Download - Acordão TJ-GO
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da Costa
MANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000
(200901611330)
5ª CÂMARA CÍVEL
COMARCA DE GOIÂNIA
IMPETRANTE : ROGÉRIO BRUZZI PONCE BROM
IMPETRADO : SECRETÁRIO DA FAZENDA DO ESTADO DE
GOIÁS E OUTROS
RELATOR : CARLOS ROBERTO FAVARO
Juiz Substituto em 2º Grau
RELATÓRIO E VOTO
Trata-se de mandado de segurança impetrado por
ROGÉRIO BRUZZI PONCE BROM contra ato tido como ilegal e abusivo
praticado pelos Srs. SECRETÁRIOS DE ESTADO DA FAZENDA,
CIÊNCIA E TECNOLOGIA e SEGURANÇA PÚBLICA DO ESTADO DE
GOIÁS.
Narra o impetrante que é candidato ao concurso para
Escrivão da Polícia Civil do Estado de Goiás, e foi aprovado nas duas
primeiras etapas do certame (prova objetiva, discursiva e digitação),
além de haver apresentado todos os documentos solicitados para a 5ª
etapa (avaliação da vida pregressa e investigação social). No entanto na
3ª etapa do concurso (exames médico e psicotécnico), foi considerado
inapto no exame médico, não havendo sido apresentada a razão plausível
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da CostaMANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000 (200901611330) 2
para tanto, levando-o a supor que tal fato ocorreu em virtude de ser
portador de deficiência por uma fratura no membro inferior direito (fls.
03).
Garante que essa deficiência física não o impede de
exercer as atividades referentes ao cargo de escrivão, conforme descritas
no edital, asseverando restar evidente que, em virtude do ato das
autoridades impetradas, teve ferido seu direito líquido e certo de
prosseguir no concurso.
Afirma o impetrante que a compatibilidade da
deficiência com o exercício da função a que está concorrendo deve ser
analisada no curso do estágio probatório, não na prova física, defendendo
tese sobre a necessidade de afastamento da exigência de submissão dos
candidatos com deficiência à 4ª etapa, do concurso para o cargo de
escrivão de Polícia Civil, Prova de Capacidade Física (fls. 07).
Requereu a antecipação dos efeitos da tutela, no
sentido de ser considerado apto à participar das outras fases do certame,
exceto da prova física, sendo avaliada a sua compatibilidade durante a
prática do estágio probatório (fls. 09), a qual pugnou fosse confirmada,
quando do julgamento do mérito deste mandamus.
Pleiteou, ainda, a concessão dos benefícios da
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da CostaMANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000 (200901611330) 3
assistência judiciária.
Inicial instruída com os documentos de fls. 10/38.
Na decisão de fls. 42/45 foi concedida a assistência
judiciária gratuita e indeferida a liminar postulada.
As autoridade apontadas como coatoras prestaram
suas respectivas informações.
O Sr. Secretário da Segurança Pública alegou ser parte
ilegítima para figurar no polo passivo da ação, requerendo, de
consequência, a extinção do feito, sem julgamento do mérito, em relação
a ele ( fls. 53/56).
Nesse mesmo sentido foram os pronunciamentos dos
Srs. Secretário de Ciência e Tecnologia e da Secretário de Estado da
Fazenda (fls. 68/70 e 71/74).
A contestação do Estado de Goiás se vê às fls. 57/66,
requerendo, em preliminar, ser o autor carecedor do direito da ação, pela
perda superveniente do interesse processual.
Ainda em preliminar, aduz sobre a inadequação da via
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da CostaMANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000 (200901611330) 4
eleita, tendo em vista que a discussão aqui travada enseja dilação
probatória.
No mérito, alega, em suma, inexistência de direito
líquido e certo a amparar a pretensão do impetrante, haja vista que a
deficiência física apresentada pelo impetrante é por demais severa, de
modo a prejudicar o normal exercício das funções do cargo que está
tentando se habilitar no certame público (fls. 61).
Chama a atenção ao fato de que, em se tratando de
concurso público a apreciação pelo Poder Judiciário limita-se ao exame
da legalidade das norma editalícias e dos atos praticados pela respectiva
comissão.
