AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO PSICOMOTOR EM CRIANÇAS COM
DISLEXIA DESENVOLVIMENTAL
RESUMO A dislexia é um transtorno no déficit linguístico que dificulta a aprendizagem de leitura, escrita, soletração e decodificação das palavras. Trazendo consigo um enorme transtorno para o sistema educacional e para o aprendiz, as crianças com dislexia não apresentam dificuldades apenas na escrita e na leitura, mas também em diversas facetas do domínio motor. Essas crianças apresentam dificuldades no controle postural, coordenação motora e na realização de tarefas que requerem movimentos precisos e rápidos. Desta forma, o interesse do presente estudo na realização de uma avaliação detalhada da psicomotricidade destas crianças justifica-se na verificação da incidência de atraso no desenvolvimento motor para uma possível contribuição do mesmo em pesquisas futuras, visando à elaboração de um programa de treinamento para os possíveis déficits motores encontrados e a prevenção de seus agravos. Assim, o objetivo central deste trabalho é avaliar o desempenho psicomotor de crianças que apresentam a Dislexia Desenvolvimental. Este estudo foi realizado na Escola Municipal Dr. Chateaubriand, situado no bairro do José Pinheiro, na Cidade de Campina Grande – PB, a amostra foi composta por nove alunos da mesma escola que apresentam a Dislexia Desenvolvimental, sendo utilizada a Escala de Desenvolvimento Motor, desenvolvida por Rosa Neto (2002). Na avaliação Psicomotora as crianças apresentaram os seguintes resultados: Motricidade fina - 67% das crianças que foram submetidas a avaliação não corresponderam sua idade cronológica com sua idade motora; Motricidade Global - 89% das crianças corresponderam sua idade cronológica com sua idade motora; Equilíbrio - 56% das crianças corresponderam sua idade cronológica com sua idade motora; Esquema Corporal - 89% das crianças não corresponderam sua idade cronológica com sua idade motora; Organização Espacial - 56% das crianças não corresponderam sua idade cronológica com sua idade motora; Organização Temporal - 100% das crianças não corresponderam sua idade cronológica com sua idade motora e; Lateralidade – onde 56% das crianças apresentavam-se destro completo e 44% apresentavam lateralidade cruzada, não possuindo neste estudo nenhuma criança com lateralidade indefinida ou sinistro completo. Esta pesquisa permitiu observar um alto índice de alunos com idade motora inferior à idade cronológica média que segundo rosa neto (2002) e outros desenvolvimentistas consideram ideal. Como essa pesquisa não é conclusiva ainda se permite mais estudos na área da Motricidade humana e em especial a Dislexia. Palavras-chave: Dislexia Desenvolvimental, Psicomotricidade, Escala de Desenvolvimento Motor. INTRODUÇÃO
Baseando-se em Mousinho (2003), a dislexia é um transtorno no
processo de leitura, portanto, um déficit linguístico que dificulta a aprendizagem
de leitura, escrita, soletração e decodificação das palavras, trazendo um
enorme transtorno para o sistema educacional e para o aprendiz. As crianças
com dislexia não apresentam dificuldades apenas na escrita e na leitura, mas
também em diversas facetas do domínio motor (MOE-NILSSEN et al., 2003).
Crianças com dislexia apresentam dificuldades no controle postural,
coordenação motora e na realização de tarefas que requerem movimentos
precisos e rápidos. Fawcett e Nicolson (1999) sugeriram que tal
comprometimento motor estaria relacionado a possíveis déficits de integração
sensória-motora no cerebelo.
A avaliação psicomotora geralmente ocorre devido a vários propósitos.
Em geral, avalia-se o aluno pela tentativa de se identificar alguma dificuldade
psicomotora, de forma que possa ser elaborado um programa de treinamento
para a estimulação de tais habilidades não adquiridas, haja vista que quando
há um desenvolvimento cognitivo inadequado, provavelmente há um atraso no
desenvolvimento motor. Estes instrumentos são utilizados tanto para detectar
possíveis déficits psicomotores, quanto auxiliam na elaboração de um
planejamento para a estimulação psicomotora quando tais déficits são
apontados (REZENDE, 2003).
Desta forma, o interesse do presente estudo na realização de uma
avaliação detalhada do desempenho psicomotor destas crianças justifica-se na
verificação da incidência de atraso no desenvolvimento motor para uma
possível contribuição do mesmo em pesquisas futuras, visando à elaboração
de um programa de treinamento para os possíveis déficits motores encontrados
e a prevenção de seus agravos.
