Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
Qualidade da Água de Poço e
Águas Pluviais da FEUP
Avaliação de Parâmetros Microbiológicos
Projeto FEUP 2016/2017 -- MIEA :
Manuel Firmino e Sara Ferreira João Bastos
Turma MIEA101 Grupo2:
Supervisor: Margarida Bastos Monitor: Patrícia Lopes
Estudantes & Autores:
Adriana Côrte-Real ([email protected]) Nuno Sousa ([email protected])
Afonso Figueiredo ([email protected]) Nuno Machado ([email protected])
Duarte Viana ([email protected]) Rita Vieira ([email protected])
Qualidade da Água de Poço e Águas Pluviais da FEUP - Avaliação de Parâmetros Microbiológicos 2
Resumo
A água é um bem essencial, logo a sua análise microbiológica é muito importante para
que não haja risco de propagação de doenças.
Este relatório, realizado no âmbito da unidade curricular Projeto FEUP, teve como
propósito analisar a qualidade das águas pluviais e de poços da Faculdade ao nível da
contaminação fecal, de acordo com os parâmetros microbiológicos.
As amostras foram recolhidas e, posteriormente, analisadas em laboratório para a
deteção de Enterococos e Escherichia coli.
Os resultados experimentais obtidos indicaram que ambas se encontravam
contaminadas, no entanto, o grau de contaminação das águas pluviais era superior ao da
água do poço.
Uma vez que os Enterococos e a Escherichia coli são superiores ao previsto no Decreto
– Lei nº 236/98 verificou-se que estas águas são impróprias para consumo humano. No
entanto, podem ser utilizadas para outros fins, como será mencionado no decorrer do
relatório.
Palavras-Chave
Contaminação; Águas pluviais; Águas de poço; Unidades Formadoras de Colónias;
Escherichia coli; Qualidade da água; Enterococos;
Qualidade da Água de Poço e Águas Pluviais da FEUP - Avaliação de Parâmetros Microbiológicos 3
Agradecimentos
Gostaríamos de agradecer a todo o corpo docente da Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto que, desde o mais pequeno ao maior gesto, disponibilizou uma parte
do seu tempo para nos auxiliar no executar deste trabalho.
Ao longo de todo o percurso da unidade curricular que é o Projeto FEUP, fomos dotados
de conhecimentos fulcrais para uma correta e eficaz execução de um relatório e de uma
apresentação, conhecimentos esses que nos irão ser inúmeras vezes requisitados ao longo
do nosso percurso académico nesta instituição.
Por último, um agradecimento especial, e não desvirtuando todo o apoio por outros
prestados, à nossa supervisora, a Professora Margarida Bastos, bem como aos monitores,
Miguel Costa, Joana Manso e Patrícia Lopes, pessoas essas que nos acompanharam em
cada passo do projeto, sem as quais nada disto seria possível.
Qualidade da Água de Poço e Águas Pluviais da FEUP - Avaliação de Parâmetros Microbiológicos 4
Índice
Lista de figuras --------------------------------------------------------------------------------- 5
Lista de acrónimos ---------------------------------------------------------------------------- 6
1. Introdução ----------------------------------------------------------------------------------- 7
2. Poluição e Contaminação ---------------------------------------------------------------- 10
2.1 Poluição ------------------------------------------------------------------------------------ 10
2.1.1 O que é? --------------------------------------------------------------------------------- 10
2.1.2 Tipos de poluição na água ----------------------------------------------------------- 10
2.1.3 Poluição nas águas pluviais e em águas de poço ----------------------------- 11
2.2 Contaminação ----------------------------------------------------------------------------- 11
2.2.1 O que é? --------------------------------------------------------------------------------- 11
2.2.2 Contaminação fecal ------------------------------------------------------------------- 12
3. Tipos de Microrganismos ---------------------------------------------------------------- 13
3.1 E. coli ---------------------------------------------------------------------------------------- 13
3.1.1 O que é? --------------------------------------------------------------------------------- 13
3.1.2 Características -------------------------------------------------------------------------- 13
3.2 Enterococos ------------------------------------------------------------------------------- 14
3.2.1 O que é? --------------------------------------------------------------------------------- 14
4. Processos de tratamento ---------------------------------------------------------------- 15
5. Métodos analíticos ------------------------------------------------------------------------- 17