Obtempera, ainda, que a pretensão do impetrante de
não ser submetido à prova de aptidão física fere frontalmente o princípio
da isonomia, inclusive, entre os demais candidatos portadores de
necessidades especiais que estão, igualmente, obrigados a participar da
referida fase. (fls. 63).
Defende o acerto das normas do edital do concurso
em questão.
Ao final, requer o acolhimento das preliminares
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da CostaMANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000 (200901611330) 5
aduzidas, com a consequente extinção do writ. Alternativamente, postula
pela denegação da segurança.
A douta Procuradoria Geral de Justiça, em parecer da
lavra do Procurador de Justiça, Dr. Osvaldo Nascente Borges, opinou pela
extinção do processo, pela perda superveniente do objeto (fls.81/84).
No voto condutor do acórdão apresentado por este
Relator, acolhido por unanimidade pelos integrantes da 5ª Turma
Julgadora da 3ª Câmara Cível desta Corte de Justiça, sustentou-se a falta
de interesse processual superveniente do impetrante, visto que já
cessada a causa determinante da impetração, extinguindo-o sem o
julgamento do mérito (fls. 90/98).
Inconformado, o impetrante interpôs recurso ordinário
no mandado de segurança (fls. 104/109) pugnando, inicialmente, pela
remessa dos autos ao Colendo do Superior Tribunal de Justiça e pelo
conhecimento e provimento do recurso para o fim de reformar o acórdão
fustigado.
O Estado de Goiás ofereceu resposta ao recurso
ordinário, requerendo a manutenção do acórdão recorrido (fls.115/123).
A Procuradoria de Justiça, através de parecer lavrado
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da CostaMANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000 (200901611330) 6
pelo douto Procurador de Justiça, Dr. Pedro Tavares Filho, opinou pelo
improvimento do recurso ordinário (fls. 126/128).
Efetivado o juízo positivo de admissibilidade do
recurso ordinário pelo Desembargador Presidente desta Corte, foram os
autos enviados ao Superior Tribunal de Justiça (f. 130/131), o qual restou
provido, para afastar a perda do objeto e determinando o retorno dos
autos à Corte de Origem a fim de que prossiga no julgamento do
mandamus. (fl. 135).
A Procuradoria Geral de Justiça foi provocada a se
manifestar no despacho de fl. 139.
O Ministério Público atuante neste juízo ad quem, no
parecer de lavra do ilustre Procurador de Justiça, Dr. Osvaldo Nascente
Borges, opinou pela concessão da ordem (fls. 142/145).
Após despacho de fl. 147, o impetrante manifestou
interesse na continuidade do feito (fl. 186).
As peças processuais referentes ao trâmite do
presente writ no Colendo Superior Tribunal de Justiça foram juntadas aos
autos às fls. 150/185.
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da CostaMANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000 (200901611330) 7
É o relatório. Passo ao voto.
Conforme relatado, trata-se de mandado de
segurança impetrado por ROGÉRIO BRUZZI PONCE BROM contra
ato tido como ilegal e abusivo praticado pelos Srs. SECRETÁRIOS
DE ESTADO DA FAZENDA, CIÊNCIA E TECNOLOGIA e
SEGURANÇA PÚBLICA DO ESTADO DE GOIÁS.
Diante da decisão do Colendo Superior Tribunal de
Justiça, da lavra da Excelentíssima Senhora Ministra Maria Thereza
de Assis Moura dando provimento ao recurso ordinário interposto
pelo impetrante, que afastou a perda do objeto e determinou o
retorno dos autos à Corte de Origem, passo a analisar o mérito do
writ.
Conforme relata a inicial, o impetrante inscreveu-se
para o concurso de Escrivão da Polícia Civil do Estado de Goiás, o qual
previa as seguintes fases: prova objetiva, discursiva, médica e exame
psicotécnico, aptidão física, vida pregressa e investigação social, e
avaliação multiprofissional (para candidato com deficiência física).
Segundo o atestado médico de fl. 14, o impetrante é
portador de deficiência decorrente de fratura no membro inferior direito,
sendo que, em razão disso, concorreu a uma das vagas reservadas a
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da CostaMANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000 (200901611330) 8
candidatos com necessidades especiais (fl. 13).
