UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO LIBERTAS CONSULTORIA E TREINAMENTO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE EQUIPES
AUTO-ESTIMA, IMPORTANTE FATOR EMOCIONAL NO MUNDO DAS ORGANIZAÇÕES.
BÁRBARA RASHMA CAVALCANTI DE FRANÇA
RECIFE 2007
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AUTO-ESTIMA, IMPORTANTE FATOR EMOCIONAL NO MUNDO DAS ORGANIZAÇÕES.
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Monografia de Bárbara Rashma Cavalcanti de França, apresentada à Universidade Católica de Pernambuco, para obtenção de título de especialista em Gestão de equipes, com foco em dinâmica de grupos, sob a orientação da professora Maria Aparecida Craveiro Costa.
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Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto Esse eterno levantar-se depois de cada queda Essa busca de equilíbrio no fio da navalha Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo Infantil de ter pequenas coragens.
Vinicius de Morais
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Os pensamentos traduzidos em palavras junto ao empenho e
energia desprendidos constantemente na construção desse
trabalho, ofereço a todos que fizeram parte da história de
nascimento desta monografia e de meu momento pessoal,
àqueles que com uma palavra, um gesto, uma expressão e
sugestão me fizeram enriquecer os escritos e me ajudar a ser
alguém mais capaz, mais eficaz, mais humana e assim, mais feliz.
Dedico principalmente à equipe Libertas, às aulas e aos
ensinamentos que me ajudaram no sustento emocional para o
desenvolvimento de um trabalho com um tema tão significativo na
minha vida.
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RESUMO
O presente trabalho monográfico procura desenvolver um estudo teórico a respeito da
Auto-estima como diferencial emocional e comportamental no mercado de trabalho, Busca,
ainda, traçar uma história sobre o lugar das emoções nas organizações, para que o leitor
possa compreender a evolução da psique junto ao meio empresarial, e assim, as exigências
e pressão cada vez maior do mercado frente ao intelecto e psicológico dos recursos humanos
nas empresas. A presente pesquisa tem natureza bibliográfica, para isso foi desenvolvido um
diálogo entre autores da psicologia, sociologia e administração empresarial, discutindo o
conceito da auto-estima em seus mais diferenciados aspectos, junto ao histórico da evolução
do trabalho e do lugar das emoções na realidade das corporações, e por fim a discussão
frente à importância da sensação de auto-estima para o enfrentamento das novas demandas
empresariais. A partir dessa pesquisa percebemos a auto-estima como uma importante fonte
de comportamentos, pensamentos, sensações e emoções essenciais para o destaque
pessoal e profissional do individuo inserido, no mercado de trabalho atual.
Palavras – Chave: Auto-Estima. Fator Emocional. Organizações.
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ABSTRACT
This monograph develops a theoretical study of Self-Esteem as an emotional and behavioral
factor in the job market. The work further seeks to trace the history and role of emotions
within organizations, helping to comprehend the evolution of the human psyche in the
business world context; revealing ever more present demands and pressure in the market;
and confronting the intellect and psychology of Human Resource Departments. The Study is
bibliographic in nature, utilizing a dialog developed among authors of works related to
Psychology, Sociology, and Business Administration, discussing concepts involving various
aspects of self-esteem together with the history of the evolution of work, the role of emotions
in Corporate Reality, and finally, discussion of the importance of notions involving self-esteem
when confronting new business demands. From the study, we perceive self-esteem as an
important basis for behavior, thoughts, sensations, and essential emotions that help bring to
light the personal and professional characters of individuals placed in the current job market.
Key-words: Self-Esteem. Emotional Factor. Organizations.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................08 CAPÍTULO 1 1. AUTO-ESTIMA, A EMOÇÃO DO AUTO-RESPEITO.................................................09 CAPÍTULO 2 2. O MERCADO DE TRABALHO E SUAS TRANSFORMAÇÕES................................14 CAPÍTULO 3 3. AUTO-ESTIMA COMO DIFERENCIAL NO MUNDO DAS ORGANIZAÇÕES...........21 4. CONCLUSÃO.............................................................................................................27 REFERÊNCIAS................................................................................................................30
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INTRODUÇÃO
A presente monografia intitulada Auto-Estima, importante fator emocional no mundo
das organizações é o trabalho de conclusão do curso de especialização em gestão de
equipes, promovido pela Universidade Católica de Pernambuco e Libertas Consultoria e
Treinamento.
Trata-se de um tema que visa promover uma reflexão sobre a importância da Auto-
estima como o sentimento de auto-respeito e autoconhecimento, para àqueles que estão,
e querem permanecer, ou desejam a inserção no mercado de trabalho contemporâneo.
Mercado esse, caracterizado atualmente pelas suas peculiaridades e exigências cada vez
mais crescentes frente ao trabalhador.
Essa reflexão será feita através de um estudo desenvolvido a partir de capítulos
que se comprometem em falar sobre o conceito de Auto-estima, de seu significado a nível
social, pessoal e psicológico. Sobre as transformações históricas do mercado de trabalho,
suas novas demandas e como o sujeito trabalhador pode estar inserido nessa realidade,
além de discutir sobre a importância da auto-estima como potencializadora das chances
do trabalhador estar inserido no mercado de trabalho atual extremamente competitivo e
dinâmico, devido as suas características comportamentais extremamente válidas ao
trabalhador atual. A discussão é feita através da psicologia, sociologia, e administração,
para que o diálogo entre esses autores e disciplinas possa transmitir de forma ampla a
idéia da auto-estima como real fonte de comportamentos importantes para o mercado de
trabalho atual.
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1. AUTO-ESTIMA, A EMOÇÃO DO AUTO-RESPEITO.
“Não existe julgamento de valor mais importante, fator mais decisivo para a motivação e o desenvolvimento psicológico, do que a avaliação que fazemos de nós mesmos”.
Nathaniel Branden, 1999.
O conceito da auto-estima abre a possibilidade de importantes diálogos entre as
ciências da psicologia, da saúde e área social. O dicionário Aurélio, a conceitua de forma
objetiva, como sendo o valor que damos a nós mesmos, o nosso amor próprio. As
enciclopédias eletrônicas, como a Wikipédia, discorrem mais sobre o tema quando falam
da auto-estima como a avaliação subjetiva que fazemos sobre nós mesmos, de forma
positiva ou negativa, em diferentes graus, envolvendo tanto crenças auto-significantes
como comportamentos, acrescenta, ainda, que a auto-estima pode ser construída como
uma característica permanente da personalidade ou como uma condição psicológica
temporária.
