Running head: GUARDAS PRISIONAIS
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Ansiedade, Stress e Depressão em Guardas Prisionais
Ana A. Ribeiro
Reflexos – Gabinete de Psicologia, Psicoterapia e Ludoterapia
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Resumo
Este estudo teve como objetivo analisar de forma exploratória a ansiedade, depressão e stress
nos profissionais do corpo da Guarda prisional, caracterizar a população de guardas prisionais
relativamente aos seus níveis de satisfação e realização, bem como verificar se utilizam
estratégias de coping proativas, tendo sido para isso utilizadas a Escala Satisfação e
Realização, a Escala de Coping Proativo e a Escala de Ansiedade, Depressão e Stress.
Pretende-se ainda fazer um cruzamento das variáveis sócio-demográficas com os índices
apresentados e com as estratégias de coping utilizadas. A amostra é constituída por 35
guardas prisionais, com uma idade média de 40 anos, sendo 88,6% do sexo masculino. A
maioria da amostra (74,3%) possui habilitações ao nível do 9º e 12ºano. Os participantes são
de diferentes regiões do país mas concentraram-se maioritariamente no norte (48,6%) e
centro (40%) sendo os restantes das regiões autónomas. Os questionários foram
disponibilizados na internet e divulgados em fóruns e sites direcionados para guardas
prisionais.
Foi possível verificar-se que em geral os inquiridos mostram níveis de satisfação e realização
pessoal medianos, no entanto, 45,7% consideram que não voltariam a escolher a mesma
profissão.
Quanto aos níveis médios de ansiedade, stress e depressão encontrados, os mesmos são
considerados baixos (16,89), sendo que os resultados das sub-escalas não se revelaram
significativos.
Verificou-se ainda uma correlação entre as escalas utilizadas, sendo que com o aumento dos
níveis de realização e satisfação aumentam também as estratégias de coping proativas e
diminuem os níveis de ansiedade, stress e depressão.
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Por último encontraram-se diferenças significativas entre sexos, no entanto, quanto às outras
variáveis demográficas (e.g. habilitações literárias, idade, anos de profissão) tal não se
verificou.
Palavras-chave: Ansiedade, stress, estratégias de coping, guardas-prisionais
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Abstract
This study aimed at examining in an exploratory way the anxiety, stress and depression upon
the professional group of prison officers, as well as verifying the using of proactive coping
strategies, having been used for this the Achievement and Satisfaction Scale, the Proactive
Coping Scale and the Anxiety, Depression and Stress Scale.
The sample is composed of 35 prison guards, with a 40 year old average age, being 88.6%
male. The majority of the sample (74.3%) have between 9 to 12 years of schooling
qualifications. The participants are from different regions of the country but concentrated
mostly in the north (48.6%) and center (40%) being the remaining from the autonomous
regions (Islands). The questionnaires were made available on the Internet and were
disseminated on forums and sites related to prison officers.
It was possible to verify that in general the respondents show medium levels of satisfaction
and personal fulfilment; however 45.7% consider that they would not choose the same
profession.
As for the anxiety, stress and depression levels, average levels are low (16.89), and the results
of the subscales didn’t reveal significant.
There was also a correlation between the applied scales, which show that with increasing
levels of achievement and satisfaction also increase proactive coping strategies and decrease
levels of anxiety, stress and depression.
Finally there were found significant differences between sexes, though in other demographic
variables (eg educational background, age, years of occupation) that didn’t occur.
Keywords: Anxiety, stress, coping strategies, prison officers
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Ansiedade, Stress e Depressão em guardas prisionais
Um estabelecimento prisional é um local fortemente marcado pela rigidez organizacional,
estereotipia de papéis e pela resistência à mudança, refletindo-se nos guardas prisionais, eles
próprios reféns de um universo totalizante (Lopez-Coira, 1992 & Gonçalves, 2002 citados
por Gonçalves & Vieira, 2005).
