JOS ROBERTO BATOCHIO
ADVOGADOS ASSOCIADOS
EXCELENTSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 13
VARA FEDERAL CRIMINAL DA SEO JUDICIRIA DE
CURITIBA/PR
Eu sei como que eu vou passar pra histria. Eu no sei como eles vo passar. No sei se eles vo passar pra histria como juzes ou como algozes. No sei. O heri no o cara que enforcou Tiradentes. Foi o enforcado que virou heri. Luiz Incio Lula da Silva
Ao Penal n 5021365-32.2017.4.04.7000/PR
LUIZ INCIO LULA DA SILVA, j qualificado nos autos da
ao penal em epgrafe, cujos trmites se do por esse douto Juzo, vem, por
seus advogados infra-assinados, com o devido respeito, presena de Vossa
Excelncia, para apresentar suas inclusas
Alegaes Finais
na forma de memoriais
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o que faz com supedneo no artigo 403, 3 do Cdigo de Processo Penal e
ancorado nos fundamentos fticos e jurdicos a seguir articulados.
Antes de mais nada, porm, mister se faz consignar, sempre
e sempre, que o Defendente no reconhece a competncia desta 13 Vara
Federal de Curitiba/PR para julgar o presente feito, eis que, conforme
fundamentadamente exposto na exceo de incompetncia 5036131-
90.2017.4.04.7000 e amplamente demonstrado na instruo processual
inclusive pelo que se contm na verso dos prprios delatores inexiste
qualquer elo ou ligao entre as reformas do stio de Atibaia, supostamente
realizadas em benefcio do Defendente, e os supostos desvios ocorridos em
contratos celebrados pela Petrobras.
Imprescindvel salientar, tambm, que o Defendente no
reconhece a validade ou higidez dos atos praticados, na presente persecuo,
pelo Juiz suspeito Srgio Fernando Moro (agora ex-magistrado), pois,
consoante exaustivamente demonstrado nas excees de suspeio n 5036130-
08.2017.4.04.7000, 5021192-71.2018.4.04.7000 e no habeas corpus n
164.493/STF, referido magistrado no se revestia como jamais se revestiu
da necessria imparcialidade, impessoalidade e independncia para a cognio
e isento julgamento do feito.
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Registre-se, ainda, desde logo, que o Defendente no e jamais
foi proprietrio do stio de Atibaia. Essa constatao, que emerge com nitidez
da prova coligida durante a instruo, o que basta para rechaar a esdrxula
tese acusatria de que o Defendente teria sido beneficiado por reformas
realizadas naquele imvel em contrapartida a afirmadas atuaes em favor de
contratos firmados pelas empresas OAS e Odebrecht com a Petrobras.
Mas a defesa tcnica ir nestas alegaes finais enfrentar todos
os aspectos atinentes a este feito e ao cenrio de patente lawfare imposto ao
Defendente, como se passa a expor a seguir.
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Ementa
1. MPF da Lava Jato escolheu este Juzo com ntida posio pr-estabelecida para a condenao do Defendente como meio de lawfare1 mediante a mera afirmao, desacompanhada de qualquer fiapo de prova, de que o ex-Presidente teria sido beneficiado por reformas em Stio com recursos provenientes de contratos especficos firmados pela Petrobras;
2. Prtica de atos por este Juzo, antes e aps o oferecimento da denncia, que indicam a impossibilidade de o Defendente obter julgamento justo, imparcial e independente; magistrado que presidiu a fase de investigao atualmente ministro do governo do Presidente eleito a partir de sufrgio que impediu a participao do Defendente at ento lder disparado em todas as pesquisas de opinio a partir de atos concatenados praticados ou com origem em aes praticadas pelo mesmo juiz; Governo Federal sob a conduo de Presidente da Repblica que anunciou que iria fuzilar petralhada2 e que o Defendente deve apodrecer na cadeia3 e que seus aliados tm a opo de deixar o pas ou cadeia4: reforo do lawfare e da ausncia de imparcialidade do julgador que toda a fase de instruo e que atualmente ocupa um dos principais cargos do Governo Federal de oposio ao Defendente;
3. Cenrio de parcialidade e de violao ao devido processo legal que se manteve, no obstante a substituio da presidncia do feito. A conduo do interrogatrio do Defendente, de forma opressiva, autoritria e inquisitria, comprovou que o ex-presidente Lula segue sendo visto
1 O lawfare consiste no abuso e mau uso das leis e dos procedimentos jurdicos para fins de perseguio poltica. Conferir: https://www.conjur.com.br/2018-dez-17/opiniao-lawfare-militar-politico-comercial-geopolitico (acesso em 02.01.2019). 2 https://oglobo.globo.com/brasil/campanha-confirma-video-em-que-bolsonaro-fala-em-fuzilar-petralhada-do-acre-foi-brincadeira-23033857 (acesso em 02.01.2019). 3 https://www.valor.com.br/politica/5939477/bolsonaro-afirma-que-lula-e-haddad-apodrecerao-na-cadeia (acesso em 02.01.2019). 4https://www.poder360.com.br/eleicoes/bolsonaro-diz-que-vermelhos-terao-duas-opcoes-deixar-o-pais-ou-cadeia/ (acesso em 02.01.2019).
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como um inimigo, destitudo de direitos, cuja fala e manifestaes devem ser cerceados. Ntida violao da garantia fundamental da ampla defesa (autodefesa e defesa tcnica) e do devido processo;
4. Sustentao da competncia deste juzo por argumentos patentemente inidneos e superficiais, em franca contrariedade s normas constitucionais e processuais definidoras da competncia jurisdicional, bem como pacfica jurisprudncia do STF sobre o tema (QO no INQ 4130, INQ 4418 e INQ 3994);
5. Existncia de trs decises emanadas pelo STF (PET 6780, PET 6664 e PET 6827), reconhecendo que inmeros elementos relacionados a esta persecutio, incluindo-se a prpria narrativa sobre o clebre stio de Atibaia, no possuem qualquer ligao com os desvios havidos na Petrobras, razo pela qual foi afastada a competncia deste juzo. Inexplicvel negativa de cumprimento de tais decises por este juzo, fato que se encontra sub judice perante o STF (Rcl. 30.372, Rel. Min, CRMEN LCIA);
6. Usurpao da competncia da Justia Eleitoral, ao arrepio das taxativas previses constitucionais (CR/88, art. 109, I), infraconstitucionais (CPP, art. 78, V; CE, art. 35, II), bem como a jurisprudncia sedimentada do STF (CC 7033 e INQ 4399), que reconhecem a prevalncia da Justia Eleitoral (especializada) mesmo subsistindo crimes comuns conexos;
7. Lawfare evidenciado pelo direcionamento, pelo MPF, de narrativas em delao sobre a prtica de ilcitos na Petrobras apenas a partir de 2003, ano em que o Defendente assumiu o cargo de Presidente da Repblica
(Depoimento de Pedro Barusco5 6: Defesa:- Mas tem propinas que o
5 Evento 353 da ao penal 5063130-17.2016.4.04.7000/PR, trasladado aos autos no evento 126, termo 06. 6 Confirmao da seletividade no depoimento prestado nestes autos (Transcrio no evento 455): Defesa:- Certo. Mas, quer dizer, ento na realidade, esse recebimento de vantagens indevidas pelo senhor comea antes de 2003. Comea... Ento, essa planilha no reflete todo o perodo em que o senhor recebeu vantagens indevidas?
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senhor recebeu ento antes de 2003? Pedro Jos Barusco Filho:- Tem; Defesa:- O senhor v essa delimitao, ento, lavajato a partir de 2003? Pedro Jos Barusco Filho:- ; Defesa:- Certo. Mas, quer dizer, ento na realidade, esse recebimento de vantagens indevidas pelo senhor comea antes de 2003. Comea... Ento, essa planilha no reflete todo o perodo em que o senhor recebeu vantagens indevidas? Pedro Barusco:- bvio);
8. Seletividade acusatria confirmada por Salim Taufic Schahin, que tambm testificou no ter sido questionado, em sua delao, acerca de
contratos firmados pela Construtora Schahin com a Petrobras antes de
2003, muito embora a empresa mantenha contratos com a Petrobras
desde 1983: Defesa:- Certo. O grupo Schahin passou a ter contratos com a Petrobras em 2009 apenas ou j tinha contratos? Salim Taufic Schahin:- No, j tinha contratos desde... O primeiro contrato, acho, que ns assinamos com a Petrobras, se no me falha a memria tambm, foi em 1983, eu acho. Defesa:- E o Ministrio Pblico questionou o senhor em relao a outros contratos que o senhor tenha
firmado, a empresa do senhor tenha firmado desde esse perodo de 82
at 2009 ou s fez questionamentos em relao a esse contrato do
Vitria 10000? Salim Taufic Schahin:- Olha, eu no me lembro
exatamente disso, mas eu acho que mais foi tratado deste contrato do Vitria 10000, mas eu citei que ns tnhamos uma expertise no Lancer, como eu disse agora h pouco. Defesa:- Certo, mas de contratos
anteriores a 2003 o senhor no se lembra de ter sido questionado pelo Ministrio Pblico? Salim Taufic Schahin:- No me lembro;
9. Repetio da acusao veiculada nos autos da Ao Penal n 5046512-94.2016.4.04.7000/PR (caso do trplex), que levou condenao do
Defendente sem reconhecimento de concurso material questionada nos Tribunais Superiores por recursos pendentes de julgamento sob o
(falso) fundamento de que ele seria o garantidor de um esquema maior, assegurando nomeaes e manutenes de agentes pblicos em cargos
Pedro Barusco:- bvio.
