Calagem e adubação para
hortaliças sob cultivo
protegido
Paulo Espíndola Trani Eng. Agrônomo Pesquisador Científico do Instituto Agronômico
E-mails: [email protected] e [email protected]
Campinas (SP), maio de 2015
Informações importantes para se obter
produções sustentáveis de hortaliças:
CONHECER O SOLO
CONHECER A PLANTA
CONHECER OS INSUMOS
CONHECER O CLIMA
Também:
Estudar a relação custo / benefício do
sistema de cultivo protegido em relação ao
campo
O solo: Análise química e física
A planta: Conhecer suas exigências e o
seu desenvolvimento (ciclo: melhores
épocas de plantio)
Os insumos: Características dos
corretivos, fertilizantes orgânicos e
minerais (avaliar custos e benefícios)
O clima: escolher as espécies /
variedades / híbridos de hortaliças que
mais se adaptam às temperaturas do
período em que serão cultivadas
(informações no boletim técnico IAC 199).
Principais vantagens: menor incidência
de pragas e doenças com o uso mínimo
de agrotóxicos sintéticos ou naturais.
Estudo da viabilidade econômica:
a) verificar fornecedores de hortaliças produzidas na cidade e região.
b) Levantar custos comparativos:
Exemplo: De 1996 a 1998, nas hortas de Campinas (média anual de preços da alface):
Alface no campo: R$ 0,07 por cabeça.
Alface sob estufa: R$ 0,14 por cabeça.
Alface em hidroponia: R$ 0,28 por cabeça.
Preços nos supermercados e varejões:
No inverno: R$ 0,35 por cabeça.
No verão: R$ 0,70 por cabeça.
Na produção de mudas de hortaliças
a fertirrigação pode ser realizada no
sistema de nebulização.
Deve-se irrigar com água limpa após a
aplicação dos fertilizantes altamente
solúveis, para que não ocorra
“queima” das folhas por possíveis
resíduos.
Fertirrigação por nebulização em mudas de alface. Aplicar água limpa após a utilização dos fertilizantes.
Foto: Oliveiro Bassetto Jr., Santa Cruz do Rio Pardo-SP.
Outro sistema, menos utilizado,
consiste na aplicação dos
fertilizantes na água de inundação
onde as mudas de hortaliças, dentro
de copinhos perfurados, são
colocadas sobre “piscinas”, onde
ocorre a absorção de água e
nutrientes pelas plantas.
Mudas de pepino em copinhos de plástico, no sistema de inundação.
Foto: Oliveiro Bassetto Jr., Santa Cruz do Rio Pardo-SP.
Pepino japonês sob estufa agrícola. Foto: Oliveiro Bassetto Jr. – Santa Cruz do Rio Pardo – SP (2012).
Principais hortaliças sob cultivo protegido
no Estado de São Paulo.
Pimentão amarelo sob estufa agrícola Foto: Oliveiro Bassetto Jr. – Santa Cruz do Rio Pardo – SP (2012).
Tomate (dois híbridos) sob estufa agrícola. Fotos: Edson Akira Kariya e Oliveiro Bassetto Jr. – Itapetininga e Santa Cruz do Rio Pardo – SP, respectivamente
(2010 e 2012).
Produtividade, espaçamento e período de colheita de três
espécies de hortaliças em estufa agrícola.
Hortaliça
Produtividade
(kg/m2)
Período de
colheita
Espaçamento (varia conforme
sistema de condução,
híbrido, tipo de solo
época do ano, etc.)
Pepino1 15 a 25 3 a 4 meses 1,1 a 1,6 m X
0,45 a 0,60 m
Pimentão2 18 a 25 6 a 12 meses 1,1 a 1,6 m X
0,35 a 0,50m
Tomate3 18 a 25 4 a 6 meses 1,1 a 1,6 X
0,35 a 0,50m
1 no campo, 40 a 80 t/ha
2 no campo, 40 a 80 t/ha
3 no campo: 60 a 120 t/ha
Couve de folha em fase de produção, plantada no solo e
irrigada por gotejamento. Foto: José Ricardo Giorgetti, Monte Mor, 2015.
