Download - Agenda Cariacica
REALIZAÇÃO: Promotores da Agenda Cariacica 2010-2030
REVISÃO:Dalva Silva Souza
PROJETO GRÁFICO: Fábio Freitas Silva - www.necta.com.br
DIAGRAMAÇÃOFábio Freitas Silva / Fernando Madeira
IMPRESSÃO: Gráfica Aquarius
FOTOGRAFIAS: Fernando Madeira, Claudio Postay e acervo PMC
PESQUISAS REALIZADAS:Pressupostos da Agenda Cariacica – 2010Pesquisa de Opinião: Identidade do Cariaciquense – 2010Potencialidades Locais para Investimentos Inovadores e Sustentáveis – 2011Mobilidade, Transporte e Trânsito de Cariacica – 2011
ANO 2012 :: 1ª EDIÇÃO
PUBLICAÇÃO ELETRÔNICA:www.cariacica.es.gov.br
CONTATOS:[email protected]
27 3346-6133
Prefeitura Municipal de Cariacica. Agenda Cariacica 2010-2030: planejamento sustentável dacidade / Prefeitura Municipal de Cariacica. Cariacica: [s.n], 2012. 220p.
Bibliografia. 1. Planejamento sustentável 2. Administração públicaI. Prefeitura Municipal de Cariacica II. Título. CDD – 352.8152
EXPEDIENTE
Auta Fernandes – Federação das Associações de Moradores de Cariacica – FAMOC
Carlos Teixeira Campos Junior – Coordenador da Equipe de Consultores
Cleber José da Silva – Câmara de Vereadores de Cariacica
Gabriela Gilles Ferreira – Coordenação Executiva
Giovana Gava Camiletti – Coordenação Executiva
Lauriéte Caneva – Prefeitura Municipal de Cariacica Secretaria de Governo
Patricia Sartini – Associação Empresarial de Cariacica – AEC
Pedro Gilson Rigo – Prefeitura Municipal de Cariacica – Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo
Renato Laures – Prefeitura Municipal de Cariacica Secretaria de Planejamento
Zenóbio Eloy Fardim – Associação Gestora do Plano Estratégico de Cariacica – AGEPLAN
Lauriéte Caneva – Supervisora
Giovana Gava Camiletti – Coordenadora
Gabriela Gilles Ferreira – Coordenadora
Ana Lúcia Leal de Andrade – Técnica
Debora Sader – Técnica
Flavilio da Silva Pereira – Técnico
Mariana Sousa Borges - Técnica
Matusalém Dias de Moura S. Florindo – Técnico
Pollyanna Paganotto Moura – Técnica
Ana Jéssyca Zacaron – Apoio
Mariana Di Cavalcanti Gomes – Apoio
Joyce Juliane Souza Fernandes – Apoio
Ricardo Silva Pereira – Apoio
Wanderlaine Campos Souza da Silva – Apoio
COORDENAÇÃO TÉCNICA DA AGENDA CARIACICA
Mauro da Silva Rondon – Prefeitura Municipal de Cariacica – Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo
Valdemar Fonseca dos Santos – Prefeitura Municipal de Cariacica – Secretaria de Desenvolvi-mento Econômico e Turismo
Edileide Felipe da Fonseca – Companhia de Desenvolvimento de Cariacica – CDC
Pedro Paulo Fatorelli Carneiro – Associação Empresarial de Cariacica – AEC
Sidemar de Lima Acosta – Associação Empresarial de Cariacica – AEC
Carlos Renato Martins - Associação Empresarial de Cariacica – AEC
Amélia da Silva Azevedo – Associação Empresarial de Cariacica – AEC
Eduardo Borlini – Associação Empresarial de Cariacica – AEC
Ilma Chrizostomo Siqueira – Câmara de Vereadores de Cariacica
OUTRAS CONTRIBUIÇÕES NA COORDENAÇÃO TÉCNICA
COORDENAÇÃO EXECUTIVA
Gutemberg Hespanha Brasil e Aurélia H.
Castiglione: Dinâmica Populacional de Cariacica
Marco Romanelli e Patrícia Stelzer: Meio Urbano e
Rural - Uso e Ocupação do Solo e Habitação
Paulo Roberto Simões de Simões: Mobilidade,
Sistema Viário, Trânsito e Transporte
Helder Gomes: Contexto Econômico de Cariacica e as
Potencialidades de Emprego e Renda
Sávio Bertochi Caçador: Tecnologia da Informação e
Comunicação (redes de óptica, telefonia, acesso a
internet, inclusão digital) e Energia
Márcia Cristina Bergamim: Meio Ambiente,
Humanização da Cidade e Saneamento
Maria Aparecida Javarini Bitencourt: Turismo
Ernandes Zanon Guimarães: Cultura
Carlos Nazareno Ferreira Borges: Esporte e Lazer
Pedro Benevenuto Junior: Saúde
Vera Lúcia Baptista Castiglione: Educação
Bruno Alves de Souza Toledo: Direitos Humanos e
Juventude
Vanda de Aguiar Valadão e Pedro José Bussinger:
Segurança Pública e Cidadania
Jeane Andréia Ferraz Silva e Andrea Monteiro
Dalton: Assistência Social de Cariacica - famílias,
criança e adolescente, idosos, migrantes, população em
situação de rua e pessoas com deficiência.
Sueli Mattos de Souza: Gestão Pública Municipal
Carlos Teixeira Campos Júnior: Coordenador dos
Consultores
Futura (Orlando Caliman, Roberta Atherton e
Alexandre Alden Fontana) e Construtora Agreste
(Carlos Fernando de Vasconcellos R. C. Albuquer-
que): Identificação de Vocações e Projetos Estratégicos
para o Desenvolvimento Sustentável de Cariacica
CONSULTORES DA AGENDA CARIACICA
Carlos Umberto Felipe: Dinâmica Populacional
Elda Alvarenga, Elizabeth Alvarenga e Merci
Pereira Fradin : Contexto Econômico de
Cariacica e as Potencialidades de Emprego e
Renda
Maria Marta Morra Tomé: Cultura
Ana Paula Santana Coelho e Rodrigo Paris
Benevenuto: Saúde
Pablo Lyra: Segurança Pública e Cidadania
Jose Carlos Oliveira: Meio Urbano e Rural - Uso
e Ocupação do Solo e Habitação
CONTRIBUIÇÕES
Coordenação GeralPrefeitura Municipal de Cariacica
Prefeito: Helder Ignacio Salomão
Secretária Municipal de Governo: Lauriéte Caneva
Assessora Especial de Planejamento Estratégico: Giovana Gava Camiletti
Helder Ignacio Salomão
Alessandro de Mello GomesSecretaria Especial de Relações Institucionais
Andréia Lara ToseSecretaria Municipal de Comunicação
Antônio Rodrigues NetoSecretaria Municipal de Agricultura
Célia Maria Vilela TavaresSecretaria Municipal de Educação
Clóvis Pereira NeimegAuditoria Geral do Município
Dalva Lyrio GuterraSecretaria Municipal de Finanças
Heliomar Costa NovaisSecretaria Especial de Coordenação Política
Ilca Rodrigues BarcelosInstituto da Previdência de Cariacica
José Antônio MunaldiSecretaria Municipal de Obras
José Luís Oliveira SilvaSecretaria Municipal de Cidadania e Trabalho
Lauriéte CanevaSecretaria Municipal de Governo
Marcia Severiano BraguíniaSecretaria Municipal de Meio Ambiente
Mauro da Silva RondonSecretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo
Nilda Lúcia SartorioSecretaria Municipal de Assistência Social
Pedro Ivo da SilvaSecretaria Municipal de Administração
Rafael Merlo Marconi de MacedoProcuradoria Geral do Município
Renato LauresSecretaria Municipal de Planejamento
Ricardo Vereza LodiSecretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitação
Sebastião CovreSecretaria Municipal de Serviços e Trânsito
Simone Franco GarciaGabinete do Prefeito
Valdim José BentoSecretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer
Weydson FerreiraSecretaria Municipal de Saúde
PREFEITO
SECRETÁRIOS MUNICIPAIS
Pensar Cariacica 20 anos à frente. Temos uma tarefa complexa, mas que se mos-trou exequível e exitosa. Precisávamos de projetos e ações que permitissem à cidade crescer de forma sustentável, privilegiando a população e os recursos naturais, valorizando suas tendências e criando novas alternativas. E mais, que contemplassem os seus diversos segmentos, na construção de um planejamento realmente representativo.
Quando paramos para refletir sobre a Cariacica que temos hoje, é impossível não olhar para trás e lembrar de uma cidade sem perspectivas que se apresentava no passado recente. Ao ver Cariacica, agora, também é impossível não pensar na cidade que se desenha para o futuro. Temos hoje uma terra de oportunidades, que ainda sofre com seus problemas de infraestrutura, por ter passado muitas déca-das sem plano de crescimento, mas tendo no horizonte uma cartela disponível de áreas de desenvolvimento.
Ao colocar na mesa a Agenda Cariacica, criamos mais que um projeto para pensar sobre os rumos possíveis e necessários e os avanços desejados para nossa cidade. Criamos um espaço de debate, onde todo o município pode dialogar sobre as po-tencialidades e expectativas de desenvolvimento.
O processo de discussão da Agenda Cariacica foi longo e muito rico. Lideranças so-ciais, empresários, estudiosos e servidores públicos debateram à exaustão temas de grande relevância para uma cidade. Pensaram o macro, trazendo experiências bem-sucedidas e foram ao detalhe do município, pensando em soluções específi-cas para problemas que são nossos e precisam de projetos exclusivos.
Ter em mãos um documento como este é motivo de muito orgulho. A Agenda Cariacica comprova que sonho, se aliado a muito trabalho, nos permite chegar muito longe. Vamos continuar sonhando com dias brilhantes para Cariacica, su-perando cada um dos desafios existentes, que ainda são muitos. Este documento é um troféu e um incentivo. Parabéns a todos que contribuíram para que ele se concretizasse!
Helder Salomão
UM PLANEjAMENTO FEITO A MUITAS MÃOS
É interessante pensar em como cresce uma cidade. Se colocássemos uma sucessão de fotografias do espaço em que ela está, em projeção rápida de várias épocas, talvez víssemos uma imagem semelhante à de um botão que se abre em flor. Cada pétala dessa imaginária flor seria um bairro em seu afastamento natural do cen-tro urbano que vai se ampliando, subindo montanhas, espraiando-se por planícies e invadindo áreas, antes recoberta pela vegetação. Em Cariacica, contudo, não seria assim, uma vez que o espaço foi inicialmente ocupado por engenhos e fa-zendas, surgindo, depois, a população que se compôs, predominantemente, pelos migrantes que chegaram do interior do Estado, principalmente descendentes de italianos, e diversificaram as atividades econômicas ou se organizaram em comu-nidades mediadas pela igreja, pelos sindicatos e pelos partidos políticos e deram sustentação aos novos rumos políticos tomados pelo município.
O homem modifica o meio em que vive, nem sempre de forma racional e lógica e, por isso mesmo, torna-se refém dos problemas que se acumulam nos grandes centros urbanos da atualidade. Por vezes, manifestam-se anseios e aspirações por outras formas de configuração da realidade urbana, em que a densidade demográ-fica não se mostrasse tão adversa à presença de plantas e pássaros, gerando uma vida mais feliz para os cidadãos. Seria de todo impossível esse sonho?
Cariacica é um município que cresceu pela proximidade com a capital do estado. Seu nome nos remete aos tempos primeiros da colonização do solo espiritossan-tense, trazendo-nos à memória a reação dos índios que habitavam a região à chegada dos brancos. Sucedendo-se os anos, com o crescimento da população, espalha-se no planalto a 36 metros do nível do mar e desdobram-se os problemas que hoje se apresentam, desafiando a administração municipal.
Compor a Agenda Cariacica tem sido uma oportunidade de ver de perto as questões presentes na vida de um município com tanta potencialidade, abrindo um leque de possibilidades, para diagnóstico do que se construiu e dos avanços necessários, para a resolução dos problemas desafiadores.
Neste documento, alinhavam-se informações históricas, descrevem-se processos desenvolvidos na gestão municipal, apresentam-se importantes dados do diagnós-tico da situação e antecipam-se proposições que sugerem possíveis caminhos de solução. Sem dúvida, uma contribuição aos que virão depois, somar esforços ao propósito de construir o futuro com que sonha todo cidadão cariaciquense: uma cidade para se viver com alegria e segurança, desfrutando das facilidades do meio urbano, sem abrir mão do prazer de estar em contato com a multiplicidade de cores e sabores da natureza.
Lauriéte Caneva
AGORA O FUTURO É POSSIVEL
ÍNDICE
PROCESSO DE ATUALIzAÇÃO :: TRAjETóRIA DA AGENDA
CONCURSO DE MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS :: AGENDA CARIACICA NAS ESCOLAS
PRESSUPOSTOS DA AGENDA CARIACICA
DIAGNóSTICOS
DINâMICA POPULACIONAL DE CARIACICA
MOBILIDADE :: SISTEMA VIÁRIO :: TRâNSITO E TRANSPORTE :: USO E OCUPAÇÃO DO
SOLO NO MEIO URBANO E RURAL :: hABITAÇÃO
CONTEXTO ECONôMICO :: POTENCIALIDADES DE EMPREGO E RENDA
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO :: ENERGIA
MEIO AMBIENTE :: hUMANIzAÇÃO DA CIDADE :: SANEAMENTO
TURISMO
CULTURA
ESPORTE :: LAzER
SAúDE
EDUCAÇÃO
DIREITOS hUMANOS :: jUVENTUDE
SEGURANÇA PúBLICA :: CIDADANIA
ASSISTêNCIA SOCIAL DE CARIACICA
GESTÃO PúBLICA MUNICIPAL
EIXOS :: DIRETRIzES ::ESTRATÉGIAS :: PROjETOS
AGRADECIMENTOS
1
1.1
2
3
3.1
3.2
3.3
3.4
3.5
3.6
3.7
3.8
3.9
3.10
3.11
3.12
3.13
3.14
4
5
12
16
22
30
32
48
72
80
88
100
106
112
118
126
144
152
160
168
176
231
CAP
íTU
LOS
PÁG
INAS
12
O futuro de uma cidade é feito de sonhos e ações, do
desejo de muitos em busca da satisfação de todos. O
futuro de uma cidade é feito ainda por meio do trabal-
ho sinérgico de todos aqueles que atuam em prol dos
mesmos objetivos de crescimento, desenvolvimento e
melhoria da qualidade de vida dos seus cidadãos. O fu-
turo de uma cidade é feito, quando prefeitura, entidades
e toda a sociedade trabalham em conjunto e quando,
juntas, escrevem as novas páginas de sua história. Esta
é a cidade que buscamos com a Agenda Cariacica: uma
cidade moderna, que avança no tempo com coragem de
crescer, sem deixar de lado os valores e tradições, que
valoriza a vida e que atende o seu povo naquilo de que
ele mais necessita.
Elaborada em 2003, a primeira agenda foi um plane-
jamento sustentável para a cidade com o intuito de
orientar o desenvolvimento do município para 20 anos.
Nesta nova etapa, a Agenda Cariacica dá continuidade
aos planos traçados, atualiza as informações, avalia
conquistas e estabelece novas metas a serem cumpri-
das até 2030.
O desenvolvimento deste planejamento aconteceu por
intermédio, principalmente, de consultores especialis-
tas nas quinze áreas temáticas propostas inicialmente
e pela realização de quatro pesquisas de opinião, para
o desenvolvimento de um diagnóstico da cidade, bem
como para a definição das metas e proposição de ações
estratégicas de longo prazo. Essa proposta trouxe à
tona os princípios da participação popular, assegurando
que as atividades necessárias à referida elaboração fos-
sem realizadas de maneira democrática, respeitando as
opiniões e sugestões públicas.
Para garantir a participação dos diversos atores da ci-
dade, o processo teve como entidades promotoras a
Prefeitura de Cariacica - PMC, a Câmara Municipal de
Vereadores, a Associação dos Empresários de Cariacica
- AEC e a Federação das Associações de Moradores de
Cariacica – FAMOC, além da participação especial da As-
sociação Gestora do Planejamento Estratégico – AGE-
PLAN, na Coordenação Técnica.
A Coordenação Técnica da Agenda Cariacica balizou o
desenvolvimento, do ponto de vista técnico, de todo o
trabalho, articulando, sugerindo, avaliando e, sobretu-
do, decidindo em conjunto sobre os principais aspectos
norteadores para o desenvolvimento do trabalho. Du-
rante toda a construção da Agenda, a metodologia do
processo foi debatida nas reuniões semanais da coorde-
nação, que também fazia todas as avaliações dos do-
cumentos e propostas apresentados pelos consultores
responsáveis pela área temática.
Além da Coordenação Técnica, houve, durante todo o
processo, uma Coordenação Executiva, formada, prin-
cipalmente, por técnicos da Secretaria Municipal de
Governo e da Secretaria Municipal de Planejamento,
responsáveis pela interface com a comunidade, pelas
PROCESSO DE ATUALIzAÇÃO TRAjETóRIA DA AGENDA
1
13
articulações com entidades e órgãos de fomento e, tam-
bém, pela leitura e pela avaliação dos documentos,
para a promoção de debates e integração das diversas
áreas temáticas.
A trajetória do desenvolvimento da Agenda Cariacica
está delineada por um trabalho desenvolvido ao longo
de dois anos. Durante o processo, iniciado em 2010,
aconteceram 5 reuniões temáticas e 7 seminários seto-
riais, 1 Concurso de Manifestações Artísticas, envolven-
do os alunos da Rede Pública Municipal, e 2 Audiências
Públicas abertas a todos os integrantes da sociedade.
As reuniões temáticas foram pensadas, para que a
equipe de consultores pudesse visualizar o município
em suas diversas áreas temáticas de forma integrada.
Foram 5 mesas redondas com lideranças do município,
pessoas de notório saber nas diversas áreas e convida-
dos. Os temas discutidos nas reuniões foram:
1ª Reunião: Aspectos Econômicos e Investi-
mentos Previstos, com a participação dos palestrantes
Ana Ivone Marques, subsecretária de estado de Plane-
jamento (na ocasião); Matheus Albergaria de Maga-
lhães, coordenador de Estudos Econômicos do Instituto
Jones dos Santos Neves e Pedro Gilson Rigo, na ocasião
Secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de
Cariacica.
2ª Reunião: Mobilidade, Logística e Estrutura
Urbana com a participação dos palestrantes Luis Fer-
nando Barbosa Santos, especialista em mobilidade e
trânsito da Prefeitura de Vitória; José Fernando Deste-
fani, especialista da Secretaria de Obras do Governo
do Estado; Sonia Mareth, subsecretária de Desenvolvi-
mento Urbano de Cariacica; André Vitor, subsecretário
de Trânsito de Cariacica; Constantino Dadalto, membro
do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Espírito
Santo – SINDUSCON/ES e Paulo Mattedi, presidente da
FAMOC.
3ª Reunião: Relação campo-cidade e seus
impactos no ambiente e no turismo, com a partici-
pação dos palestrantes Ricardo Vereza Loddi, secre-
tário Municipal de Desenvolvimento Urbano e Ha-
bitação de Cariacica; Jamile Miledi, membro da
ADETUR – Região Metropolitana da Grande Vitória; Fa-
bio Leite, empreendedor da área de turismo em Ca-
riacica e Hemerval Guerini, especialista do INCAPER.
4ª Reunião: Garantias Sociais e Trabalho, com
a participação dos palestrantes Pedro Bussinger, profes-
sor da UFES e EMESCAM e coordenador do Centro de
Apoio aos Direitos Humanos; Edileide Felipe, diretor téc-
nico da CDC; e Maria Antônia Moura Silva, presidente
da Associação Costumesartes e integrante da Rede de
Economia Solidária de Cariacica.
5ª Reunião: Garantias Sociais em Cariacica,
com a participação dos palestrantes Gustavo Debortoli,
gerente de inteligência da Secretaria de Estado de Se-
gurança Pública; Nilda Lúcia Sartorio, secretária de As-
sistência Social de Cariacica e especialista em Direitos
Humanos; Célia Maria Vilela Tavares, secretária de Edu-
cação de Cariacica e mestre em Ciência Política e Paulo
Cesar Reblin, subsecretário de Saúde de Cariacica.
Os Seminários Setoriais, envolveram os diversos setores
da sociedade: setor público, empresarial, sindical, re-
ligioso, lideranças comunitárias, entidades e sociedade
civil, e representaram momentos de reflexão e de par-
ticipação das organizações representativas. Em conjun-
to, todos esses setores, cada qual em seu momento,
propuseram ações e cenários para o município, para os
próximos 20 anos, considerando o conhecimento acerca
dos desafios, dos potenciais para a melhoria das con-
dições de vida e de trabalho no âmbito local e, também,
das perspectivas quanto à reinserção de Cariacica no
desenvolvimento econômico e socioambiental da Região
Metropolitana.
1 :: PROCESSO DE ATUALIzAÇÃO :: TRAjETóRIA DA AGENDA
14
Paralelamente às reuniões temáticas e seminários seto-
riais, aconteceu o Concurso de Manifestações Artísticas
“Agenda Cariacica nas Escolas”, enriquecendo ainda
mais este trabalho, por meio da participação de todos
os alunos da Rede Municipal de Ensino, cujo principal
objetivo foi ouvir e entender o que pensam as crianças,
os jovens e os adolescentes acerca do futuro da cidade.
Foram produzidos textos e desenhos de acordo com as
categorias de estudantes pré-estabelecidas, que foram
avaliados por uma comissão de especialistas, resultan-
do em um evento de premiação com a participação de
cerca de 300 estudantes. As primeiras colocações dos
desenhos e produções textuais de cada categoria com-
põem esta publicação.
Nesse processo, a partir da realização das reuniões
temáticas e dos seminários setoriais, foram produzidos
os diagnósticos e cenários para o município. Esses docu-
mentos, juntamente com as análises do presente e a
projeção do futuro do município, foram discutidos na 1ª
Audiência Pública da Agenda, evento que aconteceu em
dois dias, sendo o primeiro deles uma abertura oficial se-
guida da palestra “Cariacica Integrada:Construindo uma
Cidade mais Humana”, ministrada pelo palestrante Am-
brosino de Serpa Coutinho, do Ministério das Cidades,
com participação de 400 pessoas. O segundo caracte-
rizou-se por um dia de trabalho para as discussões e,
ainda, para proposição de projetos e ações de longo
prazo, com a participação de cerca de 800 pessoas.
As 15 áreas temáticas foram agrupadas em 9 grupos de
discussões, coordenados pelos respectivos consultores
das áreas, tais como descrito abaixo:
1 :: Grupo azul – Contexto Econômico e Potenciali-
dades de Emprego e Renda, Tecnologia da Informação e
Comunicação e Energia;
2 :: Grupo amarelo – Meio Urbano e Rural: uso e ocu-
pação do solo e habitação, mobilidade, sistema viário,
trânsito e transporte;
Nesses seminários setoriais foram consideradas as con-
tribuições de todos os presentes, centradas na avaliação
que cada segmento social tem acumulado sobre as bar-
reiras e os potenciais colocados como desafios e opor-
tunidades para Cariacica superar seus problemas estru-
turais, realizar seus sonhos de prosperidade econômica
e construir um município ambientalmente saudável e
provido de garantias sociais para a vida cotidiana, no
campo e na cidade.
Os seminários foram organizados da seguinte maneira:
1º Seminário: Conselhos e Entidades sem fins
lucrativos e Conselhos Tutelares;
2º Seminário: Setor Produtivo;
3º Seminário: Setor Político-Partidário;
4º Seminário: Lideranças Comunitárias,
Religiosas e Sindicatos;
5º Seminário: Setor Público;
6º Seminário: Juventudes;
7º Seminário: Setor Rural.
Cabe ressaltar que, além das reuniões temáticas e semi-
nários setoriais, no decorrer do processo de atualização
da Agenda, ocorreram inúmeras reuniões entre os pró-
prios consultores, entre os consultores e a coordenação
técnica e entre os consultores e os técnicos das diversas
secretarias e áreas, para integrar as discussões e pro-
posições futuras. Durante toda a trajetória, desde o lan-
çamento do projeto até a entrega de todos os documen-
tos finais, foram realizadas visitas em campo, em todas
as áreas e setores do município, e ocorreram reuniões
técnicas que envolveram moradores, servidores munici-
pais, estudiosos, lideranças, empresários e consultores,
com o intuito da construção participativa e coletiva.
3 :: Grupo verde – Meio Ambiente, humanização da
cidade e saneamento;
4 :: Grupo prata – Saúde;
5 :: Grupo vermelho – Educação;
6 :: Grupo branco – Turismo, Cultura, Esporte e Lazer;
7 :: Grupo laranja – Assistência Social;
8 :: Grupo dourado – Direitos Humanos e Juventude;
9 :: Grupo preto – Segurança, Cidadania e Dinâmica
Populacional.
A partir da realização da 1ª Audiência, os dados foram
compilados pelos consultores, que consolidaram a 2ª
fase do projeto: formulação, atualização e aprimora-
mento das estratégias, diretrizes, projetos e ações – In-
tegrados e Setoriais – que novamente foram debatidos
com ampla participação popular na 2ª Audiência Pública.
A partir da 2ª Audiência, aconteceram as 3ª e 4ª fases
do processo, sendo a 3ª a elaboração da síntese geral
dos diagnósticos, com propostas de projetos para de-
senvolvimento de longo prazo a serem implementados
até 2030, e a 4ª a elaboração do documento final e con-
solidação do projeto de Atualização da Agenda Cariacica
e pelo lançamento deste documento.
Um planejamento desse porte representa um processo
participativo em direção ao desenvolvimento de Cariac-
ica, tendo como eixo central a sustentabilidade, com-
patibilizando a conservação ambiental, a justiça social e
o crescimento econômico. O resultado desse processo é
este documento que, sem dúvida, tornar-se-á uma fer-
ramenta fundamental, norteadora das políticas públicas
do município, garantindo o dinamismo econômico, social
e ambiental desta cidade que busca oferecer a seus mo-
radores um lugar melhor para se viver e trabalhar.
1 :: PROCESSO DE ATUALIzAÇÃO :: TRAjETóRIA DA AGENDA
16
CONCURSO DE MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS
AGENDA CARIACICA NAS ESCOLAS
1.1
O futuro de uma cidade depende das pessoas que nela residem e trabalham, das que a visitam e da forma como todas
se relacionam com ela, por isso, é preciso que todos, em sinergia, contribuam para escrever a história que queremos
para o nosso município.
Assim, dentre todas as ações em busca de uma construção coletiva com a lógica do envolvimento de todos desse pre-
sente, para deixar uma herança aos cariaciquenses que ainda virão, de modo que possam continuar a caminho do pro-
gresso sustentável, o projeto da Agenda Cariacica realizou uma de suas etapas com o envolvimento de todos os alunos
da Rede Pública Municipal de Ensino, na construção desse Planejamento Sustentável para a Cidade, por meio de um
Concurso de Manifestações Artísticas.
Os alunos da rede municipal puderam expor por meio de Manifestações Artísticas, orientados pelas escolas, professores
e diretores, o que esperam para o município nos próximos 20 anos, considerando o papel preponderante das escolas na
formação das pessoas e definição de políticas educativas que contribuem para a construção do futuro de uma cidade. O
objetivo foi impulsionar as reflexões e atitudes face à temática da construção do futuro de Cariacica.
As Manifestações Artísticas presentes no Concurso foram a produção textual e o desenho, e a participação se fez por
meio de diferentes categorias:
Desenhos:
Alunos dos CMEI`s;
Alunos dos 1º, 2º e 3º anos do Ensino Fundamental.
Produção Textual:
4º, 5º e 6º anos (3ª, 4ª e 5ª séries) do Ensino Fundamental;
7º, 8º e 9º anos (6ª, 7ª e 8ª séries) do Ensino Fundamental.
Todo o concurso foi regido por um regulamento e os 1º, 2º e 3º lugares de cada categoria foram premiados.
1º LUGAR :: DESENHO :: 1º AO 3º ANO :: JOÃO PEDRO DA CRUZ TEIXEIRA :: EMEF ALVARO ARMELONI
18
O futuro de minha cidade
Até 2030, Cariacica vai melhorar em muitos aspectos. Não que esteja ruim, mas poderá ficar ainda melhor.Na educação, as escolas terão piscinas, auditório com cadeiras adequa-das para que todos possam ver o telão sem dificuldade, cadeiras es-peciais para os deficientes, sala de aula com ar condicionado, quadro digital, um computador para cada aluno e merenda com sobremesa, de preferência frutas.Os Alunos ficarão mais tempo na escola, e para aqueles com maior dificuldade haverá aulas extras.No projeto as ruas serão asfaltadas e terão lixeiras e as pessoas serão multadas por jogarem lixo nas ruas.No projeto de urbanização terá mais pracinhas com arvores, plantas e diversidade de brinquedos para as famílias levarem os filhos para o lazer.Vai ter mais segurança no trânsito, principalmente em Campo Grande, pois está muito tumultuado. E os idosos terão prioridade na hora de atravessar a rua.Espero que nessa linha do tempo de 2010 a 2030 tenha menos vi-olência e que os políticos trabalhem com mais seriedade.Espero que nesses próximos 20 anos as pessoas contribuam mais com o desenvolvimento social, educacional, político e cultural para atender a população do futuro.
Jogador
PRODUÇÃO TEXTUAL
4º, 5º E 6º ANOS
EMEF ROSA DA PENHA
1º LUGAR: ONÃ BÜGER DA CONCEIÇÃO
Pensando o futuro de Cariacica
Sou uma cidade com muito amor
Sou uma cidade trabalhadora
Sou uma cidade que sem seu valor
Uma cidade conquistadora
Sou Cariacica
Sou a cidade que crescer
Sou a cidade com mais vida
Pois um novo futuro nasceu
Sou uma cidade melhor
Sou a cidade mais evoluída
Sou a cidade que tem a sua importância
Que soube valorizar cada conquista
Sou Cariacica
Que nunca parou de crescer
Todos nós somos o futuro
Um futuro que todos irão conhecer
Valbiner
PRODUÇÃO TEXTUAL
7º, 8º E 9º ANOS
EMEF ARTHUR DA COSTA E SILVA
1º LUGAR: VALBER PEREIRA VARGAS
1.1 :: CONCURSO DE MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS :: AGENDA CARIACICA NAS ESCOLAS
1º LUGAR :: DESENHO :: ALUNO JOÃO MARCOS LIMA DE SOUZA :: CMEI PRINCíPIO DO SABER
22
PRESSUPOSTOS DA AGENDA CARIACICA
2
Os Pressupostos da Agenda Cariacica trata-se de um
documento com as prerrogativas básicas que orienta-
ram a construção dos diagnósticos e análises setoriais
das 15 macroáreas temáticas deste estudo, com a fi-
nalidade de aproximar áreas distintas de conhecimento,
visando à resolução de problemas do município. Trata-
se de um “olhar” sobre Cariacica e se refere a uma ma-
neira específica de ver este município. O ponto de vista
escolhido neste documento considera o município “como
uma produção coletiva de interesses distintos, às ve-
zes coincidentes, às vezes contraditórios”, considerando
Cariacica como o resultado dos processos históricos que
definiram sua formação. A Cariacica do futuro trará os
efeitos desse passado na construção que será realizada
a partir dos dias de hoje.
O documento está estruturado em três partes:
1 – Os elementos da formação econômica, política e so-
cial em Cariacica;
2 – Os direitos pretendidos: direito à cidade, à vida no
campo e à diferença;
3 – Os desafios políticos para uma nova divisão intermu-
nicipal do trabalho na Metrópole.
1 - Elementos da formação econômica, política e
social em Cariacica
Cariacica possui uma diversidade produtiva importante.
Reúne os segmentos: moveleiro, de confecções, metal-
mecânico, siderúrgico e de bebidas; serviços de trans-
porte e armazenamento de mercadorias, que são re-
presentativos na Região Metropolitana da Grande Vitória
(RMGV), além de um expressivo subcentro metropoli-
tano de comércio varejista.
Cariacica já foi o mais importante centro industrial da
aglomeração urbana da Grande Vitória. Atualmente, o
município está sendo redescoberto, e seu território tor-
nou-se alvo de disputas de grandes interesses, cujos
processos decisórios vão além do limite local e da fron-
teira estadual.
A tendência é o estabelecimento de uma nova inserção
metropolitana do município, que aponta para uma pos-
sível especialização produtiva e expansão imobiliária de
empreendimentos habitacionais populares em seu ter-
ritório. Em termos espaciais, essa tendência deve ex-
pandir-se em direção à área rural do município.
Atualmente, o município vive um duplo desafio: lidar
com essa possível tendência de seu crescimento, aval-
iando seus impactos, e cuidar do passivo historicamente
construído, que representa já um grande peso: existe
uma enorme dívida social a ser resgatada, sob pena de
comprometer o desenvolvimento futuro.
Um dos desafios para o futuro, para o qual se deve
atentar, consiste em administrar o território por causa
das novas perspectivas de crescimento municipal, em
razão de sua reinserção metropolitana. Os interesses
pelo território têm outra dimensão, tendendo a elevar o
patamar dessa disputa e, com isso, apresentando maior
complexidade para a gestão pública do território.
Outro ponto digno de referência é a preocupação que
se deve ter em pensar previamente a implantação de
grandes empreendimentos imobiliários no município.
Se, antigamente, a preocupação maior era com o plane-
jamento, para que a ocupação do solo não fosse desor-
denada e não gerasse os problemas que estão postos em
Cariacica, hoje, já é preciso pensar nos serviços públicos
que os futuros moradores desses novos bairros irão de-
mandar – escolas, postos de saúde, segurança, lazer,
mobilidade, sociabilidade com os outros moradores da
cidade – para evitar a criação de espaços segregados,
dentre outros problemas.
Torna-se, então, necessário conhecer alguns elementos
do processo de formação urbana, econômica, política
e social do município, com o intuito de contribuir na
problematização dos desafios específicos de cada área
temática tratada, para que sejam formuladas propostas
mais adequadas à realidade de cada situação. Para isso,
Cariacica será vista a partir dos momentos de crise e
mudanças, que, acredita-se, foram de maiores trans-
formações.
Nesse sentido, foram escolhidos quatro momentos para
se pensar a participação de Cariacica no contexto do
desenvolvimento do Espírito Santo: a crise do traba-
lho compulsório no final do século XIX; as décadas de
1950 e 1960, período em que o modelo produtivo da
economia capixaba apresentava sinais de esgotamento;
a recomposição do município em novas bases, com o
deslocamento do centro do processo de acumulação do
campo para a cidade e o momento atual.
A crise do trabalho compulsório
A crise do trabalho compulsório foi um momento de mu-
danças no país muito significativo para a compreensão
23
do Espírito Santo hoje. Originada no comércio, a crise
colocava em xeque a estrutura produtiva vigente. No
Brasil, produzia-se com a utilização do trabalho escravo
e este era uma mercadoria cara. Com a elevação grada-
tiva do preço escravo ao longo do tempo, essa equação
ficou comprometida. As razões foram as mais diversas:
proibição do tráfico de escravos, Lei do Ventre Livre, Lei
do Sexagenário e outras restrições.
Foi preciso mudar, construindo novas relações, para
manter o funcionamento da produção. O trabalho livre
do imigrante europeu foi a solução encontrada para
substituir o escravo na cafeicultura, defendendo os in-
teresses das elites, que se mantinham, sem alternância,
no poder.
No Espírito Santo, o europeu, em sua maioria, italianos
e alemães, pelas condições encontradas, preferiu o
acesso à propriedade da terra e o trabalho por conta
própria, ao regime de colonato 1 nas fazendas de café.
A emergência, no estado, dessa fração de classe foi tão
significativa a partir da República, que se criou um plano
para induzir a centralização do comércio de café em
Vitória, que se tornaria, nessa perspectiva, uma grande
praça comercial do Espírito Santo e de parte de Minas
Gerais 2 .
Consta desse plano um projeto urbanístico para Vitória
e a construção de um sistema ferroviário. O projeto
urbanístico era dotado das mais modernas técnicas de
saneamento empregada nos grandes centros do mundo
e foi elaborado por Saturnino de Brito, o mais respei-
tado sanitarista brasileiro daquela época. As iniciativas
de construção da Estrada de Ferro Leopoldina, hoje Cen-
tro-Atlântica, que liga o sul do estado a Vitória, deram-
se ainda no século XIX, numa proposta de transformar
Vitória numa grande praça comercial, em atendimento
das perspectivas comerciais da época.
Como Cariacica participou desse momento de mudan-
ças?
A imigração européia, nesse momento, não teve im-
portância em Cariacica, predominava o cultivo da cana
para produção de açúcar.
A facilidade de acesso à propriedade da terra por parte
do imigrante não se constituiu fator que concorreu com
a grande propriedade em Cariacica, quando se deu a
abolição da escravatura. A imigração europeia não se
difundiu nessa região. Há registros que indicam a pre-
sença de alemães em 1829 e 1833, no entanto esses
imigrantes não se fixaram em território cariaciquense.
Em 1920, havia 386 propriedades, das quais apenas
8%, ou seja, 30 propriedades pertenciam aos descen-
dentes de imigrantes europeus, que faziam parte das
famílias Gegenheiner, Schaeffel, Bremenkamp, Thomes,
Walker, Bone, Pocheller, Belhoff e Leppaus.
Não há registro de imigrantes italianos em Cariacica
até o recenseamento de 1920. Desse modo, a mudança
ocorrida na estrutura da produção com o fim do traba-
lho escravo, em Cariacica, não difundiu a pequena pro-
priedade, nem foi marcada pela imigração europeia, tal
como se caracterizou no restante do território estadual.
Resultado: a grande propriedade foi afetada. A produção
1 Sobre o colonato, Martins (1981) também explica esse regime de trabalho estabelecido entre os fazendeiros e imigrantes, quando foi substituído o trabalho escravo nas lavouras de café.2 Leia a respeito Campos Jr., 1996.
2 :: PRESSUPOSTOS DA AGENDA CARIACICA
24
de aguardente substituiu a de açúcar e aumentou a
quantidade de terras ociosas nas propriedades.
Outros fatores impactaram Cariacica no início do século
XX. A Estrada de Ferro Vitória-Minas, como parte do
projeto de ligar o território capixaba a Vitória e esta
capital a Minas, iniciada em Argolas, em 1903, atinge
Cariacica em 1904 e Natividade, em Minas, no ano de
1910. O novo meio de transporte levava maior quanti-
dade de mercadoria em menos tempo e com menor
custo, mudando a convergência dos fluxos de merca-
dorias, antes realizados por tropas de muares, tendo
Porto Novo como entreposto, para Argolas, atualmente
em Vila Velha, mas, na época, pertencente a Vitória.
Jardim América, pela proximidade com Argolas, tornou-
se o centro de convergência do armazenamento de café.
Posição estratégica
Cariacica, em 1950, produzia café, banana e cana, que
gerava 1 milhão de litros de aguardente (BEZERRA,
2009). Além dessa condição de produtor agrícola, sua
posição estratégica garantiu-lhe uma situação proemi-
nente nessa década. De entreposto comercial no sécu-
lo XIX a município industrial, Cariacica continuava se
beneficiando da proximidade com Vitória. Antigamente
as tropas convergiam para Cariacica, para atravessar a
baía e abastecer Vitória. Também vinha de Cariacica a
água que abastecia Vitória.
O projeto e a construção histórica de Vitória como ci-
dade comercial garantiu a Cariacica uma posição privi-
legiada em relação ao sistema de transporte ferroviário
construído. Primeiramente, a ferrovia direcionou a ocu-
pação para as proximidades da sede municipal, por onde
passava o traçado antigo da Vitória-Minas e, posterior-
mente, com o remanejamento do percurso, na década
de 1940, para as imediações do canal da baía de Vitória,
onde já havia uma oficina de reparo de vagões. Jardim
América participava desse processo, fazendo o armaze-
namento das mercadorias. Vitória experimentava o pro-
cesso de verticalização. Cariacica participava desse mo-
mento, fornecendo materiais cerâmicos, principalmente
tijolos para as edificações 3 e móveis 4.
Nesse período, Cariacica apresentava-se como o mu-
nicípio mais industrializado da Grande Vitória com dez
engenhos de aguardente, seis olarias, três serrarias,
uma fábrica de presunto e outras duas de porte maior:
o Frigorífico Kroeff, em Tucum, e a Cofavi, em Jardim
América. Cariacica era o centro industrial do espaço
que viria a constituir a Região Metropolitana da Grande
Vitória (RMGV).
Além das ferrovias, duas rodovias federais pavimenta-
das nas décadas de 1960 e 1970 facilitaram a ligação
do estado com o sul do país e com o território mineiro.
As ligações que esses meios de transporte propiciavam
naquela ocasião, vinculando novos territórios à dinâmi-
ca da capital, passavam por Cariacica: mais um fator
favorável à posição de destaque que apresentava Ca-
riacica no contexto da Grande Vitória.
A opção pelo atraso
Ao contrário da fração da elite que investiu nos segmen-
tos produtivos – engenhos, olarias, serrarias e fábricas
– a outra fração da elite local dedicou-se ao comércio
de terras, atraída pelas condições favoráveis de cresci-
mento econômico manifestado em Cariacica. Os pro-
prietários das fazendas mais próximas da área urbana,
associados ou não a imobiliárias, repartiam suas terras
para venda em lotes, estimulados pelo crescimento da
atividade urbano-industrial.
O centro do processo de acumulação deslocava-se,
nesse momento, do campo para a cidade. Crescia a
população urbana de Cariacica: dobrou na década de
1940 e triplicou na década seguinte. Tudo isso favoreceu
a atividade imobiliária. A malha urbana cresceu com a
formação de novos bairros, por meio dos negócios com
a terra.
A cidade passou a requerer do poder público maior
firmeza na gestão do seu território, mas, por muitos
anos, o poder público abriu mão do poder constitucional
de administrar a contento esse espaço. Resultado: os
problemas aumentaram, ganharam outra dimensão,
que hoje está fora, em muitas situações, da capacidade
resolutiva apenas do município.
Ao final dos anos 1950, a situação econômica do Espírito
Santo mudou, alterando a posição que Cariacica vinha
assumindo no contexto do desenvolvimento da Grande
Vitória.
As manifestações da crise do modelo produtivo
nos anos 1950
Por mais de um século, o Espírito Santo viveu fundamen-
talmente do café produzido em pequenas propriedades,
com utilização do trabalho familiar. O café era a principal
fonte da receita estadual, e, nesses mais de 100 anos de
predomínio, essa cultura chegou a representar 97% das
exportações do estado (CAMPOS Jr, 1996), no entanto a
atividade deu sinais de esgotamento, em decorrência da
forma como vinha sendo conduzida.
A principal mudança deu-se a partir da década de 50,
com a erradicação de cafezais, e o retorno do cultivo
do café em novas bases, além da introdução de outras
atividades na agricultura e a industrialização do estado.
A política federal de erradicação dos cafezais teve forte
impacto no Espírito Santo e implicações decisivas para o
desenvolvimento de Cariacica. A década de 60 trouxe a
expressão dos efeitos dessa manifestação: 180 mil pes-
soas deixaram o campo, das quais, 120 mil migraram
para a Grande Vitória (ROCHA; MORANDI, 1991). Ca-
riacica e Vila Velha foram os municípios que mais rece-
2 :: PRESSUPOSTOS DA AGENDA CARIACICA
25
beram essa população. O preço da terra elevava-se a
patamares antes não experimentados e, como conse-
quência, a migração campo–cidade foi seletiva, trazen-
do a grande maioria, ou seja, aqueles que dispunham
de menos recursos, para Cariacica e Vila Velha, onde
havia maior disponibilidade natural e social de terra e,
por consequência, o seu preço era menor.
Em Cariacica, o mercado imobiliário operava com o co-
mércio de lotes urbanos, na grande maioria das vezes,
de forma irregular, em desobediência à legislação ur-
bana. Essa cidade criada nos anos 1960 desafia ainda
hoje os administradores públicos para a solução dos
seus problemas.
A reestruturação produtiva
O movimento de população, na década 1960, para Ca-
riacica e as transformações na sua estrutura produtiva
têm um significado muito importante para a compreen-
são do município hoje. Há uma fração da população
cariaciquense e da elite, na atualidade, que teve sua
origem nesse mesmo momento da década de 1960, en-
quanto a elite tradicional se desfez, também, a partir
desse período.
O crescimento populacional de Cariacica, na década de
1960, foi de 156%. Estava relacionado às mudanças
que ocorreram nesse período, como a crise na estrutura
produtiva de base agrícola e a opção pelo desenvolvi-
mento industrial de grande porte tomada no final da
década.
Os proprietários de alambiques, de olarias, das fábricas
de presunto e banha, de serrarias e de pequenas sid-
erúrgicas tiveram dificuldade de lidar com o novo padrão
de concorrência que se apresentou a partir daquele mo-
mento. As perspectivas do mercado nacional, em ampli-
ação para todo território do país, chegaram a Cariacica.
A pavimentação das BRs é um indicador da ampliação
e integração desse mercado em dimensões nacionais.
Resultado: a maior parte das empresas dos ramos tradi-
cionais desapareceu, em Cariacica.
A outra parte da elite tradicional se refugiou no comércio
de lotes urbanos, contudo não há registros que mos-
trem que essa parte da elite, com os resultados obtidos
no mercado imobiliário, tenha investido em atividades
produtivas e diversificado seus negócios na promoção
do desenvolvimento local.
Os europeus de Cariacica, principalmente os italianos,
não vieram diretamente para o município. A primeira
hipótese é que se trata de descendentes dos italianos
que chegaram ao Espírito Santo em fins do século XIX,
espalharam-se pelo estado e, com a crise do café dos
anos 1950, migraram, na década seguinte, para Ca-
riacica.
A outra hipótese é que uma parte desses europeus tam-
bém tenha migrado na década anterior, nos anos 1950,
quando o município prosperava como o mais industriali-
zado da, então, Grande Vitória. Enquanto a população
rural de Cariacica não sofreu alteração na década de
1950, a urbana cresceu 210%, respondendo pela for-
mação de bairros como Campo Grande, por exemplo.
Existem bairros inteiros, no município, formados prin-
cipalmente por castelenses, colatinenses, particular-
mente, descendentes de italianos.
O crescimento populacional do município, na década de
50, foi de 82%, menor do que o verificado de 1960 para
1970, que correspondeu à extraordinária taxa de 156%.
No entanto, ainda na década de 60, os indicadores
apontam crescimento da população rural da ordem
de 134%, menor, todavia, do que a urbana, de 167%
(IBGE/DIPEQ/ES/SDDI). O crescimento da população
rural, indicado pelos dados censitários, é explicado pelo
crescente número de invasões e loteamentos irregulares
criados nas franjas da cidade, mas fora do perímetro
urbano da ocasião.
A população que migrou para Cariacica, a partir da dé-
cada de 50, especialmente os descendentes de italianos,
teve e tem importante papel na sustentação dos novos
rumos políticos tomados pelo município. Parte dos mi-
grantes dedicou-se às mais diversas atividades e pro-
grediu, estando em posições estratégicas no segmento
de móveis, de confecções, de metal-mecânica, de bebi-
das e no comércio varejista. Outra parte, formada pe-
las camadas populares, marginalizada em significativa
proporção, organizou-se em comunidades com a medi-
ação da Igreja, de sindicatos e de partidos políticos. Os
dois grupos de migrantes têm hoje importante repre-
sentação na estrutura de classes de Cariacica e tiveram
significativa participação na transição política que esta-
beleceu a ruptura com o passado retrógrado, vivido por
muitos anos pelo município.
As experiências pretéritas das próprias atividades
produtivas que existiram em Cariacica possibilitaram a
formação de um saber que pôde ser transmitido. So-
mando-se a isso a nova fração de classe que chegou ao
município, atraída pelo momento de prosperidade vivido
durante a década de 1950; a presença das atividades
da CVRD e de empresas que atravessaram a crise e se
3 Virgínio Bermudes, pedreiro em Vitória nessa ocasião, trabalhava para o respeitado construtor Aurélio Porto. Virgínio, mais tarde, também se tornou pequeno construtor. Entrevistado noutra ocasião, foi categórico em dizer que o melhor tijolo usado em Vitória vinha de Cariacica e, dentre os produtos, o que mais se destacava era o da olaria do Sr.Aquiles Furno.4 Era cobiçado o uso de móveis de jacarandá na época. Os móveis do Sr. Maia, com oficina em Jardim América, eram os mais disputados pela classe média da Capital.
2 :: PRESSUPOSTOS DA AGENDA CARIACICA
26
recompuseram e a posição estratégica do município
que se liga a duas rodovias e a duas ferrovias federais,
obtém-se o que conferiu as oportunidades que se des-
dobraram em atividades produtivas criadas nos inter-
stícios do novo direcionamento industrial. Essas novas
atividades tiveram como protagonistas os imigrantes,
descendentes de italianos, que vieram e fundaram de
novo Cariacica, a partir dos anos 1950, e se encontram
hoje nos ramos de móveis, confecções, metal-mecânica,
bebidas e comércio varejista de Campo Grande, Bela
Aurora, Itacibá, Jardim América, entre outros. A história
rural de muitos desses comerciantes não foi embaçada
pela vida urbana. Ao contrário, serviu como oportuni-
dade para ampliação de suas atividades. Com a insta-
lação da Ceasa, ocorrida em 1973, e sua estadualização
em 1988 5, eles puderam ampliar seu comércio em
Campo Grande.
De um lado, a nova elite cariaciquense de descendên-
cia italiana e, de outro, a população com menor renda,
formada por aqueles que migraram com a erradicação
do café e a mediação da Igreja, de partidos políticos, de
sindicatos na sua construção como ator político respon-
sável, duas frações de classe, conforme anteriormente
mencionado, que formaram a base de sustentação dos
novos rumos tomados pela política local.
O retrocesso industrial na década de 1990
Nas décadas anteriores, a ampliação das relações capi-
talistas de produção teve, como referência, o mercado
nacional; na década de 1990, a referência foi o mundo,
as conquistas dos mercados globais. Cariacica, então,
participa desse novo momento funcionando como re-
taguarda logística de armazenamento das operações de
comércio exterior, entretanto a orientação que o Espírito
Santo tomou, pela especialização produtiva e pelas ativ-
idades de comércio exterior, que levaram à reestrutur-
ação das empresas com foco no mercado globalizado,
teve implicações no processo de desenvolvimento de
Cariacica. Na década de 1990, a CVRD desativou sua
superintendência de operações ferroviárias de Cariacica
e foi verificada a falência de empresas importantes, es-
tabelecidas no município, como a Cofavi, a Braspérola e
a Metalpen.
O momento atual
A opção industrial tomada pela especialização produ-
tiva vem crescendo na região metropolitana, por meio
do aumento da produção das grandes empresas e do
crescimento das atividades de comércio exterior.
Estão sendo feitos investimentos viários importantes no
município. A ligação de Cariacica com Vila Velha, por
intermédio da Rodovia Leste-Oeste, e a duplicação da
Estrada do Contorno, estabelecendo ligação entre Car-
iacica e Serra, tanto uma como a outra via permitirá
acesso mais rápido ao porto de Capuaba e ao futuro
porto de Praia Mole, área em estudo para construção de
um porto de águas profundas.
Em Cariacia existe um passivo social que precisa ser
resgatado, ao mesmo tempo em que é necessário aval-
iar os impactos dos investimentos que disputam esse
território.
A nova inserção metropolitana apresenta o dilema entre
a diversificação produtiva com possibilidade de maior
oferta de emprego e a especialização produtiva, no
armazenamento e no transporte de cargas, como opção
por uma maior arrecadação e menor geração de em-
pregos.