A atividade profissional das forças de segurança é considerada uma das ocupações mais
stressantes do mundo (Dantzer, 1987; Selye, 1984 citados por Afonso & Gomes, 2008),
devido ao trabalho desenvolvido conter em si inúmeros focos de tensão, nomeadamente, a
manutenção da segurança na instituição, através da gestão do próprio contexto prisional
marcado pela agressividade e hostilidade, características da população reclusa (Afonso &
Gomes, 2008).
Esta classificação advém ainda das características laborais, nomeadamente, o trabalho por
turnos e o próprio clima, uma vez que este assume características únicas ao combinar a rotina
das atividades diárias com a possibilidade de hostilidade e violência por parte dos reclusos. O
facto de desempenharem funções que se revelam difíceis de conciliar como, custódia,
vigilância, retenção e por outro lado educação e socialização dos reclusos (Hernández-
Martin, Fernández-Calvo, Ramo & Contador, 2006 citados por Gonçalo, Gomes, Barbosa &
Afonso, 2010; Tewksbury & Higgins, 2006; Griffin, 2006).
Os estabelecimentos prisionais são ainda, caracterizados pela sobrelotação, escassa vontade
dos reclusos colaborarem com os profissionais (alguns casos exercendo comportamentos de
oposição), hostilidade e risco de ofensas à integridade física, entre outras características da
cultura prisional caracterizada pela “máscara prisional” (Sotomayor & Pombar, 2005).
O impacto de um incidente violento é muito variável, dependendo da natureza e gravidade do
incidente e da própria vítima. Em todo o caso, as situações de violência geram uma série de
consequências sobre o trabalhador, podendo as mesmas manifestar-se através de sentimentos
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de cólera, ira, isolamento e vulnerabilidade, de uma desconfiança geral face a pessoas
estranhas, de ataques de pânico e de ansiedade associados ao medo de que outro incidente
violento ocorra, o que pode resultar em perturbações de sono, de comportamento alimentar,
entre outras (Bilbao, s.d.).
Sendo que investigações anteriores com guardas-prisionais correlacionam características
demográficas como o nível educacional, sexo e raça com níveis mais elevados de stress
(Owen, 2006).
A todos estes fatores acresce ainda a atitude negativa e desconfiança da comunidade e dos
meios de comunicação social face ao estatuto profissional de guarda prisional e um sistema
judicial punitivo perspetivado como tolerante para com os criminosos, construindo-se fatores
relevantes na vivência laboral (Malach-Pines & Keinan, 2006; Thompson, Kirk & Brown,
2005 citados por Gonçalo, Gomes, Barbosa & Afonso, 2010).
Como consequência destas características laborais associam-se problemáticas a níveis físico
(e.g. problemas cardiovasculares) e mental (e.g. depressão) que torna o corpo da guarda
prisional uma das profissões mais vulneráveis ao stress ocupacional o que quando
experimentado por um longo período de tempo, poderá culminar no Sindroma do Burnout
(esgotamento profissional) (Abdollahi, 2002; Carlier, Lamberts, & Gersons, 2000; Stephens,
Long, & Flett, 1999; Castle, 2008; Keinan & col., 2007 Morgan, Van Haveren & Pearson,
2002; Schaufeli & col., 2000 Violanti et al., 2006 citados por Afonso & Gomes, 2008).
A síndrome do Burnout é concebida como uma síndrome psicológica, que surge em resposta
a stressores interpessoais crónicos no trabalho e caracteriza-se por três dimensões: Exaustão
Emocional (sentimentos de esgotamento físico e emocional); Despersonalização (resposta
apática e insensível face aos utentes com quem o profissional trabalha) e Baixa realização
pessoal (sentimentos de incompetência e fracasso face ao trabalho) (Maslach, Schaufeli &
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Leiter, 2001). Esta síndrome é apontada por Ross e Altmaier (1998 citados por Afonso &
Carmo, 2010) como a principal consequência da experiência de stress ocupacional.