Couve de folha em fase de produção, plantada em vasos
(linhas duplas). Foto: José Ricardo Giorgetti, Monte Mor, 2015.
Couve híbrida irrigada por gotejamento em estufa
“retangular”. Foto: Paulo E. Trani, Santa Cruz do Rio Pardo, 2014.
Hortaliças folhosas em sucessão, como alface, à direita, e
salsa, à esquerda. Foto: Paulo E. Trani, Santa Cruz do Rio Pardo, 2014.
Canteiros de alface lisa com aplicação de fertilizante orgânico
superficial, para posterior incorporação. Precauções...
Foto: Paulo E. Trani, Santa Cruz do Rio Pardo, 2014.
Principais problemas que surgiram a partir das décadas de 1980 e 1990
decorrentes do crescimento do cultivo protegido com hortaliças no ESP:
a) Salinização do solo
b) Nematóides
Outros problemas: fungos e bactérias de solo, compactação, utilização de híbridos não apropriados para condições locais e
uso inadequado de agrotóxicos.
No período entre 1990 e 2005 surgiram
problemas de qualidade em hortaliças
produzidas sob cultivo protegido,
identificados na pós-colheita.
Boa parte dos problemas que aparecem na
pós-colheita foram devidos ao manejo
inadequado durante o desenvolvimento
da cultura.
A seguir são citados alguns fatos verificados na
CEAGESP- Entreposto Terminal de São Paulo.
(Levantamento realizado por Anita S.D. Gutierrez e Paulo Ferrari, 2005)
Pepino Japonês Principais defeitos: torto, barrigudo e ponta fina
Causas prováveis: época de plantio inadequada, desequilíbrio nutricional e híbrido
de pepino sensível à variações térmicas.
Estufa agrícola com pepino em fase adulta. Observar as persianas
laterais de plástico para o controle dos ventos que são frequentes no
sudoeste paulista. Foto: Edson Akira Kariya, Itapetininga SP. 2012.
Prováveis causas: falhas na irrigação, desequilíbrio nutricional, variações bruscas de temperatura e uso de híbridos mais sensíveis às variações térmicas.
Pimentões coloridos Principais defeitos: torto e estrias
Estrias Torto
Pimentão reto Pimentão torto
R$ 18,00 a 20,00 R$ 8,00 a 12,00
CEAGESP - 2005
Preço no atacado por caixa
Defeitos em tomate produzido no campo
Frutos de tomate mostrando manchas esverdeadas. Causas prováveis: híbrido de tomate não adaptado ao excesso de chuvas e aos dias nublados que
ocorreram durante o crescimento dos frutos. (diagnóstico: Paulo T. Della Vecchia). Soluções: desenvolvimento de híbridos tolerantes à adversidades climáticas,
plantio na época adequada e utilização do cultivo protegido. Foto: Geraldo Fernandes Santos (dezembro 2009 – Ribeirão Preto – SP).
A solução para esses problemas
consiste nas práticas corretas de
manejo incluindo a calagem e a
adubação com base em análise de solo
e análise foliar.
Esta palestra apresenta informações e
recomendações sobre o manejo de
corretivos e fertilizantes para o sistema
de produção de hortaliças sob cultivo
protegido.
Interpretação da análise de solo
Pesquisas realizadas no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), com
adubação de hortaliças baseiam-se no conceito da produção relativa (gráfico 1), ou seja, levam em conta a resposta das culturas
aos nutrientes aplicados através da adubação.
O Gráfico a seguir e a Tabela I apresentam a interpretação da análise do solo visando a
calagem e a adubação de hortaliças em geral (campo e cultivo protegido).
Tabela I. Interpretação de P, K, Ca, Mg, S e V% em solos.
Teor
K+trocável P(resina) Ca++
trocável Mg++trocável S – SO4
-- V
mmolc/dm3 mg/dm3 mmolc/dm3 mmolc/dm3 mg/dm3 %
Muito Baixo 0,0 – 0,7 0 – 10 0 – 4 0 – 2 0 – 2 0 – 25
Baixo 0,8 – 1,5 11 – 25 5 – 10 3 – 5 3 – 5 26 – 50
Médio 1,6 – 3,0 26 – 60 11 – 20 6 – 10 6 – 10 51 – 70
Alto 3,1 – 6,0 61 – 120 21 – 40 11 – 15 11 – 15 71 – 90
Muito Alto > 6,0 > 120 > 40 > 15 > 15 > 90
Fonte: Adaptado de Raij et al. (1997) - São Paulo e Ribeiro et al. (1999) - Minas Gerais.