5.1 Método da Membrana Filtrante ------------------------------------------------------- 17
5.2 Meios de cultura utilizados ------------------------------------------------------------ 18
5.3 Procedimento experimental ------------------------------------------------------------ 19
6. Resultados e Discussão ------------------------------------------------------------------ 20
7. Conclusões ---------------------------------------------------------------------------------- 22
Referências bibliográficas ------------------------------------------------------------------- 23
Apêndices --------------------------------------------------------------------------------------- 25
Apêndice A -------------------------------------------------------------------------------------- 25
Apêndice B -------------------------------------------------------------------------------------- 26
Qualidade da Água de Poço e Águas Pluviais da FEUP - Avaliação de Parâmetros Microbiológicos 5
Lista de figuras
Figura 1 - Molécula e fórmula química da água --------------------------------------- 7
Figura 2 - Distribuição da água pela Terra ---------------------------------------------- 8
Figura 3 - Um exemplo de poluição na água (Poluição petrolífera) --------------- 11
Figura 4 - E. coli -------------------------------------------------------------------------------- 13
Figura 5 - Enterococos ----------------------------------------------------------------------- 14
Figura 6 - Ciclo dos processos de tratamento ------------------------------------------ 15
Figura 7 - Método da membrana filtrante ------------------------------------------------ 17
Figura 8 - LSA (A) e SB (B) ----------------------------------------------------------------- 18
Figura 9 - Resultados experimentais: Água de poço (E) e Águas pluviais (D) -- 21
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Lista de acrónimos
FEUP – Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
UFC – Unidades Formadoras de Colónias
LSA – Lauryl Sulfate Agar
SB – Slanetz & Bartley
VMR - Valor Máximo Recomendado
VMA - Valor Máximo Admissível
Qualidade da Água de Poço e Águas Pluviais da FEUP - Avaliação de Parâmetros Microbiológicos 7
1. Introdução
A água é um recurso natural essencial e indispensável à vida no nosso planeta. Possui
um enorme valor económico, ambiental e social, fundamental à sobrevivência do Homem e
ao bom funcionamento dos ecossistemas terrestres. Considerada a substância mais comum
do nosso planeta, desempenha um papel fulcral na sobrevivência dos organismos,
intervindo na maioria das reações químicas, essenciais ao executar das funções orgânicas,
das quais são exemplos o sistema circulatório, o de absorção e digestivo, bem como na
regulação da temperatura interna. Quanto à percentagem da mesma na composição dos
seres vivos, esta pode atingir valores elevadíssimos, dos quais é exemplo a medusa com
98% de água na sua constituição. No ser humano, a água corresponde a 65% da massa
corporal e desempenha variadas funções:
- Transporte de substâncias pelo corpo;
- Eliminação de substâncias tóxicas ou em excesso;
- Regulação térmica do organismo;
- Diminuição de atrito por meio da lubrificação de superfícies;
- Dissolução de substâncias para a realização de reações metabólicas.
Relativamente à sua composição química, esta é formada por dois átomos de
hidrogénio e um átomo de oxigénio (H2O), elementos ligados pelas suas ligações covalentes
simples, caracterizadas pelo compartilhamento de eletrões presentes na última camada
eletrónica, de modo a adquirir estabilidade. A sua molécula apresenta uma geometria
angular, formando um ângulo de 104,5 graus, angulo este que confere polaridade à
molécula, que, por sua vez, a torna num dos melhores solventes existentes no planeta.
Figura 1 - Molécula e fórmula química da água[1]
A sua distribuição no planeta está sob diversas formas e em vários locais, podendo
esta ser encontrada quer no estado sólido (calotes polares e glaciares), líquido (mares, rios,
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lagos, oceanos) ou no estado gasoso (atmosfera). Apesar de ⅔ da superfície terrestre estar
coberta por água, nem toda se encontra ao alcance do ser humano, ou mesmo, em
condições próprias para o consumo do mesmo, do qual é exemplo a água salgada
(oceanos, mares), que representa 97% da água total do planeta. Embora existam processos
para dessalinização da mesma, que têm por objetivo tornar a água potável, estes são muito
dispendiosos e pouco eficientes, sendo por isso pouco utilizados.