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chaves para a empreitada criminosa; violao garantia do ne bis in idem;
10. Sistemtico cerceamento de Defesa, com o indeferimento indiscriminado de inmeras diligncias probatrias pleiteadas, por meio
de decises genricas e despidas de fundamentao idnea. Ofensa aos
princpios constitucionais da motivao das decises judiciais, da ampla
defesa e do contraditrio, bem como do devido processo legal (art. 93,
IX; art. 5, LV e LIV);
11. Depoimentos de ex-ocupantes dos cargos de Procurador Geral da Repblica, Ministro-Chefe da CGU, Diretor-Geral da Polcia Federal
demonstraram que o governo do Defendente foi o que mais fortaleceu e
deu autonomia s instituies e o que mais adotou medidas a fim de
tornar mais eficiente o combate criminalidade, incluindo-se a
corrupo e a lavagem de dinheiro;
12. Depoimentos de inmeras testemunhas, ocupantes de relevantes posies nos Poderes Executivo e Legislativo, que enfaticamente afirmaram que o Defendente, enquanto Presidente da Repblica, sempre
teve uma postura digna, proba e republicana, seja na interlocuo com o Congresso Nacional, seja nas conversaes com diferentes setores da
sociedade civil, incluindo-se o empresariado;
13. Inconcebvel criminalizao do legtimo relacionamento e de dilogos institucionais com representantes de empresas nacionais, passando-se a
errnea e leviana impresso de que o crescimento do setor, durante o
Governo do Defendente, ocorreu de forma isolada e por suposto
favorecimento do Defendente, quanto, na verdade, o Brasil, como um
todo, colheu os frutos do prspero perodo em que o Defendente chefiou
o Executivo Federal, deixando o cargo com aprovao recorde (87% de
bom ou timo7);
7 http://g1.globo.com/politica/noticia/2010/12/popularidade-de-lula-bate-recorde-e-chega-87-diz-ibope.html - Acesso em 02.01.2019;
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14. Seletividade acusatria. A relao mantida pelo Defendente com Emlio Odebrecht, criminalizada pela Lava Jato, a mesma que o ex-
presidente da Odebrecht manteve com Presidentes anteriores: Defesa:- (...) o senhor disse que o senhor tinha contato pessoal com o ex-
presidente Lula e levava, conversava com ele sobre os assuntos do pas,
eu pergunto ao senhor, o senhor tambm tinha esse relacionamento
com presidentes da repblica que antecederam Lula? Emlio Odebrecht:- Todos.
15. Manifesta improcedncia da tese de que o Defendente, na condio de Presidente da Repblica, tinha o magnnimo poder de indicar, nomear e
manter diretores da Petrobras em seus cargos. Cabal comprovao de
que tais atos no se encontram inseridos no plexo de atribuies do
Presidente da Repblica, sendo funo privativa do Conselho de
Administrao da petrolfera, que o fazia de forma tcnica e
independente. Abundante prova testemunhal nesse sentido;
16. 99 testemunhas e 02 informantes ouvidos na fase de instruo sendo 36 testemunhas de acusao, 63 testemunhas de defesa e 2 informantes arrolados pelas defesas. Realizao de 34 audincias realizadas para tais oitivas. Ausncia de qualquer depoimento muito menos com a iseno prpria s testemunhas e inaplicvel aos delatores que possa confirmar a hiptese acusatria. As alegaes finais do FT Lava Jato se baseiam amplamente (+ de 60%) em depoimentos de delatores, rostos bem conhecidos e sempre dispostos a confirmar qualquer narrativa fantasiosa elaborada pelo Parquet para o granjeio de benesses processuais e o restante em elementos sem qualquer carga probatria. Desesperada tentativa do rgo acusatrio de manter discurso com clara motivao poltica;
17. Inexistente liame entre o stio de Atibaia e supostas ilicitudes havidas em licitaes da Petrobras, consoante com o que o STF reconheceu na
PET 6780. Vinculao artificialmente construda, pela aleatria incluso de contratos da Petrobras, com o inequvoco objetivo de que o
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Defendente fosse processado e julgado perante esta Vara Federal, o que
ocorreu e permanece ocorrendo de forma parcial e interessada, ao arrepio
da Ordem Constitucional. Laudo Pericial8 e farta prova testemunhal
desmentindo tal vinculao;
18. Insubsistente vinculao entre as reformas no stio, supostamente intermediadas por Jos Carlos Bumlai, com a contratao da Construtora
Schahin pela Petrobras. Tese amparada em genricos, incongruentes e isolados relatos de delatores de que o Defendente teria abenoado o negcio. Amplo espectro probatrio descartando qualquer conhecimento e muito menos interveno do Defendente a respeito de tal contratao;
19. Enftica negativa de Marcelo Odebrecht, apontado pelo ente acusador como o executivo da Construtora Odebrecht que ofereceu e prometeu ao
Defendente vantagens indevidas decorrentes dos contratos apontados na
exordial, de que discutiu qualquer assunto relacionado Petrobras:
Defesa:- (...) senhor Marcelo, o senhor tratou pessoalmente sobre esses quatro contratos com o presidente Lula? Marcelo Odebrecht:- Sobre esse ponto da denncia no houve, quer dizer, eu no fiz
nenhuma tratativa direta ou indireta com o presidente Lula envolvendo contratos da Petrobrs.
20. Cabal negativa de Agenor Franklin Medeiros, apontado pelo ente acusador como o executivo da Construtora OAS que ofereceu e
prometeu ao Defendente vantagens indevidas decorrentes dos contratos
apontados na exordial, de que houve qualquer discusso de assunto
relacionado Petrobras: Defesa:- Boa tarde, senhor Agenor, pela defesa do ex-presidente Lus (sic) Incio Lula da Silva. Na denncia que
o Ministrio Pblico apresentou, que gerou essa ao penal, existe a
afirmao aqui ao acusar o senhor do crime de corrupo, de que o senhor teria oferecido e prometido vantagem indevida ao ex-presidente Lula, pelo o que eu entendi do seu depoimento o senhor no prometeu
8 Evento 1169.
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e nem ofereceu, isto? Agenor Franklin Magalhes Medeiros:-
Jamais. Eu nunca tive intimidade com o presidente Lula para tal. Nunca tive contato pra tal9;
21. Categrica negativa de Emlio Odebrecht10 e Alexandrino Alencar11, apontados como aqueles a quem o Defendente teria solicitado vantagem
indevida concretizada nas reformas do stio de Atibaia: Juza Federal Substituta:- O senhor chegou a conversar com o senhor ex-presidente sobre esse fato? Alexandrino Alencar:- Com o presidente? Juza Federal Substituta:- Com o presidente Lula. Alexandrino Alencar:- No. Juza Federal Substituta:- Nunca? Alexandrino Alencar:- Nunca. Juza Federal Substituta:- Nunca conversou sobre essa reforma? Alexandrino Alencar:- Nunca; Juza Federal Substituta:- O senhor se lembra de ter falado com o senhor presidente, reclamado de alguma questo da Petrobrs, da dificuldade que a empresa estava tendo? Emlio Odebrecht:- No (...). Emlio Odebrecht:- as minhas conversas que eu tinha com ele era efetivamente a forma da minha organizao
poder crescer, lutar e j ajudar o pas a crescer, era a forma com que eu
tinha, e se eu pudesse influenciar nessa direo era o que eu fazia,
contribua;
22. Assim como ocorreu no processo-crime relacionado ao celebrizado apartamento trplex, mais uma vez a tese acusatria se esteia,
fundamentalmente, na palavra de Lo Pinheiro e na imaterial tese do caixa geral. Afora a palavra do corru e candidato a delator, inexiste
qualquer circunstncia indiciria que permita vincular uma reforma
executada em 2014 com a indicao e nomeao de diretores da Petrobras (2003 e 2004) e licitaes vencidas pela Construtora OAS (2006, 2008 e 2009). Vedao legal (Lei 12.850/13, art. 4, 16) e jurisprudencial (HC 84517-7/SP, HC 94.034/SP, INQ 4419, INQ 3994) de a condenao ser amparada por tal elemento;
9 Transcrio no evento 1348, termo 03. 10 Transcrio no evento 1328, termo 03. 11 Transcrio no evento 1328, termo 01.
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23. Nulidade do processo; ausncia de prova de culpa do Defendente; presena inequvoca de prova de inocncia do Defendente.
