdeconsumo,naAlemanhaascooperativasdecréditoenaFrançaascooperativasdeprodução.(CACOGNA,1980,p.9).
NaItália,em1919,jáexistiam2.351cooperativasdetrabalho,amaioriadoramodaconstrução(cooperativasdetrabalhadoresbraçais,britadores,pedreirosecarregadores,etc.).Asobraseramcontratadasdiretamentepelosprópriostrabalhadores.(MAUAD,2001,p.28).
NoBrasil,osistemacooperativotambémcontalongahistória.Aprimeiracooperativaformalmenteconstituídafoiem1891,chamadadeAssociaçãoCooperativadosEmpregadosdaCompanhiaTelefônica,emLimeira,SãoPaulo.Depoisseseguiramoutras,comoaCooperativaMilitardeConsumo,noDistritoFederal,em1894;aCooperativadosEmpregadosdaCompanhiaPaulistadeEstradasdeFerro,em1897;eaCooperativadeCréditodeNovaPetrópolis(RS)em1906.(HISTÓRIA...,2013).
OBrasilcontahojecomaproximadamente7.600cooperativasemaisde9milhõesdeassociados,alémdeumaorganizaçãorealizadapelosEstadosfederativos,eumacentral,queéaOrganizaçãodasCooperativasBrasileiras(OCB)queéoórgãomáximoderepresentaçãodascooperativasnopaís(OR-GANIZAÇÃO...,2013).
Entresuasatribuições,aOCBéresponsávelpelapromoção,fomentoedefesadosistemacooperativistaemtodasasinstânciaspolíticaseinstitucio-nais.Édesuaresponsabilidadetambémapreservaçãoeoaprimoramentodessesistema,oincentivoeaorientaçãodassociedadescooperativas.Hojesão27organizaçõesestaduais(emSãoPauloéchamadadeOCESP)com7.566cooperativasem13ramosdeatividadesdiferentes.
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TambémexisteaindaumaentidaderepresentativamundialchamadaAliançaCooperativaInternacional(ACI). AAliançaCooperativaInternacionaléaorganizaçãoderepresentaçãodocooperativismoededefesadaidenti-dadecooperativaemnívelmundial.ComsedeemGenebra,naSuíça,existehámaisde100anosecongregacercade800milhõesdepessoasligadasa230organizaçõescooperativasemmaisde100países.
AscooperativasrepresentamgrandepodereconômicoeofomentoaestemodelonoBrasil,comapromulgaçãodenovasleiseregulamentos,vaideencontrocomaampliaçãodosempreendimentosdeeconomiasolidária.
As características do regime cooperativo
Ascooperativassãosociedadesdepessoas,comformaenaturezajurídicapróprias,sendosuanaturezacivil.Ascooperativasnãoestãosujeitasàfalência,sãoconstituídasparaprestarserviçosaosseusassociados.Elassediferen-ciamdasdemaisformasdesociedadesporpossuiralgumascaracterísticaspeculiares,dentreasquaisdestacamosaquelasprevistasnoartigo4ºdaLeiFederalnº5.764/71etambémnoartigo1.094doCódigoCivil(BRASIL,2002):
Sãocaracterísticasdasociedadecooperativa:I–variabilidade,oudispensadocapitalsocial;II–concursodesóciosemnúmeromínimonecessárioacomporaadministraçãodasociedade,semlimitaçãodenúmeromáximo;III–limitaçãodovalordasomadequotasdocapitalsocialquecadasóciopoderátomar;IV–intransferibilidadedasquo-tasdocapitalaterceirosestranhosàsociedade,aindaqueporherança;V–quorum,paraaassembleiageralfuncionaredeliberar,fundadononúmerodesóciospresentesàreunião,enãonocapitalsocialrepresentado;VI–direitodecadasócioaumsóvotonasdeliberações,tenhaounãocapitalasociedade,equalquerquesejaovalordesuaparticipação;VII–distribuiçãodosresultados,proporcionalmenteaovalordasopera-çõesefetuadaspelosóciocomasociedade,podendoseratribuídojurofixoaocapitalrealizado;VIII–indivisibilidadedofundodereservaentreossócios,aindaqueemcasodedissoluçãodasociedade.