Os restantes 3% encontram-se sob a forma de água doce, água que possibilita um
tratamento mais rentável e eficaz, de modo a que seja direcionada para o consumo humano.
No entanto, é de realçar que de toda a água doce existente, 68,7 % da mesma encontra-se
retida nos calotes polares ou em glaciares, dificultando a sua obtenção e reduzindo a
quantidade de água disponível para o ser humano. A restante percentagem de água doce,
encontra-se distribuída em águas subterrâneas (30,1%), rios e lagos (0,3%) e humidade do
ar (0,9%). Contudo, a água que mais interessa ao ser humano é a água potável por não
possuir substâncias tóxicas e por não transmitir doenças. Esta pode ser obtida em fontes
naturais e em alguns riachos e mananciais.[2]
A par destes tipos de água, a água salobra encontra-se em menor quantidade e de
reduzida percentagem global, água esta que apresenta um nível de salinidade superior à
água doce porém inferior à água salgada, não podendo por isso ser consumida pelo ser
humano sem tratamento prévio. Este tipo de água encontra-se predominantemente na
junção dos rios com o oceano.[3]
Figura 2 - Distribuição da água pela Terra[4]
Águas Pluviais
As águas pluviais são águas que provém das chuvas e que são recolhidas através de
esgotos pluviais ou por galerias de águas pluviais que normalmente as encaminham para
cursos de água, lagos, lagoas ou para os oceanos e mares.
Qualidade da Água de Poço e Águas Pluviais da FEUP - Avaliação de Parâmetros Microbiológicos 9
Furos de Captação
Os furos de captação têm como objetivo captar águas subterrâneas. Este tipo de águas
provêm principalmente da chuva que se infiltra no solo ficando armazenada em rochas
sedimentares. Por causa das características desta rochas, quando em contacto com a
água, sofrem corrosão abrindo túneis por onde a água subterrânea flui.
Legislação
A legislação estabelece critérios e normas de qualidade com o fim de proteger o meio
aquático e melhorar a qualidade das águas em função da sua utilização. Para isto, são
estipulados requisitos necessários para a utilização da água nos seguintes fins: águas para
consumo humano, águas para suporte da vida aquícola, águas balneares e águas de rega;
assim como as normas de descarga das águas residuais na água e no solo.
Estando a par de tudo isto, é necessário o estabelecimento de parâmetros para os quais
esta se pode destinar, sem comprometer a segurança pública e ambiental. Consoante as
suas características, esta vai ser destinada para diferentes e diversos fins.
O trabalho, como mencionado anteriormente, foi realizado com a pretensão de analisar
águas de poço e pluviais da FEUP, tendo em conta os parâmetros microbiológicos, entre os
quais a presença de Enterococos e E. coli.
Qualidade da Água de Poço e Águas Pluviais da FEUP - Avaliação de Parâmetros Microbiológicos 10
2. Poluição e Contaminação
Geralmente, no quotidiano, não se sabe distinguir entre poluição e contaminação.
Neste relatório, estes dois conceitos serão abordados inúmeras vezes. Por isso, faz algum
sentido esclarecer esta diferença.
2.1 Poluição
2.1.1 O que é?
Poluição é a presença de matéria (gases, líquidos ou sólidos) ou energia (calor, som,
radiação) cuja natureza, localização ou quantidade altera direta ou indiretamente as
caraterísticas ou processos de qualquer parte do ambiente e causa (ou tem potencial de
causar) dano ao estado, saúde, segurança, e ao bem-estar dos seres vivos.[5]
De acordo com a EPA (Enviromental Protection Agency), poluição é a presença de uma
substância no ambiente que, por causa da sua composição química ou quantidade, impede o
funcionamento de processos naturais e provoca efeitos negativos para o ambiente e para a
saúde dos seres vivos.[6]
Segundo o Clean Water Act, o termo é definido como alterações feitas pelo homem à
integridade da água a nível físico, biológico, químico ou radioativo.[6]
2.1.2 Tipos de poluição na água
Há vários tipos de poluição, tais como:
► Poluição da superfície: substâncias perigosas que em contacto com a água se
dissolvem, podendo assim alterar os equilíbrios dos ecossistemas presentes na água,
causando, deste modo, um aumento de espécies de bactérias.