Como aproveitar qualitativamente a vinda desses novos
investimentos, regulando-os na perspectiva ambiental,
no uso do território, na qualidade de vida e na geração
de oportunidade de trabalho dentro do projeto de con-
strução do município que se deseja para os próximos
20 anos?
2 - O direito à cidade, à vida no campo e à dife-
rença
Reconstruir Cariacica, como patrimônio coletivo, sig-
nifica superar os desafios de sua fragmentação terri-
torial desordenada. As determinações do PDM de criar
três grandes áreas (urbana, rural e intermediária) de
parcelamento e uso do solo, antes de estabelecer fron-
teiras de tratamento diferenciado, devem evoluir para a
integração das partes fracionadas do município.
A formalização passou a ser um pressuposto singular
para as políticas públicas. A irregularidade fundiária
também tem sido um obstáculo às políticas de finan-
ciamento público da produção. As agências oficiais de
fomento têm apresentado os problemas de regulari-
zação patrimonial em Cariacica como um elemento fun-
damental entre as dificuldades de promoção de crédito
no município, por se tratar de um item importante na
avaliação de risco e nas exigências de garantia real aos
empréstimos, especialmente para os empreendimentos
de menor porte.
O amplo processo de regularização fundiária requerido
também deve contemplar as exigências de espaços
públicos de integração e convivência e a construção de
vias não precárias de acesso mútuo entre as localidades.
Assim, o direito a viver bem na cidade e no campo sig-
nifica, antes de tudo, ter garantido o acesso ao território
e à vida social. Isso se traduziria na universalização da
qualidade das condições de moradia e de trabalho, dos
serviços essenciais e da cidadania. Por isso, a superação
2 :: PRESSUPOSTOS DA AGENDA CARIACICA
5 História da Ceasa. Disponível em: www.ceasa.es.gov.br/?p=11. Acesso em 5 de abril de 2010.
27
do déficit de habitações com qualidade em nível local
também requer políticas públicas de integração territo-
rial.
A proposta de uma Cariacica como patrimônio coletivo,
ao contrário da segregação, significa a reinserção quali-
ficada e sem discriminação dos diferentes segmentos
sociais como forças vivas do município. Dessa forma,
as políticas públicas de universalização do acesso aos
serviços essenciais devem considerar as diferenças,
reconhecer os direitos das minorias, como elemen-
tos fundamentais no processo de integração territorial
proposto.
De uma forma especial, é preciso avançar em nível local
com os programas criados a partir dos novos organis-
mos federais de defesa dos direitos universais da pessoa
humana, de promoção da diversidade étnica e racial e,
também, de valorização dos direitos da mulher em sua
resistência à opressão de gênero.
Por outro lado, a universalização do direito ao trabalho
qualificado significa a promoção de políticas públicas
para além das unidades de formação, qualificação e re-
crutamento. É preciso considerar que a maior parcela do
território municipal é constituída por sítios e pequenas
fazendas onde se produz a agropecuária local em re-
gime familiar.
De maneira semelhante, devem ser tratadas as inicia-
tivas que procuram formas alternativas de organização
do trabalho em regimes associativos ou cooperativos no
campo e na cidade. Essa fase de incubação é essen-
cial, para que esses novos grupos possam se viabilizar e
ofertar produtos alternativos de qualidade para o consu-
mo direto, ou mesmo, para abastecer outros processos
produtivos com insumos e instrumentos de produção.
Isso não significa o abandono das políticas de fomento
às micro e pequenas empresas, nem dos programas de
qualificação e recrutamento para o trabalho que existem
hoje.
3 - Os desafios de uma nova divisão intermunicipal
do trabalho na metrópole
As últimas décadas constituem-se momento de reafir-
mação, mas, também, de negação de muitas das ex-
periências de diversificação produtiva de nível municipal
no Brasil. O processo extremamente tardio de industri-
alização pesada no estado do Espírito Santo foi comple-
tamente tragado por esse movimento de especialização.
Cariacica foi afetada por essa trajetória predadora e,
agora, busca o seu lugar frente às novas tendências da
concorrência globalizada. A reação mais óbvia, entre as
tentativas de alcançar algum nível de atratividade (pala-
vra da moda) para os investimentos privados, tem sido
a especialização no armazenamento e no processamen-
to logístico dos produtos importados, que são desem-
barcados nos portos da Grande Vitória.
A especialização produtiva em atividades de logística
não significa a geração de novos postos trabalho qualifi-
cado na magnitude desejável, se comparada à demanda
por vagas, o que pode afetar ainda mais a situação do
mercado de trabalho de nível local, numa perspectiva
de crescente elevação da população economicamente
ativa, como tem sido a tendência atual.
A saída para esses dilemas seria requalificar as tendên-
cias atuais de especialização produtiva no Município.
Apesar de ser considerado, por muitos, como local com
vocação para as atividades de comércio e de serviços,
Cariacica tem apresentado algum nível de produção in-
dustrial, que precisa ser mais bem considerado em sua
qualificação, ou seja, que precisa ser visto pelo seu
conteúdo na acumulação de conhecimentos específicos.
Além disso, ultimamente, volta a ganhar expressão a
produção em frigoríficos, e a produção nas confecções
também não pode ser totalmente desprezada.
A valorização do patrimônio histórico-cultural associado
a um amplo programa de recuperação e de preservação
ambiental, especialmente no que tange aos recursos
hídricos, à Mata Atlântica e aos manguezais, pode se
tornar um elemento diferencial no desenvolvimento de
atividades turísticas, atualmente exploradas de forma
amadora e sem consistência em termos territoriais. A
diversidade de produtos (bens e serviços) potenciali-
zados com as atividades de turismo praticadas em es-
cala municipal pode gerar oportunidades de trabalho
em vários segmentos, elevando a capacidade local de
emprego em empresas, mas, também, multiplicar ini-
ciativas de caráter cooperativo, envolvendo famílias do
campo e da cidade.
Considerações finais
Observa-se que a experiência produtiva revela potenci-
ais que precisam ser revalorizados para o caso de Car-
iacica. A construção de um município em novas bases,
fundado na perspectiva de um espaço concebido e prati-
cado como patrimônio coletivo, requer a valorização
de sua diversidade sócioeconomica. Isso não significa
abandonar as oportunidades dos novos investimentos
que estão chegando, mas, sim, sua ressignificação a
partir da perspectiva humana, da promoção inclusiva do
direito à cidade e à vida no campo, garantindo espaços
democráticos às diferenças.
As experiências passadas mostraram também que o uso
do território municipal, sem critério de seletividade para
fins de negócio e sem observância de sua função social,
promoveu atividades especulativas, desordenamento
territorial, segregação, irregularidade fundiária, proble-
mas dos maiores que administração enfrenta. É preciso
considerar, como princípio, nas etapas seguintes deste
trabalho de planejamento, que “o dom maior da terra
não é a renda, mas a vida e a esperança”.
2 :: PRESSUPOSTOS DA AGENDA CARIACICA
32
DINâMICA POPULACIONALDE CARIACICA
3.1
Do ponto de vista territorial, os limites do município de
Cariacica foram fixados por lei de novembro de 1937,
regulando as fronteiras com os municípios vizinhos:
Santa Leopoldina, Serra, Vitória, Vila Velha (denomi-
nado inicialmente Espírito Santo), Viana (denominado
inicialmente Jabaeté), e, Domingos Martins. A circun-
scrição inicial, em 1864, era de cerca de 400 km2. Con-
tudo, a área territorial oficial do município de Cariacica,
hoje, é de 279,975 km2, conforme o IBGE.
É importante visualizar na figura 1 a evolução da popu-
lação de Cariacica nos últimos noventa anos. A curva
populacional esboçada ao longo do período que vai de
1920 a 2010, representa uma curva típica do cresci-
mento: a curva logística. Aparentemente, se não houver
grandes fluxos migratórios, a curva apresenta cresci-
mento, porém, a taxas decrescentes rumo a um limite
de saturação.
Durante três décadas, de 1950 a 1980, a população do
município de Cariacica teve um intenso crescimento. As
migrações no sentido das áreas rurais para região me-
tropolitana, especialmente de 1960 para 1970 (por
causa da crise na cafeicultura), fizeram com que a popu-
lação do município aumentasse de 39.608 para 101.422
habitantes, ou seja, 156,1% naquele período de dez
anos, o que correspondia a uma excepcional taxa de
crescimento geométrico anual de 9,86%.
A população rural de Cariacica era, em 1970, de 32.222
pessoas, perfazendo 31,8% da população total. No en-
tanto, de 1970 para 1980, o êxodo rural reduziu essa
população para 2,0% (3.801 habitantes) do total de
residentes no município.
Em 1980 a população total em Cariacica era de 189.099
habitantes. Essa trajetória de crescimento demográfico,
mesmo que em ritmo menor, fez com que Cariacica se
tornasse o município mais populoso da Grande Vitória,
com 274.532 habitantes em 1991. Contudo, nas déca-
das posteriores, essas taxas de crescimento demográ-
fico foram arrefecendo, acompanhando a tendência dos
tempos atuais de certa estabilização: de 1991 para 2000
houve um acréscimo populacional de apenas 18,1% e,
na atualidade, a população do município cresce a taxa
Gráfico 1
333.1 :: DINâMICA POPULACIONAL DE CARIACICA
média geométrica de 0,73% ao ano e, segundo o Censo de 2010 do IBGE divulgado em 29/04/2011, estava em 348.738 habitantes. Deste total, 96,8% (337.643) se encontra no centro
urbano e 3,2% (11.095 habitantes) na zona rural, a qual abrange 54,0% do território municipal. Tabelas 1 e 2.
Na tabela 3 encontra-se a densidade populacional do município no período de 1920 a 2010, com relação à superfície territorial oficial do município; IBGE (2010a). A região rural repre-
senta, aproximadamente, a metade da extensão territorial do município. Por isso a grande concentração populacional na região considerada urbana.
34
Uma característica que também marca o processo de manifestação em Cariacica das tendências mais gerais de transição na demografia brasileira tem sido a distribuição das pessoas
residentes por faixa etária e por sexo. Mesmo com o crescente saldo migratório observado no município de Cariacica até 1980, observa-se que a faixa mais nova da população (de 0 a
4 anos) tem tido sua participação relativa na população total diminuída censo a censo (15,2% em 1970, 14,5% em 1980, 11,6% em 1991, 10,0% em 1996, 9,7% em 2000 e 7,5% em
2010). A queda na taxa de fecundidade (havendo menos filhos, tem-se menos crianças) resulta na diminuição do peso da população jovem do município e no aumento da proporção de
idosos, ou seja, o envelhecimento populacional. Ao mesmo tempo, observa-se que à medida que a idade aumenta, o número de mulheres cresce em relação ao número de homens (no
Censo de 2010, na faixa de 80 ou mais anos, 63,7% são mulheres. Era 61,4% em 2000). Figura 2.
3.1 :: DINâMICA POPULACIONAL DE CARIACICA
Figura 2 - Participação homens/mulheres na população total, por faixa etária: Cariacica - 2010
A figura 3 ilustra a participação das pessoas idosas na população de Cariacica (1960-2010) para dois grupos de idosos, “65 ou + anos” e “60 ou + anos”, visto que se pode adotar o
corte etário da população idosa nessas duas idades. O que se nota nos censos de 1991 e 2010 é que a proporção de pessoas com 60 ou mais anos e menos de 65, foi de 2,0% e, 3,0%,
respectivamente (em 1980 essa diferença foi de 1,7%). Dizendo de outro modo, em 2010, 3,0% dos idosos moradores de Cariacica tinham idade entre 60 (inclusive) e 65 anos. Figura 3.
O que se observa ainda, figuras 4 e 5 e tabela 4, é um aumento lento, mas persistente, na participação dos idosos na população (3,1% em 1960 para 6,0% em 2010) e um decréscimo
um pouco mais acentuado na população jovem (43,6% em 1960 para 24,4% em 2010), considerando-se o grupo de idosos com 65 ou + anos.
353.1 :: DINâMICA POPULACIONAL DE CARIACICA
Figura 4 – Distribuição dos grupos etários (%) – Cariacica (1960-2010) – Idosos 65+
Figura 5 - Distribuição dos grupos etários (%) – Cariacica (1960-2010) – Idosos 60+
36
A tabela 5 mostra que a proporção de idosos total relativamente aos jovens vem se ampliando em todo o período analisado: passou de 7,1% em 1960 para 24,7% no ano 2010. A popu-
lação que em 1970 tinha aproximadamente 7 idosos para cada 100 jovens, índice de envelhecimento de 7,1%, passou a ter aproximadamente 25 idosos para cada 100 jovens em 2010,
índice de envelhecimento de 24,7%. Contudo, o processo de envelhecimento populacional apresenta-se seletivo com relação ao sexo, isto é, existe uma feminização do envelhecimento
populacional, visto que o índice para as mulheres é superior em todos os censos. A tabela ilustra ainda os mesmos resultados para os idosos definidos com “60 ou + anos”.
3.1 :: DINâMICA POPULACIONAL DE CARIACICA
37
Desse modo, o que se constata é que existe um baixo crescimento populacional, justaposto ao envelhecimento gradativo da população. Isso pode alterar uma possível atenção aos
problemas do município. De um lado existe uma demanda crescente por mais infraestrutura e serviços, de outro, um crescente contingente de pessoas em idade ativa demandando por
melhor qualidade de vida.
Fecundidade e perfil das mães
Os dados sobre o volume de nascimentos de residentes de Cariacica distribuídos pela idade da mãe apresentam indicadores interessantes. No período de 1994 a 2007, o número de nasci-
mentos é mais elevado no intervalo de 15 a 29 anos e depois declina gradativamente à medida que a idade cresce. A maior incidência de nascimentos ocorre, em todos os anos, no grupo
de mães de 20 a 24 anos, e a idade média das mães, de mais ou menos 25 anos, traduz esta distribuição. A curva que representa a distribuição dos nascimentos segundo os grupos de
idade das mães residentes em Cariacica, relativa ao ano de 2007 (figura 6) apresenta, de modo geral, as tendências clássicas e é representativa da fecundidade do período considerado.
Os registros do MS/SINASC fornecem também informações sobre o estado civil das mães, a partir dos quais se observa que é patente o aumento do número de mães solteiras, que a
partir de 2005 passa a ser superior ao das casadas. Figura 6. Deve-se ressaltar que há um número elevado de pessoas que não informaram seu estado civil (21,2% em 2005 e 14,5%
em 2007), o que prejudica a análise da distribuição e, ainda, uma queda acentuada de pessoas que se declararam em união consensual, que apresenta valores mínimos a partir de 2005.
É provável que uma parte importante das não respostas se enquadre em união consensual, cuja curva apresenta uma brusca mudança no decorrer do período considerado, no qual esta
categoria continua a ter uma importante representação na população em geral. Pode ser também que, mulheres vivendo em união consensual, tenham se declarado “solteiras”.
Figura 6 – Nascimentos por residência da mãe segundo a idade da mãe: Cariacica - 2007
3.1 :: DINâMICA POPULACIONAL DE CARIACICA
38 3.1 :: DINâMICA POPULACIONAL DE CARIACICA
Os dados disponíveis mostram também uma tendência que traz preocupações para toda a sociedade: a elevada incidência da fecundidade precoce, a chamada gravidez na adolescência,
período compreendido entre 10 e 19 anos, caracterizado por importantes mudanças físicas e psicológicas. Em Cariacica, a porcentagem dos nascimentos no grupo de 10 a 19 anos é
significativa, contribuindo por mais de 20,0% da fecundidade em todo o período considerado na análise, atingindo 23,4% em 1996, 24,4% em 1997, 24,2% em 1998, 24.1% em 1999
e 24,0% em 2001. A partir de 2002 observa-se um pequeno declínio, mas a participação deste grupo em 2007 é ainda de 21,1%. O problema social deste grupo pode ser apreendido
na pesquisa sobre o perfil dessas mães adolescentes com relação ao estado civil e ao nível de instrução, comprovando que incidência da gravidez da adolescência é maior nas classes
mais carentes da sociedade.
Gráfico 7 - Nascimentos por residência da mãe por ano de nascimento e Estado Civil da mãe – Cariacica – 1999 a 2007
As medidas da sobremortalidade masculina segundo a idade atingem níveis máximos nas idades jovens, entre 15 e 30 anos, quando os fatores comportamentais passam a ser os deter-
minantes principais da mortalidade masculina. Figura 9.
Figura 8 – Óbitos de residentes por idade e sexo – Cariacica – 2007
Figura 9 – Sobremortalidade masculina na população residente – Cariacica – 2007
393.1 :: DINâMICA POPULACIONAL DE CARIACICA
Acompanhando os censos, pode-se aferir também que de 1960 a 1980, devido, possivelmente, à grande migração de origem italiana do interior do Estado para o município de Cariacica,
houve predominância de “brancos”. De 1980 a 2000 a predominância é da cor “parda”.
Indicadores de Mortalidade
A mortalidade apresenta diferencial em relação à característica “sexo”. A evolução do número de óbitos de residentes de Cariacica segundo o sexo no período de 1970 a 2007 revelam
a predominância de óbitos do sexo masculino em todo o período. A sobremortalidade masculina é expressa pela razão de sexo que apresenta valores crescentes: em 1979 ocorreram
141,2 óbitos masculinos por 100 femininos, em 2007 a relação sobe para 166,1. Figura 8.
40
As taxas específicas de mortalidade representam a ocorrência média de eventos na população de uma determinada idade ou grupo de idades. As taxas de mortalidade por idade e sexo
de Cariacica apresentam a tendência clássica: as taxas são elevadas no início da vida, declinam a seguir e chegam a níveis mínimos nos grupos jovens e, a partir das idades adultas,
aumentam progressivamente à medida que a idade aumenta.
3.1 :: DINâMICA POPULACIONAL DE CARIACICA
41
A taxa de mortalidade infantil é o número anual de mortes de crianças de menos de um ano por mil nascimentos vivos ocorridos no determinado ano. Em Cariacica os óbitos de menores
de 1 ano apresentam valores decrescentes (tabela 6). Verifica-se também, na mortalidade infantil, a diferença entre óbitos por residência e por ocorrência já evidenciada na mortalidade
geral. A ação diferencial da mortalidade por sexo explica a sobremortalidade masculina infantil em todos os anos considerados, com exceção de 2005, devido possivelmente à incompl-
etude dos registros nesse ano.
No município de Cariacica, a mortalidade proporcional segundo as causas de morte observadas em um curto período mostra que a evolução da representação das causas apresenta as
tendências que caracterizam o processo de transição epidemiológica: as doenças infecciosas e parasitárias foram reduzidas, ao passo que as mortes ligadas ao processo de envelheci-
mento do organismo apresentam uma representação significativa no total de óbitos; figura 10.
3.1 :: DINâMICA POPULACIONAL DE CARIACICA
O quadro das principais causas de mortalidade de Cariacica apresenta em destaque as doenças decorrentes do processo degenerativo do organismo, devido ao perfil etário da popu-
lação formado por um número cada vez maior de idosos. O principal grupo de causas no período compreende as doenças do aparelho circulatório: em 1979 este grupo foi responsável
por 26,9% dos óbitos que ocorreram em Cariacica, a seguir a curva apresenta oscilações e chega ao nível de 32,57% em 2010. Outra mudança relevante neste quadro é o crescimento
progressivo das neoplasias (9,8% em 1979 a 13,34% em 2010). As doenças do aparelho respiratório completam o grupo composto por doenças crônico-degenerativas. A participação
destas três causas no total de óbitos subiu de 48,8% em 1979 a 55,44% em 2010. Esta representação tende a aumentar, pois o processo de envelhecimento, apenas iniciado, deverá
prosseguir em seu curso crescente nas próximas décadas.
Figura 10 – Proporção de óbitos de residentes segundo os 4 grupos de causas mais importantes – Cariacica – 1979 a 2007
42
Contudo, dentre as causas principais da mortalidade aparece em posição importante e representação crescente o grupo de causas externas, formado pelas chamadas “mortes violentas”:
mortes provocadas por acidentes diversos, homicídios, suicídios, entre outros, que são responsáveis pelo aumento da mortalidade de jovens. A evolução da representação deste grupo é
preocupante e traz sérias implicações para a sociedade e para as políticas públicas: o grupo aparece como o segundo na composição das causas e é o que apresenta o maior crescimento:
a proporção desta categoria, igual a 12,2% dos óbitos em 1979 é, em 2010, responsável por 21,75% dos óbitos de residentes. As doenças infecciosas ou parasitárias, principal grupo de
causas de óbitos no passado, figuram atualmente como o sétimo grupo de causas em importância na mortalidade de Cariacica. A redução mais importante destas doenças ocorreu antes
do período considerado nesta análise, no entanto pode-se ainda verificar a continuidade da tendência declinante da representação deste grupo, que caiu de 8,75% em 1979 a 3,37%
do total de óbitos em 2010; figura 11.
3.1 :: DINâMICA POPULACIONAL DE CARIACICA
Figura 11 – Proporção de óbitos de residentes segundo o grupo de causas: doenças infecciosas ou parasitárias – Cariacica – 1979 a 2007
43
A diferença de incidência das mortes violentas segundo o sexo é um outro traço marcante da mortalidade em idades jovens. Nos dados de Cariacica, considerados em um período quin-
quenal para evitar variações aleatórias, As curvas da figura 12 apresentam níveis mais baixos para as crianças, elevam-se nas idades jovens apresentando um “pico” entre 15 e 30 anos
e depois decrescem à medida que a idade aumenta.
As Causas Externas são responsáveis por 94,2% das mortes masculinas do grupo de 15 a 19 anos, 89,8% das que ocorrem entre 20 a 24 anos e 86,4% para o grupo de 25 a 29 anos.
A curva do sexo feminino apresenta a mesma tendência, porém com valores bem menores de, respectivamente: 50,9%, 43,5% e 45,2%. Os fatores causais à base do forte grau de
diferenciação por sexo desta causa são os fatores comportamentais, que levam o homem a envolver-se, mais que as mulheres em situações perigosas e violentas e a exceder-se na
velocidade no trânsito e no uso de bebidas alcoólicas, de drogas, de fumo. A razão de sexo do total de óbitos ocorridos em Cariacica, no período de 2003 a 2007, é de 164,1 mortes
masculinas por 100 femininas, porém nas idades jovens, esta relação eleva-se a 592,7 para o grupo de 15 a 19 anos; 726,1 para o grupo de 20 a 24 anos; 604,8 para o de 25 a 29 e
363,2 para o grupo de 30 a 34 anos.
Migração
A evolução do “estoque” de imigrantes nascidos em outros estados que residem em Cariacica apresenta uma tendência de crescimento, similar à descrita para o contexto mais amplo,
representado pelo total do Espírito Santo. A representação das pessoas não naturais do Espírito Santo que residem em Cariacica é maior que a apresentada pelo Estado. Em 2000,
20,06% da população residente em Cariacica era composto por pessoas nascidas em outros estados. Em 1991era 19,96%. Tabela 7.
3.1 :: DINâMICA POPULACIONAL DE CARIACICA
Figura 12 – Proporção de óbitos de residentes por causas externas de morbidade e mortalidade no total de óbitos do
grupo etário segundo o sexo e os grupos etários – Cariacica – 2003 a 2007
44
Cariacica recebe migrantes originários principalmente dos estados vizinhos. Os mineiros predominam: em 2000, contavam 56,98% do segmento dos não naturais do Espírito Santo. As
pessoas naturais da Bahia compõem o segundo segmento em importância (17,03%), seguidos por naturais do Rio de Janeiro e do Ceará. A informação de cerca de uma década mostra
uma tendência de diminuição da representação dos mineiros e aumento significativo da proporção de baianos.
Nas décadas marcadas pela redistribuição de população entre áreas rurais e urbanas, a migração era na sua maior parte proveniente do interior do Estado. Atualmente a maior parte
da migração da RMGV ocorre entre os municípios que formam o conjunto. A migração intrarregional corresponde a 63,0% do total. Os residentes dos municípios que compõem a RMGV
tendem a mudar-se para Vila Velha, Serra e Cariacica. Dentre os migrantes de outros municípios que se destinaram à RMGV, a maioria é proveniente dos seguintes municípios estado:
Colatina, São Mateus, Cachoeiro de Itapemirim, Barra de São Francisco, Nova Venécia, Aracruz, Pedro Canário, Conceição da Barra, Baixo Guandu e Afonso Cláudio. Estes migrantes
mostram preferência por Serra, Vila Velha e Cariacica.
Na medida em que os meios de transporte e de comunicações se modernizam e que os processos transicionais avançam, a migração cresce em importância. A migração foi e continua
sendo a principal responsável pela urbanização acelerada do estado, em especial da RMGV. Este componente produz efeitos imediatos e diretos sobre a população, seu tamanho, com-
posição dos grupos etários e da mão de obra, assim como efeitos que se fazem sentir a médio e em longo prazo sobre a vida social, econômica e cultural da sociedade.
Os saldos migratórios fornecem uma medida parcial do componente. Há que considerar os efeitos indiretos produzidos pela migração: os jovens que migram encontram-se nos períodos
mais produtivos e fecundos de sua vida e a transferência deste segmento produz efeitos quantitativos e qualitativos sobre as regiões de origem e de destino. A falta de registros e dados
adequados representa uma grande lacuna para o conhecimento da migração.
É importante ressaltar que as grandes tendências demográficas do município de Cariacica não são diferentes daquelas que estão ocorrendo nos outros municípios da RMGV. Essas
tendências são: (i) fecundidade declinante; (ii) envelhecimento populacional; (iii) mortalidade ainda em declínio (os níveis da mortalidade infantil devem ainda diminuir enquanto a
duração da vida aumentará); (iv) maioria da população feminina em especial com idade acima de 50 anos; (vi) maior número de pessoas potencialmente ativas (em idade produtiva) e
(vii) processo migratório em declínio.
3.1 :: DINâMICA POPULACIONAL DE CARIACICA
48
MOBILIDADE :: SISTEMA VIÁRIO TRâNSITO E TRANSPORTE
USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MEIO URBANO E RURAL
hABITAÇÃO
3.2
No trabalho de desenvolvimento da Agenda Cariacica,
as áreas temáticas: Uso e ocupação do solo e Mobili-
dade, sistema viário, trânsito e transporte foram estu-
dadas separadamente, contudo os resultados apresen-
tados demonstram grande interface entre essas áreas,
por isso elas serão descritas conjuntamente neste docu-
mento final.
1- Leitura territorial e projetos existentes
Formação da estrutura urbana de Cariacica
Da colonização agrícola, no século XVII, à reestrutu-
ração econômica de base industrial/ portuária, a par-
tir da década de 1980, Cariacica passou por sucessivas
etapas do desenvolvimento socioeconômico local, que
determinaram drásticas alterações na sua estrutura in-
terna. Tais mudanças se refletem em evidentes adap-
tações na base territorial das atividades, nas quais se
pode situar a construção do tecido urbano de Cariacica,
temperada pela peculiaridade local do relativo improviso
no planejamento.
Os parcelamentos são resultado de sucessivos traçados
viários e obedecem à combinação dos ditames das di-
visas das fazendas e das glebas divididas, com a con-
formação do relevo acidentado e com uma opção pela
ortogonalidade de desenho, que nem sempre se revela
a mais adequada a cada caso. A ausência de diretrizes
gerais de desenvolvimento urbano – como diretrizes que
definam uma estrutura de vias principais – possibilitou
que cada arruamento novo fosse ingenuamente de-
senhado como uma unidade autônoma, sem maiores
preocupações com a conexão ao tecido circundante ou
com alguma estruturação interna.
Praticamente todo o solo urbano de Cariacica é mesmo
feito de arruamentos formalmente desenhados, que re-
ceberam o Uso e a Ocupação posteriormente. O Uso se
distribuiu na exata medida em que a legibilidade dos
arruamentos conseguiu orientar razoavelmente um sis-
tema de usos diferenciados. A Ocupação ocorreu, na
medida em que os recursos privados para a construção
conseguiram atender os requisitos elementares de salu-
bridade e segurança das edificações.
No contexto metropolitano da Grande Vitória, a va-
lorização da terra em áreas centrais, principalmente na
capital, e a conectividade territorial resultante da im-
plantação das redes viárias Estadual e Federal, aliadas
a uma crescente população urbana, tornou recorrente a
ocupação de áreas distantes dos centros, mas conecta-
das a estes por eixos viários, de caráter e desenho mui-
tas vezes não urbano, que permitiam rápido acesso às
áreas centrais. Assim, ao longo dessas áreas de conexão
e nas áreas de interseção entre vias, surgem novas ocu-
pações e centralidades, com concentração de usos co-
merciais, institucionais, serviços, entre outros.
Sistema viário e seus projetos
Em Cariacica, o traçado viário principal é formado por
eixos metropolitanos e rodovias federais e estaduais 6 que assumem, simultaneamente, a função logística
de escoamento de cargas portuárias e de estruturação
do tecido urbano, incorporados no arranjo do trans-
porte metropolitano (TRANSCOL). O transporte co-
letivo existente estrutura o sistema viário e direciona
49
uma parcela significativa da população de Cariacica
para áreas externas ao município, assim como parte da
população de Viana, usuária do transporte coletivo, é
direcionada para Cariacica. Percebe-se que a falta de
articulação da circulação interna ao município se dá pela
carência de conectividade viária e articulação entre bair-
ros, resultado do processo de parcelamento e desenho
do solo. Esse fato não impede que outras modalidades
de transporte percorram os trajetos e linhas de desejo
de viagens internas: veículos de transporte individual
organizam as viagens no sentido leste-oeste do municí-
pio.
Reconhecida a importância de Cariacica na conexão en-
tre a capital e os principais eixos viários federais, assim
como na absorção de atribuições de caráter produtivo e
logístico no contexto metropolitano, não lhe faltam pro-
jetos viários. Alguns deles buscam rever a conectividade
metropolitana; outros, promover novas áreas de expan-
são urbana e industrial; e existem ainda aqueles com o
intuito de reduzir a distância entre Rodovias Federais e a
capital Vitória ou áreas portuárias de Vila Velha.
Dentre as proposições para o rearranjo viário de Caria-
cica, destacam-se projetos de novos traçados e conexões
e definições de hierarquias que, a principio, permitiriam
o ordenamento do tecido existente e a abertura de áreas
de expansão urbana/ portuária/ industrial, como contor-
nos urbanos de rodovias. Outra proposta de destaque, e
recorrente nos projetos, é a Quarta Ponte, nova conexão
com a capital, que abre novas possibilidades de acesso
entre a BR-101 e a região norte de Vitória.
Com base em pesquisa, foram identificadas cinco
propostas viárias para Cariacica, sendo a maioria de
abrangência metropolitana. A análise de tais propostas
resultou nas seguintes constatações:
1- Todos os projetos destacam a importância de inter-
venções na BR-262 e BR-101, para adequação das in-
tegrações metropolitanas, com propostas nessa escala,
voltadas para o desvio de tráfego de passagem da área
central urbana, e que apresentam grande impacto sobre
as formas de uso e ocupação pré-existentes;
2- Em quatro, dos cinco projetos, destacam-se as
conexões que visam integrar os grandes eixos metro-
politanos e estaduais ou promover o deslocamento e a
distribuição de grandes fluxos internos, como melho-
rias na ES-080, na Rodovia José Sette, na estrada de
Caçaroca, e na via marginal ao Rio Marinho (parcial-
mente existente, faltam conexões com o traçado viário
principal). As últimas vias demonstram a intenção de
ocupação da região sul, no limite entre Cariacica e Vila
Velha. (fluxos, atratividade);
3- Ocorrem em, pelo menos, três dos cinco projetos,
uma revisão da hierarquia viária existente, por meio de
intervenções que ampliem as capacidades viárias, ou re-
visão do formato de uso (por exemplo, leito da ferrovia
incorporando função urbana de ligação entre terminais
de integração TRANSCOL) e outra de adequação da ci-
dade às novas vias metropolitanas previstas, ou seja, a
distribuição dos fluxos futuros. As duas situações resul-
tam na ampliação da conectividade territorial e provável
especulação das terras beneficiadas pelos novos traça-
dos.
4- Traçados com, pelo menos, duas ocorrências se divi-
dem em dois tipos: propostas de características expan-
sionistas, principalmente voltadas para ampliação de
áreas disponíveis para projetos econômicos de escala
estadual e nacional (logísticos, portuários, industriais);
e propostas de revisão da hierarquia viária existente in-
6 A BR-262, originalmente chamada BR-31, foi implantada no final dos anos 1950. O contorno metropolitano pela BR-101 foi aberto e pavimentado nos anos 1970 e se tornou importante vetor de expansão da ocupação metropolitana no sentido norte. A Rodovia estadual ES-080, conhecida como Rodovia José Sette, é a mais antiga e conecta Vitória à Sede de Cariacica e ao interior do estado, pas-sando por Santa Leopoldina, mas só foi pavimentada após a abertura da BR-262.7 HALL, Peter, Cidades do amanhã, São Paulo, Perspectiva, 1995 (1988), p. 280.
3.2 :: MOBILIDADE :: SISTEMA VIÁRIO :: TRâNSITO E TRANSPORTE :: USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MEIO URBANO E RURAL :: hABITAÇÃO
50
terna ao tecido urbano, por meio do aumento da capaci-
dade das vias (ampliação das caixas viárias), inserção
de novas conexões e transposição da BR-262 na região
central no sentido norte-sul. Neste mapa, algumas áreas
seriam atendidas pela ampliação das possibilidades de
percurso, entretanto outras continuam dependentes das
rodovias federais e de extensos percursos para desloca-
mentos intramunicipais, como a região ao sul de Jardim
América (dependência da Rodovia Leste-Oeste); região
de Porto de Santana e Flexal, fluxos direcionados para a
BR-101, Rodovia José Sette e Avenida Vale do Rio Doce.
Embora as conexões internas a Viana não constem no
mapa, percebe-se a formação de uma ligação entre
Novo Horizonte e o Corredor Leste/Oeste (trecho ES-
447), ou seja, entre Novo Horizonte e o litoral de Vila
Velha. Associando essa ligação ao anel viário formado
com Cariacica Sede e região do Mochuara, existe uma
clara intenção de exploração e ocupação dessas áreas,
que terão uma aproximação com o litoral por meio do
Corredor Leste/Oeste (trecho ES-447). Mesmo que o
projeto da Quarta Ponte se apresente como uma ne-
cessidade de nova conexão entre a BR-101 e a área
norte de Vitória, esse projeto traz novos usos e formas
de ocupação para a região entre Porto de Santana e a
BR-101.
Vale destacar que projetos de caráter expansivo são
preocupantes no município, que ainda não solucionou
as questões urbanas complexas de ordenamento terri-
torial do tecido existente. Considerar o território urbano
atual como dado e propor para além dele é arrastar para
frente questões preocupantes nos aspectos territoriais
e sociais. Afinal, a quem se destina a “Nova Cariacica”?
Como tratar as demandas dos que vivem na cidade e
otimizar sua inserção metropolitana, sem ignorar o que
já está posto?
Outro fator preocupante é a falta de definições de áreas
urbanas e uso do solo, compatíveis com a projeção de
crescimento do município. O crescimento previsto pelos
projetos viários ocorrerá de forma expansiva com pouco
adensamento de áreas atualmente ocupadas, até mes-
mo pela aparente incapacidade de densificação do teci-
do existente, por carência de infraestrutura adequada.
Preocupante, se considerarmos o aumento da especu-
lação da terra, que apenas com a divulgação de tais pro-
jetos, já passam por um processo de supervalorização
imobiliária. Como viabilizar projetos que dependem de
desapropriações numa situação como essa? Fazer valer
os instrumentos do Estatuto da Cidade requer também
o resguardo municipal, para que seja viável intervir de
forma planejada.
Da mesma forma, o zoneamento municipal deve passar
por revisões, estabelecendo relações com os projetos
de conexões viárias necessárias, principalmente para
melhoria dos deslocamentos internos e reordenamento
do tecido.
As propostas tratam o sistema viário como elemento
de expansão urbana e estruturação metropolitana que,
caso seja desvinculado de atuação municipal, tende
a agravar os problemas relacionados a fluxos de pas-
sagem, ocupações irregulares e expansão do tecido a
infraestruturar para ocupação.
Arruamentos
Os arruamentos de Cariacica resultaram em quadras
de tamanho regular, 50 x 170m (0,85ha), divididas em
lotes com 11 x 24m (264m²), em média, assim como no
parcelamento das quadras, geralmente distribuído em
duas fileiras de 15 lotes idênticos, com testadas medin-
do entre 9 e 12m e profundidade de 20m. As larguras do
arruamento são nitidamente uniformes em cada fração
desenhada, oscilando entre 6 e 11m (média 9,5m).
Raramente se encontra o que possa ser, evidentemente,
a “rua principal”, por ser mais larga que as demais. A
conurbação de vários arruamentos encadeados em se-
quência já prenuncia o problema da falta de capacidade
de tráfego nas vias que acabaram sendo improvisadas
como acesso e passagem.
Os traçados das ruas raramente se encurvam para
seguir a topografia e são, quase sempre, retilíneos, ape-
sar do terreno acidentado. Isso resulta em frequentes
casos de inclinação exagerada das ladeiras, muitos lotes
com a drenagem para os fundos (e não para a testada)
e diversas ruas em descida que terminam sem saída,
no limite de uma área de várzea, o que acarreta proble-
mas para a pavimentação, circulação de veículos e pes-
soas, além de levar a drenagem de um lote para dentro
de outro, e de todos para áreas que deveriam ser de
preservação. A conformação dos traçados, combinada
com a quase total inexistência de sistemas de drenagem
sanitária e pluvial, implica o lançamento de esgotos em
sumidouros de infiltração, ou mesmo em áreas a céu
aberto, problema sério do município, que, pelas carên-
cias várias, combinadas com outras tantas urgências,
vai sendo deixado no fim da lista de prioridades, en-
quanto a água onipresente na paisagem é tratada como
esgoto.
A cultura do ‘beco’, geralmente com 2m de largura, de
acesso exclusivamente pedestre a vários endereços é
tão comum quanto a do ‘valão’, não sendo difícil encon-
trar várias situações em que um leva ao outro: o ‘beco’
começa na rua e termina no ‘valão’.
Este tipo de insuficiência exerce um forte determinismo
espacial sobre essas porções do tecido urbano, uma vez
que o arruamento é delimitado pela fronteira entre o
solo público e o solo privado. Por outro lado, é também
possível que as carências da população sejam tão in-
tensas, que nem mesmo o reconhecimento da fronteira
original do espaço público se consolide. Há níveis de
pobreza e de estranhamento da vida urbana que po-
dem conduzir uma população a um profundo fatalismo
quanto à sua capacidade de influir sobre o seu ambiente
3.2 :: MOBILIDADE :: SISTEMA VIÁRIO :: TRâNSITO E TRANSPORTE :: USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MEIO URBANO E RURAL :: hABITAÇÃO
51
7 . A estrutura urbana ausente resulta em extensões de
construções no limite ou sobre corpos d’água.
Ocorre a subnormalidade dos arruamentos de Cariacica
no que se refere às insuficiências das estruturas, espon-
tânea e cumulativamente, demarcadas. As ruas podem
ter problemas de curvatura, declividade, largura, incli-
nação transversal e frequência. Este último caso ocorre
quando faltam conexões internas ao arruamento, tor-
nando os percursos incomodamente longos.
O caso mais comum é mesmo o da largura insuficiente
do logradouro público, nestes casos, com largura de
6m, que impossibilita o acesso veicular e prejudica se-
riamente a salubridade da edificação que dele depende
para a iluminação e a ventilação.
A geometria das vias é determinante da sua capacidade
de operação do tráfego de veículos, portanto pratica-
mente todo o tecido urbano de Cariacica é desprovido
de vias capazes de coletar e transportar volumes de
tráfego muito maiores do que os atuais.
Dessa forma, são identificados dois tipos principais de
subnormalidade em Cariacica: o primeiro associado à
sua geometria e o segundo relacionado ao impacto so-
bre os corpos d’água, conforme apresentado no mapa.
Com o objetivo de resguardar as áreas não ocupáveis,
como as de preservação, os declives acentuados, as
faixas de domínio dos leitos de drenagem e corpos
d’água, essas áreas deveriam ser circundadas por ruas.
De um lado delas, a ocupação lindeira convencional; do
outro, a área não urbanizada e, ao longo dessas ruas, o
controle sobre a integridade da preservação, feito pela
presença dos habitantes e pelo acesso do poder público.
A falta de uma ‘rua perimetral’, ficando divisas de lotes
particulares a demarcar o limite da urbanização, e a in-
definição do ‘fim’ de algumas ruas, são um convite à
elasticidade da fronteira da área urbanizada.
3.2 :: MOBILIDADE :: SISTEMA VIÁRIO :: TRâNSITO E TRANSPORTE :: USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MEIO URBANO E RURAL :: hABITAÇÃO
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Mapa do uso do solo atual no município.
3.2 :: MOBILIDADE :: SISTEMA VIÁRIO :: TRâNSITO E TRANSPORTE :: USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MEIO URBANO E RURAL :: hABITAÇÃO
53
Os lotes vagos, os vazios urbanos e áreas de
várzea
Se a capacidade insuficiente ainda não se manifesta em
todos os lugares onde é visível, podemos dar graças à
grande quantidade de lotes vagos ainda restantes em
muitos arruamentos. Uma estimativa visual, a partir de
imagens aéreas, indica que algo entre 20% e 30% dos
lotes demarcados em Cariacica não estão edificados.
Há regiões mais densas, como no entorno imediato da
rodovia BR-262 e sua extensão para o sul, mas, mesmo
ali, é possível e ncontrar lotes desocupados. Nos
limites norte e oeste do tecido urbano, há arruamen-
tos praticamente vazios, conformando um considerável
estoque de terra demarcada na cidade. Soma-se a es-
sas áreas ocupáveis a presença de significativos vazios
urbanos, além do que grandes porções de território sem
arruamento remanescem completamente circundadas
pelo tecido consolidado, devido a fatores diversos. En-
tre eles, terras do Governo do Estado que ocupam algo
em torno de 180Ha, com ocupação rarefeita, comple-
tamente circundada por bairros de tecido consolidado,
permanecendo como uma área de grande interesse ur-
banístico para o município.
Vale destacar que, embora possua uma vasta área de
vazios, grande parte do entorno da cidade é formada
por várzeas de rios como o Formate, Marinho, Itanguá e
Jucu. A situação do vale do rio Formate indica que seria
proveitosa uma reflexão sobre as possibilidades e inter-
esses de um planejamento integrado de ações opera-
cionais da bacia, do ponto de vista hidrográfico, e da
infraestrutura dos assentamentos instalados, do ponto
de vista da relação entre as comunidades.
O Uso do Solo do município de Cariacica
A região rural de Cariacica está localizada na área de
relevo mais elevado, em cota maior que 500m. A ur-
banização em Cariacica ocorre mesmo na porção mais
baixa do território, de solo argiloso e cota não superior
a 60 metros. Ali estão os arruamentos de ocupação mais
densa ao sul do rio Itanguá, os bairros que circundam
o grande vazio entre este e o rio Bubu e as periferias
menos densas, ao norte, onde fica a sede do município
e, a oeste, no vale do rio Formate.
Os usos que se instalam no tecido urbano, em que pre-
domina a residência, misturada de modo praticamente
uniforme com as centralidades de menor alcance, como
a padaria, a mercearia, o boteco, o cabeleireiro, a
manicure e todas as atividades que oferecem bens e
serviços quase no mesmo lugar em que moram seus
consumidores. Numa escala de alcance um pouco maior,
a farmácia, o mercado, o material de construção e os
demais usos que definem uma centralidade ‘de bairro’,
concentram-se, geralmente, nas vias que compõem os
corredores de conexão entre os vários arruamentos, ou
seja, o caminho dos ônibus.
As centralidades principais numa cidade são comumente
representadas pelos bancos, cuja localização depende
da concentração de outras atividades que movimentem
renda, numa escala suficiente para justificar a abertura
de uma agência. Em Cariacica, concentram-se em Cam-
po Grande, Jardim América, Itacibá e na Sede. Desta-
ca-se, desse conjunto, a região de Campo Grande, pela
quantidade de comércio e serviço oferecidos.
Com o olhar na distribuição de serviços especializados e
de extrema necessidade (supermercados e mercados),
foi possível detectar a lógica de localização associada
às vias urbanas principais, não aos eixos rodoviários
federais, fato que demonstra a iniciativa do empresari-
ado local na estruturação e definição de centralidades
e pontos de concentração de comércios e serviços na
cidade.
A oferta de serviços públicos
Os serviços públicos, especificamente saúde e educação,
3.2 :: MOBILIDADE :: SISTEMA VIÁRIO :: TRâNSITO E TRANSPORTE :: USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MEIO URBANO E RURAL :: hABITAÇÃO
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também são setores, cujo atendimento, necessari-
amente, passa pela localização de unidades de atendi-
mento, para onde a população converge, e deveriam
seguir a regra da localização das centralidades.
Encontramos escolas em quantidade aparentemente
compatível com as centralidades identificadas, com
aproximadamente meia centena de escolas de nível
médio, o que corresponde às centralidades com 1200m
de alcance. No ensino fundamental, há cerca de 100
escolas, levando a um alcance estimado de 800m. Es-
ses valores são perfeitamente compatíveis com as
recomendações clássicas do urbanismo das unidades
de vizinhança, que tinham a escola como o centro das
diferentes escalas de organização do tecido urbano.
O sistema de saúde conta com quatro hospitais e pouco
mais de trinta unidades de saúde, o que levaria a uma
mesma escala de alcance das centralidades privadas de
1200 e 3600m. Falta, contudo, claramente um hospital
na porção sul do município, uma vez que a região de
Caçaroca se encontra a mais de 6000m de todos os ex-
istentes. Ou seja, por ser geometricamente deslocado
do sistema geral da cidade, o extremo sul de Cariacica é
privado de ofertas de bens e serviços, que talvez ainda
não sejam suficientes nessa região, para viabilizar um
centro urbano dessa ordem, no entanto as demandas
por serviços públicos, principalmente de educação e
saúde, lá estão, como em todas as partes da cidade.
Uma configuração perceptível
A combinação dos componentes espaciais permite lançar
uma hipótese sobre a organização física de Cariacica. O
centro principal em Campo Grande se conecta aos cen-
tros regionais mais próximos – Vitória, Vila Velha, Serra,
Viana – pela BR-262, utilizando, no caso de Serra, a
BR-101. Toda a cidade se organiza a partir do sistema
Campo Grande + BR-262, mas já é possível detectar um
segundo nível de organização entre os centros de médio
alcance, Itacibá, Jardim América e Cariacica Sede.
Os padrões de mobilidade levantados – ainda que par-
ciais – indicam uma configuração em dois sistemas
paralelos à BR-262. Ao norte, o centro em Itacibá or-
ganiza uma sucessão de centralidades ao longo da via
que segue o antigo traçado da ferrovia Vitória a Minas,
na margem direita do rio Itanguá. Essa estrutura pa-
ralela ao norte da BR-262 poderá ser identificada como
“Corredor Itanguá”.
Ao sul da BR-262, o centro em Jardim América cumpre
a mesma tarefa ao longo da via que acompanha a linha
da Estrada de Ferro Centro Atlântica, em que se suce-
dem as centralidades em Bela Aurora, Vila Betânia e São
Geraldo, até o cruzamento com a rodovia Leste-Oeste,
junto ao Terminal de Ônibus de Campo Grande. Essa es-
trutura paralela ao sul da BR-262 poderá ser identificada
como “Corredor Leopoldina”.
Tal configuração permite a identificação de uma área ur-
bana central e a necessidade de planejamento de áreas
vazias dentro do perímetro urbano, principalmente se
considerado o volume de projetos de impactos previstos
para o município.
Configuração urbana com núcleo central e cinco unidades suburbanas
3.2 :: MOBILIDADE :: SISTEMA VIÁRIO :: TRâNSITO E TRANSPORTE :: USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MEIO URBANO E RURAL :: hABITAÇÃO
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A instalação dos empreendimentos logísticos, ao con-
trário, é uma perspectiva praticamente imediata, e o
seu equacionamento espacial ainda está em aberto. É
comum a denominação de empreendimentos desse tipo
como ‘projetos estruturantes’, referindo-se ao seu po-
tencial transformador do contexto socioeconômico a que
sejam acrescentados.
Entretanto a estruturação socioeconômica não está au-
tomaticamente atrelada à estruturação física, sendo
possível que ocorra o contrário com as vizinhanças ime-
diatas de tais localizações. Assim, interessa diretamente
ao município de Cariacica participar da concepção espa-
cial de tão grande parte do seu território.
A ocupação do solo e padrões de salubridade nas
edificações
A edificação em Cariacica materializa o caráter domi-
nante da urbanização local, a autoconstrução não as-
sistida por planejamento. O mercado imobiliário formal,
em que edificações são construídas para vender em es-
cala industrial, praticamente inexistiu enquanto a cidade
que lá está hoje foi edificada. Essa edificação auto-
construída sem planejamento segue os padrões nacio-
nais de tais condições, empregando as soluções e téc-
nicas ao alcance da renda e da habilitação disponíveis à
população.
A dinâmica do adensamento da ocupação permitida pela
técnica tem sido reforçada pelo incremento na renda da
população que constrói para uso próprio. A mobilidade
socioeconômica pode ser facilmente acompanhada por
essa habitação autoconstruída, que tem como incor-
porar, em meses, o que outras modalidades levariam
décadas. Seria uma situação muito favorável em ter-
mos urbanísticos, porque a mobilidade socioeconômica
não conduz necessariamente à mobilidade espacial. As
famílias prosperam, as casas melhoram nos mesmos Linhas de desejo por movimentos internos a Cariacica.
3.2 :: MOBILIDADE :: SISTEMA VIÁRIO :: TRâNSITO E TRANSPORTE :: USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MEIO URBANO E RURAL :: hABITAÇÃO
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endereços, ou seja, a vizinhança progride e supera as
carências espaciais iniciais, ou, como gostamos de dizer
no ramo do planejamento, “revitaliza-se”.
O desenho dos arruamentos, entretanto, pode ser deci-
sivo para a evolução de uma cidade, seja como um fator
de incentivo ao adensamento da ocupação com melho-
rias nas edificações, seja como um obstáculo que condi-
cione o tecido urbano a um horizonte limitado de qualifi-
cação. Assim, o tipo de edifício que Cariacica abriga, se
construído sobre arruamentos razoáveis, é uma solução
para vários problemas, inclusive o da sua própria su-
peração, pela via das reformas sucessivas. E quando
o espaço público é inadequado, a edificação pode ser
adaptada, ou, no limite, removida, para viabilizar as
melhorias necessárias.
A salubridade das edificações está associada aos pa-
drões construtivos dessas edificações, que obedecem
somente a limites empíricos, muitas vezes, inadequa-
dos. O principal deles é a relação entre os volumes edi-
ficados e os espaços abertos dentro dos lotes, marcados
por afastamentos exíguos, que impossibilitam venti-
lação e iluminação necessárias.
Uma iniciativa do poder público, efetiva e eficaz, no
campo da autoconstrução, seria a qualificação dos mes-
tres construtores locais, associada à propagação do
acesso a serviços técnicos profissionais formais. Tais
serviços já fazem grande falta, no estádio de consoli-
dação da ocupação em que a cidade se encontra, e a
população pode ter mais acesso a eles por programas
de assistência técnica subsidiada, ou ações corporativas
de desmistificação do custo a ser pago diretamente aos
profissionais pelos particulares.