Ascooperativassãosociedadesdepessoas.Aindapossuemoutrasca-racterísticasprópriasquetambémdevemserconsideradas,como:aadesãovoluntária,comnúmeroilimitadodeassociados,salvoimpossibilidadetécnicadeprestaçãodeserviçospelacooperativa;avariabilidadedocapitalsocialrepresentadoporquotas-partes;alimitaçãodonúmerodequotas-partesdocapitalparacadaassociado,facultado,porém,oestabelecimentodecritérios
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deproporcionalidade,seassimformaisadequadoparaocumprimentodosobjetivossociais;aimpossibilidadedecessãodasquotas-partesdocapitalaterceiros,estranhosàsociedade;asingularidadedevoto,podendoascoo-perativascentrais,federaçõeseconfederaçõesdecooperativas,comexceçãodasqueexerçamatividadedecrédito,optarpelocritériodaproporcionali-dade;adeterminaçãosobreoquórumparaofuncionamentoedeliberaçãodaassembleiageralbaseadononúmerodeassociadosenãonocapital;adeterminaçãodecomodeveráserretornodassobraslíquidasdoexercício,proporcionalmenteàsoperaçõesrealizadaspeloassociado,salvodeliberaçãoemcontráriodaassembleiageral;aindivisibilidadedosfundosdereservaedeassistênciatécnicaeducacionalesocial;aneutralidadepolíticaeindiscri-minaçãoreligiosa,racialesocial;aprestaçãodeassistênciaaosassociadose,quandoprevistonosestatutos,aosempregadosdacooperativa;aáreadeadmissãodeassociadoslimitadaàspossibilidadesdereunião,controle,operaçõeseprestaçãodeserviços(BRASIL,1971)2.
Todasestascondiçõeslegaiscaracterizamosistemacooperativoeotor-namúnicodentrodoregimejurídicodaspessoasjurídicasnodireitobrasileiro.
Épossívelaindadestacaroutrascondiçõespeculiaresaosistemaco-operativo.Ossóciospoderãoresponderlimitadaouilimitadamentepelasresponsabilidadessociaisdacooperativa.Oestatutodeverápreveraformaderesponsabilidadedossóciosquepoderãorespondersomentecomsuaquotapartenaproporçãodesuaparticipaçãonasoperaçõesouresponderilimitadamentepelasobrigaçõessociais(BRASIL,2002,1971)3.
Associedadescooperativaspoderãoadotarporobjetoqualquergênerodeserviço,operaçãoouatividademercantil,poréméobrigatórionasuade-nominaçãoousodaexpressão“cooperativa”(BRASIL,1971)4.
Ossegmentosjáconsagradoscomocooperativassãoosramosdaagro-pecuária,doconsumo,docrédito,oeducacional,especial,habitacional,infraestrutura,mineral,produção,saúde,trabalho,transporteeturismoelazer;masaleinãotrazlimitessobreaatividade,quepoderáseraquelaquemelhoratenderaosassociados.
Osistemacooperativopossuitambémsímbolosqueidentificamascoo-perativas.Oprincipalsímboloéumcírculoabraçandodoispinheirinhos,que
2 Lei5.764/71,artigo4º.3 CódigoCivil,Lei10.406/2002,artigo1.095eartigos12e13daLei5.764/71.4 Lei5.764/71,artigo5º.
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indicaauniãoecoesãodomovimento(círculo),aimortalidadeeeternidadedeseusprincípios,afecundidadedeseusideais,eavitalidadeeenergiadeseusadeptos.Tudoistomarcadonatrajetóriaascendentedospinheirosqueseprojetamparaoalto,procurandosubircadavezmais.
Tambémrepresentaascooperativasabandeiracomascoresdoarco-íris;eo1ºsábadodejulhoéconsagradocomoodiadocooperativismo.
