BREAK: UMA CULTURA CORPORAL E POLITICA
*Sueli Celeide de Souza
**Prof. Crisieli Maria Tomeleri
Resumo
A dança no ambiente escolar oportuniza situações desafiadoras, as quais permitam que os educandos possam encontrar respostas por si mesmas, para suas indagações, tornando-se pessoas autônomas e críticas. A dança tem uma função pedagógica específica na escola que se traduz na criação de movimentos criativos e de livre expressão. Uma das finalidades da dança na escola é permitir ao educando evoluir em relação ao domínio de seu corpo, assim desenvolverá e aprimorará suas possibilidades de movimentação, descobrindo novos espaços, formas, superação de suas limitações e condições para enfrentar novos desafios quanto aspectos motores, sociais, afetivos e cognitivos. Enquanto um processo educacional, a dança não se resume em aquisição de habilidades, mas sim, contribui para o aprimoramento de habilidades básicas, no desenvolvimento das potencialidades humanas e sua relação com o mundo. Segundo os PCNs ( 2003), a dança é uma forma de integração e expressão tanto individual quanto coletiva, em que o aluno exercita a atenção, a percepção, a colaboração e a solidariedade. Baseado na importância da dança, onde o presente estudo tem por objetivo perceber qual a contribuição da dança, no desenvolvimento do processo de interação, socialização, criatividade, imaginação e expressão.
Introdução
Entre outros conteúdos da Educação Física, a dança apresenta papel
fundamental enquanto atividade pedagógica, por possibilitar o despertar do aluno
para uma relação concreta de sujeito-mundo.
Suas práticas, geradoras de ação e compreensão, favorecem a estimulação
para a ação e decisão, e também reflexão sobre os resultados de suas ações,
reforçando assim a auto-estima, a auto-imagem, a autoconfiança e o auto-conceito.
Nesta perspectiva, Pereira (2001, p. 61) coloca que:
A dança é um conteúdo fundamental a ser trabalhado na escola: com ela, podem-se levar os alunos a conhecerem a si próprios e/com os outros; a explorarem o mundo da emoção e da imaginação; a criarem; a explorarem novos sentidos, movimentos livres. Verifica-se assim, as infinitas possibilidades de trabalho do/para o aluno com sua corporeidade por meio dessa atividade.
Observa-se assim que através das atividades de dança, pretende-se que os
alunos evoluam quanto ao domínio de seu corpo, desenvolvendo e aprimorando
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suas possibilidades de movimentação, descobrindo novos espaços, novas formas,*Sueli Celeide de Souza: Professora do Estado do Paraná na cidade de Ivaiporã.**. Crisieli Maria Tomeleri professor de Educação Física na UEL.
visando a superação de suas limitações e condições para enfrentar novos
desafios quanto aos aspectos motores, sociais, afetivos e cognitivos.
No entanto, diante a realidade escolar que estou inserida observa-se a
resistência quanto à implementação de propostas de dança, tanto pelos alunos
quanto pelos professores.
Para Teixeira (2003):
ter um corpo é de uma singularidade impressionante. O corpo pode lembrar ou ser muito parecido com o de alguém ou de outros, mas nunca é igual, até porque sua instância básica na dimensão espacial e temporal, da presença do aqui e agora, é moldada e atualizada a todo momento. Especificamente na prática da conscientização do movimento tratamos de um corpo que sabe que sente, sabe que existe e sabe que sabe que existe e sente (TEIXEIRA, 2003, p.65).
Na dança, o corpo torna-se o veículo de representação de algo.
Acompanhando a evolução da civilização ocidental, percebemos que a dança esteve
sempre ligada a vida em sociedade, como forma de expressão de diversas culturas.
Como arte, é condicionada ao tempo e espaço que habita, porém, ao mesmo tempo
supera este condicionamento na medida em que envolve a criação, incita a ação
reflexiva e se torna necessária ao homem que a constrói e a aprecia, como
possibilidade de conhecimento, comunicação e mudança (Fischer, 1987).