A cidade formal, assistida por aportes de planejamento
público e privado, apresenta padrões de salubridade
aceitáveis, entretanto outros problemas, como os afas-
tamentos insuficientes, a altura e adensamento exces-
sivos, associados à falta de garagens e estacionamentos
centralizador de tais áreas.
É possível ver, no formato do eixo dinamizador, a con-
trovérsia que nos assombra ao lidar com a estrutura das
cidades, ao admitimos segregar usos nas poucas ro-
dovias e artérias que encontrarmos a atravessar o teci-
do urbano. As teorias da localização e da centralidade
são explícitas, ao se definirem os eixos de mobilidade e
seus cruzamentos como fatores altamente favoráveis às
atividades que dependem de fluxos de pessoas e mer-
cadorias – comércio e serviços, sem dúvida. Por outro
lado, a idéia de instalar tais atividades em conjuntos
pontuais deslocados em relação às rotas de mobilidade
é um preceito, justamente, daquele método obsoleto de
planejamento de que dizemos discordar...
Assinalamos que, em Cariacica, estão misturados os zo-
neamentos de atuação do poder público e de iniciativas
dos habitantes. Especificamente, o desenho das inten-
ções de planejamento no espaço depende, obviamente,
de quais sejam essas intenções. Até aqui, encontra-
mos no PDM de Cariacica intenções de planejamento,
cuja manifestação no espaço não precisa obedecer a
qualquer tipo de estruturação discernível. A natureza ou
a cultura a preservar, as carências a atender, os exces-
sos a conter, os desperdícios a evitar, as transições a
graduar, tudo isso se dispõe no espaço de modo não
necessariamente estruturado.
Por outro lado, as três últimas intenções da lista só se
materializam sobre a estrutura do território – as ruas
principais da cidade e as estradas rurais – e dependem
fundamentalmente de que tal estrutura esteja clara-
mente explicitada aos interessados. O que mais importa
aqui é que necessariamente são dois desenhos comple-
tamente distintos, superpostos, e, principalmente, im-
prescindíveis.
Não é coerente o estímulo a atividades econômicas,
distribuição das centralidades, nem mobilidade, se não
privados, têm resultado em transtornos urbanos com-
partilhados com a sociedade em geral.
2 - A normativa territorial em Cariacica – o Plano
Diretor Municipal
O planejamento instituído em Cariacica não difere muito
do que é empregado nos demais municípios da Grande
Vitória, bem como no restante do país. Uma típica Lei
de Uso e Ocupação do Solo, acrescida das novidades
normativas introduzidas pelo Estatuto da Cidade, cor-
responde à maior parte do Plano Diretor Municipal.
Um destaque notável, neste conjunto de objetivos, é a
intenção declarada de estimulo à consolidação de uma
referência de área central para o município, em certa
consonância com a condição atual da cidade. O centro
em Campo Grande concentra a renda da população de
modo espacialmente ainda pontual, não sendo clara-
mente perceptível a clássica expansão migratória setori-
zada deste segmento.
Os indícios levam a crer que, caso ocorra, tal expansão
seguirá a BR-262 no sentido Jardim América a caminho
da centralidade metropolitana em Vitória. Assim, en-
tenderemos que a consolidação da referência de área
central mencionada no PDM, combinada com o que a
lei prevê para a consecução deste objetivo, será mais
exatamente a explicitação da direção que a expansão
da renda deverá seguir na cidade, a partir de Campo
Grande.
O zoneamento são identificadas centralidades, zonas
urbanas, rurais, de amortecimento dos impactos urba-
nos sobre a área rural, eixos principais com caracterís-
ticas de centralidade e subcentralidades - como concen-
trações de usos diversos que reduzem a dependência
dessas vizinhanças do núcleo da cidade - na Sede, em
Nova Rosa da Penha, em Porto de Santana, em Bela
Aurora e em Castelo Branco. A esses, devem ser soma-
dos Itacibá e Novo Horizonte, se considerado o poder
3.2 :: MOBILIDADE :: SISTEMA VIÁRIO :: TRâNSITO E TRANSPORTE :: USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MEIO URBANO E RURAL :: hABITAÇÃO
57
teressada no controle sobre a qualidade do tecido que
produz, do que na rentabilidade da sua venda, que, de
resto, não é um objetivo primordial. Os coeficientes de
multiplicação devem estar associados à infraestrutura,
ou seja, à parte da construção da cidade sob tutela do
estado que, por sua vez, são justamente aqueles que
ocupam espaços físicos significativos na cidade: a mo-
bilidade, o acesso, a iluminação, a ventilação e a dissi-
pação de ruídos. O controle da demanda sobre tais itens
da infraestrutura se traduz exatamente no controle so-
bre a forma edificada, por meio do gabarito e dos afas-
tamentos, associados ao dimensionamento viário.
Podemos conceber um esboço do modelo de ocupação
do solo que regularia a qualidade do tecido urbano re-
sultante da sua implementação e que adequaria as den-
sidades edificadas ao desenho dos arruamentos, con-
forme figura abaixo.
Parâmetro para modelo de ocupação
Os critérios de qualidade dos conjuntos edificados são,
como já mencionado, ventilação, iluminação e dissi-
pação de ruídos. Nos espaços exteriores, esses critérios
são quantificados pela relação H/E, entre a altura das
edificações H e a distância entre elas E. Internamente,
os mesmos critérios são medidos pela relação L/P entre
a largura dos pavimentos L e o seu pé-direito.
Tais padrões, portanto, derivam do estabelecimento
da altura dos compartimentos interiores, relacionada
empiricamente com a estatura dos habitantes e com o
volume de ar interno disponível. Na prática, esse valor
parece bem aceito pela população brasileira em torno de
soubermos onde são os melhores lugares para isso, e,
com toda a certeza, nada há que indique que são os
mesmos lugares a preservar, ou onde estejam as carên-
cias, excessos, desperdícios e transições.
A teoria clássica sobre a estrutura da cidade já avisava
que a riqueza se estrutura no espaço e a pobreza ocupa
as sobras. Riqueza, nesta análise, é justamente a insta-
lação das atividades por iniciativa dos habitantes, e o
poder público agirá no interesse coletivo, se contribuir
para compartilhar as melhores informações sobre como
otimizar tal prosperidade, desenhando-as de modo
inequívoco.
A rigor, a cidade deveria providenciar o registro das áre-
as intocáveis da natureza preservada e das áreas onde
todo o cuidado é pouco com o patrimônio cultural. No
restante, seriam superpostos os desenhos da estrutura
de otimização das atividades privadas e das áreas que
demandam atenção do poder público, inclusive, para a
segregação dos impactos mais intensos da riqueza.
Para as atividades privadas dentro do tecido urbano, o
mais indicado seriam três classificações de uso: o resi-
dencial, os demais usos que podem e os que não podem
se misturar com ele. Estes últimos ficariam, obrigatoria-
mente, segregados em zonas especificamente designa-
das, ao passo que a mistura dos demais com a residên-
cia seria definida pela malha de ruas principais.
O resultado seriam algumas zonas para usos de impacto
e uma única grande zona de uso misto, em que ruas ex-
clusivamente residenciais seriam estruturadas por ruas
para usos diversos. Todo o restante do controle deve-
ria ser feito pelos limites de ocupação, que adequariam
a forma do conjunto edificado aos padrões viários e
fundiários.
A consolidação de uma área central
Se há um lugar em Cariacica que possa se transformar
num “centro” da cidade, este é o traçado da BR-262,
desde que deixe de ser uma rodovia federal e passe a
ser uma avenida urbana. Para isto, seria necessário que
o tráfego de passagem de alcance mais longo, princi-
palmente de carga, em direção aos portos de Vitória e
Capuaba, deixasse de circular ou, ao menos, fosse sen-
sivelmente reduzido, com a consolidação do Corredor
Leste/Oeste.
O controle da Ocupação do Solo: planejamento
versus economia
A Ocupação do Solo Urbano em Cariacica não foge à
regra nacional: os índices de rentabilidade do mercado
imobiliário são incorporados à normativa urbanística
como se fossem índices de qualidade do tecido urbano
edificado. O PDM enumera seus índices de controle da
ocupação como Coeficiente de Aproveitamento, Taxa
de Ocupação, Taxa de Permeabilidade, Afastamentos,
Gabarito, Área para Garagens, Área dos Lotes e Testada
dos Lotes. Entretanto faz-se necessário que seja incor-
poradas ao regulamento do parcelamento condicion-
antes para o arruamento, como as larguras mínimas e
o provimento das singularidades já mencionadas – ruas
principais e locais de reunião.
Conforme apresentado, o planejamento deveria explici-
tar seu compromisso com o atendimento às carências e
com o estímulo à geração de riqueza. No caso da Ocu-
pação do Solo, este discernimento é mais complexo,
uma vez que edificar tanto pode ser o atendimento a
uma carência – e que, em última análise, acaba gerando
alguma riqueza – quanto pode ser uma iniciativa direta
de geração de riqueza.
A condição de Cariacica, como lugar em que o mercado
imobiliário pouco se manifesta, acentua ainda mais a
dicotomia entre o que está escrito em suas normas so-
bre a produção de edifícios e o que a cidade verdadeira-
mente demanda. A autoconstrução está muito mais in-
3.2 :: MOBILIDADE :: SISTEMA VIÁRIO :: TRâNSITO E TRANSPORTE :: USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MEIO URBANO E RURAL :: hABITAÇÃO
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2,60m, ou treze fiadas de tijolos com 20 cm de altura.
Considerando uma espessura de piso acabado em 15
cm, chegamos a um valor de 2,75m para a distância
piso-a-piso P, que será empregado na relação L/P.
Proposições Gerais sobre Uso e Ocupação do Solo
O PDM de Cariacica é um exemplar bastante típico no
contexto da região metropolitana em que se insere. A
incorporação das novidades do Estatuto da Cidade e da
noção de “Zoneamento de Planejamento”, em que as
intenções e objetivos do poder público são espacializa-
das de acordo com as peculiaridades de cada local, é
instrumento poderoso de implementação de políticas
públicas.
Os institutos jurídicos e políticos do Estatuto – comu-
mente chamados de ‘instrumentos’ – já integrados à
lei municipal, só aguardam as respectivas regulamen-
tações para se tornarem aplicáveis. Quando isso for fei-
to, restará somente encontrar disposição para encarar
os tipos de problemas urbanos que tais recursos ajudam
a resolver.
A segregação dos Impactos mais intensos e nocivos em
zonas específicas é um dos pontos mais acertados do
Plano, restando somente alguns ajustes no tratamento
interno da zona já eleita pelo mercado como prioritária
para a instalação desses usos; assim como a reconsi-
deração da destinação do vazio da Fazenda do Estado e
das áreas rurais a oeste e sudoeste às mesmas finali-
dades.
A demarcação de uma zona de ocupação preferencial
para instalar uma Área Central na BR-262 pode signifi-
car uma transformação radical na imagem da cidade, se
as condições que faltam forem possíveis e se a expecta-
tiva pela novidade não ceder à tentação de construir se-
gundo padrões de ocupação excessivos e que não terão
como resistir, com o tempo, à noção de degradação.
O restante do regulamento sobre o Uso do Solo merece
uma revisão profunda, simplificando os regulamentos
para adequar as demandas impostas ao poder público
para a aplicação da norma. Além disso, a oportunidade
de redigir uma normativa destinada a gerenciar a inicia-
tiva privada de instalação de atividades na cidade deve-
ria ser aproveitada para atender ao cidadão de acordo
com suas expectativas. Tudo indica que a realidade lo-
cal merece ações coercitivas, quanto aos impactos mais
intensos, e educativas, quanto aos demais usos. A au-
toconstrução, predominante na produção do tecido ur-
bano, deveria ser acompanhada pelo poder público, de
forma educativa, a fim de aprimorar o processo.
Identificar, explicitar e intervir para completar e con-
solidar uma estrutura viária principal até a escala local
viria ao encontro do que Cariacica mais precisa neste
assunto: informações sobre onde é mais indicado insta-
lar o comércio, os serviços e a indústria não impactante,
em função dos seus alcances de clientela e de insumos.
Por outro lado, sempre é possível aferir a rentabilidade
imobiliária de qualquer modelo de ocupação, e os es-
tudos aqui iniciados demonstram que é possível obter
adaptações mais rentáveis, desde que aplicados a ter-
renos suficientemente espaçosos. De todo modo, fica a
lição de que os índices brasileiros de ocupação do solo
dependem de admitir a insalubridade – e a previsível
‘degradação’ – da cidade, ou de redesenhar os arrua-
Zoneamento de Uso baseado no viário proposto e nas ruas principais
3.2 :: MOBILIDADE :: SISTEMA VIÁRIO :: TRâNSITO E TRANSPORTE :: USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MEIO URBANO E RURAL :: hABITAÇÃO
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mentos, ou ainda, de frentes de expansão parceladas
de outro modo e que estão fora de questão, diante do
estoque de lotes de Cariacica.
Proposições Específicas do Uso e Ocupação do Solo
O diagnóstico a respeito do Uso e da Ocupação do Solo
em Cariacica indica três grandes aspectos gerais a con-
siderar, na revisão da Agenda do município para os próxi-
mos vinte anos. Primeiro, trata-se de um território que é
tido como cenário da viabilização de iniciativas externas,
de caráter privado ou do governo estadual, derivadas
da instalação de atividades logísticas e industriais por
particulares, ou da instalação do sistema de Transporte
Coletivo Metropolitano pelo Estado. As intervenções físi-
cas em Cariacica raramente objetivam o atendimento a
demandas internas. Em segundo, destaca-se a dispari-
dade entre a capacidade operacional da municipalidade
e a magnitude das demandas representadas pela ci-
dade, principalmente no tocante às suas interações com
o meio ambiente natural e às deficiências de origem do
tecido urbano em si. Finalmente, no arcabouço norma-
tivo urbanístico consolidado no Plano Diretor Municipal,
o desenho das permissões de Uso está misturado com
o desenho das intenções de planejamento, ao passo
que os índices de Ocupação falam a linguagem de um
mercado imobiliário ainda incipiente na cidade, e nada
dizem à autoconstrução onipresente.
As recomendações a seguir têm foco nos interesses
municipais, na interação com os interesses externos
,públicos ou privados, e no trato das questões internas
ao município; a eleição de prioridades de atuação com-
patíveis com as capacidades operacionais do governo
local e a adequação das normativas de Uso à estrutura
urbana e de Ocupação à autoconstrução, bem como a
um eventual mercado imobiliário local.
No contexto de Cariacica, as pressões por expandir
o tecido e gerar o novo, ou seja, o caráter expansivo
de ocupação, é um tanto preocupante, principalmente
quando considerado o diagnóstico das características
urbanas e os impactos ambientais dos quais o município
tem sido causador e vítima. Como conectar e ampliar o
acesso a áreas povoadas tão distantes e desprovidas de
serviços básicos, sem que estas passem a ser especula-
das e devoradas pelo mercado de terras? Ou seja como
levar serviços, transporte e infraestrutura e, ao mesmo
tempo, conter a expansão do tecido, tão ávido de “de-
senvolvimento”?
Estes são alguns dos desafios que estão associados ao
planejamento viário e de mobilidade urbana. Os proje-
tos viários previstos apontam para alguns novos vetores
da dinâmica urbana em Cariacica, como a área central
do município, polarizada pela BR-262, tende a se con-
solidar e novas frentes de expansão são esperadas, de-
pendentes dos grandes projetos viários.
Com base nos desejos de deslocamento da população e
na articulação de áreas urbanas existentes, é proposta
a estruturação do sistema viário em formato de malha,
permitindo a integração da área norte e sul da BR-262,
assim como a transposição desta nas viagens internas
ao município.
A estruturação permite a conectividade com Vila Velha
ao sul, a ligação direta das áreas no extremo norte e
extremo sul com as área central – em cinza. Formam-
se vetores de expansão e reestruturação urbana: vetor
Vitória, partindo de Campo Grande em direção a Vitória
no eixo BR-262, com características mais urbanas, mas
dependente do desvio de tráfego de passagem para
outras áreas da cidade – ao sul e ao norte e da inte-
gração de projetos públicos e privados que contemplem
a adequação do desenho urbano; vetor Vila Velha, es-
truturado pelo Corredor Leste Oeste, utilizando parte da
BR-447, com caráter reestruturador e atrator de inves-
timentos imobiliários locais; e o vetor Corredor Leste/
Oeste, associado à transferência do transporte de carga
da área central para o limite municipal sul, atendendo
também a outra demanda de proximidade e conexão de
Cariacica com o mar - embora pese o potencial conflito
3.2 :: MOBILIDADE :: SISTEMA VIÁRIO :: TRâNSITO E TRANSPORTE :: USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MEIO URBANO E RURAL :: hABITAÇÃO
60
entre a carga ao porto e a ida à praia, é possível que,
num prazo médio, os dois possam conviver razoavel-
mente.
O projeto Corredor Leste/Oeste apresenta impactos
diretos na região sul, de características suburbanas a
preservar por meio de fiscalização rigorosa e definição
legislativa de diretrizes de parcelamento das proprie-
dades ainda rurais, literalmente desenhando um sistema
de vias arteriais – inclusive de conexão com a estrada
de Caçaroca – e demais servidões públicas em meio às
atuais pastagens. Deve-se ainda controlar a expansão
do tecido urbano nessas áreas, incentivando a ocupação
de áreas já infraestruturadas no núcleo urbano. Em pa-
ralelo, estará presente a oportunidade do lançamento
de operações de redesenvolvimento urbano e reajuste
fundiário. Essas operações terão como objetivo a re-
moção da ocupação em áreas de preservação e/ou risco
e o redesenho do arruamento subnormal em bases mais
convencionais, para viabilizar a consequente instalação
de uma centralidade suburbana mais independente do
núcleo central da cidade.
As Zonas industriais - impactantes no meio urbano –
devem ser segregadas das áreas de uso misto, locali-
zando-se ao norte, às margens da BR-101. Para viabi-
lizar tal implantação, o mais indicado seria a elaboração
de um projeto completo para um distrito industrial de
grande porte na região, devidamente acompanhado
dos respectivos estudos de impacto para a totalidade
da Zona Industrial definida, incluindo possíveis porções
em terras de Santa Leopoldina. O termo de referência
seria produzido em conjunto pelos dois municípios e a
elaboração correria por conta da iniciativa privada e das
agências estaduais de fomento econômico.
As localidades de Cariacica Sede e Porto Belo devem
ser preservadas, até que sejam garantidas as ampli-
ações de geração de emprego e renda na Zona Indus-
trial Norte, por meio de rigor no controle, estabelecendo
uma ordem de prioridades para a ocupação dos vazios
existentes entre os vários arruamentos, sempre subor-
dinada à preferência pela ocupação de lotes vagos. Uma
operação de regularização da relação entre a proprie-
dade privada e as áreas de preservação das drenagens
naturais completará as diretrizes para essa área, onde
praticamente não se observam arruamentos subnor-
mais.
A possibilidade de um novo caminho entre Cariacica
e Vitória, por meio da Quarta Ponte, está associado à
travessia de uma área vazia do município que, por sua
vez, está rodeada de bairros densamente ocupados.
Esse projeto parece ser a oportunidade de implemen-
tar uma base fundiária de padrão mais amplo do que
a média municipal, estruturada pela nova via, e atrair
para ela segmentos de renda mais alta no mercado imo-
biliário, na região onde atualmente está a fazenda do
Estado.
Um projeto urbano para todo o vale do Itanguá, desde a
nascente em Mucuri, até o manguezal em Itacibá, con-
templaria os projetos de alinhamento do corredor sobre
o traçado da antiga ferrovia Vitória-Minas, bem como
das arteriais de travessia do vale em Vila Capixaba,
Nova Brasília, Itanguá e Itacibá. Além disso, demarcaria
uma grande operação de redesenvolvimento urbano e
reajuste fundiário em Itanguá, com financiamento ex-
terno – possivelmente internacional, dadas as condições
do local – para o reassentamento da ocupação das áreas
de risco e/ou preservação, ocupação de vazios e insta-
lação de um parque municipal.
Nas regiões de Flexal, Santana e Planeta, após confir-
mação da implantação da Quarta Ponte e da ocupação
da fazenda do estado nos moldes aqui delineados,
poderá ser desencadeado um processo de crescimento
urbano controlado na região, sempre estabelecendo a
hierarquia de prioridades da ocupação dos vazios en-
tre os arruamentos, depois ocupação dos lotes vagos
existentes. Tal crescimento deve ser acompanhado de
operações urbanas de requalificação do arruamento.
Em Vale dos Reis e Novo Horizonte, devem ser tomadas
medidas de preservação das características atuais, com
restrições à urbanização e incentivo a usos relacionados
ao lazer e turismo.
Com relação ao zoneamento, as permissões de uso, por
sua vez, poderão ser muito simplificadas, de modo a
otimizar a demanda pela tutela municipal e potencializar
a prosperidade da iniciativa privada. Uma vez estabe-
lecida a segregação dos usos de impacto na Zona Indus-
trial e ao longo da BR-101, todo o restante do tecido ur-
bano seria considerado de uso misto, com o comércio e
os serviços preferencialmente localizados sobre a malha
de ruas principais. Não é demais salientar que os usos
residenciais devem ser proibidos na Zona Industrial e
fortemente desencorajados ao longo da BR-101.
A autoconstrução e a construção formal devem seguir
modelos previamente estabelecidos, comprometidos
com a cidade-lar salubre e confortável e a cidade-
negócio rentável e próspera. Na zona rural, as estradas
vicinais deverão seguir os vales dos principais cursos
d’água e providenciar a suas interconexões a interva-
los regulares de não menos de 2 km, de acordo com
as condicionantes pontuais do relevo e da drenagem.
As estradas já existentes ao longo dos córregos do Sa-
bão, Cachoeirinha e do Engenho, dos rios Duas Bocas
e Bubu, dos córregos Montanha e Roda d’Água e do rio
Formate devem ser complementadas por interligações
que configurem uma rede de mobilidade e acesso com-
patível com as atividades dos assentamentos.
Considerações finais sobre Uso e a Ocupação do
Solo
Este trabalho tenta lançar alternativas ao planejamento
que tem sido recorrentemente proposto para Cariacica,
3.2 :: MOBILIDADE :: SISTEMA VIÁRIO :: TRâNSITO E TRANSPORTE :: USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MEIO URBANO E RURAL :: hABITAÇÃO
61
sempre voltado para interesses e objetivos externos ao
município, e que consideram a cidade que lá existe um
obstáculo a transpor ou contornar.
Foram considerados os indícios de movimentos e inte-
resses externos, que possam trazer oportunidades de
desenvolvimento ao município no horizonte de tempo
da Agenda, e indicadas estratégias de acompanhamento
e participação na concretização de cada proposta. Se
todas elas se viabilizarem, Cariacica poderá ser verda-
deiramente outra cidade, sem deixar de ser ela mesma.
No entanto, aconteça o que acontecer, a maior parte da
cidade que existirá daqui a vinte anos já está pronta e
funcionando.
Foram selecionadas propostas para a gestão cotidiana
do Uso e da Ocupação do Solo que apostam na capaci-
dade dos habitantes de entenderem sua cidade. A forma
das áreas de preservação – inclusive consubstanciada
num mapa escolar – será a base para a responsabilidade
ambiental urbana e rural.
A forma da estrutura do tecido urbano – representada
pela malha de ruas principais – será a base para or-
ganizar a mistura funcional, salubre e confortável dos
Usos do Solo e para a multiplicar a prosperidade da ini-
ciativa privada. E, finalmente, a forma das edificações –
descrita por indicadores mensuráveis e inteligíveis pelo
cidadão comum – será a base para a qualidade dos es-
paços públicos e privados do tecido urbano, seja ele um
negócio imobiliário ou um lar.
3 - Mobilidade
Mobilidade urbana e rural pode ser definida como a ca-
pacidade de deslocamento de pessoas e veículos no es-
paço físico do município para a realização de suas ativi-
dades cotidianas (trabalho, educação, saúde, cultura,
abastecimento e lazer), num determinado tempo, com
segurança e conforto. Dessa forma, para a realização
deste estudo, foram considerados todos os tipos de
veículos, a motor ou não, bem como caminhadas.
Com a expansão física dos espaços urbanos, há uma
necessidade crescente de utilização de veículos para
percorrer as distâncias, e, consequentemente, de maior
velocidade dos meios de transporte. Com a maior utili-
zação dos meios de transporte individuais, o trânsito,
nos meios urbanos, tem aumentado consideravelmente,
fazendo com que esse tempo gasto nos movimentos
pendulares do cotidiano seja inversamente proporcional
ao aumento da utilização desses meios de transporte.
Ao analisar a mobilidade e a acessibilidade no município,
é preciso avaliar também a localização dos equipamen-
tos públicos (escolas, unidades de saúde, hospitais, áre-
as de lazer etc.), e as suas características econômicas e
sociais, como centros empresariais e de consumo, que
são acompanhados do crescimento e do adensamento
populacional.
É relevante destacar, para o caso de Cariacica, que o
adensamento ocorreu de forma desordenada e sem
planejamento no passado, por loteamentos irregulares,
falta de regulamentação e fiscalização, impactando
a estrutura viária do município e, consequentemente,
acarretando problemas sobre a mobilidade, a acessibili-
dade e o trânsito.
Essa situação estrutural particular trouxe também di-
ficuldades de adaptação territorial à trajetória de ele-
vação da frota de veículos, experimentada em todo o
país nas últimas décadas. Segundo dados do DETRAN-
ES, a frota de Cariacica passou de 46.431 veículos para
89.418, no período de 2002 a 2009.
Cariacica é atendida pelo TRANSCOL, sistema estadual
de transporte intermunicipal de passageiros na Região
Metropolitana da Grande Vitória. Não há um sistema in-
terno de transporte coletivo no município. O TRANSCOL
funciona numa estrutura tronco-alimentadora, que in-
terliga os cinco municípios da Grande Vitória por meio
de terminais, de onde são feitas as distribuições para os
bairros, pagando, o usuário, uma única tarifa.
Segundo dados da pesquisa sobre Mobilidade, Sistema
Viário, Trânsito e Transporte, realizada em 2011, o ôni-
bus do TRANSCOL é o principal meio de deslocamento
da população do município, para 77,5% dos entrevista-
dos. Do total de usuários, 57,3% utilizam diariamente,
sendo que o principal motivo é o trabalho (71,1%) e
81,6% utilizam dois ônibus ou mais. Dados oficiais in-
dicam que as linhas do sistema transportam em média
176.422 passageiros por dia útil, 102.826 aos sábados
e 61.115 aos domingos.
De forma geral, o transporte coletivo em Cariacica foi
caracterizado na referida pesquisa como “ótimo” ou
“bom” para 41,6% dos usuários e como “ruim” ou “pés-
simo” para 37,0%. Considerando que 21,3% avaliaram
como “regular”, o total de avaliação insatisfatória foi de
58,3%. A necessidade de melhoria fica evidenciada pela
avaliação insatisfatória (regular + ruim + péssimo) por
parte de 58,3% dos usuários, sendo que os principais
itens criticados foram: lotação dos ônibus (92,2%),
abrigo nos pontos de ônibus (91,9%); sinalização nos
pontos de ônibus (66,5%); segurança nos terminais
(58,0%); organização das filas nos terminais (57,7%);
cumprimento dos horários de viagem (52,0%). Os itens
mais bem avaliados (ótimo + bom), sobre o transporte
coletivo, foram o serviço de limpeza geral dos terminais
(68,7%), a sinalização no embarque (66,8%) e a atu-
ação dos motoristas e cobradores (57,7%).
Uma preocupação permanente da CETURB se refere ao
transporte clandestino de passageiros. Essa modalidade
de transporte ainda persiste em grande número no mu-
nicípio, acarretando toda sorte de prejuízos para o sis-
tema oficial e para os próprios usuários.
Além do transporte coletivo e do transporte clandestino,
o município conta com uma frota de taxi que é regula-
3.2 :: MOBILIDADE :: SISTEMA VIÁRIO :: TRâNSITO E TRANSPORTE :: USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MEIO URBANO E RURAL :: hABITAÇÃO
62
mentada pela municipalidade por meio da Lei 999/80.
A frota disponível hoje é de 573 permissões/veículos,
com 49 pontos decretados. Segundo informações da Co-
ordenação de Fiscalização de Transporte Individual da
Prefeitura Municipal de Cariacica, essa quantidade está
excedida em 120 veículos, em relação à demanda de
passageiros do município, e existem, em torno de, 30
taxis clandestinos que rodam somente à noite. A dis-
tribuição excessiva de permissões para a exploração do
transporte por taxi, nas administrações municipais an-
teriores, gerou pontos considerados pouco ou nada ren-
táveis para os taxistas, sendo que o excesso de taxis é
apontado como a causa de alguns taxistas operarem em
outros municípios, principalmente em Vitória.
Um problema muito acentuado se refere às dificuldades
de transporte coletivo na zona rural do município. As
linhas de ônibus passam em apenas 3 horários e con-
templam somente as localidades de Duas Bocas, Roda
D’Água, Cachoeirinha, Munguba e Boca do Mato, sendo
que as localidades de Alegre, Alto Roda D’Água, Alto
Sabão, Azeredo, Boa Vista, Boqueirão do Santílio, Bo-
queirão do Tomas, Pau Amarelo e Trincheira não são
contempladas com linhas de ônibus. Em alguns locais,
os moradores precisam caminhar cerca de 4 quilômetros
até o ponto de ônibus mais próximo.
Estrutura Viária existente
A área urbana do Município de Cariacica tem grandes
pontos de estrangulamento e grande volume de tráfego.
Existem bairros que não foram planejados, resultaram,
em alguns casos, de ocupações irregulares ou lotea-
mentos feitos sem qualquer planejamento. Embora a
população se concentre no meio urbano, o espaço ainda
é pouco adensado e muito espalhado, necessitando de
maiores deslocamentos. Além disso, boa parte da popu-
lação trabalha nos municípios de Vitória, Serra e Vila
Velha, os locais para as compras estão concentrados
(Campo Grande) e muitas famílias matriculam seus fi-
lhos em escolas e faculdades situadas em outros mu-
nicípios da Grande Vitória. Esses deslocamentos for-
mam um movimento pendular, acarretando sobrecarga
no trânsito e, consequentemente, engarrafamentos nos
horários de pico nas duas principais vias, BR-262 e BR-
101, em diversos pontos.
A alta dependência dessas vias arteriais (BR-262 e BR-
101) impacta diretamente, tanto o acesso da Região
Metropolitana, quanto a acessibilidade aos bairros, pois
alguns não possuem vias de ligação bem estruturadas.
As ruas são estreitas, com mobilidade limitada e, em
alguns pontos, sem saída. Em alguns bairros, não há
calçadas para pedestres e, onde elas existem, encon-
tram-se, em sua maioria, irregulares. A sinalização das
vias é precária ou inexistente, prejudicando o movimen-
to de ônibus e a entrega de mercadorias por caminhões.
Existe, no município, grande número de ruas com pavi-
mentação, mas sem drenagem fluvial.
Em particular, a BR-101 – Rodovia do Contorno – é
responsável por desviar o tráfego de cargas e veículos
menores do centro de Vitória. A Rodovia liga o trevo
da Ceasa a Carapina, no município de Serra, cortando
grande parte de Cariacica, e está sendo duplicada. O
asfalto apresenta buracos e desgaste acentuado, não há
sinalização adequada, colocando, em risco, motoristas
e motociclistas.
As margens dessa Rodovia se potencializam a abrigar
empresas industriais e de serviços logísticos, proporcio-
nando escoamento para as regiões Norte e Sul do país
das cargas oriundas do complexo portuário de Vitória.
Essas características provocam um tráfego bastante in-
tenso que, associado às obras de duplicação e à falta de
sinalização, vêm provocando muitos acidentes, configu-
rando-se um trecho de alta periculosidade.
Nota-se, entretanto, uma evolução, nos últimos anos,
na malha viária do município, visando corrigir os proble-
mas de mobilidade e acessibilidade. Atualmente, outros
eixos secundários estão sendo constituídos, podendo re-
duzir a sobrecarga das duas BRs, especialmente na in-
tegração com os outros municípios vizinhos. Além disso,
o trevo da CEASA encontra-se em obras para instalação
3.2 :: MOBILIDADE :: SISTEMA VIÁRIO :: TRâNSITO E TRANSPORTE :: USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MEIO URBANO E RURAL :: hABITAÇÃO
633.2 :: MOBILIDADE :: SISTEMA VIÁRIO :: TRâNSITO E TRANSPORTE :: USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MEIO URBANO E RURAL :: hABITAÇÃO
de viadutos que acabarão de vez com os cruzamentos
entre as duas principais rodovias.
Outro importante trecho a ser analisado é a rodovia
secundária tradicional – ES-080 – Rodovia José Sette.
Partindo da BR-101, a ES-080 cruza o município no sen-
tido leste-oeste. É eixo estruturador de vários bairros,
com intenso tráfego e ocupação das margens por ativi-
dade de comércio/serviços. Passa por Cariacica Sede
em direção ao município de Santa Leopoldina. Constitui-
se um corredor secundário. Existe um grande fluxo de
veículos na rodovia, que possui pista simples, além de
um grande tráfego de caminhões pesados. Mas é no tre-
cho que liga Itacibá à BR 101 - Rodovia do Contorno que
se encontra o maior desafio. A via possui residências e
comércios ao longo do seu percurso, dificultando o seu
alargamento, pois isso demandaria desapropriações.
Essa via está sendo reestruturada, sendo que o trecho
que liga a BR 262 a Tucum já está em obra, e o trecho
Tucum a Cariacica Sede está em fase de elaboração do
projeto.
A Avenida Vale do Rio Doce liga os bairros Porto de San-
tana e Itanguá ao bairro São Torquato em Vila Velha. É
uma avenida de pista simples para cada sentido, marge-
ando toda a baía conhecida como região da Orla de Ca-
riacica. Apresenta tráfego de caminhões com destino
aos Portos de Vila Velha e algumas empresas voltadas
ao comércio exterior ao longo da via. É uma via com
baixa mobilidade e com ponte estreita próxima ao pátio
de vagões da Vale.
Por fim, a Avenida Expedito Garcia, localizada no bair-
ro Campo Grande, possui uma pista simples em cada
sentido e sem canteiro central. Ao longo da avenida,
encontra-se o maior shopping a céu aberto da Grande
Vitória, com lojas, bancos, supermercados, bares e lo-
jas de comercialização de veículos, ocasionando graves
problemas de estacionamento. Os vendedores ambulan-
tes ocupam muitos espaços das calçadas que deveriam
atender aos pedestres, tornando o espaço caótico. O
mesmo ocorre com algumas lojas, cujas bancas de mer-
cadorias avançam sobre a calçada. Como o fluxo de pes-
soas é intenso, isto agrava ainda mais o trânsito lento
de veículos, visto que, por falta de espaço apropriado,
muitos pedestres andam pelas ruas, aumentando o risco
de acidentes. Desde 2011, a Prefeitura vem desenvol-
vendo ações focadas na região de Campo Grande que
se têm refletido diretamente em melhorias programa-
das no trânsito local. Mudanças nos sentidos de vias,
bem como melhoria de sinalização vertical e horizontal
já podem ser percebidas, contudo não existem ainda
indicadores que proporcionem, efetivamente, subsídios
para a avaliação das intervenções.
Quanto às estradas rurais, a pavimentação e con-
servação ainda são inadequadas. Esta situação im-
pede, ou dificulta muito, os produtores de escoar sua
produção, bem como o transporte escolar e o transporte
de trabalhadores.
Quanto ao tráfego de ciclistas, apesar do incentivo à
saúde, andar de bicicleta ainda representa risco em Ca-
riacica. A falta de ciclovias nas principais ruas e aveni-
das do município faz com que os ciclistas se arrisquem,
dividindo o mesmo espaço no trânsito com ônibus,
caminhões e carros de passeio. Existe no município um
grande número de ciclistas, mas existem poucas ciclo-
vias, como na BR 262 e na Avenida Alice Coutinho. Visto
que as vias dos bairros são estreitas, este se torna um
problema de difícil solução, que se agrava ainda mais
pela falta de calçadas em alguns bairros.
Corredores viários propostos
A Zona Sul do Município de Cariacica tem suas divisas
bem definidas por elementos geográficos: o Rio Formate
define o limite com Viana e o Rio Marinho, com Vila Ve-
lha. Trata-se de área ainda com grandes vazios urbanos
e uma ocupação mais densa ao longo do Rio Marinho. As
demais áreas apresentam urbanização ainda de baixa
densidade e são circundadas por áreas rurais.
Para a Zona SUL de Cariacica, são planejados os
seguintes eixos: Corredor Leopoldina, Corredor Leste
Oeste, BR 447, Corredor Sudoeste, Corredor Padre
Gabriel, Corredor Metropolitano Rio Marinho, Corredor
Santa Paula e Corredor Cachoeirinha:
Corredor Leopoldina: via prevista para ser implan-
tada quando da desativação da Estrada de Ferro FCA,
aproveitando todo seu leito, incorporando as ruas mar-
ginais existentes e promovendo alguns ajustes de traça-
do, para compatibilizar o nível do greide do leito da via
com o das ruas marginais. Essa via ligará Viana a São
Torquato, passando pelo Terminal Campo Grande e por
Jardim América. Será um corredor exclusivo de ônibus,
atendendo a área ao Sul da BR 262.
Corredor Leste-Oeste: trecho que liga a BR-262
(Águia Branca) à estrada de Caçaroca, em Valparaíso,
inicialmente em conexão com a BR-447 em Campo Belo.
Será a avenida urbana que atenderá o fluxo interno à
cidade nessa direção, depois que a BR-447 assumir de-
finitivamente seu caráter rodoviário regional de atendi-
mento ao fluxo de carga entre a BR-101 Norte e o porto
de Capuaba. A partir desse momento, a atual conexão
com a BR-447 poderá se tornar desnecessária.
BR 447: corredor, cuja obra está sendo realizada pelo
Governo do Estado, liga a BR-262, na altura da antiga
Braspérola, até a rodovia Darly Santos em Vila Velha,
facilitando o acesso também à área portuária, fazendo
com que o tráfego de veículos pesados saia da Área
Central de Cariacica. A construção da via vai proporcio-
nar a retirada do tráfego pesado de bairros como Jardim
América, Rio Marinho, Cobilândia, BR-262 no perímetro
urbano e na Avenida Carlos Lindemberg. Os moradores
das áreas próximas à rodovia serão beneficiados por
nova opção de trajeto e novas linhas de ônibus do Siste-
64 3.2 :: MOBILIDADE :: SISTEMA VIÁRIO :: TRâNSITO E TRANSPORTE :: USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MEIO URBANO E RURAL :: hABITAÇÃO
Mapa do Sistema Viário Proposto
65
ma Transcol. Está prevista a construção de passeios lat-
erais nos dois lados da pista e baias de ônibus. A rodovia
terá duas faixas em cada sentido, as duas pistas serão
separadas por um canteiro central. Há ainda algumas
dúvidas quanto ao trajeto exato da via, pela modificação
em alguns trechos devido a áreas de alagamento, como
em Vila Isabel. O trecho Campo Belo a Darly Santos está
em execução, e o trecho que complementa até a BR 262
está em fase de projeto. Essa via não deve ser transfor-
mada em avenida urbana e todas as interseções devidas
devem ser planejadas em desnível, para segregar seu
tráfego regional/carga do tráfego geral urbano.
Corredor Sudoeste: interliga Campo Grande à Areinha
(Viana). Encontra-se duplicado nos dois sentidos, com
canteiro no meio. A via tem características de rodovia,
com poucos pontos de entrada e saída. Por ser uma
obra recente, alguns acessos precisam de sinalização.
Do bairro Tiradentes até o limite com Viana, possui pis-
ta simples nos dois sentidos. O entroncamento com o
Corredor Leste/Oeste dar-se-á com a formação de um
binário de tráfego, utilizando as ruas São José e Bra-
silina Santos. Desse binário, a via segue em direção ao
Rio Formate, pela margem de Cariacica, acompanhando
o rio conforme a topografia das margens.
Corredor Padre Gabriel: ligação entre o corredor
Leste-Oeste, em Campo Belo, e a região de Cachoei-
rinha, será uma avenida principal, situada a meia distân-
cia entre os rios Marinho e Formate, estruturando toda
a região sul do município, em conjunto com a estrada
de Caçaroca e com a marginal direita do rio Formate.
Deve-se fazer, imediatamente, o desenho do traçado de
parte do Corredor Padre Gabriel, incluindo todo o sis-
tema de vias arteriais, a conexão com Caçaroca e as
demais servidões públicas que passam pelas pastagens
e, para isso, é necessário definirem-se as diretrizes de
parcelamento de propriedades rurais por meio de leis.
Corredor Metropolitano Rio Marinho: fará a inte-
gração dos municípios de Vila Velha ao de Cariacica, ao
longo de todo o leito do Rio Marinho e será canalizador
de toda a demanda de tráfego dos bairros de Cariaci-
ca (Rio Marinho, Bela Vista, Valparaiso, Bandeirantes,
Sotelândia, Boa Vista, Vasco da Gama, Jardim América)
e de Vila Velha que estão em seu entorno. O Corredor
Metropolitano Rio Marinho já conta com alguns trechos
terraplanados e outros até pavimentados, algumas pon-
tes interligando acessos entre Vila Velha e Cariacica.
Esse corredor contribuirá com o tráfego, juntamente
com a antiga Estrada de Caçaroca, que também de-
verá ser requalificada e conectada aos futuros Corre-
dores Rio Marinho e Padre Gabriel e a todas as conexões
desenhadas na região sul, assim como com a manuten-
ção da ocupação dentro dos limites adequados ao ar-
ruamento.
Corredor Santa Paula: liga a Estrada de Caçaroca à
BR 262, em Viana, passando seu primeiro trecho (já
existente) pela Avenida Gerson Camata até o Corredor
Padre Gabriel; indo seu segundo trecho até a Avenida
Domingos Martins em Vila Betânia (Viana) e seguindo,
em seu terceiro trecho, até encontrar à BR 262.
Corredor Cachoeirinha: liga a Estrada de Caçaroca à
Avenida Domingos Martins, em Viana.
Em relação ao Centro - Sul pode ser destacado o Corre-
dor Sudeste - Avenida Alice Coutinho. O corredor
liga ao Corredor Leste-oeste. Esse corredor fará parte
do Corredor Central Norte Sul que ligará Cariacica
Sede a Valparaíso, a ser consolidado com as ligações
previstas entre a Alice Coutinho e a rua Paulicéia (com a
construção do viaduto sobre a BR 262) e esta à Rodovia
José Sette em Tucum. O trecho da BR-262 até região
próxima ao Bairro Maracanã já se encontra duplicado,
faltando execução do trecho que liga o bairro ao Corre-
dor Leste-oeste. Nesse trecho restante, que atualmente
encontra-se com asfalto ruim e muitos buracos, o traça-
do ainda não está definido, necessitando da elaboração
do projeto e, possivelmente, desapropriações. Essa via
3.2 :: MOBILIDADE :: SISTEMA VIÁRIO :: TRâNSITO E TRANSPORTE :: USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MEIO URBANO E RURAL :: hABITAÇÃO
66 3.2 :: MOBILIDADE :: SISTEMA VIÁRIO :: TRâNSITO E TRANSPORTE :: USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MEIO URBANO E RURAL :: hABITAÇÃO
Proposta de hidrovia para transporte de pessoas e cargas.
67
ajudará a reduzir o trânsito da BR 262 com destino a Vila
Velha, dando maior mobilidade também ao fluxo entre
os bairros por onde passa. Esse corredor proporcionará
aos munícipes da Zona Sul de Cariacica e aos de Vila
Velha acesso rápido à BR 262, ao Estádio Estadual Kle-
ber Andrade e à área Central de Cariacica. Esse corredor
percorrerá uma área ainda com baixo adensamento ur-
bano e perfil de ocupação mais nobre, ao longo da qual
podem ser instaladas unidades de serviços e de comér-
cio mais sofisticados para atendimento à população que
se instalará no seu entorno.
Quanto à área Norte do Município, o Plano Diretor Viário
Urbano – PDVU propõe a implantação do Corredor
Metropolitano Central, interligando a BR 101, pas-
sando sobre Baía de Vitória pela 4ª ponte, desde Porto
Santana até Santo Antônio. A proposta é uma alterna-
tiva de acesso mais curto para a capital, partindo da
BR 101, passando por uma área ainda pouco adensada
(70% propriedades do Governo do ES) e limite norte da
zona de maior adensamento urbano da cidade. Nesse
formato, obtém-se um eixo estruturante para a área em
que se pretende implantá-lo e um novo acesso a Vitória,
cuja interação com o tecido urbano de Cariacica deve
ser feita por interseções em desnível, com as devidas
conversões onde necessário. Os usos lindeiros devem
ser de caráter regional, permitindo o impacto sobre a
vizinhança. Será importante, igualmente, assegurar a
possibilidade de continuar, oportunamente, esse corre-
dor para oeste da BR-101, de modo a permitir um aces-
so privilegiado à região rural de Cariacica, aumentando
o seu potencial turístico e de lazer; bem como viabilizar
a necessária conexão com a possível futura via de con-
torno metropolitano, pela encosta do Mochuara.
O Corredor Itanguá é a estrutura urbana paralela ao
norte da BR-262, feita sobre o traçado da antiga fer-
rovia Vitória-Minas, na margem direita do rio Itanguá.
Suas condições dimensionais indicam, além de um novo
projeto de alinhamento, a necessidade de uma via com-
plementar para operação em binário. Essa via pode ser
desenhada na margem esquerda do rio, como parte
de uma operação urbana de requalificação do vale do
Itanguá, e o binário deve se articular às ligações com
o corredor Leopoldina, ao sul, e que farão a travessia
da BR-262, completando a estrutura do núcleo central
da cidade. A Avenida Vale do Rio Doce poderá ser uma
via complementar ao Corredor Metropolitano Central
proposto.
A Orla da Baía de Cariacica, delineada pela Avenida Vale
do Rio Doce, merece um olhar especial, principalmente
no trecho compreendido entre o Rio Marinho e o Rio
Itanguá, assim como no trecho de Porto Santana até
Porto Novo. O município deve aproveitar os potenci-
ais turísticos e de lazer dessa região para implantar o
Projeto Orla, que engloba ciclovias, pequenos espaços
para lazer, restaurante, mirante e uma marina (esta-
cionamento de barcos de lazer, serviço carente na
RMGV) próxima à foz do Rio Itanguá. Esse projeto já
está elaborado e necessita de captação de recursos para
ser implantado.
Deve ser observado que o espaço requalificado da orla
carece de um acesso compatível com a nova roupagem,
dotando-o de pista dupla, canteiro central, áreas para
retorno e praças para estacionamento ao longo de sua
extensão. A via deverá abrigar as pistas de rolamento
de veículos e ciclovias dimensionadas para o trânsito e-
xistente e futuro.
Os munícipes dos bairros Boa Vista, Itaquari, Sotema,
Expedito e Alto Lage poderão contar com acesso direto
à área urbanizada – Nova orla de Cariacica – através de
passarelas por sobre a EFVM – Estrada de Ferro Vitória
Minas – via férrea que divide os bairros acima da orla.
As passarelas deverão ultrapassar as vias de veículos e
permitir o trânsito de bicicletas.
Com a implantação do macroviário proposto, a BR 262
pode passar por uma requalificação de ocupação do solo
às suas margens, deixando de ser uma via de cargas e
passagem para ser uma via estruturada para comércio e
serviços, em especial, com implantação do Corredor Ex-
clusivo de Ônibus Urbano/BRT (Bus Rapid Transit) desde
o Terminal de Campo Grande até o de Jardim América,
seguindo deste último para Vitória e Vila Velha.
O bairro Jardim América será uma área privilegiada
quanto à qualificação dos seus acessos, irradiando para
Porto Velho e São Torquato.
Com ocupação de baixa densidade e alguns vazios ur-
banos na sua área plana, Jardim América é dotado de
vias internas de boa capacidade de tráfego e traçado
retangular, prestando-se para abrigar polos de negócios
e serviços, em especial, voltados para serviços conexos
às atividades portuárias podendo requalificar a sua área
e a do seu entorno, induzindo-a a uma ocupação nobre.
Essa proposta, viabilizada e concretizada, trará um bom
resultado para o desenvolvimento econômico susten-
tável do município.
Para a requalificação da área plana de Jardim América,
os fluxos de tráfego devem ser alterados no interior
dessa área, impondo sentido único às principais vias,
fato que trará um melhor desempenho delas, bem como
complemento da abertura de vias e recapeamento.
Hidrovias
Hidrovia para transporte de cargas por meio de
barcaças
Em 2009, foi desenvolvido um estudo pela CODESA
que indicou, como boa solução para transporte de car-
gas, a hidrovia pautada na movimentação dos portos
da Grande Vitória, incluindo Praia Mole e estendendo a
hidrovia até a ponte da BR 101- Rodovia do Contorno,
trecho sobre o Rio Santa Maria da Vitória em Cariacica.
3.2 :: MOBILIDADE :: SISTEMA VIÁRIO :: TRâNSITO E TRANSPORTE :: USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MEIO URBANO E RURAL :: hABITAÇÃO
68
Dois trechos dessa rota beneficiariam fortemente Ca-
riacica:
•Trecho – de Capuaba (CPVV) a Cariacica, em Porto de
Santana, com um percurso total de 7,7 km ao longo da
Baía de Vitória.
•Trecho – de Porto de Santana, em Cariacica, esten-
dendo a hidrovia até a ponte da BR 101 – trecho BR
101 - Rodovia do Contorno sobre o Rio Santa Maria da
Vitória, em Cariacica.
Esses dois trechos englobam uma rota hidroviária de,
cerca de, 18 km e atenderá o transporte de cargas,
tendo em vista que ligará o Porto de Capuaba à área
de vazio urbano contíguo às Estações Aduaneiras In-
terior EADI’s (menos de 1 km dos pontos de atracação
até as EADI’s), revivendo o antigo Porto da Pedra, local
historicamente utilizado para embarque/desembarque
de mercadorias destinadas ao interior do estado (EADI
Porto Seco Alfandegado). A proposta é para barcaças
com capacidade de 1.500 toneladas, o que significa re-
tirar das vias 60 carretas de 25 toneladas, aliviando o
sistema viário existente, dando condições de sobrevida
ao cais comercial de Vitória e ampliando a conectividade
com o modal ferroviário e outras interfaces.
Também é fato que o modal hidroviário tem uma eficiên-
cia energética 5 vezes maior que a do modal rodoviário,
representando um menor consumo de combustível e,
por conseguinte, menor poluição.
Segundo o estudo da CODESA, a altura livre sob a
Ponte Florentino Ávidos, na maré alta, é de 4.80m,
possibilitando a passagem das embarcações. Também
fica registrado que o calado mínimo necessário para a
navegação das barcaças é de 2,50m. Há possibilidade
também de se elevar a altura da Ponte Florentino Avidos
(5 Pontes), igualando à altura da 2ª Ponte.
Hidrovia para transporte de pessoas
Dentro da ótica do transporte multimodal de pessoas,
também é perfeitamente identificável a vocação do ca-
nal da Baía de Vitória/Cariacica em, praticamente, todo
o contorno fluvial da Ilha de Vitória (braços sul e norte
do Rio Santa Maria da Vitória) para rotas de transporte
de passageiros. Tais rotas podem ligar diversos pontos
de Cariacica a Vitória e a Vila Velha, retomando de for-
ma conceitual o antigo sistema do aquaviário, porém
sob uma ótica renovada, modernizada e atualizada, to-
talmente integrada com os demais modais.