Na manifestação do Burnout são distinguidos três grupos de sintomas: emocionais (e.g.
sentimentos depressivos, de fracasso, de exaustão emocional, insatisfação profissional);
físicos (e.g. perturbações de sono, cefaleias, dores musculares, fadiga; alterações súbitas de
peso e distúrbios gastrointestinais) e cognitivos e comportamentais (comportamentos
agressivos para com os colegas e clientes, abuso de álcool e de outras drogas, falta de
envolvimento no trabalho, baixa produtividade e absentismo) (Serra, 2007; Morgan & Cols.,
2002 citados por Afonso & Carmo, 2010).
No que respeita à temática do Burnout, é fundamental aludir às estratégias de coping. Estas
correspondem aos padrões de resposta de cada pessoa quando é exposta ao stress, sendo que
esses mesmos padrões poderão ser positivos e proativos (e.g. praticar desporto) ou
desajustados (e.g. ingerir bebidas alcoólicas em excesso). Considera-se ainda que a estratégia
de coping é uma ação intencional, física ou mental, iniciada em resposta a um stressor
percecionado, dirigida para circunstâncias externas ou estados internos (Lazarus & Folkman,
1984 citados por Antoniazzi, Dell’Aglio, Bandeira, 1998).
Assim, as estratégias de coping poderão ser benéficas para a redução dos níveis de ansiedade
e de stress e consequentemente evitar a entrada no estado de burnout.
Alguns autores (e.g. Byrd, Cochran, Silverman, e Blount, 2000; Wright, 1993 citados por
Castle, 2008) consideram que a satisfação e realização no trabalho poderão ser bons
preditores para a presença ou ausência de ansiedade, depressão e stress e consequentemente
para o síndrome de burnout (Castle, 2008).
Estudos anteriores mostram que quase metade da amostra (47,7%) não voltaria a escolher a
mesma profissão (Gonçalo, Gomes, Barbosa & Afonso, 2010) e que ao contrário do que era
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expectável, o número de anos de profissão não tem qualquer influência na ansiedade,
depressão e stress (Sotomayor & Pombar, 2005).
Assim, este estudo tem como objectivos: analisar de forma exploratória a ansiedade,
depressão e stress nos profissionais do corpo da guarda prisional; caracterizar esta população
relativamente aos seus níveis de satisfação e realização a nível laboral; verificar se as
estratégias de copping utilizadas são proativas e por último efetuar um cruzamento entre os
índices e estratégias apresentados com as variáveis sócio-demográficas.
De acordo com a literatura científica a presente investigação tem as seguintes hipóteses de
estudo: Quase metade da amostra afirma que não voltaria a escolher a mesma profissão e não
há nenhuma relação entre a ansiedade, depressão e stress e o número de anos de serviço.
Sendo escassos os estudos em Portugal acerca das dinâmicas da profissão de guarda prisional
e suas consequências, nomeadamente ao nível psicológico, consideramos útil este estudo
exploratório na medida em que representa uma contribuição para um melhor conhecimento
da profissão e do seu impacto psicológico nos indivíduos que a exercem
Método
Amostra
A amostra é constituída por 35 profissionais da guarda prisional, tendo uma média de
idade de 40 anos. A maioria (88,6%) da amostra é do sexo masculino sendo o restante
(11,4%) do sexo feminino.
Relativamente aos anos de serviço, 80% tem entre 11 a 25 anos de carreira e quanto às
habilitações literárias 74,3% possuiu habilitações ao nível do ensino obrigatório atual (9ºano)
ou ensino secundário (12ºano).
Quanto ao estado civil a maioria (68,6%) encontra-se casado ou em união de facto,
sendo que o seguinte valor mais elevado é de 20% para divorciados.
