Aula 12 Ato Administrativo -
Parte I
Prof. Manoel Messias Peixinho
Fernanda A. K. Chianca
Introdução
Esta aula será destinada ao estudo do Ato Administrativo. Para tanto, serão apresentados:
• O conceito de ato administrativo;
• Os princípios que norteiam os atos administrativos;
• Elementos e vícios dos elementos do ato administrativo;
• Os atributos do ato administrativo;
• Formação do ato administrativo;
• Distinção entre eficácia e exequibilidade;
• Classificação dos atos administrativos quanto aos destinatários, prerrogativas, liberdade de ação,
intervenção da vontade administrativa, efeitos, retratabilidade e autoexecutoriedade;
• Extinção dos atos administrativos;
• Anulação, revogação e cassação dos atos administrativos;
• Espécies dos atos administrativos quanto à forma de exteriorização e quanto ao seu conteúdo.
Conceito de Ato Administrativo
Ato praticado no exercício da função administrativa, sob o regime de direito público,
que enseja uma manifestação de vontade do Estado ou de quem o represente.
Para José do Santos Carvalho Filho o ato administrativo consiste na “exteriorização da
vontade de agentes da Administração Pública ou de seus delegatários, nessa condição,
que, sob regime de direito público, vise à produção de efeitos jurídicos, com o fim de
atender ao interesse público”.
Princípios do Ato
Administrativo
- Art. 2º da Lei nº
4.717/65
Legalidade: o Administrador só poderá fazer aquilo que estiver previsto em Lei. Pode
ele, portanto, realizar todos os atos contemplados pelo Direito (CF/88, leis
infraconstitucionais, princípios, jurisprudência e doutrina) – Legalidade extensiva.
Autotutela: a Administração Pública tem o poder de controlar os próprios atos,
anulando-os quando ilegais ou revogando-os quando inconvenientes ou inoportunos,
sem a necessidade de recorrer ao Judiciário.
Moralidade: a Administração deverá ser pautada pela ética e pela honestidade.
Publicidade: todos os atos da Administração devem ser públicos uma vez que a
publicidade permite o controle da máquina estatal pelos cidadãos.
Eficiência: a Administração Pública deverá ser pautada pela organização, celeridade e
qualidade dos serviços prestados
Solenidade: todos os atos emanados da Administração Pública deverão ser escritos,
registrados e publicados.
Impessoalidade: a Administração Pública não tem o condão de ajudar ou prejudicar
ninguém a partir do interesse pessoal de seus administradores.
Princípios do Ato Administrativo - Jurisprudência
“A administração pública pode anular, a qualquer tempo, o ato de provimento
efetivo flagrantemente inconstitucional, pois o decurso do tempo não possui
o condão de convalidar os atos administrativos que afrontem a regra do
concurso público” (STJ, AgInt no REsp 1444111/RN,Rel. Min. Benedito
Gonçalves, Primeira Turma, Dje 12/03/2018).
“Desde que devidamente motivada e com amparo em investigação ou
sindicância, é permitida a instauração de processo administrativo disciplinar
com base em denúncia anônima, em face do poder-dever de autotutela
imposto à Administração” (611 do STJ).
Princípios do Ato Administrativo - Jurisprudência
A exigência de dedicação exclusiva ao cargo de Secretário de Saúde visa a garantir a eficiência e qualidade do serviço público prestado, cujo objeto é a saúde de todos os munícipes. Portanto, a realização de atividades privadas, em detrimento do serviço público, por contrariar frontalmente o texto expresso de lei e ofender os princípios administrativos da legalidade, eficiência e moralidade, configura ato de improbidade administrativa”. Vulneração dos arts. 9º, caput, XI, e 10, Caput, da Lei 8.429/1992(STJ, REsp 1737642/PR, Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 12/03/2019). “A nomeação ou a convocação para determinada fase de concurso público após considerável lapso temporal entre uma fase e outra, sem a notificação pessoal do interessado, viola os princípios da publicidade e da razoabilidade, não sendo suficiente a publicação no Diário Oficial”(STJ, AgRg no RMS 039895/ES,Rel. Min. Og Fernandes, Segunda Turma, Julgado em 06/02/2014,DJE 14/02/2014).
Princípios do Ato Administrativo - Jurisprudência “A demora excessiva e injustificada da Administração para cumprir obrigação que a própria Constituição lhe impõe é omissão violadora do princípio da eficiência, na medida em que denuncia a incapacidade do Poder Público em desempenhar, num prazo razoável, as atribuições que lhe foram conferidas pelo ordenamento (nesse sentido, o comando do art. 5º, LXXVIII, da CF). Fere, também, a moralidade administrativa, por colocar em xeque a legítima confiança que o cidadão comum deposita, e deve depositar, na Administração”(STJ, MS nº 19.132 – DF, Min. Sérgio Kukina, Primeira Sessão, Dje 27.03.2017).
