CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO
CAMPUS ENGENHEIRO COELHO
CURSO DE TRADUTOR E INTÉRPRETE
A TRADUÇÃO TEATRAL: SHAKESPEARE “DO SEU JEITO”
LAILA MELIGA DOS REIS
ENGENHEIRO COELHO
2010
LAILA MELIGA DOS REIS
A TRADUÇÃO TEATRAL: SHAKESPEARE “DO SEU JEITO”
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de bacharel em Tradutor e Intérprete pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo, campus Engenheiro Coelho, sob orientação da Prof. Ms. Sônia Maria Mastrocola Gazeta.
ENGENHEIRO COELHO
2010
Trabalho de Conclusão de Curso, elaborado por Laila
Meliga dos Reis, para obtenção do título de Bacharel
em Tradutor e Intérprete, sob o título “Tradução
teatral: Shakespeare „Do seu jeito‟”, apresentado no
dia 21 de novembro de 2010.
Orientador: Profª. Ms. Sônia Mastrocola Gazeta
Prof. Ms. Neumar de Lima
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus em primeiro lugar, ao apoio e orações da minha família, à
minha querida amiga e colega Stéphanie Sarli Marconi, aos meus professores e à
minha orientadora professora Sônia.
“The more pity, that fools may not
speak wisely what wise men do
foolishly.”
(Shakespeare)
RESUMO
Esta monografia se insere na área da tradução teatral, com enfoque na
adaptação e modernização de uma obra literária. São apresentadas características
do autor e da obra para a tradução do primeiro ato da obra As you like it (1599) do
dramaturgo britânico William Shakespeare (1564-1616) para o português brasileiro.
Para a realização da monografia, três capítulos foram definidos: no primeiro capítulo
há uma pequena biografia do autor, acompanhada de uma cronologia de suas
obras. Na segunda parte do capítulo, foi explicado como era a época em que o autor
mais escreveu, dando características da Era Elizabetana. Para o segundo capítulo,
foi posta uma breve análise de como as obras de Shakespeare chegaram ao Brasil
através de traduções, comentando também sobre alguns tradutores importantes
para a época e nos dias atuais. No terceiro capítulo, além do texto-fonte e do texto-
alvo, sua segunda parte contém comentários sobre a tradução e adaptação da obra.
Palavras-chave: Tradução teatral, adaptação, William Shakespeare.
ABSTRACT
The area of research of this paper is theatrical translation, focused on version
and updating of a literary work. Some characteristics of the author and of the work
are shown for the translation of the first act of the play As you like it (1599), by the
British playwright William Shakespeare (1564-1616) into Brazilian Portuguese. To
accomplish the paper three chapters were defined: in the first chapter there is a short
biography of the author followed by the chronology of his works. In the second part of
the first chapter, it was explained how the era in which the author wrote more
extensively, giving some characteristics of the Elizabethan Age. In the second
chapter, a short analysis of how Shakespeare‟s works arrived in Brazil through
translations and also comments about some of the important translators for those
days and today. In the third chapter, in addition to the source text and target text,
there will be commentaries about the translation and version of the work.
Key-words: Theatrical translation, version, William Shakespeare.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 08
2 HISTÓRICO .................................................................................................... 09
2.1 BIOGRAFIA DE SHAKESPEARE.................................................... 09
2.2 CRONOLOGIA DAS OBRAS .......................................................... 11
2.3 A ERA ELIZABETANA E SHAKESPEARE...................................... 12
3 SHAKESPEARE BRASILEIRO E A PEÇA .................................................... 14
3.1 SHAKESPEARE NO BRASIL – UMA BREVE ANÁLISE................. 14
3.2 SOBRE A PEÇA “DO SEU JEITO” ................................................. 15
4 A TRADUÇÃO DA OBRA ............................................................................... 17
4.1 TEXTO FONTE E TEXTO ALVO .................................................... 17
4.2 A TRADUÇÃO E A ADAPTAÇÃO ................................................... 77
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 79
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 80
8
1 INTRODUÇÃO
Shakespeare pode ser encontrado em muitos, lugares, músicas, livros e
mesmo frases. Muitas pessoas o citam. Quando pensam que uma música ou um
texto são bonitos, não fazem a mínima ideia de que, na maioria das vezes, deve-se
à inteligência e pensamentos desse grande poeta.
No entanto, por mais que seja fácil de encontrá-lo, o escritor considerado o
mais famoso no mundo não é lido por todos como deveria. Na verdade, muitos lêem
indiretamente, mas a obra, o texto original, não. Por mais que sejam obras
acessíveis, a linguagem encontrada não é. Apesar de ser uma linguagem muito
bonita e extremamente poética, para muitos, isso torna a leitura mais cansativa e
desanimadora.
O mais triste é pensar que estes materiais tão preciosos não sejam lidos por
crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Existem pessoas que apreciam
muito uma linguagem mais “rebuscada”, mas, se para a leitura se tornar mais
assídua entre as pessoas for preciso renovar e modernizar um pouco, por que não
fazê-lo? E é nisso que este trabalho consiste.
Aqui serão apontados fatos históricos biográficos de William Shakespeare e
também da época em que ele mais trabalhou, que se inclui no reinado da rainha
Elizabeth I (Era Elizabetana). Além dos fatos históricos, o presente trabalho irá lidar
com a tradução do primeiro ato de uma peça, cujo nome em inglês seria: “As you like
it”, aqui traduzida como: “Do seu Jeito”, adaptando-o para uma leitura fácil e
“acessível” a todos os públicos.
A tradução com mais informações a respeito tanto do autor como da peça,
conterá um pouco sobre do que a peça trata e algumas curiosidades sobre como e
que pessoas trouxeram Shakespeare para o Brasil. Após a tradução, um pouco mais
sobre os desafios da tradução e as dificuldades de uma adaptação serão abordados
em breves comentários.
9
2 HISTÓRICO
2.1 BIOGRAFIA DE SHAKESPEARE
Shakespeare era o terceiro filho do casal John e Mary Shakespeare, sendo o
primeiro do sexo masculino. De acordo com sua data de batismo (normalmente as
crianças eram batizadas cerca de três dias após seu nascimento), o escritor nasceu
no dia 23 de abril de 1564, em Stratford-upon-Avon, Warwickshire, Inglaterra. Seu
pai chegou a possuir o cargo mais alto que um civil poderia ter: fez parte do
Conselho Municipal, o que hoje em dia seria o mesmo que um prefeito. William
pertenceu a uma família de classe média, mas não por muito tempo. Seu pai, John
perdeu seu cargo no governo e até mesmo o seu pedido por um brasão foi negado.
Aos 11 anos de idade, Shakespeare já conhecia a pobreza e seu pai já se
encontrava em um abismo de dívidas; eram tantas que ele até mesmo parou de
frequentar a igreja, com medo de que algum processo viesse à tona. Quanto à mãe
de William, tendo oito filhos, quase não tinha tempo para outra coisa a não ser cuidar
das tarefas domésticas.
Stratford possuía uma escola primária gratuita e, mesmo não havendo
registros de que o gênio literário tenha frequentado uma escola, presume-se que
sim, por ser filho de um homem de negócios tão importante, até certa fase da
infância de William. Assim como não se sabe ao certo se frequentou a escola, não
se sabe se teve um acesso maior aos livros, mas acredita-se que ele tenha sido um
leitor assíduo, devido a seu extenso vocabulário.
O dramaturgo não frequentou uma faculdade, e por esse motivo despertava
inveja nos escritores de sua época, como Ben Jonson e John Milton, pois naquele
período não bastava apenas saber “um pouco” de latim, francês e italiano; era
preciso muito mais para possuir o título que Shakespeare possuía, e mesmo os
outros de sua época que o possuíam não chegavam nem perto da fama que o poeta
e ator possuía.
Em 28 de novembro de 1582, Shakespeare casou-se com Anne Hathaway.
Foi preciso uma permissão do pai de William para que ele pudesse casar, pois tinha
apenas dezoito anos, enquanto Anne, vinte e seis. Casaram-se às pressas devido à
10
gravidez da moça, que deu à luz Susanna Shakespeare no dia 26 de maio de 1583.
Esse tipo de acontecimento era muito normal naquela época; boa parte das moças
casavam-se às pressas devido a uma gravidez indesejada. Dois anos depois, Anne
deu a luz aos gêmeos Hamnet e Judith.
O gênio desaparece entre os anos de 1585 e 1592; não há nenhuma menção
sobre a movimentação de Shakespeare nessa época e de acordo com o depoimento
invejoso de Robert Greene, nota-se que o autor era alvo de críticas ferozes:
(...) porque há um corvo arrogante, embelezado com nossa plumagem, que com seu coração de tigre, envolto em pele de ator, pressupõe-se que seja bem capaz de escrever um verso vazio de forma bombástica, como o melhor de vocês: e ser um absoluto Johannes fac totum está em sua própria presunção (Greene apud Rozakis, 2002, p. 7).
Esta citação, tirada da obra de Laurie Rozakis em seu livro “Tudo sobre
Shakespeare”, fala sobre muitas coisas que estavam acontecendo na vida do tão
celebrado poeta. Em seu livro, ela interpreta este xingamento como um grande
acontecimento, principalmente pelo fato de que Shakespeare estava causando
inveja em um escritor que, além de mais velho, escreveu estas palavras em seu leito
de morte. Com esta citação, a autora entendeu que Shakespeare estava fazendo
parte do teatro londrino como um ator. Rozakis também comenta a expressão latina
usada por Greene ”fac totum”, que seria “faz-tudo”, ou seja, ele era ator, escritor,
dramaturgo, poeta (habilidoso por “escrever um verso vazio de forma bombástica”)
e, além disso, Greene ainda citou uma parte da peça de sucesso Henrique VI “Ó
coração de tigre, envolto em pele de mulher”, o que dá a entender que a peça tenha
sido escrita nesse meio tempo.
O escritor tinha sua própria companhia de teatro, chamada Companhia do
Camareiro-Mor, por volta de 1595 (conhecida também como “Os homens de Lorde
Chamberlain”), que mais tarde, devido a uma ordem do rei James I, passou a
chamar “Os homens do rei” por volta de 1603, e desde então passaram a fazer
várias apresentações para o rei – em torno de doze por ano. Em 1596, o tão famoso
dramaturgo perde seu filho Hamnet.
Teve sua primeira filha muito bem casada com o médico bem sucedido John
Hall; tiveram uma filha, que morreu em 1670. Sua filha Judith já não obteve um
casamento de sucesso: casou-se com um vinicultor, Thomas Quiney que, antes de
11
casar-se com a filha do poeta, engravidou outra moça, e tanto o bebê quanto a moça
morreram no parto. Após este triste acontecimento, o casal teve três filhos, e
nenhum viveu mais do que vinte e um anos.
Shakespeare morreu no dia 23 de abril de 1616, exatamente no dia de seu
aniversário de batismo. Foi enterrado na Igreja Santíssima Trindade e a causa de
sua morte é desconhecida.
