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Apostila de Fertilidade do Solo
(Módulo II)
Autores:
Dr. Marcos André Piedade Gama (Prof. Fertilidade do Solo, UFRA – ICA Belém)
Dr. Gilson Sergio Bastos de Matos (Prof. Fertilidade do Solo, UFRA – ICA Belém)
Gabriel Pinheiro Silva (UFRA - Belém)
Antônio Anízio Leal Macedo Neto (Eng. Agrônomo, Mestre em Agronomia)
Belém - Pará
2020
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2
Sumário 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ....................................................................... 3
2. CICLO DO CARBONO ................................................................................... 4
2.1. FONTES DE CARBONO .................................................................................. 4
2.2. RELAÇÃO CARBONO / NITROGÊNIO NOS MATERIAIS ORGÂNICOS . 5
3. INFLUÊNCIA DA MATÉRIA ORGÂNICA NAS PROPRIEDADES DO SOLO 7
4. CONTEÚDO DE MO NOS SOLOS ............................................................. 11
4.1. FATORES QUE AFETAM CONTEÚDO DE M. O. NO SOLO .................... 11
5. PROCESSOS DE DECOMPOSIÇÃO DA MO DO SOLO ........................ 13
5.1. COMPOSIÇÃO DA MATÉRIA ORGÂNICA ................................................ 13
5.2. PROCESSO DE DECOMPOSIÇÃO ............................................................... 14
6. HÚMUS ............................................................................................................ 15
7. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 16
7.1. ORIGEM DA ACIDEZ DO SOLO .................................................................. 18
7.2. TIPOS DE ACIDEZ DO SOLO ....................................................................... 19
7.3. PODER TAMPÃO DO SOLO (PTS) ............................................................... 21
8. NEUTRALIZAÇÃO DA ACIDEZ DO SOLO ............................................ 22
8.1. 5.2 NEUTRALIZAÇÃO DA ACIDEZ ............................................................ 22
9. QUALIDADE DOS CALCÁRIOS ................................................................ 26
3
Unidade IV – Matéria orgânica do solo
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A fase sólida dos solos é composta pelas frações mineral e orgânica, sendo a orgânica
correspondente a matéria orgânica do solo (MOS), constituída basicamente por C, H, O, N, S e P, e
tendo o carbono com cerca de 58% da sua composição (Silva e Mendonça, 2007). O acúmulo de
matéria orgânica no solo se dá através da deposição de restos orgânicos de seres vivos, com
decomposição desse material por oxidação enzimática e mineralização.
A matéria orgânica é de grande importância nos solos, com mais destaque nas regiões
tropicais, onde predominam os minerais de argila 1:1 e os óxidos/hidróxidos de Fe e Al. Além disso,
como será observado mais à frente, a MOS exerce diversas funções benéficas no solo, como:
fornecimento de nutrientes (principalmente N, P e S) às plantas, agregação de partículas, aumenta a
retenção de água, e geração de cargas negativas no solo, que por sua vez melhoram a capacidade de
troca de cátions.
Ao avaliar e manejar a MOS é sempre importante a separação dos conceitos de resíduo
orgânico, MOS e húmus, já que na prática, geralmente, entre técnicos e produtores rurais, é comum
a dúvida quanto as diferenças e utilização equivocada desses termos.
Resíduo Orgânico
Segundo o ministério do meio ambiente do Brasil, resíduos orgânicos são constituídos
basicamente por restos vegetais e/ou animais descartados de atividades humanas. Sendo que esses
resíduos podem ter diversas origens, como doméstica, agrícola, industrial, saneamento básico, entre
outras (Brasil, 2017).
Matéria orgânica do solo
Fração sólida constituída de compostos orgânicos de origem animal ou vegetal, e que
ocorrem nos solos nos mais variados estágios/graus de transformação.
Húmus
Fração da matéria orgânica altamente transformada decomposta pelos microorganismos
e que possui características típicas, como estado coloidal, coloração escura e alta estabilidade no
solo.
INFORMAÇÕES IMPORTANTES
Todo húmus é MO, mas nem toda MO é húmus;
C e N, elementos importantes, são incorporados ao processo de formação do solo pela MO;
A MO é um componente do resíduo orgânico.
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2. CICLO DO CARBONO
O carbono faz parte de diversas estruturas de grande importância à vida, como,
celulose e clorofila. Portanto, estudar e reconhecer o ciclo deste elemento é indispensável para o
manejo da fertilidade do solo.
O ciclo do carbono basicamente envolve o “consumo” do dióxido de carbono da
atmosfera, a partir do qual o C absorvido da atmosfera é transformado em estruturas moleculares e
energia (respiração vegetal), e posteriormente é devolvido para atmosfera na forma de dióxido de
carbono (figura 1).
O C chega ao solo através da deposição de resíduos vegetais e animais (que possuem
C nas suas estruturas) de forma temporária, pois posteriormente esses materiais são digeridos pelos
organismos do solo, que gradualmente devolvem o C para a atmosfera na forma de CO2. Este também
reage no solo, para produzir ácido carbônico (H2CO3), carbonatos e bicarbonatos de cálcio, potássio,
sódio ou magnésio.
A acumulação da MO se dá pelo fato de o metabolismo microbiano e a interação com
argilas no solo produzem material orgânico muito estáveis, fazendo o material ficar acumulado no
solo por muito tempo, proporcionando as condições de qualidade que a MO oferece (Brady e Weil,
2009).
Figura 1 - Esquematização do ciclo do carbono.
2.1. FONTES DE CARBONO
Segundo Brady e Weil (2009), em qualquer época do ano, aproximadamente 2.400
petagramas (Pg ou 1015 g) de carbono são armazenados nos solos, na forma de matéria orgânica
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(excluindo a serrapilheira da superfície). Sendo que um adicional de 940 Pg está armazenado como
carbonatos do solo, quem podem liberar CO2 sob ação do intemperismo, mas que isso é distribuída
de forma desigual nos diferentes tipos de solo (tabela 1).
Tabela 1 - Massa de carbono orgânico e inorgânico nos solos do mundo.
