PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE MANGUEIRINHA -
ESTADO DO PARANÁ
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, pelo Promotor de Justiça desta Comarca de
Mangueirinha/PR, no uso de suas atribuições legais e com
especial amparo no artigo 129, inciso III da Constituição
Federal, no artigo 25 inciso IV, alíneas 'a' e ‘b’, da Lei n°
8.625/93, nos artigos 1° inciso IV, 3º e 5º, todos da Lei n°
7.347/85 e artigo 17, da Lei n.° 8429/92, vêm
respeitosamente perante Vossa Excelência, propor
AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA c/c
Pedidos Liminares
em face de ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS, brasileiro, casado, inscrito no CPF
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sob nº 545.849.579-91, portador do Título de Eleitor nº
33499420604, filho de Ilka Fonseca dos Santos, nascido em
11 de agosto de 1962, residente e domiciliado na Rua Duque
de Caxias, nº 980, Centro, neste Município e Comarca de
Mangueirinha/PR, pelos motivos de fato e de direito a seguir
articulados:
I - DOS FATOS:
No mês de outubro do ano de 2012,
após o término das eleições municipais nesta Cidade e
Comarca de Mangueirinha, diversas pessoas compareceram
nesta Promotoria de Justiça para reclamar que estariam
sofrendo “perseguição política” pelo Prefeito, que acabara de se
reeleger - Sr. Albari Guimorvam Fonseca dos Santos (ora
requerido) -, pelo simples fato de terem apoiado o candidato
adversário, quando das eleições.
Chegaram ao conhecimento deste
Promotor de Justiça diversas irregularidades que teriam sido
praticadas pelo Prefeito Municipal, sobretudo quanto a atos
administrativos praticados contra supostos adversários
políticos, que teriam apoiado o seu adversário, que foi
derrotado nas eleições.
O Sr. Adelmino dos Santos declarou
nesta Promotoria de Justiça que é servidor público municipal
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há aproximadamente 20 (vinte) anos, e desempenha a função
de motorista. Afirmou que exercia a função de motorista de
caminhão, no Departamento de Viação e, no dia 08 de
outubro de 2012, ou seja, um dia após o resultado das
eleições, quando chegou em seu serviço, o chefe “Arezi”
cumprimentou todos os servidores que estavam no local,
menos ele. Disse que com ele “a conversa ia ser diferente”.
Desde então, Adelmino batia o ponto e era ignorado pela sua
chefia, que não o encaminhava para qualquer setor, tendo
colocado outro servidor para desempenhar a função que ele
desempenhava anteriormente (fl. 07- Procedimento
Preparatório).
Adriane de Fátima do Nascimento
relatou que é servidora pública municipal, cargo efetivo,
agente comunitária de saúde. Afirmou que estava em desvio
de função, exercendo o cargo de atendente de farmácia no
Posto de Saúde, sendo que na segunda-feira, após as eleições,
foi informada pela sua chefe que iria ficar apenas atendendo
ao público, a fim de “garantir a segurança dos superiores”.
Tal mudança seria devido à sua posição política favorável ao
candidato adversário do requerido (fl. 08, PP).
Posteriormente, compareceu novamente
nesta Promotoria de Justiça, no dia 04 de junho de 2013,
afirmando que pediu exoneração no mês de março do mesmo
ano, pois não aguentava a perseguição que vinha sofrendo
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dos seus superiores, sendo que atualmente está fazendo
tratamento psicológico (fl. 255, PP).
Leone Luis de Freitas também
compareceu nesta Promotoria de Justiça e afirmou que é
servidor público efetivo do Município de Mangueirinha há
cerca de dois anos e meio, onde desempenha a função de
motorista, lotado no Departamento de Saúde. Declarou que
após as eleições, foi informado pelo chefe, Sr. Luiz Antônio
Ferreira, que deveria entregar o ônibus que conduzia e foi
orientado a permanecer no Departamento de Educação, sem desempenhar qualquer função. Relatou que fica sentado e
esperando, sem nada para fazer (fl. 09 – Procedimento
Preparatório).
Vitória Jantara declarou que é
servidora pública municipal há cerca de 12 anos, onde
desempenha a função de auxiliar administrativa. Afirmou que
após as eleições, pelo fato de ter apoiado o adversário político
do requerido, foi removida para uma escola bem distante de sua residência (fl. 10, PP).
Patrícia da Rocha Vizentim relatou que
é servidora pública municipal há onze anos, onde
desempenha a função de auxiliar administrativa. Afirmou que
após as eleições, foi alocada em uma sala onde não desempenha qualquer função, apenas cumpre horário (fls.
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11,12-PP).
Manoela Mordaski de Almeida declarou
que é servidora pública municipal, ocupante do cargo de
assessora administrativa, lotada no setor de patrimônio
público. Declarou que no ano de 2009, durante a
administração do requerido, ficou três meses sem realizar qualquer função, pelo fato de não ter apoiado a candidatura
de Guimorvam. Afirmou que após as eleições, foi colocada em uma sala juntamente com materiais inservíveis, sofrendo chacotas dos demais servidores. Em determinada
ocasião, o Sr. Osmair Pilatti, então chefe da declarante, disse:
“É assim que tem que ficar a sala dos do contra”. Relatou
que seu chefe Osmair questionou o motivo porque a
declarante foi até o Fórum, dizendo-lhe que se ela não
estivesse contente, que pedisse exoneração (fls. 15/16, PP).
Leonilda Rodrigues da Fonseca, quando
ouvida nesta Promotoria de Justiça, em 23 de outubro de
2012, relatou é servidora pública municipal, ocupante do
cargo de assistente administrativo. Afirmou que trabalhava na
faculdade Unilagos até poucos dias após as eleições, quando
foi comunicada que seu contrato seria rescindido. O Diretor
Administrativo da faculdade, Rafael, lhe disse que seria
demitida porque ela tinha feito uma escolha, e como ela tinha
votado contra o requerido, deveria arcar com as
consequências. Na segunda-feira após as eleições, Leonilda foi
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informada pela sua chefe Mariza que todos os servidores que “votaram no 15” estariam de férias. Afirmou que desde
o término das eleições ficava em sua sala, somente cumprindo horário. Ainda, alguns motoristas que seriam
concursados também não estariam desempenhando qualquer
função, que são “obrigados a ficar sentados o dia inteiro cumprindo horário, enquanto outras pessoas que não são
concursadas estão desempenhando a função de motorista.”
(fls. 17/18, PP).
Posteriormente, em 28 de maio de
2013, Leonilda foi ouvida novamente nesta Promotoria, e
afirmou que continua sem desempenhar qualquer tipo de função, que fica na sua sala o dia inteiro, realizando raras
atividades, como, por exemplo, a confecção de dois ofícios em
uma semana, que devido a esta situação está fazendo
tratamento psiquiátrico, pois está com depressão (fl. 257,
PP).
Quizair de Souza Guimarães declarou
que é servidor público efetivo municipal, cargo de motorista.
Afirmou que prestava serviço no Departamento de
Urbanismo, conduzindo o caminhão de coleta de lixo há cerca
de oito anos. No dia seguinte das eleições, foi informado que
estaria de férias, sem qualquer justificativa para tanto. Alegou
que quando retornou de férias, o colocaram para dirigir um outro caminhão, em péssimas condições, que tem apenas
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três parafusos em uma roda, “o acelerador é como se fosse
um prego”, e não possui chave para dar a partida. Acredita
que tudo isso aconteceu por motivação de perseguição política
(fl. 30, PP).
Mariuza Aparecida Mendes declarou
que é servidora pública ocupante de cargo efetivo, e exerce a
função de atendente de creche. Afirmou que nos últimos dez
anos exerceu sua função na Creche da Mana, mas que no
início do ano de 2013 foi informada que passaria a exercer
suas funções em um local distante de sua residência -
Creche Izabel Ribeiro Finger, no Distrito do Covó, zona rural
do Município de Mangueirinha. Acredita que foi transferida
por razão de perseguição política, pois votou contra o
requerido (fl. 252, PP).
Rosa Aparecida do Amaral, nesta
Promotoria de Justiça, afirmou que é servidora pública de
cargo efetivo e desempenha a função de assistente de creche.
Declarou que por aproximadamente dezessete anos
desempenhou a sua função na Creche Menino Deus, mas que
após as eleições, foi informada que iria trabalhar em um local distante de sua residência, na Creche Izabel Ribeiro Finger,
no Distrito do Covó, zona rural de Mangueirinha. Acredita que
o motivo da sua transferência foi perseguição política, haja
vista que votou no candidato contrário ao requerido (fl. 258,
PP).
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Constam, ainda, no procedimento
preparatório em anexo, outras reclamações de servidores
públicos municipais, que se sentiram perseguidos pelo
requerido.