2.2 CRONOLOGIA DAS OBRAS
Henrique VI ,Parte I (1589-1590)
Henrique VI, Parte II (1590-1591)
Henrique VI, Parte III (1590-1591)
Ricardo III (1592-1593)
Vênus e Adonis – poema (1592-1593)
A Comédia dos Erros (1592-1594)
Sonetos (1593-1609)
A Violação de Lucrécia – poema (1593-1594)
Tito Andrônico (1593-1594)
A Megera Domada (1593-1594)
Dois cavalheiros de Verona (1594)
Trabalhos de Amor Perdidos (1594-1595)
Vida e Morte do Rei João (1594-1596)
Ricardo II (1595)
Romeu e Julieta (1595-1596)
Sonho de uma Noite de Verão (1595-1596)
O Mercador de Veneza (1596-1597)
Henrique IV, Parte I (1596-1597)
As Alegres Comadres de Windsor (1597)
Henrique IV, Parte II (1598)
Muito Barulho por Nada (1598-1599)
Henrique V (1599)
Júlio César (1599)
Do seu Jeito – antiga Como Gostais (1599)
12
Hamlet (1600-1601)
A Fênix e a Rola – poema (1601)
Noite de Reis (1601-1602)
Tróilo e Créssida (1601-1602)
Queixas de uma Amorosa – poema (1602-1608)
Tudo Está Bem Quando Acaba Bem (1602-1603)
Medida por Medida (1604)
Otelo (1604)
Rei Lear (1605)
Macbeth (1606)
Antônio e Cleópatra (1606-1607)
Coriolano (1607-1608)
Túmon de Atenas (1607-1608)
Péricles, Príncipe de Tiro (1607-1608)
Cimbelino (1609-1610)
Conto de Inverno (1610-1611)
A Tempestade (1611)
Henrique VIII (1612-1613)
2.3 A ERA ELIZABETANA E SHAKESPEARE
O período Elizabetano foi o que correspondeu ao reinado da rainha Elizabeth
I, filha de Henrique VIII com sua segunda esposa Ana Bolena.
Foi uma das mais importantes fases do Renascimento, e isso é fato. Na
época do Renascimento, a miséria, a fome e as desgraças eram enormes. Muitas
pessoas saíam das cidades vizinhas no interior e iam para a maior capital européia
da época, a famosa Londres. Chegavam lá achando que encontrariam soluções
para os seus inúmeros problemas, mas encontravam o mesmo que em todos os
lugares: miséria e mais miséria.
Foi um período muito difícil e o que mais se falava era de religião, pois todos
estavam confusos devido às muitas trocas de reis e rainhas de diferentes credos.
Primeiro Henrique VIII, o rei protestante, implantou a igreja anglicana; após isso, seu
filho Edward, no seu pouco tempo de reinado, manteve os passos de seu pai; já sua
13
filha Mary acabou gerando uma rebelião para trazer de volta o catolicismo,
subordinando todo o povo a essas milhares de trocas religiosas.
Com a rainha Elizabeth tudo mudou: um ponto final foi posto sobre todas as
dúvidas do povo, tanto quanto à religião como ao reinado. Seguiu os passos de seu
pai e implantou de uma vez por todas a igreja anglicana, para que ninguém mais
mudasse nada, e assim a Inglaterra permanece até os dias de hoje.
Uma forma de entreter o povo e fazê-los esquecer de seus problemas e não
pensar tanto na fome, era pensar em quais fontes de lazer estavam disponíveis;
entre brigas de galo e muitas outras estava o teatro, onde o tão famoso dramaturgo,
escritor e ator William Shakespeare se encontrava.
A principal época em que Shakespeare trabalhou foi na era Elisabetana.
Declarava seu interesse pelos assuntos da época de diversas maneiras, na
vestimenta, nos assuntos, e boa parte também vinha do teatro romano. A Rainha
Elizabeth gostava de teatro, era uma “patrocinadora das artes” e, por isso, muitas
obras são dedicadas a essa grande rainha.
Se o pensamento era escrever sobre a ordem, generalizando a ideia do
governo de que a religião era tão importante e de que dela dependiam todas as
coisas (na verdade, era o que todos pensavam e sobre o que todos na época
escreviam), por que não escrever sobre o comportamento humano? Por que não
escrever sobre problemas familiares, tristes e felizes realidades que se repetem até
os dias de hoje? O célebre bardo com certeza pensou nisso, pensou no que o povo
realmente estava precisando e foi fundo na análise trágica e cômica e verdadeira do
ser humano.
14
3 SHAKESPEARE BRASILEIRO E A PEÇA
Como será que as obras de William Shakespeare chegaram ao Brasil, através
de quais culturas, fontes e tradutores? Na primeira parte deste capítulo será
abordado um pouco sobre como as obras de Shakespeare chegaram no Brasil. Na
segunda parte, será apresentada uma pequena introdução sobre a peça, o primeiro
ato, que no próximo capítulo se encontra traduzido.
3.1 SHAKESPEARE NO BRASIL – UMA BREVE ANÁLISE
O processo da chegada das obras de Shakespeare no Brasil foi bem lento.
Em primeiro lugar, chegaram as traduções de parte das obras, mas nunca de uma
inteira. O teatro brasileiro, em seus primórdios, recebeu influência francesa; as
primeiras obras que chegaram ao Brasil foram no português de Portugal, as quais
tinham sido traduzidas de obras em francês, e não do inglês, que seria o original.
As primeiras peças com que o Brasil teve contato chegaram por volta do ano
de 1835, traduzidas para o português de Portugal, e vieram devido à chegada de
companhias de teatro portuguesas que apresentaram peças em espanhol, francês e
português. As ideias de traduções para o português brasileiro foram dadas pelo ator
João Caetano, que foi o primeiro a encenar peças de Shakespeare no Brasil.
De acordo com muitos historiadores, a primeira obra de Shakespeare a ser
traduzida para o português brasileiro foi em 1933, por Tristão da Cunha, mas
existem controvérsias quanto a isso, devido à falta de informações precisas.
Acredita-se que a primeira peça encenada inteira em português brasileiro
tenha sido Romeo e Julieta, no ano de 1938, e aí percebe-se que realmente é algo
muito recente, se comparado à idade da obra.
Na época, traduzir apenas partes das peças de Shakespeare virou moda, e
muitos escritores brasileiros resolveram aventurar-se a traduzir trechos,
principalmente os monólogos encontrados em Hamlet, Romeo e Julieta, dentre
outros.
15
Uma das principais figuras na história, tanto da chegada da tradução no Brasil
quanto da parte histórica de Shakespeare, foi Bárbara Heliodora (1759-1819). Além
de ter traduzido várias obras, durante sua vida, ela dedicou-se a estudos sobre o
famoso bardo. Escreveu vários livros contando sua biografia, a linguagem, a época,
análise das peças, livros bibliográficos, etc.
Falando em “figuras das traduções”, ainda existem várias outras muito
importantes, como Millôr Fernandes, nascido no dia 16/08/1923. Este com certeza
teve grande influência na tradução de Shakespeare; traduziu obras como Hamlet e A
Megera Domada.
Pode-se citar ainda: Carlos Alberto da Costa Nunes e Onestaldo de
Pennafort, e no aspecto de atualização e modernização da linguagem de
Shakespeare ainda existem as traduções de John Milton.
3.2 SOBRE A PEÇA “DO SEU JEITO”
Acredita-se que a peça tenha sido escrita para a inauguração do Teatro
Globo, em 1599. Essa obra é classificada como uma comédia romântica da segunda
fase, tendo sido a nona comédia escrita pelo dramaturgo, de um total de dezoito.
A história é uma sátira da vida no campo, que valoriza as belezas e a vida
simples e proveitosa que ali se passava, ou seja, é uma história pastoral que, como
todas, envolve exilados da vida urbana ou da corte para irem refugiar-se no campo,
onde muitos se disfarçam de pastores ou de outros personagens característicos do
campo para conversar sobre diversos temas com outros pastores, temas como: os
méritos da vida na corte comparados à vida no país com o relacionamento da arte e
a natureza.
A peça conta a história de Rosalinda, filha do Antigo Duque, exilado por seu
próprio irmão, que tomou seu ducado. A moça, então, passa a morar com seu tio,
pois sua prima Célia alega não poder viver sem a prima Rosalinda. A moça se
apaixona por Orlando, irmão de Oliver, e os dois vivem na corte do Duque. Os dois
se conhecem em uma luta na qual o irmão de Orlando, Oliver, planeja matar seu
irmão de alguma maneira, e é aí que a paixão mútua se inicia.
O fim do primeiro Ato se dá com o tio de Rosalinda, o novo Duque,
expulsando-a de sua corte, e sua prima Célia indo junto. As duas vão disfarçadas,
16
Rosalinda vestida de homem e adotando o nome de “Ganimedes”, e Célia
escondendo sua identidade com o nome de “Aliena”.
Algo muito interessante é que, na época em que a peça foi apresentada, não
era permitido que as mulheres atuassem nas peças teatrais, e a personagem
Rosalinda, que depois de um tempo disfarça-se de homem e então tem que se
passar como tal, deve ter sido ainda mais difícil, afinal de contas, o ator era um
homem que durante a peça interpretou o papel de uma mulher que depois seria uma
mulher disfarçada de homem; com certeza, um papel muito complexo comparado
aos outros.
17
4 A TRADUÇÃO DA OBRA
Traduzir Shakespeare é entrar em um mundo de mistérios, traduzir esse
primeiro ato foi algo muito desafiador ainda mais porque existem poucas traduções
para esta peça e nenhuma modernizada e atualizada, na verdade para esta
tradução a única versão encontrada para utilizar como consulta foi a da tradutora
Beatriz Viégas Faria.
4.1 TEXTO FONTE E TEXTO ALVO
DO SEU JEITO
As cenas: casa de Oliver, corte do Duque Frederico e a floresta de Arden.
PERSONAGENS DA PEÇA (PRIMEIRO ATO)
O ANTIGO DUQUE banido
FREDERICO, seu irmão e usurpador do seu domínio
LE BEAU, um cortesão a serviço de Frederico
CHARLES, um lutador de Frederico
OLIVER, JAQUES e ORLANDO, filhos do Sir Rolando des Bois.
ADAM e DENNIS, criados de Oliver
TOUCHSTONE, um palhaço, bobo da corte
ROSALINDA, filha do Antigo Duque banido
CÉLIA, filha de Frederico
18
AS YOU LIKE IT
The scene: Oliver’s house, Duke Frederick’s court, and the Forest of Arden
CHARACTERS IN THE PLAY (FIRST ACT)
The banished DUKE SENIOR
FREDERICK, his brother, and usurper of his dominions
LE BEAU, a courtier attending upon Frederick
CHARLES, a wrestler of Frederick
OLIVER, JAQUES and ORLANDO, sons of Sir Rowland de Boys
ADAM and DENNIS, servants to Oliver
TOUCHSTONE, a clown
ROSALINDA, daughter to the banished Duke
CÉLIA, daughter to Frederick
19
ATO 1
Cena 1. Pomar da casa de Oliver.
Entram ORLANDO e ADAM
ORLANDO
Pelo que eu me lembre, Adam, o testamento dizia que eu herdaria uma quantia
quase insignificante de mil coroas e, como você disse, o meu irmão ficou
encarregado de me dar uma boa educação: e é aí que começa a minha tristeza.