Ordem do solo Área Global, 103
km2
Carbono no globo nos primeiros 100 cm superficiais
Orgânico Inorgânico Total Total %
Pg
Gleissolos 21.137 90 263 353 14,2
Cambissolos 12.863 190 34 224 9
Organossolos 1.526 179 0 179 7,2
Andosols1 912 20 0 20 0,8
Crysols1 11.260 316 7 323 12,9
Vertissolos 3.160 42 21 63 2,6
Luvissolos 15.699 59 456 515 20,6
Kastanozems1 9.005 121 116 237 9,5
Espodossolos 3.353 64 0 64 2,6
Planossolos 12.620 158 43 201 8
Plintossolos 11.052 137 0 137 5,5
Latossolos 9.810 126 0 126 5,1
Terras diversas 18.398 24 0 24 1
Total 130.795 1526 940 2466 100
Classificação segundo WRB/FAO
Fonte: Eswaran et al (2000) In: Brady e Weil (2009)
2.2. RELAÇÃO CARBONO / NITROGÊNIO NOS MATERIAIS ORGÂNICOS
A relação carbono:nitrogênio (C/N) é obtida a partir da divisão dos teores de carbono e
nitrogênio de um material orgânico do solo, ou mesmo de um microorganismo. Segundo Brady e
Weil (2009), o teor de carbono de uma típica matéria seca de plantas é cerca de 42 %, já o de
nitrogênio é bem menor e muito variável (entre 1 e 6 %).
A relação C/N é um importante parâmetro a ser avaliado em resultados de análises de
resíduos orgânicos, pois muitas vezes determina a cinética de decomposição. Ou seja, tem relação
com o tempo de decomposição desses materiais e com a riqueza de nutrientes (N, principalmente)
que esse material vai proporcionar ao solo. Além disso, essa relação pode contribuir nas estratégias
de quais materiais podem ser utilizados em práticas de utilização de resíduos orgânicos para cobertura
do solo.
De uma forma geral, para materiais com relação C/N alta (C/N > 33:1), maior o tempo para
processo de decomposição no solo e os organismos decompositores, provavelmente necessitarão de
N da solução do solo, o que inicialmente pode proporcionar deficiência de N às plantas quando se faz
adubação orgânica com materiais de alta relação C/N. Esses tipos de materiais orgânicos são
adequados para utilização em práticas de cobertura do solo. Quando a relação do C/N do resíduo é
baixa (C/N < 33:1) há um indicativo de maior teor de N e o período de decomposição é mais curto
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(Figura 2). Quando é feita adubação orgânica com esses materiais dificilmente ocorrerá deficiência
de N às plantas. Por outro lado, esses materiais (menor C/N) não são adequados para utilização como
cobertura do solo.
A importância da relação C/N também pode ser melhor compreendida na influência
da imobilização e mineralização de N do solo (Figura 2), que podem ser definidas conforme a seguir:
Figura 2 - Relações C/N e sua importância no período de decomposição da matéria orgânica e na tendência à liberação ou imobilização do N do solo.
Para ilustrar ainda mais a imobilização e mineralização de N no solo com a relação
C/N é interessante observar a Figura 3, pela qual se observa o decréscimo na concentração de C e
aumento do N ao longo do tempo. Outro ponto importante a ser destacado é que além da C/N dos
materiais orgânicos, também podem ser consideradas a C/N de alguns microrganismos (tabela 2).
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Figura 3 - Relação C/N, imobilização e mineralização de N, evolução de C e N durante o período de decomposição.
Fonte: Mendonça e Loures, 1996 – Adaptado de Alexander (1977) e Broadbent (1954)
IMPORTANTE
Relação C/N > imobilização de N do solo pelos microorganismos para auxiliar na decomposição;
Relação C/N de 30/1 máxima produção de húmus em menor tempo;
Relação C/N de 100/1 menor produção de húmus em maior tempo;
Tabela 2 - Relação C/N de alguns materiais orgânicos utilizados para decomposição e de alguns microrganismos, respectivamente.
Material orgânico % C % N C/N
Serragem de abeto 50 0,05 600
Jornal 39 0,3 120
Palha de trigo 38 0,5 80
Palha de milho 40 0,7 57
Serrapilheira de folhas de bordo 48 1,4 34
Esterco curtido de estábulo 41 2,1 20
Grama fertilizada cortada 42 2,2 20
Resíduos de brócolis 35 1,9 18
Feno novo de alfafa 40 3,0 13
Restos de ervilhaca 31 3,5 11
Lodo de esgoto tratado 31 4,5 7,0
Relação C/N
Fungos 10:1
Actnomicetos 8:1
Bactérias aeróbicas 5:1
Bactérias anaeróbias 5:1
Fonte: Brady e Weil (2009)
3. INFLUÊNCIA DA MATÉRIA ORGÂNICA NAS PROPRIEDADES DO SOLO
A matéria orgânica proporciona efeitos nas três propriedades do solo (física, química e
biológica). De uma forma geral, os efeitos podem ser ilustrados conforme figura 4, demonstrando
atuação da MO de forma direta e indireta.
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Figura 4 - Matéria orgânica e seus efeitos nas propriedades dos solos.
Fonte: Brady e Weil (2009)
Os efeitos da MO nas propriedades físicas do solo podem ser resumidos em:
Promove agregação e estruturação dos solos;
Reduz a densidade dos solos – efeito de toda MO;
Aumenta aeração de solos argilosos;
Aumenta a infiltração e retenção de água (Húmus);
Melhora estrutura dos solos arenosos (dá mais liga);
Diminui aderência e plasticidade de solos argilosos.
A MO, atuando como agente cimentante, promove a formação dos microagregados e dos
macroagregados (Figura 5). Com a ação dos microrganismos, a MO se decompõem, sendo por isso
necessária a sua conservação no solo.
Indiretamente, como a MO melhora a agregação dos solos, ocorre uma melhor distribuição
e tamanho dos poros do solo, melhorando assim a retenção de água. Solos com pouco conteúdo de
MO estão mais sujeitos a maior densidade e compactação, o que também dificulta a infiltração de
água e penetração de raízes.
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Figura 5 - Esquema de formação de microagregados e macroagregados.
Fonte: Oades (1984). In: Silva e Mendonça (2007).
Os efeitos da matéria orgânica nas propriedades químicas do solo podem ser resumidos em:
Aumenta a CTC do solo – por contribuir com o aumento das cargas, negativas
principalmente na fase coloidal da MO (Figura 6);
Aumenta disponibilidade de nutrientes – isso em função dos seguintes aspectos:
Decomposição libera nutrientes – Um exemplo da importância da MO está no ciclo
no N (Figura 7), o qual envolve transferência do N2 para compostos orgânicos, daí
para N amoniacal e N nítrico, e então N retorna à atmosfera na forma gasosa. 95%
do N está associado a MO.