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Por fim, ao nível de regiões, os inquiridos dividiram-se por várias zonas: Norte
(48,6%), centro (40%) e ilhas da Madeira e Açores (8,6%)
Instrumentos
Foi administrado a todos os profissionais inquiridos, um conjunto de instrumentos
com objetivo de obter informações acerca das variáveis em análise no presente estudo:
Questionário demográfico de forma a se poder realizar uma melhor caracterização da
amostra em relação ao sexo, idade, anos de profissão, habilitações literárias, estado civil e
zona do país;
Escala de Satisfação e Realização (ESR): Este instrumento foi desenvolvido com o
objetivo de avaliar os níveis de satisfação e realização profissional (Gomes, 1998; Gomes et
al., 2000 citado por Afonso & Gomes, 2008). A escala é composta por sete questões acerca
da satisfação profissional, nomeadamente, (a) vontade em optar pela mesma via de formação
se os profissionais tivessem uma nova oportunidade de escolher uma saída profissional
(respostas numa escala dicotómica de “sim” e “não”); (b) nível de satisfação profissional
atual; (c) nível de satisfação pessoal atual; (d) desejo de abandonar o atual local de trabalho;
(e) desejo de abandonar a profissão; (f) nível de realização profissional atual; (g) nível de
realização pessoal atual. Estas últimas questões foram apresentadas numa escala tipo “Likert”
de seis pontos (1=Muito Baixo; 6=Muito Alto), significando os valores mais elevados nos
diferentes itens maior satisfação e realização profissional bem como um maior desejo de
abandonar o emprego e a profissão (Cruz & Gomes, 2007);
Escala de Coping Proativo (ECP). Este instrumento é uma das subescalas incluídas
no “Inventário de Coping Proativo” desenvolvido por Greenglass, Schwarzer e Taubert
(1999) que engloba sete dimensões distintas. A tradução e adaptação efetuadas por Cruz e
Gomes (2007) refere-se apenas à escala de coping proativo, que tem por objetivo avaliar as
estratégias de confronto “ativas” utilizadas pelas pessoas quando se confrontam com um
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determinado problema (e.g. como reagir perante uma adversidade). O instrumento
compreende uma subescala, num total de 14 itens respondidos numa escala tipo “Likert” de
quatro pontos (1=Nada verdadeiro; 4=Completamento verdadeiro). A pontuação é obtida
através da soma, devendo-se atender aos que são formulados pela negativa e que devem ser
invertidos na cotação final. Os valores mais elevados significam maior utilização de
estratégias proativas;
Escalas de Ansiedade, Depressão e Stress (EADS). Este instrumento possui 21 itens
distribuídos em número igual pelas três dimensões: depressão, ansiedade e stress. Clark e
Watson (1991), propõem um modelo tripartido em que os sintomas de ansiedade e depressão
se agrupam em três estruturas básicas. Lovibond e Lovibond (1995) caracterizam as escalas
do seguinte modo: a depressão principalmente pela perda de autoestima e de motivação,
encontra-se associada com a perceção de baixa probabilidade de alcançar objetivos. A
ansiedade está ligada não só a estados persistentes de ansiedade como a respostas intensas de
medo, enquanto que o stress sugere estados de excitação e tensão persistentes, com baixo
nível de resistência à frustração e desilusão (Pais-Ribeiro, Honrado & Leal, 2004).
Procedimento
A recolha de dados foi efetuada através de uma hiperligação
(https://spreadsheets.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dEMxZUxaaWoxM1VsTj
U2TkpVZVdvYnc6MQ) na internet, que foi depois divulgada em fóruns e sites direcionados
para guardas prisionais. O questionário continha para além dos instrumentos referidos
anteriormente uma carta de apresentação dirigida aos participantes acerca dos objetivos e
implicações da investigação, assegurando-se o carácter voluntário da participação bem como
o seu anonimato.
O tratamento e análise dos dados estatísticos foram efetuados no programa SPSS
(versão 17.0). Iniciou-se o tratamento estatístico com a caracterização da amostra,
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nomeadamente ao nível da idade, sexo, anos de carreira, habilitações literárias, estado civil e
região do país, através de uma análise de frequências.
Realizou-se de seguida uma análise de frequências relativamente aos resultados
obtidos na escala. Tendo-se procedido por fim à realização de correlações entre as variáveis,
nomeadamente, idade, sexo, anos de profissão, habilitações literárias, estado civil e zona do
país, verificando se eram ou não significativas e se eram, qual o resultado em que se
traduziam.