Para o meu irmão Jaques ele paga a faculdade, e os boatos sobre o seu sucesso
correm; quanto a mim, ele simplesmente me mantém aqui no interior com não mais
que o necessário, ou seja, me deixa aqui largado sem cuidados especiais. Por acaso
você conhece alguém de família rica como a minha que tenha sido criado como um
boi no estábulo? Os cavalos dele são mais preparados, ainda mais porque são
devidamente alimentados, são adestrados, e para isso, homens são contratados
com salários altíssimos. Mas eu, seu irmão, sob seus cuidados, não ganho nada
mais que o necessário para crescer; os seus animais devem a ele o mesmo tanto
que eu. Além desse nada que recebo com tanta abundância, o pouco que recebo da
natureza parece que me é roubado devido ao estilo de vida a que ele me limita: ele
me deixa fazer as refeições com os peões, me rejeita como irmão e, no que pode,
diminui minha fineza com uma criação de camponês. E é isso que me entristece,
Adam; e o espírito de meu pai, que eu acredito que esteja comigo, começa a
revoltar-se contra essa escravidão. Não vou continuar aturando isso, ainda que, até
o momento, eu não tenha nenhuma solução sábia para evitá-lo.
ADAM
Lá vem meu mestre, seu irmão.
ORLANDO
Fique por perto Adam, você deve ouvir como ele vai me tratar.
20
ACT I
SCENE I. Orchard of Oliver's house.
Enter ORLANDO and ADAM
ORLANDO
As I remember, Adam, it was upon this fashion bequeathed me by will but poor a
thousand crowns, and, as thou sayest, charged my brother, on his blessing, to breed
me well: and there begins my sadness. My brother Jaques he keeps at school, and
report speaks goldenly of his profit: for my part, he keeps me rustically at home, or, to
speak more properly, stays me here at home unkept; for call you that keeping for a
gentleman of my birth, that differs not from the stalling of an ox? His horses are bred
better; for, besides that they are fair with their feeding, they are taught their manage,
and to that end riders dearly hired: but I, his brother, gain nothing under him but
growth; for the which his animals on his dunghills are as much bound to him as I.
Besides this nothing that he so plentifully gives me, the something that nature gave
me his countenance seems to take from me: he lets me feed with his hinds, bars me
the place of a brother, and, as much as in him lies, mines my gentility with my
education. This is it, Adam, that grieves me; and the spirit of my father, which I think
is within me, begins to mutiny against this servitude: I will no longer endure it, though
yet I know no wise remedy how to avoid it.
ADAM
Yonder comes my master, your brother.
ORLANDO
Go apart, Adam, and thou shalt hear how he will shake me up.
21
Entra OLIVER
OLIVER
Então, senhor! O que você está fazendo aqui?
ORLANDO
Nada. Nunca me ensinaram a fazer alguma coisa.
OLIVER
O que o senhor está arruinando, então?
ORLANDO
Arruinando, senhor! Estou, com preguiça, ajudando a arruinar o que Deus fez: o seu
pobre e desmerecido irmão.
OLIVER
Onde já se viu! Vá fazer algo mais útil, e fique quieto um instante.
ORLANDO
Devo cuidar de seus porcos e comer cascas junto com eles?Quanto será que
esbanjei, para estar em tamanha penúria?
OLIVER
O senhor sabe onde está?
ORLANDO
Sim, senhor, sei muito bem: aqui em seu pomar.
OLIVER
E sabe com quem você está falando?
22
Enter OLIVER
OLIVER
Now, sir! What make you here?
ORLANDO
Nothing: I am not taught to make any thing.
OLIVER
What mar you then, sir?
ORLANDO
Marry, sir, I am helping you to mar that which God made, a poor unworthy brother of
yours, with idleness.
OLIVER
Marry, sir, be better employed, and be naught awhile.
ORLANDO
Shall I keep your hogs and eat husks with them? What prodigal portion have I spent,
that I should come to such penury?
OLIVER
Know you where your are, sir?
ORLANDO
O, sir, very well; here in your orchard.
OLIVER
Know you before whom, sir?
23
ORLANDO
Sim; isso eu sei melhor do que quem está falando comigo sabe quem sou. Eu sei
que você é meu irmão mais velho e, na fina condição de sangue, você também deve
me reconhecer. A cortesia de nações permite que você seja superior a mim, pois
você é o primogênito; mas a mesma tradição não tira meu sangue, mesmo que haja
vinte irmãos entre nós. Eu tenho do meu pai o mesmo tanto que você; ainda que eu
deva confessar que a sua chegada antes da minha o deixa mais perto da cortesia
devida ao pai.
OLIVER
Seu moleque!
ORLANDO
Veja só, você é inexperiente nisto!
OLIVER
Você se atreverá a colocar as mãos em mim, patife?
ORLANDO
Não sou um patife; sou o filho mais novo de Sir Rolando des Bois; ele era meu pai, e
é três vezes patife quem diz que esse pai procriou patifes. Se você não fosse meu
irmão, eu não tiraria esta mão do seu pescoço até que esta outra mão arrancasse tal
língua por dizer isso. Você ofendeu a si mesmo.
ADAM
Queridos mestres, mais paciência: por respeito ao pai de vocês, cheguem a um
consenso.
OLIVER
Eu digo para você me soltar.
24
ORLANDO
Ay, better than him I am before knows me. I know you are my eldest brother; and, in
the gentle condition of blood, you should so know me. The courtesy of nations allows
you my better, in that you are the first-born; but the same tradition takes not away my
blood, were there twenty brothers betwixt us: I have as much of my father in me as
you; albeit, I confess, your coming before me is nearer to his reverence.
OLIVER
What, boy!
ORLANDO
Come, come, elder brother, you are too young in this.
OLIVER
Wilt thou lay hands on me, villain?
ORLANDO
I am no villain; I am the youngest son of Sir Rowland de Boys; he was my father, and
he is thrice a villain that says such a father begot villains. Wert thou not my brother, I
would not take this hand from thy throat till this other had pulled out thy tongue for
saying so: thou hast railed on thyself.
ADAM
Sweet masters, be patient: for your father's remembrance, be at accord.
OLIVER
Let me go, I say.
25
ORLANDO
Não; até quando eu quiser, você vai me ouvir. Meu pai em seu testamento
encarregou você de me dar boa educação, mas você tem me instruído como se eu
fosse um caipira, me ignorando e escondendo de mim todas as qualidades que um
cavalheiro deve ter. O espírito do meu pai cresce com força dentro de mim, e eu não
vou mais suportar isso. Portanto, permita que eu tenha a educação necessária para
me tornar um cavalheiro, ou entregue a pobre quota que foi deixada para mim por
testamento; com isto, eu vou conquistar minhas fortunas.
OLIVER
E o que você vai fazer? Esmolar, quando tiver gastado tudo? Está bem, senhor,
pode entrar. Não quero me incomodar com você; você terá uma parte do que lhe foi
destinado. Eu imploro, me largue.
ORLANDO
Não vou ofender você mais do que devo para obter o que preciso.
OLIVER
Vá com ele, seu cachorro velho.
ADAM
"Cachorro velho"; essa é a minha recompensa? A maioria é bem verdade, perdi
meus dentes a seu serviço. Que Deus esteja com meu velho mestre! Ele não teria
dito uma coisa dessas.
Saem ORLANDO e ADAM
OLIVER
Então é assim, é? Você passou a ter este tipo de liberdades comigo? Eu vou curar
sua libertinagem, e também não vou te dar as mil coroas. Ei, Dennis!
26
ORLANDO
I will not, till I please: you shall hear me. My father charged you in his will to give me
good education: you have trained me like a peasant, obscuring and hiding from me
all gentleman-like qualities. The spirit of my father grows strong in me, and I will no
longer endure it: therefore allow me such exercises as may become a gentleman, or
give me the poor allottery my father left me by testament; with that I will go buy my
fortunes.
OLIVER
And what wilt thou do? Beg, when that is spent? Well, sir, get you in: I will not long be
troubled with you; you shall have some part of your will: I pray you, leave me.
ORLANDO
I will no further offend you than becomes me for my good.
OLIVER
Get you with him, you old dog.
ADAM
Is 'old dog' my reward? Most true, I have lost my teeth in your service. God be with
my old master! He would not have spoke such a word.
Exeunt ORLANDO and ADAM
OLIVER
Is it even so? Begin you to grow upon me? I will physic your rankness, and yet give
no thousand crowns neither. Holla, Dennis!
27
Entra DENNIS
DENNIS
O senhor chamou?
OLIVER
Não foi Charles, o lutador do Duque, que veio aqui falar comigo?
DENNIS
Se o senhor quiser, ele está aqui na porta, e insiste em falar com você.
OLIVER
Mande-o entrar. [Sai DENNIS] Será uma boa maneira, amanhã terá luta romana.
Entra CHARLES
CHARLES
Bom dia, senhor.
OLIVER
Meu querido senhor Charles, quais são as novidades da nova corte?
CHARLES
Não há novidades na corte, senhor, e sim notícias antigas: o velho Duque foi banido
pelo seu irmão mais novo, o novo Duque; e três ou quatro amáveis senhores se
colocaram em um exílio voluntário junto a ele, cujas terras e impostos enriquecem o
novo Duque; por essa razão ele dá a eles permissão para vaguear por aí.
OLIVER
Você pode me dizer se Rosalinda, a filha do Duque, foi banida junto com ele?
28
Enter DENNIS
DENNIS
Calls your worship?
OLIVER
Was not Charles, the duke's wrestler, here to speak with me?
DENNIS
So please you, he is here at the door and importunes access to you.
OLIVER
Call him in. [Exit DENNIS] 'Twill be a good way; and to-morrow the wrestling is.
Enter CHARLES
CHARLES
Good morrow to your worship.
OLIVER
Good Monsieur Charles, what's the new news at the new court?
CHARLES
There's no news at the court, sir, but the old news: that is, the old duke is banished
by his younger brother the new duke; and three or four loving lords have put
themselves into voluntary exile with him, whose lands and revenues enrich the new
duke; therefore he gives them good leave to wander.
OLIVER
Can you tell if Rosalind, the duke's daughter, be banished with her father?
29
CHARLES
Ah, não. A prima ama tanto a Rosalinda, afinal de contas, foram criadas juntas
desde que nasceram, que iria junto com ela, ou morreria se não pudesse ir junto. Ela
está na corte, e o seu tio a ama como se também fosse sua filha. Duas senhoritas
nunca foram tão amadas como elas.
OLIVER
Onde o velho Duque vai morar?
CHARLES
Dizem que já está na floresta de Arden, e que há vários homens felizes com ele; lá
eles vivem como o Robin Hood da antiga Inglaterra. Dizem que muitos jovens
cavalheiros se reúnem com ele todos os dias e o tempo passa rápido e
despreocupadamente, assim como faziam nos tempos dourados.
OLIVER
Você vai participar da luta de amanhã, na frente do novo Duque?