- Aumento da CTC também disponibiliza mais nutrientes.
Diminui a adsorção de P, pois compostos orgânicos podem recobrir os óxidos de Fe
e Al.
Aumenta o poder tampão do solo – ou seja, a capacidade do solo em resistir às
alterações no pH, por exemplo. Uma ilustração pode ser observada na tabela 3;
Tende aumentar o pH dos solos ácidos pela liberação de bases;
Diminui toxidez de Fe, Al, Mn e Cu às plantas.
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Figura 6 - Relação entre o teor de C orgânico e CTC efetiva e a pH 7,0 de um Latossolos Bruno
Fonte: Ciotta et al. (2003) In: Silva e Mendonça (2007)
Figura 7 - Aspecto geral do ciclo do nitrogênio
Fonte: Silva e Mendonça (2007)
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Tabela 3 - Efeito da matéria orgânica no poder tampão em dois diferentes solos e horizontes
Solo Horizonte PTCa (1) PTNa (2) ∆PT (3)
LV A1 3,92 1,34 2,58
A3 3,29 1,17 2,12
B1 2,67 1,1 1,57
B2 1,44 0,93 0,48
LE A1 1,89 0,87 1,02
A3 1,67 0,66 1,01
B1 1,08 0,52 0,56
B21 0,75 0,47 0,28
B22 0,51 0,38 0,13
(1) PTCa: poder tampão medido com Ca(OH)2. (2) PTNa: poder tampão
medido com NaOH. (3) ∆PT: diferença do poder tampão medido com
Ca(OH)2 e com NaOH.
Fonte: Adaptado de Mendonça et al. (2006) In: Silva e Mendonça (2007).
Os efeitos da matéria orgânica nas propriedades biológicas do solo abrangem o fornecimento
de energia aos microorganismos e estímulo a absorção de nutrientes. A decomposição dos resíduos
orgânicos estimula a propagação dos microorganismos, o que afeta também outros atributos, como a
porosidade do solo.
4. CONTEÚDO DE MO NOS SOLOS
Em geral o conteúdo de MO nos solos varia entre 1 e 5%, com média entre 2 e 3%. Solos
com textura arenosa, geralmente possuem conteúdo de MO menor que os de textura argilosa.
O conteúdo de MO nas regiões tropicais e temperadas não diferem muito,
principalmente, porque nos trópicos a produção de biomassa é maior, mas os
processos de decomposição são também mais intensos. Na região temperada a
produção de biomassa é menor e os processos de decomposição menos intensos. Isso
proporciona o equilíbrio entre as regiões.
Algumas exceções quanto ao conteúdo de MO podem ser evidenciados para solos
orgânicos e turfosos, com conteúdos superiores aos 15%;
4.1. FATORES QUE AFETAM CONTEÚDO DE M. O. NO SOLO
Entre os fatores que podem afetar o conteúdo de M.O no solo, podem ser citados:
Clima: principalmente temperatura e umidade
Temperatura, maior atividade dos microorganismos – maior decomposição;
Umidade, menor decomposição da M.O.
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Um exemplo dos efeitos da temperatura e umidade no conteúdo de carbono orgânico,
portanto MO, pode ser observado na figura 34.
Figura 8 - Distribuição do carbono orgânico em quatro perfis de solo.
Fonte: Adaptado de Brady e Weil (2009)
Aeração
Quanto maior a aeração do solo, maior a decomposição da MO menos MO
A aeração do solo pode ser influenciada por: textura, umidade, frequência de
aração/gradagem, e topografia ou relevo. Solos com textura mais argilosa tendem a possuir maior
conteúdo de matéria orgânica (figura 9)
Cultivo
Quanto maior a intensidade de cultivos do solo, menores o conteúdo de MO ao longo do
tempo. Na figura 10 é demonstrado o efeito do sistema de cultivo do solo no conteúdo de carbono
orgânico e, portanto, na MO, demonstrando que sistemas como o de Plantio Direto, com menor
intensidade de revolvimentos do solo, possuem efeitos benéficos.
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Figura 9 - Influencia do sistema de manejo no teor de carbono orgânico do solo.
Figura 10- Influencia do sistema de manejo no teor de carbono orgânico do solo.
Fonte: Adaptado de Brady e Weil (2009)
5. PROCESSOS DE DECOMPOSIÇÃO DA MO DO SOLO
Os materiais orgânicos, sem o processo de decomposição, ou seja, sem a formação de
matéria orgânica, pouco teria importância para melhoria dos atributos químicos do solo.
5.1. Composição da Matéria Orgânica
De uma forma geral a MO é composta pelos seguintes componentes:
Carboidratos: mono, poli e oligossacarídeos
Ligninas
Taninos
Glicosídeos
Ácidos, sais e ésteres orgânicos
Resinas
Compostos nitrogenados (aminas, amidas, nitritos e AA)
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Pigmentos
Constituintes minerais
Celulose + hemicelulose + lignina 40 a 80 % da M.O.;
Resíduos com diferentes composições terão taxa de decomposição diferentes. Em geral
componentes mais leves e solúveis em água são inicialmente degradados, seguidos posteriormente
por Celulose+hemicelulose+lignina. Berg (2000) cita que durante a decomposição a sequência de
degradação são compostos solúveis, carboidratos não lignificados, carboidratos lignificados, e lignina
(Figura 11).
Figura 11 - Sequência de degradação dos compostos durante processo de decomposição
Fonte: Adaptado de Berg (2000)
5.2. PROCESSO DE DECOMPOSIÇÃO
Considerando um solo sob boas condições de aeração, a decomposição ocorre por processo
de oxidação. Inicialmente ocorre a quebra de grandes moléculas orgânicas em componentes menores
e mais simples Grande parte da M.O é composta por celulose + hemicelulose + lignina e sua
transformação acontece da seguinte forma:
C6H2O6 + 6O2 6CO2 + 6H2O
Segundo Brady e Weil (2009) podem ocorrer três reações quando adicionado algum tecido
orgânico no solo: a) Oxidação enzimática de compostos de carbono para produzir dióxido de carbono,
água, energia e biomassa de decompositores; b) liberação e/ou imobilização de nutrientes; c)
formação de compostos muito resistentes à ação microbiana
Os microrganismos (fungos, bactérias e actnomicetos) exercem fundamental importância na
degradação dos resíduos orgânicos. Durante a degradação da MO são evidenciados dois processos
principais: Mineralização e Humificação (figura 12)
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A Mineralização é um processo de “queima” e forma vários compostos orgânicos.
