Existem três aspectos transversais entre o sector das florestas e o VIH/SIDA:
O potencial contributo das árvores, matas, florestas e Silvicultura nas respostas pela subsistência das famílias afectadas pelo VIH/SIDA; O impacto na procura e na oferta de produtos florestais a nível local,
nacional e regional; e A perda de mão-de-obra e competências entre as famílias de
agricultores, trabalhadores florestais e especialistas.
É reconhecido que a planificação efectiva de programas deve ser conduzida horizontalmente entre os sectores, mas também verticalmente, a vários níveis, dentro de cada sector. São recomendadas diversas actividades para submeter à consideração dos decisores e executores políticos, entre as quais:
A Nível Nacional: avaliação de probabilidades e desenvolvimento e compilação de instrumentos de apoio à tomada de decisões políticas sobre estratégias agrícolas e florestais.
A Nível Local: documentação do valor das plantações tradicionais como rede de segurança económica e alimentar para agregados familiares afectados pelo VIH/SIDA; gestão sustentável das plantações tradicionais (para alimentação, geração de rendimentos e produtos medicinais) nas respostas do sector florestal à epidemia de VIH/SIDA; promoção de tecnologias de reduzida mão-de-obra para melhorar a fertilidade dos solos; e plantas medicinais nos campos agrícolas.
A Nível Institucional: apoio a instituições de ensino terciárias, através da revisão de políticas e do desenvolvimento de currículos, incluindo componentes de sensibilização sobre o VIH/SIDA e de resposta no sector florestal; cursos breves de actualização para resolver a falta de pessoal na agricultura e nas florestas; aprovisionamento de quadros profissionais com pessoal de outras regiões; dinamização das respostas do sector da agricultura e florestas nos projectos da FAO; e desenvolvimento da capacidade e transparência das instituições locais, formais e informais.
O sector das florestas está a corresponder às respostas dos programas de luta conta o VIH/SIDA, de diversas formas, abaixo descritas.
ACTIVIDADES FLORESTAIS E AGRO-SILVICULTURA NOS PROGRAMAS MULTISSECTORIAIS DE COMBATE AO VIH/SIDA
Uma prática agroflorestal que requer o mínimo de mão-de-obra e pode manter a sustentabilidade da agricultura a longo prazo é a beneficiação dos alqueives. Esta prática consiste no plantio deliberado ou sementeira directa de espécies fixadoras do azoto em terras que, de outro modo, seriam deixadas ao abandono quando começassem a produzir menos, até que o solo readquirisse a sua fertilidade pelo processo lento de repouso e regeneração. Com a beneficiação dos alqueives, os arbustos contribuirão para o abastecimento de forragem e madeira de queima, perto das propriedades rurais, no prazo de dois anos após a plantio. Os alqueives beneficiados também podem ajudar a garantir a posse das terras dos campos abandonados e são adequados à maior parte do território da África Austral, onde prevalecem os sistemas de baixa produção e a rotação agrícola consiste em deixar regenerar a terra. Esta tecnologia está a divulgar-se com êxito na Zâmbia, Moçambique e Malawi.
PROMOÇÃO DA BENEFICIAÇÃO DOS ALQUEIVES
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POUPANÇA DE TEMPO DE MÃO-DE-OBRA
O s sistemas de Silvicultura são diversificados. Uma análise minuciosa dos sistemas de Silvicultura e produção, prevalecentes em zonas fortemente afectadas pelo VIH/SIDA, revela várias alternativas de Silvicultura com reduzidas exigências de trabalho, que contribuiriam para manter o capital do solo e
da produção da terra durante uma geração com pouca de mão-de-obra disponível.
Exemplos de tecnologias específicas que estão a ser promovidas na África Austral para mitigação da epidemia de VIH/SIDA: aumento de alqueives; árvores de fruta; e parcelas de floresta.
SALVAGUARDA DA PROTECÇÃO SOCIAL E ECONÓMICA
P ara garantir a protecção social e económica, as actividades concentram-se na função das árvores, matas e florestas em assegurar a posse de terras e proporcionar uma rede de segurança económica e social em tempos de raras oportunidades de trabalho agrícola e escassez monetária.
O acesso e a propriedade das terras constituem um factor determinante para a viabilidade das famílias afectadas pelo VIH/SIDA. As árvores são, há muito, um símbolo de posse em África. Podem garantir a terra, mas podem também instigar terceiros a apropriarem-se dessa parcela de terreno em que foram plantadas árvores. As intervenções relacionadas com árvores devem ser colocadas no contexto da posse consuetudinária de terras e fazer emergir respostas jurídicas e tradicionais sobre a posse de terras em cada zona tribal afectada pelo VIH/SIDA.