CHARLES
Ora essa, claro que sim, senhor! E eu vim até aqui para comunicar-lhe sobre um
assunto. Fiquei sabendo, em segredo, que o seu irmão mais novo, Orlando, está
decidido a entrar disfarçado na arena contra mim, para tentar me derrubar. Amanhã,
senhor, eu vou participar da luta pela minha honra; e aquele que conseguir escapar
sem nenhum braço ou perna quebrados, deve ter muita sorte. O seu irmão é imaturo
e inexperiente; e, pelo amor que tenho pelo senhor, eu odiaria derrubá-lo, como eu
terei que fazer pela minha honra, se ele me atacar; assim, fora o amor que tenho
pelo senhor, eu vim até aqui lhe informar isto, para que o senhor impeça as
intenções de seu irmão, ou permita que ele encontre o que procura: sua própria
desgraça, o que seria inteiramente de sua própria escolha e nada a ver com minhas
intenções.
30
CHARLES
O, no; for the duke's daughter, her cousin, so loves her, being ever from their cradles
bred together, that she would have followed her exile, or have died to stay behind
her. She is at the court, and no less beloved of her uncle than his own daughter; and
never two ladies loved as they do.
OLIVER
Where will the old duke live?
CHARLES
They say he is already in the forest of Arden, and a many merry men with him; and
there they live like the old Robin Hood of England: they say many young gentlemen
flock to him every day, and fleet the time carelessly, as they did in the golden world.
OLIVER
What, you wrestle to-morrow before the new duke?
CHARLES
Marry, do I, sir; and I came to acquaint you with a matter. I am given, sir, secretly to
understand that your younger brother Orlando hath a disposition to come in
disguised against me to try a fall. To-morrow, sir, I wrestle for my credit; and he that
escapes me without some broken limb shall acquit him well. Your brother is but
young and tender; and,for your love, I would be loath to foil him, as I must, for my
own honour, if he come in: therefore, out of my love to you, I came hither to acquaint
you intendment or brook such disgrace well as he shall run into, in that it is a thing of
his own search and altogether against my will.
31
OLIVER
Charles, obrigado pelo amor que você tem por mim, o qual você verá que será
gentilmente recompensado. Soube da proposta do meu irmão aqui, e tentei por
meios desleais conseguir sua desistência, mas ele está decidido. Eu vou te dizer,
Charles: ele é o rapaz mais obstinado da França, cheio de ambição, um emulador de
inveja de todas as boas partes de um homem, um vilão cuidadoso que está sempre
tramando contra mim, seu próprio irmão. Portanto, faça uso de seu discernimento:
ao invés de quebrar apenas um dedo do meu irmão, quebre de uma vez seu
pescoço. E você deve tomar cuidado; se você machucá-lo pouco, ou se ele não
puder vangloriar-se às tuas custas, ele continuará a lhe atacar através de veneno,
prendendo você por algum dispositivo traiçoeiro, e nunca te deixará em paz até que
consiga tirar sua vida através de atos indiretos. E eu garanto a você, quase entre
lágrimas, que hoje em dia não há nenhum jovem tão patife. Estou dizendo isso
porque ele é meu irmão; mas, se eu fosse descrevê-lo para você como ele
realmente é, eu ficaria corado e choraria, e você ficaria pálido e surpreso.
CHARLES
Estou muito feliz por ter vindo falar com você. Se ele aparecer amanhã, eu darei sua
recompensa; se ele voltar a andar sozinho outra vez, eu jamais voltarei a entrar em
uma luta romana por um prêmio. Que Deus continue lhe abençoando!
OLIVER
Adeus, meu bom amigo Charles. [Sai CHARLES] Agora, vou provocar meu irmão,
esse jogador. Espero ver o fim dele; minha alma, mesmo não sabendo o porquê, o
odeia mais que tudo. Contudo, ele é um verdadeiro cavalheiro, embora nunca tenha
sido ensinado, cheio de nobres truques, encanta a todos sem nenhuma diferença e
por isso é muito amado. Certamente está no coração de todos, e em especial no do
meu próprio povo, que o conhece muito bem; de forma que acabo sendo totalmente
ignorado. Mas, não durará muito, esse lutador resolverá tudo. Não me resta fazer
mais nada a não ser agitar o garoto por aqui, o que farei agora. [Sai]
32
OLIVER
Charles, I thank thee for thy love to me, which thou shalt find I will most kindly
requite. I had myself notice of my brother's purpose herein and have by underhand
means laboured to dissuade him from it, but he is resolute. I'll tell thee, Charles: it is
the stubbornest young fellow of France, full of ambition, an envious emulator of every
man's good parts, a secret and villanous contriver against me his natural brother:
therefore use thy discretion; I had as lief thou didst break his neck as his finger. And
thou wert best look to't; for if thou dost him any slight disgrace or if he do not mightily
grace himself on thee, he will practise against thee by poison, entrap thee by some
treacherous device and never leave thee till he hath ta'en thy life by some indirect
means or other; for, I assure thee, and almost with tears I speak it, there is not one
so young and so villanous this day living. I speak but brotherly of him; but should I
anatomize him to thee as he is, I must blush and weep and thou must look pale and
wonder.
CHARLES
I am heartily glad I came hither to you. If he come to-morrow, I'll give him his
payment: if ever he go alone again, I'll never wrestle for prize more: and so God keep
your worship!
OLIVER
Farewell, good Charles. [Exit CHARLES] Now will I stir this gamester: I hope I shall
see an end of him; for my soul, yet I know not why, hates nothing more than he. Yet
he's gentle, never schooled and yet learned, full of noble device, of all sorts
enchantingly beloved, and indeed so much in the heart of the world, and especially of
my own people, who best know him, that I am altogether misprised: but it shall not be
so long; this wrestler shall clear all: nothing remains but that I kindle the boy thither;
which now I'll go about. [Exit]
33
CENA II. Em frente ao gramado do palácio do duque.
Entram Célia e Rosalinda
CÉLIA
Eu lhe imploro, minha doce prima Rosalinda, alegre-se.
ROSALINDA
Querida Célia, eu mostro mais alegria do que realmente estou sentindo; e você
ainda pede que eu fique mais feliz? A menos que você possa me ensinar a esquecer
de um pai banido, você não deve me ensinar como lembrar de qualquer tipo de
diversão.
CÉLIA
Aqui vejo que você não me ama tanto como eu a amo. Se o meu tio, o seu banido
pai, tivesse banido o seu tio, meu pai, o Duque, você também estaria junto de mim, e
eu poderia aprender a amar seu pai como se fosse meu próprio pai. E você poderia
fazer o mesmo, se fosse verdade que o seu amor por mim fosse tão grande e
correto como o meu é por ti.
ROSALINDA
Está bem. Eu vou esquecer a condição em que me encontro para alegrar-me pela
sua.
CÉLIA
Você sabe que o meu pai não teve nenhum outro filho a não ser eu, e
provavelmente não terá. E a verdade é que, quando ele morrer, você deve ser a
herdeira, pois o que ele tirou do seu pai forçadamente, eu devolverei a você por
amor. Juro pela minha honra que irei, e se eu romper esse juramento, que eu vire
um monstro. Portanto, minha querida e doce Rosa, alegre-se.
ROSALINDA
Daqui em diante eu serei, prima, e vou pensar em algumas brincadeiras. Deixe-me
ver... O que você acha de se apaixonar?
34
SCENE II. Lawn before the Duke's palace.
Enter CELIA and ROSALIND
CELIA
I pray thee, Rosalind, sweet my coz, be merry.
ROSALIND
Dear Celia, I show more mirth than I am mistress of; and would you yet I were
merrier? Unless you could teach me to forget a banished father, you must not learn
me how to remember any extraordinary pleasure.
CELIA
Herein I see thou lovest me not with the full weight that I love thee. If my uncle, thy
banished father, had banished thy uncle, the duke my father, so thou hadst been still
with me, I could have taught my love to take thy father for mine: so wouldst thou, if
the truth of thy love to me were so righteously tempered as mine is to thee.
ROSALIND
Well, I will forget the condition of my estate, to rejoice in yours.
CELIA
You know my father hath no child but I, nor none is like to have: and, truly, when he
dies, thou shalt be his heir, for what he hath taken away from thy father perforce, I
will render thee again in affection; by mine honour, I will; and when I break that oath,
let me turn monster: therefore, my sweet Rose, my dear Rose, be merry.
ROSALIND
From henceforth I will, coz, and devise sports. Let me see; what think you of falling in
love?
35
CÉLIA
Onde já se viu! Eu imploro que você só esteja falando de brincadeira mesmo. Não
ame verdadeiramente um homem, nem esqueça que é uma brincadeira passando
dos limites quando ficar vermelha de vergonha e assim acabar com a brincadeira.
ROSALINDA
Então, qual será nossa brincadeira?
CÉLIA
Vamos sentar e zombar da Fortuna, essa velhinha com sua roda de fiar, e que suas
bênçãos daqui em diante sejam aplicadas com justiça.
ROSALINDA
Gostaria que pudéssemos fazer isso, pois as bênçãos dela são extremamente mal
colocadas, e a bondosa mulher cega comete a maior parte de seus enganos quando
se trata de presentear mulheres.
CÉLIA
Isso é verdade, pois, as que faz belas, raramente são honestas; e as que o são, as
faz muito feias.
ROSALINDA
Não, agora você está indo da profissão da Fortuna para a da Natureza; a Fortuna
domina as bênçãos do mundo, não as características da Natureza.
Entra TOUCHSTONE
36
CELIA
Marry, I prithee, do, to make sport withal: but love no man in good earnest; nor no
further in sport neither than with safety of a pure blush thou mayst in honour come off
again.
ROSALIND
What shall be our sport, then?
CELIA
Let us sit and mock the good housewife Fortune from her wheel, that her gifts may
henceforth be bestowed equally.
ROSALIND
I would we could do so, for her benefits are mightily misplaced, and the bountiful
blind woman doth most mistake in her gifts to women.
CELIA
'Tis true; for those that she makes fair she scarce makes honest, and those that she
makes honest she makes very ill-favouredly.
ROSALIND
Nay, now thou goest from Fortune's office to Nature's: Fortune reigns in gifts of the
world, not in the lineaments of Nature.
Enter TOUCHSTONE
37
CÉLIA
Ah, não? Quando a Natureza faz uma bela criatura, ela não pode, através da
Fortuna, cair no fogo brilhante? Ainda que a Natureza tivesse nos dado capacidade
para zombar da Fortuna, será que Fortuna não teria enviado este bobo da corte para
acabar essa briga?
ROSALINDA
De fato, aí a Fortuna é muito dura com a Natureza quando a Fortuna faz na
sabedoria da Natureza: dar fim em uma conversa naturalmente habilidosa.
CÉLIA
Talvez isso nem seja trabalho da Fortuna, mas da Natureza que, ao perceber que
nossa habilidade natural é muito estúpida para discutir com tais deusas, tenha
enviado a tolice natural para nos amolar. Pois a estupidez de um tolo é sempre a
amolação dos sábios. E agora, sabedoria! Por onde você têm andado?
TOUCHSTONE
Senhorita, seu pai está chamando.
CÉLIA
Ele fez de você um mensageiro?
TOUCHSTONE
Não, por minha honra, mas me mandou chamá-la.