MO [C, H, O] + 2O2(g) oxidação enzimática CO2 + 2H2O + energia
IMPORTANTE
A liberação de CO2 no início do processo é um excelente indicativo da atividade de
microrganismos na decomposição da M.O.;
A liberação de CO2 indica a intensidade e velocidade de decomposição.
Durante a fase de mineralização há liberação de gases e vários nutrientes, que podem ser
utilizados pelas plantas ou mesmo imobilizados pelos organismos enquanto continuam o processo
decomposição da MO.
A Humificação é o processo de polimerização dos compostos orgânicos formados ao final
da mineralização. Nesse processo são formadas estruturas aromáticas complexas e variáveis.
Principal produto dessa fase é o húmus, que é um dos principais coloides do solo.
Figura 12 - Influencia do sistema de manejo no teor de carbono orgânico do solo.
6. HÚMUS
O húmus é o produto final da polimerização de compostos orgânicos formados pela
decomposição da matéria orgânica. Entre os componentes da MO a lignina é uma das mais
importantes para formação do húmus. Ou seja, resíduos orgânicos ricos em lignina possibilitam maior
e melhor formação de húmus.
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PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO HÚMUS
Possui natureza coloidal;
Coloração escura;
Maior estabilidade nos solos;
Maior CTC;
Maior poder tampão;
Maior capacidade de retenção de água;
Maior poder de complexação de metais.
O húmus é composto por três frações principais:
Ácidos fúlvicos (20 a 40%)
- Possui peso molecular menor e maior teor de O nos grupos funcionais;
- Apresenta cor amarela e se dispersam em água;
- Apresentam estruturas menos polimerizadas.
Ácidos Húmicos (28 a 60%)
- Peso molecular médio;
- Apresentam cor marrom a cinza escuro;
- Apresentam estruturas mais polimerizadas que os fúlvicos.
Huminas (20 a 32%)
- Peso molecular alto;
- Não dispersa em álcalis;
- Fortemente retida em argilo-minerais;
- Apresentam coloração cinza muito escuro a preto.
Unidade V – Acidez e Calagem
7. INTRODUÇÃO
Nos solos tropicais um dos maiores limitantes para a produção agrícola é a acidez
elevada, que ocorre em aproximadamente em 70% de seus solos. Essa acidez ocorre, principalmente,
pela substituição dos cátions trocáveis (como Ca2+, Mg2+ e K+) pelos íons H+ e Al3+. A acidez elevada
impacta diretamente a fertilidade do solo, pois o Al em concentrações altas é tóxico às plantas. Além
disso, os íons H+ e Al3+ ocupam as cargas negativas que deveriam ser ocupadas por elementos
essenciais.
Esse cenário, aliado a necessidade de maiores produtividades, de melhor
aproveitamento das áreas produtivas e de melhoria na eficiência dos fertilizantes e remineralizadores,
condiciona a necessidade de correção da acidez dos solos para utilização adequada para fins agrícolas,
florestais e de pastagens.
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A calagem é a prática principal utilizada para corrigir acidez dos solos, e seus aspectos, como
produtos, princípios e métodos de recomendação de dosagem serão abordados nessa unidade.
Fatos importantes quanto avaliação da acidez dos solos:
a) Principais Características de um Solo Ácido
Redução dos valores de pH – geralmente menores que pH 6;
Redução da saturação por bases – já que há menores teores de Ca, Mg e K;
Aumento dos teores trocáveis de Al (assim como de Mn e Fe)
b) A faixa de acidez do solo compreende a faixa abaixo do pH 7,0. Mas a faixa ideal de
pH no solo varia entre 5,5 e 6,5, na qual é maior a disponibilidade dos nutrientes e
melhor a eficiência de fertilizantes solúveis. A intensidade da acidez do solo pode
ser classificada em faixas, conforme figuras 13 e 14.
Figura 13 – Faixas de pH do solo e classificação da intensidade de acidez do solo
Figura 14 - Faixa de disponibilidade de nutrientes em função do pH do solo.
Fonte: Adaptado de Potash e Phosphat Institute (1989). In: Sousa et al. (2009).
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7.1. ORIGEM DA ACIDEZ DO SOLO
O conceito de acidez é explicado de forma simples considerando que ácidos são
substâncias que em solução aquosa liberam íons hidrogênio (H+), como na seguinte reação:
𝐻𝐴 + 𝐻2𝑂 ↔ 𝐴− + 𝐻+
Os solos geralmente são ácidos em decorrência do seu material de origem e da
intensidade da ação dos agentes de intemperismo, como clima e organismos (Sousa et al. 2007).
Porém, existem alguns fatores que são os responsáveis pelo aumento da acidez dos solos, e esses
serão abordados nos tópicos a seguir:
a) Remoção de bases trocáveis
A substituição de bases trocáveis pelos íons H+ e Al3+ no completo de troca catiônica
do solo é uma das principais causas da acidificação. Isso pode acontecer em função do processo de
intemperização dos solos, de altas pluviosidades (típicas de regiões como a Amazônia), de processos
de lixiviação e erosão, e de exportação pelas culturas, que contribuem com a remoção de cátions
como Ca2+, Mg2+, K+ e Na+, aumentando assim os íons H+ e Al3+.
Sousa et al. 2007, por exemplo, demonstra que o Al3+ em solução do solo passa por
hidrólise, proporcionando então acidez, como demonstrado na reação seguinte:
𝐴𝑙3+ + 2𝐻2𝑂 ↔ 𝐴𝑙(𝑂𝐻)2+ + 𝐻3𝑂+
b) Gás carbônico
A dissociação d CO2 na solução do solo, liberando o próton H+, também é uma causa
de acidificação do solo, conforme a reação a seguir:
𝐶𝑂2 + 𝐻2𝑂 → 𝐻2𝐶𝑂3
𝐻2𝐶𝑂3 ↔ 𝐻+ + 𝐻𝐶𝑂3−
c) Argilominerais silicatados e não silicatados
Com os grupos estruturais das argilas silicatadas (Si-OH) e dos óxidos e hidróxidos de
Fe e Al (Fe-OH e Al-OH) expostos nas superfícies, a presença de um meio aquoso, proporciona a
dissociação (Sousa et al. 2007). Como mostra a equação a seguir:
𝑆𝑖 ] 𝑂𝐻 + 𝐻2𝑂 ↔ 𝑆𝑖 ] 𝑂− + 𝐻3𝑂+
.