A auto-estima, em seu significado pode vir a ser confundida com conceito de
Narcisismo ou de Egocentrismo. A palavra Narcisismo é derivada da mitologia Grega.
Narciso era um jovem e belo rapaz que rejeitou a ninfa Eco, que desesperadamente o
desejava. Como punição, foi amaldiçoado de forma a apaixonar-se incontrolavelmente por
sua própria imagem refletida na água. Incapaz de levar a termo sua paixão, Narciso
suicidou-se por afogamento. Foi a partir desse mito Grego que a palavra Narcisismo
ganhou o significado de uma característica da personalidade que reflete a paixão por si
mesmo. A psicologia e psiquiatria o consideram, quando excessivo, um estado patológico;
no entanto, Freud acreditava que algum nível de Narcisismo constitui uma parte de todos
no nascimento, e Morrison acrescenta ainda que, em adultos, um nível razoável de
Narcisismo saudável permite que um sujeito equilibre a percepção de suas necessidades
em relação às de outrem. Outro fenômeno psicológico que pode ser confundido com a
auto-estima é o chamado Egocentrismo, quando o sujeito tem a sensação de ser o centro
das coisas e das pessoas, esse sentimento reflete uma atuação de superioridade.
Diferentemente da auto-estima essa sensação é caracterizada como uma tentativa de
esconder sentimentos negativos de si mesmo.
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No que diz respeito ao desenvolvimento da auto-estima na formação da personalidade
humana, são importantes os primeiros contatos do sujeito com o mundo, as suas
primeiras relações, sejam elas consigo mesmo, com o outro e com o mundo. A forma
como nos relacionamos desenvolve em nós um padrão dinâmico que tende a caracterizar
a personalidade de cada um. A relação mãe-filho, principalmente em seus primeiros anos
de vida, oferece um tipo de base à criança para que a mesma consiga elaborar seus
pontos de referência para a relação com os outros e consigo mesmo, é aí que o
sentimento da auto-estima começa a se formar. Se a criança recebe sinais positivos do
mundo, sinais que transmitam confiabilidade, segurança e sentimentos agradáveis, ela irá
se guiar por essa linha perceptiva tanto com a realidade externa, como com a interna. E à
medida que se desenvolve biologicamente e fisiologicamente, amadurece essas suas
impressões, e as reflete em suas atitudes.
Nossas experiências na infância – ou, mais precisamente, a maneira como a criança interpreta sua experiência – definem as bases do nível de auto-estima que teremos pela vida afora. Os adultos que dão a criança uma dimensão racional e coerente da realidade; que demonstram amor, respeito e confiança na capacidade e no valor da criança; que não ofendem, não debocham nem a agridem física ou emocionalmente; que sustentam padrões e valores que inspiram nela o que ela tem de melhor – esses adultos podem tornar simples e natural o caminho para uma auto-estima saudável (embora não necessária, ou invariavelmente não se pode deixar de levar em conta as decisões e as escolhas da própria criança). Os adultos que agem de maneira oposta tolhem ou, às vezes, impedem o caminho (sem a ajuda alheia) à auto-estima. (BRANDEN, 1999, p. 45).
Percebemos assim, que a identidade, que nos faz ter determinadas ações, reações,
pensamentos e sensações como a auto-estima, vai sendo construída aos poucos, através
das experiências interpessoais. Quando se vivencia a sensação de equilíbrio, aceitação e
bem estar, essas características são apreendidas como possibilidade real para o
individuo, então, as atitudes de auto-aceitação, autoconsciência e auto-respeito são
projetados na personalidade do individuo. O processo de propriocepção fornecerá dados
para a sensação genérica, a depender dessas percepções, formará uma auto-imagem
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mais ou menos positiva. Segundo Moscovici (2001), sentimentos diversos poderão aflorar
com mais freqüência, influenciando assim, a auto-estima, o autoconceito, a autoconfiança
e conseqüentemente, como o individuo vai se olhar, cuidar, valorizar, gostar.
Importante ressaltar que, dentro dessa dinâmica de formação da personalidade,
quanto mais jovens maiores são as influências do outro na formação da mesma, a
modalidade relacional mãe-filho, se configura principalmente no primeiro ano de vida,
como a primeira referência perceptivo emocional da criança, essa relação serve de
modelo condicionador das suas atitudes positivas, de sua auto-estima, comportamentos
sadios de confiança básica e aceitação dos outros e do mundo; ou por outro lado, de
desconfiança generalizada, retraimento emocional ou agressividade imotivada.
Os membros da família reforçam certas atitudes e padrões de conduta; amigos, professores, colegas de escola e de trabalho, chefes e patrões também contribuem para reforçar e modificar alguns aspectos desse modelo (...) De qualquer maneira, a família fornece padrões iniciais de relacionamento que poderão ser consolidados ou contrariados mais tarde na escola, no ambiente de trabalho, na sociedade em geral. (MOSCOVICI, 2001, p. 181).
A auto-estima, quando estimulada na formação de nossa personalidade, se
torna em nosso ego uma sensação de competência para lidar com as adversidades
do mundo externo. De acordo com Branden (1999) adquirimos a capacidade própria
de pensar, aprender, tomar decisões adequadas e reagir de maneira positiva às novas
condições. Ela estaria ligada a uma sensação de eficácia, como se o individuo com um
grau “sadio” de auto-estima tivesse uma confiança absoluta nos processos pelos quais
raciocina, compreende, aprende, escolhe, decide e orienta suas ações.
A “verdadeira” auto-estima, a que está intrínseca em nossa personalidade
funciona então, como uma sensação, e não como um sentimento que possa ser
verbalizado ou ensinado, é uma impressão difícil de discriminar e identificar, porque
nunca deixa de estar presente, pois ela funciona simplesmente como pano de fundo de
todas as outras sensações que permeiam o sujeito; funciona como o contexto básico
ou o reduto de todas as reações.