As matas naturais fazem parte integrante dos meios de subsistência e dos sistemas agrícolas da África Austral e a sua posse reparte-se por vários regimes, incluindo a Floresta Estatal, as terras de gestão cooperativa e os terrenos de posse tradicional. As famílias dependem das matas para obterem suplementos de alimentação, através da colheita de plantas alimentares de geração espontânea, carne de caça, frutos secos, folhas e raízes. Estes alimentos silvestres, assim reunidos, constituem uma fonte essencial de micronutrientes. As matas são também uma fonte de remédios tradicionais e proporcionam receitas da venda de produtos florestais comestíveis, como cogumelos, além de madeira para estacas. Nas florestas de gestão comercial de miombo, a madeira continua a ser um produto valioso.
Durante uma missão da FAO, observou-se que as famílias afectadas pelo VIH/SIDA pareciam depender cada vez mais dos recursos de miombo, à medida que declinava a sua capacidade para se dedicarem à agricultura. As famílias incapazes de fazer colheitas também dependem mais daquilo que recolhem nas matas para as suas necessidades diárias de subsistência e rendimento. Além disso, em muitas das aldeias visitadas, as famílias não tinham acesso a fármacos e dependiam inteiramente das plantas e árvores que cresciam espontaneamente nos seus campos agrícolas e nas matas para o tratamento de infecções oportunistas. Dir-se-ia que as matas são, portanto, uma rede de segurança essencial para as famílias afectadas pelo VIH/SIDA. Foi adjudicado um estudo em dois países da África Austral para determinar a utilização e a variação do acesso aos recursos na sequência da pandemia de VIH/SIDA. O estudo irá explorar também o apoio à gestão de recursos que faz falta às instituições locais e respectivos serviços de extensão, as comissões de gestão dos recursos naturais das comunidades e outros mecanismos de gestão de recursos instalados nas aldeias.
As recomendações e os resultados do estudo serão divulgados através do programa de florestas nacional e utilizados para apoiar os países na concepção de programas de cooperação técnica. Estes dados serão comunicados a outros organismos de cooperação que estejam a conceber programas integrando respostas multissectoriais ao VIH/SIDA.
PROMOÇÃO DAS MATAS NATURAIS
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o s sistemas de Silvicultura são diversificados. Uma análise minuciosa dos sistemas de Silvicultura e produção, prevalecentes em zonas fortemente afectadas pelo VIH/SIDA, revela várias alternativas de Silvicultura com reduzidas exigências de trabalho, que contribuiriam para manter o capital do solo e
da produção da terra durante uma geração com pouca de mão-de-obra disponível.
Exemplos de tecnologias específicas que estão a ser promovidas na África Austral para mitigação da epidemia de VIH/SIDA: aumento de alqueives; árvores de fruta; e parcelas de floresta.
SALvAgUARDA DA pROTECçãO SOCIAL E ECONómICA
P ara garantir a protecção social e económica, as actividades concentram-se na função das árvores, matas e florestas em assegurar a posse de terras e proporcionar uma rede de segurança económica e social em tempos de raras oportunidades de trabalho agrícola e escassez monetária.
O acesso e a propriedade das terras constituem um factor determinante para a viabilidade das famílias afectadas pelo VIH/SIDA. As árvores são, há muito, um símbolo de posse em África. Podem garantir a terra, mas podem também instigar terceiros a apropriarem-se dessa parcela de terreno em que foram plantadas árvores. As intervenções relacionadas com árvores devem ser colocadas no contexto da posse consuetudinária de terras e fazer emergir respostas jurídicas e tradicionais sobre a posse de terras em cada zona tribal afectada pelo VIH/SIDA.
As matas naturais fazem parte integrante dos meios de subsistência e dos sistemas agrícolas da África Austral e a sua posse reparte-se por vários regimes, incluindo a Floresta Estatal, as terras de gestão cooperativa e os terrenos de posse tradicional. As famílias dependem das matas para obterem suplementos de alimentação, através da colheita de plantas alimentares de geração espontânea, carne de caça, frutos secos, folhas e raízes. Estes alimentos silvestres, assim reunidos, constituem uma fonte essencial de micronutrientes. As matas são também uma fonte de remédios tradicionais e proporcionam receitas da venda de produtos florestais comestíveis, como cogumelos, além de madeira para estacas. Nas florestas de gestão comercial de miombo, a madeira continua a ser um produto valioso.
