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Bem-aventurados os que têm os olhos fechados
3 de maio de 202300:02:16
HELIOCRUZ
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Bem-aventurados os que têm os olhos fechados. É importante dizer que esta frase não faz parte do maravilhoso Sermão do Monte, proferido por Jesus. Ela foi dita por Jean-Marie Baptiste Vianney, e está contida nas Instruções dos Espíritos, item 20, do Capítulo VIII, do Evangelho Segundo o Espiritismo.“Quando uma aflição não é consequência dos atos da vida presente, deve-se-lhe buscar a causa numa vida anterior. Tudo aquilo a que se dá o nome de caprichos da sorte mais não é do que efeito da justiça de Deus, que não inflige punições arbitrárias, pois quer que a pena esteja sempre em correlação com a falta”.Em Paris, um grupo de pessoas espíritas se reunia normalmente para o estudo dos ensinamentos dos Espíritos.
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Em uma noite do ano de 1863, um dos componentes do grupo levou para a reunião uma menina que havia ficado cega, com a intenção de rogar a intercessão dos amigos espirituais, em favor dela. Os demais companheiros do grupo aceitaram a sugestão. E, após os estudos de praxe, ocasião em que tiveram a oportunidade de buscarem o contato com a espiritualidade, através da mediunidade, um dos presentes lembrou-se de um Espírito muito amado na França, e resolveu evocar a presença de Jean-Marie Baptiste Vianney, também conhecido como Cura de Ars. E, para alegria de todos os presentes, o benfeitor espiritual se manifestou, e, utilizando-se das faculdades mediúnicas de um dos participantes da reunião, falou a todos os presentes, deixando uma mensagem de consolação e de esclarecimento. Eis a mensagem:
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“Meus bons amigos, para que me chamastes? Terá sido para que eu imponha as mãos sobre a pobre sofredora que está aqui e a cure? Ah! Que sofrimento, bom Deus! Ela perdeu a vista e as trevas a envolveram. Pobre filha! Que ore e espere. Não sei fazer milagres, eu, sem que Deus o queira. Todas as curas que tenho podido obter e que vos foram assinaladas não as atribuais sendo aquele que é Pai de todos nós. Nas vossas aflições, volvei sempre para o céu o olhar e dizei do fundo do coração: “Meu Pai, cura-me, mas faze que minha alma enferma se cure antes que o meu corpo; que minha carne seja castigada, se necessário, para que minha alma se eleve ao teu seio, com a brancura que possuía quando a criaste”. Após essa prece, meus amigos, que o bom Deus ouvirá sempre, dadas vos serão a força e a coragem e, quiça, também a cura que apenas timidamente pedistes, (...)
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Em recompensa da vossa abnegação. Contudo, uma vez que aqui me acho, numa assembleia onde principalmente se trata de estudos, dir-vos-ei que os que são privados da vista deveriam considerar-se os bem-aventurados da expiação. Lembrai-vos de que o Cristo disse convir que arrancásseis o vosso olho se fosse mal, e que mais valeria lançá-lo ao fogo do que deixar se tornasse causa da vossa condenação. Ah! Quantos há no mundo que um dia, nas trevas, maldirão o terem visto a luz! Oh! Sim, como são felizes os que, por expiação, vêm a ser atingidos na vista! Os olhos não lhes serão causa de escândalo e de queda; podem viver inteiramente da vida das almas; podem ver mais do que vós que tendes límpida a visão! (...) Confia no bom Deus, que fez a ventura e permite a tristeza.
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Farei tudo o que me for consentido a teu favor; mas, a teu turno, ora e, ainda mais, pensa em tudo quanto acabo de te dizer. Antes que me vá, recebei todos vós, que aqui vos achais reunidos, a minha bênção”.Como ficou patenteado, a criança, embora estivesse amparada, não encontrou a solução para o seu problema. E, por que o Cura de Ars não curou aquela menina?Reflexão:Podemos imaginar: Ele não fez a cura porque não tinha poder para curá-la. Ele não quis curá-la. Embora tivesse poder de cura, ele não pode curá-la. Ora, Vianney, durante a sua existência na Terra, vivenciou o Evangelho de Jesus. Trabalhava nas hostes do catolicismo, e era um exemplo da vivência cristã.
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Vianney era um desses espíritos generosos, que vêm à Terra unicamente para trabalhar em favor do semelhante. Durante a sua existência no nosso orbe, naturalmente amparado por benfeitores espirituais, realizou inúmeras curas, inclusive a cura de alguns cegos. Ora, se enquanto encarnado ele havia desenvolvido essa potencialidade capaz de efetuar uma cura, desencarnado também poderia fazê-lo, pois o espírito não perde as suas qualidades. Então, nós podemos descartar a possibilidade de Vianney não ter poder para realizar aquela cura. Basta estudarmos um pouco a vida do Cura de Ars para sabermos que se tratava de um espírito generoso, fraternal, que se sensibilizava com o sofrimento alheio, e capaz mesmo de se sacrificar para ajudar o semelhante. Por certo, ele queria sim curar aquela criança.