ROSALINDA
Quem te ensinou a jurar por sua honra seu tolo?
38
CELIA
No? When Nature hath made a fair creature, may she not by Fortune fall into the
fire? Though Nature hath given us wit to flout at Fortune, hath not Fortune sent in this
fool to cut off the argument?
ROSALIND
Indeed, there is Fortune too hard for Nature, when Fortune makes Nature's natural
the cutter-off of Nature's wit.
CELIA
Peradventure this is not Fortune's work neither, but Nature's; who perceiveth our
natural wits too dull to reason of such goddesses and hath sent this natural for our
whetstone; for always the dulness of the fool is the whetstone of the wits. How now,
wit! whither wander you?
TOUCHSTONE
Mistress, you must come away to your father.
CELIA
Were you made the messenger?
TOUCHSTONE
No, by mine honour, but I was bid to come for you.
ROSALIND
Where learned you that oath, fool?
39
TOUCHSTONE
Certo cavalheiro, que jurou por sua honra que as panquecas estavam boas e jurou
por sua honra que a mostarda estava estragada. Agora, eu digo e juro que as
panquecas estavam horríveis e que a mostarda estava ótima e, ainda assim, o
cavalheiro não estava cometendo perjúrio.
CÉLIA
Com sua grande porção de sabedoria, como você comprovar?
ROSALINDA
Oras, vamos, desembuche logo essa sua sabedoria!
TOUCHSTONE
As duas venham para perto, alisem seus queixos e jurem pelas suas barbas que eu
sou safado.
CÉLIA
Por nossas barbas, se nós a tivéssemos, diríamos que você é um safado.
TOUCHSTONE
Por minha safadeza, se eu tivesse cometido alguma, então eu seria. Então, se vocês
jurassem pelo que não é verdade, não estariam cometendo perjúrio. Assim como o
cavalheiro jurando pela sua honra, pois ele nunca teve alguma, ou, se tivesse, por
ter jurado tanto em vão, já a teria perdido antes de ter visto as panquecas ou a
mostarda.
CÉLIA
Por favor, a quem você está se referindo?
TOUCHSTONE
A um sujeito que o seu pai, Frederico, tanto ama.
40
TOUCHSTONE
Of a certain knight that swore by his honour they were good pancakes and swore by
his honour the mustard was naught: now I'll stand to it, the pancakes were naught
and the mustard was good, and yet was not the knight forsworn.
CELIA
How prove you that, in the great heap of your knowledge?
ROSALIND
Ay, marry, now unmuzzle your wisdom.
TOUCHSTONE
Stand you both forth now: stroke your chins, and swear by your beards that I am a
knave.
CELIA
By our beards, if we had them, thou art.
TOUCHSTONE
By my knavery, if I had it, then I were; but if you swear by that that is not, you are not
forsworn: no more was this knight swearing by his honour, for he never had any; or if
he had, he had sworn it away before ever he saw those pancakes or that mustard.
CELIA
Prithee, who is't that thou meanest?
TOUCHSTONE
One that old Frederick, your father, loves.
41
CÉLIA
O amor de meu pai é suficiente para honrá-lo. Já chega! Não fale mais dele;
qualquer dia desses, você será açoitado por ridicularizar os outros.
TOUCHSTONE
Que pena que os bobos da corte não possam falar sabiamente o que um homem
sábio faz tolamente.
CÉLIA
Por minha palavra, você está dizendo a verdade. Desde que a pequena sabedoria
dos bobos foi silenciada, uma pequena tolice que um homem sábio comete faz um
grande espetáculo.
Lá vem o Senhor Le Beau.
ROSALINDA
Com a boca repleta de novidades.
CÉLIA
Das quais ele nos atualizará, como pombos correios alimentando seus filhotes.
ROSALINDA
Então vamos ficar cheias de novidades.
CÉLIA
Quanto mais, melhor, pois aí nós seremos as mais valorizadas.
[Entra Le Beau]
Bom dia, Senhor Le Beau, quais são as novas?
LE BEAU
Bela princesa, você perdeu ótimas diversões.
42
CELIA
My father's love is enough to honour him: enough! speak no more of him; you'll be
whipped for taxation one of these days.
TOUCHSTONE
The more pity, that fools may not speak wisely what wise men do foolishly.
CELIA
By my troth, thou sayest true; for since the little wit that fools have was silenced, the
little foolery that wise men have makes a great show.
Here comes Monsieur Le Beau.
ROSALIND
With his mouth full of news.
CELIA
Which he will put on us, as pigeons feed their young.
ROSALIND
Then shall we be news-crammed.
CELIA
All the better; we shall be the more marketable.
[Enter LE BEAU]
Bon jour, Monsieur Le Beau: what's the news?
LE BEAU
Fair princess, you have lost much good sport.
43
CÉLIA
Diversões! De que cor?
LE BEAU
De que cor senhorita? Como responderei isso?
ROSALINDA
Conforme sua sabedoria e fortuna.
TOUCHSTONE
Ou como o Destino mandar.
CÉLIA
Muito bem dito! Esta foi uma resposta lançada bem na mosca.
TOUCHSTONE
Ah, se eu não cuido da minha classe...
ROSALINDA
Você corre o risco de perder sua fama.
LE BEAU
Vocês me surpreendem senhoritas.
Eu teria contado a vocês da boa luta romana, a qual vocês não assistiram.
ROSALINDA
Conte para nós como foi essa luta.
LE BEAU
Vou contar o início e, se agradar as senhoritas, vocês poderão assistir o final. O
melhor está por vir, pois é aqui onde vocês estão que a luta terminará.
44
CELIA
Sport! of what colour?
LE BEAU
What colour, madam! how shall I answer you?
ROSALIND
As wit and fortune will.
TOUCHSTONE
Or as the Destinies decree.
CELIA
Well said: that was laid on with a trowel.
TOUCHSTONE
Nay, if I keep not my rank,--
ROSALIND
Thou losest thy old smell.
LE BEAU
You amaze me, ladies: I would have told you of good wrestling, which you have lost
the sight of.
ROSALIND
You tell us the manner of the wrestling.
LE BEAU
I will tell you the beginning; and, if it please your ladyships, you may see the end; for
the best is yet to do; and here, where you are, they are coming to perform it.
45
CÉLIA
Bem, vamos pelo início, que está morto e enterrado.
LE BEAU
Era uma vez um velho com seus três filhos...
CÉLIA
Esse início é igual às contos histórias da carochinha.
LE BEAU
Três jovens decentes, de excelente criação e condição.
ROSALINDA
Cada um com uma proclamação em seus pescoços dizendo; Que todos saibam
que...
LE BEAU
O mais velho dos três lutou com Charles, o lutador do Duque, que em pouco tempo
o atirou longe e quebrou-lhe três costelas, o que quer dizer que há poucas chances
de sobrevivência. Ele fez o mesmo com o segundo e o terceiro adversários. Além de
estarem caídos, o pobre velho, pai deles, estava lamentavelmente desconsolado
sobre eles, de forma que todos os espectadores choraram junto.
ROSALINDA
Que coisa infeliz!
TOUCHSTONE
Mas qual é a diversão, senhor, que as senhoritas perderam?
LE BEAU
Ué, eu acabei de falar.
46
CELIA
Well, the beginning, that is dead and buried.
LE BEAU
There comes an old man and his three sons,--
CELIA
I could match this beginning with an old tale.
LE BEAU
Three proper young men, of excellent growth and presence.
ROSALIND
With bills on their necks, 'Be it known unto all men by these presents.'
LE BEAU
The eldest of the three wrestled with Charles, the duke's wrestler; which Charles in a
moment threw him and broke three of his ribs, that there is little hope of life in him: so
he served the second, and so the third. Yonder they lie; the poor old man, their
father, making such pitiful dole over them that all the beholders take his part with
weeping.
ROSALIND
Alas!
TOUCHSTONE
But what is the sport, monsieur, that the ladies have lost?
LE BEAU
Why, this that I speak of.
47
TOUCHSTONE
Desta maneira que homens ficam sábios a cada dia. Esta é a primeira vez que eu
ouvi falar que costelas quebradas são diversão para senhoritas.
CÉLIA
E eu também, juro que nunca havia escutado.
ROSALINDA
Mas tem mais alguém que deseje ouvir essa música de ossos sendo quebrados por
aqui? Ainda há algum caduco que queira assistir costelas sendo quebradas?
Devemos assistir a esta luta, prima?
LE BEAU
Vocês devem ficar aqui, pois aqui é o lugar designado para a luta, e eles estão
prontos para realizá-la.
CÉLIA
Lá, com certeza eles estão vindo; agora, vamos ficar para assistir.
Fanfarra
Entra DUQUE FREDERICO, lordes, ORLANDO, CHARLES e os criados.
DUQUE FREDERICO
Vamos lá, já que o jovem não quer ser desistir, ele correrá os perigos de sua
petulância.
ROSALINDA
Aquele é o homem?
48
TOUCHSTONE
Thus men may grow wiser every day: it is the first time that ever I heard breaking of
ribs was sport for ladies.
CELIA
Or I, I promise thee.
ROSALIND
But is there any else longs to see this broken music in his sides? is there yet another
dotes upon rib-breaking? Shall we see this wrestling, cousin?
LE BEAU
You must, if you stay here; for here is the place appointed for the wrestling, and they
are ready to perform it.
CELIA
Yonder, sure, they are coming: let us now stay and see it.
Flourish.
Enter DUKE FREDERICK, Lords, ORLANDO, CHARLES, and Attendants
DUKE FREDERICK
Come on: since the youth will not be entreated, his own peril on his forwardness.
ROSALIND
Is yonder the man?
49
LE BEAU
Exatamente, madame!
CÉLIA
Que pena, ele é tão jovem! Ainda que pareça muito bem treinado.
DUQUE FREDERICO
Então, minha filha e minha sobrinha, vocês vieram até aqui para assistir a luta?
ROSALINDA
Sim, meu soberano, então, por favor, nos dê licença.
DUQUE FREDERICO
Posso garantir que vocês não vão gostar muito. Há certa vantagem sobre aquele
homem. Por compaixão da mocidade do provocador, eu ficaria satisfeito em
dissuadi-lo, mas ele não se deixa influenciar. Falem com ele, senhoritas, vejam se
conseguem convencê-lo.
CÉLIA
Vá chamá-lo, Monsieur Le Beau.
DUQUE FREDERICO
Faça isso, eu não vou ficar por perto.
LE BEAU
Monsieur desafiador, a princesa quer falar com você.
ORLANDO
Eu irei com todo o respeito e obrigação.
50
CELIA
Yonder, sure, they are coming: let us now stay and see it.
LE BEAU
Even he, madam.
CELIA
Alas, he is too young! yet he looks successfully.
DUKE FREDERICK
How now, daughter and cousin! are you crept hither to see the wrestling?
ROSALIND
Ay, my liege, so please you give us leave.
DUKE FREDERICK
You will take little delight in it, I can tell you; there is such odds in the man. In pity of
the challenger's youth I would fain dissuade him, but he will not be entreated. Speak
to him, ladies; see if you can move him.
CELIA
Call him hither, good Monsieur Le Beau.