Segundo narra, a sua reprovação no exame médico foi
indevida, pois a deficiência física que possui não o impede de exercer as
atividades descritas no próprio edital referentes ao cargo de escrivão,
pois se tratam de atividades administrativas, que exigem um esforço
meramente intelectual e não diligenciais e físicas como o cargo de
agente.
A impetração visava, assim, a concessão de
segurança, a fim de ser considerado apto à participar das outras
fases do certame, exceto da prova física, sendo avaliado sua
compatibilidade durante o período do estágio probatório.
De início, é importante salientar que o Mandado de
Segurança é ação prevista no art. 5º, LXIX, da Constituição Federal,
para garantir à pessoa física ou jurídica a proteção de direito líquido
e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, acaso tal
direito venha a ser alvo de ameaça ou ofensa por ato ilegal ou
abusivo, desde que praticado por autoridade pública ou agente de
pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.
No presente writ, o cerne da discussão é aferir se a
reprovação no exame médico violou o direito líquido e certo do
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da CostaMANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000 (200901611330) 9
impetrante de concorrer a uma das vagas do concurso público.
É certo que não basta, para fins de mandado de
segurança, que a pretensão deduzida seja admissível perante o nosso
ordenamento jurídico. Necessário que ocorra no caso concreto o "direito
líquido e certo", que é a condição primária e essencial ao instituto do
mandado de segurança.
Sobre o direito líquido e certo, são os ensinamentos de
Celso Agrícola Barbi (Do Mandado de Segurança, 3ª edição, p. 85 e 227):
"Como se vê, o conceito de direito líquido e certo é
tipicamente processual, pois atende ao modo de ser de
um direito subjetivo no processo: a circunstância de um
determinado direito subjetivo realmente existir não lhe
dá a caracterização de liquidez e certeza: esta só lhe é
atribuída se os fatos em que se fundar puderem ser
provados de forma incontestável, certa no processo. (…)
A especial estrutura do processo do mandado de
segurança exige a apresentação imediata das provas
pelo requerente e não admite essa forma processual
quando haja dificuldade na apuração dos fatos. Tudo
isso leva à conclusão que é necessária ao juiz a
convicção quanto aos fatos, fundada em prova direta”
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da CostaMANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000 (200901611330) 10
Como se sabe, ao se inscrever para concorrer a uma das
vagas previstas em um concurso público, o candidato deve estar bem
ciente das regras estipuladas no edital. Sendo assim e conforme os
princípios orientadores da Administração Pública Brasileira, o edital do
concurso faz lei entre as partes, porquanto é a norma fundamental que
estabelece vínculo entre a administração pública e os candidatos.
Neste contexto, a Administração Pública, objetivando o
preenchimento de cargos públicos, está condicionada à obediência de tais
requisitos, fixados em lei, em sentido formal e material. A realização de
concurso público para a investidura em cargos públicos encontra respaldo
na Constituição Federal, em seu artigo 37, incisos I e II, verbis:
''Art. 37. A administração pública direta e indireta de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:
I- os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis
aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos
em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei;
II- a investidura em cargo ou emprego público depende
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da CostaMANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000 (200901611330) 11
de aprovação prévia em concurso público de provas ou de
provas e títulos, de acordo com a natureza e a
complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista
em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em
comissão declarado em lei de livre nomeação e
exoneração.''
No caso em estudo, o impetrante candidatou-se a uma
das vagas reservadas a portadores de deficiência física. Sendo assim, ao
declarar-se como tal, deve se submeter a regras específicas, devendo a
lei reservar percentual dos cargos e empregos públicos e definir os
critérios de sua admissão, conforme preceitua o artigo 37, inciso VIII, da
Constituição Federal.
O Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado
de Goiás, Lei nº 10.460/88, prevê no §1º do artigo 7º, sobre a
possibilidade de deficiente físico participar de concurso público, o
seguinte:
''Art. 7º - O concurso público será de provas ou de
provas e títulos e, em casos especiais, poderá exigir
aprovação em curso específico de formação profissional
mantido por instituição oficial do Estado, sem prejuízo
de outros requisitos.
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da CostaMANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000 (200901611330) 12
§ 1º - À pessoa deficiente é assegurado o direito de
candidatar-se ao ingresso no serviço público para o
exercício de cargos cujas atribuições não sejam
incompatíveis com a deficiência de que é portadora.''