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d) Fertilizantes minerais
Alguns fertilizantes, principalmente os amoniacais, possuem potencial de aumentar a
acidez nos solos. Um exemplo é o sulfato de amônio (Raij, 2011), cuja reação no solo libera o amônio
(NH4+), que ao passar pelo processo de nitrificação, também libera íons H+, conforme a seguir:
(𝑁𝐻4)2𝑆𝑂4 ⟶ 2𝑁𝐻4+ + 𝑆𝑂4
2−
2𝑁𝐻4+ + 𝑆𝑂4
2− + 4𝑂2 ⟶ 2𝑁𝑂3− + 4𝐻+ + 2𝐻2𝑂 + 𝑆𝑂4
2−
Outro exemplo é com a utilização do fertilizante nitrogenado ureia, mas este é menos
acidificante que o sulfato de amônio, devido ao aumento de pH produzido inicialmente pela hidrólise
da ureia após sua aplicação no solo, conforme a seguir:
A tabela 4 mostra os valores de pH com a utilização de fertilizantes nitrogenados, na
qual percebe-se que com o aumento das doses, há uma redução no pH, aumentando assim a acidez
do solo.
Tabela 4 - Valores de pH do solo na profundidade de 0-20 cm, com doses e fontes de nitrogênio (sulfato de amônio e uréia).
Dose de N Fonte
(NH4)2SO4 CO(NH2)2
kg ha-1
0 5,85 5,76
50 4,99 5,47
100 4,22 5,39
150 4,00 5,15
200 3,87 4,89
Fonte: Mello e Andrade (1973) In: Sousa et al. (2007)
e) Absorção de bases pelas plantas
A absorção de nutrientes, como visto anteriormente, é importante para o crescimento
e produtividade. E as plantas absorvem cátions preferencialmente e, então, para compensar, liberam
H+ para o meio. É a chamada “acidez fisiológica”.
7.2. TIPOS DE ACIDEZ DO SOLO
a) Acidez ativa
A acidez ativa, é avaliada a partir da atividade dos íons H+ presentes na solução do
solo. E exerce influência direta, principalmente, sobre a disponibilidade de nutrientes (figura 40) e
atividade microbiana. Além disso, para se afirmar que um solo está ácido, é esta acidez que deve ser
considerada e na prática é avaliada ou medida pelo valor do pH do solo.
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A medição da acidez ativa (ou pH do solo) é feita por métodos potenciométricos, que
são mais exatos e que utilizam eletrodo específico de hidrogênio – usam eletrodo de vidro em relação
ao eletrodo de calomelano, como referência. A determinação do pH, geralmente é realizada por três
métodos (Souza et al., 2007):
1. Determinação do pH em suspensão do solo com água.
Relação solo:água pode ser de 1:1 ou 1:2,5
2. Determinação do pH em suspensão do solo com KCl 1 mol L-1.
Relação solo:solução pode ser de 1:1 ou 1:2,5
3. Determinação do pH em suspensão do solo com CaCl2 10 mmol L-1.
Relação solo:solução pode ser de 1:1 ou 1:2,5
Para mais informações sobre o método de determinação do pH do solo, recomenda-se
leitura do manual de análises químicas de solos, plantas e fertilizantes (Teixeira et al., 2017).
b) Acidez trocável
É a acidez devida principalmente aos íons de alumínio (Al3+) trocáveis com os
coloides. Os íons H+ trocáveis poderiam ser considerados também nessa acidez, mas são
desconsiderados por terem baixa concentração trocável nos coloides.
Para se ter ideia da acidez trocável do solo é necessário solicitar a determinação do
teor de Al via análise química do solo. A acidez trocável é importante de ser determinada por algumas
razões importantes, como: auxilia na determinação da dose de corretivo necessária para correção da
acidez; auxilia na estimativa de disponibilidade de bases trocáveis do solo – geralmente quanto maior
o teor de Al3+, menores os teores de Ca2+ e Mg2. Em geral, quanto maior a acidez ativa, maior será a
acidez trocável.
Determinação da acidez trocável ou teores de Al3+ trocáveis:
Uso de solução extratora de KCl 1 mol L-1. É uma solução não tamponada (formada de um
sal neutro).
Princípio básico do método - baseado na troca de íons. O excesso de K+ proveniente
do KCl extrai, por troca, H+ e Al3+ retidos nos colóides por forças eletrovalentes. Ilustração na reação
a seguir:
Fonte: Sousa et al. (2007)
21
c) Acidez potencial
Corresponde ao alumínio trocável (Al3+) e aos íons hidrogênios ligados por covalência
ao complexo de troca (H). Ou seja, é devida a acidez trocável mais acidez não trocável.
Acidez potencial = H + Al, sem sinais é a forma que deve ser representada e utilizada em
resultados de análise química do solo.
A sua determinação ocorre utilizando a solução de acetato de cálcio (Ca(OAc)2) 0,5
mol L-1, pH = 7,0. A acidês potencial é importante, pois auxilia na estimativa da CTC do solo (ver
cálculo da CTC) e indica da necessidade de calagem.
IMPORTANTE
Entender e reconhecer os principais tipos de acidez do solo é importante na avaliação geral da
fertilidade do solo, que deve ser feita sempre baseada em análise química do solo. A tabela 14 ilustra
um resultado real da análise química de duas amostras de solo, com destaque para os três principais
tipos de acidez do solo.
Tabela 5 - resultado real de análise química de amostras de dois solos, com indicação dos três tipos de acidez.
Amostra pH M.O P S-SO4 K Ca Mg Al (H+Al)
Terra H2O KCl CaCl2 g dm-3 mg dm-3 mmolc dm-3
1 7,2 6,3 6 13 39 13 10,4 24 6 0 16
2 4,3 3,6 3,9 59 12 42 3,4 9 3 18 126
Em vermelho – indicação da acidez ativa; em amarelo – indicação da acidez trocável; e em Azul – indicação da acidez potencial.
7.3. PODER TAMPÃO DO SOLO (PTS)
É a capacidade do solo em poder resistir a variação no valor de seu pH, seja
naturalmente ou por uma ação antrópica.
Pode ser definido ainda como a quantidade de base necessária para elevar em uma
unidade o valor pH do solo. Ex: elevar pH de 5 para 6.
Importância do Poder Tampão do Solo:
Manutenção do pH – solos com maior poder tampão resistem mais a mudanças no pH, tanto para
elevação quanto para redução.