REfORçO DAS INSTITUIçõES
A nível institucional, a FAO tem, comparativamente, uma vantagem em termos de prestação de apoio e desenvolvimento da capacidade de investigação florestal, educação e ramificação de instituições. Ao mesmo tempo, as acções no sector dos recursos naturais devem arrancar com apoio e assistência no desenvolvimento da capacidade das instituições locais, formais e informais, para lhes permitir colaborarem desde o início e, assim, aumentarem a probabilidade de uma implementação sustentada das respostas no sector da agricultura e florestas. No sector das florestas, estas instituições incluem comissões e outros mecanismos de gestão dos recursos naturais da comunidade, estabelecidos nas aldeias.
O departamento de recursos humanos dos ministérios das florestas e do ambiente padece de algumas carências, tal como outros ministérios. A manutenção de registos e o controlo dos dados do pessoal não se encontram informatizados e são incoerentes. Nesta situação, não é viável acompanhar com rigor o impacto do VIH/SIDA no pessoal dos serviços civis ou elaborar estratégias para dar resposta às futuras necessidades de aprovisionamento ou formação de pessoal. Neste aspecto, e como elemento essencial da discussão de políticas e assistência ao sector, a FAO irá prestar apoio aos departamentos de recursos humanos dos ministérios do desenvolvimento, junto dos quais implementa as suas actividades.
Na altura, a FAO implementou um projecto. Foram plantadas árvores (Eucalyptus saligna) nas encostas que circundam as aldeias, através de um projecto bilateral (NORAD). Quando atingiram os 13 anos, as árvores foram entregues à comunidade e um Comité de Gestão de Recursos Naturais geriu esse recurso da aldeia durante dois anos. Actualmente, as árvores são a principal fonte geradora de rendimentos da aldeia. Como as florestas da aldeia são predominantemente compostas por plantações exóticas, obter plantas medicinais não é tão fácil como nas aldeias com matas indígenas. Não obstante, os fundos provenientes das árvores servem de apoio a 20 órfãos da aldeia, com menos de cinco anos de idade, e financiam um orfanato, a construção de uma sala de aulas, uma farmácia básica, transporte para o hospital e contribuições para funerais. Embora seja louvável a organização e iniciativa da aldeia, estes fundos, que normalmente se teriam gasto em actividades de desenvolvimento, servem agora de apoio à aldeia na resolução dos problemas emergentes da proliferação do VIH/SIDA. No entanto, sem estes fundos, a aldeia sofreria restrições ainda mais severas do que as que tem agora.
COmITé DE gESTãO DOS RECURSOS NATURAIS DA ALDEIA (vNRmC): ALDEIA DE KATUNgA Durante uma missão da FAO, observou-se que as famílias afectadas pelo VIH/SIDA pareciam depender cada vez mais dos recursos de miombo, à medida que declinava a sua capacidade para se dedicarem à agricultura. As famílias incapazes de fazer colheitas também dependem mais daquilo que recolhem nas matas para as suas necessidades diárias de subsistência e rendimento. Além disso, em muitas das aldeias visitadas, as famílias não tinham acesso a fármacos e dependiam inteiramente das plantas e árvores que cresciam espontaneamente nos seus campos agrícolas e nas matas para o tratamento de infecções oportunistas. Dir-se-ia que as matas são, portanto, uma rede de segurança essencial para as famílias afectadas pelo VIH/SIDA. Foi adjudicado um estudo em dois países da África Austral para determinar a utilização e a variação do acesso aos recursos na sequência da pandemia de VIH/SIDA. O estudo irá explorar também o apoio à gestão de recursos que faz falta às instituições locais e respectivos serviços de extensão, as comissões de gestão dos recursos naturais das comunidades e outros mecanismos de gestão de recursos instalados nas aldeias.
As recomendações e os resultados do estudo serão divulgados através do programa de florestas nacional e utilizados para apoiar os países na concepção de programas de cooperação técnica. Estes dados serão comunicados a outros organismos de cooperação que estejam a conceber programas integrando respostas multissectoriais ao VIH/SIDA.
pROmOçãO DAS mATAS NATURAIS
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Existem três aspectos transversais entre o sector das florestas e o VIH/SIDA:
O potencial contributo das árvores, matas, florestas e Silvicultura nas respostas pela subsistência das famílias afectadas pelo VIH/SIDA; O impacto na procura e na oferta de produtos florestais a nível local,
nacional e regional; e A perda de mão-de-obra e competências entre as famílias de
agricultores, trabalhadores florestais e especialistas.