Conforme se vê, a legislação aplicável exige
compatibilidade entre a deficiência física do candidato e as atribuições do
cargo público.
O edital do concurso em questão (fls. 22/36) prevê no
seu item 9, a descrição sumária das atividades do cargo de escrivão de
polícia:
''9. Descrição sumária das atividade: reduzir a termos
ocorrências, declarações e depoimentos; expedir
intimações, citações e notificações; redigir portarias,
ofícios, mandados, termos, autos, ordens, de serviço,
editais, circulares, boletins etc., preencher guias para a
identificação, recolhimento e soltura de presos;
protocolar ofícios, requerimentos e representações;
catalogar e arquivar em pastas próprias todos os
documentos relativos ao serviço; organizar os livros de
cargas e descargas de remessa de autos, de conclusões
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da CostaMANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000 (200901611330) 13
de inquéritos e de ofícios, documentos e demais papéis
dos cartórios policiais; dar plantão; lavrar termos de
fiança e recolher respectivos valores às repartições
competentes, dentro do prazo legal; organizar mapas
de estatísticas policiais; acompanhar autoridades
policiais em suas diligências; fornecer certidões,
mediante despacho da autoridade policial; executar os
trabalhos de datilografia/digitação necessários ao
desempenho de suas funções; desempenhar outras
tarefas compatíveis com as atribuições do cargo
(Decreto n. 213, de 2 de setembro de 1970).'' Grifei.
Como se percebe, as atividades desempenhadas por um
escrivão de polícia não excluem o seu exercício por candidatos portadores
de necessidades especiais. Contudo, resta claro a necessidade de aptidão
física para tal mister.
Conforme os autos, o impetrante foi reprovado na
avaliação médica, uma das etapas previstas no certame e que tem as
seguintes características (fl. 27):
''SEÇÃO I
DA AVALIAÇÃO MÉDICA E EXAME PSICOTÉCNICO
Subseção I – Da avaliação médica
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da CostaMANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000 (200901611330) 14
130. A avaliação médica objetiva aferir se o candidato
goza de boa saúde física e psíquica para:
130.1. suportar os exercícios a que será submetido
durante a avaliação de aptidão física e no curso de
formação profissional;
130.2. desempenhar as tarefas típicas da categoria
profissional;
130.3. constar mediante exame físico e análise dos
testes e dos exames laboratoriais solicitados, doenças,
sinais ou sintomas que inabilitem o candidato para o
desempenho das tarefas típicas do cargo, segundo os
critérios a seguir:
130.3.1. gerais: defeitos físicos congênitos ou
adquiridos com debilidade ou perda de sentido ou
função; cirurgias mutiladoras; neoplasias malignas,
doenças crônicas ou agudas incapacitantes;
130.3.2. específicos: sopros, arritmias cardíacas;
hipotensão ou hipertensão arterial que esteja
acompanhada de sintomas que possuam caráter
permanente ou dependa de medicação para seu
controle; vasculopatias evidentes ou limitantes;
hérnias; uso de aparelhos ortopédicos ou marcha
irregular; grandes desvios da coluna vertebral;
artropalia crônica; redução dos movimentos articulares;
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da CostaMANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000 (200901611330) 15
doenças ósseas; distúrbios importantes da mímica e da
fala; disritmia cerebral; distúrbios da sensibilidade
táctil, térmica ou dolorosa; incoordenação motora.
131. Os candidatos convocados para a avaliação médica
deverão apresentar-se munidos dos seguintes exames,
que deverão ser providenciados por sua própria conta:''
Sendo assim, percebo que além da compatibilidade
entre a deficiência física e as atividades desempenhadas pelo cargo
público, deve também haver coerência entre as condições físicas e os
exercícios físicos realizados no teste de aptidão física, uma das fases do
concurso público.
Na análise do recurso interposto pelo candidato, após a
sua reprovação, a Administração Público exarou o seguinte parecer sobre
a questão (fl. 38):
''O candidato foi avaliado conforme critérios
estabelecidos no item 130 do Edital de abertura, Edital
n. 1 de 1º de setembro de 2008.