A constituição das sociedades cooperativas
Associedadescooperativassãoconstituídasapartirdeumadeliberaçãoemassembleiadeseussóciosfundadores,quefarãoredigirarespectivaata.Noatoconstitutivodeumasociedadecooperativadeverãonecessariamenteconstaradenominaçãodaentidade,suasede,oobjetodeseufuncionamento,onome,nacionalidade,idade,estadocivil,profissãoeresidênciadosseusassociadosfundadoresqueassinarãooinstrumento.Tambémdeveráconstarovalordaquotapartedecadaum.
Aprovadooestatuto,osassociadosdeverãoindicaraspessoaseleitas,quedevidamentequalificadasirãocomporosórgãosdeadministração,fis-calizaçãoeoutrosquesefizeremnecessáriosparaorganizaçãodaentidade.
Oestatutodacooperativadeveráobrigatoriamenteindicarascondiçõesprevistasnoartigo21daLei5.764/71,sobpenadeserindeferidoopedidoderegistro.Sãocondiçõesindispensáveis:
I–Adenominaçãoadotadaparaacooperativa,asedecomadeterminaçãoprecisadolocalondeseráinstaladaaentidade,prazodeduraçãoouaindicaçãoqueacooperativaestásendoconstituídaporprazoindeterminado,aáreadeação,eoobjetodasociedadediscriminandoqualseráaatividadeaserdesenvolvida,alémdadoperíododefixaçãodoexercíciosocial,quenormalmenteéde01dejaneiroa31dedezembro,dadatadolevantamentodobalançogeral;II–Osdireitosedeveresdosassociados,comadeterminaçãodanaturezadesuasresponsabilidadeseascondiçõesdeadmissão,demissão,eliminaçãoeexclusãodosassociados,alémdasnormasparasuarepresentaçãonasassembleiasgerais;III–Determinaçãodovalordocapitalmínimo,ovalordaquota-parte,omínimodequotas-partesasersubscritopeloassociado,omododeintegralizaçãodasquotas--partes,bemcomoascondiçõesdesuaretiradanoscasosdedemissão,eliminaçãooudeexclusãodoassociado;IV–Aformadedevoluçãodassobrasregistradasaosassociados,oudorateiodasperdasapuradasporinsuficiênciadecontribuiçãoparacoberturadasdespesasdasociedade;
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V–Omododeadministraçãoefiscalização,estabelecendoosrespectivosórgãos,comdefiniçãodesuasatribuições,poderesefuncionamento,arepresentaçãoativaepassi-vadasociedadeemjuízoouforadele,oprazodomandato,bemcomooprocessodesubstituiçãodosadministradoreseconselheirosfiscais;VI–Asformalidadesdeconvocaçãodasassembleiasgeraiseamaioriarequeridaparaasuainstalaçãoevalidadedesuasdeliberações,vedadoodireitodevotoaosquenelastivereminteresseparticularsemprivá-losdaparticipaçãonosdebates;VII–Oscasosdedissoluçãovoluntáriadasociedade;VIII–Omodoeoprocessodealienaçãoouoneraçãodebensimóveisdasociedade;IX–Omododereformaroestatuto;X–Onúmeromínimodeassociados.
Todasociedadecooperativadeverápossuirumlivrodematrícula,umlivrodeatasdasassembleiasgerais,outrodeatasdosórgãosdeadministra-ção;deverá,ainda,terumlivrodeatasdoconselhofiscal,depresençadosassociadosnasassembleias,alémdeoutrosfiscaisecontábeisqueforemobrigatóriosdeacordocomaatividademercantildacooperativa.
Ocapitalsocialserásubdivididoemquotas-partes,cujovalorunitárionãopoderásersuperioraomaiorsaláriomínimovigentenopaís.Paraaformaçãodocapitalsocialpoder-se-áestipularqueopagamentodasquotas--partessejarealizadomedianteprestaçõesperiódicas,independentementedechamada,pormeiodecontribuiçõesououtraformaestabelecidaacritériodosrespectivosórgãosexecutivosfederais(BRASIL,1971)5.
Ascooperativassãoobrigadasaconstituirumfundoreservadestinadoarepararperdaseatenderaodesenvolvimentodesuasatividadesdenomínimo10%dassobraslíquidasdecadaexercíciocontábil.