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De acordo com Branden, (Ibid) a sensação de auto-estima compõe-se de dois
elementos básicos: a sensação de eficácia, já citada anteriormente, e o respeito de si
mesmo. Auto-eficácia é a certeza da competência mental, por extensão, representa a
confiança na capacidade intelectual. O auto-respeito é a percepção de que o êxito, o
progresso e a realização cabem naturalmente a você. Por ser um modo particular de
vivenciar a si próprio, ela é mais complexa do que qualquer retrato mental que
possamos fazer de nós mesmos, ou mais profunda que qualquer sensação
passageira; a auto-estima não pode ser confundida com uma euforia passageira, ou
animação proporcionada por drogas, ou elogios, não é ilusão ou alucinação, não é um
fenômeno de bem estar. Branden (1999) coloca que se a mesma não for baseada na
realidade, construída ao longo do tempo pelo trabalho adequado da mente, não se
trata de auto-estima. A auto-estima não é um trabalho automático, ela representa uma
escolha, construída durante toda a formação de nossa personalidade e reafirmada em
atitudes diárias.
O grau de auto-estima de um sujeito pode vir a influenciar profundamente os
mais variados aspectos de sua existência, o seu modo de agir no trabalho, como são
as suas dinâmicas de relacionamento interpessoal, até pode progredir e, no aspecto
pessoal, por que tipo de pessoa irá se sentir atraído, como interage com os seus
objetos de amor, seus filhos, amigos e qual a dimensão de sua felicidade pessoal. A
auto-estima representa, portanto, simplesmente o contexto que torna dado
comportamento mais ou menos provável, mais ou menos espontâneo.
Branden (Íbid) coloca que na psicoterapia, o trabalho de despertar ou de
entender o funcionamento e grau de auto-estima no sujeito deve começar pela cura
dos traumas de infância, visto que é nela que se estruturam os padrões das emoções
para a vida do mesmo, esse processo é feito pela quebra e desmistificação dos
eventos do passado, que refletem atualmente em comportamentos não produtivos ou
inadequados, pelo rompimento dos bloqueios ou pelo alivio da ansiedade. No entanto,
só eliminar esses aspectos negativos, não produz auto-estima, da mesma forma que a
ausência de sofrimento não significa presença de felicidade, a falta de ansiedade não
significa presença de confiança. A auto-estima por sua vez, se constrói ao longo do
tempo através de atitudes especificas, formas definidas de atuar no mundo.
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Ainda segundo Branden, (Ibid) existem seis processos essenciais de
desenvolvimento da auto-estima no sujeito, que seriam: 1. A atitude de viver
conscientemente, isto é, estar aberto a qualquer informação, conhecimento ou
feedback que seja relevante para seus interesses, valores, metas e projetos. 2. A
atitude de se auto-aceitar, o desejo de ter, viver e assumir a responsabilidade pelos
seus pensamentos, sentimentos e ações, sem negar ou fugir das responsabilidades. 3.
A atitude de ter responsabilidade pessoal, perceber que nós somos os autores de
nossas escolhas e ações. 4. A atitude de ter autoconfiança, ser autentico nos
relacionamentos interpessoais. 5. A atitude de ter um propósito na vida, identificar suas
metas e seus objetivos imediatos ou de longo prazo, saber utilizar de forma adequada
as atitudes a fim de concretizar esses objetivos. 6. A atitude de ter integridade pessoal,
viver de acordo com o que você sabe, professa e faz.
A auto-estima sempre foi uma necessidade psicológica de grande importância
para o homem, desde que os indivíduos desenvolveram a sua capacidade de
autoconhecimento abstrato. Atualmente, no entanto a sensação de auto-estima
adquiriu uma importância que não existia no passado, e tornou-se uma necessidade
pessoal e econômica.
De acordo com Moscovici, (2001) as transformações aceleradas na estrutura da
família, do trabalho e, assim, da sociedade sugerem que na atualidade, em transição
para um futuro imediato, as competências mais valorizadas passam a ser aquelas que
dizem respeito às habilidades interpessoais, de comunicação, liderança e
relacionamento humano; características estas, que estão intimamente ligadas ao
conceito e sensação de auto-estima como comportamentos propulsores da
autoconfiança, auto-respeito e inteligência emocional. Percebemos então, que a
sensação e atitudes de competência emocional são absolutamente prioritárias para
bem conviver e trabalhar produtivamente com os outros, além de nos proporcionar a
possibilidade de sermos agentes de nossa própria historia de sucesso profissional.
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2. O MERCADO DE TRABALHO E SUAS TRANSFORMAÇÕES.
"O segredo do Mestre Guerreiro é saber quando lutar, assim como o segredo do artista é saber quando representar. O conhecimento
de assuntos e métodos técnicos é fundamental, mas não suficiente para garantir o sucesso, em qualquer arte ou ciência de ação e desempenho, a percepção direta do potencial do momento
é essencial para a execução de um golpe de Mestre."
Sun Bin - Discípulo direto de Wang Li
A fim de refletirmos sobre a importância da sensação de auto-estima, descrita no
capítulo anterior, ao “homem trabalhador”, àquele que está inserido no mercado de
trabalho atual, que vive a realidade da demanda desse mercado, precisamos fazer um
retrospecto histórico sobre as transformações ocorridas na dinâmica, homem - relações
de trabalho.
Iremos refletir então, sobre a historicidade do mercado de trabalho e suas
transformações mais importantes para o homem e a sociedade, entendendo, assim, o que
vem a ser o trabalho, como ele se configurava em suas primeiras relações, e como as
mesmas, vem se afirmando atualmente, quais eram as demandas ao sujeito trabalhador e
o que caracteriza as demandas atuais. O presente capítulo se resguarda então, a retratar
e refletir sobre qual o lugar do homem nas relações e nas formas de trabalho, em uma
perspectiva histórica.
O conceito de trabalho, segundo Correia, (2000) é, a ação ou o resultado de um
determinado esforço físico, realizado pelo homem para produzir os próprios bens e
serviços utilitários e necessários à própria reprodução e manutenção da espécie humana.