DUKE FREDERICK
Do so: I'll not be by.
LE BEAU
Monsieur the challenger, the princesses call for you.
ORLANDO
I attend them with all respect and duty.
51
ROSALINDA
Jovem, você desafiou o lutador Charles?
ORLANDO
Não, bela princesa, ele é o principal desafiador. Eu vim, assim como os outros
vieram, para provar com ele a força da minha mocidade.
CÉLIA
Jovem cavalheiro, seu espírito é muito corajoso para a sua idade. Você tem visto a
demonstração cruel de força desse homem. Se você pudesse se ver ou se conhecer
com seu julgamento, o medo da sua aventura iria lhe aconselhar buscar um desafio
mais equilibrado. Nós lhe imploramos, pelo seu próprio bem, que você abrace sua
própria segurança e desista desse ataque.
ROSALINDA
Faça isso, jovem senhor; sua reputação não será menosprezada. Faremos nosso o
pedido ao Duque para que a luta não siga adiante.
ORLANDO
Eu lhes suplico, não me castiguem com seus piores pensamentos. Confesso que
serei muito culpado por negar alguma coisa a essas belas senhoritas. Mas deixem
seus belos olhos e gentis desejos irem comigo para o meu julgamento em que, se eu
for derrotado, haverá só um homem mais humilhado que nunca, por não ter dado
ouvidos aos outros. Se eu for morto, será apenas um homem que estava disposto a
morrer. Eu não devo causar dano aos meus amigos, pois não tenho ninguém que se
lamente por mim; o mundo não se insultará, pois não tenho nada dele, apenas
preencho um espaço, o qual pode ser melhor ocupado quando eu o esvaziar.
ROSALINDA
A pequena força que tenho, eu gostaria que estivesse com você.
52
ROSALIND
Young man, have you challenged Charles the wrestler?
ORLANDO
No, fair princess; he is the general challenger: I come but in, as others do, to try with
him the strength of my youth.
CELIA
Young gentleman, your spirits are too bold for your years. You have seen cruel proof
of this man's strength: if you saw yourself with your eyes or knew yourself with your
judgment, the fear of your adventure would counsel you to a more equal enterprise.
We pray you, for your own sake, to embrace your own safety and give over this
attempt.
ROSALIND
Do, young sir; your reputation shall not therefore be misprised: we will make it our
suit to the duke that the wrestling might not go forward.
ORLANDO
I beseech you, punish me not with your hard thoughts; wherein I confess me much
guilty, to deny so fair and excellent ladies any thing. But let your fair eyes and gentle
wishes go with me to my trial: wherein if I be foiled, there is but one shamed that was
never gracious; if killed, but one dead that was willing to be so: I shall do my friends
no wrong, for I have none to lament me, the world no injury, for in it I have nothing;
only in the world I fill up a place, which may be better supplied when I have made it
empty.
ROSALIND
The little strength that I have, I would it were with you.
53
CÉLIA
E a minha, aumentando a dela.
ROSALINDA
Passe bem! Oro aos céus para estar enganada em relação a você!
CÉLIA
Que seus desejos se realizem!
CHARLES
Vamos, onde está o jovem galã que está tão desejoso de voltar as suas raízes?
ORLANDO
Está pronto senhor, mas ele gostaria de algo mais modesto.
DUQUE FREDERICO
Vocês terão apenas um assalto.
CHARLES
Garanto à Sua Graça que não precisará pedir um segundo, ainda mais depois de ter
tentado tão insistentemente fazê-lo desistir do primeiro.
ORLANDO
Você quer dizer que quer zombar de mim depois, e não antes, como você já fez;
mas, faça como quiser.
ROSALINDA
Agora, que Hércules lhe traga sorte, jovem rapaz!
CÉLIA
Queria ser invisível, para prender o fortão pela perna.
54
CELIA
And mine, to eke out hers.
ROSALIND
Fare you well: pray heaven I be deceived in you!
CELIA
Your heart's desires be with you!
CHARLES
Come, where is this young gallant that is so desirous to lie with his mother earth?
ORLANDO
Ready, sir; but his will hath in it a more modest working.
DUKE FREDERICK
You shall try but one fall.
CHARLES
No, I warrant your grace, you shall not entreat him to a second, that have so mightily
persuaded him from a first.
ORLANDO
An you mean to mock me after, you should not have mocked me before: but come
your ways.
ROSALIND
Now Hercules be thy speed, young man!
CELIA
I would I were invisible, to catch the strong fellow by the leg.
55
Eles brigam
ROSALINDA
Oh, que rapaz admirável!
CÉLIA
Se eu tivesse raios e trovões em meus olhos, eu poderia dizer quem vai ser
derrubado.
Grito alto
CHARLES vai ao chão
DUQUE FREDERICO
Já chega! Chega!
ORLANDO
Sim, Sua Graça, eu lhe suplico. Ainda não estou conseguindo respirar bem.
DUQUE FREDERICO
Como você está Charles?
LE BEAU
Ele não consegue falar, meu senhor.
DUQUE FREDERICO
Tire-o daqui. Qual o seu nome, meu jovem?
ORLANDO
Orlando, meu soberano, o filho mais novo do Senhor Rolando des Bois.
56
They wrestle
ROSALIND
O excellent young man!
CELIA
If I had a thunderbolt in mine eye, I can tell who should down.
Shout
CHARLES is thrown
DUKE FREDERICK
No more, no more.
ORLANDO
Yes, I beseech your grace: I am not yet well breathed.
DUKE FREDERICK
How dost thou, Charles?
LE BEAU
He cannot speak, my lord.
DUKE FREDERICK
Bear him away. What is thy name, young man?
ORLANDO
Orlando, my liege; the youngest son of Sir Rowland de Boys.
57
DUQUE FREDERICO
Queria que você fosse filho de qualquer outro homem. O mundo estimava seu
honrado pai, mas eu ainda assim o considerava meu inimigo. Você poderia me
deixar mais satisfeito com esse feito sendo descendente de outra família. Mas, que
você passe bem, você é um jovem corajoso. Gostaria que você tivesse me contado
sobre outro pai.
Sai DUQUE FREDERICO, o acompanhante e LE BEAU
CÉLIA
Se eu fosse meu pai, prima, acha que teria feito isso?
ORLANDO
Tenho mais orgulho de ser o filho mais novo do Sir Rolando, e não mudaria meu
sobrenome para ser adotado como herdeiro de Frederico.
ROSALINDA
Meu pai gostava do Sir Rolando, via nele sua própria alma, e todos pensavam como
meu pai. Lamento não ter sabido antes que esse jovem rapaz era seu filho; eu teria
chorado em minhas súplicas, antes que ele se metesse nesse perigo.
CÉLIA
Bondosa prima, deixe-nos agradecer a ele e apoiá-lo. A aspereza de meu pai e sua
disposição invejosa ferem meu coração. Sir, você teve o merecido. Se você mantiver
suas promessas de afeto justamente, como você tem excedido toda promessa, sua
mulher será feliz.
ROSALINDA
Cavalheiro, [Dando a ele uma corrente que estava em seu pescoço] use isto por
mim, pois estou fora da posição de fortuna, senão, poderia dar mais; mas me falta
em mãos. Vamos, prima?
58
DUKE FREDERICK
I would thou hadst been son to some man else: The world esteem'd thy father
honourable, but I did find him still mine enemy: Thou shouldst have better pleased
me with this deed, Hadst thou descended from another house. But fare thee well;
thou art a gallant youth: I would thou hadst told me of another father.
Exeunt DUKE FREDERICK, train, and LE BEAU
CELIA
Were I my father, coz, would I do this?
ORLANDO
I am more proud to be Sir Rowland's son, His youngest son; and would not change
that calling, To be adopted heir to Frederick.
ROSALIND
My father loved Sir Rowland as his soul, And all the world was of my father's mind.
Had I before known this young man his son, I should have given him tears unto
entreaties, Ere he should thus have ventured.
CELIA
Let us go thank him. And encourage him: My father‟s rough and envious disposition
Sticks me at heart. Sir, you have well deserved. If you do keep you promises in love
but jutly as you have exceeded promise, Your mistress shall be happy.
ROSALIND
Gentleman, [Giving him a chain from her neck] Wear this for me, one out of suits with
fortune, That could give more, but that her hand lacks means. Shall we go, coz?
59
CÉLIA
Sim, vamos. Passe bem, honesto cavalheiro.
ORLANDO
Não posso dizer obrigado? As minhas melhores partes estão em frangalhos, e o que
ainda está de pé é apenas uma estátua de madeira imprestável, um mero bloco sem
vida.
ROSALINDA
Ele nos chama de volta; meu orgulho caiu com minha sorte, vou perguntar a ele o
que ele gostaria. Você chamou, senhor? Sir, você lutou bem e derrotou mais do que
seus inimigos.
CÉLIA
Você vem, prima?
ROSALINDA
Vou. Boa sorte para você.
Saem ROSALINDA e CELIA
ORLANDO
Que paixão é essa que tanto pesa em minha língua? Eu nem pude falar com ela,
embora ela tenha pedido uma conversa. Oh, pobre Orlando, você foi derrotado! Se
não foi por Charles, então foi alguma coisa mais fraca e delicada.
Entra LE BEAU
60
CELIA
Ay. Fare you well, fair gentleman.
ORLANDO
Can I not say, I thank you? My better parts Are all thrown down, and that which here
stands up Is but a quintain, a mere lifeless block.
ROSALIND
He calls us back: my pride fell with my fortunes; I'll ask him what he would. Did you
call, sir? Sir, you have wrestled well and overthrown More than your enemies.
CELIA
Will you go, coz?
ROSALIND
Have with you. Fare you well.
Exeunt ROSALIND and CELIA
ORLANDO
What passion hangs these weights upon my tongue? I cannot speak to her, yet she
urged conference. O poor Orlando, thou art overthrown! Or Charles or something
weaker masters thee.
Re-enter LE BEAU
61
LE BEAU
Bom senhor, em nome de nossa amizade, eu o aconselho a deixar este lugar.
Embora você tenha merecido grandes elogios, aplausos verdadeiros e amor, devido
à atual condição do Duque, ele interpreta mal tudo o que você tenha feito. O Duque
está mal humorado, mas o que ele é realmente, mais lhe convém imaginar do que
eu lhe contar.
ORLANDO
Eu lhe agradeço, Sir, e suplico que me conte isso: qual das duas moças que
estavam na luta é filha do Duque?
LE BEAU
Nenhuma das duas, se julgarmos pelos modos. Mas, certamente, a menor é a sua
filha; a outra é filha do Duque que foi banido, e esta aqui está retida pelo seu tio
usurpador para manter a companhia de sua filha, pois o amor das primas é mais
afetuoso do que de irmãs de sangue. Mas, eu posso lhe assegurar que, atualmente,
esse Duque tem se aborrecido muito com sua bondosa sobrinha, baseado apenas
no argumento de que as pessoas gostam dela por suas virtudes e têm pena dela
pelo bem estar de seu pai. Juro por minha vida que, por sua maldade contra a moça
irá, de uma hora para outra, expulsá-la.
Até mais, senhor, passe bem. Daqui para frente, em um mundo melhor do que este,
eu desejaria mais conhecimento e afeto de sua parte.