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SUMRIO
I CONSIDERAES INICIAIS. 22
II DAS NULIDADES 28
II.1. Do Julgamento de Exceo. ................................................................................ 33 II.2. Suspeio do Magistrado. ................................................................................... 40
II.2.1. Perda da Imparcialidade Subjetiva. ................................................................. 47
a) Conduo coercitiva deferida com interesses estranhos ao processo................... 49
b) Monitoramento da Defesa Tcnica ......................................................................... 52
c) Violao do sigilo das interceptaes e divulgao ilegal dos udios ................... 55
d) Apario em eventos organizados por opositores do Defendente e nunca por seus apoiadores .............................................................................................................. 58
e) O Magistrado da instruo enquanto garantidor do encarceramento do Defendente ..................................................................................................................... 60
f) A liberao da delao de Palocci s vsperas do pleito eleitoral ......................... 65
g) O aceite para integrar o governo do Presidente Jair Bolsonaro .......................... 71
h) A contribuio da Teoria da Dissonncia Cognitiva para o processo penal ....... 78
i) As incriminaes pr-processuais contra o Defendente ......................................... 85
j) A violao estrutura dialtica do processo ........................................................... 94
II.2.2. Perda da imparcialidade objetiva ..................................................................... 98
II.2.3 Trocam-se os personagens, permanecem as praticas ilegais ...................... 105
II.2.3.1 Da negativa de esclarecimento acerca do rgo jurisdicional previamente designando para oficiar no feito. ......................................................... 121
II.2.3.2. Vulnerao Presuno de Inocncia 130
II.3 Da incompetncia da 13 Vara Federal de Curitiba/PR .................................. 141 II.3.1 Competncia da Justia Eleitoral Prevalncia da Justia Especializada Cenrio que restou clarividente ao fim da instruo processual ............................ 141
II.2.4. Acesso integralidade do HD com a cpia do computador de Marcelo Odebrecht. ................................................................................................................... 381
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II.2.7 Da ordem de apresentao das alegaes finais. ......................................... 385
II.2.8 Do insuficiente prazo concedido para apresentao das alegaes finais. 388
II.2.9 Concluses ...................................................................................................... 389
a)A funo do Ministrio Pblico .............................................................................. 391
b)A malograda Teoria dos Poderes Implcitos ......................................................... 396
c)A escolha do legislador constituinte ....................................................................... 401
d)O PIC n 1.25.000.003350/2015-98 e suas nulidades ............................................ 404
e)A inexistncia da conformao de uma adequada Opinio Delicti ....................... 405
f)A ilegalidade das provas obtidas no curso do PIC n1.25.000.003350/2015-98. . 406
g)Concluses ................................................................................................................ 412
III PRELIMINARES DE MRITO 414
III.1. Do necessrio cumprimento da deciso do Comit de Direitos Humanos da ONU. .................................................................................................................... 414 III.1.1 A deciso. ................................................................................................... 414 III.1.2 Carter cogente das determinaes do Comit de Direitos Humanos da ONU .......................................................................................................................... 420 III.1.3 Impossibilidade de os Tribunais e Juzes Brasileiros sindicarem as decises do Comit de Direitos Humanos ONU. ..................................................... 426 III.1.4 Concluses. ................................................................................................ 427 III.2. Da Inpcia acusatria ....................................................................................... 429
IV DO MRITO 441
IV.1 Consideraes Sobre O Acervo Probatrio ................................................... 441 IV.1.1 Consideraes sobre a valorao probatria: o sistema de livre convencimento motivado ............................................................................................ 441
IV.1.2 O standard Probatrio no Processo Penal.................................................. 446
IV.1.3 Do sistemtico (e sempre miditico) manejo da delao premiada como sustentao da Lava Jato e sua fbrica de manchetes. ........................................ 464
IV.1.4 Da fragilidade das delaes da Odebrecht De delao do fim do mundo delao dos arquivamentos...................................................................................... 478
IV.1.5 Valor Probatrio dos Depoimentos de Delatores ....................................... 488
IV.1.6 Das inconsistncias decorrentes das delaes premiadas. ........................ 509
IV.1.6.1 A delao de Delcdio do Amaral ............................................................. 513
IV.1.6.2 A delao de Pedro Corra ....................................................................... 521
IV.1.7 Das informais delaes premiadas .............................................................. 540
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IV.1.7.1 Da informal delao de Renato Duque .................................................... 541
IV.1.7.2 A informal delao de Jos Adelmrio Pinheiro Filho (Lo Pinheiro) e Agenor Franklin. ...................................................................................................... 548
IV.1.8 Do uso da delao informal pela FT Lava-Jato ..................................... 579
IV.1.9. H limites no exerccio acusatrio? 583
IV.2. Dos atos de corrupo relacionados s diretorias da Petrobras ....................... 624 IV.2.1. A tese acusatria ............................................................................................. 624
IV.2.1.1. A imputao de fato criminoso 625
IV.2.2. Premissas tericas 640
IV.2.2.1. Introduo 640
IV.2.2.2. Relao de Lula com o Congresso no marco do Presidencialismo de
Coalizo 648
IV.2.2.3. Relao de Lula com o empresariado ........................................................ 672
IV.2.2. 4. A criminalizao da atividade poltica 713
IV.2.2.5. Sobre o crime de corrupo passiva........................................................... 720
IV.2.2.5.1. Gnese do delito de corrupo passiva ................................................... 720
IV.2.2.5.2. O fenmeno da corrupo poltica .......................................................... 721
IV.2.2.5.3. Configurao: a discusso sobre o ato de ofcio ..................................... 724
IV.2.3. Mrito............................................................................................................... 745
IV.2.3.1. Preliminarmente: O bis in idem. Quantas vezes Lula ser condenado pelas mesmas condutas? ............................................................................................. 746
IV.2.3.2. A ausncia de lgica da imputao ............................................................ 754
IV.2.3.2. Quantas pessoas sero condenadas por supostamente conferir sustentao poltica a Paulo Roberto Costa e Renato Duque? ............................... 755
IV.2.3.3.Condutas atribudas ao Defendente aps deixar de ser funcionrio pblico: abandono total da expresso em razo da funo do art. 317 do CP .. 760
IV.2.4. A farsa dos contratos ...................................................................................... 765
IV.2.4.1 Introduo ..................................................................................................... 765
IV.2.4.2. Premissas tericas ........................................................................................ 766
IV.2.4.3. Os contratos em espcie............................................................................... 769
IV.2.4.4. Concluses sobre os contratos .................................................................... 818
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IV.2.5. Atipicidade das condutas atribudas ao Defendente ................................... 822
IV.2.5.1. A prova dos autos ........................................................................................ 829
IV.2.5.2. Refutando os elementos de prova do MPF ................................................ 830
IV.2.5.3. As provas da Defesa ..................................................................................... 868
IV.2.4.3.1. As indicaes realizadas por Lula: ausncia de qualquer ilicitude 868
IV.2.5.3.2. Conselho de Administrao da Petrobras: rgo autnomo e independente ................................................................................................................ 875
IV.2.5.3.3. Reduo dos riscos de corrupo 887
IV.2.5.5. Concluses Parciais ..................................................................................... 911
IV.2.6. Tentativas inidneas do MPF de suprir o vazio probatrio ....................... 920
IV.2.6.1. Impossibilidade de responsabilizao penal objetiva e a teoria do
domnio do fato 920
IV.2.6.2. Impossibilidade de responsabilizao penal por conduta de terceiros 938
IV.2.6.3. Impossibilidade de responsabilizao penal por ato omissivo 941
IV.3. Stio de Atibaia: A verdade .......................................................................... 949 IV.3.1. Premissas fticas A verdade sobre o stio de Atibaia ............................ 950
IV.3.1.2. Concluses das premissas expostas ....................................................... 1015
IV.3.2 Dos fatos relacionados a Jos Carlos Bumlai e Construtora Schahin 1018
IV.3.3 Da corrupo passiva ................................................................................. 1027
IV.3.3.1 Da atipicidade objetiva Inexistentes a causao e imputao do resultado ao Defendente ........................................................................................... 1033
IV.3.3.2 Da atipicidade subjetiva. Inexistentes os elementos cognitivo e volitivo1036
IV.3.3.2.1 Elemento cognitivo Do inexistente conhecimento atual acerca das eventuais ilicitudes (art. 18 c/c art. 20 do CP) ........................................................ 1038
IV.3.3.2.2 Da ausncia do elemento volitivo......................................................... 1074
IV.3.4 Da lavagem de capitais ............................................................................... 1079
IV.3.4.1 Tipo objetivo ............................................................................................ 1082
IV.3.4.1.1. Atipicidade: Inexistentes a causao e imputao do resultado ...... 1082
IV.3.4.1.2. Atipicidade objetiva. Do inexistente vnculo entre o stio de Atibaia e os crimes antecedentes narrados pela exordial ...................................................... 1086
IV.3.4.2 Tipo subjetivo Inexistentes os elementos volitivo e cognitivo ........... 1092
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IV.3.4.2.1 Elemento cognitivo Do inexistente conhecimento acerca das ilicitudes (art. 18 c/c art. 20 do CP) ......................................................................... 1093
IV.3.4.2.2 Ausncia do elemento volitivo do tipo ................................................ 1096
IV.3.4.2.3 Da prova testemunhal e o seu impacto para fins de reconhecimento da atipicidade subjetiva ............................................................................................ 1101
IV.3.4.3 Da inconcebvel tentativa de punir por lavagem a ttulo de omisso .. 1112
IV.3.4.4 Teses subsidirias .................................................................................... 1116
IV.3.4.4.1 Atipicidade dos fatos narrados. A motivao de Bumlai, ao participar das obras, no configura situao demandadora da tutela penal ......................... 1116
IV.3.4.4.2 Hiptese subsidiria. Inocorrncia de concurso material entre os crimes de corrupo passiva e lavagem de dinheiro Inobservncia do vedado bis in idem ........................................................................................................................ 1123
IV.4 Dos fatos relacionados Construtora Odebrecht ....................................... 1143
IV.4.1 Das descabidas imputaes lanadas no contexto das discusses relacionadas ao setor petroqumico ......................................................................... 1146
IV.4.1.1 Da inconcebvel criminalizao de polticas pblicas e da comprovao da atuao legtima do Defendente nas conversas sobre o tema ........................... 1147
IV.4.2 Da corrupo passiva ................................................................................. 1178
a) Da no solicitao, aceitao de promessa ou recebimento de vantagem indevida ...................................................................................................................... 1178
IV.4.2.1 Do tipo objetiva ........................................................................................ 1192
IV.4.2.1.1 Da atipicidade objetiva: Inexistentes causao e imputao do resultado ..................................................................................................................... 1192