Desde a origem das sociedades, é através das danças e dos cantos que o
homem se afirma como membro de uma comunidade. A dança opera uma
metamorfose: transformando os ritmos da natureza e os ritmos biológicos em ritmos
voluntários, harmoniza a natureza e dá poder para dominá-la (Garaudy, 1980). É
utilizava como linguagem corporal, para simbolizar alegrias, tristezas, vida e morte,
para celebrar o amor, a guerra e a paz; principalmente como forma de expressão
dos sentimentos, emoções, desejos e interesses de uma sociedade
Dentro da proposta do movimento hip hop, observa-se que o DJ entra como
um operador de discos, que faz bases e colagens rítmicas sobre as quais se
articulam os outros elementos, sendo considerado um músico, e o Break, aliado ao
grafite, possibilita o direcionamento da maioria dos objetivos anteriormente
assinalados, por permitir a reflexão da realidade social, com a utilização do corpo e
suas potencialidades como meio de expressão. (MAGRO; 2002)
A partir do exposto vê-se que, num processo de longo prazo, a Educação
Física deve levar o aluno a descobrir motivos e sentidos nas práticas corporais,
favorecendo o desenvolvimento de atitudes positivas levando à aprendizagem de
comportamentos adequados à sua prática, ao conhecimento, compreensão e análise
de seu intelecto, e ainda dirigir sua vontade e emoção para a prática e a apreciação
do corpo em movimento.
Nesse sentido, acredita-se que a dança vem ao encontro da Educação
Física pela perspectiva de desenvolvimento de um trabalho como elemento cultural
do movimento.
Assim, pretende-se desenvolver este trabalho com alunos do primeiro e
segundo ano do ensino médio do Colégio Estadual Dom Pedro I, tendo como
objetivo geral de discutir a contribuição do Break na formação crítica, reflexiva e
humanista, proporcionando aos alunos a oportunidade de vivenciar uma cultura
corporal como forma de expressão critica da realidade escolar
Referencial Teórico
O profissional de Educação Física que atua no ambiente escolar tem na
dança mais uma opção para o aumento das possibilidades e potencialidades de
movimento, e a consciência corporal para atingir seus objetivos durante as aulas que
estão relacionadas à educação, a saúde, a prática esportiva, a expressão corporal e
artística. Tudo isso pode contribuir para o enriquecimento de sua prática profissional
favorecendo principalmente suas atuações, auxiliando na construção de um
currículo diversificado.
Assim, é possível afirmar que a dança enquanto um processo educacional
contribui para o aprimoramento das habilidades básicas, dos padrões fundamentais
do movimento, desenvolvimento das potencialidades humanas e sua relação com o
mundo.
Na dança, a união entre sujeito biológico e social, observado na teoria de
Wallon, enfatiza que o sujeito é determinado por um conjunto complexo de fatores
biológicos e sociais, em um contexto que abarca situações internas e externas ao
longo de sua historicidade no qual deve-se considerar as exigências tanto do
organismo quanto da sociedade. Os processos sociais vão mediatizar o biológico em
um complexo processo de subordinação do biológico ao social. Para Wallon a
emoção, representada também ao dançar, é um dos principais componentes na
formação do ser humano, exercendo poder no desenvolvimento humano. O meio vai
agir sobre o indivíduo conjuntamente com a emoção, pois o ser humano expressa a
emoção no seu corpo, na musculatura e conseqüentemente no movimento. Com a
aquisição do domínio do movimento vão se disponibilizando outras formas de
expressão das emoções (Mendes, 2002).
Com relação às dimensões que a dança proporciona ao educando, inicia-se
pela dimensão social, onde a mesma permite criar condições para estabelecer
relações com as pessoas e com o mundo. Já à dimensão biológica, possibilita
conhecer o seu corpo e suas possibilidades de movimento. Quanto à dimensão
intelectual, observa-se a contribuição para a evolução do cognitivo, e em questões
filosóficas, contribui para o autocontrole, o questionamento e a compreensão do
mundo. (MARQUES, 2006)
Mesmo com todos este benefícios que foram descritos, a utilização da dança
como um conteúdo nas aulas de Educação Física, parece ser pouco utilizado.