Diante de tantas reclamações e de
tamanha insatisfação, foi instaurado o Procedimento
Preparatório autuado sob n.º 0083.12.585-1, com a finalidade
de apurar eventuais desvios de finalidade em atos
administrativos da Prefeitura Municipal de Mangueirinha/PR,
com abuso de poder, motivados por perseguição política,
contra servidores públicos municipais que teriam votado
contra o requerido nas eleições municipais de 2012.
Ficou comprovado no procedimento
preparatório em anexo que ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS, na condição de Prefeito Municipal de
Mangueirinha/PR, após ter sido vitorioso nas eleições
municipais do ano de 2012, praticou atos administrativos com desvio de finalidade e com abuso de poder, em detrimento do interesse público, com o único intuito de prejudicar alguns servidores públicos municipais, seus adversários políticos.
Tal situação pode ser comprovada
através das declarações dos próprios servidores públicos
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municipais, e também pela documentação acostada ao
procedimento preparatório em anexo.
O Ministério Público, através do ofício
n.º 143/2013, requisitou informações à Prefeitura Municipal
de Mangueirinha, acerca da situação de alguns servidores
públicos, que estariam sendo perseguidos pelo requerido, e
também de outros, que estariam em desvio de função (fl. 259,
PP).
Em resposta, a Prefeitura Municipal de
Mangueirinha, através do ofício nº 239/2013, informou que a
servidora Vitória Jantara exerce suas atividades no
Departamento de Educação, não havendo registro de
movimentação pessoal. Remeteu cópia de sua ficha funcional
(fl. 261, PP).
Em análise à mencionada
documentação, percebe-se que a Prefeitura Municipal não
informou, como requisitado pelo Ministério Público, o local (a
escola) onde Vitória Jantara estaria exercendo as suas
funções, mencionando apenas que ela exerce suas funções no
Departamento de Educação. Apresentou informações inverídicas, de que não existe registro de movimentação
pessoal.
Quanto à situação da servidora Rosa
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Aparecida do Amaral, a Prefeitura Municipal informou que
exerce suas funções na Creche Maria Inez dos Santos, não
havendo registro de movimentação pessoal. Remeteu cópia de
sua ficha funcional (fl. 261, PP).
Constata-se, novamente, a
inveracidade das informações prestadas pela Prefeitura
Municipal, que afirmou que não existe registro de
movimentação pessoal.
Mais uma vez, apresentou informações falsas, não condizentes com a situação da servidora pública,
haja vista que conforme declaração colhida nesta Promotoria
de Justiça, na data de 24 de julho de 2013, Rosa está
exercendo sim as suas funções na Creche Izabel Ribeiro
Finger, no Distrito do Covó, zona rural de Mangueirinha, local
distante cerca de 12 km de sua residência (fl. 293, PP).
Ainda, de acordo com as informações
prestadas pela Prefeitura Municipal de Mangueirinha,
Mariuza Aparecida Mendes exerceria suas funções na Creche
Meninos Deus, não havendo registro de movimentação
pessoal. Remeteu cópia de sua ficha funcional (fl. 261, PP).
As informações são falsas. De acordo
com depoimento de Mariuza, prestado nesta Promotoria de
Justiça em 24 de julho de 2013, ela continua exercendo as
suas funções na Creche Izabel Ribeiro Finger, no Distrito do
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Covó, zona rural de Mangueirinha, local distante cerca de 12
km de sua residência (fl. 292, PP).
Ainda, nas fichas funcionais dos
servidores públicos, remetidas ao Ministério Público, não
consta nenhuma anotação quanto à concessão de férias,
advertências, suspensões, transferências, remoções etc. As fichas estão em branco.
O motivo dessa atitude do Poder
Executivo local é óbvio: mascarar a ilegitimidade e a ilegalidade dos atos administrativos praticados pelo
requerido, com o intuito único de prejudicar alguns servidores
públicos, seus adversários políticos.
Ademais, a conduta do Diretor de
Departamento de Administração da Prefeitura de
Mangueirinha, que assinou o ofício nº 143/2013 (fl. 262, PP),
é criminosa, haja vista que omitiu dados técnicos
indispensáveis à propositura da presente ação civil pública1.
Em decorrência destas condutas
reprováveis, com o único objetivo de prejudicar terceiros, que
vão desde deixar servidores sem exercer qualquer tipo de
1 Art. 10. Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa de 10 (dez) a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério Público.
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função, até determinar as suas remoções para locais
distantes de suas casas, é induvidoso que o requerido
afrontou os ditames legais, em especial os princípios da
legalidade, moralidade e impessoalidade, devendo ser
prontamente responsabilizado pelos explícitos atos de
improbidade administrativa praticados.
II – DO DIREITO II.I - LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO Quanto à legitimidade do Ministério
Público, trata-se de sua função institucional a propositura de
ação civil pública para a proteção do patrimônio público e
social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e
coletivos, prevista na Carta Magna:
Art. 129 – São funções institucionais do
Ministério Público:
... omissis ...
III – promover o inquérito civil e a ação
civil pública, para a proteção do
patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos
e coletivos.
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A legitimação do Ministério Público
para a promoção da ação civil pública vem ainda disciplinada,
infraconstitucionalmente, em vários textos legislativos.
A Lei nº 7.347/85 estabelece em seus
arts. 1º e 5º que:
Art. 1º - Regem-se pelas disposições
desta lei, sem prejuízo da ação popular,
as ações de responsabilidade por danos
morais e patrimoniais causados:
I - ao meio ambiente;
II - ao consumidor;
III - a bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e
paisagístico;
IV- a qualquer outro interesse difuso ou
coletivo;
V - por infração da ordem econômica.
Art. 5º - A ação principal e a cautelar
poderão ser propostas pelo Ministério
Público...
Igualmente, a LOMP (Lei nº 8.625/93) e
LOMPPR (Lei Complementar nº 85, de 27.12.1999) incluíram
dentre as funções institucionais do Ministério Público a
propositura da ação civil pública:
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Art. 25, IV, da LOMP - promover o
inquérito civil e a ação civil pública, na
forma da lei:
a) para a proteção, prevenção e
reparação dos danos causados ao meio
ambiente, consumidor, aos bens e
direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico, e a
outros interesses difusos coletivos e
individuais indisponíveis e homogêneos;
b) para a anulação ou declaração de
nulidade de atos lesivos ao patrimônio
público ou à moralidade administrativa
do Estado ou de Município, de suas
administrações indiretas ou
fundacionais ou de entidades privadas
de que participem.
Art. 2º, IV, da LOMPPR - promover o
inquérito civil e a ação civil pública, na
forma da lei:
a) para a proteção, prevenção e reparação
dos danos causados ao patrimônio
público, ao meio ambiente, ao
consumidor, aos bens e direitos de valor
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artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico, e a outros interesses
difusos, coletivos e individuais
indisponíveis e homogêneos;
b) para a anulação ou declaração de
nulidade de atos lesivos ao patrimônio
público ou à moralidade pública do
Estado e do Município, de suas
administrações indiretas ou
fundacionais ou de entidades privadas
de que participem.
Portanto, a matéria não guarda
segredos, o que torna despiciendo tecer outros comentários a
respeito.
II.II - LEGITIMIDADE DO REQUERIDO Os arts. 1º e 2º, da Lei n.º 8.429/92
prelecionam:
Art. 1º - Os atos de improbidade
praticados por qualquer agente público,
servidor ou não, contra a administração
direta, indireta ou fundacional de
qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal, dos
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Municípios, de Território, de empresa
incorporada ao patrimônio público ou de
entidade para cuja criação ou custeio o
erário haja concorrido ou concorra com
mais de 50% (cinqüenta por cento) do
patrimônio ou da receita anual, serão
punidos na forma desta Lei.
Art. 2º - Reputa-se agente público, para
os efeitos desta Lei, todo aquele que
exerce, ainda que transitoriamente ou
sem remuneração, por eleição,
nomeação, designação, contratação ou
qualquer outra forma de investidura ou
vínculo, mandato, cargo, emprego ou
função nas entidades mencionadas no
artigo anterior. (sem grifo no original)
O requerido ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS exerceu o cargo de Prefeito
Municipal de Mangueirinha na gestão de 2009/2012, sendo
reeleito para a gestão de 2013/2016, sendo, portanto, o atual
Prefeito Municipal e agente público pela definição do art. 2º,
da Lei de Improbidade Administrativa estando, por
conseguinte, sujeitos às suas punições.