A banca de médicos constatou mediante exame físico e
análise dos documentos laboratoriais entregues pelo
candidato que este apresenta sequelas de acidente
onde teve fratura exposta em uma das pernas e
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da CostaMANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000 (200901611330) 16
esmagamento em um dos pés e conforme especificado
no item 130.3.1 ele está impossibilitado de realizar a
próxima etapa que consiste na Avaliação de Aptidão
Física.
O Núcleo de Seleção conhece o recurso, posto que
tempestivo e NEGA-LHE provimento.''
De acordo com as razões apresentadas pela Junta
Médica responsável pela análise das condições do impetrante, restou
demonstrado que este não teria condições de realizar o teste de aptidão
física e consequentemente, de desempenhar as atribuições do cargo.
O próprio impetrante requer a concessão em definitivo
da segurança para o fim de dispensá-lo da realização da prova física,
requerendo que a avaliação da sua capacidade seja postergada para o
estágio probatório.
Sendo assim, o que se constata é que o próprio
candidato impetrante concorda com a análise da Junta Médica de que não
teria a condição física de suportar o teste de aptidão física e, desta forma,
o exercício das atividades inerente ao cargo.
Diante de regras claras e precisas, que o próprio
impetrante tinha plena ciência antes de se candidatar a uma das vagas, a
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da CostaMANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000 (200901611330) 17
conduta da Administração Pública mostra-se prudente, não estando
presente qualquer violação à direito líquido e certo.
Desta forma, seria plenamente possível e em compasso
com os princípios da Administração Pública a reprovação de candidato
que não preencheu os requisitos indispensáveis para a nomeação no
cargo público postulado.
Neste sentido, coleciono os seguintes julgados do
Colendo Superior Tribunal de Justiça:
''ADMINISTRATIVO - RECURSO ORDINÁRIO EM
MANDADO DE SEGURANÇA - CONCURSO PÚBLICO -
CARGO DE ESCRIVÃO DE POLÍCIA - PERÍCIA MÉDICA -
DISPENSA - IMPOSSIBILIDADE - ILEGALIDADE DA
AVALIAÇÃO MÉDICA - AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-
CONSTITUÍDA - NECESSIDADE DE DILAÇÃO
PROBATÓRIA - INADMISSIBILIDADE, NA VIA ELEITA -
AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. 1 - É
inadmissível a dispensa de perícia médica para o
exercício do cargo de Escrivão de Polícia. A realização
do exame psicotécnico, bem como psicológico, está
acobertada não apenas pela legislação (Lei nº 5.117/66
– art. 3º), mas, principalmente, pela racionalidade e
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da CostaMANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000 (200901611330) 18
essência em face dos requisitos necessários à função da
carreira policial. A exigência desta avaliação, desta
forma, é necessária e constitucional. Os requisitos do
Concurso Público devem estar em conformidade
com a natureza e a complexidade do cargo
almejado. (…)'' (STJ, RMS 2001/0187913-3 14079/RS
Relator Ministro JORGE SCARTEZZINI, 5ª Turma, DJe
13/10/2003)
''CIVIL. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO.
TÉCNICO DO TESOURO NACIONAL. RESERVA DE
PERCENTUAL DE VAGAS. DEFICIENTE FÍSICO.
COMPATIBILIDADE ENTRE AS ATRIBUIÇÕES DO CARGO
E A DEFICIÊNCIA. MATÉRIA DE FATO. SÚMULA 07/STJ.
- A legislação ordinária, ao definir os limites de alcance
da garantia constitucional que prevê a reserva de
percentual de vagas em concurso público para
provimento de cargo ou emprego público a portadores
de deficiência física, condicionou o acesso à
compatibilidade entre as atribuições do cargo e
as deficiências das quais os candidatos são
portadores, estabelecendo um percentual máximo de
20% das vagas oferecidas no edital do certame. (…)''
(STJ REsp 184500/RJ 1998/0057222-8, Relator Ministro
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da CostaMANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000 (200901611330) 19
VICENTE LEAL, 6ª Turma, DJ 16/11/1998).