Uma hidrovia integrada com o modal rodoviário de pas-
sageiros, inclusive com as ciclovias (disponibilizando es-
tacionamento para guarda de bicicletas e/ou adequando
espaço nas embarcações para o transportes destas),
pode compor um sistema multimodal de transporte de
pessoas, com atracação rápida, dotado de cabines se-
melhantes às que serão utilizadas pelo sistema BRT/VLP,
onde o tempo de parada seja mínimo e o translado seja
ágil e de fácil integração com outros modais e/ou com
ciclovias.
É importante registrar que qualquer projeto terá de ser
precedido de revisão da legislação que rege o transporte
fluvial na área do Porto de Vitória.
Com barcos e sistemas adequados, pode-se chegar à
equação de viabilidade, que permita o aproveitamento
da navegabilidade na área dos portos e dos canais que
circundam a “Ilha de Vitória”.
3.2 :: MOBILIDADE :: SISTEMA VIÁRIO :: TRâNSITO E TRANSPORTE :: USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO MEIO URBANO E RURAL :: hABITAÇÃO
72
CONTEXTO ECONôMICO
POTENCIALIDADES DO MERCADO DE TRABALhO
3.3
No momento em que a Agenda Cariacica está sendo
construída, observa-se um processo de redefinição na
divisão intermunicipal do trabalho, na Região Metropoli-
tana da Grande Vitória. Existem ainda grandes expecta-
tivas quanto à localização de grandes investimentos nas
atividades siderúrgicas, portuárias, de papel e celulose,
energia elétrica, petróleo e gás, entre outras, ao longo
do litoral capixaba, o que permite a projeção de uma
metrópole expandida ao norte e ao sul. Tudo isso tem
gerado um leque de oportunidades, de novos projetos
de suporte, impulsionando uma disputa territorial por
parcelas urbanas em vários municípios metropolitanos
que, por sua vez, concorrem em apresentar melhores
condições de atratividade para esses empreendimentos.
Esses movimentos estão aliados a uma fase em que o
mundo capitalista está em ebulição. À crise de super-
produção de capital, que se arrasta desde os anos 1970,
agregam-se os problemas de esgotamento da matriz
energética de base fóssil e a escassez de riquezas natu-
rais, especialmente de água potável. A administração
dessas crises e a concorrência em nível mundial têm
gerado uma corrida pelo controle das fontes de ma-
térias-primas pelas grandes potências capitalistas, ao
mesmo tempo em que consolida uma nova divisão in-
ternacional do trabalho, impondo um processo de espe-
cialização produtiva aos países dependentes, como tem
sido o caso do Brasil.
Cada vez mais a economia brasileira se expande e se
especializa na produção de commodities. Voltada priori-
tariamente para o comércio exterior, a produção deve
ocorrer dentro dos padrões internacionais de qualidade
e de tempo exato de entrega, o que pressiona o sistema
logístico de armazenagem e transporte de grandes car-
gas.
Focado nos investimentos de grandes conglomerados
econômicos, o processo de especialização produtiva
promove o deslocamento dos centros de decisão das
empresas para fora dos países latino-americanos. A
atratividade de novos investimentos para países como
o Brasil tem sido sustentada por uma perversa política
de favorecimento ao grande capital, como incentivos fis-
cais, flexibilização da legislação trabalhista e ambiental,
entre outros. Essa lógica aprofunda o desemprego es-
trutural e dificulta a difusão de inovações entre as micro
e pequenas empresas, base do processo produtivo em
muitos centros urbanos da periferia.
O resultado é a degradação das condições de vida nos
centros urbanos e no meio rural como marca incon-
fundível das crises que assolam todo o planeta, com es-
pecial destaque para a mudança climática.
O Espírito Santo e a especialização produtiva
O estado do Espírito Santo tem sido um lócus privile-
giado para esses grandes investimentos na produção
de commodities. A marca fundamental da produção re-
gional tem sido a criação de ilhas de excelência volta-
das para os mercados externos, mas que não têm sido
capazes de gerar um processo de integração interna.
73
Esses grandes empreendimentos, controlados de fora
para dentro, têm sido identificados como promotores da
fragmentação territorial que caracteriza hoje as relações
entre os municípios do interior e as cidades metropoli-
tanas.
Para os propósitos da Agenda Cariacica, urge a atenção
sobre o processo de acirramento de uma hierarquia de
subordinações, que acaba impondo uma lógica de de-
cisões sobre localização de investimentos, muitas vezes,
avessa aos interesses de quem vive e trabalha no ter-
ritório regional e local.
As grandes construções associadas à montagem desses
grandes projetos trazem efeitos colaterais de grande
impacto. O modelo de tributação existente desonera as
exportações, impedindo o financiamento do adicional de
políticas públicas exigido a cada nova leva de famílias
trabalhadoras atraídas pelas grandes obras. Da mesma
forma, ampliam-se as dificuldades do poder público em
minorar os impactos que a implantação e a operação
desses grandes investimentos causam ao meio ambi-
ente urbano e rural.
Divisão do trabalho na metrópole expandida
A estrutura produtiva formada nas últimas décadas, a
partir da instalação e ampliação das grandes plantas in-
dustriais exportadoras, vem determinando uma divisão
intermunicipal do trabalho na Região Metropolitana, em
que se observa forte concentração produtiva, especial-
mente na Capital e no Município de Serra. A Microrregião
de Vitória (Cariacica, Serra, Viana, Vila Velha e Vitória)
concentra mais de 60% da produção estadual.
As perspectivas de novos investimentos projetam uma
tendência centralizadora da produção no litoral capixa-
ba. São investimentos impulsionados pela ampliação
da produção siderúrgica e de mineração, na indústria
de papel e celulose e, especialmente, da elevação da
produção petroleira, que promete grandes investimen-
tos industriais e portuários ao sul e ao norte do litoral,
combinados a projetos industriais de menor porte ao
longo do litoral norte capixaba, prolongando-se a partir
do Município de Serra.
Mercado de trabalho
No estado do Espírito Santo, segundo os dados da PNAD
(IBGE, 2009), do total de 2,96 milhões de pessoas con-
sideradas em idade ativa em 2009, apenas 1,92 milhão
é considerada economicamente ativa, sendo 1,06 mi-
lhão homens (55,2%) e 860 mil mulheres (44,8%).
Considerando o conjunto de trabalhadores e trabalhado-
ras com alguma ocupação, observa-se que, segundo os
dados da PNAD (Tabela 1), apenas 648 mil pessoas es-
tavam empregadas com carteira de trabalho assinada
em 2009 no Espírito Santo. Outras 111 mil pessoas es-
tavam empregadas no serviço público (civil e militar)
e 321 mil pessoas tiveram outro vínculo empregatício
(sem carteira de trabalho assinada etc.). Além desse to-
tal de 1.08 milhões de pessoas, consideradas emprega-
das pela PNAD, outras 122 mil atuavam no trabalho do-
méstico, 305 mil trabalhavam por conta própria, 82 mil
eram empregadores, 117 mil estavam ocupadas sem
(Em 1000 pessoas)
Fonte: IGBE. PNAD 2009
3.3 :: CONTEXTO ECONôMICO :: POTENCIALIDADES DO MERCADO DE TRABALhO
74
Potencialidades na diversificação produtiva
municipal
A forte urbanização da Região Metropolitana reservou a
Cariacica uma série de potencialidades na formação de
uma complexa rede comercial e de pequenas unidades
produtivas. Nesse processo, ocorreu a formação de um
novo centro local em torno do bairro Campo Grande, a
partir do qual se projetam grandes investimentos públi-
cos e privados: o novo trevo próximo à Ceasa, o está-
dio estadual Kleber Andrade, o Faça Fácil, as obras do
Corpo de Bombeiros e da Sede do IFES – Cariacica, a
rodovia de ligação leste-oeste com o município de Vila
Velha e a duplicação do Contorno (BR 101), a instalação
de condomínios residenciais, as unidades para o arma-
zenamento de cargas e, inclusive, um Shopping Center
de grande vulto, projetado pelo Grupo Sá Cavalcante.
Tais investimentos são acompanhados de uma série
de intervenções nas vias urbanas e na construção de
grandes viadutos. Além de alterar radicalmente a es-
trutura viária local, essas novas intervenções deman-
dam, e irão demandar, muito trabalho especializado na
construção civil e o fornecimento de vários equipamen-
tos e materiais próprios das grandes obras.
As projeções da Prefeitura têm sido o estímulo da eco-
nomia local, a partir da valorização dos imóveis e da
multiplicação dos empregos no comércio, serviços e
produção industrial, o que se espera que gere elevação
dos níveis salariais e da qualidade de vida da população.
Micro e Pequena Empresa como base para a diver-
sificação produtiva
Apesar de ter perdido peso relativo no processo de di-
versificação produtiva regional em épocas anteriores,
Cariacica ainda mantém um variado conjunto de ativi-
dades produtivas nos três setores da economia: agro-
pecuária, indústria e serviços.
Parece ser consensual a capacidade de geração de
oportunidades de trabalho a partir das micro e peque-
nas iniciativas produtivas. O grande desafio tem sido a
requalificação desses empreendimentos, no sentido de
incorporá-los às redes de inovação que interagem para
qualquer remuneração, 52 mil produziam para seu pró-
prio consumo e 7 mil construíam para seu próprio uso.
A especialização em atividades que empregam pouco
trabalho é ainda mais grave na atual situação de cresci-
mento da PEA, consequente da transição demográfica
contemporânea (crescente participação de jovens, mu-
lheres e pessoas idosas no mercado de trabalho), ma-
nifestando-se, também, nos indicadores de distribuição
da riqueza produzida anualmente.
Como se vê na Tabela 2, mesmo apresentando um PIB
per capita acima da média nacional (cerca de R$ 20 mil
anuais em 2009), estima-se (IBGE, 2009) em mais de
72,5% da PEA o volume de pessoas que percebe remu-
neração mensal de até 2 salários mínimos no Espírito
Santo, incluídas aí as pessoas economicamente ativas
que não percebem qualquer tipo de remuneração.
Diante desse quadro de evolução da especialização
produtiva no estado do Espírito Santo e de seus impac-
tos econômicos e sociais é que são analisados, neste
texto, os desafios para o município de Cariacica nas
próximas duas décadas.
Fonte: IBGE. PNAD, 2009
(Em 1000 pessoas)
3.3 :: CONTEXTO ECONôMICO :: POTENCIALIDADES DO MERCADO DE TRABALhO
75
além do município e de torná-los adequados às relações
do mercado formal: formalização na contratação do
trabalho e na sua qualificação, na aquisição de bens e
serviços e nas estratégias de comercialização de seus
produtos, bem como na regularização de suas ope-
rações no que se refere às normas patrimoniais, ambi-
entais, adequação às posturas urbanas e até mesmo aos
códigos fiscais. Assim, planejar o futuro com base na
diversificação produtiva, tendo em conta sua dependên-
cia em relação às MPE, significa compreender a necessi-
dade da criação das pré-condições elementares para
uma reinserção com qualidade. E a Prefeitura começa a
apresentar resultados importantes nessa perspectiva, a
partir de iniciativas voltadas à requalificação dos micro
e pequenos empreendimentos no município, incluída aí
a formalização de iniciativas individuais.
Ainda em 2005 iniciou-se a difusão da “Cultura do
Planejamento Estratégico” focado nas micro e pequenas
iniciativas produtivas, com a introdução de programas
específicos na Legislação Orçamentária de nível local
(PPA, LOA e LDO). Naquele mesmo ano, o município
passou a intensificar a intermediação para captação de
recursos no Programa Nosso Crédito e a estimular o uso
da informática a partir da instalação de telecentros.
O ano de 2006 foi marcado por um salto de qualidade no
apoio às MPE, com a consolidação do processo que re-
sultou na Lei Geral Municipal. A partir daquele momen-
to, foram introduzidas grandes inovações administrati-
vas, tais como a criação do Centro Integrado de Apoio
às MPE/EPP e a Política de Desburocratização (CIAMPE,
Serviços Online e Finanças+fácil), facilitando a emissão
de alvarás de funcionamento, certidões, guias de reco-
lhimento de impostos entre muitos outros documentos.
Em 2006, foi também a inauguração da Feira de Negóci-
os como evento anual de exposição dos produtos locais
e de fechamento de contratos.
A consolidação dessas políticas acabou por envolver as
atividades cooperativadas e a produção individual. Em
2008, foi implantado o Banco Comunitário (Banco Sol),
para fortalecer o associativismo e, em 2009, o Projeto
Fique Legal, voltado para a formalização de iniciativas
individuais de produção.
Naquele mesmo período, foi instalada a política de
Preferência das MPE/EPP nas Compras Governamentais
(2008) e de Capacitação de Empresários de MPE/EPP e
Consultorias (2010), processo este que culminou com a
criação da Subsecretaria de MPE (2011).
Atividades e iniciativas inovadoras
Logística
São relevantes as iniciativas de investimento em Caria-
cica nas áreas de transportes e de armazenagem em
geral. Aos antigos investimentos de empresas tradi-
cionais, como o grupo Águia Branca, somam-se agora
projetos na área de distribuição de bebidas (AMBEV),
automóveis e cargas gerais (TERCA, TEGMA etc.), que
possuem hoje um alto nível de sofisticação logística, em
especial nas áreas de telecomunicações e nas tecnolo-
gias de organização de estoques, distribuição e trans-
porte de cargas. Com isso, o município se qualificou
para a instalação em seu território de uma unidade do
IFES, cujas principais atividades estão voltadas para o
ensino e para a pesquisa em Logística.
Indústria
Na área industrial, o município guarda, desde o perío-
do anterior aos anos 1970, importantes investimentos.
Destacam-se entre eles a siderurgia (antiga COFAVI,
hoje Arcelor Mittal) e a produção de bebidas (Coca
Cola), cujas empresas estão organizadas em nível mun-
dial e possuem laboratórios próprios de pesquisa e de
inovação concentrados nos países centrais. No caso da
siderurgia, cabe destacar o seu papel na demanda por
3.3 :: CONTEXTO ECONôMICO :: POTENCIALIDADES DO MERCADO DE TRABALhO
Projeto do Shopping Moxuara
76
produtos locais com algum conteúdo tecnológico, com
destaque para os bens e serviços da metal-mecânica.
Várias empresas familiares, voltadas para a produção
de peças, de equipamentos de automação e de serviços
industriais, atuam no fornecimento à Arcelor Mittal, no
município, e aguardam com grande expectativa a con-
cretização dos anúncios de novos investimentos de am-
pliação na unidade de Jardim América e arredores. Ain-
da no campo da produção tradicional, Cariacica possui
vários frigoríficos e pequenas agroindústrias.
Cariacica também possui singularidades em conheci-
mentos técnicos específicos, desenvolvidos mais re-
centemente, a partir da experiência adquirida por
determinados proprietários de pequenas fábricas, espe-
cialmente nas atividades de móveis, metal-mecânica e
confecções, mas também nos artesanatos e na produção
rural, que precisam inclusive ganhar maior capacidade
de difusão como experiências exitosas.
Nas atividades da metal-mecânica, existem várias ex-
periências de fabricação de peças, pequenas máquinas e
equipamentos em geral. Boa parte dessa produção está
direcionada para equipar veículos de transporte de car-
gas, ou para o fornecimento à siderurgia, à mineração,
à produção de máquinas agrícolas, à construção civil,
bem como às redes de logística e do comércio varejista.
Na produção de móveis, destacam-se as produções por
encomenda, seja na modalidade artesanal de entalhe
em madeira, ou no estilo de móveis modulados.
Tais experiências, além de ilustrarem a afirmação de que
Cariacica possui atividades inovadoras e diferenciadas,
também corroboram na indicação de caminhos a seguir
no processo de diversificação produtiva, inclusive com
exemplos concretos de potenciais para o processamento
local de produtos importados e em nichos de mercado
que exigem algum nível de inovação tecnológica.
Comércio varejista
Campo Grande constitui a maior concentração do co-
mércio varejista em Cariacica. Denomina-se shopping a
céu aberto a região central ao redor da Avenida Expedito
Garcia, pela abrangência territorial que alcança e pelo
volume de pessoas que atrai para toda modalidade de
compras pessoais, bem como para a revenda. O bair-
ro, que ganhou singularidade nos anos 1970 pela con-
strução de pequenas lojas de rua embaixo da residência
de seus proprietários, agora abriga também grandes lo-
jas e vários escritórios, agências bancárias, consultóri-
os, escolas, restaurantes e supermercados.
A proximidade às instalações da CEASA reforça a im-
portância de Campo Grande como centro comercial. A
atração de produtores rurais e de intermediários, que
ali comercializam seus produtos no atacado, é facilitada
por sua diversificada demanda por móveis e eletrodo-
mésticos em geral.
Essa característica singular tem atraído para Cariacica
investimentos de outras regiões. Uma das grandes ex-
pectativas é a construção de um Shopping Center do
Grupo Sá Cavalcante (sediado no Rio de Janeiro) bem
em frente à CEASA, num terreno próximo ao Terminal
de Campo Grande. Na fase de pico da construção, esse
empreendimento deve empregar cerca de 800 traba-
lhadores. Porém, considerando a operação de outros
shoppings semelhantes, estima-se a geração de aproxi-
madamente 3.000 empregos diretos permanentes, sen-
do 500 em administração, operação e manutenção, e
2.500 em lojas.
A projeção de inovações para o comércio varejista local
é inevitável. O sistema de trabalho em grandes shop-
pings exige a ordenação do comércio, o atendimento às
normas internas de funcionamento e a qualidade física
e de atendimento nas novas lojas, demandando a for-
mação e a requalificação da força de trabalho a ser em-
pregada.
3.3 :: CONTEXTO ECONôMICO :: POTENCIALIDADES DO MERCADO DE TRABALhO
77
Construção civil
Boa parte das atividades de construção civil operadas
no município de Cariacica é controlada por empresas
sediadas fora de seu território. As iniciativas imobiliárias
locais estiveram muito mais vinculadas ao parcelamento
do solo, na maioria das vezes, de forma irregular,
e existem poucas experiências de empreendimentos de
base municipal na área de grandes construções.
Além das obras de ampliação e das novas rodovias, Ca-
riacica vem recebendo vários projetos de construção de
condomínios comerciais e residenciais. Os condomínios
de armazenagem vertical e de logística de cargas im-
portadas constituem-se grandes novidades, tanto os já
instalados no município, quanto os projetados para os
próximos anos.
Estão projetados também vários investimentos na
construção de condomínios residenciais fechados. O
próprio Grupo Sá Cavalcante, que programa a insta-
lação do shopping próximo à CEASA, também planeja
a construção de um grande condomínio residencial nas
imediações, a se implantar próximo à antiga fábrica da
Braspérola.
Limpeza urbana
A empresa Marca Ambiental, que opera há 13 anos na
Rodovia do Contorno (BR 101), é destaque em inovação,
devido à busca de novas tecnologias para seus proces-
sos de tratamento de resíduo e reciclagem de material,
centrada em sua própria gestão e em diversas parcerias
com instituições de ensino, pesquisa, treinamento (SE-
BRAE) e de financiamento (FINEP, FAPES etc.).
A produção rural
A agropecuária, em Cariacica, possui uma estrutura
pouco diversificada. Apesar de um território rural de
grandes dimensões, a agricultura é marcada pela alta
especialização na produção de banana, cana-de-açúcar,
com algum consórcio com a mandioca e com o café.
Essa produção é marcada por baixa produtividade, devi-
do à idade avançada das lavouras e às dificuldades de re-
cuperação da fertilidade do solo. Há um problema estru-
tural: a predominância da pequena propriedade familiar,
com baixa experiência associativa e de cooperação,
traz graves problemas no manejo das culturas agríco-
las, impedindo o descanso do solo, o que se reflete na
baixa produtividade e nas dificuldades de diversificação
produtiva. Por outro lado, segundo vários dos peque-
nos produtores, a proximidade com os centros urbanos,
que poderia facilitar as culturas de abastecimento diário,
acaba prejudicando a formação para o trabalho no cam-
po, cuja rotatividade é crescente, devido aos atrativos
que exercem a vida e o trabalho nas cidades sobre a
juventude. Tudo isso coloca a atividade nas lavouras em
segundo plano em boa parte das propriedades.
Há problemas também na comercialização da produção.
Boa parte dos produtos é entregue a intermediários,
uma vez que as famílias não estão preparadas para
comercializar diretamente nos centros urbanos. A re-
cuperação das organizações associativas rurais é uma
saída para este problema e vem sendo estimulada pelo
surgimento de programas de compras governamentais.
O processamento familiar ou com trabalho nas asso-
ciações de parcela da produção tem apresentado alguns
resultados interessantes. Existem propriedades espe-
cializadas na produção de biscoitos, farinhas, doces, ba-
nana passa, além do abate, limpeza e corte de animais
(aves, ovinos, peixes etc.). Na maior parte das vezes,
essa produção, processada artesanalmente, é realizada
por encomenda, mas também têm crescido atividades
semelhantes vinculadas ao agroturismo. Também ficam
visíveis aqui os problemas de transporte da produção
e de comunicação, pois as comunidades rurais se res-
sentem da ausência de estradas e veículos apropriados,
bem como das dificuldades de acesso às tecnologias de
telecomunicações.
O crescimento da produção empresarial no campo é vi-
sível em Cariacica e se distingue bastante da produção
familiar. As propriedades das empresas são maiores em
extensão, operam em regime de monocultura, são bem
equipadas com galpões de processamento e usam téc-
nicas para aumentar a produtividade do solo. Normal-
mente, a produção das empresas agrícolas no município
está associada a um sistema próprio de comercialização,
vinculada ao CEASA e às encomendas de grandes redes
de supermercados.
Famílias que vivem da pesca e da coleta de
mariscos
Associadas à produção agrícola de subsistência em
glebas bem pequenas, resistem atividades tradicio-
nais como a pesca e a cata de mariscos nos rios e es-
paços próximos aos manguezais. Cada vez mais, essa
produção artesanal vai encontrando dificuldades para a
sua prática cotidiana, uma vez que cresce a poluição
dos recursos hídricos, e os terrenos próximos aos man-
gues são procurados para atividades imobiliárias. Com o
cercamento das novas propriedades ocupadas com con-
domínios e outros empreendimentos, as comunidades
pesqueiras de Flexal, Nova Canaã, Nova Rosa da Pe-
nha, Cajueiro, entre outras, estão proibidas de acessar
as áreas de mangue tradicionalmente utilizadas para a
atividade artesanal de pesca e coleta de mariscos.
3.3 :: CONTEXTO ECONôMICO :: POTENCIALIDADES DO MERCADO DE TRABALhO
80
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
ENERGIA
3.4
Do ponto de vista conceitual, as TICs são entendidas
como todas as tecnologias que medeiam os processos
informacionais e comunicativos do ser humano ou inter-
ferem sobre eles. Elas podem ser entendidas também
como um conjunto de recursos tecnológicos integrados
entre si, que proporcionam, por meio das funções de
hardware, software e telecomunicações, a automação e
comunicação dos processos de negócios, do mercado de
trabalho, da pesquisa científica e de ensino e aprendi-
zagem.
No que diz respeito à gestão pública, as TICs objeti-
vam o aumento da eficácia e da eficiência, a melhoria da
qualidade, na transparência e na fiscalização das ações
e serviços governamentais e de outras instituições
públicas. Pode-se utilizar a internet, por exemplo, para:
• Divulgar as ações desenvolvidas pelos diferentes
órgãos da prefeitura, inclusive a prestação de contas
dos gastos e investimentos realizados;
• Dar mais velocidade à tomada d e decisão, para
prestação de serviços de melhor qualidade, com a im-
plantação de uma Intranet, que possibilita a informação
integrada e disponível em toda a rede;
• Oferecer serviços on-line, como a marcação de con-
sultas, emissão de certificados, recebimento de tributos,
realização de matrículas escolares, entre outros;
• Realizar leilões e licitações eletrônicas, comprar e for-
necer serviços.
Além dessas implicações para o setor público, as TICs
têm tido, cada vez mais, um papel crucial nos distintos
campos da vida social (convivência social, mercado de
trabalho e educação, por exemplo) e no meio empre-
sarial, como elemento de competitividade. Essas são as
referências para a análise das TICs, em especial para o
caso da Região Metropolitana, na qual está inserido o
município de Cariacica.
As Telecomunicações no Espírito Santo e em
Cariacica
Telefonia fixa
Segundo dados do Mapa da Telefonia Fixa da Anatel,
as duas concessionárias que atuam no Espírito Santo –
Telemar Norte Leste S.A. e Embratel – possuíam, em fe-
vereiro de 2010, 752.756 telefones instalados, 575.849
telefones em serviço e 20.237 telefones públicos (ore-
lhões). Esses dados, por si sós, não dizem que a tel-
efonia fixa foi universalizada no estado. Pode-se inferir
apenas que existe uma capacidade instalada superior
em quase 177 mil telefones à demanda atual.
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2008.
(1) Exclusive os moradores cuja condição no domicílio era pensionista, empregado doméstico ou parente do empregado doméstico.
81
Confrontando essas informações com as apresenta-
das na Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar
(PNAD), de 2008, do IBGE, verifica-se que a universali-
zação do acesso à telefonia está um pouco distante. Isso
porque, dos cerca de 3.415 milhões de habitantes que o
estado possuía em 2008, 410 mil não possuíam nenhum
tipo de telefone. Desse total de excluídos, mais de 97%
percebem até 10 salários mínimos.
No caso de Cariacica, os dados mais confiáveis e re-
Telefonia Móvel
No que diz respeito à telefonia móvel, no Espírito Santo,
em dezembro de 2009, 3.359.589 celulares estavam em
serviço (1,93% do mercado nacional), sendo 77,76% no
sistema pré-pago e 22,23% no sistema pós-pago. No
estado, a Vivo é líder de mercado (60,48% dos aces-
sos), seguida da Claro (13,78%), da Oi (13,55%) e da
TIM (12,19%). Não se encontraram informações dis-
poníveis sobre Cariacica: segundo informações da Oi,
existem dificuldades técnicas para se apurar essa infor-
mação, pois os aparelhos são classificados por códigos
de aérea (27 e 28). Entrevistas realizadas constatam
muitas reclamações sobre a qualidade do sinal das
várias empresas operadoras, especialmente nos bairros
mais afastados de Campo Grande.
Inclusão digital
Segundo a Pesquisa de Opinião Pública de Cariacica
[Brasil (coord.), 2010], 59,3% dos entrevistados afir-
maram já ter usado computador, sendo que 49,6% têm
a máquina em suas casas. Ademais, 43,8% têm acesso
à Internet em suas casas e 47,2% acessam em outro
lugar. Cerca de 45,9% possuem endereço eletrônico (e-
mail).
Essa pesquisa também traz informações interessantes
sobre o perfil da população digitalmente incluída de Ca-
riacica:
• Os homens usam mais computador que as mulheres:
51,4% e 48,6%, respectivamente;
• O uso do computador declina, à medida que a idade
avança: as faixas etárias 16-24 e 25-34 anos represen-
tam 62,7% dos que usam computador, 63,3% dos que
possuem acesso à Internet e 68,1% dos que possuem
e-mail;
• Relação direta entre escolaridade e uso do computa-
dor: 97,5% dos que possuem ensino superior já usaram
o computador e 91,1% dos “analfabetos/3a série funda-
centes disponíveis sobre acesso à telefonia são os
do Censo do IBGE 2010. A tabela abaixo mostra que
45,42% da população de Cariacica possuíam telefone
fixo em casa, mais de 20 pontos percentuais a menos
que Vitória, a cidade com o melhor resultado em termos
de acesso a telefonia, em 2010. Em 2010, Cariacica tin-
ha a 4ª posição nesse ranking, ficando atrás de Vitória,
Vila Velha e Serra.
Observando-se os dados, verifica-se o aumento contínuo
do número de telefones fixos nos domicílios em Cariaci-
ca de 1991 a 2010. Além disso, a outra boa notícia é que
o município já dispunha de rede de suporte do Sistema
de Telefonia Fixo Comutado (SFTC) antes mesmo do De-
creto 6.424 de 2008. Tal Decreto alterou o Plano Geral
de Metas de Universalização da telefonia fixa e, dentre
outras coisas, obrigou as concessionárias a implantar o
backhaul, que é a infraestrutura de rede de suporte ao
STFC, que, além de outras aplicações, é requisito para o
acesso à Internet banda larga. Porém pode-se constatar
que ainda existem obstáculos à universalização desses
serviços. No caso de Cariacica, existem pelo menos 15
comunidades rurais sem telefonia, a mesma situação de
Vila Velha. Comparado a outros municípios, Cariacica
não está tão ruim assim, pois municípios importantes
como Serra, Linhares, Aracruz, Colatina e Cachoeiro de
Itapemirim, possuem um quantitativo mais expressivo
de comunidades rurais sem telefonia.
O Programa de Telecomunicações Rurais, denominado
“Voz no Campo”, de iniciativa do governo estadual, pro-
cura exatamente disponibilizar ao agricultor uma mo-
derna rede de telecomunicações, com transmissão de
voz e de dados e, se possível, de acesso à Internet.
No período de 2003/2006, foram beneficiados pelo Pro-
grama 165 comunidades rurais e 71 municípios, com
investimentos da ordem de R$ 21.355.091,00, benefi-
ciando aproximadamente 100.000 pessoas no meio ru-
ral. A meta do programa é que 100% das comunidades
rurais do estado tenham serviços de telefonia até 2025.
Em Cariacica, as comunidades de Boa Vista, Munguba,
Roda D’água e Taquarussu foram atendidas, benefician-
do, de acordo com a Secretaria de Estado da Agricultu-
ra, Aquicultura, Abastecimento e Pesca (Seag), 1.580
propriedades, com investimentos de R$ 526.191,07.
Fonte: Censo, IBGE (1991, 2000 e 2010).
3.4 :: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO :: ENERGIA
82
mental” nunca usaram computador;
• Quanto maior a renda, maior o acesso a computador;
• As regiões administrativas 4 (Campo Grande e ad-
jacências) e 6 (Jardim América e adjacências) apresen-
taram os maiores percentuais de pessoas com computa-
dor em casa.
Essas informações deixam claro que a população sem
acesso aos meio digitais em Cariacica é a de menor
escolaridade, menor poder aquisitivo e moradores das
regiões administrativas com menor infraestrutura de
tecnologia da informação e comunicação.
Quanto à Internet banda larga, a Oi informou que exis-
tem 16.000 portas em serviço em Cariacica, o que co-
bre praticamente toda a área urbana do município. Além
disso, são 142 escolas públicas (municipal, estadual e
federal) com computadores em Cariacica (ou 93,4%
das escolas públicas da cidade) e, dentre elas, 116 têm
acesso à internet (ou 76,3% das escolas públicas do
município). Quanto às escolas particulares, 81,3% de-
las possuem computador e cerca de 70% contam com
acesso à internet.
Um dado adicional importante deve ser levado em con-
ta: das 142 escolas públicas que afirmaram ter com-
putadores, 62 têm menos de três equipamentos e, das
48 instituições privadas, 21 afirmaram ter menos de três
unidades. Isso significa que 44% das escolas equi
padas com microcomputadores, muito provavelmente,
utilizam-nos apenas para serviços administrativos e não
para atividades de ensino, em decorrência da pequena
infraestrutura que possuem.
De acordo com a Anatel, no Espírito Santo, foram 1.168
escolas conectadas, sendo 18 federais, 388 estaduais
e 762 municipais. Em Cariacica, foram conectadas 126
escolas até setembro de 2010, sendo 1 federal, 47 es-
taduais e 79 municipais.
As páginas que se destacaram com conteúdo do mu-
nicípio, através do Google, maior e mais conhecida
ferramenta de busca na Internet, são as da Prefeitura
Municipal de Cariacica (PMC), da Câmara Municipal de
Cariacica (CMC) e da Câmara de Dirigentes Lojistas de
Cariacica (CDL-Cariacica).
O site da PMC (www.cariacica.es.gov.br) possui um
visual padrão, definido pelo Instituto de Tecnologia, In-
formação e Comunicação do Espírito Santo (Prodest),
com boa navegabilidade. O conteúdo é bem variado:
possui uma Agenda de Eventos, sobretudo ligado ao
poder municipal; informações socioeconômicas sobre o
município; informações e contatos sobre as Secretarias
Municipais; atos oficiais; concursos públicos; licitações;
legislação municipal; informações de utilidade pública
(feriados e pontos facultativos, Escolas Municipais, fei-
ras livres, horários de ônibus e Unidades de Saúde);
e serviços on-line. As notícias, diariamente postadas,
tornam-no atrativo para acessos constantes.
No que diz respeito aos serviços on-line, contabilizaram-
se 7 serviços de governo eletrônico disponíveis, listados
a seguir: Declarações de Arrecadação Municipal e Cer-
Fonte: IBICT (2007)
3.4 :: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO :: ENERGIA
83
tidões; Formulários; Imposto sobre Serviço (ISS) Web;
Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU); Alvará Web
- Autorização Provisória de Funcionamento; Consulta de
validade do Alvará Web; Recadastramento Mobiliário.
Esses serviços tornam a relação com a população, so-
bretudo com o contribuinte, mais rápida, confortável e
de baixo custo.
No Espírito Santo, existiam, em 2007, 468 telecentros
e 19 programas/projetos, sendo que Cariacica possui
6,6% desse total, conforme tabela abaixo, bem menor
que Vitória, Vila Velha e Serra.
A Infraestrutura de Energia em Cariacica
Dados do Balanço Energético Estadual apresentam algu-
mas características da oferta e da demanda de energia
elétrica no estado (em 2009). Segundo essa fonte, o
estado do Espírito Santo apresentava uma capacidade
ofertada de 3.502,5 MW (sendo 18,8% de geração no
estado, 60,8% de importação de Furnas e 20,4% dos
autoprodutores) e um consumo de 2.201,8 MW. Nota-
se, portanto, que a oferta excede a demanda em 59%,
embora a dependência da oferta de energia de Furnas
seja alta.
No caso de Cariacica, entre 2000 a 2009, o maior cresci-
mento do consumo foi para a categoria “comercial”:
72,6%, e, em seguida, o consumo “residencial”: 29,8%.
O consumo “industrial” mostra uma queda abrupta de
consumo de 2003 para 2004. A trajetória do consumo
residencial de energia elétrica reduz-se nos anos 2001
e 2002, por causa do racionamento de energia ocorrido
em 2001, com visível impacto no aprendizado da popu-
lação no sentido de maior racionalização do consumo
nas residências.
O consumo do setor comercial de energia elétrica, bem
como o respectivo número de unidades consumidoras,
apresentou um crescimento aproximadamente linear
crescente de 2001 a 2009. Na verdade, de 2002 a 2009,
o crescimento do consumo foi de 60,9%, demonstran-
do o vigor do comércio no município. No ano de 2009,
o consumo de energia elétrica do setor comercial foi
127% maior do que o do setor industrial.
Já o consumo industrial vem apresentando um compor-
tamento constante desde 2004, na média de 41 GWh.
Note-se a ocorrência de um valor abrupto no ano de
2004. Segundo a EDP-Escelsa, “a razão da queda de
consumo industrial de Cariacica em 2004 se deve à mi-
gração do maior cliente deste segmento (Arcelor Mittal)
para o mercado livre”.
Com relação ao consumo residencial de energia elétrica,
observa-se que, exceto pelo leve decaimento nos anos
2003, 2004 e 2006, houve uma inclusão crescente de
novas unidades consumidoras, mas uma aparente es-
tabilização em 2009. Relativamente a 2000, houve um
acréscimo de 26,4% no número de unidades residenci-
ais consumidoras de energia elétrica.
A utilização de energia elétrica, nas unidades das pre-
feituras, é intensiva em sistemas como o de iluminação
pública e o de saneamento, e, ainda, nos edifícios públi-
cos, como escolas, postos de saúde etc. Esses siste-
Fonte: Castiglione e Brasil (2010). “Outros” inclui: consumo próprio, poder público, iluminação pública, serviço público.
3.4 :: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO :: ENERGIA
84
mas, porém, raramente incorporam às suas instalações
equipamentos tecnicamente eficientes, as adminis-
trações municipais raramente utilizam ferramentas
para controlar os gastos com energia, e os usuários
dos equipamentos públicos dificilmente são envolvidos
em campanhas educativas de combate ao desperdício
(Kurahassi et alli, 2006).
Em termos relativos, o consumo do setor público, no
total de energia consumida em Cariacica, passou de
6%, em 2000, para 11%, em 2009. No período, o poder
público expandiu seu consumo em 93%; na iluminação
pública, o consumo foi reduzido em 0,03% e, na catego-
ria de serviço público, cresceu em 18,7%, o que signifi-
cou um acréscimo global do setor em 23,7%.
Segundo a EDP Escelsa, o Programa “Luz para Todos”
atingiu 100% de Cariacica. O programa previa fornecer
eletricidade, sem custo de instalação, para domicílios
com até 50 KW de potência, num sistema monofásico.
Para consumidores que precisam de potência superior
a 50 KW, basta solicitar a EDP Escelsa que a instalação
é feita, mas cobra-se pela instalação neste caso. Por
causa da construção da Rodovia Leste-Oeste, que ligará
Cariacica a Vila Velha, e dos novos consumidores que se
instalaram no entorno, a EDP Escelsa está estudando a
instalação de mais uma subestação na região até 2015.
Atualmente o município conta com 3 subestações de
grande porte: Alto Lage, Campo Grande e Ceasa. Re-
centemente, foi inaugurada uma grande subestação em
Viana para atender a toda Grande Vitória.
No total, existe a expectativa de três investimentos em
geração de energia em Cariacica, somando 473,1 MW.
Dado que o município não possui até então nenhuma
usina geradora de energia, tais investimentos são um
grande avanço, contudo investimentos em transmissão
precisam ser realizados, pois atualmente existem rela-
tos de dificuldades da Escelsa para atender empreendi-
mentos no município, mesmo que sejam de pequeno
porte.
No caso do uso de gás natural, segundo a Empresa BR
Distribuidora, os bairros de Cariacica não possuem in-
fraestrutura para ampliação da pronta ligação de clientes
residenciais ou comerciais. A empresa possui apenas
uma linha de gasoduto de gás natural para empresas
comerciais e industriais no município de Cariacica. O
gasoduto da BR é derivado do gasoduto de transporte
da TRANSPETRO e parte da estação de gás localizada na
CEASA, segue pela rodovia BR 262 e termina no municí-
pio de Vila Velha. Nesse trecho, alimenta os seguintes
clientes: Posto Chegada, Posto Cadilac, Posto Zambon,
Posto Oasis, Posto Jardim América, Recauchutadora Co-
latinense, Arcelor Mittal Cariacica e Solesa. O gasoduto,
embora atravesse os bairros Vila Capixaba, Santa Cecí-
lia, Rio Branco, Vera Cruz, Alto Lage e Vasco da Gama,
está instalado ao longo da BR-262, não havendo malhas
de rede de gás pelas ruas dos bairros em que passa.
As empresas Rio de Janeiro Refrescos e Posto Contor-
no estão situadas na Rodovia do Contorno, porém são
clientes derivados do gasoduto da TRANSPETRO, com
estações de redução de pressão individuais, portanto o
que está implantado de gasoduto em C ariacica não
atende à população para uso doméstico.
Análise do cenário municipal
O cenário previsto para os próximos anos no município
de Cariacica varia de favorável a inercial. O cenário mais
favorável aponta que a oferta de energia elétrica e gás
estará assegurada em Cariacica, garantindo aos inves-
tidores maior segurança em longo prazo e conforto aos
moradores do município.
A eficiência energética e a reutilização de recursos hídri-
cos passam a ser consideradas fundamentais nos proje-
tos arquitetônicos e na concepção tecnológica das plan-
tas industriais implantadas e as já existentes.
3.4 :: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO :: ENERGIA
85
A BR Distribuidora expande a rede de gás natural ca-
nalizado em Cariacica, e os poderes municipais estimu-
lam a avaliação do uso do gás no transporte coletivo.
Dessa forma, pequenos consumidores energointensivos,
como padarias, são estimulados a utilizar essa alterna-
tiva energética em seus empreendimentos, reduzindo a
queima de carvão ainda utilizada em alguns segmentos.
O município elabora um sistema de indicadores que
permitem estabelecer um planejamento e um efetivo
acompanhamento da universalização da energia elétrica
no município. Todos os bairros serão atendidos com ilu-
minação pública. Canais de diálogo são estabelecidos
com a Aneel, Escelsa e BR Distribuidora, para que as
necessidades do município sejam atendidas.
A prefeitura elabora um Plano Diretor de Energia Elé-
trica, permitindo uso mais eficiente e economia de re-
cursos.
O possível cenário inercial aponta que a oferta de ener-
gia elétrica e gás não estará totalmente assegurada em
Cariacica, trazendo insegurança ao desenvolvimento do
município.
A eficiência energética e a reutilização de recursos hídri-
cos não são consideradas fundamentais nos projetos
arquitetônicos e na concepção tecnológica das plantas
industriais implantadas e as já existentes, gerando des-
perdícios.
A BR Distribuidora não expande a rede de gás natural
canalizado em Cariacica, aumentando a dependência da
eletricidade e expandindo o uso de processos de queima
mais poluidores.
O município não elabora um sistema de indicadores que
permitem estabelecer um planejamento e um efetivo
3.4 :: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO :: ENERGIA
acompanhamento da universalização da energia elétri-
ca no município. Bairros ficam sem iluminação pública.
Canais de diálogo não são estabelecidos com a Aneel,
Escelsa e BR Distribuidora, limitando o atendimento das
necessidades do município.
A prefeitura não elabora um Plano Diretor de Energia
Elétrica, prevalecendo o desperdício de energia e de re-
cursos.
88
MEIO AMBIENTEhUMANIzAÇÃO DA CIDADE SANEAMENTO
3.5
Ao se discutir a agenda ambiental, não se pode ex-
cluir o papel dos governos locais, principalmente em se
tratando de um município que conserva boa parte das
regiões de interesse ecológico da Região Metropolitana
de Vitória, no entanto toda essa representatividade não
elimina os problemas com relação à coleta e tratamento
de esgotos e existência e conservação de praças e jar-
dins.
O processo de produção do espaço em Cariacica criou
uma série de contradições que se manifestam por in-
termédio de um violento processo de degradação so-
cioambiental. Nascentes foram e continuam sendo ate-
rradas; rios são receptores de esgoto e perderam boa
parte da mata ciliar; os serviços de saneamento básico
ainda são bastante incompletos, uma vez que a maior
parte do esgoto é lançada na natureza sem nenhum tipo
de tratamento; manguezais ainda recebem esgoto in
natura, bem como são locais de depósito de lixo e sof-
rem pressão para serem aterrados e ocupados; os bair-
ros têm ruas estreitas, pouco arborizadas, sem espaços
para construção de calçadas, bem como dispõem de um
número reduzido de praças públicas.
Patrimônio ambiental
Cariacica dispõe de um patrimônio natural, cuja dimen-
são confere, ao município, relevância expressiva no con-
texto da Grande Vitória. Existem várias nascentes que
formam ou contribuem para a formação de rios como:
Jucu, Santa Maria da Vitória, Formate, Bubu, Itanguá,
Marinho e Duas Bocas, alguns deles, inclusive, são
usados para abastecimento humano. Há também uma
área importante de manguezal que faz parte de duas
Unidades de Conservação (Parque Natural Municipal do
Manguezal de Itanguá e Reserva de Desenvolvimento
Sustentável Municipal do Manguezal de Cariacica). Além
disso, estão localizados, no município, a maior unidade
de conservação no contexto metropolitano, a Reserva
Biológica Estadual de Duas Bocas, o Parque Natural Mu-
nicipal (PNM) do Monte Mochuara e a Área de Proteção
Ambiental (APA) Municipal do Monte Mochuara.
A Reserva Biológica Estadual de Duas Bocas, criada,
como reserva florestal, em 1965 e, como unidade de
conservação, em 1991, foi instituída para, também,
preservar os rios usados para abastecimento de água
para Cariacica. Ocupa 2910 hectares, onde existe uma
Mapa 1: Unidades de Conservação de Cariacica
89
barragem que é usada para abastecer o município. É
uma unidade de conservação consolidada, o que pode
ser confirmado pela situação fundiária totalmente regu-
larizada; pelos limites cercados e bem definidos; pela
existência de plano de manejo; pela equipe técnica
permanente, formada por guardas ambientais para a
fiscalização, técnicos ambientais e administrativos, in-
cluindo o administrador da UC; pela infraestrutura ad-
equada (centro de visitante com auditório e trilha) para
visitação com fins educacionais.
O Parque Natural Municipal do Monte Mochuara e a Área
de Proteção Ambiental Municipal do Monte Mochuara
totalizam 3.054,42 hectares, espaço criado em 2007,
como uma UC de proteção integral, de domínio público,
cujo objetivo é a preservação dos recursos naturais, a
realização de pesquisa científica e o desenvolvimento
de atividades de educação ambiental, de recreação em
contato com a natureza e de turismo ecológico. Atual-
mente, o PNM e APA Mochuara encontram-se com Pla-
nos de Manejo em desenvolvimento, utilizando-se do
recurso de Compensação Ambiental provenientes prin-
cipalmente da empresa Vale do Rio Doce.
Foi assinado, ainda, Termo de Compromisso de Com-
pensação Ambiental, celebrado entre a INFRAERO e o
Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos
– IEMA -, que distribui verbas entre os municípios de
Vitória, Serra e Cariacica. O recurso destinado a Car-
iacica será aplicado no PNM do Manguezal de Itanguá,
com previsão de financiar o cercamento parcial da área
da UC e a elaboração do plano de manejo.
As unidades de conservação: Reserva Estadual Biológica
de Duas Bocas e Parque Municipal Natural e Área de
Proteção Ambiental Municipal do Monte do Mochuara,
associadas aos remanescentes de Mata Atlântica no mu-
nicípio, constituem o corredor ecológico, denominado
Duas Bocas - Mestre Álvaro, que interliga essa parte
do território de Cariacica à Área de Proteção Ambiental
do Mestre Álvaro, no município de Serra, abrangendo
uma área total de aproximadamente 36.900 hectares,
constituindo-se um dos Dez Corredores Ecológicos Pri-
oritários do estado do Espírito Santo para Conservação
da Diversidade Biológica.
Além disso, parte da zona rural está localizada em uma
região de serras, com altitudes que atingem até 800 m,
com declividades acentuadas que, de certa forma, im-
puseram alguns limites para a ocupação e contribuíram
para a preservação do patrimônio ambiental de Mata
Atlântica. Cerca de 30,56% do território encontram-se
ocupados por remanescentes de Mata Atlântica e ecos-
sistemas associados, no caso os manguezais.
Verifica-se a formação de três unidades de relevo no
município: a) Serra da Mantiqueira/Caparaó que faz
parte da região geomorfológica do Sudeste Sul, inserida
no domínio morfoestrutural Cinturões Móveis Neopro-
terozóicos b) Tabuleiros Costeiros, que fazem parte da
região geomorfológica Costeira, inserida no domínio
morfoestrutural das Bacias e Coberturas Sedimentares
Farenozóicas (Brasil, 2006); e c) as Planícies Costeiras
e Flúvio-Marinhas das Unidades Quaternárias (PDM,
2007).
Mapa 2 : Corredor Ecológico Duas Bocas - Mes-
3.5 :: MEIO AMBIENTE hUMANIzAÇÃO DA CIDADE :: SANEAMENTO
90
Praças e jardins
O processo de ocupação da cidade, fortemente marcado
pela formação de loteamentos clandestinos e ocupações
irregulares, ocasionou a escassez de espaços públicos
que ofereçam condições adequadas de uso pelo cidadão.
Um levantamento municipal identificou somente 38
praças em uma cidade formada por 100 bairros e uma
população de 348.738 habitantes.
Verifica-se, no entanto, um esforço da gestão municipal,
para dotar a cidade desses equipamentos públicos. De
2005 a 2010, foram construídas nove praças e refor-
madas seis, totalizando quinze unidades, ação essa que
condiz com o PDM, instrumento de gestão que tem,
como uma de suas diretrizes, a garantia da implantação
de áreas verdes, de convívio e lazer para a comunidade.
Além das praças, a gestão municipal vem realizando in-
tervenções paisagísticas no espaço urbano, com o in-
tuito de melhorar a estética da cidade.
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente – SEMMAM –
dispõe de um técnico em paisagismo, responsável pela
concepção e elaboração dos projetos arquitetônicos e
paisagísticos, e de um viveiro de mudas que subsidia a
manutenção e implantação do paisagismo no município.
Quase a metade das praças apresenta estado de con-
servação que compromete o seu uso. Isso se deve ao
vandalismo, que inclui o roubo de mudas, a utilização
das praças como depósito de resíduos sólidos, a destru-
ição dos objetos e equipamentos instalados, mas, tam-
bém, deve-se à manutenção precária das praças. Desde
setembro de 2009, a SEMMAM não dispõe de técnicos
para realizar os serviços de manutenção, com exceção
da área ajardinada da BR262 que dispõe de 13 jardi-
neiros terceirizados. Atualmente, alguns garis estão
fazendo a limpeza dos canteiros, mas a frequência é
insuficiente.
Sobre áreas verdes, o município criou duas, por meio
de decretos, localizadas no perímetro urbano: o Parque
municipal de Santa Bárbara e da Nascente de Santa
Bárbara, localizado no bairro de mesmo nome, e a Área
de Preservação Permanente da Biquinha, localizada no
bairro Jardim América. Essas áreas verdes e outras,
como FESBEM, Braspérola, Parque Municipal Cravo e a
Rosa, Espelho D’ Água, Vale Esperança, Morro da Com-
panhia e Parque Porto das Pedras, são identificadas e
classificadas pelo PDM como parques urbanos.
Alguns parques urbanos estão localizados em proprie-
dades particulares, o que demanda desapropriação e
indenização dos proprietários dessas áreas, e não dis-
põem de nenhuma infraestrutura, portanto não ofe-
recem condições de uso como parques urbanos.
Saneamento Básico
A rede hídrica que atravessa o município é responsável
pelo abastecimento de grande parte da população da
Grande Vitória. Em Cariacica, o rio Jucu, somente, é
responsável por 80% da oferta de água; o Santa Ma-
ria da Vitória por 12%; e Duas Bocas por 7% (ANA,
2010). Essa oferta de água, até 2015, é considerada,
pela Agência Nacional de Águas, “satisfatória”, que é a
melhor classificação usada para avaliar a disponibilidade
da oferta desse recurso natural (ANA, 2010).
O serviço de abastecimento de água não se estende
à zona rural. Somente a população urbana é atendida
pelo serviço, que se tornou universal desde 2008 (SNIS,
2008). Uma conquista importante, pois, até os primei-
ros anos do século atual, aproximadamente 10% da
população urbana não dispunha desse serviço básico e
fundamental.
Diferentemente do abastecimento de água, o percentual
de cobertura de esgoto coletado e tratado é muito baixo,
constituindo-se no principal problema ambiental de Ca-
riacica. Problema muito evidente, ao se observar que
vários rios que cortam a cidade são contaminados por
esgoto em natura e deságuam nos manguezais, nos rios
e na Baía de Vitória, sem nenhum tipo de tratamento.
As consequências da ausência do serviço em questão,
como contaminação do ar, da água, dos manguezais e
dos solos, além de degradarem os recursos naturais,
manifestam-se na qualidade de vida de parte consid-
erável da população, cuja saúde e bem-estar são afe-
tados.
Os dados disponíveis apontam uma baixa cobertura
dos serviços de esgoto, sobretudo no âmbito da Grande
Vitória, onde se verifica que Cariacica apresenta o
menor percentual de esgoto tratado e o segundo menor
índice de atendimento urbano de esgoto.