OBJETIVO
O objetivo central deste trabalho foi avaliar o desempenho psicomotor de
crianças que apresentam a Dislexia Desenvolvimental através da Escala de
Desenvolvimento Motor desenvolvida por Rosa Neto (2002).
METODOLOGIA
Esta pesquisa é caracterizada como sendo descritiva, exploratória e de
caráter transversal, apresentando uma abordagem quantitativa, possuindo
como finalidade a descrição de determinadas características da população
através de dados estatísticos.
O presente estudo foi realizado na Escola Municipal Dr. Chateaubriand,
situado no bairro do José Pinheiro, na Cidade de Campina Grande - PB. E o
período de sua realização foi entre os meses de Agosto de 2011 a Fevereiro de
2012. A amostra deste estudo se caracteriza como não probabilística, sendo
composta por nove alunos da Escola Municipal Dr. Chateaubriand, que
apresentam a Dislexia Desenvolvimental.
O Perfil Psicomotor da criança foi avaliado através do protocolo EDM –
Escala de Desenvolvimento Motor (Rosa Neto, 2002), que consiste na
mensuração de 6 aspectos psicomotores: Motricidade Global (Mf), Motricidade
Fina (Mf), Equilíbrio (Eq), Esquema Corporal/Rapidez (EcR), Organização
Espacial (Oe) e Linguagem/Organização Temporal (LoT). Em cada aspecto são
apresentadas tarefas de acordo com a Idade Cronológica (IC) da criança a
serem executadas pela mesma.
O tratamento estatístico empregado utilizou-se das ferramentas de
análise estatística do Microsoft Excel, avaliando os seis aspectos analisados
pela escala motora de Rosa Neto (2002).
O estudo foi previamente submetido à avaliação pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da UEPB, obtendo parecer favorável para o seu desenvolvimento.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na avaliação Psicomotora as crianças apresentaram os seguintes
resultados:
Com relação ao resultado deste teste obtivemos uma taxa significativa
de insucesso em sua realização, onde 67%, ou seja, 6 crianças das nove que
foram submetidas a avaliação não corresponderam sua idade cronológica com
sua idade motora, mostrando déficits motores quanto a motricidade fina.
De acordo com o estudo Okuda et al. (2010) ao analisar os escolares
com dislexia, os mesmos apresentaram dificuldades em atividades de
preensão e pressão de objetos e coordenação visuo-espacial, o que pode ser
justificado pela idade motora fina abaixo do esperado para idade e
escolaridade. O que corrobora com os resultados encontrados neste estudo.
Com relação ao resultado deste teste obtivemos uma taxa bem
expressiva de sucesso, onde 89%, ou seja, 8 crianças das nove que foram
submetidas a avaliação corresponderam sua idade cronológica com sua idade
motora, realizando com êxito as atividades propostas referente a sua idade
cronológica.
De acordo com o estudo de Crippa et al. (2003) com relação à idade
motora global das crianças disléxicas, as mesmas apresentaram resultados
satisfatórios visto que a média da idade cronológica foi de 57,21 meses.
Com relação ao resultado deste teste obtivemos uma taxa de sucesso
em sua realização de 56%, ou seja, 5 crianças das nove que foram submetidas
a avaliação corresponderam sua idade cronológica com sua idade motora.
Testes motores geralmente demonstram que crianças com atraso no
desenvolvimento ou deficiências no domínio perceptual-motor têm equilíbrio
insuficiente (GEUZE, 2003).
Com relação ao resultado deste teste obtivemos uma taxa
significativamente maior de insucesso em sua realização, onde 89%, ou seja, 8
crianças das nove que foram submetidas a avaliação não corresponderam sua
idade cronológica com sua idade motora.
Segundo o estudo desenvolvido por Schutt (2008) na realização deste
teste houve também um índice elevado de insucesso, onde a mesma justifica
essas dificuldades através da coordenação deficiente, lentidão e má postura
decorrentes do déficit de elaboração do esquema corporal na área motora,
resultando num esquema corporal mal estruturado e com transtornos nas áreas
motoras, perceptivas e social.
Com relação ao resultado deste teste obtivemos uma taxa maior de
insucesso em sua realização, onde 56%, ou seja, 5 crianças das nove que
foram submetidas a avaliação não corresponderam sua idade cronológica com
sua idade motora.
Schutt (2008) ao verificar a organização espacial, pôde observar os seus
participantes permaneceram no nível muito inferior quando comparados a
aquelas crianças não portadoras da dislexia. Como a dislexia é uma alteração
a nível de cerebelo é justificável as diversas alterações que ocasionam o atraso
do desenvolvimento motor destes indivíduos.