A interpretação para os níveis de cálcio deve ser
adotada com cautela levando-se em conta a
textura do solo. Assim é que 15 mmolc de
Ca++/dm3 de solo pode ser considerado como
teor médio a alto em solo arenoso e teor médio a
baixo em solo argiloso.
Com relação aos micronutrientes presentes no
solo, a interpretação visando a adubação de
hortaliças além de outras culturas, é
apresentada na Tabela II.
Tabela II. Interpretação dos teores de micronutrientes
em solos1.
Teor
B Cu Fe Mn Zn mg/dm3 mg/dm3 mg/dm3 mg/dm3 mg/dm3
Baixo 0 – 0,30 0 – 0,2 0 – 4 0 – 1,2 0 – 0,5
Médio 0,31 – 0,60 0,3 – 0,8 5 – 12 1,3 – 5,0 0,6 – 1,2
Alto > 0,60 > 0,8 > 12 > 5,0 > 1,2 1 Boro extraído por água quente; Cu, Fe, Mn e Zn extraídos pelo DTPA.
Fonte: Raij et al. (1997).
As recomendações de N para as hortaliças baseiam-se na extração deste nutriente pelas
plantas e exportação pelas colheitas.
Um indicativo do teor de nitrogênio presente no solo é a quantidade de matéria orgânica do mesmo.
Cerca de 5% da matéria orgânica do solo é constituída por nitrogênio total. Este nutriente nem
sempre está em forma disponível às plantas. As formas de N no solo, disponíveis às plantas, como a nítrica (NO3
-) e a amoniacal (NH4+) ou mesmo as
não disponíveis, são sujeitas à rápidas mudanças, devido as ações dos microorganismos na
mineralização da matéria orgânica, às lixiviações provocadas pelas águas da chuva ou irrigação, etc.
Isso dificulta a interpretação do teor do N quando fornecido pela análise de solo.
Os teores de matéria orgânica do solo indicam também de maneira indireta, a textura
(granulometria) do solo.
Considera-se solo arenoso aquele que contém matéria orgânica até 15 g/dm3; solo de textura média aquele com matéria orgânica entre 16 e 30 g/dm3 e solo argiloso aquele com matéria
orgânica entre 31 a 60 g/dm3.
Sempre que possível realizar a análise granulométrica (textura) do solo para se
conhecer as reais quantidades de areia, silte e argila do mesmo.
Calagem A necessidade da calagem é determinada pela porcentagem de saturação por bases do solo e a tolerância da espécie de hortaliça ao
menor ou maior grau de acidez do solo. A equação para cálculo da calagem é dada por:
NC = CTC (V2 – V1)
10 PRNT
NC = Necessidade de calagem, em t/ha;
CTC (ou T) = Capacidade de troca de cátions expressa em mmolc/dm3 de solo.
V1 = Saturação por bases dada pela análise do solo.
V2 = Saturação por bases que se pretende atingir (em geral entre 70 e 80%).
A incorporação do calcário deve ser feita
até 20 a 30 cm de profundidade, pois
diversas hortaliças tem o sistema radicular
tão profundo como culturas extensivas.
Dentre as hortaliças de sistema radicular
profundo cultivadas em estufa agrícola
pode-se citar o tomate. Com o sistema
radicular moderadamente profundo
citam-se pepino, pimentão, berinjela,
melão, salsa. Entre aquelas de sistema
radicular pouco profundo citam-se
alface, agrião, almeirão e chicória.
Cebola de cabeça adulta, com raízes bem desenvolvidas,
em solo muito bem preparado. Foto: Olympio de Toledo Prado, 1941.
Plantas jovens de cebola de cabeça, com raízes bem desenvolvidas
nas laterais e em profundidade. O solo foi muito bem preparado. Foto: Olympio de Toledo Prado, 1941.