Assobras líquidassãoapuradascontabilmentecomaapuraçãodosresultadoslíquidosdasoperaçõeseconômicasdacooperativa,tendocomoreferênciatodasasreceitasmenostodasasdespesasnecessáriasparaode-senvolvimentodaatividadeeconômicaproposta.
Tambémseránecessáriaacriaçãodeumfundodeassistênciatécnica,educacionalesocialdestinadoàprestaçãodeassistênciaaosassociadoseseusfamiliares,quedeverárepresentarnomínimo5%dassobraslíquidasapuradasemcadaexercício,sendoqueoestatutopoderápreverigualfundodestinadoparaosempregadosdacooperativa.
5 Lei5.764/71,artigo25.
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Aadmissãodeassociadosélivreesemnúmeromáximodeassociadosdesdequedentrodospadrõesdeterminadospelosórgãosnormativosdecadacooperativaparaaspessoasqueexerçamdeterminadaatividadeouprofissãodeinteressedacooperativa.
Ademissãodosassociadosocorreráapartirdeumpedidodopróprioasso-ciadooupoderáserafastadoporpráticadeinfraçãolegalouestatutária,sendoquesuaexclusãodeveráseranotadanolivrodematrículadeformamotivada.
Os órgãos sociais
Todasascooperativasdevemserorganizadasapartirdeassembleiaseconselhosadministrativosefiscais.Aassembleiageraléoórgãosupremodasociedadeedentrodoslimiteslegaiseestatutáriostempoderesparadecidirsobreosnegóciosdeinteressedacooperativaepodetomartodasasdecisõesqueentendernecessáriasparaasuadefesaetambémparaseucrescimentoedesenvolvimentodacooperativa.Asdecisõesedeliberaçõesrealizadaspelaassembleiavinculamtodososassociados,presentesounão,quedeverãoseguireaceitaroquefordeterminado.
Asassembleiasgeraisdevemserconvocadascomprazomínimodedezdiasdeantecedênciaemconvocaçãoquedeveserfeitadiretamenteaossóciosetambémpormeiodeeditaisafixadosemlocaispróprios.Oquórumnecessárioparaasdeliberaçõesserádeterminadoconformeoestatutoeserádeterminadoemprimeira,segundaouatéterceiraconvocação.
Asassembleiasgeraisordináriasserãorealizadasanualmentenostrêsprimeirosmesesapósotérminodecadaexercíciosocial.Nessaassembleiadeverãoserdeliberadasquestõessobreaprestaçãodecontas,destinaçãodassobras,eleiçãodoscomponentesdosórgãosdeadministração,conselhofiscaleoutrosassuntosdointeressedasociedade,salvoasquestõesquedevemserdeliberadasemassembleiageralextraordinária.
Asassembleiasgeraisextraordináriasserãorealizadassemprequefornecessárioepoderãodeliberarsobrequalquerassuntodeinteressedasocie-dade,porémotemadeveserespecificadonoeditaldeconvocação.
Édecompetênciaexclusivadasassembleiasgeraisextraordináriasdeli-berarsobreareformadoestatuto,sobreafusão,incorporaçãooudesmem-bramentodacooperativa,amudançadoobjetodasociedade,adissoluçãovoluntáriadasociedadecomanomeaçãodos liquidanteseascontasdoliquidante.
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Todacooperativateráobrigatoriamenteumórgãodeadministraçãoresponsável,queseránecessariamenteformadopelosassociadosporman-datonuncasuperioraquatroanos,sendoqueesteconselhoaofinaldecadamandatodeveserrenovadoempelomenosumterço.
Oconselhoadministrativopoderácontratartécnicosqueentendernecessáriosparaaboaadministraçãoedesenvolvimentodasociedade.Osadministradoresnãoserãoresponsáveispelasobrigaçõescontraídaspelaco-operativa,salvonascooperativasdecrédito,cooperativasagrícolasmistasedehabitação,quandoresponderãosolidariamentepelosprejuízosresultantesdeseusatos,especialmenteseprocederemcomdoloouculpa.
Oconselhofiscaltemporfinalidadefiscalizar,assíduaeminuciosamente,aadministraçãodasociedade,queseráconstituídaportrêsmembrosefetivosetrêsmembrossuplentes,quedeverãosertodosassociadosedemocratica-menteeleitosemassembleiageral,sendopermitidasomenteareeleiçãodeumterçodeseusmembros.
