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GUILHERME OLIVEIRA FERREIRA
TAMARA LÚCIA DE OLIVEIRA
EUTANÁSIA: DIREITO DE MATAR OU DIREITO DE MORRER
PATOS DE MINAS
2011
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GUILHERME OLIVEIRA FERREIRA
TAMARA LÚCIA DE OLIVEIRA
EUTANÁSIA: DIREITO DE MATAR OU DIREITO DE MORRER
Trabalho apresentado como requisito
parcial de avaliação em todas as
disciplinas do primeiro período do curso
de Direito do Centro Universitário de
Patos de Minas, sob orientação da
professora Morisa Martins Jajah.
PATOS DE MINAS
2011
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EUTANÁSIA: DIREITO DE MATAR OU DIREITO DE MORRER
Eutanásia, palavra de origem grega que significa morte doce, boa, calma. É
diferente do homicídio por compaixão, pois este é considerado crime tendo em mira
sofrimentos intoleráveis. Também é definida por alguns como direito de matar, que é
conferido a uma junta médica de dar uma morte suave aos doentes que sofram dores
insuportáveis, tenham doenças incuráveis, e que desejam ou já tenham solicitado a morte.
Atualmente é entendida como a antecipação consentida e intencional da morte de
uma pessoa, como gesto de solidariedade, piedade ou misericórdia. Pode ser feita por meio do
controle ou assistência de um parente, amigo ou especialista, em casos de grave enfermidade
degenerativa ou sofrimento insuportável, sem que haja qualquer possibilidade concreta de
cura.
Entretanto muito já se praticou eutanásia pelo mundo ao longo do tempo. Na
Índia, o enfermo era jogado publicamente ao rio Ganges. Os brâmanes tinham por lei
abandonar ou matar recém-nascidos desgraçados. Em Esparta as criaturas fracas, doentes,
imprestáveis eram atiradas do cume de um monte a fim de evitar que sofressem e se
tornassem carga inútil. Ou seja, os enfermos, os débeis, os velhos eram sacrificados com o
propósito de se evitar o sofrimento.
A Eutanásia é considerada por grande parte dos nossos doutrinadores como um
crime, mas essa decisão é extremamente formal, pois devem ser feitas várias considerações.
Essa situação necessita de inúmeros requisitos, tais como: paciente padecendo de um
sofrimento irremediável, em estado terminal, não havendo solução médica razoável e chances
praticamente nulas. Se houver pedido por escrito, voluntário e lúcido do paciente o médico
necessita ouvir a opinião de um ou dois colegas, para cumprir o pedido. A posição da família
é imprescindível, sobretudo quando o enfermo já perdeu a consciência. A eutanásia só pode
ser falada se previamente o paciente manifestou sua vontade com liberdade. Sendo assim, a
morte não é considerada abusiva.
A medicina em geral deve ficar muito atenta, diagnósticos errados podem ocorrer
porque o erro é humano. Um médico pode ver uma doença como incurável e, no entanto, por
forças que nós mortais desconhecemos, ou até mesmo pelo destino do paciente o mal ser
curável.
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Contudo, grande parte da sociedade considera que o pedido de um enfermo em
sofrimento não basta para médicos lhe darem a morte, a angústia e a dor podem passar em
uma noite de sono e alívio. Com isso a vontade de morrer desaparecer.
Muitos médicos repelem-se à idéia de ‘ajudar’ os pacientes, pois dizem que o seu
dever não é apressar a morte e sim conservar e prolongar a vida. Sua missão não é a de
desanimar e matar, e sim curar, aliviar sofrimentos, consolar, pois a esperança existe enquanto
vida existir. A morte tem a sua hora e pede respeito quanto a isso.
Todos têm direito a intervenção médica a favor da vida fundamentada pelo código
penal no parágrafo 3º do art. 146.
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave
ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade
de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do
paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de
vida;
II - a coação exercida para impedir suicídio.
(CP, Art. 146, § 3º.)