Acredita-se que esta não utilização possa ter relação com a esportivização
predominante nas aulas, e ainda pela falta de preparo e até mesmo preconceito em
relação a este conteúdo por parte de alguns profissionais.
Defende-se que através de vivências corporais prazerosas e diversificadas
do conhecimento do funcionamento do corpo em movimento, que o aluno poderá
formular o saber sistematizado da cultura corporal, compreendendo e possibilitando
mudanças no seu cotidiano.
Nesse sentido, a Educação Física deve ser tomada como uma área de
conhecimento da cultura corporal e de movimento que integra o ser humano,
funcionando como componente importante na construção de cidadãos. (FREIRE,
2001), atuando na produção cultural, reproduzindo-a e transformando-a..
Assim, a dança é defendida por possibilitar a integração entre o
conhecimento intelectual e suas habilidades criativas, conforme aponta Laban apud
Marques (1999):
A dança na educação permitia uma integração entre o conhecimento intelectual do aluno e suas habilidades criativas, permitia que ele percebesse com maior clareza as sensações contidas na expressão dramática do indivíduo, quer na dança teatral ou comunitária. A partir da compreensão das qualidades do movimento, implícitas nas diversas formas de expressão humana, o aluno, harmonicamente,
poderia ser educado através do movimento/dança.(LABAN apud MARQUES, 1999, p.35)
Nesse sentido, a vivência da dança na educação, deve articular a criação
pessoal e coletiva de movimentos, integrando a razão e o sensível, o individual e o
coletivo, a arte e a educação, buscando-se alcançar qualidades físicas e psíquicas
próprias para a formação integral do ser humano. (MARQUES, 2006)
Portanto, sabendo-se que a dança é uma das maiores catalisadoras da
manifestação e expressão do movimento humano, no âmbito educativo escolar ela
pode ser usada como meio de crítica social, questionamento de valores, padrões ou
modismos, ou ainda, como processo performativo, trabalhando-se o movimento,
sensações e sentimentos.
As danças atuais são aquelas que surgiram mais recentemente e que os
adolescentes e mais jovens adoram dançar como o axé, funk, street, hip hop, break,
entre outras. A cultura hip hop é formada pelos seguintes elementos: O rap, o graffiti
e o break. Rap - rhythm and poetry, ou seja, ritmo e poesia, que é a expressão
musical-verbal da cultura; Graffiti - que representa a arte plástica, expressa por
desenhos coloridos feitos por graffiteiros, nas ruas das cidades espalhadas pelo
mundo; Break dance - que representa a dança.
Conhecido como a cultura das ruas, o hip-hop tem, em sua configuração, a
presença de diversos elementos da indústria cultural. Embora o não esteja ligado
somente à juventude, é, especialmente, entre as pessoas dessa faixa-etária que se
encontra grande parte dos participantes ou aficionados desse gênero cultural, nas
grandes metrópoles brasileiras.
É um movimento que se apropria de quatro formas artísticas para o
questionamento das injustiças sociais e renegociação em busca de apropriações
que permitam a inserção dos participantes, discriminados ou não, na sociedade.
Conforme afirma Pimentel (1998) sobre o hip hop.
é dessa maneira que a conscientização do hip hop acontece. A arte e suas possibilidades são uma espécie de doce, ganho quando certas lições são aprendidas. No rap. Por exemplo, ganha prestígio quem tem uma poesia mais elaborada. Como para fazer uma boa letra é preciso estudar história, compreender a situação, a realidade e, mais importante, inventar maneiras de expressar tudo isso com as palavras, o processo de educação não acontece mais como uma obrigação vazia, passa a ter sentido. (PIMENTEL, 1998, p.15)
A dança Break é a arte corporal da cultura Hip-Hop e o breaker é o artista
que dá vida à dança Break. Neste contexto cultural e artístico das ruas da cidade,
procuramos entender as relações possíveis entre o movimento implícito no processo
de criação, que ocorre no ato de dançar, e o movimento que se dá no modo de
constituição da subjetividade num contexto demarcado pela exclusão social.