► Poluição petrolífera: um derrame de petróleo que resulta de uma atividade humana e
que pode acontecer especialmente em áreas marítimas. Devido à composição do petróleo este
pode demorar muito tempo até desaparecer totalmente.
► Poluição Química: muitas indústrias fabris e agrícolas trabalham com químicos que
poderão acabar na água pois, muitos destes, são depositados indevidamente em solos
impróprios.
► Poluição Térmica: alteração da temperatura normal de uma determinada água que
provém da ação do homem. Estas alterações podem resultar numa alteração significativa nos
ecossistemas presentes na água.[7]
Qualidade da Água de Poço e Águas Pluviais da FEUP - Avaliação de Parâmetros Microbiológicos 11
Figura 3 - Um exemplo de poluição na água (Poluição petrolífera)[8]
2.1.3 Poluição nas águas pluviais e em águas de poço
A poluição da água dos poços ou das águas pluviais resulta de diferentes tipos de
poluição alguns dos quais referidos acima, tal como a poluição química e a poluição à
superfície. Sendo águas subterrâneas, as águas de poço ficam poluídas através da infiltração
de poluentes. Por outro lado, as águas pluviais ficam poluídas através das águas poluídas
vindas da superfície, logo se estas águas estiverem localizadas perto de zonas agrícolas ou
perto de zonas com uma forte presença de unidades industriais, estas estão mais suscetíveis à
poluição.
2.2 Contaminação
2.2.1 O que é?
Segundo o Dicionário de Português[9], contaminação é a introdução no meio
ambiente (por exemplo na água) de organismos patogénicos, de substâncias tóxicas ou
radioativas em concentrações exageradas à saúde dos seres vivos. Constitui, então um caso
particular de poluição.
Há uma diferença de conceito entre poluição e contaminação, mas, de maneira
geral, os dois termos são considerados sinónimos.
A contaminação se não resultar de uma alteração das relações ecológicas, não é
uma forma de poluição. Esta diferenciação, entre poluição e contaminação é fundamental no
caso de o ambiente ser a água. Se se falar, por exemplo, em contaminação da atmosfera, a
diferença entre contaminação e poluição perde importância, visto que a atmosfera é onde se
Qualidade da Água de Poço e Águas Pluviais da FEUP - Avaliação de Parâmetros Microbiológicos 12
situa grande parte da vida dos seres vivos, devido ao oxigénio nela existente.
2.2.2 Contaminação fecal
Contaminação fecal é um tipo de contaminação, entre muitos outros que existem. Este
tipo de contaminação é constituído por bactérias fecais.
Os coliformes fecais são também conhecidos como “termotolerantes” por suportarem
uma temperatura superior a 40 °C, convivem em simbiose com humanos e outros animais
de sangue quente. Normalmente, são excretados em grande quantidade nas fezes e não
causam doenças, em determinado número. Neste grupo está presente a bactéria gram
negativa E. coli e, ao ingerir-se alimentos por ela contaminados pode provocar doenças,
como uma gastroenterite.
Os Enterococos são um outro tipo de bactérias que se encontram no interior do trato
gastrointestinal dos animais de sangue quente e que também são um indicador de
contaminação fecal.
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3. Tipos de Microrganismos
Os microrganismos são seres vivos muito pequenos e existe uma variedade enorme, são
apenas observáveis ao microscópio e estes estão presentes em grandes quantidades tanto
nos ambientes terrestres como nos aquáticos.
Os microrganismos desempenham papéis muito importantes nas nossas vidas, de tal
forma que a vida na terra não seria possível sem a atividade microbiana. As bactérias
absorvem o azoto do ar e ajudam algumas plantas a crescer. Também são usados para
produzir alguns alimentos e medicamentos.[10]
3.1 E. coli
3.1.1 O que é?
As bactérias que têm a designação de Escherichia coli (E. coli) são um grupo vasto e
diverso de bactérias que habita normalmente no intestino humano e de outros animais.
Apesar da maior parte das estirpes de E. coli serem inofensivas, algumas podem provocar
doenças. Alguns tipos de E. coli podem causar diarreia enquanto outros podem causar
infeções no trato urinário, doenças respiratórias e pneumonia entre outras.[11]
Figura 4 - E. coli [12]
3.1.2 Características
As condições que permitem o seu crescimento e sobrevivência são as seguintes:
Temperatura
Algumas estirpes de E. coli conseguem crescer em ambientes com temperaturas entre 7 e
46 °C e têm uma temperatura ótima de crescimento entre 35 e 40 °C.