II.III – INTERESSE PROCESSUAL
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A respeito do interesse processual, é
mister trazer à baila a lição de Rodolfo de Camargo Mancuso, que segue:
“O interesse processual, interesse de
agir, interesse ‘ad agendum’, tem sido
normalmente qualificado pela doutrina
pelo trinômio ‘necessidade-utilidade-
adequação’, a saber: 1. necessidade do
recurso ao judiciário para obter certo
bem da vida, seja porque não se logrou
obtê-lo pelas vias suasórias (ex: a
satisfação de um crédito), seja porque o
próprio Direito Positivo exige a
intervenção jurisdicional (ação de
divórcio, ações ditas constitutivas
necessárias); 2. adequação do
provimento pretendido, isto é, sua
idoneidade técnico-jurídica para atender
a expectativa do autor (ex: para quem foi
esbulhado em sua posse, não é o próprio
pedido de mero interdito proibitório, visto
que essa medida é inidônea a restituir a
posse perdida) 3. utilidade da via
processual eleita: conquanto haja
alguma dissensão doutrinária a respeito
desse quesito, parece-nos que ele
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integra a compreensão do interesse
processual, já que o acesso à tutela
jurisdicional tem por pressuposto o fato
que a medida pleiteada será útil, na
ordem prática ao autor.” 2 (Negritou-se).
Quanto ao quesito necessidade, é
inconteste que para se obter a responsabilização do requerido
pelos atos ímprobos praticados, é necessário se recorrer à via
processual. No mesmo viés, a adequação está estampada no
fato de a ação civil pública ser o instrumento adequado para
se buscar o resultado que se espera.
No que se refere ao quesito utilidade,
este se justifica diante do fato de que o provimento
jurisdicional trará utilidade prática, pois fará impor as
sanções cabíveis ao requerido.
In casu, há provas da prática de ato de
improbidade administrativa pelo requerido, consistente em
causar prejuízo ao erário (art. 10, da Lei 8.429/92) e
infringência aos princípios que norteiam a Administração
Pública (art. 11, caput e inciso I, da Lei 8.429/92), conforme
comprovam os documentos que instruem este Procedimento
Preparatório. 2 Ação Civil Pública, 4ª ed., Revista dos Tribunais, p. 36.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
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19
Destarte, a propositura de uma ação
civil pública é perfeitamente cabível, porque existe objetivo
(reparação do dano patrimonial e aplicação de penalidades
por improbidade) a ser alcançado, afigurando-se útil e
adequada esta medida processual.
O art. 37, §4º da Constituição Federal
trouxe consigo a intenção de punir atos ímprobos por parte
do administrador público. Entretanto, era necessária a
criação de lei específica que estipulasse as sanções cabíveis a
essa prática, em razão da própria redação daquele dispositivo
legal, que ao dispor os termos “na forma e gradação previstas
em lei” explicitou que a aplicabilidade de punição aos agentes
públicos desonestos dependeria da publicação de legislação
competente:
Art. 37 – A administração pública direta
e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios obedecerá aos princípios
de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte:
[...]
§ 4º - Os atos de improbidade
administrativa importarão a suspensão
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
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dos direitos políticos, a perda da função
pública, a indisponibilidade dos bens e o
ressarcimento ao erário, na forma e
gradação previstas em lei, sem prejuízo
da ação penal cabível.
Neste cenário surgiu a Lei nº 8.429/92
(Lei de Improbidade Administrativa).
Tanto a Constituição, em seu art. 129,
quanto a Lei nº 8.429/92, em seus arts. 7º, 14, 15, 16 e 17
autorizam o Ministério Público a tomarem as medidas
necessárias para penalizar os administradores ímprobos.
A improbidade administrativa passa a
existir a partir da realização de qualquer conduta pelo agente
público de modo a contrariar as normas morais, a lei e os
costumes, agindo com falta de honradez e honestidade. Trata-
se da desobediência a preceitos constitucionais básicos que
norteiam a administração pública. Nesse sentido:
“Eis que a idéia de improbidade
administrativa passa pelo
descumprimento, por atos dos agentes
públicos, dos preceitos constitucionais e
legais básicos que regem o setor público,
resumindo-se em duas exigências
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
21
fundamentais: legalidade e moralidade
dos atos dos agentes públicos.”3
Verifica-se, pois, que essas obrigações
fundamentais, instituídas pela Constituição Federal em seu
art. 37 caput, foram notoriamente violadas no caso em
epígrafe, que não obedeceu a qualquer princípio
constitucional imputado ao administrador público.
Para que o ato seja revestido de
legalidade, indispensável se faz que o administrador público
esteja, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos
mandamentos da lei, e às exigências do bem-comum, desta
monta, é notório que os atos praticados pelo requerido são
desprovidos destes princípios, uma vez que a perseguição a
alguns servidores públicos, com a intenção de prejudicá-los
profissionalmente, afronta os princípios constitucionais da
legalidade, moralidade e impessoalidade. A Constituição
Federal atribui ao administrador o dever de agir com
moralidade e os atos praticados visam única e exclusivamente
atingir os seus adversários políticos, inexistindo qualquer
relação com as necessidades públicas.
3 OSÓRIO, Fábio Medina. Improbidade Administrativa. Ed. Síntese. 2ªed. Porto Alegre. 2008. p.61.
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ESTADO DO PARANÁ
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Quanto à moralidade tem-se que o
agente público deve atuar segundo os padrões éticos de
probidade, decoro e boa-fé.
Como doutrina Emerson Garcia e
Rogério Pacheco Alves:
“A moralidade limita e direciona a
atividade administrativa, tornando
imperativo que os atos dos agentes
públicos não subjuguem os valores que
defluam dos direitos fundamentais dos
administrados, o que permitirá a
valorização e o respeito à dignidade da
pessoa humana. Além de restringir o
arbítrio, preservando a manutenção dos
valores essenciais a uma sociedade
justa e solidária, a moralidade confere
aos administrados o direito subjetivo de
exigir do Estado uma eficiência máxima
dos atos administrativos, fazendo que a
atividade estatal seja impreterivelmente
direcionada ao bem comum, buscando
sempre a melhor solução para o caso.” 4
4 GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa. Ed. Lumen Juris. 1ªEd. Rio de Janeiro. 2002. p. 44/45.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
23
O requerido em momento algum
harmonizou seus atos com o princípio da moralidade, vez que
não agiu com probidade, retidão e decência. Muito pelo
contrário, dotado de má-fé, com o único fito de satisfazer o seu ego, praticou atos administrativos com o fito de
prejudicar seus adversários, sem o mínimo de honestidade.
Ante o exposto, conclui-se que não
existe dúvida acerca da improbidade dos atos que motivaram
a presente. Caracterizou-se efetivamente a improbidade
administrativa em razão do desrespeito, por parte do
requerido, aos princípios constitucionais que norteiam toda a
atividade administrativa, sem os quais o Executivo e
Legislativo pairariam em completa desordem.
A Lei nº 8.429/92 instituiu três tipos
de improbidade administrativa:
a) Atos que causam enriquecimento
ilícito (art. 9º);
b) Atos que causam prejuízo ao Erário
(art. 10);
c) Atos que atentam contra os
princípios da Administração Pública (art. 11).
Cada espécie de ato acarreta sanção
própria prevista pelo art. 12 da Lei 8.429/92. A ação civil em
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
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epígrafe abrange a penúltima e a última possibilidades
(previstas nos arts. 10 e 11, ambos da Lei de Improbidade
Administrativa), tornando-se necessário maior esclarecimento
acerca delas.
II.V – ATOS QUE CAUSARAM PREJUÍZO AO ERÁRIO Dispõe o artigo 10 da Lei nº 8.429/92:
Art. 10. Constitui ato de improbidade
administrativa que causa lesão ao erário
qualquer ação ou omissão, dolosa ou
culposa, que enseje perda patrimonial,
desvio, apropriação, malbaratamento ou
dilapidação dos bens ou haveres das
entidades referidas no art. 1º desta lei e
notadamente:
A conduta do requerido, de deixar
servidores sem função, configura atos de improbidade
administrativa previstos nos artigos 10 e 11 da Lei nº
8.429/92.
Ressalte-se que o fato das condutas do
requerido não estarem expressamente previstas no rol do
artigo 10, da Lei de Improbidade Administrativa, não impede
a sua responsabilização, haja vista que o rol é meramente
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
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25
exemplificativo.
Nesse sentido, quanto à natureza
exemplificativa do rol do artigo 10, citam-se decisões do
Superior Tribunal de Justiça:
PROCESSUAL CIVIL E
ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE.
FRAUDE AO PROCEDIMENTO
LICITATÓRIO. DANO AO ERÁRIO. ART.
10 DA LEI 8.429/1992. REVISÃO DO
CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS
AUTOS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA
7/STJ. APLICAÇÃO DAS SANÇÕES.
AUSÊNCIA DE
DESPROPORCIONALIDADE. 1. Cuidam
os autos de Ação Civil Pública ajuizada
contra ex-prefeita e servidores públicos
do Município de Santa Albertina, por
suposta prática de improbidade
administrativa decorrente de licitações
irregulares para aquisição de alimentos
e material de limpeza. 2. O Tribunal a
quo julgou procedente o pedido, com
base na comprovada ocorrência de
fraude. Asseverou que o valor da
compra impunha licitação pela
modalidade de concorrência, contudo
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
26
foram feitas várias aquisições diretas. 3.