Relativamente à Escala de Ansiedade, Depressão e Stress, avaliaram-se as sub-escalas
(Sub-escala 1 Ansiedade, Sub-escala 2 Depressão, Sub-escala 3 Stress) e as médias obtidas
em cada uma delas, no entanto como os resultados obtidos (tabela I) não se revelaram
significativos, não se considerou pertinente analisar os seus resultados especificamente com
as variáveis demográficas. Foi assim feita uma avaliação global da mesma para correlação
com os outros instrumentos e variáveis demográficas.
Resultados
Foi possível verificar que 45,7% da amostra não voltaria a escolher a mesma
profissão, sendo que apenas uma minoria (28,6%) diz que voltaria a fazer a mesma escolha.
Analisados os níveis de satisfação profissional global, é possível verificar que existe uma
grande variedade de resultados, mas uma menor frequência nos níveis superiores, sendo que
ninguém referiu estar no ponto máximo da sua satisfação e apenas 5,7% (2 pessoas) apontam
para o segundo ponto máximo o 5 (Tabela I).
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Tabela I
Frequênc
ia
Percentag
em
Válido 1 6 17,1
2 10 28,6
3 6 17,1
4 10 28,6
5 2 5,7
Total 34 97,1
Em
falta
1 2,9
Total 35 100,0
Foi realizada uma média de resultados obtidos nas escalas de coping e de ansiedade,
stress e depressão sendo que a média para a escapa de coping é de 29,86 num total de 42
pontos, sendo o valor mínimo obtido de 3 atingido por uma pessoa e o valor máximo de 40
pontos atingido por 2 pessoas. Já na escala de Ansiedade, Stress e Depressão a média é de
16,89 num total de 63 pontos na escala sendo o valor mínimo 0 atingido por 4 pessoas o que
significa que estas 4 pessoas não demonstram ter quaisquer níveis de ansiedade, stress ou
depressão sendo que apenas 1 pessoa mostra elevados níveis com um valor de 54 pontos.
Relativamente à divisão por cada sub-escala a média da Ansiedade da amostra é de 0,651, na
sub-escala de Depressão é 0,726 e a sub-escala stress a média foi de 1,057 (tabela II),
verificando-se assim valores baixos no que respeita a estes sintomas.
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Tabela II
Estatística Descritiva
Total Minimo Máximo Média Desvio
Padrão
Média dos itens
Ansiedade
35 ,0 2,6 ,651 ,6214
Média dos itens
Depressão
35 ,0 3,0 ,726 ,7135
Média dos itens Stress 35 ,0 2,3 1,057 ,6679
Total válidos 35
Foi realizada uma correlação entre os resultados dos três instrumentos utilizados e
verificou-se que existia uma correlação dos valores médios da satisfação e realização com as
escalas de coping e de ansiedade, depressão e stress e entre estas escalas.
Relativamente aos níveis médios de satisfação e realização e a escala de coping foi
encontrada uma correlação moderada (0,582) (Tabela III). Quanto à escala de satisfação e
realização e os níveis de ansiedade, depressão e stress foi possível observar uma correlação
negativa e alta (-0,766) (Tabela III). Quanto à correlação entre a escala de coping proativo e
de ansiedade, depressão e stress verificou-se uma correlação negativa num valor moderado (-
0,646) (Tabela III).
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Tabela III
Correlação
idade media_ESR Total_ECP Total_EADS
Correlação de
Pearson
idade 1,000 ,363 -,043 -,129
media_sats ,363 1,000 ,582 -,766
Total_coping -,043 ,582 1,000 -,646
Total_ansiedade -,129 -,766 -,646 1,000
Sig. (1-tailed) idade . ,018 ,405 ,233
media_sats ,018 . ,000 ,000
Total_coping ,405 ,000 . ,000
Total_ansiedade ,233 ,000 ,000 .
* correlações são significativas ao nível de 0,05
Foi efetuada uma análise de correlação entre a idade e os níveis de realização e
satisfação, mas não foi encontrado nenhum resultado significativo, bem como com os
resultados da escala de coping proativo e da escala de ansiedade (Tabela IV).