Qualidade da Água de Poço e Águas Pluviais da FEUP - Avaliação de Parâmetros Microbiológicos 14
Contudo, E. coli cresce em intervalos de temperatura mais apertados, com uma
temperatura mínima de crescimento de 8 ºC e uma temperatura máxima de 44 a 45 ºC, a
temperatura ótima de crescimento é de 37 ºC.[11]
pH
O efeito de pH no crescimento da E. coli depende do ácido presente sendo que
consegue crescer a pH 4,5 ajustado com ácido clorídrico, mas não consegue com o mesmo
pH em ácido lático.[11]
Oxigénio
E. coli é uma bactéria anaeróbia facultativa, ou seja, cresce em presença ou na
ausência de oxigénio. [11]
3.2 Enterococos
3.2.1 O que é?
Enterococos são bactérias gram-positivas, presentes no aparelho digestivo e urinário de
animais. É bastante resistente a antibióticos, à bílis, ao calor e a soluções com elevadas
concentrações de sal.
A transmissão de infeções causadas por essas bactérias pode ser de origem endógena,
alimentar ou através da água.[13]
Figura 5 - Enterococos [14]
Qualidade da Água de Poço e Águas Pluviais da FEUP - Avaliação de Parâmetros Microbiológicos 15
4. Processos de Tratamento
A poluição das águas é um fenómeno que decorre desde as primeiras civilizações,
momento em que o ser humano abandona o nomadismo em prol do sedentarismo, onde o
mesmo se estabelece num local fixo, impulsionado pela descoberta e domínio da
agricultura.
Porém, a produção de resíduos mantinha-se, e uma vez que o Homem perdera a
necessidade de se deslocar em busca de alimento, a solução imediata para lidar com este
problema eram os rios, locais onde era libertado o lixo, com o intuito de que a corrente o
arrastasse para um outro lugar distante da habitação. Na Inglaterra, com o aumento
populacional das áreas urbanas, decorrente da revolução industrial, os resíduos
acumulavam-se nas águas, representando um grande problema, de entre as principais
consequências, é de salientar o infetar da população com doenças, das quais são exemplo,
a cólera e a febre tifoide. Com a população a adoecer e um consequente escassear dos
mesmos ao serviço das indústrias, foi implementada em 1874 a primeira Estação de
Tratamento de Água (ETA), a qual foi concebida com o propósito de despoluir o rio Tamisa
com recurso a filtros formados por areia.
Atualmente, estas estações encontram-se distribuídas por todo o globo terrestre e
recorrem a procedimentos físicos e químicos que são aplicados na água para que esta
respeite um conjunto de parâmetros para o consumo, isto é, para que a água se torne
potável. Com recurso a estes processos de tratamento, a água fica isenta de qualquer tipo
de contaminação, do qual é exemplo a contaminação fecal, nomeadamente ao nível de E.
coli e Enterococos, evitando assim a transmissão de doenças.[21]
Numa estação de tratamento de águas, o tratamento ocorre por etapas:
Figura 6 - Ciclo dos processos de tratamento[22]
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1 – Captação: a água passa por um sistema de grades, impedindo a entrada de
elementos macroscópicos (ex: animais mortos, folhas, etc.) no sistema. Uma parte das
partículas encontra-se em suspensão, em estado coloidal ou em solução, e por ter
dimensões muito reduzidas, das quais é exemplo a argila, não se depositam, dificultando a
remoção;
2 – Coagulação: visa aglomerar essas partículas, geralmente, através da adição de
cal hidratada (hidróxido de cálcio) e sulfato de alumínio, sendo agitada rapidamente,
levando à sua aglomeração;
3 – Floculação: a água é agitada lentamente de modo a favorecer a união das
partículas, levando à formação de conglomerados maiores;
4 – Decantação: a água fica em repouso, levando à deposição dos segmentos no
fundo, separando-os da água. O lodo do fundo é conduzido para tanques de depuração,
sendo que o ideal é que este seja transformado em adubo, num biodigestor. A água, após o
retirar do lodo, é conduzida para o filtro de areia;
5 – Filtração: a água, já decantada, irá passar por um filtro de cascalho/ areia/
antracito (carvão mineral), local onde lhe irão ser retiradas as partículas ou microrganismos
não decantados na fase anterior;
6 – Cloragem: é aplicado Cloro na água com o intuito de remover microrganismos
causadores de doenças;
7 – Correção do pH: esta visa corrigir uma possível alcalinidade da água recorrendo
à cal hidratada ou carbonato de sódio, mas também prevenir e evitar uma possível corrosão
futura da rede de condutas que irá distribuir a água após tratamento;
8 – Armazenamento e Distribuição: A água após tratamento e já potável é
armazenada em grandes reservatórios para posterior distribuição para as residências,
comércio e indústria. Os reservatórios encontram-se normalmente instalados nos locais
mais altos das cidades.[23]
Qualidade da Água de Poço e Águas Pluviais da FEUP - Avaliação de Parâmetros Microbiológicos 17
5. Métodos analíticos utilizados
5.1 Método da Membrana Filtrante
É um método rápido e preciso para o isolamento de bactérias.