No qual diz que não se compreende como constrangimento ilegal, mesmo sem o
consentimento do paciente ou representante legal. Tal se justifica por alto risco de vida, o que
necessita decisão imediata. Portanto o médico pode e deve tratar com o uso de intervenção
bem intencionada e a utilização social dos recursos da ciência médica, visando salvar a vida
mesmo nos casos em que não é essa a vontade do doente, por ignorância do mal ou por
vontade de morrer. A saúde é o bem supremo da vida e deve ser proporcionada a todos,
mesmo aos que desdenham por ignorância ou outros motivos quaisquer.
A dignidade da pessoa humana é tutelada pela Constituição no Art. 1º, III, CF.
Logo viver com dignidade subentende também morrer com dignidade, isso é uma
conseqüência da vida que em geral esperamos. A natureza deve seguir o seu rumo, sem que
em determinadas situações atinja a dignidade da pessoa. Diante da sociedade atual, tão ligada
no corpo, na saúde, na perfeição, no bem estar físico e mental a dor e o sofrimento são
rejeitados via de regra.
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Diante desse contexto apresenta-se a relação no que se refere ao conteúdo de
Sociologia Geral e do Direito à análise será feita com Ciência Política. A sociedade tem
grande influência nas decisões políticas, a opinião pública é primordial na análise das
decisões, uma vez que teoricamente é para o povo que os governantes decidem.
Em sociedades mais “liberais”, onde o nível de desenvolvimento intelectual e
cultural é maior, temas muito polêmicos são resolvidos mais facilmente. Alguns países da
Europa permitem em sua legislação que médicos possam realizar eutanásia em pacientes
terminais.
No Brasil tanto esse tema como outros geram muita repercussão, por ter uma
sociedade com muitos valores religiosos conservadores. Esses valores influenciam na forma
com que os legisladores criam as normas. Dá a importância de existência de um Estado laico,
onde o Estado é completamente neutro em relação às questões religiosas.
Na relação das disciplinas de Introdução ao Estudo do Direito e Direito Civil I,
o Código Civil Brasileiro vê a eutanásia no âmbito da ilicitude, os juízes em sua maioria
ficam por conta de aplicar códigos de modo generalizado e não analisando o caso concreto
com mais humanidade. Cada caso possui suas particularidades, o que faz com que cada
situação tenha que ser analisada de forma diferente.
O direito a vida é o primeiro do ser humano, ninguém escolhe quando, como, por
que e em que família nascer. Mas depois de nascer todos temos direito a uma vida com
dignidade. A Eutanásia envolve essa questão reflexiva tanto sobre o direito, a moral a ética e
os costumes da sociedade.
Quanto ao papel do legislador na visão multidisciplinar das disciplinas de
Introdução ao Estudo do Direito e de Ciência Política, o direito a vida é tutelado na
Constituição, nos atos internacionais e no direito infraconstitucional. È o primeiro direito do
ser humano, ninguém escolhe quando, como, por que e em que família nascer. Mas depois de
nascer todo ser humano tem direito a uma vida com dignidade. Mas esse direito de vida digna
nos leva a refletir se também temos o direito de uma morte digna. A Eutanásia envolve essa
questão reflexiva tanto sobre o direito, a moral a ética e os costumes da sociedade.
“A dignidade da pessoa humana e a vida são bens jurídicos
paralelos e correlatos, mas também independentes. Sem vida não há dignidade,
mas sem dignidade abre-se a possibilidade de escolha sobre poder ou não haver
vida, uma vez que esta é um direito humano assegurado pela Constituição
Federal e não uma obrigação imposta pelo Estado a um de seus objetos.”
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(MOTTA, Artur Francisco Mori Rodrigues. Da atipicidade penal da eutanásia
no Brasil.)
A idéia da morte antecipada traz consigo o intenso conflito entre direito,
dignidade da pessoa humana; o resultado da morte; e suas conseqüências jurídicas. Motivo
pelo qual a prática da eutanásia é atualmente uma questão muito delicada, pois envolve além
de questões racionais objetivas, questões filosóficas e religiosas subjetivas, todas de grande
impacto e relevância sobre o tema.