Com relação ao resultado deste teste obtivemos expressiva taxa de
insucesso em sua realização, onde 100%, ou seja, 9 crianças que foram
submetidas a avaliação não corresponderam sua idade cronológica com sua
idade motora.
No estudo realizado por Mansur (2006) em escolares com transtornos de
aprendizagem a média da idade motora da organização temporal foi inferior à
da idade cronológica. A média dos escores do quociente motor geral e a média
dos quocientes motores específicos da motricidade fina, motricidade global,
equilíbrio, esquema corporal, organização espacial e organização temporal
foram representativos do nível “muito inferior”, segundo a “EDM”. Sendo que à
organização temporal atribuiu-se o maior déficit. O que vai de encontro com os
resultados encontrados neste estudo.
Com relação ao resultado deste teste obtivemos uma taxa maior para
destro completo, representado por 56% do total das crianças, ou seja, 5
crianças e 44% apresentavam lateralidade cruzada, não possuindo neste
estudo nenhuma criança com lateralidade indefinida ou sinistro completo.
A maior frequência de lateralidade destra completa encontrada neste
estudo corrobora com a pesquisa entre escolares com transtornos de
aprendizagem de Mansur (2006), onde 40% da amostra apresentaram
lateralidade destra completa, 35% indefinida, 10% sinistra e 15% cruzada. O
aparecimento da lateralidade indefinida e do sinistro completo neste estudo
pode ser justificado pelo tamanho da amostra se apresentar maior que a do
presente estudo.
CONCLUSÕES
Os resultados apresentados apontam uma discrepância entre a média
da idade cronológica quando comparado com a média da idade motora. Esta
pesquisa permitiu observar um alto índice de alunos com idade motora inferior
à idade cronológica média que segundo rosa neto (2002) e outros
desenvolvimentistas consideram ideal.
Portanto, em uma perspectiva diagnóstica, a determinação do perfil
motor de escolares com Dislexia pode auxiliar na identificação bem como na
conduta terapêutica e educacional destes escolares que necessitam de
enfoque clínico e educacional voltado para a minimização do impacto das
manifestações comportamentais e cognitivo-linguísticas inerentes à dislexia
visando a uma melhor qualidade de vida social e acadêmica destes indivíduos.
Como essa pesquisa não é conclusiva ainda se permite mais estudos na
área da Motricidade humana e em especial a Dislexia.
REFERÊNCIAS
1. CRIPPA, L. R. et al. Avaliação motora de pré-escolares que praticam ativ idades recreativas . R. da Educação Física/UEM. Maringá, v. 14, n. 2, p. 13-20, 2. sem. 2003.
2. GEUZE, R. H. Static balance and developmental coordination disor der . Hum Mov Sci. 2003;22(4-5):527-48. 2003.
3. FAWCETT, A. J. E R. I. NICOLSON. Performance of dyslexic children on cerebellar and cognitive test . Journal of Motor Behavior, v.37, n.1, p.68-78. 1999.
4. MANSUR, S. S. MARCON, A. J. Perfil motor de crianças e adolescentes com deficiência mental moderada . Rev Bras Crescimento Desenvolv Hum. 2006;16(3):09-15. 2006.
5. MOE-NILSSEN, R., J. L. HELBOSTAD, et al. Balance and gait in children with dyslexia . Experimental Brain Research, v.150, 2003, p.237-244. 2003.
6. MOUSINHO, R.A. Conhecendo a dislexia . Revista Sinpro. Rio de Janeiro: Escola do Professor e do Departamento de Comunicação do Sinpro-Rio, 2003.
7. OKUDA, P. M. M. et al. Coordenação motora fina de escolares com dislexia e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade . Rev. CEFAC, São Paulo. 2010.
8. ROSA NETO, FRANCISCO - Manual de avaliação motora - Artmed 2002. 9. REZENDE, Jelmary; GORLA, José Irineu; ARAÚJO, Paulo; CARMINATO, Ricardo.
Bateria Psicomotora de Fonseca: uma Analise com Por tadores de Deficiência Mental - Revista Digital - Buenos Aires ano 9, Nº 62 - Julho de 2003.
10. SCHUTT, V. A. Psicomotricidade- Estruturação das habilidades psic omotoras e o processo de aprendizagem de crianças em fase escola r. Monografia apresentada no Instituto de Ciências da Saúde – FEEVALE. Novo Hamburgo. 2008.