A situação delineada no acórdão
recorrido enquadra-se no art. 10, VIII, da
Lei 8.429/1992, que inclui no rol exemplificativo dos atos de
improbidade por dano ao Erário
"frustrar a licitude de processo licitatório
ou dispensá-lo indevidamente". 4. O
desprezo ao regular procedimento
licitatório, além de ilegal, acarreta dano,
porque a ausência de concorrência obsta
a escolha da proposta mais favorável
dos possíveis licitantes habilitados a
contratar. Desnecessário comprovar
superfaturamento para que haja
prejuízo, sendo certo que sua eventual
constatação apenas torna mais grave a
imoralidade e pode acarretar, em tese,
enriquecimento ilícito. 5. O Tribunal de
origem consignou que, na hipótese, a
fraude perpetrada pelo recorrente e seus
litisconsortes, que ora figuram como
interessados, provocou evidente prejuízo
ao município. Nesse contexto, a
verificação da alegada inexistência de
improbidade administrativa demanda
reexame dos elementos fático-
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
27
probatórios dos autos, o que é inviável
em Recurso Especial, conforme
inteligência da Súmula 7/STJ. 6. O
argumento de que que não houve
conduta dolosa, além de contrariar as
conclusões lançadas no acórdão
recorrido, é irrelevante in casu. Isso
porque a configuração de improbidade
administrativa por dano ao Erário
prescinde da verificação de dolo, sendo
admitida a modalidade culposa no art.
10 da Lei 8.429/1992. Precedentes do
STJ. 7. A revisão das sanções
cominadas pela instância ordinária, em
regra, é inviável, ante o óbice da já
citada Súmula 7/STJ, salvo se
verificada a inobservância aos limites
estabelecidos no art. 12 da Lei
8.429/1992, ou se na leitura do acórdão
recorrido transparecer falta de
proporcionalidade e razoabilidade. 8. Na
hipótese, as penas foram aplicadas no
patamar mínimo estabelecido no art. 12,
II, da Lei 8.429/1992, e, diante da
afirmação contundente de que houve
fraude mediante conduta dolosa da
então prefeita, de seu marido e demais
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
28
servidores réus, a aplicação cumulativa
das penalidades não se mostra
desproporcional. 9. Recurso Especial
parcialmente conhecido e, nessa parte,
não provido. (REsp 1130318/SP, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em
27/04/2010, DJe 27/04/2011) (sem
grifo no original)
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO.
RECURSOS ESPECIAIS. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. MAJORAÇÃO DE
VENCIMENTOS POR MEIO DE
RESOLUÇÃO. CONFIGURAÇÃO DE
LESÃO AO ERÁRIO. FUNDAMENTOS
CONSTITUCIONAIS E
INFRACONSTITUCIONAIS AUTÔNOMOS.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 126/STJ.
ART. 10 DA LEI 8.429/92.
TIPIFICAÇÃO. CARÁTER EXEMPLIFICATIVO, E NÃO TAXATIVO. RECURSO ESPECIAL DA
PRIMEIRA RECORRENTE NÃO-
CONHECIDO. RECURSO ESPECIAL DO
SEGUNDO RECORRENTE CONHECIDO,
PORÉM DESPROVIDO. 1. Considerando
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
29
que o acórdão recorrido apresenta
fundamentos constitucionais e
infraconstitucionais, a inadmissão do
recurso extraordinário, bem como a não-
interposição de agravo de instrumento
contra a referida decisão, atrai a
incidência da Súmula 126/STJ, que
assim dispõe: "É inadmissível recurso
especial, quando o acórdão recorrido
assenta em fundamentos constitucional
e infraconstitucional, qualquer deles
suficiente, por si só, para mantê-lo, e a
parte vencida não manifesta recurso
extraordinário." 2. "... no caput do art. 10, conceitua-se a improbidade lesiva ao Erário e seus incisos
trazem o elenco das espécies mais freqüentes, que, em face do advérbio notadamente, como já assinalado, é meramente exemplificativo (e não
taxativo)." FILHO, Marino Pazzaglini ("Lei
de Improbidade Administrativa
Comentada", Ed. Atlas, 2005, 2ª edição,
p. 81). 3. No caso dos autos, houve
efetiva configuração de ato de
improbidade administrativa por lesão ao
erário, previsto no art. 10 da Lei
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
30
8.429/92, em face da majoração de
vencimentos por meio de resolução, em
manifesto descumprimento dos preceitos
contidos nos arts. 37, XIII, e 61, § 1º, II,
a, da Constituição Federal. 4. Recurso
especial da primeira recorrente não-
conhecido. 5. Recurso especial do
segundo recorrente conhecido, porém
desprovido. (REsp 435.412/RO, Rel.
Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 19/09/2006, DJ
09/10/2006, p. 260) (sem grifo no
original)
Notório que a conduta do requerido
representou prejuízo ao erário, pois à remuneração do agente
público deve corresponder a contraprestação com o respectivo
trabalho em prol do serviço público, de maneira que quando
não há essa contraprestação há prejuízo, há desperdício de
recursos públicos, malbaratamento.
Destarte, em razão das mencionadas
condutas, o requerido ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS praticou ato de improbidade administrativa que
causa prejuízo ao erário, consoante previsão do artigo 10,
caput, da Lei nº 8.429/92, motivo pelo qual deve ser condenado
às penas previstas no artigo 12, II, da mesma Lei. Deve,
outrossim, ressarcir os cofres públicos no tocante ao valor da
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
31
remuneração percebida pelos servidores que estão sem exercer
qualquer função (Adelmino dos Santos, Leone Luis de Freitas,
Patrícia da Rocha Vizentim, Manoela Mordaski de Almeida e
Leonilda Rodrigues da Fonseca), a partir do mês de outubro
do ano de 2012, até a regularização da situação.
II.V - ATOS CONTRÁRIOS AOS PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS
São princípios constitucionais da
Administração Pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, entre outros, todos
tutelados pela Constituição Federal.
Assim sendo, o art. 4º da Lei de
Improbidade Administrativa dispõe:
Art. 4° - Os agentes públicos de
qualquer nível ou hierarquia são
obrigados a velar pela estrita
observância dos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade
e publicidade no trato dos assuntos que
lhe são afetos.
A Constituição Federal também
enuncia:
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
32
Art. 37 – A administração pública direta
e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios obedecerá aos princípios
de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte: [...]
Em razão da importância desta matéria,
indispensável se faz um melhor aprofundamento acerca dos
princípios que regem a administração:
Pelo princípio da legalidade, o ato de
todo servidor público, de todo agente público, deve ser realizado
nos termos da lei. Enquanto para o particular o que não é
proibido é permitido, ao administrador e à própria
Administração somente é permitido fazer o que a lei
expressamente autoriza, ou seja, para a Administração, o que
não é permitido pela lei é proibido.
A Lei da Ação Popular (Lei nº
4.717/65), em seu art. 2º, “c”, parágrafo único, considera
nulos os atos lesivos ao patrimônio público quando eivados de
“ilegalidade de objeto”, que ocorre quando o resultado do ato
importa em violação de lei, regulamento ou outro ato
normativo.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
33
Na lição de Celso Antônio Bandeira de
Mello:
“[...] o princípio da legalidade é o da
completa submissão da Administração às
leis. Esta deve não somente obedecê-las,
cumpri-las, pô-las em prática. Daí que a
atividade de todos os seus agentes,
desde o que lhe ocupa a cúspide, isto é, o
Presidente da República, até o mais
modesto dos servidores, só pode ser a de
dóceis, reverentes, obsequiosos
cumpridores das disposições gerais
fixadas pelo Poder Legislativo, pois esta é
a posição que lhes compete no Direito
brasileiro.”5
Diógenes Gasparini, em seu Direito
Administrativo, aduz:
“O princípio da legalidade, resumido na
proposição suporta a lei que fizeste,
significa estar a Administração Pública,
em toda a sua atividade, presa aos 5 Curso de Direito Administrativo, 13 ed., 2001, Malheiros Editores, p. 72
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
34
mandamentos da lei, deles não se
podendo afastar, sob pena de invalidade
do ato e responsabilidade de seu autor.
Qualquer ação estatal, sem o
correspondente calço legal ou que exceda
o âmbito demarcado pela lei, é injurídica
e expõe-se à anulação. Seu campo de
ação, como se vê, é bem menor que o do
particular. De fato, este pode fazer tudo o
que a lei permite, tudo o que lei não
proíbe; aquela só pode fazer o que a lei
autoriza e, ainda assim, quando e como
autoriza.
[...]