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Já vimos que Vianney tinha poder para fazer a cura; ele também queria curar a menina. Porém, ele não pode efetuar essa cura, embora se sensibilizasse com o sofrimento daquela criança. O cura de Ars, provavelmente, percebeu que as leis magnânimas do Criador haviam instituído para aquele espírito aquela expiação necessária. Pois, era necessário que a criança vivenciasse aquela dor, ou seja, a cegueira. Naturalmente, quando o benfeitor olhou para aquela menina não viu, como os companheiros do grupo, só o presente. Ele identificou o passado, observou o presente, e vislumbrou o futuro. Ao ver o passado, compreendeu onde estava a causa do sofrimento presente, onde aquele espírito havia se equivocado. E, agora no presente, ele estava vivenciando a expiação necessária. E, vislumbrando o futuro, compreendeu a justiça de Deus, entendendo que, se aquele espírito (...)
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Vivenciasse essa expiação necessária sairia da Terra vitorioso, quite com seus equívocos do passado. Por esse motivo, Vianney não pode interferir, em respeito e obediência aos códigos superiores da vida. O benfeitor espiritual a necessidade daquele sofrimento. No Evangelho Segundo o Espiritismo, encontramos no Capítulo V, Instruções dos Espíritos, Santo Agostinho falando sobre O Mal e o Remédio, quando ele diz: “Será a Terra um lugar de gozo, um paraíso de delícias? Já não ressoa mais aos vossos ouvidos a voz do profeta? Não proclamou ele que haveria prantos e ranger de dentes para os que nascessem nesse vale de dores? Esperai, pois, todos vós que aí viveis, causticantes lágrimas e amargo sofrer e, por mais agudas e profundas sejam as vossas dores, volvei o olhar para o céu e bendizei do Senhor por ter querido experimentar-vos”.
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E o remédio para o espírito é exatamente a própria dor que ele está enfrentando. É muito importante nós refletirmos sobre isso, porque, muitas vezes, nós chegamos à Casa Espírita, levados por alguém ou levados pela dor, em condições de sofrimento semelhantes a dessa menina da narrativa, e, por certo, os Benfeitores Espirituais irão nos ajudar. Mas, em se tratando da solução do nosso problema, da cura efetiva de nosso mal, nem sempre é possível que os Espíritos intercedam a nosso favor, isso porque, existem causas anteriores para o nosso padecimento atual, e esse sofrimento que nós enfrentamos é a nossa necessidade, é o nosso remédio para o nosso próprio crescimento espiritual. Deus, que é infinitamente bom e justo, jamais permite uma doença ou qualquer dificuldade se elas não tivessem um objetivo salutar para o espírito.
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Agora, por que Vianney disse que são bem-aventurados os que não podem enxergar? Para nós entendermos essas palavras do Cura de Ars, precisamos compreender que existem dois tipos de cegueira: a cegueira física e a cegueira espiritual. Com relação à cegueira física, narram alguns evangelistas que, certa vez, Jesus, acompanhado por seus discípulos, e passando pelo tanque de Siloé, avistou um homem que era cego, e um dos discípulos, alertando o Mestre, disse que aquele homem era cego de nascença, e perguntou quem havia pecado, ele ou seus pais para que ele nascesse assim, e o Cristo respondeu que nem ele nem os seus pais. Ele nasceu assim para dar testemunho do Reino dos Céus. Jesus deixou os discípulos e caminhou na direção daquele homem cego.
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Cuspiu na terra, e com a saliva fez uma espécie de pasta e aplicou nos olhos daquele homem, e mandou-o se lavar no tanque. Então, ele lavou os olhos e, a partir daquele momento, estava curado. Então, aquelas pessoas que o conheciam de vista, como cego, perguntaram-lhe: Como te foram abertos os olhos? Respondeu ele: Aquele homem chamado Jesus ungiu-me os olhos e disse: Vai a Siloé e lava-te; então fui, lavei-me e fiquei vendo. Com relação à cegueira espiritual, vamos acompanhar um jovem doutor da Lei: ele segue com uma pequena comitiva em direção a Damasco. O seu propósito é prender um ancião, de nome Ananias, seguidor de um carpinteiro chamado Jesus. Mas, quando ele está se aproximando da cidade, um fato inusitado acontece. Uma luz esplendorosa brilha no céu.
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Saulo de Tarso cai de joelhos na areia e percebe que aquela luz magnífica começa a tomar forma. É o Mestre Jesus que estava vindo ao seu encontro. E o Rabi da Galileia faz apenas uma pergunta: Saulo, Saulo! Por que me persegues? Naquele instante, vislumbrando aquele homem vestido de luz e, diante daquela indagação, Saulo compreendeu que estava errado, estava numa profunda escuridão. Aquele ser de luz era o Messias que havia de vir. Então, ele também pergunta: Senhor, o que queres que eu faça?Jesus vai ao encontro daquele homem no tanque de Siloé e o cura da cegueira física; e, igualmente vai ao encontro daquele doutor da Lei e o cura da cegueira espiritual. Agora, já podemos entender porque Vianney disse que são bem-aventurados os que têm os olhos fechados.
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Porque a cegueira física do presente é a remissão do espírito.A Doutrina Espírita é uma doutrina de profundidade. Não é uma doutrina de superfície. Ela não promete curas espetaculares. O Espiritismo nos convida a ter fé raciocinada, a confiar na mensagem de Jesus.
Muita Paz!Meu Blog: http://espiritual-espiritual.blogspot.com.br
Com estudos comentados de O Livro dos Espíritos, de O Livro dos Médiuns, e de O Evangelho Segundo o Espiritismo.