IV.4.2.1.2 Da atipicidade diante da ausncia do ato de ofcio elementar implcita indispensvel subsuno do tipo penal de corrupo passiva ............ 1199
IV.4.2.2 Do tipo subjetivo ...................................................................................... 1204
V.4.2.2.1 Elemento cognitivo Do inexistente conhecimento atual acerca das eventuais ilicitudes (art. 18 c/c art. 20 do CP) ........................................................ 1206
IV.4.2.2.2 Inexistncia do elemento volitivo ......................................................... 1234
IV.4.3 Da lavagem de capitais ............................................................................... 1246
IV.4.3.1 Tipo objetivo ............................................................................................ 1248
IV.4.3.1.1 Atipicidade: Inexistentes a causao e a imputao do resultado .... 1249
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17
IV.4.3.1.2 Atipicidade objetiva. Do inexistente vnculo entre o stio de Atibaia e os crimes antecedentes narrados pela exordial. ..................................................... 1253
IV.4.3.2 Tipo subjetivo ........................................................................................... 1261
IV.4.3.2.1 Elemento cognitivo Do inexistente conhecimento acerca das ilicitudes (art. 18 c/c art. 20 do CP) ......................................................................... 1263
a) Da prova testemunhal e o seu impacto para fins de reconhecimento da atipicidade subjetiva ................................................................................................. 1265
IV.4.3.2.2 Ausncia do elemento volitivo do tipo ................................................. 1281
IV.4.3.3 Da inconcebvel tentativa de punir por lavagem a ttulo de omisso .. 1289
IV.4.3.4 Da atipicidade da conduta. A motivao de Emlio Odebrecht para, supostamente, autorizar as reformas no stio de Atibaia, o que no configura o tipo penal do art. 317 do Cdigo Penal ................................................................... 1293
IV.4.3.5 Hiptese subsidiria. Inocorrncia de concurso material entre os crimes de corrupo passiva e lavagem de dinheiro Inobservncia do vedado bis in idem ........................................................................................................................ 1301
IV.5 Dos fatos relacionados Construtora OAS 1322
IV.5.1 Bis in idem O suposto encontro de contas entre Lo Pinheiro e
Vaccari j foi julgado no processo-crime n 5046512-94.2016.4.04.7000/PR 1323
IV.5.2 Da inconsistente argumentao acerca dos crimes antecedentes 1341
IV.5.2.1 Da deturpada abordagem dos fatos apurados no processo-crime 5046512-94.2016.4.04.7000/PR ............................................................................. 1344 IV.5.2.2 Da corrupo passiva ............................................................................. 1345
a) Da desconstruo da acusao sob uma abordagem meramente lgica: A falcia do caixa geral. ............................................................................................ 1360
b) Da forada vinculao do Defendente com toda industriada cadeia factual narrada ....................................................................................................................... 1363
c) Do encontro havido entre o Defendente e Lo Pinheiro em So Bernardo do Campo ........................................................................................................................ 1368
IV.5.2.2 Do Tipo objetivo ....................................................................................... 1372
IV.5.2.2.1 Da atipicidade em razo da ausncia de elementar do tipo .............. 1372
a) Axiomas conceituais sobre o crime de corrupo ativa e a influncia da pretenso condenatria contra Lo Pinheiro tese defensivA ............................. 1376
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18
b) Da absoluta dissociao da funo pblica exercida pelo Defendente e as reformas realizadas em 2014 Atipicidade. Ausncia da elementar do tipo penal do art. 317 do CP ....................................................................................................... 1381
b.1) Do desconhecimento da existncia do stio, pelo Defendente, enquanto Presidente da Repblica ........................................................................................... 1383
b.2) Lo Pinheiro s tomou conhecimento da existncia do stio de Atibaia em 2014 ............................................................................................................................. 1384
b.4) A assuno do projeto pela OAS Empreendimentos em nenhum momento foi planejada ou previamente ajustada. Sua ocorrncia se deu, de forma despretensiosa, durante a visita que Lo Pinheiro fez ao stio em 2014 ............... 1393
b.5) Os prprios termos da participao de Paulo Gordilho no foram previamente planejados: Ideia inicial era aproveitar na propriedade os equipamentos que Dona Marisa possua ................................................................. 1402
b.6) O suposto acerto de contas amparado na imaginao de Lo Pinheiro teria ocorrido apenas em 2013 ................................................................................. 1405
b.7) Da mentirosa verso apresentada pela testemunha Misael de Jesus Oliveira1410
b.7.1) O primeiro bloco de mentiras. Da durao das obras e o condicionamento de sua continuidade ao resultado das eleies ........................................................ 1411
b.7.2) O segundo bloco de mentiras. O contato com o Defendente durante as obras e a alegada utilizao de lcio Vieira para passar recados a Misael de Jesus de Oliveira ........................................................................................................ 1415
IV.5.2.2.2 Concluses ............................................................................................. 1419
IV.5.2.3. Atipicidade. Ausncia de ato de ofcio seja em perspectiva ou praticado em favor da Construtora OAS............................................................. 1421
a) Suposta facilitao incluso da Construtora OAS no cadastro da Petrobras1424
b) Da suposta interveno do Defendente acerca de atrasos verificados nas obras1428
IV.5.2.3.1. Concluses ............................................................................................ 1435
IV.5.2.4. - Da atipicidade objetiva Inexistente imputao do resultado ........... 1438
a) Conjuntura 01. Atipicidade objetiva na conduta de encaminhar o nome dos diretores ao Conselho de Administrao da Petrobras ......................................... 1442
b) Conjuntura 2: A solicitao e o recebimento da vantagem indevida em 2014. Atipicidade. ................................................................................................................ 1447
IV.5.2.5 Do tipo subjetivo ...................................................................................... 1452
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IV.5.2.5.1 Elemento cognitivo Do inexistente conhecimento atual acerca das eventuais ilicitudes (art. 18 c/c art. 20 do CP) ........................................................ 1454
IV.5.2.5.2 Da ausncia do elemento volitivo......................................................... 1459
IV.5.3 Da lavagem de capitais ............................................................................... 1462
IV.5.3.1 Tipo objetivo ............................................................................................ 1462
IV.5.3.1.1 Inexistentes a causao e a imputao do resultado .......................... 1462
IV.5.3.1.2 Atipicidade objetiva. Do inexistente vnculo entre o stio de Atibaia e os crimes antecedentes narrados pela exordial. ..................................................... 1467
IV.5.3.2 Tipo subjetivo ........................................................................................... 1471
IV.5.3.2.1 Elemento cognitivo Do inexistente conhecimento acerca das ilicitudes (art. 18 c/c art. 20 do CP) ......................................................................... 1472
IV.5.3.2.2 Ausncia do elemento volitivo do tipo ................................................. 1475
IV.5.3.3 Da inconcebvel tentativa de punir por lavagem a ttulo de omisso .. 1480
IV.5.3.4 Da atipicidade da conduta: A motivao de Lo Pinheiro, para supostamente autorizar as reformas no stio de Atibaia, no configura pacto de corrupo ................................................................................................................... 1484
IV.5.3.5 Hiptese subsidiria. Inocorrncia de concurso material entre os crimes de corrupo passiva e lavagem de dinheiro Inobservncia do vedado bis in idem ........................................................................................................................ 1489
a) Balizas conceituais sobre o tema.......................................................................... 1490
b) Da compreenso jurisprudencial acerca da temtica ....................................... 1494
c) A sofisticao do meio empregado para o recebimento no afasta a consuno1498
d) A tutela de bens jurdicos distintos e a cominao de penas diferentes no afastam o reconhecimento da consuno ................................................................ 1500
e) Do necessrio afastamento do concurso material no presente feito ................. 1505
f) Concluses .............................................................................................................. 1507
IV.6 Da inaplicabilidade do dolo eventual lavagem de dinheiro 1508
a) Incompatibilidade da teoria da cegueira deliberada ao ordenamento jurdico
brasileiro 1515
b) Da inexistncia de provas da ocorrncia do tipo de lavagem na modalidade de dolo eventual ou cegueira deliberada ................................................................. 1524
IV.7. Concluses sobre o mrito da imputao 1526
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V DA EXTINO DE PUNIBILIDADE 1542
V.1 - Da prescrio quanto ao delito de corrupo passiva .................................... 1542 VI.1 Da ofensa autoridade do Supremo Tribunal Federal. Indevida incurso na competncia da Justia Federal do Distrito Federal para processar e julgar os delitos de organizao criminosa. ........................................................................... 1550 VI.2 Das circunstncias judiciais ......................................................................... 1557 VI.2.1 Culpabilidade ............................................................................................ 1557 VI.2.2 - Conduta Social .......................................................................................... 1561 VI.2.3 Personalidade ............................................................................................ 1563 VI.2.4 Motivos do delito ...................................................................................... 1566 VI.2.5 Circunstncias do delito ........................................................................... 1570 VI.2.6 Consequncias do delito ........................................................................... 1572 VI.3 Agravantes e Atenuantes ................................................................................ 1576 VI.3.1. Facilitar/assegurar a execuo de outros crimes (art. 61, II, b, CP)..... 1576 VI.3.2 Organizar/dirigir a atividade dos demais agentes no crime (art. 62, I, CP) .......................................................................................................................... 1579 VI.3.3 Defendente maior de 70 anos (art. 65, I, CP) ........................................... 1580 VI.4. Causas de aumento de pena ........................................................................... 1581 VI.4.1 Da causa de aumento do art. 317, 1, CP ................................................... 1581 VI.4.2 Da causa de aumento sobre ocupantes de cargo pblico (Art. 327, 2, CP) .......................................................................................................................... 1585 VI.4.3 Da causa de aumento do art. 1, 4, da Lei 9.613/98 ................................. 1592 VI.5 Dos manifestos bis in idem na dosimetria da pena ......................................... 1594 VI.6 Do afastamento do concurso material ............................................................ 1602 VI.7. Da Lavagem de Ativos. Ocorrncia, em tese, de crime nico ou mera continuidade delitiva. .............................................................................................. 1608
a)Do ncleo relacionado a Jos Carlos Bumlai e Construtora Schahin ............ 1609
b)Do ncleo relacionado Construtora Odebrecht ............................................... 1611
c)Do ncleo relacionado Construtora OAS ......................................................... 1615
VI.7.1. Do crime nico em cada ncleo temtico. .................................................. 1616 VI.7.2. Da ocorrncia, em tese, de continuidade delitiva. ...................................... 1619
VII DO DANO MNIMO 1625
VII.1 Do ncleo relacionado a Jos Carlos Bumlai e Construtora Schahin ..... 1626 VII.2 Do ncleo relacionado Construtora Odebrecht ....................................... 1627 VII.3 Do ncleo relacionado Construtora OAS ................................................ 1631 VII.4 Premissas conceituais ................................................................................. 1632 VII.5 Concluses ................................................................................................. 1633
IIX DOS PEDIDOS 1639
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I
CONSIDERAES INICIAIS.