A este princípio também se submete o
agente público. Com efeito, o agente da
Administração Pública está preso à lei e
qualquer desvio de suas imposições pode
nulificar o ato e tornar seu autor
responsável, conforme o caso, disciplinar,
civil e criminalmente”.6
Cabe lembrar, ainda, a lição de Sérgio Ferraz e Lúcia Valle Figueiredo:
6 Ed. Saraiva, 1993, 3ª ed., p. 6.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
35
“Quem quer que utilize dinheiros públicos
terá de verificar seu bom e regular
emprego, na conformidade das leis,
regulamentos e normas emanadas das
autoridades administrativas
competentes, ou seja: quem gastar, tem
de gastar de acordo com a Lei.
Isso quer dizer: quem gastar em
desacordo com a Lei, há de fazê-lo por
sua conta, risco e perigos. Pois
impugnada a despesa, a quantia
irregularmente gasta terá que retornar ao
erário público”. 7
Por sua vez, o princípio da impessoalidade, também chamado de princípio da finalidade,
impõe ao Administrador Público somente praticar o ato para
seu fim legal, que é aquele que a norma de Direito indica
expressa ou virtualmente como objetivo do ato, de forma
impessoal. Finalidade tem um objetivo certo: o interesse
público, e todo o ato que se apartar desse objetivo sujeitar-se-
á à invalidação por desvio de finalidade, que a Lei da Ação
Popular conceituou como o “fim diverso daquele previsto,
explícita ou implicitamente na regra de competência” do
agente. (art 2º, parágrafo único, “e”). O Administrador fica
7 Dispensa e Inexigibilidade de Licitação, Ed. Malheiros, 1994, 3ª ed., p. 93.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
36
impedido de buscar outro objetivo ou praticar o ato no interesse próprio ou de terceiros. O que o princípio veda é a
prática de ato administrativo sem interesse público, visando
unicamente a satisfazer interesses privados, por favoritismos
ou perseguição dos agentes governamentais, sob a forma
de desvio de finalidade, que constitui uma modalidade de
abuso de poder.
Pelo princípio da moralidade entende-
se que todo e qualquer agente público deve possuir um
contingente mínimo de predicados ligados à moralidade
pública, tais como a honestidade, a lealdade e a
imparcialidade. São qualidades essenciais, naturalmente
exigíveis em qualquer segmento da atividade profissional e,
com muito mais razão, daqueles que integram a
Administração Pública e gerenciam os bens da coletividade,
dos quais não podem dispor e pelos quais devem zelar.
A respeito deste princípio, é propícia a
colocação de Fábio Medina Osório:
“A moralidade administrativa, dentro de
uma concepção mais objetiva, é um
princípio constitucional que guarda
autonomia em relação à legalidade
‘stricto sensu’, com caráter plenamente
vinculante, que direciona os agentes
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
37
públicos aos deveres, dentre outros, de
probidade, honestidade, lealdade às
instituições, preparo funcional mínimo
no trato da coisa pública, prestação de
contas, eficiência funcional,
economicidade.
De outro lado, a imoralidade
administrativa resulta configurada a
partir da agressão a outros princípios
que regem a administração pública, tais
como, razoabilidade, proporcionalidade,
supremacia do interesse público,
impessoalidade, economicidade (em
grau elevado), publicidade (em
gravidade intensa), conjugando-se todos
esses tópicos na formatação da
moralidade constitucional – que é base
da ação popular, da ação civil pública
por ato de improbidade administrativa e
causa de nulidade do ato administrativo
– que se exige do setor público.” 8
Sobre o tema, também destaca
Diógenes Gasparini:
8 Improbidade Administrativa – Observações sobre a Lei 8.429/92, Ed. Síntese, 2ª Ed., 1998, p. 158.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
38
“[...] Para Hely Lopes Meirelles, apoiado
em Manoel de Oliveira Franco Sobrinho, a
moralidade administrativa está
intimamente ligada ao conceito de bom
administrador. Este é aquele que, usando
de sua competência, determina-se não só
pelos preceitos legais vigentes, mas
também pela moral comum, propugnando
pelo que for melhor e mais útil para o
interesse público. A importância desse
princípio já foi ressaltada pelo Tribunal
de Justiça de São Paulo (RDA, 89:134),
ao afirmar que a moralização
administrativa e o interesse coletivo
integram a legalidade do ato
administrativo.”
E ainda:
“[...] obedecer não só a lei mas a própria
moral, porque nem tudo que é legal é
honesto, conforme afirmavam os
romanos [...]”.
O doutrinador Hely Lopes Meirelles,
por sua vez, anotou que:
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
39
“A moralidade administrativa constitui,
hoje em dia, pressuposto de validade de
todo ato da Administração Pública (CF,
art. 37, caput). Não se trata – diz
Hauriou, o sistematizador de conceito –
da moral comum, mas sim de uma moral
jurídica, entendida como “o conjunto de
regras de conduta tiradas da disciplina
interior da administração”.
Desenvolvendo sua doutrinam explica o
mesmo autor que o agente
administrativo, como ser humano dotado
da capacidade de atuar, deve, necessariamente, distinguir o Bem do Mal, o honesto do desonesto. E, ao
atuar, não deve desprezar o elemento
ético de sua conduta. Assim, não terá
que decidir somente entre o legal e o
ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e
o inconveniente, o oportuno e o
inoportuno, mas também entre o honesto
e o desonesto. [...]” 9 (Destacou-se).
Já o princípio da publicidade diz
respeito à obrigação de dar publicidade, levar ao
9 Direito Administrativo Brasileiro, Malheiros Editores, 2013, 39ª edição, p. 91/92.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
40
conhecimento de todos os atos, contratos ou instrumentos jurídicos realizados pela Administração Pública. Isso dá
transparência e confere a possibilidade de qualquer pessoa
questionar e controlar toda a atividade administrativa.
Por sua vez, o princípio da eficiência
foi o último introduzido na Constituição, por meio da EC nº
19/98, que deu nova redação ao art. 37 e outros.
Estipula que os agentes públicos devem
agir com rapidez, presteza, perfeição, rendimento. Em relação
à Administração como um todo, esta deve estar atenta às
suas estruturas e organizações, evitando a manutenção de
órgãos ou entidades subutilizados, ou que não atendam às
necessidades da população.
Com o intuito de prevenir a ação dos
agentes públicos de modo desrespeitoso a esses princípios
tutelados pelo legislador, editou-se o art. 11, da Lei de
Improbidade Administrativa, que age em conjunto com o art.
12 da mesma Lei, punindo severamente a desobediência aos
princípios da Administração e enumerando, ainda, em seus
incisos ações que atentam contra eles.
Desta forma, dispõe o art.11, da Lei nº
8.429/92, os seguintes termos:
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
41
Art. 11 – Constitui ato de improbidade
administrativa que atenta contra os
princípios da administração pública
qualquer ação ou omissão que viole os
deveres de honestidade, imparcialidade,
legalidade, e lealdade às instituições, e
notadamente:
I – praticar ato visando fim proibido em
lei ou regulamento ou diverso daquele
previsto, na regra de competência;"
O requerido infringiu o caput e o inciso
I do artigo supratranscrito, consubstanciando imperdoável
ofensa ao princípio da legalidade, impessoalidade e
moralidade pública, repugnando qualquer conceito de
probidade e honestidade, aos bons costumes, às regras de
boa administração, os princípios de justiça e equidade, bem
como a mais efêmera idéia de decência.
Como demonstrado, o requerido feriu
gravemente o princípio da legalidade quando arbitrariamente
ordenou que alguns servidores fossem removidos para exercer
suas funções em locais distantes da cidade, distantes de suas
casas, assim como que outros servidores ficassem sem
exercer qualquer função, prática absolutamente irregular e
desrespeitosa à Lei. Assim, evidencia-se sobremaneira no caso
em testilha, que o requerido atuou, em evidente ilegalidade.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
42
Quanto ao princípio da impessoalidade
nota-se que é intensamente violado pelos atos do requerido, já
que os praticou em interesse unicamente próprio, jamais
correlacionando suas ações ao interesse público. Houve
absoluto desvio de finalidade. Os atos que motivam a presente
actio são desprovidos de qualquer interesse público
consistindo num abuso de poder absoluto.
Outrossim, se antevê nas condutas do
requerido uma total afronta ao princípio da moralidade
administrativa, uma vez que suas atitudes obviamente não
atenderam o interesse público, pois não respeitaram a Lei, o
que fere o princípio da legalidade, além de utilizar-se da
máquina estatal e do seu poder, como Prefeito Municipal, em
benefício próprio, para satisfazer o seu próprio ego, o que
atinge sobremaneira a moral pública.
Essa situação configura assédio moral, pois sobressai nítida a intenção de prejudicar aludidos
servidores, desmoralizando-os e humilhando-os, quer
pessoalmente, quer perante os outros servidores públicos.