Portanto, investigamos a movimentação dos sentidos desta dança para encontrar as
reais possibilidades do jovem na criação de uma estética própria (ALVES, 2001). .
A cultura Hip-Hop trata-se de uma manifestação juvenil teve origem nos
bairros negros e latinos de Nova Iorque na década de 60. A invenção de novas
maneiras de ser jovem na cidade, não demorou a ecoar em outros locais, ao sabor
de outras “galeras” e de outras culturas corporais de movimento. A dança Break dos
guetos norte-americanos invadiu novos territórios, transpôs barreiras nacionais e
conquistou jovens de outras classes econômicosociais,ensinando a outros jovens a
possibilidade de produzir novas formas de existência na vida e na dança. (ALVES,
2001)
No Brasil, a cultura Hip-Hop, se caracteriza pela intensa miscigenação
populacional, o que mascara as categorizações de classe. Neste contexto complexo
e globalizado, perguntamos pelas possibilidades de criação em um meio social
constituído pela pobreza, pela exclusão e pela violência, mas também marcado pela
pluralidade, pelo consumo e pela anomia dos bens simbólicos.
Já o breakdance é um estilo de dança de rua, parte da cultura do Hip-Hop
criada por afro-americanos e latinos na década de 1970 em Nova Iorque, Estados
Unidos. Normalmente é dançada ao som do Hip-Hop ou de Electro. O breakdancer,
breaker, B-boy, ou B-girl é o nome dado a pessoa dedicada ao breakdance e que
pratica o mesmo. Inicialmente, o breakdance era utilizado como manifestação
popular e alternativa de jovens para não entrar em gangues de rua, que tomavam
Nova Iorque em meados da década de 1970. Atualmente, o brakdance é utilizado
como meio de recreação ou competição no mundo inteiro. (NATIONAL PUBLIC
RADIO, 2009).
Com relação a cultura hip-hop, parece ter surgido devido a possibilidade de
desenvolvimento de uma identidade alternativa e de status social para, em locais
onde instituições tradicionais de apoio desapareceram. Isso fez com com que esses
grupos possuíssem um tipo local de identidade, de filiação grupal, com base em
elementos variados, como moda, linguagem peculiar e espaço próprio de cada
grupo.
As pessoas participantes nesses movimentos, ao redor de um vínculo
intercultural, formam um novo tipo de "família", promovendo isolamento e segurança
em um ambiente complexo e inflexível, contribuindo para a construção das redes da
comunidade, que servem de base para os novos movimentos sociais (ROSE, 1997)..
Nesta trajetória mostra que o ser humano busca a felicidade, auto
conhecimento e perfeição em cada atitude e gesto apresentado, atualmente a dança
é praticada por pessoas de qualquer idade dentro dos seus limites, em grupos ou
individualmente, como uma preocupação estética e principalmente uma forma de
liberdade e de extravasar os sentimentos oprimidos.
Relato de Experiência
A experiência como docente da disciplina de Educação Física da rede
pública do Paraná permite observar que grande número de professores apresenta
dificuldades em trabalhar a dança como conteúdo estruturante da Educação Física
em suas aulas.
De acordo com Gariba (2005) a dança é uma arte e na escola não deve ser
apenas contemplada e admirada, mas aprendida, compreendida, experimentada e
explorada, numa tentativa de levar o aluno a vivenciar o corpo em todas as suas
dimensões, através da relação consigo mesmo, com os outros e o mundo, a criar
novos sentidos e movimentos livres (PEREIRA et al, 2001), possibilitar a
emancipação e autonomia do indivíduo.