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Tabela IV
Correlação
idade Total_EADS
media__ES
R Total__ECP
Idade Correlação de
Pearson
1 -,111 ,363* -,013
Sig. (2-tailed) ,526 ,035 ,943
Total 35 35 34 35
* correlações são significativas ao nível de 0,05
Efetuou-se ainda a análise dos anos de profissão com os instrumentos utilizados mas
não se verificou nenhum resultado significativo (tabela V).
Tabela V
Correlação
Anos_prof media_ESR Total__ECP Total_EADS
Anos_profissão Correlação de
Pearson
1 ,310 -,019 ,003
Sig. (2-tailed) ,074 ,912 ,988
Total 35 34 35 35
Verificou-se que existiam diferenças significativas relativamente ao sexo na escala de
ansiedade, sendo que as mulheres tinham valores mais reduzidos de ansiedade
comparativamente aos homens (Tabela VI).
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Tabela VI
Estatística Descritiva
Sexo Statistic Std. Error
Total_ EADS feminino Média 7,75 3,881
95% Intervalo de
confiança para a média
Limite inferior -4,60
Limite superior 20,10
Desvio Padrão 7,762
masculino Média 18,06 2,234
95% Intervalo de
confiança
Limite inferior 13,50
Limite superior 22,63
Desvio Padrão 12,439
Não existem diferenças significativas ao nível das diferentes habilitações literárias, bem
como a região do país e o estado civil com a média de satisfação global e o total das escalas
de coping e ansiedade, depressão e stress.
Discussão e conclusão
Relativamente à primeira hipótese, onde se considerava que quase metade da amostra
diria que não voltaria a escolher a mesma profissão (Gonçalo, Gomes, Barbosa & Afonso,
2010), a mesma é confirmada pelos resultados.
Relativamente à média obtida na escala de coping uma vez que se obteve uma média
de quase 30 pontos numa pontuação máxima de 42, é possível verificar que a amostra em
média utiliza estratégias de coping proativas, o que se traduz em algo positivo, diminuindo
assim as probabilidades de vir a sofrer de stress, ansiedade ou depressão.
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Quanto à média na Escala de Ansiedade, Depressão e Stress o valor é bastante
reduzido no geral, sendo a média de quase 17 pontos numa pontuação total de 63 pontos e
sendo que a média das sub-escalas não ultrapassou o 1,05 (valor referente à sub-escala de
stress) de 0 a 4 sendo possível afirmar que apesar do seu contexto laboral com as dinâmicas
hostis como o referido anteriormente, os inquiridos não revelam sintomas de ansiedade,
depressão e stress.
Os níveis de satisfação e realização apresentaram uma correlação positiva com as
estratégias de coping. É ainda possível verificar que quanto maior os níveis de satisfação e
realização menor os níveis de ansiedade, depressão e stress traduzindo-se uma correlação
negativa. Com estes dados é possível verificar que existe uma maior realização e satisfação
quando as estratégias de coping são mais proativas, surgindo menores níveis de ansiedade,
depressão e stress.
A escala de coping e a escala de ansiedade, stress e depressão encontram-se
correlacionadas de forma negativa, sendo que à medida que as estratégias de coping são mais
proativas os níveis de ansiedade, stress e depressão diminuem.
A idade não se mostrou correlacionada com os resultados dos instrumentos utilizados,
sendo que o mesmo se aplica aos anos de profissão, o que vem confirmar a segunda hipótese
do presente estudo.
Após uma análise comparando os sexos foi possível verificar que existiam diferenças
significativas relativamente à escala de ansiedade, stress e depressão, nomeadamente que os
homens têm valores mais altos do que as mulheres.
No entanto é necessário ter em atenção que o tamanho da amostra é reduzido e por
isso as generalizações deverão ser feitas com precaução. Para além desta limitação é
importante referir a sua fraca representatividade que não permitiu fazer análises mais
específicas.
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Considera-se pertinente a replicação do estudo com uma amostra de maior dimensão e
análise das variáveis empregues, tendo em consideração a especificidade dos diferentes
estabelecimentos prisionais (e.g. especial).
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