Auxilia no cálculo da necessidade de calagem (NC) – na verdade nos ajuda a prever se a dose de
corretivo será baixa ou alta
Relações do poder tampão com outras propriedades do solo
a) CTC quanto > CTC, > o PTS;
b) Teor de argila ou argila de maior atividade quanto > teor de argila (principalmente
se for argila de maior atividade) > o PTS. Portanto, solos arenosos necessitam de
22
menos calcário para a correção do seu pH do que solos argilosos, pois este último
possui maior PTS;
c) Matéria orgânica quanto > o teor > o PTS;
d) Acidez potencial (H+Al) quanto > H+Al > o PTS.
Na prática não há análise direta do PTS, e sim correlações com outros fatores citados acima.
8. NEUTRALIZAÇÃO DA ACIDEZ DO SOLO
5.1 TIPOS DE CORRETIVOS
Para neutralização da acidez do solo é necessária a utilização de materiais chamados de
corretivos, dentre os quais os principais são listados a seguir:
a) Calcário agrícola;
b) Calcário agrícola calcinado;
c) Cal hidratada agrícola;
d) Cal virgem agrícola;
e) Outros (escórias industriais siderúrgicas e de papel).
O calcário agrícola é o mais utilizado para a neutralização da acidez do solo. Sua obtenção
é dada pela moagem simples de rochas calcárias e sua constituição básica é de CaCO3 e MgCO3.
Os calcários em geral são de fácil aquisição, neutralizam o Al3+ e são fontes de Ca e Mg.
OBSERVAÇÃO
Embora seja um insumo muito comum e de necessidade inquestionável na agricultura brasileira, para
algumas regiões a dificuldade no acesso a esse produto é um fator muito limitante na correção do solo.
Nesse caso, nos estados da região amazônica, por exemplo, a calagem ainda é pouco difundida.
8.1. 5.2 NEUTRALIZAÇÃO DA ACIDEZ
A calagem é essencial para a construção da fertilidade do solo e é fundamentada no
fenômeno da troca iônica.
A reação geral de neutralização da acidez a partir da utilização de calcário no solo está
apresentada a seguir:
A dissolução de carbonato de cálcio em cálcio e bicarbonato é representado pelas reações a
seguir:
𝐶𝑎𝐶𝑂3 + 𝐻2𝑂 ↔ 𝐶𝑎2+ + 𝐻𝐶𝑂3− + 𝑂𝐻
𝐻+ + 𝑂𝐻 ↔ 𝐻2𝑂
𝐻+ + 𝐻𝐶𝑂3− ↔ 𝐻2𝑂 + 𝐶𝑂2
Al3+ + 3 OH- ↔ Al(OH)3
23
IMPORTANTE:
O calcário neutraliza a acidez, fornece Ca e Mg ao solo. Além disso, proporciona precipitação
do Al e o CO2 é desprendido;
A formação de íons OH- é lenta – então é necessária a aplicação do calcário antecipadamente
ao plantio
É importante a presença da água para ocorrer reação do calcário no solo.
1. Métodos de determinação da necessidade de calagem (NC)
Para correção da acidez uma etapa importante, geralmente realizada após análise química de
amostras de solo, é determinação da necessidade de calagem (NC). No Brasil, alguns métodos são
utilizados com mais frequência, entre quais destacam-se:
a) Método da incubação com CaCO3
Esse é o método padrão – utilizado para calibração dos demais. Se baseia na incubação de
amostras de solo com doses crescentes de CaCO3 para obtenção de curvas de neutralização
específicas para cada solo. A NC determinada é mais precisa, no entanto, em termos práticos, não se
utiliza esse método por ser trabalhoso e ser necessário um considerável tempo para obtenção da dose
necessário de corretivo. Tal método é usado em experimentos específicos por profissionais da ciência
do solo.
A ilustração desse método para dois solos da Amazônia é apresentada na figura 15, pela qual
é possível observar que para elevar o valor de pH, exemplo pH = 6,0, a NC é sempre diferente, já que
os solos possuem características diferentes. Neste caso, também é possível o efeito do poder tampão
dos solos, já que no Latossolo (a) a NC é menor para elevar o pH a 6. E no Gleissolo (b) a NC é bem
maior.
Figura 15 - Variação de pH em CaCl2 durante a incubação com CaCO3 em amostras de dois solos, Latossolo amarelo (a) e Gleissolo (b), coletados no Nordeste do Estado do Pará, na Amazônia Oriental.
Fonte: Gama (1998)
3
4
5
6
7
8
0 15 30 45 60
Dias
pH
(C
aC
l 2)
1
2
4
6
8
10
Doses
3,0
4,0
5,0
6,0
0 15 30 45 60Dias
pH
(C
aC
l 2)
1
2
4
6
8
10
Doses
24
b) Método do alumínio trocável
Nesse método o objetivo principal é eliminar o Al3+ trocável, o que geralmente acontece a
partir do pH 5,5, quando a concentração do Al3+ tende a zero.
Para calcular a necessidade de calagem por esse método utiliza-se a seguinte fórmula:
NC = Al3+ x 1,5
NC = t ha-1 CaCO3 ou calcário com PRNT 100%
Al = alumínio trocável da análise do solo em cmolc dm-3
Catani & Alonso (1969) sugere uma variação nesse método, como mostra a fórmula a seguir:
NC = 0,08 x 1,22 . Al3+ obs: para valores de pH entre 5,5 e 5,7
c) Método do alumínio + cálcio e magnésio trocáveis
Esse método também é uma variação do anterior, no entanto, o objetivo, além de eliminar o
Al3+, é de adicionar mais Ca e Mg no solo para a nutrição vegetal.
NC = 2 x Al3+
NC = (2 x Al) + [2 – (Ca + Mg)]
NC = 2 – (Ca + Mg)
Obs: em todas as equações acima os teores de Al, Ca e Mg devem ser obtidos a partir da
análise química de amostras do solo, expressa na unidade cmolc dm-3
d) Método da saturação por bases
Esse método utiliza a relação entre pH e a saturação de bases do solo, para pode determinar
a necessidade de calagem. E segue a fórmula alterada por Raij et al. (1981):
𝑁𝐶 =𝑇 𝑥(𝑉2 − 𝑉1)
100
Na qual:
T é a CTCpH 7,0 = SB + (H + Al), todos os parâmetros cmolc dm-3;
V2 = saturação por bases (%) que desejamos e V1 = saturação por bases (%) atual , resultante
da análise do solo.