Essa força de trabalho pode também ser percebida como uma capacidade, que na
sociedade capitalista é tida como uma mercadoria que é comprada e vendida, numa
transação entre o trabalhador – possuidor da força de trabalho – e o capitalista – detentor
do capital. Braverman (1987) acrescenta ainda, que não se trata de apoderar-se de
materiais da natureza, e sim alterar esse estado natural e melhorar a sua utilidade.
É importante deixar claro, que a palavra “trabalho” não teve inicio com as primeiras
prestações de serviço, mas que, foi somente por volta do século XI que passou a ser
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assim denominado o oferecimento da força pessoal de alguém em favor de um outro. A
palavra “trabalho” no principio assumiu uma conotação negativa e depreciativa, devido a
sua relação com a dificuldade em viver e sobreviver nos primórdios dos tempos, pois tudo
o que é difícil de ser alcançado, é denominado de “trabalhoso”, além de a origem
etimológica da palavra vir do radical romano labor, que tem a sua equivalência com a
palavra ponos, ou seja, pena. No império Romano, por exemplo, as pessoas que
precisavam trabalhar para sustentarem-se, consideravam a sua prestação de serviço à
terceiros, uma pena imposta a eles em favor de seus senhores. Já na França, a palavra
Travail (trabalho) teve sua origem em tripaliare, que significa pena, tortura, ou fazer sofrer.
Refletindo ainda neste sentido, a palavra “operário” em sua origem, está ligada ao sentido
de restrição, seu principio encontra-se em sintonia com a palavra “escravidão”, pois em
francês ouvier, opera, opus, operarum.
Quando analisamos a palavra, partindo da língua portuguesa, como “labor” e
“trabalho”, é possível encontrar nos dicionários duas significações, a de realizar uma obra
que se expresse, que doe reconhecimento social, e que permaneça além do tempo de
vida do agente; e a de esforço rotineiro e repetitivo, sem liberdade, de resultado
consumível. 1
A história do trabalho, como podemos perceber, traz na sua essência a cultura do
trabalho de cada época. Na cultura Judaico-cristã, por exemplo, a Bíblia ensinou que a
necessidade de trabalhar para viver era o castigo imposto por Deus pela desobediência
do homem. “O homem foi condenado a ganhar o pão de cada dia com o suor do seu
rosto”. (Banden, 1999). Nas culturas pré-industriais, a dos caçadores e coletores aos
escravos feudais, não havia um mercado para mentes autônomas, o homem estava
condenado pelas circunstâncias do seu nascimento, a ser camponês, artesão ou cavaleiro
– ou esposa de um deles.
1 Conforme Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa, J.T., (Editora Globo).
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Seu senso de identidade, naquela época, não era fruto de suas escolhas ou ações, nem de suas realizações, mas sim da visão de si mesmo como parte integrante da ordem natural, que se presumia determinada por Deus. Vulnerável às vicissitudes da guerra, da fome e da peste, você tinha garantido ao menos um meio de vida, já determinado pela tradição. A competição era muito pequena, da mesma forma que havia muito pouca liberdade econômica, ou qualquer outro tipo de liberdade. Você não vivia em um mundo que valorizasse a autoconfiança, compreendesse a individualidade, admirasse a responsabilidade social, concebesse a liberdade política ou dos Direitos do Homem, imaginasse a inovação como um meio de vida, avaliasse a relação da mente, inteligência e criatividade com a sobrevivência, ou que abrisse espaço para a auto-estima. O sistema à base de seu bem-estar pouco exigia de você, salvo a obediência e a resignação. (BRANDEN, 1999, p. 21-22).
Com a revolução Industrial e a inclusão das máquinas no processo de produção, o
sistema capitalista que então surgiu caracterizava-se pelo mercado livre e pela
concorrência aberta, os bens e serviços eram produzidos unicamente pelo lucro, o
trabalho realizado mediante salário, e os meios de produção e distribuição de propriedade
privada. O capitalismo também gerou a presença maior dos mercadores, lojistas e
comerciantes, o “homem trabalhador” devido a esse fato, transformou-se sob vários
aspectos, de acordo com as mudanças de ordem cultural. Estas mudanças repercutiram,
como não podia ser diferente, na ordem política, social e econômica da época. O
fenômeno da mecanização da produção foi de tamanha profundidade que, aos poucos, foi
substituindo o operário pelas máquinas nas tarefas em que se podia automatizar e
acelerar pela repetição. Chiavenato, (1999) coloca que essa mecanização do trabalho
levou a divisão e a simplificação das operações, substituindo os ofícios tradicionais por
tarefas a serem executadas por pessoas sem qualquer qualificação e com facilidade de
controle por parte dos supervisores. No entanto, por mais difíceis que tenham sido os
primeiros anos da era industrial, havia a possibilidade de se ver em um emprego de
fábrica uma oportunidade – um passo a frente, uma chance de melhoria em sua qualidade
de vida, em relação as possibilidades que existiam anteriormente, porém ao “homem
trabalhador” ainda não eram exigidos novos aprendizados, não se esperava dele
inovações ou competências, a obediência e confiança ainda eram valores, não recursos.
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A chegada da industrialização, também trouxe a idéia do trabalho formalizado, onde
foram definidas as tarefas e a remuneração devida para cada atividade. No século XX, foi
instituído o contrato de trabalho, contendo as regras que regem os direitos e deveres entre
os patrões e os empregados. Foram criadas assim, as primeiras classes trabalhadoras,
com a classificação em cargos, funções, atribuições e salários. No Brasil essas normas e
leis, tiveram seu momento mais significativo no governo de Getulio Vargas, onde foi criada
a CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas, o salário mínimo, a carteira de trabalho, o
décimo terceiro salário, FGTS, aposentadoria, férias e outros, para atender as
necessidades não só dos trabalhadores, mas estendendo-as também as famílias.
Em meio a realidade da industrialização, começaram a surgir a necessidade de
reestruturação nas operações e a evolução em direção a idéia da fábrica sem
trabalhadores, onde as novas tecnologias que então surgiram, dispensariam a força de
trabalho humana e trabalhariam de forma ininterrupta. Dessa forma, de acordo com
Gonçalves e Gomes, (1993), a influência e o impacto da tecnologia fizeram com que
algumas variáveis sofressem mudanças, como por exemplo: o conteúdo, a natureza das
tarefas, as habilidades requeridas, pressões e ritmos de trabalho, interação e quantidade
de operários, localização e distribuição desses trabalhadores, horário e duração da
jornada de trabalho; é aí que o homem começa a surgir como possibilidade criativa, visto
que começou a precisar de diferentes competências para se manter no mercado de
trabalho, mesmo que as mesmas fossem ainda muito técnicas, mas já despontavam sobre
a necessidade de se trabalhar de forma diferenciada.