As alterações e da dissolução das sociedades cooperativas
Associedadescooperativaspodemsofrermudançasnaformadesuacomposiçãoerepresentação.
Afusãoéadmitidaentreduasoumaiscooperativasparaacriaçãodeumanovasociedade,bemcomoaincorporaçãodeumacooperativaporou-traque,nestecaso,assumetodasasobrigaçõesdasociedadeincorporada.
Odesmembramentodeumacooperativaemoutras,deacordocomaespecialidadeeointeressedeseusassociados,tambémépossível,sendoquenestecasoseráformadaumacomissãoqueirádeliberarsobreaformacomoseráfeitoorateiodopatrimôniodacooperativaobjetododesmembramento.
Adissoluçãodassociedadescooperativaspoderáocorreremdiversassituações,comopreceituaoartigo63daLei5.764/71,dentreosquaisdes-tacamososseguintes:quandoassimdeliberaraassembleiageral,desdequeosassociados,totalizandoonúmeromínimoexigidoporestaLei,nãosedis-ponhamaassegurarasuacontinuidade;pelodecursodoprazodeduração,quandooestatutodispusersobreoprazodeduraçãodasociedade;quandohouverprevisãoexatasobreaconsecuçãodosobjetivospredeterminados;devidoàalteraçãodesuaformajurídica;pelareduçãodonúmeromínimodeassociadosoudocapitalsocialmínimose,atéaassembleiageralsub-sequente,realizadaemprazonãoinferiora6(seis)meses,elesnãoforem
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restabelecidos;pelocancelamentodaautorizaçãoparafuncionarpelosórgãospúblicoscompetentes;oupelaparalisaçãodesuasatividadespormaisde120(centoevinte)dias.
Adissoluçãodasociedadeimportaránocancelamentodaautorizaçãoparafuncionaredoregistro,esenãoforespontaneamentesolicitada,estapoderáocorrerpormedidajudicial,requeridaporqualquerassociado,ouporiniciativadeórgãoexecutivofederal.
Quandoadissoluçãofordeterminadaemassembleiageral,estadeter-minaráumliquidanteouumconselhofiscalresponsávelpelaliquidação.
As cooperativas de trabalho no regime da Lei 12.690/2012
OregimeadotadopelaLei12.690/12geroumelhorescondiçõesparaacriaçãodecooperativasnomodelodosempreendimentosdeeconomiasolidária.Referidoregimeémaisflexívelcomalgumasobrigaçõeseadmitesuaconstituiçãocommenornúmerodeassociados(naLei5.764,onúmeromínimoédevinteassociados,enquantoquenanovalegislaçãoonúmeromínimoédeseteassociados).
Apresenteleipromoveascooperativasdetrabalhoparaqueestaspos-samflexibilizarosprincípiosjámencionados,coibindopossíveisfraudesemrelaçãoàssuasatividadeslaborais6.
Nesteliame,comoobjetivodeafastarcertasfraudes,oartigo2ºdaLei12.690/12estabelecequeascooperativasdetrabalhosãosociedadesconstituídasportrabalhadoresvisandomelhorqualificação,renda,situaçãosocioeconômicaecondiçõesgeraisdetrabalho.
Valeressaltar,deacordocomavigênciadestalei,queoartigo3ºexpressaclaramenteosprincípiosnorteadoreseosvaloresdeumsistemacooperativis-ta,quedevemserobservadoserespeitados,sobpenadenãoserconcedidososbenefíciosespecificamenteprevistosnesteregimejurídico.
Aadesãodoassociadodeveservoluntáriae livre;agestãodeveserdemocráticacomaparticipaçãoeconômicadosmembros,quedevematuarcomautonomiaeindependência;devehaverasaçõesvoltadasparaumaeducação,formaçãoeinformaçãocontínua;deve,também,haverintercoo-peraçãoentreascooperativas;aatividadeaserdesenvolvidadeveatender
6 Oparágrafoúnicodoartigo442daCLTdispõesobrea“inexistência”devínculoempregatícioentreacooperativaeseusassociados,eentreosprestadoresdeserviços.