Apesar da dança fazer parte do cotidiano dos educandos fora do contexto
escolar, na escola, os profissionais encontram inúmeras barreiras que desvirtuam as
propostas pedagógicas previstas para atender às finalidades do projeto de
escolarização, a exemplo das Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (DCE,
2006) que sugerem o trato com o conteúdo dança na escola nos seus aspectos
filosófico, político, social, biológico, psicológico e antropológico.
Oficialmente, o ensino da Dança nas escolas de 1o e 2o grau encontra-se
ligado à Educação Física justo por suas características de atividade eminentemente
corporal. Desta forma, para que se realize uma investigação sobre o ensino da
Dança, se faz necessário considerar as contribuições da Educação Física no que se
refere à pesquisa de tal universo de conhecimentos. Observa-se, no entanto, que
em sua grande maioria, esses estudos optam por privilegiar aspectos relativos à
ordem técnica, fisiológica ou mesmo pedagógica, esquivando-se de questões que
exigem uma reflexão mais aprofundada. Os aspectos artísticos, históricos e
filosóficos da Dança, assim como as questões da realidade objetiva de seu ensino
nas escolas, ainda não foram suficientemente explorados.
Neste estudo, visa-se a questão do ensino desse ponto de vista, recorrendo-
se à investigação da realidade da escola pública e discutindo-se alguns aspectos
cotidianos que influenciam diretamente a Educação Física e, por extensão, a Dança.
Por aspectos do cotidiano, entende-se as dificuldades, limitações e contradições
vivenciadas pelo professor em seu convívio com os alunos, na realização de suas
tarefas didático-pedagógicas, bem como, em suas expectativas em relação ao
ensino da Dança. Poder-se-ia indagar porque é tão reduzido o número de
professores de Educação Física trabalhando com Dança.
Se esse ensino está ou não comprometido com um projeto de construção de
uma sociedade mais humana, consciente de sua responsabilidade enquanto agente
ativo, criativo e provocador de reais transformações. Por outro lado, parece
importante investigar como vem se desenvolvendo o ensino da Dança (e, por
extensão, da Educação Física) no contexto da Escola Pública, reconhecidamente, o
espaço educacional disponível à maioria da população.
A atividade da dança na escola vai desde a sensibilização e conscientização
dos alunos tanto para suas posturas, atitudes, gestos e ações cotidianas até as
necessidades de expressar, comunicar, criar, compartilhar e interagir na sociedade.
O Colégio Estadual D.Pedro I - Ensino Fundamental e Médio na qual o
projeto de dança voltado ao Break foi introduzido localiza-se na cidade de
Lidianopolis localizado no Norte do Paraná, o colégio em questão atende a
população rural e urbana, cuja a economia tem como base a agricultura, onde são
assistidos 22 alunos, o primeiro ano do ensino médio foi a série escolhida com 22
alunos.
Para a turma escolhida as aulas eram iniciadas com um bate-papo sobre o
conteúdo que seria desenvolvido e a seguir eram realizados exercícios de
alongamento, flexibilidade e equilíbrio estático, que eram adaptados de acordo com
a idade e capacidade de cada educando.
Os alunos também foram incentivados a elaborar seqüências coreográficas,
de acordo com suas capacidades. Nas aulas, de modo geral procurou-se sempre
incluir, alguns movimentos basicos do hip-hop, atividades rítmicas, sons com o corpo
e a utilização de materiais diversificados, além de atividades expressivas. No final da
aula sempre havia um relaxamento.
A dança é um conteúdo pouco desenvolvido nas escolas e
consequentemente nas aulas de Educação Física, principalmente por causa da falta
de preparo e conhecimento dos professores, pelo preconceito e dificuldade da
participação masculina em atividades rítmicas.
A falta de preparo para lidar com este conteúdo está relacionada à formação
inicial dos professores de Educação Física, que não dá conta de preparar
adequadamente o futuro docente para desenvolver aulas de dança na escola,
consequentemente, o que se vê é que só se arriscam a trabalhar com este conteúdo
os professores que tiveram experiências anteriores com a dança.