Neste processo é utilizado um filtro de membrana, de tamanho e poro apropriado, e é
colocado num suporte de filtro, com o intuito de reter os microrganismos, neste último, e assim
possibilitar a passagem apenas da restante solução. Para que os resultados mantenham as
mesmas condições e para que a fiabilidade da experiência seja a mesma em todas as
amostras, é essencial que se lave a membrana com solução estéril de cloreto de sódio (NaCl),
após a filtração.
Por fim, o filtro de membrana é colocado sobre um meio de cultura adequado e é
incubado, permitindo o crescimento e o desenvolvimento dos microrganismos presentes. Após
o período de incubação, procede-se à contagem das UFC.[19]
Figura 7 - Método da membrana filtrante[20]
Qualidade da Água de Poço e Águas Pluviais da FEUP - Avaliação de Parâmetros Microbiológicos 18
5.2 Meios de cultura utilizados
A sobrevivência e o suporte de vida dos organismos está dependente do adequado
fornecimento de nutrientes bem como das condições favoráveis ao seu desenvolvimento, entre
as quais o pH, a luz e a temperatura. Quanto aos nutrientes, uma grande parte dos
microrganismos apenas necessita de substâncias solúveis de baixo peso molecular. A uma
solução que contenha estes nutrientes designamos de meios de cultura, meios estes que
podem estar no estado líquido, sólido ou semisólidos, os quais fornecem as condições
necessárias para que os microrganismos se multipliquem num meio artificial, para permitir
entre outros objetivos, o seu estudo e análise.
No decorrer do trabalho, foram utilizados dois tipos de meios de cultura: LSA e SB.
LSA
É um meio seletivo para isolamento e contagem de microrganismos do grupo dos
Coliformes e E. coli, em amostras de água com recurso ao método da membrana filtrante. Este
apresenta inúmeros componentes, entre os quais peptonas, responsável pelo fornecimento do
azoto, vitaminas, minerais e aminoácidos, elementos estes fulcrais no crescimento dos
microrganismos. Na sua constituição, o extrato de levedura é o componente encarregue do
fornecimento de vitaminas, particularmente do grupo B. O laurilsulfato de sódio é o agente que
inibe o crescimento de organismos que não pertencem ao grupo dos Coliformes. O agar e a
lactose são outros constituintes deste meio de cultura, sendo que pH da mesma se deve
encontrar nos 7,4 ± 0,2 a 25ºC, sendo o vermelho de fenol o seu indicador.[15] Na Tabela 1,
presente no Apêndice A, está descrita, de forma mais detalhada, a composição do meio LSA.
Figura 8 - LSA (A) e SB (B)
A
B
Qualidade da Água de Poço e Águas Pluviais da FEUP - Avaliação de Parâmetros Microbiológicos 19
SB
É um meio de cultura sintetizado por Slanetz & Bartley (SB) com o propósito de detetar e
contar Enterococos em amostras de água por método da membrana filtrante.
Nele contido temos vários componentes com vários propósitos, entre os quais a triptose e
o extrato de levedura que fornecem o azoto, vitaminas e minerais necessários para o
crescimento dos organismos.