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aointeressedacomunidade,comapreservaçãodosdireitossociais,dovalorsocialdotrabalhoedalivreiniciativa,semqueocorraemqualquerhipóteseaprecarizaçãodotrabalho.
Agestãodeveserdemocráticacomrespeitoàsdecisõesdeassembleia,observandoqueocorraaparticipaçãodetodososassociadosnagestãoparatodososníveisdedecisão,deacordocomoprevistoemleienoEstatutoSocial.
AgestãodascooperativassobestenovoregimedeveobservardireitossemelhantesàsgarantiassociaisprevistasnaConstituiçãoFederalenaCLT.
Assim,nãopoderãoocorrerpelosassociadosretiradasinferioresaopisodacategoriaprofissionale,naausênciadeste,nãoinferioresaosaláriomíni-mo,calculadasdeformaproporcionalàshorastrabalhadasouàsatividadesdesenvolvidas.
Deveráserrespeitadaaduraçãodajornadadetrabalhonormalnãosuperiora8(oito)horasdiáriase44(quarentaequatro)horassemanais,excetoquandoaatividade,porsuanatureza,demandaraprestaçãodetrabalhopormeiodeplantõesouescalas, facultadaacompensaçãodehorários.Tambémorepousosemanalremuneradodeveserobservado,preferencialmenteaosdomingos.
Haverátambémdireitoaférias,comoprevisãoderepousoanualremu-nerado,alémdodireitoderetiradasuperiorparaotrabalhonoturnoemcom-paraçãocomotrabalhodiurno,adicionalsobrearetiradaparaasatividadesinsalubresouperigosaseaindasegurodeacidentedetrabalho.
Aprevisãodestasgarantiassociaisnãonecessitaseraplicadadeformaimediataaosseusassociados,poismuitasvezesseránecessáriaacriaçãodeumfundoedeacordocomaspossibilidadesdegestãodacooperativa,masécertoqueocumprimentodestasobrigaçõesdevefazerpartedasmetasaserematingidaspelasociedadecooperativa.
Aredaçãodoartigo7ºgaranteeprotegeosdireitosdoscooperados,queficamequiparadosaosdireitosqueaprincípiosão“semelhantes”aosdosempregadosceletistas,masocertoéqueapresentelegislaçãoestádeacordocomalegislaçãocomparadaecomasrecomendaçõesdaOrganizaçãoInternacionaldoTrabalho(OIT)edaOrganizaçãoInternacionaldeCooperati-vasdeProduçãoIndustrial,ArtesanaledeServiços(Cicopa)(TROCOLI,2012).
Acooperativadetrabalho,sobaégidedaLei12.690,poderáadotarporobjetosocialqualquergênerodeserviço,operaçãoouatividade,desdequeprevistonoseuestatutosocial.Assimficalimitadoomodelodecooperativa,quenãopoderáserexclusivamentecomercialoudeconsumo.
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Nadenominaçãosocialdacooperativaéobrigatórioousodaexpressão“cooperativadetrabalho”paraidentificarotipodecooperativaealegislaçãoquenorteiaseusprocedimentoseresponsabilidades.
Osempreendimentosdeeconomiasolidáriapoderãoserconstituídoscomopessoasjurídicasnaformadecooperativasecooperativasdetrabalho,sendoesteúltimomodelomaisadequadoemrazãodesuamaiorsimplicidadenasuaconstituiçãoegestão.
Aleiquecriouascooperativasdetrabalhoirásubsidiariamentesevalerdaleiprincipaldascooperativas(Lei5.764/71)paraasoluçãodequestõesqueestaleieventualmentenãotenhaprevisão.Assim,conhecerasduasle-gislaçõeséimperativoparaoestudodaspossibilidadesdeformalizaçãodosempreendimentosdeeconomiasolidáriaempessoasjurídicassujeitasdedireitoseobrigaçõesnaordemcivil.
As associações
Asassociaçõestambémconhecidas internacionalmentecomoONGs(organizaçõesnãogovernamentais)surgemcomooutraspossibilidadesderegularizaçãodeempreendimentosdeeconomiasolidária,comopessoasjurídicascapazesdedireitoseobrigações.