Também pode ser utilizada na seguinte formulação:
𝑁𝐶 =𝑇 𝑥(𝑉2 − 𝑉1)
𝑃𝑅𝑁𝑇
Na qual_
T é a CTCpH 7,0 = SB (H + Al)
T e CB em cmolc dm-3;
25
V2 = saturação por bases (%) que desejamos e V1 = saturação por bases (%) atual do solo.
PRNT = Poder relativo de Neutralização Total (dado em %) do calcário a ser utilizado.
Esse método é o mais utilizado e apresenta uma vantagem de poder ser aplicado
especificamente para cada cultura ou plantio, de acordo com o valor de V necessário para a espécie.
e) Métodos do tampão SMP
Esse método é baseado no decréscimo de pH de uma solução tampão SMP, ou seja, quanto
maior for o decréscimo de pH maior será a necessidade de calagem. Para uso deste método, no
entanto, é importante que seja realizado um trabalho de calibração e determinação de equação de
ajuste para cada região de abrangência. É o método mais utilizado na região sul do Brasil.
O método é baseado na relação entre acidez potencial e o pH SMP de amostras de solos a
serem trabalhadas, como ilustrado nas figuras 16 e 43 para solos do Nordeste Paraense e do Estado
do Pará.
Figura 16 - Relação entre H + Al e pH SMP em solos do Nordeste Paraense.
Y = 786,3 - 201,73X + 13,294X 2
R 2 = 0,90
0
20
40
60
80
100
120
140
4,5 5 5,5 6 6,5 7 7,5 8
pH SMP
H +
Al
(mm
ol c
dm
-3)
Fonte: Gama (1998)
Figura 17 - Relação entre H+Al e pH SMP em solos do estado do Pará.
Fonte: Gama et al. (2013)
26
2. Época e forma de aplicação de corretivos
A época de aplicação dos corretivos deve obedecer uma “regra” que é, a acidez do solo deve
estar corrigida previamente a germinação das sementes ou no momento do plantio.
DICAS PRÁTICAS
Calcário com granulométrica grosseira e/ou PRNT baixo a aplicação no solo deve ser realizada de
3 a 6 meses antes do plantio;
Calcário com granulometria fina e/ou PRNT alto a aplicação pode ser realizada de 1 a 3 meses
antes do plantio.
Quanto a forma de aplicação dos corretivos a condição ideal é que o corretivo seja bem
distribuído e incorporado no solo – bem misturado ao solo.
Outros fatores a considerar
a) O cálculo da NC baseia-se na distribuição da quantidade determinada em uma área
de 10.000 m2 (geralmente expresso como t ha-1) e incorporação na camada de 0 -20
cm;
b) A distribuição do corretivo pode ser realizada à lanço ou em faixas;
c) Em culturas anuais e pastagens, a distribuição deve ser preferencialmente à lanço, da
forma mais uniforme possível na superfície do solo;
d) Em culturas perenes e florestais a distribuição pode ser feita à lanço em área total ou
em faixas.
e) A eficiência da calagem é maior quando há incorporação durante o preparo do solo,
geralmente feita assim: 50% da dose na aração e 50% na gradagem.
3. Corretivos de acidez: Qualidade e Classificação
O calcário é o principal material utilizado para neutralização da acidez do solo. Porém, para
definição da qualidade e da classificação dos tipos de calcários que podem ser comercializados ou
adquiridos é necessária a observação de parâmetros previstos na legislação brasileira, que abrange
atributos químicos e físicos dos corretivos.
9. QUALIDADE DOS CALCÁRIOS
A caracterização física e química é importante para avaliação da qualidade de um calcário,
e essa qualidade é avaliada em função de alguns fatores:
a) Poder de Neutralização (PN) - Esse fator está relacionado com a natureza química
do calcário e tem relação com os teores de CaO e MgO. A classificação dos materiais
neutralizantes e seus PN estão expostos na tabela 6. O PN de um material corretivo
é dado pela quantidade de ácido que o mesmo pode ser capaz de neutralizar.
27
- O CaCO3 puro é considerado como padrão (PN = 100%)
Logo, o PN é expresso como: porcentagem equivalente em carbonato de cálcio (%CaCO3),
ou seja, o PN dos demais corretivos são sempre determinados em função do CaCO3 puro.
Tabela 6 - Poder de neutralização das principais espécies químicas presentes em corretivos da acidez do solo
Espécie química %ECaCO3 ou PN
CaCO3 100
MgCO3 119
CaO 179
MgO 248
Ca(OH)2 135
Mg(OH)2 172
CaSiO3 86
MgSiO3 100
Métodos de determinação dos valores de PN: são dois os métodos que podem ser utilizados
para essa determinação:
PN Calculado
Realizado a partir dos teores de CaO e MgO indicados para o corretivo a ser avaliado,
utilizando a seguinte fórmula:
PN = % CaO x 1,79 + % MgO x 2,48
PN Determinado
É obtido a partir da análise química de amostras do corretivo em laboratório, com utilização
do método da titulação com indicador. Mas mesmo em laboratório, é utilizada a fórmula anterior para
o cálculo do PN, a partir dos teores obtidos de óxidos de Ca e Mg.
b) Reatividade (RE) – Esse fator está relacionado com a natureza física do calcário.
Possui relação direta com a granulometria do calcário. Quanto mais fino o calcário
mais reativo ele será. A reatividade indica a quantidade de corretivo, em
porcentagem, que reage em um período de três meses em condições ideias de
umidade.
Para os calcários, foram determinadas as taxas de reatividade para as diferentes frações
granulométricas, separadas por peneiras, conforme demonstrado na tabela 7.
Tabela 7 - Frações granulométricas consideradas para determinação da reatividade de calcários.
Fração granulométrica Taxa de Reatividade
(RE) (%)* Peneira n° (ABNT) Dimensão (mm)
maior que 10 maior que 2 0
10 - 20 2 - 0,84 20
20 - 50 0,84 - 0,30 60
menor que 50 menor que 0,30 100
28
* Percentual do corretivo que reagem em 3 meses, em condições ideais de umidade
A determinação da RE de um calcário é realizada com a passagem de uma amostra conhecida
no conjunto peneiras sobrepostas indicadas na tabela 16. Após isso são quantificadas em termos
porcentuais o que passou em cada peneira. A partir da composição granulométrica do calcário é
possível calcular a RE pela seguinte expressão:
RE (%) = %F10-20 x 0,2 + %F20-50 x 0,6 + %F<50 x 1
Na qual:
%F1O-20 = % passante na peneira 10 e retida na 20
%F 20-50 = % passante na peneira 20 e retida na 50
%F < 50 = % passante na peneira 50.
c) Poder Relativo de Neutralização Total (PRNT) - É um índice de qualidade do
calcário que leva em consideração o PN e a RE. Auxilia na determinação da
necessidade de calagem. Geralmente, esse é o único fator considerado na avaliação
de qualidade dos calcários.