ORLANDO
Eu lhe agradeço muito. Passe bem.
[Sai LE BEAU]
Desta maneira, eu devo sair do fogo para entrar na fornalha; de um Duque tirano
para um irmão tirano! Mas, divina Rosalinda!
[Sai]
62
LE BEAU
Good sir, I do in friendship counsel you To leave this place. Albeit you have deserved
High commendation, true applause and love, Yet such is now the duke's condition
That he misconstrues all that you have done. The duke is humorous; what he is
indeed,
More suits you to conceive than I to speak of.
ORLANDO
I thank you, sir: and, pray you, tell me this: Which of the two was daughter of the
duke
That here was at the wrestling?
LE BEAU
Neither his daughter, if we judge by manners; But yet indeed the lesser is his
daughter.The other is daughter to the banish'd duke, And here detain'd by her
usurping uncle,To keep his daughter company; whose loves Are dearer than the
natural bond of sisters. But I can tell you that of late this duke Hath ta'en displeasure
'gains this gentle niece, Grounded upon no other argument, But that the people
praise her for her virtues and pity her for her good father's sake; And, on my life, his
malice 'gainst the lady Will suddenly break forth. Sir, fare you well: Here after, in a
better world than this, I shall desire more love and knowledge of you.
ORLANDO
I rest much bounden to you: fare you well.
[Exit LE BEAU]
Thus must I from the smoke into the smother; From tyrant duke unto a tyrant brother:
But heavenly Rosalind!
[Exit]
63
CENA III. Um quarto do palácio.
Entram CÉLIA e ROSALINDA.
CÉLIA
Como, minha prima, como, Rosalinda? Cupido tenha misericórdia! Você não fala
nada?
ROSALINDA
Nem mesmo para espantar um cachorro.
CÉLIA
Não, suas palavras são preciosas demais para serem jogadas para cahorros; lance
algumas delas para mim, vamos, deixe-me manca com suas razões.
ROSALINDA
Então seriam duas primas indispostas; uma, manca com as razões da outra, e esta,
doida de tantas razões.
CÉLIA
Tudo isso por causa de seu pai?
ROSALINDA
Não; muito disso é por causa do pai de meus filhos. Oh, como é cheio de espinhos
este mundo da rotina diária!
CÉLIA
Eles são apenas espinhos, prima, grudados em suas diversões de feriados. Se nós
não seguirmos por caminhos marcados com pegadas, eles agarram nossas saias.
ROSALINDA
Eu poderia sacudi-los para fora de meu casaco, mas estes espinhos estão em meu
coração.
64
SCENE III. A room in the palace.
Enter CELIA and ROSALIND
CELIA
Why, cousin! why, Rosalind! Cupid have mercy! not a word?
ROSALIND
Not one to throw at a dog.
CELIA
No, thy words are too precious to be cast away upon curs; throw some of them at
me; come, lame me with reasons.
ROSALIND
Then there were two cousins laid up; when the one should be lamed with reasons
and the other mad without any.
CELIA
But is all this for your father?
ROSALIND
No, some of it is for my child's father. O, how full of briers is this working-day world!
CELIA
They are but burs, cousin, thrown upon thee in holiday foolery: if we walk not in the
trodden paths our very petticoats will catch them.
ROSALIND
I could shake them off my coat: these burs are in my heart.
65
CÉLIA
Livre-se deles.
ROSALINDA
Eu poderia tentar, se com minha tosse e choro pudesse tocar o coração dele.
CÉLIA
Vamos lá, lute contra seus sentimentos!
ROSALINDA
Oh, eles fazem o papel de um lutador muito melhor que o meu!
CÉLIA
Ah, então lhe desejo sorte! Com o tempo você tentará, mesmo assim já terá um
prejuízo em sua queda. Mas, colocando essas brincadeiras de lado, vamos falar a
sério: é possível que, de repente, você tenha se apaixonado de maneira tão forte
pelo filho mais novo do Sir Rolando?
ROSALINDA
O meu pai, o Duque, estimava muito o querido pai dele.
CÉLIA
E por isso lhe ocorre que, consequentemente, você deveria estimar seu querido
filho? Por este tipo de raciocínio, eu deveria odiá-lo, pois meu pai odiava seu querido
pai. Mas, eu não odeio Orlando.
ROSALINDA
Não, pelo meu bem, não o odeie.
CÉLIA
E por que não? Por acaso ele não merece?
66
CELIA
Hem them away.
ROSALIND
I would try, if I could cry 'hem' and have him.
CELIA
Come, come, wrestle with thy affections.
ROSALIND
O, they take the part of a better wrestler than myself!
CELIA
O, a good wish upon you! you will try in time, in despite of a fall. But, turning these
jests out of service, let us talk in good earnest: is it possible, on such a sudden, you
should fall into so strong a liking with old Sir Rowland's youngest son?
ROSALIND
The duke my father loved his father dearly.
CELIA
Doth it therefore ensue that you should love his son dearly? By this kind of chase, I
should hate him, for my father hated his father dearly; yet I hate not Orlando.
ROSALIND
No, faith, hate him not, for my sake.
CELIA
Why should I not? Doth he not deserve well?
67
ROSALINDA
Deixe-me amá-lo por ele merecer, e você deve amá-lo porque eu o amo.
Olhe, lá vem o Duque.
CÉLIA
Com seus olhos cheios de raiva.
Entra DUQUE FREDERICO, com os Lordes
DUQUE FREDERICO
Senhorita, arrume suas coisas o mais rápido possível, para o seu próprio bem, e vá
embora de nossa corte.
ROSALINDA
Eu, tio?
DUQUE FREDERICO
Você, sobrinha. Dentro de dez dias, se você for encontrada a menos de vinte milhas
perto de nossa corte, você morrerá por isso.
ROSALINDA
Eu imploro, Sua Graça, que me diga qual foi meu crime. Se eu comigo mesma sou
inteligente ou conheço meus próprios desejos, se não é um sonho ou não estou fora
de mim – como acredito não estar – então, querido tio, nunca, nem mesmo em um
ligeiro pensamento, ofendi Sua Graça.
DUQUE FREDERICO
Assim como todos os traidores. Se suas purgações consistem em palavras, eles são
tão inocentes quanto a própria graça divina. Basta dizer que eu não confio em você.
68
ROSALIND
Let me love him for that, and do you love him because I do. Look, here comes the
duke.
CELIA
With his eyes full of anger.
Enter DUKE FREDERICK, with Lords
DUKE FREDERICK
Mistress, dispatch you with your safest haste And get you from our court.
ROSALIND
Me, uncle?
DUKE FREDERICK
You, cousin Within these ten days if that thou be'st found So near our public court as
twenty miles, Thou diest for it.
ROSALIND
I do beseech your grace, Let me the knowledge of my fault bear with me: If with
myself I hold intelligence Or have acquaintance with mine own desires, If that I do not
dream or be not frantic,-- As I do trust I am not--then, dear uncle, Never so much as
in a thought unborn Did I offend your highness.
DUKE FREDERICK
Thus do all traitors: If their purgation did consist in words, They are as innocent as
grace itself: Let it suffice thee that I trust thee not.
69
ROSALINDA
Mesmo assim, sua desconfiança não pode fazer de mim uma traidora. Diga-me
quais os fundamentos de sua afirmação.
DUQUE FREDERICO
Você é filha de seu pai, é isso já é suficiente.
ROSALINDA
Eu era filha de meu pai quando Sua Graça tomou seu ducado e também quando
Sua Graça o baniu. Traição não é herdada, meu senhor; e se nós derivamos de
nossos amigos, o que isso tem a ver comigo? Meu pai não era um traidor! Então,
meu bom soberano, não se engane tanto comigo a ponto de pensar que minha
pobreza é traiçoeira.
CÉLIA
Caro soberano, escute-me.
DUQUE FREDERICO
Sim, Célia; nós deixamos que ela ficasse por sua causa, senão ela estaria por aí,
junto com seu pai.
CÉLIA
Naquele tempo eu não implorei para que ela ficasse; o prazer foi todo seu e também
o seu próprio remorso. Eu era muito jovem naquela época para dar valor a ela, mas
agora eu a conheço. Se ela é uma traidora, então eu também sou; nós sempre
dormimos e acordamos juntas, estudamos, brincamos, tomamos as refeições e,
onde quer que fôssemos, como os cisnes da carruagem de Juno, sempre seguimos
como uma dupla inseparável.
70
ROSALIND
Yet your mistrust cannot make me a traitor: Tell me whereon the likelihood depends.
DUKE FREDERICK
Thou art thy father's daughter; there's enough.
ROSALIND
So was I when your highness took his dukedom; So was I when your highness
banish'd him: Treason is not inherited, my lord; Or, if we did derive it from our friends,
What's that to me? my father was no traitor: Then, good my liege, mistake me not so
much to think my poverty is treacherous.
CELIA
Dear sovereign, hear me speak.
DUKE FREDERICK
Ay, Celia; we stay'd her for your sake, Else had she with her father ranged along.
CELIA
I did not then entreat to have her stay; It was your pleasure and your own remorse: I
was too young that time to value her; But now I know her: if she be a traitor, Why so
am I; we still have slept together, Rose at an instant, learn'd, play'd, eat together, And
wheresoever we went, like Juno's swans, Still we went coupled and inseparable.
71
DUQUE FREDERICO
Ela é muito sutil para você, e sua doçura, seu grande silêncio e paciência falam com
as pessoas, e assim ficam com pena dela. Você é uma tola: ela rouba o seu nome;
você vai mostrar mais brilho e parecer mais virtuosa quando ela tiver ido embora.
Então, não abra sua boca! Minha sentença é firme e irrevogável, e deste momento
em diante, ela está banida.
CÉLIA
Então pronuncie esta sentença para mim, meu soberano. Eu não posso viver sem a
companhia dela.
DUQUE FREDERICO
Você é uma louca. Sobrinha, providencie o que precisa: se você permanecer mais
do que o devido tempo, por minha honra e pela grandeza de minha palavra, juro que
você morrerá.
Saí o DUQUE FREDERICO e os lordes
CÉLIA
Oh, minha pobre Rosalinda, para onde você vai? Gostaria de trocar os pais? Eu te
darei o meu. Juro que não há como você estar mais triste do que eu.
ROSALINDA
Eu tenho mais motivos.
CÉLIA
Você não tem, prima. Por favor, fique feliz: você não sabe que o Duque baniu a mim,
sua própria filha?
ROSALINDA
Ele não fez isso.
72
DUKE FREDERICK
She is too subtle for thee; and her smoothness, Her very silence and her patience
Speak to the people, and they pity her. Thou art a fool: she robs thee of thy name;
And thou wilt show more bright and seem more virtuous When she is gone. Then
open not thy lips: Firm and irrevocable is my doom Which I have pass'd upon her;
she is banish'd.
CELIA
Pronounce that sentence then on me, my liege: I cannot live out of her company.
DUKE FREDERICK
You are a fool. You, niece, provide yourself: If you outstay the time, upon mine
honour, And in the greatness of my word, you die.