A aplicação do calcário deve ser feita com pelo menos 30 a 40 dias de antecedência ao plantio
utilizando-se de preferência o calcário finamente moído (“filler”) com PRNT de 80 a
90% ou parcialmente calcinado (PRNT de 90 a 100%).
Caso seja encontrado apenas o calcário comum (PRNT de 60 a 70%) este deve ser incorporado ao menos 60 dias antes do
plantio das hortaliças.
Deve-se preferir os calcários que contenham boa quantidade de magnésio em sua
composição, como os dolomíticos (acima de 12% de MgO).
A aplicação do
calcário sólido
deve ser uniforme
sobre a área total
dos canteiros.
Após isso,
incorporá-lo até 20
a 30cm de
profundidade.
Recomendações de adubação orgânica para
hortaliças (cultivo protegido e campo)
A adubação orgânica para hortaliças proporciona os seguintes benefícios:
a) Melhora as condições físicas do solo, diminuindo, por exemplo, os problemas de compactação.
b) Diminui a incidência de nematóides visto que os adubos orgânicos em geral possibilitam o
desenvolvimento nos solos de microorganismos úteis que tem ação antagônica aos nematóides.
c) Fornece parcialmente nutrientes às plantas de maneira gradual e contínua.
Por outro lado a adubação orgânica apresenta algumas limitações:
a) A incorporação dos fertilizantes orgânicos até 20 a 30 cm de profundidade ao solo, deve ser realizada de 30 a 40 dias antes do plantio. Este é o tempo necessário para que ocorra o processo de
cura ou decomposição sem o que poderá haver “queima” das sementes ou mudas de hortaliças.
b) Alguns fertilizantes orgânicos mal decompostos
podem introduzir sementes de mato no local e fungos de solo (ex: Verticillium).
c) Estercos animais principalmente de aves confinadas,
podem carregar resíduos de sal e outros produtos presentes nas rações , acarretando problemas como salinização do solo.
Dentre os fertilizantes orgânicos destacam-se o
composto orgânico (Fig. 1), o húmus de minhoca (Fig. 2), o bokashi
(Fig. 3), o esterco de galinha, e a torta de mamona pré-fermentada.
Figura 2. Húmus de minhoca: um dos melhores adubos
orgânicos para produção de hortaliças. Foto: Reginaldo Bassetto, Santa Cruz do Rio Pardo, 2006.
Figura 3: Alface em canteiro que recebeu 1 kg de bokashi por m2
(similar neste experimento a 1/2 kg de esterco de galinha).
Análise química dos adubos orgânicos usados para produção de
alface sob estufa agrícola no IAC – Campinas (1999/2000).
Análise química dos adubos orgânicos usados para produção de alface
sob estufa agrícola no IAC – Campinas (1999/2000) Bokashi
(1) Esterco de curral Esterco de frango
Umidade (%) 7.29 52.33 26.13
pH 8.1 7.03 8.05
M.O. (%) 30.33 31.20 51.00
N (%) 1.06 1.21 2.20
P2O5 (%) 1.17 1.87 4.25
K2O (%) 3.58 1.47 3.50
Ca (%) 2.16 2.12 8.41
Mg (%) 1.23 0.62 1.18
S (%) 1.17 2.15 ----
Na (ppm) 2200 ---- ----
Fe (ppm) 12325 12300 3100
Mn (ppm) 200 500 800
Cu (ppm) 37.5 300 300
Zn (ppm) 90 400 700
C/N 17/1 14/1 13/1 (1)
Composição do bokashi: 500 kg de esterco de frango + 500 kg de terra de barranco
+ 80 kg de farelo de arroz + 1,5 kg de “Bym-Food” e 1,0 kg de Nitrex (micronutrientes
silicatados).
As quantidades dos fertilizantes orgânicos
a serem aplicadas depende de sua
disponibilidade local e do custo de
transporte e aplicação.
A Tabela III mostra as recomendações de
adubação orgânica para diferentes
grupos de hortaliças, válido tanto para o
cultivo protegido, como no campo, a céu
aberto.
Tabela III. Recomendações de adubação orgânica* para hortaliças.