Diante da precariedade do serviço de esgotamento sani-
tário em Cariacica, os investimentos em esgotamento
sanitário têm sido ampliados. Para exemplificar, em
relação à extensão da rede coletora de esgoto, essa
rede foi ampliada de 45 km para 246,8 km, entre 2003
e 2008 (SNIS, 2008 e CESAN, 2010), e, aproximada-
mente, mais 80 km foram executados até 2011 (CE-
SAN).
O valor investido em esgotamento sanitário, entre 2003
e 2009, foi de R$31.080.358,00, e estão em execução
obras que totalizam R$23.195.311,00. Esses recursos
foram investidos em obras de construção de rede de es-
goto, de estações elevatórias, de emissários, de reator
UASB, de interligação de rede e de ligações domiciliares.
As fontes de recursos são próprias, do Orçamento Geral
da União, da FUNASA e da CAIXA.
Atualmente, Cariacica conta com sete sistemas de coleta
de esgoto: Mocambo (Ferreira Borges), Flexal, Campo
Verde, Nova Rosa da Penha, Bandeirantes, Padre Gabriel
e Jardim Botânico e 13 estações elevatórias.
É evidente então a necessidade de mais investimento
3.5 :: MEIO AMBIENTE hUMANIzAÇÃO DA CIDADE :: SANEAMENTO
91
para adequações e ampliação da rede de esgoto no mu-
nicípio e, para isso, está em fase de elaboração o Plano
Municipal de Saneamento Básico que segue as diretrizes
nacionais.
Limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos
Os serviços de coleta, transporte (incluindo os veícu-
los e equipamentos), pesagem, transbordo e destinação
final dos resíduos sólidos urbanos (RSU) são terceiri-
zados. A Marca Ambiental, empresa responsável pela
prestação do serviço, utiliza caminhões equipados com
coletor compactador, caminhão com poliguincho, veículo
com depósito hermeticamente fechado para resíduos de
saúde e um efetivo de 117 profissionais. Os resíduos
sólidos são depositados no aterro sanitário da empresa,
localizado em Cariacica, que está devidamente licencia-
do e atende às particularidades dos resíduos domésticos
e de saúde (Plano, 2009).
Além dos resíduos de Cariacica, o aterro sanitário da
empresa recebe os de mais 10 municípios do estado.
Mantido o volume atual de produção de resíduos, o ater-
ro tem capacidade para continuar operando por aproxi-
madamente mais 20 anos.
É oportuno salientar que o município não faz coleta se-
letiva, a alternativa ideal para a destinação final dos re-
síduos sólidos. Os serviços de coleta de resíduos sólidos
urbanos atendem a 93,25 % da população urbana e são
recolhidas, aproximadamente, 270 toneladas de lixo por
dia (Cariacica em Dados, 2011).
A empresa contratada também coleta os resíduos de
saúde, cuja frequência varia de diária a semanal, ou de
acordo com a necessidade do estabelecimento (Plano,
2009). A cobertura do serviço ainda não é universali-
zada, devido à existência de alguns bairros com sistema
viário bastante precário, o que inviabiliza a chegada e a
circulação do veículo coletor de resíduos sólidos. Nesses
casos, não ocorre a coleta.
A frequência da coleta dos resíduos sólidos é espacial-
mente variável. A coleta diária, com exceção dos domin-
gos, atende somente a 30% da população e ocorre nas
vias principais dos bairros que concentram atividades
comerciais e de serviços e, consequentemente, reúnem
naior parcela da população, como: Campo Grande, Bela
Aurora, Jardim América, Itacibá, entre outros. Essa
frequência é ideal, mas é mais dispendiosa para o mu-
nicípio. O restante da população (com exceção dos 2%
que têm frequência semanal), que equivale a mais de
2/3, é atendido três vezes por semana. Essa frequên-
cia significa o atendimento do mínimo admissível sob
o ponto de vista sanitário, para países de clima tropical
(IBAMA, s.d).
Em alguns dos bairros que são atendidos pelo serviço,
devido a problemas do sistema viário, o caminhão cole-
tor não passa em todas as ruas. Nesse caso, o morador
deposita os resíduos sólidos na via mais próxima de sua
residência onde ocorre a coleta. Essa característica do
serviço contribui para a formação dos pontos viciados
de lixo, uma prática comum e recorrente observada no
município.
Nesse contexto de cobertura e de diferenças espaciais do
serviço de coleta dos resíduos sólidos, o município ainda
não atende à Lei de Diretrizes Nacionais de Saneamento
Básico (Lei nº 11.145/2007), que assegura, como um
dos princípios fundamentais, a universalização do aces-
so e, como uma das diretrizes, a equidade territorial.
Por sua vez, mesmo que grande parte da população não
tenha coleta diária de resíduos sólidos e que o veículo
coletor e os garis não passem em todas as ruas, essa
condição não justifica a formação de pontos de acúmulo
de resíduos. A formação de pontos viciados de resíduos
espalhados pela cidade é comum, tornando terrenos
baldios, praças públicas, calçadas, manguezais, entre
outros espaços, locais de depósito de resíduos domésti-
cos, de restos da construção civil, de galhos resultantes
3.5 :: MEIO AMBIENTE hUMANIzAÇÃO DA CIDADE :: SANEAMENTO
92
da poda de árvores e de outros objetos inservíveis.
Qualidade do ar
O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA –
estabelece, por meio da Resolução nº. 03 de 1990,
padrões de qualidade do ar. Esses padrões indicam as
concentrações de poluentes da atmosfera que, quando
ultrapassadas, podem afetar a saúde e o bem-estar da
população, bem como causar danos à flora e à fauna,
aos materiais e ao meio ambiente em geral. A Resolução
estabelece dois padrões de qualidade do ar: 1) Padrões
Primários – quando ultrapassados podem afetar a saúde
da população e 2) Padrões Secundários – são concen-
trações de poluentes abaixo das quais os danos à saúde,
aos materiais e ao meio ambiente são mínimos.
De acordo com os indicadores da Rede Automática de
Monitoramento da Qualidade do Ar na Região da Grande
Vitória, estação 08 (RAMQAR 8), instalada na CEASA, a
qualidade do ar de Cariacica é adequada para os padrões
de concentração de poluentes estabelecidos pelo CONA-
MA. Todos os indicadores de concentração de poluentes
são classificados como bons, apenas o O3 é classificado
como regular, no entanto um aspecto desperta atenção:
os indicadores da estação em questão são os piores da
rede de monitoramento do ar, com exceção para a con-
centração de SO2, cujos indicadores são os melhores. A
explicação para as maiores concentrações de poluentes
está relacionada à: a) proximidade de RAMQAR 8 do
contorno da BR 101, onde o fluxo de veículos é extre-
mamente intenso e com predominância dos movidos à
diesel, justamente os mais poluentes; b) localização da
RAMQAR8 dentro dos limites da CEASA, onde a movi-
mentação de veículos também é intensa. Ressalta-se
que, pela característica da CEASA, um centro de abas-
tecimento de produtos agrícolas, há uma convergência
de veículos a diesel que se movimentam no pátio, ora
estacionando, ora dando partida e, consequentemente,
emitem mais poluição e elevam a concentração de pol-
uentes no local.
Recursos Hídricos
Atualmente, existem doze unidades administrativas de
recursos hídricos no estado do Espírito Santo. Cariacica
está inserida em duas dessas unidades, formadas pelas
bacias hidrográficas dos rios Santa Maria da Vitória e
Jucu. A bacia do rio Santa Maria da Vitória, localizada
na porção norte, ocupa 70% do território do município
e tem como rios principais o Santa Maria da Vitória, o
Duas Bocas, o Bubu e Itanguá. A bacia hidrográfica do
rio Jucu, localizada na porção sul, ocupa 30% e tem
como rios principais o Formate e o Marinho. No municí-
pio, essas duas bacias formam uma ampla rede hidro-
gráfica, constituída predominantemente por pequenos
córregos e inúmeras nascentes.
Ambas as bacias hidrográficas possuem comitês de
gestão, conforme estabelecido pela Política Nacional de
Recursos Hídricos. O rio Santa Maria da Vitória nasce no
distrito de Garrafão, em Santa Maria de Jetibá, e deságua
na baía de Vitória. Da nascente à foz o rio, possui 122
km de extensão e atravessa uma região caracterizada
pelo desmatamento da mata ciliar (Área de Preservação
Permanente), assoreamento, uso indiscriminado de de-
fensivos agrícolas, lançamento de efluentes domésticos
e industriais sem tratamento, entre outros fatores que
afetam a qualidade da água (IEMA, 2010).
Mapa 3 : Hidrografia do Município de
3.5 :: MEIO AMBIENTE hUMANIzAÇÃO DA CIDADE :: SANEAMENTO
93
Diferentemente, o rio Duas Bocas, um dos afluentes do
rio Santa Maria da Vitória, encontra-se, em quase toda
sua extensão (80%), localizado na Reserva Biológica
de Duas Bocas, onde também está localizada sua nas-
cente, a aproximadamente 700 m de altitude (Plano Di-
retor Municipal, 2006). Com essa localização, o rio Duas
Bocas é um manancial bastante preservado, com suas
margens protegidas pela mata ciliar (o que reduz sig-
nificativamente o volume de materiais carreados para
o leito do rio) e praticamente sem lançamento de eflu-
entes industriais e domésticos.
Localizado integralmente no município de Cariacica, o
rio Bubu forma bacia hidrográfica que faz parte da uni-
dade administrativa de recursos hídricos da Bacia do rio
Santa Maria da Vitória. Nasce na Reserva Biológica Es-
tadual de Duas Bocas, a 600m de altitude, e deságua na
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Municipal do
Manguezal de Cariacica, na Baía de Vitória, após percor-
rer um curso de 18 km de extensão.
Consideravelmente estreito na maior parte do seu cur-
so, esse rio alarga-se sobremaneira quando se aproxima
da foz. Próximo às nascentes, as atividades econômi-
cas desenvolvidas são agropecuárias. No trecho inferior
do rio, o que predomina são ocupações urbanas, com
bairros densamente povoados e algumas atividades in-
dustriais, como frigorífico. Como consequência da forma
como está ocupada a região, verifica-se que, da nas-
cente à foz, gradativamente, a qualidade das águas vai
piorando.
O rio Itanguá, com apenas 5 km de extensão, forma
uma pequena bacia hidrográfica litorânea, que nasce a
200m de altitude em Campo Grande e deságua na Baía
de Vitória no bairro Itaquari. Da mesma forma que o
Bubu, essa pequena bacia faz parte da unidade admin-
istrativa de recursos hídricos da Bacia do rio Santa Maria
da Vitória. Totalmente localizado no perímetro urbano,
o rio Itanguá não tem mata ciliar, as margens são den-
samente ocupadas pelas atividades humanas e recebe
esgoto doméstico em quase todo o seu trecho, o que
lhe confere, juntamente com o rio Marinho, os maiores
níveis de poluição da água do município. Como conse-
quência, o rio Itanguá foi transformado em um canal
de esgoto sanitário e provoca alagamentos, quando da
ocorrência de chuvas mais fortes. Para solucionar os
problemas em questão o rio Itanguá tem recebido obras
de canalização e revestimento, executadas pela CESAN,
que totalizam, aproximadamente, R$10.000.000,00 de
investimentos (CESAN, 2010).
O rio Formate-Marinho possui, aproximadamente, 40
km de extensão e forma uma bacia hidrográfica que
pertence à unidade administrativa de recursos hídricos
da bacia do rio Jucu. Ex-afluente do rio Jucu, o rio For-
mate, após as obras realizadas pelo extinto Departa-
mento Nacional de Obras e Saneamento – DNOS, pas-
sou a desaguar no rio Marinho, que deságua na Baía
de Vitória. A área onde ocorreu a retificação do canal
é plana e apresenta baixas altitudes que interferem na
drenagem e, por essa razão, é bastante vulnerável a al-
agamentos, quando da ocorrência de chuvas mais inten-
sas. Limite entre Cariacica e Viana, o rio Formate nasce
no maciço de Duas Bocas, a 600m de altitude. Na altura
da localidade de Caçaroca, o rio Formate une-se ao rio
Marinho (Cariacica e Vila Velha). Da nascente à foz, o
rio Formate percorre áreas com características bastante
variadas. Nas cabeceiras, o rio percorre áreas cober-
tas por vegetação; no médio curso, áreas agrícolas; e,
no baixo curso, áreas densamente urbanizadas. Dessa
forma, grande parte da mata ciliar foi desmatada, bem
como se verifica uso agrícola e urbano nas margens.
São rios urbanos, com qualidade da água bastante dete-
riorada, devido ao lançamento de efluentes domésticos
e industriais in natura, cujo quadro se agrava como con-
sequência do represamento de suas águas pela maré.
3.5 :: MEIO AMBIENTE hUMANIzAÇÃO DA CIDADE :: SANEAMENTO
94
Em Cariacica, verifica-se a existência de uma extensa
rede de drenagem formada por muitas nascentes, loca-
lizadas, sobretudo, na zona rural. As nascentes que so-
freram o maior impacto ambiental são as localizadas no
perímetro urbano. Nesse território, as nascentes foram
desmatadas e aterradas para ocupação humana, de for-
ma que nascentes preservadas em conformidade com a
legislação pertinente são raras e se limitam às que se
localizam nos poucos parques urbanos existentes.
Grande parte das nascentes preservadas está localizada
na zona rural, sobretudo nas unidades de conservação.
Conforme abordado, na zona rural, o percentual de Mata
Atlântica preservado é expressivo e esse fator é con-
dição fundamental para a preservação das nascentes.
É importante ressaltar que o ônus da preservação das
nascentes localizadas nas zonas rurais recai sobre o a-
gricultor. Promover o desenvolvimento rural sustentá-
vel, por meio das políticas agrícolas específicas para
essa modalidade, é uma forma de contribuir direta-
mente para a preservação dos recursos naturais, dos
quais as nascentes são parte integrante.
Educação Ambiental
A promoção da educação ambiental, em sua perspectiva
conceitual e legal, consiste em um processo contínuo,
permanente e articulado com todos os níveis e mo-
dalidades do processo educativo, tanto dentro, quanto
fora da escola. Uma inovação posta pela PNEA, que não
atribui somente às instituições de educação o compro-
misso de atuar com ações relacionadas às questões so-
cioambientais, mas inclui o poder público, os meios de
comunicação, as empresas, as entidades de classe, as
instituições privadas e a sociedade.
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente desenvolve
dois projetos socioambientais e uma feira ambiental. O
projeto “Povos e Mangues” tem o objetivo de contribuir
para a preservação e a gestão dos manguezais de Ca-
riacica, por meio da formação continuada de educadores
das instituições municipais de ensino e do fortalecimen-
to das associações de pescadores artesanais residentes
no município.
O projeto é desenvolvido pela SEMMAM, em parceria
com a Secretaria Municipal de Educação (SEME), por
meio do Projeto Sala Verde, e com o Instituto Bioma-
Brasil, organização não-governamental que capacitou
71 educadores do município por meio de dois cursos,
com carga horária total de 36h e mais 40h de proje-
tos desenvolvidos na escola. Essas capacitações contam
com uma ferramenta: o guia didático “Os maravilho-
sos manguezais do Brasil”. Os profissionais capacita-
dos são multiplicadores do conhecimento adquirido nas
qualificações. As secretarias municipais de agricultura
(SEMAG), de desenvolvimento econômico e turismo
(SEMDETUR), de ação social (SEMAS) também são par-
ceiras desse projeto. Atualmente, 79 profissionais estão
desenvolvendo atividades propostas pelo guia didático,
envolvendo 19 escolas municipais e, aproximadamente,
dois mil alunos.
De forma interdisciplinar, a educação ambiental é tra-
balhada no dia-a-dia, a partir dos problemas ambien-
tais vivenciados pelos alunos, articulados aos conteúdos
curriculares das disciplinas. O aluno é instigado a refletir
sobre seus hábitos e, oportunamente, é preparado para
ser agente transformador da sua realidade.
Em relação ao fortalecimento das associações de pe-
scadores artesanais, foi elaborado um diagnóstico socio-
econômico que identificou três grupos de pescadores e
alternativas de melhoria de renda, a saber: Vila Cajueiro
(criação de ostra), Nova Rosa da Penha (criação de
peixe) e Porto de Santana (construção de galpão para
triagem, beneficiamento de mariscos e para guardar
embarcações). Fazem parte desse projeto, 150 pesca-
dores artesanais cadastrados, que usam o manguezal
do município, com destaque para a RDS dos Manguezais
de Cariacica.
Desenvolvido em parceria com órgãos públicos esta-
duais (SEAG e INCAPER) e federal (Ministério da Pesca),
o “Povos e Mangues” já foi contemplado com 21 barcos
3.5 :: MEIO AMBIENTE hUMANIzAÇÃO DA CIDADE :: SANEAMENTO
95
e um caminhão frigorífico, além do apoio técnico para a
condução do projeto.
O projeto “Cariacica Recicla”, também é sócioambiental,
trabalha com 70 catadores de material reciclado, que
sobreviviam da separação desses resíduos em um lixão
a céu aberto, localizado nas proximidades do bairro
Nova Rosa da Penha. O projeto inseriu os catadores em
programas de transferência de renda, implantou uma
unidade de triagem no bairro, gerou trabalho e renda,
retirou os catadores do lixão e contribuiu para a melho-
ria da qualidade de vida desses cidadãos. Além disso,
resíduos que iriam engrossar o volume dos aterros são
reciclados, o que reduz a agressão ao meio ambiente.
A Feira Ambiental de Cariacica, um evento anual que
já se encontra na quinta edição, objetiva conscientizar
o cidadão quanto ao respeito que deve ter com o meio
ambiente, a fim de que essa atitude contribua para me-
lhorar a qualidade de vida da população. O evento é co-
ordenado pela SEMMAM e conta com o apoio de diversas
secretarias municipais (Saúde, Educação, Comunicação,
Desenvolvimento Econômico e Turismo e Agricultura),
do estado por meio do Detran, IEMA, Banestes, Cesan,
além da Prefeitura Municipal de Vitória. A iniciativa pri-
vada também é parceira do evento que contou com a
participação da Corpus Saneamento e Obras, da Marca
Ambiental, da Vale e da Faesa. Na última edição da fei-
ra, participaram 30 expositores, representando empre-
sas privadas, instituições públicas e o terceiro setor. A
participação de ONG’s e redes de economia solidária,
sobretudo as localizadas no município e que utilizem
práticas sustentáveis, foi priorizada. O evento contou
também com uma extensa programação técnica e cul-
tural. Aproximadamente 50 mil pessoas visitaram a
feira.
Gestão Ambiental Municipal
As principais legislações municipais que abordam as
questões ambientais são: a) Lei Orgânica Municipal,
promulgada em 1990, que estabelece o capítulo de
número V exclusivamente para o meio ambiente; b)
Lei Complementar 005/2002 que institui o Sistema Mu-
nicipal de Meio Ambiente, o Código Municipal de Meio
Ambiente e o Conselho Municipal de Meio Ambiente; c)
o Decreto 177/2002, que regulamenta as normas ge-
rais do licenciamento ambiental das atividades poten-
cial ou efetivamente, poluidoras e d) Lei Complemen-
tar 018/2007, que institui o Plano Diretor Municipal de
Cariacica. Nessa perspectiva legal, o município possui
o sistema municipal de meio ambiente composto pela
SEMMAM, pelo Conselho Meio Ambiente de Cariacica
– CONSEMAC, por ONGs, pelas secretarias municipais
afins e por grupos de fiscais voluntários, bem como pelo
fundo municipal de conservação ambiental, que, apesar
de ter sido criado, encontra-se inativo.
O município implantou, no início de 2012, pela Reso-
lução CONSEMA 001/2012, o licenciamento ambiental
das atividades de impacto local, conferido pela Se-
cretaria Municipal de Meio Ambiente. O requerimento
das licenças ambientais é feito de forma on-line, o que
proporciona uma agilidade aos processos.
O município também participa da gestão estadual, por
exemplo, como membro de comitês de bacia e acom-
panha as discussões do Conselho Metropolitano de De-
senvolvimento da Grande Vitória, que vem realizando
vários estudos, entre eles, o Plano Diretor de Resíduos
Sólidos. Além do IEMA, outros órgãos estaduais como
o INCAPER, a SEAG e o IDAF, Polícia Ambiental, bem
como o Ministério da Pesca, órgão federal, são parceiros
na gestão ambiental municipal, oportunamente desen-
volvida de forma integrada e participativa, alcançando
por sua vez melhores resultados.
Conclusão
É preciso pensar o Meio Ambiente e considerar seu
caráter de transversalidade, para que o município
possa alcançar avanços significativos em qualidade de
vida nos próximos anos, frente ao desenvolvimento da
Região Metropolitana de Vitória. O processo de ocu-
3.5 :: MEIO AMBIENTE hUMANIzAÇÃO DA CIDADE :: SANEAMENTO
96
pação espacial, abastecimento de água potável, con-
dições de saúde, coleta e tratamento de esgoto, coleta
de resíduos, educação, consumo sustentável, geração
de renda, lazer, qualidade da paisagem, moradia, mo-
bilidade urbana, emissão de gases, participação social,
gestão pública, legislação, fiscalização, são variáveis
que constituem um mosaico com peças interdepe-
nentes. As combinações entre esses aspectos podem
ser infinitas, porém nenhum aspecto pode ser segre-
gado, a fim de se obter sustentabilidade e aumento da
qualidade ambiental.
O cenário diagnosticado pela população cariaciquense
em seu percurso cotidiano, principalmente nas perif-
erias do município, denuncia um reduzido grau de in-
vestimento em infraestrutura, com locais de precarie-
dade habitacional, exclusão social, poucos espaços de
expressão cultural e de lazer, que denota uma paisagem
deteriorada, em que a valorização ambiental está em
segundo plano.
Nos últimos anos tem-se verificado um esforço que
apresenta resultados interessantes, constatado na im-
plantação de projetos de regularização fundiária no
3.5 :: MEIO AMBIENTE hUMANIzAÇÃO DA CIDADE :: SANEAMENTO
município, reorganização das divisões administrativas,
criação de UC´s e elaboração de planos de manejo das
UC´s existente, implantação de projetos de drenagem e
pavimentação e saneamento, assim como consolidação
de um sistema municipal de gestão ambiental.
O município desenvolve ainda alguns projetos interdis-
ciplinares que envolvem processos educacionais de ex-
trema importância para mudança comportamental, em
que o aluno e os multiplicadores em formação são insti-
gados a refletir sobre seus hábitos e, oportunamente,
são preparados para serem agentes transformadores da
realidade. Essas ações encaminham o município para
melhoria da qualidade de vida das populações, rever-
tendo-se em melhoria dos indicadores de saúde e va-
lorização do sustentável como gerador de renda, além
de promover valorização e ressignificação de ambientes
tidos como de menor valor e sinônimos de sujeira, a
exemplo dos Manguezais.
Essas são medidas que, aliadas a instrumentos de orde-
namento urbano, redirecionam os vetores de expansão
urbana e criam regras para o uso do solo com fins indus-
triais, valorizando o espaço territorial municipal em sua
totalidade e diversidade, enfraquecendo e eliminando
os estigmas estabelecidos sobre algumas regiões da ci-
dade. Ainda é preciso avançar em alguns pontos impor-
tantes: a valorização de meios de mobilidade urbana
mais saudáveis, como ciclovias; o maior envolvimento
das empresas locais com questões ambientais; a cri-
ação de um sistema de informações ambientais efetivo,
que registre desde pequenas a grandes ações benéficas
ou prejudiciais à harmonia ambiental; e a promoção de
uma integração do ideário ecológico às necessidades
de desenvolvimento e à velocidade tecnológica, que
se apresenta com uma aliada na recuperação de áre-
as e disseminação de propostas viáveis e inovadoras a
caminho da sustentabilidade.
100
TURISMO
3.6
O município de Cariacica possui um grande potencial tu-
rístico traduzido pelas belezas naturais e também pelo
crescimento no setor de negócios. Essa atividade está
intimamente ligada a um novo cenário proposto, prin-
cipalmente, pelas perspectivas de crescimento socioec-
onômico, tanto em níveis estaduais, quanto em níveis
regionais e municipais.
As principais estratégias para o crescimento desse setor
da economia, em Cariacica, são balizadas pela valori-
zação da cultura imaterial, pelo incentivo à construção
de novos empreendimentos e a criação de produtos
turísticos com a vertente da inclusão social, contudo o
efetivo desenvolvimento da atividade turística é algo
pretendido para as próximas décadas. A cidade, entre-
tanto, desde já, constrói, com determinação, uma nova
realidade focada na busca do desenvolvimento susten-
tável, para que a atividade turística aconteça de forma
coordenada, reduzindo desigualdades sociais e inte-
grando as zonas rural e urbana, complementando assim
a totalidade de seu produto turístico.
Desde 2007, a lógica que baliza o desenvolvimento do
turismo no Brasil é o Programa de Regionalização do Tu-
rismo que reconfigura todo o território nacional em es-
paços específicos para o desenvolvimento do turismo, a
partir de características como atrativos, vocação, cultu-
ra, localização, entre outras. A finalidade dessa política
é criar espaços estratégicos na organização do turismo
para fins de planejamento e gestão.
Cariacica está hoje inserida na Região Turística Metro-
politana do Espírito Santo, que é composta pelos mu-
nicípios: Cariacica, Vitória, Vila Velha, Serra, Guarapari,
Viana e Fundão, contudo, nesse processo de regionali-
zação e nos contextos analisados, é possível perceber
que o posicionamento é mais de dependência das ações
na região do que de interdependência espacial propria-
mente dita, sinalizando a necessidade de discussões de
políticas e ações integradas, tendo como lócus privile-
giado a Região Metropolitana da Grande Vitória.
O município de Cariacica está também inserido na ADE-
TUR (Agência de Desenvolvimento Turístico da Região
Metropolitana de Vitoria) e já se adequou às deliberações
do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Turismo do
Espírito Santo – 2025, em relação à regionalização. Esse
documento direciona o plano de desenvolvimento turís-
tico da Região Metropolitana da Grande Vitória.
Falando das políticas locais, a Secretaria que cuida hoje
do turismo no município é a SEMDETUR – Secretaria
Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo,
que tem por objetivo promover políticas de desenvolvi-
mento econômico local em sinergia com o desenvolvi-
mento regional, elaborar e implementar plano de desen-
volvimento do Turismo, estabelecer política de geração
de renda alternativa por meio da economia solidária,
além de constituir políticas de inovação, ciência e tecno-
logia. Outro aspecto relevante na perspectiva de desen-
volvimento local é que o município possui o Conselho de
Turismo estruturado e ativo. A infraestrutura de apoio
101
ao turismo, todavia, ainda é deficiente no município.
A maioria dos equipamentos turísticos encontra-se em
estado de inadequação estrutural e também incipiente
para a prestação adequada de serviços.
Atualmente, observa-se um aumento nos problemas re-
sultantes da poluição de cursos de água, saneamento
básico deficiente e má disposição de lixo, que acabam
por atingir diretamente a atividade turística.
A característica do fluxo é de visitantes independentes
(sem pacote turístico estruturado por agência de via-
gens), que priorizam a visitação de atrativos centrados
em atividades na zona rural e em um curto espaço de
tempo, muitas vezes, aquém daquele necessário ao
desfrute adequado do destino como um todo. Como re-
sultado deste tipo de consumo turístico, a experiência
turística fica comprometida, e o destino se transforma
em “passagem”, sem retenção de fluxo, o que compro-
mete os investimentos na rede hoteleira e demais equi-
pamentos turísticos.
Os equipamentos de hospedagem são deficitários e não
existem iniciativas empreendedoras, no sentido de o-
peracionalizar o turismo receptivo (traslados para visi-
tação turística de atrativos). As ações promocionais são
reduzidas e focadas nos atrativos privados e não no des-
tino especificamente. Falta exposição na mídia, e o tra-
balho no sentido de construção de uma imagem turística
positiva é ainda incipiente.
Nesse contexto, porém, nota-se, no município, uma
tendência de interiorização da atividade, territorial-
mente falando, sugerindo, no longo prazo, uma lógica
de desenvolvimento voltada para a atividade do Turismo
Rural, posicionando-se esta como atividade turística
sustentável prioritária, visto que o município possui ex-
tensa área rural (cerca de 54% de seu território). Nesse
caso, é condição indispensável e essencial para o desen-
volvimento do setor, a preservação ambiental, a partir
de manejo dos parques, adequando-os à visitação tu-
rística, estimulando a conservação ambiental com legis-
lação e programas específicos de educação, assim como
a implantação e melhoria contínua da infraestrutura,
como construção e manutenção de vias e efetivação da
sinalização turística.
Hoje, ainda nessa linha de interiorização, os atrativos
turísticos de destaque em Cariacica se referem a pro-
priedades de agroturismo e turismo rural, como a Estân-
cia do Vale do Moxuara e a Fazenda Ibiapaba, bem como
pontos de visitação, como a Igreja Matriz de São João
Batista, o Centro Cultural Histórico de Cariacica Edu-
artino Silva (na Sede), o Casarão de Ibiapaba, a Igreja
Nossa Senhora da Penha, o templo Espírita Fraternidade
Tabajara e o Centro Cultural Frei Civitella de Trento, os
quais compõem um cenário de memória bastante in-
teressante na valorização da diversidade e resgate da
cultural local. Destacam-se também a produção de ar-
tesanatos (máscaras de congo, cerâmicas e objetos de
fibra de bananeira), de cachaças e de doces de frutas
(banana e outras).
Outro importante aspecto a ser considerado são as man-
ifestações culturais do município que também colore o
seu futuro turístico. Os principais atrativos destacados
nesse segmento são o Carnaval de Congo de Máscar-
as, a festa da Cultura Alemã, a Festa de Descendentes
Italianos de Cariacica, a Festa de São João Batista e o
Festival de Danças Folclóricas.
Ainda como importante segmento a ser desenvolvido,
deve ser destacado o turismo esportivo, que poderá
ganhar fôlego, a partir da finalização do Estádio Estad-
ual Kleber Andrade, que trará oportunidades de ampliar
o esporte e o lazer no município e até de abrigar com-
petições internacionais.
Entre os principais atrativos do município, nos diversos
segmentos (naturais, culturais, esportivo, de eventos,
etc) estão:
:: Monte Mochuara como principal elemento da
3.6 :: TURISMO
102
identidade natural do município;
:: Elevações diversas: Morro Pé de Urubu Encantado,
Morro do Anil, Morro Loreano, Morro da Escalada, Mo-
rro do Pião, Morro do Óleo, Morro Santo Antônio, Morro
do Carrapato, Serra do Adriano, Paredão D`água;
:: Manguezais;
:: Extensa Hidrografia: Rio Jucu, Rio Santa Maria da
Vitória, Rio Formate, Rio Bubu, Rio Duas Bocas, Rio
Itanguá, Rio Marinho, Cachoeira de Maricará e Ca-
choeira do Gonring;
:: Flora: o município abriga áreas que são o habitat
de diversas espécies ameaçadas de extinção como o
araçá do mato, o pau-d’alho, o cobi-da-terra, o jequiti-
bá e o jeriquitim;
:: Fauna: composta de beija-flores, pica-paus, lagar-
tos, canários-da-terra, micos, macacos bugios, papa-
gaios, raposas e outros bichos;
:: Reserva Biológica Estadual de Duas Bocas que
permite atividades de lazer com visitas guiadas;
:: Parque Municipal Monte Mochuara e a Área de
Proteção Ambiental do Monte Mochuara que per-
mitem atividades de lazer e de esportes radicais e de
altitude;
:: Parque Municipal Urbano O Cravo e a Rosa, pro-
jeto em desenvolvimento que terá espaços de lazer,
esporte, contemplação e alimentação;
:: Parque Porto das Pedras que permite atividades
de lazer e de esporte e alimentação;
:: Associação de Catadores de Caranguejo de
Nova Rosa da Penha (Ascapenha);
:: Associação de Catadores de Caranguejo de Vila
Cajueiro (Ascaju);
:: Centro Cultural Histórico de Cariacica Eduar-
tino Silva;
:: Centro Cultural Frei Civitella de Trento;
:: Igreja Matriz de São João Batista;
:: Casarão de Ibiapaba;
:: Igreja Nossa Senhora da Penha;
:: Templo Espírita Fraternidade Tabajara;
:: Gastronomia: Caranguejo, iguarias regionais doces e
salgadas como a Torta de Coração de Banana, jenipapina
como bebida da região de Roda D’água;
:: Estação Ferroviária;
:: Museu da Polícia Militar;
:: Artesanato
Fibras naturais;
Folha de bananeira;
Cerâmica – objetos decorativos e utilitários;
As máscaras utilizadas no Carnaval de Congo
de Máscaras em Roda D’Água;
Palha – bailarinas de palha de milho;
Papel reciclado em folha de bananeira – obje-
tos decorativos e utilitários.
3.6 :: TURISMO
103
:: Música, dança e folclore
Grupo de Dança “Pilger Der Hoffnung”–
“Peregrinos da Esperança”;
Grupo Di Ballo Saltarelo;
Banda de Congo São Benedito de Piranema;
Banda de Congo Santa Izabel Mirim de Roda
D’água;
Escola de Tango Indenpendênte de Boa Vista;
Banda de Congo São Sebastião de Taquaruçu;
Banda de Congo Santa Isabel de Roda D’Água;
Banda de Congo São Benedito de Boa Vista;
Banda de Congo Unidos de Boa Vista;
Banda de Congo Mirim da APAE;
Grupo Mochuara;
Bandas Marciais das Escolas Municipais;
Coral Infanto Juvenil Gingim D’Ámore;
Corais das Escolas Municipais;
3.6 :: TURISMO
Folia de Reis – Vale dos Reis.
:: Festas e Eventos
Cavalgada de São Sebastião;
Festa de São Sebastião;
Carnaval Congo de Máscaras de Roda D’água;
Campeonato Estadual de Futebol de Areia;
Polentino & Minestrina da ACIC;
Festival de Danças Folclóricas de Cariacica;
Encontro de Corais Cariacica;
Feira Ambiental de Cariacica;
Feira de Negócios de Cariacica;
Festa da Paróquia Santa Maria Goretti;
Festa de São João Batista;
Festa da Emancipação Política de Cariacica;
Festival de Arraiais e Quadrilhas;
Festa dos Descendentes de Italianos de Cariacica;
Festival do Caranguejo;
Cavalgada Pela Paz;
Desfile Cívico Escolar;
Caminhada Noturna dos Zumbis Contemporâ
neos;
Corrida da Igualdade Racial;
106
CULTURA
3.7
A cultura pode ser considerada, hoje, uma matéria
que perpassa todas as demais. Nessa discussão, é in-
dispensável distinguir as ações que influenciam, dire-
ta ou indiretamente, essa área e os critérios objetivos
que o governo deve encorajar, buscando processos de
aprendizado e transmissão que ampliam a apreciação,
a sensibilidade ao fazer artístico e o número de pessoas
que se sentem participantes deste pequeno universo.
São esses processos que, em grande parte, alargam
socialmente as práticas artísticas, entendidas como o
espaço em que se encontram as trajetórias que levam
à consolidação das artes e outras expressões culturais.
Existe hoje uma visão pouco articulada com relação à
abrangência da cultura e suas ações, sendo essa visão
incapaz ainda de dimensionar necessidades no tempo e
no espaço e de articular as diretrizes de uma política de
cultura de fomento das várias manifestações artísticas,
do artesanato, do folclore e do desenvolvimento local.
Nesse aspecto, é impossível aspirar a uma rapidez muito
grande. A cultura deve estar atrelada à educação e ao
estilo de vida e, secundariamente, ao nível econômico.
Quando isso não acontece, e essa realidade é inerente
ao município de Cariacica, o acesso aos bens culturais
acaba ficando em segundo plano, pois os públicos para
os gêneros contemplados diretamente pela área cultural
governamental são minúsculos, variando conforme o
gênero artístico. Faltam estudos e pesquisas, além de
ações que reforcem o acesso aos bens culturais, uma
vez que o talento cultural cariaciquense é real, mas o
potencial cultural e econômico deste setor não irá se
concretizar espontaneamente. Será preciso fomentá-
lo, garantir um ambiente favorável por meio do forta-
lecimento de estruturas básicas, como a criação de um
setor cultural específico de circulação artística e garantir
a diversidade cultural, pois os municípios são funda-
mentais na promoção e valorização da cultura local e
tradicional.
O caminho percorrido pelo poder público, na construção
de políticas públicas de cultura, tem sido, nos últimos
anos, de viés fortemente institucional. Frente a essa
realidade, a Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer –
SEMCEL – percorre também esse caminho, buscando
mudanças. Um exemplo é a criação de mecanismo de
incentivo cultural representado pela Lei João Bananeira,
que transformou a produção cultural, tanto em quanti-
dade, como em qualidade, reerguendo a cultura local
e o poder público, rompendo com o passado e esta-
belecendo uma nova visão de política pública de cultura.
O Fundo Municipal de Cultura, criado em 2010, é mais
um mecanismo para alavancar a produção cultural do
município. O Fundo tem, por finalidade, proporcionar
recursos financeiros a projetos e programas de desen-
volvimento artístico-cultural e intercâmbio artístico e
cultural; aprimorar as condições do poder público mu-
nicipal, no que se refere à criação e manutenção de eq-
uipamentos culturais; documentar, estudar e preservar
o patrimônio histórico, cultural e artístico do município;
aprimorar tecnicamente os artistas e produtores cul-
turais de Cariacica; e incrementar o conhecimento acer-
ca da atividade cultural.
107
Com relação à infraestrutura cultural exclusiva, quando
esta é deficiente, impossibilita o processo de demo-
cratização cultural, com garantia a todos do acesso aos
bens e à efetivação dos direitos culturais. Para resolver
a questão, é necessário definir espaço público e/ou pri-
vado, para viabilizar a circulação cultural. A falta de in-
fraestrutura, ou a ineficiência dela, impede que se real-
izem programas de formação, que utilizem as atividades
culturais como forma de lazer, educação complementar
e ocupação do tempo ocioso por comunidades de baixa
renda.
O equipamento mais bem estruturado do município é
o Centro Cultural Frei Civitella de Trento, em Campo
Grande, cujo projeto de reforma completa está em lici-
tação.
Cariacica é um município de grandes dimensões de ter-
ritório, população com significativa diversidade étnica e
uma emergente indústria de bens e consumo capaz de
dinamizar mudanças de gosto, estilos de vida e lazer,
indicando a necessidade de uma visão mais ampla que
entenda a demanda cultural como algo mais do que sim-
plesmente promover eventos e resguardar patrimônios
históricos e folclóricos.
A alocação de recursos para uma política cultural começa
por caracterizar os grupos e interesses dos dois lados da
produção de serviços: a oferta e a demanda. É preciso
capacitar melhor o setor cultural do município, pois o
financiamento de projetos requer especialidades para
artistas, produtores e ativistas culturais.
Com relação às políticas culturais, já que a cultura ainda
é percebida como uma área que fica resignada em se-
gundo plano, tornam-se fundamentais as parcerias. A
compatibilidade de projetos culturais entre o Município
e o Estado, ou seja, entre a SEMCEL e a Secretaria de
Cultura do Estado do Espírito Santo – SECULT, é ainda
incipiente, resume-se em poucas ações, sendo uma de-
las relacionada à preservação e difusão do patrimônio
cultural imaterial, que resultou na gravação do primeiro
CD das bandas de congo do município. Falta à política
cultural estadual uma ação de descentralização de re-
cursos que poderia contribuir para elevar ainda mais a
produção cultural de Cariacica e de outros municípios,
respeitando as necessidades locais, de acordo com um
diagnóstico elaborado em parceria com o órgão cultural
municipal, contando com a participação dos grupos cul-
turais.
O município também tem uma tímida relação com a
preservação e o uso de seus patrimônios históricos,
sendo fundamental uma parceria com o Estado e com
o Governo Federal numa ação de reconhecimento e
preservação desse patrimônio.
Na perspectiva da identificação de imóveis de inter-
esse para preservação no município de Cariacica, dois
critérios são adotados: o primeiro, a inscrição no ter-
ritório municipal e o segundo, a localização e a relação
do i-móvel em sua área municipal. Em Cariacica, essa
identificação acontece por setor, sendo alguns mais im-
portantes e presentes no imaginário da população como
a Fazenda Ibiapaba com o Casarão, a Praça Marechal
Deodoro da Fonseca, a Igreja Matriz de São João Batista
e, no seu entorno, construções de porte médio e peque-
no, erguidas segundo os padrões formais, funcionais e
construtivos tradicionais da arquitetura brasileira e esta-
dual; o templo Espírita Fraternidade Tabajara; a Oficina
de Vagões de Trem da Vale, a Companhia Ferro e Aço,
no bairro de Jardim América; a Cofavi, especificamente
sua unidade desativada, e o estádio de futebol Engen-
heiro Alencar de Araripe; o Educandário “Alzira Bley” e o
Hospital “Doutor Pedro Fontes”, localizados na região da
Grande Nova Rosa da Penha, que são a expressão física
da relevância e do esforço empreendido pelos governos
federal e estadual no combate à lepra, desde 1927.
Considerando ainda uma discussão de patrimônio, é in-
teressante citar também que o município de Cariacica
3.7 :: CULTURA
108
possui uma comunidade Quilombola. Com esse reco-
nhecimento, os habitantes dessa comunidade, formada
por descendentes de negros escravizados na época do
Brasil Colônia, ganham o direito às suas terras. A co-
munidade de Roda D’Água poderá receber esse título e,
para isso, foi realizada uma pesquisa antropológica na
região, que deverá ser encaminhada ao Instituto Na-
cional de Colonização e Reforma Agrária -INCRA.
Nessa discussão sobre cultura, cabe, sem dúvida, fazer
uma citação mais específica sobre Roda D’Água. Trata-
se de região peculiar de uma pluralidade cultural, que
contém uma comunidade quilombola, sendo uma região
de muitos descendentes das famílias de congueiros.
Apesar deste documento não pontuar as especificidades
acerca da cultura cariaciquense e, sim, focar políticas e
programas para o desenvolvimento do município como
um todo, é condição sine qua non para uma construção
efetiva das políticas culturais, ressaltar esse movimento
do Congo.
Na pesquisa de opinião de Identidade e Expectativas do
Cariaciquense, os munícipes se posicionaram em relação
aos Patrimônios Culturais. De acordo com a pesquisa,
o Congo se constitui como o principal Patrimônio Cul-
tural de Cariacica. Da tradição do Congo, surge uma das
maiores manifestações populares do estado: o Carnaval
de Congo de Máscaras de Roda D’Água, único registrado
no Brasil. Não existem escrituras que descrevem, de
fato, a história dessa manifestação, contudo a história
oral sustenta algumas versões. Uma delas, a mais re-
produzida, conta que, no passado, diante da dificuldade
de locomoção até o Convento da Penha, os moradores
decidiram homenagear a padroeira do estado, Nossa
Senhora da Penha, saindo pelas ruas da localidade em
procissões animadas por tambores de congo. A festa
cristã organizada pelos brancos misturou-se às raízes
negras e indígenas, dando origem ao carnaval.
As histórias contadas sustentam, ainda, algumas ver-
tentes que explicam as máscaras nessa manifestação.
Uma delas conta que as máscaras são apenas uma he-
rança dos carnavais tradicionais com o intuito de di-
versão sem identificação. A peculiaridade dessas más-
caras reside no fato de que, desde que apareceram no
carnaval, sua confecção se deu pela experimentação de
cada um, a partir de vivências, experiências e fatos do
cotidiano. Os formatos lembram animais, como porcos
e bois, e o artefato possui muitos elementos da cultura
popular, sem uma lógica estabelecida, sem uma orien-
tação artística para a produção, que identifica aquele
objeto como sinônimo da festa do congo. A máscara de
congo, hoje, além de possuir valor agregado, por ser
um símbolo da maior manifestação cultural local, possui
também forte expressão no artesanato local.
O carnaval de congo de máscaras, que, hoje, home-
nageia Nossa Senhora da Penha, ao som de tambores
e casacas, também possui estreita ligação com perso-
nagens mascarados como o popular João Bananeira. O
João Bananeira é a maior expressão do folclore Caria-
ciquense. Ele surge no meio da folia do congo e suas
vestes são originárias do produto da agricultura local,
ou seja, das bananeiras. O primeiro registro do person-
agem não é no congo, o surgimento dele está atrelado
ao divertimento, ou seja, alguém que se veste e se di-
verte com a lógica do palhaço na multidão, figura co-
mum nas folias. Era chamado Zé Bananeira. e a crença
é a de que ele se torna João Bananeira por causa do pa-
droeiro da cidade, São João Batista, retratando a lógica
do sincretismo e das crenças em torno de um mesmo
personagem. O João Bananeira trata-se de uma criação
espontânea, mais uma vez denotando a importância
histórico-cultural da região frente à cultura do municí-
pio.
O fato de essas manifestações estarem fortalecidas no
imaginário popular, do ponto de vista da construção da
cultura, denota a necessidade de intervenções, no sen-
tido da manutenção desse saber fazer exclusivo daquela
comunidade. É importante ressaltar que esse saber ex-
clusivo da região de Roda D’Água coloca a comunidade
3.7 :: CULTURA
109
como protagonista de uma atividade culturalmente rica,
gerando o sentimento de autoestima naqueles cidadãos.
Desde 2009, a Prefeitura Municipal de Cariacica vem
fortalecendo o potencial cultural e turístico da região
pela integração entre as bandas de congo do município.
A atual administração quer dar maior visibilidade aos
congueiros e suas atividades, de modo a promover o
desenvolvimento local a partir da preservação da cultura
popular, ou seja, mais uma vez está implícita à cultura a
importância da sua existência e manutenção e a lógica
econômica por traz das suas manifestações, de todas
as ordens.
Como dito anteriormente, na pesquisa de opinião de
Identidade e Expectativas do Cariaciquense, o Congo
constitui o principal Patrimônio Cultural de Cariacica,
seguido do futebol, com a Desportiva e o Estádio Kle-
ber Andrade, sendo a terceira opção a Igreja Matriz
de São João Batista e, por fim, as danças folclóricas.
Um dado alarmante é que um considerável percentual
de entrevistados não reconhece uma segunda opção
de Patrimônio Cultural. A pesquisa revela ainda que o
morador local não tem conhecimento amplo sobre o
patrimônio histórico do município e sua importante fun-
ção social de preservação da história, tradições e cos-
tumes da população que, ao longo do tempo, ocupa o
município de Cariacica.
A pesquisa de opinião de Identidade e Expectativas
do Cariaciquense demonstra que o munícipe, hoje, é
otimista em relação ao futuro do município, posicion-
ando a área cultural como um dos destaques do pro-
cesso de mudança que está ocorrendo em Cariacica nos
últimos anos.
Descrevendo Cariacica culturalmente, podemos dizer
que se trata de um município que, assim como o Es-
pírito Santo, é detentor de grande diversidade cultural:
grupos e manifestações que retratam os aspectos que
formam a cultura local (italiana, alemã, pomerana, etc)
são comuns. Há grupos de dança italiana e alemã, co-
rais, folia de reis, grupos de teatro, escola de samba e
grupos populares e ganham destaque, nesse cenário,
as Bandas de Congo e o Grêmio Recreativo Escola de
Samba Independentes de Boa Vista (bicampeã do Car-
naval Capixaba, alimentando um saudável sentimento
bairrista e contribuindo para elevar a auto estima car-
iaciquense).
Cabe ainda citar, como importante manifestação cultur-
al, o artesanato local. O artesanato em Cariacica é pro-
duzido com materiais diversos e, em sua maior parte,
utilizando matéria prima disponível na natureza, como,
por exemplo, a fibra de bananeira, a palha de milho,
o papel reciclado e a cerâmica utilizada principalmente
para a produção de miniaturas das máscaras de congo.
Por fim, existem outros vetores da cultura cariaciquense
que merecem destaque, como os blocos carnavalescos,
com grande apelo popular, disseminados por vários bair-
3.7 :: CULTURA
ros do município, representando uma tradição que for-
talece o carnaval tradicional de Cariacica, a produção
audiovisual e literária do município e os artistas que
popularizaram o nome do município: Emerson Xumbre-
ga, cantor, compositor e sambista puxador de samba da
Escola de Samba Boa Vista e o Grupo Musical Moxuara
que nasceu do encontro de universitários, fazendo mu-
sicas populares, regionais e ritmos afro-brasileiros como
a capoeira, o congo e o maculelê, com a utilização de
instrumentos alternativos, expressões regionais da lin-
guagem popular e um estilo de abordagem de temas
que oscilam o tempo todo entre o ambiente rural e o
urbano. Cabe ressaltar que seus CDs são produzidos a
partir de resultado de suas pesquisas sobre a cultura
regional, retratando inúmeros aspectos da cultura local
e diversos elementos do patrimônio histórico e natural
de Cariacica.
112
ESPORTELAzER
3.8
O Esporte e o Lazer, hoje, já se estabelecem como direi-
tos constitucionais. Quando se fala em esporte, seguin-
do as políticas nacionais, este deve ser tratado sob três
dimensões: o esporte de rendimento, o esporte educa-
cional e o esporte de participação (lazer). O lazer refere-
se a uma dimensão social e, se tomado como expressão
de cidadania, junta-se à educação e à saúde como um
direito que carece de um planejamento, um olhar es-
pecífico e uma agenda de políticas públicas.
Em Cariacica, tanto o esporte quanto o lazer estão es-
truturados a partir da lógica de atuação da gestão públi-
ca, estando ambos vinculados à Secretaria Municipal
de Cultura, Esporte e Lazer - SEMCEL. A gestão caria-
ciquense do esporte e lazer, assim como a maioria dos
governos de esfera municipal, toma por base as políticas
desenvolvidas pelas secretarias estaduais, exclusivas no
caso do Espírito Santo, que, por sua vez, são balizadas
pelo Ministério do Esporte.
No município de Cariacica, apesar de acontecerem ações
focadas em esporte e lazer, não estão bem definidas
ainda as políticas para as três dimensões do esporte,
tampouco para o tratamento do lazer como um direito
de cidadania. Alguns dos principais programas e proje-
tos estão listados abaixo:
•Programas PELC/Vida Saudável (Governo Federal):
atendimentos na área de Esporte/Lazer para pes-
soas com mais de 45 anos (convênio encerrado,
porém, os 23 núcleos continuam em funcionamento
com recursos da Prefeitura Municipal de Cariacica);
•Programa Segundo Tempo (Governo Federal): ativi-
dades esportivas no contraturno escolar.
•Programas PELC/PRONASCI (Ministério do Es-
porte): atividades de Esporte/Lazer para jovens e 15
a 24 anos em áreas de vulnerabilidade social.
•Programa Campeões de Futuro (SESPORT/SEM-
CEL): prática esportiva para o público infanto-juve-
nil, no contraturno escolar – indicação ao esporte de
rendimento.
Existem ainda as iniciativas relacionadas à prática do
esporte estudantil, que acontecem pela parceria SEM-
CEL e SEME, sobretudo pela carência de profissionais
da área de Educação Física que atuem exclusivamente
no esporte e pela existência desses profissionais na Se-
cretaria de Educação. Os principais projetos nessa linha
são “Educação pelo Movimento” e “Esporte na Escola”,
que atendem diretamente aos alunos da Rede Pública
de Ensino Fundamental, mas que, indiretamente, refle-
tem-se na sociedade, uma vez que buscam a promoção
de práticas esportivas desde a base, ou seja, para um
público ainda em formação e com potencial de dissemi-
nação da cultura da prática esportiva.