A evolução da tecnologia fez surgir a necessidade por parte do homem trabalhador de
conhecimentos mais técnicos e mais completos para o uso dos equipamentos de trabalho,
no entanto, a via do êxito não era o pensamento independente, mas, a questão do
cumprimento fiel das regras. O sujeito precisava apenas, não criar obstáculos e
enquadrar-se; até então essa era a fórmula do progresso.
Aos poucos, o homem trabalhador e o ideal empresarial começaram a mudar os seus
focos de ação. A partir do momento em que o capitalista, ao lidar com o trabalho
assalariado e com uma tecnologia mais avançada, sentiu uma maior necessidade de
acúmulo de capital, procurou novas formas de administrar a sua mão de obra, fazendo
uso da contabilidade e controles internos. Surgiu assim, a terceirização de mão de obra,
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onde as empresas diante de um mercado competitivo, passaram a atuar com o foco
dirigido tão somente ao negocio e as atividades consideradas de apoio, foram aos poucos
sendo transferidas para empresas externas. Diante dessa realidade de mercado
recessivo, com um número maior de demissões que de contratações, surgiu o trabalho
informal, através de serviços sem documentação ou qualquer registro. Embora sem
direitos ao trabalhador, para muitos foi, e está sendo, uma forma de saída para o sustento,
assim como as cooperativas que também apareceram para absorver essa parcela da
sociedade, onde o vínculo do trabalhador passa a ser somente com a cooperativa, mesmo
que preste serviços e esteja locado em outras empresas.
O mercado de trabalho também passou por mudanças que refletiram diretamente na
organização das empresas e nas demandas referentes ao “homem trabalhador”. A
necessidade de um fluxo maior de conhecimento e informação, segundo Branden (ibid),
determina agora as estruturas organizacionais, no lugar das antigas bases mecânicas e
preconcebidas de imposição e autoridade.
Como um apêndice da inteligência humana, a máquina substitui o poder de pensar pelo poder dos músculos. Alivia o esforço físico e, ao mesmo tempo, torna o trabalho mais produtivo. À medida que continuam os avanços tecnológicos, o pêndulo começa a oscilar a favor da mente.
(BRANDEN, 1999, p. 34). Se a mente vem ocupar essa ordem de importância, o homem começa a ser percebido
como ser criativo, de inteligência e emoções, isto é, a essência do que é o homem, agora
começa a ser tratada e levada em consideração no mundo das organizações e do
trabalho. Em contrapartida a esse ponto, temos uma “sociedade do trabalho” que exige
cada vez mais desse “homem trabalhador”. A flexibilidade, o trabalho em equipe e a
polivalência, são apenas algumas dessas exigências. A ciência, hoje, faz parte do mundo
do trabalho, os estudantes que saem das universidades precisam ter a consciência que
aquele conhecimento adquirido em sala de aula, sofre cada vez mais, um alto grau de
depreciação com relação aos avanços freqüentes impostos pela tecnologia e pela
sociedade da velocidade. O paradigma atual se reduz a: eficiência, eficácia e produção
em sua relação custo/beneficio. Essas são algumas das exigências do mundo moderno
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para os homens e organizações, e seguir por esse caminho indica a menor probabilidade
de um fracasso profissional, ou, no caso das organizações, uma falência.
Atualmente nos encontramos em uma realidade onde a força de trabalho, tem de
apresentar flexibilidade e versatilidade. Hoje temos que produzir não só a quantidade mas,
também, a qualidade, executando, muitas vezes (ou sempre) mais de uma função, reféns
da eterna busca por soluções para eventuais problemas, demonstrando uma
personalidade de iniciativa e que preza pela interação com grupos e pessoas A força
física já não é o centro do trabalho, e sim a intelectualidade, a capacidade de
concentração e ao mesmo tempo de atenção a todos os processos da organização em
que atua, e por que não, a sensação de eficácia.
A pós-modernidade então, se caracteriza pela competitividade em seus mais diversos
aspectos, estamos aqui refletindo sobre a questão do trabalho como realidade que exige a
competência para que a sobrevivência na competitividade seja sadia.
As exigências de competitividade pessoal e organizacional num ambiente globalizado, integrado pelas novas tecnologias da informação, elevaram a capacidade de inovação ao patamar de principal vantagem competitiva. As respostas não são mais simples e não vêm embaladas com nomes pomposos. Além disso, permanece a questão de como desenvolver profissionais produtivos, eficazes e felizes, com custo cada vez mais baixo. (FACCINA, 2006, p. 02).
Fazendo um retrospecto geral sobre o lugar do homem nas relações de trabalho a
partir da monografia aqui apresentada, podemos visualizar que passamos por um período da
humanidade em que a durabilidade foi extremamente valorizada, as possessões eram
duráveis, as leis que governavam a natureza eram consideradas eternas, inexistiam
transformações no mundo, as estruturas pareciam duráveis, e eram fortemente dirigidas e
vigiadas. A norma para o “homem trabalhador” era seguir os padrões, aprender e incorporar
hábitos que se arraigavam na personalidade e se repetiam automaticamente. De acordo com
Rehem (2005), esses hábitos e conhecimentos tinham utilidade para solucionar as situações
pelo resto da vida, em razão dos contextos previsíveis e duráveis em que se vivia. Os
condicionamentos eram suficientes para garantir o sucesso no trabalho e nas relações
sociais.