Grupo de
hortaliças
Esterco
bovino bem
curtido
ou Composto
Esterco de
galinha/frango
suínos/bovinos e
húmus de minhoca
Torta de mamona
(pré-fermentada)
kg/m2 de canteiro
Folhosas
(alface, rúcula,
etc.) 2 – 4 0,5 – 1 0,1 – 0,2
Frutos
(tomate,
pimentão, etc.)
2 – 4 0,5 – 1 0,1 - 0,2
Bulbos e
Raízes
(cebola,
cenoura, etc.)
1 – 2 0,25 - 0,50 0,02 - 0,05
*Maiores doses de fertilizantes para solos de fertilidade baixa. Aplicar cerca de 30
dias antes do plantio. Incorporar a 20 a 30 cm de profundidade, em todo o canteiro.
Recomendações de adubação mineral para
hortaliças sob cultivo protegido conforme
análise do solo
A seguir são descritas as recomendações de
adubação para hortaliças baseadas nos teores
de nutrientes no solo e também na extração de
nutrientes pelas plantas.
As doses de nutrientes foram determinadas com
base em experimentação realizada nas
condições de solo e clima do Estado de São
Paulo, devendo ser adotadas com cautela para
outras regiões.
A adubação no solo em pré-plantio deve ser realizada em toda área do canteiro ou no sulco de plantio.
Recomenda-se a aplicação dos fertilizantes desde a superfície até 10 a 15 cm de profundidade para proporcionar melhor
crescimento e distribuição do sistema radicular das plantas.
O parcelamento dos fertilizantes a serem aplicados em cobertura deve levar em conta a marcha de absorção de
nutrientes da cultura.
Para as hortaliças recomenda-se a aplicação de 10% a 15% dos nutrientes no primeiro quarto do ciclo da cultura (início de
crescimento); 20% dos nutrientes na segunda fase de desenvolvimento; 40% dos nutrientes na terceira fase do
ciclo (período de maior formação de massa fresca de folhas e frutos) e 25 a 30% na quarta fase do ciclo da cultura.
Dependendo da espécie e do grupo de hortaliças, nutrientes como o potássio tem a sua aplicação concentrada na etapa
da máxima produção de frutos.
Novos fertilizantes em períodos recentes (2000 a 2015)
a) Novas fontes de Silício (Si): zeólitas e silicatos de Ca; Mg e K.
Os termofosfatos (Yoorin), e o F.T.E. (Fritted Trace Elements), fontes tradicionais de micronutrientes, também fornecem Si.
a) Fosfitos de alta solubilidade para pulverização e fertirrigação. (destaca-se o fosfito de potássio - KH2PO3).
b) Calcário líquido (produto em suspensão com nano-partículas, cerca de 900 vezes menores que as partículas do calcário comum). Trata-se de fertilizante mineral fluido, fonte de Ca e Mg para as plantas.
c) Ácidos fúlvicos (AF) e ácidos húmicos (AH): são frações da matéria orgânica do solo de alta reatividade. Os AF são solúveis tanto em soluções ácidas como alcalinas enquanto que os AH são solúveis apenas em soluções alcalinas.
Há a necessidade de avaliação destes produtos do ponto de vista agronômico e econômico, em condições específicas de solo e
das espécies hortícolas cultivadas nas diferentes regiões do ESP.
As tabelas seguintes mostram as quantidades de nutrientes
necessários para diversas hortaliças que podem ser produzidas
sob cultivo protegido.
Adubação mineral de plantio para alface, almeirão, agrião d’água, chicória
ou escarola, cebolinha, coentro, espinafre da Nova Zelândia, rúcula e salsa,
conforme análise do solo.
Nitrogênio
P resina, mg dm-3 K+ trocável, mmolc dm -3
0-25 26-60 61-120 >120 0-1,5 1,6-3,0 3,1-6,0 >6,0
N, kg ha-1 ------------ P2O5, kg ha-1 ---------- ----------- K2O, kg ha-1 ------------
30 a 40 320 180 100 60 120 80 50 30
B, mg dm-3 Cu, mg dm-3 Zn, mg dm -3
0-0,30 0,31-0,60 >0,60 0-0,2 0,3-0,8 >0,8 0-0,5 0,6-1,2 >1,2
------- B, kg ha-1-------- ------- Cu, kg ha-1 -------- -------- Zn, kg ha-1 --------
1,5 1,0 0,5 3 1,5 0,5 3 1,5 0,5
Aplicar junto com o NPK, 20 a 30 kg ha-1 de S e, em solos deficientes 1 a 2 kg ha-1 de Mn.