Exeunt DUKE FREDERICK and Lords
CELIA
O my poor Rosalind, whither wilt thou go? Wilt thou change fathers? I will give thee
mine. I charge thee, be not thou more grieved than I am.
ROSALIND
I have more cause.
CELIA
Thou hast not, cousin; Prithee be cheerful: know'st thou not, the duke Hath banish'd
me, his daughter?
ROSALIND
That he hath not.
73
CÉLIA
Não fez? Então, Rosalinda você não tem o amor que ensina a você que nós somos
apenas uma. Vamos ficar separadas? Devemos nos despedir, doce menina? Não;
deixe meu pai procurar outro herdeiro. Por essa razão, peço que imagine comigo
como nós iremos fugir, para onde devemos ir e o que devemos levar conosco, e nem
tente tomar sua decisão de ir sozinha, levar suas tristezas e me deixar para trás. Por
este céu, que agora está pálido por nossas dores, diga o que você quer, que eu
estarei do seu lado.
ROSALINDA
Para onde nós iríamos?
CÉLIA
Procurar meu tio na floresta de Arden.
ROSALINDA
Deus me livre, que perigos correríamos, nós donzelas, viajando para tão longe! A
beleza provoca muito mais os ladrões do que o próprio ouro.
CÉLIA
Eu vestirei roupas simples e mancharei meu rosto com um tipo de terra. Você deve
fazer o mesmo. Então nós devemos viajar sem os assaltantes mexerem conosco.
ROSALINDA
Não seria melhor, pois eu sou mais alta do que o comum, se eu me vestisse como
um homem? Um belo machadinho atado à minha coxa, uma lança de javalis em
minhas mãos, e, em meu coração, esconderei o medo de uma mulher. Teremos um
exterior marcial e fanfarrão, como muitos outros covardes masculinos têm e encaram
as situações apenas com suas aparências.
74
CELIA
No, hath not? Rosalind lacks then the love Which teacheth thee that thou and I am
one: Shall we be sunder'd? shall we part, sweet girl? No: let my father seek another
heir. Therefore devise with me how we may fly, Whither to go and what to bear with
us; And do not seek to take your change upon you, To bear your griefs yourself and
leave me out; For, by this heaven, now at our sorrows pale, Say what thou canst, I'll
go along with thee.
ROSALIND
Why, whither shall we go?
CELIA
To seek my uncle in the forest of Arden.
ROSALIND
Alas, what danger will it be to us, Maids as we are, to travel forth so far! Beauty
provoketh thieves sooner than gold.
CELIA
I'll put myself in poor and mean attire And with a kind of umber smirch my face;
The like do you: so shall we pass along And never stir assailants.
ROSALIND
Were it not better, Because that I am more than common tall, That I did suit me all
points like a man? A gallant curtle-axe upon my thigh, A boar-spear in my hand; and-
-in my heart Lie there what hidden woman's fear there will-- We'll have a swashing
and a martial outside, As many other mannish cowards have That do outface it with
their semblances.
75
CÉLIA
Como deverei lhe chamar quando você virar homem?
ROSALINDA
Não terei nome pior do que o do pajem de Júpiter. Portanto, você deverá me chamar
sempre de Ganimedes. Mas, qual será o seu nome?
CÉLIA
Alguma coisa que tenha referência ao estado em que me encontro. Ao invés de
Célia, Aliena.
ROSALINDA
Mas, prima, e se nós ousássemos roubar o bobo da corte de seu pai? Não seria um
conforto para a nossa viagem?
CÉLIA
Ele atravessaria o mundo todo comigo. Deixe-me sozinha para convencê-lo. Agora,
vamos, pegue nossas jóias e junte nossas riquezas para planejar qual seria o melhor
horário e o mais seguro para nos esconder da busca que será feita depois da minha
fuga. Viajaremos contentes para a liberdade, e não para o exílio.
Saem
76
CELIA
What shall I call thee when thou art a man?
ROSALIND
I'll have no worse a name than Jove's own page; And therefore look you call me
Ganymede. But what will you be call'd?
CELIA
Something that hath a reference to my state No longer Celia, but Aliena.
ROSALIND
But, cousin, what if we assay'd to steal The clownish fool out of your father's court?
Would he not be a comfort to our travel?
CELIA
He'll go along o'er the wide world with me; Leave me alone to woo him. Let's away,
And get our jewels and our wealth together, Devise the fittest time and safest way
To hide us from pursuit that will be made After my flight. Now go we in content
To liberty and not to banishment.
Exeunt
77
4.2 A TRADUÇÃO E A ADAPTAÇÃO
Traduzir obras de Shakespeare com certeza não é algo fácil, e é por isso que
no Brasil existem poucos tradutores dedicados à obra shakespeariana. Além da
língua inglesa extremamente complicada (Inglês Elizabetano), ainda existem certas
expressões que o autor utilizava que eram de origem local, expressões, por
exemplo, de sua própria cidade, Stratford-Upon-Avon.
A linguagem que o autor utilizava era muito rica e o seu texto praticamente
perfeito, cheio de duplos sentidos (o que na maioria das vezes não é exposto da
maneira correta, pois o outro sentido é sempre relacionado ao sexo) e de escritas
extravagantes, e por isso é tão difícil pensar que há a possibilidade de ele mal ter
frequentado a escola, pois sua escrita é tão complexa e suas palavras tão bem
pensadas e colocadas.
Muito do que o bardo escreveu não é encontrado nos dicionários – isso nunca
foi e nunca será suficiente para traduzir suas obras. Muitas das palavras já mudaram
de significado e não têm apenas o significado que atualmente é mais utilizado;
então, quando se faz a leitura de uma obra, é sempre bom dar uma conferida para
saber se realmente foi captado o real significado. Ainda existe a parte da construção
das frases, que são de um inglês arcaico e com certeza de uma mais difícil
compreensão, como na parte em que Oliver faz uma pergunta a Orlando e ele
responde desta forma:
“Oliver: Know you before whom, sir?”
“Orlando: Ay, better than him I am before knows me”
Assim, percebe-se que não é tão simples ler as obras no seu texto original.
Para traduzir isso foi preciso de tempo, e não se resume apenas ao conhecimento
da língua, mas ao conhecimento de um todo baseado no inglês antigo e suas
expressões.
A adaptação modernizando esse tipo de peça é mais complicada do que o
imaginado. É claro que a linguagem utilizada nos dias atuais é muito mais simples
na hora em que um texto está sendo escrito, pois a preocupação em embelezar e
deixar cheio de “palavras difíceis” não é tão precisa (não a ponto de ter que se
assemelhar a linguagem de Shakespeare), mas, por mais que seja mais fácil, é
muito difícil traduzir algo tão cheio dessas “palavras difíceis” se esquecendo da
78
linguagem arcaica utilizada. O texto é tão bonito daquele jeito, todo embelezado, que
parece que seria quase que um pecado “quebrar” a linguagem do bardo.
A atenção tem que ser grande para que o tradutor consiga se desprender
dessa linguagem e simplesmente “se soltar”, pensando em como aquela frase bonita
e difícil seria dita atualmente. Aquela parte comentada acima seria simplesmente
“Você sabe com quem está falando?”, ou qualquer outra tão simples quanto esta.
As adaptações modernizadas são feitas porque, a cada ano que passa, elas
vão ficando cada vez mais e mais “ultrapassadas”, e estão sempre precisando de
uma pitada de atualização, ainda mais porque o atualizado de uma obra de
Shakespeare nem sempre é o moderno atual, e sim uma simplificação da linguagem.
Uma tradução nunca é suficiente para entender tudo o que Shakespeare quis
dizer, pois, a cada tradução feita, novas interpretações também foram feitas, as
quais podem mudar os sentidos e os significados; portanto, é importante entender
que nem sempre é possível obter uma tradução que agrade a todos, pois cada um
tem uma visão e uma interpretação diferente.
79
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo do trabalho, ou seja, ao longo da tradução da peça, diversos
obstáculos foram encontrados, e exatamente por querer atualizar a linguagem da
peça que estes tipos de problemas surgem. É muito difícil para o tradutor se deparar
com uma frase em que ele sabe que vai passar mais de uma hora apenas para
traduzi-la, e então perceber que ainda não está passando o real sentido.
Na realização do trabalho, foi deixado claro que a realização de uma tradução
adaptada e atualizada seria algo muito difícil; como já dito, o inglês encontrado nas
obras de Shakespeare é rico “até demais”, e muitas vezes é muito para a cabeça de
um tradutor que, quando traduz, ainda tem que se preocupar com a modernização
do se está traduzindo, como foi o que se passou aqui.
Algumas coisas precisaram ser mudadas para deixar mais claras e simples
as falas. Na verdade, não é que foram mudadas, foram adaptadas, até mesmo
porque existem certos ditados nas obras que. se forem traduzidos ao pé da letra,
não fariam o mínimo sentido no Brasil.
Por fim, a intenção deste trabalho foi simplesmente contar um pouco mais
sobre um dos escritores mais famosos do mundo (se não o mais). Afinal de contas,
como dito na introdução, ele está por todas as partes, em todas as falas, mas nem
todos sabem quem ele é e não têm o costume de ler suas obras.
Cabe aqui dizer que a modernização não teve a mínima intenção de modificar
ou corromper o texto, e sim de acrescentar e substituir palavras “vencidas” por
palavras “frescas”, assim permitindo que um público maior possa ler e apreciar o
trabalho magnífico que o bardo realizou e que, por intermédio dos tradutores, ainda
está sendo realizado.
80
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERTIN, Marilize Rezende. Traduções, adaptações, apropriações: reescrituras das peças Hamlet, Romeu e Julieta e Otelo, de William Shakespeare. São Paulo: USP, 2004. BURGUESS, Anthony. A Literatura Inglesa. São Paulo: Ática, 1996. CUNHA, Gualter M. Q. The complete translation of Shakespeare’s dramatic works: a project for translation and literary research. Portugal: UP, Instituto de Estudos Ingleses, 2003. HELIDORA, Barbara. Reflexões Shakespearianas. Rio de Janeiro: Lacerda, 2004. HELIODORA, Barbara. Falando de Shakespeare. São Paulo: Perspectiva, 2009. KIERNAN, Victor. Shaekespeare: poeta e cidadão. São Paulo: Editora Unesp, 1993. MARTINS, Marcia A. P. Shakespeare no Brasil: fontes de referência e primeiras traduções. Oxford Advanced Learner’s Dictionary. Oxford: Oxford University Press, 2003. Oxford escolar: para estudantes brasileiros de inglês. Oxford: Oxford University Press, 2006. ROZAKIS, Laurie. Tudo Sobre Shakespeare. Barueri: Manole, 2002. SHAKESPEARE, William. As You Like It. Londres: Wordsworth Classics, 2005. SHAKESPEARE, William. Como Gostais – Conto de Inverno. Porto Alegre: L&PM, 2009. SHAKESPEARE, William. Hamlet. Rio de Janeiro: Editora JB, 1984. SHAKESPEARE, William. Hamlet: edição adaptada bilíngue. São Paulo: Disal, 2005. VASCONCELLOS, Luiz Paulo. Dicionário de teatro. 6. Ed. Porto Alegre: L&PM, 2009.