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Atualmente, em contrapartida a essa idéia, refletimos sobre um mundo caracterizado
pela mutabilidade constante, fluidez das estruturas, revelando uma maior flexibilidade tanto
de estruturas organizacionais quanto relacionais, Rehem (ibid), coloca ainda, que passamos
da imutabilidade e monotonia para as rotinas de um mercado aberto, onde tudo pode
acontecer a qualquer momento e, por isto, a palavra de ordem é a imprevisibilidade. Decorar
perde a prioridade diante da necessidade de criar, inovar, mudar, buscar soluções para
resolver problemas inusitados, agir proativamente, tomar iniciativas ao invés de receber
ordens e obedecer rigidamente. Bauman (apud Rehem, 2005), chama essa nova realidade de
“modernidade liquida”, aquela em que, as mudanças advindas dos avanços científicos e
tecnológicos transformam o mundo em um ritmo veloz, impondo novos relacionamentos
sociais e laborais, exigindo cada vez mais do homem maiores capacidades para enfrentar
desafios nunca antes experimentados, e dispor de emoções e percepções sadias para isso,
tais como a auto-estima.
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3. AUTO-ESTIMA COMO DIFERENCIAL NO MUNDO DAS ORGANIZAÇÕES.
"Nós somos o que fazemos repetidamente, a excelência não é um feito, e sim, um hábito."
Aristóteles
As pessoas e organizações estão intimamente ligadas em todos os seus aspectos,
principalmente, pelo simples fato de a maioria das pessoas passarem a maior parte do tempo
de suas vidas trabalhando dentro das organizações, estas dependendo daquelas para
funcionar e alcançar o sucesso. Sabemos que o trabalho nos toma tempo e energia, é
impossível não levar em conta a importância do trabalho e a influência que o mesmo exerce
sobre as pessoas. Essa relação mútua é melhor analisada quando percebemos que as
organizações também dependem, direta e irremediavelmente das pessoas, para o seu
funcionamento e permanência no mercado, os objetivos e procedimentos básicos de uma
empresa, somente são alcançados através das pessoas, são elas que lhe dão vida, impulso,
criatividade e racionalidade.
Chiavenato, (1999) coloca que, até bem pouco tempo atrás, esse relacionamento entre
pessoas e organizações era considerado de certa forma, antagônico e conflitante, entendia-
se que os objetivos dos dois não podiam caminhar juntos. As organizações tinham como
metas, o lucro, produtividade, eficácia, maximização da aplicação dos recursos físicos e
financeiros, enquanto as pessoas tinham em seus objetivos a melhoria de salários e
benefícios, a busca de um ambiente de trabalho dito confortável e seguro, desenvolvimento e
progresso pessoal. Verificou-se, no entanto, que se a organização quer alcançar esses
objetivos, ela precisa prover às pessoas, a possibilidade de realização individual, assim
ambas as partes saem ganhando, essa é uma solução que exige negociação, participação e
sinergia de esforços. Tudo funciona como uma “troca”, qualquer investimento somente se
justifica quando traz um retorno razoável.
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Na medida em que o retorno é bom e sustentado, a tendência certamente será a manutenção ou o aumento do investimento. Daí o caráter de reciprocidade na interação entre as pessoas e organizações. E também o caráter de atividade e autonomia e não mais de passividade e inércia das pessoas. Pessoas como parceiros ativos da organização e não como meros sujeitos passivos. (CHIAVENATO, 1999, p. 08).
Os “parceiros” tratados aqui são cada vez mais exigidos em suas competências, pelas
organizações, as exigências vêm passando por significativas mudanças. Hoje as empresas
necessitam de profissionais autoconfiantes, atualizados e que tragam resultados, por outro
lado as pessoas também exigem cada vez mais das organizações, a autonomia, qualidade e
reconhecimento, visto que elas constituem o meio pelo qual podem-se alcançar objetivos
pessoais, com o mínimo de esforço e conflito.
N a gestão de pessoas atual, há uma grande necessidade, que o empregado seja visto
como parceiro da organização, aquele que contribui com os seus conhecimentos,
capacidades e habilidades, proporcionando decisões e ações que dinamizam a organização.
O profissional exigido tem de usar a sua inteligência para proporcionar decisões racionais,
imprimindo o significado e rumo aos objetivos globais daquela organização. A necessidade
cada vez maior do “individuo diferenciado”, vem causando em nossa sociedade “crises” de
baixas na auto-estima, o que desqualifica cada vez mais os profissionais, visto que essa
mesma auto-estima é uma das maiores demandas atuais das organizações, pois ela pode
agir como fonte de autoconfiança, competência e inteligência emocional.
Branden,(1999) coloca que, quem duvida muito da própria capacidade de pensar, de
entender, de aprender ou de enfrentar as adversidades e os desafios básicos da vida
encontra-se em grande desvantagem – em qualquer lugar ou em qualquer época da história –
principalmente, quando se trata de enfrentar as situações novas e desconhecidas.
Complementando o raciocínio, Drummond,(2006) reconhece em suas colocações que
essas características pessoais, demandam também, educação e uma preparação por parte
dos Recursos Humanos bem maior do que se fazia anteriormente, devido a necessidade de
se ter flexibilidade, autocontrole, maior responsabilidade, capacidade para criar e inovar, e
conseqüentemente mais qualidade nos produtos e serviços.
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Como já foi sinalizada em capítulos anteriores, as mudanças que mais contribuem para
essas novas demandas foram, a passagem da economia industrial para a economia da
informação, fazendo com que a necessidade de mão de obra fosse decrescendo, surgindo
assim, a exigência por cérebros com múltiplas inteligências, que pudessem dar conta de
inovações nas mais diversas áreas de uma organização. O aparecimento das novas
tecnologias, que também contribuiu para a necessidade da crescente atualização, as
mudanças na economia global que exigem das pessoas a capacidade de resiliência, as
demandas de auto-gestão, responsabilidade, auto direção, maior consciência e compromisso
para inovar e contribuir, além da busca pela característica do empreendedorismo, são a
realidade das demandas organizacionais atuais. Todos esses fatores tem sido um desafio
constante para a auto-estima no trabalho. Por isso, a presente monografia trata dessa auto-
estima como um diferencial no mundo das organizações, pois essas mesmas organizações
tem hoje como um desafio atrair e manter pessoas qualificadas com elevada auto-estima.
Branden, (1999) traz para reflexão, a questão da dificuldade em lidar, não apenas com
as mudanças em si, mas com o ritmo em que elas surgem. O fato de as mudanças serem
cada vez mais rápidas, interferem no grau de auto-estima do sujeito, pois muitas das vezes o
mesmo não consegue acompanhá-las de forma eficaz.