Adubação mineral de cobertura:
Alface: 60 a 100 kg ha-1 de N, 20 a 30 kg ha-1 de P2O5 e 40 a 60 kg ha-1 de
K2O, parcelando em 2 a 4 aplicações durante o ciclo, a menor freqüência
quando do cultivo no verão, período em que as temperaturas mais elevadas
encurtam o ciclo da alface. A alface do tipo americana deve receber doses
de potássio 20 a 40% superiores em relação às alfaces lisa e crespa.
Almeirão, agrião d’água, chicória ou escarola, coentro e espinafre: aplicar
40 a 80 kg ha-1 de N, 10 a 20 kg ha-1 de P2O5 e 20 a 40 kg ha-1 de K2O,
parcelando em 2 a 4 aplicações durante o ciclo.
Rúcula: aplicar 90 a 150 kg ha-1de N, 15 a 30 kg ha-1 de P2O5 e 30 a 60 kg ha-1
de K2O, parcelando em 2 a 3 aplicações durante o ciclo.
No caso do uso de fertirrigação, esta deverá ser realizada
diariamente ou a cada dois dias.
Salsa: 30 a 90 kg ha-1 de N, 15 a 30 kg ha-1 de P2O5 e 20 a 40 kg ha-1 de K2O, parcelando em 2 a 4 aplicações durante o ciclo.
Cebolinha – 60 a 90 kg ha-1 de N, 15 a 30 kg ha-1 de P2O5 e 20 a 40 kg ha-1 de K2O, parcelando em 3 a 4 aplicações durante o ciclo.
Recomenda-se a utilização de 1/4 a 1/5 do fósforo em pré-plantio na forma
de termofosfato, que contém cálcio, magnésio, micronutrientes e silício, além do fósforo.
Adubação mineral de cobertura: Aplicar 80 a 120 kg ha-1 de N; 40 a 80 kg ha-1 de P2O5; 80 a 120 kg ha-1 de K2O, 60 a 100 kg ha-1 de Ca, 30 a 50 kg ha-1 de Mg e 30 a 50 kg ha-1 de S, parcelando as doses através da fertirrigação.
Adubação mineral de plantio1 para pepino e abobrinha2 conforme a análise do solo.
1 Aplicar com o NPK de plantio, 20 a 30 kg ha-1 de S e em solos deficientes, 1 a 2 kg ha-1 de Mn. 2 Aplicar para abobrinha, 2/3 dos nutrientes recomendados para o pepino.
Nitrogênio
P resina, mg dm-3 K+ trocável, mmolc dm -3
0-25 26-60 61-120 >120 0-1,5 1,6-3,0 3,1-6,0 >6,0
N, kg ha-1 ------------ P2O5, kg ha-1 ---------- ----------- K2O, kg ha-1 ------------
30 a 40 280 160 100 60 120 80 40 20
B, mg dm-3 Cu, mg dm-3 Zn, mg dm -3
0-0,30 0,31-0,60 >0,60 0-0,2 0,3-0,8 >0,8 0-0,5 0,6-1,2 >1,2
------- B, kg ha-1-------- ------- Cu, kg ha-1 -------- -------- Zn, kg ha-1 --------
1,5 0,5 0 4 2 0,5 4 2 0,5
Adubação de plantio1 de pimentão e berinjela2 sob cultivo protegido,
conforme análise química do solo.