A azida sódica tem um efeito inibidor sobre os organismos gram negativos, o cloreto de
trifeniltetrazólio é reduzido no interior das células das bactérias a um formazan insolúvel
(produto artificial resultante de redução de um sal tetrazólio por desidrogenase e redutase)
formando colónias vermelhas escuras. Para além destes componentes, este meio de cultura
contém também glicose, hidrogenofosfato de potássio e agar.
Quando este meio de cultura é incubado a temperaturas altas (44 - 45 ºC), todas as
colónias vermelhas escuras podem ser presumidas como Enterococos.[17] Na Tabela 2,
presente no Apêndice A, encontra-se mais detalhadamente a composição do meio SB.
5.3 Procedimento experimental
1. Identificou-se duas placas de Petri contendo o meio de cultura seletivo LSA (Lauryl
Sulfate Agar) e SB (Slanetz and Bartley) com a designação da turma e do nome do aluno;
2. Colocou-se o funil de filtração estéril na rampa de filtração;
3. Colocou-se a membrana filtrante estéril (0,45 μm de porosidade e 47 mm de diâmetro)
com a ajuda de uma pinça espatulada flamejada (isto é, mergulhada em álcool etílico e levada
à chama do bico de Bunsen);
4. Agitou-se a amostra e adicionou-se 100 mL de amostra ao funil com a torneira fechada;
5. Ligou-se a bomba de vácuo e filtrou-se a amostra abrindo a torneira da rampa de
filtração;
6. Depois do processo de filtração, fechou-se novamente a torneira e, com a pinça
espatulada flamejada, retirou-se a membrana e colocou-se sobre a superfície do meio de
cultura;
7. Agitou-se novamente a amostra de água e repetiu-se o procedimento para o duplicado;
8. Incubou-se as culturas de acordo com as temperaturas recomendadas para cada grupo
de indicadores de poluição. Para o meio seletivo de LSA (pesquisa de E. coli), as amostras
foram incubadas a 30 °C durante 4 h, e depois a 44 °C durante 14 h. Para o meio SB
(pesquisa de Enterococos) as amostras foram incubadas a 36 °C ± 2 °C durante 44 h ± 4 h.
Qualidade da Água de Poço e Águas Pluviais da FEUP - Avaliação de Parâmetros Microbiológicos 20
6. Resultados e Discussão
Águas de poço
Nas amostras das águas de poços, no meio LSA observaram-se colónias típicas
amarelas (amostra 1) e colonias atípicas de cor rosa (amostra 2). Dado se ter filtrado 1 mL
de amostra de água, foi possível efetuar a contagem das UFC nas 2 placas (em duplicado),
sendo 2500 UFC/ 100 mL e 1000 UFC/ 100 mL, respetivamente. No entanto, não foi
confirmada a presença de E. coli. Seria, no entanto, adequado repetir a colheita de amostra
de água e repetir a análise.
No que diz respeito ao Enterococos, no meio SB, observaram-se colónias castanho
avermelhadas escuro na proporção de 600 UFC/ 100 mL. Após os testes confirmativos,
conclui-se que a amostra em estudo continha Enterococos.
Tendo em conta os resultados e quando comparados com o Decreto - Lei 236/98
aplicada para a qualidade das águas doces superficiais designadas à produção de água
para consumo humano, a água de poço foi enquadrada no tipo de água A3, como é possível
verificar na Tabela 3 do Apêndice B, no qual o valor máximo recomendado de coliformes
fecais admitidos é de 20 000 em 100 mL. Para que esta água pudesse ser utilizada para
consumo humano teria de passar por um tratamento físico, químico, de afinação, desinfeção
e posteriormente estar de acordo com os valores paramétricos indicados no Decreto - Lei
236/98.
Para as águas balneares o que está previsto na legislação é que o número de
coliformes fecais não ultrapasse o número de 2000 UFC / 100 mL. No caso das águas dos
poços estes valores são ultrapassados, pelo que não poderiam ser utilizados para práticas
balneares.
Águas pluviais
Nas amostras das águas pluviais, no meio LSA, também se observaram colónias típicas
amarelas e colónias a típicas rosa mas em quantidade muito elevada, de difícil contagem
(superior a 100 UFC/ 100mL). Os testes confirmativos efetuados posteriormente a algumas
colónias típicas amarelas confirmaram a presença de E. coli na amostra das águas pluviais
em estudo. No entanto, seria adqueado efetuar um nova colheira e posterior análise,
efetuando diluições da água até ser possível efetuar uma contagem adequada das UFC.