Famílias, organizações e sociedades igualmente geram padrões que, uma vez estabelecidos, não cedem com facilidade ao que é novo. O status quo não começa a se alterar só porque mudanças estão a caminho, anunciando a necessidade de novos rumos de ação (...) Todavia, está claro que existem mudanças desejáveis e inexoravelmente necessárias nos indivíduos e nos grupos sociais. E a resistência que surge representa mais do que um saudável processo de homeostasia: a ansiedade gerada pela baixa auto-estima e o medo do novo e do desconhecido. (BRANDEN, 1999. p. 99)
Diante dessas novas necessidades, surgidas a partir de importantes mudanças sociais
e econômicas, e do ritmo acelerado das mesmas, aparece como fator “diferencial” a auto-
estima no campo profissional. Segundo Drumond, (2006) essa sensação promove
trabalhadores seguros, abertos a idéias novas, e que podem admitir seus erros, sem o
sentimento de fraqueza. Pessoas que são aceitas, que pensam, que expressam, criam e
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inovam, que estão dispostas a enfrentar desafios, pois assim, provam as suas capacidades,
buscam o reconhecimento e sabem reconhecer, são observadores e trabalham de forma
construtiva, valorizando os aspectos positivos e negativos das pessoas e dos
acontecimentos.
Indivíduos com auto-estima elevada conseguem trabalhar bem com normas, resolvem
problemas com maior produtividade conseguem trabalhar bem em equipe, aprendem com
todas as experiências, e são orgulhosos e satisfeitos com o trabalham que executam.
Consideram desafios como oportunidades, em vez de tragédia. Entendem a mudança não
como um fardo ou problema, mas como um meio de crescimento pessoal. Para Branden,
(1999), esta é a perspectiva que fortalece a sensação de poder pessoal em épocas
conturbadas. Esses são os “parceiros” que as organizações almejam, e que estão dispostas a
recompensar e manter no mercado de trabalho atual.
Além das qualificações intelectuais, o ser humano tem na auto-estima uma forte aliada,
ela pode ter sido construída em sua personalidade durante a vida, ou pode ser adquirida
através de um trabalho mental e comportamental sistemático, produzindo assim, um
sentimento de competência e eficácia. De acordo com Branden, (Ibid) a competência
interpessoal – tão importante no cenário das empresas atualmente – tende a ser afetada
negativamente pela falta de auto-estima.
Os que sofrem de profunda insegurança e duvidam de si mesmos tendem a um comportamento inadequado e contraproducente perante os outros, e isto significa ser super controlador e gratuitamente agressivo ou tímido e solicito demais. Em vez de se concentrarem na tarefa em si, o comum é concentrarem-se na autoglorificação ou na autodefesa; em ambas as formas, a relação com o outro é antagônica e não positiva. Muito mais do que falta de habilidade ou conhecimento técnico, esse problema tem fortes implicações para o colapso na carreira. (BRANDEN, 1999. p. 14)
Branden (Ibid) acrescenta que existem diversas correlações importantes entre a auto-
estima saudável e vários outros traços de personalidade que estão refletidos em nossos
comportamentos no trabalho. Como exemplo disso, estão os desafios constantes que
enfrentamos na realidade do mercado de trabalho, dentro das mais diferentes áreas de
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atuação. Quando enfrentamos um problema que requer de nossas mentes um certo grau de
confiança, e perseveramos no sentido de superá-lo, as chances de obter êxito são maiores e,
conseguir o que se deseja, confirma e reforçar a confiança individual. Se o acontecimento foi
um revés profissional, como por exemplo, os negócios não estão bem encaminhados, as
estratégias estão sendo falhas, promoções não acontecem, mas o sujeito enfrenta as
adversidades com uma sólida auto-estima, a tendência é aquele acontecimento não abalar a
sua estrutura emocional de forma profunda.
É inevitável em uma carreira profissional que as pessoas errem ou sofram derrotas. O
fator mais importante quando esses eventos vem a acontecer, é o estado emocional com que
o fato é encarado. O perigo está em o sujeito cair na armadilha de acusar, se justificar,
procurar um bode expiatório, negar, cruzar os braços passivamente, entrar em depressão ou
em desespero, esses são reflexos de uma baixa auto-estima, que não contribui para o
crescimento profissional e pessoal de qualquer sujeito.
Quando convivemos com grupos, de forma a interagir com consciência do próprio
valor, o provável é que despertemos nos outros o respeito e boa vontade. Com uma auto-
estima sadia, o sujeito não tende a entrar em relacionamentos antagônicos, sejam eles
profissionais ou pessoais, não surge a necessidade de se mostrar mais forte, diminuindo
aqueles que o cercam. Nas relações de trabalho, podem manifestar-se diversos sentimentos,
como a rejeição e a menos valia, quando a auto-estima não é uma sensação presente, o ser
humano acaba por repetir comportamentos de modo que as expectativas de rejeição, por
exemplo, se confirmem.
Outro fator que tem destaque como demanda para o sujeito no mundo das
organizações atuais é a capacidade de comunicação, e esta, também está intimamente
ligada à auto-estima, visto que, quando a mesma é positiva, o provável é que o sujeito tenha
uma comunicação aberta, franca e correta; para Branden, (1999) isso se dá pelo fato de que,
o individuo com uma auto-estima elevada acredita no valor do seu pensamento e a clareza
para ele, é bem vinda e não temida. “Se sua auto-estima é baixa, o provável é uma
comunicação vaga, tortuosa e insuficiente, pois você não está seguro do que pensa e sente,
e está ansioso para ouvir a resposta do seu interlocutor”.
Outro aspecto interessante da auto-estima nas relações de trabalho é a forma como as
pessoas de auto-estima alta se sentem atraídas e atraem pessoas com um mesmo nível de
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auto-estima, trazendo àquele ambiente, sensações de eficácia, competência e produtividade.
As relações nesse nível tornam-se mais prazerosas e sadias, as pessoas não tendem a
potencializar problemas ou conflitos, não se é hiper-sensível, não se reage com atitude tão
defensiva, e nem com hostilidade. A tendência maior é concentrar-se nas soluções, nas
decisões. A inveja fruto de uma visão negativa do sujeito sobre si mesmo, o leva a pensar
que a vitória do outro expõe a sua fragilidade ao mundo, ou pior, a si mesmo. A generosidade
em relação ao êxito de outrem é uma característica importante da auto-estima.