S quero deixar isso claro, porque digo-o sempre, Senhora Presidente um dia algum vai ler isso. Vir um historiador aqui e saber quem era cada um de ns12.
Em um superficial exame, pode parecer que a presente ao
penal concluiu sua instruo probatria e, chegado o momento da derradeira
manifestao defensiva, tudo teria transcorrido conforme as balizas
constitucionais e observado o due processos of law.
Olhando-se desatentamente, poder-se-ia supor que teria sido
assegurada a Luiz Incio Lula da Silva a presuno de sua inocncia; que lhe
fora garantido o amplo exerccio de Defesa; que o processamento do feito se
deu perante Juiz Natural. A meramente aparente e ilusria cortina do devido
processo poderia at nos levar a crer nesse cenrio.
Assim fosse e ordinariamente o presente tpico se voltaria a
sintetizar os principais atos processuais e os principais argumentos defensivos,
preparando o julgador exauriente anlise de todas as teses defensivas.
No se pode, todavia, incorrer em tamanha ingenuidade. Como
certa vez assinalou o Professor CELSO ANTNIO BANDEIRA DE MELLO, no
12 Ext 986, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 15/08/2007.
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houve [e no h] a menor procura pela justia. Eu acho que isso nem entrou
em pauta. O que entrou em pauta era a condenao do Lula (...)13.
Emerge ento a certeza de que, em um julgamento imparcial,
pautado pela fiel observncia das garantias constitucionais e dos modelos
dogmticos, Luiz Incio Lula da Silva no teria sido condenado, tampouco
estaria privado de sua liberdade.
queles que defendem e reconhecem a primazia das garantias
fundamentais positivadas no Texto Constitucional, indistinta e
desapaixonadamente, obvio e manifesto que Luiz Incio Lula da Silva no
teve um julgamento isento, independente, neutro, imparcial e impessoal naquele
processo, que tramitou perante este Juzo.
Se o clebre socilogo alemo advertia que a histria se repete,
a primeira vez como tragdia e a segunda como farsa14, em relao ao processo
aqui tratado poderia se dizer, sem maiores prejuzos, que a histria se repetiu,
idntica e fielmente, a mesclar tragdia e farsa.
trgico porque se est a subverter todo o sistema de Justia
de um pas que se pretende democracia - para a satisfao de interesses
polticos de determinados grupos ou agente, que se valem de instrumentais
jurdicas como aparato blico contra inimigos internos, no constituindo
exagero dizer que a lei est se tornando, gradativamente, uma poderosa e
13 Disponvel em: https://www.youtube.com/watch?v=v6plDw_R71Q Acesso em 02.01.2018. 14 MARX, Karl. O 18 de brumrio de Lus Bonaparte Traduo e notas Nlio Schneider; prlogo Herbert Marcuse. So Paulo: Boitempo, 2011.
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prevalente arma de guerra15, no cenrio que se identifica como lawfare16.
Farsa porque se est a encenar processo judicial que aparenta servir como mero
rtulo burocrtico, um rito de passagem necessrio ao atingimento de um
desfecho adrede determinado: a condenao do acusado.
O roteiro aqui pouco mudou. Desta feita, no entanto, versa a
imputao sobre suposto recebimento de vantagem indevida consistente em
reformas civis executadas na sede de uma chcara que, como ficou
comprovado, no nem nunca foi - de propriedade do Defendente.
Se a vantagem indevida ainda dinmica, os demais elementos
do processo so estticos. Enfrenta-se a mesma tentativa infeliz de se reescrever
a Histria do Brasil, com narrao de fatos comprometida unicamente com uma
deturpada ideologia divorciada da realidade, produto uma era de ps-verdade
em que se intensificam os revisionismos histricos. Defronta-se com a mesma
tentativa artificial de vincular fatos quaisquer com a empresa petrolfera
brasileira, por meio da indicao aleatria de contratos que os prprios acusados
desconhecem. Encara-se idntica e radical flexibilizao dos critrios de prova,
que transformam a atividade de reconstruo histrica do passado em mera
retrica argumentativa, onde provar argumentar e as convices, dedues
e presunes tm mais importncia do que aquilo que concreto, palpvel. V-
se o mesmo expediente de produo fordista de delatores de planto, que nesta
guerra jurdica so os soldados a colmatar as amplas lacunas probatrias que os
agentes estatais no logratam legitimamente preencher.
15 KITTRIE, Orde F. Lawfare: Law as a weapon of war. Oxford University Press, p. 1. 16 GOLDSTEIN, Brooke. Lawfare: Reat Threat ou Illussion?
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E sempre, sempre possvel identificar os mesmos interesses
metaprocessuais, inescondveis, que so exteriorizados de forma acintosa, antes
de tudo sensatez dos que se negam a cerrar os olhos, em deliberada cegueira, e
valor atribuem higidez e credibilidade do sistema de justia. Aqui, responde-
se ao Juiz que no tem vocao para apitar a partida; seno para manter o apito
rente a si, ao passo em que veste a camisa do outro time. Os novos ventos do
conta de que nem mais a toga deseja usar, pois honrado e embevecido com o
aceno poltico de adversrio deste Defendente. Enquanto no sai de campo,
segue agindo, sempre que h uma oportunidade, para prejudicar aquele que
elegeu como seu inimigo.
preciso dizer: as acusaes aqui firmadas no tm suporte em
base real. So frvolas. Foram construdas sobre convices fanticas
daqueles que elegeram o Defendente como inimigo. O fim ilegtimo e no
declarado elimina-lo do processo poltico brasileiro.
Neste processo como naquele que o precede, o Defendente foi
alvo de diversos mtodos de investigao ilegais, que sempre deixaram evidente
o verdadeiro castelo de areia terico construdo pela Lava Jato visando a
conden-lo sem provas, no qual os elementos so forados a caber em
categorias pr-concebidas: was nicht passt, wird passend gemacht O que
no se ajusta, faz-se ajustar 17. Ou, por outrem, se no h provas, no cabe
fabrica-las.
17 ARAGO, Eugnio Jos Guilherme de. O Risco dos Castelos Tericos do Ministrio Pblico em Investigaes Complexas. In: ZANIN MARTINS, Cristiano; TEIXEIRA ZANIN MARTINS, Valeska; VALIM, Rafael (coord.). O Caso Lula: A Luta Pela Afirmao dos Direitos Fundamentais no Brasil. So Paulo: Contracorrente, 2017, p. 51-59.
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As estratgias de lawfare ordinariamente envolvem tambm
manipulao da opinio pblica atravs da mdia, visando (alm do apoio
coletivo) ao prejuzo moral ou eliminao conceitual de um oponente,
como elemento de legitimao da violncia por meio da lei ou de
procedimentos legais.
neste proscnio de arbitrariedades que o Defendente vem
apresentar suas alegaes finais. Na hiptese de a acusao ser julgada com a
imparcialidade necessria e levando-se em considerao os elementos de
prova amealhados na instruo, caminhos idneos conduzem ou anulao
do processo ou absolvio do Defendente.
Ademais, para que se afaste qualquer eventual alegao de
objetivos protelatrios ou ainda prolixidade desmedida, cumpre esclarecer que a
extenso da presente defesa se d em justa medida. Isso, vez que no apenas so
imputados fatos pautados por complexos e imaginativos contextos
narrativos, como tambm existem inmeros procedimento incidentais e
autnomos que se lastreia, a todo tempo, a acusao. Nessa medida, sendo este
o momento processual destinado ao enfrentamento ftico e processual integral,
incide Defesa o dever legal de refutar com mxima completude o arguido pela
contraparte18.
18 Cdigo de Processo Penal: Art. 403. No havendo requerimento de diligncias, ou sendo indeferido, sero oferecidas alegaes finais orais por 20 (vinte) minutos, respectivamente, pela acusao e pela defesa, prorrogveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentena. [...] 3. O juiz poder, considerada a complexidade do caso ou o nmero de acusados, conceder s partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentao de memoriais. Nesse caso, ter o prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentena.
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Frisa-se ainda a importncia de trazer relevantes questes que,
ainda que primeira vista paream ser extraprocessuais, resguardam ntima
relao aos fatos necessrios de apreciao. Estando, para tanto, devidamente
justificada a volumosa defesa.
Por prisma diverso, cumpre anotao histrica quanto ao
momento que se ostenta diante de ns. Sabe-se que a recente disputa eleitoral
foi amplamente marcada pelo levante das bandeiras do necessrio respeito aos
preceitos democrticos e independncia e autossuficincia das instituies
ptrias. Ironicamente, o que se v, correndo em paralelo ao agrandamento dos
discursos mencionados, verdadeiro processo de fragilizao do Estado
Democrtico de Direito todas as suas faces.
Desrespeita-se a soberania nacional ao se flertar com polticas
intervencionistas estrangeiras e ultraliberais; a democracia no mais critrio
basilar das prticas institucionais e, por fim, o respeito ao texto legal expresso
cada dia mais escasso, com inexorvel avano das interpretaes contra legis,
empregadas e convalidadas em todas as instncias do judicirio nacional.
irnico para no dizer absolutamente melanclico que
esteja o Defendente, maior implementador de mecanismos contra corruptivos da
histria do Pas, sendo subjugado a procedimento que pode ser tudo, mas jamais
pode ser taxado de processo judicial em seu sentido estrito.
As denncias de arbtrios contidas nestes autos no ficam
registradas apenas para a jurisdio, mas, seguramente, para a Histria, que ser
revisitada por geraes futuras. E neste dia, como afirmou o Ministro EROS
GRAU, se saber quem era cada um de ns.
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II
DAS NULIDADES
H insanvel contradio entre processo errado e descoberta da verdade. No se pode descobrir a verdade atravs do erro19.