𝑃𝑅𝑁𝑇 = (𝑃𝑁 𝑥 𝑅𝐸)
100
Há uma garantia mínima de qualidade dos corretivos para comercialização (tabela 8),
o que é importante na garantia de qualidade e eficiência das práticas de correção de acidez do solo.
A utilização conjunta da RE, PN e PRNT pode ser demonstrada na tabela 18, pela qual se observa
que, para três calcários com mesmo PRNT, os efeitos residuais da correção são diferentes e implicam
também no custo dos insumos.
Tabela 8 - Valores para garantia mínima de poder de neutralização (PN); soma dos óxidos de Ca e Mg, além do PRNT dos principais corretivos de acidez.
Material PN CaO + MgO PRNT
%
Calcários 67 38 45
Cal virgem agrícola 125 68 54
Cal hidratada agrícola 94 50 90
Calcário calcinado agrícola 80 43 120
Outros 67 38 45
Fonte: Brasil (2006).
29
Tabela 9 - Poder residual de três calcários em função das características químicas e físicas.
Calcários PN RE PRNT Ação do PN
% três meses Posterior
1 100 70 70 70 30
2 80 87 70 70 10
3 70 100 70 70 0
Fonte: Alcarde, 1992.
8.2. CLASSIFICAÇÃO DOS CALCÁRIOS
Os calcários para serem comercializados devem ser enquadrados quanto à concentração de
MgO e valores de PRNT da seguinte forma:
a) Classificação dos calcários quanto a concentração de MgO
1. Calcário calcítico - < 10% MgCO3 ou < 5% MgO
2. Calcário magnesiano - 10 a 25% MgCO3 ou 5 a 12% MgO
3. Calcário dolomítico - > 25% MgCO3 ou > 12% MgO
b) Classificação dos calcários quanto ao PRNT
1. Grupo A = PRNT entre 45 e 60%
2. Grupo B = PRNT entre 60,1 e 75%
3. Grupo C = PRNT entre 75,1 e 90%
4. Grupo D = PRNT acima de 90%
1. Dicas gerais para a escolha do calcário
De forma resumida, com base no que foi apresentado anteriormente e na literatura, são
indicadas a seguir os fatores que devem ser considerados para a escolha do:
a) Fatores do manejo
Análise do solo – importante para avaliação e recomendação de doses;
Objetivo da calage – corrigir acidez e/ou fornecer Ca e Mg
Distribuição
Em área total – no pré-plántio (pastagens, culturas anuais)
No sulco de plantio – em culturas perenes
Em faixas – para pomares adultos
Época de aplicação – relação com qualidade do calcário e com o tempo de reação
do insumo até o momento de germinação de sementes ou plantio de mudas no campo.
30
b) Fatores relacionados ao corretivo
Atributos do corretivo: PN, RE, PRNT
Esses atributos influenciam diretamente no tempo de reação e na qualidade da
neutralização da acidez do solo,.
Atributos e manejo químico do solo – sempre importante se observar alguns
importantes parâmetros no solo, como:
Teor de magnésio do solo
% de Ca (Ca%T) e de Mg (Mg%T)
Relação Ca/Mg do solo
Utilização de gesso
c) Fatores Econômicos
Para escolha do calcário é sempre importante os aspectos técnicos do solo e do corretivo. No
entanto, sem esquecer esses dois fatores, há possibilidade de determinação do custo efetivo (CE).
Entre as opções de calcário disponíveis, o que apresentar menor custo efetivo, melhor para aquisição
CE = (Valor Corretivo + Valor Frete)
PRNT
Na qual: CE = Custo efetivo; PRNT = Poder relativo de neutralização total
31
Referências
ALCARDE, José Carlos. Corretivos da acidez dos solos: características e interpretações técnicas.
São Paulo: ANDA, 1992.
BRADY, Nyle C.; WEIL, Ray R. Elementos da natureza e propriedades dos solos. Bookman
Editora, 2009.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 35, de 04
de julho de 2006.
BERG, Björn. Litter decomposition and organic matter turnover in northern forest soils. Forest
ecology and Management, v. 133, n. 1-2, p. 13-22, 2000.
GAMA, M.A.P. Determinação da acidez potencial e da necessidade de calagem em solos do
nordeste paraense. Piracicaba (SP), 1998. 72p.
Gama, M. A. P., Matos, G. S. B. D., Silva, G. R. D., Brasil, E. C., & Nunes, O. F. Potential acidity
estimated by SMP pH in soils of the state of Pará. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 37, n.
1, p. 199-203, 2013
RAIJ, Bernardo Van. Avaliação da Fertilidade do Solo. 2. ed. Piracicaba - SP: Instituto da Potassa
& Fosfato, 1981. p. 3-139
RAIJ, Bernado Van. Fertilidade do Solo e Manejo de Nutrientes. 1. ed. Piracicaba - SP: IPNI -
INTERNATIONAL PLANT NUTRITION INSTITUTE, 2011. p. 1-420.
RAIJ, Bernardo Van. Avaliação da Fertilidade do Solo. 2. ed. Piracicaba - SP: Instituto da Potassa
& Fosfato, 1981. p. 3-139
SILVA, I.R. MENDONÇA, E. S. Matéria orgânica do solo. In: NOVAIS, Roberto Ferreira. et al.
Fertilidade do solo. Viçosa – MG: Sociedade Brasileira de Ciências do Solo, 2007. p. 276-355.
SOUSA, D. M. G. et al. Acidez do solo e sua correção. In: NOVAIS, Roberto Ferreira. et al.
Fertilidade do solo. Viçosa – MG: Sociedade Brasileira de Ciências do Solo, 2007. p. 206-266.
SOUSA, DMG de; LOBATO, Edson. Calagem e adubação para culturas anuais e
semiperenes. Cerrado: correção do solo e adubação, v. 2, p. 283-315, 2004.
TEIXEIRA, Paulo César et al. Manual de métodos de análise de solo. Rio de Janeiro, Embrapa.
573p, 2017.