Com efeito, apesar de a Administração
Pública estar despendendo a remuneração, manter servidor
sem funções e sem local de trabalho, com intenção de puni-lo,
é conduta que não está de acordo com a moral comum,
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
43
tampouco com a moral jurídica, não corresponde às regras
internas da Administração Pública e contraria os standards
comportamentais que a sociedade deseja do bom
administrador que não se conduziu com lealdade e boa-fé,
com proporcionalidade e razoabilidade, deixando de observar
a lei e os padrões éticos exigidos; é conduta que não está
autorizada pelo ordenamento jurídico; e, é conduta que não
importa em imparcialidade, haja vista que a intenção é
prejudicar, punir, esse servidor.
Ainda, se a finalidade do ato
administrativo é ilegal ou irregular a moralidade
administrativa é diretamente atingida, os fins e os meios que
circundam o ato administrativo devem ser compatíveis. Deste
modo caracteriza-se desvio de finalidade o ato que não busca
realizar o interesse público (o que evidentemente esteve
presente nos fatos motivadores da presente) e o ato que
almeja concretizar finalidade descoincidente com a prevista
na Lei.
O gênero abuso de poder, de acordo
com Hely Lopes Meirelles, reparte-se em duas espécies bem
caracterizadas: o excesso de poder e o desvio de finalidade:
“O desvio de finalidade ou de poder
verifica-se quando a autoridade, embora
atuando nos limites de sua competência,
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
44
pratica o ato por motivos ou com fins
diversos dos objetivados pela lei ou
exigidos pelo interesse público. O desvio
de finalidade ou de poder é, assim, a
violação ideológica da lei, ou, por outras
palavras, a violação moral da lei,
colimando o administrador público fins
não queridos pelo legislador, ou
utilizando motivos e meios imorais para
a prática de um ato administrativo
aparentemente legal. Tais desvios
ocorrem, p. ex., quando a autoridade
pública decreta uma desapropriação
alegando utilidade pública, mas
visando, na realidade, a satisfazer
interesse pessoal próprio ou favorecer
algum particular com a subsequente
transferência do bem expropriado (...)10”
Diante do exposto, conclui-se que a
conduta do requerido tipifica o tipo de improbidade elencado
no artigo 11, caput, e inciso I, da Lei nº 8.429/92 e, por isso,
está ele sujeito às sanções previstas no inciso III do art. 12 da
Lei de Improbidade Administrativa.
10 10 Direito Administrativo Brasileiro, Malheiros Editores, 2013, 39ª edição, p. 101.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
45
Em caso muito semelhante ao em tela,
o Superior Tribunal de Justiça assim entendeu:
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL
CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PREFEITO. ATO ADMINISTRATIVO DE TRANSFERÊNCIA DE SERVIDORES. DESVIO DE FINALIDADE.
LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO
PÚBLICO. ART. 129, III, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SÚMULA
329/STJ. 1. Cuidam os autos de Ação
Civil Pública movida pelo Ministério
Público do Estado de Minas Gerais
contra o Município de Rio Espera, em decorrência de suposta improbidade administrativa que envolve desvio de finalidade na remoção de servidoras públicas aprovadas por concurso público para atender interesse político. 2. A suposta conduta amolda-se aos atos de improbidade
censurados pelo art. 11 da Lei 8.429/1992, pois vai de encontro aos princípios da moralidade administrativa e da legalidade
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
46
(patrimônio público imaterial). 3. O
Ministério Público possui legitimidade
para ajuizar Ação Civil Pública com o
intuito de combater a prática da
improbidade administrativa. 4.
Condutas ímprobas podem ser
deduzidas em juízo por meio de Ação
Civil Pública, não havendo
incompatibilidade, mas perfeita
harmonia, entre a Lei 7.347/1985 e a
Lei 8.429/1992, respeitados os
requisitos específicos desta última (como
as exigências do art. 17, § 6°).
Precedentes do STJ. 5. Recurso Especial
provido. (REsp 1219706/MG, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em
15/03/2011, DJe 25/04/2011) (sem
grifo no original)
Registre-se que as sanções, in casu,
devem ser proporcionais à imoralidade crassa dos atos que causaram tantos prejuízos morais e materiais aos servidores públicos que eram seus adversários políticos.
Assim, como o requerido ALBARI
GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS incorreu na hipótese
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
47
prevista no art. 11, caput e inciso I, da Lei de Improbidade Administrativa, devendo responder às sanções elencadas no
inciso III, do art. 12 do mesmo diploma legal:
Destarte, o requerido deve responder
pela improbidade praticada para que não paire dúvidas de
que aquele que trata da coisa pública deve se pautar na lei e
nos princípios do direito, especialmente no da moralidade,
que é a viga mestra de todo administrador probo.
II.VI – DA NULIDADE DOS ATOS ADMINISTRATIVOS PRATICADOS PELO REQUERIDO
Por todo o exposto, verifica-se que os
atos administrativos praticados pelo requerido, em especial os
que determinaram a remoção das servidoras públicas Vitória
Jantara, Rosa Aparecida do Amaral e Mariuza Aparecida
Mendes, são ilegais e nulos, seja pela ausência de motivação, seja pelo desvio de finalidade.
Todos atos administrativos devem ter
por fim mediato o atendimento do interesse público, não se
admitindo ato administrativo que não vise a satisfação do
interesse público11. Além do interesse público geral, muitas
vezes a lei impõe o atendimento a um interesse público
11 - JOSÉ CRETELLA JÚNIOR, Controle Jurisdicional do Ato Administrativo, p. 233 e 271-272. MIGUEL REALE, Revogação e Anulamento do Ato Administrativo, p. 30.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
48
específico, que se constitui na finalidade imediata do ato
administrativo. Quando isso ocorrer, além do interesse
público geral, o bem comum, o administrador encontra-se
vinculado ao atingimento deste interesse público específico,
dele não se podendo desviar, sob pena de invalidade do ato,
mesmo que persiga outro interesse público12. Ato administrativo que não tem por fim o interesse público ou que se desvia de sua finalidade imediata é ato administrativo inválido, contaminado pelo desvio de
finalidade13.
Na hipótese em verificação, como já
ressaltado, a finalidade dos atos de remoção não foi o
interesse público. O real desiderato foi a vingança, o que contamina de nulidade os atos de remoção por desvio de finalidade. Esses atos não podem ser convalidados, até
porque implicam em ofensa aos princípios da legalidade,
moralidade, impessoalidade, eficiência, economicidade,
supremacia e indisponibilidade do interesse público.
Portanto, a primeira conclusão é que os
atos de remoção são nulos, pois apresentam vícios no objeto,
quanto à sua moralidade; no motivo e na finalidade.
12 - JOSÉ CRETELLA JÚNIOR, Controle Jurisdicional do Ato Administrativo, p. 233, 274-275 e 276. 13 - JOSÉ CRETELLA JÚNIOR, Controle Jurisdicional do Ato Administrativo, p. 276.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
49
Porém, deve ser levado em conta que as
três servidoras já estão há algum tempo exercendo as suas
funções nas mencionadas creches, acostumaram-se com os
seus colegas de trabalho e alunos, sendo que apenas a
servidora Mariuza Aparecida Mendes quer retornar a exercer as
suas funções na antiga creche, na qual trabalhou por
aproximadamente 10 anos, antes de ser removida ilegalmente
pelo requerido (fl. 292, PP).
Outrossim, privilegiando a boa-fé das referidas servidoras públicas, e para não lhes causar mais
prejuízos ainda, requer-se, liminarmente, seja declarada
apenas a nulidade do ato administrativo que determinou a
remoção de Mariuza Aparecida Mendes, para que volte a
exercer as suas funções na Creche da Mana, local onde
trabalhou por aproximadamente 10 anos, antes de ser
removida ilegalmente pelo requerido.
II.VII – POSSIBILIDADE DA CONCESSÃO DE LIMINAR DE INDISPONIBILIDADE DE BENS INAUDITA ALTERA PARS
A liminar pleiteada também diz respeito
à indisponibilidade dos bens móveis e imóveis do requerido
ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS, para
garantia de futura ação executória, pois em casos tais, face à
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50
morosidade da prestação da tutela jurisdicional (justificada
diante do elevado número de processos), corre-se o risco de
não serem encontrados bens que garantam a execução do
quantum que será apontado na prolação da sentença como
sendo apto ao integral ressarcimento.
Por essa razão o legislador inseriu na
Constituição Federal (art. 37, § 4º), e na Lei n.º 8.429/92 –
Lei de Improbidade Administrativa (art. 7º e parágrafo único),
a possibilidade do Poder Judiciário tornar indisponíveis os
bens do agente cuja ação ou omissão tenha sido maléfica à
administração direta ou indireta de qualquer dos Poderes:
– Constituição Federal Art. 37 – A administração pública direta
e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios obedecerá aos princípios
de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte:
...omissis...
4º - Os atos de improbidade
administrativa importarão a suspensão
dos direitos políticos, a perda da função
pública, a indisponibilidade dos bens
e o ressarcimento ao erário, na forma e
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ESTADO DO PARANÁ
51
gradação previstas em lei, sem prejuízo
da ação penal cabível.