O filme ‘Mar Adentro’ mostra o caso do marinheiro Ramón Sampedro que num
acidente no mar fica tetraplégico desde os seus 25 anos. Não conformado com a situação de
seu estado físico, movimentando apenas os músculos da face e tendo vista de apenas uma
janela aberta que dá para o mar, luta incansavelmente pelo seu ‘direito de morrer’ na justiça.
Em sua defesa, num trecho de requerimento endereçado a Corte judicial Ramón disse:
“Se não se reconhece a cada indivíduo a oportunidade de fazer aquilo
que sua consciência considera bom, não há ética possível, pois não há evolução
possível. Se não se reconhece ao indivíduo o direito de uma morte racional,
voluntariamente decidida, a humanidade não poderá chegar a aceitar culturalmente
a sua própria mortalidade. E se não se entende o sentido da morte, tampouco se
entenderá o sentido da vida.”
(FARIA; ROSENVALD, Direito Civil: teoria geral 2009; pp. 293-294)
Portanto não se pode generalizar. Devemos olhar o sofrimento e a angústia de
cada um. Morrer é uma conseqüência humana, nascemos com essa finalidade. A UTI, a cama,
os remédios podem até prolongar uma vida, mas não livra ninguém da morte. Abreviar o
decurso vital com o consentimento do enfermo, priorizando sempre a sua dignidade, pode ser
um presente para o paciente que não agüenta mais sua situação. O que importa ao se falar em
eutanásia, não é um posicionamento contrário ou a favor. Mas, sobretudo, uma reflexão
cuidadosa sem influências pessoais, religiosas ou éticas. Deve ser colocada em balança a
dignidade da pessoa humana no caso concreto. Uma vida com qualidade almeja e projeta uma
morte digna.
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REFERENCIAS
Filme Mar Adentro, com Javier Bardem. Disponível no setor de Multimídia, da Biblioteca.
Número: 791.43 M298m. Ano de 2005.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. O direito à morte digna e a questão da
eutanásia. Direito Civil: teoria geral. 8. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. Cap. IV, item
8.4, p. 290-295.
SÁ, Maria de Fátima Freire de. Autonomia privada e biodireito: podemos, legitimamente,
pensar em um direito de morrer? Revista Jurídica UNIJUS. Uberaba: Universidade de
Uberaba. 2008. v.11, n.15.
BURGIERMAN, Denis Russo. O direito de morrer. Superinteressante. São Paulo, v.15, n. 3.
42-50 p., mar/2001.
SIQUEIRA-BATISTA, Rodrigo and SCHRAMM, Fermin Roland. Eutanásia: pelas veredas
da morte e da autonomia. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2004, vol.9, n.1, pp. 31-41. ISSN
1413-8123.
Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/csc/v9n1/19821.pdf
HORTA, Márcio Palis. Eutanásia - Problemas éticos da morte e do morrer. Revista
Bioética, Vol. 7, n. 1
Disponível em:
http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/view/290/429
MOTTA, Artur Francisco Mori Rodrigues. Da atipicidade penal da eutanásia no Brasil. Jus
Navigandi, Teresina, ano 14, n. 2230, 9 ago. 2009.
Disponível em: http://jus.com.br/revista/texto/13290. Acesso em: 8 maio 2011, as 10:25.
GOMES, Luiz Flávio. Eutanásia e o novo Código de Ética Médica. Jus Navigandi,
Teresina, ano 14, n. 2310, 28 out. 2009.
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Disponível em: http://jus.com.br/revista/texto/13754. Acesso em: 9 maio 2011, as 9:40.
BARROSO, Luís Roberto; MARTEL, Letícia de Campos Velho. A morte como ela é:
dignidade e autonomia individual no final da vida. Revista da Faculdade de Direito da
Universidade Federal de Uberlândia. Edufu, v. 38, n. 1, 2010.
Disponível em: <http://www.revista.fadir.ufu.br/viewarticle.php?id=247>.