A assim denominada Operao Lava Jato exps a tenso
existente entre concepes antagnicas de direito processual penal que convive
no cotidiano judicirio de nosso pas. Embora o Legislador Constituinte tenha
gravado na Lei Maior a submisso da pretenso punitiva do Estado s garantias
do devido processo legal, a Fora Tarefa da Operao Lava Jato reiteradamente
insiste em conferir menor ou nenhuma importncia a estas garantias: busca
transform-las em palavras bonitas rabiscadas em um pedao de papel sem
utilidade prtica20, como lembrava o Ministro EROS GRAU. Nesse sentido,
subverteu a ordem jurdica, sob a tica distorcida de que os fins poderiam
justificar os meios.
Distintamente do modelo acima apontado, o processo penal
ostenta enquanto razo de existir a proteo das garantias da pessoa acusada
frente ao Estado. Conforme esta ratio essendi, AFRNIO SILVA JARDIM discorre
que o direito processual penal representa mais uma forma de autolimitao do
19 MONTALBANO, Giuseppe. Il Diritti di Libert del Cittadino e il Processo Penale. Rivista di diritto processuale penale, 1957, p. 297.. 20 HC 95009/SP, Rel. Min. EROS GRAU, Plenrio, j. em 06/11/2008, publicado em 19/12/2008.
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Estado do que um instrumento destinado persecuo criminal, sendo fruto
do avano civilizatrio da humanidade21.
Como ensinam ZAFFARONI, BATISTA E OUTROS, o Estado de
Direito serve conteno do Estado de Polcia que coabita em seu interior:
A conteno e reduo do poder punitivo, planificadas pelo direito penal para uso judicial, impulsionam o progresso do estado de direito. No h nenhum estado de direito puro; o estado de direito no passa de uma barreira a represar o estado de polcia que invariavelmente sobrevive em seu interior. Por isso, a funo de conteno e reduo do direito penal um componente dialtico indispensvel sua subsistncia e progresso22.
imprescindvel o estabelecimento de regras que asseguram a
todo cidado a garantia a um julgamento justo (fair trial). As regras do jogo
tecnicamente tico e limpo devem ser, portanto, estveis, sendo solidificadas a
partir de formas tpicas. Nessa vereda, a observncia das formas
processuais se convola em instrumento de garantia do acusado e em
mecanismo de sustentao da ordem jurdica, afinal, como afirma BADAR as
partes ficariam profundamente inseguras se, ao praticarem um ato processual,
no soubessem se este seria eficaz ou ineficaz, ficando a produo ou no dos
efeitos ao mero capricho do juiz23.
Conclui FREDERICO MARQUES, na mesma linha, que a
observncia das formas, na justia penal, constitui, muitas vezes, o instrumento
21 JARDIM, Afrnio Silva. Direito Processual Penal. 6 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 317. 22 ZAFFARONI, E. Rul; BATISTA, Nilo; ALAGIA, Alejandro; SLOKAR, Alejandro. Direito Penal Brasileiro: primeiro volume Teoria Geral do Direito Penal. Rio de Janeiro: Revan, 2003, 4 ed., p. 41. 23 BADAR, Gustavo Henrique. Processo Penal. 4 ed. So Paulo: RT, 2016, p.787.
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de que a lei se vale para garantir o jus libertatis contra as coaes indevidas e
sem justa causa24.
preciso, pois, com vistas a conferir eficcia ao Texto
Constitucional, que se adote como premissa a natureza garantidora do processo
penal sendo este o nico caminho balizado pela Carta de 1988, o nico
sentido autorizado pelo ordenamento jurdico. Em idntica compreenso
discorre o Eminente Ministro Decano do Supremo Tribunal Federal, CELSO DE
MELLO:
A exigncia de fiel observncia, por parte do Estado, das formas processuais estabelecidas em lei, notadamente quando institudas em favor do acusado, representa, no mbito das persecues penais, inestimvel garantia de liberdade, pois o processo penal configura expressivo instrumento constitucional de salvaguarda dos direitos e garantias assegurados ao ru25.
A transigncia com a estrita observncia das formas
processuais penais avilta o Estado Democrtico de Direito e, com escusas pela
fora da expresso, evidncia patolgica destes tempos. Sob a mxima da
utilizao do processo como instrumento de combate corrupo
deformaram-se os cnones legais, substituindo-se a Constituio e as normas
positivadas pelo direito particular que vige paralelamente naquilo que se
denominou como a Repblica de Curitiba. O Parquet, mas no somente ele,
substituiu a Lei Maior por convices morais (e polticas) de seus membros.
Ocorre que, como afirma LENIO STRECK, as questes jurdicas se resolvem a
partir do prprio ordenamento jurdico e no por meio da vontade individual do
24 MARQUES, Jos Frederico. Estudos de Direito Processual Penal. Campinas: Millennium, 2001, p. 267. 25 HC 99566, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 15/12/2009, publicado em 13/04/2011.
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aplicador, sendo este o singelo custo a se pagar no paradigma do Estado de
Direito26.
Sendo a lei a medida de todas as coisas, no se pode admitir
que Agentes Pblicos a desrespeitem sob o pretexto de atingirem determinados
escopos, sejam estes quais forem. A lei a todos submete, inclusive os
integrantes da Fora Tarefa e Julgadores da Lava Jato. A problemtica de um
sistema de controle e viglia unilateral foi posto pelo adgio latino lembrado por
Juvenal: quis custodiet ipsos custodes?, ou seja, quem vigia os vigilantes?.
Assim, verificado o desrespeito s formulas tpicas que
regem o processo penal brasileiro, como se viu ocorrer incontveis vezes neste
processo, de rigor a aplicao dos efeitos jurdicos decorrentes das
transgresses: a nulidade. Como assevera TOURINHO FILHO, o ato nulo aquele
que praticado em desconformidade com o paradigma legal27.
O que est em jogo neste caso no somente a resoluo da
temtica de direito material. Questiona-se at com mais veemncia o verdadeiro
sentido que deve orientar o processo: se este serve tutela dos direitos e
garantias da pessoa acusada forma democrtica que se apresenta como reflexo
do avano civilizatrio conquistado pela humanidade ou se presta como
instrumento inquisitorial a servio de interesses particulares.
26 STRECK, Lenio. Perus, paves e urubus: a relao entre Direito e moral. Publicado em 15.08.2013. Disnvel em: http://www.conjur.com.br/2013-ago-15/senso-incomum-perus-pavoes-urubus-relacao-entre-direito-moral. 27 TOURINHO FILHO. Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. 16 ed. So Paulo: Saraiva, p. 536.
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Como relembra o Ministro GILMAR MENDES:
Parece que o Tribunal est realmente devedor dos seus adversrios e inimigos, neste momento, porque ele ter que se reinventar nesse tipo de matria. Ele ter que, realmente, rediscutir esse tema, no ser um homologador de wishful thinking da Procuradoria-Geral, de propsitos totalitrios, s vezes at bem-intencionados, agora se v que nem to bem-intencionados. At porque tambm se sabe, como se diz: boas intenes pavimentam o caminho do inferno. No podemos nos afastar dos paradigmas do Estado de Direito28.
Neste chiaroscuro de nossa tenra democracia, urge recuperar a
essncia do processo penal constitucional: o compromisso com a questo da
liberdade29.
Diversas violaes s garantias processuais do Defendente
aconteceram na fase da persecuo em juzo e na tambm em ocasies pr-
processuais, todas a ensejar a decretao da nulidade do feito. Organizou-se o
presente captulo em cinco tpicos:
(i) O Julgamento de Exceo;
(ii) Suspeio do Julgador;
(iii) Vulnerao presuno de inocncia;
(iv) Incompetncia da 13 Vara Federal de Curitiba/PR;
(v) Cerceamento do Direito de Defesa.
28 Inq 4118, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Segunda Turma, julgado em 08/05/2018, publicado em 05/09/2018. 29 JARDIM, Afonso Silva. Direito Processual Penal. 6 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 317.
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II.1. Do Julgamento de Exceo.
O Poder Judicirio no est autorizado a substituir a tica da legalidade por qualquer outra. No ho de ter faltado ticas e justias humanidade. Tantas ticas e justias quantas as religies, as culturas, os costumes em cada momento histrico, em cada recanto geogrfico. Muitas ticas, muitas justias. (...) A nica tentativa vivel, embora precria, de mediao entre ambas encontrada na legalidade e no procedimento legal, ou seja, no direito posto pelo Estado, este com o qual operamos no cotidiano forense, chamando-o direito moderno, identificado lei30.
De h muito, as crises democrticas tm permitido aos radicais,
desequilibrados e oportunistas escolher inimigos31: pessoas ou instituies
contra os quais pretendem impor, justificativa de subterfgios patriticos,
morais, ideolgicos ou econmicos, a lgica perversa de que os fins justificam
os meios.
Que no se busque paralelo perseguio poltica sofrida por
Luiz Incio Lula da Silva nos anais da histria forense brasileira. A procura ser
infrutfera. O Defendente vtima de verdadeira caada judicial empreendida
por agentes estatais que se utilizaram indevida e abusivamente de instrumentos
jurdicos para perseguir politicamente um cidado, buscando anular, uma a uma
e um a um, suas liberdades e seus direitos. Estes agentes da autoridade do
30 GRAU, Eros Roberto. Por que tenho medo dos juzes (a interpretao/aplicao do direito e os princpios). 7 ed. So Paulo: Malheiros, 2016, p. 174-5. 31 Eugnio Raul Zaffaroni acentua que, segundo Carl Schmitt, o inimigo no vem onticamente imposto, no um dado de fato que se impe ao direito, mas politicamente assinalado. Embora existam mitos anteriores, reconhece-se que se assinala o inimigo porque convm faz-lo. (...) Trata-se de uma identificao vazia de contedo, que o poder pode preencher a seu bel prazer, porque sempre necessita ter um inimigo. (O Inimigo no Direito Penal, Rio de Janeiro: Editora Revran, 2007, p.142).