O impacto das ações realizadas pelo Esporte Escolar
intensifica, ainda que indiretamente, pela cultura for-
mada a partir da vivência dos alunos da rede pública
com a atividade, diversas competições entre equipes de
esporte amador, como torneios de futebol de várzea,
coordenados pela Liga Cariaciquense de Futebol Amador
e Basquetebol de Rua, sendo algumas dessas atividades
113
realizadas em parcerias com instituições privadas e com
a Associação Cariaciquense de Esporte (ACES). Cabe
ressaltar que os principais parceiros da iniciativa privada
são: Serviço Social da Indústria (SESI), Serviço Social
do Transporte (SEST) e o Serviço Nacional de Aprendi-
zagem do Transporte (SENAT), Colégio São Geraldo,
Colégio Cristo Rei, Desportiva Capixaba, Rio Branco
Atlético Clube, Canarinho Campestre Clube.
Também em parceria com a iniciativa privada e com a
Federação de Beach Soccer, outra ação importante é
o Campeonato Estadual de Beach Soccer em nível de
rendimento. A realização desse tipo de evento cumpre
três funções: a de contribuir para projetar a imagem
do município, já que são transmitidos jogos pela tel-
evisão; a de contribuir com a melhora da autoestima do
cariaciquense, já que, ao projetar o município, desperta
algum orgulho de seus gestores e desportistas; e a de
democratizar espaço/tempo de Esporte/Lazer, já que os
espetáculos realizados na arena são de fácil acesso aos
munícipes, além de proporcionar a prática de atividades
esportivas durante os dias intervalares dos eventos.
Com relação ao lazer, a principal atividade são as Ruas
de Lazer que ainda não representam efetivamente o
ideal de prática de lazer para os munícipes, mas suprem
algumas necessidades e carências relativas às garantias
nesse setor. O Projeto Cariacica em Ação, em parceria
com a Secretaria de Governo (SEMGE), também propor-
ciona a vivência das atividades de lazer e esporte, uma
vez que se trata de um projeto itinerante que acontece
uma vez por mês em bairros diferentes do município,
levando, entre outras atividades, a gincana esportiva
cultural e Rua de Lazer.
Uma importante iniciativa na área de Esporte e Lazer, no
município, foi a criação da Lei de incentivo ao Esporte,
Lei Horácio Carlos Rosa (Lei nº 4.369/2005), com a fi-
nalidade de captar recursos para investimento no Es-
porte de Base, fomentar mais ainda o Esporte Escolar e
subsidiar o Esporte Participação, contudo a implantação
da lei depende da implementação do Conselho Municipal
de Esportes.
Outra importante iniciativa com relação ao crescimento
do esporte em Cariacica é aquela proporcionada pelo
Colégio Castro Alves, uma escola particular do município
que incentiva a prática de esporte de rendimento por
meio do fomento do time feminino de Handebol, que
participa, com regularidade, de campeonatos em nível
regional, nacional e internacional, tendo conquistado a
medalha de prata no Campeonato Mundial Escolar de
Handebol .
Embora ainda existam dificuldades quanto ao processo
de amadurecimento social e comunitário que condu-
zam a uma mentalidade plena do cariaciquense, para
a busca do direito a Esporte e Lazer e participação no
processo de conquista dos mesmos, a tendência para
o futuro é que as parcerias se consolidem, sobretudo
considerando-se a realização da Copa de 2014 e das
Olimpíadas de 2016 no Brasil.
Em outra vertente, em Cariacica, ainda é possível falar-
se em esporte, considerando a diversidade de segmen-
tos. A pesquisa sobre a Identidade do Cariaciquense
deixa clara a identificação do munícipe com o patrimônio
cultural e é importante assinalar as potencialidades da
vivência do Lazer na relação do indivíduo com a na-
tureza, quer por meio da contemplação, quer por meio
de atividades físico-esportivas.
Assim, é urgente a necessidade de políticas de aces-
sibilidade ao ambiente rural e de educação para esse
tipo de Lazer e para o segmento de Esportes Radicais,
potencialmente possíveis.
Esse argumento, mais ligado as discussões de lazer, vale
também para o caso dos museus, parques e outros am-
bientes do interesse turístico, que ainda são insipientes
no município, mas podem também ser potencializados
por meio da parceria público-privada.
3.8 :: ESPORTE :: LAzER
114
Quanto às vivências dos interesses esportivos, verifica-
se algum proveito no uso dos espaços públicos ainda
encontrados no município, sobretudo os campos de
futebol, mas, do ponto de vista do espetáculo, as opor-
tunidades são escassas, uma vez que o município carece
de equipamentos específicos (ginásios, estádios, ringues
etc.). Atualmente, o cariaciquense conta, somente, com
o Estádio Engenheiro Alencar de Araripe (propriedade
privada), onde ocorrem jogos oficiais de Futebol (além
de shows artísticos). As expectativas em relação a esse
segmento, contudo, estão cada vez menos incipientes,
uma vez que poderão ser proporcionados políticas e pro-
jetos a partir da conclusão das obras do Estádio Kleber
Andrade, que, apesar de ser propriedade do Governo
do Estado, está localizado em território cariaciquense,
inevitavelmente provocando aquecimento desse setor
no município.
O município possui uma posição privilegiada, com es-
tradas que o ligam aos estados de Minas Gerais, Bahia
e Rio de Janeiro, todos eles sedes de jogos da Copa do
Mundo de 2014, sendo o Rio de Janeiro também sede
dos jogos Olímpicos de Verão em 2016. Nesse contexto,
as principais dificuldades apontadas são:
a) inexistência de uma consistente rede hoteleira;
b) falta de infraestrutura de aeroporto e terminal ro-
doviário interestadual na Grande Vitória;
c) falta de infraestrurura em equipamentos específi-
cos esportivos.
Se tomada essa oportunidade do ponto de vista metro-
politano, a Grande Vitória não dispõe de nenhum centro
de treinamento adequado para equipes de esporte de
alto rendimento, nem mesmo de estádios adequados
aos planejamentos de equipes de futebol de alto rendi-
mento, criando, dessa maneira, uma boa perspectiva
para Cariacica, a partir do Estádio Kleber Andrade, que
possui atualmente, obras em andamento.
Transformar Cariacica em um “Lugar de Lazer” envolve
o Esporte enquanto interesse cultural e, também, as
dimensões de vivência e contemplação para todos os
interesses culturais. Significa também uma cidade com
equipamentos, espaços, programas, pessoal, fomentos
financeiros e controle social. Cariacica apresenta, pelas
suas características territoriais, potencial para a apro-
priação de Esporte e Lazer descentralizados das práticas
esportivas consolidadas e mais próximos das vivências
de práticas com características regionais. Nesse senti-
do, abrem-se grandes perspectivas a partir de projetos
como o do Parque Cravo e a Rosa que poderá tornar-se
lócus para atividades diferenciadas.
A outra perspectiva impactante é a questão do pessoal.
Não será possível pensar em Esporte e Lazer como ga-
rantias sociais, se não houver a perspectiva de pensar
esses setores integrados a áreas como saúde, educação,
cultura, turismo, assistência, segurança, entre tantas
outras. Para isso, é necessário pensar um cenário em
que existam profissionais capacitados e com perspecti-
vas de logo prazo, de modo que sejam pensadas ações
intersetoriais a partir de planejamentos conjuntos na
gestão.
3.8 :: ESPORTE :: LAzER
118
SAúDE
3.9
Atualmente, segundo constatações da Organização
Mundial de Saúde, as pessoas se encontram em con-
dições mais saudáveis do que nas últimas três décadas.
As melhorias no fornecimento de água, saneamento,
cuidados pré-natais e alimentação; o conhecimento, a
tecnologia para atendimento à saúde, os intercâmbios
de processos têm sido mais freqüentes. Além disso,
tem crescido a solidariedade e o compromisso global,
como, por exemplo, o estabelecimento dos Objetivos
Desenvolvimento do Milênio (ODM). Esse progresso, no
entanto, tem sido desigual, pois, enquanto uma parte
do mundo tem convergido para esses avanços, outros
países ficam cada vez mais distantes de resultados im-
portantes obtidos no campo da saúde pública.
Juntamente com esses fatores, o perfil populacional tem
passado por mudança, o envelhecimento e os efeitos
de uma urbanização mal planejada aumenta a dissemi-
nação de doenças transmissíveis e aumenta a importân-
cia da ocorrência de doenças crônicas, colocando os
serviços de saúde diante do desafio de atender fatores
complexos, como baixa renda populacional, alterações
climáticas, desafios à segurança alimentar e tensões so-
ciais.
Seguindo essa tendência, o município de Cariacica se
caracteriza demograficamente por abrigar uma popu-
lação de 348.738 habitantes (IBGE 2010), com uma
configuração da pirâmide etária apontando para um
envelhecimento populacional. O município é o 3º com
maior população da Grande Vitória, população que se
espalhada por um território de 279,98 quilômetros
quadrados, sendo grande parte do município composto
por área rural. Somando-se a isso, a arrecadação do
município não se apresenta tão vultosa quanto nos mu-
nicípios vizinhos, principalmente Vitória e Serra. O nível
de escolaridade da população é majoritariamente baixo,
assim como o nível de renda. Dessa forma, fica evidente
o imenso desafio de conseguir atender à população car-
iaciquense na totalidade de suas necessidades de saúde,
seja pelo difícil acesso dos moradores e dos Agentes
de Saúde a determinadas localidades rurais, seja pala
falta de acesso dos habitantes à informação ou, ainda,
pela grande necessidade de saúde, ocasionada, em boa
parte, pela baixa renda de grande parte da população.
O presente documento traz uma análise situacional da
saúde no município com apresentação de alguns in-
dicadores que possibilitam medir a situação da saúde
pública municipal.
Uma das formas de avaliar a situação da saúde pública
é observando as causas de morte e calculando a mor-
talidade proporcional de cada grupo. De acordo com o
Data SUS, Secretaria Municipal e Estadual de Saúde, em
2010, as Doenças do Aparelho Circulatório são as prin-
cipais causas de óbito no município de Cariacica, repre-
sentando quase 1/3 (652) de todos os óbitos por causas
definidas ocorridos em 2010. Observando mais detalh-
adamente os óbitos decorrentes de doenças do aparelho
circulatório, 27,1% ocorrem em pessoas com menos de
60 anos. As Causas Externas aparecem em segundo
lugar na ordenação das causas de óbito, com 21,57%
119
(504) do total de óbitos e incluem os acidentes, ho-
micídios e suicídios, que ocorrem, em sua maioria, com
jovens de 15 a 29 anos, 42,7%. A terceira maior causa
dos óbitos do município são as Neoplasias, com 15,58%
(364) dos óbitos. A mortalidade infantil se apresenta
de forma bastante relevante em crianças de até 1 ano
de idade, causada principalmente por algumas afecções
originadas no período perinatal, que é o período que
começa na 22ª semana de gestação e termina aos sete
dias completos depois do nascimento, e também por
malformações congênitas e anomalias cromossômi-
cas. A Taxa de Mortalidade Infantil, segundo números
do DATA/ SUS em 2010, apresentou, no município, um
valor considerado baixo, 11,22 óbitos por mil nascidos
vivos, estando abaixo da média da região metropolitana
do estado, que é de 11,36, e da capital, que é de 11,25
óbitos por 1000 nascidos vivos.
Em 2009, segundo as informações do MS/SVS/DASIS -
Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM, foram
registrados 08 óbitos maternos em Cariacica (segundo
maior número de óbitos maternos dentre os municípios
capixabas), correspondendo a um coeficiente de mor-
talidade materna de 136 por 100.000 nascidos vivos,
valor acima da média do estado.
As internações também se tratam de um indicador im-
portante. Segundo o Sistema de Internações Hospital-
ares - SIH/ MS - no município de Cariacica, em 2009,
entre as principais causas de internações, realizadas no
Sistema Único de Saúde, dos residentes em Cariacica,
no ano de 2009, aparecem, em primeiro lugar, a gravi-
dez, partos e puerpério, que representam 26,5% do to-
tal de internações; em segundo, estão as doenças do
aparelho circulatório, com 8,93%; em terceiro lugar, na
ordenação, estão as internações decorrentes de doen-
ças do aparelho respiratório (8,87%); além da grande
proporção de internações por lesões, envenenamento
e algumas outras consequências de causas externas,
mostrando que esse se configura um importante pro-
blema social no município de Cariacica.
As doenças de notificação compulsória, como tubercu-
lose, hanseníase e dengue, aparecem em números tam-
bém importantes. No ano de 2008, foram notificados
190 casos de tuberculose no município, o que confere
uma taxa de incidência de 51,34 por 100 mil habitantes,
de acordo com os dados do DATASUS, estando acima da
média do Brasil, que é de 43,8. Em relação aos casos
de hanseníase, em 2010, foram notificados 230 novos
casos em residentes em Cariacica, correspondendo a
uma taxa de detecção de 6,6 casos novos por 10 mil
habitantes. Essa taxa no Brasil, em 2009, foi de 2,1 e,
no sudeste, de 0,9. Em 2010, foram notificados 3.726
casos de dengue em residentes em Cariacica, segundo
informações da Secretaria de Estado de Saúde do Espíri-
to Santo. Isso corresponde a uma incidência de 1.070
casos por 100 mil habitantes, taxa acima da referencia-
da pelo Ministério da Saúde de 300/100 mil habitantes.
Para se obter um panorama mais completo, agrega-se
a esse quadro a situação dos investimentos e das políti-
cas públicas municipais. O município tem apresentado
avanços no investimento em saúde. A despesa total
com saúde por habitante, com recursos municipais, au-
mentou de R$ 41,39, em 2004, para R$ 133,00 por ha-
bitante, em 2010. O percentual de aplicação na saúde,
em 2010, foi de 17,3%, em relação aos recursos pró-
prios do município, 1,3% mais que o determinado pela
emenda Constitucional Nº 29/2000, pelo Artigo 77 do
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e pelo
Artigo 198 da Constituição Federal.
De acordo com os dados da Secretaria de Saúde Mu-
nicipal, no ano de 2010, 41,5%% da população de Ca-
riacica estava coberta pelo PACS (Programa de Agente
Comunitário de Saúde) e pelo PSF (Programa Saúde da
Família). Em relação à cobertura de planos de saúde,
verifica-se um baixo número de beneficiários em Ca-
riacica, apenas 24,67%, dos cariaciquenses possuem
assistência médica privada, em 2009. Esse dado demon-
stra o grande número de pessoas que são dependentes
do SUS no município e, somados os dados de cobertura
de atenção básica, infere-se que grande parte da popu-
lação não está coberta em nenhum dos dois segmentos
do sistema, apontando a necessidade de investimentos
e aprimoramento dos processos de gestão, para garantir
o cuidado e a assistência à saúde dessa população no
Sistema Único de Saúde.
Quanto à estrutura física, de acordo com o Ministério
da Saúde/ Secretaria Municipal de Saúde, em Cariacica,
em 2010, existiam 373 leitos, dos quais somente 267
pertencem ao SUS, o que corresponde a 0,7 leitos SUS
por mil habitantes e 1,07 leitos por mil habitantes, e a
rede assistencial do município de Cariacica é composta
por 137 estabelecimentos de saúde, entre públicos, pri-
vados e filantrópicos. Existe um predomínio de estabel-
ecimentos de natureza privada do prestador, 63% (Ca-
dastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde - CNES).
De acordo com o Cariacica em Dados, o município conta
ainda com a presença de 01 hospital especializado; 03
hospitais gerais; 05 policlínicas; 11 unidades de apoio,
diagnose e terapia; 02 unidades de vigilância da saúde;
40 clínicas especializadas; 34 consultórios isolados;
35 unidades básicas de saúde; 02 centros de atenção
psicossocial; e 02 farmácias populares. Um dos hospi-
tais do município é a maternidade 8 que funciona sob a
8 A maternidade municipal no CNES está contabilizada como hospital geral. Desde 2007, a maternidade está sob gestão pri-vada, passando por uma importante reforma física e administrativa.
3.9 :: SAúDE
120
gestão do Hospital Evangélico, em parceria com a pre-
feitura, desde 2008. Todos os 4.388 partos realizados
em 2010 foram feitos pelo SUS. Além de partos, a ma-
ternidade realiza cursos de gestante, transporte perso
nalizado, serviços de certidão para recém-nascidos en-
tre outros serviços.
O município conta, ainda, com o Centro de Referên-
cia em DST/AIDS, o Núcleo de Assistência Domiciliar
(NEAD), que presta serviços de fisioterapia, e um es-
tabelecimento de programas especiais, que conta com
serviços médicos de ginecologia, serviços de fonoau-
diologia, assistência social, terapia ocupacional e a-
tendimento de enfermagem. No município, existem 02
Pronto-Atendimentos públicos, sendo 1 infantil e outro
geral (Policlínica de Itacibá) e um hospital especializado
em psiquiatria, sob gestão estadual. Um novo Pronto
Atendimento está sendo construído e funcionará 24 ho-
ras com oferta de 15 leitos para observação para adulto,
3 leitos de urgência e emergência, um leito para isola-
mento, um consultório de urgência odontológica, salas
para cirurgia e curativos, raio X, laboratório e farmácia,
além de abrigar o Centro de Especialidades Clínicas.
Em Cariacica, também, há um Centro de Referência de
Especialidades (CRE Metropolitano), sob gestão estadu-
al e de referência, e uma Unidade Mista (Hospital Dr. Pe-
dro Fontes) com atendimento 24 horas, contanto com 6
médicos. No que tange aos serviços complementares ao
SUS, recentemente, Cariacica assinou um contrato com
prestador privado do município para oferta de serviços
diagnósticos, que incluem basicamente exames de ul-
trassonografia.
Em relação aos serviços de apoio, constatam-se debi-
lidades, principalmente no que se refere à distribuição
de medicamentos, que frequentemente faltam nas uni-
dades de saúde, comprometendo o atendimento, a res-
olutividade e a integralidade na atenção aos usuários. Já
em relação à logística, os veículos para transporte de in-
sumos, os sistemas de transporte sanitário e o sistema
de regulação se destacam como principais problemas.
Os fluxos para marcação de consultas, principalmente
no CRE, são bastante confusos e, muitas vezes, aca-
bam sobrando cotas de alguns exames diagnósticos,
como a mamografia, evidenciando o que pode ser um
problema na acessibilidade a esses serviços. Somado a
isso, verifica-se a deficiência de processos de regulação
relacionados à ordenação dos casos para marcação de
exames e consultas.
Os sistemas de apoio e logísticos apresentam-se como
componentes verticais da rede de atenção à saúde. Os
sistemas de apoio incluem o sistema de apoio diagnós-
tico e terapêutico e o sistema de assistência farmacêu-
tica. Os sistemas logísticos organizam os fluxos e contra
fluxos das pessoas e das coisas, na rede de atenção
à saúde, por sistemas estruturados com base em tec-
nologias de informação eficazes, incluindo o cartão dos
usuários, o prontuário eletrônico, os sistemas de acesso
regulado para atenção à saúde e os sistemas de trans-
portes sanitários 9. É necessária, portanto, a reestru-
turação desses sistemas e processos, a fim de otimizar
os recursos disponíveis e garantir a melhor alternativa
assistencial frente às necessidades de atenção à saúde
da população.
Uma pesquisa desenvolvida pelo Núcleo de Estudos
em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Espírito
Santo realizou um diagnóstico da situação da estrutura
3.9 :: SAúDE
9 Minas Gerais. Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. MENDES, E.V. A Modelagem das Redes de Atenção à Saúde. Belo Horizonte, 2007.10 De acordo com a Organização Mundial de Saúde, são classificados, como idosas, pessoas com mais de 65 anos de idade em países desenvolvidos e, com mais de 60 anos de idade, em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.
121
organizacional e dos recursos humanos no município de
Cariacica, a fim de conhecer a realidade da gestão do
trabalho existente no município.
Os dados levantados mostram que, no ano de 2008,
havia, no município, 1.909 trabalhadores na Secretaria
Municipal de Saúde. Desses, 9,5% (182) eram servi-
dores municipalizados ou cedidos com diversos vínculos,
incluindo Secretaria Estadual de Saúde, Ministério da
Saúde, FUNASA e outras prefeituras municipais; 1,04%
(20) eram funcionários terceirizados, 1,57 % (30) eram
celetistas, 3,8% eram cargos comissionados, 80,4%
eram contratos temporários não celetistas e somente
3,45% eram estatutários. Como se vê, a grande maioria
dos trabalhadores acima (80,4%) é contratada tempo-
rariamente, sem possuir vínculo celetista ou estatutário,
ou seja, não é destinatária de uma série de direitos tra-
balhistas, dentre eles a estabilidade.
Esse quadro, juntamente com as informações de capaci-
dade instalada, reflete a restrição de acesso aos serviços
e ações de saúde no município, relacionada à escassez
de recursos e serviços de saúde, fazendo com que seus
munícipes procurem os serviços dos municípios vi-
zinhos. Faz-se necessária, portanto, uma política efetiva
de investimento em infraestrutura, equipamentos e pes-
soal, para que seja possível atender as necessidades de
saúde dos cariaciquenses.
Quanto aos investimentos que vem sendo realizados,
houve um incremento nas ações de saúde nos últimos
anos. Foram criados e fortalecidos programas como:
Programa Municipal de DST/ AIDS, Programa de Com-
bate a Dengue, Combate a Tuberculose, Programa Saúde
da Criança, Programa Saúde da Mulher, Programa de
Saúde Mental, Projeto de Geração de Renda, Equipe Vo-
lante, Equipe Matricial, Odontologia, Cariacica Voltando
a Sorrir, Ações Curativas e Restauradoras (odontologia
básica e especializada), Programa de Prevenção e Con-
trole da Hipertensão e Diabetes, Farmácias Populares e
Núcleo de Prevenção da Violência e Promoção da Saúde.
Realizando uma análise geral panorâmica da saúde mu-
nicipal e considerando as tendências discutidas mun-
dialmente, os dados sobre mortalidade em Cariacica
evidenciam que as principais causas de óbitos de resi-
dentes no município são aquelas relacionadas ao enve-
lhecimento da população e à violência. Chama a atenção
o grande número de óbitos de pessoas menores de 60
anos de idade por doenças do aparelho cardiocirculatório 10. Mostrando a necessidade de se adotarem medidas
preventivas, como o desenvolvimento de hábitos sau-
dáveis de alimentação, atividade física, e também diag-
nóstico precoce, acompanhado de pronto-atendimento
e assistência especializada para a população, a fim de
reduzir a morbimortalidade por essas causas. As doen-
ças cardiovasculares são bastante vulneráveis à ações
públicas de baixa tecnologia e alta eficácia. Chama a
atenção, ainda, o grande número de jovens que morrem
por violência e acidentes de trânsito. Nesse sentido, vale
ressaltar a limitação do setor saúde na superação de-
sses problemas, sendo necessário, nesse caso, a adoção
de políticas intersetoriais para a solução desse grave
problema, que necessita de estratégias que extrapolam
o campo de atuação da saúde. Os dados sobre mortali-
dade infantil refletem as condições dos serviços de pré-
natal/parto, sob as quais estão submetidos mulheres e
recém-natos e a assistência na puericultura, além das
condições de vida dessa população, pois algumas de-
ssas causas de óbito são influenciadas fortemente pelas
condições de moradia e alimentação. Assim, a mortali-
dade materna, por ser geralmente aceita como morte
evitável, especialmente para o contingente de mortes
maternas diretas, tem sido considerada, tanto um in-
dicador de qualidade, quanto um evento sentinela da
assistência obstétrica (Silva & Russomano, 1996).
Com relação aos motivos de internação hospitalar, no
grupo das doenças do aparelho circulatório, a insuficiên-
cia cardíaca é o segundo motivo de internação mais fre-
quente, em Cariacica, sendo o primeiro as causa rela-
cionadas às veias varicosas dos membros inferiores. Em
relação às doenças do aparelho respiratório, a pneumo-
nia e a asma são as principais causas de internação.
3.9 :: SAúDE
122
Em relação às doenças infecciosas, vale destacar o
grande número de internações por dengue e diarréia,
que são causas que, se tratadas corretamente, podem
ser resolvidas em nível de Atenção Básica. A fratura
de ossos e membros e traumatismo craniano lideram
o grupo de “lesões envenenamento e algumas outras
consequências de causas externas”, e as hérnias, junto
com colelitíase e colecistite, as do aparelho digestivo.
O município de Cariacica possui a Gestão Plena da A-
tenção Básica Ampliada, o que confere ao município
a responsabilidade de realizar o controle da tubercu-
lose, hipertensão, diabetes melitus; a eliminação da
hanseníase; ações de saúde bucal, de saúde da criança
e de saúde da mulher.
Os investimentos na Atenção Primária em Saúde
aparecem, diante desse cenário, como um elemento im-
portante na busca por melhores resultados no campo da
saúde pública.
Segundo apontamento da Organização Mundial de Saúde
(OMS), os sistemas de saúde encontram-se inseridos
em uma lógica de comercialização de procedimentos,
caracterizada pelo centralismo nos procedimentos cura-
tivos e especializados, com um enfoque desproporcional
nos hospitais e na subespecialização. O número de es-
pecialistas aumenta exageradamente em detrimento da
formação de clínicos gerais. Esse processo é estimulado
por interesses profissionais, peso da indústria de equi-
pamentos e farmacêutica. A atenção terciária especiali-
zada gera uma resposta a uma procura real, necessária,
no mínimo, para a credibilidade política do sistema de
saúde, o que empurra os investimentos públicos e pri-
vados para longe da atenção primária.
No entanto a experiência dos países industrializados
mostra que uma concentração desproporcional em a-
tenção terciária especializada valoriza pouco o dinheiro
gasto. A centralização hospitalar implica custos consi-
deráveis, desnecessários e compromete as dimensões
humana e social da saúde. Por exemplo, no Líbano, exis-
tem mais unidades de cirurgia cardíaca por habitante do
que na Alemanha, porém não se apresentam programas
direcionados à redução de fatores de risco da doença
cardiovascular. As maneiras mais ineficientes de abordar
os problemas da saúde estão, assim, substituindo for-
mas mais efetivas, eficientes e equitativas de organizar
os cuidados de saúde e de melhorar a saúde.
Desde os anos 80, a maioria dos países da Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico -
OCDE tem tentado diminuir a sua dependência de espe-
cialistas e tecnologias hospitalares e manter os custos
sob controle. Em muitos países de renda elevada (mas
não em todos), a aposta na Atenção Primária em Saúde,
nos anos 80 e 90 conseguiu um melhor equilíbrio en-
tre atenção curativa especializada, cuidados de primeiro
contato e promoção da saúde.
Mais recentemente, países de renda média, tais como
o Chile com a sua Atencion Primaria de Salud, o Brasil
com a sua Estratégia de Saúde da Família e a Tailândia
com o seu esquema de cobertura universal alteraram,
de forma muito semelhante, o equilíbrio entre a atenção
hospitalar especializada e a atenção primária.
Os resultados são encorajadores: melhoria dos indica-
dores de resultados, combinada com um progresso sig-
nificativo na satisfação por parte dos doentes. Em cada
um desses casos, a mudança ocorreu como parte de
um movimento em direção à cobertura universal, com
mais direitos dos cidadãos ao acesso e à proteção so-
cial. O fortalecimento da Atenção Primária passa por
diversos critérios, entre eles, formação e valorização
dos profissionais de saúde. No município de Cariacica,
apresenta-se um quadro de precariedade dos vínculos
de trabalho, resultando em grande rotatividade e baixa
valorização desses profissionais. A grande quantidade
de trabalhadores temporários inviabiliza a continui-
3.9 :: SAúDE
dade das ações executadas e o desenvolvimento de
uma política permanente em saúde. Na assistência di-
reta ao paciente, a alta rotatividade de profissionais di-
ficulta a formação de vínculo, a responsabilização e a
atenção integral, tão importantes para o atendimento
de qualidade. A estrutura administrativa atual, apesar
de ter sido melhorada recentemente, reflete algumas
adaptações que foram introduzidas, para dar conta de
Programas e Projetos.
A atuação multissetorial é também fundamental para
o alcance de melhores resultados em termos de saúde
pública e diminuição dos gastos. A articulação de temas
diversos, como currículos escolares, as políticas indus-
triais direcionadas à igualdade dos gêneros, ou à segu-
rança dos alimentos e dos bens de consumo, segurança
pública, planejamento urbano e meio ambiente, impli-
cam uma influencia profunda para a saúde, ou mesmo
determinam a saúde de comunidades.
126
EDUCAÇÃO
3.10
A educação é um dos setores mais importantes para o
desenvolvimento de uma nação, é uma prática social
que produz conhecimentos e faz com que o país cresça,
possibilitando uma renda melhor e mais qualidade de
vida para as pessoas.
A análise da situação educacional do município de Ca-
riacica se fundamenta nos principais indicadores de ins-
trução da população, de escolarização e de eficiência do
sistema.
Um adequado grau de instrução da população é requisi-
to essencial para o desenvolvimento do município, para
garantir o exercício da cidadania e promover a igualdade
de oportunidades na sociedade. O desafio de ampliar a
escolaridade e a qualidade da educação no município de
Cariacica, no entanto, ainda se coloca de forma mar-
cante, sobretudo em virtude da persistência de proble-
mas de acesso e de ensino-aprendizagem.
A População da Educação Infantil no ano 2000 totalizava
44.482 crianças, dessas, 25.522 eram de 0 a 3 anos
(creche) e 18.960, de 4 a 6 anos (pré-escola). Já no ano
de 2010, houve um decréscimo dessa população para
31.601 crianças, das quais, 21.049 são crianças de 0 a
3 anos (creche) e 10.552, de 4 a 5 anos, de acordo com
a alteração da LDB, em 2006, no que se refere à nova
faixa etária da pré-escola.
Quanto a População da Educação Fundamental, que, em
2000, considerava crianças de 7 a 14 anos, houve um
acréscimo devido à alteração da LDB, que incluiu crian-
ças de 6 anos nessa modalidade de ensino, passando
de 51.232 crianças, em 2000, para 52.336 crianças,
em 2010.
Já o Ensino Médio, que inclui a faixa etária de 15 a 17
anos, em 2000, a população total era 20.564 adoles-
centes e, em 2010, 18.561 adolescentes.
Além da Educação Básica descrita acima, o município
de Cariacica conta também com a Educação Especial,
dedicada às pessoas com deficiência; a Educação para
Jovens e Adultos EJA, destinada àqueles que não tive-
ram acesso à escola, ou continuidade de estudos, no en-
sino fundamental e médio, na idade própria; a Educação
Profissionalizante, que visa formar e qualificar profissio-
nais, em todos os níveis de ensino; e a Educação Supe-
rior que vem para atender a demanda de profissionais
qualificados.
127
Educação Infantil
Houve nos últimos anos uma significativa expansão do atendimento na Educação Infantil, porém verifica-se que esse atendimento ainda é tímido nessa etapa, no município de Cariacica,
conforme demonstra a tabela a seguir.
3.10 :: EDUCAÇÃO
Observa-se que a maioria das matrículas da educação infantil foi oferecida pela rede municipal,na última década, conforme demonstra tabela 02.
128
Ensino Fundamental
Ao analisar as matrículas dessa etapa de ensino, no período de 2000 a 2010, observa-se que elas sofreram oscilações ano a ano, constatando-se, também, a maciça presença do setor
público nessa área.
Ensino Médio
É a modalidade de ensino que apresenta indicadores mais preocupantes, tendo em vista que, na faixa etária de 15 a 17 anos - que é a faixa etária que concentra a População do Ensino Médio,
existia em 2010 uma população de 18.561 habitantes, enquanto que a matrícula nessa modalidade de ensino, em 2010, foi de 12.670, sendo que esse número inclui todos os alunos matriculados
no ensino médio, inclusive os que estão fora da faixa etária de 15 a 17.
3.10 :: EDUCAÇÃO
129
Educação Especial
A análise da evolução da educação especial demonstra que, apesar de aquém das necessidades efetivas do município, o conjunto de ações desenvolvidas pelas redes de ensino, embora ainda
pouco expressivo, está garantindo um impulso gradativo no acesso e na superação do paradigma e da prática de institucionalização e segregação em favor da educação inclusiva, com atenção à
diversidade dos alunos como um eixo de ação pedagógica, no marco de uma educação de qualidade para todos. O gráfico, a seguir, demonstra com maior clareza este atendimento.
Como o ensino médio atende também aos alunos fora da faixa etária de 15 a 17 anos, por terem esses seres iniciaram os estudos mais tarde, ou por causa das taxas de repetência e abandono
que compõem os índices de distorção idade/serie, calcula-se uma taxa de escolarização líquida que identifica quantos alunos desse ensino estão na faixa etária de 15 a 17. Em 2000, a taxa de
escolarização líquida era de 37,9%; em 2010, essa taxa alcançou 69,1 pontos percentuais.
3.10 :: EDUCAÇÃO
Gráfico – Matrícula da Educação Especial, em classes comuns, com sala de recursos, por tipo de excepcionalidade/Cariacica - 2008.
130
Educação de jovens e Adultos
A oportunidade de obter conhecimento e desenvolver valores, atitudes e habilidades que possibilitem aos jovens e adultos desenvolver suas capacidades para o trabalho, para participar
plenamente de sua sociedade, para obter o controle de sua própria vida e para continuar aprendendo, deve, portanto, ser dada a todos.
Em Cariacica, apesar dos avanços significativos obtidos ao longo da década, a grande dificuldade das políticas de EJA continua sendo o atendimento precário, que ainda não responde à
demanda potencial existente.
Educação Profissional
A educação profissional, cujo objetivo é o de formar e qualificar profissionais, em todos os níveis de ensino, com vistas ao desenvolvimento das aptidões para a vida produtiva, em todos
os setores da economia, tem tido pouco destaque no estado do Espírito Santo, o que tem culminado no chamado “apagão de mão-de-obra”.
Os dados da matrícula registrados na última década comprovam um inexpressivo atendimento nessa modalidade de ensino, conforme demonstrado na tabela a seguir.
3.10 :: EDUCAÇÃO
131
Educação Superior
A nova dinâmica de expansão do ensino médio e a crescente seletividade do mercado de trabalho que exige mão-de-obra qualificada, tendem a exercer uma pressão cada vez maior sobre
a educação superior, exigindo a ampliação de vagas, a diversificação dos cursos, a flexibilização dos currículos, a melhoria da qualidade do ensino e a parceria com o setor produtivo.
No período de 2000 a 2009, nota-se um crescimento extraordinário no volume de matrículas na Educação Superior. Essa tendência de expansão mais acelerada da educação superior
deverá se manter na próxima década, respondendo a uma demanda que também continuará aquecida.
Parque Escolar
O parque escolar do município é composto por 307 unidades escolares entre urbanas e rurais, de acordo com o censo escolar 2010. Deste total, o maior percentual de escolas encontra-
se concentrado na rede municipal, conforme demonstra a tabela 9.
3.10 :: EDUCAÇÃO
132 3.10 :: EDUCAÇÃO
11 O indicador utilizou a primeira coleta de dados levantados em 2005 para estipular a meta seguinte de 2007.
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB
O índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) foi criado em 200711 para medir a qualidade de cada escola e de cada rede de ensino. O indicador é calculado com base no desempenho do estudante em avaliações do INEP e em taxas de rendimento escolar. Assim, para que o Ideb de uma escola, ou rede, cresça é preciso que o aluno aprenda, não repita o ano e frequente a sala de aula.
Prova Brasil
A Prova Brasil e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) são avaliações para diagnóstico, em larga escala, desenvolvidas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep/MEC). Têm o objetivo de avaliar a qualidade do ensino oferecido pelo sistema educacional brasileiro, a partir de testes padronizados e questionários socioeconômicos.
Programa de Avaliação da Educação Básica do Espírito Santo - PAEBES
Além das avaliações externas nacionais, o município de Cariacica participa, também, das avaliações do Programa de Avaliação da Educação Básica do Espírito Santo, desenvolvido, no âmbito do estado, pela Secre-
taria de Estado da Educação, cujo objetivo é verificar o nível de proficiência escolar dos alunos das 4ª séries/5º anos e das 8ª séries/9º anos do ensino fundamental, nas disciplinas Língua Portuguesa e Matemática.
A tabela 12 demonstra o percentual de alunos enquadrados em cada nível de proficiência, de acordo com os resultados das avaliações realizadas pelo PAEBES, no ano 2009.
1333.10 :: EDUCAÇÃO
1343.10 :: EDUCAÇÃO
Índices de Distorção Idade/Série
Nota-se, pelos dados analisados, que, apesar de o problema continuar a ser grave, houve uma evolução bastante positiva com a queda da taxa de distorção idade/série em todas as
dependências administrativas, no período demonstrado a seguir.
Em relação aos indicadores de eficiência do ensino médio, observa-se que apresentam algumas poucas melhorias, mas ainda estão longe do desejável. No que se refere à idade, o
esperado é que o aluno conclua o ensino médio aos 17 anos, no entanto constatou-se uma grande distorção idade/série como demonstrando na tabela a seguir.
135
Notas: 1) O mesmo docente pode atuar em mais de um nível/modalidade de ensino e em mais de um estabelecimento.
2) O mesmo docente de ensino fundamental pode atuar de 1ª a 4ª e de 5ª a 8ª série.
3.10 :: EDUCAÇÃO
Índices do Rendimento Escolar
A tabela a seguir demonstra o tamanho do esforço a ser empreendido para a superação das altas taxas de reprovação e abandono escolar verificadas no município, especialmente, nas
redes públicas de ensino.
Profissionais da Educação
Em relação à formação docente na Educação Infantil, o Censo Escolar 2006 indica que, parte dos professores (funções docentes), vinculados à rede municipal e às escolas da iniciativa
privada, não possuíam a habilitação mínima exigida, que é o curso normal – ensino médio. E menos da metade dos professores possuíam licenciatura plena - a exigida na legislação
nacional.
136
Em relação ao ensino fundamental, ainda podemos encontrar, na iniciativa privada e municipal, em número bem pequeno, professores sem a habilitação mínima exigida, como mostra
a tabela a seguir.
Para a implementação do ensino médio, o município contou com profissionais possuidores de cursos de graduação superior, com ou sem licenciatura.
3.10 :: EDUCAÇÃO
1373.10 :: EDUCAÇÃO
A rede municipal de Cariacica dispõe do Estatuto do Magistério Público Municipal, aprovado pela Lei Complementar nº 017/2007. Diante da nova ordem legal, o município de Cariacica
deverá adequar, no menor tempo possível, o Estatuto do Magistério e o Plano de Cargos, Carreira e Vencimento do Magistério, em todos os aspectos pertinentes da atual legislação.
Não obstante já se tenha tido a iniciativa da elevação dos vencimentos nos últimos anos, ainda não se equipara aos municípios do seu entorno metropolitano.
Com relação à formação de profissionais do ensino, são apontadas algumas iniciativas. Conforme documentos consultados, a política de formação continuada da Secretaria Municipal de
Educação - SEME tem sustentação na Teoria da Gestão Democrática e da Emancipação Social, conforme prevê seu Plano de Melhoramento 2010/2012. A SEME garante a realização de
cursos e similares, de forma sistêmica, dentro e fora do horário de trabalho nas unidades de ensino e/ou no órgão central, abordando temáticas especializadas à sua área de ação, para
estrategicamente qualificar a oferta da educação no município.
138 3.10 :: EDUCAÇÃO
Órgão Gestor da Educação Municipal
As políticas educacionais do município são pensadas
e implementadas sob a coordenação da Secretaria
Municipal de Educação - SEME, órgão vinculado à es-
trutura administrativa da Prefeitura Municipal de Car-
iacica. Na estrutura organizacional da SEME, além do
próprio Secretário, integram o nível de direção supe-
rior, duas unidades denominadas de Subsecretaria para
Assuntos Administrativos e Subsecretaria para Assun-
tos Pedagógicos. Na linha de execução programática,
apresentam-se 5 gerências, a saber: Gerência de En-
sino e Gerência de Educação Cidadã - voltadas exclusi-
vamente para as questões pedagógicas; Gerências de
Planejamento, Administrativa e de Educação Integrada
- voltadas mais para as ações administrativas, de plane-
jamento e de articulação e integração escolar. Duas
equipes de assessoria técnica dão o suporte necessário
ao secretário, tanto nas questões administrativas, como
nas pedagógicas. Outros 2 colegiados: o da Educação e
o de Gerenciamento do Fundeb garantem a assessoria e
a participação dos diversos segmentos do poder público
e da sociedade na definição e implementação das políti-
cas educacionais. Todas essas unidades administrativas
e, ainda, um Núcleo de Apoio Administrativo, Orçamen-
tário e Financeiro são responsáveis por garantir o apoio
e o suporte necessários às unidades escolares de edu-
cação infantil e de ensino fundamental da rede munici-
pal.
A Democratização e a Descentralização da Gestão
Educacional
O município de Cariacica tem vivido uma experiência
muito rica em termos de gestão escolar, democrática e
participativa, contando com vários instrumentos legais
e órgãos colegiados, quais sejam:
• Conselho Municipal de Educação – COMEC - está com-
posto paritariamente por 22 (vinte e dois) represen-
tantes do poder público e da sociedade e respectivos
suplentes. O COMEC tem garantido muitos avanços no
que diz respeito à normatização e assessoria à própria
rede municipal e, também, quanto à orientação às uni-
dades privadas de educação infantil, por constituir-se
órgão normativo do sistema municipal de ensino.
• Conselho de Alimentação Escolar – CAE - tem funções
de natureza deliberativa, fiscalizadora e de assessora-
mento, em assuntos referentes à Gestão do Programa
de Alimentação Escolar e possui representação social
em sua composição. Dentre os desafios relativos a essa
área está o de o município ter condições de complemen-
tar a alimentação dentro dos padrões e o de impulsionar
a comercialização dos gêneros alimentícios, valorizando
as culturas locais.
Gestão Democrática do Ensino Público Municipal – apro-
vada, em 2009, a Lei de Gestão Democrática do Ensino
Público Municipal de Cariacica, na qual estão estabeleci-
dos os seguintes princípios:
• Corresponsabilidade entre poder público e sociedade
na gestão da escola;
• Organização e participação dos segmentos da comu-
1393.10 :: EDUCAÇÃO
nidade escolar nos processos decisórios, através de re-
presentação em órgãos colegiados;
• Transparência nos mecanismos pedagógicos, adminis-
trativos e financeiros;
• Eficiência na gestão dos recursos públicos;
• Garantia de descentralização do processo educacional;
• Autonomia das unidades de ensino na gestão adminis-
trativa, financeira e pedagógica.
A autonomia pedagógica nas unidades de ensino da rede
municipal é assegurada mediante a formulação do seu
projeto político-pedagógico, construído coletivamente,
em consonância com as políticas vigentes e as normas
do Sistema Municipal de Ensino. Respaldam essa auto-
nomia a própria LDB e a Lei Complementar nº 26/2009
(arts. 9º, 13 e 64) e a Resolução 031/2008 do COMAE.
A autonomia administrativa das unidades de ensino da
rede municipal é garantida pela eleição direta de dire-
tores, vice-diretores e coordenadores de turnos; pela
eleição de representantes de segmentos da comunidade
escolar para o Conselho de Escola e da Caixa Escolar e
pela participação dos segmentos da comunidade escolar
nos debates e deliberações desses dois últimos órgãos.
Os Conselhos Escolares são regulamentados por meio
dos Decretos Nº. 111 e 139/2004 e constituem-se cen-
tros permanentes de debates e órgãos articuladores de
todos os setores escolares e comunitários, compondo-
se, em cada escola, de um colegiado formado por re-
presentantes dos segmentos da comunidade escolar, de
acordo com as normas estabelecidas no seu regulamen-
to. Os conselhos têm funções consultivas, deliberativas
e fiscalizadoras nas questões pedagógicas, administra-
tivas e financeiras.
A Eleição de Diretores teve seu primeiro pleito realizado
no segundo semestre de 2009, com ampla participação
da comunidade, e o segundo pleito em 2011. Dentre
as dificuldades encontradas nesse processo, está a da
organização dos segmentos nas unidades escolares e,
consequentemente, a da pequena participação em al-
gumas unidades. Ampliar essa participação da comu-
nidade escolar e garantir a autonomia e a participação
política de todos são desafios a serem enfrentados nos
anos vindouros.
A autonomia financeira das unidades de ensino da rede
municipal é assegurada mediante a alocação de recur-
sos financeiros no orçamento anual da Secretaria Muni
cipal de Educação e sua transferência periódica às Cai-
xas Escolares, podendo ser complementados esses re-
cursos com doações de pessoas físicas e jurídicas.
As caixas escolares são associações sem fins lucrativos,
dotadas de personalidade jurídica de direito público e
estrutura de direito privado, e têm como finalidades,
dentre outras, as de gerir os recursos financeiros repas-
sados às unidades de ensino pelo poder público e de-
mais recursos assegurados em lei, bem como congregar
iniciativas comunitárias, ações organizadas e decisões
coletivas que se destinem a:
a)Prestar assistência aos alunos;
b)Contribuir para o funcionamento eficiente, eficaz e
criativo da escola;
c)Promover a melhoria da qualidade de ensino, propor-
cionando uma articulação mais estreita entre a comuni-
dade escolar;
d)Atuar na manutenção e desenvolvimento do ensino;
e)Participar de programas de assistência social, médica
e educacional, dentre outros, promovidos pelo poder
público, como, também, pela comunidade escolar.
Não obstante os avanços dessa experiência, pode-se
afirmar que os desafios ainda são muitos, quais se-
jam, o de ampliar a participação da comunidade escolar
através da organização dos segmentos, garantindo a
autonomia e a participação política de todos(as), bem
como, o de melhorar o acompanhamento e a fiscalização
na aplicação dos recursos que são repassados às escolas
e o de ampliar o volume de recursos para as escolas.
Iniciativas Inovadoras
a - Para a ampliação das oportunidades educacionais
/ permanência dos alunos e melhoria do ensino e da
aprendizagem:
1 - Do Governo Federal absorvidas pelo município
Ensino fundamental de 9 anos – Proporciona às crianças
um tempo maior nas escolas, mais oportunidades de
aprender e um ensino de qualidade.
•Educação Integrada: Programa Mais Educação – pro-
grama com foco na educação ampliada e na interação
escola/comunidade.
•Programa Bolsa Família – Controla e amplia a frequên-
cia escolar, além de diminuir a evasão escolar.
•Programa Escola Aberta - Contribui para a melhoria da
qualidade da educação e a inclusão social.
2 – Do próprio município
•Projeto Semearte – Amplia as ações educativas com
propostas socioculturais que contribuem para elevação
da autoestima.
•Educação pelo Movimento - Mantém maior articulação
escola / comunidade, por meio da criação e ampliação
dos núcleos esportivos.
•Informática na Escola/Internet – Visa o uso das tecno-
logias educacionais como ferramenta de apoio ao pro-
140
cesso ensino-aprendizagem, através de instalações de
laboratórios de informática.
•Esporte na Escola
•Jogos Estudantis Municipais de Cariacica
b - Para a inclusão dos alunos com necessidades educa-
cionais especiais
•Salas multifuncionais
•Carro adaptado
c - Para a correção do fluxo escolar – Programa específi-
co destinado a alunos que se encontram com defasagem
em relação à idade/série.
d - Para a educação de jovens e adultos
• Projeto Vale Alfabetizar – Minimiza o alto índice de
analfabetismo no município, incentivando a continui-
dade dos estudos às pessoas acima de 15 anos de idade
e fortalecendo a Educação de Jovens e Adultos.
• Projovem Urbano – Insere, no contexto educacional,
jovens de 18 a 29 anos que estão fora da escola, pos-
sibilitando a conclusão do ensino fundamental e a quali-
ficação profissional.
e - Para a Educação Ambiental - Agenda 21 Escolar –
Prepara os alunos como cidadãos que trabalham por
uma sociedade mais justa e ecologicamente mais sus-
tentável, ao possibilitar-lhes conhecer e investigar a
problemática do seu meio-ambiente mais próximo.
f - Para o aprimoramento profissional
• Pró-Letramento - Programa de formação continuada
de professores do ensino fundamental, para melho-
ria da qualidade de aprendizagem da leitura/escrita e
matemática.
• Gestar II - programa Gestão da Aprendizagem Escolar
que oferece formação continuada em língua portuguesa
e matemática aos professores dos anos finais (do sexto
ao nono ano) do ensino fundamental em exercício nas
escolas públicas.
g - Para a melhoria da gestão escolar
Plano de Desenvolvimento da Escola – PDE Escola - Fer-
ramenta gerencial que auxilia a escola a realizar melhor
o seu trabalho.
Conclusão
Com base na análise dos dados coletados e depoimen-
tos da equipe do órgão gestor, verifica-se que, no decor-
rer de sua existência, o Sistema Municipal de Ensino
de Cariacica construiu e consolidou um conjunto de
competências que lhes dão sustentação para enfrentar,
senão todas, muitas das demandas e transformações
provocadas pelo ambiente externo e que devem ser
preservadas e aprofundadas. São as chamadas for-
ças, pontos fortes ou potencialidades, ou seja, são as
variáveis que o sistema controla e executa bem. Há,
todavia, que se considerar, também, que, no contexto
interno, ainda persistem muitos pontos fracos ou fragili-
dades que representam desvantagem atual ou potencial
para o Sistema Educacional e que limitam, dificultam ou
impedem o seu desenvolvimento.
141
144
DIREITOS hUMANOSjUVENTUDE
3.11
Pensar sobre a realidade dos direitos humanos de uma
cidade é saber como está a qualidade de vida de seus
habitantes. Afinal, mensurar a situação dos direitos hu-
manos é perceber como a dignidade humana está sendo
protegida, respeitada e promovida. Dessa forma, é im-
portante notar que, muito embora haja certa centrali-
dade no papel do poder público no que tange aos direi-
tos humanos, é também dever da sociedade, como um
todo, atuar nessa direção.
O município de Cariacica possui uma história marcada
por desmandos de toda ordem na esfera pública, tendo
tido, nos últimos 30 anos, mais de 20 Prefeitos. Não
por acaso, diversos grupos políticos aliaram-se a gru-
pos criminosos numa perversa associação que permitiu,
aliada a outros fatores, que o município fosse terreno
fértil para a prática criminosa com futura impunidade.
A eleição de governantes aliados ao crime organizado
capixaba foi o ápice desse processo.
Ainda que esse processo tenha sido interrompido na
última década, a magnitude e a complexidade dos
problemas deixados por esse ranço ainda desafiam e
continuarão a desafiar o poder público e a sociedade
cariaciquense. Não obstante os inegáveis esforços dos
últimos anos, os indicadores da violência ainda situam
Cariacica como uma das cidades mais violentas do Es-
pírito Santo. Em 2009, foram 355 homicídios no mu-
nicípio, colocando-o na segunda posição no ranking da
morbidade violenta no Espírito Santo. Pelo índice da Or-
ganização das Nações Unidas para mensurar a violência,
seria aceitável o indicador de 10 mortes por 100 mil
habitantes, para se entender uma sociedade em grau de
normalidade. O Brasil possui um indicador de 26 mor-
tos por 100 mil habitantes, o que seria já considerado
guerra civil. No caso de Cariacica, levando-se em con-
sideração a população de 349 mil habitantes, o índice
chega a absurdos 97 mortos por 100 mil habitantes. Em
2010, foram 309 homicídios, com índice de 83,2 mortos
por 100 mil habitantes.
Os bairros mais afetados pela violência são Flexal, Nova
Rosa da Penha, Padre Gabriel e Castelo Branco, embora
tenha havido uma pequena redução de 5,5%, em com-
paração com o ano anterior, os números são demasiada-
mente elevados. As vítimas são, na esmagadora maio-
ria, homens jovens de 17 a 25 anos e, de acordo com
o Delegado Chefe do DPJ de Cariacica, 70% a 80% dos
crimes têm ligação com o tráfico de drogas.