“Os empregados do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais – CREA/MG - não gozam da estabilidade assegurada aos servidores públicos da Administração direta, ainda que tivessem sido contratados por concurso público. Precedentes. III – A despedida deverá ser motivada apenas quando o provimento do cargo ocorrer por concurso público, pois este ato administrativo é vinculado. Com esse entendimento visa-se assegurar que os princípios da impessoalidade e da isonomia, observados no momento da admissão por concurso público, sejam também respeitados por ocasião da dispensa”(STF, RE 773774 AgR, Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, Dje. 15-08-2014).
Elementos do
Ato
Administrativo
Competência: É o poder que decorre da lei conferida ao agente administrativo
para o desempenho regular de suas atribuições. Via de regra é irrenunciável,
improrrogável e imprescritível. Pode ser delegada somente nos casos previstos em
lei.
Finalidade: Todo ato administrativo possui um escopo, um fim a ser perseguido,
o qual sempre será, em última instância, o interesse público. É um elemento sempre
vinculado. São nulos os atos que descoincidam com sua finalidade.
Forma: A exteriorização do ato deverá seguir a devida formalidade, ou seja, via de
regra todos os atos deverão ser escritos e motivados. O vício da forma afeta
necessariamente o ato em si.
Motivo: Situação fática e jurídica que justifica a prática do ato administrativo.
Tem-se como pressuposto de direito a lei que embasa o ato administrativo e o
pressuposto de fato as circunstâncias, situações ou acontecimentos que levam a
Administração a praticar o ato.
Objeto: efeito jurídico imediato do ato, ou seja, o resultado prático causado em
uma esfera de direitos que poderá ser a criação, modificação ou comprovação de
situações concernentes a pessoas, coisas ou atividades sujeitas à Ação do Poder
Público. Para tanto este objeto deverá ser lícito, possível e determinado (ou
determinável).
Elementos do Ato Administrativo –Jurisprudência
“Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ele cabe o mandado de segurança ou medida judicial” (Súmula n. 510/STF).
“Provimento ao requerimento de redução do valor da multa, tendo em vista que, no caso, em razão do elevado valor da causa, a referida sanção não guarda relação de proporcionalidade com a finalidade a que se destina. 3. Embargos de declaração parcialmente acolhidos apenas para reduzir a multa de 10% para 1%”(STF, ARE 893216 AgR-ED/SP, Min. Roberto Barroso, Primeira Turma, Dje 2-04-2018.
O militar temporário que não adquiriu estabilidade pode ser licenciado pela Administração por motivo de conveniência e oportunidade (STJ, REsp 1651532/CE,Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, Dje 20/06/2017).
Elementos do Ato Administrativo –Jurisprudência
“A contratação de advogados pela administração pública, mediante procedimento de inexigibilidade de licitação, deve ser devidamente justificada com a demonstração de que os serviços possuem natureza singular e com a indicação dos motivos pelos quais se entende que o profissional detém notória especialização(STJ, AgInt no AgRg no REsp 1330842/MG,Rel. Min. Regina Helena Costa, Rel. p/ Acórdão Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, Dje 19/12/2017).
A imissão provisória na posse do imóvel objeto de desapropriação, caracterizada pela urgência, prescinde de avaliação prévia ou de pagamento integral, exigindo apenas o depósito judicial nos termos do art. 15, § 1º, do Decreto-Lei n. 3.365/1941(STJ, REsp 1234606/MG,Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, Dje 04/05/2011).
Vícios dos
elementos do Ato
Administrativo
Art. 2º,parágrafo
único, incisos “a” “b”,
“c”, “d” e “e” da Lei
4.717/65
“Incompetência fica caracterizada quando o ato não se
incluir nas atribuições legais do agente que o praticou”.
“Desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o
ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou
implicitamente, na regra de competência.
“O vício de forma consiste na omissão ou na observância
incompleta ou irregular de formalidades indispensáveis à
existência ou seriedade do ato”.
“Inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de
fato ou de direito, em que se fundamenta o ato, é
materialmente inexistente ou juridicamente inadequada
ao resultado obtido”
“A ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato
importa em violação de lei, regulamento ou outro ato
normativo”.
Vícios dos elementos do Ato Administrativo Art. 2º,p.u, incisos “a” “b”, “c”, “d” e “e” da Lei 4.717/1965:
São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de:
Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as seguintes normas:
a) incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas
atribuições legais do agente que o praticou;
b) o vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta ou
irregular de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato;
c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em
violação de lei, regulamento ou outro ato normativo;
d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de
direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou
juridicamente inadequada ao resultado obtido;
e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a
fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de
competência.
Referências
Para explorar o tema de forma mais profunda, apresentamos
abaixo a bibliografia utilizada na elaboração da aula, bem como
demais links para acesso a outros conteúdos relativos ao tema:
FILHO, José dos Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2016, p. 101-177. GASPARINI, Diógneses. Direito Administrativo. 10ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, p. 21). MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 31ª Edição, pág. 166.