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Estado desnaturaram o primado liberal do direito penal do fato e o substituram
pelo tirnico direito penal do autor; mesmo antes de iniciada a ao, o roteiro j
estava escrito e o desfecho determinado j se tinha o culpado e o veredito
restava a burocrtica encenao do processo com aparncia de legalidade.
Diga-se com todas as letras: o Defendente foi e est sendo
vtima de um julgamento de exceo. A concluso a que se chega de que o
regramento jurdico positivado no foi a ele aplicado. Seu julgamento no
seguiu regras ordinrias, mas sim um padro extraordinrio, irregular, que
variava conforme a necessidade de lhe impor toda a sorte de prejuzos.
Esse odioso estado excepcional de coisas foi desnudado em
deciso exarada pela Corregedoria do TRF-4, ao julgar recurso interposto no
processo administrativo n 0003021-32.2016.4.04.8000/RS, em que se
determinou o arquivamento do pedido de sano disciplinar ao juiz desta causa
pela divulgao de udios interceptados entre o ora Defendente e autoridades
com prerrogativa de funo, incluindo-se a a ento Presidente da Repblica
Dilma Rousseff. Impende transcrever trecho do voto condutor proferido pelo e.
Desembargador Federal RMULO PIZZOLATTI, acompanhado por 13 (treze) dos
14 (quatorze) magistrados:
Ora, sabido que os processos e investigaes criminais decorrentes da chamada "Operao Lava-Jato", sob a direo do magistrado representado, constituem caso indito (nico, excepcional) no direito brasileiro. Em tais condies, neles haver situaes inditas, que escaparo ao regramento genrico, destinado aos casos comuns. Assim, tendo o levantamento do sigilo das comunicaes telefnicas de investigados na referida operao servido para preserv-la das sucessivas e notrias tentativas de obstruo, por parte daqueles, garantindo-se assim a futura aplicao da lei penal, correto entender que o sigilo das comunicaes telefnicas (Constituio, art. 5, XII) pode, em casos excepcionais, ser
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suplantado pelo interesse geral na administrao da justia e na aplicao da lei penal. A ameaa permanente continuidade das investigaes da Operao Lava-Jato, inclusive mediante sugestes de alteraes na legislao, constitui, sem dvida, uma situao indita, a merecer um tratamento excepcional (destacou-se).
A deciso majoritria exemplifica o que se est a afirmar: os
Tribunais hierarquicamente superiores concederam a este Juzo verdadeiro
salvo conduto para que se descolasse do mbito da legalidade e ingressasse no
campo da excepcionalidade, sem que sofresse qualquer sano pelas solues
extraordinrias que reiteradamente foram adotadas. Nessa viso autoritria e
de exceo, a ordem constitucional passa a ser um mero detalhe acessrio...
Sobre a deciso, discorreu EUGNIO RAL ZAFFARONI:
Excepcionalidade foi o argumento legitimador de toda a inquisio da histria, desde a caa s bruxas at hoje, atravs de todos os golpes e ditaduras subsequentes. Ningum nunca exerceu um poder repressivo arbitrria no mundo sem invocar a necessidade e exceo32.
Destacam-se, a ttulo de exemplificao sobre o evidente estado
de exceo judicial que se instaurou contra o Defendente, os seguintes fatos:
(1) O repugnante episdio da sua conduo coercitiva, ocorrido
em 04.03.2016, no qual se buscou e conseguiu uma proposital condenao
miditica do Defendente, engendrada sob a aparncia de legalidade, justificada
pela falaz preservao da segurana pblica.
32 Disponvel em: Acessado em 15.11.2018.
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(2) O mencionado levantamento do sigilo das interceptaes
telefnicas, divulgados horas antes da nomeao do Defendente ao cargo de
Ministro Chefe da Casa Civil pela ento Presidente da Repblica, Dilma
Rousseff.
(3) A tramitao anmala da apelao criminal n 5046512-
94.2016.4.04.7000/PR, que foi julgada com celeridade recorde pelo TRF-4. A
imprensa identificou que (i) o recurso do Defendente foi o que mais rpido
chegou 2 instncia33, (ii) os votos do relator e revisor foram elaborados em
tempo quase trs vezes menor do que em outros casos da Lava Jato34, (iii) o
recurso passou frente da ordem de julgamento em relao a outros processos
da Operao Lava Jato35, (iv) soube-se que aps o seu recurso, o Tribunal
diminui acentuadamente o ritmo de julgamento de outras apelaes36, (v) tudo
isso aps o Presidente do Tribunal declarar imprensa que o recurso seria
julgado antes das eleies37 e que a sentena de primeira instncia era
tecnicamente irrepreensvel3839. Haveria alguma razo especial nessa anmala
cronologia?
33 Recurso de Lula foi o que mais rpido chegou 2 instncia (http://folha.com/no1912821). Acessado em 29.12.2018. 34 Relator d celeridade a recurso, e segunda instncia deve julgar Lula no 1 semestre de 2018 (https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2017/12/05/relator-da-celeridade-a-recurso-de-lula-no-trf-4.htm). Acessado em 29.12.2018. 35 Caso Lula passa frente de 7 aes da Lava Jato em tribunal (http://folha.com/no1948737). 36 Aps ao de Lula, TRF-4 reduz ritmo de julgamento de processos da Lava Jato (https://folha.com/z5bafkh4). Acessado em 29.12.2018. 37 Presidente de tribunal federal prev julgamento de processo contra Lula antes das eleies (https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/processo-contra-lula-sera-julgado-antes-das-eleicoes-diz-presidente-de-tribunal-federal.ghtml ). Acessado em 29.12.2018. 38 https://oglobo.globo.com/brasil/triplex-sentenca-de-moro-tecnicamente-irrepreensivel-diz-presidente-do-trf-4-21675452 - Acessado em 29.12.2018. 39 Sobre as declaraes do Presidente do TRF4, digno de destaque o artigo publicado por Lenio Streck, disponvel em: https://www.conjur.com.br/2017-ago-07/streck-presidente-trf-falar-sentenca-moro - Acessado em 29.12.2018.
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(4) No julgamento do HC 152.752/PR, que visava a afastar a
inconstitucional execuo provisria da pena imposta ao Defendente, o Ministro
Relator remeteu o feito ao Plenrio sob a justificativa de que seria necessrio
uniformizar a jurisprudncia da Corte quanto possibilidade dessa modalidade
de priso. A Presidente do Tribunal se negou a pautar tanto o julgamento do
writ como as Aes Declaratrias de Constitucionalidade n 43 e 44 (mais
recomendadas por se tratarem de aes de controle de constitucionalidade
concentrado). Aps forte insistncia, levou ao Colegiado o mandamus e no o
processo genrico. Embora o objetivo declarado da remessa ao Plenrio
houvesse sido a uniformizao da compreenso da Corte, o voto decisivo do
julgamento, que determinou a denegao da ordem, se pautou na posio
subjetiva da Ministra ROSA WEBER, que deixou entrever que votaria de maneira
distinta caso as aes de controle concentrado estivessem em mesa. Ou seja, se
fossem as Aes Declaratrias de Constitucionalidade n 43 e 44 o objeto de
julgamento, o Defendente no teria sido preso; se o processo houvesse sido
julgado pela Segunda Turma do Pretrio Excelso, no estaria preso; neste caso,
venceu a estratgia, perdeu o Estado de Direito. A Histria haver de julgar.
Pede-se vnia para colacionar trecho do voto do Ministro
Relator MARCO AURLIO nos autos do habeas corpus n 152.752/PR (grifos
nossos).
E o mais interessante que, se este habeas fosse julgado no rgo fracionado, como ocorreria normalmente, a ordem seria concedida. A perplexidade grande. [...] Em sntese, Presidente, e que isto fique nos anais do Tribunal: vence a estratgia, o fato de Vossa Excelncia no ter colocado em pauta as declaratrias de constitucionalidade. esta a concluso. [...] E nos defrontamos com quadro conflitante. O Tribunal indeferir a ordem neste habeas para, posteriormente por maioria escassa, certo, considerados
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os dois votos, do ministro Gilmar Mendes e da ministra Rosa Weber , julgar no sentido da constitucionalidade, pelo menos parcial, do artigo 283 do Cdigo Processo Penal. Ento passa-se a julgar o habeas corpus pela capa, no pelo contedo.
A frase do e. Ministro MARCO AURLIO corrobora com o que
se est a asseverar: julgou-se o procedimento pela capa. E aqui adicionamos:
julga-se a todo tempo os processos do Defendente pela capa, no pelo
contedo.
(7) Enfim, denegada a ordem em 04.04.2018, iniciou-se a to
esperada corrida pelo encarceramento do Defendente, antes mesmo de findar a
jurisdio do TRF-440. Desta feita, este Juzo expediu, em 05.04.2018, mandado
de priso em nome do Defendente, a qual foi efetivada no dia 07.04.2018. O
que no se sabia, poca, era que o Magistrado havia exigido ao Diretor Geral
de Polcia Federal o cumprimento da ordem de priso41, o que revela o
protagonismo deste Juzo enquanto garantidor do encarceramento aodado do
Defendente.
(8) Alcanado o encarceramento, era necessrio assegurar a
segregao do Defendente da sociedade. Assim, em 08.07.2018, o e.
Desembargador ROGRIO FAVRETO, investido de jurisdio, concedeu a ordem
do habeas corpus n 5025614-40.2018.4.04.0000 para reestabelecer a liberdade
do Defendente. Em aberrante episdio, diversas decises foram proferidas, de
40 Encontrava-se pendente de publicao o acrdo proferido nos autos dos embargos declaratrios opostos da apelao criminal. 41 Afirmou-se: Moro exigiu que a gente [a Polcia Federal] cumprisse logo o mandado. Disponvel em < https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2018/08/12/diretor-geral-da-pf-relata-detalhes-da-prisao-de-lula.htm > Acessado em 29.12.2018.