Asassociaçõessãopessoasjurídicasregulamentadasapartirdoartigo44atéoartigo61doCódigoCivilBrasileiro.
Asassociaçõesseconstituempelauniãodepessoasqueseorganizamcomobjetivoscomuns,porémsemfinslucrativoseapartirdestesinteressescomunsconstituemumapessoajurídica.
Quantoàconstituiçãodepessoajurídica,éválidofrisarmosquetantoacooperativaquantoaassociaçãosãoconsideradaspessoasjurídicasdedireitoprivado,naformadalei.
AinscriçãodoatoconstitutivodaassociaçãodeveserfeitanoCartóriodeRegistroCivildePessoaJurídica,emformapúblicaouparticular,garantindoocomeçodasuaexistêncialegalcomopessoajurídica.
JoséEduardoSaboPaes(2006,p.63)define:
Aassociaçãoéumamodalidadedeagrupamentodotadadepersonalidadejurídica,sendopessoajurídicadedireitoprivadovoltadaàrealizaçãodeinteressesdosseusassociadosoudeumafinalidadedeinteressesocial,cujaexistêncialegalsurgecomainscriçãodeseuestatutonoregistrocompetente,desdequesatisfeitososrequisitoslegais,queelatenhaobjetivolícitoeestejaregularmenteorganizada.
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Porserdotadadepersonalidadejurídica,aexistênciadaassociaçãoeoreconhecimentodedireitoseobrigaçõesserãodistintosdaspessoasdeseusassociados.Teráseupatrimôniopróprio,quedeveráserempregadosempreemordemeafavordosassociadosparaqueseconsigaatingirafinalidadeproposta,enãopode,emqualquerhipótese,serusadaparausoprópriodeseussócios.
Asassociaçõesnormalmentesãoconstituídasparafinalidadesbenefi-centes,científicas,religiosas,desportivasouliterárias.Destaforma,pessoasquetenhamestesobjetivospoderãoseuniràconstituiçãodeassociaçõescomestesobjetossociais.
Assimcomoascooperativas,aliberdadedeassociaçãoeodireitodeassociar-seconstituemumdireitosocialconsistentenafaculdadequedis-pomosdenosunireformargruposereuniõesdepessoas.Umaassociaçãoteráumafinalidadeespecíficacomobjetivoseideaiscomunsentresi,sendoquecadaassociado,comamesmadisposiçãoqueadentraparaaassociação,podeseretirarquandoquiser.
Asassociaçõesorganizadasnasáreasdeeducaçãooudeassistênciaso-cialserãoconsideradasimunesquantoaorecolhimentodetributosquandoatenderemosrequisitosdeimunidadeprevistosnaConstituiçãoFederaldaRepúblicaelegislaçãocomplementar,taiscomoaprestaçãodeserviços,asociedadeemgeralsemfinslucrativos(TOZZINI;BERGER,2003).
OCódigoCivilde2002define,emseusartigos53eseguintesaformadeconstituiçãodasassociaçõeseasformalidadesquedevemserobservadasparaaquelesqueaderiremaosistema.
Diferentedoqueocorrenascooperativas,nasassociaçõesnãohá,entreosassociados,direitoseobrigaçõesrecíprocos.Destaforma,asobrigaçõeseosdireitosdecadaassociadoestarãodeterminadosnaleienoestatutodainstituiçãosemqueentreosassociadosexistamdireitoseobrigações,sendoqueestesexistirãosomenteentreosassociadoseaassociação.
Paraserconsideradoválido,oestatutodaassociaçãodeveobservarcondiçõesmínimasqueestãodispostasnoartigo54doCódigoCivil.Assim,aconstituiçãodeumaassociaçãodeveconterobrigatoriamenteemseuestatutosuadenominação,osfinsaquesedestinaeasededaassociação;quaissãoosrequisitosmínimosnecessáriosparaaadmissão,demissãoeexclusãodosassociados;quaissãoosdireitosedeveresdosassociados;quaisserãoasfontesderecursosparasuamanutenção;qualomododeconstituiçãoedefuncionamentodosórgãosdeliberativos;quaisascondiçõesparaaalteração
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dasdisposiçõesestatutáriaseparaasuadissolução;qualserásuaformadegestãoadministrativaedeaprovaçãodasrespectivascontas.