Há bairros de Cariacica ainda dominados por grupos de
extermínio com atuação desde a década de 90, cujos
líderes, muitos ainda soltos, são acusados pela polícia
de mais de 40 homicídios. O que esperar da participação
popular em associações de moradores em comunidades
como essa? O que esperar do orçamento participativo
nessa região? O que pensar da atuação do conselho
tutelar, do conselho da escola, das pastorais religiosas
etc.? Como ser candidato a vereador nessas condições?
Pensando sobre os direitos individuais, há que se falar
da situação da privação de liberdade em Cariacica.
Atualmente, o município concentra três unidades pri-
145
sionais (Penitenciária Estadual Feminina, Penitenciária
Feminina de Cariacica e Penitenciária Feminina Semi-
aberta), um Hospital de Custódia para Tratamento
Psiquiátrico e o Instituto de Atendimento Sócioeducativo
do Espírito Santo - IASES que abriga unidades de inter-
nação para adolescentes (UNIP, UNIS, UFI).
Muito embora a responsabilidade com as referidas Uni-
dades seja exclusivamente do Governo do Estado, o
poder público municipal e a sociedade cariaciquense
também são afetados diretamente com a realidade do
complexo prisional local e devem se posicionar sobre
ele. Não raras são as notícias sobre graves violações de
direitos humanos nessas unidades. Relatos de tortura,
maus-tratos e execuções, além de rebeliões e fugas são
constantes e já foram perversamente incorporados à re-
alidade das comunidades adjacentes.
Na UNIS, por exemplo, em 2009, foram registradas
3 mortes violentas, e uma série de rebeliões vem se
sucedendo. O Estado brasileiro responde a uma ação
na Corte Interamericana de Direitos Humanos, na Costa
Rica, por causa de graves violações aos direitos hu-
manos, ocorridas na UNIS. A Corte, órgão contencioso
da Organização dos Estados Americados – OEA deter-
minou, em 15 de março de 2011, que o Brasil deva ga-
rantir a vida e a integridade dos adolescentes privados
de liberdade e de todos os funcionários da Unidade de
Internação Socioeducativa de Cariacica. O tribunal foi
acionado sobre as condições desumanas da Unis por di-
versas denúncias de tortura dos internos, superlotação,
rebeliões frequentes e até homicídios.
Ora, estamos falando, portanto, de pessoas, adoles-
centes, mulheres e homens que são seviciados, tortura-
dos e mortos dentro de instituições públicas localizadas
na cidade de Cariacica. Construir uma cidade sustentáv-
el, como se pretende neste planejamento, deve incluir
um novo paradigma público de tratamento à privação
de liberdade, e isso deve implicar ações de articulação
do poder público municipal e mobilização da sociedade
civil organizada.
Está, portanto, de um modo geral, esboçado um grave
quadro de violação aos direitos humanos do povo da
RMGV na dimensão das liberdades individuais. Um
quadro que, se inalterado, poderá ameaçar o futuro que
se deseja construir para a cidade.
Direitos econômicos, sociais, culturais e ambien-
tais.
Só há concretude de direitos sociais se houver políticas
públicas correspondentes e, por essa razão, a análise
da situação dos direitos sociais em Cariacica nos remete
à complexa e tensa relação existente, na cidade, entre
diversos elementos que compõem a garantia de direitos.
Estamos falando da forma desordenada de ocupação do
território, da enorme e histórica carência dos munícipes
em termos de garantia de direitos sociais por meio de
políticas públicas, dada a intencional omissão do poder
público ao longo das últimas décadas, das dimensões
geográfica e demográfica de um município do porte
de Cariacica e da menor receita per capita do Espírito
Santo.
A conjugação desses elementos faz com que os indica-
dores sociais de Cariacica, muito embora estejam mel-
horando nos últimos anos, ainda sejam considerados
medianos. Tendo o índice de Desenvolvimento Humano
- IDH 12 em 0,75 (segundo dados do PNUD 2000), o
município fica em último lugar em comparação com as
quatro maiores cidades do Espírito Santo.
No que se refere ao direito à segurança pública, com as
taxas de criminalidade que o município apresenta, so-
bretudo as de homicídio, era de se esperar que fosse
esse o direito mais reclamado pela população. Com
relação a este ponto, cabem aqui duas reflexões fun-
damentais. A primeira diz respeito à sensação de segu-
rança, ou seja, a percepção de que, mesmo não sendo
vítima direta da violência, a pessoa se sente insegura
por tudo o que ocorre a sua volta sem respostas por
parte do estado.
Quando avalia mal a política de segurança pública, na
esmagadora maioria das vezes, a população está, na
verdade, referindo-se, única e exclusivamente, à políti-
ca repressora, ou seja, à política de policiamento osten-
sivo (polícia militar) e policiamento investigativo (polícia
civil). Em ambos os casos, contudo, a responsabilidade
cabe ao Governo do Estado e não à prefeitura municipal.
Todavia, para o cidadão cariaciquense, pouco importa
de quem é a responsabilidade. Não importa saber, por
exemplo, que a polícia militar conta com um efetivo de
apenas 170 homens e 08 viaturas para cobrir os municí-
pios de Cariacica, Santa Leopoldina e Viana e que tal
responsabilidade é do Governo do Estado. O que importa
é, efetivamente, o fato de que vive em uma região, onde
o poder público não consegue garantir sua segurança.
Nessa questão da sensação de segurança, é importante
dizer que, não obstante estar muito vinculada à respon-
sabilidade constitucional do governo estadual, cada vez
mais, presencia-se pró-atividade dos governos munici-
pais com a criação de secretarias de defesa social e o
desenvolvimento de ações como as guardas civis e os
programas de videomonitoramento, algo que ainda é in-
cipiente em Cariacica.
12 Indicador usado, desde a década de 90, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, para medir o padrão de vida de uma população, é construído a partir de dados de expectativa de vida ao nascer, educação e PIB per capita.
3.11 :: DIREITOS hUMANOS :: jUVENTUDE
146
A segunda reflexão que deve ser feita possui relação
com a dimensão preventiva da criminalidade. Diversos
estudos sobre violência no Brasil (PEDRAZINI, 2006;
PINHEIRO, 2003; FEFFERMAN, 2006) indicam a com-
plexidade desse fenômeno, que inclui em sua constitu-
ição e reprodução elementos como a acelerada urbani-
zação brasileira, quase uma “des-civilização”, associada
à inexistência de um estado de bem-estar social, ao
aparecimento do tráfico de drogas, à livre circulação de
armas, à corrupção no aparelho de justiça e segurança
etc.
Quanto ao direito à saúde, que se mostra com a segunda
pior avaliação da população, é importante constar que,
assim como o direito à segurança, aqui, também, o que
se coloca em jogo é a própria garantia do direito à vida.
Embora a rede municipal conte com 36 unidades de at-
endimento, a principal delas é a Policlínica de Itacibá,
cujo atendimento se faz 24 horas por dia e inclui atendi-
mento infantil. É nessa policlínica que se constatam as
maiores reclamações da população, sendo ela alvo de
constantes matérias negativas na mídia capixaba.
Ainda que consideremos a dificuldade da garantia de
direitos em um município com a complexidade de Car-
iacica, é preciso registrar o esforço do poder público em
cumprir a aplicação do percentual mínimo de destinação
orçamentária (15%) para a área de saúde, tendo inclu-
sive aumentado em quase 1% esse valor nos últimos
anos. Há que se considerar um aumento de 22% no to-
tal de profissionais da saúde entre 2004 e 2009, não ob-
stante o número de profissionais da área da fisioterapia
e da psicologia tenha diminuído. Aqui cabe a observação
sobre a ausência do serviço especializado de atenção
à saúde mental destinado à questão do tratamento da
dependência química. Há no município dois Centros de
Atenção Psicossocial – CAPS (Moxuara e Cidade) e não
há nenhum serviço especializado em álcool e outras
drogas. Pelas orientações do Ministério da Saúde, mu-
nicípios de grande porte como Cariacica deveriam con-
tar com uma rede de serviço de saúde mental composta
por CAPS II, CAPS III, CAPS AD, CAPSi, e rede básica
com ações de saúde mental e capacitação do SAMU.
Outra questão que comparece diz respeito à demanda
da juventude por saúde pública em Cariacica. A gravi-
dez, por exemplo, é maior causa de internação no mu-
nicípio. Além disso, mortes por causas externas (violên-
cia de um modo geral) é a segunda causa de óbitos,
sendo os jovens as principais vítimas.
Em todo caso, estão em andamentos ações que visarão
dar maior garantia do direito à saúde. Especialmente
com o novo Pronto Atendimento de Alto Lage, com ca-
pacidade para atendimento de 1500 pessoas por dia, e
com a instalação do Hospital Geral por parte do Governo
do Estado, Cariacica terá uma rede estruturada de at-
enção à saúde.
A indicação de que 42 mil famílias vivem em situação
de pobreza, o que poderíamos supor um quantitativo de
160 mil pessoas (quase a metade da população), revela
por si o grau de vulnerabilidade social e a necessidade
de estruturação de políticas e serviços com vistas à efe-
tivação de direitos. A política básica de transferência
de renda, qual seja o Bolsa Família, possuía, em 2010,
29.857 famílias inscritas no CADÚNICO, sendo que, des-
tas, 20 mil recebem o benefício. Dados da Secretaria de
Assistência indicam que 88% dos moradores da cidade
possuem renda de até 2,5 salários mínimos.
A necessidade de ampliação da rede de proteção social é
indiscutível. Há, hoje, no município, 7 Centros de Refer-
ência da Assistência Social – CRAS (porta de entrada
para a política de assistência) e 1 Centro de Referência
Especializado da Assistência Social – CREAS. Pelas dire-
trizes da política do Sistema Único de Assistência Social
– SUAS, já deveriam existir no mínimo 15 CRAS.
Quando analisamos o direito à educação, não obstante
os irrefutáveis avanços, como a efetivação de profes-
sores no quadro de servidores, a ampliação da rede de
78 para 101 unidades de ensino em 6 anos, a queda
da taxa de analfabetismo, a melhora dos indicadores de
qualidade medidos pela Prova Brasil etc., os problemas
ainda desafiam a municipalidade. A questão da garantia
do direito à educação infantil persiste como um prob-
lema com repercussões graves para toda a sociedade.
A ausência de creches é um fator de repercussão geral,
com reflexos diretos sobre a economia, por exemplo, as-
sim como a oferta do ensino médio e profissionalizante.
O número de alunos que se matriculam no ensino médio
está longe de corresponder ao número de matrículas do
ensino fundamental, o que indica evasão e pouca oferta.
Bairros como Padre Gabriel e Castelo Branco, dois dos
mais violentos para a juventude de Cariacica, não pos-
suem ensino médio, o que importa em maior vulnerabi-
lidade social dos adolescentes.
Com relação à educação em Direitos Humanos, o único
projeto identificado na Prefeitura diz respeito ao “Escola
que Protege”, uma parceria da Secretaria Municipal de
Educação – SEME com a Universidade Federal do Es-
pírito Santo. Trata-se de uma formação para educadores
da rede pública municipal, com carga horária de 120
horas, a fim de oferecer subsídios à atuação quanto à
prevenção das diversas formas de violência contra cri-
ança e adolescente. Ainda que extremamente relevante,
infelizmente, a ação não se trata de uma política institu-
cionalizada de governo, mas sim de uma ação isolada
realizada por meio de um convênio, o que deixa dúvidas
quanto à efetividade dos resultados.
Sobre o direito à moradia, segundo levantamentos fei-
tos pela Secretaria Municipal de Habitação, em 2009, o
déficit habitacional no município era de 11.170 novas
unidades. Há uma baixíssima oferta imobiliária no mu-
nicípio, sendo o que apresenta a menor taxa de con-
strução. Em 2008, por exemplo, segundo dados do Sin-
3.11 :: DIREITOS hUMANOS :: jUVENTUDE
147
dicato da Construção Civil, em Vitória foram entregues
9.800 novas unidades; em Vila Velha, 8.900; em Serra,
8.700 e, em Cariacica, apenas 796 novas unidades.
Quanto à mobilidade urbana, e, portanto, ao direito que
as pessoas têm de se locomoverem dentro da cidade, a
situação existente, hoje, pode ser evidenciada nos re-
sultados da pesquisa de opinião pública de Mobilidade,
Sistema Viário e Trânsito de Cariacica (Fevereiro/2011).
O principal meio de deslocamento da população é ôni-
bus, sendo que a maioria não se utiliza de dois ônibus
para um deslocamento, principalmente para chegar ao
trabalho. Não existe um sistema municipal de transporte
e os principais aspectos avaliados como insatisfatórios
na pesquisa foram: lotação dos ônibus, abrigo nos pon-
tos de ônibus, sinalização nos pontos de ônibus, segu-
rança nos terminais, organização das filas nos terminais
e cumprimento dos horários de viagem. Com relação
às condições de mobilidade, os itens mais criticados,
como insatisfatórios, foram: as condições das calçadas,
a largura das ruas e a pavimentação. Na opinião dos
entrevistados, para melhorar o trânsito em Cariacica,
seria necessário melhorar as vias e a pavimentação,
alargar as ruas e avenidas, implantar mão única nas
vias principais, implementar sinalização e fiscalização.
Para melhorar o transporte urbano, as sugestões foram
aumentar a frota de ônibus e melhorar a qualidade dos
coletivos.
Talvez um dos maiores desafios em relação à garantia
de direitos sociais, em Cariacica, resida no fato de que
a carência por tais direitos não é algo de um modo geral
territorializado. Com as incursões que fizemos pelo ter-
ritório de Cariacica, foi nítido perceber que o abandono
histórico do poder público foi algo espraiado por todo o
município. A ausência de infraestrutura urbana, as ocu-
pações desordenadas, as precárias condições das mora-
dias e da pavimentação das ruas vicinais, o armazena-
mento de lixo urbano, a presença de animais soltos nas
vias públicas, a falta de espaços de lazer e convivência
social, as condições de iluminação pública, a questão do
esgotamento sanitário, toda essa complexidade urbana
não é algo típico de um ou outro bairro, de uma ou
outra região da cidade, é uma realidade presente, de
um modo geral, em toda a cidade.
Cabe frisar que inexiste também qualquer política mu-
nicipal garantidora de direitos humanos advindos da
livre orientação sexual. A população de lésbicas, gays,
bissexuais e travestis é uma das que mais se mostram
vulneráveis a toda sorte de discriminação e violência, a
começar pelo ambiente familiar. O município de Cariaci-
ca, por exemplo, que possui a peculiaridade de ser cor-
tado por duas rodovias interestaduais, possui, ao longo
dessas rodovias, diversos pontos de prostituição que
contam, muitas vezes, com o público LGBT. Não raras
são as notícias divulgadas na mídia de atos de violência
contra essas pessoas que estão duplamente violenta-
das. Primeiro, porque são arrastadas para a prostitu-
ição por completa falta de opção e, depois, porque, ao
serem prostituídas, estão vulneráveis a diversas outras
violências.
Pela complexidade relatada até aqui, muito embora
reconhecendo os avanços registrados, é preciso notar
que a realidade da garantia dos direitos sociais em Car-
iacica ainda desafia seriamente o poder público e traz
para os cidadãos uma enorme sensação de pessimismo
quanto à alteração do quadro.
A situação das juventudes
Cariacica possui, segundo dados do IBGE 2010, 63,2 mil
jovens entre 15 e 24 anos. No censo de 2000, dados in-
dicavam que 60% da população cariaciquense possuíam
até 29 anos. É uma cidade que, muito embora esteja
envelhecendo, apresenta indiscutível maioria jovem em
sua pirâmide demográfica. Com um quantitativo dessa
natureza, seria um grande equívoco tratar a juventude
como um bloco de vontades, desejos, problemas e pos-
sibilidades comuns.
A primeira questão que comparece em qualquer estudo
sobre juventude diz respeito à violência. No caso caria-
ciquense, os dados são alarmantes. Segundo dados do
Ministério da Justiça, produzidos pelo estudo denomi-
nado “Mapa da Violência 2011 – Os Jovens do Brasil”,
Cariacica é o oitavo município do Brasil e o segundo do
Espírito Santo, onde mais jovens entre 15 e 24 anos
são mortos. O relatório explicita que o Estado, junto
com Alagoas e Pernambuco, com suas taxas acima de
100 vítimas jovens a cada 100 mil habitantes, ostentam
marcas que não têm comparação mundial e, justamente
por conta do número elevado, ultrapassam a categoria
de violência epidêmica.
O estudo revela a extrema diferença dos homicídios en-
tre a população não-jovem (0 a 14 anos e acima de
25 anos) e a jovem. Se, entre a população não-jovem,
só 1,8% dos óbitos é causado por homicídios; entre a
população jovem, os homicídios são responsáveis por
39,7% das mortes no País. No Espírito Santo, mais da
metade das mortes de jovens, no período estudado, foi
provocada por homicídio.
Quando os números de homicídios são expostos à difer-
enciação por raça e cor da vítima, os índices se tor-
nam ainda mais alarmantes e revelam que a juventude
negra está, de fato, sendo vítima de extermínio. Pelos
números totais registrados nos anos de 2002, 2005 e
2008, nota-se que existe um abismo entre os homicídios
registrados com vítimas negras e brancas. Em 2008, por
exemplo, 498 jovens negros foram assassinados no Es-
pírito Santo, contra 70 jovens brancos.
Outro estudo, também do Ministério da Justiça, o índice
de Vulnerabilidade Juvenil - IVJ 2009, realizado dentro
do “Projeto Juventude”, para a identificação do grau de
exposição à violência a que os jovens brasileiros são
submetidos, referente a jovens de 12 a 29 anos, rev-
ela o grau de vulnerabilidade dos jovens em Cariacica.
3.11 :: DIREITOS hUMANOS :: jUVENTUDE
148
O índice, medido nos 266 maiores municípios brasilei-
ros com mais de 100 mil habitantes, é calculado com
base em estatísticas sobre homicídios e mortes por aci-
dentes de trânsito e também indicadores sociais, como
frequência escolar e inserção no mercado de trabalho.
Em uma escala de zero a um, os municípios que estiver-
em mais próximos de zero têm menor risco de violência
para os jovens.
Cariacica apresenta o IVJ de 0,489, sendo considerado
como “alta vulnerabilidade”. A cidade aparece em 16º
lugar, na lista nacional, e em 3º, na lista estadual. De
acordo com a pesquisa, há uma relação direta entre vi-
olência e participação no mercado de trabalho e esco-
laridade, uma vez que os jovens de 18 a 24 anos que
não realizam funções remuneradas e não estudam for-
mam o grupo no qual o índice de vulnerabilidade é mais
elevado.
Cabe destacar as questões mais recorrentes reveladas
por grupos de jovens cariaciquenses pesquisados em
atividade da Agenda Cariacica:
• Política de educação insuficiente. A educação não cum-
pre a função social de formar para a cidadania e, tam-
bém, para o mercado de trabalho. Falta oferta de ensino
médio e profissionalizante. É insuficiente a oferta de
educação no meio rural, além do fato de que as poucas
oportunidades que existem não estão voltadas para a
fixação do jovem no campo;
•Política de inserção do jovem no mercado de trabalho
– dificuldade de empregabilidade para os jovens - quali-
ficação profissional para o jovem é insuficiente e não
atende à demanda local, assim após os cursos que são
oferecidos, o jovem não consegue se inserir no mercado
de trabalho. Os programas de qualificação estão muito
voltados à inclusão do jovem em condição subalterna no
mercado de trabalho – o tráfico aparece como opção de
inserção econômica;
•As políticas públicas para os jovens, de um modo geral,
são insuficientes e são elaboradas sem a participação
dos jovens;
•Atuação arbitrária dos agentes de segurança pública
que não respeitam os jovens e violam seus direitos, es-
pecialmente dos jovens negros e pobres;
•Disseminação das drogas, possibilitando o uso e tam-
bém o ingresso no tráfico – violência como consequên-
cia;
•Ausência de espaços públicos de convivência social
para os jovens. Não há equipamentos públicos voltados
para esporte, cultura e lazer nas 13 regiões do municí-
pio. Não há cinema, parques, teatros etc., o que con-
tribui para a inserção do jovem na criminalidade;
•Inacessibilidade dos jovens aos programas sociais ofer-
ecidos pela Prefeitura. Dificuldade de acesso, no que
tange à própria mobilidade urbana e, também, quan-
to aos requisitos para o ingresso nos projetos. Dessa
forma, os programas acabam não chegando aos jovens
que mais precisam;
•Inclusão digital – dificuldade de acesso à Internet –
poucos telecentros – dificuldade acentuada na zona ru-
ral;
•Êxodo rural – não há política alguma para a juven-
tude rural, muito menos para a fixação do jovem nessa
região, dessa forma o sonho do jovem passa a viver na
cidade;
•Política de Saúde para os jovens – faltam vagas nas
unidades de saúde – faltam médicos – falta atenção do
poder público para a gravidez na adolescência e para a
alta taxa de alcoolismo juvenil;
Esse diagnóstico, ainda que singelo, deve ser tratado
com bastante atenção. Longe de ser um retrato da ju-
ventude cariaciquense, é, no entanto, algo por ela pro-
duzido. Foram questões apontadas pelos próprios sujei-
tos que vivem, no seu dia-a-dia, as alegrias e as dores
de ser jovem em uma realidade muitas vezes adversa.
As dificuldades relatadas por esses jovens, quanto à ed-
ucação, à inserção profissional, ao tratamento dispen-
sado pela polícia, aos processos discriminatórios a que
são submetidos, à violência e à criminalidade, enfim,
tudo isso deve por nós ser extremamente relevado.
Uma questão que se soma a esse diagnóstico advém
da pesquisa de identidade. Segundo a pesquisa, a faixa
etária que menos gosta de morar em Cariacica está
entre os 16 aos 34 anos. Para os entrevistados dessa
faixa, o ideal seria mudar de município. Isso significa
que a juventude está insatisfeita de viver em Cariacica.
O mesmo estudo revela ainda um dado bastante inter-
essante sobre a juventude. Quando se analisa o perfil
dos cidadãos cariaciquenses que participam do processo
do Orçamento Participativo, apenas 13% são jovens en-
tre 16 a 24 anos. A pouca participação de jovens nessa
esfera política, quando são eles a maioria da população,
é um sintoma do grau de afastamento dessa população
dos espaços públicos e reflete o desinteresse em relação
a tomar parte dos rumos da cidade.
As respostas do Poder Público
Cabe destacar algumas iniciativas relacionadas mais
diretamente com as principais questões apontadas
pelo diagnóstico como violação aos direitos humanos.
A maior resposta do poder público municipal, nos últi-
mos anos, quanto à garantia dos direitos humanos,
foi a criação, em abril de 2009, da Secretaria Munici-
pal de Cidadania e Trabalho - SEMCIT. Estruturada em
seis gerências (Direitos Humanos e Segurança Pública;
Juventude; Igualdade Racial, Direitos da Mulher; Pro-
teção e Defesa do Consumidor; Capacitação Profissional
e Geração de Emprego e Renda), a Secretaria contou
com, aproximadamente, R$ 1 milhão em receita pre-
vista na Lei Orçamentária Anual de 2010. Com pouca
estrutura orçamentária, tendo que arcar com custeio e
desenvolvimento de políticas, os projetos da Secretaria
se mantêm por meio de convênios com o Governo do
Estado e com a União. A grande questão da captação
de recursos é a exigência da tecnocracia. Com poucos
funcionários, a demanda oriunda dos convênios passa a
3.11 :: DIREITOS hUMANOS :: jUVENTUDE
149
sobrecarregar ainda mais, haja vista que precisam atuar
desde a elaboração de projetos, passando pela execução
das ações e terminando com a detalhada prestação de
contas. São 74 servidores atuando na Secretaria, sendo
que a metade deles está concentrada apenas no PRO-
CON e no SINE e a outra metade se divide em todos os
outros setores da Secretaria.
Os dados sobre a violência em Cariacica, aqui já eviden-
ciados, fizeram com que o município passasse a integrar
uma das 10 regiões prioritárias do Brasil para a imple-
mentação de políticas do Programa Nacional de Segu-
rança com Cidadania – PRONASCI. A região escolhida
em Cariacica, para ser o Território de Paz, foi a região
da Grande Nova Rosa da Penha, composta pelos bairros:
Nova Rosa da Penha, Vila Progresso, Vila Cajueiro, Nova
Esperança e Padre Matias.
Desse modo, por causa dos enormes rebatimentos
causados pela violência, as principais ações desenvolvi-
das pela Gerência de Direitos Humanos e Segurança
Pública da SEMCIT estão concentradas muito mais na
prevenção à violência, do que na promoção de outras
políticas garantidoras de direitos humanos. Assim, as
ações de prevenção na área da segurança pública são
advindas de convênios com o Ministério da Justiça, dest-
acando-se, dentre outras:
• Mulheres da Paz: programa que visa envolver mul-
heres das comunidades com alto índice de violência na
promoção da cultura da paz.
• Protejo: programa voltado para jovens egressos do
sistema sócioeducativo, ou expostos a situação de vi-
olência.
• Pesquisa de diagnóstico e vitimização.
• Núcleo de Prevenção à Violência: projeto voltado à
capacitação de adolescentes da rede pública de ensino.
• Instalação do Gabinete de Gestão Integrada Municipal
– GGIM: colegiado ligado ao Gabinete do Prefeito e que
reúne os principais agentes políticos responsáveis pelas
políticas de segurança.
• Vídeo monitoramento. Em fase de instalação, a cen-
tral de monitoramento por vídeo nas regiões com maior
incidência criminosa possibilitará mais agilidade no at-
endimento e na apuração das ocorrências criminosas.
As ações da SEMCIT para a juventude concentram-se
mais diretamente no eixo do estímulo à cidadania e à
participação social, haja vista o grande esforço da ger-
ência em trabalhar com o movimento estudantil, seja na
disseminação da cultura da paz, seja na prevenção de
DST/AIDS, mas, especialmente, no fomento à criação
de grêmios estudantis e no fortalecimento de diversos
grupos de jovens. Ainda nesse eixo de estímulo à par-
ticipação cidadã, a Gerência realiza, anualmente, a Se-
mana da Juventude, que compreende o dia nacional da
juventude e o dia municipal da juventude, com várias
atrações em todas as regiões do município.
Merecem destaque, ainda, o projeto “Telecentro da Ju-
ventude”, que busca a inclusão digital dos jovens pela
disponibilização de computadores com acesso à Internet
de uso gratuito, e o Projeto “Rede que Vale”, com o obje-
tivo de incluir o jovem no mercado de trabalho pela re-
alização de cursos e oficinas e encaminhamento deles a
empregos. Importante observar que a SEMCIT coordena
as ações do PRONASCI no município por meio da Ger-
ência de Direitos Humanos e muitas de suas ações se
voltam para a juventude.
De 2006 a 2009, a municipalidade se deteve em realizar
eventos para a discussão da igualdade racial, desta-
cando-se a Conferência Metropolitana de Promoção da
Igualdade Racial; o Seminário da Anemia Falciforme; o
concurso com a temática de igualdade racial nas esco-
las da rede pública municipal; a apresentação da peça
de teatro “Os excluídos”, seguida de debate sobre a
questão étnico-racial para 18.000 alunos; as palestras
de conscientização quanto à causa da igualdade racial
em escolas municipais de Cariacica e Santa Leopoldina;
a corrida da Igualdade Racial de Cariacica; e um curso
de Modelo e Manequim Afro, buscando elevar a autoes-
tima e afirmar a identidade negra dos jovens afro de-
scendentes do município.
3.11 :: DIREITOS hUMANOS :: jUVENTUDE
152
SEGURANÇA PúBLICA CIDADANIA
3.12
Entre os mais significativos impactos da urbanização re-
cente estão: a alteração do padrão de ocupação e uso
da terra agrícola e do emprego da mão de obra rural;
a intensificação do êxodo rural, alterando a composição
populacional que passa a ser eminentemente urbana; a
baixa absorção de mão de obra nas atividades produti-
vas originárias das plantas industriais instaladas, evi-
denciando uma diminuição na geração de empregos for-
mais, e, consequentemente, um acentuado crescimento
do setor informal, desprovido de retaguardas advindas
do sistema de seguridade social e de garantia e perspec-
tiva segura de obtenção, por parte dos trabalhadores,
de estabilidade financeira e prosperidade temporal de
sua atividade.
No decorrer do intenso e rápido processo de industriali-
zação capixaba, alguns fenômenos urbanos se intensi-
ficaram ou se agravaram. A centralização da RMGV at-
raiu o processo migratório, o que contribuiu para formar
e reproduzir as grandes periferias urbanas. Sobreveio
ao processo de formação das periferias, uma represen-
tação sobre as mesmas por meio da qual se afirma a
existência de uma associação direta entre os grandes
bolsões de pobreza, que se formavam nos municípios da
região, a uma desordem urbana, ao caos e à violência
e criminalidade.
Moradores das periferias das cidades tendem a ser
retratados como desqualificados profissionalmente,
desempregados, com baixa escolaridade, vivendo o
esgarçamento, ou a perda de vínculos de referências
familiares e comunitários e à margem das normas e leis
sociais. É uma imagem que reaviva um componente
ideológico muito representativo, reforçando o clássico
conceito de “classes perigosas” mais uma vez associada
à pobreza e à miséria. Em Cariacica, alguns bairros se
destacam nesse imaginário: Nova Rosa da Penha, Flexal
I e II, Vila Palestina, entre outros.
A condição de pobreza, associada à baixa renda (ou a
ausência dela), passa então a nortear muitas políticas
públicas, com destaque para a de segurança, que identi-
ficam, nos bairros pobres, um potencial congênito para a
desordem urbana, condutas delinqüentes e transgresso-
ras e gestação da criminalidade. Por mais complexo que
o campo se mostre, a cognição pela qual se apreende as
necessidades da população dessas áreas não se prende
a nenhuma preocupação com a prevenção de even-
tuais conflitos decorrentes das condições degradadas do
meio, antes, justifica a práxis de órgãos de segurança
pública, que visa a reprimir crimes e contravenções.
Em Cariacica, tornou-se grave e decrescente a capaci-
dade de atendimento, por parte do poder público, das
infra-estruturas sociais e estatais, em especial, a oferta
de bens e serviços relacionados à educação, à saúde, à
previdência e assistência social e à segurança pública.
Essa situação, inicialmente comum aos demais municí-
pios da RMGV, em Cariacica, parece estar contida em
um “estado de coisas” cuja superação tem-se mostrado
mais difícil, apesar dos esforços recentes nessa direção.
A explicação, em parte, está em seu passado recente:
os gestores e o poder público municipal, (não sem al-
guma responsabilidade da administração pública estad-
ual), foram ineptos, contribuindo assim para agravar as
expressões da questão social no município.
Diante do exposto, visões negativas sobre o municí-
pio podem ser facilitadas, inclusive pela dificuldade de
vislumbrar algumas vantagens próprias ao município,
quando comparado com municípios circunvizinhos, mas
Cariacica oferece vantagens. Uma delas é o seu vasto
território, capaz de dar acolhida a empreendimentos
produtivos, tanto em sua região urbana, como na região
rural, ainda que, conforme o documento citado acima,
o contexto de oportunidades representado pelo taman-
ho do território não se dissocie de algumas ameaças.
Mesmo que pareça abstrata, Cariacica tem, hoje, outra
vantagem: a disposição de virar a página do passado,
para construir um futuro em que a violência não seja
uma banalidade, e em que a força do seu progresso
será ancorada na capacidade, do seu povo e de toda a
municipalidade, de apoderar-se dos espaços de decisão
dos rumos políticos e econômicos, exercendo a cidada-
nia com plena consciência de seus direitos e deveres
perante a coletividade.
Nos últimos anos, a taxa de homicídios da Grande
Vitória manteve-se acima da média estadual e dos de-
mais municípios. Em 2007, a Grande Vitória registrou
75 homicídios por 100.000 habitantes, os demais mu-
nicípios capixabas computaram 31 assassinatos por 100
mil habitantes, e o Espírito Santo computou 54 assas-
sinatos para cada grupo de 100 mil habitantes. Quando
são analisados os números absolutos, constata-se que
a aglomeração da Grande Vitória concentrou, cerca de,
68% dos 1.877 homicídios do Espírito Santo em 2007
(fonte: SIM/DATASUS, 2010).
Com base na análise da problemática capixaba, acredi-
ta-se que a ausência de políticas sociais e de um plane-
153
jamento territorial adequado, durante o auge do pro-
cesso de industrialização e urbanização, foram alguns
dos fatores cruciais que propiciaram sérios problemas
de ordem sócio-econômica, a saber: ocupação irregular
do solo urbano, aumento do desemprego, ineficiência
dos serviços básicos de saúde e educação, dentre out-
ros. Acredita-se, também, que o aumento da criminali-
dade violenta, registrado na Grande Vitória, nos anos
subsequentes à década de 70, estaria mais associado a
esses problemas estruturais do que à intensificação da
migração.
Em Cariacica, as taxas de homicídios seguiram uma
tendência semelhante ao comportamento temporal
das taxas de assassinatos da aglomeração da Grande
Vitória. Já na década de 80, as taxas de Cariacica apre-
sentavam-se mais elevadas que as taxas estaduais,
contudo foi na segunda metade desta década que as
taxas de homicídios de Cariacica se destacaram com al-
tos índices. Em 2007, registrou-se, cerca de, 89 hom-
icídios por 100 mil habitantes, ou seja, uma taxa supe-
rior ao índice estadual, que foi de 54 assassinatos por
100.000 habitantes.
Nos últimos anos, a taxa de Cariacica manteve-se acima
da média estadual, todavia, desde 2002, a taxa de hom-
icídios deste município vem ressaltando uma tendên-
cia de estabilização. Ainda que essa estabilização seja
proporcionada por índices elevados, é importante frisar
que, em nenhum momento da série histórica analisada,
o município de Cariacica manteve suas taxas de homicí-
dios constantes, como pode ser constatado no período
de 2002 a 2007. No mapa da figura 1, identifica-se a
distribuição espacial dos homicídios no município de
Cariacica no ano de 2009.
Na porção sul da mancha urbana, os bairros Castelo
Branco, Santa Catarina e Jardim Botânico apresentaram
altas concentrações de homicídios. Na porção norte, os
bairros Nova Rosa da Penha, Nova Esperança, Flexal
3.12 :: SEGURANÇA PúBLICA :: CIDADANIA
154
I, Flexal II e Vila Prudêncio também evidenciaram al-
tos níveis de concentração de homicídios. No centro da
mancha urbana, os bairros Mucuri, Vila Independência,
Santa Cecília, Campo Grande, Vila Palestina, Cruzeiro
do Sul, São Geraldo, São Geraldo II e Rosa da Penha
apresentaram concentrações médio-altas de homicídios.
O indicador de Crimes Letais Contra a Pessoa (CLCP)
destaca que os bairros de Nova Rosa da Penha, Nova
Esperança, Presidente Médice e Campo Grande regis-
traram concentrações médio-altas, enquanto Castelo
Branco e Santa Catarina se destacaram dos demais bair-
ros por apresentar altas concentrações de CLCP. Esses
dois bairros possuem um raio de influência de, aproxi-
madamente, 700m, ou seja, uma área de magnitudes
pequenas, quando comparada com a extensão territorial
do município de Cariacica. Outro conglomerado que se
evidenciou, tanto na análise dos homicídios, quanto no
mapa dos CLCP, foi o cluster de Nova Rosa da Penha e
Nova Esperança, que apresentou um raio de influência
de cerca de 600m.
O indicador de Crimes de Tráfico de Drogas Ilícitas
(CTDI) foi composto pelos registros de tráfico de ma-
conha, cocaína, crack e outras drogas ilícitas. O bairro
Nova Rosa da Penha se destacou dos demais bairros
por ter registrado o nível mais alto de concentração de
CTDI. O raio de influência de 400m se restringiu aos
limites territoriais de Nova Rosa da Penha. Vila Inde-
pendência, Vila Capixaba e Mucuri também apresenta-
ram altas concentrações de CTDI e formaram um cluster
com raio de abrangência aproximado de 400m. Car-
iacica Sede, São João Batista e Santa Luzia formaram
um conglomerado com concentração média dos Crimes
de Tráfico de Drogas Ilícitas ao norte da mancha ur-
bana. O bairro Vera Cruz, localizado a leste de Campo
Grande, apresentou comportamento espacial, referente
aos CTDI, semelhante ao identificado em Cariacica Sede
e seu entorno.
3.12 :: SEGURANÇA PúBLICA :: CIDADANIA
155
Muitos estudos ressaltam a associação dos Crimes Le-
tais Contra a Pessoa, em especial os homicídios, com
os Crimes de Tráfico de Drogas Ilícitas como o ápice
da violência, ou seja, quando este fenômeno social as-
sume suas características mais atemorizantes, bárbaras
e cruéis: confrontos armados em espaços públicos entre
gangues, chacinas, execuções, eliminação de informan-
tes, punições severas aos devedores e outros tipos de
atrocidades.
As ações violentas, perpetradas pela delinqüência or-
ganizada, são, geralmente, promovidas em decorrência
das disputas de território que se resumem em estraté-
gias de proteção, controle e ampliação do mercado e
subordinados.
A análise comparativa dos mapas de concentrações de
CLCP e CTDI permite identificar a correlação espacial
desses delitos no município de Cariacica, sobretudo nos
bairros Nova Rosa da Penha, Nova Esperança, Mucuri,
Vila Independência e Vila Capixaba. Tal constatação não
inviabiliza a possibilidade de outros bairros apresentar-
em a referida associação. Este é um indicativo em nível
de análise criminal estratégica que pode ser mais bem
explorado por meio da etiologia da violência e/ou por
levantamentos mais aprofundados, que complementam
este estudo.
O indicador de Crimes de Armas de Fogo (CAF) foi com-
posto pelo agrupamento dos registros de porte ilegal de
armas, fabricação ilegal de armas e munições, apreen-
são de arma de fogo e disparo de arma. Constata-se que
Campo Grande e alguns bairros de seu em torno, como
Vila Capixaba, Santa Cecília e Dom Bosco, consolidaram
um conglomerado com alta concentração de Crimes de
Armas e Munições e raio de influência de 700m. Bairros
como Planeta, Campo Verde, Presidente Médice, Porto
de Santana, Itaquari, Jardim América, Alto Lage, Caste-
lo Branco, Santa Catarina, Flexal II e Nova Rosa da Pen-
ha registraram níveis médios de concentração de CAF.
3.12 :: SEGURANÇA PúBLICA :: CIDADANIA
156
Pesquisadores, como Waiselfisz (2004), Raizer et al.
(2004) e Zanotelli (2007), ressaltam que as principais
vítimas dos crimes violentos letais em Cariacica são
os jovens de 15 a 24 anos, do sexo masculino, afro-
descendentes e moradores dos bairros desprivilegiados.
Em geral, eles estão associados ao mundo do tráfico e
são assassinados por armas de fogo.
Parte dessa constatação pode ser corroborada pela
leitura cartográfica comparativa dos mapas de CLCP,
CTDI e CAF (figuras 2, 3 e 4), que permite identificar
uma significativa correlação espacial entre esses crimes,
sobretudo nos bairros Nova Rosa da Penha, Flexal II,
Castelo Branco e Santa Catarina.
A análise dos Crimes Contra o Patrimônio decorreu da
estruturação dos indicadores de Crimes de Roubos (CR)
e Crimes de Furtos (CF). O primeiro indicador foi com-
posto pelos crimes de roubos e de patrimônios e o se-
gundo indicador foi formado pelos crimes de furtos e
de patrimônios. Campo Grande destaca-se com a maior
concentração de CR, evidenciando um cluster com raio
de influência de 600m e abrangendo bairros do entorno,
como Vila Palestina, Cruzeiro do Sul, Morada de Santa
Fé e São Geraldo. Essa tendência de concentração pode
ser explicada, em parte, pela alta densidade demográ-
fica (ver coletânea de mapas nos apêndices) e pelo fato
de Campo Grande ser o principal centro comercial do
município de Cariacica, congregando departamentos
de vendas diversos, supermercados, estabelecimentos
financeiros etc. O bairro Jardim América apresentou
níveis médios de concentração de CR.
As dinâmicas dos Crimes de Furtos (CF) seguem padrão
de distribuição espacial muito semelhante às dinâmicas
dos CR. Campo Grande também apresenta as maiores
concentrações de CF, contudo com um raio de influência
menor (400m), ou seja, restringindo-se praticamente
aos limites territoriais desse bairro.
3.12 :: SEGURANÇA PúBLICA :: CIDADANIA
157
Há evidência de alguns padrões e tendências de crimi-
nalidade violenta em Cariacica. A violência não se dis-
tribui de maneira espacial homogênea nesse município.
Como visto, as variáveis criminais podem se correlacio-
nar geograficamente, a partir das dinâmicas criminais
desdobradas nos bairros de Cariacica. Além disso, fa-
tores sócioeconômicos e infraestruturais urbanos podem
influenciar a concentração ou a dispersão da violência.
A análise preliminar que aqui se insere será aprofun-
dada por meio da compilação de bancos de dados fun-
damentais para a gestão municipal, da consolidação de
outros indicadores criminais, da exploração dos dados
sócio-econômicos e infra-estruturais urbanos e pelo es-
tabelecimento de correlações entre as informações cen-
sitárias e as variáveis criminais.
Equipamentos
No município de Cariacica estão instaladas 5 unidades: a
Penitenciária Feminina de Cariacica, a Penitenciária Fem-
inina Semiaberta de Cariacica, a Penitenciária Estadual
Feminina de Tucum, o Centro de Detenção Provisório
de Cariacica e o Hospital de Custódia, antigo Manicômio
Judiciário do Espírito Santo. As três últimas unidades
estão localizadas na região central do município, em Tu-
cum, e as duas primeiras na região rural, em Bubu.
Observa-se que a maioria absoluta das unidades pri-
sionais existentes em Cariacica é destinada à popu-
lação carcerária feminina. A organização das atividades,
nessas unidades, direciona-se à custódia de presas
provisórias e à ressocialização das presas condenadas,
com penas privativas de liberdade.
A população carcerária que, no início de 2003, era de
3.500 presos, mais que triplicou no final de 2010, totali-
zando 11,7 mil presos.
A situação de desrespeito aos direitos humanos e aos
mais elementares direitos da população carcerária no
estado do Espírito Santo chegou ao conhecimento públi-
co, graças à ação desencadeada por organizações não
governamentais de defesa dos direitos humanos que,
por meio do Conselho Estadual de Direitos Humanos,
apresentaram denúncia à ONU (Organização das Nações
Unidas), relatando a postura omissa e conivente do gov-
erno estadual diante da prática de tortura praticada con-
tra os presos, no interior das unidades prisionais, e a
imposição de maus tratos e tratamento degradante aos
presos e seus familiares.
Após as denúncias, o governo estadual, com o apoio da
União, fez um grande investimento na reestruturação
do sistema prisional, gastando algo em torno de R$ 420
milhões com a construção, ou a reforma, de unidades
prisionais, além de ter desativado o “micro-ondas”, ou
seja, os contêineres metálicos que serviam de prisão.
Com a desativação das celas metálicas, em agosto de
2010, 699 presos foram transferidos para o complexo
penitenciário do estado.
Atendimento ao Adolescente Infrator
O Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito
Santo – IASES – é responsável pelo planejamento, pela
coordenação e pela execução da política do governo es-
tadual para o setor, particularmente, pela execução da
medida socioeducativa de privação de liberdade no âm-
bito estadual. Entre as cinco unidades de atendimento
que integram a estrutura do IASES, quatro se locali-
zam em Cariacica: a Unidade de Internação provisória
(Unip), a Unidade de Internação Socioeducativa (Unis),
a Unidade de Internação Feminina (Ufi) e a Unidade de
Atendimento aos Deficientes (Unaed).
A Região Metropolitana da Grande Vitória – RMGV foi
incluída na base empírica da pesquisa nacional, o que
resultou em um conjunto de novos dados sobre hom-
3.12 :: SEGURANÇA PúBLICA :: CIDADANIA
icídios, dentre os quais importa destacar que Cariacica
desponta em 3º lugar no índice de Homicídios na Ado-
lescência. Há 7,3 mortes para cada mil adolescentes. A
cidade só fica atrás de Foz do Iguaçu (PR) e Governa-
dor Valadares (MG). O levantamento revela ainda uma
estimativa preocupante. Até entre 2010 e 2012, cerca
de 393 jovens podem morrer em Cariacica, vítimas de
homicídio, caso a violência não tenha redução.
O percentual de ocorrências envolvendo adolescentes
com a prática de ilícitos penais cresceu ao longo do pe-
ríodo analisado, e Cariacica ocupa a segunda posição en-
tre os municípios da RMGV com maior número de ocor-
rências, sendo que a capital, Vitória, ocupa a primeira
posição.
A Mulher e a Situação de Violência
Durante a realização do diagnóstico sobre a situação da
mulher em Cariacica, foram realizados grupos focais, e
as mulheres que participaram relataram ter presenciado
situações de violência contra outras mulheres ou contra
os filhos destas. Por estes relatos, as mulheres deixam
transparecer sentimentos e emoções em relação aos
fatos presenciados, denotando comoção e abalo moral
em face à lembrança dolorosa de um ato ofensivo ou
abusivo.
Diagnóstico sobre a situação da mulher em Cariacica,
realizado no início de 2007, sob a supervisão da Asses-
soria Especial dos Direitos da Mulher, oferta um con-
junto de informações relevantes à problematização do
tema, além de identificar situações desafiadoras para
as políticas públicas. Por ora, destacamos algumas cir-
cunstâncias que ajudam a definir a situação da mulher
em Cariacica:
• 52,5% dos nascidos vivos são filhos de mulheres com
idade entre 15 e 24 anos por ocasião do parto.
• 10% das mulheres residentes na área urbana de Car-
158
iacica são analfabetas e 22% são analfabetas funcio-
nais. No meio rural esse percentual sobe para 20% e
33%, respectivamente.
• Apenas 27% das vagas de emprego no mercado for-
mal são destinadas a mulheres, sendo o comércio e o
setor de serviços as áreas que mais as empregam. É
importante observar que mulheres têm representado a
maior parte, (51%) do total de inscritos para emprego
na Agência do Trabalhador de Cariacica. Observa-se que
a assimetria entre o número de vagas ofertadas para
homes e para mulheres é enorme e, indiretamente, ten-
de a descartar a mulher do mercado formal de trabalho,
dificultando a ela a aquisição de experiência profissional.
• A intensidade da violência física contra a mulher car-
iaciquense foi apurada por procedimento de pesquisa.
À pergunta se já “haviam presenciado algum ato de vi-
olência contra uma mulher”, 53% dos entrevistados e
54,1% das entrevistadas responderam que já haviam
presenciado a violência contra a mulher em Cariacica.
A violência contra mulheres é a mais perversa entre as
expressões da desigualdade de gênero. Agredir fisica-
mente, assassinar, causar sofrimento psicológico, as-
sediar sexualmente, prejudicar moralmente e estuprar
uma mulher ou uma menina são fatos que têm acon-
tecido ao longo da história, em praticamente todos os
países ditos civilizados e dotados dos mais diferentes re-
gimes econômicos e políticos. A magnitude da agressão,
porém, varia. “É mais freqüente em países de uma
prevalecente cultura masculina, e menor em culturas
que buscam soluções igualitárias para as diferenças de
gênero” (BLAY, 2003).
Em Cariacica, o perfil da mulher que sofre violência
masculina é formado, predominantemente, de mulheres
pardas, que já são mães de pelo menos dois filhos, resi-
dem em habitações precárias, encontram-se na faixa
etária entre 18 e 44 anos e apresentam baixa escolari-
dade (PMC/AEDM, 2007).
Por meio da coleta de dados realizada na Delegacia da
Mulher, constatou-se que, em 2009, foram registrados
3.001 boletins de ocorrências. Desse montante, 2.564
ocorrências faziam referência aos crimes de lesão cor-
poral dolosa, ameaça, estupro e tentativa de estupro.
Cabe salientar que, dessas 2.564 ocorrências registra-
das, 63,26% foram tipificadas como ameaça e 36,66%
foram classificadas como lesão corporal dolosa.
Ainda com base na Delegacia da Mulher, identifica-se
que, das 940 lesões corporais dolosas computadas, 96%
foram praticadas pelas próprias mãos do agressor ou
com a utilização de objetos contundentes.
Sem adiantar conclusões, insta reforçar que a causali-
dade da criminalidade violenta, devido à sua complexi-
dade, nunca se deve a um único fator, mas sempre a
um conjunto de fatores. A etiologia do crime demanda
um maior aprofundamento na análise dos dados e am-
pliação da série histórica enfocada.
Quanto à faixa etária das vítimas de lesões corporais do-
losas e ameaças, das ocorrências apuradas na Delegacia
da Mulher em 2009, constatou-se que as faixas de 30 a
34 anos e 35 a 64 anos foram as mais afetadas por este
tipo de violência. Essas faixas etárias também eviden-
ciaram os maiores números de ocorrências de ameaça.
Quanto à raça/cor das vítimas de lesões corporais do-
losas e ameaças, identificou-se uma predominância das
vítimas de raça/cor parda, conforme se pode constatar
na figura abaixo:
A análise dos dados da Delegacia da Mulher permite
identificar as características dos agressores das víti-
mas de lesões corporais dolosas e ameaças: 87,1%
dos agressores de lesões corporais dolosas eram pes-
soas do sexo masculino e 81,2% dos responsáveis pe-
las ameaças registradas pela Delegacia da Mulher eram
homens.
O direito da mulher à cidade deve abordar o fenômeno
recorrente da violência contra a mulher, tanto na esfera
pública como na esfera privada, a partir de um enfoque
que permita incorporar o território como uma nova di-
Grafico 1: Raça/cor das vítimas de ocorrências registradas pela Delegacia da Mulher – Cariacica 2009
Fonte: Delegacia da Mulher, 2010
159
mensão de análise, como espaço de conflito, não apenas
social, mas também de gênero.
Historicamente, as mulheres têm enfrentado dificul-
dades para participar de decisões locais, além de verifi-
carem, na prática, a escassa inclusão de suas demandas
nas agendas comunitárias e estatais, particularmente
aquelas relacionadas à violência cotidiana, que as afeta,
tanto em espaços públicos, quanto em privados.
É digno de nota o esforço da administração municipal
para prover a municipalidade das condições necessárias
à intervenção do poder público, com vistas à promoção
da cidadania das mulheres. Evidência nessa direção é a
criação da Gerência de Direitos da Mulher, vinculada a
Secretaria Municipal de Cidadania e Trabalho.
Evidentemente, a vontade política e a ação efetiva do
poder público são permanentemente desafiadas, e até
contidas, pela não superação de bases socioeconômicas,
culturais e sexistas que, historicamente, sustentam as
desigualdades entre os sexos. Tais condições restritivas
da emancipação feminina, alastradas na sociedade e
transformadas em preconceito contra as mulheres, di-
ficultam o avanço das políticas de promoção para essa
expressiva parcela da população.
162
ASSISTêNCIA SOCIAL DE CARIACICA
3.13
Os dados revelam que Cariacica é um município em que
famílias apresentam um quadro de pauperização e de
não acesso às condições dignas de vida, apesar de pos-
suírem rendimentos. Isso desafia a gestão pública e,
particularmente, a Política de Assistência Social que não
deve arcar sozinha com o atendimento da população.