– Lei de Improbidade Administrativa Art. 1° – Os atos de improbidade
praticados por qualquer agente público,
servidor ou não, contra a administração
direta, indireta ou fundacional de
qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios, de Território, de empresa
incorporada ao patrimônio público ou de
entidade para cuja criação ou custeio o
erário haja concorrido ou concorra com
mais de cinquenta por cento do
patrimônio ou da receita anual, serão
punidos na forma desta lei.
Art. 5° – Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou
omissão, dolosa ou culposa, do agente
ou de terceiro, dar-se-á o integral
ressarcimento do dano.
Art. 7° – Quando o ato de improbidade
causar lesão ao patrimônio público ou
ensejar enriquecimento ilícito, caberá a
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
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52
autoridade administrativa responsável
pelo inquérito representar ao Ministério
Público, para a indisponibilidade dos
bens do indiciado.
Parágrafo único - A indisponibilidade
a que se refere o caput deste artigo
recairá sobre bens que assegurem o
integral ressarcimento do dano, ou
sobre o acréscimo patrimonial
resultante do enriquecimento ilícito.
(negritado e grifado)
Assim, verifica-se que o art. 37, § 4º, da
Constituição Federal, determina que os atos de improbidade
administrativa importam na indisponibilidade dos bens, que é
medida cautelar, a ser concedida antes do julgamento da
demanda.
Saliente-se que nossa Carta Magna não
traça nenhum pré-requisito, razão pela qual se conclui que
basta o recebimento da inicial da ação judicial por ato de
improbidade administrativa para a decretação da
indisponibilidade dos bens, uma vez caracterizados os danos
ao erário.
Conforme se depreende dos dispositivos
legais alhures mencionados, sempre que ocorrer lesão ao
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
53
patrimônio público ou enriquecimento ilícito deverá ser
requerida a indisponibilidade de bens do agente ímprobo,
objetivando o integral ressarcimento dos danos.
O art. 16, da Lei n.º 8.249/92, dispõe
sobre o pedido cautelar de sequestro de bens, quando deveria
tratar, na verdade, de arresto, medida mais abrangente e
irrestrita.
No entanto, como se aplicam
subsidiariamente à Lei de Improbidade Administrativa as
disposições constantes do Código Processual Civil, todas as
medidas cautelares poderão ser exercidas, tais como o
arrolamento de bens e a busca e apreensão de documentos.
Como leciona Rodolfo de Camargo
Mancuso: “Em dois dispositivos trata a Lei
7347/85 sobre a tutela cautelar dos
interesses difusos. Dá-lhes ação
cautelar, propriamente dita, no art. 4º e
prevê a possibilidade da concessão de
tutela liminar, com ou sem justificação
prévia, no art. 12.
... omissis ...
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
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54
Conjugando-se os arts. 4º e 12 da Lei
7347/85, tem-se que essa tutela de
urgência há de ser obtida através da
liminar que, tanto pode ser pleiteada na
ação cautelar (factível antes do início da
ação civil pública) ou no bojo da própria
ação civil pública, normalmente em
tópico destacado da petição inicial.
Muita vez, mais prática será esta
segunda alternativa, já que se obtêm a
segurança exigida pela situação de
emergência, sem necessidade de ação
cautelar propriamente dita. (in, Ação
Civil Pública, Editora Revista dos
Tribunais, 1989, pág. 108, 113 e 114).
Portanto, encontra-se superada a
discussão acerca da necessidade de cautelar antes da ação
principal, diante do procedimento ordinário desta, que
permite maiores condições de defesa, bem como pelo
permissivo legal constante da Lei da Ação Civil Pública, art.
12:
Art. 12 – Poderá o juiz conceder
mandado liminar, com ou sem
justificação prévia, em decisão sujeita a
agravo.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
55
É consabido que o pedido de liminar de
indisponibilidade de bens, no bojo da ação principal de
improbidade administrativa e reparação de danos,
obedecendo-se aos requisitos do fumus boni juris e periculum
in mora, é muito mais prático e eficaz.
Vale repisar: a Lei de Improbidade
Administrativa, dando plena eficácia ao mandamento
constitucional a que se fez menção, determinou que a
indisponibilidade dos bens ocorrerá quando se apresentar
lesão ao patrimônio público por ação ou omissão dolosa ou
culposa, do agente ou de terceiro, devendo recair a
indisponibilidade sobre bens que assegurem o integral
ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial
resultante do enriquecimento ilícito.
Para o sustento desta liminar
suplicada, encontram-se presentes os requisitos legais
reclamados, quais sejam:
O fumus boni juris, decorrente da
demonstração cristalina de que o requerido ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS praticou atos de
improbidade administrativa que causam prejuízo ao erário,
consoante previsão do artigo 10, caput, da Lei nº 8.429/92,
motivo pelo qual deve ser condenado à ressarcir os cofres
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
56
públicos no tocante ao valor da remuneração percebida pelos
servidores que estão sem exercer qualquer função (Adelmino
dos Santos, Leone Luis de Freitas, Patrícia da Rocha
Vizentim, Manoela Mordaski de Almeida e Leonilda Rodrigues
da Fonseca), a partir do mês de outubro do ano de 2012 até
que seja promovida a adequação da situação dos servidores.
O periculum in mora emerge da
necessidade de garantir a reparação do dano causado, eis
que, até mesmo o uso dos mecanismos jurídicos existentes
pode ocasionar a demora da marcha processual,
possibilitando a ocorrência de dilapidação ou mesmo
voluntária disposição do patrimônio do requerido.
Demais disso, o deferimento da liminar
não trará qualquer dano para o requerido, vez que se trata
apenas de uma medida acauteladora que colocará seus bens
particulares em indisponibilidade para garantia de futura
execução.
Este é o entendimento da doutrina
mais abalizada sobre a matéria, conforme, inclusive, o escólio
do eminente publicista gaúcho Fábio Medina Osório:
“A indisponibilidade patrimonial é
medida obrigatória, pois traduz
conseqüência jurídica do processamento
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
57
da ação, forte no art. 37, parágrafo 4º,
da Constituição Federal.
(...)
Com efeito, o que se deve garantir é o
integral ressarcimento ao erário. Assim,
o patrimônio do réu da ação de
improbidade fica, desde logo, sujeito às
restrições do art. 37, parágrafo 4º, da
Magna Carta, pouco importando, nesse
campo, a origem lícita dos bens. Trata-se
de execução patrimonial decorrente de
dívida por ato ilícito”. (in Improbidade
Administrativa, Editora Síntese, Porto
Alegre, 2007, p. 159).
Ademais, esta matéria atualmente não
comporta mais qualquer discussão, tendo sido assentado este
entendimento pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça.
Providencial, nesse passo, a elucidativa ementa do Recurso Especial nº 1194045/SE, datado de 03/02/2011, oriundo
da Segunda Turma deste Colendo Tribunal, cujo relator foi o
Ministro HERMAN BENJAMIN:
PROCESSUAL CIVIL E
ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE.
INDISPONIBILIDADE DOS BENS. POSSIBILIDADE DE DECRETAÇÃO
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
58
INAUDITA ALTERA PARS. REQUISITO.
EXISTÊNCIA DE FORTES INDÍCIOS DE
DANO AO ERÁRIO. SÚMULA 7/STJ.
NECESSIDADE DE DELIMITAÇÃO DO
ALCANCE PATRIMONIAL. 1. Cuidam os
autos de Ação Civil Pública proposta
com o fito de combater atos de
improbidade administrativa por dano ao
Erário do Município de Pirambu,
envolvendo Prefeito, Secretária
Municipal de Ação Social, Deputado
Estadual e comerciantes locais . 2.