Já a questão do preconceito reflete uma visão de sociedade, na qual,
atividades relacionadas ao corpo, ao sentir, emocionar-se, com movimentos
associados à graça, leveza e delicadeza são exclusivamente coisa de mulher.
Entendemos que a escola, por meio da dança, possibilita outras formas de
vivências corporais, buscando resgatar a sua historia e sua importância e é só por
meio da vivência e compreensão do seu papel que estas questões de preconceito
podem ser desmistificadas.
A dança acompanha o homem desde as mais antigas civilizações, na dança
o homem transforma a adapta através do movimento, da improvisação, da
meditação dinâmica e o movimentar-se, esse envolve o homem em uma evolução
perfazendo um caminha de encontro com o homem consigo mesmo - corpo -
sociedade. A criatividade e a consciência de si mesmo, situa e identifica, estabelece
uma relação com o conteúdo emocional traz a tona a arte, a expressão do que o
homem realmente é, um espelhamento de si, da grandeza interior. Na improvisação
dos movimentos o homem vê suas inúmeras possibilidades de ser, se estrutura e
desestrutura, forma bases para libertar e diminuir suas rigidez e com isso permitir
uma mudança corporal e de atitudes psíquicas para uma melhor qualidade de vida e
proporciona uma vida mais feliz.
Conclusão
A dança como modalidade esportiva é um importante meio de expressão
artística, que possibilita a ação pedagógica ao oportunizar a aquisição de
habilidades físicas, a construção de conhecimento e a consciência crítica. No
contexto de uma educação voltada à sociedade multicultural, acreditamos na
importância da valorização de modalidades de dança que estejam inseridas no 'seio'
da comunidade. Não como simples forma de reprodução, mas como meio de
reflexão e estímulo ao posicionamento crítico, com a tentativa de se buscar maior
envolvimento dos estudantes, pela oportunidade de se desenvolver atividades que
partam das representações que eles têm e/ou valorizam.
Na intenção de investigar como o hip hop pode ser trabalhado na educação
física escolar de modo a potencializar o trato com dança numa dimensão crítica
frente às contradições sociais é que essa implementação pedagógica foi objetivada.
Durante os trabalhos desenhamos, estudamos, cantamos, dançamos e refletimos a
fim de reescrevermos nossa história com dança a partir desse contexto.
A aplicação desse projeto viabilizando o estudo da dança na cultura hip hop
justificou-se pela necessidade em se trabalhar a dança de forma sistematizada e
contínua na escola, pois vemos, ainda hoje, que a prática da dança está em meio a
muitos problemas que dificultam sua implementação em ambiente escolar. Estudo e
reflexão são possíveis caminhos no trato com dança a fim de minimizar preconceitos
relacionados ao conteúdo e que envolvem as questões de gênero, de etnia e
religião.
Em virtude dos fatos aqui apresentados, concluímos que a educação física
engloba a dança na medida em que a utiliza para atingir sua principal finalidade e
não como meio para atingir formação em dança. Desta forma, serão garantidas a
especificidade e a identidade de ambas as áreas. Sobre isso, as atividades de dança
não devem ser tratadas como conteúdo específico, mas sim como atividades
motoras utilizadas para a consecução dos objetivos da educação física.
Então, quando se pensa na dança como conteúdo da educação física
escolar, ela deve prestar-se aos propósitos e finalidades da educação física escolar,
e não se caracterizar como um campo de conhecimento isolado, que objetiva formar
o futuro bailarino. Adequar o ensino de dança aos objetivos, finalidades e
especificidades da Educação Física não descaracteriza e nem desqualifica a dança,
apenas amplia as suas possibilidades de interação e atuação.
O fato de uma das áreas, no caso a dança, estar presente de alguma forma
dentro da Educação Física, não acarreta em um esvaziamento de seu conteúdo, e
nem em uma descaracterização de qualquer destas áreas. Muito pelo contrário,
quando a dança está na Educação Física escolar, ela é adequada aos propósitos da
Educação Física escolar, emprestando-lhe seus conhecimentos, valores e atitudes.
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