A par de tais considerações, não vislumbro a presença
de direito líquido e certo do impetrante, em decorrência da sua
reprovação na avaliação médica, que se deu nos estritos limites dos
princípios da impessoalidade, da legalidade, da proporcionalidade e da
razoabilidade, frente ao contexto factual-probatório apresentado nos
autos.
Ante o exposto, desacolhendo o parecer ministerial,
conheço da presente mandado de segurança mas DENEGO A
SEGURANÇA pleiteada pelo impetrante, face a ausência de direito
líquido e certo a amparar sua pretensão.
É como voto.
Goiânia, 19 de abril de 2.012.
CARLOS ROBERTO FAVARO
Juiz de Direito Substituto em 2º GrauY.M
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da Costa
MANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000
(200901611330)
5ª CÂMARA CÍVEL
COMARCA DE GOIÂNIA
IMPETRANTE : ROGÉRIO BRUZZI PONCE BROM
IMPETRADO : SECRETÁRIO DA FAZENDA DO ESTADO DE
GOIÁS E OUTROS
RELATOR : CARLOS ROBERTO FAVARO
Juiz Substituto em 2º Grau
EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO
DE ESCRIVÃO DE POLÍCIA. REPROVAÇÃO EM
AVALIAÇÃO MÉDICA. COMPATIBILIDADE ENTRE
AS LIMITAÇÕES FÍSICAS E AS ATRIBUIÇÕES DO
CARGO. POSSIBILIDADE DE REPROVAÇÃO.
AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. 1. É
certo que não basta, para fins de mandado de
segurança, que a pretensão deduzida seja admissível
perante o nosso ordenamento jurídico, sendo necessário
que ocorra no caso concreto o "direito líquido e certo",
que é a condição primária e essencial ao instituto desta
ação mandamental. 2. O candidato a uma das vagas
reservadas a portadores de deficiência física deve se
submeter a regras específicas, devendo a lei reservar
percentual dos cargos e empregos públicos e definir os
critérios de sua admissão, conforme preceitua o artigo
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da CostaMANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000 (200901611330) 2
37, inciso VIII, da Constituição Federal. 3. À pessoa
deficiente é assegurado o direito de candidatar-se ao
ingresso no serviço público para o exercício de cargos
cujas atribuições não sejam incompatíveis com a
deficiência de que é portadora (Lei nº 10.460/88, artigo
7º, §1º). 4. De acordo com as razões apresentadas pela
Junta Médica responsável pela análise das condições do
impetrante, restou demonstrado que este não teria
condições de realizar o teste de aptidão física e
consequentemente, de desempenhar as atribuições do
cargo. 5 Sendo assim, restou demonstrada a ausência
de compatibilidade entre as suas limitações físicas e o
exercício de cargo postulado. 6. Ausência de violação a
direito líquido e certo do impetrante ante a legalidade
na exigência de aptidão médica e física para o exercício
de cargo público. 7. SEGURANÇA DENEGADA.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de
Mandado de Segurança nº 161133-16.2009.8.09.0000 (200901611330),
da Comarca de Goiânia, em que figuram como impetrante ROGÉRIO
BRUZZI PONCE BROM, como impetrado os SECRETÁRIOS DE
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da CostaMANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000 (200901611330) 3
ESTADO DA FAZENDA, CIÊNCIA E TECNOLOGIA e SEGURANÇA
PÚBLICA DO ESTADO DE GOIÁS.
Acorda o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, pela
Segunda Turma Julgadora de sua Quinta Câmara Cível, à unanimidade de
votos, em negar a segurança pleiteada, tudo nos termos do voto do
Relator.
Votaram acompanhando o Relator, o Excelentíssimo
Senhor Dr. Delintro Belo de Almeida Filho (Substituto do Des. Hélio
Maurício de Amorim) e Des. Francisco Vildon José Valente.
Presidiu a sessão de julgamento o Excelentíssimo
Senhor Desembargador Alan. S. de Sena Conceição
Representou a Procuradoria Geral de Justiça, o Dr. José
Carlos Mendonça.
Goiânia, 19 de abril de 2.012.
CARLOS ROBERTO FAVARO Juiz de Direito Substituto em 2º GrauY.M
Gabinete do Desembargador Geraldo Gonçalves da CostaMANDADO DE SEGURANÇA Nº 161133-16.2009.8.09.0000 (200901611330) 4