A população de Cariacica está em processo gradual de
envelhecimento. Conforme dados do IBGE/2010, Car-
iacica tem 31.479 idosos. 13.893 desses idosos são re-
sponsáveis pelos domicílios, dos quais 8.038 (57,9%)
são homens e 5.855 (42,5%) são mulheres.
Conforme dados do MDS (2010), Cariacica tem 2.667
idosos atendidos pelo BPC (Benefício de Prestação Con-
tinuada), demonstrando que estas pessoas apresentam
uma renda de ¼ per capita do salário mínimo.
Uma manifestação contundente da questão social na
contemporaneidade é a violência contra os idosos. Ob-
serva-se que a violência apresenta um recorte de gêne-
ro muito forte. 62% das vítimas são do sexo feminino e
38% do sexo masculino. Quanto ao estado civil, temos
que 51% são viúvos; 17% são casados; 10% são soltei-
ros e 7% separados. A maioria das vítimas (32%) tem
entre 71 a 80 anos; 18% têm entre 61 a 70 anos; 14%
têm entre 81 a 90 anos e 11% até 60 anos.
Outro elemento importante nessa análise da violência
contra o idoso é o seu recorte de renda e a situação
financeira da vítima: 57% têm renda de até 01 salário
mínimo; 19% não possuem renda alguma; 14% têm
até, e mais de, 3 salários mínimos; 10% ganham até
2 salários mínimos; sendo que esses rendimentos são
provenientes de aposentadoria (44%), benefício assist-
encial (38%) e pensão (18%). As regiões que apresen-
tam maior número de denúncias são as regiões 04 e 05.
Fato novo no município é o crescimento das instituições
asilares (5 asilos clandestinos) que vêm praticando a
denominada violência financeira, caracterizada pela cri-
ação de espaços pagos com as aposentadorias e pen-
sões de idosos (Grupo Focal de Gestores da SEMAS,
2010).
Quanto ao nível de participação dos idosos nos Grupos
de Idosos do município, destaca-se como majoritária a
inserção das mulheres, sendo um desafio envolver os
homens nesses espaços, implementando atividades que
despertem seus interesses, garantindo-lhes a convivên-
cia comunitária e de vida e sociedade (SEMAS, 2009).
Crianças e Adolescentes
No que se refere ao trabalho infantil, tem-se em Car-
iacica 1.239 crianças/adolescentes na faixa etária de
10 a 14 anos que trabalham em diversas atividades.
Entre elas, destacamos percentualmente as seguintes
atividades: 30,37% no comércio, reparação de veículos
automotores, objetos pessoais e domésticos; 15,79%
com alojamento e alimentação; 15,49% na agricultura,
pecuária; 12,63% com serviços domésticos; 9,27% na
indústria de transformação (IBGE, 2000).
Outro dado importante nesse grupo etário são as crian-
ças e adolescentes vítimas de abuso sexual. Os dados,
para levantamento do perfil dos usuários do Serviço
Sentinela, apontam que a grande maioria (74%) das
crianças e adolescentes que sofrem a violência sexual
é do sexo feminino, porém pode-se auferir também que
há 26% de meninos que sofreram esse tipo de violência.
Nesse sentido, percebe-se que há um crescimento do
tipo de violência também contra os meninos.
Um dado que já é conhecido por aqueles que atuam
nesse serviço é o fato de que o agressor, em geral, está
dentro da própria casa, ou tem algum parentesco com
a criança, 36% são violentados pelo próprio pai ou pa-
drasto; 17% por outros (extrafamiliar); 14% por outros
familiares (intrafamiliar); 13% por tios; 4% pelo avô e
3% pelo irmão (SEMAS, 2010).
A faixa etária das crianças e adolescentes, vítimas tam-
bém, varia conforme o gênero. No caso do sexo femi-
nino, 58% têm entre 7 e 14 anos de idade; 28% têm
entre 0 e 6 anos e 14% têm entre 15 e 18 anos. No caso
do sexo masculino, 67% têm entre 7 e 14 anos; 26%,
entre 0 e 6 anos e 7%, entre 15 e 18 anos. Quanto
ao tipo de violência sexual, os dados revelam que 80%
são abuso; 11%, suspeita de abuso e 9%, exploração
sexual.
Além dos projetos da assistência social para atendi-
mento e proteção à criança e ao adolescente, fazem
parte desse contexto o sistema de garantia de direitos
da criança e do adolescente, os Conselhos Tutelares, a
Promotoria Pública da Infância e Juventude e a Vara da
Infância e Juventude de Cariacica.
163
Juventude
Continuando a discussão geracional, 18,84% da popu-
lação de Cariacica têm entre 20 e 29 anos (IBGE, 2010),
demonstrando a necessidade de políticas voltadas para
a juventude. Os jovens vêm se constituindo, nos últi-
mos anos, um público novo na política social, sobretudo
aquele originalmente circunscrito aos grupos sociais
sem vínculo com o mercado de trabalho. Nesse caso,
a assistência social passa a ser fortemente pressionada
pelos trabalhadores e suas famílias, afetados pelo de-
semprego já em idade ativa. É o caso, por exemplo, dos
jovens em (busca do) primeiro emprego e outras situ-
ações de violação de direitos desse segmento.
A população lotada nas faixas etárias de 30 a 59 anos
aumentou, passando de 34,13% em 2000 para 39,03%
em 2010. O mesmo ocorreu com a população na faixa
etária entre 60 e 100 anos ou mais, que passou de
6,05% em 2000 para 9,02% em 2010.
Bolsa Família
Na Grande Vitória, o município de Serra possui o maior
número de famílias beneficiárias do PBF da RMGV, com
30,9%; Cariacica vem em segundo lugar, apresenta
24,76% de famílias atendidas no PBF; Vitória, 16,32%;
Vila Velha, 14,60%. Os dados desta tabela revelam que
todos os municípios necessitam de maior investimento
em estratégias de divulgação e difusão do CADÚNICO,
bem como de inserção das famílias já cadastradas no
PBF. E, além disso, facultar a essas famílias os demais
direitos sociais e serviços das políticas setoriais, não se
restringindo assim, à proteção social pela via, apenas,
do PBF, sob pena de privilegiar a focalização em detri-
mento da universalização das políticas sociais.
Na tabela a seguir visualiza-se que houve um crescimen-
to de famílias inscritas no Cadastro Único em Cariacica,
evidenciando o que os dados de rendimento deste es-
tudo já apontam: o município tinha 29.857 famílias com
rendimento per capita de nenhum até ½ salário mínimo
em 2010, ou seja, vivendo numa situação de pauperi-
zação absoluta, que procuram os serviços da SEMAS,
principalmente a inserção no Programa Bolsa Família.
Tabela –Evolução das Famílias Inscritas no Cadastro
Único em Cariacica – 2005 a 2010
As regiões administrativas de Cariacica demonstram a
densidade da questão social em todo o território, con-
forme já apontado anteriormente. A região que con-
centra o maior número de beneficiários é a Região 1,
com 2.207 famílias, o que corresponde à 15,45% do
total dos atendimentos. Em segundo lugar, tem-se a
Região 8, com 1.450 famílias (10,15%), seguida das
demais Regiões: Região 7, com 1425 famílias (9,98%);
Região 10, com 1.223 famílias (8,56%); Região 11, com
1.193 famílias (8,35%); Região 2, com 1.182 famílias
(8,27%); Região 3, com 1.175 famílias (8,23%); Região
9, com 1.110 famílias (7,74%); Região 6, com 1.016
famílias (7,11). As demais regiões possuem, cada uma,
menos de 1.000 famílias atendidas, o que não significa
que possuem menor importância.
Embora encontremos um maior número de beneficiári-
os do PBF nas Regiões 1 e 8, verifica-se uma situação
de pauperização absoluta que se pulveriza nas demais
regiões, em todo o território. Isso significa que, em
Cariacica, tem-se um enorme desafio de colocar essas
famílias em um patamar de seguridade social e de digni-
dade, já que elas não tiveram acesso às demais políticas
sociais e econômicas, por décadas, neste município.
Portadores de deficiência
Cariacica apresenta 2.417 pessoas com deficiência que
recebem o BPC (Benefício de Prestação Continuada
(MDS, 2010), o que significa que são oriundas de lares,
cuja renda familiar per capita é de até ¼ do salário mín-
imo, e não possuem condições para a vida independ-
ente. Analisando o número de pessoas com deficiência
em Cariacica (53.498) e o atendimento realizado pela
cidade a esse público, seja pela APAE ou pelo BPC, vere-
mos que há ainda muito a se realizar, em médio e longo
prazo, em políticas de acessibilidade e de inclusão. Tam-
bém é importante destacar que esse atendimento não
é de exclusividade e de responsabilidade única da As-
sistência Social, o que retoma mais uma vez a perspec-
tiva intersetorial dessa política que solicita articulação
com educação inclusiva, saúde, mobilidade e habitabili-
dade urbana, trabalho e renda, cultura, lazer e esporte.
Em Situação de Rua
A população em situação de rua do município apresenta
um perfil que já é conhecido em muitos municípios bra-
sileiros, inclusive os da Região Metropolitana de Vitória,
o que caracteriza uma necessidade de ampliação dos
investimentos nesse público, que, em geral, não tem
perspectivas de vida e precisa ser conhecido e respei-
tado pela população da cidade.
Percebe-se que um total de 64% das pessoas em situ-
ação de rua se encontra na faixa etária entre 18 e 50
anos, sendo que, destes, 32% estão entre 18 e 30 anos,
uma população jovem em idade produtiva. Pode ser ob-
servada também a quantidade de pessoas que diz não
possuir renda, uma realidade de 56% das pessoas abor-
dadas.
3.13 :: ASSISTêNCIA SOCIAL DE CARIACICA
164
Com relação à escolaridade, 34% cursaram entre a 5ª e
a 8ª série do ensino fundamental; 26%, entre a 1ª e a
4ª série; 18% não têm escolaridade; e 11% possuem o
ensino fundamental completo.
Dos entrevistados, 78% se intitulam negros ou pardos,
sendo apenas 22% brancos. 80% são homens; 49% são
solteiros; 30% são casados/amasiados, sendo que 58%
afirmam ter filhos, revelando que essa população con-
stituiu ou tem família.
Nota-se ainda que 47% são naturais do Espírito Santo,
sendo que 73% residem em Cariacica; 12%, em Vitória;
e 6%, em Vila Velha. Apesar de possuírem família, apre-
sentam como motivos por estar nas ruas: 29% conflitos
familiares; 26% drogas; 14% desemprego e 4% al-
coolismo. A grande maioria usa drogas lícitas como o
álcool (54,5%) e o fumo (36,6%), porém em torno de
30,7% usam o crack que tem se manifestado como o
maior desafio para o poder público na atuação com essa
população.
Constata-se uma aglomeração dessa população nas
imediações da região de Campo Grande, em alguns es-
paços que se configuram como ponto de concentração
do comércio e de pessoas com maior poder aquisitivo.
Outra informação relevante que se pode auferir é a de
que mais de 70% dos entrevistados já passaram pelo
Abrigo Municipal (SEMAS, 2009).
Gestão da Assistência Social
A Assistência Social no município foi utilizada para re-
produzir práticas assistencialistas, advindas das admin-
istrações com traços coronelistas que predominaram
durante muitos anos no município. Isso é um desafio
ainda maior com a nova estrutura da Política Nacional
de Assistência Social, principalmente com os CRAS que
se localizam próximos à população.
Destaca-se que essa visão da Assistência Social, como
ajuda mediada pela lógica da tutela e do favor, não é
uma particularidade apenas do município de Cariacica,
mas da formação sócio-histórica brasileira que precisa
ser enfrentada, a partir de uma nova visão da gestão
pública, da coisa pública.
Ao mesmo tempo em que percebemos essa visão, con-
traditoriamente, nos mesmos grupos focais, apareceu
a concepção da Assistência Social como direito e como
uma política que reclama pela intersetorialidade e pela
realização de trabalho de mobilização e educação popu-
lar.
A nova forma de organização territorial, a partir do
Plano de Organização Territorial (POT), que define os
100 bairros do município divididos em 13 regiões ad-
ministrativas, contribui para o mapeamento e conheci-
mento dos diversos espaços do município, facilitando o
planejamento estratégico da SEMAS.
A territorialização da Assistência Social em Cariacica foi
realizada a partir da localização dos CRAS, mas ainda
está em fase de estruturação. Atualmente são sete CRAS
distribuídos nas Regiões 1, 2, 4, 6, 8, 10 e 12. Sobre a
descentralização dos serviços, percebe-se que a rede de
proteção socioassistencial não alcança todas as regiões
da cidade. As famílias que residem nas regiões que não
são abrangidas pelos CRAS buscam o atendimento no
Plantão Social, que funciona na sede da secretaria.
Cariacica tem a gestão majoritária dos serviços, pro-
gramas e projetos da Assistência Social e as entidades
entram de forma complementar na política. Isso é um
fator importante na gestão da Assistência Social no mu-
nicípio, que vem, gradativamente, realizando convênios
com entidades, sem perder a direção desta política.
O trabalho da rede também se apresenta como muito
disperso nos territórios e com certa precariedade nos
espaços. Pensando em avançar o PMAS/2006 numa per-
spectiva intersetorial, caberia investimento na criação
de espaços comuns, com atendimentos da Semas (os
CRAS e CREAS), e outro de acesso a cultura, cidadania,
trabalho e renda, com envolvimento das demais secre-
tarias afins. Isso requer uma decisão política de governo
em articular estas secretarias, numa visão mais ampla
da Assistência Social que contemple também a pobreza
relativa na cidade. Uma ação neste sentido é que, na
elaboração do Plano Plurianual - 2010/2013, foi plane-
jada a implantação de 01 CRAS por ano, considerando
as regiões menos contempladas com o serviço e que
apresentam maior vulnerabilidade, visando o atendi-
mento mais efetivo aos usuários da Assistência (SEMAS,
2009).
Os dados da rede socioassistencial ainda revelam que
a maior parte da cobertura dos serviços é realizada
através dos programas de transferência de renda como
o Bolsa Família, Família Cidadã e o BPC. Isso corrobo-
ra o que Sposati (2006) denomina de caráter massivo
dos programas de transferência de renda, particular-
mente, o Bolsa Família. É preciso avançar nessa área,
não com a extinção desses programas, uma vez que são
necessários, mas articular as políticas de benefícios e as
políticas sociais, o que exige introdução de novas for-
mas de gerenciamento, mobilização de recursos locais,
capacitação e exercício da intersetorialidade.
Além da rede de serviços referida, a SEMAS mantém
uma Política de Segurança alimentar e Nutricional, res-
peitando o disposto no artigo 2°, parágrafo 2°, da Lei n°
11.346, que estabelece que “é dever do poder público
respeitar, proteger, promover, prover, informar, monit-
orar, fiscalizar e avaliar a realização do direito humano à
alimentação adequada, bem como garantir os mecanis-
mos para sua exigibilidade”.
Quanto aos serviços nessa área, tem-se o Restaurante
3.13 :: ASSISTêNCIA SOCIAL DE CARIACICA
165
Popular, que fornece 300 refeições/dia, e o Banco de
Alimentos, que armazena e distribui alimentos utilizados
pelos programas e projetos da SEMAS.
Em Cariacica, temos algumas iniciativas que contribuem
para promover ações intersetoriais, tanto internamente
como externamente, na SEMAS. Em 2009, foi criado um
importante instrumento de gestão, envolvendo as vári-
as secretarias municipais para interlocução das políticas
de todas as áreas de atuação municipal. Foram criados
vários comitês da área fim e da área meio, entre eles o
Comitê de Políticas Sociais, composto pelas Secretarias
municipais de Educação, Saúde, Assistência Social, Ci-
dadania e Trabalho, e Cultura, Esporte e Lazer e de Gov-
erno (SEMAS, 2009).
Adotando a mesma perspectiva, a SEMAS criou o Com-
itê Gestor da Secretaria, composto por secretário,
subsecretário, gerentes, coordenadores, assessores
e secretários executivos da Casa dos Conselhos, para
debater e definir a Política Municipal da Assistência So-
cial. Foi uma experiência fundamental de troca de infor-
mações, de articulação entre os gestores e apropriação
de conhecimento sobre as várias áreas de atuação da
secretaria. O modelo também propiciou um sentimento
de pertença e maior autonomia dos gestores na tomada
de decisões necessárias na rotina do trabalho e com as
equipes de trabalho dos vários programas, projetos e
serviços da Secretaria (SEMAS, 2009).
Na SEMAS, foi implementada a Coordenação de Monito-
ramento da Rede Social, em maio de 2009, cujo objetivo
é desenvolver e manter um sistema contínuo de infor-
mações para monitoramento e avaliação de programas
e projetos sociais desenvolvidos, de forma direta, pela
secretaria e, de forma indireta, por meio de convênios,
contratos e parcerias.
Mas há ainda muito a avançar na PAS em Cariacica,
principalmente com a implementação de um Sistema
Municipal de Informação e Monitoramento do SUAS em
Cariacica.
A Gestão do Trabalhador da PAS
Em 2009, a SEMAS executou suas ações com 238 servi-
dores, cujos regimes de trabalho demonstram a precari-
zação do trabalho e a rotatividade da força de trabalho,
apesar do grande compromisso e envolvimento dos tra-
balhadores da SEMAS para com a Política de Assistência
Social. São 77% de trabalhadores com contratos tem-
porários; 9% de comissionados; 8% de estagiários, 3%
de estatutários e 3% de celetistas.
O número de cargos da Semas não atende o volume de
trabalho e particularidades dos serviços, programas e
projetos. O maior número de cargos se concentra em
atividades como auxiliar de serviços educacionais, aux-
iliar de serviços gerais, vigilância. Os cargos técnicos em
que se exigem maior qualificação e nível de escolaridade
são: assistente social (24), psicólogo (7) e nutricionista
(1). O número dos profissionais com formação de nível
superior também demonstra a necessidade de sua am-
pliação, bem como a incorporação de outros que seriam
importantes para as ações que o SUAS está a exigir da
gestão.
Há, ainda, a diretriz de que todos os servidores da As-
sistência Social sejam concursados. Há a tentativa de
adequar-se ao que prevê a normatização pelo concurso
público realizado no primeiro trimestre de 2011. Em
2010, foi aprovado o concurso público que contem-
plou novos profissionais efetivos para a composição do
quadro de servidores da SEMAS, porém não resolveu o
problema do número de trabalhadores necessários para
execução da política.
Sabe-se que o município, nos últimos anos, conseguiu
alguns avanços na gestão dos trabalhadores, aprovando
o Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos dos Servi-
dores de Cariacica por meio da Lei nº 4.761/2010, o
que abre possibilidades para que a SEMAS possa buscar
a instituição de um Plano de Carreira, Cargos e Salários
para os trabalhadores do SUAS, tanto para a adminis-
tração direta, quanto para a indireta. Isso significa que
também as entidades deverão se adequar às normas da
NOB-RH/SUAS
Financiamento
Em Cariacica, o Fundo Municipal de Assistência Social
foi instituído pela Lei nº 3.175/95 (SEMAS, 2009). Ao se
pesquisar sobre os tipos de despesas realizadas para a
Assistência Social, no período de 2004 a 2009, tem-se
a seguinte situação (PMC/Balanço Geral – 2004-2008
e Balancete, 2009): 83,4% foram despesas relativas
ao pagamento de pessoal e encargos sociais e outras
despesas correntes; contra 16,3% que foram despesas
de capital (obras e instalações - equipamentos e mate-
rial permanente, aquisição de imóveis – equipamentos e
material permanente).
Para a assistência social, em 2011, foi previsto um or-
çamento de R$10.595.200,00. Do tesouro municipal, o
orçamento foi de R$5.169.000,00; do governo federal,
foi de R$3.131.700,00 e, do repasse estadual, de R$
2.294.500,00. Esses dados demonstram que o municí-
pio vem arcando com a maior parte do orçamento à
Política de Assistência Social, bem como vem mais uma
vez reafirmar reduzida participação do governo estadual
no financiamento desta política, principalmente no que
se refere aos serviços da PSE.
Outro elemento importante, na análise do financiamen-
to, é que os recursos do Programa Bolsa Família não
são alocados nos FMAS, pois são depositados nas contas
individuais dos seus beneficiários.
O cofinanciamento estadual é efetuado por meio de con-
3.13 :: ASSISTêNCIA SOCIAL DE CARIACICA
166
vênios, o que implica uma descontinuidade das ações,
considerando os trâmites legais e as documentações
exigidas para operacionalização do modelo convenial.
É importante destacar que há uma decisão política do
Governo do Estado na mudança do modelo de repasse
para 2010, o que facilitará o trabalho dos municípios
(SEMAS, 2009).
Outra avaliação da SEMAS (2009) é que o recurso mu-
nicipal alocado no fundo ainda é insatisfatório, con-
siderando a demanda do município, porém há grande
esforço para mudança da realidade, mesmo com a
baixa arrecadação do município. O recurso dessa fonte
é utilizado, em grande parte, na gestão administrativa
para pagamento de aluguéis dos equipamentos, onde
funcionam os serviços, e no pagamento do pró-labore
dos conselheiros tutelares. Na Proteção Social Básica,
o recurso é prioritariamente utilizado para pagamento
de benefícios assistenciais e na Proteção Social Espe-
cial para despesas de custeio dos abrigos de crianças e
adolescentes.
Ao se analisar o percentual gasto com Assistência Social
pelo Tesouro Municipal, tem-se 0,55% do orçamento
total da prefeitura. Destaca-se que é deliberação de
Conferência de Assistência Social o percentual de 5%
do orçamento para essa política. Observa-se, ainda,
que 40% dos recursos são destinados à Proteção So-
cial Básica; 36% à Proteção Social Especial, sendo 27%
à Proteção Social Especial – Alta Complexidade e 9%
à Média Complexidade; e 24% à gestão, sendo 16%
à gestão administrativa da SEMAS e 8% à gestão da
Política de Assistência Social. Os dados revelam que,
apesar de certa predominância da Proteção Básica, há
um aumento dos recursos para a Proteção Social Espe-
cial, que vem exigindo da gestão pública serviços alta-
mente caros e com funcionamentos ininterruptos. Outro
elemento é o recurso destinado à gestão da PAS, que,
apesar de sua importância, não deve ser a prioridade da
administração.
A execução orçamentária da SEMAS demonstra que a
Secretaria vem enfrentando desafios na execução de
seu orçamento. Antes de 2009, havia um superávit no
valor de 10 milhões, o que revela a reduzida execução
orçamentária. Em 2009, foi efetivamente autorizado o
valor de R$ 7.666.794,00, sendo executado o valor de
R$ 6.238.270, 24, revelando que houve uma execução
orçamentária de 82% do orçamento no ano. Em 2010,
foram previstos orçamentariamente R$ 9.507.684,00
e realizados R$ 9.331.634,01. Em 2011, foram previs-
tos orçamentariamente R$10.595.200,00 e realizados
R$ 9.832.823,49. Esse fato é muito importante para a
Política de Assistência Social, demonstrando a preocu-
pação da gestão em concretizá-la na cidade.
Controle Social
A casa dos conselhos de Cariacica é um equipamento
público e lócus que propicia a participação popular no
controle da política de Assistência Social. Funcionam, na
Casa dos Conselhos, os seguintes Conselhos Municipais
vinculados à SEMAS:
• Conselho Municipal de Assistência Social de Cariacica
– COMASC;
• Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Ado-
lescente de Cariacica – COMDCAC;
• Conselho Municipal dos Direitos do Idoso de Cariacica
– COMDIC;
• Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Defi-
ciência de Cariacica – COMDPED;
• Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutri-
cional Sustentável de Cariacica – COMSEAS.
Enquanto espaços de participação da sociedade civil, os
conselhos, os fóruns e as conferências possuem uma
potencialidade na área da Assistência Social, entretanto
é preciso ocupá-los, tendo o entendimento de que o
controle social não pode se limitar à existência deles.
3.13 :: ASSISTêNCIA SOCIAL DE CARIACICA
170
GESTÃO PúBLICA MUNICIPAL
3.14
A estrutura administrativa da Prefeitura de Cariacica é
composta por 21 órgãos de administração direta, sendo
seis órgãos de assessoramento, quatro órgãos de ad-
ministração instrumental e onze órgãos de adminis-
tração finalística.
O município conta, ainda, com dois órgãos da adminis-
tração indireta que são: o Instituto de Previdência dos
Servidores de Cariacica – IPC e a Companhia de De-
senvolvimento de Cariacica – CDC. Colaboraram para
o processo de gestão os órgãos colegiados de assesso-
ramento, formados pelos Conselhos Municipais, criados
por leis específicas, regidos por regulamentos próprios
e vinculados ao Poder Executivo, por linha de coorde-
nação. A nova estrutura foi implantada a partir de maio
de 2009. Pela nova formatação, foram criados, ainda, os
Comitês Gestores, distribuídos por quatro áreas temáti-
cas – Área Meio, Infraestrutura, Relações Institucionais
e Social. A estratégia utilizada na criação desses quatro
comitês está direcionada para permitir uma potenciali-
zação das ações desenvolvidas pelas secretarias munici-
pais.
Gestão de Pessoal
Coube à Secretaria de Administração a tarefa de pro-
mover uma organização das informações sobre o quad-
ro funcional entre 2006 e 2007. Esses anos foram dedi-
cados à organização da folha de pagamento. O caminho,
para promover uma organização das informações sobre
quadro funcional, começou a ser delineado a partir da
realização de um censo, quando foi possível apurar que
77% dos servidores estavam enquadrados como con-
tratados temporários, naquela ocasião. Esse quadro de
grande número de contratados perdura ainda hoje, mas
as proporções são menores. Atualmente, a gestão de
pessoal ainda está dificultada devido às situações que
se estabeleceram durante um longo período, por ad-
ministrações em que havia claros indícios de interesses
políticos e pessoais na determinação dos empregos no
setor público local.
Dentre alguns instrumentos de gestão estabelecidos
para orientar as políticas de RH, está a formulação de um
plano de cargos e salários, idealizado entre os anos de
2006 e 2008, que se transformou na Lei nº 4.761/2010.
O objetivo maior está em substituir o vínculo empre-
gatício, cuja proporcionalidade de contratados frente a
servidores efetivos está em níveis alarmantes. Com a
posse dos servidores concursados, espera-se que, den-
tro dos próximos cinco anos, considerando-se o período
de estágio probatório e adequações às normas inerentes
ao setor público, haja servidores mais bem capacitados
a exercerem as mais diversas funções, entretanto é im-
portante frisar que não basta haver, apenas, uma sub-
stituição de vínculo empregatício, ou seja, contratados
por efetivos, mas estabelecer critérios de avaliação do
processo que permita contar com um quadro que possa
utilizar o conhecimento como recurso estratégico.
Foi estabelecido um procedimento que determina que,
enquanto o servidor for ativo, as informações são de re-
sponsabilidade da Secretaria de Administração. Se ocorrer
a aposentadoria, toda a documentação relativa ao servi-
dor fica no IPC, caso contrário, retorna à administração.
Uma questão que surgiu, em todas as entrevistas reali-
zadas, refere-se à equipe técnica, que, na maioria das
secretarias, é composta por cargos comissionados, já
que não há servidores do quadro efetivo em número
suficiente para atender a necessidade de alguns setores.
Assim, há situações como a apresentada pela Secretaria
de Administração e Recursos Humanos que não tem, em
seu quadro, nenhum profissional de Administração. Na
mesma situação, está a Secretaria de Desenvolvimento
Urbano, que não conta com Arquitetos do quadro efe-
tivo.
Gestão de Almoxarifado e Patrimônio
A estruturação física de setores importantes para o con-
trole de materiais e patrimônio se constituiu em mais
uma preocupação da atual gestão. Os três almoxarifa-
dos existentes anteriormente foram integrados em um
único chamado Almoxarifado Central, dotado de mel-
hores condições de funcionamento e controle. Dentre
as novas condições estabelecidas para o controle de
material, destaca-se a normatização dos procedimentos
quanto à gestão patrimonial.
O controle da frota de veículos leves está sob a respon-
sabilidade da Secretaria de Administração, enquanto os
veículos pesados e máquinas estão sob a responsabili-
dade da Secretaria de Serviços e Trânsito.
Gestão Previdenciária
A Gestão Previdenciária é responsabilidade hoje do IPC,
e toda a legislação que norteia esta gestão está dis-
ponibilizada para consulta, hoje, em meio digital, no site
www.camaracariacica.es.gov.br. Apesar de sua fundação
171
ter ocorrido em 1994, até 2005, não havia uma estrutu-
ra e, consequentemente, uma gestão com a responsabi-
lidade que essa área requer. A diretoria que assumiu em
2005 providenciou um levantamento da real situação
financeira do órgão, sendo apurado um déficit de R$150
milhões. Uma vez constatada essa situação, partiu-se
para uma saída negociada entre o IPC e o Executivo,
objetivando viabilizar a gestão previdenciária.
A gestão, a partir de então, só pode ser viabilizada pela
Lei 12/2006, a qual determinou que ficassem, para o
fundo financeiro de responsabilidade da Prefeitura, os
ativos, pensionistas e inativos que deram entrada até
o dia 16 de janeiro de 2006 e, para o regime previ-
denciário de responsabilidade do Instituto, os ativos,
inativos e pensionistas que deram entrada após a refer-
ida data. A capitalização do fundo previdenciário é ga-
rantida pelos valores recolhidos das contribuições dos
servidores ativos e do Ente (Prefeitura) que é de 11%.
Soma-se a esse recolhimento, a taxa administrativa, na
alíquota de 2% do total da folha que é repassada pelo
Executivo, para custear a administração do IPC.
Durante a coleta de informações para compor o diag-
nóstico, foi possível constatar que não existem registros
sobre doenças ocupacionais, assim como não existem
dados sobre acidentes de trabalho anteriores a 2005.
Há, entretanto, registros de acidentes de trabalho, at-
ualmente, e já teve início um controle de dados sobre
doenças ocupacionais. Por outro lado, as perícias médi-
cas necessárias para a concessão de licenças aos segu-
rados estão sob a responsabilidade do IPC desde 2007.
Atualmente, havendo a necessidade de afastamento do
servidor para tratamento de saúde, ele recebe acom-
panhamento para mantê-lo motivado a não abandonar
esse tratamento.
Analisando-se a gestão da política de previdência munic-
ipal é possível perceber que, entre a situação existente
em 2005 e a atual, ocorreram avanços que indicam a
presença de uma gestão responsável, a qual, gradati-
vamente, assume as atribuições que essa função req-
uer em termos de atenção ao servidor. Quanto à gestão
financeira, o fundo tem-se capitalizado, os valores das
contribuições indicam projeções de solvência do órgão,
e a parte administrativa custeada por recursos advin-
dos do Executivo no montante de 2% da receita do IPC
a cada ano tem sido suficiente para sua manutenção.
Recentemente o IPC passou a contar com um Plano de
Cargos e Salários dos seus servidores, com a aprovação
da Lei Complementar nº 033/2010.
Desconcentração e descentralização da gestão
Dentre as novas formas de gestão implantadas, está o
processo de desconcentração, implantado a partir de
agosto de 2010, cuja lei foi aprovada no final de 2009.
Resumindo, os principais objetivos com a implantação
desse sistema são:
1. Transferir responsabilidade do prefeito para os novos
ordenadores de despesas.
2. Agilizar e melhorar o fluxo processual no âmbito da
administração.
Apesar das medidas mencionadas no primeiro item,
todo o procedimento ainda não conseguiu tornar mais
ágil o andamento dos processos, porque ainda precisa
adequar o sistema e capacitar melhor os técnicos.
Decorridos cerca de dois anos da implantação da descon-
centração, percebe-se que a formatação dada ao NAOF
não é suficiente para atender às suas demandas. A prin-
cipal dificuldade apontada por algumas secretarias está
relacionada à necessidade de melhor qualificação dos
servidores para a função. Associadas a esta, existem
queixas relacionadas à baixa remuneração do cargo, o
que dificulta a atração de servidores e acarreta certa
rotatividade. A desconcentração, vista pela maioria dos
gestores atuais como uma possibilidade de superação
de problemas enfrentados no tocante ao trâmite de pro-
cessos, até o presente momento, só ocorreu no âmbito
administrativo e financeiro, mas não foram criadas as
estruturas necessárias para sua total implementação.
A integração entre as áreas é um dos desafios que a
criação da nova estrutura se propõe a atingir, ao insti-
tuir os comitês gestores (distribuídos por quatro áreas
temáticas – Área Meio, Infraestrutura, Relações Institu-
cionais, Social), cujo objetivo é possibilitar uma maior
interação entre as áreas da administração e garantir
melhor eficiência no trabalho realizado por elas. Dentre
as iniciativas voltadas para imprimir práticas de gestão
mais integradas, destaca-se a criação da Comissão Es-
pecial de Controle Orçamentário e Financeiro – CECOF,
que é responsável por analisar todos os processos de
solicitação de despesas.
Em Cariacica, estão terceirizados os serviços de vig-
ilância armada dos prédios administrativos, serviços de
porteiro; serviços de limpeza dos prédios que abrigam
diversos setores; serviços de merenda escolar; serviços
de vigilância armada e desarmada das escolas, das uni-
dades de saúde e dos CRAS.
O sistema de planejamento integrado está prejudica-
do por entraves na forma de implementação de ações
decorrentes de uma cultura ainda muito presente, em
que as demandas urgentes acabam se sobrepondo àque-
las planejadas, apesar do sistema de informatização ex-
istente já permitir realizar o fluxo de programação da
despesa com mais agilidade, em alguns setores.
Gestão compartilhada
O modelo de gestão adotado em Cariacica está baseado
nos princípios de gestão compartilhada, que inclui for-
mas de participação popular, transparência no manuseio
dos recursos públicos aplicados no desenvolvimento da
cidade e na modernização administrativa do setor públi-
3.14 :: GESTÃO PúBLICA MUNICIPAL
172
co. Dessa forma, com certo atraso, o município vem
consolidando uma gestão participativa, que encontra
limitações para promover o atendimento das grandes
demandas que se encontram nesse território. Mesmo
considerando as novas formas de gestão como um
avanço, é possível concluir que ainda existe um longo
caminho a ser percorrido até que o processo de plane-
jamento orçamentário participativo seja entendido para
além da obra do bairro e tenha agregadas novas formas
de pactuação dos interesses sob a formulação de políti-
cas abrangentes.
A discussão que se coloca como desafio para uma gestão
compartilhada é a sua capacidade de exercer o papel de
agente articulador de um processo de resgate da dívida
social, cuja dimensão atinge, em especial, os setores
sociais, como saúde e educação. Trata-se de encontrar
formas de administrar o impasse entre atrair mais uma
empresa para produzir mais bens e, consequentemente,
gerar mais impostos, ou garantir o acesso ao território e
à vida social por parte dos cidadãos de Cariacica.
O Orçamento Participativo – OP
Considerado uma marca da atual administração, o OP se
transformou em um grande fórum de discussão e delib-
eração dos investimentos realizados no município.
A metodologia do OP prevê a realização das reuniões
preparatórias, que ocorrem em todas as regiões e visa
explicar a metodologia do OP a todos os interessados
no processo, além de divulgar as etapas de participação
e distribuir o material de orientação. Em outra etapa,
são realizadas as plenárias regionais, em que ocorre a
maior participação popular, por ser este o espaço ou o
momento de indicação das obras específicas dos bairros
ou regiões. Essas plenárias são os espaços de que os
moradores participam, para indicar suas obras e eleger
seus representantes e, por isso, de todas as etapas,
esta costuma ser a de maior participação popular, já que
trata de demandas específicas dos bairros ou regiões.
A regionalização definida pelo OP contempla 13 regiões,
e a metodologia adotada para definição dos investimen-
tos busca contemplar obras de caráter regional, abran-
gendo os diversos bairros ali incluídos, e, ainda, obras
de caráter municipalizado – obra da cidade.
Estágio Tecnológico da Administração
O uso de ferramentas tecnológicas pela gestão, em seu
estágio atual, pode ser especificado pelo emprego de
softwares que auxiliam no controle administrativo, que
vão desde o sistema de protocolo até o desenvolvimento
de um site que permite a divulgação e a disponibilização
de alguns serviços à população. Os desafios, na área
de tecnologia, estão além da utilização de softwares e
sistemas de telefonia (Voice). Nota-se a presença de al-
guns entraves aos avanços pretendidos, que atingem a
estrutura física da Prefeitura e ultrapassam seus limites,
indo repercutir nas dificuldades em utilizar um sistema
de rede integrada que contemple todas as unidades ad-
ministrativas e prestadoras de serviços.
Estão em curso ações envolvendo obras físicas no pré-
dio central da Prefeitura que irão permitir a ligação em
rede dos setores ali alocados. Os equipamentos já foram
adquiridos e estão disponíveis para serem instalados.
Outro problema observado está na ausência de acesso
à Internet por parte de diversos setores alocados no
prédio central. Importante destacar que, mesmo com
todas as dificuldades de acessibilidade a ferramentas
tecnológicas, em especial à internet, a administração se
utiliza de um importante instrumento de comunicação
e disponiblização de serviços que é o site, implantado
em 2006, cuja atualização ganhou em qualidade com o
lançamento, em maio de 2010, do portal da transpar-
ência. Pelo portal, é possível ter acesso às informações
sobre as finanças municipais, dados do funcionalismo,
prestações de contas, entre outras.
A secretaria de Finanças é a pasta responsável pela
gestão da área de tecnologia da informação. O municí-
pio possui um Plano de Desenvolvimento de Informática
(PDI), mas sua implementação plena encontra dificul-
dades, na medida em que algumas secretarias não pos-
suem equipamentos adequados, nem acesso ao sistema
integrado de gestão. Todos os problemas apresentados
na área de Tecnologia da Informação repercutem de
maneira negativa no bom andamento da gestão. Ainda
há muito por fazer para a instituição de uma ferramenta
como a Intranet, que possibilita maior comunicação e
monitoramento das ações que são realizadas pelos di-
versos setores.
Desafios da gestão
Ainda há muitos desafios a serem enfrentados e su-
perados por se tratarem de questões que envolvem
mudanças de hábitos institucionalizados, cultura organi-
zacional, ingerências, sobreposição de atribuições, en-
tre outros. Há um sentimento por parte da população
(Pesquisa de Identidade do Cariaciquense, 2011) de que
as mudanças ocorridas contribuíram para uma melhora
da situação, mas isso não exclui um sentimento de que
persistem grandes problemas, dentre os quais, os que
são de responsabilidade do município.
A aplicação de tecnologia da informação conta com in-
vestimentos de R$ 2,5 milhões em equipamentos, cuja
operação depende da conclusão das obras que estão
sendo realizadas no prédio central da PMC, contudo ain-
da há setores que sequer têm acesso ao sistema de con-
trole de processos. Um agente limitador da expansão
dos serviços via web reside no fato de o município ser
ainda refém de apenas um provedor de Internet banda
larga. Assim como esse, Cariacica ainda possui enormes
desafios de gestão pública, dentre os quais, os citados
abaixo:
3.14 :: GESTÃO PúBLICA MUNICIPAL
173
•A gestão das obras do PAC conta com uma unidade
executora local, ligada à Secretaria de Desenvolvi-
mento Urbano, que está prejudicada pelo acúmulo de
atribuições quanto aos problemas da cidade e tendo que
absorver a gestão de um programa de tão alta enverga-
dura. Há a necessidade urgente de promover uma maior
integração entre as áreas de Desenvolvimento Urbano,
Desenvolvimento Econômico, Obras e Meio Ambiente,
para se evitarem atropelos nas decisões sobre uso e
ocupação do solo e aplicações da legislação.
•A equipe especializada em gestão é muito reduzida,
implicando uma necessidade de capacitar pessoal para
dar prosseguimento ao processo de avanço na gestão.
No estágio atual, existe uma série de dificuldades em se
delegar atribuições, o que acaba por sobrecarregar, em
alguns casos, os titulares das pastas;
• A situação, que ainda persiste, de regimes diferencia-
dos, convivendo, tais como celetistas, efetivos e con-
tratados. Falta consolidar o concurso público;
• A implantação do estatuto representa um grande de-
safio, em especial no que diz respeito ao estabelecimen-
to de um sistema de avaliação funcional;
• O processo de desconcentração em curso, que tornou
os secretários ordenadores de despesa, implica uma
maior responsabilidade deles quanto à execução orça-
mentária e à tomada de decisões, incluindo aditamento
de contratos, homologação de licitação etc. São situ-
ações novas que demandam estruturas mais ágeis;
• A estrutura física passa por reformulações que en-
volvem a reorganização espacial. Inicialmente todas
as secretarias funcionavam no prédio central. Com a
transferência de algumas secretarias, resta dotar as in-
stalações destinadas às novas alocações de condições
necessárias para seu funcionamento.
• Tornar a administração pública municipal ainda mais
eficiente, considerando o desenvolvimento que já vem
ocorrendo nos últimos anos, tomando por base o re-
sultado da Pesquisa de Opinião Pública Identidade do
Cariaciquense, que evidencia a maior exigência dos que
residem há menos tempo em Cariacica, quanto a uma
velocidade da transição, objetivando o alcance de re-
sultados.
• Superar o desafio de aumentar a sintonia entre o
econômico, o social e o ambiental - e consolidar a atu-
ação local do estado nessa direção.
Estrutura das Finanças Municipais
A análise das receitas municipais de Cariacica indica
uma forte base no ramo de prestação de serviços. A
estrutura de arrecadação do município está concentrada
em quatro principais fontes que são: a receita de im-
postos, com grande peso para o ISSQN (70% das recei-
tas próprias); dentre as transferências federais, o FPM;
dentre as estaduais, o ICMS; e ainda a transferência
recebida do FUNDEB, antigo FUNDEF. Nesse ponto, cabe
esclarecer que o município, ao longo desses últimos
anos, tem tido um repasse dos recursos do FUNDEB su-
perior ao valor de suas retenções.
Percebe-se, por sua estrutura arrecadadora, que o mu-
nicípio se encontra dependente, em grande parte, das
transferências. Importante observar que a participação
relativa dessas receitas somadas, na receita total, de-
clinou a partir de 2007, indicando que outras fontes
passaram a ser representativas, como os recursos
de convênios e de operações de crédito realizadas. O
crescimento da receita foi bastante significativo, entre
os anos 2005-2009, ainda que tenha havido uma queda
em 2009, a qual só não foi maior, porque houve uma
receita proveniente de convênios no valor de R$ 26,3
milhões. Importante destacar que a receita tributária
em valores constantes apresentou um crescimento per-
manente, inclusive em 2009.
A análise das despesas indica um grande peso das desp-
esas correntes. Dentre essas, desponta como maior
gasto, a folha de pessoal, incluindo salários e encargos,
que representam cerca de 50% do total geral, contudo
os investimentos apresentaram uma evolução consid-
erável, associada ao recebimento de transferências de
convênios que são recursos vinculados, ou seja, receitas
direcionadas, neste caso, a investimentos.
A análise das finanças do município indica uma situação
de grande complexidade, tendo em vista as dificuldades
em gerar receitas próprias. Essa situação encontra-
se agravada em especial em uma fonte de receita de
competência municipal, o Imposto sobre a Propriedade
Predial e Territorial Urbana (IPTU), cuja limitação em
estabelecer sua cobrança está associada a diversas
questões, dentre as quais, estão os problemas de reg-
ularização fundiária. Outro imposto que tem sua base
tributária limitada pela questão de regularização é o
Imposto sobre a transmissão de Bens Imóveis (ITBI),
cujo fato gerador é a transferência de propriedade rep-
resentada pela venda. Tendo em vista que grande par-
te dos imóveis é transacionada de maneira informal e
a cobrança do imposto só ocorre sobre as transações
que envolvem a escrituração em cartório, o potencial
de arrecadação é bastante limitado. O ISSQN, por sua
vez, transformou-se, nos últimos anos, na mais impor-
tante fonte de receitas próprias. O crescimento da ar-
recadação desse imposto está associado a alguns fa-
tores, segundo relato da Secretária de Finanças, dentre
os quais, destacam-se: a implantação do novo Código
Tributário Municipal, em 2009; a redução de alíquotas
do Imposto para 36 atividades; aumento do número de
contribuintes; disponibilização de serviços “on line”, pelo
Site da PMC; implementação do Programa de Moderni-
zação das Atividades Tributárias.
Destaca-se, também, nesse cenário de escassos recur-
sos, a determinação em efetuar a cobrança da dívida
ativa, realizada através da Procuradoria Geral na fase
3.14 :: GESTÃO PúBLICA MUNICIPAL
174
judicial (execução fiscal). O esforço desempenhado pela
cobrança de créditos referentes à dívida ativa é um in-
dicativo da utilização do poder garantido dentro dos
princípios da autonomia municipal, que vem sendo ex-
ercido pela atual gestão, garantindo recursos que lhes
são devidos e cuja participação na receita total é sig-
nificativa, situando-se em margem constante de 2% a
cada ano.
Os desafios para a gestão financeira de Cariacica está
em uma constante busca pela otimização dos escassos
recursos. Escassos, em especial, se confrontados com
aqueles auferidos pelos outros três municípios de maior
receita da Região Metropolitana. Uma baixa capacidade
de arrecadação traz, como conseqüência, uma baixa
capacidade de investimento que pode ser expressa na
dependência de recursos de convênios que o município
tem apresentado.
O ano de 2009 foi marcado pela crise econômica mun-
dial, que atingiu, em cheio, as finanças públicas, provo-
cando a queda da arrecadação em diversos municípios.
Os reflexos se fizeram sentir em Cariacica, como pode
ser observado pelos valores corrigidos da arrecadação
de 2008 para 2009. Enquanto em 2008, a arrecadação
corrigida pelo IPCA de 2009 totalizou o montante de R$
293, 3 milhões, em 2009, esse montante ficou em 289,1
milhões. A queda só não foi maior, devido às transferên-
cias de convênios que totalizaram, naquele ano, o mont-
ante de R$ 26,3 milhões. Quanto à Receita Corrente
Líquida (RCL), que serve de parâmetro para o limite de
gastos com pessoal, a margem de comprometimento,
ao longo do período 2005-2009, foi-se ampliando, che-
gando, em 2009, ao seu maior nível situando-se próxi-
ma do limite máximo que é de 54%.
Do ponto de vista da gestão pública, as expectativas de
crescimento populacional implicarão responsabilidades
adicionais quanto ao desenvolvimento de ações voltadas
para a adequação das instalações administrativas, uti-
lização de novas tecnologias, mão de obra capacitada,
entre outras. Implica ainda ações responsáveis quanto
à fiscalização de projetos de empreendimentos comer-
ciais, industriais e residenciais. Por mais que se perceba
uma evolução entre as condições existentes em 2005 e
as atuais, está claro que o momento de voltar a aten-
ção, para melhorar a estrutura interna, sob pena de, se
isso não for feito, perder o timming necessário para o
deslanche de uma gestão competente.
A dívida pública municipal
A Dívida Fundada do município somava, ao final de 2009,
um total de R$ 47.372.220,07 (quarenta e sete milhões,
trezentos e setenta e dois mil, duzentos e vinte reais e
sete centavos), representando um crescimento de 12%,
no período de 2005 a 2009. A maior parte dessa dívida
se refere aos parcelamentos de dívida previdenciária.
O restante, em menores proporções, é decorrente de
parcelamento do FGTS e de dívida de contratos. Cabe
esclarecer que essas dívidas são parte do passivo do
município, que se arrastam por muitos anos e decor-
rem de auditorias realizadas pelos órgãos federais, cujo
montante é parcelado por um período normalmente de
20 anos ou mais, e suas parcelas são pagas mensal-
mente pelo município. O nível de endividamento do mu-
nicípio, no final de 2009, representou 18,09% da RCL,
ficando, portanto, bem abaixo do limite legalmente es-
tabelecido. O pagamento anual dos juros e amortização
da dívida passou de 4,4 milhões, em 2005, para 8,8
milhões, em 2009, e a participação relativa desse item
na despesa tem-se mantido em torno de 3% a 3,5%
ao ano.
A Capacidade de Investimento do Município
A análise das finanças municipais indica uma baixa ca-
pacidade de investimento, considerando-se as fontes
dos recursos do tesouro. Nos últimos anos, a partici-
pação relativa dos investimentos, em relação às desp-
esas totais, cresceu de 10%, em 2005, para algo em
torno de 20%, em 2008 e 2009. Ainda que tenha do-
brado, esse desempenho só foi possível devido aos re-
passes, recebidos pelo município, das transferências de
capital de recursos de convênios. Esses repasses pas-
saram de R$ 2 milhões para R$ 26 milhões no mesmo
período, tendo sua participação relativa em relação à
receita total saltado de 1% para 9%. As perspectivas de
aumento da capacidade de investimento estão ligadas a
algumas ações implementadas nos últimos anos, dentre
as quais se destacam:
• Instalação do Centro Integrado de Apoio à Micro e
Pequena Empresa (CIAMPE);
• Disponibilização de serviços via web (A emissão de
alvará)
• Realização de um recadastramento georeferenciado;
• Cobrança da Dívida Ativa
• Atualização do Código Tributário. - Criação da Lei de
Incentivo à Micro e Pequena Empresa
• Criação do Núcleo de Atendimento ao Contribuinte
(NAC)
• Redução das Dificuldades de disponibilização de áreas
adequadas para a implantação das empresas
• Melhor definição da capacidade de atuação da Cia de
Desenvolvimento de Cariacica (CDC)
• Gestão de Convênios
3.14 :: GESTÃO PúBLICA MUNICIPAL
1753.14 :: GESTÃO PúBLICA MUNICIPAL
4 :: EIXOS :: DIRETRIZES :: ESTRATÉGIAS :: PROJETOS 178
4
4 :: EIXOS :: DIRETRIZES :: ESTRATÉGIAS :: PROJETOS 179
4 :: EIXOS :: DIRETRIZES :: ESTRATÉGIAS :: PROJETOS 180
4 :: EIXOS :: DIRETRIZES :: ESTRATÉGIAS :: PROJETOS 181
4 :: EIXOS :: DIRETRIZES :: ESTRATÉGIAS :: PROJETOS 182
4 :: EIXOS :: DIRETRIZES :: ESTRATÉGIAS :: PROJETOS 183
4 :: EIXOS :: DIRETRIZES :: ESTRATÉGIAS :: PROJETOS 184
4 :: EIXOS :: DIRETRIZES :: ESTRATÉGIAS :: PROJETOS 185
186 4 :: EIXOS :: DIRETRIzES :: ESTRATÉGIAS :: PROjETOS
4 :: EIXOS :: DIRETRIZES :: ESTRATÉGIAS :: PROJETOS 187
4 :: EIXOS :: DIRETRIZES :: ESTRATÉGIAS :: PROJETOS 188
4 :: EIXOS :: DIRETRIZES :: ESTRATÉGIAS :: PROJETOS 189
4 :: EIXOS :: DIRETRIZES :: ESTRATÉGIAS :: PROJETOS 190
4 :: EIXOS :: DIRETRIZES :: ESTRATÉGIAS :: PROJETOS 191
4 :: EIXOS :: DIRETRIZES :: ESTRATÉGIAS :: PROJETOS 192
4 :: EIXOS :: DIRETRIZES :: ESTRATÉGIAS :: PROJETOS 193
4 :: EIXOS :: DIRETRIZES :: ESTRATÉGIAS :: PROJETOS 194
4 :: EIXOS :: DIRETRIZES :: ESTRATÉGIAS :: PROJETOS 195
4 :: EIXOS :: DIRETRIZES :: ESTRATÉGIAS :: PROJETOS 196
4 :: EIXOS :: DIRETRIZES :: ESTRATÉGIAS :: PROJETOS 197
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