Nitrogênio
P resina, mg dm-3 K+ trocável, mmolc dm -3
0-10 11-25 26-60 61- 120 >120 0,0-0,7 0,8-1,5 1,6-3,0 3,1-6,0 >6,0
N, kg ha-1 ------------P2O5, kg ha-1 ---------- -----------K2O, kg ha-1 ------------
30 a 50 560 400 320 180 100 200 160 100 70 40
B, mg dm-3 Cu, mg dm-3 Zn, mg dm -3
0,0-0,30 0,31-0,60 >0,60 0- 0,2 0,3-0,8 >0,8 0,0-0,5 0,6-1,2 >1,2
B, kg ha-1 Cu, kg ha-1 ------Zn, kg ha-1 ------
2,5 1,0 0,5 2,5 1 0,5 4 2 1
Adubação de cobertura para o pimentão sob cultivo protegido: aplicar 120 a 240 kg ha-1 de N, 60 a 120
kg ha-1 de P2O5, 140 a 280 kg ha-1 de K2O, 100 a 160 kg ha-1 de Ca, 40 a 80 kg ha-1 de Mg e 40 a 80 kg ha-1
de S através da fertirrigação diária ou a cada dois dias.
Adubação de cobertura para berinjela sob cultivo protegido: Aplicar de 100 a 160 kg ha-1 de N; 40 a 60 kg
ha-1 de P2O5; 120 a 180 kg ha-1 de K2O; 60 a 80 kg ha-1 de Ca; 30 a 40 kg ha-1 de Mg e 30 a 40 kg ha-1 de S
através da fertirrigação diária ou a cada dois dias.
1 Aplicar, junto com o NPK de plantio, 20 a 40 kg/ha de S e em solos deficientes, 1 a 2 kg /ha de Mn. 2 Aplicar para berinjela, de 1/2 a 2/3 dos nutrientes recomendados para o pimentão.
Adubação de plantio1 de tomate de mesa, conforme análise química do solo.
Nitrogênio
P resina, mg dm-3 K+ trocável, mmolc dm -3
0-10 11-25 26-60 61- 120 >120 0,0-0,7 0,8-1,5 1,6-3,0 3,1-6,0 >6,0
N, kg ha-1 ------------P2O5, kg ha-1 ---------- -----------K2O, kg ha-1 ------------
40 a 80 850 600 360 200 140 300 240 160 100 60
B, mg dm-3 Cu, mg dm-3 Zn, mg dm -3
0,0-0,30 0,31-0,60 >0,60 0- 0,2 0,3-0,8 >0,8 0,0-0,5 0,6-1,2 >1,2
B, kg ha-1 Cu, kg ha-1 ------Zn, kg ha-1 ------
3,0 1,5 1 3 1,5 0,5 5 3 1
1Aplicar junto com o NPK de plantio, 30 a 50 kg ha-1 de S e em solos deficientes, 2 a 3 kg ha-1 de Mn.
Adubação de cobertura para o tomate sob cultivo protegido: aplicar 200 a 400
kg ha-1 de N, 100 a 200 kg ha-1 de P2O5, 200 a 450 kg ha-1 de K2O, 120 a 200 kg
ha-1 de Ca, 60 a 100 kg ha-1 de Mg e 60 a 100 kg ha-1 de S através da
fertirrigação diária ou a cada dois dias.
Sistemas de fertirrigação em cultivo
protegido
O principal sistema de fertirrigação é aquele
que utiliza mangueiras em forma de fitas ou
“tripas”, ou “espaguetes” na superfície ou sub-
superfície do solo. Essas mangueiras contém
micro-orifícios, na forma de poros. As
mangueiras de irrigação podem ou não ser
cobertas com plásticos colocados ao longo das
linhas plantadas com hortaliças (Figuras 4, 5 e 6).
Figura 4: Gotejadores do tipo “fita” ou “espaguete” sobre a
superfície do solo plantado com pimentão. Foto: Edson Akira Kariya, Itapetininga-SP, 2008.
Figura 5: Gotejadores do tipo “fita” ou “espaguete” sobre a superfície do solo (canteiros altos)
plantado com pimentão. Foto: Edson Akira Kariya, Itapetininga-SP, 2008.
Figura 6. Mudas de tomate plantadas sobre “mulching” de plástico com gotejadores na sub-
superfície do solo. Foto: Edson Akira Kariya, Itapetininga-SP, 2008.
Outro sistema de fertirrigação é realizado por
tubo-gotejadores que são dispostos ao longo
das linhas de irrigação e gotejam água com
fertilizantes sobre vasos de plástico contendo
substratos de diferentes composições. (Figuras 7, 8, 9 e 10).
Os substratos devem ser previamente
esterilizados contra patógenos, e adubados
conforme análise química que identifique seus
teores de nutrientes.