Aosassociadosdevehaverdireitosiguais,masoestatutodaentidadepodeinstituircategoriascomvantagensespeciais,porémtalqualidadedeassociadoéintransmissível,salvoseoestatutodispuserdeoutraforma.
Seoassociadofortitulardequotaoufraçãoidealdopatrimôniodaas-sociação,suatransferêncianãoimportaránaatribuiçãodestaqualidadedeproprietárioaoassociado,aoadquirenteouaoseuherdeiro,salvosehouverexpressaprevisãoemcontrárionoestatutodaentidade.
Aexclusãodoassociadosóéadmitidaquandohouverjustacausa,assimreconhecidaemprocedimentoqueasseguredireitoderespostaederecorreraoassociadoexcluído,deacordocomostermosdorespectivoestatuto.
Eporfim,emsetratandodosdireitosgarantidosaosassociados,nenhumassociadopoderáserimpedidodeexercerdireitooufunçãoquelhetenhasidolegitimamenteconferido,anãosernoscasosprevistosnaleiounoestatuto.
Assim,especialmentenoâmbitocultural,beneficenteedesportivo,aspessoaspoderãosevalerdasassociaçõesparaaregulamentaçãodeumem-preendimentodeeconomiasolidária.Oobjetivonãopodeserlucro,masapossibilidadededesenvolvimentodeumgrupooucomunidade,comacriaçãodeescolas,centrosculturaisedesportivos,dentreoutros,estápresentenestemodelodeformaçãodapessoajurídica.
Conclusão
OsempreendimentosdeeconomiasolidáriaprecisamserlegalmenteconstituídosparaquepossamexerceratividadeeconsequentementeficareminseridosnosistemaburocráticoeadministrativodoEstadobrasileiro.
Aampliaçãodeoportunidadesedepostosdeserviçopormeiodaeco-nomiasolidáriacumprecomdispositivosdaConstituiçãoFederalquepreveemacidadania,adignidadedapessoahumana,osvaloressociaisdotrabalhoedalivreiniciativacomofundamentos,alémdedeclararcomoobjetivoaconstruçãodeumasociedadelivre, justaesolidária,quepossagarantirodesenvolvimentonacional,comaerradicaçãodapobrezaedamarginalização,comareduçãodasdesigualdadessociaiseregionaise,porfim,promoverobemdetodos,sempreconceitodeorigem,raça,sexo,cor,idadeequaisqueroutrasformasdediscriminação.
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Nãoexistenodireitobrasileiroummodelolegalespecíficoderegula-mentaçãodeempreendimentosdeeconomiasolidária.Asformaspossíveisderegulamentaçãodosempreendimentossãoascooperativas,ascooperativasdetrabalhoeasassociações.
Todasasformasdeconstituiçãodaspessoasjurídicaspossuemlegisla-çõesprópriasquedevemserseguidasobservandoascaracterísticasdecadamodelo,sobpenadenãoseconseguiroregistronoórgãocompetenteoucometerirregularidadesdegestãoquepoderãogerarresponsabilidadesaosseusrepresentantes.
AscooperativasestãoregulamentadaspelaLei5.764de1971epelosartigos1.093a1.096doCódigoCivilde2002.AscooperativasdetrabalhoestãosobaégidedaLei12.690/12comautilizaçãosubsidiáriadasleisdascooperativasedoCódigoCivil,enquantoqueasassociaçõesestãoprevistasnoCódigoCivilemseusartigos53a61.
Acriaçãoeodesenvolvimentodosempreendimentosdeeconomiaso-lidáriatêmanecessidadedeterumaconstituiçãoegestãoqueatendamascaracterísticaslegaisdecadamodelo.Casonãoocorraadevidaadequação,aentidadeestaráirregularenãoconseguirásedesenvolverdentrodocenárioeconômico-administrativoqueregulamentatodasasatividadesmercantisdesenvolvidasnopaís.
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