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ofcio inclusive, pelo antigo titular desta Vara, que se encontrava em frias
poca do fato , a fim de manter, a todo custo, a clausura do Defendente.
(9) Registra-se, ainda, o recente episdio ocorrido s vsperas
do primeiro turno das eleies presidenciais, em que o juiz titular desta Vara
Federal decidiu por divulgar parcela do acordo de delao premiada firmado
entre Antonio Palocci e a Polcia Federal, que apresenta relato incriminatrio do
Defendente, embora no possua qualquer credibilidade e respaldo probatrio42 43, em inegvel atuao com a finalidade de influir no processo eleitoral. Outra
vez o calendrio eleitoral...
As excepcionalidades s escaparo aos olhos daqueles que
fazem questo de no v-las. O rastro de arbitrariedades deixadas legar ao
Estado de Direito sua fragilizao e a impresso de que a supremacia da lei
(rule of law) foi substituda pela supremacia da fora; que a heterotutela como
forma de resoluo de conflitos foi trocada pela autotutela; enfim, que nesse
estado excepcional, no mais vence quem tem razo, pois nessa quadra tem
razo quem vence44.
A sada (se ainda existe) est no apego Constituio. A Carta
Cidad acima dos valores, justias e ticas particulares. Muitas ticas, muitas
justias, lembra o Ministro EROS GRAU. A nica legtima a tica da
legalidade.
42 https://oglobo.globo.com/brasil/delacao-de-palocci-tem-muita-fofoca-diz-procurador-21762571 > Acessado em 29.12.2018.. 43 https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/procuradoria-afirma-ao-trf-4-nao-haver-comprovacao-de-eficacia-de-delacao-de-palocci/ > Acessado em 29.12.2018.. 44 BOBBIO, Norberto. Se a lei ceder. As ideologias e o poder em crise. 4 ed. Braslia: Editora UnB, 1990, p. 97-98.
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Tempos estranhos em que defender a Ordem
Constitucional passou a representar um gesto revolucionrio, como bem
observou LENIO STRECK45, ou que garantir o seu cumprimento virou um
ato de coragem, como brada LUIS CARLOS VALOIS46.
As arbitrariedades aqui narradas conduzem nulidade do
presente julgamento por fora dos artigos 1, III (dignidade da pessoa humana),
5, caput (isonomia), XXXVII (vedao a juzo de exceo) e LIV (devido
processo legal).
II.2. Suspeio do Magistrado.
O Poder Judicirio, ao qual prpria a funo de pacificar as relaes sociais, converteu-se em catalizador de conflitos. No atributo do Poder Judicirio avaliar o relevo social e poltico de conversas captadas em interceptao e submet-las ao escrutnio popular. Ao faz-lo, o Judicirio abdica da imparcialidade, despe-se da toga e veste-se de militante poltico47.
Lembra CARNELUTTI48, com singular sagacidade, que quando
se diz que as partes esto perante um juiz para serem julgadas, j se
subentende que o juiz no uma delas.
45 https://www.conjur.com.br/2017-mar-09/senso-incomum-frase-faca-concurso-juiz-restou-processo-penal > Acessado em 29.12.2018. 46 https://reveronline.com/2018/08/26/cumprir-a-constituicao-atualmente-e-um-ato-de-coragem-do-juiz-luis-carlos-valois/ - Acessado em 29.12.2018. 47 Voto divergente do Des. Federal Rogrio Favreto no P.A. Corte Especial n 0003021-32.2016.4.04.8000/RS. TRF4. Relator Des. Federal Rmulo Pizzolatti, j. em 22/09/2016. 48 CARNELUTTI, Francesco. As Misrias do Processo Penal. Ed. Servanda, 2016. p. 47.
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No h como negar: um dos principais requisitos, seno o mais
crucial, para a devida prestao jurisdicional a imparcialidade do julgador,
que possui dupla funo: assegurar o direito do cidado de ser submetido um
processo justo e conferir credibilidade funo jurisdicional. O juiz que julga com
imparcialidade aquele deixa de lado suas prprias consideraes subjetivas,
exercendo a atividade jurisdicional despido de preconceitos49. Assim, o julgador
no pode possuir qualquer interesse geral ou particular na soluo da
controvrsia50. A ateno estrita ao dever de imparcialidade garante
legitimidade atuao do magistrado51.
Conforme nos ensina PEDRO ARAGONESES ALONSO, a
imparcialidade do rgo jurisdicional um princpio supremo do processo e,
portanto, imprescindvel efetivao do devido processo legal52.
A imparcialidade do juiz direito fundamental que visa a
assegurar que todo cidado seja submetido a um processo justo. Apesar de no
estar expressamente prevista na Carta Fundamental, garantia constitucional
que decorre do respeito ao devido processo legal (art. 5, LIV da CF), ao
contraditrio e ampla defesa (art. 5, LV, da CF) e que assegura a presuno
49 FERREIRA DA ROCHA, Slvio Lus. A imparcialidade do juiz. In: ZANIN MARTINS, Cristiano; TEIXEIRA ZANIN MARTINS, Valeska; VALIM, Rafael (Coord.). O caso Lula: a luta pela afirmao dos direitos fundamentais no Brasil. So Paulo: Editora Contracorrente, 2017, p. 164. 50 FERRAJOLI, Luigi. Direito e razo: Teoria do Garantismo Penal. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, p. 534. 51 DE PASSOS, J. J. Calmon, A formao do convencimento dos Magistrados e a Garantia Constitucional de Fundamentao das Decises, conferncia proferida em 11.05.2001, no Simpsio de Direito Civil e Direito Processual Civil promovido pelo Instituto de Ensinos Jurdicos, Rio de Janeiro, apud REIS FRIEDE, Vcios de Capacidade subjetiva do julgador: Do Impedimento e da Suspeio do Magistrado, Editora Forense, 5 edio, p. 07. 52 ARAGONESES ALONSO, Pedro. Proceso y Derecho Penal. Madrid: Editorial de Derecho Reunidas AS, 1997, p.127.
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de inocncia, enquanto regra de tratamento e probatria, da pessoa acusada (art.
5, LVII, da CF).
Ressabido que a imparcialidade do juiz princpio
expressamente consagrada por diplomas, tratados e convenes internacionais
sobre direitos humanos das quais o Brasil signatrio53.
O Supremo Tribunal Federal apresentou conceito de
imparcialidade no julgamento do paradigmtico habeas corpus n 95.009/SP:
(...) [Imparcialidade] expresso da atitude do juiz em face de influncias provenientes das partes nos processos judiciais a ele submetidos. Significa julgar com ausncia absoluta de preveno a favor ou contra alguma das partes. Aqui nos colocamos sob a abrangncia do princpio da impessoalidade, que a impe.54
Neste julgamento, o Ministro Decano da Suprema Corte,
CELSO DE MELLO, manifestou-se da seguinte forma sobre tal garantia:
exatamente o Direito Fundamental de qualquer pessoa, independentemente da
natureza do delito que lhe haja sido imputado, de ser julgada por um juiz ou
por um tribunal imparcial. Essa uma prerrogativa bsica, essencial.
53 Declarao Universal dos Direitos Humanos Artigo X. Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pblica audincia por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusao criminal contra ele. Pacto Internacional de Direitos Civis e Polticos Artigo 14.1. Todas as pessoas so iguais perante os tribunais e as cortes de justia. Toda pessoa ter o direito de ser ouvida publicamente e com devidas garantias por um tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido por lei (...). Conveno Americana sobre Direitos Humanos Artigo 8.1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razovel, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei (...). 54 HC 95009/SP, Rel. Min. Eros Grau, Plenrio, julgado em 06/11/2008, publicado em 19/12/2008.
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Conforme NUCCI disserta, o juiz que perde sua imparcialidade
vicia o processo e d causa arguio de sua suspeio (grifos nossos):
(...) no se pode deixar a credibilidade da Justia nas mos da elevao do carter do julgador, que, realmente segundo cremos, a maioria possui, mas no todos. No correto permitir-se que uma das partes assiste, inerte e vencida de antemo, o juiz amicssimo do representante da parte contrria conduzir a causa ou, em caso de inimizade capital, veja-se obrigada a lanar mo de toda sorte de recursos para combater os atos decisrios do magistrado, eivados, no seu entender, de parcialidade. 55
Relevante a ponderao do Presidente do Superior Tribunal de
Justia, Ministro JOO OTVIO NORONHA, segundo o qual o Juiz no
combatente de crime nenhum. Se for, assume papel de polcia ou Ministrio
Pblico, vira parte do processo e perde independncia56.
Ao analisar o fenmeno da multiplicao dos juzes que se
comprometem com o discurso do combate corrupo, o Desembargador
Federal da 1 Regio, NEY BELLO, enderea eloquente crtica figura do juiz
combatente, identificando nessa construo um apelo autoritrio apto a
comprometer a imparcialidade dos Juzes. Nota-se, a propsito, que parte
dos fatos citados em seu artigo-manifesto se sucedeu justamente na relao
entre o Defendente e este Julgador. Leia-se:
(...) no raro percebemos invases de competncia, interpretaes retorcidas da lei, arbitrariedades na execuo de decises, personalismos em se tratando de rus especficos, desrespeito e inconformismo com decises de instncia superior, criticas pessoais ao prprio integrante do Judicirio que discordante Tudo isso consequncia da posio apaixonada que se revela
55 NUCCI, Guilherme de Souza. Cdigo de processo penal comentado. 15 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 652. 56Ministros criticam juzes que decidem baseados na moralidade. Disponvel em: .
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quando o juiz deixa a sua funo e se torna combatente. a negativa do prprio conceito de magistrado que se oferece socie