Segundo consta na petição inicial, ao
longo do período de 2002 a 2006 foram
realizados inúmeros contratos
irregulares para aquisição de alimentos
e material de limpeza, marcados
sobretudo pelo indevido fracionamento
dos valores para burlar a modalidade
licitatória e pela finalidade de uso
pessoal dos produtos adquiridos com
verba pública. O ora recorrente é um dos
réus da ação, tendo sido demandado na
qualidade de sócio-diretor do
supermercado que se sagrou vencedor
em diversas licitações 3. O Juízo de 1º
grau determinou a indisponibilidade dos
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
59
bens dos réus liminarmente, tendo sido
mantida a decisão pelo Tribunal de
Justiça. 4. A tese recursal não encontra guarida na jurisprudência do STJ, firmada no sentido de que a
decretação da indisponibilidade dos bens inaudita altera pars: a) é possível antes do recebimento da petição inicial; b) independe da comprovação de início de dilapidação patrimonial, sendo suficiente a constatação de fortes indícios de improbidade causadora de dano ao Erário; e c) pode recair sobre bens adquiridos anteriormente à conduta reputada ímproba. 5. Na
hipótese, a instância ordinária
considerou presentes os indícios de
improbidade a justificarem a decretação
de indisponibilidade dos bens. Alterar
tal entendimento demanda reexame dos
elementos fático-probatórios dos autos, o
que esbarra na Súmula 7/STJ. 6. Por
outro lado, sem embargo da adequação
da medida, assiste razão ao recorrente
em parte, apenas no tocante à sua
extensão ilimitada. 7. A mesma base
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
60
indiciária que respalda a decretação de
indisponibilidade dos bens deve nortear
a extensão do seu alcance. Com
fundamento nos dados fornecidos na
petição inicial e em outros elementos que
revelem a plausibilidade da
responsabilidade do recorrente, cabe ao
julgador ordinário delimitar o montante
sobre o qual deve recair a
indisponibilidade de seus bens - o que
não significa necessariamente que, ao
final, tal medida não alcançará todo o
seu patrimônio, tampouco que será
reduzida ao valor por ele apontado em
seu apelo. 8. A indisponibilidade dos
bens deve recair sobre tantos bens
quantos forem suficientes a assegurar
as conseqüências financeiras da
suposta improbidade, inclusive a multa
civil. Precedentes do STJ. 9. Impende
anotar que, em consulta realizada no
sítio eletrônico do Tribunal de Justiça,
constata-se ter havido parcial
provimento de Agravos de Instrumento
de outros réus para fins de proceder à
limitação da medida. 10. Recurso
Especial parcialmente provido, apenas
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
61
para determinar que seja delimitado o
montante da indisponibilidade dos bens.
(REsp 1194045/SE, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 19/10/2010, DJe
03/02/2011) (sem grifo no original)
Dessarte, com a prolação da medida
evita-se a possibilidade de uma insolvência que torne a
devolução do quantum retirado dos cofres públicos mera
ilusão, não se olvidando que a verdadeira essência da Lei n.º
8.429/92 é garantir o total ressarcimento ao erário, tornando-
se de pouca ou quase nenhuma importância o incômodo
pessoal dos agentes ímprobos, face à coletividade lesionada.
III – DOS REQUERIMENTOS E
PEDIDOS
Diante do exposto e por tudo mais que
dos autos consta, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO
PARANÁ requer:
a) O deferimento do pedido liminar de
indisponibilidade de bens, antes mesmo da oitiva do
requerido ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS;
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
62
a.1) – Para eficácia da indisponibilidade
requerida sejam tomadas mais as seguintes medidas:
- seja oficiado aos Bancos Itaú, Caixa
Econômica Federal, Bradesco, HSBC, SICREDI, Santander e
Banco do Brasil (e especificamente para as agências das
mesmas instituições bancárias acaso existentes na cidade de
Mangueirinha/PR), noticiando a decretação da medida acima
e solicitando que informem este r. Juízo sobre a existência de
saldos em contas correntes, poupança e aplicações em favor
do requerido, necessários ao ressarcimento dos danos,
bloqueando-os;
- seja oficiado aos Cartórios do Registro
de Imóveis de Mangueirinha/PR, informando a decretação da
medida acima, com a indisponibilidade dos imóveis em nome
do requerido, necessários ao ressarcimento dos danos, de
tudo informando este r. Juízo, sem prejuízo do envio, a este
Juízo, de certidão do Livro Indicador Pessoal (artigos 132, D,
e 138, da Lei n.º 6.015/73), onde conste ou tenha constado
algum bem em nome do requerido, ou seu cônjuge, quando
for o caso;
- seja oficiado à Douta Corregedoria da
Justiça do Estado do Paraná, informando sobre a decretação
da medida e solicitando que a mesma oficie a todos os
Cartórios de Registros de Imóveis do Estado do Paraná,
noticiando a decretação da medida e requisitando
informações sobre a existência de imóveis em nome do
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
63
requerido, sem prejuízo do envio, a este r. Juízo, de certidão
do Livro Indicador Pessoal (artigos 132, D, e 138, da Lei n.º
6.015/73), onde conste ou tenha constado algum bem em
nome do requerido, ou seu cônjuge, quando for o caso;
- seja determinado o bloqueio de
eventuais contas bancárias em nome do requerido através do
sistema “BACEN JUDICIÁRIO”, ou seja oficiado ao Banco
Central do Brasil para que comunique a todas as instituições
financeiras do país sobre a decretação da indisponibilidade de
eventuais depósitos em nome do requerido antes nomeado, de
tudo informando este r. Juízo;
- seja oficiado à Comissão de Valores
Mobiliários e às Juntas Comerciais de todos os Estados da
Federação, informando-as sobre a decretação da medida
solicitada e para que comuniquem este Juízo sobre a
existência de ações ou cotas sociais em nome do requerido
antes nomeados, bloqueando-as;
- seja oficiado ao DETRAN/PR e
DETRAN-SP, informando sobre a decretação da presente
medida, e determinando o bloqueio de todos os veículos em
nome do requerido, de tudo informando este r. Juízo;
b) O deferimento do pedido liminar de
declaração de nulidade do ato administrativo que determinou
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
64
a remoção da servidora Mariuza Aparecida Mendes, para que
volte a exercer as suas funções na Creche da Mana, local onde
trabalhou por aproximadamente 10 anos, antes de ser
removida ilegalmente pelo requerido;
c) O deferimento de pedido liminar, para
que a Prefeitura Municipal de Mangueirinha providencie que os
servidores Adelmino dos Santos, Leone Luis de Freitas,
Patrícia da Rocha Vizentim, Manoela Mordaski de Almeida e
Leonilda Rodrigues da Fonseca exerçam as atividades
inerentes aos seus cargos;
d) sejam requisitadas à Prefeitura
Municipal de Mangueirinha cópias dos registros dos livros-
ponto das servidoras Vitória Jantara, Rosa Aparecida do
Amaral e Mariuza Aparecida Mendes, assim como os
contracheques dos servidores públicos municipais Adelmino
dos Santos, Leone Luis de Freitas, Patrícia da Rocha
Vizentim, Manoela Mordaski de Almeida e Leonilda Rodrigues
da Fonseca;
e) seja a presente registrada e autuada
como AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESSARCIMENTO POR DANO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E DE IMPOSIÇÃO DE SANÇÕES POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA,
processando-se o presente feito sob o rito ordinário.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
65
f) a notificação do requerido ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS para oferecer
manifestação por escrito, no prazo de 15 (quinze) dias,
conforme disposto no art. 17, § 7º da Lei nº 8.429/92;
g) a citação pessoal do requerido ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS para que,
querendo, ofereça resposta no prazo de 15 (quinze) dias à
presente ação, sob pena de revelia;
h) a produção de todas as provas em
direito permitidas, sem a exclusão de nenhuma delas, em
especial o depoimento pessoal do requerido; ouvida de
testemunhas, cujo rol acompanha a presente inicial; e a
juntada de novos documentos, a ser oportunamente
especificada;
i) a notificação, através de oficial de
justiça, do Município de Mangueirinha para, querendo,
integrar a lide na qualidade de litisconsorte ativo, podendo
suprir eventuais falhas e omissões da petição inicial, bem como
indicar e/ou apresentar provas que entender necessárias, na
forma prevista no artigo 17, § 3º, da Lei nº 8.429/92;
j) seja julgado integralmente procedente
o pedido, condenando o requerido ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS, pela prática de atos de improbidade
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
66
administrativa previstos no artigo 10, caput, da Lei 8.429/92,
às penas previstas no art. 12, inciso II, da Lei de Improbidade
Administrativa, notadamente o ressarcimento integral do
dano, perda da função pública, suspensão dos direitos
políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até
duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o
Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou
creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio
de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo
de cinco anos, adotando-se critérios de proporcionalidade na
aplicação das mesmas;
k) Caso Vossa Excelência não entenda
pela condenação pelo artigo 10, requer-se a condenação do
requerido ALBARI GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS
pela prática de atos de improbidade administrativa previstos
no artigo 11, caput, e inciso I, da Lei 8.429/92, às penas
previstas no art. 12, inciso III, da Lei de Improbidade
Administrativa, notadamente a perda da função pública,
suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos,
pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da
remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar
com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário,
pelo prazo de três anos, adotando-se critérios de
proporcionalidade na aplicação das mesmas;
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MANGUEIRINHA –
ESTADO DO PARANÁ
67
l) seja o requerido ALBARI
GUIMORVAM FONSECA DOS SANTOS condenado ao ônus
da sucumbência e demais cominações legais, cujo montante
deverá ser destinado ao Fundo Especial do Ministério Público,
criado pela Lei Estadual nº 12.241/98;
m) sejam extraídas cópias da petição
inicial as quais deverão ser remetidas ao Tribunal de Contas
do Estado do Paraná e à Câmara Municipal de Mangueirinha,
para conhecimento e as providências cabíveis.
Atribui-se à presente causa o valor de
R$ 1.000,00 (mil reais), para efeitos fiscais.
Mangueirinha, 25 de julho de 2013.
Rafael Carvalho Polli Promotor de Justiça