Figuras 7 e 8: Irrigação e fertirrigação em tomate
através de tubos-gotejadores. Fotos: Mário L. Cavallaro Jr., Elias Fausto-SP 2005.
Figura 9: Alface plantada em vasos com fertirrigação por
tubo-gotejamento. Foto: Edson Akira Kariya. Mogi das Cruzes-SP, 2014.
Figura 10: Alface roxa plantada em vasos com fertirrigação
por tubo-gotejamento. Obs.: Necessidade de controle de plantas
daninhas. Foto: Edson Akira Kariya. Mogi das Cruzes-SP, 2014.
Em estufas denominadas tipo túnel alto
nas formas de arco e de capela (Fig. 11)
quando são plantadas hortaliças
folhosas, é também utilizado o sistema de
aspersão com barras contendo os
aspersores na altura de 50 a 60 cm.
Deve-se aplicar água limpa sobre as
hortaliças após a aplicação dos
fertilizantes via água de irrigação.
Figura 11: Sistema de aspersão utilizado no cultivo de hortaliças folhosas, como o espinafre da Nova Zelândia,
sob estufa do tipo capela. Foto: Paulo E. Trani, Campinas-SP, 2006.
Recomendações finais
É sempre fundamental a utilização da análise
de solo e da análise foliar como ferramentas
para o cálculo correto da calagem e adubação
em hortaliças.
É importante também a prática de rotação
entre espécies e famílias de hortaliças sob
estufa agrícola como no campo, a céu aberto.
Isso impede ou diminui a incidência de
nematóides e fungos de solo.
Devemos fornecer água de irrigação em doses
monitoradas por equipamentos apropriados.
Utilizar termômetros de máxima e mínima para
verificação das variações de temperatura que
ocorrem no interior das estufas com hortaliças e
outras culturas.
Recomenda-se finalmente, o acompanhamento
do cultivo de hortaliças e outras culturas pelo
Engenheiro Agrônomo e Técnico Agrícola local
e regional.
Referências bibliográficas LORENZ, O. A.; MAYNARD, D.N. Handbook for Vegetable Growers (3
ed.) New York (J. Wiley &Sons), 1988, 455 p.
OLIVEIRA, C.R.; BARRETO, E.A; FIGUEIREDO,G.J.B.; NEVES, J.P.S.; ANDRADE, L.A.;MAKIMOTO, P.; DIAS, W.T. Cultivo em Ambiente Protegido. Campinas, Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, 1997. 31 p. (Boletim Técnico, 232).
RAIJ, B. van; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J. A.; FURLANI, A. M. C. Recomendações de Adubação e Calagem para o Estado de São Paulo, 2.ed. rev. ampl. Campinas, Instituto Agronômico & Fundação IAC, 1997. 285 p. (Boletim Técnico, 100)
RIBEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.G.; ALVAREZ V.,V.H.(eds.). Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais – 5ª aproximação.Viçosa - Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais, 1999. 359 p.
Agradecimentos
TRANI, P.E.; PASSOS, F.A.; MELO A.M.T.; TIVELLI, S.W.; BOVI, O.A.; PIMENTEL, E.C. Hortaliças e Plantas Medicinais: Manual Prático. 2 ed. rev. atual. Campinas: Instituto Agronômico. 2010. 72p. (Série Tecnologia APTA, Boletim Técnico IAC, 199)
TRANI, P.E.; TIVELLI, S.W.; CARRIJO, O. A. Fertirrigação em Hortaliças. Campinas, Instituto Agronômico, 2011. 51 p. (Boletim Técnico IAC, 196 – 2a. Ed. Rev. Atual.). Disponível em http://www.iac.sp.gov.br/publicacoes/publicacoes_online/pdf/BT_196_FINAL.pdf. Consultado em 04 de maio de 2015.
TRANI, P.E.; TRANI, A. L. Fertilizantes: Cálculo de Fórmulas Comerciais. Campinas, Instituto Agronômico, 2011. 29 p. (Série Tecnologia APTA, Boletim Técnico IAC, 208)
O autor agradece à André Luis Trani, Químico da Petrobras -
Refinaria de Paulínia-SP, pela revisão e composição final deste
trabalho.