É reconhecido que a planificação efectiva de programas deve ser conduzida horizontalmente entre os sectores, mas também verticalmente, a vários níveis, dentro de cada sector. São recomendadas diversas actividades para submeter à consideração dos decisores e executores políticos, entre as quais:
A Nível Nacional: avaliação de probabilidades e desenvolvimento e compilação de instrumentos de apoio à tomada de decisões políticas sobre estratégias agrícolas e florestais.
A Nível Local: documentação do valor das plantações tradicionais como rede de segurança económica e alimentar para agregados familiares afectados pelo VIH/SIDA; gestão sustentável das plantações tradicionais (para alimentação, geração de rendimentos e produtos medicinais) nas respostas do sector florestal à epidemia de VIH/SIDA; promoção de tecnologias de reduzida mão-de-obra para melhorar a fertilidade dos solos; e plantas medicinais nos campos agrícolas.
A Nível Institucional: apoio a instituições de ensino terciárias, através da revisão de políticas e do desenvolvimento de currículos, incluindo componentes de sensibilização sobre o VIH/SIDA e de resposta no sector florestal; cursos breves de actualização para resolver a falta de pessoal na agricultura e nas florestas; aprovisionamento de quadros profissionais com pessoal de outras regiões; dinamização das respostas do sector da agricultura e florestas nos projectos da FAO; e desenvolvimento da capacidade e transparência das instituições locais, formais e informais.
O sector das florestas está a corresponder às respostas dos programas de luta conta o VIH/SIDA, de diversas formas, abaixo descritas.
PROGRAMA FAO VIH/SIDA
RECURSOS DE CONSULTA
Programa da FAO sobre VIH/SIDAwww.fao/hivaids
Mitigar o impacto do VIH/SIDA na segurança alimentar e na pobreza ruralwww.fao.org/docrep/005/Y8331E/Y8331E00.htm
VIH/SIDA e florestaswww.fao.org/forestry/site/10808/en
Situação das florestas do mundowww.fao.org/forestry/foris/webview/forestry2/index.jsp?siteId=3321&langId=1
Perspectivas das florestas africanaswww.fao.org/docrep/005/Y4526B/Y4526B00.htm
VIH/SIDA, os sectores florestais e de vida selvagemwww.fao.org/forestry/foris/data/hiv/ForestryHIV-AIDS-EN.pdf
Contribuição das árvores e florestas aos meios de subsistência dos agregados familiares afectados pelo VIH/SIDAwww.fao.org/forestry/foris/data/hiv/HIV-AIDS-EN.pdf
ActividAdes florestAis e Agro-silviculturA Nos ProgrAMAs MultissectoriAis de coMBAte Ao viH/sidA
Nos países onde a epidemia de VIH/SIDA é grave e grande número de agricultores de subsistência são afectados, as políticas florestais podem proporcionar um quadro nacional para tratar o impacto da epidemia. O departamento de florestas da FAO considera que o seu papel em prol do desenvolvimento de quadros e estratégias políticas é uma parte importante do seu trabalho, pelo que está a contribuir para o desenvolvimento de instrumentos de apoio à tomada de decisões políticas. O papel que o sector florestal pode desempenhar na mitigação dos impactos do VIH/SIDA foi apresentado em diversos artigos e resumos emitidos no Comité para as Florestas 2003 (2003 Committee on Forestry), da FAO, e na Comissão Africana para as Florestas e a Vida Selvagem (African Forest and Wildlife Commission), publicados nos estudos 2003 State of the World’s Forests e 2002 Forest Outlook Study, sobre África.
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Uma prática agroflorestal que requer o mínimo de mão-de-obra e pode manter a sustentabilidade da agricultura a longo prazo é a beneficiação dos alqueives. Esta prática consiste no plantio deliberado ou sementeira directa de espécies fixadoras do azoto em terras que, de outro modo, seriam deixadas ao abandono quando começassem a produzir menos, até que o solo readquirisse a sua fertilidade pelo processo lento de repouso e regeneração. Com a beneficiação dos alqueives, os arbustos contribuirão para o abastecimento de forragem e madeira de queima, perto das propriedades rurais, no prazo de dois anos após a plantio. Os alqueives beneficiados também podem ajudar a garantir a posse das terras dos campos abandonados e são adequados à maior parte do território da África Austral, onde prevalecem os sistemas de baixa produção e a rotação agrícola consiste em deixar regenerar a terra. Esta tecnologia está a divulgar-se com êxito na Zâmbia, Moçambique e Malawi.
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Food and Agriculture Organization of the United Nations
Viale delle Terme di Caracalla00153 Rome, ItalyTel. +39 0657051E-mail: [email protected]: http://www.fao.org/hivaids