Relativamente à presença de Enterococos na amostra das águas pluviais e recorrendo
ao meio de cultura SB, observaram-se colónias castanho avermelhadas indicadoras de
Enterococos em quantidades superiores a 100 UFC por 100 mL. Após os testes
Qualidade da Água de Poço e Águas Pluviais da FEUP - Avaliação de Parâmetros Microbiológicos 21
confirmativos, conclui-se que a amostra em estudo continha Enterococos.
Em relação às águas pluviais, já foi mencionado em cima que seria necessário fazer
uma nova análise, então para que esta água pudesse ser utilizada para consumo humano
teria de passar por um tratamento físico, químico e de desinfeção e posteriormente estar de
acordo com os valores paramétricos indicados no Decreto - Lei 236/98.
No que diz respeito ás águas balneares, o número de UFC por mL nas águas pluviais
não excede o valor admissível, mas voltamos a referir que seria necessário fazer uma nova
análise a estas águas.
De acordo com a legislação aplicada às águas para a rega, ambas as amostras não
poderiam ser utilizadas, uma vez que o número de coliformes fecais é superior a 100 UFC
por 100mL, ultrapassando o valor máximo recomendado como se verifica na Tabela 5, do
Apêndice B.
Figura 9 - Resultados experimentais: Água de poço (E) e Águas pluviais (D)
E D
Qualidade da Água de Poço e Águas Pluviais da FEUP - Avaliação de Parâmetros Microbiológicos 22
7. Conclusões
Com a realização desta experiência, pôde-se concluir que as águas analisadas, só se
podem destinar a um tipo específico de água e não a qualquer um, uma vez que estas se
encontram contaminadas com coliformes fecais. Baseando-nos nos parâmetros relativos ao
número de bactérias fecais (Enterococos e E. coli), tanto as águas pluviais como as águas de
poço teriam de ser submetidas a tratamentos estipulados no Decreto - Lei nº 236/1998 para se
puderem destinar à produção de águas para consumo humano. Para os restantes tipos de
água supramencionados, apenas as águas pluviais poderiam ter uma outra finalidade,
especificamente, águas que se destinam a práticas balneares, não apresentando as restantes
tratamento previsto na lei.
Qualidade da Água de Poço e Águas Pluviais da FEUP - Avaliação de Parâmetros Microbiológicos 23
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[18]http://www.oxoid.com/uk/blue/prod_detail/prod_detail.asp?pr=CM0377&org=68&c=u
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[21] Sua Pesquisa.com, 2016. "Tratamento de água". Acedido a 18 de outubro de 2016.
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[22]http://soumaisenem.com.br/quimica/aspectos-macroscopicos/separacao-de-
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[23] Esquadrão do conhecimento, 2014. "Estação de tratamento de água (ETA) -
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https://esquadraodoconhecimento.wordpress.com/ciencias-da-natureza/quim/estacao-de-
tratamento-de-agua-eta-etapas/
Qualidade da Água de Poço e Águas Pluviais da FEUP - Avaliação de Parâmetros Microbiológicos 25
Apêndices
Apêndice A
Tabela 1 - Composição do meio LSA[16]
Composição (g/L)
Agar 15,0
Extrato de Levedura
6,0
Lactose 30,0
Lauril Sulfato de Sódio
1,0
Peptona 39,0
Vermelho de fenol
0,20
pH 7,40 0,2 a 25 ºC
Tabela 2 - Composição do meio SB[18]
Composição (g/L)
Agar 10,0
Extrato de Levedura
5,0
Triptose 20,0
Glicose 2,0
Hidrogenofosfato de potássio
4,0
Cloreto de 2,3,5 - Trifeniltetrazolio
0,1
Azida sódica 0,40
pH 7,40 0,2 a 25 ºC
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Apêndice B
Tabela 3 - Anexo I - Qualidade das águas doces superficiais designadas a produção de água para consumo humano (Decreto-Lei nº 236/1998)
Tabela 4 - Anexo XV - Qualidade das águas balneares (Decreto-Lei nº 236/1998)