Ferrari, (2005) acrescenta, que quando amamos o que fazemos, fomentamos a
confiança e a criatividade para apontar soluções, adotamos uma opinião otimista diante dos
problemas diários e agimos de forma a valorizar constantemente o nosso “eu”, criando assim,
um ambiente de trabalho que impulsiona a criatividade e estimula as relações humanas de
forma positiva. Branden, (1999) aponta, nesse sentido para uma necessidade importante, se
uma auto-estima saudável proporciona um meio inestimável de se atuar eficazmente no
ambiente de trabalho, o oposto também se aplica, isto é, o aprendizado e a prática da ação
eficaz no trabalho podem ser uma disciplina fortalecedora de auto-estima. O trabalho aqui é
indicado como uma possibilidade de desenvolvimento pessoal, assim pode se pensar em
uma organização verdadeiramente com auto nível de desempenho.
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CONCLUSÃO
"Ainda não se levantaram as barreiras que digam ao gênio: “daqui não passarás.”"
Beethoven A auto-estima tratada no presente trabalho, é aquela que traz ao homem a
possibilidade de realização profissional e pessoal, capaz muita vezes, de poupar o homem de
algumas das frustrações que percorrem a vida do trabalhador “moderno”, como a
competitividade, sentimento de inadequação, impotência e etc. No entanto, não pretendemos
falar aqui da auto-estima como uma sensação mágica, difícil de ser alcançada, ou como um
sentimento que pode trazer o sucesso certo àqueles que o procuram.
A auto-estima foi aqui tratada como a sensação de aficácia, sensação de capacidade e
estima própria, a sensação de amor a si e de confiança na capacidade de superação, por
isso, quando bem utilizada, pode ser uma ferramenta importantíssima para o crescimento
profissional do trabalhador, um crescimento arraigado de qualidade de vida, visto que aquele
que possui uma auto-estima elevada, não coloca o seu bem estar em segundo plano na hora
de suas opções, e sim consegue fazer uma mescla de todas as exigências que o seu corpo e
a sociedade fazem, e parte para a ação de forma inteligente, responsável e eficaz. O
profissional que desenvolveu essas características em sua dinâmica psíquica, no decorrer de
sua vida, não podemos negar, apresenta um diferencial, visto que, no mínimo, o homem
precisa confiar em sua capacidade para superar as adversidades diárias do mundo das
corporações.
Podemos entender a partir das reflexões aqui supeitadas, que a auto-estima é uma
sensação de extrema importância, tanto para o trabalhador, como para a organização em que
o mesmo está inserido. Percebemos aqui, que as organizações depois de terem passado por
inúmeras transformações, a nível social, econômico e tecnológico se vêem atualmente em
uma realidade de eterna busca pela inovação, lucro e inteligência emocional por parte de seu
“recurso humano”. Exige-se da mente, do psíquico, o que demanda mais do que nunca, a
inteligência emocional, a resiliência e a capacidade de comando e direção de suas emoções.
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O trabalhador que consegue somar à sua qualificação intelectual a essas características
“diferenciadas” pode se dizer que tem todas as chances de estar inserido em um mercado de
trabalho, competitivo e que o valoriza e incentiva enquanto profissional.
Uma sociedade como a nossa, que não proporciona a estabilidade no trabalho devido
a fatos como o “boom” da tecnologia, as novas formas de empregabilidade, como a
terceirização, trabalho informal e etc, vem deixando o homem inseguro e com déficits no seu
grau de auto-estima, frente a essas dificuldades. Esse fator deixa o homem cada vez mais
longe da possibilidade da empregabilidade, pois essa mesma auto-estima que está em baixa
atualmente, quando se fala no enfrentamento do mercado de trabalho cada vez mais
exigente, pode ser fonte de características muito importantes para as atitudes de auto-
respeito, autovalorização, segurança na tomada de decisões e na comunicação com outrem,
criatividade, inovação, entre outras, que são tão valorizadas e estimadas pelas organizações
inseridas no mercado de trabalho competitivo.
Essa deteriorização do trabalho humano afeta a vida particular do trabalhador, de sua
família, e de seu relacionamento com outras pessoas, atitudes e crenças, pois o não-trabalho
tira-lhe sua identidade, ou seja, tudo que diz respeito ao seu modo de viver e à rotina diária,
afetando diretamente a sua auto-estima.
Outro fator de problemática para o trabalhador atual é o fracionamento de suas
atividades em minúsculas operações, agora o sujeito mesmo estando trabalhando, vê mais
uma forma de dissipação de seu trabalho e de sua capacidade física/mental. Se não for um
profissional “diferenciado” estará confinado a uma rotina de movimentos diários repetitivos
que estão aquém de seu potencial, assim como também poderá estar exercendo uma função
que lhe sujeite ao subemprego.
O homem encontra-se na ânsia da inserção e segurança no trabalho, visto que ele é
essencial para que o ser humano consiga concretizar seus sonhos e ideais, e é por meio dele
que se cria e constrói os bens necessários à sua sobrevivência e à de outras pessoas. A
importância do trabalho permeia não só a satisfação individual do trabalhador, ela vai mais
além e nos traz a possibilidade da construção de meios imprescindíveis à sobrevivência da
sociedade. Uma reflexão de grande relevância para o entendimento da auto-estima no mundo
das organizações é que a mesma pode ser intrínseca à personalidade, construída em sua
formação, mas também pode ser estimulada pelas organizações. O fator “Clima
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Organizacional”, incentivos, autonomia no trabalho e etc são influências que podem vir a
modificar as atitudes do sujeito em relação ao seu trabalho. A auto-estima está intimamente
ligada à qualidade de vida no trabalho, onde, dependendo do modo como se manifesta, pode
resultar no pleno desenvolvimento do sujeito e da organização, ou pode ocasionar atitudes
negativas por parte do indivíduo. A auto-estima quando em baixa impede que o trabalhador
experiencie e desenvolva todo o seu potencial na organização, tornando-o um indivíduo
improdutivo, inseguro, e que não proporciona as organizações, habilidades necessárias ao
seu próprio desenvolvimento.
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