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O canto da ceifeira brota de uma voz simultaneamente alegre e triste, é suave e musical como um canto de ave.
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A expressão «a sua voz, cheia / de alegre e anónima viuvez» contém uma dupla adjetivação e um paradoxo expressivos; igualmente significante é a metáfora «Ondula».
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O adjetivo «pobre», anteposto ao substantivo «ceifeira», expressa a apreciação subjetiva que o sujeito poético faz da mulher — ‘pobre’, porque não sabe. Se o mesmo adjectivo estivesse colocado depois do substantivo, indicaria a condição social da ceifeira (e teria então o seu valor denotativo.
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Ao ouvir o canto, o poeta sente-se, paradoxalmente, alegre e triste.
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A ceifeira canta «sem razão», isto é, sem pensar. Pelo contrário, o sujeito poético, que sente tristeza e alegria ao ouvir o canto, pensa no que sente, não consegue sentir sem pensar. Nele, a sensação converte-se em pensamento, intelectualiza-se.
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O poeta gostaria de ser a ceifeira com a sua «alegre inconsciência», o que é o mesmo que dizer que gostaria de sentir sem pensar, mas gostaria, simultaneamente, de ser ele mesmo, de ter a consciência de ser inconsciente. O que o poeta deseja, afinal, é unir o sentir ao pensar.
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É com tristeza e desolação que o poeta afirma a consciência que tem do peso da ciência, do pensamento, que impede que a vida, que é tão breve, seja vivida inconsciente e alegremente.
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No final do poema, o poeta exprime o desejo de se deixar invadir e conduzir pelas sensações despertadas pela natureza — o céu, o campo — e pelo canto da ceifeira. Este desejo de sentir equivale ao desejo de não pensar.
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a. = 2.ª parte // O tom coloquial contribui para a aproximação do sujeito da enunciação à figura que capta as suas atenções (cfr. as 2.ªs pessoas; as exclamações; o estilo fragmentado).
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b. = 1.ª parte // As aliterações (/l/, nos vv. 5-6: «ondula», «limpo», limiar»; /v/, «viuvez», «voz», ave», curvas», «suave», «ouvi-la», «tivesse», «vida») e assonâncias de sons nasais (/ã/, passim) produzem um ritmo ondulatório coincidente com a natureza do elemento descrito.
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c. = 1.ª parte // A focalização incide sobre o canto da ceifeira e os seus efeitos contraditórios sobre o eu lírico.
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d. = 1.ª parte // O uso do presente do indicativo («canta», «ceifa», «ondula», «há», «tem») cumpre propósitos descritivos.
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e. = 2.ª parte // A linguagem expressiva (cfr. exclamações, interjeições [«ah»], apóstrofes [«ó céu!», «ó campo», «ó canção»]) denota a emoção e o desejo de transformação do sujeito poético.
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f. = 2.ª parte // O recurso a formas verbais no imperativo («entrai», «tornai», «passai», «derrama») concretiza os sucessivos apelos do «eu».
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a. A intromissão de um ponto de vista valorativo do sujeito poético na descrição do canto da ceifeira, que se reflete em formas de um discurso dubitativo, modalizante ("julgando-se feliz, talvez", "pobre ceifeira" e "alegre e anónima viuvez"),
6. perturba e compromete a descrição objetiva desse canto.
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b. O verso 14
4. sintetiza as razões da angústia do eu lírico (o pensamento racional como justificação para a incapacidade de sentir verdadeira e instintivamente) e consequente sentimento de admiração face à ceifeira.
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c. Com o uso de formas no infinitivo pessoal ("poder ser tu", "Ter a tua alegre"), o sujeito poético
2. expressa os seus desejos de identifi-cação com a ceifeira.
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d. Na explicitação do seu primeiro desejo ("Ah, canta, canta sem razão!/[...] "Derrama no meu coração /A tua incerta voz ondeando!", w. 13,15-16), o eu enunciador
3. manifesta a sua necessidade de contacto com um elemento externo confortador.
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e. Ao contrário da primeira aspiração, viável, o segundo desejo declarado pelo eu lírico ("Ah, poder ser tu, sendo eu", v. 17)
5. manifesta uma vontade de permuta impraticável, porque paradoxal, confirmada por outro desejo paradoxal: "Ter a tua alegre inconsciência / E a consciência disso!".
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f. Com a exclamação "[...] A ciência / Pesa tanto e a vida é tão breve!" (vv. 20-21), o sujeito poético
7. reforça a dor de pensar, de ser lúcido, tema do poema.
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g. Perante os factos, no final da quinta quadra e na última estrofe, através de sucessivas apóstrofes, o poeta
1. dirige a alguns elementos naturais do cenário em que a ceifeira se move um último apelo, revelador do seu desejo de dispersão, de aniquilamento, que culmina no verso final.
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A sequência de imagens pode ser entendida como uma representação do drama de Fernando Pessoa associado às dicotomias pensamento/sentimento e infelicidade/felicidade: à medida que o pensamento se reduz, aumenta a felicidade, pelo que a inconsciência provoca maiores sorrisos.
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TPC — Em folha solta, em cem a cento e vinte palavras, redige o texto pedido em «Escrita», 1, p. 43.
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